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CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITAITUBA – LTDA

FACULDADE DE ITAITUBA – FAI


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

LARYSSA PINHEIRO FERNANDES SOUSA

CIENCIAS POLITICA – resumo do livro O PRINCIPE – NICOLAU


MAQUIAVEL

Itaituba – PA
2023
LARYSSA PINHEIRO FERNANDES SOUSA

CIENCIAS POLITICA – resumo do livro O PRINCIPE – NICOLAU


MAQUIAVEL.

Trabalho apresentado à Faculdade de Itaituba para


obtenção de nota em Ciências Política, do Curso de
Bacharel em Direito, ministrada pelo professor Alexander
Goulart.

Itaituba – PA
2023
Resumo do livro O Principe – Nicolau Maquiavel, conforme cada capítulo do livro.
I – Quantos são os tipos de principado e como conquistá-los
Os Estados são divididos entre repúblicas e principados, podendo estes últimos
serem hereditários (quando há uma longa linhagem de governantes da mesma
família) ou nascentes, cuja posse se dá pelo uso de armas alheias ou próprias, pela
fortuna (condições externas) ou pelo mérito ou virtude (ações próprias).
II – Dos principados hereditários
O autor se abstém de discorrer sobre as Repúblicas por já ter tratado deste tema em
outra obra.
Quanto aos principados hereditários, considera que são os estados com maior
facilidade de manutenção: contanto que o Príncipe não tenha vícios que o façam mal
visto, a tendência é que o povo sempre simpatize com ele e que possíveis
conquistadores não durem muito tempo em seu lugar.
III – Dos principados mistos
Já um principado novo, que geralmente surge do desmembramento de um estado
maior (misto), enfrenta maiores dificuldades em sua estabilização: sempre há a
crença que a substituição do governante possa solucionar problemas e trazer
melhorias, ainda que isso se comprove uma ilusão; e a possível diferença de língua
e costumes entre o conquistador e o conquistado também tende a dificultar a
aceitação do novo príncipe.
Há estratégias, entretanto, que facilitam a conquista de um Estado: o governante
deve morar no mesmo local que governa, para estar apto a tomar medidas imediatas
ante qualquer problema que surja; é interessante enviar colonos simpáticos ao
príncipe para a região ocupada, medida de baixo custo e mais eficiente que o uso de
milícias, que geralmente ganham a antipatia do povo; também é essencial manter
uma relação de soberania perante os Estados vizinhos mais fracos e opor-se
firmemente aos vizinhos mais fortes – nunca adiando uma eventual necessidade de
guerrear para conseguir essa imposição.
O autor cita alguns exemplos de poderosos que agiram, ou não, seguindo estes
preceitos e obtiveram as suas respectivas consequências: sucessos e fracassos.
IV – Por que o Reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra os
seus sucessores após a morte deste
O autor considera que há duas formas de governo dos principados: uma na qual o
Príncipe é soberano e conta com o apoio irrestrito de seus administradores,
escolhidos livremente, e com a devoção direta de seus servos; outra na qual há uma
camada intermediária de barões, com direitos também hereditários, que possuem
seus próprios senhorios e súditos, limitando a soberania do
príncipe.
No primeiro tipo de governo há uma grande dificuldade de conquista do poder por
algum estrangeiro, uma vez que todo o povo é fiel à imagem do soberano original.
No entanto, uma vez derrotado este soberano, a manutenção do poder é facilitada
pela tradição de servilidade de seu povo.
Já na segunda forma de governo a conquista do poder pode ser facilitada pelo
possível apoio que se tenha de parte do baronato que esteja descontente com o
governante a ser deposto. A permanência do novo soberano no poder, porém, é
mais dificultada, já que sempre haverá uma dependência da influência dos barões
sobre seus súditos.
Assim, por conta de o Reino de Dário se enquadrar na primeira forma de governo,
sua subserviência a Alexandre e a seus sucessores não encontrou grandes
obstáculos.
A dificuldade ou facilidade na manutenção de um novo governo pode não depender
somente da virtude do conquistador, mas também da natureza dos conquistados. V
– De que modo deve-se governar as cidades ou os principados que, anteriormente à
sua ocupação, viviam no respeito às próprias leis Quando um Estado habituado a
viver em liberdade e de acordo com suas leis é conquistado, há três possibilidades
de impor uma nova ordem: destruir completamente sua estrutura; manter a morada
do príncipe em seu território; ou estabelecer uma oligarquia que mantenha a ordem
local.
São dados exemplos históricos nos quais a tentativa de manter alguma estrutura do
Estado anterior ou o estabelecimento de uma oligarquia resultou em constantes
rebeliões do povo, que acostumado a um regime mais libertário não se rendeu
facilmente ao novo governo.
Portanto, a melhor maneira de dominar definitivamente um Estado seria destruí-lo
completamente, especialmente nos casos em que o povo esteja habituado a um
regime de república.
VI – Dos novos principados conquistados mercê das próprias armas ou da virtude
Para que haja a formação de um novo principado – com novo príncipe e novo
Estado – deve ocorrer o alinhamento entre as condições materiais (dadas pela
