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SÍNTESE DO LIVRO “O PRÍNCIPE”, DE NICOLAU MAQUIAVEL.

Aluno: João Pedro Satrapa Oliveira

Turma: XXVIII

Curso: Relações Internacionais

Matéria: Política 1

Professora Patrícia Trópia

Para compreender a obra “O Príncipe”, é preciso entender o contexto


histórico e biográfico em que foi escrita.

Nascido no dia 3 de maio de 1469, em Florença, Niccolò di Bernardo dei


Machiavelli, conhecido por nós como Nicolau Maquiavel, era de família toscana
a qual participou em cargos públicos por muitos anos. Formou-se em Florença,
durante o governo de Lourenço de Médici, e, em 1494, aos 24 anos, tornou-se
secretário da recém-criada república de Florença, a qual havia expulsado a
família Médici da cidade recentemente.

Em 1502, Maquiavel foi nomeado representante do governo de Florença


por César Bórgia. Em 1512 perde o cargo, pois a república acaba, e, no ano
seguinte, Maquiavel é preso por conspirar contra Giovanni de Médici, em
seguida sendo exilado.

O livro “O Príncipe” foi escrito por Maquiavel em 1513, durante seu


exílio, e dedicado a Lourenço de Médici a fim de que o mesmo pudesse ajudar
Maquiavel perdoando-o e removendo-o de seu exílio. No entanto o livro passou
despercebido, e nem sequer foi publicado até 1532, cinco anos após a morte
do autor. No entanto, ficou conhecido na história mundial como um “manual” do
arquétipo de governante do Renascimento, sendo considerado de extrema
importância por figuras como Napoleão Bonaparte, o qual possuía um
exemplar do livro como seu “livro de cabeceira”.

Por meio de sua obra, Maquiavel busca compreender qual é a atuação


do Estado real e como seu governante (chamado de Príncipe) deve agir a fim
de expandir seus domínios e manter seu poder através da ordem e
organização social. Assim, Nicolau rompe com os modelos idealizados de
política, como os de Platão e Aristóteles, e com a sacralização da mesma, que
a entrelaçava com os assuntos da Igreja.

Além de cortar os laços entre política e religião, Maquiavel também a


afasta das tradições filosóficas as quais entendiam a ordem e estabilidade
como naturais das sociedades. “Profanando” a ideia de política e apresentando
uma “verdade efetiva das coisas”, ou seja, aquilo que realmente é e como
ocorre, Maquiavel seculariza a política, ou seja, a traduz como resultado da
relação entre homens, seja ela boa ou ruim, rompendo com a visão
maniqueísta da época.

Assim, a política torna-se uma ciência não exata, separada da filosofia e


da religião, e sua ordem possui o imperativo de ser moldada pela atividade
política dos homens, bem como o de ser mantida.

Ao iniciar sua obra “O Príncipe”, Nicolau Maquiavel afirma para Lourenço


de Médici que “aqueles que querem agradar um príncipe costumam oferecer-
lhe o que de mais raro possuem ou o que julgam ser mais do seu agrado”. No
entanto, o autor diz que o que possui de mais raro para oferecer não é material,
é seu conhecimento adquirido ao longo de suas experiências com as ações de
grandes homens, valorizando seu saber empírico e o oferecendo a Lourenço
na forma de livro.

Inicialmente, Maquiavel pontua os tipos de governo existentes: os


principados, hereditários ou novo-novíssimos, e as repúblicas, sendo
principado uma espécie de monarquia, “governo de um”, e república a
“evolução” do principado.

São considerados hereditários aqueles principados herdados, e novos


ou novíssimos aqueles conquistados por meio de guerras ou acordos. A
existência dos principados dá-se por causa das instabilidades políticas
provocadas pela natureza humana. Assim, quando a nação está ameaçada de
desintegração, faz-se necessário um governo rígido tal qual um principado.

