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Continuação da aula anterior…

A partir da fase de transição e durante a república assiste-se a um processo denominado de


laicização da Iurisprudência, ou seja, a Iurisprudência vai deixar de estar tanto no domínio dos
pontífices, e vai também ela começar a entrar noutros domínios, permitindo que cidadãos, não
pontífices possa pensar o direito, que era justamente os iurisprudente vaziam.

Sendo assim, o processo de laicização da Iurisprudência faz-se em três momentos:

1º Lei das XII tábuas: esta é importante porque ao reduzir a escrito os Moris Maiorum, permite
a que todos aqueles que são destinatários do direito, bem como todos aqueles que pensam o
direito, tenham acesso a ele. Este é o momento em que aqueles que pensam o direito vão
pensá-lo também a partir do texto escrito.

2º Ius flaviano: este vem de “o direito de Flávio” 4 a.C, este é um escravo escriba, que tinham
como função saber ler e escrever, e Flávio é escravo de um sub pontífice, este pontífice, como
tal, lia os augúrios, determinava o direito a aplicar, ajudava e explicava os contratos a aplicar,
ajudava o pretor a determinar as actios,

Contudo este sub pontífice fica cego, mas continua a exercer as suas funções de sub pontífice,
continua a determinar as actios, entre outras as suas funções, até que se descobre que na
cegueira de Claúdio (sub pontífice), quem determinava o direito era Flávio, porque este de
tanto de ajudar o sub pontífice, de ajudar a reduzir a escrito as actios, de ajudar a formalizar e
ajudar os cidadãos a formalizarem contratos, Flávios tinha aprendido o direito, e ao aprender o
direito, aprende, do ponto de vista processual, quais os deveres que decorriam das obrigações
que decorriam de cada negocio jurídico, isto é, aprendeu as actios.

Percebe como é que se interpretava o direito, como se pensava o direito, e aprendeu as


fórmulas, e aprendendo as fórmulas escreve um livro, este vai ser o chamado ius flaviano, no
qual reduz a escrito as fórmulas contratuais e as actios mais importantes para serem invocarem
perante o tribunal e permitir ao reclamante exercer os seus direitos.

Isto vai permitir-se perceber duas coisas:

1º Permite perceber que não é necessário ser se um pontífice para conhecer e interpretar o
direito, uma vez que um escravo o fez, alguém que era considerado um objeto pela sociedade,
mas Flávio, é um escravo que aprende a aplicar e interpretar o direito.

E este livro de Flávio, passa a estar acessível ao cidadão que sabe ler e escrever, e acima de
tudo passa a estar acessível aqueles que querem pensar o direito.

3º Ensino público do direito com Tibério: Tibério é um plebeu, que foi o primeiro plebeu a ser
sub pontífice em roma, este vai ser sub pontífice por volta do ano 254 a.C, este enquanto sub
pontífice tinha como função ler os augúrios, e tinha que, na sua atividade, também ajudar a
interpretar o direito, ajudar a aplicar os contratos, ajudar a formalizar os contratos de acordo
com a vontade dos deuses, ajudar os magistrados na determinação das actios.

Mas Tibério não faz isso sozinho, isto é, não pensa o direito de forma obscura, mas pelo
contrário, ele utiliza o método de pensar o direito em praça pública, ele era interpelado pelos
cidadãos, a quem explicava como interpretar e aplicar o direito, e dessa forma vai fazer com
que surjam um conjunto de homens que se vão juntar a ele, para aprender o direito, perceber
o seu conteúdo e como se aplica, este vão ser futuros iurisprudente, por isso se diz que Tibério
vai constituir uma escola.

E por tanto, a partir daqui os iurisprudente, não têm de ser apenas pontífices, mas podem ser
homens, patrícios ou plebeus, que aprenderam o direito, e aprenderam a interpretar o direito.

Aqui temos então a Iurisprudência a laicizar-se, isto é, a permitir que homens em Roma, se
dediquem a interpretação e a pensar o direito, de forma a ajudar os cidadãos, assim como os
magistrados na apresentação dos seus editos.

Sendo assim, quais são as três grandes funções dos iurisprudentes?

Cavere- aconselhamento a particulares, sobre a realização de negócios jurídicos, e ensina ainda


a dizer as palavras sacramentais bem como os gestos para a celebração.

Agere- está é uma função de acompanhamento dos cidadãos ao tribunal, do pretor por
exemplo, de forma a ajudar o cidadão a utilizar e dizer as fórmulas certas.

Ao aceitar a determinação do pretor na fase final do litígio, na fase in iure, estes estão a
celebrar um acordo, o chamado lidis contestatio, a grande consequência deste contrato é que
não só o juiz vai ouvir e fazer a prova sobre a reclamação da actio, como se uma das partes
violar a lidis contestatio, nasce uma outra actio que obriga o cumprimento a lidis contestatio. O
iurisprudente intervém nesta fase.