fortuna, sorte) e as virtudes desse novo soberano, sendo que quanto mais virtuoso
ele for, menos dependerá da fortuna e mais fácil
será manter sua conquista – ainda que a conquista, em si, lhe dê mais trabalho.
O autor dá exemplos lendários e históricos de personagens que, dada uma fortuna
propícia, conseguiram a posição de príncipes por mérito próprio: Moisés, Ciro,
Rômulo e Teseu. Assinala ainda a importância de que este poder se alcance
também por armas próprias, garantindo sua posterior estabilidade.
VII – Dos novos principados conquistados pelas armas de outrem e pela fortuna
Quando um homem é elevado a príncipe por uma condição do acaso, pela
concessão do principado por um superior ou pela substituição de um líder morto ou
deposto, pode se prever grandes obstáculos em sua manutenção: como tudo o que
nasce e cresce em pouco tempo, seu governo
não terá raízes sólidas para suportar eventuais tormentas. Há, entretanto, casos em
que o príncipe consegue valer-se de sua virtude para manter o Estado adquirido
pela fortuna. César Bórgia, o Duque Valentino, por exemplo, recebeu de seu pai, o
Papa Alexandre VI, o poder do Estado, conquistado com o auxílio de armas
francesas.
Percebendo sua instabilidade ao depender da vontade de outros, o Duque usou de
sua astúcia para estabelecer sua própria ordem: conquistava a simpatia de possíveis
opositores, mas não hesitava em assassiná-los quando se sentia ameaçado; elegia
administradores para suas províncias e também os assassinava caso julgasse
conveniente.
Sua derrocada, porém, deu-se novamente pela fortuna: a morte de seu pai, a
ascensão de um Papa contrário a seus interesses e uma grave doença
(possivelmente resultado de envenenamento) impediram a conclusão de seus
planos de dominação da região. Ainda assim o autor o considera virtuoso por sua
habilidade em manter sob controle, enquanto a fortuna permitiu, um Estado que lhe
foi dado.
VIII – Dos que se fizeram príncipes mercê das suas atrocidades
Tratando-se da tomada do principado por uma via criminosa, é relatado o caso de
Agátocles Siciliano: comandante-em-chefe de Siracusa por conta de sua atuação
como miliciano, ele marcou uma reunião com os senadores e as lideranças da
cidade para assassiná-los e tomar o poder somente para si.
Outra situação semelhante ocorreu com Oliverotto de Fermo: criado por seu tio,
Giovanni Fogliani, ele atuou numa milícia obtendo grandes sucessos. Ao retornar à
sua cidade levou consigo uma centena de soldados e exigiu uma grande recepção,
que foi atendida por Giovanni. Após o banquete, em que se reuniram todos os
poderosos do local, houve uma emboscada comandada por Oliverotto para
assassinar a todos, inclusive seu tio, e tomar o poder.
O uso de crueldades e traições para tomar um Estado é analisado pelo autor como
uma prática pouco virtuosa, mas também independente da fortuna. Ele considera, no
entanto, que pode ser “proveitosa” uma atrocidade que seja feita somente uma vez,
com o intuito de conquistar o principado, mas que depois garanta um bom governo
IX – Do principado civil
Quando um príncipe é eleito por seus concidadãos, isto pode ocorrer a partir da
vontade do povo ou dos poderosos. O autor considera que o apoio popular, nesta
situação, é mais valioso para a manutenção do governo, uma vez que o apoio dos
poderosos pode ocorrer mediante interesses próprios, que eventualmente vão
contrariar ao próprio príncipe.
Para manter essa unidade com o povo é importante que o príncipe governe
personalisticamente, não por meio de magistrados que, em tempo difíceis, podem
tomar-lhe o posto.
X – De que modo devemos medir as forças de todos os principados
O autor estabelece que só podem ser considerados autônomos para se defender os
principados que possuem dinheiro e homens o suficiente para levar um exército a
uma batalha campal. Já aqueles que necessitam defender-se atrás de suas
muralhas são considerados dependentes.
Uma cidade bem fortificada e com uma boa relação entre o soberano e seus súditos,
entretanto, pode possuir uma defesa que desencoraja eventuais inimigos a um
ataque. As cidades alemãs, por exemplo, possuem muralhas, fossos, armamentos e
reservas de provisões que podem durar um ano no caso de um cerco. Como não há
inimigos que se disponham a batalhar por um período tão longo, estes locais vivem
em constante paz e liberdade.
XI – Dos principados eclesiásticos
Os Estados comandados pela Igreja são descritos pelo autor como os mais seguros
e felizes de todos. Sendo Deus o único responsável por seu regimento, não há o que
a razão humana possa julgar a respeito.
O poder temporal da Igreja, no entanto, estabeleceu-se mais firmemente a partir do
papado de Alexandre e o autor se propõe a detalhar um relato histórico desse
processo.
Antes da invasão francesa, a Itália seguia a “política de equilíbrio”, na qual os
domínios eram divididos entre o Papa, o Rei de Nápoles, o Duque de Milão, os
venezianos e os florentinos. Com a invasão francesa Alexandre VI encarregou seu
filho César Bórgia – como já relatado anteriormente – de tomar posse de todo o
território. O resultado disso, após a morte do Papa e de seu filho, foi uma
concentração de poder temporal nas mãos da Igreja, mantida pelos papas
subsequentes.

