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Sebentas 2022/2023

Direito Romano e Peninsular I

Docente: Professor Doutor Rui Albuquerque

Discente: Rui Rodrigues a22204424


AULA NR.º 1 (12/10/2022)

O Direito Romano foi o direito feito por uma civilização – romana clássica – da
antiguidade clássica. O tempo histórico ocidental é constituído pela Idade Antiga (4000
a. C. – 476 d.C). Em 476 d. C ocorreu a queda do Império Romano do Ocidente. Dentro
da idade antiga o que nos interessa é a antiguidade clássica que é o período onde
essencialmente duas civilizações se afirmaram no mundo antigo ocidental – Grécia e
Roma. Dentro da Idade Antiga vem a Antiguidade Clássica (1000 aC a 476 dC). Depois
começa a Idade Média que vai até 1453 d. C. O Imperador Diocleciano sobe ao poder e
divide o império romano entre império romano do ocidente (Constantinopla) e do oriente
(Roma). Mais tarde o imperador Constantino decidiu mudar a capital do império de Roma
para Bizâncio. Os povos germânicos começam a entrar nas fronteiras do império romano
do ocidente ficando designados pelos romanos como povos bárbaros (designação para
todos aqueles que vinham de fora do império romano e desconheciam o latim). Os
bárbaros dos gregos eram os romanos (a palavra bárbaro vem do grego). A partir do séc.
XVI as invasões dos germânicos ficam mais intensas. Não são invasões militares, mas
sim migrações de um grande número de povos por diversos motivos. Os romanos
acabaram por integrar os povos que vinham para dentro das fronteiras desde que noa os
hostilizassem. A melhor relação com quem os romanos tiveram foram os visigodos. Que
depois vieram para a Península ibérica. Os visigodos são os sucessores dos romanos. Os
romanos vieram para a península ibérica por causa dos cartagineses. Esses cartagineses
tinham bases militares na Península. Os cartagineses tinham origem fenícia.

Então em 1453 o dito império romano do oriente – que de romano já não tinha
nada – perdeu a cidade de Bizâncio para os turcos otomanos. Então, considera-se que
aquilo que tinha sido durante séculos o império romano do oriente finda nessa altura e
sendo ocupado pelos turcos passa a ter uma feição consideravelmente diferente. Aqui
termina a Idade Média.

É o surgimento do Estado soberano que marca o surgimento da Idade Moderna.


Webber diz que o Estado é o que legitima a violência. Isto significa que o estado tem o
poder de coação que pode ser exercido em relação a qualquer cidadão. A legitimidade
dos Estados é aquilo a que chamamos a legitimidade democrática. O sufrágio só começa
a ser universal a partir do séc. XX. Só em 25 de abril de 1975 é que temos eleições
universais. Nós só podemos falar em democracia no sentido do governo em nome do povo
quando o sufrágio passa a ser universal. Em Portugal a primeira constituição é aprovada
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em 23 de setembro de 1822. Esteve em vigor até 3 de julho de 1823. Criou uma reação
muito grande do partido apostólico que fez uma contrarrevolução que ficou conhecida
como vila francada e suspendeu o regime liberal e revogou a constituição. Isto vem a
pretexto de que esta idade moderna que é caracterizada pelo estado soberano onde aparece
uma organização do poder monopolista dentro dos reinos. Aquilo que caracteriza os 1000
anos da idade média é a destruição da soberania. Na idade média há muitos poderes
soberanos. Dentro de cada território o senhor era soberano na sua terra. Na idade moderna
o rei tinha legitimidade dinástica e divina. A perspetiva teocrática é a perspetiva medieval.
Havia teorias de que o imperador recebia diretamente o poder vindo de Deus, outros
defendiam que era por intermédio do papa. O Estado soberano é o estado onde o poder
está nas mãos do príncipe, do rei ou do imperador, que o exerce autoritariamente dentro
do seu território geográfico sem oposição.

A idade moderna termina em 1789 com a Revolução Francesa e entramos na Idade


Contemporânea. O Direito Romano é o direito da civilização romana clássica que surge
no período da antiguidade clássica. A forma política que as cidades tinham de se organizar
era através das cidades-estado. Eram cidades que se governavam a si mesmas. Estamos a
falar de um período muito antigo em relação ao qual não há fontes seguras. Os primeiros
historiadores que escrevem sobre a formação de Roma escrevem já no séc. I a.C. O que
nós sabemos é que algures no séc. VIII a.C. Roma constitui-se como cidade-estado
independente. Alguns historiadores acham que Roma foi constituída como cidade-estado
em 753 a.C. Em 395 d.C. divide-se em império romano do oriente e do ocidente sendo
que em 476 d. C. este império cai. Direito Romano é o direito produzido entre 753 a. C e
476 d. C. E porquê que vamos estudar isto? É que no ocidente cada estado tem o seu
sistema jurídico, que tem uma história. O direito português é um direito que vai ser
extraordinariamente influenciado na sua formação e na sua evolução pelo direito romano.
Todos os direitos dos países do mundo ocidental são direito que foram influenciados ou
pelo direito romano ou pelo outro sistema jurídico que é muito diferente do romano que
é o inglês (common law – direito comum). É preciso perceber que o direito e a lei não é
a mesma coisa. A lei em sentido técnico é o processo de revelação de norma jurídica, em
Portugal é a única forma de criar direito – como processo técnico. Mas na Inglaterra os
costumes e a jurisprudência são muito importantes. A primeira constituição escrita foi a
de 1787 nos EUA. A segunda foi a francesa de 1791. A terceira foi a espanhola de cádis
de 1812. A constituição democrática mais antiga do mundo é a inglesa. Só a partir de

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1782 é que na universidade de Coimbra são introduzidas novas cadeiras onde se fala do
direto português, civil, publico e criminal - reforma do Marquês de Pombal.

AULA NR.º 2 (19/10/2022) – Maria João Varela a22204639

O direito do ponto de vista positivista é o conjunto de normas como regras


jurídicas. Quando dizemos isto, estamos a dizer que o Direito é composto por normas de
natureza social que têm por finalidade primeira estabelecerem alguma ordem na vida em
sociedade. Essa ordem tem várias finalidades mas, essencialmente, pretende prevenir
questões entre as pessoas. Se não for possível preveni-las, resolvê-las da forma mais
pacífica que for possível.

O grande objectivo do Direito é alcançar a ideia de Justiça, que é uma ideia


discutível pelos Romanos. Um grande jurista Romano, o Luciano, dizia que a função do
Direito / Justiça era dar a cada um aquilo que era seu (suum cuique tribuere).

O Direito é então uma disciplina social que é constituída por normas, por regras
de comportamento, que podem ser impostas por acções ou por omissões, ou podem ser
regras de natureza meramente facultativa. Mas as normas de Direito são normas sociais
diferentes das demais normas sociais (ex: regras de conduta), pois têm pelo menos uma
característica especial. São normas sociais, de comportamento em sociedade, todavia não
são simples normas sociais.

São normas ou regras jurídicas pois possuem, pelo menos, uma característica que
não encontramos noutro tipo de norma social. As normas jurídicas são gerais e abstractas,
tal como todas as normas societárias. Não visam especificamente pessoas em concreto.
As características da generalidade e abstracção são comuns a todas as normas sociais.

Antigamente, defendia-se a ideia de que as normas de Direito eram imperativas.


A imperatividade não é uma característica de todas as normas jurídicas. Há normas
jurídicas que são de uso facultativo. Atualmente as normas de Direito imperativo, são
normas de Direito Público. O Estado tem a soberania ou o “ius imperium”.

As normas de uso facultativo são, essencialmente, normas de Direito Privado. As


relações jurídicas que se estabelecem entre as pessoas que celebram negócios jurídicos
de Direito Privado são relações onde impera, em regra, o princípio da autonomia da
vontade individual (ex.: nós casamos se quisermos e celebramos contratos se quisermos).
Temos uma completa ou quase completa autonomia da vontade , pois aqui ninguém tem

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o chamado “ius imperium”; nenhuma das partes tem uma soberania que possa obrigar a
outra a fazer seja o que for.

Todavia, do ponto de vista do Prof., em todas as normas de Direito existe uma


característica imanente à própria ideia do Direito - é a coercibilidade (vem de coacção,
coerção, imposição pela força de alguma coisa), é uma característica da norma de Direito.
Coercibilidade não é o mesmo que imperatividade. Uma coisa é a norma ser coerciva,
outra é ser imperativa. Ela é coerciva porque em determinadas circunstâncias (que desde
logo é a circunstância de eu me colocar sob a sua alçada), a norma pode ser aplicada pela
força legítima do Estado, mesmo contra a vontade do seu destinatário. Colocando de lado
as normas imperativas que pressupõem, desde logo, uma sanção (ex: se eu matar alguém,
serei condenado pelo Estado a uma pena de prisão).

Por outro lado, as normas jurídicas que regulam por exemplo o casamento são
normas coercivas (coercibilidade não é o mesmo que imperatividade). O casamento não
é imperativo, porque não estamos obrigados a celebrá-lo com ninguém - aqui vigora o
princípio da autonomia da vontade. Contudo, se eu me casar ou celebrar um contrato de
compra e venda, para que esse contrato tenha dignidade jurídica (ou seja, tenha relevância
para o Direito) e para que o casamento seja um ato jurídico, eu tenho de cumprir com um
conjunto de regras que o Direito Privado e o Direito Civil estabelece para esse tipo de
contrato. Se eu assumir a minha vontade individual em celebrar algum destes tipos de
contratos, uma vez assumido, uma vez dada jurisdicidade a esses contratos, através das
formas legalmente previstas (ex: registos, contratos escritos), se eu não cumprir com o
que está estipulado no contrato, posso ser coercivamente obrigado a fazê-lo.

Exemplos:

Se eu não cumprir com o dever de fidelidade no casamento, a outra parte tem o


direito de pedir o divórcio.

Num contrato de compra e venda, em caso de incumprimento por uma das partes,
a parte lesada pode, através da força legítima do Estado de Direito (Ordem Jurídica e
Tribunais) obrigar a outra parte ao cumprimento. Esta força legítima do Estado traduz-se
através da Ordem Jurídica e Tribunais – poder jurisdicional - é o poder que obriga as
pessoas a cumprir o Direito se, eventualmente, elas não o fizeram quando têm de o fazer.

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Coercibilidade é diferente de imperatividade. Coercivas são todas as normas de
Direito, mesmo as do Direito Privado. Se quisermos faltar aquilo que essas normas
estabelecem e à qual nos vinculamos voluntariamente, nós podemos ser obrigados a ter
de cumprir essa disciplina normativa através da força legítima do Estado.

Ex.: Um marido enganado pode vir a Tribunal pedir o divórcio, mesmo que a outra
parte queira manter o casamento. Num contrato de compra e venda a parte enganada pode
exigir que a outra parte lhe devolva o dinheiro que pagou, por uma peça que tenha sido
fabricada de forma diferente ao convencionado.

É possível recorrer ao poder judicial do Estado que é um dos grandes poderes de


soberania. No séc. XVIII já existia este poder judicial, Montesquieu dividiu o poder
soberano do Estado em 3: legistativo; executivo e judicial. No séc. XIX John Lock
dividiu a soberania em: legislativo, executivo e federativo. Há outra visão do séc. XIX,
de Benjamin Constant, foi criado um 4.º poder (além do legislativo, executivo e judicial),
o poder moderador que é um poder criado especialmente para o Rei, para que este pudesse
intervir no sistema político.

A estrutura do nosso Direito mantém-se com a divisão tripartida


(legislativo/executivo/judicial).

A doutrina da democracia e do Estado de Direito ensina-nos que para haver


Conselho democrático, o poder político tem de ser fundamentado na soberania do povo.
A soberania do povo tem de ser determinada por alguém que foi mandatado para esse
efeito, através do voto. Quem inventou a democracia representativa foi Emmanuel Joseph
Sieyès. Apesar de se elegerem representantes da nação, não significa que o sistema fosse
democrático - a legitimidade deste poder não era plenamente democrática, porque no séc.
XIX não havia sufrágio universal (era um poder limitado pela Lei, em que as mulheres
não votavam).

Havia um filósofo Grego do séc. V, Platão, que defendia a igualdade de direitos


na sua cidade (Pólis) ideal- direito de Cidadania: direito de participação de um indivíduo
num Estado - direito a eleger e a ser eleito. No fim do séc. XIX começam as lutas das
minorias (mulheres, pessoas de raça negra) para terem direitos iguais. No início do séc.
XX essas “lutas” começam a surtir efeito. Só há democracia quando o voto começa a ser
universal (com o critério etário, baseado na maturidade).

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PODER LEGISLATIVO - poder de fazer a Lei;

PODER EXECUTIVO - poder de executar a lei, tomas as decisões políticas;

PODER JUDICIAL - poder de fiscalizar a Lei e obrigarem as pessoas a


cumprirem a Lei, no caso delas não o quererem fazer.

As demais normas sociais (ex. normas de etiqueta) não são normas de Direito,
porque o Estado não lhes reconhece dignidade suficiente para serem protegidos pelo
Direito, pela máquina coerciva legítima do Estado (através das Polícias, dos Tribunais,
do Direito).

Hoje em dia, esta força é legítima por causa da fundamentação democrática dessa
legitimidade. Quando o Estado nos impõe uma determinada Lei, fala em nome do povo,
porque recebeu votos suficientes para estar a exercer a soberania. Fala em nome do povo,
por via da criação de leis. As normas de Direito têm a característica da coercibilidade, ao
contrário das demais normas sociais. O Direito é composto por normas jurídicas, regras
de Direito consoante os momentos históricos, essas normas podem ser feitas por
diferentes entidades. As normas jurídicas estão constantemente a mudar, porque a
realidade é dinâmica. No entanto, os grandes princípios, a estrutura do Direito é sempre
a mesma.

1.ª Ponto: O Direito é, sobretudo, um conjunto de regras com uma natureza


especial [é a juridicidade - característica jurídica das normas - característica que o Estado/
legislador empresta a determinadas normas sociais, porque entende que essas normas
regulam interesses socialmente muito relevantes (ex. direito de propriedade, direito de
família)]. Situações às quais o Estado atribui juridicidade/ natureza jurídica, cria normas
com a característica da coercibilidade.

2.º Ponto: De onde saem estas normas? Como é que as normas de Direito são
criadas? Aqui falaremos das fontes de direito. De onde nascem as normas de Direito de
uma determinada sociedade, de um país, num determinado Estado, num certo período
histórico?mHá várias maneiras de olhar para as fontes de Direito.

Existem as mediatas e as imediatas (aplicam-se per si);

Para esta disciplina só interessa uma classificação: a Classificação Formal, i.e.,


as formas sobre as quais as regras de Direito são criadas. Historicamente são: LEI (Dir.

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Legislativo); COSTUME (Dir. Costumeiro ou Consuetudinário); JURISPRUDÊNCIA
(Dir. Jurisprudencial) e DOUTRINA (Dir. Doutrinal).

Há autores que entendem que os Princípios Gerais de Direito também são fontes.
E de facto são mas fontes mediatas (e não imediatas). Em termos de Classificação Formal,
as fontes imediatas de Dir. historicamente e em termos civilizacionais são: LEI/
COSTUME/ JURISPRUDÊNCIA/DOUTRINA.

As fontes de direito podem ser entendidas como o processo de criação ou de


revelação de normas de direito. Os Romanos designavam esta forma de classificar as
fontes de direito como fontes manifestandi (processos através dos quais as normas de
Direito se manifestavam).

1. LEI

Em Portugal, hoje em dia, se perguntarmos a alguém o que é o Direito, quase toda


a gente responderá que o Direito é a Lei. Por vários motivos, mas sobretudo por um: desde
o dia 18 de Agosto de 1769 (data da publicação de uma Lei da iniciativa do Marquês de
Pombal, Sebastião José Carvalho de Melo, conhecida por Lei da Boa Razão). A partir
desta lei, com algumas exceções muito cirúrgicas, os Tribunais Portugueses só podiam
aplicar a Lei. O Costume, a Doutrina e a Jurisprudência, que até então tinham sido fontes
vivas de Direito em Portugal, deixaram de ser permitidas, na prática, nos Tribunais
Portugueses. Os primeiros 4 Reis Portugueses que governaram fizeram muito poucas leis
em 100 anos. O D. Afonso Henriques fez apenas uma lei (sobre as amantes dos padres);
D. Sancho I fez outra lei sobre o mesmo assunto; D. Afonso II fez entre 20 a 29 leis e D.
Sancho II não fez nenhuma lei. Num período de 100 anos foram feitas 30 e poucas leis.
D. Afonso III, posteriormente, fez também 233 leis. Nos 100 anos anteriores a D. Afonso
III não havia praticamente Leis. Havia Direito e Tribunais, mas este Direito não era
legislado porque as normas não existiam. Nos primeiros 100 anos, qual o Direito que se
aplicava em Portugal? Era o Dir. Consuetudinário ou Dir. Costumeiro, i.e., o Direito que
nasce do Costume. (vem do “consuetudo”).

2. COSTUME

Como é que um costume social pode ter a característica da coercibilidade?

R: Por necessidade das populações, foi necessário criar formas de direito


diferentes daquela maneira de criação de Direito através da lei.

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LEI: Processo de criação de normas jurídicas. Processo INTENCIONAL
(consciente), VOLUNTÁRIO e RACIONAL que é da responsabilidade de um órgão de
soberania com poderes legislativos (que varia consoante os países e os momentos
históricos).

A lei é feita por uma entidade do Estado com poder legislativo, que obedece a uma
intencionalidade, voluntariedade e racionalidade.

Legislador - quem detém o poder legislativo dentro do Estado. É a Assembleia da


República - a A.R. é o que se chamava historicamente de Parlamento. O Parlamento é
composto por pessoas, que lá estão em representação de toda a nação/povo.

O Soberano é aquele que detém o poder.

Quem faz a Lei é o Parlamento que tem o poder legislativo: é na A.R. que estão
as pessoas eleitas em sufrágio universal pelo povo. Em termos históricos temos leis feitas
por Parlamentos (A.R., Câmara dos Comuns, etc…), por Reis, por pequenas Câmaras que
são singulares (ex: Monarquia Visigótica). A Lei é um processo intencional porque o
Legislador tem cabeça, tronco e membros. Essa Lei vai expressar uma racionalidade que
reflecte a mentalidade de uma sociedade (ex.: lei do aborto; lei da eutanásia..). A Lei é
um processo voluntário, ao contrário do costume.

O COSTUME é um processo espontâneo (não voluntário, não intencional) de


criação de normas. Processo lento, através do qual se adoptam determinados usos sociais
para tentar resolver problemas concretos, que têm relevância jurídica na sociedade. Ao
fim de algum tempo essa forma de resolver transformou-se em norma de Direito coerciva.

Ex.: Na Idade Média às pessoas que praticavam atos de maledicência ou


alcovitice, cortava-se-lhes a língua; os homicidas eram enterrados vivos em cima do
cadáver; quem roubava cortava-se a mão direita, etc.

Quando havia necessidade de se arranjar provas dos crimes (porque não existiam
fotografias) recorria-se às ordálias (Ordálio ou ordália, também conhecida como juízo de
Deus (judicium Dei, em latim), é um tipo de prova judiciária usado para determinar a
culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza e cujo
resultado é interpretado como um juízo divino. O acusado submetia-se a torturas ou
provas físicas que supostamente provariam a sua inocência caso não lhe causassem dano).

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Começaram a surgir procedimentos consuetudinários nos contratos de compra e venda
(ex.: através do pagamento em géneros).

O costume é então uma forma espontânea de criação de normas de Direito da


responsabilidade das comunidades locais, onde essas normas vão vigorar. O costume que
se baseia na repetição do uso social, ao fim de um determinado tempo, surge na população
a convicção da obrigatoriedade daquele uso. É, portanto, uma prática reiterada, repetida
no tempo, à qual corresponde ao fim de algum tempo a convicção da sua obrigatoriedade.
Assim se gera o Direito Consuetudinário, baseado no costume. O Costume tem dois
elementos, segundo esta definição:

1) Elemento material - a repetição do uso ou corpus : a adopção do uso durante um


determinado período de tempo pela comunidade;
2) Elemento psicológico, ou animus: ao fim de um determinado período de tempo
as pessoas da comunidade convencem-se que aquilo não é um uso, mas já é uma
norma jurídica.

Quando se juntam estes dois elementos, temos o COSTUME. O Costume era a fonte de
Direito mais importante da Idade Média. Segundo a Doutrina Medieval, há dois critérios
que a Lei Régia impõe:

1) O Costume tem de ter, pelo menos, uma antiguidade provada de 10 anos (i.e. uso
repetido pelo menos durante 10 anos continuados, observado naquela
comunidade, para a convicção comum popular da sua obrigatoriedade).
2) Durante esses 10 anos, ter sido utilizado em 2 ou 3 sentenças judiciais, para casos
iguais.
Se o Tribunal resolvia da mesma forma 2 ou 3 situações iguais, ficava convencido
da matéria jurídica.

3. JURISPRUDÊNCIA
Normas de Direito criadas através de sentenças judiciais. Direito jurisprudencial.

A C.R.P. é a lei mais importante de qualquer Estado (Lei fundamental do Estado). A


C.R.P. mais antiga do Mundo é a Inglesa, apesar de não existir fisicamente, porque foi
sendo construída ao longo da história de Inglaterra, em vários documentos, como por
exemplo a Magna Carta. É uma Constituição histórica na qual foram entrando várias Leis
(aprovadas pelo Parlamento) e documentos antigos pactuados (ex: Magna Carta). O

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Costume é fonte de Direito, inclusivamente, constitucional Inglês. As regras de
organização e poder do Rei são consuetudinárias. O Rei na Inglaterra não tem soberania
ou poder político. O discurso político que o Rei lê à nação, no final do ano, é escrito pelo
1.º Ministro. O Rei simboliza a Coroa, o Estado mas não tem poder…o seu poder é
meramente simbólico. Se este Rei tivesse poder, a Inglaterra não seria uma democracia,
pois todo o poder representativo tem de ser votado. O Rei não tem poder porque não é
determinado pelo ius sufragii, mas sim pelo ius sanguinis. A Inglaterra passou de
monarquia a democracia retirando todo o poder do Rei. A Jurisprudência é a fonte mais
importante do Direito Inglês. Não é a única, porque há leis e costumes. O Direito Inglês
é muito casuístico, resolve-se no Tribunal, caso a caso, com base noutras sentenças
judiciais. Hoje em dia a Jurisprudência é fonte de Direito sobretudo nos sistemas anglo-
saxónicos.

4. DOUTRINA
Era ensinada na Catequese. Pensamento especulativo que se faz sobre uma área
de conhecimento. A Doutrina é a ciência do Direito que pode ser fonte de Direito,
inclusive, alguma ciência do Direito pode ser fortemente imbuída de pensamento
religioso. Hoje em dia a Doutrina não é fonte de Direito em Portugal. Nos Países
Muçulmanos, que não fizeram a laicização (separação do Estado e da Igreja), as pessoas
são julgadas nos Tribunais com leis fundadas na religião. O Corão (livro sagrado do
Islão), inclusive, pode ser utilizado nos Tribunais Muçulmanos para fundamentar as
sentenças do Juíz. Cerca de um terço do Corão é de utilização jurídica possível. Hoje em
dia a Doutrina (e falamos na doutrina religiosa) é fonte de Direito em alguns países.
Em Portugal a Doutrina foi fonte de Direito até ao séc. XVIII, mas não era doutrina
religiosa. A doutrina aplicada era de dois grandes juristas italianos (Acúrcio e Bártolo),
grandes autoridades de Direito Romano e em certas circunstâncias a lei permitia que os
juízes tomassem as suas decisões com base naquilo que eles escreveram (até ao séc- xVII)
Foi a lei da boa razão que acabou com a utilização dos escritos deles para fundamentar as
sentenças.
Em suma, normas de direito são normas que compõe uma ordem jurídica e que
têm várias características entre elas a coercibilidade. São normas que determinam certas
formas de ação ou omissão, que impõe comportamnetos ou proibem comportamentos às
pessoas que vivem na soceidade. Estas normas nascem através de vários processos de
criação de normas de direito chamados fontes de direito. Historicamente, os processos

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mais comuns de criação de normas de direito são a Lei, os Costumes, a Jurisprudência e
a Doutrina. A Lei é um processo voluntario, intencional de criação de uma norma de
direito por parte de uma entidade soberana do estado com poder legislativo. O costume é
uma forma espontânea de criação de normas de direito que nasce dentro de comunidades
que não têm legislação e então têm de encontrar procedimentos que resolvam os seus
problemas com dignidade jurídica. Essa formação das normas é feita ao longo de um
determinado período de tempo em que o uso social é repetido para resolver aquela
sistuação e ao fim desse período de tempo gera-se a convicação da obrigatoriedade
daquele uso e aquele uso deixa de ser um uso social para passar a ser norma de direito. A
jurisprudência é a utilização de sentenças de certos tribunais para resolver casos iguais ou
muito semelhantes que apareçam depois em Tribunal, nesse país, do país em questão.
Portanto, a jurisprudência é uma forma de criação de normas de direito através das
sentenças dos tribunais, habitualmente tribunais de hierarquia superior. Chama-se a isso
os precedentes judiciais. Doutrina é a criação de normas de direito através da ciência do
direito que pode ser uma ciência do direito láica como foi o caso da doutrina que se
aplicou em portugal (Bártolo e Acúrsico) ou então pode ser uma doutrina de um direito
embuido de religiosidade. A lei islâmica, a Sharia, é uma lei que se fundamenta na religião
islâmica.

AULA NR.º 3 (26/10/2022)

Conforme já vimos, o Direito Romanno foi o direito de uma civilização que


nasceu na Antiguidade Clássica que foi Roma sendo que a Antiguidade Clássica é o
período de tempo que faz parte da Antiguidade (entre o ano 4000 aC e o ano 476 dC). A
Antiguidade Clássica é parte desse período de 5000 anos e é assinalado pelas civilizações
gregas e romanas, civilizações essas que marcaram este período. É a partir do ano 1000-
800 a.C. que surgem as cidades que marcaram a civilização grega. Entre o ano 323 a 33
a. C. temos a ascensão do período do império da Macedónia mas foi o Alexandre Magno
que construiu o império do oriente. A partir daqui começamos a ter uma decadência da
civilização grega do período clássico e a partir daqui, da emergência das cidades gregas
vai começando por aparecer a península itálica e consequentemente Roma. A antiguidade
clássica é então marcada por estas duas civilizações: a grega e a romana sendo que a grega
deixou marcas principalmente no campo da filosofia e da filosofia política, grandes
filósofos no séc. 4 a.C. como foi o caso de Platão e de Sócrates que continuam a ser fontes
de conhecimento ainda nos nossos dias. Roma não foi uma civilização que se tenha

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notabilizado no campo da filosofia muito menos na filosofia política, o único filósofo que
houve de renome foi Cícero, que viveu no séc. I a.C. e teve contribuições importantes no
campo da filosofia política e no direito tendo desenvolvido uma teoria que permaneceu e
ainda hoje é fluente na filosofia do drieito que é a teoroa do direito natural. Roma foi
basicamente uma civilização militar, guerreira, foi uma pequena cidade que nasceu da
península itálica e que ao contrário daquilo que aconteceu com a grécia, com a exceção
da macedónia, do império do Alexandre Magno (o grande), a grécia nunca construiu
propriamente nenhum império que tenha perdurado no tempo. O que distinguiu Roma foi
ter construído um império enorme que ainda hoje foi o maior império do ocidente. Roma
surge no período da antiguidade, propriamente na antiguidade clássica, a partir do ano
100 a.C. essencialmente a partir do ano 800 com a emergência das cidades gregas.

A antiguidade clássica termina quando termina a antiguidade no ano 476 com a


queda do império romano do ocidente. Roma terá sido fundada em meados do séc.VIII
a.C. É muito difícil fazer uma história rigorosa deste período porque os historiadores que
escrevem sobre a origem, formação de Roma são historiadores tardios, alguns do séc. I a.
C. ou I d. C, numa tradição que ia passando de geração em geração e que tinha a sua base
a partir do mito do Rómulo e do Remo que não tem substância histórica que seja segura,
é um mito fundacional de uma grande civilização como há, aliás, em todas as civilizações
antigas. Até há mesmo historiadores que dizem que Roma foi fundada no dia 21 de abril
de 753 aC. Para além da difculdade de percebermos em termos sociológicos o que
significa a fundação de uma cidade-estado nesta altura, não há fontes que permitam
assegurar que Roma apareceu neste ano muito menos nesta data tão precisa. Os estudos
de antropologia que são feitos ainda hoje sobre a origem da cidade levam a acreditar que
algures no séc. VIII aC surgiu na peninsula itálica, onde hoje está a cidade de Roma,
surgiu uma cidade-estado, ou seja, uma pequena unidade política geograficamente
limitada onde existia um poder soberano e portanto essa cidade era independente em
relação aos outros povos que viviam na peninsula itálica. Vamos então convencionar os
meados do séc. VIII a. C. o período em que Roma surge na península itálica como cidade-
estado independente.