Em seguida Maquiavel se aprofunda na classificação dos principados e


nos métodos para conquistá-los e mantê-los. Os principados hereditários, como
o próprio nome indica, são passados através das gerações de Príncipes, de
“pai para filho”, logo são mais fáceis de manter, visto que o poder ali exercido é
familiar e contínuo, mantendo os costumes, tradições e sendo “legítimo”, o que
facilita a aceitação da população. Já para os principados novos ou novíssimos,
as estratégias devem ser diferentes, pois são mais complexos de serem
mantidos visto que, em princípio, são ilegítimos justamente por terem que ser
conquistados, seja por meio da força ou por meio da diplomacia.

A conquista pela força é aquela em que o príncipe utiliza o exército para


vencer batalhas e conquistar territórios. Maquiavel destaca que, embora a
conquista pela força possa ser eficaz, ela é a forma mais difícil de conquistar
um novo principado e mantê-lo. Isso porque os governados que foram vencidos
podem sentir ressentimento e desconfiança em relação ao novo príncipe e se
rebelarem.
No entanto, em ambos os principados e outros tipos de governo, o
príncipe deve ter duas características de extrema importância para ser um
governante exitoso, a fortuna e a virtù, assuntos abordados em toda a extensão
da obra “O Príncipe”.

A fortuna representa a sorte e o acaso, ou seja, eventos que não estão


sob o controle do governante, que afetam a realidade política. Para ele, a
fortuna não deve ser encarada como um obstáculo, mas sim como um desafio
político que deve ser conquistado e atraído. No entanto, o bom príncipe não
pode jamais contar exclusivamente com a fortuna, pois a mesma pode
desfavorecer o governante ou criar uma falsa ideia de “eterna sorte” quando
favorável ao governante, e por isso o mesmo deve possuir a virtù, ou virtude.

A virtù, ou virtude, trata-se da capacidade que o príncipe deve dominar


em controlar as ocasiões, eventos de seu governo e as questões de essência
em seu principado. É o poder de batalhar pelas coisas mundanas. Um
governante de grande virtù estabelece estratégias de governo capazes de
superar as dificuldades da imprevisibilidade atrelada à falta de fortuna. Assim, o
príncipe virtuoso observa na fortuna a possibilidade de criar estratégias a fim
de controlá-la para atingir determinado fim, de agir diante de certa situação, de
perceber quais são suas limitações e quando se faz necessário recuar ou
atacar com vigor e de explorar as possibilidades que cada uma delas ofertará.
Logo, para Maquiavel, os homens que possuírem a virtude poderiam dominar a
fortuna. Portanto, tem virtude aquele que fizer o que precisa ser feito para
garantir o poder, mesmo que sua conduta seja considerada um vício, imoral.

Mais adiante, Maquiavel aborda as três formas de se manter um Estado


cujos governados estejam acostumados com a liberdade. Primeiro, o príncipe
pode arruinar, ou seja, destruir, tal Estado, ele pode ir habitá-lo pessoalmente
e, por fim, pode permitir que os governados vivam com suas próprias leis. Para
explicar a ruína, Maquiavel utiliza do exemplo de Roma em manter os Estados
de Cápua, Cartago e Numância, destruindo-os, porém os mantendo sobre seu
poder. No caso de o príncipe habitar o território conquistado, a proximidade
com tal local faz com que seus súditos não cometam revoltas por medo da
própria figura do príncipe, que residiria em tal local e poderia acompanhar
essas questões de modo íntimo. Por fim, a permissão de que os governados
vivam sob suas próprias regras faria com que o príncipe necessita-se cobrar
tributos, criando um governo de poucos, que entendem que sua existência
depende de um bom relacionamento com o príncipe, que permite tais regras
desde que seus tributos sejam pagos.

Mesmo que existam essas três formas de manutenção do Estado,


Maquiavel afirma que a maneira mais segura para conservar as conquistas é a
destruição, pois caso não a faça, a cidade acostumada com liberdade poderá
destruir o príncipe, porque ela encontrará apoio em suas rebeliões em nome da
liberdade.

Assim, pode-se entrar na famosa discussão Maquiaveliana. O príncipe


deve ser temido ou amado? O autor afirma que o governante deveria ser
amado e temido ao mesmo tempo.