XII – Dos vários tipos de exército e dos soldados mercenários


Uma vez que a base de qualquer Estado sólido são boas leis e bons exércitos, o
autor se propõe a analisar as possíveis formações que um príncipe encontra ao seu
redor para proteger seu território.
O uso de forças mercenárias é comprovado, com diversos exemplos históricos,
como a garantia da derrocada de um governo: estes homens lutam somente por sua
ganância e abandonam qualquer príncipe ao primeiro sinal de conflito grave. A
escolha da Itália por este modelo de defesa tornou-a frágil e desonrada.
XIII – Das milícias auxiliares, mistas e do próprio país
O uso de forças auxiliares (concedidas por outro país) também se mostra um
desastre para um príncipe, que após uma eventual vitória torna-se refém deste
exército.
Outra possibilidade é a formação de milícias mistas, com mercenários e exércitos
auxiliares, tal como fez a França com o apoio de guerreiros Suíços, possuindo uma
maior estabilidade.
O melhor, porém, para um país, é a formação de um exército próprio, com a
participação de súditos e cidadãos, sob o comando direto do príncipe.
XIV – Das atribuições do príncipe em matéria militar
Maquiavel defende que todas as atenções do príncipe sejam voltadas para os
assuntos de guerra, organização e disciplina militares, mesmo em tempos de paz.
Isto porque somente as forças armadas garantem a manutenção de seu poder
perante outros governantes.
Primeiramente o príncipe deve trabalhar de forma prática seu conhecimento acerca
dos territórios, suas geografias e as possíveis ações militares em cada tipo de
situação: por meio da caça e do treinamento de seus soldados.
Outra forma de preparar-se para situações de conflito é através da meditação sobre
táticas de guerra, por meio da leitura dos relatos históricos de grandes combatentes.