A outra questão é quem são os primeiros povos que constituiram Roma como
cidade independente. Sobre isto não há certeza. Provavelmente terão sido 3 povos que
tiveram origem na cidade de Roma, os Sabinos e os Latinos e um terceiro povo que se
julga ter sido muito importante na formação de Roma que foram os etruscos. A primeira

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forma política de Roma foi a monarquia, ainda que a configuração da monarquia nesse
tempo fosse diferente do que depois a monarquia se configurou. Vamos então admitir que
estes 3 povos, os latinos, os sabinos e os etruscos tenham constituído esta cidade a partir
do séc. VIII a. C. e que se constituiu como uma unidade independente. Como é que isto
evolui? Sempre com o crescimento da cidade de Roma. Não é por acaso que o mito da
fundação da cidade de Roma diz que o Rómulo e o Remo nasceram de uma deusa e do
deus marte, deus da guerra. O estado romano foi sempre baseado na força do seu exército
desde o começo até ao fim do império romano. Desde muito cedo Roma começa a
organizar-se como cidade militar e vai-se expandir no território da Peninsula Ibérica e a
partir de 264 a.C. têm início as chamadas guerras púnicas. Que são um acontecimento de
maior importância para a antiguidade e para o mundo ocidental. De tal maneira que se as
guerras púnicas não tivessem terminado como terminaram o mundo como nós
conhecemos seria hoje muito diferente. Isto porque estas guerras púnicas foram guerras
travadas entre Roma e outra civilização mediterrânica que era a civilização cartaginesa.
Os Romanos chamavam “punici” aos Cartagineses daí o termo guerras púnicas. Uma das
consequências das guerras púnicas foi a vinda dos Romanos para a Península Ibérica.
Estas guerras foram fundamentais para determinar o futuro do mundo ocidental. Houve 3
guerras. A 1.ª foi entre 264 a. C. e 241 a. C. Aconteceu entre Roma e Cartago (Cartago
tinha origem fenícia – eram comerciantes e marinheiros). A certa altura os Romanos
entraram em choque com Cartago por causa do domínio mediterrânico. A 2.ª guerra vai
de 218 a. C. a 201 a. C. E esta para a evolução do mundo ocidental e para a península
ibérica foi a mais importante de todas, pois foi uma guerra que os romanos travaram com
cartago em resposta a um ataque que cartago fez de uma forma estratégica ainda hoje
considerada brilhante. Depois da derrota da primeira guerra os cartagineses começaram a
organizar-se em termos militares. Para além de se organizarem no norte de áfrica
aperceberam-se que a península ibérica era o local ideal para organizar o exército. O
general cartaginês que veio para a península ibérica chamado Amílcar que foi com o seu
filho Aníbal começaram a organizar um exército durante anos e anos na península ibérica
onde incorporam soldados vindos de cartago e recolhidos das tribos peninsulares. Foram
pela terra e apanharam Roma quase de surpresa e venceram (a batalha não a guerra).
Então os romanos perceberam que deviam usar a mesma técnica e então vieram para a
península ibérica e foram atacar cartago diretamente do norte de África. Então o exército
teve de retirar para defender Cartago acabando os cartagineses por terem sido derrotados
e assinalando-se a chegada dos romanos à península ibérica. A 3.ª guerra acontece entre

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149 e 146 aC e é uma guerra de destruição de Cartago que foi muito discutida. Decidiram
destruir para impedir que eles se voltassem a armar e a atacar Roma. Assim a 3.ª guerra
não é tão decisiva porque o dominio do mar mediterrâneo e a instalação na península
ibérica aconteceram na 2.ª guerra púnica. Portanto, estes factos da 2.ª guerra púnica são
extremamente importantes para o desenvolvimento da antiguidade.

Se Roma tivesse perdido a segunda guerra não tinha sido a potência que foi. Com
isto os Romanos começam a conquistar a Peninsula Ibérica e demoraram dois séculos
para conquistar a Península Ibérica toda. Depois foram para a Galia e acabaram por
desenvolver uma marinha que lhes permitiu a expansão maritima.

Assim, o império romano acontece essencialmente com o início do regime político


do principado que resulta do fim de uma guerra civil travada entre Otávio Octaviano
Cesar Augusto que tinha gerido Roma como imperador num triunvirato que juntou o
Lépido e o Marco António a Otávio. O Lépido é expulso e o Marco Antonio e o Otávio
tornam-se inimigos por causa da Cleópatra. Esta guerra civil terminou com uma batalha
em 31 a. C. que foi a batalha de Accio no qual Otávio vence e o Marco António foge para
o Egito onde se suicida com Cleópatra e a Roma entra num período de pacificação que
há muito tempo não conhecia. De tal maneira o governo de Otávio foi pacificante (termina
a conquista da peninsula iberica, pacifica o problema das gálias) que ficou conhecido
como pax augusta. É em termos historicos o fundador do império romano, não se assume
como imperador mas sim como príncipe (significa o primeiro cidadão de Roma). Em
termos históricos o princípio do império é daqui que começa. O principado de Otávio é
criado a 27 a. C. (início do governo de Otávio). Este início do governo institui aquilo a
que se chama o Império Romano. Isto evolui com a constituição do maior império da
história do ocidente, ainda hoje. O império teve uma dimensão gigantesca e passou a ser
ingovernável.

Com as invasoes bárbaras do Séc. III, que foram migrações inteiras de povos
vindos da zona da atual Alemanha, na altura germânia, que entraram no império Romano
e tentaram fixar-se. Se houvesse resistência dos Romanos impunham-se militarmente.
Então os Romanos procuram uma forma mais racional de poder governar o império. O
imperador Diocleciano que sobe ao poder a 284 dC vai criar uma divisão do império em
4 partes. Em cada uma destas partes coloca um Cesar (regime conhecido pela tetrarquia).
Ele era um deles. Mas os outros estavam dependentes dele. Ele é o primeiro imperador.
O Dioclceciano é o instituidor do absolutismo imperial e demite-se no ano 305 dC de
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imperador. Esta divisão com a saída do Diocleciano desparece e o império volta a
unificar-se.

A seguir chega ao poder Constantino. Este imperador resolveu pelo mesmo


transferir-se de Roma para uma cidade da parte oriental do império, chamada Bizancio.
Bizâncio era uma cidade grega. A Grécia entretanto tinha sido tomada pelos Romanos em
146 aC. E por isso quando Constantino vai para Bizâncio, esta fazia parte do império
romano. Então faz uma organização da cidade chamada Nova Roma. A ideia era criar
uma cidade semelhante a Roma. Isto aconteceu no ano de 330 dC. Esta cidade chamada
Nova Roma em homenagem ao imperador que a re-fundou passou a chamar-se
Constantinopla e passa a ser de facto a capital oriental do império romano. Muitos césares
vão para Constantinopla e hoje é a cidade de Istambul. É a cidade onde se encontram
reunidos o mundo grego e o mundo romano em termos históricos.

Isto tornou a parte ocidental do império cada vez mais problemática, que
entretanto por razões políticas, transformou-se com o absolutismo numa gigantesca
máquina administrativa que consumia impostos que desviavam dinheiro que agora iam
para a monarquia que antes iam para o exército e por essa razão foi descurado o exército
romano e isso contribui para a fragilidade da parte ocidental do império romano.

Em 395 Teodósio definitavamente estabelece a divisão entre império romano do


ocidente cuja capital era obviamente Roma e o império romano do oriente cuja capital era
Constantinopla, embora Roma fosse cada vez uma cidade mais perigosa. No ano 410
Roma foi invadida e saqueada pelos godos e o imperador teve de fugir. Seja como for, o
império romano do ocidente termina em 476 dC (o ultimo imperador romano foi deposto
e a partir daí não houve mais imperadores). Há historiadores que dizem que depois de 476
d.C. o rei dos visigodos proclamou-se rei ocidental. Considerando 476 d.C. o fim do
império romano do ocidente considera-se o fim da Idade Antiga.

O império romano do oriente vai então voltando a ser aquilo que tinha sido na
origem quando era uma cidade grega. Os imperadores passam a chamar-se basileus. Então
o império romano do orinte a partir do fim do séc. VI já dificilmente podemos dizer que
o império ocidental continua a ser romano, isto por causa do imperador Justiniano. Este
imperador teve um papel preponderante na história do drieto romano. Se não fosse ele
nós hoje não seríamos uma civilização com o direito influenciado pelo direito romano e
não estaríamos a ter esta matéria. O Justiniano chegou à Peninsula Itálica, chegou ao

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sudeste da Peninsula Ibérica e depois não conseguiu mais porque a europa já estava
tomada pelo fim do império ocidental e então este imperador não consegue conquistar em
termos militares o império romano do ocidente. A segunda ambição dele foi recompor
todo o direito romano desde a origem ao seu tempo mas que fosse sucetível de ser
aplicado à sociedade no tempo em que ele viveu. O que ele fez foi então um conjunto de
compilações que ficaram séculos mais tarde conhecidas por corpus iuris civilis (código
de direito dos cíveis, dos cidadãos romanos). Esta designação é uma designação genérica
de um conjunto de livros diferentes que o imperador Justiniano mandou fazer. Só em
1583 é que é feita uma impressão conjunta destas obras do Justiniano e então chamou-lhe
o corpus iuris civilis. A designação original é o códice, as institutas e o digesto (matéria
que será dada mais adiante). Estes livros são ignorados durante muito tempo e só
começam a ser estudados no Ocidente numa Universidade que é a primeira da Europa e
a segunda do mundo que é a Universidade de Bolonha a partir do séc. XI. É a partir daqui
que se começam a configurar os reinos europeus modernos (Portugal, Castela, Argão,
Leão, França). Os reis destes reinos e os seus juristas através da Universidade de Bolonha
percebem que há aqui um conjunto de compilações que têm um sistema juridico quase
perfeito do principio até ao fim e então adotam o sistema juridico como se fosse o seu
sistema jurídico. É por isto que o nosso direito é románico, não foi pelo facto dos romanos
terem estado quase 600 anos na peninsula ibérica. O corpus iuris civilis é uma reunião de
todo o direito romano jurisprudencial que existia, com milhares e milhares de citações. O
Direito Romano que vamos estudar é então todo aquele que foi feito e depois foi
codificado no fim do séc VI por Justinianus.

O que nós hoje vamos estudar vai ser a organização politica de Roma. As várias
formas políticas do estado romano desde a sua formação até ao fim. Perceber a evolução
histórica de Roma é fundamental para percebermos a transformação do direito romano.
Roma começou por ser uma cidade-estado, uma pequena unidade geográfica
independente com uma soberania própria. Nós vamos estudar esses orgãos do governo
desde o inicio até ao fim do império romano.

Roma conheceu 4 fases:

1. Monarquia;
2. República;
3. Principado;
4. Dominado.
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Isto em termos de organização do poder descreve quase uma circunferência perfeita.
Começa com um sistema de governo da concentração de poderes numa só pessoa e vai
terminar num regime absolutista de concentração de poderes numa pessoa que é o
imperador.

A monarquia foi desde 753 aC (pura convenção) e termina em 509 aC. Em 509 a.C.
há uma transformação política que terá sido uma revolução contra o ultimo rei Tarquimio,
o Soberbo (foi o último rei romano). Há quem diga que foi uma revolução, há quem diga
que terá sido uma revolta contra os etruscos.

A República vai de 509 aC até 27 aC (esta data é a data em que começa o novo regime
instituido pelo Otavio Cesar Augusto após ter feito aquelas cenas todas em cima com a
Cleópatra e assim). Com isto começa o principado que vai de 27 aC até 284 dC.

Em 284 dC sobe ao poder o Diocleciano, e dá seguimento a uma tendência que surgiu em


117 aC, que era a tensão muito forte entre o principe e o imperador e algumas instituições
que vinham da república, desde logo o senado. O Dominado é um regime absolutista
imperial. Vai então de 284 dC até 476 dC, fim do império romano do ocidente.

O que vamos estudar é as características da organização política e social de cada uma


destas formas de poder.

Nota: estas classificações que aqui estão são classificações que seguem a literatura da
filosofia política grega (especialmente a monarquia e a república) desde logo Platão e
Aristóteles. Quando falamos em monarquia e república não tem nada a ver com os
regimes contemporâneos. A monarquia até era parecida mas a república não. A república
era um regime onde se verificava a separação de poderes enquanto que na monarquia não.

São então estas as 4 formas políticas que o império romano conhece.

A Monarquia era um regime político no qual o poder de soberano ao qual os


romanos davam a designação de imperium, está confiado ao rei, ao rex. A monarquia é
portanto um regime onde o principal chefe politico é o rei. Este rei é eletivo não é
hereditário. Essa diferença é uma diferença muito importante para as monarquias
modernas (meados do séc XV). A monarquia Romana tem 3 instituições fundamentais, o
rei, o senado e o comício das cúrias. São os 3 elementos fundamentais da monarquia
romana embora o rigor histórico sobre aquilo que os historiadores contam que terá
acontecido neste período é muito pequeno. P.e.: há quem diga que existiram 7 reis neste

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período (753 a C a 509 aC). O rei chefia os exércitos, detém o poder de imperium - poder
de soberania maior do estado romano - e depois era eleito, não era hereditário, chefiava
os exércitos, desempenhava funções no culto das divindades. No fundo confundiam-se as
funções políticas com as religiosas. O rei era eleito pelo comício das cúrias que em
princípio escolhia a pessoa que tinha sido consensualizada pelo senado. As cúrias eram
divisões administrativas do povo romano ou da cidade de Roma ou da sua população. A
primeira divisão da população foi divida em 30 cúrias, em 30 bairros administrativos. A
finalidade era conhecer melhor a população da cidade, quem lá vivia, quantas lá estavam.
Isto era importante por causa da cobrança dos impostos e para o recrutamento militar. O
comício das cúrias era por isso das 3 instituições a instiuição que representava o poder
popular da cidade (populus romanum). O Comicio das Cúrias quando designava o rei
aprovava um documento que tinha o nome de lex curiata de imperium (a lei pela qual as
cúrias transferiam o império, a soberania, ao novo rei). Este facto é muito interessante do
ponto de vista da história política. Isto significava que nesta altura em Roma havia a
convicção de que o poder residia na população e que era a população que tansmitia o
poder. Nota: Na europa, na idade média, a legitimidade do rei vinha dos deuses aqui,
nesta altura, vinha do povo.

Mas quando falamos do povo romano apenas nos referimos aos cidadãdos, cives
(cidadãos) ou quirites (não se sabe bem qual foi a origem desta expressão, há quem diga
que isto era uma lança que as pessoas com um certo estatuto detinham tendo vindo daí o
nome). Primeiro chamavam-se quirites e depois passaram a cives. Os romanos chamavam
à cidade civitas e os gregos chamavam polis. Quando falamos no povo romano apenas
eram considerados os cives (ou quirites). As pessoas que tinham o estatuto de cidadão
romano eram muito poucas. Isto também acontecia na grécia (os metecos não tinham
direito de cidadania e por isso não podiam participar nos órgãos que tomavam decisões
políticas nem podiam ser eleitos para esses órgãos). Em Roma acontece a mesma coisa.
No início, o povo romano eram os seus cidadãos. Mas os que tinham o estatuto de
cidadãos eram muito poucos a maior parte eram plebeus. Os cidadãos são os patrícios, a
elite da cidade. A palavra patricios vem de pater (pai). Os patrícios eram os que
descendiam dos fundadores da cidade Roma, dos pais da cidade de Roma. Isto vai criar
imensas tensões sociais porque a esmagadora maioria da população pertencia à plebe. Isto
porque os plebeus eram cidadãos que foram migrantes que foram entrando em Roma. Os
conflitos sociais entre plebeus e os patrícios foram sendo cada vez maiores, tendo isto

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muita importância para o direito. A primeira lei escrita presume-se que seja de 450 aC,
Lei das 12 Tábuas. Esta lei resultou da discriminação dos plebeus porque o direito era
não escrito. Muito importante repetir que no período da monarquia os cidadãos romanos
eram só os patrícios (que eram a minoria). Nesta cidade só tinha poder quem
desempenhasse funções no exército. Todos os juristas, governantes, foram militares pois
Roma era uma cidade militarista.

A palavra senado vem da palavra senex. A palavra senil vem desta também. Senex
era referente a uma pessoa com idade, com experiência de vida, com provas dadas na
cidade. O Senado é então um orgão onde se reúnem as principais pessoas de maior
notariedade da Cidade de Roma. Os senadores a partir de uma certa altura designam-se
os pais da Cidade de Roma. O Senado quando chegamos ao fim da monarquia seriam
cerca de 300 senadores no senado. No ano 138 a.C., quando sobe ao poder um ditador
chamado Sila, o senado passou a ter cerca de 600 pessoas. Antes da morte de Júlio Cesar
entre o ano de 60 aC e 44 aC, durante a ditadura de César, o senado passou a 900
senadores e quando chega ao principado ultrapassa os 1000 senadores. O Senado não
tinha imperium. O Senado tinha o chamado auctoritas (autoridade). Era a instituição
política mais importante do estado romano pelo menos até uma fase do principado. Toda
a república romana é dominada pelo senado. O Senado é um órgão consultivo, consulta,
dá opiniões ao rei, tem autoridade, não tem imperium (ou seja não tomava decisões, não
executava políticas). Mas como se imagina, num órgão onde estavam centenas de pessoas,
as pessoas mais importantes, uma opinião que saísse do senado era para levar a sério e
em principio eram aceites.

Quando passamos para a República, a caraceristica da república é a divisão do


poder e a sua precariedade. O poder de imperium que durante a monarquia estava na mão
do rei passou a estar nas mãos dos vários funcionários do império romano que eram os
magistrados. A grande preocupação da republica romana é a separação dos poderes e a
precariedade da ocupação do poder. Isto quer dizer que não só não havia uma instituição
com todo o poder como ainda por cima nenhuma magistratura, ou nenhum magistrado
estava no exercicio de funções de magistrado mais do que um ano, a não ser a magistratura
dos censores que estavam 18 meses. O poder máximo do império era concentrado nos 2
cônsules. Só governavam 1 ano e tinham de ser sempre 2. Ou seja o poder dos reis não
passou para outro rei, passou para 2 pessoas ao mesmo tempo. A forma de governo foi
variando com os anos. Tinham ainda uma faculdade que se designava por jus

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intercessionis (o direito de intercetar, ou o direito de veto) que cada cônsule podia exercer
sobre as decisões do outro. Mesmo assim isto não era caótico como seria de esperar. Por
várias razões. Em primeiro lugar só estavam 1 ano no poder e tinham sempre uma
ambição. Quando terminavam a carreira das magistraturas a ambição era passar para o
senado. Isto porque o cargo de senador era para toda a vida. Os romanos na república
criaram uma magistratura especial que quando os cônsules se começavam a desentender,
quando havia uma guerra, quando havia uma ameaça externa, magistratura essa que
permitia que todos os poderes de todos os magistrados durante 6 meses ficassem
suspensos e todo o poder político ficava entregue a uma pessoa e chamava-se ditadura.
Durante a república romana aconteceram 68 ditaduras e nem todas duravam 6 meses. Isto
perfazia 34 anos que num conjunto de 500 anos não é expressivo. Ou seja foi uma forma
de governo estável. Houve ditadores que queriam ser ditadores a vida toda, tipo Julio
César que foi assassinado.

Este homicídio foi a ponte para o principado que começou com Octavio Cesar
Augusto, sobrinho de Júlio Cesar. Quando se assume como princeps o Octavio assume
poderes que o põe acima de qualquer magistrado romano e isto vai começar a reverter o
ciclo da divisão de poderes. Isto vai gerar uma tensão com o senado e a tendencia para o
absolutismo imperial vai ser muito reforçada. Essa tendência expressa-se pelo
esvaziamento do senado. Os imperadores vão procurar esvaziar o senado. O que acaba
com a subida ao poder de Deocliciano que sobe ao poder e declara-se Deus, no sentido
de homem de grande poder acima dos outros, Domus, senhor máximo da cidade de Roma.
Aqui já não há dúvida nenhuma, tudo o resto está às ordens do imperador. É a partir
daqui que o império romano do ocidente cai, começam a criar impostos desalmadamente,
o exército é depreciado numa altura em que os povos germanos já estavam dentro do
império. Por esta altura um terço do efetivo dos exércitos romanos era constituído por
povos bárbaros que tinham entrado dentro do império.

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AULA NR.º 3 (2/11/2022)

Nós estamos a analisar a estrutura política e constitucional do estado romano, do


estado romano clássico, desde que ele principia segundo a data que tem mais de ficicional
do que de histórica, 753 a.C., até ao fim do império romano do ocidente que acontece em
476 d.C. É este periodo de mais de 1300 anos que vamos estudar do ponto de vista da
organização do poder politico. Na aula passada falamos da monarquia. Foi o período que
se baseava no sistema de concentração de poderes na figura de uma pessoa, do rei, que
por sua vez era acompanhado daquilo que aqui temos como instituições de poder do
periodo monárquico, o rei, o senado, e o comício das cúrias. O rei era eletivo no comício
das cúrias que concebia ao rei nomeado uma lei que era a lex curiata de imperium, pela
qual era transmitido o império do povo romano para o novo rei. O senado era o órgão que
nasceu com base na ideia de juntar as pessoas mais experientes num órgão consultivo do
rei. Durante o período da monarquia este órgão chega a atingir cerca de 300 membros. O
comício das cúrias era um órgão de representação popular, aqui estava o povo romano, o
populus romanum. Este povo romano com a salvaguarda de que não era um conceito
universal. Dentro do povo romano so estavam os cidadãos. Todavia estes não eram todos
os homens livres que viviam na cidade de Roma. No início os cidadãos eram só os
patrícios, classe social mais elevada, que, se supõe, fossem os descendentes dos pater,
dos pais fundadores da cidade. Para além dos patrícios havia uma gigantesca ordem de
população que era a plebe. Eram homens livres, mas não tinham os direitos de cidadania,
essencialmente os direitos políticos, não podiam ser eleitos para cargos nem participar
nos órgãos que elegiam os cargos, estamos a falar, no período da monarquia, do comício
das cúrias, não podiam ser senadores, não podiam fazer parte do comício das curias e
tampouco ser reis.

Quando passamos para a República, já sabemos que o que distingue a monarquia


da república é a separação de poderes. A República é uma classificação que tem origem
na literatura política deste tempo e do anterior, ou seja, o período da filosofia política da
Antiguidade Clássica, ou seja, da Antiguidade Grega, com dois grandes filósofos que são
sobretudo o Platão e o Aristóteles e depois, em Roma, vários filósofos, nomeadamente o
Narco Julio Cícero. O Platão é do séc. V e o Aristóteles era do IV. Aquilo que assinala a
República é o fim da Monarquia que é assinalado no ano de 509 a.C., segundo se julga.
Estamos num período histórico muito antigo por isso a certeza destes factos é muito
contigente, falamos nestes factos atendendo a que eram contados por historiadores que já

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contavam daquilo que era a tradição oral. A República começa, segundo se pensa, com a
revolta que se pensou que pôs fim ao último rei romano, o Tarquínio, o soberbo. Quando
ele é destituído não volta a ser nomeado nenhum rei da cidade. Em substituição surgem
os cônsules, que são quem substitui, no exercício de soberania, das funções mais
importantes, os reis no estado republicano. Portanto na República vamos ter como
instituições de poder, (1.º) as magistraturas – cargos políticos de natureza executiva; (2.º)
a continuação do senado – que se vai transformar no órgão de poder mais importante ;
(3.º) o comícico das cúrias desaparece e surgem o comício das centúrias e o comício das
tribos. A partir de agora vamos analisar isto com particular atenção nas magistraturas.

Os magistrados são os detentores do poder de soberania do estado romano


republicano. O poder de soberania era aquilo a que os romanos chamavam o poder de
imperium. O poder de imperium podia ser de dois níveis: o império maior, o chamado
império magnus e o império menor, o império minus. Ambos eram poderes de soberania,
poder político que permite dar ordens e executar essas ordens, se for preciso pela força.
Acontece que nem todo o poder de soberania era igual. Havia magistrados com poder de
soberania mais importantes que outros. Essencialmente, quem detinha o poder de
soberania eram os cônsules e os pretores. Aqueles que tinham o poder maior eram os
cônsules. São estes que substituem os reis na hierarquia do poder do estado romano na
República. A soberania maior distinguia-se da soberania menor, porque a soberania
(império maior) consistia na faculdade de um poder tomar decisões, executar decisões e
dar ordens se preciso para a exceução das decisões que os magitsrados tomaram no âmbito
das suas competências e decisões. Mas enquanto que os cônsules tem uma competência
de política generalizada, os restantes magistrados têm funções específicas em áreas muito
específicas do poder. O império menor era a soberania do poder tomar decisões, e
executá-las e dar ordens nesse sentido dentro das funções dos magistrados que não tinham
a soberania maior. A soberania maior dava a facilidade aos magistrados, sobretudo os
cônsules, que tinham essa soberania, de poderem convocar os exércitos e chefiar os
exércitos. Tinham o poder máximo do estado romano, convocar e chefiar os exércitos.
Para além disso, quer os pretores quer os cônsules tinham vários outros poderes. Nem
todos os magistrados tinham o mesmo poder de imperio, uns tinham um império com
mais força (maior), outros tinham um poder de império menor. Os censores nem sequer
tinham poder de império, tinham poder da potestas, que é um poder de função que é o
poder funcional que todos os magistrados têm. Todos os magistrados são detentores da

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potestas, que é um poder daquela função específica que caracteriza a magistratura, mas
não podiam dar ordens, nem mandar prender pessoas muito menos chefiar exércitos.
Vamos ver aquilo em que cada um destes magistrados consistia.

Todavia, importa reter que estes magistrados não foram todos criados ao mesmo
tempo. É enganador nós pensarmos que no ano 509 a.C. termina a monarquia e começa
a República e que as magistraturas apareceram todas em 509 a.C. Elas são constituídas
entre 509 e 367 aC. A 1.ª que surge, e esta é importante que substitui os reis, ao ponto de
ser o suficiente para considerarmos que acabou a monarquia por causa desta magistratura,
é a dos cônsules. Depois temos a questura (questores) e a censura (censores) que foram
criadas nos anos de 443 aC.

Depois, em 367 a.C., surgem umas leis muito importantes, as leges licinia sixtia
(segundo a internet estas leis obrigavam a que em cada um ano, um dos dois cônsules
fosse um plebeu), leis propostas por Liciniu e Sixtius, dois cônsules do ano 367 aC. Esses
nomes parecem no feminino porque é lei (a lei, feminino) e depois as outras vem de
Lícinio e de Sixtio. A origem do nome da maior parte das leis é o nome dos magistrados
que fazem proposta das leis em questão.

Considerando aqui as magistraturas romanas do período republicano, a primeira


questão que temos de dizer é que cada uma destas magistraturas desempenhava uma
determinada função dentro do estado romano. Não havia nenhuma magistratura que
absorvesse todas as funções políticas e executivas do estado romano que era o que
acontecia na monarquia com o rei. O rei exercia soiznho poder político e executivo do
estado monárquico romano. Em segundo lugar, estas magistraturas têm todas um caráter
temporal, ou seja, a carcaterística destas magistraturas é a temporalidade. Isto quer dizer
que quem detinha estas magistraturas, com exceção da censura, todas as outras eram
ocupadas por um cidadão romano por um máximo de um ano. Ou seja, eu hoje era questor
e ao fim do ano terminava a magistratura e no ano seguinte alguém tinha de me substitutir.
Os censores eram os únicos que tinham um mandato superior ao ano, 18 meses. Separação
de poderes, exercício temporalmente muito limitado destas competências, são estes dois
elementos que caracterizam as magistraturas deste período em Roma. O que significa que
havia a preocupação na República de cirar um sistema de governo onde houvesse
concentração de poderes mas não houvesse abuso de poderes.

