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O Direito Romano foi o direito feito por uma civilização – romana clássica – da
antiguidade clássica. O tempo histórico ocidental é constituído pela Idade Antiga (4000
a. C. – 476 d.C). Em 476 d. C ocorreu a queda do Império Romano do Ocidente. Dentro
da idade antiga o que nos interessa é a antiguidade clássica que é o período onde
essencialmente duas civilizações se afirmaram no mundo antigo ocidental – Grécia e
Roma. Dentro da Idade Antiga vem a Antiguidade Clássica (1000 aC a 476 dC). Depois
começa a Idade Média que vai até 1453 d. C. O Imperador Diocleciano sobe ao poder e
divide o império romano entre império romano do ocidente (Constantinopla) e do oriente
(Roma). Mais tarde o imperador Constantino decidiu mudar a capital do império de Roma
para Bizâncio. Os povos germânicos começam a entrar nas fronteiras do império romano
do ocidente ficando designados pelos romanos como povos bárbaros (designação para
todos aqueles que vinham de fora do império romano e desconheciam o latim). Os
bárbaros dos gregos eram os romanos (a palavra bárbaro vem do grego). A partir do séc.
XVI as invasões dos germânicos ficam mais intensas. Não são invasões militares, mas
sim migrações de um grande número de povos por diversos motivos. Os romanos
acabaram por integrar os povos que vinham para dentro das fronteiras desde que noa os
hostilizassem. A melhor relação com quem os romanos tiveram foram os visigodos. Que
depois vieram para a Península ibérica. Os visigodos são os sucessores dos romanos. Os
romanos vieram para a península ibérica por causa dos cartagineses. Esses cartagineses
tinham bases militares na Península. Os cartagineses tinham origem fenícia.
Então em 1453 o dito império romano do oriente – que de romano já não tinha
nada – perdeu a cidade de Bizâncio para os turcos otomanos. Então, considera-se que
aquilo que tinha sido durante séculos o império romano do oriente finda nessa altura e
sendo ocupado pelos turcos passa a ter uma feição consideravelmente diferente. Aqui
termina a Idade Média.
O Direito é então uma disciplina social que é constituída por normas, por regras
de comportamento, que podem ser impostas por acções ou por omissões, ou podem ser
regras de natureza meramente facultativa. Mas as normas de Direito são normas sociais
diferentes das demais normas sociais (ex: regras de conduta), pois têm pelo menos uma
característica especial. São normas sociais, de comportamento em sociedade, todavia não
são simples normas sociais.
São normas ou regras jurídicas pois possuem, pelo menos, uma característica que
não encontramos noutro tipo de norma social. As normas jurídicas são gerais e abstractas,
tal como todas as normas societárias. Não visam especificamente pessoas em concreto.
As características da generalidade e abstracção são comuns a todas as normas sociais.
Por outro lado, as normas jurídicas que regulam por exemplo o casamento são
normas coercivas (coercibilidade não é o mesmo que imperatividade). O casamento não
é imperativo, porque não estamos obrigados a celebrá-lo com ninguém - aqui vigora o
princípio da autonomia da vontade. Contudo, se eu me casar ou celebrar um contrato de
compra e venda, para que esse contrato tenha dignidade jurídica (ou seja, tenha relevância
para o Direito) e para que o casamento seja um ato jurídico, eu tenho de cumprir com um
conjunto de regras que o Direito Privado e o Direito Civil estabelece para esse tipo de
contrato. Se eu assumir a minha vontade individual em celebrar algum destes tipos de
contratos, uma vez assumido, uma vez dada jurisdicidade a esses contratos, através das
formas legalmente previstas (ex: registos, contratos escritos), se eu não cumprir com o
que está estipulado no contrato, posso ser coercivamente obrigado a fazê-lo.
Exemplos:
Num contrato de compra e venda, em caso de incumprimento por uma das partes,
a parte lesada pode, através da força legítima do Estado de Direito (Ordem Jurídica e
Tribunais) obrigar a outra parte ao cumprimento. Esta força legítima do Estado traduz-se
através da Ordem Jurídica e Tribunais – poder jurisdicional - é o poder que obriga as
pessoas a cumprir o Direito se, eventualmente, elas não o fizeram quando têm de o fazer.
Ex.: Um marido enganado pode vir a Tribunal pedir o divórcio, mesmo que a outra
parte queira manter o casamento. Num contrato de compra e venda a parte enganada pode
exigir que a outra parte lhe devolva o dinheiro que pagou, por uma peça que tenha sido
fabricada de forma diferente ao convencionado.
As demais normas sociais (ex. normas de etiqueta) não são normas de Direito,
porque o Estado não lhes reconhece dignidade suficiente para serem protegidos pelo
Direito, pela máquina coerciva legítima do Estado (através das Polícias, dos Tribunais,
do Direito).
Hoje em dia, esta força é legítima por causa da fundamentação democrática dessa
legitimidade. Quando o Estado nos impõe uma determinada Lei, fala em nome do povo,
porque recebeu votos suficientes para estar a exercer a soberania. Fala em nome do povo,
por via da criação de leis. As normas de Direito têm a característica da coercibilidade, ao
contrário das demais normas sociais. O Direito é composto por normas jurídicas, regras
de Direito consoante os momentos históricos, essas normas podem ser feitas por
diferentes entidades. As normas jurídicas estão constantemente a mudar, porque a
realidade é dinâmica. No entanto, os grandes princípios, a estrutura do Direito é sempre
a mesma.
2.º Ponto: De onde saem estas normas? Como é que as normas de Direito são
criadas? Aqui falaremos das fontes de direito. De onde nascem as normas de Direito de
uma determinada sociedade, de um país, num determinado Estado, num certo período
histórico?mHá várias maneiras de olhar para as fontes de Direito.
Há autores que entendem que os Princípios Gerais de Direito também são fontes.
E de facto são mas fontes mediatas (e não imediatas). Em termos de Classificação Formal,
as fontes imediatas de Dir. historicamente e em termos civilizacionais são: LEI/
COSTUME/ JURISPRUDÊNCIA/DOUTRINA.
1. LEI
2. COSTUME
A lei é feita por uma entidade do Estado com poder legislativo, que obedece a uma
intencionalidade, voluntariedade e racionalidade.
Quem faz a Lei é o Parlamento que tem o poder legislativo: é na A.R. que estão
as pessoas eleitas em sufrágio universal pelo povo. Em termos históricos temos leis feitas
por Parlamentos (A.R., Câmara dos Comuns, etc…), por Reis, por pequenas Câmaras que
são singulares (ex: Monarquia Visigótica). A Lei é um processo intencional porque o
Legislador tem cabeça, tronco e membros. Essa Lei vai expressar uma racionalidade que
reflecte a mentalidade de uma sociedade (ex.: lei do aborto; lei da eutanásia..). A Lei é
um processo voluntário, ao contrário do costume.
Quando havia necessidade de se arranjar provas dos crimes (porque não existiam
fotografias) recorria-se às ordálias (Ordálio ou ordália, também conhecida como juízo de
Deus (judicium Dei, em latim), é um tipo de prova judiciária usado para determinar a
culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza e cujo
resultado é interpretado como um juízo divino. O acusado submetia-se a torturas ou
provas físicas que supostamente provariam a sua inocência caso não lhe causassem dano).
Quando se juntam estes dois elementos, temos o COSTUME. O Costume era a fonte de
Direito mais importante da Idade Média. Segundo a Doutrina Medieval, há dois critérios
que a Lei Régia impõe:
1) O Costume tem de ter, pelo menos, uma antiguidade provada de 10 anos (i.e. uso
repetido pelo menos durante 10 anos continuados, observado naquela
comunidade, para a convicção comum popular da sua obrigatoriedade).
2) Durante esses 10 anos, ter sido utilizado em 2 ou 3 sentenças judiciais, para casos
iguais.
Se o Tribunal resolvia da mesma forma 2 ou 3 situações iguais, ficava convencido
da matéria jurídica.
3. JURISPRUDÊNCIA
Normas de Direito criadas através de sentenças judiciais. Direito jurisprudencial.
4. DOUTRINA
Era ensinada na Catequese. Pensamento especulativo que se faz sobre uma área
de conhecimento. A Doutrina é a ciência do Direito que pode ser fonte de Direito,
inclusive, alguma ciência do Direito pode ser fortemente imbuída de pensamento
religioso. Hoje em dia a Doutrina não é fonte de Direito em Portugal. Nos Países
Muçulmanos, que não fizeram a laicização (separação do Estado e da Igreja), as pessoas
são julgadas nos Tribunais com leis fundadas na religião. O Corão (livro sagrado do
Islão), inclusive, pode ser utilizado nos Tribunais Muçulmanos para fundamentar as
sentenças do Juíz. Cerca de um terço do Corão é de utilização jurídica possível. Hoje em
dia a Doutrina (e falamos na doutrina religiosa) é fonte de Direito em alguns países.
