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3ª sessão – 22/10/2022
A República
Conforme vimos anteriormente, as magistraturas estavam divididas em magistraturas
ordinárias, e as magistraturas extraordinárias (associadas a situações excecionais).
3. Pretor: magistratura criada pela Lex Licinia Sextiae de 367 a.C. (pretor urbano). Até
à Lex Aebutia de Formulis (130 a.C.), o pretor era apenas um interpretador da lei,
não podendo criticá-la ou alterá-la. Tinha um imperium igual ao do cônsul, mas
uma potestas de menor amplitude e era responsável por:
• Aplicar a justiça (iurisdicito), sobretudo civil, ou seja, interpretar, aplicar e
criar o Direito, através do edicto
• Tratar do Ius civile de aplicação pessoal – aplica-se não em função do
território, mas sim em função da pessoa;
• Substituir o cônsul nos seus impedimentos no governo civil da cidade;
• Convocar os comícios para a eleição dos magistrados menores;
• Apresentar propostas de lei para aprovação nos comícios.
Há que fazer uma distinção entre o pretor urbano, antes mencionado, que
apenas desempenha funções na cidade, e o pretor peregrino, encarregue de
regular as relações jurídicas com os estrageiros.
Assim, é o pretor peregrino que cria o ius gentium (direito aplicado aos
estrangeiros), de modo a regular as relações entre cidadãos e estrangeiros ou as
situações jurídicas dos estrangeiros entre si.
Mas para além das magistraturas, há ainda outros órgãos sobre os quais assenta a
organização política romana no período da república:
Dúvidas:
Em que consiste a potestas dos magistrados?
A lex é a expressão do poder (potestas) e os magistrados, como os cônsules e os
pretores, são tentadores de imperium (poder supremo para efetivar as leis e outras
determinações). A lex pública é proposta pelos pretores e aprovada pelos destinatários
(populus) reunidos em assembleias. Quando não é aprovada por eles, designa-se como
lex data.
As leges e os edictos foram usados pelo poder político para introduzir alterações ao ius
usando a força coercitiva do imperium. Porém, originalmente, o direito, não tem origem
na lei, mas nas regras, exceções e soluções criadas pela iurisprudentia com base no
mores maiorum (moral comum) e na ideia comum de justiça.
O que é a iurisprudentia?
A iurisprudentia é a ciência do justo e do injusto, e a atividade responsável pela criação
do direito, que é depois normativizado pelos órgãos políticos e pelos magistrados e
aplicado por juízes privados. Assim, os iurisprudentes eram a fonte viva do direito, que
tinha como principais destinatários os titulares dos órgãos políticos, os magistrados e os
juízes, que diziam o direito (ius dicere), mas não o criavam.
Logo, o modo dos iurisprudentes de criar direito era a interpretação das regras já
existentes – e a fundamentação de exceções à aplicação dessas regras a casos concretos,
sempre que essa aplicação resultasse numa injustiça – de forma a que isso fosse
compreendida e pudesse ser aplicado pelas partes em litígio e pela sociedade.
O que é o ius?
O ius é um instrumento da justiça a realizar na resolução de litígios entre pessoas. Para
o obter, retiraram-se enunciados generalizadores do que havia de comum na resolução
de casos em que se verificavam as mesmas condições e circunstâncias e surgiram as
regras. O conjunto dessas regiae designou-se ius/ derectum (direito), pois permitia
seguir um percurso direito.
Não podemos ignorar que só pelas regras se pode chegar ao direito; e só por este se
pode fazer justiça. Pela aplicação de regras a casos, sempre aceitando a possibilidade de
exceção, é que se pode chegar à justiça na solução do caso concreto.
Portanto, os romanos inventaram o direito como ius e separaram-no da lei, entregando
o direito aos iurisprudentes e deixando a lei para os políticos. O ius é composto por
regras que instituem o derectum na sociedade humana. As regras vão sendo alteradas
no tempo, pela interpretação dos iurisprudentes, para se adaptarem à realidade
existente, que é orientada para a justiça e permitem fundamentar soluções justas para
cada caso.