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Lex Villia Annalis, 180 aC – criou o cursus honorus, ou seja, a carreira das
magistraturas, a carreira pública do estado romano. Chama-se assim porque as
magistraturas chamvam-se honras. Cursus honorus era a carreira da honra. Esta lei o que
fez foi criar uma carreira, ou seja, até 180 aC, não havia regras epecíficas sobre a sucessão
da ocupação destes cargos, as regras que existiam era apenas a duração de cada pessoa
em cada um destes cargos: 1 ano, com exceção dos censores que era um ano e meio. A
partir do cursus honorum passou a ser uma carreira da alta função pública do estado
romano. Em primeiro lugar, estabelecia-se uma hierarquia sequencial das magistraturas
da menos importante para a mais importante. Quem se quisesse habilitar a ser magistrado
tinha de começar pela menos importante e depois passar para as seguintes: questor – edil
curul – pretor – cônsule – censor. Esta lei fixou outras regras, disse, por exemplo, que
entre cada magistratura era preciso esperar dois anos, ou seja eu era eleito, cumpria um
ano e para me candidatar ao cargo seguinte tinha de estar dois anos à espera. E esses dois
anos não eram de ócio eram anos de exército. Todos esses órgãos, mesmo os juristas,
desempenhavam sempre funções militares, a civilização romana foi uma civilização
muito militarizada. Todos os legisladores romanos eram militares. E, para se ser
magistrado, tinha de se ser também militar. Por isto é que estas lei fixou idades mínimas
para se aceder a cada magistratura: 30 anos para o questor, 36 para o edil curul, 39 para
os pretores, 42 para os cônsules e os censores só a partir dos 44/45 anos.

Já falamos que há uma distinção muito grande entre patrícios e plebeus. Não era
uma distinção social era uma distinção de cidadania. Como nós vimos na monarquia, os
plebeus não faziam parte do comício das cúrias. Tal como não farão durante grande
período da república parte dos comícios das centurias, nem do comício das tribos, nem
do senado. O primeiro senador plebeu foi admitido no ano de 312 aC. Esta situação de
discriminação gerou conflitos sociais entre plebeus e patrícios. Paulatinamente a plebe
foi conquistando direitos de cidadania. O primeiro plebeu questor foi admitido em 421,
a.C. O edil curul, em 366 a.C., o pretor 327 a.C., cônsules 367 a.C., censores 356 a.C. Se
repararmos, é no séc. IV que a plebe praticamente conqusita o direito de aceder a todas
as magistraturas e ao senado. O séc. IV foi um séc. importante de conquista dos plebeus
na cidade de Roma. Mas até ao séc. IV já tinham pasasdo vários séculos desde o séc. VII
a.C.: foram vários conflitos que se estenderam ate à plebe ter um estatuto de cidadania
praticamente equivalente aos patrícios.

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Questores: eram no cursos honorum, a primeira magistratura romana. Eram
funcionários administrativos da alta administração pública, que tinham várias funções,
mas essencialmente uma muito importante: cobrança de impostos e organização do
tesouro do estado romano. Inicialmente as funções dos vários magistrados eram
singulares, à medida que se vai desenvolvendo a cidade é necessario contratar mais
pessoas.

O edil curul, ou edis curis é uma expressao que tem 2 palavras. A palavra curum
é uma palavra que significava um banco, um banco de sentar. Isto era um símbolo de
poder de alguns magistrados romanos. Era um banco que era utilizado pelos edis ou pelos
pretores. Quando recebiam alguém ou despachavam as suas tarefas com os cidadãos, era
neste banco que se sentavam. Todos os estados têm simbolos de poder, na monarquia
temos a coroa, a espada, o estandarte, os colares de função. São símbolos que representam
que a pessa que ostenta aqueles símbolos tem uma determinada função de soberania,
poder de soberania. Por isso é que os Césares mais tarde utilizam a coroa de folhas; mas
nesta altura alguns magistrados romanos utilizavam este banco, uma espécie de pequeno
trono que usavam para receber os cidadãos romanos e despachar o seu serviço. Assim a
palavra edil curul tem duas palavras, a curul foi a que explicamos, o banco. A outra
palavra é a palavra edil. Palavra que usamos, hoje em dia, como presidente da câmara.
Ou edilidade referente à câmara municipal. Usa-se mais quando há eleições autárquicas.
O edil curul seria uma espécie de presidente da câmara de Roma. Era um magistrado que
tinha à sua responsabilidade a limpeza das ruas, a conservação dos municípios, o
funcionamento das feiras e dos mercados, a segurança da via pública, os banhos públicos
e por isso era um magistrado que cuidava destes aspetos relativos a administração não
política, mas sim decisões de natureza administrativa, correntes, do funcionamento da
cidade de Roma. Eram então estas funções que eles desempenhavam.

Cônsules: eram magistados politicos, tomavam decisões políticas, podiam


convocar o senado, podiam convocar os comícios populares, propunham leis à votação
dos comícios populares e convocavam os exércitos, chefiavam os exércitos, dirigiam os
exércitos em caso de guerra. Estes magistrados eram dois desde a criação desta
magistratura, sempre foram dois em exercício simultâneo de funções durante um ano. Ao
longo da existência da república a maneira como governavam foi-se modificando.
Inicialmente julga-se que governavam um mês sim um mês não. Depois começaram a
fazer semanalmente. Houve um período que governavam dia sim dia não. Em princípio

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quando um tomava decisões o outro não o fazia. Só que ainda por cima um e outro tinham
o chamado jus intersaciones, o direito de intersetar, o direito de vetar uma decisão de
outro magistrado. Ou seja, um cônsule podia vetar a decisão que o seu colega tinha
tomado no mês anterior. Uma, duas, três decisões, o que fosse... Já vimos que isto
aparentemente incentivava aos conflitos, aos problemas políticos ou de outra natureza,
mas se repararmos estes cônsules estavam em exercício de funções durante 1 ano, dava
praticamente 6 meses a cada um. Só o facto de ser muito pouco tempo já os inibia de
litigarem sistematicamente um contra outro. Mas, para além disso havia outra questão
importante. Os cônsules que tinham o poder de soberania tinham o direito de ingressar no
senado quando terminassem a sua missão, desde que os censores não se opusessem a isso.
Todos os magistados tinham por finalidade serem admitidos no senado. Mas para serem
admitidos no senado, em primeiro lugar, só os magistrados com imperium, os pretores e
os cônsules, tinham acesso ao senado. Mas para isso era necessário que os censores, que
tinham várias funções, entre elas a função de organizar o livro senatorial, o livro que tinha
todos os senadores que faziam parte do senado, permitirem. Sempre que um morria e
tinha de ser substituído ou sempre que um destes magistrados terminava a sua missão,
pedia o acesso ao senado eram os censores que faziam uma avaliação que podia interdir
o aceso de um magistrado destes ao senado. Deste ponto de vista, não era para o cônsule
interessante desempenhar as funções em litígio permanente com o seu colega pois isso
iria reduzir a probabilidade de aceder ao senado.

Os censores para além de organizarem o álbum senatorial e serem no fim de contas


os responsáveis pela lista dos senadores e sua atualização, para além disso faziam o censo,
a contagem da população romana e eles faziam o censo da população pelo menos de 5 em
5 anos. Faziam a contagem das pessoas que existiam na cidade de Roma. Isto era
importante por várias razões: para saber quantos eram os romanos (no fim da era cristã
calcula-se que na cidade romana viviam cerca de 2 milhões de pessoas, era uma enorme
cidade) mas por outro lado esse censo era importante pois era a partir desse censo que se
organizavam a cobrança de impostos, o recrutamento militar, os comícios da censura e
das tribos e portanto era uma função importante embora não tivessem poder de império,
eles não davam ordens, tinham era uma grande influença, tinham potestas.

Pretores: do ponto de vista do drieito são os magistrados mais importantes na


história do direito. Os pretores são magistrados com imperiium. A palavra pretor é
anterior a 367 aC. O pretor era um nome que designava a ideia da chefia, era ser o chefe,

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ou o chefe militar ou o chefe local, portanto era pretor (significa aquele que vai a frente),
o pretor que estamos a falar especificamente que é o nome que se consolida em 367 aC é
o pretor urbano este é que é o magistrado que é criado em 367 aC. Este magistrado é
muito importante para o direito. É o magistrado criado nesta data com a função de
organizar o processo judicial romano. Até 367 a.C. o processo judicial era de execução
privada. Ou seja, eram os particulares quem executavam os passos necessários à
realização da justiça. Embora essa tramitação do processo privado fosse conformada com
normas de direito, ou seja, há uma lei que é das 12 Tábuas que diz como é que, o que é
que as partes têm de fazer e como é que o processo se desenrola para ter eficácia jurídica.
Mas a forma de executar o processo era particular, eram os próprios ofendidos que tinham
de se mexer para pôr a justiça a funcionar. Em 367 a.C. o processo não passa a ser
inteiramente público; é semi-publico e semi privado. Há atos do processo que continuam
a decorrer às mãos dos particulares mas a organização do processo passa a ser tipificada
pela Lei e passa a haver um funcionário do estado romano a presidir à primeira fase do
processo.

Esta forma de organizar o processo judicial romano vai começar aqui e vai manter-
se até ao séc. II da era cristã. No séc. II da era cristã o que vai acontecer é que os
imperadores vão substituindo progressivamente este tipo de processo judicial. No séc. II
da era cristã este processo judicial já desaparece e passamos a ter o processo judicial
inteiramente estatizado nas mãos da burocracia e da justiça imperial. Até lá vai manter-
se da forma que vamos falar agora. A fase in iure e a fase apud iudicem.

A fase in iure é a fase do processo onde se aprecia o direito, a fase apud iudicem
(perante o juiz) é a fase do processo onde se apreciam os factos. O pretor é criado para
presidir e organizar a primeira fase do processo. O que acontecia era: se um cidadão
romano tivesse um litígio com outro, aquilo que a partir de 367 a.C. tinha de fazer era, se
quisesse a tutela jurídica e judicial do estado romano, era dirigir-se ao pretor. O pretor
recebia-o sentado num daqueles bancos e ouvia o que ele tinha para dizer, ouvia os factos,
ou porque o tinham roubado, ou porque tinha uma dívida que achava que não devia pagar,
etc... O pretor ouvia a pessoa, depois eventualmente ouvia a outra parte. O pretor não
fazia nenhuma sentença. O que ele ia ver era se aqueles factos que estavam a ser
transmitidos tinham ou não, no direito romano que ele tinha, se havia ou não uma norma
que se aplicasse ao caso concreto. O pretor não avaliava os factos, avaliava o direito
aplicável aqueles factos. Havia um roubo, um contrato mal celebrado… o pretor ia ver

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nas leis disponíveis se havia alguma previsão jurídica para aquelas situações. Se
houvesse, era possível aplicar-se o direito se não houvesse não era possível pois não havia
direito. Então o pretor decidia na primeira fase se o processo avançava para a segunda
fase ou não. Se houvesse direito aplicável concedia ao demanadante uma accio, uma ação,
uma fase do processo, hoje chamada ação processual. Então com uma accio o processo
passava para a segunda fase. Para a fase perante o juiz, a fase apud iudicem. Mas podia
bem aconecer, que estamos em tempos muito recônditos em que o direito romano era
muito rudimentar, podia não haver lei aplicável ao caso. Numa primeira fase se não
houvesse lei que previsse aqueles factos o pretor não concedia a accio e o processo não
avançava para essa segunda fase, morria aqui. Por isso se dizia que no direito romano só
tem ius quem tem accio. Só tem direito quem pode ter uma ação processual para proteger
esse direito. Pois se não ouver essa ação o direito não se pode realizar pelo menos através
da força legítima do estado. Há então 2 fases. Na primeira avaliava-se o direito, o pretor
via se havia direito então concedia uma accio e o processo avançava para a segunda fase;
senão era negada a accio e não havia processo. Se passasse para a segunda fase, então a
segunda fase do processo já não decorria à frente do pretor. Decorria perante um juiz.
Este juiz era um particular não era um jurista não tinha de saber nada de direito, porque a
única coisa que ele ia fazer era ouvir as partes, ouvir as testemunhas e avaliar os factos
que lhe contavam para tentar apurar a verdade dos factos e tomar uma decisão, fazer a
sentença. Este juiz não era um jurista, não aplicava o direito porque o direito que havia a
aplicar já tinha sido enunciado pelo pretor na fase anterior, o pretor já lhe dizia qual era a
lei. Este juiz tinha então de ter bom senso, de ser honesto, ser sensato, ouvir as partes e
chegar a uma conclusão. A segunda fase do processo avalia então matéria de facto. Este
magistado criado em 367 a.C. teve então uma profunda importância para a evolução do
direito romano. É a partir daqui que passa a ser o proesso organizado de acordo com as
regras do Estado, e passa a depender de um magistrado que é o pretor, que no fim de
contas decide se leva até ao fim a declaração judicial.

Estes foram então os magistrados que fazem parte do cursus honorum criados em
momentos diferentes, a partir da Lex Villia Annalis, que têm de seguir esta sequência com
as regras que vimos agora.

Estes magistrados eram eleitos pelos comícios. Estes comícios são elementos da
estrutura republicana romana. O das cúrias desaparece, e aparece em susbituição o
comício das centurias, que é um comício quase militar. As centúrias eram uma divisão

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militar do povo romano. O serviço militar mínimo na chamada ordem equestre era de 10
anos. Na ordem de infantaria o mínimo era 16 anos. A maior parte das pessoas passava a
vida no exército. Todos os magistrados eram militares, todos antes tinham estado a
cumprir um serviço de armas. Roma era uma civilização militarista. Então o comício das
centúrias era um comício com uma lógica, uma representação militar e o comicio das
tribos tem uma lógica sociológica, uma lógica familiar, de representação das grandes
famílias romanas. É as centurias o grande órgão popular do estado romano. As centúrias
elegem os magistrados mais importantes, o pretor, o cônsule e os censores. O comício das
tribos elege o questor. Para além disso, o comício das centúrias votava as leis. Foi
verdadeiramente o órgão legislativo da República. O processo legislativo tinha várias
fases, quem propunha as leis eram os cônsules, propunham-nas aos comícios e os
comícios votavam e aprovavam ou rejeitavam essas propostas. Por último, o senado era
o órgão mais importante da república, porque é estável, o senado tinha 300 senadores na
República (cerca de). Durante a república aumenta, em 133 aC, Sila faz uma reforma no
senado e aumenta os senadores para 600. O Júlio César faz outra reforma que aumenta
para cerca de 900 e no Principado tem mais de 1000 senadores. Eram as pessoas mais
importantes do Estado Romano. Tinham sido magistrados, eram pessoas socialmente
importantes, generais importantes, pessoas de fortuna. Os paters, os pais da cidade.
Chegar ao senado era uma pretensão de todas as pessoas com algum estatuto social. Ainda
que o senado não tinha imperium e sim auctoritas (autoridade). O senado era um órgão
com imensa autoridade. Não tinha autonomia, pelo menos até ao ultimo século da
república o senado era convocado pelos magistrados que tinham o direito de convocar as
reuniões dos paters, essencialmente cônsules e até os pretores. Mas é um órgão que a
partir de uma certa altura é de tal forma importante que está sempre a ser convocado até
se transformar, no último século da República, num órgão de classe permanente. Uma
opinião emitida pelo senado não era uma lei não era uma ordem, mas a autoridade do
senado era praticamente absoluta qualquer magistrado acatava a opnião do senado e
executava. Por outro lado, o senado tinha a partir da República outra função. Quando a
cidade de Roma se tansforma em império, a partir da segunda guerra púnica, Roma
começa a criar o seu império. Para tal, teve de ser dividio em províncias, regiões
geográficas das quais estava à frente o governador, que era quem mandava localmente.
Era o senado durante o período da República que nomeava esses governadores, era mais
uma função importante do senado, para além de outras funções no processo legislativo
das quais vamos falar. Era um orgão estável, a pessoa era senador até morrer, o número

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de pessoas era muito elevado, as pessoas que ali estavam era a elite política económica e
militar do Estado Romano. Estava ali de facto o poder da cidade. O senado representa
todo o estado romano, a aliança dos pais da família com o povo romano, era assim o órgão
mais estável, mais importante, onde se define a política externa da cidade, onde se
discutem os grandes assuntos da república romana.

Esta estrutura que aqui está é a estrutura das magistraturas do cursus honorum, as
magistraturas ordinárias ou comuns do Estado republicano Romano. São ordinárias
porque à medida que vão aparecendo durante a República nunca mais se extinguem, vão
desaparecer depois ao longo do Principado. Para além disto, compõe o cursus honorum,
são aquelas magistraturas que ao longo do estado republicano sempre se mantiveram.
Acontece que isto às vezes precisava de algumas correções. Nós vimos que este sistema
republicano não foi tão caótico quando aquilo que pudesse pensar num sistema onde os
magistados podem vetar as decisões, os cônsules podem vetar decisões de todos os
magistrados a não ser os censores. Os cônsules tinham o poder de soberamia maior. Os
pretores, os edil curus e os questores tinham um poder de soberania menor. O império
minus. Mas acontece que para além destas magistraturas, surgem na constituição política
romana pelo menos 3 magistraturas extraordinárias. Eram magistraturas que não eram
permanentes ou que não faziam parte do cursus honorum. Há 3 magistraturas
extraordinárias muito importantes:

1. Ditadura: era uma válvula de escape deste sistema. Era um sistema de


pesos e contrapesos, onde as pessoas se controlavam reciprocamente. Mas às vezes
isto podia correr mal, podia haver uma ameaça à cidade, uma ameaça de guerra civil
provocada por desentendimentos entre cônsules, uma ameaça de fora como
aconteceu com Cartago, podia haver uma crise económica muito severa que lançasse
a fome e as convulsões sociais, como aconteceu com a saída dos plebeus da cidade,
na primeira metade do séc. V a.C. Ou seja, de tempos a tempos justificava-se que se
suspendesse a constituição política romana. A figura jurídica da ditadura era a
suspensão da estrutura constitucional comum ordinária do estado romano entregando
todo o poder das magistraturas a uma pessoa. O ditador era uma pessoa que era
nomeada pelo senado para pôr ordem e resolver o problema que tinha levado à sua
nomeação. Tinha uma particularidade que era ter um mandato máximo de 6 meses.
Ao fim tinha de ir embora. Se resolvesse o problema que levou à sua nomeação mais
cedo até ia embora mais cedo. Alguns ditadores ficaram mais tempo para além dos 6

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mesess que subjaziam a essa magistratura, ex.: Júlio Cesar que foi preciso matá-lo
para deixar de ser ditador. Mas, em regra a ditadura durava 6 meses. A maior parte
dos historiadores vai no sentido que terão existido ao longo destes 500 anos cerca de
68 ditaduras, tendo elas demorado cerca de meio ano cada uma signifca que tivemos
a supressão da constituição ordinária cerca de 34, 35 anos, o que não é muito. A
ditadura era uma magistratura extraordinária porque só acontecia de tempos a tempos
e em esgundo lugar não incorporava o cursus honorum.
2. Governadores das províncias: é extraordinário porque aparece já
tardiamente na República Romana. Nós só começamos a ter o império a formar-se a
partir do fim da segunda guerra púnica, antes tinha havido a conquista de algumas
ilhas, à medida que o império vai crescendo dividem o império por províncias, por
exemplo, quando a Peninsula Ibeérica foi conquistada é divida em 2 províncias. Mas
uma província era uma parcela do imperio romano delimitada geograficamente,
governada por um governador. Esse governador não fazia parte do cursus honorum,
não estava sequer em Roma, estava na província. Era nomeado pelo senado. A partir
do início do Principado vamos ver que o princípe vai começar também a fazer
nomeações dos governadores das províncias;
3. Tribuno da plebe: é importante para o direito romano. Plebeus e patrícios
durante séculos estavam separados em termos de direitos de cidadania o que levou a
litígios, vários momentos de crise em Roma. Um deles na primeira metade do séc. V
a.C. em que os plebeus sairam da cidade para fundarem outra cidade nas imediações
de Roma e aí os patrícios perceberam que tinham de tratar os plebeus de forma
diferente. Negociaram o seu retorno e foram estabelecidas 2 ou 3 condições. Uma
delas foi a criação da primeira lei escrita que foi a Lei das 12 Tábuas. Uma das
exigências foi que o direito passasse a ser escrito. O direito até lá era verbal. Como
os plebeus não participavam nos órgãos que aplicavam o direito eram discriminados.
Outra exigência era ter um órgão que os representasse a todos e onde se pudessem
reunir e alguém que os representasse. Uma espécie de chefe da plebe. Esse órgão
denominou-se concílio da plebe. O concílio ou comício da plebe era semelhante aos
outros comícios dos patrícios mas só reuniam plebeus. Esse comicio era chefiado
pelo chefe dos plebeus (que inicialmente era um patrício) que passou a ser o Tribuno
da Plebe. O tribuno da plebe inicialmente era só um. À medida que cresce o comício
passam a ser 10. Estes magistrados não fazem parte do cursus honorum apenas
podem convocar o comício da plebe. Mas eles vão ser muito importantes porque a

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plebe cada vez mais vai ver a sua importância a crescer, política e social. Portanto o
Tribuno da Plebe é um magistrado extraordinário da República romana, não faz parte
do cursus honorum, chefia os plebeus. Não era fácil alguém aceitar o cargo de tribuno
da plebe, cargo de permanente conflitualidade com os patrícios. O tribuno da plebe
tinha o poder tribuno, a tribunicia potestas. Era composta por 2 atribuições concretas.
1 delas era o jus interseciones, o direito de vetar as decisões dos outros magistrados,
nomeadamente os cônsules, que afetassem os direitos dos plebeus. Portanto o poder
de veto é o poder de vários magistrados da República romana, sobretudo dos cônsules
e agora dos Tribunos da plebe. E tinham aqui uma outra atribuição, a sacro santitas.
Era aquilo que podemos chamar a inviolabilidade. Não podiam ser presos, não
podiam ser mortos no exercício das suas funções, de outra maneira ninguém queria
exercer essas funções. Não quer dizer que alguns não teriam sido mortos.

A República romana então é isto. Isto é tao importante que foi um dos temas sob
o qual a Convenção de Filadélfia mais se vincou para fazer a Constituição de Filadélfia.
Foi a Assembleia constituinte dos EUA e a primeira e única constituição que foi a de
1977. Os constituintes americanos fundaram a república, a república federal e foi no
exemplo da república romana que eles se foram inspirar. E ainda hoje no direito
constitucional se fala nos checks and balances, que são travões constitucionais que
servem para impedir os abusos de poder, que a constituição dos EUA consagrou com base
na república romana.

A República vai terminar em 27 aC. O último século da república foi


relativamente turbulento, com algumas ditaduras, com dois triunviratos, o primeiro
exercido por Júlio César e o segundo triunvirato que foi protagonizado por Otávio César
Augusto, Marco António e Lépido que é anterior à instauração do Principado em 27 a.C.
O que se passava é que havia desde há muito tempo uma tensão grande por parte do
senado, defensor das instuições republicanas e o partido que cria um sistema político mais
autoritário, protagonizado pela figura do cônsule, como foi o caso do Júlio César. A morte
de Júlio César vem no culminar dessas tensões. Ele queria ser ditador vitalício de Roma
e então alguém no senado entendeu que isso seria o fim da república. No ano 44 a.C. o
Júlio Cesar vai ao senado discursar, tenta convencer o senado que a salvação da república
era entregar-lhe o poder todo e quando saiu foi assassinado à facada por vários senadores
que o mataram. Então essa situação não resolveu o problema porque esta tensão entre a
ncessidade de um poder mais forte que substitui-se uma república que já estava muito

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enfraquecida e na salvação da república, uma das figuras mais importantes do chamado
partido republicano ou senatorial foi o Marco Túlio Cícero. O Cícero foi a grande figura
da teoria política romana por várias razões, uma delas por ter desenvolvido a ideia da lei
natural, aquilo que nós no direito chamamos o direito natural. Percebia-se que mais tarde
ou mais cedo a questão tinha de se resolver, ou a República se restaurava politicamente,
o que já era dificil, ou então tinha de passar para um sistema diferente de se governar.
Este segundo triunvirato foi constituido por 3 figuras, as 3 defensoras do mesmo partido,
que era um partido próximo do Júlio Cesar, era o tal César Augusto (sobrinho de Júlio
Cesar), era o Marco António (general próximo de Julio Cesar) e o Lépido (comerciante
abastado e rico que acabou por ter uma função quase decorativa, é praticamnete afastado
e morre muito cedo ficando só o Marco António e o Cesar Augusto). Otavio Otaviano
César (so é Augusto depois de inciar o Principado e finda a guerra civil) e Marco António
acabavam por se desentender. Marco António amantiza-se com a rainha do Egito, a
Cleópatra, há quem diga que ela utilizou os seus talentos para o fazer desentender com o
Otaviano Cesar Augusto, e o facto é que se desentendem, travam várias batalhas, a última
delas a batalha de accio em 38 a.C. que acaba com a derrota de Marco António que foge
para o Egito e se suicida com a Cleópatra e põe fim à guerrra civil e o Otávio emerge
como o vencedor da guerra civil. A subida ao poder não proclamou o fim da República,
pelo contrário.

Principado: Aquilo que o Otávio disse ardilosamente é que ele seria o grande
restaurador da República Romana. Ele tinha sido cônsule, e a certa altura o senado quis
que ele ficasse como consule vitalício e preferiu não o fazer, então criou uma nova função
que não era uma nova magistratura que era o princeps, o primeiro cidadão de Roma. O
princeps não é um magistrado, representa o Octaviano, o grande vencedor e o grande
pacificador não só da cidade de Roma mas do próprio império Romano. Ainda hoje se
fala na pax augusta. A paz de Augusto foi extamente a concórdia que a paz de Octaviano
conseguiu impôr no império Romano. Foram as legiões de Otávio que conquistaram e
pacificaram a Península Ibérica e seguidamente pacificaram as Gálias e puseram ordem
no Império Romano. Se ele já tinha prestí gio por ter vencido a guerra civil, esse prestígio
foi aumentado no tempo.

Então ele diz que a partir daí passa a ser o Princípe. O princeps tem duas
atribuições, uma delas é conicidente com uma das magistraturas. Ele reclama a si
humildemente o poder do tribuno da plebe, a tributicia potestas, que era composta por

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estas duas atribuições (jus interseciones e pela sacro santitas) ele era intocável, inviolável
e podia vetar as decisoes de qualquer magistrado do Estado Romano. Por outro lado,
reclamou o imperium proconsulare majus era o poder de soberania maior que era o que
os cônsules tinham. Com isso pode passar a chefiar exércitos, a convocar o senado e a
convocar os comícios. Ele junta nesta nova função do Estado Romano um conjunto de
poderes que o põe acima de qualquer outro. Os magistrados estavam abaixo dele. Mas é
uma nova categoria não pode ser enquadrado como magistrado. O Otávio César Augusto
morre tardiamente, está muito tempo no poder, pacifica o império Romano e cria um novo
regime político que é o Principado, expressão que vem desta nova função que ele cria
para si que é a função do principe. O principado inicia o regresso a um sistema de
concentração de poderes. Mas, de facto isto é feito de uma forma subrectícia, o Otávio
não diz que vai acabar a República mas antes vai exaltar e restaurar a República Romana.
No entretando, ele tira alguns poderes ao senado, dá outros, só que os poderes que ele vai
dar ao senado vai tirá-los ao comício. Na prática, os primeiros 100 anos do principado
acabam por corresponder ao fim das reuniões dos comícios. Os primeiros 100 anos fazem
desaparecer o elemento popular da constituição republicana e da constituição política
romana. Por outro lado ainda, o príncipe tira progressivamente ao senado o poder de
nomear os governadores das províncias. De facto, parte continuam a ser nomeados pelo
senado mas parte passa a ser nomeada pelo príncipe. Só que todos têm de responder ao
príncipe, ou seja, o príncipe é hierarquicamente o imperador, o responsávrel politico por
todo o império Romano mesmo pela províncias onde o governador é nomeado pelo
senado. Ali a partir de meados do séc. II praticamente já é o imperador que nomeia todos
os governadores das províncias.

Por outro lado, houve a redução da reunião dos comícios, aqueles que quem
perante a república votavam, aprovavam ou rejeitavam as propostas de lei. O órgão que
tinha o poder legislativo eram os comícios. Esvaziando progressivamente os comícios,
reuniam cada vez menos até que desaparecem, era importante que alguém os substituisse
na função de fazer a lei então Otávio Cesar Augusto entrega esse poder ao senado. Ou
seja, aparentemente, o Senado saiu reforçado do principado. Na prática iniciou o processo
de decadência que levou a que na parte final do séc. II o senado já não tivesse praticamente
poder político. Termina com a subida ao poder em 284 dC do Diocleciano que se
proclama Dominus, senhor, dono, da cidade de Roma e Deus.