Em Portugal a Doutrina foi fonte de Direito até ao séc. XVIII, mas não era doutrina
religiosa. A doutrina aplicada era de dois grandes juristas italianos (Acúrcio e Bártolo),
grandes autoridades de Direito Romano e em certas circunstâncias a lei permitia que os
juízes tomassem as suas decisões com base naquilo que eles escreveram (até ao séc- xVII)
Foi a lei da boa razão que acabou com a utilização dos escritos deles para fundamentar as
sentenças.
Em suma, normas de direito são normas que compõe uma ordem jurídica e que
têm várias características entre elas a coercibilidade. São normas que determinam certas
formas de ação ou omissão, que impõe comportamnetos ou proibem comportamentos às
pessoas que vivem na soceidade. Estas normas nascem através de vários processos de
criação de normas de direito chamados fontes de direito. Historicamente, os processos
A outra questão é quem são os primeiros povos que constituiram Roma como
cidade independente. Sobre isto não há certeza. Provavelmente terão sido 3 povos que
tiveram origem na cidade de Roma, os Sabinos e os Latinos e um terceiro povo que se
julga ter sido muito importante na formação de Roma que foram os etruscos. A primeira
Se Roma tivesse perdido a segunda guerra não tinha sido a potência que foi. Com
isto os Romanos começam a conquistar a Peninsula Ibérica e demoraram dois séculos
para conquistar a Península Ibérica toda. Depois foram para a Galia e acabaram por
desenvolver uma marinha que lhes permitiu a expansão maritima.
Com as invasoes bárbaras do Séc. III, que foram migrações inteiras de povos
vindos da zona da atual Alemanha, na altura germânia, que entraram no império Romano
e tentaram fixar-se. Se houvesse resistência dos Romanos impunham-se militarmente.
Então os Romanos procuram uma forma mais racional de poder governar o império. O
imperador Diocleciano que sobe ao poder a 284 dC vai criar uma divisão do império em
4 partes. Em cada uma destas partes coloca um Cesar (regime conhecido pela tetrarquia).
Ele era um deles. Mas os outros estavam dependentes dele. Ele é o primeiro imperador.
O Dioclceciano é o instituidor do absolutismo imperial e demite-se no ano 305 dC de
Universidade Lusófona do Porto - Rui Rodrigues a22204424
imperador. Esta divisão com a saída do Diocleciano desparece e o império volta a
unificar-se.
Isto tornou a parte ocidental do império cada vez mais problemática, que
entretanto por razões políticas, transformou-se com o absolutismo numa gigantesca
máquina administrativa que consumia impostos que desviavam dinheiro que agora iam
para a monarquia que antes iam para o exército e por essa razão foi descurado o exército
romano e isso contribui para a fragilidade da parte ocidental do império romano.
O império romano do oriente vai então voltando a ser aquilo que tinha sido na
origem quando era uma cidade grega. Os imperadores passam a chamar-se basileus. Então
o império romano do orinte a partir do fim do séc. VI já dificilmente podemos dizer que
o império ocidental continua a ser romano, isto por causa do imperador Justiniano. Este
imperador teve um papel preponderante na história do drieto romano. Se não fosse ele
nós hoje não seríamos uma civilização com o direito influenciado pelo direito romano e
não estaríamos a ter esta matéria. O Justiniano chegou à Peninsula Itálica, chegou ao
O que nós hoje vamos estudar vai ser a organização politica de Roma. As várias
formas políticas do estado romano desde a sua formação até ao fim. Perceber a evolução
histórica de Roma é fundamental para percebermos a transformação do direito romano.
Roma começou por ser uma cidade-estado, uma pequena unidade geográfica
independente com uma soberania própria. Nós vamos estudar esses orgãos do governo
desde o inicio até ao fim do império romano.
1. Monarquia;
2. República;
3. Principado;
4. Dominado.
Universidade Lusófona do Porto - Rui Rodrigues a22204424
Isto em termos de organização do poder descreve quase uma circunferência perfeita.
Começa com um sistema de governo da concentração de poderes numa só pessoa e vai
terminar num regime absolutista de concentração de poderes numa pessoa que é o
imperador.
A monarquia foi desde 753 aC (pura convenção) e termina em 509 aC. Em 509 a.C.
há uma transformação política que terá sido uma revolução contra o ultimo rei Tarquimio,
o Soberbo (foi o último rei romano). Há quem diga que foi uma revolução, há quem diga
que terá sido uma revolta contra os etruscos.
A República vai de 509 aC até 27 aC (esta data é a data em que começa o novo regime
instituido pelo Otavio Cesar Augusto após ter feito aquelas cenas todas em cima com a
Cleópatra e assim). Com isto começa o principado que vai de 27 aC até 284 dC.
Nota: estas classificações que aqui estão são classificações que seguem a literatura da
filosofia política grega (especialmente a monarquia e a república) desde logo Platão e
Aristóteles. Quando falamos em monarquia e república não tem nada a ver com os
regimes contemporâneos. A monarquia até era parecida mas a república não. A república
era um regime onde se verificava a separação de poderes enquanto que na monarquia não.
Mas quando falamos do povo romano apenas nos referimos aos cidadãdos, cives
(cidadãos) ou quirites (não se sabe bem qual foi a origem desta expressão, há quem diga
que isto era uma lança que as pessoas com um certo estatuto detinham tendo vindo daí o
nome). Primeiro chamavam-se quirites e depois passaram a cives. Os romanos chamavam
à cidade civitas e os gregos chamavam polis. Quando falamos no povo romano apenas
eram considerados os cives (ou quirites). As pessoas que tinham o estatuto de cidadão
romano eram muito poucas. Isto também acontecia na grécia (os metecos não tinham
direito de cidadania e por isso não podiam participar nos órgãos que tomavam decisões
políticas nem podiam ser eleitos para esses órgãos). Em Roma acontece a mesma coisa.
No início, o povo romano eram os seus cidadãos. Mas os que tinham o estatuto de
cidadãos eram muito poucos a maior parte eram plebeus. Os cidadãos são os patrícios, a
elite da cidade. A palavra patricios vem de pater (pai). Os patrícios eram os que
descendiam dos fundadores da cidade Roma, dos pais da cidade de Roma. Isto vai criar
imensas tensões sociais porque a esmagadora maioria da população pertencia à plebe. Isto
porque os plebeus eram cidadãos que foram migrantes que foram entrando em Roma. Os
conflitos sociais entre plebeus e os patrícios foram sendo cada vez maiores, tendo isto
A palavra senado vem da palavra senex. A palavra senil vem desta também. Senex
era referente a uma pessoa com idade, com experiência de vida, com provas dadas na
cidade. O Senado é então um orgão onde se reúnem as principais pessoas de maior
notariedade da Cidade de Roma. Os senadores a partir de uma certa altura designam-se
os pais da Cidade de Roma. O Senado quando chegamos ao fim da monarquia seriam
cerca de 300 senadores no senado. No ano 138 a.C., quando sobe ao poder um ditador
chamado Sila, o senado passou a ter cerca de 600 pessoas. Antes da morte de Júlio Cesar
entre o ano de 60 aC e 44 aC, durante a ditadura de César, o senado passou a 900
senadores e quando chega ao principado ultrapassa os 1000 senadores. O Senado não
tinha imperium. O Senado tinha o chamado auctoritas (autoridade). Era a instituição
política mais importante do estado romano pelo menos até uma fase do principado. Toda
a república romana é dominada pelo senado. O Senado é um órgão consultivo, consulta,
dá opiniões ao rei, tem autoridade, não tem imperium (ou seja não tomava decisões, não
executava políticas). Mas como se imagina, num órgão onde estavam centenas de pessoas,
as pessoas mais importantes, uma opinião que saísse do senado era para levar a sério e
em principio eram aceites.
Este homicídio foi a ponte para o principado que começou com Octavio Cesar
Augusto, sobrinho de Júlio Cesar. Quando se assume como princeps o Octavio assume
poderes que o põe acima de qualquer magistrado romano e isto vai começar a reverter o
ciclo da divisão de poderes. Isto vai gerar uma tensão com o senado e a tendencia para o
absolutismo imperial vai ser muito reforçada. Essa tendência expressa-se pelo
esvaziamento do senado. Os imperadores vão procurar esvaziar o senado. O que acaba
com a subida ao poder de Deocliciano que sobe ao poder e declara-se Deus, no sentido
de homem de grande poder acima dos outros, Domus, senhor máximo da cidade de Roma.
Aqui já não há dúvida nenhuma, tudo o resto está às ordens do imperador. É a partir
daqui que o império romano do ocidente cai, começam a criar impostos desalmadamente,
o exército é depreciado numa altura em que os povos germanos já estavam dentro do
império. Por esta altura um terço do efetivo dos exércitos romanos era constituído por
povos bárbaros que tinham entrado dentro do império.