Respondere- está é a capacidade de o iurisprudente tem de dar o seu parecer, dar a sua
opinião, e esta função tanto podia ter como destinatário o cidadão, ou os próprios
magistrados, cônsul, pretor, entre outros.

Isto mostra que o iurisprudente acaba por constituir uns dois pivôs mais importantes na
construção do direito do período da república romana, porque ele é aquele que pensa o
direito.

Nota: Para o professor Vera Cruz, a fonte mais importante de direito da república é a
Iurisprudência, este era aquele que pensa o direito, e o pensa de forma gratuita, tendo apenas
auctoritas, ou seja, a sua opinião vale quanto mais for reconhecida pelos pares ou pelos
cidadãos. A Iurisprudência é de facto a fonte essencial na construção de um direito baseado
em ius. Quando nós dizemos que a Iurisprudência é a fonte de direito por excelência da
república, porque são os iurisprudentes que pensam o direito em função da justiça, nós
conhecemos o seu conhecimento não por eles, os homens da república, mas pelos homens do
principado que vão adotar posições anteriores.

Podemos encontrar na república o período da Iurisprudência livre, o Iurisprudente é todo


aquele que pensa o direito, e que o pensa em função do caso concreto, sem estar vinculado a
nada, apenas a si próprio aqueles que os consultam.

No início da fase de transição da república para principado, de época de Augusto reza a crónica
que haveria em Roma, cerca 300 iurisprudentes a exercer a sua atividade, que eram
consultados pelos cidadãos, o que faz com que um cidadão para um mesmo problema possa
consultar os iurisprudentes que quiser obtendo respostas diferentes a esse problema, o que
podia ser causa de instabilidade jurídica.
Ou seja, podia acontecer de pelo facto de haver tantos iurisprudentes e a possibilidade dos
cidadãos recorrem a vários iurisprudentes, e o cidadão não teria a capacidade de perceber qual
desses pereceres deveria ler perante o pretor.

Então Augusto vai criar uma figura que se denomina: Ius publice respondendi, isto significa o
direito de dar pareceres públicos sobre a autoridade do príncipe, ou seja, é o direito de dar
pareceres que são considerados pelo príncipe como se fossem seus, isto é, aqueles a quem era
atribuído ius publice respondende vão poder falar em publico com autoridade do príncipe,
aquilo que eles dizem vinculam o príncipe pelo que a opinião deles era encarada como a do
próprio príncipe.

Augusto vai criar os ius publice respondende, na qual vai determinar 30 iurisprudentes que
recebem ius publice respondende, este mudava de príncipe para príncipe, este ius publice
respondende, era um celo, um celo de que a opinião daqueles 30 homens é uma opinião
oficial.

Isto significa que perante o tribunal, seja do pretor, seja do príncipe, se as partes levarem um
parecer de um iurisprudente com ius publice respondendo, quer o juiz quer o pretor estão
vinculados aquela opinião. Isto não significa que se proíba os outros iurisprudentes de dar
opiniões, vem dizer que apenas a opinião dos iurisprudentes com ius publice respondende
vincula o pretor ou o juiz do tribunal do príncipe.

Isto vai determinar uma alteração da própria Iurisprudência, da Iurisprudência livre, a


liberdade vai a partir de Augusto, vai passar a ser limitada, não é proibido, mas apenas que as
opiniões que vinculam os tribunais são apenas as dos iurisprudentes que têm ius publice
respondende.

O iurisprudente passa com o tempo a ser um funcionário do próprio príncipe, e dessa forma
custam-se dizer, que depois do ius publice respondende, passa de consultiva a vinculativa uma
vez que o príncipe diz que a opinião desses homens corresponde a opinião do mesmo.

Em bom rigor, a Iurisprudência que vai ficar para nós, que vai integrar o digesto, é a
Iurisprudência normativa, acabam por ser os homens com ius publice respondende cuja
opinião vai ficar para história, o que significa também que quando nós estamos a estudar e
aplicar o direito romano estamos a estudar um direito romano que os príncipes quiseram
transmitir. Estamos a ver o direito romano da república, mas aquele que é trabalhado pelos
iurisprudentes, do principado, com ius publice respondende, mas isto não significa que os
iurisprudentes da república não pensassem o direito.

O pensamento da Iurisprudência ficou até hoje com base em 5 grandes juristas, os chamados
os príncipes do direito romano, que são:

- Patiniano

- Ghios

- Ulpiano

- Paulo

- Modestino

Destes 5, apenas Ghios não teve ius publice respondende, uma vez que não se sabe se
efetivamente existiu.

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