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Dominado: isto, a instauração do Dominado termina com qualquer dúvida que
houvesse se o senado tinha algum protagonismo. O dominado era um regime de
absolutismo imperial. Criou uma gigantesca burocracia que foi responsável pelo desvio
de recursos financeiros, não para a máquina de guerra, mas para a burocracia imperial
romana e foi um dos motivos que levam a que os historiadores digam que levou à
decadência do império que estava a ser atacado por povos bárbaros por tudo o que era
sítio e em vez de aplicar os recursos na máquina de guerra aplicavam na burocracia
imperial. No principado o poder estava dividido entre o príncipe e o senado (há
historiadores que dizem que este regime foi o regime da diarquia, ou o regime de dois
poderes, o poder do príncipe e do senado. Há historiadores que dizem que aquilo era já o
incio de um poder que ainda não era absoluto na figura do imperador mas que caminhava
a passos largos para o ser). E, por isso, fecha-se assim um ciclo que leva a que de facto
começamos com um sistema de governo de concentração de poderes e acabamos com um
sistema de governo de poderes absolutos na figura do imperador.

AULA NR.º 4 (9/11/2022)

A palavra direito deriva de derectum que significa direito no sentido lateral, como
se fosse reto.

Iustitia – era um deusa com duas balanças e uma venda.

Ulpiano dizia que justiça era permitir que cada um ficasse com aquilo que lhe pertencesse.

O Direito Romano é um sistema juridico de uma civilização, a civilização romana


clássica que se iniciou com a constituição da cidade de Roma, que nós sabemos que tem
uma data simbolica que é o ano 753 a.C. (não se pode garantir que foi aqui que a cidade-
estado se constitui) mas o facto é que ela perdurou até 476 d.C. O ius romano é um direito
de uma civilização que percorre este longo período de tempo.

Aquilo que vamos tratar são características muito genêricas sem descer a
pormenores sobre este direito.

O direito romano é constituído por dois subsistemas de criação de normas


jurídicas, são eles: o ius civile e o ius honorarium. O que vamos estudar nesta cadeira são
os processos de criação de normas de direito através do ius civile e depois os processos
de criação de normas de direito romano através do ius honorarium. O ius honorarium foi
sendo gerado para corrigir os defeitis do ius civile. O ius civile é o direito dos cives

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(cidadãos romanos). Mas antes de serem chamados cives chamavam-se quirites (já
tinhamos visto isto). Quando os cidadãos romanos se chamavam quirites o direito romano
chamava-se jus quiritium.

Se nós traduzirmos à letra ius civile vamos dizer que é igual a direito civil. Mas
hoje a expressão não tem o mesmo significado que tinha na altura. Porque o direito civil
é visto como as normas jurídicas que estão à disposição das pessoas para estabelecerem
relações jurídicas entre elas nas quais estão em plena igualdade. No direito público o que
está em causa é as relações que as pessoas estabelecem com o estado não havendo aqui
uma relação de paridade.

Feita esta ressalva vamos entrar naquilo que nos interessa: vamos estudar o direito
romano do ponto de vista da evolução das fontes. Vamos estudar o jus romanum (que é
feito de 753 a.C. a 476 d.C.). Em primeiro lugar vamos estudar as fontes do jus civile e
depois as fontes do jus honorarium, ou seja os processos de criação das normas do ius
civile e o processo de criação das normas do ius honorarium.

Temos as fontes do ius civile:

1. Costume (mores maiorum) – temporalmente é a 1.ª fonte do Direito Romano;


2. Lei (processo intencional e voluntário que é levado a cabo pelos órgãos de
soberania). Como em Roma houve muitos órgãos de soberania temos vários tipos
de leis:
a. Leis Comiciais – feitos pelos Comícios – período da república;
b. Lei Senatoriais – feitas pelo Senado – durante o principado;
c. Leis Imperiais (com o avançar do poder dos príncipes) – período do
absolutimo ou do dominado;

A Lei das XII Tábuas foi produzida em +/- 450 aC. Ou seja temos leis desde 450
a.C. a 476 dC.

3. Ciência do Direito (iurisprudentia) – prnsamento especulativo que vai ser


desenvolvido pelos grandes juristas romanos clássicos, nomeadamente Ulpiano
(último jurista que morreu em 223 d.C.) sobre a área do direito romano. A
iursiprudentia era a atividade que resultava do conhecimento que os melhores
juristas tinham do direito. A iurisprudentia dos romanos é aquilo que hoje
chamamos doutrina,

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O ius honrarium é um subsistema de criação de normas de direito que se acrescentam
ao ius civile. Ao longo do tempo vai aparecendo este sistema que vai melhorar a aplicação
das normas de ius civile. É um direito que nasce para corrigir o ius civile.

O cursus honorum era a carreira das magistraturas, cargo público de alto escalão. Por
isso, jus honorarium vem da palavra honor. O jus honorarium é um direito que é feito
por alguns dos magistrados romanos que surgiram aquando da constituição da República.
Essencialmente os 3 magistrados que contribuiram para o jus honorarium eram o Questor
(magistrado ordinário pois fazia parte do cursus honorum), os governadores das
províncias (extraordinários, não faziam parte do cursus honorum) e o pretor urbano.

Se nos perguntarem se o direito romano foi influenciado pelo direito destes


magistrados (Questor e governadores das provincias) a resposta é negativa. Não foi esse
direito que moldou as grandes instituições jurídicas do direito romano. Aquele que
moldou o direito romano foi o pretor urbano (criado em 367 a.C.). Este magistrado foi
criado para organizar o processo judicial romano. O processo romano estava dividido em
2 fases a fase ius iure e a fase apud iudicem. O pretor entrava na primeira fase e apreciava
a matéria do direito do processo. O pretor não ia verificar se estava bem ou errada a ação
apenas ia ver se havia direito aplicável aquele caso. Havendo direito concedia ao
demandante uma ação processual. Na segunda fase (apud iudicem) o demandante ia
discutir perante o juiz os factos. Na segunda fase do processo só se avaliam os factos. O
juiz que apreciava isso só passou a ser um jurista a partir do Império. A partir daqui o
imperador quis assumir a justiça como uma coisa sua. Se o pretor chegasse ao final da
primeira fase e concluísse que não havia direito não chegava à fase da accio.

É a partir daqui que o pretor começa a fazer direito. Aquilo que começa a
acontecer é que o pretor começa a arranjar formas de corrigir os direitos do jus civile nos
casos em que não há lei.

O direito que era criado pelo pretor era o jus praetorium. Foi o pretor que criou a
figura da penhora, da hipoteca, etc…

Costume: a expressão correta para o Direito Romano era mores maiorum. Aqui
o que se sabe é sempre posterior aquilo que se terá passado. Em segundo lugar, a palavra
costume não é a mesma utilizada em nenhuma destas palavras. A palavra costume é
também uma palavra tardia no vocabulário jurídico, é a palavra consuetudo. É uma
palavra do período do Dominado. A expressão do início de Roma com significado

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equivalente ao costume era a palavra mores maiorum. Mores é uma palavra que vem de
mos que significa usos. Ou seja, mores maiorum é os usos dos maiores, os usos dos
ancestrais. Os mores maiorum eram a “tradição de uma comprovada moralidade”. Era
uma tradição, uma tradição antiga, inequivocamnete moral, justa, correta e eles
imputavam a existência dessa tradição aos ancestrais, aos mais antigos, aos paters da
cidade de Roma.

Estamos num tempo em que o direito e a religião viviam paredes meias uma com
a outra. Nós vemos que os reis são reis por direito divino. Os reis eram reis porque Deus
queria que eles fossem reis. O poder é muito dificil explicar às pessoas mesmo nas
ditaduras. Ou seja, a primeira fonte de direito romano é uma fonte que está fundamentada
na religião romana. Este direito para além de ser um direito religioso era aquilo que se
chamava de direito não escrito, era uma tradição verbal. Isto levanta-nos o problema,
quem é que fazia a interpretação dos costumes dos ancestrais? Sempre que havia
ncessidade de dirimir um conflito através do direito tinha de haver alguém que dissesse
“atenção que os mais antigos numa situação destas fazia isso”. Quem fazia isso eram as
pessoas ligadas à religião romana, os sacerdotes. Eram os sacerdotes que faziam a
declaração do que era o direito, era o colégio de sacerdotes mais importante de Roma, o
Colégio dos Sacerdotes Pontífices. Inicialmente tinha 3 sacerdotes, 3 padres. Era
presidido pelo pontifex maximus. Haviam ainda mais 2 colégios que era o Colégio dos
Áugures e o Colégio dos Feciais. Os Áugures eram os sacerdotes que interpretavam os
augúrios e os auspícios (sinais que os Deuses davam aos homens para saberem qual iria
ser o seu futuro). Faziam isso olhando para o vento, para o voo das aves, para o
comportamento de certos animais. Os Feciais também interpretavam a vontade dos deuses
mas exclusivamente sobre os assuntos da paz e da guerra que envolviam a cidade de roma.

Este Colégio dos Sacerdotes Pontífices era constituído exclusivamnte por


patrícios, aqueles que pertenciam à classe mais importante de roma. Como isto era tudo
muito contigente eles faziam uma coisa que não estava escrita em lado nenhum: aquilo
que se julga que aconteceu é que os plebeus acabaram por ficar indispostos porque sempre
que eram julgados num conflito contra os patrícios, a tradição encaminhava sempre a
resolução a favor dos patrícios. Ou seja, quem pertencesse à plebe se tivesse um conflito
com patrícios acabava por ser discriminado. Este foi um dos motivos que levou aquilo
que se julga ter sido uma ou duas revoltas dos plebeus (há quem diga que a primeira foi
logo no começo do século e outra na metade do século, há quem diga que tinha sido só

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uma na década de 60). A certeza que há é que houve um conflito entre os plebeus e os
patriciso que fez com que os plebeus tivessem de sair da cidade. A sua intenção era criar
uma segunda cidade. E os patrícios perceberam que sem os plebeus a sua cidade de Roma
ficava muito enfraquecida para além de que iriam deixar criar uma cidade vizinha que
podia ser uma ameaça. Então enviaram cônsules para negociar o regresso dos plebeus à
cidade. Uma das condições foi que tivessem um órgão representativo (Comício da Plebe)
e a outra foi que o direito passasse a ser escrito. Foi isto que levou ao surgimento da Lei
das XII Tábuas. A Lei das XII Tábuas terá nascido em 450 a.C. A partir daqui algum do
direito privado e processual passa a estar escrito. O que foi feito foi pôr a escrito alguns
desses costumes, outras coisas hão de ter sido criadas de raiz. Aqui, os sacerdotes
pontífices começaram a ter a vida, no que diz respeito à interperatação do direito, muito
mais descansada. E no ano 367 a.C. é criado o pretor urbano que passa a ser o único
responsável pelo processo judicial.

Esta Lei das XII tábuas foi totalmente reconstruída na posterioridade. Estima-se
que só 1/3 desta Lei foi reconstruída. Há quem diga que tenha havido uma guerra com os
gauleses e que por isso é que terá desaparecido o resto porque ardeu tudo.

AULA NR.º 5 (16/11/2022)

O que temos vindo a estudar são as fontes do direito romano. O ius romani resulta
de dois sistemas de criação de normas de direito: o sistema do jus civile (processos
tradicionais de criação de direito romano ao longo da história, e estamos a falar de uma
história que começa em 753 a.C., meados do séc VIII, e termina em 476 d.C.). Por isso,
as fontes do jus civile são as formas convnecionais de criar direito romano ao longo de
todo este tempo que aqui está assinalado. Quanto ao sistema do jus honorarium (sistema
que completa e corrige na aplicação prática as normas que são geradas pelo direito dos
ciddadãos romanos), dentro dos vários magistrados que na sua atuação podiam criar
direito, a atuação daquele que foi relevante foi a atuação do pretor urbano. O pretor urbano
era um magistrado com funções judiciais em Roma, criado no ano de 367 a.C. e que
desempenhava no processo a função que presidia à primeira fase. Tínhamos 2 fases, a
fase ius iure, fase do direito, fase que era responsabilidade do pretor urbano na qual o
pretor recebia algum cidadão romano que queria demandar a proteção do tribunal romano
para o direito seu que ele considerava ofendido (depois veríamos se tinha sido ou não) e
uma segunda fase que era a fase apud iudicem, que é a fase em que o processo avança se
nesta primeira fase o pretor entender que existe nas várias fontes do jus civile uma norma-
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direito que se aplique aqueles factos sobre a sua consideração. Se ele detetar essa norma
concede ao demandante uma ação processual, uma accio, e com essa ação avança-se para
a segunda fase do processo que já não decorre diante do pretor mas sim perante o juiz, o
judice, e é então o juiz (que é um particular e não um jurista porque só aprecia matéria de
facto e não de direito, vai ouvir as partes e depois toma uma decisão sobre os factos) que
aplica o direito que tinha sido indicado pelo pretor. Esse direito é um direito que vem das
várias fontes do jus civile: o costume - o mores maiorum, a lei e a doutrina (ou ciência do
direito à qual os romanos davam o nome de iurisprudentia – conhecimento profundo do
ius do direito). Por sua vez, a lei que é uma fonte voluntária e intencional de criação de
normas jurídicas da responsabilidade do órgão de soberania ao longo da história de Roma
teve 3 modalidades: as leis feitas pelos comícios, ou leis comiciais, as leis feitas no senado
ou leis senatoriais e as leis feitas feitas pelos imperadores ou leis imperiais. Nós já
estudamos na aula passada o costume. Hoje vamos começar a estudar a Lei e vamos
estudar as leis comiciais.

Lex (Lei): ao contrário do termo costume, para o qual os romanos utilizaram a


palavra mores e ao contrário do termo ius que depois evoluiu e hoje, em português é a
palavra direito que é utilizada (o direito e o costume não têm origem nos vocábulos
originários no latim romano jurídico – o costume eram os mores maiorum e o direito era
o ius) a palavra lex foi desde o seu início a mesma, ou seja, nós utilizamos a palavra lei
para aquilo que os romanos já a usavam na altura. Esta palavra pode ter vindo da palavra
legere, elegere ou ligare. Legere significa ler e como vamos ver, as primeiras leis romanas
têm uma fase muito importante em que a proposta de lei é lida ao povo romano que as vai
aprovar. É possível que por esse facto legere é algo que nascia do movimento. Elegere
significa escolher. É um sentido mais rebuscado da ideia de lei. Quando faz uma lei,
elabora uma lei, faz sempre escolhas sobre caminhos alternativos. O terceiro é a palavra
ligare. A lei ao criar normas de direito cria regras sociais e essas regras sociais acabam
por estabelecer relações das normas sociais vigentes. Independentemente da origem, a
palavra é usada praticamente desde o início da existência das suas leis. O costume era a
única fonte desde a criação da cidade como cidade-estado (753 aC) até +/- 450 aC (data
provável da publicação da Lei das XII Tábuas). Há historiadores que durante muito
tempo, sobretudo até ao séc. XX punham a possibilidade de antes da Lei das XII tábuas
terem surgido outras leis às quais se dava a denominação de leis régias, por terem surgido
no período dos reis (há antropólogos que entre o séc. VII a.C. e VI a.C. encontraram

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passagens em pedra, textos, incompletos, com um conteúdo normativo, com regras que
ali se encontram determinadas e por isso durante muito tempo havia quem defendesse que
antes da Lei das XII Tábuas tinham existido outras leis, designadas leis régias por terem
sido feitas na monarquia romana. Eram também designadas jus papirianum pois pensava-
se que esses textos tenham sido decretados por um pontifice maximus, ou seja por um
presidente do Colégio de Sacerdotes Pontífices, que precisamente teria vivido e teria sido
desse colégio sacerdotal. Entre o fim do séc. VII a.C. e princípio do séc VI a.C. existiram
outras leis anteriores à Lei das XII Tábuas. Alguns historiadores achavam então que eram
feitas pelo pontifius maximus e aprovadas pelos Comícios das Cúrias. Hoje pensa-se que
estes textos não tinham natureza normativa legal mas sim textos com preceitos de
natureza religiosa, ou seja, normas sobre o comportamento dos romanos nalgumas
matérias de natureza religiosa. Não eram leis porque segundo os historiadores de hoje em
dia nunca podiam ter sido votadas pelo Comício das Cúrias pois não tinha competência
religiosa, só os colégios sacerdotais. A ideia de que se tinham feito leis aprovadas pelo
povo reunido no comício das cúrias, propostas por um Sacerdote Pontífice, é uma ideia
que os historiadores abandonaram no início do séc. XX. De onde a partir desta conclusão
retoma-se a teoria que a primeira Lei foi a das 12 Tábuas.

Entretanto, voltando ao conceito que os romanos tinham de lei, eles tinham esta
expressão para classificar a sua ideia de Lei “lex res sua dicta”, a lei era uma decisão
normativa (dicta significa declarada solenemente – através de um processo formal; rei
sua significa coisa própria; a palavra rei aqui vem de res, de coisa). Para os Romanos a
lei era a constituição de uma norma jurídica declarada solenamente sobre uma coisa
própria, isto significava, que do ponto de vista dos romanos, a lei era uma declaração
solene pela qual duas partes criaram um vínculo jurídico destinando algo que lhes
pertencia. Era uma disposição solene entre duas partes, declaração essa que constituia
normas de direito sobre uma coisa própria. Este conceito de lei que os romanos
empregavam era um conceito muito amplo. Era tão amplo que para os romanos tanto
havia a lex privada como a lex publica. Dentro deste conceito que a lei era uma disposição
solene constitutiva de direitos sobre algo que é próprio das partes envolvidas nessa relação
jurídica, neste conceito tanto é lei, a lei privada, uma disposição solene sobre uma coisa
própria entre dois particulares (hoje chamamos a isto um contrato), como a publica.
Aplica-se da mesma forma, era uma declaração solene constitutiva de direitos entre duas
partes que dispunham de algo que era seu. A lei pública era uma declaração solene entre

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duas partes, entre o povo romano e os representantes do estado romano – os magistrados
– que constituia direitos sobre coisas que pertenciam a essas duas partes, nomeadamente
ao povo romano. A lei pública vinculava toda a gente. A lei privada envolvia apenas as
partes envolvidas das pessoas individuais, a outra era pública porque envolvia partes
coletivas, o povo que representava os Comíciso e os magistrados que representavam o
estado. Quando falamos em leis comiciais estamos a falar em leis públicas. As leis dos
Comícios vinculavam o público romano, que eram compromissos assumidos entre o povo
reunido no Comício que vetava e aprova a lei e os magistrados romanos. As leis são
sempre leis públicas que vinculam as pessoas mas a sua forma é diferente. Chegaram ao
conhecimento da posterioridade mais de mil leis romanas feitas nos Comícios, leis
comiciais. Leis que aconteceram entre 400 a.C. e o início do Principado. Isto porque,
como vimos, o Otávio César Augusto pôs os senados a fazerem leis e esvaziou o poder
das centúrias. Temos então este segundo tipo que são as leis senatoriais. E depois vimos
à medida que avançamos no senado acontece às leis senatoriais o que tinha acontecido às
comiciais, o senado perde poder e a lei é absorvida pelo imperador dando origem as leis
imperiais. Todos estes tipos de leis são leis que se enquadram na definição acima, o que
muda é o órgão de soberania.

Vamos falar nas leis comiciais. Esquecemos então a lex privada, a qual
correspondia ao conceito de contrato hoje utilizado, e vamos entrar nas leis comiciais.
Um dos aspetos muito importantes, relativamente a conhecermos cerca de 1000 leis, só
cerca de 36 é que tratam de direito privado, as outras tratam de direito público. Isto é
importante pois conforme vamos ver, contrariamente ao direito privado (área do direito
socialmente mais relevante – estabelece as regras de vida em sociedade entre as pessoas
singulares e as pessoas coletivas, mas nesta altura entre as pessoas singulares, onde
nenhuma das partes tem poder arescido sobre a outra) no direito público uma das partes
está sempre investida do ius imperi, poder de soberania. Enquanto que nas relações
jurídicas de direito privado somos livres e autónomos de as aceitar ou não e até de as
conformar, dentro de certos parâmetros, no direito público essa liberade não existe, ou
seja, posso casar-me se quiser, posso comprar algo se quiser, mas não sou livre de pagar
impostos ou não vou conformar o valor dos impostos que serei obrigado a pagar, isto pois
uma da parte que é o estado tem poder superior relativamente aos cidadãos.

Vamos então ver que no direito romano, a esmagadora maioria do direito privado
vai ser trabalhado ao longo dos séculos essencialmente através da atividade dos

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jurisconsultos. Há leis que tratam, que dispõe de direito privado – Lei das XII Tábuas a
maioria é direito privado – mas depois quem vai teorizar o direito privado, quem vai
constituir os institutos do direito privado serão juristas e também o pretor. O direito
privado romano curiosamente, apesar de não ter influenciado minimamente a formação
deste outro sistema juridico, até é bem parecido com o direito inglês. É um direito que
nasce na jurisprudência dos tribunais (isto o direito privado) e que absorve conceitos do
costume e até da doutrina. E com o direito romano foi essencialmente assim que o direito
privado que ainda hoje em muitas leis acolhem em vários aspetos, é de influência
jurisprudencial no sentido de ciência de direito e no sentido daquilo que vem de
contribuição do pretor urbano na sua atuação no tribunal.

Vamos então falar das leis públicas comiciais, as quais os romanos davam o nome
de lex publica rogata. A designação que os romanos davam às leis feitas nos seus
comícios poopulares era a lex publica rogata – lei pública rogada (significa pedir). Este
era o nome porque há uma fase no processo legislativo destas leis em que é pedido ao
povo romano, é rogado ao povo romano, que estas leis sejam aprovadas. A definição de
lei comicial é muito simples: leis propostas por um magistrado e aprovadas pelo povo
(aristocrático, sem incluir os plebeus). Eram leis cujo projeto era feito por um magistrado
que depois convocava um comício para pedir ao povo romano que aprovasse aquele
projeto e o transformasse em lei. Os magistrados com capacidade legislativa eram
essencialmente os cônsules, que detinham aquela faculdade que era o jus agendi cum
populum, agendar reuniões com o povo romano - convocar os comícios). Os cônsules
faziam os projetos de leis, convocavam os Comícios, essencialmente o Comício das
Centúrias. O Comício das Centúrias reunia o povo romano e era o Comício que votava
aquela proposta e ou a aceitava ou a rejeitava. Se a aceitasse, o projeto passava a ser uma
lei. Portanto leis comiciais são leis que têm essa mecânica. São leis propostas por um
magistrado ao povo romano reunido num Comício. Os magistrados essencialmente eram
os Cônsules e o Comício que votava as leis mais importantes era o das Centúrias (os
Cônsules tinham a faculdade para reunir o Comício das Centúrias). Este processo
legislativo era mais complexo porque tinha 6 fases, era isto mas desdobrado em várias
fases, aquilo a que podemos chaamar o processo legislativo das leis comiciais, ou seja, a
forma de se fazer as leis comiciais:

1. Promulgatio: significa, traduzido à letra, promulgar. De acordo com o nosso


conceito de promulgação de lei está aqui fora de contexto pois no nosso caso é a

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última fase da lei. A promulgatio aqui significava a fase que decorria durante 3
semanas, 20 dias. Era a fase em que o magistrado que propunha a lei, apresentava
ao povo romano a sua proposta de lei. Dirigia a sua propsota de lei e afixava essas
tábuas na praça pública durante esse prazo, em regra, de 20 dias.
2. Consionis: significa concessão, conceder. Esta segunda fase decorria durante o
mesmo período temporal da primeira, 20 dias. Era uma fase que correspondia à
realização de reuniões na praça pública, no fórum onde estava a proposta de lei
afixada, reuniões promovidas pelo magistrado proponente para esclarecer aos
romanos que quisessem esclarecimentos. Chama-se consionis porque nessas
reuniões os romanos pediam a palavra e o magistrado concedia a palavra 1 a 1
para poderem intervir. Durante estas 2 primeiras fases o magistrado ate podia
chegar à conclusão que haviam ali coisas que ele devia alterar, modificar, que não
estavam bem. A alteração da proposta de lei correspondia a uma nova proposta
por isso voltava tudo ao começo e começava o prazo de 20 dias a contar. Uma
proposta de lei para se manter incólume não pode ser alterada, se for é como se
fosse uma proposta diferente e voltamos ao começo.
3. Se rogatio: Não havendo alteração o magistrado convoca, em regra, o Comício
das Centúrias. Nesse Comício lê a proposta e pede formalmente, roga, aos
cidadãos que aprovem a proposta: “Creis e desejais cidadãos, esta lei?”;
4. Votação: fase em que o Comício das Centúrias, ou o Comício das Tribos (depende
do comício que fosse convocado, em regra o das centúrias era para as matérias de
maior relevância) reúnem as pessoas e deliberavam o voto que iam conceder à lei.
Só tinham 1 voto. Os votos podiam ser 1 de 3 possibilidades. A primeira era
declarar udi rogas (voto favorável à proposta); a segunda era o voto negativo –
antiquo. Isto significava que aquele voto preferia a situação antiga, que não queria
um novo regime jurídico; a terceira possibilidade era declarar um voto non
liquidie – não era claro o conteúdo daquela proposta, era um voto de abstenção.
Se houvesse mais votos favoráveis que desfavoráveis o projeto era aprovado pelo
Comício e passava a fase seguinte;
5. Aprovação – fase da intervenção do senado, aprovação do senado. Aprecicação
equiparável aquela que hoje nos estados de direito é feita pelo Chefe de Estado.
O chefe de estado de portugal pode promulgar a lei ou pode até vetá-la. O senado
intervia no processo legislativo conferindo ao projeto que tinha sido já votado
favoravelmente pelos Comícios a sua autoridade, a sua chancela, a auctoritas

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paterium. Quando nós falamos nos magistrados falamos da potestas, falamos do
imperium e vimos que o senado não tinha imperium, não tinha poder executivo e
não tinha soberania embora fosse o órgão mais importante da República do ponto
de vista político. O que tinha era autoridade, era auctoritas. Tinha autoridade que
fazia com que a sua opinião fosse quase sempre seguida por quem lhe pedia essa
opinião. Quem pedia não eram os cônsules, eram os magistrados. O senado
concedia um parecer favorável ou não, no fundo. Ou concedia a auctoritas
paterium ou negava. Se negasse, a lei não prosseguia. Só que nestas circunstâncias
era difícil um projeto de lei já aprovado pelo povo num Comício, era muito
impopular o senado reprovar por isso praticamente a auctoritas dada pelo senado
era automática. Só que em 339 a.C. foi aprovada uma lei que (Lex Publilia
Philonis) determinou que esta fase da aprovação senatorial de uma proposta de
lei, que era até 339 a.C. a quinta fase do processo, passasse a ser a 3.ª. Isto
significava que o senado queria ter um poder de controlo maior sobre as leis que
eram aprovadas nos Comícios. Uma coisa era o senado conceder ou negar a sua
autoridade a uma lei já aprovada pelo povo outra coisa era ele fazer isso antes da
lei chegar ao Comício. As fases continuam a ser as mesmas mas esta fase é
antecipada. Antes de convocar o Comício leva já a decisão do senado e por isso
era muito mais fácil ao senado, se quisesse, reprovar uma proposta de lei de um
magistrado fazê-lo desta maneira do que da outra. Isto revela várias coisas, uma
delas é que o senado teve desde muito cedo uma apetência considerável pelo
processo legislativo, pela feitura das leis. Essa apetência vai acabar por se
concretizar nisto: é o próprio senado a assumir o poder legislativo muito tempo
depois de 339 a.C., só no início do principado. Mas começou por aqui. Esta
alteração da quinta fase que passa a ser a terceira, esta alteração da intervenção do
senado, inicia bem aquilo que séculos depois se consume na transferência do
poder legislativo definitivamente dos Comícios para o Senado romano.
6. Afixação;

A forma de fazer uma lei era esta.

Falta uma pequena parte.

