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FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES

Pistas para a formação de impressões:


• Aparência física
• Comportamentos
• Identidades sociais (ocupação profissional)
• Estereótipos
Formamos impressões acerca das pessoas que nos levam a interagir (ou não) com elas.
Mas quais os processos envolvidos na formação de impressões? Como se organiza a
informação que se obtém acerca das pessoas que observamos?

Perspetivas clássicas:
1. O observador como juiz de personalidade (Bruner e Tagiuri)
Assume a ideia de que existem melhores e piores juízes da personalidade: identificação de
valores, motivos, preferências e atitudes das outras pessoas com base em informação limitada.
Investigação: comparação entre estimativas dadas às avaliações dos vários
juízes/observadores - variáveis sociodemográficas do observador, do observado, manipulou-se
também os contextos de apresentação do observado, etc. Concluiu-se que não estaria
relacionado com as características do observados, mas com o contexto de avaliação. Há,
portanto, melhores julgadores do que outros.
Condições que favoreciam bons julgamentos:
• Semelhança e relação entre observador e alvo
• Confiança no próprio julgamento
• Ausência de impressão prévia
• Motivação para realizar julgamento global (fonte fraca)

Relacionadas com as características do observador:


• Inteligência (do observador)
• Experiência de julgamento
• Complexidade de personalidade
• Afastamento emocional
• Ajustamento social
Atribuições positivas/negativas sobre essa capacidade
→ Erros e contradições nos resultados = questionar o critério do juiz como fonte de critério de
julgamento (Cronbach)

Descoberta de erros de julgamento relevantes:


• Efeito de halo: propensão para julgar o outro de forma genérica negativa ou positiva,
simplificando o comportamento dos outros (Thorndike)
o Comportamento particular -> impressão geral
o Ex. relações de amizade tende-se a negligenciar os defeitos e sobrevalorizar
qualidades
• Erro lógico: inferência de um atributo a partir de outro, quando os dois não estão
necessariamente ligados (Guilford)
o Ex. pessoa sorridente -> simpática, generosa

2. O observador como organizador da informação (Asch)


• Inspirada no efeito halo e erro lógico
• Influência gestaltista (forma-se uma impressão unificada, construída à medida que se
conhece as pessoas)
• Esta abordagem centra-se no estudo sobre como diferentes peças de informação se
organizam no sentido de formar uma impressão unificada de uma pessoa.

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Investigação: (ex. de erro lógico)

Resultados:

Conclusão: erro lógico – inferência do traço caloroso a partir do generoso, ou do frio a partir
do não generoso. Se um traço pode mudar a imagem unificada, significa que o todo é mais do
que a soma dos elementos/ informação dada.
Traços centrais: maior influência sobre a formação de impressões, em torno do qual se forma
uma imagem unificada – ex. caloroso, frio.
Traços periféricos: pouca influência no processo de formação de impressões - por ex. traço
cuidadoso-descuidado.

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Efeito de primazia: o significado de um traço é influenciado pela imagem organizada pelos
traços até então conhecidos (a ordem pela qual se apresentam os traços influencia a formação
de impressões, sendo que os primeiros traços ficam mais salientes).
Processo bottom-up: o processo de formação de impressões implica um processamento
orientado pelos dados; a partir das características observadas forma-se uma impressão geral -
experiência caloroso/frio. (indutivo)
Processo top-down: o processo de formação de impressões implica um processo guiado
conceptualmente; forma-se uma imagem a partir do primeiro traço - experiência do efeito de
primazia. (dedutivo)

3. Teorias implícitas da personalidade (Bruner e Tagiuri)


Uma TIP é uma teoria ingénua do observador acerca da personalidade dos outros. Necessidade
de explicar como se faz generalizações, inferências para outros traços.
Ao formar impressões, o observador faz inferências para além da informação dada, com base
no conhecimento e inferências que foi fazendo ao longo da vida.
Recorre-se mais às próprias teorias do que a procura de traços da pessoa.

Princípio da consistência (Heider): inferência de traços da mesma valência (positivos com


positivos e negativos com negativos) - inferência unidimensional.

Inferência bidimensional:
• Traços sociais/relacionais – ex. caloroso/frio
• Traços intelectuais – ex. trabalhador/preguiçoso

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Dimensões basilares para a organização das teorias, juntamente com a valência.

4. Teoria da integração da informação (Anderson) - teoria cognitivista


"O observador como integrador da informação"

Modelos de soma e modelos de média - a imagem global formada baseia-se na média da


combinação de traços ou na acumulação de itens
• Posição do traço numa dimensão psicológica (e.g. social vs intelectual)
• Centralidade da dimensão para formação de impressões
Determinam o peso dos itens na formação de impressões.

Cognição social e formação de impressões


Modelo de memória (Hastie e Carlston)
• Perceção Representação
• Codificação Transformação
• Recuperação Processamento de informação

Perceção seletiva: processamento top-down e bottom-up.


Codificação: estruturas cognitivas. Transformação da informação adquirida e percebida em
estruturas simbólicas com significado.
A informação codificada é cognitivamente processada através de processos de elaboração e
organização (interpretação, categorização, avaliação, atribuição, etc) em relação ao
conhecimento prévio.
→ Resulta em representações cognitivas da informação em memória.
Recuperação: utilização da informação armazenada sob a forma como está organizada, com
base nas representações cognitivas.

Determinantes da formação de impressões


Vida social = ambiguidade
→ Necessidade de recorrer a pistas para a formação de impressões.

Priming:
• Aplicabilidade: semelhança do construto/representação acessível com o alvo de
julgamento.
• Ambiguidade: quanto maior for a ambiguidade da informação sobre o alvo, mais os
primings determinam o processo de formação de impressões
• Intervalo: efeito de priming mais próximo determina mais o processo de formação de
impressões do que mais longe em termos temporais
• Especificidade e transferência de processamento: quanto mais próximo for o priming
do processo implicado na formação de impressões, mais eficaz é
• Cronicidade: quanto mais se utiliza um construto no dia-a-dia mais este construto é
utilizado para a formação de impressões - priming espontâneo
• Contaminação: quando se dão conta da contaminação no julgamento, no sentido de
evitar contaminação (quando se apercebem do priming), ou por serem influenciados
pelo priming

Expectativas: uma forma particular de priming - maior eficácia com informação consistente.
Temos crenças em relação a pessoas, a grupos sociais. As expectativas funcionam como
priming crónico e espontâneo (e.g. estereótipos) eficaz.

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No entanto, efeito de incongruência: se a formação de impressões é gestáltica - informação
incongruente é ameaçadora à Gestalt. Há uma representação cognitiva com elementos não
coerentes. Ex. considerar alguém simpático, mas teve um comportamento antipático.

Modelo de memória das pessoas


Representações cognitivas de impressões da personalidade
• Modelo de relação entre memória e julgamento
• Rede de associação entre as várias informações.

Quando um indivíduo se depara com uma informação inconsistente com a impressão que já
formou sobre uma pessoa, atribui-lhe causas externas - não altera a formação de impressão
formada.

Modelo TRAP (Twofold Retrieval by Associative Pathways)


Qual a razão para os acontecimentos incongruentes não serem relevantes para alterarem a
imagem/representação de uma pessoa?
• Modelo de relação entre memória e julgamento

Processos utilizados na rede associativa:


1. Processos envolvidos na recordação de informação - é um processo exaustivo de
recuperação de itens de forma não seletiva; também recordados os incongruentes.
2. Processos envolvidos nos julgamentos - como são genéricos, não é necessária a busca
exaustiva - informação é seletiva porque apenas os confirmatórios são evocados
através das associações verticais.
→ Enviesamento confirmatório no julgamento

Julgamento de memória vs julgamento online (quando tarefa de julgamento não antecipada)

ATRIBUIÇÕES CAUSAIS E INFERÊNCIA DISPOSICIONAL

Atribuição causal
Imagine que chega a uma sala para ter uma aula e depara-se com um indivíduo junto da
secretária do professor. É a primeira vez que o vê. Senta-se numa mesa, assim como os seus
colegas e espera pelo início da aula. O indivíduo começa a mexer no computador e uma
imagem é projetada na parede branca. Ele começa a falar sobre o que está exposto.
Entretanto um colega seu começa a falar alto e a rir-se, aparentemente sozinho. Levanta-se,
tem uma garrafa de cerveja na mão, cambaleia e cai no chão.
• O que pode dizer do indivíduo que mexeu no computador?
• E do indivíduo que se ri alto?

Necessidade de adquirir significado no dia-a-dia --> atribuições causais dos comportamentos


das pessoas.

1. Homem comum como cientista ingénuo


• Heider, 1958 - gestaltista, psicólogo social
• Análise sistemática do mundo social
• Adquirir significado, controlar e predizer o meio que rodeia
• A perceção do mundo social segue os mesmos processos que a perceção do mundo
físico (categorizar, como se fosse uma ciência exata)
• Causalidade pessoal prioritária - atribuição da ação à disposição dos atores.