Todavia, importa reter que estes magistrados não foram todos criados ao mesmo
tempo. É enganador nós pensarmos que no ano 509 a.C. termina a monarquia e começa
a República e que as magistraturas apareceram todas em 509 a.C. Elas são constituídas
entre 509 e 367 aC. A 1.ª que surge, e esta é importante que substitui os reis, ao ponto de
ser o suficiente para considerarmos que acabou a monarquia por causa desta magistratura,
é a dos cônsules. Depois temos a questura (questores) e a censura (censores) que foram
criadas nos anos de 443 aC.
Depois, em 367 a.C., surgem umas leis muito importantes, as leges licinia sixtia
(segundo a internet estas leis obrigavam a que em cada um ano, um dos dois cônsules
fosse um plebeu), leis propostas por Liciniu e Sixtius, dois cônsules do ano 367 aC. Esses
nomes parecem no feminino porque é lei (a lei, feminino) e depois as outras vem de
Lícinio e de Sixtio. A origem do nome da maior parte das leis é o nome dos magistrados
que fazem proposta das leis em questão.
Já falamos que há uma distinção muito grande entre patrícios e plebeus. Não era
uma distinção social era uma distinção de cidadania. Como nós vimos na monarquia, os
plebeus não faziam parte do comício das cúrias. Tal como não farão durante grande
período da república parte dos comícios das centurias, nem do comício das tribos, nem
do senado. O primeiro senador plebeu foi admitido no ano de 312 aC. Esta situação de
discriminação gerou conflitos sociais entre plebeus e patrícios. Paulatinamente a plebe
foi conquistando direitos de cidadania. O primeiro plebeu questor foi admitido em 421,
a.C. O edil curul, em 366 a.C., o pretor 327 a.C., cônsules 367 a.C., censores 356 a.C. Se
repararmos, é no séc. IV que a plebe praticamente conqusita o direito de aceder a todas
as magistraturas e ao senado. O séc. IV foi um séc. importante de conquista dos plebeus
na cidade de Roma. Mas até ao séc. IV já tinham pasasdo vários séculos desde o séc. VII
a.C.: foram vários conflitos que se estenderam ate à plebe ter um estatuto de cidadania
praticamente equivalente aos patrícios.
O edil curul, ou edis curis é uma expressao que tem 2 palavras. A palavra curum
é uma palavra que significava um banco, um banco de sentar. Isto era um símbolo de
poder de alguns magistrados romanos. Era um banco que era utilizado pelos edis ou pelos
pretores. Quando recebiam alguém ou despachavam as suas tarefas com os cidadãos, era
neste banco que se sentavam. Todos os estados têm simbolos de poder, na monarquia
temos a coroa, a espada, o estandarte, os colares de função. São símbolos que representam
que a pessa que ostenta aqueles símbolos tem uma determinada função de soberania,
poder de soberania. Por isso é que os Césares mais tarde utilizam a coroa de folhas; mas
nesta altura alguns magistrados romanos utilizavam este banco, uma espécie de pequeno
trono que usavam para receber os cidadãos romanos e despachar o seu serviço. Assim a
palavra edil curul tem duas palavras, a curul foi a que explicamos, o banco. A outra
palavra é a palavra edil. Palavra que usamos, hoje em dia, como presidente da câmara.
Ou edilidade referente à câmara municipal. Usa-se mais quando há eleições autárquicas.
O edil curul seria uma espécie de presidente da câmara de Roma. Era um magistrado que
tinha à sua responsabilidade a limpeza das ruas, a conservação dos municípios, o
funcionamento das feiras e dos mercados, a segurança da via pública, os banhos públicos
e por isso era um magistrado que cuidava destes aspetos relativos a administração não
política, mas sim decisões de natureza administrativa, correntes, do funcionamento da
cidade de Roma. Eram então estas funções que eles desempenhavam.
Esta forma de organizar o processo judicial romano vai começar aqui e vai manter-
se até ao séc. II da era cristã. No séc. II da era cristã o que vai acontecer é que os
imperadores vão substituindo progressivamente este tipo de processo judicial. No séc. II
da era cristã este processo judicial já desaparece e passamos a ter o processo judicial
inteiramente estatizado nas mãos da burocracia e da justiça imperial. Até lá vai manter-
se da forma que vamos falar agora. A fase in iure e a fase apud iudicem.
A fase in iure é a fase do processo onde se aprecia o direito, a fase apud iudicem
(perante o juiz) é a fase do processo onde se apreciam os factos. O pretor é criado para
presidir e organizar a primeira fase do processo. O que acontecia era: se um cidadão
romano tivesse um litígio com outro, aquilo que a partir de 367 a.C. tinha de fazer era, se
quisesse a tutela jurídica e judicial do estado romano, era dirigir-se ao pretor. O pretor
recebia-o sentado num daqueles bancos e ouvia o que ele tinha para dizer, ouvia os factos,
ou porque o tinham roubado, ou porque tinha uma dívida que achava que não devia pagar,
etc... O pretor ouvia a pessoa, depois eventualmente ouvia a outra parte. O pretor não
fazia nenhuma sentença. O que ele ia ver era se aqueles factos que estavam a ser
transmitidos tinham ou não, no direito romano que ele tinha, se havia ou não uma norma
que se aplicasse ao caso concreto. O pretor não avaliava os factos, avaliava o direito
aplicável aqueles factos. Havia um roubo, um contrato mal celebrado… o pretor ia ver
Estes foram então os magistrados que fazem parte do cursus honorum criados em
momentos diferentes, a partir da Lex Villia Annalis, que têm de seguir esta sequência com
as regras que vimos agora.
Estes magistrados eram eleitos pelos comícios. Estes comícios são elementos da
estrutura republicana romana. O das cúrias desaparece, e aparece em susbituição o
comício das centurias, que é um comício quase militar. As centúrias eram uma divisão
Esta estrutura que aqui está é a estrutura das magistraturas do cursus honorum, as
magistraturas ordinárias ou comuns do Estado republicano Romano. São ordinárias
porque à medida que vão aparecendo durante a República nunca mais se extinguem, vão
desaparecer depois ao longo do Principado. Para além disto, compõe o cursus honorum,
são aquelas magistraturas que ao longo do estado republicano sempre se mantiveram.
Acontece que isto às vezes precisava de algumas correções. Nós vimos que este sistema
republicano não foi tão caótico quando aquilo que pudesse pensar num sistema onde os
magistados podem vetar as decisões, os cônsules podem vetar decisões de todos os
magistrados a não ser os censores. Os cônsules tinham o poder de soberamia maior. Os
pretores, os edil curus e os questores tinham um poder de soberania menor. O império
minus. Mas acontece que para além destas magistraturas, surgem na constituição política
romana pelo menos 3 magistraturas extraordinárias. Eram magistraturas que não eram
permanentes ou que não faziam parte do cursus honorum. Há 3 magistraturas
extraordinárias muito importantes:
A República romana então é isto. Isto é tao importante que foi um dos temas sob
o qual a Convenção de Filadélfia mais se vincou para fazer a Constituição de Filadélfia.
Foi a Assembleia constituinte dos EUA e a primeira e única constituição que foi a de
1977. Os constituintes americanos fundaram a república, a república federal e foi no
exemplo da república romana que eles se foram inspirar. E ainda hoje no direito
constitucional se fala nos checks and balances, que são travões constitucionais que
servem para impedir os abusos de poder, que a constituição dos EUA consagrou com base
na república romana.
Principado: Aquilo que o Otávio disse ardilosamente é que ele seria o grande
restaurador da República Romana. Ele tinha sido cônsule, e a certa altura o senado quis
que ele ficasse como consule vitalício e preferiu não o fazer, então criou uma nova função
que não era uma nova magistratura que era o princeps, o primeiro cidadão de Roma. O
princeps não é um magistrado, representa o Octaviano, o grande vencedor e o grande
pacificador não só da cidade de Roma mas do próprio império Romano. Ainda hoje se
fala na pax augusta. A paz de Augusto foi extamente a concórdia que a paz de Octaviano
conseguiu impôr no império Romano. Foram as legiões de Otávio que conquistaram e
pacificaram a Península Ibérica e seguidamente pacificaram as Gálias e puseram ordem
no Império Romano. Se ele já tinha prestí gio por ter vencido a guerra civil, esse prestígio
foi aumentado no tempo.
Então ele diz que a partir daí passa a ser o Princípe. O princeps tem duas
atribuições, uma delas é conicidente com uma das magistraturas. Ele reclama a si
humildemente o poder do tribuno da plebe, a tributicia potestas, que era composta por
Por outro lado, houve a redução da reunião dos comícios, aqueles que quem
perante a república votavam, aprovavam ou rejeitavam as propostas de lei. O órgão que
tinha o poder legislativo eram os comícios. Esvaziando progressivamente os comícios,
reuniam cada vez menos até que desaparecem, era importante que alguém os substituisse
na função de fazer a lei então Otávio Cesar Augusto entrega esse poder ao senado. Ou
seja, aparentemente, o Senado saiu reforçado do principado. Na prática iniciou o processo
de decadência que levou a que na parte final do séc. II o senado já não tivesse praticamente
poder político. Termina com a subida ao poder em 284 dC do Diocleciano que se
proclama Dominus, senhor, dono, da cidade de Roma e Deus.