Quando as leis têm só o nome ou são leis aprovadas por um ditador (em roma
durante a República havia a magistratura extraordinária que só de tempos em tempos se
traduzia que era a ditadura).
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Outras lei que não as ditatoriais eram as plebiscitos. Algumas constituições ainda
prevêm, como é o caso da francesa. Têm origem na cidade de Roma, e de onde é que isto
vem? Nós dissemos que por volta da primeira metade do séc. V a.C. houve uma grande
convulsão social (revolta) que foi provocada pelo desagrado pela forma como os plebeus
eram tratados, sobretudo em direitos de cidadania, direitos políticos. Numa dessas
revoltas organizaram-se e decidiram sair da cidade com o objetivo de fazer outra cidade
onde tivessem direitos iguais entre si e não fossem explorados por um órgão superior.
Isso teve como consequências a criação da Lei das XII Tábuas e outra foi a criação do
Comício (ou consílio) da plebe, como já vimos. Os plebiscitos são as deliberações
tomadas nos Comícios da Plebe. Só que esses plebiscitos inicialmente não valiam nada,
eram deliberações de um órgão que não tinha poder de soberania, simplesmente, muito
cedo (51, 52 a.C.) a Lex Valeria Horatia reconheceu força legislativa aos plebiscitos, mas
apenas para os plebeus. Isto significa que a partir desta lei e desta data os plebiscitos
passaram a ser verdadeiramente leis, mas apenas para os plebeus, não se impunham aos
patrícios como leis. Também sabemos que à medida que vamos avançando no tempo, é
no séc. IV que praticamente todas as magistraturas romanas se abrem à entrada de
plebeus, as diferenças de cidadania entre plebeus e patrícios cada vez são menores. Em
287 a.C. encontra-se o corolário lógico dessa evolução, surge uma lei que decreta que os
plebiscitos eram obrigatórios para todo o império romano. Isto corresponde a
consideráveis transformações da ordem social da cidade de Roma, com uma progressão
da plebe em termos de conquista de direitos de cidade e tem outro significado, é que
embora os plebiscitos cuidassem essencialmente de assuntos que diziam respeito à plebe,
na prática passavam a ser iguais às leis públicas promulgadas. A partir de uma certa altura
começam a ser confundidos. Os próprios plebeus começam a participar nos comícios
populares das centúrias, já ocupam todas as magistraturas, já estão no senado e esta
distinção em termos de direitos políticos e cidadania entre plebeus e patrícios deixa de
fazer sentido. De forma que as últimas leis dos últimos 150 anos da República há
dificuldade em saber se são leis com nomes singulares, se são leis comiciais, se são
plebiscitos, qual a natureza específica daquela lei. Há quem diga que a Lex Ortencia
Plebiscito veio de um plebiscito, veio de uma magistratura ditatorial, não se sabe (…)

Em suma, os plebiscitos são pareceres inicialmente, transformam-se muito cedo


em leis, não com caráter geral mas apenas destinadas aos plebeus, e a partir de 287 a.C.
passam a ser leis com caráter geral, ou seja, que se aplicam a todo o povo romano.

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Uma última questão meramente formal sobre a forma como as leis comiciais eram
feitas. Se formos visitar museus que existem nas várias capitais europeias que têm parte
do seu espólio com peças antigas, romanas, gregas… vemos que as leis comiciais eram
feitas em tábulas, ou de pedra, ou de bronze, ou de mármore e eram divididas formalmente
em 2 ou 3 partes. Haviam algumas que eram em 2 outras em 3. A primeira parte
designava-se por pas escrito (prefácio) – era a parte meramente introdutória, dizia quem
foi o magistrado que propôs, qual o Comício que tinha votado a lei e em que dia tinha
reunido o Comício. A segunda fase era a rogatio, tem o mesmo nome da fase do processo
legislativo. Era compreensível pois era aquilo que era pedido pelo magistrado para ser
aprovado, era o conteúdo substantivo da lei, era a parte dispositiva da lei. A terceira parte
é uma parte eventual, nem todas as leis continham, quando existia era a sanctio, sanção.
Era uma parte onde se dizia qual era a penalização aplicável a quem não acatasse a lei.
As leis comiciais são as leis características da República. Entram em decadência à medida
em que nos vamos aproximando do fim da República, decadência essa que corresponde
à própria decadência do elemento popular da República que se vai esvaindo, vai perdendo
importância e vai sendo substituido ou por triunviratos ou ditaduras cada vez mais
frequentes, por uma influência do senado cada vez maior, até que chegamos à guerra civil
que leva Otávio Cesar Agusto ao poder e a instalação do Principado. Aí os Comícios
deixam de reunir e passa a ser o senado a fazer a lei, designadas leis senatoriais, ou por
senatos-consultos.

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Matéria do Segundo Teste
Falta-nos só falar da primeira das leis comiciais que é, segundo se julga, a Lei das
XII Tábuas (aquilo que conseguiu ser reconstituído ao longo da história). Esta
reconstituição foi feita a partir de obras dos jurisconsultos romanos. Tudo aquilo que
andamos a dizer, que vamos dizer até ao fim do ano só foi possível porque entre o fim do
séc. II (130 a.C.) e o começo do séc. III d.C. (230 d.C.) é o período da chamada época
clássica do direito romano. Época Clássica porque foi o período onde apareceram os
grandes juristas romanos, que escreveram sobre direito romano e ajudaram a
concetualizar os institutos do direito romano. E nós, naquilo que conhecemos do direito
romano, e conhece-se muito, foi graças às obras desses juristas. Mas nem sequer foi pela
consulta direta das obras desses juristas, foi através daquela compilação que é o corpus
iuris civiles (séc VI da era cristã) e nomeadamente uma parte do corpus iuris civiles que
é o digesto. São 50 livros de direito romano codificado a partir de citações dos tais juristas
clássicos, são utilizadas obras, cerca de 38 ou 39 (há uma que não se tem a certeza se é
do mesmo autor ou não). É a partir do digesto que se reconstitui todo o direito romano.
Reconstitui-se todo o direito romano para ser aplicado na europa ocidental a partir do séc.
XII. Se estes livros não existissem a civilização europeia hoje seria diferente. Então aquilo
que se conhece disto é feito através do conhecimento que nos foi dado pelos livros dos
grandes juristas romanos de praça. Por isso, esta reconstituição é uma reconstituição que
tem partes que se pensam que eram ipsis verbis da lei e outras que são adaptações escritas
pelos juristas clássicos sobre essas partes da lei e mesmo assim aquilo que aqui está só
corresponde a um terço da totalidade da lei das XII Tábuas. As Tábuas 1, 2 e 3 tratavam
processo civil. A tábua 3 é uma tábua muito interessante que inclui princípios de direito
processual que ainda hoje seguimos. As tábuas 4 e 5 tratavam de direito da família e das
sucessões. As tábuas 6 e 7 tratavam do direito da propriedade urbana e rural e ainda alguns
negócios jurídicos (emancipatio e nexio – primeiro contrato que os romanos
desenhavam), as tábuas 8 e 9 versavam sobre direito penal ou direito criminal. A tábua
10 dispunha sobre direito sagrado. As tábuas 11 e 12 eram tábuas complementares das
anteriores, não tinham matérias especificas. Tratavam de vários assuntos que
complementavam aquilo que estava nas 10 tábuas anteriores.

AULA NR.º 6 (23/11/2022)

Temos estado a falar nas leis romanas.


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Tratamos da lex rogata ou leis comiciais.

A primeira destas leis foi a Lei das XII Tabuas. A lei das 12 tabuas (chegamos
inclusivamente a falar que os historiadores punham a possibilidade de antes da lei das 12
Tábuas terem existido as leis régias também conhecida por jus papirianum mas a
conclusão mais fidedigna é que tenha sido as 12 tábuas a primeira lei do direito romano);
A Lei das 12 Tábuas aconteceu +/- a 450 a.C. Foram 10 magistrados conhecer as Leis de
Sólon a Grécia para fazer a lei das 12 Tábuas. Só se recuperou 1/3. Aquilo que se manteve
foi uma tradição oral da lei das 12 Tábuas que chega ao séc. I a. C. que permitiu que
juristas de direito romano tivessem escrito alguma parte do conteúdo da leis as 12 Tábuas
e a partir das obras desses juristas que foi possível, já no séc. XIX fazer a reconstituição
da lei das 12 Tábuas. É com base no digesto que os juristas do séc. XIX conseguiram
reconstituir a lei das 12 Tábuas que será 1/3 daquilo que era.

A Lei das 12 Tábuas foi a primeira lei comicial. Foi aprovada com o processo das
leis comiciais (segundo as 6 fases que demos na última aula). Ao que se pensa quase a
totalidade do conteúdo desta lei eram antigos costumes retirados dos mores maiorum que
já eram aplicados em Roma no tribunal romano. Esta lei o facto de ter sido escrita e
aprovado pelo comício não significa que os conteúdos não pudessem ser praticamente
compostos por antigas normas de direito consuetudinário, passou é a ter o vínculo da lei
pública entre o povo romano e os magistrados da cidade que são os proponentes da lei.

Algumas coisas têm de ser referidas. Em primeiro lugar o seu conteúdo.

Da Tábua 1 a 3 temos direito processual civil, Tábuas 4 e 5 família e sucessões, 6


e 7 direito da propriedade, seja urbana seja rural, e alguns negócios jurídicos, tábuas 8 e
9 direito penal ou direito criminal (sinônimos), tábua 10 direito sagrado e as últimas 2
Tábuas cuja autoria os historiadores discutem.

Vamos começar por falar nas primeiras 3 tábuas, processo civil. Processo civil são
as regras jurídicas que organizam a forma pela qual uma ação judicial atravessa num
tribunal, ou seja, são as regras que estabelecem o andamento de um processo, de uma
ação judicial em tribunal, como pode ser intentada, admitida, como é julgada e decidida.

Há uma série de conceitos que vamos tentar apreender a partir destas Tábuas. Em
primeiro lugar, a Tábua I, a epígrafe era “Do chamamento a juízo”. Antes de tudo temos
de ter em atenção que nesta altura o processo em Roma não era estatizado mas sim privado

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(não decorria através de magistrados romanos ou funcionários romanos, isso só começa
em 337 a.C., com as leges licinia sixta que criam o pretor urbano, que vai ser o primeiro
magistrado criado pela República romana para interferir no processo judicial embora não
na sua totalidade).

Antes disto o processo começava pelo chamamento do juízo (conforme o título da


Tábua) – quando alguém quer chamar outra pessoa a tribunal. Manus injectio –
aprisionamento de uma pessoa para cumprir esse fim que era levá-lo a tribunal. Quem é
que fazia isto? Quem é que chamava outra pessoa a juízo, reunia testemunhas, e quem
nessas circunstâncias tinha legitimidade para exercer a manus injectio? Era o próprio
ofendido, que era o demandante, um particular.

Esta primeira Tábua tem 6 leis dentro da primeira Tábua. No ponto 5 refere-se
dois dos primeiros contratos no direito romano. O nexium e o emancipatio.

A Tábua 2.ª continha 3 pontos, ou 3 leis, e a última delas era relativa à dificuldade
que o cidadão romano podia ter em levar a tribunal alguém. Dizia que tinha de ir 3 dias
gritar para a porta do réu.

Esta primeira fase do processo serve para alguém que julgue ter um direito seu
que tenha sido posto em causa por outra pessoa poder levá-lo a julgamento.

A Tábua 3 trabalha a execução de dívidas já constituídas. A primeira indicação


que a norma faz é relativa à forma como a dívida se constitui. Então temos aqui duas fases
a confessio in iure e a sentença. As duas possibilidades de constituição da dívida era então
se fosse confessada em juízo ou então depois de se reunir as provas e proferir uma
sentença. Depois de estar a dívida constituída tinham 30 dias (dias iusti) para a pagarem.
Durante esses 30 dias nada podia acontecer ao devedor. Se não pagar tem lugar a manus
injectio e conduz outra vez o devedor a tribunal. Se não apresentar fiador o credor fica
com ele agarrado pelos pés, aprisiona-o durante 60 dias. Se o devedor quiser nesses 60
dias, pode comer o que é seu. Se não tiver com o que se sustentar o credor tinha de lhe
dar uma libra de farinha. Depois levavam-no para três feiras consecutivas e erra obrigado
a gritar o valor da dívida a ver se alguém a pagava. Se não conseguisse podia ser morto
ou levado para além do Rio Tibre para ser vendido como escravo. Isto quer dizer que
aquela margem ainda não era parte da cidade de Roma. Como se sabe que Roma só se
expandiu no sec. 4 a.C. para a outra margem então teve esta norma de ser escrita no séc.
5 a.C. Segundo o ponto 6 podia ser torturado.

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A verdade é que em 326 a.C., mais tarde, foi feita a Lex Poetela Papiria que
proibiu a responsabilidade física por dívidas. Esta proibição já constava da Lei de Sólon,
feita no séc. 6 a.C.

O nexum deve ter sido o primeiro contrato de todos. Era um contrato de crédito
pelo qual uma pessoa empresava o direito a outra e ficava devedor aquele que recebia e
o credor aquele que emprestava. Este contrato implicava a responsabilidade do devedor,
aplicando-se aquelas cenas mórbidas que falamos antes. O nexium acaba por ser
invalidado com a lex poetela papiria. Foi então substituído, aparentemente, pela
stipulatio.

A Tábua 4 é direito da família.

A tabua 6.º vale a pena fazer menção ao número 1 dessa Tábua. Os romanos
classificam como lei um vínculo entre particulares (lex privata).

Tábua 9 n. 1 – não se devem propor leis contra uma pessoa em particular


(generalidade e abstração).

Nexum- contrato de crédito entre 2 cidadãos romanos pelo qual se constitui um


crédito em que era garantido pelo devedor oferecendo a sua pessoa física. Isto quer dizer
que se não houvesse um pagamento voluntário respondia pela dívida a pessoa física pelo
devedor. Este contrato tem então o seu fim com a lex petelia papiria – na prática torna o
contrato impossível porque deixa de ser permitido a responsabilidade física.

Stipulatio – contrato de natureza obrigacional, ou seja, com a finalidade de criar


obrigações entre as partes. Essencialmente aquilo que era transacionado neste tipo de
contrato era essencialmente obrigações de natureza pecuniária. Daí que a stipulatio tenha
substituído o nexum.

Mancipatio – era um contrato de transferência da propriedade; era um negócio


jurídico cuja finalidade era a transferência de direitos de propriedade. Era essencialmente
um contrato de compra e venda.

A questão mais importante é: como é que nos sécs. 5, 4 e 3 a.C. se faziam estes
contratos? Com que meios? O papel não existia nesta altura. O papel é criado pelos
chineses no séc. I da era cristã e só ao final de algum tempo é que a coisa foi conhecida
por outros povos. O processo judicial romano para ser levado a sério era extremamente
formalista e extremamente solene... mas era oral. Já havia esta consciência da importância
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de criar mecanismos para que as pessoas pudessem realizar negócios umas com as outras
com segurança. Os romanos criaram então um sistema em que todos estes atos eram
solenes, ou seja, eram atos que eram realizados na presença das divindades. Mesmo assim
não era suficiente. Então os romanos criaram 3 maneiras de fazer contratos:

• Per aes et libram: pelo bronze e pela balança;

• Per verba certa: por palavras certas;

• Per letterae: por escrito (nesta fase era praticamente inexistente – estamos a falar
no séc. 5 a.C.);

Nesta altura a maior parte dos contratos era feita verbalmente.

A mancipatio era feita pelo bronze e pela balança. Isto era um ritual. Era um ritual
no qual o essencial era transferir a propriedade. Este ritual consistia na introdução destes
dois elementos: bronze e balança. Para além dos deuses era preciso 5 testemunhas
humanas. Era desenvolvido por uma pessoa, um particular que presidia a esse ritual. Essa
pessoa levava consigo uma balança com dois pratos e umas placas de bronze. O ritual era
feito entre o comprador e o devedor na presença de 5 testemunhas do portador da balança
e do bronze. O bronze significava o dinheiro que ia ser pago pela compra. O particular
batia com o bronze na balança e depois pesava o bronze na balança. Era um ritual que
servia para dar formalidade a um típico negócio de compra e venda.

A stipulatio era um negócio oral, verbal. Era feito por uma pergunta “Spondes nili
dare X” – “prometes dar-me x?” e a resposta era “spondeo” – “prometo!”. Esta resposta
gerava um vínculo jurídico obrigacional. Se alguma cosia falhasse nesta pergunta ou nesta
resposta o contrato não existia para o direito. Vamos imaginar que isto é feito e em ato
imediato fica feito o empréstimo. Se em vez de spondeo respondesse promitio (que
também significava prometo) isto significava que o negócio jurídico não era constituído.
Se o devedor não entrega aquilo que se tinha prometido a entregar ou uma vez recebido
não devolve ao fim do tempo convencionado, o credor ou tenta resolver as coisas pelas
próprias mãos ou então, se quisesse tentar resolver pela tutela do direito, a partir de 367
a.C. tinha de se dirigir ao pretor. O pretor só queria saber se o ritual foi feito pelas palavras
certas para ver se o negócio existia para o direito. Na fase inicial da atuação do pretor ele
só ia ver se a relação foi constituída de acordo com as regras do direito. Se não fosse o
credor ficava a arder.

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Jus romanum = ius civile + ius honorarium (especialmente o ius praetorium). O
pretor servia então para integrar as situações que eram injustas pois o objetivo dele era
realizar a justiça. O jus praetorium serve para corrigir os defeitos do ius civile e para
integrar as lacunas do ius civile. Este ius praetorium nasce da atuação do pretor na fase
in iure. O pretor foi criado em 367 a.C. Só em meados do séc. III, 100 anos depois da
magistratura do pretor ser criada, é que o pretor vai perceber que para estas situações
injustas pode ter uma solução que decorre dos poderes que lhe são dados, que é o poder
de soberania. Com este poder não criam direito, mas é um poder que permite resolver as
situações forçando os factos. Ou seja, chama-os aos dois e repetem o negócio bem feito.
A isto chamava-se stipulatio praetorium.

AULA NR.º 7 (30/11/2022)

TESTE.

AULA NR.º 8 (7/12/2022)

Estamos a estudar as fontes do ius civile, que como todos sabem é um dos dois
sistemas de criação de normas de direito romano sendo que o outro é o ius honorarium,
ou direito magistral, direito que era criado por alguns magistrados no desempenho da sua
atividade sendo que, de todos os magistrados que criaram algum direito no desempenhar
das suas funções, como os edis curus, como os governadores das províncias, apenas o
direito criado pelo pretor é que teve relevância para aquilo que foi o direito romano que
perdurou no tempo pois o outro direito era circunstancial, esgotava-se na funções dos
magistrados, nunca integrou o grande direito romano que permaneceu ao longo da
história. Por isso é que dizemos que dentro do jus honorarium o que nos interessa estudar
é o direito criado pelo pretor urbano o jus praetorium. Dentro das fontes do ius civile já
sabemos que encontramos o costume, ou mores maiorum, depois a lei, sendo que dentro
da lei temos 3 tipos de leis (as leis comiciais, ou leges rogata; as leis do senado ou leis
senatoriais, ou senatusconsultos e, por fim, as leis imperiais, às quais o romano deram o
nome de constitutiones principum), temos ainda a ciência do direito romano, ou
iurisprudentia. Ora estas são as fontes convencionais do direito romano, aquelas que
resultam da criação de normas de direito para os cives, razão pela qual este conjunto de
fontes se designa por ius civile, e vimos que os mores maiorum são a fonte típica do
período monárquico; quando entramos na República, o poder legislativo (fazer o direito
através da lei) é criado, pois os mores maiorum são uma fonte de base costumeira ou

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consuetudinária, sendo que o costume resulta de criação espontânea de criação de normas
jurídicas ao passo que a lei corresponde a um processo voluntariado, racional da criação
da norma, da responsabilidade do órgão com competências legislativas. Esse poder
legislativo pode ser exercido por diferentes órgãos. A maioria dos estados europeus que
se baseiam no poder exercido por órgãos de representação democrática são
essencialmente os parlamentos. Em Portugal é a AR, mas noutros países essa designação
é distinta, sendo que em vários países os parlamentos têm duas camaras, o nosso é
unicameral. A razão atualmente é que os parlamentos bicamarais (a câmara alta era a
câmara dos pares, representava a nobreza, a aristocracia, os interesses mais ligados ao
rei). O único parlamento democrático que mantem uma câmara alta ainda com alguns
laivos de aristocracia é o sistema inglês. O poder legislativo hoje pertence nos países
democráticos a parlamentos representativos, que fazem a lei em nome do povo, mas se
olhássemos para 400 anos atrás a lei era feita pelo rei através da legitimidade do sangue.

Em Roma temos o poder legislativo típico da república exercido pelos comícios,


depois à medida que nos vamos aproximando do fim da República e começamos a
pressentir que a República está decadente, surge o principado (não se baseava numa única
pessoa, mas caminhava nesse sentido), reforçou o senado com o poder legislativo. Neste
período temos um novo tipo de lei que são os senatusconsultos e, portanto, o poder
legislativo transfere-se dos comícios populares que vão perdendo esse poder (o que era
do interesse do príncipe). À medida que avançamos na história do principado vamos ver
que vai verificar-se uma progressiva tensão entre o senado e o imperador com uma
tentação permanente por parte do imperador em assumir mais poderes, em concentrar
mais poderes, e o Senado a tentar resistir a essa pressão dos imperadores. Ao fim de algum
tempo os pratos da balança começam a pender em função do imperador acabando isto no
dominado ou no absolutismo imperial. O poder legislativo migra aqui do senado para o
imperador. Esse processo só termina de facto em meados do séc. III, d. C. com a subida
de Diocleciano ao poder. Já quanto à iurisprudentia. Até agora estudamos os mores
maiorum, as leges rogata, na aula de há duas semanas falamos na lei das XII Tábuas, hoje
falaremos dos senados consultos, depois na próxima aula concluiremos com a análise das
constituições imperiais e da jurisprudência. Posto isto encerramos o ius civile e depois
estudaremos o direito do pretor.

Senatusconsultos:

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Estamos aqui perante, novamente, uma palavra composta. Senatusconsultos é
composta pela palavra senato (senado) e consulta. Os senatusconsultos eram documentos
feitos pelo senado em resposta a pareceres que lhe eram pedidos ao longo da história em
que os senatusconsultos existem por várias entidades do estado romano. São, portanto,
documentos escritos pelo Senado que constituíam respostas do Senado a consultas que
lhe eram feitas. Quem fazia consultas ao Senado? O Senado foi criado praticamente desde
o início de Roma. A ideia é que o Senado é um órgão de consulta da monarquia que os
reis utilizavam sempre que queriam uma opinião dos senex, das pessoas mais idosas,
ainda que aqui significasse não idoso mas com mais experiência, e portanto, nós sabemos
que durante a monarquia é o rei quem consulta o senado. Quando termina a monarquia,
em 509 a.C., vamos entrar no período da República e quem é que consulta o Senado? Os
magistrados. Dentro dos magistrados vários o fazem, nomeadamente, os que tinham o jus
agendi cum paters, o direito de convocar os pater, direito de agendar reuniões com os
pais dos senados de Roma que eram os senadores. O Senado só mais tarde, em relação à
sua constituição, é que é um órgão que ganha autonomia, pois durante a monarquia e
durante boa parte da república o senado reúne a convocação de quem o podia convocar.
À medida que vamos avançando na república e à medida que o senado vai aumentando o
seu poder, o seu prestígio, o senado acaba por ser um órgão estável e que reúne
independentemente de ser convocado. Portanto, no período da monarquia é o rei que
consulta o senado e os senadores; no período da república são os magistrados, sendo
essencialmente os cônsules e os pretores, magistrados que com relativa frequência se
encaminham ao senado para se consultarem junto dos senadores sobre o exercício das
suas funções, sobre decisões que tinham de tomar. Convém não esquecer que o Senado é
um órgão que embora não tivesse poder de soberania (não era um órgão executivo, com
poder político soberano) tinha, contudo, a chamada auctoritas, tinha autoridade, tinha
prestígio.

Isto porque julga-se que quando terminamos a monarquia o senado tinha cerca de
300 pessoas, no seculo I a.C., depois de uma reforma feita por Sila tinha cerca de 600
pessoas, depois do governo de Júlio César, entre 60 e 44 a.C., o Senado chegou aos 900
membros e quando entramos no principado esse número ultrapassou os mil senadores.
Pessoas todas elas com poder, influência, prestígio, capacidade financeira, força militar e
por isso o senado era obviamente o órgão onde se concentra o poder do estado romano.
Durante o período da república até com outro traço muito importante é que se pertencia

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ao senado vitaliciamente, e enquanto se era magistrado durante 1 ano. Por isso o Senado
era o órgão mais estável da república. Isto significa que habitualmente quem consultava
o senado acabava por seguir aquilo que o senado dizia. Portanto os senatusconusltos ainda
não eram lei, pelo menos no período da monarquia e da república, mas tinham essas
opiniões, o prestígio e a autoridade do senado, por isso dificilmente quem solicitasse um
parecer do senado sobre determinada matéria deixaria de o cumprir. Não era fácil ser-se
inimigo declarado no senado. Acontece que senatusconsultos (consulta feita ao senado,
documentos que resultam das consultas feitas ao senado) existem desde os tempos
primordiais da monarquia, por isso é que foi criado, o rei consultava-se de uma forma
rotineira do senado. Essas consultas eram verbais só começam a ser escritas na república.
Inicialmente os senatusconsultos são meros pareceres do senado, em força vinculativa,
não são leis. A força que têm é auctoritas, têm autoridade. Os senatusconsultos refletiam
a opinião dos senadores, a opinião do senado. Por isso quem pedia esse parecer em regra
seguia-o. Não estavam vinculados a segui-los, pois, não eram ainda leis. Os
senatusconsultos só passam a ser leis, só têm força legislativa a partir do principado. E o
primeiro senatusconsulto com força de lei, com força autónoma de lei, é do ano 4 a.C. É
um senatusconsulto absolutamente sem sabor, tratava de matéria incaracterística, pois
tratava matéria processual, questões relacionadas com a rotina e com o funcionamento
dos tribunais romanos, não tratava de direito substantivo (há quem diga que isto foi uma
estratégia que eles usaram para criar leis daí para a frente através desta subtil incorporação
de uma lei cuja matéria não chocava o povo romano). O primeiro senatusconsulto que
tratava de matéria de direito substantivo, inclusive de direito criminal, foi o
senatusconsulto Silaniano, 14 anos depois do primeiro, portanto, 10 d.C. Há
senatusconsultos desde a fundação do senado, desde a monarquia. Inicialmente esses
senatusconsultos não tinham força vinculativa, tinham o prestigio do órgão que os emitia,
e esse prestígio era de tal modo forte que era difícil ao seguir o que o senatusconulto
recomendava.

À medida que vamos avançando no tempo vemos que o senado se vai


progressivamente imiscuir no processo legislativo. Um desses momentos foi a concessão
da auctoritas patrum, a autoridade senatorial, às propostas de lei feitas pelos cônsules. Os
senatusconsultos eram respostas dadas a pareceres que eram pedidos na fase da república
pelos magistrados. No processo legislativo estudamos que a quinta fase era a fase na qual
o magistrado proponente da lei, já votada favoravelmente nos comícios, levava essa

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proposta de lei ao senado para obter a chancela do senado. O senado podia dar ou não
dar… Em regra, dava sempre porque a lei já tinha sido votada pelos comícios. Mas no
ano 339 a.C. com a Lex Publilia Philonis, determinou que os projetos legislativos deviam
ir ao senado antes de irem ao comício, e, portanto, esta fase que até então era a quinta fase
passou a ser a 3.ª. Isto era já um indício do interesse que o senado tinha pela maneira
como se faziam as leis em Roma. Correspondeu a uma filtragem mais robusta por parte
do senado, dos projetos legislativos que se transformam em leis. Assim os projetos
passavam a ir ao senado antes de ir ao comício e se o senado quisesse impedir que o
projeto continuasse era mais fácil assim. Isto é um bom indício de que a feitura da lei não
era matéria indiferente aos senadores e ao senado. E, portanto, isto é um reforço da
intervenção do senado no processo legislativo. Mas isto não faz com que o
senatusconsultos que recomendavam ou não a aprovação da lei tivesse força legislativa,
continuava a ser um parecer.

Surge aqui antes do principado outro facto que vai contribuir para que o senado
reforce mais ainda a sua intervenção na criação do direito. Todas as aulas desde que
começamos a falar deste assunto, vimos que o pretor é criado em 337 a.C. com a função
de presidir à fase in iure. Nessa fase o pretor ouvia os factos, apreciava-os do ponto de
vista do ius civile, e via se havia ou não havia norma de direito romano aplicável e
concedia ou negava uma accio. Ora, conceder ou negar uma ação processual era
determinante para a realização de um direito subjetivo de qualquer cidadão romano que
entendesse que um direito seu estava a ser posto em causa. Costumava-se então dizer que
quem tinha accio tinha ius. Para que um direito pudesse ser defendido ele tinha de ter a
possibilidade de poder ser apreciado e discutido em tribunal, ora aquilo que permitia que
isso acontecesse era a concessão da ação processual. Por volta de meados do séc. 3 a.C
os pretores começam, quando tomam posse, a fazer um documento chamado édito do
pretor. Os éditos não eram exclusivos do pretor, o chamado ius edicendi, significava o
direito de fazer comunicação a todos os cidadãos do povo romano. Ainda hoje temos os
Editais. Comunicações do poder local feitas a todas as pessoas que possam ter interesses
nelas, afixadas nos espaços perdidos das autarquias. Portanto um edito é um documento
de caráter geral feito por várias entidades ao longo da história de Roma. O pretor fazia
éditos, os imperadores mais tarde vão fazer éditos (os éditos dos imperadores vão ser as
leis mais importantes).