XV – Das coisas pelas quais os homens e sobretudo os príncipes são louvados ou


injuriados
O autor se propõe a estudar a melhor conduta de um soberano perante seus súditos
e aliados, deixando claro que não pretende se limitar a um modelo ideal que se
distancie do que é praticável
nas condições reais: nem sempre a bondade é o caminho para um príncipe manter-
se no poder.
Ademais, por conta da condição humana na qual o príncipe está colocado, seria
também impossível que ele trouxesse em si todas as qualidades morais
consideradas positivas. Resta a ele, portanto, saber ser prudente quanto à sua
postura a cada momento.
XVI – Da liberalidade e da parcimônia
Ainda que ser liberal, atendendo a todas as demandas que lhe são trazidas, possa
parecer uma postura positiva de um príncipe perante seus súditos, num longo prazo
essa estratégia se mostra deficiente. Um elevado empenho de riquezas para
satisfazer o desejo de alguns pode resultar, posteriormente, na necessidade de
exigir de todo o povo uma maior contribuição para manter o patrimônio do Estado.
Essa manobra resultará na impopularidade do príncipe.
A parcimônia nas despesas, por outro lado, tende a conservar as riquezas para que,
no momento em que gastos forem realmente necessários, como em caso de guerra,
o povo não seja vilipendiado. Dessa forma, mesmo que à primeira vista o príncipe
seja considerado miserável, a parcimônia garantirá sua estabilidade futura.
Outra situação ocorre no caso do enriquecimento do principado por conta de saques
a outras cidades e de tributos impostos a povos dominados em batalhas: com a
riqueza que provém dos outros é possível e positivo ser pródigo nas doações a seu
povo, uma vez que isso não onera os cofres do principado e traz simpatia ao
príncipe.
XVII – Da crueldade e da piedade, e se é melhor ser amado que temido ou o
contrário
O autor considera a piedade uma boa qualidade para um príncipe, no entanto
lembra que é importante saber utilizá-la, pois há momentos em que se faz
necessário ser cruel com alguns para manter a ordem e garantir a posterior
manutenção da piedade – o que geralmente ocorre em Estados nascentes. Quanto
a ser temido ou amado, o ideal se encontraria num equilíbrio de ambas as posturas.
Entretanto é mais seguro ser temido do que amado, quando se faz necessário optar
por um dos lados. Isto ocorre por conta da natureza perversa dos seres humanos: o
compromisso ético do povo para com um soberano amado dura somente até o
momento em que alguma dificuldade bate à porta; já o temor para com um soberano
temido nunca se desfaz.
Este temor, porém, não deve ser seguido de ódio: para isto basta que o príncipe se
contenha ao usar seu poder, não prejudicando seu povo ao apossar-se de seus
bens e de suas mulheres.
Quando o príncipe está à frente de seu exército, no entanto, a demonstração de
crueldade é a única forma de garantir a unidade de seus soldados, o que é
comprovado por diversos exemplos históricos de líderes complacentes que foram
alvo de rebeliões militares.
XVIII – Como devem os príncipes honrar a sua palavra
Baseado nos fatos, Maquiavel defende que o príncipe não deve se preocupar em
honrar suas promessas. Pelo contrário, somente aqueles que sabem ludibriar a
opinião pública conseguem maior destaque.
De acordo com as lendas, os príncipes do mundo antigo eram treinados por um
centauro. O autor assinala que isto simboliza a necessidade de valorizar tanto a
parte humana quanto a parte animal do homem. Nesta última, além da força bruta,
há a astúcia, que pode livrá-lo das armadilhas formadas por outros homens.
Assim sendo, sabendo-se que a maioria dos homens tende a não honrar suas
palavras, resta ao príncipe usar do mesmo artifício, conquanto que os resultados de
suas ações sejam positivos e agradem à maioria do povo.
É importante, ainda, que o soberano calcule bem suas palavras, fazendo-se parecer
misericordioso, sincero, íntegro, humanitário e, principalmente, religioso, mesmo que
aja de outra forma.
XIX – Subtraindo-se ao desprezo e ao ódio
Precavendo-se do ódio de seus súditos, ao não tomar-lhes o patrimônio nem atacar-
lhes a honra, assim como do seu desprezo, mostrando-se firme, corajoso, austero e
grandioso, o príncipe tem garantida a manutenção de sua posição. Eventuais
ameaças exteriores devem ser defendidas com boas armas e bons aliados.
Ameaças interiores tendem a não surgir quando há boa defesa externa e quando o
príncipe age conforme os preceitos acima citados: ainda que alguém pense em se