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• Distinção entre causas pessoais (interno) e causas situacionais (externo) para a
perceção social - atribuições disposicionais vs situacionais
• Os processos de atribuição traduzem padrões complexos de interação entre causas
pessoais e causas situacionais.
• Predisposição a fazer atribuições a causas internas/disposicionais (mesmo que
injustamente)
• Inferências disposicionais - julgar no momento, sem contexto, os comportamentos
• Locus de controlo interno e externo

Estímulo distante do indivíduo > alteração da perceção do estímulo pelo indivíduo (ex.
negligenciar ou exaltar certos aspetos devido a especificidades do indivíduo que julga) >
equilíbrio cognitivo da realidade e das crenças > imagem criada > não tem nada a ver com a
realidade
Codificação (de acordo com o meu quadro de referências; equilíbrio entre isso e aquilo que
observamos)

Percepto final diferente do estímulo causal - principais enviesamentos:


1. Constância percetiva (procedimentos, padrões de funcionamento que usamos para
assimilar o que vemos)
2. Inconsciência dos processos mediadores (fatores inconscientes que alteram a nossa
perceção da realidade)

Processos de perceção do mundo social - perceção social menos válida do que a física

Distinção entre causas pessoais e causas situacionais (Heider)


Motivação p/ previsão e controlo do meio ambiente > Procura de características estáveis
Facilita a formação de impressões: não é preciso julgar todos os comportamentos se a pessoa
tiver características atribuídas. Enviesamento cognitivo que faz com que comportamentos
complexos sejam analisados de forma simples.

Como testamos qual a causa? Através da consistência - várias pessoas e diferentes contextos
1. Pessoais - a mesma causa pessoal leva sempre ao mesmo efeito, ainda que em
circunstâncias diferentes
2. Produção local - a mesma causa situacional pode levar ao mesmo efeito,
independentemente das pessoas envolvidas

Análise por parte dos cientistas ingénuos em relação a uma ação de desempenho:

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Processos relevantes para a atribuição de responsabilidade:
Associação: atribuição de responsabilidade quando se associa comportamento com causa
pessoal
Produção efetiva: o comportamento é realizado pelo ator - agente instrumental
Antecipação das consequências: quando se pensa que o ator poderia ter antecipado as
consequências do comportamento
Intencionalidade: o ator pretendeu realizar o comportamento que teve e para produzir o
efeito que obteve
Justificação: se o contexto pressiona ou não para que o indivíduo realize o comportamento
Atribuição de responsabilidade > Inferência de traços de personalidade

2. Modelo da Covariação
O homem comum vai à procura de invariantes para prever consequências do seu
comportamento e dos outros.
Mas, maior interesse em perceber o locus de causalidade e não da natureza da causalidade.
Princípio da covariação - condição presente quando efeito presente, e condição ausente
quando efeito ausente. Não conseguimos saber a natureza da inferência, apenas podemos
atribuir locus de causalidade interno ou externo.

Consenso sobre pessoas - como as outras pessoas se comportam face ao mesmo estímulo e
perante as mesmas circunstâncias: alto consenso atribui-se a causa ao estímulo (ex.
atratividade de Luísa); baixo consenso atribui-se ao ator a causa (ex. é o João que gosta da
Luísa).
Distintividade do estímulo - observação do comportamento da mesma pessoa nas mesmas
circunstâncias, face a diferentes estímulos: alta distintividade significa que o comportamento é
atribuído ao estímulo; baixa distintividade significa que o comportamento é o mesmo para
vários estímulos (atribuição ao ator).
Consistência - covariação do comportamento em diferentes circunstâncias pela mesma pessoa
e face ao mesmo estímulo. Consistência elevada significa que o ator faz sempre o mesmo
comportamento (atribuição ao ator); baixa consistência - necessidade de relacionar com
distintividade - se houver muita distintividade (atribuições ao estímulo).

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3. Modelo de Weiner
• Atribuição de sucesso e fracasso
Sustentado nas dimensões de Heider, mas aplicadas a realização pessoal, a atribuição de
sucessos e fracassos.
Atribuições internas e externas (Heider) > Locus de controlo

Estabilidade das causas (Heider)

Efeitos observados na literatura:


• Self-serving ou group-serving bias
Atribuição interna dos sucessos e externa dos fracassos dos seus grupos e próprios e vice-versa
para os outros grupos e outros indivíduos.
• Controlabilidade pessoal - perceção de autoeficácia
• Estabilidade - previsão para o futuro
• Atribuição causal - reações emocionais e comportamentais
Fracasso atribuído a causas internas e controláveis leva a raiva e agressividade sobre o
causador.
Fracasso atribuído a causas incontroláveis leva a piedade e vontade de ajudar o alvo.
• Gestão de comportamentos no sentido de gerir as impressões que os outros formam
de nós tendo em conta as atribuições dos meus sucessos e fracassos.

4. Modelo da inferência correspondente


No caso de as atribuições serem internas com consequências conhecidas
Para que uma ação revele um ator é necessário fazer uma correspondência entre ação,
intenção e disposição.
A intenção até pode não ser consciente, mas tem de resultar de livre-arbítrio, sem pressões
situacionais.

Disposição do ator > Conhecimento das consequências + capacidade > Comportamento


3º inferido > 2º intenção > 1º observado
Atribuição interna controlável

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Como escolher os determinantes para a inferência?
Critérios envolvidos na inferência:
1. Efeitos não-comuns são mais informativos para a inferência
Exemplo dado por Jones e Davis: a escolha de Rosa

Procuramos características não comuns para fazer atribuições internas e escolher

2. Desejabilidade social dos efeitos - se o efeito é indesejável, é mais informativo do que


se for desejável: indivíduos com atitudes pro vs anti-racistas - o que é mais
informativo?
3. Liberdade de escolha - se o ator tem liberdade de escolha, é mais informativo do que
quando a situação o força a não ter.
4. Relevância hedónica - tendência a inferência correspondente quando a consequência
tem impacto positivo ou negativo sobre o ator
5. Personalismo - tendência a inferência correspondente quando a consequência tem
impacto sobre o observador.

Críticas mais relevantes: papel moderador das pressões situacionais na inferência


correspondente do observador.

Erro fundamental da atribuição: tendência dos observadores para subestimarem a


importância de fatores situacionais e de sobrestimarem os disposicionais nas atribuições do
comportamento (é mais informativo para mim atribuir o comportamento a uma causa
interna).
Erro fundamental da atribuição e o enviesamento correspondente: as pessoas não levam em
conta o critério livre escolha previsto por Jones e Davis para inferência correspondente.

Cognição social: foco na sequência de processos cognitivos

Heurística da ancoragem e ajustamento e Modelo de Quattrone


Primeiro, as pessoas tendem a fazer uma inferência e depois ajustam conforme informação
adicional vinda do contexto.

Processos cognitivos automáticos sobre os quais não temos consciência:


1. O paradigma de recordação com pistas - traços de personalidade são codificados
simultaneamente com os comportamentos.
2. O paradigma de ganhos de reaprendizagem - quando os participantes aprenderam
relações entre comportamentos e atores, a codificação e recordação de traços

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correspondentes é mais eficaz do que de traços não correspondentes ocorre um
processo de formação de impressões).
3. O paradigma dos falsos reconhecimentos - frases implicativas de traços levam a mais
falsos reconhecimentos de alvo-traço.

Modelo sequencial de atribuição - modelo integrador

Explicação:
1. Correção situacional incompleta
2. Falta de consciência do contexto situacional - e.g. ação humana domina perceção
social
3. Expectativas irrealistas - e.g. subestimação do poder da influência contextual
4. Categorizações inflacionadas do comportamento - a inferência comportamento-traço
é tão forte que a correção situacional não tem grande efeito em contrariar a inferência

ESTRUTURAS E DINÂMICAS DE GRUPOS


Perspetivas teóricas sobre os grupos
1. Perspetiva funcional
2. Perspetiva psicodinâmica (processos afetivos)
3. Perspetiva da identidade social (processos de categorização social)
4. Perspetiva simbólico-interpretativa (atividade simbólica dos membros)

• Perspetiva funcional
• Perspetiva gestaltista sobre grupos e seus membros
• Grupos têm função específica para os seus membros e vice-versa
Deu início à small groups research e com trabalhos de Kurt Lewin e Bales.
Como alterar hábitos através de processos grupais - encontrou que a interação entre os
indivíduos na tomada de decisão grupal alterava hábitos individuais enquanto o simples
conhecimento não (Lewin).
Bales (1950) - SYMLOG - método de observação grupal com múltiplos observadores e análise
da consistência entre observadores - categorização de comportamentos observados.
Entitividade (Campbell, 1958) - grau em que os grupos são uma entidade única.

• Perspetiva psicodinâmica
• Associada a grupos terapêuticos (pessoa que orienta o resto do grupo)
• Acaba por ser abordada nas outras perspetivas
Influência de Freud - estatuto ontológico dos grupos; o grupo é algo real por si só. Debruçou-se
sobre os processos afetivos dos grupos - metodologia muito baseada na observação de grupos
terapêuticos ou de grupos de organizações.