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Dos éditos do pretor vamos falar do édito anual. No início do ano, o pretor
publicava um documento em tábuas de madeira, lacradas, com uma lista de situações às
quais ele concedia accio e uma lista de situações às quais ele ia denegar a ação processual.
Esta lista das situações vem dos anos anteriores. Decorre da aplicação da lei, concedia
accio a situações previstas e negava a situações não previstas e à medida que os anos
avançavam o direito romano podiam criar novas leis e todos os anos atualizavam o édito
do pretor. Este documento é o documento, ele mesmo, que se constitui como uma fonte
importante do direito romano porque no fim de contas quem não estivesse aqui (do lado
das situações que davam direito a accio) não podia realizar um direito eventualmente
ferido. Ora, o édito do pretor é uma fonte imediata do direito, cria a possibilidade de um
cidadão romano realizar o seu direito ou nega essa possibilidade. O que acontece, porque
é que isto tem a ver com os senatusconsultos? Tem que ver com os senatusconsultos
porque a partir do séc. I a.C., graças ao crescente prestígio do senado, os pretores,
começaram a levar o seu édito anual ao senado antes de o publicar. Os pretores eram
eleitos, no comício das centúrias, a eleição era feita antes do início do ano em que ele ia
exercer funções e nesse compasso de tempo ele levava a sua proposta de édito ao senado
para que o senado se manifestasse. Os pretores iam pedir um parecer ao senado sobre o
seu édito. E o senado respondia, através de um documento destes, um senatusconsulto,
no qual aconselhava o pretor a tirar algumas situações a acrescentar outras e, portanto,
era frequente que o parecer do senado sugerisse modificações no conteúdo do édito. E
como vimos que o seu prestígio era muito, aquilo que acontecia é que a partir do séc. I
a.C. os pretores começam a verter para o conteúdo dos seus éditos aquilo que o senado
lhes dava como parecer através de um senatusconsulto. Isto quer dizer que a partir do séc.
I a.C., por causa disto, os senatusconsultos, ou melhor, estes senatusconsultos que davam
o parecer do senado sobre o édito do novo pretor, podem ser considerados fontes mediatas
de direito porque influenciam, determinantemente a fonte imediata que era o édito. Ser
fonte mediata quer dizer que é uma fonte que influencia a fonte imediata, mas por si
mesmo não tem qualquer força normativa, por exemplo, a doutrina hoje em Portugal. O
legislador, a AR ou o Governo, sempre que quer legislar sobre matéria relevante ou
sensível, pede pareceres a juristas e até a pessoas que não são necessariamente juristas
para se poderem ilustrar a forma como deve fazer a lei, por exemplo, ainda agora sobre a
questão da eutanásia o parlamento socorreu-se de pareceres não só de juristas, mas
também médicos, e por isso a doutrina que as pessoas têm sobre aquelas matérias não se
pode dizer que seja fonte imediata do direito. Portanto não é fonte imediata, mas

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influencia o espírito do legislador. E muitas vezes olhamos para determinadas leis em que
esta ali espelhado o pensamento de um jurista ou um conjunto de juristas. O Código Penal
é o pensamento flagrante do Professor Figueiredo Dias, se eu pegar no código penal, que
é uma lei, o tribunal tem de julgar o processo, mas se for com as lições de direito penal
do Professor Figueiredo Dias o juiz não está vinculado à opinião do Professor Figueiredo
Dias. Agora a Lei pode ser na sua feitura influenciada por outras fontes, entre elas a
doutrina. Quando uma determinada manifestação influencia, mas não determinam
necessariamente, mas quando influencia o conteúdo da lei, nós dizemos que estamos
perante uma fonte mediata (pois não se aplica por si).

No séc. I a. C. estes, e só estes senatusconsultos que opinavam sobre o direito do


pretor, eram fontes imediatas do direito romano através do edito do pretor, mas ainda não
eram fontes imediatas. Os senatusconsultos só se transformam em fontes imediatas a
partir do ano 4 a. C. com o início do principado e graças ao tal estratagema utilizado pelo
Octávio Cesar Augusto de valorizar o senado para lhe poder retirar alguns poderes. À
medida que avançamos no principado veremos que cada vez mais a apetência dos
imperadores pelo poder legislativo vai ser crescente. Podemos então dizer que no tempo
da monarquia e da república, os senatusconsultos são pareceres do senado com auctoritas
mas não são leis. No principado, são leis, impõe-se por si mesmas, não precisam de
influenciar fonte nenhuma para se constituírem verdadeiras leis de direito romano. Só
que, os imperadores vão começar também a querer fazer leis, e então, vamos ver que as
leis dos imperadores formam-se num processo semelhante a constituição dos
senatusconsultos com força normativa também. Acontece que os imperadores como
percebem que o senado era um órgão muito forte não lhe podiam tirar o poder que lhes
havia acabado de ser dado. Começam, a partir do imperador Adriano, 117 a 138 dC,
sempre que queriam ver uma lei aprovada pelo senado dirigiam-se eles mesmo ao senado
e faziam um discurso aos senadores tentando convencê-lo a fazer uma lei no sentido em
que eles pretendiam. Chamavam-se esses discursos oracio prínceps. Oracio significa
falar com alguém, significa um discurso, não num sentido de discurso eloquente, mas de
uma oratória que se tem com alguém. E, portanto, os imperadores Se querIam que fosse
aprovada um a determinada lei iam ao senado para fazer a lei o que denota que era o
senado que tinha o poder legislativo. Eles então faziam o tal discurso, o oracio princeps,
e o senado proferia um senatusconsulto que em regra coincidia com a vontade do
imperador. Só que vai o tempo passando, no séc. II d. C., e cada vez mais é mais frequente

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os príncipes querem utilizar este procedimento para fazer leis. E começa a ser de tal forma
recorrente no fim do séc. II a partir da chamada dinastia do Severus. Os severus foram
um conjunto de imperadores que pertenciam à mesma família, um deles um imperador
famoso, o imperador Antonino Caracala e esta dinastia foram basicamente quatro
imperadores que governaram entre 193 e 239 d. C. Com esta dinastia estamos quase perto
do início definitivo do absolutismo e consagra-se a regra de que o senado faz as suas leis
sempre a partir duma intervenção do imperador, do príncipe. De tal maneira que o senado
continua materialmente a fazer leis, mas as leis que os senadores fazem a partir dos
Severus, não se chamam senatusconsultos mas sim oraciones príncipes, discursos do
príncipe. Nesta altura, a partir do séc. II o senado já estava completamente funcionalizado
sobre a autoridade do imperador. Isto acaba com a definitiva consumação do absolutismo
e com a subida do imperador Diocleciano ao poder em 284.

Sumariando, senatusconsultos são documentos feitos pelo senado em resposta a


pareceres pedidos aos senadores. Existem desde a monarquia. Na monarquia e na
república são apenas pareceres, não têm força vinculativa, não são leis. Durante a
república há pelo menos dois factos que denotam que o senado queria aumentar o seu
protagonismo na feitura do direito. Um deles foi a Lex Publilia Philonis, 339 a. C. O outro
foi a influência exercida no édito dos pretores a partir do século I a.C. Com o inicio do
principado os senatusconsultos passam a ser leis, impõe-se por si mesmas e nos primeiros
cerca de 50 anos do primeiro século da era cristã as leis comiciais que já eram poucas
desapareceram. Com o avanço do principado veremos a tensão crescente entre o príncipe
e o senado a manifestar-se também no campo da feitura das leis. Primeiro o príncipe
influencia os senadores a partir do imperador Adriano, a partir do início do séc. I, pedindo
aos senadores que legislassem num determinado sentido, pedidos aos quais em regra o
senado aceitava. Começando o séc. II o senado perde completamente a autonomia
legislativa. Deixa inclusivamente de fazer leis que não fossem leis a pedido ou por
determinação do imperador e nessa altura essas leis feitas materialmente no senado já
nem se chamam senatusconsultos, mas sim oraciones prínceps. Posto isto, os
senatusconsultos como fontes de direito desparecem e são substituídos pelas leis dos
imperadores.

Temos 5 senatusconsultos que são conhecidos, embora um deles não se entenda


muito bem que é o primeiro (temporalmente) e que vamos falar no fim.

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O primeiro que vamos analisar é o senatusconsulto Silanianum [(e já agora apenas
uma referencia, os senatusconsultos podem ter o nome do magistrado que levantou a
questão ao senado (velaniano era o Veleus quem suscitou a questão), podem ter o nome
da pessoa que originou a lei (macetoniano juga-se que terá sido feito por um tal
macedónio, que suscitou a feitura da lei), pode ser relativo a matéria sobre a qual o
senatusconsulto dispõe (o bacanalis, relativo às bacanais, festas feitas em nome do baco),
ou seja a origem destes nomes não era tão simples como as leis comiciais que eram os
magistrados proponentes que davam nome aos leis].

Vamos então analisar aquele que foi o primeiro senatusconsulto que tratou de
matéria substantiva, de direito substantivo, que foi o senatusconsulto Silanianum, no ano
10, d. C. Há uma característica comum a estas leis. Todas elas proíbem alguma coisa. O
senatusconsulto Silanianum foi suscitado pois nesta altura sucediam, ou aconteceram na
cidade de Roma muitos homicídios de donos de escravos, ou seja, pessoas ricas que
tinham o seu património como os escravos. Isto terá acontecido porque provavelmente
estas pessoas que eram assassinadas eram assassinadas pelos próprios escravos que lhes
pertenciam. Um dos procedimentos habituais era no testamento dispunham sobre a
libertação de alguns ou todos os seus escravos. Esse ato de libertação era o manomício,
era retirar um escravo da mão do seu dono. E o escravo que fosse libertado designava-se
por liberto. Os libertos têm um estatuto próximo ao dos plebeus, passam a ser homens
livres. O manomicio era o ato jurídico pelo qual um dono de ume escravo o libertava.
Acontece que as pessoas que tinham essa condição, ansiosas para saberem se o seu dono
tinha disposto para o libertar depois da sua morte, matavam-nos para saberem mais cedo.
Isto devia acontecer com tamanha intensidade que obrigou o senado a fazer uma lei. Foi
a primeira lei sobre matéria substantiva que o senado fez e sobre uma matéria popular na
cidade romana. Esta lei foi seguramente muito bem acolhida na sociedade romana pois
os escravos eram res nullius. Este senatusconsulto proíbe a libertação de escravos sobre
donos que tenham sido assassinados e suspende a abertura do testamento enquanto não
se determinar os autores do crime. E para agravar a situação determinava que os herdeiros
pudessem torturar e matar os seus escravos para conseguirem uma confissão ou para
conseguirem a descoberta da verdade sobre o homicídio. Ou seja, esta lei era uma lei que
pretendia aterrorizar os escravos de maneira a que não voltassem a assassinar os seus
donos pois deixava de ser um bom negócio. Ficariam sem saber se estavam livres até os

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criminosos serem descobertos e podiam ser torturados e até mortos para se descobrir a
verdade.

O senatusconsulto Claudiano que é da data provável 52, d.C., também proíbe, e


desta vez proíbe as romanas, as mulheres romanas livres de se unirem sexualmente a
escravos, desde que houvesse oposição do dono do escravo (podia não se importar).
Qualquer mulher que se envolvesse com o escravo se o dono não o quisesse, este
notificava a mulher que tinha de se separar do escravo pela primeira vez, se a situação se
mantivesse admitia uma segunda, e se a situação continuasse a mulher era transformada
em escrava. Se houvesse filhos nascidos dessa relação eram também escravos. Mas se a
mulher tivesse filhos de outra relação não seriam escravizados, mas sim romanos livres.
Esta lei tinha como objetivo proteger a propriedade (neste caso os escravos).

O senatusconsulto macedoniano foi um senatusconsulto que teve por objetivo


proibir os empréstimos de dinheiro aos filhos de família. Eram os filhos dos paters, os
pater familias. A família romana até ao advento do cristianismo, era um conjunto
patrimonial que era a propriedade do pater familias, inclui a mulher, os filhos, os
escravos, os clientes (pessoas que se punham voluntariamente na dependência daquele
pater familias). O pater familias tinha direito de vida e de morte sobre qualquer pessoa
que ali estivesse dentro, embora a moral romana não facilitasse esse género de situações
mais drásticas. O filius familias não tinha personalidade jurídica, a sui iuris, a
personalidade jurídica própria, completa, autónoma em relação fosse a quem fosse. E por
isso um filho de família ainda não tinha a sua personalidade jurídica completa e dependia
essencialmente do pater. Acontece que muitos agiotas, pessoas que viviam de emprestar
dinheiro, com juros especulativos, na cidade de Roma, exploravam esses rapazes mais
novos, emprestando-lhes dinheiro para gastarem no jogo e depois cobrando juros
especulativos, que endividavam de forma dramática essas pessoas, que tinham de pagar
tudo o que deviam quando se tornassem pessoas completas ou mesmo em algumas
circunstâncias poderia ser o pai deles a pagar as suas dívidas. Esta lei visa é evitar a
devassidão dos filhos de família pois era frequente nesta altura frequentar ambientes de
jogo, ambientes propensos a gastar indevidamente dinheiro que não tinham e lhes era
emprestado a juros especulativos. Depois da publicação deste senatusconsulto quem
emprestasse dinheiro nestas circunstâncias o mais provável era ficar sem ele. Não havia
o direito a agir judicialmente contra o devedor. O credor ia ao pretor explicava que tinha
emprestado dinheiro e que não devolveu e queria intentar uma ação processual para

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recuperar o dinheiro. Se fosse depois de 75 a.C., o pretor apurava os factos e explicava
que a lei proíbe os empréstimos aos filhos de família. Ele fica com aquilo que se chama
uma obrigação natural, a obrigação existe, mas não existem meios jurídicos para fazer o
devedor cumprir a sua obrigação. Havia aqui exceções. Se eventualmente se
demonstrasse que este rapaz tinha enganado o seu credor, tinha simulado que seria sui
iuris, que tinha capacidade jurídica plena, se o tivesse enganado e o credor emprestasse o
dinheiro de boa-fé já poderia haver lugar a uma ação processual. Essa ação podia
acontecer se parte ou todo desse dinheiro tivesse sido dado ao pai. Se o pater familias
tivesse tido algum benefício com algum empréstimo ou se este filius familias tivesse
simulado de uma forma credível a sua maioridade nesse caso não se aplicava o
senatusconsulto e o credor tinha o direito a agir judicialmente contra o devedor ou contra
o seu pai.

O senatusconsulto Veleiano (vem de Veleus, magistrado que propôs esta lei ao


senado) proíbe a interseccio às mulheres. A interseccio era um ato jurídico pelo qual
alguém intercede junto de um credor em favor do devedor. Ex.: A empresta 1000 a B.
Muitas vezes através da stipulatio. Então, uma vez realizado este negócio jurídico temos
uma obrigação creditícia em que temos o credor e em que temos o devedor. A interseccio
é quando aparecia no meio desta relação um terceiro que garantia o pagamento da dívida
do B ao credor. Havia vários tipos de interseccio, desde logo:

i. a interseccio cumulativa, que significava que este C não substituía inteiramente o


devedor originário, juntava-se ao devedor originário na responsabilidade pela
dívida, o credor tanto podia pedir a B como a C. Passava a ter o credor a ter dois
devedores a quem podia tentar cobrar a sua divida que inicialmente era apenas do
A. Acumulam dois credores.
ii. Podia acontecer outra coisa que era desparecer o B e ficar só o C: interseccio
privativa, ou seja, que era exclusiva do novo devedor.
iii. Havia ainda um terceiro tipo que era mais subtil que a interseccio tácita, que
consistia em que o verdadeiro beneficiário do empréstimo da relação jurídica, não
aparecia desde o início, o C é que ia entregar o dinheiro ao A.

Isto é sempre um processo pelo qual juridicamente um terceiro assume perante


um credor ou cumulativamente ou substitutativamente, ou substitutativamente desde o
início do negócio jurídico, a posição do verdadeiro devedor.

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Isto interessa ao credor pois é um reforço da garantia da cobrança do dinheiro que
ele emprestou. Este senatusconsultos vêm proibir isto às mulheres, pois as mulheres eram
frequentemente enganadas por cidadãos romanos com uma moralidade duvidosa, que
enganavam em termos de casamento se se pusessem em posições de interceder pelas suas
dívidas. Aquilo que o senatusconsulto Velaiano diz é que a intereseccio fica proibida às
mulheres. Isto quer dizer que se um credor aceitasse que uma mulher se pusesse nesta
situação era juridicamente irrelevante. Ex.: A empresta a B e durante a pendência do prazo
do contrato aparece uma senhora que é aceite para garantir a divida do devedor,
cumulativamente com ele. O credor quando chega a altura de cobrar vai ao B, o B não
tem nada. Mas então vai à senhora e a senhora recusa-se apesar de até ter o dinheiro. Se
o A for ao pretor pedir uma ação processual para demandar a senhora não obtém essa
ação processual. A relação jurídica existiu, o empréstimo foi feito, mas aquela lei
senatorial tinha proibido que as mulheres agissem dessa forma por isso não deveria ter
aceitado esta garantia, e se não sabia tinha a obrigação de saber. Consequência: o negócio
jurídico existiu, mas não é possível ao credor obter judicialmente o pagamento da divida
pois ele fez um negócio com uma pessoa que estava impedida legalmente de o fazer. Se
se demonstrar que a mulher em causa teve um benefício pecuniário com este
financiamento, se ficou com parte do dinheiro, se beneficiou de condições materiais desse
empréstimo ai o senatusconsulto não se aplica. Só se foi enganada pelo devedor é que se
aplica o senatusconsulto Velaiano.

Vamos agora falar do último que é de 186 a. C. É o primeiro em termos temporais.


Proíbe com a ameaça da pena de morte, pena capital, quem frequentar orgias ou bacanais,
em honra de baco, festas muito agitadas onde havia sacríficos humanos, festas que
agitavam bastante a vida da sociedade em Roma e, portanto, o senado proibiu essas festas
e disse que quem as frequentasse podia estar sujeito a pena de morte. A dificuldade disto
é que só em começos do principado é que os senatusconsultos são fontes autónomas e são
verdadeiras leis. E parece que este senatusconsulto já possuía o direito de punir os
cidadãos romanos que violassem a sua determinação proibitiva de frequentar as tais orgias
ou bacanais, por isso este é o senatusconsulto que os historiadores ou romanistas têm
alguma dificuldade em explicar. Mas é caso único, não se conhece outro até 10 d. C., que
tenha um conteúdo normativo. Pensa-se que este era um problema muito sério e então
provavelmente este tenha sido um senatusconsulto decreto, ou seja, uma resposta do
senado a um parecer pedido eventualmente por um cônsule para preparar uma lei comicial

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sobre esta matéria e por isso não se sabe se no seguimento deste senatusconsulto foi ou
não feita essa lei, não se sabe se este senatusconsulto se aplicava por si mesmo ou se será
um instrumento para fundamentar a feitura desta outra lei, não se tem a certeza se foi de
facto uma lei ou um decreto do senado em resposta a um parecer a um pedido do
magistrado romano sobre este assunto e provavelmente a resposta seria que as festas
deviam ser proibidas e as pessoas condenadas à pena de morte mas o senatusconsulto não
teria propriamente dignidade de lei. É um assunto que para muitos romanistas não é
pacífico, para alguns deles invalida esta racionalidade da sequência das fontes legislativas
que temos vindo a expor. A doutrina dominante vai no sentido de que não se tratava de
uma verdadeira lei, mas de um parecer do senado sobre esta matéria, ou seja, o senado
fez recomendações ao magistrado que tivesse pedido um parecer sobre este assunto.

AULA NR.º 9 (4/01/2023)

Nós estamos a fazer a análise do direito romano, do ius romanum, do ponto de vista da
teoria das fontes de direito, conforme tivemos ocasião inúmeras vezes de referir. O direito
romano histórico ou seja o direito romano que foi sendo feito ao longo da existência
milenar da civilização romana clássica foi o resultado de dois subsistemas de criação de
normas de direito, do jus civile e depois um complementar corretivo do ius civile que foi
o ius honorarium que era o direito magistral, o direito que alguns magistrados produziam
no decurso da sua atividade sendo que de todo o jus honorarium aquele que foi relevante,
aquele que influenciou e se perpetuou no tempo foi o direito feito pelo preotr urbano, o
jus praetorium. No que diz respeito ao jus civile as suas fontes são o costume (mores
maiorum) – tradição antiga de uma comprovada moralidade; a lei, sendo que a lei teve
espécies diferentes, embora no que diz respeito à sua qualificação como fonte de direito
é sempre lei; mudou em relação ao órgão de soberania que as foi emanando (leis
comiciais, republica; depois o poder legislativo transfere-se para o senado – leis
senatoriais – e, em seguida, esse poder legislativo transfere-se para o imperador à media
que vamos progredindo no principado até que no absolutismo imperial com diocleciano
consuma-se efetivamente a transferência do poder legislativo do senado para o imperador
e temos as eis imperiais). Temos ainda como fonte a ciência do direito, à qual os romanos
chamavam a iurisprudentia (importantíssima fonte do direito romano consoante iremos
hoje ver). Na última aula ficamos nos senatosconsultos e por isso o que hoje vamos
trabalhar são as duas últimas fontes do jus civile: as leis imperiais e na jurisprudentia.

Leis imperiais
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É importante termos a consciência que estamos a falar me processos históricos em termos
de tempo muito prolongados e, portanto, aquilo que vai acontecer com as leis dos
imperadores é o mesmo que aconteceu com as leis senatoriais, ou seja, uma transferência
lenta do poder legislativo. Estes processos têm de ser perspetivados do ponto de vista
histórico numa evolução a la long.

Em primeiro lugar temos de dar uma nota de evidência. Desde o início do principado,
regime político que é instituído no fim de uma guerra civil na qual sai vencedor o Otávio
César Augusto. O início do principado começa em 27 a C não é marcado por um fim
formal da república. A República foi um regime político romano que mais tempo durou,
durou 500 anos, talvez o mais interessante. A republica entrou em decadência por varias
razoes, conflitos internos, pretensões de poder (desde logo o Júlio César)l, conflitos com
o senado, alguns cônsules entre eles (o próprio Júlio César que acaba assassinado depois
de ter feito um discurso a tentar convencer os senadores a mante-lo como senador
vitalício). Por isso, a república romana, que durou 500 anos, começou no ultimo seculo
da sua existência a demonstrar sinais de decadência que resultaram deste conjunto de
problemas que o regime estava a ter. Quando começa o principado aquilo que o Octávio
César augusto se define não é imperador (aliás a palavra imperador tem várias origens,
inicialmente era um chefe do exército, e muito tempo depois é que a associamos de forma
generalizada designando-os como imperadores). O inicio do principado não foi uma coisa
formal aquilo que o César augusto queria era instaurar a dignidade da republica, as
instituições republicanas, o próprio senado que tinha sido afetado pelas guerras civis, e
por conseguinte, uma das políticas que o Octávio César augusto desenvolveu foi dar
alguma importância ao senado, retirando-lhe algumas das suas competências politicas, ou
pelo menos tentar esvaziar, como o caso da nomeação dos governadores provinciais
(ainda que o senado ainda nomeasse algumas províncias, mas mesmo nessa o príncipe
podia imiscuir-se do governo e por isso o senado não governava sozinho essas províncias
do império). Para compensar o senado deste prejuízo político o Octávio fez com que o
senado começasse a desenvolver uma capacidade que já se percebia que era uma
apetência do senado que era a capacidade de fazer leis. Mas isto não acontece de um ano
par ao outro. É um processo lento, talvez nos primeiros 50 anos ainda existisse uma ou
outra reunião dos comícios populares, depois disso o senado emerge como única
autoridade legislativa do estado romano. Só que só imperadores por sua vez também
faziam documentos, tomavam decisões, e esses documentos escritos chamavam-se

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constituições imperiais. Aquilo que nos chamamos leis imperiais é aquilo que os romanos
chamavam constitutionis principum. As constituições dos príncipes eram documentos
escritos pelos príncipes, era uma designação genérica para os documentos que os
príncipes opus os imperadores faziam desde o início do principado. Mas que valor
tinham? Vinculavam as pessoas? Já eram leis imperiais no séc. I? Não, ainda não. Estes
documentos que eram escritos pelos príncipes, no séc. I, da Era Cristã, a importância que
estes documentos tinham era uma importância de ordem prática. Isto quer dizer que estes
documentos não eram leis, no sentido de diplomas legislativos com intenção de criar
normas ou regimes jurídicos de uma determinada matéria que dispusesse para o futuro.
Mas, por outro lado, eram documentos feitos pela primeira autoridade do estado romano
que era o príncipe. Ainda por cima, os primeiro prínceps do estado romano são pessoas
de extrema notoriedade, desde logo o fundador do principado, Octávio César Augusto.
Portanto não eram leis, mas eram documentos dos príncipes e como os príncipes eram
importantes o documento era também. O que não quer dizer que os Tribunais estivessem
obrigados num litígio qualquer a aplicar as constituições imperiais do séc. I da era cristã,
pois não estava. Tanto não estava que há relato histórico de alguns juízes que nos séc. I e
II resistiram à ideia de que tinham de aplicar constituições imperiais nos seus tribunais,
alguns foram perseguidos e mortos a conta disso. No séc. I as constituições imperiais não
são leis, mas têm uma força que decorre da sua proveniência. No séc. II costuma-se dizer
que já são equiparadas às leis, estamos no séc. II, 100 anos depois do início da fundação
do principado, em que os imperadores manifestamente não deixavam obviamente
qualquer espécie de ilusão sobre aquilo que de facto pretendiam. Os imperadores queriam
afirmar o seu poder e queriam afirmar um poder crescente e é essa a logica da sequência
do império romano a partir do início do sec. I e a partir do início do principado. Essa
afirmação de poder foi muitas vezes turbulenta, houve turbulência com o senado, houve
conflitos que em alguns casos até vinham da república (alguns cônsules, sua, Júlio César,
queriam afirmar ditaduras prolongadas no tempo). Isto reflete-se na força que é dada à
opinião do príncipe e no fim de contas era isso que refletiam as constituições imperiais.
No séc. II as pessoas começam-se a convencer que aquilo que o imperador diz é para
cumprir. Ainda que não sejam formalmente leis, pois estamos num período em que a lei
ainda é feita pelo senado (diferentemente de ser feita no senado, a diferença é que, no séc.
II, a partir do Adriano, os imperadores que queriam que as suas decisões tinham força
vinculativa geral para o povo romano, mas sendo o senado a fazer as leis eles começaram
a dirigir-se ao senado e a discursarem perante o senado – oraciones príncipes – o senatos

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consulto que era feito já não tinham autonomia em relação à vontade do príncipe. No séc.
II as Leis eram feitas pelo Senado ainda que algumas já refletissem mais a vontade do
príncipe do que a do senado. No séc. III esta situação ainda se agrava mais no sentido de
reforçar o valor vinculativo das constituições imperiais. Podendo-se dizer que no séc. III
pelo menos até uma certa altura as constituições imperiais já são formalmente
consideradas leis, mas ainda não são as únicas leis, pois pelo menos até meados do séc.
III o senado ainda vai continuar a ser o local onde ser fazem algumas leis. No séc. II as
leis eram feitas pelo senado, no séc. II as leis eram feitas no senado, mas já refletem
praticamente só a opinião do imperador. No séc. III, após a dinastia dos Severus, conjunto
de 4 imperadores da mesma família que governaram entre 193 e 239 d. C., depois desse
período, os imperadores continuavam a fazer as suas constituições imperiais, já sem irem
ao senado, às vezes ainda levavam algumas questões ao senado, faziam o tal discurso
perante os senadores, e os senadores faziam as leis emitiam um documento legislativo
que era o discurso do príncipe, já nem se chamavam senatos consultos. No séc. IV, as
constituições imperiais são as únicas leis novas (é preciso entendermos que isto não quer
dizer que o direito romano existente fosse apenas constituído pelas constituições
imperiais do séc. IV, a maior parte do direito romano, nomeadamente do direto privado,
vem do passado, leis comiciais, antigos costumes, tradições que a jurisprudência foi
transformando em direito positivo), mas as novas leis é que a partir de 284 (dioclceciano
sobe ao poder e definitivamente fica consumado o absolutismo imperial) só o imperador
é que faz leis. Estas distinção é tão importante que nós costumamos distinguir com base
no séc. IV da era cristã, o direito romano antigo (ius vetos ou apenas ius) do direito
romano novo (ius novum ou se quisermos leges). O critério utilizado que nos explica esta
mudança é exatamente o séc. IV. Até antes do momento em que só o imperador passa a
fazer leis era o direito romano antigo. Todo o direito romano feito depois do início do séc.
IV é direito imperial. Depois dessa altura todo o direito novo é feito através do poder
legislativo do imperador. Até ao séc. IV consideramos que o direito romano é direito
romano antigo. Mesmo as leis imperiais, feitas antes do Séc. IV, dentro desta classificação
são classificadas como direito antigo. O que distingue é o séc. IV e um monopólio
absoluto do poder legislativo. É uma distinção eu se emprega muito na literatura
romanista.