A palavra direito deriva de derectum que significa direito no sentido lateral, como
se fosse reto.
Ulpiano dizia que justiça era permitir que cada um ficasse com aquilo que lhe pertencesse.
Aquilo que vamos tratar são características muito genêricas sem descer a
pormenores sobre este direito.
Se nós traduzirmos à letra ius civile vamos dizer que é igual a direito civil. Mas
hoje a expressão não tem o mesmo significado que tinha na altura. Porque o direito civil
é visto como as normas jurídicas que estão à disposição das pessoas para estabelecerem
relações jurídicas entre elas nas quais estão em plena igualdade. No direito público o que
está em causa é as relações que as pessoas estabelecem com o estado não havendo aqui
uma relação de paridade.
Feita esta ressalva vamos entrar naquilo que nos interessa: vamos estudar o direito
romano do ponto de vista da evolução das fontes. Vamos estudar o jus romanum (que é
feito de 753 a.C. a 476 d.C.). Em primeiro lugar vamos estudar as fontes do jus civile e
depois as fontes do jus honorarium, ou seja os processos de criação das normas do ius
civile e o processo de criação das normas do ius honorarium.
A Lei das XII Tábuas foi produzida em +/- 450 aC. Ou seja temos leis desde 450
a.C. a 476 dC.
O cursus honorum era a carreira das magistraturas, cargo público de alto escalão. Por
isso, jus honorarium vem da palavra honor. O jus honorarium é um direito que é feito
por alguns dos magistrados romanos que surgiram aquando da constituição da República.
Essencialmente os 3 magistrados que contribuiram para o jus honorarium eram o Questor
(magistrado ordinário pois fazia parte do cursus honorum), os governadores das
províncias (extraordinários, não faziam parte do cursus honorum) e o pretor urbano.
É a partir daqui que o pretor começa a fazer direito. Aquilo que começa a
acontecer é que o pretor começa a arranjar formas de corrigir os direitos do jus civile nos
casos em que não há lei.
O direito que era criado pelo pretor era o jus praetorium. Foi o pretor que criou a
figura da penhora, da hipoteca, etc…
Costume: a expressão correta para o Direito Romano era mores maiorum. Aqui
o que se sabe é sempre posterior aquilo que se terá passado. Em segundo lugar, a palavra
costume não é a mesma utilizada em nenhuma destas palavras. A palavra costume é
também uma palavra tardia no vocabulário jurídico, é a palavra consuetudo. É uma
palavra do período do Dominado. A expressão do início de Roma com significado
Estamos num tempo em que o direito e a religião viviam paredes meias uma com
a outra. Nós vemos que os reis são reis por direito divino. Os reis eram reis porque Deus
queria que eles fossem reis. O poder é muito dificil explicar às pessoas mesmo nas
ditaduras. Ou seja, a primeira fonte de direito romano é uma fonte que está fundamentada
na religião romana. Este direito para além de ser um direito religioso era aquilo que se
chamava de direito não escrito, era uma tradição verbal. Isto levanta-nos o problema,
quem é que fazia a interpretação dos costumes dos ancestrais? Sempre que havia
ncessidade de dirimir um conflito através do direito tinha de haver alguém que dissesse
“atenção que os mais antigos numa situação destas fazia isso”. Quem fazia isso eram as
pessoas ligadas à religião romana, os sacerdotes. Eram os sacerdotes que faziam a
declaração do que era o direito, era o colégio de sacerdotes mais importante de Roma, o
Colégio dos Sacerdotes Pontífices. Inicialmente tinha 3 sacerdotes, 3 padres. Era
presidido pelo pontifex maximus. Haviam ainda mais 2 colégios que era o Colégio dos
Áugures e o Colégio dos Feciais. Os Áugures eram os sacerdotes que interpretavam os
augúrios e os auspícios (sinais que os Deuses davam aos homens para saberem qual iria
ser o seu futuro). Faziam isso olhando para o vento, para o voo das aves, para o
comportamento de certos animais. Os Feciais também interpretavam a vontade dos deuses
mas exclusivamente sobre os assuntos da paz e da guerra que envolviam a cidade de roma.
Esta Lei das XII tábuas foi totalmente reconstruída na posterioridade. Estima-se
que só 1/3 desta Lei foi reconstruída. Há quem diga que tenha havido uma guerra com os
gauleses e que por isso é que terá desaparecido o resto porque ardeu tudo.
O que temos vindo a estudar são as fontes do direito romano. O ius romani resulta
de dois sistemas de criação de normas de direito: o sistema do jus civile (processos
tradicionais de criação de direito romano ao longo da história, e estamos a falar de uma
história que começa em 753 a.C., meados do séc VIII, e termina em 476 d.C.). Por isso,
as fontes do jus civile são as formas convnecionais de criar direito romano ao longo de
todo este tempo que aqui está assinalado. Quanto ao sistema do jus honorarium (sistema
que completa e corrige na aplicação prática as normas que são geradas pelo direito dos
ciddadãos romanos), dentro dos vários magistrados que na sua atuação podiam criar
direito, a atuação daquele que foi relevante foi a atuação do pretor urbano. O pretor urbano
era um magistrado com funções judiciais em Roma, criado no ano de 367 a.C. e que
desempenhava no processo a função que presidia à primeira fase. Tínhamos 2 fases, a
fase ius iure, fase do direito, fase que era responsabilidade do pretor urbano na qual o
pretor recebia algum cidadão romano que queria demandar a proteção do tribunal romano
para o direito seu que ele considerava ofendido (depois veríamos se tinha sido ou não) e
uma segunda fase que era a fase apud iudicem, que é a fase em que o processo avança se
nesta primeira fase o pretor entender que existe nas várias fontes do jus civile uma norma-
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direito que se aplique aqueles factos sobre a sua consideração. Se ele detetar essa norma
concede ao demandante uma ação processual, uma accio, e com essa ação avança-se para
a segunda fase do processo que já não decorre diante do pretor mas sim perante o juiz, o
judice, e é então o juiz (que é um particular e não um jurista porque só aprecia matéria de
facto e não de direito, vai ouvir as partes e depois toma uma decisão sobre os factos) que
aplica o direito que tinha sido indicado pelo pretor. Esse direito é um direito que vem das
várias fontes do jus civile: o costume - o mores maiorum, a lei e a doutrina (ou ciência do
direito à qual os romanos davam o nome de iurisprudentia – conhecimento profundo do
ius do direito). Por sua vez, a lei que é uma fonte voluntária e intencional de criação de
normas jurídicas da responsabilidade do órgão de soberania ao longo da história de Roma
teve 3 modalidades: as leis feitas pelos comícios, ou leis comiciais, as leis feitas no senado
ou leis senatoriais e as leis feitas feitas pelos imperadores ou leis imperiais. Nós já
estudamos na aula passada o costume. Hoje vamos começar a estudar a Lei e vamos
estudar as leis comiciais.
Entretanto, voltando ao conceito que os romanos tinham de lei, eles tinham esta
expressão para classificar a sua ideia de Lei “lex res sua dicta”, a lei era uma decisão
normativa (dicta significa declarada solenemente – através de um processo formal; rei
sua significa coisa própria; a palavra rei aqui vem de res, de coisa). Para os Romanos a
lei era a constituição de uma norma jurídica declarada solenamente sobre uma coisa
própria, isto significava, que do ponto de vista dos romanos, a lei era uma declaração
solene pela qual duas partes criaram um vínculo jurídico destinando algo que lhes
pertencia. Era uma disposição solene entre duas partes, declaração essa que constituia
normas de direito sobre uma coisa própria. Este conceito de lei que os romanos
empregavam era um conceito muito amplo. Era tão amplo que para os romanos tanto
havia a lex privada como a lex publica. Dentro deste conceito que a lei era uma disposição
solene constitutiva de direitos sobre algo que é próprio das partes envolvidas nessa relação
jurídica, neste conceito tanto é lei, a lei privada, uma disposição solene sobre uma coisa
própria entre dois particulares (hoje chamamos a isto um contrato), como a publica.
Aplica-se da mesma forma, era uma declaração solene constitutiva de direitos entre duas
partes que dispunham de algo que era seu. A lei pública era uma declaração solene entre
Vamos falar nas leis comiciais. Esquecemos então a lex privada, a qual
correspondia ao conceito de contrato hoje utilizado, e vamos entrar nas leis comiciais.
Um dos aspetos muito importantes, relativamente a conhecermos cerca de 1000 leis, só
cerca de 36 é que tratam de direito privado, as outras tratam de direito público. Isto é
importante pois conforme vamos ver, contrariamente ao direito privado (área do direito
socialmente mais relevante – estabelece as regras de vida em sociedade entre as pessoas
singulares e as pessoas coletivas, mas nesta altura entre as pessoas singulares, onde
nenhuma das partes tem poder arescido sobre a outra) no direito público uma das partes
está sempre investida do ius imperi, poder de soberania. Enquanto que nas relações
jurídicas de direito privado somos livres e autónomos de as aceitar ou não e até de as
conformar, dentro de certos parâmetros, no direito público essa liberade não existe, ou
seja, posso casar-me se quiser, posso comprar algo se quiser, mas não sou livre de pagar
impostos ou não vou conformar o valor dos impostos que serei obrigado a pagar, isto pois
uma da parte que é o estado tem poder superior relativamente aos cidadãos.