rebelar contra o príncipe, o apoio popular que ele terá nestas condições inviabilizará
qualquer atentado.
Maquiavel cita um caso em que, sendo um soberano assassinado, todo o povo se
une para castigar o criminoso e anseia pela continuidade da linhagem do príncipe no
poder.
Outra forma de se eximir do ódio é a criação de uma instituição intermediária, sobre
a qual caia o peso eventuais medidas impopulares: assim o Rei da França possui o
Parlamento, que o livra de certas responsabilidades sobre ações do governo e lhe
dá mais estabilidade no poder.
O autor ainda lista situações extraordinárias vividas por imperadores romanos que
necessitavam agradar ao povo, mas também aos seus exércitos, havendo uma
divergência de demandas entre estas duas classes. Muitos deles, não sabendo se
portar devidamente, acabavam vítimas de insurreições. Outros, fazendo uso da
astúcia, ludibriavam inimigos para depois traí-los e assim se mantinham no poder.
Na época em que o livro foi escrito, no entanto, os exércitos não representavam tão
grandes ameaças à estabilidade do príncipe, sendo preferível sempre agradar
primeiramente ao povo.
XX – Se as fortalezas e tantas outras coisas produzidas pela ação quotidiana dos
príncipes são úteis ou não
O autor levanta hipóteses em que é conveniente, ou não, armar ou desarmar os
súditos: novos governos ganham apoio popular ao armar alguns de seus homens; já
cidades conquistadas são mais
seguras se o seu povo for desarmado.
Outra forma de manter controle sobre seus domínios é alimentar neles alguma
disputa interna que impeça seu povo de unir-se contra o soberano.
Também é interessante, no caso de governos recentes, que o príncipe saiba
manejar os apoios recebidos: muitas vezes os súditos que não o apoiam
inicialmente podem tornar-se seus mais fiéis aliados. Quanto à construção de
fortalezas que defendam o principado de ataques externos ou mesmo de rebeliões
populares, o autor observa que tanto há soberanos simpáticos como opostos a estas
medidas e acredita não haver problema em seguir por qualquer destes caminhos,
contanto que se saiba que, antes de tudo, é necessário prezar pela simpatia popular,
sem a qual nenhuma fortaleza garante a segurança do príncipe.
XXI – Como deve portar-se um príncipe para fazer-se benquisto
A estima de um príncipe se eleva de acordo com suas grandes ações e notáveis
exemplos.
Fernando de Aragão, Rei da Espanha na época em que o livro foi escrito, é citado
como um exemplo de soberano que soube construir uma imagem positiva ao
empreender tomadas de territórios baseando-se em argumentos religiosos.
Premiar atitudes positivas e punir atitudes negativas de seus súditos também é uma
forma de o príncipe reforçar seu papel e sua postura perante o povo.
Em relação aos seus vizinhos, sempre se sai melhor o soberano que deixa clara sua
posição de aliado ou de inimigo, ainda mais no caso de conflitos: alegar neutralidade
faz com que o príncipe se torne desprezado por ambos combatentes.
Ainda cabe ao príncipe apreciar as virtudes dos homens de seu povo, permitindo
que estes exerçam suas atividades com segurança e liberdade, mantendo um
relacionamento próximo com as corporações de ofício e grupos populares de seu
principado.
XXII – Dos ministros dos príncipes
Um príncipe pode ser avaliado pela qualidade dos ministros que tem ao redor de si:
se eles são capazes e fiéis, é sinal de que o soberano foi inteligente o bastante para
escolhê-los e mantê-los por perto.
O autor lista três padrões intelectuais: os que são inteligentes por si só, os que são
inteligentes por meio do conhecimento dos outros, e os que não são inteligentes de
nenhuma forma. Assim ele revela que ao príncipe agenciado por um ministro que
possua o primeiro tipo de inteligência, basta que ele possua a inteligência do
segundo tipo, com a qual saberá manejar a sabedoria de seu auxiliar. Para o
príncipe firmar uma aliança com um ministro é importante que ele o conheça bem e
perceba se o homem preocupa-se mais com sua majestade ou consigo mesmo,
sendo necessário romper a relação neste último caso. Uma vez estabelecida a
relação, o príncipe deve assegurar-se que o ministro receba suficiente atenção,
riqueza e honras, o que permitirá o crescimento da confiança mútua entre si.
XXIII – Como escapar aos aduladores
Os príncipes frequentemente incorrem no erro de aceitar próximos de si homens não
confiáveis, bajuladores, que lhe faltam com a verdade para agradá-lo. Também não
é indicado que se aceite ouvir a verdade de qualquer pessoa, já que isto resultará
numa relação sem qualquer respeito.