Vamos ver que tipos de constituições imperiais temos. Que tipos de documentos
foram estes que ao longo destes séculos foram ganhando importância prática, força

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normativa, transformaram-se em leis até passarem a ser as únicas leis novas feitas do
império romano. Há um conjunto de tipos de constituições imperiais feitas até ao séc. IV
que depois muda ligeiramente a partir do séc. IV.

Constituições imperiais até ao séc. IV:

Apesar de serem todas constituições imperiais, visavam objetivos diferentes. E por isso
tinham importâncias diferentes. A

1. Éditos: eram os mais importantes. São destinados a um número indeterminado de


pessoas, têm caráter geral. Ora, um imperador tinha a capacidade de fazer
comunicações a todo o povo romano. Fazia-o através dos éditos. Nós já falamos
dos éditos do pretor (jus edicendi) só que os éditos do pretor eram para comunicar
o plano de atuação durante o não em que ia ser magistrado, nomeadamente as
situações que ia dar accio. Como os éditos do imperador eram destinados a toda
a população era nestes documentos que se tratavam os assuntos de maior
importância.
2. Decretos: consistiam em sentenças judiciais proferidas pelo imperador. Quando
falamos no processo judicial romano vimos que durante séculos baseava-se nas
mesmas regras. É um processo misto, parte da forma como se desenrola ´+e
privada, parte é pública. Mas, essencialmente é um processo privado, pois apesar
de em 367 aC o pretor surge para fazer intervenção, a maior parte dos atos
processuais decorria sem poder publico, desde logo quem decidia não era um
jurista. Esta ordem dos juízes privados é a ordem secular de se aplicar justiça em
Roma. A partir do principado os imperadores começam a ver que a aplicação da
justiça era um aspeto importante da afirmação do seu poder e da sua soberania.
Paralelamente a esta forma histórica de processar judicialmente vai-se
desenvolver outra forma, que é o processo baseado na autoridade do imperador.
No fim de contas é a estatização do processo. Deixou de ser privado para passar a
ser um processo dependente do Estado. Esta mudança é um processo lento.
Inicialmente o imperador chama a si a decisão de alguns poucos casos que
envolviam situações mais importantes. Quando falamos nesta altura nos decreta
é para esses casos pequenos. À medida que avançamos no tempo do principado e
do império esse número de intervenções vai ser cada vez maior. Até que chegamos
ao Séc. IV. Uma das diferenças das constituições imperiais é que a partir do Séc.
IV as sentenças imperiais desaparecem. Os Tribunais passam a ser o Estado e
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então esta forma de processar paralela do imperador ainda quando o processo
ainda se baseava na intervenção do pretor e naquelas duas fases; esta fase paralela
chamava-se cognicio extra ordem, ou seja, só excecionalmente é que o imperador
o fazia. Com o avançar do tempo a exceção torna-se regra. No final do séc. III os
pretores perdem o seu poder como funcionários dos tribunais e os tribunais
passam a ser o Estado. E por isso já não é o imperador que faz o julgamento são
os próprios juízes que são juízes do estado e então os decretos desaparecem a
partir do séc. IV.
3. Res cripta: eram opiniões, pareceres, dadas pelo imperador sobre questões de
direito que eram colocadas. Cada vez à medida que vamos avançando no tempo,
vão ser feitos mais pedidos ao imperador. A designação dos rescritos variava de
acordo com a pessoa que pedia esse parecer. Se fosse um magistrado a pedir o
rescrito chamava-se epístola. Se fosse um particular, um jurista, então chamavam-
se subscrições.
a. Epístolas:
b. Subscrições (subscriciones):
4. Mandata: eram um tipo de lei imperial de caráter administrativo. Eram ordens
administrativas dadas pelo imperador aos governadores das províncias.

Estes são só 4 tipos de constituições imperiais até ao séc. IV cuja força vinculativa
segue a lógica que aqui está. A partir do séc. IV (direito novo ou leges ou jus novum) há
algumas modificações. Os éditos mantêm-se como sendo as leis imperiais mais
importantes, sendo de caráter geral. Um exemplo é o Édito de Caracala. O imperador
atribuiu a todos os homens livres do império romano o estatuto de cidadãos romanos. Os
decretos desaparecem porque o imperador deixa de fazer julgamentos, deixa de ser juiz,
toda a justiça passa a ser imperial no sentido de estatizada. Os rescritos passam a ser
apenas as epístolas. As subscrições desaparecem e passam a chamar-se anotações ou
adnotaciones.

Esta divisão foi feita porque o absolutismo trouxe a necessidade de um maior e


permanente recurso à figura do imperador. Fez com que, por exemplo, os funcionários
públicos permanentemente tivessem de esclarecer questões e esse esclarecimento deveria
ser feito na figura do imperador. Uma das consequências do absolutismo foi a necessidade
de criação de um aparelho de administração pública com uma burocracia gigantesca. Há

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historiadores que atribuem a isto a causa da queda do império romano do ocidente. As
anotações substituem as antigas subscrições.

As mandata segundo a maior parte dos historiadores também desaparece e aparece


aqui uma nova constituição imperial que são as pragmatica sanciones. Não há grande
consenso nos historiadores sobre o que seria este. A ideia mais comum é que seriam
constituições imperiais de caráter regional. Estabeleciam determinado tipo de regime
jurídico destinado a ser aplicado numa província ou numa região do império romano.

Jurisprudência

É a ciência do direito. É uma palavra composta por ius (iuris) com prudentia. Os
jurisprudentes eram as pessoas que conheciam com profundidade o direito então a
jurisprudência era a ciência do direito. Estamos a falar da ciência do direito como fonte
do direito. A jurisprudência é uma fonte mediata, mas ela mesma não se aplica per si
como fonte de direito. A ciência do direito foi fonte de direito em Roma. A primeira
questão que vamos ver é perceber quem foram os primeiros jurisprudentes romanos. Eram
os sacerdotes pontífices no início de Roma quem tinha o conhecimento absoluto do direito
através dos tais mores maiorum e, portanto, a jurisprudência, no início de Roma, é uma
ciência ligada à religião. A explicação do direito apelava a figuras transcendentais. O
primeiro direito romano vivia paredes meias com a religião romana. A primeira coisa que
se tornou necessário para robustecer o direito e a sua ciência foi obviamente separar o
direito da religião, fazer a laicização. Foi uma necessidade natural.

Houve um conjunto de acontecimentos importantes para esta separação entre a


religião romana e o direito romano. O primeiro grande acontecimento foi a Lei das XII
Tábuas. Pois até à Lei das XII Tábuas todo o direito era sacerdotal. Com a publicação da
Lei das XII Tábuas uma massa gigantesca de direito passou a ser do conhecimento
público. Os sacerdotes já não tinham domínio dessa parte do direito romano. Foi este o
primeiro fator da laicização da ciência do direito romano. O segundo fator é o jus
flavianum. No ano de 304 a. C., um escrivão, chamando Cneu Flávio, secretário do
pontífice maximus chamado Ápio Claúdio, sumo sacerdote, e que era cego. Como era
cego foi relatando ao Cneu Flávio algumas normas que não eram públicas e o Cneu Flávio
tornou público esse conjunto de direito, que era direito essencialmente processual penal.
É mais um pedaço de direito romano que deixa de ser secreto e passa a ser de domínio
publico, por isso é que é importante para a laicização. O terceiro fator da laicização foi o

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ensino público do direito. No início do Séc. III, a. C. (pouco tempo depois da deslealdade
do Flávio), um homem chamado Tibério Coruncânio que, segundo se julga, foi o primeiro
plebeu a ascender ao cargo de pontifex maximus, presidente do colégio dos sacerdotes
pontífices. Este homem começou a ensinar publicamente o direito romano, no sentido em
que, não criou nenhuma escola, nenhuma universidade tal como acontece séculos depois,
o que ele criou foi a possibilidade de quem sabia de direito transmitir esse conhecimento
a discípulos seus. É um velho esquema onde o mestre ensinava um núcleo reduzido de
discípulos que o seguiam. A partir do Tibério então o direito passou a ser uma ciência
ensinada publicamente. A razão de ser era que o direito era cada vez mais uma disciplina
socialmente importante, cada vez mais havia mais pessoas a necessitarem do trabalho
profissional de quem conhecesse o direito. Pois, já vimos que quer os contratos romanos,
quer o processo civil romano, quer outras questões que envolviam atos jurídicos eram
complexos e, portanto, só quem os conhecesse é que os fazia bem feitos. Era necessário
cada vez mais capacitar pessoas com conhecimento de direito. Os juristas, os
jurisconsultos, por esta altura e no século seguinte, desempenhavam três tipos de funções:
cabere, agere e o respondere.

• Cabere: a atividade de aconselhar os cidadãos romanos na realização dos seus


atos jurídicos e sobretudo nos seus negócios jurídicos. Os contratos, por
exemplo, eram muito formais como já vimos.
• Agere: significa agir, agir no Tribunal. É aquilo que os advogados hoje fazem.
Era esse tipo de função que era acompanhar as pessoas no tribunal do processo
judicial.
• Respondere: era dar pareceres, opiniões sobre questões de direito nas quais
eles fossem especialistas e muitas vezes, fossem magistrados, fossem civis,
podiam parecer pareceres a especialistas em direito para terem opiniões sobre
determinado tipo de assuntos de direito.

A jurisprudência é fonte de direito em bom rigor, no início de Roma, como a


jurisprudência era dominada pelos sacerdotes pontífices e eram eles quem faziam a
interpretação do direito, dos mores maiorum. Os mores maiorum eram fonte de direito,
mas aí a jurisprudência também eram e a declaração desses mores maiorum era feita pelos
jurisconsultos, eclesiásticos e sacerdotes, mas juristas também. À medida que se vai
autonomizando, laicizando a jurisprudência e separando o direto da religião, de facto a
ciência do direito passa a ser uma profissão da qual muitas pessoas viviam. Note-se que,

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sobretudo o direito romano é de criação jurisprudencial. A esmagadora maioria das cerca
de 1000 leis comiciais, só cerca de 50 e poucas é que tratavam direito privado. O direito
privado que é o direito que mais importa aos cidadãos. Quem criou a teoria à volta dos
grandes institutos do direito privado foi a ciência do direito e o próprio pretor. A ciência
do direito, sobretudo par ao direito privado é fundamental.

Otávio César Augusto, percebendo a importância dos trabalhos de alguns juristas,


criou uma distinção para alguns desses juristas que atribuiu a alguns deles. Os trabalhos
de cerca de 40 jurisconsultos receberam uma distinção que era o ius respondendi ex
auctoritate principis. As respostas destes juristas, as suas opiniões, tinham a mesma
autoridade que as opiniões dos príncipes, que as constituições imperiais. Isto significa
que a partir de uma certa altura eram verdadeiras leis. Os imperadores fizeram isto porque
perceberam que quem percebia de direito privado não eram as leis dos comícios, nem as
suas leis nem as do senado. De onde o direito privado se extraia era das obras destes
juristas. Isto significa que os juristas que recebessem esta distinção, um tribunal romano,
numa situação sobre a qual este jurista se tivesse pronunciado devia fazer a sua sentença
com base na opinião do jurista com jus respondendo. O objetivo era criar consistência no
direito romano privado, que era de teorização e criação jurisprudencial. O problema disto
é que não foram nem 1, nem 2, nem 3 distinguidos. Foram cerca de 40. O facto de eles
morrerem não significa que as suas opiniões tivessem perdido o caráter de verdadeiras
leis imperiais. A consequência disto foi que aquilo que os imperadores pretendiam fazer
que era estabilizar o direito romano clássico privado, através da autoridade de quem sabia
mais daqueles assuntos reverteu no sentido contrário. A certa altura os tribunais romanos
começaram a ter uma quantidade enorme de opiniões desencontradas de juristas a quem
tenha sido concedido o jus respondendo. Isto fez com que o imperador Teodósio II, no
ano de 426, fizesse uma lei que era a lei das citações, conhecido na gíria popular como o
Tribunal dos Mortos. Foi acabar com a confusão que havia pelo excesso de doutrina
jurisprudencial com autoridade legislativa. Algo que tinha por finalidade clarear o direito
privado acabou por ter o efeito contrário. Aconteceu que esta lei estabeleceu que só são
invocáveis em tribunal as obras de 5 juristas. Que já tinham morrido todos: Gaio,
Papiniano, Modestino, Ulpiano e Paulo. Os juízes apenas estavam vinculados a decidir
pela opinião destes 5 juristas. Mesmo assim era possível que houvesse desentendimentos
entre o que estes homens pensavam sobre as questões de direito que eventualmente o juiz
tivesse de tomar decisões. A lei das citações o que disse foi então que dos 40 e tal jurídicos

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que tinham recebido o ius respondendi só podiam os juízes utilizar a opinião de 5 juristas.
E a lei tinha de estabelecer um critério pois sobre o mesmo assusto estes 5 juristas podiam
ter opiniões diferentes. Em primeiro lugar devia aplicar a decisão maioritária. Se não
houvesse opinião maioritária, o juiz que dizia a lei tinha de seguir a opinião de Papiniano.
Se o Papiniano não tivesse manifestado opinião o juiz era livre de escolher a opinião
destes juristas que entendesse.

AULA NR.º 10 (11/01/2023)

Na semana passada acabamos com as fontes do jus civile: o costume (mores


maiorum), a lei (imperiais, comiciais e imperiais) e a ciência do direito (iurisprudentia).

O direito do pretor altera e contribui para a própria formação do direito romano.


O direito pretório é um direito que costuma-se dizer que nasce da atuação do pretor. Ora
nós sabemos que o pretor é uma magistrado criado em 367 a.C. Este magistrado é criado
para intervir no funcionamento da justiça romana. A justiça romana era nesta altura e
depois das leges licina sixtia era um processo essencialmente misto. Um processo que
tem uma componente de intervenção da cidade do estado romano e depois tem uma
componente inteiramente privada. Este processo era chamado ordo iudiciorum
privatorum. Isto significa ordem (sistema) dos juízos (tribunais) privados. Este foi
durante séculos o sistema de processar judicialmente na cidade de Roma. É o sistema que
é criado com a intervenção do pretor e divide-se na fase in iure e numa segunda fase apud
judicem. Na primeira é o pretor que dirige na segunda é o judex quem preside a esta
segunda fase. Basta olhar para isso para percebermos que o processo tem uma forte
componente privada porque o juiz não é um magistrado romano, era uma espécie de
árbitro privado que era escolhido pelas partes ou então, caso não se entendessem, era o
pretor quem fazia a indicação do juiz. O juiz era uma pessoa que nem sequer tinha
conhecimentos de direito. A sentença que era feita, era feita com base nessa decisão sobre
os factos à qual depois o juiz aplicava o direito que tinha sido enunciado pelo pretor na
primeira fase. Nesta primeira fase o pretor analisa a matéria de direito e concede ou nega
uma accio. Concedendo a ação processual, o processo avança para a segunda fase. Esta
fase é inteiramente privada. As partes vão perante o juiz, um particular, levam
testemunhas, cada uma delas conta a sua versão dos acontecimentos e o juiz avalia e toma
uma decisão absolvendo ou condenando as partes litigantes. Este sistema da concessão
de ações processuais com base no direito chamava-se o sistema das leges acciones,
significava que as ações processuais tinham de ter fundamento numa lei que existisse e
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aqui lei-direito, porque o fundamento podia ser o costume não tinha de ser lei escrita. O
sistema das leges acciones é utilizado desde 367 a.C. até 130 a.C. Em 367 a. C. o pretor
era uma magistrado romano que foi criado ao qual foi concedido o poder de imperium
minus quando comparado com o império dos cônsules que era o maior. O pretor não tinha
o poder nem a faculdade de criar direito. Aquilo que fazia era avaliar o direito e tomar
decisões quanto a conceder ou não a ação processual consoante aquilo que ele avaliava
do jus civile. Então dizemos que aquilo que o pretor faz é, em primeiro lugar, uma função
de interpretação do jus civile e, depois, ele vai verificar que o jus civile tinha inúmeras
lacunas (como é próprio de qualquer ordem jurídica mais ainda de uma ordem jurídica
tão antiga e que foi feita ao longo dos séculos). Então, com o tempo, o pretor começa a
desenvolver, em segundo lugar, a função de integrar as lacunas do ius civile, portanto,
interpretava o direito e às vezes no desempenho das suas funções constatava que não
havia norma que se aplicasse aquela situação. Em regra, quando isso acontecia ele não
podia conceder uma ação processual, mas depois vai começar a desenvolver formas de
evitar que por causa de falta de norma expressa de direito as pessoas sofressem injustiças.
Em terceiro lugar, haviam ainda situações em que havia normas mas cuja aplicação cega
resultaria no contrário daquilo que era missão do pretor que era assegurar a justiça. Às
vezes o pretor precisou de corrigir as normas do ius civile.

Em suma, aquilo que o pretor influenciou no direito romano resultou de uma tripla
intervenção: interpretação do ius civile, integração de lacunas e correção de algumas
normas do jus civile. Interpretar a lei não carece de muita explicação. Integrar as lacunas
era quando o pretor recebia o cidadão romano, ele até achava que a situação deveria
merecer ir a tribunal mas não havia norma expressa que se aplique à situação. Estamos
na fase das ações baseadas no direito, sem haver direito não havia ação e sem ação não
era possível ir a tribunal defender um direito subjetivo. Acontece que os pretores não
podiam criar direito até uma certa altura. Mas eles apercebem-se que têm o poder de
imperium, o poder de soberania menor, que lhes permitia no uso das suas competências e
no exercício das suas funções dar ordens a cidadãos romanos. Por exemplo, numa
stipulatio mal celebrada. Este contrato tinha uma determinada forma que tinha de ser
respeitada, nomeadamente as palavras da pergunta e da resposta não podiam ser alteradas.
Havendo um erro qualquer na forma da celebração do negócio este não existia para o
direito e o pretor não podia conceder accio. Ora, o pretor não podia alterar o direito. Mas
com base no seu poder de soberania poderia alterar os factos e colocar os factos sobre a

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proteção do direito de que esses factos não gozavam até esse momento. Podia era fazer
uma stiuplatio pretoria. Era um negócio jurídico como os outros, de caráter solene,
formal, entre presentes mas imposto pelo pretor. O pretor obrigava as partes a repetirem
o contrato mas bem feito. E a partir daí o contrato passava a ter validade jurídica. A partir
desse momento fica constituída juridicamente a relação de crédito entre A e B. Se A for
credor de B e B não paga. A partir do momento em que a stipulatio está bem concedida
o A já pode obter do pretor uma ação processual. Aquilo que o pretor fez não foi mexer
no direito, foi mexer nos factos porque tinha poder para obrigar as pessoas a fazerem isso.
Isto é um exemplo de uma stipulatio pretoria em que o pretor está a integrar uma lacuna
do ius civile. Outro exemplo, situação em que duas pessoas faziam uma stipulatio bem
feita em que uma se obrigava a emprestar uma quantia de dinheiro à outra mas a stipulatio
tinha sido feita sob coação, ou uma das partes foi enganada, e por isso a sua vontade real
era diferente da vontade de declarar o seu negócio. O direito hoje prevê isso. Mas nesta
altura, no direito romano, não estava tal previsto. Não importava a causa pela qual tinha
sido feito o negócio nem as circunstâncias. De acordo com as regras do jus civile o pretor
tinha de conceder uma ação processual mas se fizesse isso ia cometer uma injustiça pois
iria premiar alguém que tinha agido de forma incorreta e tinha viciado a vontade do seu
putativo devedor. O pretor chamava as duas pessoas e obrigava-as, através de uma
determinada fórmula a desfazer a stipulatio. Esse expediente chamava-se restituciones in
integrum. O pretor repunha a situação como era ela antes do negócio ter sido realizado.
Fazia isso porque era justo. Não mexe no direito mas sim nos factos. Obriga as pessoas a
desfazer o negócio jurídico que tinham feito. Aquilo que faz é corrigir o jus civile. Quando
integra lacunas coloca sob proteção do jus civile situações que até então não estavam sob
a proteção. Na correção do direito faz o contrário, retira sob a proteção do jus civile
situações que até então estavam protegidas mas não mereciam estar. Como se vê aquilo
a que chamamos expedientes do pretor fundados no seu poder de império, poderá dizer-
se formas de atuação do pretor baseadas no seu poder de soberania. O pretor não tem a
capacidade de criar direito, nem de alterar o direito que existe. Aquilo que ele consegue
é alterar os factos de maneira a dar-lhes proteção do ius civile ou retirar-lhes essa
proteção. Houve um conjunto de figuras de direito que nascem para o direito romano e
depois para o direito em geral desta atuação do pretor (ex.: vícios da vontade). Essas
figuras dos vícios da vontade negocial, figuras hoje que qualquer Estado contempla,
nascem da atuação do pretor. O pretor ainda não tem capacidade para criar direito. Mexe
nos factos pois entende que deve fazê-lo para obter justiça. A atuação do pretor terá sido

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de tal forma relevante que por volta do ano 130 a. C. o estado Romano aprova a lei
chamada Lex Aebutia de Formulis atribui um novo poder ao pretor que é a jurisdictio. A
jurisdictio é uma palavra composta por iuris e dictio, significa dizer o direito, declarar o
direito. A partir de 130 a. C. o pretor ganha um novo poder com o qual ele vai ter a
faculdade de criar direito por via direta (processual), mas na prática de uma forma muito
corriqueira não tem de perder tempo com coisas como a stipulatio pretoria e a restituição
por inteiro. Nenhuma destas situações mexia no direito como falamos e dava muito
trabalho. A partir de 130 a. C. com esta Lei, e com a concessão deste novo poder tudo
isto vai passar a ser muito mais fácil e mais rápido. O estado romano percebeu que este
magistrado era vital para o bom funcionamento de várias coisas, desde logo a justiça
romana, e deu-lhe mais poderes, através desta lei. Estes poderes foram confirmados e
reforçados até ao ano 17 a. C. pela Lei chamada Lex Iulia Judiciorum privatorum. Esta
lei reforça aquilo que a Lex Aebutia de Formulis tinha concedido ao pretor. Com esta Lex
Aebutia, ao poder da força (império menor) junta-se o poder de declarar o direito
(jurisdictio). A Lex Iulia permite que ele agisse judicialmente não apenas através da lei
mas através de um sistema que era agere per formulas. Passa a poder conceder ações
processuais não apenas com base nas leges acciones (ações tinham de ter uma lei nas
quais se respaldassem) mas também pode conceder ações independentemente de haver
direito que as preveja e é por isso que se diz que ele ganha o poder de jurisdictio, pode
resolver de forma mais expedita as situações que careciam de ser remediadas. Agir por
fórmulas são várias coisas. Em primeiro lugar é uma modificação substantiva na forma
do processo judicial. O processo judicial até esta lei era um processo verbal, não era
escrito. Era um processo verbal complexo e a partir de agora passa a ser um processo
escrito. Desenvolve-se na mesma nas duas fases que já vimos só que o pretor chega ao
fim da primeira fase e redige um documento que é uma fórmula processual para enviar
ao juiz. Isto queria dizer: o pretor escrevia um documento onde dizia algo do género “a
situação é esta, um quer isto outro quer aquilo, o sr. vai verificar os factos e aplica este
direito”. Fazia isto por escrito. Para além disto, como o pretor ganhar o poder da
jurisdictio vai poder resolver situações onde anteriormente tinha de dar a volta para
colocar ou retirar sob a alçada do direito romano, vai poder fazer isso sem perder tempo.
Ex.: a situação que levava à stipulatio pretoria. Até 130 a.C. o pretor ouvia as partes e se
o negócio não tivesse sido bem feito obrigava as partes a fazer o negócio bem feito. A
partir daqui, pura e simplesmente concede ação processual, permitindo à pessoa que está
a reclamar um direito vá ao tribunal defender-se. Chamavam-se ações pretórias. O pretor

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pode criar ações processuais sem que exista uma lei, uma norma de jus civile que preveja
esta situação. Estas ações chamavam-se in factum concepta. Eram ações concedidas a
partir de um facto. O pretor verificava a ocorrência de um facto, não havia um negócio
jurídico válido à luz do direito, mas ele agora escusava de perder tempo, permitia a ida a
tribunal. As ações pretórias são ações que o pretor cria porque é justo que a pessoa que
está a pedir para ir a tribunal defender-se vá. O pretor nem toma decisão sobre os factos,
concede o direito de ir a tribunal reclamar um direito que depois com base na análise dos
factos o juiz vai verificar se ele tem ou não tem. O pretor escreve na fórmula “se este
senhor emprestou dinheiro a esta senhora e ela não devolve condene a senhora a devolver
o dinheiro” isto era a fórmula processual, e passava a ser muito mais simples. Também
se podia dar o caso de alguém vir requerer uma ação porque alega que fez uma stipulatio
com alguém mas o sujeito passiva afirma que celebrou o contrato sob coação. Então na
fórmula (documento escrito que envia ao juiz escrevendo o litígio e para o juiz averiguar
os factos e com base naquilo que ele averiguar aplicar o seguinte direito) prevê uma
exceptio. Se ele tiver dúvidas se pessoa foi coagida ou não, concede uma ação processual.
Mas quando manda o processo para o juiz escreve a cláusula, se concluir que aquela
pessoa foi coagida ou enganada o processo termina imediatamente, nem há sentença. A
exceptio é uma cláusula de exceção que é concedida no processo quando o pretor tem
dúvidas sobre os factos que lhe estão a ser relatados. Uma das maneiras era negar a ação
processual onde ele tinha a certeza que ele tinha agido de forma indevida. A outra era, ter
dúvidas sobre os factos e achar que os factos deviam ser analisados pelo juiz e se
concluísse que na verdade tinha havido dolo ou coação o processo terminava
imediatamente.

Em síntese, o pretor desde a sua criação em 367 a.C. atua sempre num sistema
judicial ordo judiciorum privatorum, onde a justiça é em parte pública e em parte privada.
Em parte pública porque o pretor é um magistrado com poder público e intervém no
processo mas não é o único interveniente no processo. Até ao séc. I da era cristã isto vai-
se manter, as duas fases. O pretor intervém sempre na primeira e não na segunda. Os
poderes dele são reforçados com o tempo. Inicialmente só pode conceder ações se elas
estiverem baseadas na lei. A partir de uma certa altura se ele verificar que este excesso de
legalismo pode conduzir a uma situação de injustiça pode usar o seu poder para dar
legalidade às situações, mas não tem capacidade para mexer no direito. A partir de 103
a.C. ele ganha um novo poder que é reforçado em 17 a.C. que é a jurisdictio. Ele pode

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passar a declarar o direito. O que ele faz é criar ações processuais que são ações pretórias.
Com a Lex Aebutia de Formulis ele ganha a jurisdictio e nesta fase passa a agir por
fórmulas processuais. É um documento escrito que é feito na primeira fase onde manda
ao juiz e sintetiza o processo. Eventualmente se ele se confrontar com situações de
injustiça o que pode fazer é resolver a situação de uma forma mais expedita. Cria uma
ação, permite que a pessoa vá imediatamente a tribunal defender-se em vez de os obrigar
a repetir os negócios jurídicos, são ações do pretor, ações feitas pelo pretor com base na
sua consciência. Em contrapartida, pode haver situações que o pretor entenda que estão
protegidas pela lei mas fizeram um negocio juridicamente de forma indevida e então nega
a ação processual ou se tiver dúvidas até dá a ação judicial mas na forma mete uma
cláusula chamada exceptio onde diz que se durante a verificação dos factos se concluir
que houve dolo ou coação acaba imediatamente o processo. Com esta lei o pretor ganhou
novos poderes, novas formas de atuação que ele desenvolve sempre nesta fase do
processo.

