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Comportamento humano

SUMÁRIO
Diferenças individuais.......................................................................... 3

Percepção ............................................................................................. 4

Distorções que afetam a percepção ................................................... 7

Crenças e valores ................................................................................. 9

Filtro emocional .................................................................................... 9

Modelos mentais................................................................................. 10
Comportamento humano

Diferenças individuais

Você já parou para pensar que, até os dias atuais, não temos as respostas
mais elementares da história da espécie humana: de onde viemos? Para aonde
vamos? Quem somos? Sobre essa última dúvida, muito já se falou por séculos.
Estudiosos imaginaram chegar à verdadeira definição, mas, logo em seguida,
novas interpretações surgiam.

Sem a mesma pretensão, procuraremos entender algo mais sobre nós


mesmos a partir do que já se discutiu dentro do mundo científico. Se partirmos do
dicionário, veremos que ser indivíduo significa ser uma unidade distinta,
considerada a partir de suas características físicas e psíquicas. Somos, então,
essencialmente únicos. Não há alguém igual a nós, nem fisiologicamente, nem
psiquicamente.

Daí decorre uma nova pergunta: por que somos todos diferentes uns dos
outros? A genética nos mostrou que somos frutos de genes provindos de pai e
mãe, o que constitui nossa hereditariedade. Por isso, não encontramos pessoas
fisicamente idênticas (mesmo gêmeos univitelinos têm diferenças). Também em
nossas atitudes, formas de pensar, opiniões, mecanismos de ação, entre outros,
somos diferentes. Além disso, cada um de nós pertence a um mundo diferente do
outro. Cada indivíduo pertence a um bairro, a um clube, é originário de uma região
do país, de uma escola, etc. Tais fatos contribuem para o segundo fator
determinante de nossas diferenças individuais: o meio ambiente.

Modernamente, diz-se que nossa personalidade é a soma da


hereditariedade e do meio ambiente. Ela é formada pela soma de fatores únicos
e comuns aos indivíduos. Por meio da personalidade podemos expressar as
potencialidades adquiridas e utilizadas para nossa realização como espécie
humana. No entanto, tudo que descobrimos como humanidade, isto é, todo o
conhecimento adquirido por meio da utilização do cérebro humano corresponde
a aproximadamente 4% do funcionamento do cérebro. Temos, ainda, em torno
de 96% de nosso potencial inexplorado, o qual reside no que os psicólogos
costumam definir como inconsciente.
Por isso, muitas vezes não compreendemos certas atitudes e reações de
outras pessoas porque são mecanismos de ação aprendidos há milênios e que
se repetem até hoje em nossas interações.

No inconsciente estão depositados, por exemplo, memórias,


acontecimentos, pensamentos que, em algum momento de nossas vidas, foram
rejeitados, ou melhor, esquecidos propositalmente porque talvez não
estivéssemos preparados para entrar em contato com tais fatos tão marcantes.
Há também, escondido nas malhas do inconsciente, muitos potenciais criativos,
certa agressividade necessária para lidarmos com o mundo a nossa volta,
vontades e anseios reprimidos que se tornaram medos, etc.

Portanto, temos as forças conscientes que nos auxiliam nas nossas


decisões, nos nossos planos e em nossa adaptação ao que nos cerca. Porém,
não podemos negar a existência de uma espessa camada de sensações,
intuições e acontecimentos submersa no inconsciente e que, a todo momento,
influencia nossas vidas. Isso tudo culmina nas nossas diferenças individuais.

Percepção

A percepção, de acordo com Soto (2002), é o processo pelo qual os


indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais, visando a dar
significado ao ambiente de que fazem parte. A percepção faz com que os
indivíduos tenham visões ou interpretações diferentes, ou até contraditórias, de
um mesmo fato ou pessoa, de modo que podemos perceber uma crítica em
relação ao nosso trabalho de maneira distinta: como algo negativo (como uma
repreensão, um descontentamento) ou como algo positivo (como um incentivo).

Geralmente, nós não questionamos o testemunho de nossos próprios


sentidos. Dizemos: "Eu vi com meus próprios olhos!" ou "Eu mesmo ouvi!". Isso
acontece ainda que saibamos que as outras pessoas que ouvem o mesmo
discurso nem sempre ouvem o que acreditamos ter ouvido. Empregados, com
frequência, interpretam mal avisos importantes. Entrevistadores diferentes
obtêm impressões contraditórias do mesmo candidato. Testemunhas do mesmo
acidente parecem ter visto eventos diferentes. Quão confiáveis são nossas
impressões?
Nossos olhos não são câmeras, nossos ouvidos não são gravadores, e
dependem de nossa percepção. Percepção é um processo ativo pelo qual lemos
significados nos estímulos recebidos. Nós nunca somos instrumentos de
precisão, pois permanecemos inevitavelmente humanos e passíveis de erros.