• Perspetiva da identidade social


• Grupos como categorias sociais (ex. portugueses)
• Ajuda a estudar extremismos, terrorismo, etc.

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Teoria da identidade social (Tajfel, 1978) - definição de grupo baseada no processo de
categorização social (os grupos são psicológicos) e em processos de grupo enquanto definidor
do autoconceito dos indivíduos por oposição a outros grupos. A interação entre indivíduos não
é fundamental para que os grupos existam.

• Perspetiva simbólico-interpretativa
• Como o conhecimento é conhecido e partilhado socialmente
Grupos observados tendo em conta a atividade simbólica dos membros: teoria das
representações sociais (Moscovici, 1976) é a mais reconhecida.

Tipos de grupos
Permeabilidade: entrar e sair do grupo

Funções essenciais dos grupos


1. Informativa
a. Clarificação sobre a realidade
b. Definição de expectativas
c. Adequação das próprias condutas às normas grupais ou às expectativas
grupais
2. Interpessoal
a. Definição do próprio valor pessoal (em comparação c/ os pares)
b. Segurança e proteção
c. Autoestima, reconhecimento social, poder, etc
3. Material
a. Coordenação social para a realização de objetivos pessoais e coletivos (desde
mais profundos como a sobrevivência, até mais específicos ao grupo)
4. Identidade
a. Crenças sobre si e outros enquanto membros de um mesmo grupo
b. Necessidade de pertença
c. Perceção sobre si por comparação com outros pertencentes a outros grupos -
diferenciação e comparação intergrupal

Abordagens teóricas e metodológicas sobre os grupos


O estudo dos grupos na Psicologia Social adotou 2 abordagens principais:
1. Estrutura intragrupal, conflito intragrupal e desempenho de grupo
2. Relações intergrupos, conflitos intergrupos e estereótipos (outra temática)

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Estrutura intragrupal:
• Características e relações dos membros - atração e semelhança
• Papéis grupais
• Normas
• Interação (e comunicação) para realização de tarefas e alcance de objetivos
• Tomada de decisão
• Comparação entre resultados indivíduo/grupo
• Características da vida emocional
• Reação ao desvio

Atração e afiliação interpessoal, coesão é conformidade

Comparação dos grupos com organismos - análise de vários grupos: terapêuticos, de


laboratório e de formação
1. Formação (forming) - dependência
2. Conflito (storming) - fight-flight
3. Estabelecimento de normas (norming) - pairing
4. Execução (performing)
5. Adiamento (adjourning) - ligação a um novo ciclo
-- Relevância na homogeneidade grupal - fundamental para a própria sobrevivência do grupo e
para o alcance dos objetivos grupais: realidade social e locomoção grupal.

Socialização grupal
Fases de pertença a grupos:
1. Investigação – sujeito percebe se o grupo lhe interessa e o grupo analisa-o
2. Socialização – percebe quais as normas, expectativas, o seu papel e o dos outros; grupo
implemente processos de socialização para ensinar o sujeito a ser um bom membro; surge o
fanatismo
3. Manutenção – representante do grupo, encarregue de criar uniformidade dentro do grupo e
regular o comportamento dos outros; fase onde há mais divergência do grupo, cada um com o
seu papel
4. Ressocialização – questionam as normas; membros divergem intencionalmente do grupo
(divergência positiva: grupo adapta-se às novas exigências contextuais; divergência negativa:
desrespeito dos valores); abala o funcionamento do grupo, leva a conflitos; membro marginal
controlado e punido, podendo voltar ao momento anterior à divergência ou sair do grupo.

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5. Recordação – ex-membro como exemplo a seguir ou não seguir; pode reentrar seguindo as
fases todas anteriores.

Rituais: reforçam estatuto dos indivíduos

Socialização grupal
Rituais de iniciação (positivos e negativos)
1. Função para os indivíduos:
a. Identidade social
b. Início da socialização (expectativas e competências requeridas)
c. Reforço do empenho e lealdade em relação ao grupo
2. Função para o grupo
a. Estabelecimento da fronteira grupal
b. Primeiro contacto com cultura grupal
c. Diferenciar-se de outros grupos
d. Desencadear lealdade nos novos membros ou avaliar o seu desejo de se tornar
membro
Ex. sessão de receção na faculdade; praxe.

Rituais de realização (positivos)


1. Função para os indivíduos

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a. Autonomização perante tutoria
b. Desempenho de papéis centrais para o grupo
c. Representação do grupo
d. Reforço identitário
2. Função para o grupo
a. Exemplo a outros membros
b. Menor vigilância sobre o membro
c. Reforço das expectativas normativas do grupo
d. Reforço da realidade social do grupo
Ex. conclusão de ano; passagem a um diferente estatuto.

Rituais de rotulação (negativos)


1. Função para os indivíduos rotulados
a. Saliência da conduta esperada
b. Desempenho de papéis menos relevantes (ou negativos) para o grupo
c. Ressocialização (?)
2. Função para o grupo
a. Diagnóstico de desvio
b. Alteração do estatuto dentro do grupo
c. Manutenção da ordem interna no grupo
d. Exemplo aos outros membros
Mostrar que o indivíduo está a divergir

Rituais de expulsão (negativos)


1. Função para os indivíduos a expulsar
a. Saliência da conduta esperada
b. Abandono psicológico ou físico do grupo
2. Função para o grupo
a. Redefinir fronteiras grupais
b. Purificar o grupo
c. Exemplo aos outros membros / memória grupal
Ex. cerimónia de graduação (positivo)

Uniformidade grupal: é sempre positiva?


Brainstorming: grupos nominais (conjunto de desempenhos individuais) mais eficazes do que
grupos em brainstorming. Dinâmica de grupo que procura diversidade. Traz alguns efeitos
negativos, nomeadamente para o alcance dos objetivos coletivos. Ocorrem 4 fenómenos:
• Preocupações com julgamentos
• Preguiça social
• Regressão para a média (tentar encontrar consensos, valorização da competição)
• Bloqueamento de produção individual (mais enfoque no que os outros dizem)

Ilusão de eficácia dos grupos


• Um grupo produz mais ideias do que um único indivíduo
• Mais divertido, maior satisfação
• O grupo é visto como confirmando as suas ideias

Pensamento grupal (groupthink)


Muitas vezes os grupos tomam más decisões
Fatores:
• Vontade de chegar a uma decisão unânime
• Coesão grupal excessiva

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• Isolamento do grupo a informação externa
• Falta de estabelecimento de procedimentos-padrão para tomar decisões e de
liderança que os promova
• Homogeneidade ideológica dos membros
Sintomas:
• Sentimento de invulnerabilidade
• Sentimento de que o grupo está inquestionavelmente correto (moralidade)
• Tendência a ignorar (esquecer ou perder) informação contrária à decisão do grupo
(mindguards)
• Pressão (real e subjetiva) sobre os dissidentes
• Estereotipia (negativa) dos indivíduos não membros
• Unanimidade assumida

Polarização grupal
Geralmente, os grupos são mais conservadores e cautelosos nas suas decisões do que os
indivíduos que os compõem. Este fenómeno pode estar relacionado com conformidade e
influência social.
No entanto, existem situações em que acontece o contrário: o grupo toma decisões mais
extremas e arriscadas do que a média das decisões individuais.
Fatores:
• Argumentos persuasivos: influência a partir de novas informações que apoiam as suas
ideias
• Comparação social/valores culturais: procura de valorização social e evitamento de
desaprovação à volta dos valores socialmente desejáveis. Polarização relacionada com
primus interpares.
• Autocategorização social: fenómenos de conformidade à norma específica do grupo.

PAPÉIS GRUPAIS
• São criados ao longo do tempo da existência do grupo, em interação com o contexto,
dependendo das necessidades do grupo
• Criam diferenciação interna e geralmente, única e específica ao grupo (para promoção
da visão/valores sólidos comuns ao grupo, trabalham todos para os mesmos objetivos)
• São independentes dos indivíduos que os desempenham (comportamentos em grupo
são previsíveis)
• À medida que o tempo passa, os papéis grupais resumem-se a uma de duas categorias:
o Papeis relacionados com competências e dirigidos sobre as tarefas:
preocupação com o alcance dos objetivos grupais
o Papeis socio-emocionais: ajuda a regular as ações do grupo a satisfazer as
necessidades emocionais dos membros
Há papéis duradouros (ex. aluno), e papeis que dependem da necessidade e do contexto.