Vamos então ver que no direito romano, a esmagadora maioria do direito privado
vai ser trabalhado ao longo dos séculos essencialmente através da atividade dos
Vamos então falar das leis públicas comiciais, as quais os romanos davam o nome
de lex publica rogata. A designação que os romanos davam às leis feitas nos seus
comícios poopulares era a lex publica rogata – lei pública rogada (significa pedir). Este
era o nome porque há uma fase no processo legislativo destas leis em que é pedido ao
povo romano, é rogado ao povo romano, que estas leis sejam aprovadas. A definição de
lei comicial é muito simples: leis propostas por um magistrado e aprovadas pelo povo
(aristocrático, sem incluir os plebeus). Eram leis cujo projeto era feito por um magistrado
que depois convocava um comício para pedir ao povo romano que aprovasse aquele
projeto e o transformasse em lei. Os magistrados com capacidade legislativa eram
essencialmente os cônsules, que detinham aquela faculdade que era o jus agendi cum
populum, agendar reuniões com o povo romano - convocar os comícios). Os cônsules
faziam os projetos de leis, convocavam os Comícios, essencialmente o Comício das
Centúrias. O Comício das Centúrias reunia o povo romano e era o Comício que votava
aquela proposta e ou a aceitava ou a rejeitava. Se a aceitasse, o projeto passava a ser uma
lei. Portanto leis comiciais são leis que têm essa mecânica. São leis propostas por um
magistrado ao povo romano reunido num Comício. Os magistrados essencialmente eram
os Cônsules e o Comício que votava as leis mais importantes era o das Centúrias (os
Cônsules tinham a faculdade para reunir o Comício das Centúrias). Este processo
legislativo era mais complexo porque tinha 6 fases, era isto mas desdobrado em várias
fases, aquilo a que podemos chaamar o processo legislativo das leis comiciais, ou seja, a
forma de se fazer as leis comiciais:
Quando as leis têm só o nome ou são leis aprovadas por um ditador (em roma
durante a República havia a magistratura extraordinária que só de tempos em tempos se
traduzia que era a ditadura).
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Outras lei que não as ditatoriais eram as plebiscitos. Algumas constituições ainda
prevêm, como é o caso da francesa. Têm origem na cidade de Roma, e de onde é que isto
vem? Nós dissemos que por volta da primeira metade do séc. V a.C. houve uma grande
convulsão social (revolta) que foi provocada pelo desagrado pela forma como os plebeus
eram tratados, sobretudo em direitos de cidadania, direitos políticos. Numa dessas
revoltas organizaram-se e decidiram sair da cidade com o objetivo de fazer outra cidade
onde tivessem direitos iguais entre si e não fossem explorados por um órgão superior.
Isso teve como consequências a criação da Lei das XII Tábuas e outra foi a criação do
Comício (ou consílio) da plebe, como já vimos. Os plebiscitos são as deliberações
tomadas nos Comícios da Plebe. Só que esses plebiscitos inicialmente não valiam nada,
eram deliberações de um órgão que não tinha poder de soberania, simplesmente, muito
cedo (51, 52 a.C.) a Lex Valeria Horatia reconheceu força legislativa aos plebiscitos, mas
apenas para os plebeus. Isto significa que a partir desta lei e desta data os plebiscitos
passaram a ser verdadeiramente leis, mas apenas para os plebeus, não se impunham aos
patrícios como leis. Também sabemos que à medida que vamos avançando no tempo, é
no séc. IV que praticamente todas as magistraturas romanas se abrem à entrada de
plebeus, as diferenças de cidadania entre plebeus e patrícios cada vez são menores. Em
287 a.C. encontra-se o corolário lógico dessa evolução, surge uma lei que decreta que os
plebiscitos eram obrigatórios para todo o império romano. Isto corresponde a
consideráveis transformações da ordem social da cidade de Roma, com uma progressão
da plebe em termos de conquista de direitos de cidade e tem outro significado, é que
embora os plebiscitos cuidassem essencialmente de assuntos que diziam respeito à plebe,
na prática passavam a ser iguais às leis públicas promulgadas. A partir de uma certa altura
começam a ser confundidos. Os próprios plebeus começam a participar nos comícios
populares das centúrias, já ocupam todas as magistraturas, já estão no senado e esta
distinção em termos de direitos políticos e cidadania entre plebeus e patrícios deixa de
fazer sentido. De forma que as últimas leis dos últimos 150 anos da República há
dificuldade em saber se são leis com nomes singulares, se são leis comiciais, se são
plebiscitos, qual a natureza específica daquela lei. Há quem diga que a Lex Ortencia
Plebiscito veio de um plebiscito, veio de uma magistratura ditatorial, não se sabe (…)
A primeira destas leis foi a Lei das XII Tabuas. A lei das 12 tabuas (chegamos
inclusivamente a falar que os historiadores punham a possibilidade de antes da lei das 12
Tábuas terem existido as leis régias também conhecida por jus papirianum mas a
conclusão mais fidedigna é que tenha sido as 12 tábuas a primeira lei do direito romano);
A Lei das 12 Tábuas aconteceu +/- a 450 a.C. Foram 10 magistrados conhecer as Leis de
Sólon a Grécia para fazer a lei das 12 Tábuas. Só se recuperou 1/3. Aquilo que se manteve
foi uma tradição oral da lei das 12 Tábuas que chega ao séc. I a. C. que permitiu que
juristas de direito romano tivessem escrito alguma parte do conteúdo da leis as 12 Tábuas
e a partir das obras desses juristas que foi possível, já no séc. XIX fazer a reconstituição
da lei das 12 Tábuas. É com base no digesto que os juristas do séc. XIX conseguiram
reconstituir a lei das 12 Tábuas que será 1/3 daquilo que era.
A Lei das 12 Tábuas foi a primeira lei comicial. Foi aprovada com o processo das
leis comiciais (segundo as 6 fases que demos na última aula). Ao que se pensa quase a
totalidade do conteúdo desta lei eram antigos costumes retirados dos mores maiorum que
já eram aplicados em Roma no tribunal romano. Esta lei o facto de ter sido escrita e
aprovado pelo comício não significa que os conteúdos não pudessem ser praticamente
compostos por antigas normas de direito consuetudinário, passou é a ter o vínculo da lei
pública entre o povo romano e os magistrados da cidade que são os proponentes da lei.
Vamos começar por falar nas primeiras 3 tábuas, processo civil. Processo civil são
as regras jurídicas que organizam a forma pela qual uma ação judicial atravessa num
tribunal, ou seja, são as regras que estabelecem o andamento de um processo, de uma
ação judicial em tribunal, como pode ser intentada, admitida, como é julgada e decidida.
Há uma série de conceitos que vamos tentar apreender a partir destas Tábuas. Em
primeiro lugar, a Tábua I, a epígrafe era “Do chamamento a juízo”. Antes de tudo temos
de ter em atenção que nesta altura o processo em Roma não era estatizado mas sim privado
Esta primeira Tábua tem 6 leis dentro da primeira Tábua. No ponto 5 refere-se
dois dos primeiros contratos no direito romano. O nexium e o emancipatio.
A Tábua 2.ª continha 3 pontos, ou 3 leis, e a última delas era relativa à dificuldade
que o cidadão romano podia ter em levar a tribunal alguém. Dizia que tinha de ir 3 dias
gritar para a porta do réu.
Esta primeira fase do processo serve para alguém que julgue ter um direito seu
que tenha sido posto em causa por outra pessoa poder levá-lo a julgamento.
O nexum deve ter sido o primeiro contrato de todos. Era um contrato de crédito
pelo qual uma pessoa empresava o direito a outra e ficava devedor aquele que recebia e
o credor aquele que emprestava. Este contrato implicava a responsabilidade do devedor,
aplicando-se aquelas cenas mórbidas que falamos antes. O nexium acaba por ser
invalidado com a lex poetela papiria. Foi então substituído, aparentemente, pela
stipulatio.
A tabua 6.º vale a pena fazer menção ao número 1 dessa Tábua. Os romanos
classificam como lei um vínculo entre particulares (lex privata).