A abordagem de processamento de informações, segundo Bowditch e


Buono (2012), considera a percepção como um processo que ocorre em cinco
etapas:

• Atenção seletiva: filtragem das informações recebidas em categorias


significativas, ou seja, padrões organizados na mente que determinam as
reações dos indivíduos.

• Codificação: confirmação de que determinado comportamento ou evento tem


características que o enquadram no esquema de codificação do indivíduo.

• Armazenagem e retenção: processo em longo prazo que retém na memória


determinado fato, pessoa ou situação.

• Recuperação: resgate de informações em função tanto do esquema de


codificação do indivíduo quanto de pontos de vista ou acontecimentos
momentâneos.

• Julgamento: processo que interage com a recuperação de informações, já que


é influenciado pela capacidade e pela facilidade de recuperação de
informações relevantes, bem como pela visibilidade do evento ou
comportamento.

De acordo com Soto (2002), no ato da percepção, existem fatores que


influenciam os indivíduos a selecionar e focar sua atenção em determinados
fenômenos, deixando os demais em segundo plano. Todo mundo extrapola no
uso de alguns parâmetros para identificar as pessoas e negligencia outras
dimensões. Algumas pessoas são particularmente sensíveis, registrando a mais
tênue impressão de dominação, sexualidade, fraqueza ou hostilidade das
pessoas que encontram. Outras, menos interessadas, poderão notar raramente
essas características.

Algumas pessoas percebem rapidamente quando os outros têm


sentimentos negativos em relação a elas; outras estão "ilhadas" emocionalmente
e alegremente ignoram a hostilidade, mesmo quando ela quase as atinge em
cheio. Os motivos que influenciam a percepção podem estar relacionados ao
passado imediato ou aos interesses permanentes do indivíduo.

Por exemplo, em uma reunião, devemos focar a atenção no tema da


discussão. Contudo, há pessoas que estão focadas em conversas e assuntos
paralelos.

Além de fatores externos – intensidade, tamanho, mudança, repetição dos


estímulos –, os fatores internos – motivações, interesses e valores – influenciam
a percepção dos indivíduos. De acordo com Bowditch e Buono (2012), a
percepção também é influenciada pela personalidade. A personalidade, em
termos gerais, é o que caracteriza o indivíduo, influenciando sua percepção e
seu comportamento no trabalho. Nossa personalidade é influenciada,
basicamente, por três fatores:

• Os traços físicos e o revestimento biológico, que limitam a forma como nos


adaptamos ao meio.

• A socialização e a cultura do grupo ou da sociedade do qual fazemos parte.

• Os eventos e as sensações por nós vivenciados.

Para Bowditch e Buono (2012), a visão que o indivíduo tem de si mesmo


– seu autoconceito – também influencia a percepção. O autoconceito
fundamenta-se em fatores que interagem entre si, sendo eles:

• Valores: refletem o que consideramos importante na vida e tendem a formar


nosso caráter.

• Crenças: refletem nossa concepção de mundo e de como ele funciona.

• Competências: refletem a eficácia de nossa capacidade e de nossa habilidade


de nos relacionar com o mundo.
• Metas pessoais: refletem os objetivos ou eventos futuros por nós perseguidos
para satisfazer nossas necessidades.

Assim, temos os cinco fatores que influenciam a percepção resumidos na


figura a seguir:

Figura 1
Fonte: adaptado de Soto (2002) e Bowditch e Buono (2012).

Distorções que afetam a percepção

A percepção, assim como a fantasia, é influenciada pelos nossos medos


e esperanças. Experiências têm mostrado que sujeitos muito famintos têm mais
chances de ver um retângulo rapidamente exposto como um sanduíche, um
triângulo como um pedaço de torta, ou um círculo como uma laranja. Todos
reconhecemos que alguém perturbado por algo terá maior probabilidade de se
ofender mesmo em alguma situação aparentemente inofensiva.

Uma série de distorções pode afetar nossa percepção (Robbins, 2007):

• Percepção seletiva: interpretamos seletivamente o que vemos considerando


nossos antecedentes, nossas experiências e nossas atitudes.
• Efeito de halo: pautamos nossa impressão geral sobre uma pessoa
considerando apenas uma característica dela.

• Projeção: atribuímos nossas próprias características a uma outra pessoa.

• Estereótipo: formulamos juízos a respeito de um indivíduo considerando


nossa percepção do grupo do qual essa pessoa faz parte.

• Efeito de contraste: avaliamos e qualificamos uma pessoa considerando as


características de uma outra.