Papeis socio-emocionais
• Recompensa os outros através do seu acordo e avaliação positiva
• Medeia os conflitos entre os membros
• Muda a sua posição para reduzir conflito dentro do grupo
• Suaviza a comunicação estabelecendo procedimentos para completar a participação
de todos
• Expressa padrões de avaliação para o processo grupal
• Aponta os aspetos positivos e negativos da dinâmica do grupo
• Aceita as ideias dos outros e serve de audiência para o grupo
• Mostra solidariedade, aumenta o estatuto dos outros

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• Contribui para diminuir a tensão no grupo
• Mostra tensão, pede ajuda e retira-se da situação problemática
• Discorda, mostra rejeição passiva
• Mostra antagonismo, desvaloriza o estatuto dos outros, e individualiza-se do grupo

Os papeis socio-emocionais são os mais apreciados ou detestados dentro do grupo

1. Eficácia grupal - crença coletiva acerca da capacidade do grupo para concretizar


determinadas tarefas e alcançar determinados objetivos
2. Coesão grupal - atração entre membros, atividades do grupo e prestígio e orgulho pelo
grupo
3. Emoções grupais - dirigidas ao grupo (orgulho, vergonha), clima emocional (positivo vs
negativo) face a dinâmicas grupais (conflito, sucesso grupal, etc)
4. Conflitos intragrupais - desacordos relativamente a estratégias de locomoção grupal,
da realidade social; estratégias de "resolução" de conflitos; conflitos construtivos e
destrutivos

Papeis relacionados com competências e tarefas


• Dá novas ideias acerca do problema
• Enfatiza a necessidade de recolher factos junto dos outros elementos
• Pede mais dados qualitativos (Sentimentos, atitudes)
• Fornece informação especializada
• Dá opiniões, sentimentos e valores
• Elabora o que foi dito, dando exemplos e sistematizando o que foi dito até aí
• Mostra a relevância de cada ideia para o objetivo grupal
• Focaliza a discussão no tópico quando necessário
• Avalia a qualidade do método e resultados do grupo
• Estimula o grupo a continuar a trabalhar quando necessário
• Avalia a qualidade do método e resultados do grupo
• Estimula o grupo a continuar a trabalhar quando necessário
• Preocupa-se com detalhes operacionais, materiais
• Toma notas e mantém registos

Tipos de tarefas (tipologia de Steiner)


Produtividade do grupo depende de como se organiza para realização de tarefas:
1. Tarefa pode ser dividida pelos membros? E como?
2. Maximização (quantidade de contribuições) e otimização (qualidade de contribuições)
da produção grupal
3. Estratégia de contribuição para o objetivo final

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Liderança
• Autocrático, democrático e "laissez faire" (Lewin, Lippit, White)
• Duas dimensões de comportamento de liderança: (Bales e Slater)
o Orientação para a tarefa
o Orientação para o relacionamento
• Crédito idiossincrático (Holander)

Papeis grupais - funções


1. Divisão do trabalho dentro do grupo
2. Fornecem uma autodefinição e um estatuto ao indivíduo dentro do grupo (membros
de estatuto elevado no grupo são os que têm maior impacto junto dos outros
membros.)
3. Fornecem expectativas sociais claras aos indivíduos sobre como funcionar enquanto
membros do grupo - correspondem a "normas" definidas pelo grupo. Mecanismos de
regulação dos comportamentos dos membros do grupo (controlo social):
a. Normas e valores
b. Persuasão
c. Punição

Mecanismos de controlo social (preventivos)


Normas e valores: são os mecanismos de controlo social mais importantes, quer dos grupos
quer das sociedades.

Função das normas:


• Orientar a conduta dos membros do grupo
• Criar coesão, atração, semelhança e solidariedade entre os membros
• Alcance dos objetivos grupais
• Criar consenso e proteger a realidade social do grupo
• Proteger os valores e crenças grupais (respeito pela "realidade social")

Moralidade - característica que se associa a norma para proteger os valores grupais.

Normas descritivas (ou denotativas): correspondem a normas estatísticas, modais.


Normas injutivas (ou prescritivas): a norma adquire a sua força na medida em que tem a
componente "moral" associada.
A moral traz associada a ideia de prescrição (o que se deve fazer):
• Quais os comportamentos que se reforçam os valores do grupo
• Quais os comportamentos inaceitáveis no seio do grupo
• Quais as fronteiras do grupo que se devem respeitar
• Qual a variabilidade comportamental aceite na situação

Desvio nos grupos (mecanismos preventivos e retributivos)


O que é um comportamento desviante?
• Comportamento que viola as normas prescritivas

O grupo tem de lidar com o dissidente:


• Poder interpessoal
• Pressão social
• Influência normativa e informativa
• Punição formal e informal

O que faz o grupo?

17
Busca de conformidade ou conformismo - mecanismos retributivos (punição formal e
informal).

Eficácia dos mecanismos de controlo social

Conformidade: quando os membros dissidentes mudam a sua opinião privada e


posteriormente a sua opinião pública (estatuto do membro, sexo).
Conformismo: quando os membros dissidentes mudam a sua opinião pública, mantendo-se
em desacordo privadamente (apoio social, pressão social, desejo de não desviar).
Anti-conformidade: quando os membros dissidentes intencionalmente se opõem ao grupo,
apesar de privadamente (vontade de se individualizarem, distinguirem do grupo ou
provocarem dissidência interna).
Independência: quando os membros dissidentes mantêm publicamente a expressão dos seus
padrões individuais.

Poder e influência
Poder interpessoal:
• Poder recompensatório -- antecipação de recompensa
• Poder coercivo -- antecipação de punição
• Poder legitimado -- fonte percebida como uma autoridade
• Poder competência (perito) -- fonte com conhecimento
• Poder de referência -- identificação com a fonte

Influência normativa:
Exercício de fazer com que os outros se conformem às expectativas do grupo, tendo por base a
sua pertença grupal (é mais eficaz quanto maior o sentimento de pertença grupal e quanto
mais público for o exercício)

Influência informativa:
Aceitação da informação dada pelos outros acerca da realidade ou da verdade (é mais eficaz
quanto maior for a incerteza dos indivíduos).

Mecanismos de retribuição
Se as normas não estiverem associadas a sanções, a ordem social não tem hipótese de se
manter (Beccaria).
Sanções/punição = mecanismos de controlo social. Implementado em consequência de
violação de norma/valor grupal.
Serve objetivos que não são conseguidos pela existência de normas, nomeadamente a
retribuição à sociedade do mal causado pelo desvio - restaurar o valor ofendido.

Punição: formal (tribunal, código penal).

18
Cerimónias/rituais com o objetivo de mudar o estatuto do indivíduo (de normativo para
transgressor) - esta mudança, associada à punição, neutraliza o sentimento de ofensa causado
pelo desvio (Erikson).
A punição é o mecanismo de controlo social mais relacionado com a perceção de justiça.
A punição formal é sempre externa.

Punição formal
Quanto mais ofensivo é o comportamento, mais intensa é a punição.
A punição é ela própria normativa (imperativa), na medida em que está contemplada nas
normas (código penal, por ex.), e a hostilidade dirigida sobre o desviante é considerada normal
(Mead).
Punição funciona como mecanismo preventivo de desvio (o medo do castigo), mas pode ter o
efeito oposto - reforçar o desvio (Becker; Merton; Lemert).

Punição informal: mãe castiga o filho.

Punição interna
Punição informal - pode ser externo ou interno

Pode tornar-se mais severo do que a punição formal, e mesmo quando é interno: sentimentos
de culpa e vergonha.
Neste caso indica que os indivíduos internalizaram as normas sociais (culpa).
Associado com o medo da desaprovação social por parte dos outros significativos (vergonha).
Tal como nas sociedades e instituições (punição formal), também nos grupos a punição
(informal) corresponde a cerimónias/rituais com o objetivo de mudar o estatuto do indivíduo
(de plenos para marginal).
É mais fácil ao desviante voltar a adquirir o seu estatuto de normativo nas situações de
punição informal do que em situações de punição formal.

ESTEREÓTIPOS
Definição: estruturas cognitivas que contêm os nossos conhecimentos e expectativas, e que
determinam os nossos julgamentos e avaliações acerca de grupos humanos e dos seus
membros.
Associados a:
• Grupos étnicos
• Sexo
• Aparência física
• Origem geográfica ou social
• Identidade religiosa
• Identidade política
• Identidade de género

Perspetiva cognitiva do estudo dos estereótipos


(Lippman, 1922)
Mundo é demasiado complexo para o conseguirmos compreender.
Selecionamos informação e negligenciamos outras de forma a construirmos uma
representação simplificada do mundo - "pseudo-ambiente".
Contexto muito poderoso para mudar estereótipos.
Pseudo-ambiente: estereótipos fazem parte; mundo físico e social; interpretações sobre o
mundo e ações dos indivíduos (interpretações sobre local que cada grupo ocupa na sociedade
e o próprio também).

19
Isto faz-nos cometer erros e ter crenças falsa sobre grupos - estereótipos podem ser
completamente falsos.

Allport
Estereótipos resultam de processos de categorização, que fazemos constantemente
(categorias físicas e sociais).
Características da categorização social:
1. Fornece-nos expectativas sobre as pessoas, objetos e acontecimentos por serem
incluídos em categorias (dividimos os indivíduos em grupos)
2. Permite resumir ao máximo uma grande diversidade de indivíduos, objetos e
acontecimentos - economia de interpretação de nova informação associada aos
membros
3. Permite identificar objetos, traços relacionados entre si
4. Implicam associação entre crenças e valores sociais (e também afetos)
5. As categorias podem posicionar-se ao longo de um contínuo de racionalidade que
varia entre categorias muito racionais e pouco racionais (categorias estereotipadas)

Allport preocupou-se com o estudo entre estereótipo, preconceito e discriminação. No


entanto, são processos diferentes (cognitivo, atitudinal, comportamental).