A questão mais importante é: como é que nos sécs. 5, 4 e 3 a.C. se faziam estes
contratos? Com que meios? O papel não existia nesta altura. O papel é criado pelos
chineses no séc. I da era cristã e só ao final de algum tempo é que a coisa foi conhecida
por outros povos. O processo judicial romano para ser levado a sério era extremamente
formalista e extremamente solene... mas era oral. Já havia esta consciência da importância
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de criar mecanismos para que as pessoas pudessem realizar negócios umas com as outras
com segurança. Os romanos criaram então um sistema em que todos estes atos eram
solenes, ou seja, eram atos que eram realizados na presença das divindades. Mesmo assim
não era suficiente. Então os romanos criaram 3 maneiras de fazer contratos:
• Per letterae: por escrito (nesta fase era praticamente inexistente – estamos a falar
no séc. 5 a.C.);
A mancipatio era feita pelo bronze e pela balança. Isto era um ritual. Era um ritual
no qual o essencial era transferir a propriedade. Este ritual consistia na introdução destes
dois elementos: bronze e balança. Para além dos deuses era preciso 5 testemunhas
humanas. Era desenvolvido por uma pessoa, um particular que presidia a esse ritual. Essa
pessoa levava consigo uma balança com dois pratos e umas placas de bronze. O ritual era
feito entre o comprador e o devedor na presença de 5 testemunhas do portador da balança
e do bronze. O bronze significava o dinheiro que ia ser pago pela compra. O particular
batia com o bronze na balança e depois pesava o bronze na balança. Era um ritual que
servia para dar formalidade a um típico negócio de compra e venda.
A stipulatio era um negócio oral, verbal. Era feito por uma pergunta “Spondes nili
dare X” – “prometes dar-me x?” e a resposta era “spondeo” – “prometo!”. Esta resposta
gerava um vínculo jurídico obrigacional. Se alguma cosia falhasse nesta pergunta ou nesta
resposta o contrato não existia para o direito. Vamos imaginar que isto é feito e em ato
imediato fica feito o empréstimo. Se em vez de spondeo respondesse promitio (que
também significava prometo) isto significava que o negócio jurídico não era constituído.
Se o devedor não entrega aquilo que se tinha prometido a entregar ou uma vez recebido
não devolve ao fim do tempo convencionado, o credor ou tenta resolver as coisas pelas
próprias mãos ou então, se quisesse tentar resolver pela tutela do direito, a partir de 367
a.C. tinha de se dirigir ao pretor. O pretor só queria saber se o ritual foi feito pelas palavras
certas para ver se o negócio existia para o direito. Na fase inicial da atuação do pretor ele
só ia ver se a relação foi constituída de acordo com as regras do direito. Se não fosse o
credor ficava a arder.
TESTE.
Estamos a estudar as fontes do ius civile, que como todos sabem é um dos dois
sistemas de criação de normas de direito romano sendo que o outro é o ius honorarium,
ou direito magistral, direito que era criado por alguns magistrados no desempenho da sua
atividade sendo que, de todos os magistrados que criaram algum direito no desempenhar
das suas funções, como os edis curus, como os governadores das províncias, apenas o
direito criado pelo pretor é que teve relevância para aquilo que foi o direito romano que
perdurou no tempo pois o outro direito era circunstancial, esgotava-se na funções dos
magistrados, nunca integrou o grande direito romano que permaneceu ao longo da
história. Por isso é que dizemos que dentro do jus honorarium o que nos interessa estudar
é o direito criado pelo pretor urbano o jus praetorium. Dentro das fontes do ius civile já
sabemos que encontramos o costume, ou mores maiorum, depois a lei, sendo que dentro
da lei temos 3 tipos de leis (as leis comiciais, ou leges rogata; as leis do senado ou leis
senatoriais, ou senatusconsultos e, por fim, as leis imperiais, às quais o romano deram o
nome de constitutiones principum), temos ainda a ciência do direito romano, ou
iurisprudentia. Ora estas são as fontes convencionais do direito romano, aquelas que
resultam da criação de normas de direito para os cives, razão pela qual este conjunto de
fontes se designa por ius civile, e vimos que os mores maiorum são a fonte típica do
período monárquico; quando entramos na República, o poder legislativo (fazer o direito
através da lei) é criado, pois os mores maiorum são uma fonte de base costumeira ou
Senatusconsultos:
Isto porque julga-se que quando terminamos a monarquia o senado tinha cerca de
300 pessoas, no seculo I a.C., depois de uma reforma feita por Sila tinha cerca de 600
pessoas, depois do governo de Júlio César, entre 60 e 44 a.C., o Senado chegou aos 900
membros e quando entramos no principado esse número ultrapassou os mil senadores.
Pessoas todas elas com poder, influência, prestígio, capacidade financeira, força militar e
por isso o senado era obviamente o órgão onde se concentra o poder do estado romano.
Durante o período da república até com outro traço muito importante é que se pertencia
Surge aqui antes do principado outro facto que vai contribuir para que o senado
reforce mais ainda a sua intervenção na criação do direito. Todas as aulas desde que
começamos a falar deste assunto, vimos que o pretor é criado em 337 a.C. com a função
de presidir à fase in iure. Nessa fase o pretor ouvia os factos, apreciava-os do ponto de
vista do ius civile, e via se havia ou não havia norma de direito romano aplicável e
concedia ou negava uma accio. Ora, conceder ou negar uma ação processual era
determinante para a realização de um direito subjetivo de qualquer cidadão romano que
entendesse que um direito seu estava a ser posto em causa. Costumava-se então dizer que
quem tinha accio tinha ius. Para que um direito pudesse ser defendido ele tinha de ter a
possibilidade de poder ser apreciado e discutido em tribunal, ora aquilo que permitia que
isso acontecesse era a concessão da ação processual. Por volta de meados do séc. 3 a.C
os pretores começam, quando tomam posse, a fazer um documento chamado édito do
pretor. Os éditos não eram exclusivos do pretor, o chamado ius edicendi, significava o
direito de fazer comunicação a todos os cidadãos do povo romano. Ainda hoje temos os
Editais. Comunicações do poder local feitas a todas as pessoas que possam ter interesses
nelas, afixadas nos espaços perdidos das autarquias. Portanto um edito é um documento
de caráter geral feito por várias entidades ao longo da história de Roma. O pretor fazia
éditos, os imperadores mais tarde vão fazer éditos (os éditos dos imperadores vão ser as
leis mais importantes).
Vamos então analisar aquele que foi o primeiro senatusconsulto que tratou de
matéria substantiva, de direito substantivo, que foi o senatusconsulto Silanianum, no ano
10, d. C. Há uma característica comum a estas leis. Todas elas proíbem alguma coisa. O
senatusconsulto Silanianum foi suscitado pois nesta altura sucediam, ou aconteceram na
cidade de Roma muitos homicídios de donos de escravos, ou seja, pessoas ricas que
tinham o seu património como os escravos. Isto terá acontecido porque provavelmente
estas pessoas que eram assassinadas eram assassinadas pelos próprios escravos que lhes
pertenciam. Um dos procedimentos habituais era no testamento dispunham sobre a
libertação de alguns ou todos os seus escravos. Esse ato de libertação era o manomício,
era retirar um escravo da mão do seu dono. E o escravo que fosse libertado designava-se
por liberto. Os libertos têm um estatuto próximo ao dos plebeus, passam a ser homens
livres. O manomicio era o ato jurídico pelo qual um dono de ume escravo o libertava.
Acontece que as pessoas que tinham essa condição, ansiosas para saberem se o seu dono
tinha disposto para o libertar depois da sua morte, matavam-nos para saberem mais cedo.
Isto devia acontecer com tamanha intensidade que obrigou o senado a fazer uma lei. Foi
a primeira lei sobre matéria substantiva que o senado fez e sobre uma matéria popular na
cidade romana. Esta lei foi seguramente muito bem acolhida na sociedade romana pois
os escravos eram res nullius. Este senatusconsulto proíbe a libertação de escravos sobre
donos que tenham sido assassinados e suspende a abertura do testamento enquanto não
se determinar os autores do crime. E para agravar a situação determinava que os herdeiros
pudessem torturar e matar os seus escravos para conseguirem uma confissão ou para
conseguirem a descoberta da verdade sobre o homicídio. Ou seja, esta lei era uma lei que
pretendia aterrorizar os escravos de maneira a que não voltassem a assassinar os seus
donos pois deixava de ser um bom negócio. Ficariam sem saber se estavam livres até os
Nós estamos a fazer a análise do direito romano, do ius romanum, do ponto de vista da
teoria das fontes de direito, conforme tivemos ocasião inúmeras vezes de referir. O direito
romano histórico ou seja o direito romano que foi sendo feito ao longo da existência
milenar da civilização romana clássica foi o resultado de dois subsistemas de criação de
normas de direito, do jus civile e depois um complementar corretivo do ius civile que foi
o ius honorarium que era o direito magistral, o direito que alguns magistrados produziam
no decurso da sua atividade sendo que de todo o jus honorarium aquele que foi relevante,
aquele que influenciou e se perpetuou no tempo foi o direito feito pelo preotr urbano, o
jus praetorium. No que diz respeito ao jus civile as suas fontes são o costume (mores
maiorum) – tradição antiga de uma comprovada moralidade; a lei, sendo que a lei teve
espécies diferentes, embora no que diz respeito à sua qualificação como fonte de direito
é sempre lei; mudou em relação ao órgão de soberania que as foi emanando (leis
comiciais, republica; depois o poder legislativo transfere-se para o senado – leis
senatoriais – e, em seguida, esse poder legislativo transfere-se para o imperador à media
que vamos progredindo no principado até que no absolutismo imperial com diocleciano
consuma-se efetivamente a transferência do poder legislativo do senado para o imperador
e temos as eis imperiais). Temos ainda como fonte a ciência do direito, à qual os romanos
chamavam a iurisprudentia (importantíssima fonte do direito romano consoante iremos
hoje ver). Na última aula ficamos nos senatosconsultos e por isso o que hoje vamos
trabalhar são as duas últimas fontes do jus civile: as leis imperiais e na jurisprudentia.