Esta forma de processar durou durante séculos até ao início do principado. Mesmo
com o principado vai ainda ser esta a forma utilizada no início. Mas com a soberania os
imperadores apercebem-se que a justiça é importante e então os imperadores começam a
interferir no processo judicial começam a julgar a título excecional alguma causas, mais
importantes com pessoas mais importantes. Então criam um segundo tipo de processo que
era a cognitio extra ordinem, que são os processos de conhecimento extraordinário. Isto
começa praticamente no séc. I d. C., com a subida ao poder de Octávio César Augusto.
Quando falamos nas constituições imperiais que existiram até ao séc. IV umas delas eram
os decreta que eram sentenças judiciais do imperador que vinham destes processos
extraordinários. Era o imperador que fazia de juiz mas isto era a exceção à regra, a regra
continuava a ser o sistema dos juízos privados. À medida que vamos avançando no tempo
a exceção começa a transformar-se em regra, até que na segunda metade do séc. III acaba
por se deixar de usar o processo judicial privado e a justiça passa a ser toda ela estatizada,
ou seja, passa a ser uma prerrogativa do estado. E, portanto, a partir do séc. IV os decretos
imperiais, as sentenças judiciais (decreta) deixam de existir porque já não há processos
judiciais excecionais do imperador, todos os tribunais são do estado e portanto acaba-se
com este sistema das duas fases, o pretor já não intervém no processo e os tribunais
passam a ser parecidos com aquilo que é hoje. Têm juízes, juízes que já eram juristas, e
o seu poder era um poder que já vinha do estado, do imperador. Termina aqui o sistema

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de justiça do pretor, que começou em meados do séc. IV a.C. com a criação do pretor e
termina em meados/fins do séc. III da era cristã. E, portanto, com o absolutismo imperial
a justiça passa a ser um atributo do império e deixa de ser uma justiça privada.

A magistratura do pretor urbano como magistrado judicial termina aqui e termina


este tipo de processo que foi o processo dominante em Roma.

AULA NR.º 11 (18/01/2023)

Estamos no direito pretório. O direito pretório é um subsistema de criação de


normas do Direito Romano. Essas normas são geradas a partir da atuação do pretor no
processo judicial, em bom rigor, o direito pretório é um direito que podemos classificar
como uma fonte jurisprudencial, é direito que nasce no Tribunal, nasce da atuação do
pretor urbano criado em 367 a. C. com a função de presidir à fase in iure, à primeira fase
do processo judicial romano. Nesta fase ele houve o interessado e aquilo que ele faz é
interpretar o jus civile para verificar se no jus civile encontra uma norma que se aplique
aquela situação. Numa segunda fase, que acontece em 130 a. C., que é causada pela Lex
Aebutia de Formulis, isto altera. Esta lei não alterou o que o pretor fazia, o pretor continua
a presidir à primeira fase do processo judicial, continua a conceder ou a negar a ação
processual, mas há uma diferença é que, até aqui, o sistema das ações processuais era o
sistema das leges acciones que são as ações processuais que se fundavam no direito (lei
ou costume antigo). Isto significa que o pretor para conceder a alguém o direito de ir a
tribunal defender-se a situação que o pretor estava a considerar tinha de estar prevista no
Direito Romano – o jus civile. Aquilo que o pretor faz é interpretar o jus civile para ver
se encontra nesse direito norma que se aplique ao caso concreto. Na primeira fase, se essa
norma existisse, ele concedia essa ação pois ela respaldava-se na lei em sentido amplo.
Se não encontrasse norma negava o direito de agir e aí a pessoa que pretendia essa defesa
não podia realizar pela via judicial a defesa desse direito. Com a Lex Aebutia de Formulis
há várias coisas que mudam: em primeiro lugar o próprio processo judicial vai passar a
ser diferente, vai continuar a ser um processo de juízes privados – ordo judiciorum
privatorum. Durante séculos o processo judicial romano era um processo que tinha uma
forte componente privada. Apesar de haver aqui a partir de 367 a . C. alguém eu representa
a civitas, o estado, há muitas fazes do processo que são proferidos por cidadãos privados,
não são representantes da civitas. Quando passamos do sistema das leges acciones para o
sistema da Lex Aebutia de Formulis, continuamos com o sistema dos tribunais privados.
Esta ordem continuava a ter a fase in iure e a fase apud judicem. O que acontece é que o
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pretor na in iure preside e na apud judicem preside um particular. O que muda é os
pretores que o pretor tem na primeira fase. Até 130 a. C. o pretor tinha um poder que era
o poder de imperium, soberania menor. Com a Lex Aebutia de Formulis ele acrescenta o
poder de jurisdictio. Significa a possibilidade de o próprio pretor declarar o direito, dizer
o que é o direito. Isto permite que o pretor embora por via processual (ele não é legislador)
vá criar direito, e é por isso que o direito pretório deve ser considerado uma fonte de
direito jurisprudencial como hoje nós entendemos. Com a Lex Aebutia de Formulis muda
que o pretor ao poder de soberania acrescenta o novo poder que é o poder de criar um
direito, em segundo lugar, o pretor pode conceder ações próprias independentemente de
estarem respaldadas na lei, chamam-se acciones praetorium. O pretor nesta nova fase da
atuação continua a fazer a mesma coisa, recebe as pessoas houve-as, e se a situação
exposta estiver prevista no jus civile concede uma ação processual com base no jus civile.
Mas se não estiver prevista ele pode criar uma ação própria fundada no seu juízo de
aquilo que e justo. A finalidade do pretor é defender a justiça e por isso a partir de 130
a.C. pode pura e simplesmente criar uma ação pretória, permitir que a pessoa vá
diretamente a tribunal defender-se. Por outro lado, o processo passa a basear-se num novo
tipo de documento que são as fórmulas processuais. O processo passa a ser o processo
agere per formulas, passa a ser um processos formulário, isto quer dizer que passa a ser
um processo escrito (Até aqui era verbal) e passa a ser escrito com base naquilo a que se
chama a fórmula processual, que era um documento escrito pelo pretor dirigido ao juiz
do processo onde o pretor fazia a identificação das partes do litigio; onde descrevia o
litigio propriamente dito e onde dizia ao juiz qual era o direito que ele aplicava na sua
sentença, uma vez apurados os factos. O pretor não faz a apuração dos factos quem faz é
o judex, na segunda fase do processo. A primeira fase passa a terminar com a fórmula
processual. A fórmula processual pode dar origem a uma ação pretória, ou seja, uma ação
que não esteja prevista na lei mas que está no espirito do pretor. Diferenças relevantes do
sistema pretório até 130 a.C.: 1.ª o processo passa a ser formulário; 2.ª a fórmula,
documento escrito, onde ele faz uma síntese do processo e diz ao juiz qual o direito que
deve aplicar uma vez verificados os factos; 3.ª ao fazer as fórmulas não está vinculado
exclusivamente à lei, pode basear-se na lei ou pode criar ações próprias, ações que não
estão previstas na lei. Expediente do pretor é uma forma do pretor agir. Nós distinguimos
os expedientes com base no seu poder imperium (até 130 a. C.) e os expedientes do pretor
fundados no seu poder de jurisdictio (que adquire com a Lex Aebutia). Dois exemplos de
como isto era diferente:

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• Stipulationis praetoris: era um expediente do pretor cuja finalidade era
colocar sobre proteção do direito uma situação que não estava protegida. Em segundo
lugar, era uma stipulatio igual a qualquer stipulatio mas com a diferença de que era
imposta pelo pretor às partes. Em terceiro lugar, isto acontecia quando uma stipulatio
(verbal, solene, abstrato, formal…), não tinha uma característica cuja consequência era a
inexistência do negócio jurídico, por exemplo uma formalidade. Se falhasse as palavras
o negócio não existia para o direito. Como o direito romano não previa o instituto do erro
na celebração dos negócios jurídicos – que hoje o direito civil prevê (e graças aquilo que
os pretores fizeram neste tempo) – e a consequência era não conceder uma accio a alguém
que tivesse celebrado equivocamente uma stipulatio e por essa razão não pudesse
demandar outra pessoa a cumprir uma obrigação. O pretor chamava as partes que se
tinham enganado mandava-os realizar novamente o negócio jurídico. Ficando constituído
o negócio as partes constituem-se reciprocamente num dever jurídico, uma como credora
outra como devedora. A partir dai o lesado já se pode queixar e obter uma accio. Esta era
a única maneira que o pretor tinha para dar a volta à situação. A partir de 130 a. C. o
pretor ouve uma história destas e concede automaticamente ao demandante uma ação
pretória, neste caso uma accio in factum conceptea. O facto era a intenção de realizar o
negócio. Havia um facto que não tinha proteção do direito, mas mesmo assim ele concedia
a ação. O que ele fazia era a tal fórmula processual que identificava as partes e diz ao
pretor “se confirmar que o dinheiro foi emprestado condena o B a restituir o dinheiro a
A”. A diferença aqui é que ele poupa imenso tempo.
• As restituições por inteiro (restituiconies in interum) era outra forma de
atuação fundada no seu poder de imperium onde ele pretendia obter o efeito contrário a
alguma stipulatio pretoria, ou seja, pretendia retirar a proteção jurídica a situações que
tinham essa proteção mas não a mereciam. Se o negócio fosse feito por engano. O Direito
Romano não prevê os vícios na declaração da vontade da realização dos direitos jurídicos.
O pretor até 130 a.C. tinha de se limitar a aplicar a lei. E se uma parte não cumprisse a
sua prestação no contrato a outra tinha direito a uma ação para a demandar judicialmente.
O que acontece aqui é que o pretor, com a sua força de soberania, obrigava as partes a
irem a sua presença, a desfazer o negócio, e repunha a situação como ela era antes do
negócio sido feito. Depois de 130 a. C. Se o pretor tivesse a certeza que uma das partes
doi enganada ou coagida, apesar do credor ter direito à ação o pretor tinha a possibilidade
de determinar uma denegatio acciones. Negava-lhe o direito de ir a tribunal com base no
seu poder que era a jurisdictio. Se ele tivesse dúvidas em vez de negar a ação concedia a

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ação, mas essa ação processual, na fórmula, tinha uma clausula que era a exceptio, em
que ele dizia na formula “as partes são estas, o objeto da contenda é este, mas uma das
partes do diz que acordou porque foi obrigada, por isso vai averiguar os factos e se estiver
a averiguar os factos e chegar à conclusão de que é verdade que essa coação existiu, põe
imediatamente fim ao processo”.

Em qualquer destes casos o pretor passa por cima do direito. Isto vai acabar com
a cognitio extra ordinem que foi um segundo tipo de processo judicial que o direito
romano desenvolve a partir do início do principado. Começa-se a perceber com Octávio
César Augusto que os imperadores têm apetência de fazer a lei e a justiça. Até ao séc. IV
esta sentenças feitas pelos imperadores chamavam-se decreta. À medida que avançamos
no principado vamos ver o imperador a reforçar os seus poderes e o processo judicial do
pretor vai ser substituído pelo imperador. Quando chegamos ao Diocleciano a justiça em
Roma já não é privada. O que existem são tribunais do estado, onde já não há duas fases
do processo, não há pretor, existe um juiz, um sistema processual que não é muito
diferente daquele que se desenvolveu nos dias de hoje. Tudo isto termina por meados de
Séc. III da era cristã com o fim da ordo judiciorum privatorum, que mesmo assim é um
sistema de processar que dura séculos. Desde 367 a.C. até quase ao fim do séc. III (Quase
700 anos). A Lex Júlia Judiciorum Privatorum reforçou o sistema formulário e na prática
pôs quase fim ao sistema das leges acciones.

O pretor para além do imperium tinha o ius edicendi, a faculdade de fazer


comunicações gerais chamadas éditos, ao povo romano. Não é a única figura do estado
romano que detém essa faculdade. Nós vimos que os imperadores detêm a mesma
capacidade, as constituições imperiais mais importantes são os éditos. O pretor fazia
éditos. No início do mandato de cada um destes magistrados, não esquecendo que estes
magistrados tinham mandatos anuais, o pretor fazia um édito anual que era o seu
programa de atuação, a sua proposta de atuação. A partir do séc. I a.C. o pretores antes
de publicar o édito anual levam-no ao senado para obter a auctoritas, e assim estes
senátus-consultos eram fontes mediatas de direito e ajudavam a formar a fonte imediata
que era o édito. O édito era uma fonte imediata porque era um documento onde ele
comunicava a todo o povo romano quais eram as situações às quais ele ia conceder accio
e quais eram as situações às quais ele ia denegar accio. E assim os romanos já sabiam
mais/menos se uma situação que queriam levar a Tribunal tinham ou não
acompanhamento do pretor em exercício de funções. Estes éditos não mudam todos os

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anos, em primeiro lugar por uma questão de segurança jurídica e em segundo lugar porque
os pretores estão vinculados à Lei por isso não podiam inventar situações não previstas
na Lei. O que acontecia era que a maior parte deste conteúdo transitava dos éditos
anteriores. A essa parte do édito anual, que não era nova dava-se o nome de edito
tralaticia, ou a parte do édito que tinha transitado do édito anterior para este e que era a
maior parte do documento. Todavia, partes do édito existiam que podiam ser novas.
Tinham sido feitas novas leis, o pretor tinha interpretado uma lei antiga já... essas partes
novas do édito anual chamavam-se edito nova. Apesar de nomes diferentes tudo isto fazia
parte do édito anual que era o programa geral de atuação do pretor. Tinha uma parte que
transitava do ano anterior e tinha uma parte nova.

Por outro lado, haviam outro tipo de éditos, mais pequenos que os éditos anuais,
que podiam surgir durante o mandato do pretor, para o pretor estabelecer regras
processuais de conceder ou negar a ação em relação a situações que não tinha previsto no
início do mandato. Essas situações podiam até ser situações novas na cidade romana, às
vezes então publicam os pretores o édito repentino. A certa altura os imperadores proíbem
porque os pretores começaram a banalizar estes éditos. Em regra, quando o pretor se
confrontava com uma situação não prevista no edito anual, mas que ele achava que devia
ser considerada podia publicar este documento, um pequeno édito que prevê 1, 2, 3
situações. Habitualmente, depois no ano seguinte o pretor novo entendesse que aquela
matéria era relevante era integrado no édito anual do novo pretor. Estes documentos eram
documentos em que o pretor anunciava como ia agir. Quando ele tomava decisões fazia
um decreto, documento onde o pretor anuncia a decisão sobre alguma coisa no âmbito
das suas funções e competências. Os éditos começam-se a publicar em regra no início do
séc. III a.C., a magistratura é criada em 367 a.C. e provavelmente na primeira década do
séc. II a.C. começaram a ser feitos. Apesar de terem sido feitas centenas de éditos nunca
chegou nenhum à posterioridade. O imperador Adriano, que governou entre 117 e 138
nomeou um jurista chamado Salvio Julianus, para codificar todos os éditos existentes, ou
melhor dizendo, codificar as partes dos éditos anteriores que eram ainda importantes e
utilizadas e fazer um único édito, que se designou por édito perpétuo, cuja data certa terá
sido próxima do fim do governo do imperador Adriano. Substitui todos os outros e fez
terminar o jus edicendi dos pretores, ou seja, a partir daqui os pretores estão proibidos de
fazer novos éditos anuais. A partir daqui o próprio pretor começa a perder parte do poder
que o magistrado manteve durante séculos. O imperador Adriano entendeu que o que

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havia até então era bastante. Só podiam alterar o edito perpetuo com autorização do
imperador.

O pretor urbano é que agia no processo civil naquela primeira fase do processo. A
palavra urbe significa cidade. O pretor urbano era o pretor que estava na cidade de Roma,
sendo que a certa altura foram criados vários pretores e depois uma espécie de colégio de
pretores presidido por um pretor. O pretor urbano preside ao processo judicial entre os
cives¸entre os cidadãos. Inicialmente o conceito de cidadania era aristocrático, depois os
plebeus começam a ganhar direitos de cidade, a aplicação do direito por volta do séc. II
a.C. já se aplica aos plebeus e por isso a relação dos plebeus com os pretores não se
colocava, mas colocava-se em relação aos peregrini – os estrangeiros. Quando vinham a
Roma vinham para fazer comércio. Quando havia um litígio entre um cidadão romano e
um peregrini quem é que organizava o processo judicial? Se os litígios fossem entre dois
peregrini os romanos não queriam saber. Agora quando era entre um cidadão e um
peregerini os próprios cidadãos queriam estar protegidos pelo direito. Então em 242 a.C.
o Estado Romano cria o pretor peregrino. Também está na cidade de Roma e faz o mesmo
que o pretor urbano, mas só nos litígios entre estrangeiros e um cidadão romano. O pretor
peregrino não cria direito romano. O pretor peregrino inicialmente é criado em Roma.,
estamos numa altura, em 2424 a. C. ainda não existe império Romano, mas já se estava a
começar a constituir, já tinha havido a primeira guerra púnica, já tinham ocupados as ilhas
mediterrânicas de Cartago, a segunda guerra púnica vinha a caminho. Com a expansão
do império romano há uma enorme vida social no Império Romano. Onde há vida social
há litígios, conflitos e necessidade de intervenção do direito. Então criaram pretores
peregrinos e espalharam-nos por todo o império Romano. Aquilo que os pretores
peregrinos fazem é aplicar um direto romano local que não o direito em estado puro que
se via em Roma. Era um direito onde eles tinham de adaptar as instituições às próprias
comunidades onde estavam a aplicar o direito. Esse direito ganhou o nome de direito
romano vulgar, ou seja, um direito romano vulgarizado, que não era um direito romano
puro. Há juristas que dizem que este direito romano vulgar foi um direito que os pretores
peregrinos foram espalhando por todo o império, foram aplicando com circunstancias
locais diferentes, e acabaram por criar uma figura que era o jus gentium, uma espécie de
direito romano universal, vulgarizado, ou direito dos povos. Sendo que para muitos
juristas e historiadores do direito é este direito dos povos ou direito das gentes que os

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romanos criavam no seu império que foi o embrião daquilo que chamamos Direito
Internacional.

É desta atuação dos peregrinos que surgiu uma espécie de direito dos povos.

AULA NR.º 12 (25/01/2023)

1 – Código Gregoriano – 291 a 292

2 – Código Hermogeniano – 295 ou 314 - 323

3 – Código Teodosiano – 438

Estes 3 códigos denominam-se codificações pŕe-justineaneias.

O 3.º tem validade oficial, as duas primeiras o conteúdo também eram


constituições imperiais, mas os códigos em si eram particulares. Porque é que só no final
do séc. III começam a aparecer códigos? Em primeiro lugar, se pensarmos bem, o
essencial do Direito Romano até ao séc. III era o Direito Romano Privado, que era tratado
pela jurisprudência, pela ciência do direito pelos grandes jurisconsultos. Era nestas obras
que se encontrava a teorização do direito romano privado. Foi graças à jurisprudência que
se começaram a desenvolver os conceitos de direito privado, que foi o que perdurou no
tempo e que chegou na Idade Média à posterioridade. Esse direito privado jurisprudencial
ganhou mais importância a partir do momento em que Otávio César Augusto concedeu o
jus respondendi ex autoritatae princips (atribui à opinião de certos juristas que pelo seu
conhecimento mereciam um destaque em relação aos outros, ou seja, as respostas, as
opiniões dos jurista que estavam nos seus livros tinham o mesmo valor que as opiniões
dos imperadores. Quando se tratava de aplicar o direito clássico sobretudo privado era
nas obras dos juristas que com o jus respondendi os juízes procuravam as soluções. Os
primeiros códigos imperais surgem então tardiamente em primeiro lugar porque os dois
primeiros códigos o seu conteúdo são rescritos imperiais (res cripta – respostas dadas
pelos imperadores a questões que lhe eram colocadas por magistrados ou por
particulares). Imagina-se que o Gregorius e o Teodósio trabalhassem no Direito e
entendessem que era importante haver tal compilação. Por outro lado, estamos numa
altura de absolutismo imperial e então era preciso conhecer com precisão a vontade do
imperador. Os dois primeiros códigos são então compilações de rescritos imperiais. O
primeiro tem 15 livros e tem rescritos que vão do imperador Adriano (117 a 138) ao

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imperador Diocleciano (sobre ao poder em 284). Já o segundo código é só um livro. O
primeiro código tem 15 livros.

O código Teodosiano é um código de leges, leis imperiais com caráter geral. É um


código que foi feito para estabelecer alguma ordem na legislação imperial mais
importantes como eram os éditos. EM 438 já tinham sido feitas muitas e muitas leis desta
natureza, que vigoravam de forma dispersa, eram leis que quando repetiam as matérias
que tratavam dispondo de maneira diferente não revogavam as anteriores. O código
Teodosiano é então um código oficial, composto por 16 livros, e codificou os éditos
imperiais até à data da sua promulgação.

Corpus iuris civilis – mandado compilar por Justiniano I

1. Codex: 529;
2. Quinquaginta decisiones: 530;
3. Digesto: 533;
4. Institutas: 533;
5. Codex (repetita praelectionis): 534
6. Novellae: 535 – 565

A denominação “corpis iuris civilis” não tem a designação original, só em 1583 é que o
nome é dado por Dionísio Giodofredo, nome este inspirado no código do direito canónico.

O imperador Justiniano era um imperador Romano oriental, estamos no séc. VI, o império
romano ocidental já tinha desaparecido. Sobe ao poder em 527. Em 528 houve a revolta
de mico, ou revolta de mice. A revolta de mice acabou porque o imperador mandou
degolar toda a gente que se revoltou, influenciado pela mulher. O Justiniano entendeu que
devia fazer um conjunto de obras que de certa forma perpetuassem o Direito Romano e
simultaneamente resolver questões concretas do direito romano que se aplicava em
Constantinopla e na parte oriental do império naquela altura. Ainda em 527 contratou um
jurista chamado Triboniano (que ainda hoje é considerado o jurista codificador mais
importantes de todos os tempos) para fazer a atualização do código Teodosiano. Deu-lhe
5 anos mas ele conseguiu em um ano e meio. E em 529 estava concluída a primeira obra
do Justiniano.

O Direito Privado continuava a ser o Direito clássico, jurisprudencial. Era um direito de


aplicação difícil por causa do jus respondendi porque vários juristas tinham opiniões

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diferentes sobre os mesmos problemas com a mesma autoridade. Uma coisa que era para
dar segurança jurídica provocou o efeito contrário. Houve a Lei das Citações ou Tribunal
dos mortos com os moldes que já vimos. Então em 530 o Justiniano faz o segundo livro.
Foram 50 leis imperais, cada uma delas para esclarecer dúvidas que existiam ainda sobre
a aplicação do direito antigo, eram um complemento da lei das citações. Esta continuava
em vigor mas se houvesse algumas dúvidas vinham estas 50 leis tentar diminuir, resolver
essas dúvidas. Como o imperador percebeu que o Triboniano era muito rápido, e como
apesar da lei das 50 decisões ainda haviam dúvidas sobre questões de direito privado,
antigo e romano. Então no ano de 530 pediu para o Tribuniano elaborar uma obra onde
reunisse de forma sistematizada toda a jurisprudência romana clássica, todo o direito
privado romano, que emergia das obras dos juristas clássicos, devia ficar reunido de uma
forma ordenada e, dessa maneira resolvia o problema do direito clássico. Ficava na obra
todo o direito clássico para poder ser usado em tribunal. O imperador Justiniano deu-lhe
10 anos para fazer isso e o gajo fez em 3 anos, que ficou conhecido por digesto (latino,
em grego é “pandectas”). O digesto é a obra do direito mais importante do ocidente pois
codificou todo o direito romano clássico, está dividida em 50 livros, os livros estão
divididos em títulos, e cada titulo em capítulos, parágrafos. E cada parágrafo é uma
citação de uma obra de um jurista clássico, sendo que no começo da citação é assinalado
o nome do jurista. É graças a isto que foi possível recompor boa parte das obras dos
juristas clássicos. Nestes livros temos mais de 9000 citações. Uma importante é a de um
juiz chamado Papónio que conta a história de direito romano desde os mores maiorum
até ao direito imperial. No digesto usaram-se obras de 39 juristas. Em termos de
parágrafos ou citações são mais de 9000 citações das obras de juristas clássicos, isto tudo
ordenado por matérias. O justiniano queria que isto tivesse utilização prática, não era para
deixar uma obra para a eternidade. Era ter uma obra que resolvesse o problema da
aplicação do direito antigo. A partir do digesto só podiam os juízes usar o que estava lá
ou nas Institutas. Uma das instruções é que o Triboniano podia alterar os textos originais
para dar mais atualidade (alterações chamadas interpolações). O quer dizer que podem
haver coisas que se pensam ser originais e são interpolações.

As Institutas foram também aplicadas em 533, 2 ou 3 meses antes do digesto.


Eram obras de caráter escolar, ensino em escolas de direito. Nesta altura já temos
faculdades de direito em vários pontos do império romano. A escola de Roma, a escola
de Ravena, na península itálica, a escola de Constantinopla, a escola de Beirute. Por causa

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do édito de Caracala (passamos a ter um universo de cidadãos muito grande) era
necessário vários juristas. Contém um “resumo” do Digesto, aquilo que foi mais
importante do digesto. Reproduzem as Institutas do Paulo. São compostas por 4 livros e,
apesar da sua primeira finalidade ser o ensino do direito nas escolas, podiam ser aplicadas
nos Tribunais.

Em 534 temos uma segunda edição do Códex (de preleção repetida). É uma
reedição atualizada do Códex de 529. Entre 529 e 534 o Justiniano fez muitas leis e por
isso resolveu atualizar o Códex, substituindo esta versão a anterior.

Em bom rigor, as codificações oficias do corpus juris civiles são o digesto, as


Institutas e o códex. Digesto reunia o direito jurisprudencial clássico antigo; o códex o
direito imperial, as leges, os éditos do imperador e as Institutas eram um resumo do
Digesto para efeitos de ensino nas escolas de direito.

De 535 a 565 surgem as Novelas. Foram novas constituições imperiais do


imperador Justiniano, constituições que ele fez depois de publicar o códex revisto,
atualizado de 534. Durante 30 anos continuou a fazer leis mas nunca atualizou o códex.
Estas novas constituições nunca foram oficialmente incorporadas num código oficial. Isto
terá sido porque em 546 morre o Triboniano. Há quem diga que ele ainda tentou fazer
uma nova comissão para atualizar o códex nos últimos anos de vida. As novelas são
coletâneas particulares destas leis que ele fez nesses 30 anos, sendo as mais conhecidas a
“authenticum”; a “coletânea grega” e a “epítome Juliani”.

Quando olhamos para o corpus iuris civiles sabemos que as edições contêm o
digesto, as Institutas, o códex de 534 e pelo menos uma destas obras de novelas, sendo a
mais famosa a “autêntico”. Estas obras foram feitas no séc. VI, sendo que já não havia
império romano do ocidente. Foram feitas no antigo império oriental. A importância disto
é que durante séculos no ocidente ignorou-se a existência destas coletâneas. Com a queda
do império romano do ocidente, a população europeia isolou-se, aquele cosmopolitismo
que era típico do império romano que construi estradas, permite o comércio, o turismo
tudo isso desapareceu… As estradas passaram a ser perigosas, havia bárbaros, salteadores
e aquilo que acontece a seguir à queda do império romano do ocidente na europa ocidental
é que o grande valor que se sente em falta é a segurança é por isso que o sistema social
que se vai desenvolver na europa é o feudalismo que foi um sistema onde se geravam
vínculos sucessivos entre as pessoas com o objetivo delas se protegerem reciprocamente.

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O feudalismo tem a sua base numa necessidade enorme de procurar garantir a segurança
das pessoas. Por isso é natural que durante muito tempo não se tenha tido conhecimento
destas obras no ocidente pois não havia até forma de chegar até cá. Eram obras
manuscritas, para se reproduzir o trabalho seria imenso. Só a partir do séc. X, XI, com as
cruzadas é que voltamos a ter circulação na europa para o oriente. Vamos começar a ver
novamente a europa a mexer e o surgimento de monarquias e novos estados.

Nessa altura (séc. XI/ séc. XII), na primeira universidade da europa – Universidade de
Bolonha – surge o corpus iuris civiles. Ainda não se sabe ao certo como, mas a partir daí
o corpus iuris civiles começa a ser estudado por sacerdotes. Quem manteve alguma
tradição cultural na alta idade média foi a igreja católica, o resto desapareceu. Os sistemas
europeus são romanistas porque a partir do séc. XII acontece o renascimento do direito
romano justinianeu. Por causa desta descoberta em Bolonha que depois é divulgada pelas
universidades europeias. E durante séculos era isso que se estudava nas faculdades de
leis. Na universidade portuguesa, até 1772, só se ensinava o corpus iuris civiles. Ao
direito romano chamava-se o jus commune, o direito comum a todos os estados menos a
Inglaterra, que desenvolveu o common law.

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