Categorização percebida como objetiva > Diferenças intergrupais vistas como objetivas >
Legitimação da estrutura social
=> Legitimação da discriminação

Exemplo: compreende-se que grupos estereotipados como preguiçosos e imorais não tenham
acesso a contextos de mérito (ex. universidade). Exceções: Barack Obama, Quaresma, Hillary
Clinton (indivíduos contra-esterotípicos criam um efeito contrário - hipervalorização destes
indivíduos e percecionados como diferentes do grupo, por parte das pessoas com estereótipos
fortes acerca desses grupos). Quando pessoas de grupos minoritários se destacam por
excelência, são separadas do seu grupo para que seja possível a sua valorização, ainda que isto
consista, em si mesmo, numa forma de discriminação.

Estereótipos enquanto papéis sociais e crenças culturais


Frequentemente os estereótipos estão associados a papéis sociais: associar traços ao grupo
relacionados com as tarefas que desempenham.
Os estereótipos traduzem e prescrevem as relações entre grupos na sociedade traduzidos
através da socialização, não sendo independentes da cultura.
Ex. mulheres e homens
Estereótipos femininos - carinhosa, dócil, afetuosa, maternal, dependentes…
Estereótipos masculinos - audaz, líder, dominante, atlético, empreendedor…
-- adoção de estereótipos masculinos pela mulher que atinge um patamar de topo

E que papéis tradicionais é que ocupam na sociedade?

Veracidade dos estereótipos


• Veracidade do contacto (Allport)
Anos 50 (EUA) - luta pelo fim das escolas segregadas
• Caso Brown vs Board Education
• Tribunal Supremo ordenou decisão contra escolas separadas
• Escolas igualitárias

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• Resultados: segregação - aumento do preconceito e discriminação na escola, aumento
da população minoritária para as cidades (movimento dos brancos para os subúrbios),
vivência das famílias em bairros segregados.

Acentuação percetiva
Processo de categorização social - Teoria da Identidade Social
• Compreender os conflitos sociais
• Categorização em pelo menos 2 grupos (usas para interpretar o contexto social)
• Difere com os estereótipos, etc.

Estudos
• Cumprimento de linhas
• 3 condições: sem etiquetas, etiquetas aleatórias, etiquetas sistemáticas
• estimar o tamanho de 3 linhas diferentes
• só na condição “etiquetas aleatórias” os participantes percecionaram
tamanhos mais semelhantes entre as linhas A-A e B-B do que na realidade
eram. Maior diferenciação entre A (maior) e B (menor).
• Atribuição de traços a rapazes e raparigas:
• Condição 1: rapazes OU raparigas; atribuição de traços rapazes/raparigas. Mais
diferenças entre géneros, semelhanças entre o mesmo género.
• Condição 2: rapazes E raparigas; atribuição de traços aos rapazes e raparigas.
Maior semelhança entre géneros, diferenças entre indivíduos do mesmo
género. Processo de categorização – variabilidade do contexto levou a uma
categorização de rapazes e raparigas. Perceção intracategorial mais
semelhante do que na realidade é, e intercategorial mais diferente.

Acessibilidade cognitiva
Categorias "primitivas" - género, idade, raça mais acessíveis em termos cognitivos.
Julgamento com base nestas categorias é posto em causa quando ocorre um processo de
recategorização ou de subcategorização, ou mesmo de individualização (deixo de pensar no
sujeito enquanto membro de uma categoria, e passo a vê-lo como um indivíduo diferenciado
dos outros).
Diferenciação à norma cultural - categorias mais salientes são as que se desviam à norma
dominante social.
Grupos dominantes - identidade mais diversa
Grupos dominados - retira-se a sua individualidade
Ex. a categoria dominante na nossa sociedade é homem branco > mulher é mais saliente do
que homem > negro é mais saliente do que branco.

Modelos dualistas da organização cognitiva dos estereótipos


• Modelos que apoiam a simultânea operação de organização cognitiva por abstrações e
por exemplares
Categorização por exemplares e por abstrações - evidencia que as duas formas são possíveis,
mas existe a primazia do processo de categorização por abstração.
Construção online de impressões abstratas (aula de Formação de Impressões) - à medida que
temos informação de exemplares, vamos integrando numa representação cognitiva (abstrata),
que se torna autónoma, independente da informação armazenada dos exemplares. Os
processos de ativação destas memórias são independentes.

Distorções no processamento de informação e nos julgamentos

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1. Estereótipos enquanto filtros de informação - privilégio pela informação consistente
com o estereótipo e negligência pela informação inconsistente com o estereótipo
ainda antes do processo de memorização (Snyder).
2. Estereótipos e interpretação da informação recebida - após armazenamento da
informação, ela é reinterpretada de acordo com o estereótipo (Dienstbier).
3. Estereótipos e correlações ilusórias - a ilusão de que existem associações entre traços
e que são distintivas de certos estereótipos, sendo aplicadas nos julgamentos sociais.
4. Estereótipos e procura de coerência para proteção endogrupal - a ilusão de que
existem associações entre traços e que são distintivas de certos estereótipos.

Modelo do conteúdo do estereótipo


• Preocupação com a relação entre estereótipos e discriminação (subtil e flagrante)
Estereótipos dos vários grupos sociais baseiam-se no estatuto que detêm na sociedade e na
relação que estabelecem com os outros grupos.

Estereótipos países europeus (Warmth & Competence)


• Emoções que os grupos suscitam por parte do endogrupo
Estereótipos dos vários grupos sociais baseiam-se no estatuto que detêm na sociedade e na
relação que estabelecem com os outros grupos

Ameaça de estereótipo
Membro da categoria X + Tarefa de desempenho no domínio Y
Estereótipo negativo > "Categoria X é incompetente no domínio Y"
Receio de confirmar o estereótipo > estereótipo é sentido como uma ameaça > ansiedade e
stress; expectativas negativas face ao desempenho; sentimentos e pensamentos distratores >
mau desempenho > REFORÇO DO ESTEREÓTIPO

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(Steele, 1997) - estudo com raparigas asiáticas nos EUA (desempenho matemático)
• Divisão em 2 grupos com a mesma média
o 1 grupo faz teste e diz-se que será comparado com o grupo dos homens
o 1 grupo faz teste e diz-se que será comparado com mulheres de outras etnias
• Resultados: a condição 2 obteve melhor desempenho. Existiu uma reprodução do
estereótipo na condição 1; sentem que têm de contrariar o estereótipo: forte ameaça
do estereótipo. Isso acaba por piorar o foco na tarefa e no desempenho. O próprio
estereótipo vira-se contra elas.

RELAÇÕES INTERGRUPAIS
• Inspiração: Segunda Guerra Mundial

Tipos de Conflito
• Interesses divergentes (funcional; gestão de conflitos)
o Ideologias, valores e objetivos diferentes
o Necessidade de interagir
• Competição (esgota-se eventualmente; ex. guerra)
o Estratégia de favorecimento endogrupal - busca de valor positivo
o Recursos escassos para satisfazer ambos os grupos
• Domínio/submissão (não ideológico, funcional)
o Estrutura social hierarquizada: diferenciação de estatuto e poder entre grupos
num contexto (os dominantes e os dominados)
• Preconceito e discriminação (+ perigoso)
o Não tem por base pura e simplesmente uma estratégia de favorecimento
endogrupal ou de exercício do poder
o Crença e ideologia de que os outros têm menos valor

Teoria da frustração-agressão
(Dollard, Doob, Miller, Mowrer e Sears, 1939; Miller, 1941)
Inspiração: atitude dos nazis sobre os judeus na 2ª Guerra Mundial

Inspiração do modelo psicanalítico:


• Conflito pressupõe sempre uma frustração
• Conflito pressupõe sempre a ideia de agressão

Hipótese do "bode-expiatório"
Procura de grupos minoritários a quem atribuir a culpa.
Não teve grande repercussão em termos de investigação.

Estudo:
Rapazes em campo de férias. Privaram um grupo da saída noturna para responderem a uma
série de testes desinteressantes (frustração). A agressão não se deslocou para os
experimentadores (fonte de frustração) mas para dois grupos minoritários (avaliados de forma
muito negativa) (Miller e Bugelski, 1948).
Não é necessária a frustração para que isto aconteça, basta desconforto, sentimentos
negativos, ruído… (Berkowitz, 1969, 1989)
Problema da teoria: dificuldade me predizer quem serão os bodes expiatórios.