Leis imperiais
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É importante termos a consciência que estamos a falar me processos históricos em termos
de tempo muito prolongados e, portanto, aquilo que vai acontecer com as leis dos
imperadores é o mesmo que aconteceu com as leis senatoriais, ou seja, uma transferência
lenta do poder legislativo. Estes processos têm de ser perspetivados do ponto de vista
histórico numa evolução a la long.
Em primeiro lugar temos de dar uma nota de evidência. Desde o início do principado,
regime político que é instituído no fim de uma guerra civil na qual sai vencedor o Otávio
César Augusto. O início do principado começa em 27 a C não é marcado por um fim
formal da república. A República foi um regime político romano que mais tempo durou,
durou 500 anos, talvez o mais interessante. A republica entrou em decadência por varias
razoes, conflitos internos, pretensões de poder (desde logo o Júlio César)l, conflitos com
o senado, alguns cônsules entre eles (o próprio Júlio César que acaba assassinado depois
de ter feito um discurso a tentar convencer os senadores a mante-lo como senador
vitalício). Por isso, a república romana, que durou 500 anos, começou no ultimo seculo
da sua existência a demonstrar sinais de decadência que resultaram deste conjunto de
problemas que o regime estava a ter. Quando começa o principado aquilo que o Octávio
César augusto se define não é imperador (aliás a palavra imperador tem várias origens,
inicialmente era um chefe do exército, e muito tempo depois é que a associamos de forma
generalizada designando-os como imperadores). O inicio do principado não foi uma coisa
formal aquilo que o César augusto queria era instaurar a dignidade da republica, as
instituições republicanas, o próprio senado que tinha sido afetado pelas guerras civis, e
por conseguinte, uma das políticas que o Octávio César augusto desenvolveu foi dar
alguma importância ao senado, retirando-lhe algumas das suas competências politicas, ou
pelo menos tentar esvaziar, como o caso da nomeação dos governadores provinciais
(ainda que o senado ainda nomeasse algumas províncias, mas mesmo nessa o príncipe
podia imiscuir-se do governo e por isso o senado não governava sozinho essas províncias
do império). Para compensar o senado deste prejuízo político o Octávio fez com que o
senado começasse a desenvolver uma capacidade que já se percebia que era uma
apetência do senado que era a capacidade de fazer leis. Mas isto não acontece de um ano
par ao outro. É um processo lento, talvez nos primeiros 50 anos ainda existisse uma ou
outra reunião dos comícios populares, depois disso o senado emerge como única
autoridade legislativa do estado romano. Só que só imperadores por sua vez também
faziam documentos, tomavam decisões, e esses documentos escritos chamavam-se
Vamos ver que tipos de constituições imperiais temos. Que tipos de documentos
foram estes que ao longo destes séculos foram ganhando importância prática, força
Apesar de serem todas constituições imperiais, visavam objetivos diferentes. E por isso
tinham importâncias diferentes. A
Estes são só 4 tipos de constituições imperiais até ao séc. IV cuja força vinculativa
segue a lógica que aqui está. A partir do séc. IV (direito novo ou leges ou jus novum) há
algumas modificações. Os éditos mantêm-se como sendo as leis imperiais mais
importantes, sendo de caráter geral. Um exemplo é o Édito de Caracala. O imperador
atribuiu a todos os homens livres do império romano o estatuto de cidadãos romanos. Os
decretos desaparecem porque o imperador deixa de fazer julgamentos, deixa de ser juiz,
toda a justiça passa a ser imperial no sentido de estatizada. Os rescritos passam a ser
apenas as epístolas. As subscrições desaparecem e passam a chamar-se anotações ou
adnotaciones.
Jurisprudência
É a ciência do direito. É uma palavra composta por ius (iuris) com prudentia. Os
jurisprudentes eram as pessoas que conheciam com profundidade o direito então a
jurisprudência era a ciência do direito. Estamos a falar da ciência do direito como fonte
do direito. A jurisprudência é uma fonte mediata, mas ela mesma não se aplica per si
como fonte de direito. A ciência do direito foi fonte de direito em Roma. A primeira
questão que vamos ver é perceber quem foram os primeiros jurisprudentes romanos. Eram
os sacerdotes pontífices no início de Roma quem tinha o conhecimento absoluto do direito
através dos tais mores maiorum e, portanto, a jurisprudência, no início de Roma, é uma
ciência ligada à religião. A explicação do direito apelava a figuras transcendentais. O
primeiro direito romano vivia paredes meias com a religião romana. A primeira coisa que
se tornou necessário para robustecer o direito e a sua ciência foi obviamente separar o
direito da religião, fazer a laicização. Foi uma necessidade natural.
Em suma, aquilo que o pretor influenciou no direito romano resultou de uma tripla
intervenção: interpretação do ius civile, integração de lacunas e correção de algumas
normas do jus civile. Interpretar a lei não carece de muita explicação. Integrar as lacunas
era quando o pretor recebia o cidadão romano, ele até achava que a situação deveria
merecer ir a tribunal mas não havia norma expressa que se aplique à situação. Estamos
na fase das ações baseadas no direito, sem haver direito não havia ação e sem ação não
era possível ir a tribunal defender um direito subjetivo. Acontece que os pretores não
podiam criar direito até uma certa altura. Mas eles apercebem-se que têm o poder de
imperium, o poder de soberania menor, que lhes permitia no uso das suas competências e
no exercício das suas funções dar ordens a cidadãos romanos. Por exemplo, numa
stipulatio mal celebrada. Este contrato tinha uma determinada forma que tinha de ser
respeitada, nomeadamente as palavras da pergunta e da resposta não podiam ser alteradas.
Havendo um erro qualquer na forma da celebração do negócio este não existia para o
direito e o pretor não podia conceder accio. Ora, o pretor não podia alterar o direito. Mas
com base no seu poder de soberania poderia alterar os factos e colocar os factos sobre a
Em síntese, o pretor desde a sua criação em 367 a.C. atua sempre num sistema
judicial ordo judiciorum privatorum, onde a justiça é em parte pública e em parte privada.
Em parte pública porque o pretor é um magistrado com poder público e intervém no
processo mas não é o único interveniente no processo. Até ao séc. I da era cristã isto vai-
se manter, as duas fases. O pretor intervém sempre na primeira e não na segunda. Os
poderes dele são reforçados com o tempo. Inicialmente só pode conceder ações se elas
estiverem baseadas na lei. A partir de uma certa altura se ele verificar que este excesso de
legalismo pode conduzir a uma situação de injustiça pode usar o seu poder para dar
legalidade às situações, mas não tem capacidade para mexer no direito. A partir de 103
a.C. ele ganha um novo poder que é reforçado em 17 a.C. que é a jurisdictio. Ele pode
Esta forma de processar durou durante séculos até ao início do principado. Mesmo
com o principado vai ainda ser esta a forma utilizada no início. Mas com a soberania os
imperadores apercebem-se que a justiça é importante e então os imperadores começam a
interferir no processo judicial começam a julgar a título excecional alguma causas, mais
importantes com pessoas mais importantes. Então criam um segundo tipo de processo que
era a cognitio extra ordinem, que são os processos de conhecimento extraordinário. Isto
começa praticamente no séc. I d. C., com a subida ao poder de Octávio César Augusto.
Quando falamos nas constituições imperiais que existiram até ao séc. IV umas delas eram
os decreta que eram sentenças judiciais do imperador que vinham destes processos
extraordinários. Era o imperador que fazia de juiz mas isto era a exceção à regra, a regra
continuava a ser o sistema dos juízos privados. À medida que vamos avançando no tempo
a exceção começa a transformar-se em regra, até que na segunda metade do séc. III acaba
por se deixar de usar o processo judicial privado e a justiça passa a ser toda ela estatizada,
ou seja, passa a ser uma prerrogativa do estado. E, portanto, a partir do séc. IV os decretos
imperiais, as sentenças judiciais (decreta) deixam de existir porque já não há processos
judiciais excecionais do imperador, todos os tribunais são do estado e portanto acaba-se
com este sistema das duas fases, o pretor já não intervém no processo e os tribunais
passam a ser parecidos com aquilo que é hoje. Têm juízes, juízes que já eram juristas, e
o seu poder era um poder que já vinha do estado, do imperador. Termina aqui o sistema
Em qualquer destes casos o pretor passa por cima do direito. Isto vai acabar com
a cognitio extra ordinem que foi um segundo tipo de processo judicial que o direito
romano desenvolve a partir do início do principado. Começa-se a perceber com Octávio
César Augusto que os imperadores têm apetência de fazer a lei e a justiça. Até ao séc. IV
esta sentenças feitas pelos imperadores chamavam-se decreta. À medida que avançamos
no principado vamos ver o imperador a reforçar os seus poderes e o processo judicial do
pretor vai ser substituído pelo imperador. Quando chegamos ao Diocleciano a justiça em
Roma já não é privada. O que existem são tribunais do estado, onde já não há duas fases
do processo, não há pretor, existe um juiz, um sistema processual que não é muito
diferente daquele que se desenvolveu nos dias de hoje. Tudo isto termina por meados de
Séc. III da era cristã com o fim da ordo judiciorum privatorum, que mesmo assim é um
sistema de processar que dura séculos. Desde 367 a.C. até quase ao fim do séc. III (Quase
700 anos). A Lex Júlia Judiciorum Privatorum reforçou o sistema formulário e na prática
pôs quase fim ao sistema das leges acciones.