Como vimos então, nossa percepção das pessoas e coisas é formada em


parte por aquilo que realmente se apresenta e que usualmente vemos e em parte
pelo que queremos (ou temos medo de querer) descobrir. Como podemos limpar
a influência do habitual e da distorção emocional para que possamos ver as
outras pessoas como realmente são?

Um primeiro passo óbvio é a restrição de julgamentos em nossas


impressões sobre outras pessoas, com a consciência humilde de que nem
sempre podemos confiar em nossas observações. Algumas vezes, você pode
conferir seus parâmetros com a própria pessoa envolvida. Visto que, algumas
vezes, temos que desacreditar dos nossos próprios olhos e ouvidos, algumas
vezes temos que confiar nas percepções de outra pessoa, conferir um com o
outro.

Outra via é o uso construtivo de percepções diferentes entre si. Como


podemos usar a confirmação sem ficarmos submissos a aceitar o que os outros
veem? A resposta está naquilo que fazemos quando muitas observações dos
indivíduos divergem. A divergência deve ser o início de uma investigação
cooperativa. "Você o vê assim, e eu o vejo de outra maneira. Vamos examinar
isso mais a fundo." Libertos da necessidade de impor nossa própria visão ou a
contrapartida, ou de ser meramente agradável e compreensível, ou de aceitar
desanimadamente a visão de outro, poderemos explorar honesta, objetiva e
persistentemente a situação. Juntos, sem que nenhum de nós menospreze,
comprometa ou renuncie a seus próprios sentimentos e valores, provavelmente
chegaremos a conclusões mais válidas do que aquelas que tivemos no começo.
Crenças e valores

Todos nós temos crenças e valores pessoais que influenciam nosso


comportamento. Essas crenças e valores foram sendo adquiridos ao longo de
nossa vida desde o momento de nosso nascimento e foram sendo influenciados
por nossos familiares, parentes e amigos mais próximos, moldando nosso jeito
de ser e agir.

As crenças que as pessoas têm acerca de si próprias determinam seus


comportamentos. Se acreditarmos que podemos alterar nosso comportamento,
poderemos alterar nossas crenças e buscar alternativas. Por exemplo, se eu tiver
receio de falar em público e reconhecer que tenho algumas limitações, mas que
também posso mudar minhas atitudes, ao invés de desistir, determino um novo
script para minha vida. Sabendo que meus comportamentos passados
determinam o que acredito que sou e o que eu acredito que sou, por sua vez,
influencia meus comportamentos, a solução passa a ser então intervir em nosso
modo de pensar, imaginando e criando novas formas de agir, respeitando nossas
objeções internas.

Pode-se dizer que um indivíduo compreenderá tanto a respeito de si


quanto ele estiver disposto a comunicar a outra pessoa. A dinâmica do medo
pode ser substituída pela dinâmica da confiança. Ninguém está inclinado a se
empenhar pela abertura numa situação ameaçadora. A abertura só tem lugar
num clima de boa vontade. Às vezes, é necessário que uma pessoa assuma o
risco de revelar-se para estimular boa vontade em outras pessoas. Confiança
gera confiança; abertura gera abertura. O comunicador eficaz é aquele que
consegue criar um clima de confiança.

Filtro emocional

Todo indivíduo tem seu sistema conceitual próprio, que age como um filtro,
de modo a condicionar a aceitação e o processamento de qualquer informação.
Esse filtro seleciona e rejeita toda informação não ajustada a esse sistema ou
que possa ameaçá-lo.

Há uma codificação perceptiva (percepção seletiva) que atua como uma


defesa, bloqueando informações não desejadas ou não relevantes. Cada pessoa
desenvolve seu próprio conjunto de conceitos para interpretar seu ambiente
externo e interno e para organizar suas múltiplas experiências da vida cotidiana.

Modelos mentais

O modelo mental é uma representação da realidade externa em nossa


mente. É como os indivíduos veem o mundo e interpretam os acontecimentos à
sua volta. São os modelos mentais que influenciam como o indivíduo percebe os
acontecimentos da vida, como ele irá se sentir em relação a eles e como reagirá.
Cada pessoa tem seu próprio modelo mental, que é resultado de todas as suas
experiências, história de vida e situações.

A maioria das pessoas tem dificuldade de perceber e de se desvencilhar


de seus modelos mentais, acreditando piamente que seu modo particular de ver
as coisas é melhor ou correto em relação ao modelo mental de outras pessoas.
Essa é a origem de muitos conflitos, e é necessário ficar atento para não acabar
refém de um único modo de pensar.
Referências

BOWDITCH, J. L.; BUONO, A. F. Elementos do comportamento organizacional.


São Paulo: Cengage Learning, 2012.

ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. 9 ed. São Paulo:


Pearson Education, 2007.

SOTO, E. Comportamento organizacional: o impacto das emoções. São Paulo:


Thomson, 2002, p.67.

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