Teoria da Personalidade Autoritária


(Adorno, Frenkel-Brunswik, Levinson, e Sanford, 1950)
Inspiração: Hitler

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Conjunto de atitudes aprendidas com base numa socialização repressiva (atitudes aprendidas
e características da personalidade).
Características:
• Obediência
• Respeito rígido
• Admiração pelas figuras de autoridade
• Admiração pela ordem
• Admiração pela hierarquia social
• Necessidade de encontrar “bodes expiatórios” e, grupos minoritários

Criação de uma escala:


• Etnocentrismo
• Anti-semitismo
• Pró-fascismo
• Conservadorismo político-económico

Relação entre exibição de atitudes autoritárias e educação parental rígida e etnocentrismo e


exclusão de minorias.
Problema desta teoria: pouca atenção dada à influência do contexto, das próprias relações
entre grupos, normas e ideologia.

Estudo realizado na África do Sul, e EUA, mostrando maior preconceito no sul dos EUA e África
do Sul – personalidade autoritária pode predispor para preconceito, mas contexto é muito
mais forte (Pettigrew, 1958).

Teoria do espírito fechado


(Rokeach, 1948, 1960)
Resistência cognitiva, postura inflexível, resistência à mudança e a adotar atitudes diferentes
das que já adota, sistema de crenças rígido e impermeável a nova informação.

Várias teorias incluídas nesta abordagem:


Autoritarismo - tendência para obedecerem a normas e autoridade, e punir desviantes.
(Altemeyer, 1994)
Teoria da dominância social - variável de personalidade sobre ideologia que legitima a
diferenciação entre grupos, e a discriminação - relacionado com preconceito, racismo, etc.
(Sidanius e Pratto, 1999)
Teoria da Justificação do Sistema - variável de personalidade sobre ideologia que legitima o
sistema existente. (Jost e Banaji, 1994)

Privação relativa
(Davis, 1959; Runcinam, 1966)
Não é a frustração nem o tipo de personalidade que leva a conflito entre grupos, mas sim a
comparação entre o que se tem e o que acha que deveria ter.
• Privação fraterna – comparação com outros grupos que deveriam estar equiparados
ao próprio grupo, que se sente injustiçado
• Privação egoísta – comparação consigo próprio; aquilo que tem e aquilo que acha que
deveria ter
Esta teoria estuda a ação coletiva: movimentos que os grupos sociais se envolvem para
reclamar direitos que deveriam ter (ex. manifestações, greves).

Teoria do conflito realista entre grupos


(Sherif, 1956)

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Experiência com rapazes num campo de férias: meio de origem homogéneo; sem
conhecimentos dos outros participantes
1º Passo: colocados em conjunto – estabelecimento de relações interpessoais
2º Passo: Duas camaratas – separação dos “melhores amigos”
3º Passo: Atividades de dinâmica intragrupal – aumento da coesão grupal
4º Passo: Introdução de torneios competitivos entre as duas camaratas
Conflito Instalado:
• Insultaram os rivais
• Recusa de interação com membros do outro grupo
• Avaliações negativas até em relação aos antigos “melhores amigos”
• Ameaças
• Vandalismo nas camaratas do outro grupo
• Destruição dos símbolos identitários de cada um dos grupos

Atitudes sociais hostis dirigidas sobre membros de um grupo apenas porque pertence a esse
grupo.
Mostra a importância da identificação dos indivíduos com os seus grupos de pertença como
base da compreensão de comportamentos entre grupos.

Teoria da identidade social


(Tajfel, 1978)
Os grupos não precisam de existir na realidade, mas sim na mente dos indivíduos – autor
propõe uma definição de grupos através de uma conceção psicológica.
Processo de categorização social:
Necessidade de critérios internos (perceção da existência dos grupos, ex. mulheres) e externos
(todas as outras categorias têm de entender esta noção, ex. homens sabem da existência da
categoria ‘mulher’).
O contexto salienta a existência dos grupos. Perante o que existe no contexto, criam-se
representações mentais de categorias sociais para explicar esta variabilidade no contexto.
Assim, passa-se a percecionar certos indivíduos, que até podem parecer diferentes/iguais
naquele contexto, como sendo mais semelhantes/diferentes entre si do que na realidade são.
O indivíduo beneficia o seu próprio grupo.

Grupos mínimos
(Tajfel, Billig, Bundy, & Flament, 1971)
Descobrir condições mínimas para que os indivíduos distingam o seu grupo de outro grupo.
Processos fundamentais de categorização social:
• Acentuação positiva
• Semelhança intragrupo em relação ao protótipo - desindividuação

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Experiência: divisão em 2 grupos, as pessoas tinham de atribuir dinheiro ao seu grupo e ao
outro.
Resultados: indivíduos passam a percecionar-se como mais semelhantes com membros do seu
endogrupo, e mais diferentes em relação aos da outra categoria (acentuação positiva).
Indivíduos passam a ser representantes do grupo e não indivíduos que, por acaso, pertencem
ao grupo (desindividuação).

Diferenciação intergrupal - componente avaliativa


Favoritismo endogrupal - "o nosso grupo é o melhor, o maior, mais rápido, mais forte, mais
competente, poderoso…" (ex. claques de futebol)
Em algumas circunstâncias, o favoritismo em relação ao endogrupo está associado à
discriminação do exogrupo.

Comparação social negativa

Domínio/Submissão
• Prisão de Stanford: criação de um contexto prisional na Universidade (Zimbardo, 1971)
1º Passo: seleção dos participantes – aleatoriamente, metade “guardas” e metade
“prisioneiros”
2º Passo: Estabelecimentos de acordo da experiência
3º Passo: Detenção dos “reclusos” sem pré-aviso – início da experiência
O que se observou? - interação baseada na relação de poder

Hipótese do contacto (Allport, 1954)


• Anos 50 (EUA) - Luta pelo fim das escolas segregadas
• Caso Brown vs Board Education
• Tribunal Supremo ordenou decisão contra escolas separadas
• Escolas igualitárias
• Resultados > Segregação
o Vivência das famílias em bairros segregados
o Aumento da população minoritária para as cidades - movimento dos brancos
para os subúrbios
o Aumento do preconceito e discriminação na escola

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Novas formas de expressão do preconceito (Allport)
Preconceito → conflito interno
Inconsistência entre valores como igualdade, justiça social e preconceito em relação a grupos
com menos poder.
Também podemos pensar em conflito entre crenças internas e normas externas.
• Desconforto: dissonância, vergonha, culpa
• Necessidade de lidar com o conflito interno

Discriminação subtil: comportamento não corresponde a atitude ou crença.

Racismo (discriminação) subtil


Novas formas mais sofisticadas de racismo (que justificam a sua manutenção):
• Racismo aversivo (Gaertner e Dovidio)
• Racismo simbólico (Sears e Henry) e moderno (McConahay)
• Racismo ambivalente (Katz)
• Discriminação subtil (Pettigrew e Meertens)
• Naturalização, essencialização e infra-humanização (Leyens et al.)

Racismo aversivo
• Fortes valores igualitários
• Simpatizam com a causa das vítimas
• Apoio de políticas públicas igualitárias
• Não se veem como preconceituosos
• Mas possuem sentimentos e crenças negativas e não têm consciência
o Sentimentos de nojo e medo, evitamento

Estudo sobre pedido de ajuda:


• Conservadores: racismo flagrante
• Liberais: racismo aversivo (interromperam mais chamadas)

Racismo simbólico e moderno


• Sistema de crenças que assume igualdade de oportunidades
• Perceção de que grupos vulneráveis pressionam demasiado para a igualdade, onde
ainda não são desejados
• Essa pressão é desajustada
• Demasiada proteção social a esses grupos – pouco mérito
• Consideram que o racismo é mau, mas “baseiam-se em factos”
• Apenas se indignam com atitudes dos negros (luta por direitos iguais)

1. Nos últimos anos, o governo e os meios de comunicação social têm mostrado mais
respeito pelos Negros do que eles merecem
2. Os Negros estão a tornar-se muito exigentes para forçar a igualdade de direitos
3. É fácil perceber a raiva das pessoas Negras na América

Preconceito subtil
Mesmo sistema de crenças que o preconceito moderno.
• Adesão a valores tradicionais - lealdade ao endogrupo e definição de barreiras éticas a
respeitar pelo exogrupo (“O problema é apenas o de as pessoas não se esforçarem o
suficiente. Se os imigrantes ao menos se esforçassem um pouco mais, saíam-se tão
bem como os Portugueses.”)

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• Acentuação de diferenças culturais - hierarquização das culturas (Em comparação com
os portugueses, acha que os imigrantes são muito diferentes nos valores, crenças e
práticas religiosas, língua, práticas sexuais, etc.)
• Recusa de expressão de emoções positivas em relação ao exogrupo ("Já sentiu
admiração pelos imigrantes que vivem em Portugal?”)