Por outro lado, haviam outro tipo de éditos, mais pequenos que os éditos anuais,
que podiam surgir durante o mandato do pretor, para o pretor estabelecer regras
processuais de conceder ou negar a ação em relação a situações que não tinha previsto no
início do mandato. Essas situações podiam até ser situações novas na cidade romana, às
vezes então publicam os pretores o édito repentino. A certa altura os imperadores proíbem
porque os pretores começaram a banalizar estes éditos. Em regra, quando o pretor se
confrontava com uma situação não prevista no edito anual, mas que ele achava que devia
ser considerada podia publicar este documento, um pequeno édito que prevê 1, 2, 3
situações. Habitualmente, depois no ano seguinte o pretor novo entendesse que aquela
matéria era relevante era integrado no édito anual do novo pretor. Estes documentos eram
documentos em que o pretor anunciava como ia agir. Quando ele tomava decisões fazia
um decreto, documento onde o pretor anuncia a decisão sobre alguma coisa no âmbito
das suas funções e competências. Os éditos começam-se a publicar em regra no início do
séc. III a.C., a magistratura é criada em 367 a.C. e provavelmente na primeira década do
séc. II a.C. começaram a ser feitos. Apesar de terem sido feitas centenas de éditos nunca
chegou nenhum à posterioridade. O imperador Adriano, que governou entre 117 e 138
nomeou um jurista chamado Salvio Julianus, para codificar todos os éditos existentes, ou
melhor dizendo, codificar as partes dos éditos anteriores que eram ainda importantes e
utilizadas e fazer um único édito, que se designou por édito perpétuo, cuja data certa terá
sido próxima do fim do governo do imperador Adriano. Substitui todos os outros e fez
terminar o jus edicendi dos pretores, ou seja, a partir daqui os pretores estão proibidos de
fazer novos éditos anuais. A partir daqui o próprio pretor começa a perder parte do poder
que o magistrado manteve durante séculos. O imperador Adriano entendeu que o que
O pretor urbano é que agia no processo civil naquela primeira fase do processo. A
palavra urbe significa cidade. O pretor urbano era o pretor que estava na cidade de Roma,
sendo que a certa altura foram criados vários pretores e depois uma espécie de colégio de
pretores presidido por um pretor. O pretor urbano preside ao processo judicial entre os
cives¸entre os cidadãos. Inicialmente o conceito de cidadania era aristocrático, depois os
plebeus começam a ganhar direitos de cidade, a aplicação do direito por volta do séc. II
a.C. já se aplica aos plebeus e por isso a relação dos plebeus com os pretores não se
colocava, mas colocava-se em relação aos peregrini – os estrangeiros. Quando vinham a
Roma vinham para fazer comércio. Quando havia um litígio entre um cidadão romano e
um peregrini quem é que organizava o processo judicial? Se os litígios fossem entre dois
peregrini os romanos não queriam saber. Agora quando era entre um cidadão e um
peregerini os próprios cidadãos queriam estar protegidos pelo direito. Então em 242 a.C.
o Estado Romano cria o pretor peregrino. Também está na cidade de Roma e faz o mesmo
que o pretor urbano, mas só nos litígios entre estrangeiros e um cidadão romano. O pretor
peregrino não cria direito romano. O pretor peregrino inicialmente é criado em Roma.,
estamos numa altura, em 2424 a. C. ainda não existe império Romano, mas já se estava a
começar a constituir, já tinha havido a primeira guerra púnica, já tinham ocupados as ilhas
mediterrânicas de Cartago, a segunda guerra púnica vinha a caminho. Com a expansão
do império romano há uma enorme vida social no Império Romano. Onde há vida social
há litígios, conflitos e necessidade de intervenção do direito. Então criaram pretores
peregrinos e espalharam-nos por todo o império Romano. Aquilo que os pretores
peregrinos fazem é aplicar um direto romano local que não o direito em estado puro que
se via em Roma. Era um direito onde eles tinham de adaptar as instituições às próprias
comunidades onde estavam a aplicar o direito. Esse direito ganhou o nome de direito
romano vulgar, ou seja, um direito romano vulgarizado, que não era um direito romano
puro. Há juristas que dizem que este direito romano vulgar foi um direito que os pretores
peregrinos foram espalhando por todo o império, foram aplicando com circunstancias
locais diferentes, e acabaram por criar uma figura que era o jus gentium, uma espécie de
direito romano universal, vulgarizado, ou direito dos povos. Sendo que para muitos
juristas e historiadores do direito é este direito dos povos ou direito das gentes que os
É desta atuação dos peregrinos que surgiu uma espécie de direito dos povos.
1. Codex: 529;
2. Quinquaginta decisiones: 530;
3. Digesto: 533;
4. Institutas: 533;
5. Codex (repetita praelectionis): 534
6. Novellae: 535 – 565
A denominação “corpis iuris civilis” não tem a designação original, só em 1583 é que o
nome é dado por Dionísio Giodofredo, nome este inspirado no código do direito canónico.
O imperador Justiniano era um imperador Romano oriental, estamos no séc. VI, o império
romano ocidental já tinha desaparecido. Sobe ao poder em 527. Em 528 houve a revolta
de mico, ou revolta de mice. A revolta de mice acabou porque o imperador mandou
degolar toda a gente que se revoltou, influenciado pela mulher. O Justiniano entendeu que
devia fazer um conjunto de obras que de certa forma perpetuassem o Direito Romano e
simultaneamente resolver questões concretas do direito romano que se aplicava em
Constantinopla e na parte oriental do império naquela altura. Ainda em 527 contratou um
jurista chamado Triboniano (que ainda hoje é considerado o jurista codificador mais
importantes de todos os tempos) para fazer a atualização do código Teodosiano. Deu-lhe
5 anos mas ele conseguiu em um ano e meio. E em 529 estava concluída a primeira obra
do Justiniano.
Em 534 temos uma segunda edição do Códex (de preleção repetida). É uma
reedição atualizada do Códex de 529. Entre 529 e 534 o Justiniano fez muitas leis e por
isso resolveu atualizar o Códex, substituindo esta versão a anterior.
Quando olhamos para o corpus iuris civiles sabemos que as edições contêm o
digesto, as Institutas, o códex de 534 e pelo menos uma destas obras de novelas, sendo a
mais famosa a “autêntico”. Estas obras foram feitas no séc. VI, sendo que já não havia
império romano do ocidente. Foram feitas no antigo império oriental. A importância disto
é que durante séculos no ocidente ignorou-se a existência destas coletâneas. Com a queda
do império romano do ocidente, a população europeia isolou-se, aquele cosmopolitismo
que era típico do império romano que construi estradas, permite o comércio, o turismo
tudo isso desapareceu… As estradas passaram a ser perigosas, havia bárbaros, salteadores
e aquilo que acontece a seguir à queda do império romano do ocidente na europa ocidental
é que o grande valor que se sente em falta é a segurança é por isso que o sistema social
que se vai desenvolver na europa é o feudalismo que foi um sistema onde se geravam
vínculos sucessivos entre as pessoas com o objetivo delas se protegerem reciprocamente.
Nessa altura (séc. XI/ séc. XII), na primeira universidade da europa – Universidade de
Bolonha – surge o corpus iuris civiles. Ainda não se sabe ao certo como, mas a partir daí
o corpus iuris civiles começa a ser estudado por sacerdotes. Quem manteve alguma
tradição cultural na alta idade média foi a igreja católica, o resto desapareceu. Os sistemas
europeus são romanistas porque a partir do séc. XII acontece o renascimento do direito
romano justinianeu. Por causa desta descoberta em Bolonha que depois é divulgada pelas
universidades europeias. E durante séculos era isso que se estudava nas faculdades de
leis. Na universidade portuguesa, até 1772, só se ensinava o corpus iuris civiles. Ao
direito romano chamava-se o jus commune, o direito comum a todos os estados menos a
Inglaterra, que desenvolveu o common law.