O ideal seria que o governante fosse amado por seu povo, pois seus
esforços seriam bem inferiores. No entanto, o amor é um sentimento instável
que pode ser influenciado por terceiros. Por outro lado, o medo é mais
constante e previsível, podendo ser facilmente controlado e mantido.

Ao ser temido, um governante pode trazer a estabilidade para o Estado.


Quando as pessoas o temem, elas são menos propensas a desafiar sua
autoridade com medo das consequências, o que facilitaria o controle da ordem
por parte do príncipe.

No entanto, o príncipe não deve ser odiado por seu povo, pois o ódio
torna-se uma potente força destrutiva que alimenta o espírito revoltoso dos
governados, podendo leva-los à revolta e, consequentemente à queda do
governante. Portanto, o príncipe não deve agir cruel e injustamente, pois isso
pode gerar ressentimentos que florescem ódio. Assim, o príncipe deve ter a
virtude de equilibrar amor e medo, mostrando-se benevolente e justo, porém
impiedoso, forte e violento quando necessário, não se aplicando a violência de
uma única vez, mas de maneira contínua. Além disso, mesmo que não possua
tal característica, o príncipe deve aparentar possuí-las, pois assim, sua imagem
e sua autoridade não seriam questionadas.

Aliado a isso, faz-se necessário que o príncipe possua uma boa rede de
ministros para a manutenção de seu poder. Maquiavel argumenta que o
governante deve selecionar com muita cautela seus ministros, pois eles são
uma extensão de seu poder, logo más escolhas podem resultar na queda do
príncipe e boas escolhas, na sua prosperidade.

Os ministros devem ser escolhidos com base em sua habilidade,


confiabilidade e fidelidade ao príncipe, que deve confiar neles, mas também
deve se manter cauteloso para não se tornar dependente dos mesmos e deixar
que seus vícios tomem conta e derrubem seu poder. Ele também deve
compreender que os ministros podem e vão ter interesses próprios e não
necessariamente irão agir apenas em benefício do príncipe, mas que não
devem jamais ultrapassar a autoridade do próprio príncipe, e para isso aplica-
se a virtude de saber quando utilizar o medo como ferramenta de controle,
equilibrando sua autoridade com a de seus ministros.

A comunicação entre ministros e príncipe é de extrema importância. O


príncipe deve manter uma linha aberta de comunicação com seus ministros
para garantir que ele esteja ciente das atividades em andamento em seu
governo. Além disso, o príncipe deve ser capaz de se comunicar claramente
com seus ministros, a fim de garantir que eles entendam suas expectativas e
objetivos.

Assim, considerando o contexto histórico em que foi escrito e as


questões políticas e sociais que Maquiavel enfrentava em sua época, "O
Príncipe" é uma obra que representa uma mudança significativa na forma como
a política era entendida e praticada.

Maquiavel foi um pensador que rompeu com a tradição medieval e


aristocrática, defendendo que o governante deve agir de acordo com a
realidade política e social, e não com base em ideais abstratos ou em códigos
morais absolutos. Ele valorizou a virtù, a habilidade política e a capacidade de
adaptação do governante, e mostrou que a força e a astúcia podem ser tão
importantes quanto a justiça e a bondade para manter o poder e a estabilidade.

Embora as ideias de Maquiavel tenham sido frequentemente associadas


ao cinismo, ao imoralismo e ao autoritarismo, "O Príncipe" continua a ser uma
obra relevante e influente na filosofia política e na teoria do Estado. Suas ideias
sobre a natureza humana, a relação entre o governante e os governados, e a
importância da estabilidade política continuam a ser discutidas e estudadas até
os dias de hoje.

Em última análise, “O Príncipe” é uma obra que desafia noções


idealizadas e romantizadas de política, mostrando que manter a estabilidade e
a ordem em uma nação pode exigir o uso de meios considerados
inconsistentes com os ideais morais. É uma obra que clama por reflexão e
crítica, mas continua sendo uma importante referência para a compreensão do
poder e das dinâmicas políticas.

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