Naturalização, essencialização e infra-humanização


Infra-humanização
• Humano = dimensão relevante para a diferenciação entre grupos
• Atribuição ao exogrupo de traços mais característicos de "animais" do que "humanos"

Traços de natureza e de cultura - desumanização (Moscovici e Peréz)


• Natureza: agressivo, intuitivo, selvagem, ruidoso (essência)
• Cultura: civilizado, supersticioso, vingativo, falso, criativo

Redução do preconceito e processo de categorização


• Modelo da descategorização (Brewer e Miller, 1984)
• Modelo da mútua diferenciação intergrupal (Hewstone e Brown, 1986)
• Modelo da identidade endogrupal comum (Gaertner e Dovidio, 2000)
• Modelo da projeção endogrupal (Mummendey e Wenzel, 1999)
• Modelo da dupla identidade (Gaertner e Dovidio, 2000)

Modelo da descategorização
Descategorização - ao não salientar categorias, eliminam-se as fronteiras entre grupos
• Focalização das interações nas relações interpessoais
• Maior semelhança entre pessoas dos ex-grupos
• Diminuição do enviesamento endogrupal
• Objetivos supraordenados (Propostos por Sherif) – salienta processo de
descategorização momentâneo

Modelo da mútua diferenciação intergrupal


• Criação de contexto de interdependência
• Incentivo à manutenção da categorização social
• Grupos com identidade, competências e recursos diferentes, mas complementares

Modelo da identidade endogrupal comum


• Processo de recategorização a um nível de abstração maior
• Ex-endogrupo e ex-exogrupo passam a fazer parte de uma mesma categoria
• Identidade social comum

É difícil criar esta recategorização quando os dois grupos têm estatutos e poder diferentes.
Os grupos de maior estatuto e poder tendem a continuar a manter o preconceito,
percecionam que a recategorização não é vantajosa para a imagem grupal.

Saliência de identidade global (exs.)

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Eu sinto que vivo numa aldeia global.
Eu sinto que o que eu faço enquanto pessoa pode “tocar” alguém em noutra parte do mundo.
Eu sinto que sou "vizinho próximo" de pessoas que vivem em outras partes do mundo.
Eu sinto que estou relacionado com todas as pessoas no mundo como se fossem minha
família.
Eu sinto que as pessoas em todo o mundo são mais parecidas do que diferentes.
Eu penso em mim como um cidadão do mundo.
Eu sinto que o meu destino e futuro estão ligados a todas as pessoas no mundo.

Modelo da projeção endogrupal


Atribuição de traços endogrupais à categoria supraordenada iclusvia.
Endogrupo como mais prototípico do que o exogrupo
• Avaliação mais positiva do endogrupo nos traços prototípicos que envolvem os dois
grupos, sob os pressupostos da teoria da auto-categorização (Turner et al.)

Modelo da dupla identidade


Duas categorizações salientes em simultâneo: endogrupo e categoria supraordenada.
• Valorização do endogrupo original
• Maior valorização dos exogrupos

Modelo faseado (Pettigrew):


1. Processo de descategorização – conhecer melhor o outro fora do quadro categorial
com diminuição da ansiedade intergrupal
2. Saliência categorial – após menor ameaça, diminui a probabilidade de preconceito
3. Recategorização – saliência de uma categoria comum e identidade comum

Outras condições de redução do preconceito


• Paridade de estatuto dos grupos
o Igualdade de estatuto entre os grupos na situação do contacto
o Generalização da paridade de estatuto dos grupos
• Comunalidade de objetivos
o Tarefa de cooperação para objetivo supraordenado
• Apoio social/institucional
o Regulação social a nível institucional - normas reguladoras dos valores de
igualdade entre grupos
• Saliência e reforço dos direitos humanos

GESTÃO DE CONFLITOS E NEGOCIAÇÃO


Modelo da escalada do conflito (Friedrich Glasl)

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Tensão
• Colisão de diferentes opiniões
• Tensões percetíveis e conscientes
• Tensão natural e possivelmente construtiva

Debate
• Divergências profundas
• Pensamento a preto-e-branco intransigente
• Confrontação verbal
• Compromisso com os objetivos e interesses comuns

Ações em vez de palavras


• Comunicação verbal em segundo plano
• Conflito cada vez mais acerbado
• Inutilidade de conversas e necessidade de ações
• Transformação da empatia em desconfiança
• Transformação da cooperação em competição

Acordos e alianças
• Conflito focado nas características das partes
• Questão de vitória ou derrota
• Procura de apoiantes, simpatizantes e aliados
• Campanhas para prejudicar a reputação do outro
• “Nós” superiores vs. “outros” inferiores

Perda da reputação
• Ataques mútuos diretos e pessoais
• Defesa da própria imagem através da desacreditação das contrapartes
• Perda de confiança total e sentimento de traição
• “Nós, os bons” vs. “Eles, os maus”

Estratégia de ameaça
• Exigências à outra parte
• Punição associada à não realização das exigências
• Reforço do potencial da punição

Destruição limitada

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• Aplicação das ameaças
• Perceção de vitória se a contraparte sofrer derrotas ainda maiores
• Aceitação do próprio dano

Aniquilação total
• Destruição total do inimigo
• Auto-preservação; sobrevivência

Juntos no abismo
• Aceitação da destruição pessoal
• Destruição do inimigo a qualquer custo
• “Se a única maneira de ele cair no abismo é se eu o arrastar, então eu salto do abismo”

Modelo de Thomas-Kilman

Quatro princípios básicos


• Pessoas - separar as pessoas do problema
o Ser flexível com as pessoas, mas rígido com os problemas
o Prosseguir independentemente da confiança
• Interesses - foco nos interesses, não nas posições das partes
o Explorar interesses
o Evitar ter limites ou barreiras
• Opções - criar e desenvolver várias opções em busca de ganhos mútuos
o Desenvolver várias opções de escolha e decidir depois
• Critérios - insistir para que o resultado seja baseado em critérios objetivos
o Tentar chegar a um resultado baseado em padrões independentes de
vontades
o Ponderar e estar aberto à razão
o Nunca ceder à pressão, ameaças ou subornos

INFLUÊNCIA SOCIAL [aula dada pelo prof. Samuel]


O indivíduo e o grupo: o efeito da presença de outras pessoas.

Facilitação social: o desempenho de uma pessoa numa determinada tarefa é dificultado ou


facilitado pela presença dos outros?
Pode ajudar ou atrapalhar, dependendo da complexidade das tarefas:
• Tarefas dominantes (fáceis): a presença de outras pessoas favorece
• Tarefas não dominantes (difíceis): a presença de outras pessoas inibe

31
(Zanjoc, 1965)

Tarefas difíceis: presença de outros > maior arousal > menor performance
Tarefas fáceis: presença de outros (pressão social) contribui para o desempenho, porque
domino a tarefa.

Vadiagem social, indolência ou preguiça social: "nem sempre a união faz a força"
"A tendência de membros de um grupo a despender menos esforços quando trabalham em
grupo do que quando trabalham sozinhos" (Rodrigues et al., 2015)

Depende da complexidade das tarefas: tarefas aditivas tendem a diminuir o esforço


• Tarefas aditivas (foco no resultado final; não sou capaz de ver o meu contributo
individual para aquele resultado, apenas a soma de todas as partes)
Como minimizar os efeitos?
• Aumentar a identificação e a facilidade de avaliação das contribuições individuais
• Aumentar o envolvimento e a responsabilidade dos membros
• Aumentar a atratividade das tarefas (motivação intrínseca)

Estudos clássicos sobre conformidade social


• Estudos de Muzafer Sherif: efeito autocinético
o Pressão social e constância de opinião (respostas dos outros fazem mudar a
nossa própria perceção da realidade ou a forma como respondemos, nos
conformamos ao grupo)
o Convergência da norma
o Crítica: estímulos ambíguos (não muito controlados pelo investigador)
• Solomon Asch: efeito da pressão e da unanimidade
• Zimbardo - Experiência de Stanford

Porque é que isto acontece?


• Distorção da ação: não tinha coragem por isto agia de forma diferente. Acreditam que
estão certo, mas agem de acordo com o grupo (que está errado)
• Distorção do julgamento: havia algo de errado consigo mesmo, acreditam que estão
errados, e o grupo está certo.
• Distorção da perceção: realmente percebeu de forma errada. (Percebem de acordo
com o grupo, e não questionam a resposta grupal; isto pode se dever à desejabilidade
social, e não realmente o que aconteça)
• Obs: quanto maior o número de pessoas, maior a pressão grupal

Conformidade e a influência de outros fatores


• Fatores de personalidade: Autoritária
• Autoestima
• Necessidade de aceitação

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• Sexo (mulheres*) - papeis sociais (resolução de conflitos, aceitação, conformidade)
• Normas situacionais: situações e ambientes específicos.
• Valores culturais (ex. UK - cultura individualista menos conformista, interesses e
realizações pessoais; Portugal - culturas coletivistas, sacrifício de interesses pessoais
em prol do grupo)

Influência social e cultura


Individualismo-coletivismo: “(…) os individualistas dão mais valor a seus próprios interesses e
realizações pessoais, enquanto os coletivistas atribuem maior importância ao bem-estar
coletivo e às metas grupais.”