O ideal, portanto, é que o príncipe selecione alguns homens de confiança dos quais
aceitará ouvir a verdade com atenção e sabedoria, restringindo-se a atender aos
conselhos somente destes.
Também falha aquele príncipe que se recusa a ouvir seus aliados e toma decisões
aleatórias somente pela vontade própria, pois estas posturas logo são contraditadas
e o soberano, recuando em seus desígnios, passa a ser visto como volúvel.
Em suma, é necessária a sensatez do príncipe em saber a quem ouvir e quando
ouvir.
XXIV – Por que os príncipes da Itália perderam os seus Estados
Maquiavel afirma que um príncipe novo que seguir as orientações dadas neste livro
terá o sucesso maior que o de muitos outros experientes ou hereditários.
Tendo havido na Itália soberanos malsucedidos na defesa de seus territórios, como
o Rei de Nápoles e o Duque de Milão, alega-se que estes não devem atribuir suas
derrotas à mera fortuna, mas a uma postura incorreta perante as milícias (como já
falado nos capítulos anteriores), à má relação com seus povos e ao despreparo para
situações de crise.
XXV – O quanto influi a fortuna nas coisas humanas e como reagir a elas
Há quem acredite que a fortuna, o acaso, sejam forças completamente superiores às
vontades humanas. Maquiavel, no entanto, considera que o livre-arbítrio do homem
é responsável por grande parte de seu destino, de forma que alguém precavido é
capaz de sobressair a situações contrárias que lhe apareçam. Analisando as
atuações dos príncipes, ocorre o curioso caso de que com diferentes virtudes eles
possam atingir bons resultados, enquanto outros, seguindo posturas similares,
encontrem destinos diversos, de vitória e de fracasso. A aparente aleatoriedade
nessas combinações ocorre, segundo o autor, porque muitas vezes não importa
tanto a ação em si, mas sim a circunstância em que ela se apresenta. Cabe ao bom
príncipe saber ser rígido ou flexível conforme a necessidade do momento.
De forma geral, porém, a fortuna se comporta “como uma mulher”, sendo necessário
mantê-la submissa. batendo-a e maltratando-a: portanto mais vale ser impetuoso do
que circunspecto.
XXVI – Exortação à tomada da Itália e à sua libertação dos bárbaros
Maquiavel conclui seu livro afirmando que a desagregada situação italiana é a mais
propícia para o surgimento de um príncipe com as virtudes necessárias à sua
unificação, o que não ocorreu outrora devido a circunstâncias da fortuna.
Lourenço II de Médici, governador de Florença, a quem é dirigido este escrito, é
exaltado como aquele que tem as condições de pôr em prática estes planos.
A principal razão apontada por Maquiavel para a instabilidade italiana é a falta de
lideranças militares que alinhem seus exércitos, já que pessoalmente os italianos
sempre se mostraram valentes, mas decepcionam ao atuar em grupo.
Assim sendo, a primeira medida para alcançar o êxito da nação está na formação de
um exército próprio. O resultado disso será a expulsão dos bárbaros e a reunificação
dos italianos sob uma só pátria, com devoção a um grande líder.
O autor inicia seu tratado político classificando as formas de governo e de conquista
das repúblicas e principados, ressaltando o papel fundamental da virtude do líder
político ao tomar medidas baseadas no conhecimento prévio da história e da
natureza dos homens, ainda que a fortuna, a sorte, também possa ser decisiva em
alguns momentos.
Suas ponderações fogem de qualquer idealismo e propõem que o príncipe utilize da
astúcia em todas suas decisões: ao dominar um estado, é sugerido que primeiro o
destrua por completo, para não sofrer posteriormente qualquer ameaça de seus
membros; considera importante que o líder seja amado pelo seu povo, o que lhe
garante alguma estabilidade, mas revela ser ainda mais fundamental que ele seja
temido; a crueldade, ainda que pouco virtuosa, lhe parece uma boa ferramenta para
resolver situações extremas; o exército de um estado deveria ser controlado
diretamente por seu soberano, sendo este o maior sinal de seu poder militar; ele
ainda afirma que não é essencial que um príncipe honre suas palavras, já que a
dissimulação faz parte da natureza humana.
Estes conceitos são trabalhados com exemplos históricos de reis da antiguidade e
de políticos de seu tempo que se demonstraram hábeis, ou não, na manipulação do
poder do estado. Por fim, Ele faz um elogio ao então governante de Florença, que
seguindo seus conselhos seria capaz de cumprir a missão de reunificar a Itália.

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