Influência de minorias
Psicologia das minorias ativas
• Coerência e persistência sistemática (consistência) resulta em argumentos
convincentes levando à reflexão
• Esta coerência e persistência também pode fazer com que a maioria reconsidere o seu
posicionamento
• Quebra a unanimidade, deixando as pessoas mais livres (mais confortáveis em mudar
de opinião)
De um modo geral, em público tendemos a ser influenciados pela maioria, enquanto em
privado, pela minoria.

6 princípios da persuasão (Robert Cialdini)


(1) Reciprocidade: este princípio define que as pessoas estão mais dispostas a anuir com algum
pedido quando algo lhes foi “dado” em primeiro lugar;
(2) Consistência: as pessoas sentem-se mais dispostas a agir de uma certa forma se encararem
isso como sendo consistente com o seu comportamento prévio;
(3) Autoridade: a autoridade percebida do comunicador é um fator importante para que as
pessoas se sintam dispostas a concordar ou fazer algo;
(4) Validação Social: quanto mais “popular” um comportamento for percebido, maior será a
tendência para que alguém se comporte dessa forma (conformidade);
(5) Escassez: a atratividade de um dado objeto/serviço/situação é inversamente proporcional à
sua disponibilidade;
(6) Atração: as pessoas estão mais dispostas a ajudar ou concordar com aqueles de quem
gostam, têm uma relação de amizade, por quem se sentem atraídos ou consideram ser
similares a si.

Táticas de influência social


• "Um pé na porta": presente/brinde/pedido/recompensa inicial
o “Uma hipótese sobre conformidade que tem sido muitas vezes feita de forma
explícita ou implícita é que uma vez que uma pessoa tenha sido induzida a dar
seguimento a um pedido pequeno ela é mais propensa a cumprir com uma
demanda maior. Este é o princípio de que é vulgarmente referido como o pé-
na-porta”
o Aproximação sucessiva ("Poderia responder a uma breve pesquisa?")
• "Porta na cara": fazer um pedido inicial, intencionalmente para ser negado
o Pede-se algo mais demorado ou difícil, na intenção de ser negado, para que a
pessoa seja influenciada a aceitar o pedido, mais fácil, posterior

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS [aula dada pelo prof. Samuel]


Representação coletiva (Durkheim, 1898)

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Duas fontes de influência separadas sobre a maneira de pensar e agir dos indivíduos:
• A consciência individual, organizada por representações individuais
• A consciência coletiva, que compreende o conjunto de crenças e sentimentos comuns
à maioria dos membros de uma sociedade (transmissão intergeracional)

Representação social (Moscovici, 1961)


Sociedades modernas > rapidez das suas mudanças
• Já não há representações que determinam a forma de pensar de sociedades inteiras
durante gerações
• As representações são elaboradas pelos grupos sociais
• São dinâmicas: continuamente criadas e modificadas
• Também são produções coletivas, mas não são rígidas.
• Surgem da interação social, e não de um tratamento científico, e diz respeito a objetos
socialmente importantes.

A base social do conhecimento


Para a teoria das representações sociais, a base do conhecimento é social (Moscovici). O
sujeito é um ser social.

A comunicação é fundamental para a produção das representações sociais. Interações sociais


quotidianas fornecem um "alimento" para o pensamento.

Definições:
• “a finalidade de todas as representações é tornar familiar algo não familiar”
(Moscovici)
• “um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida quotidiana no
decurso de comunicações interpessoais” (Moscovici)

Perspetivas dominantes
Pode-se considerar que existem atualmente três perspetivas dominantes nos estudos sobre
representações sociais (Abric, 2008):
• a perspetiva “dimensional”, que privilegia o estudo do conteúdo da representação, a
sua “linguagem temática”, inaugurada por Moscovici (1961) e prosseguida numa
tradição antropológica por Jodelet (1986)
• a perspetiva “estrutural” (Abric, 1976) que visa descrever a estrutura interna das
representações sociais e identificar o seu “núcleo central”
• a perspetiva “posicional” ou dos “princípios organizadores” (Doise, 1985) que
relaciona as representações sociais com a posição dos atores no sistema social

Perspetiva dimensional ou sociogenética


Como a psicanálise se inseriu na sociedade francesa do início dos anos cinquenta.
O objetivo é duplo:
• perceber como o homem comum se apropria de teorias científicas
• analisar os processos através dos quais os indivíduos constroem teorias sobre os
objetos sociais tornando possível a comunicação e a orientação dos comportamentos
(justificar que o objeto social é relevante para o grupo - representações sociais)

Três condições levam à emergência de representações sociais:


• a dispersão da informação relativa ao objeto
• a focalização, em função da posição, interesses e valores, o grupo vai focalizar sobre
alguns elementos e não sobre outros

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• a pressão à inferência que nasce da necessidade de poder comunicar acerca dum
objeto mal conhecido e que é importante desenvolver um conhecimento ao seu
respeito.

Diferentes grupos têm diferentes representações do mesmo objeto


Estas três condições explicam que haja a formação de representações diferentes em diferentes
grupos sociais. Assim:
• a informação é mais acessível para alguns do que para outros e não é o mesmo tipo de
informação que circula nos vários grupos
• o grau de interesse no objeto - ou nos seus diferentes aspetos - difere em função dos
indivíduos e dos grupos
• as pressões para comunicar acerca dum objeto são variáveis, e as inferências que
permitem substituir uma informação que falta traduzem as opiniões dominantes do
grupo de pertença

Cada representação tem três dimensões


1. a informação (conteúdo): soma dos conhecimentos sobre um objeto social –
quantidade e qualidade da informação
2. o campo da representação: conjunto de aspetos do objeto que serão tomados em
consideração pelo grupo organização dos conhecimentos em dimensões
hierarquizadas – inclui julgamentos e a relação com indivíduos ou grupos, varia entre
os grupos.
3. a atitude: orientação positiva/negativa face ao objeto – talvez a primeira das
dimensões.

Dois processos cognitivos básicos estão na base das representações sociais:


• Objetivação: visa à reprodução dum conceito numa imagem – “processo que os
indivíduos vão utilizar para tentar reduzir a distância entre o conhecimento do objeto
social que eles constroem e a perceção que eles tem do objeto” (Deschamps &
Moliner, 2009, p.127) – simplificar a realidade.
• Ancoragem: Visa a inserção do objeto no sistema de pensamento do grupo: consiste
em classificar e nomear, estabelecer relações entre categorias e etiquetas já
existentes. (tornar a novidade familiar e reduzir o estranhamento)

As representações sociais preenchem várias funções


Transformar conceitos abstratos em saberes familiares que tornam possível a comunicação
enquanto adotam os conceitos ao grupo de modo a:
• justificar as formas de pensamento
• manter a coerência do sistema de pensamento
• justificar e orientar as relações com outros grupos
• justificar e orientar os comportamentos
• alcançar ou manter uma identidade social positiva

Perspetiva estrutural
As representações sociais são formadas por um conjunto organizado de elementos cognitivos
compartilhados pelos membros de uma população homogénea relativamente a esse objeto.

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O núcleo central, que constitui o sistema central, é composto por um número reduzido de
elementos. Ele dá o significado à representação e determina a sua organização interna.
O sistema central é estável e consensual, mais resistente a mudança.
O sistema periférico é constituído pelos elementos que são organizados por e dependentes do
núcleo central. É a parte mais acessível da representação.
O sistema periférico é flexível e condicional (sensível ao contexto).

Núcleo central: ponto comum de significação, estável e evolui lentamente


• Função geradora: cria/transforma o significado dos outros elementos da RS
• Função organizadora: elemento unificador e estabilizador da RS

Foco > processos de objetivação

Perspetiva posicional ou princípios organizadores


Foco > processos de ancoragem
Esta perspetiva, relacionada ao processo de ancoragem, centra-se sobre as variações
representacionais, procurando analisar as causas, condições e consequências dessas variações.
• “princípios geradores de tomadas de posição ligadas a inserções específicas dentro de
um conjunto de relações sociais, e que organizam os processos simbólicos que
intervêm nessas relações"

Diferentes posições no campo social e/ou diferentes maneiras de representar as relações


entre grupos sociais → Diferentes representações

Portanto, na perspetiva posicional:


• examina-se as variações nas representações de um objecto que resultam da sua
ancoragem em diversos grupos sociais
• procura-se observar as variações nas representações sociais dum objecto em função
do contexto

Para Doise (1990) as variações nas representações sociais formadas em diferentes contextos
comunicacionais dependem dos interesses dos indivíduos ou dos grupos nestes contextos, o
que leva a que representações específicas sejam actualizadas cada vez que um indivíduo fala
dum objecto socialmente relevante, num contexto onde a posição do seu grupo de pertença se
torna saliente, relativamente a um conjunto de relações sociais simbólicas.

O contexto modula o conteúdo do discurso e a forma como está organizado.

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EM SUMA
Dimensional - processos de construção
Estrutural - estrutura interna
Posicional - pertença grupal

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