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A soberania se conquista através da astúcia e da traição,

conserva-se através da mentira e do homicídio, perde-se pela


lealdade e pela compaixão”. Neste resumo de O Príncipe de
Maquiavel, antigas estratégias serão vistas como muito atuais.

Este é um clássico que merece ser revisitado e estudado.

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ocidental dos últimos anos.

Quem foi Maquiavel?


Nicolau Maquiavel nasceu em 1469, na cidade de Florença. Foi
secretário político no regime republicano depois que os Médicis
perderam o poder. Nos tribunais, ele conheceu grandes líderes
de seu tempo, servindo como diplomata e orientando os
governantes florentinos na criação de um exército para
proteger a república.

Quando os Médicis voltaram ao poder em 1513, após


derrubarem a república, Maquiavel foi exilado. Durante este
período, escreveu O Príncipe, A Arte da Guerra e História de
Florença, além de romances históricos e poesias.
Como nunca mais recuperou o favor dos Médicis, morreu sem
nenhum tostão em 21 de junho de 1527.

Em que contexto Maquiavel


escreveu O Príncipe?

Em 1500, Florença era considerada uma cidade livre por ser uma
república e não uma monarquia. Entretanto, a família Médici
não tinha representação republicana e queria concentrar o
poder em si mesma.

 O que é família? Você já conhece a definição filosófica?

Em 1512, a cidade foi invadida, quando houve até mesmo


derramamento de sangue, e Maquiavel foi preso e exilado por
ser um oficial republicano. Ele escreveu O Príncipe em 1513,
durante seu exílio, mas sua obra não foi publicada até 1532,
cinco anos após sua morte.
Em 1513, conformou-se com o fato de que Florença seria
governada por um príncipe, e assim começou a buscar um meio
de se aliar ao novo governante para conseguir uma boa posição
e liberdade política.

Maquiavel não se tornou um conselheiro, mas deixou seu


legado. Este resumo de O Príncipe condensa suas principais
ideias. Ele mudou a forma de ver a política, tratando-a como uma
estratégia para a manutenção do poder.

Para entender melhor não apenas o resumo, mas a obra em si,


alguns conceitos-chave precisam ser esclarecidos primeiro.

Quem é “o Príncipe”?

Quando Maquiavel se refere aos príncipes e os aconselha, está


se referindo aos monarcas, governantes, inclusive reis. São todos
os que faziam parte de um governo hereditário concentrando
poder em si mesmos.

Seu livro foi escrito com a pretensão de se tornar um manual


para um governo eficiente e duradouro.

Será que o fim justifica os meios?

Esta frase não está escrita n’O Príncipe de Maquiavel, mas se


tornou uma interpretação comum da obra como um todo. Dizer
que os fins justificam os meios é dizer que, se for para manter
sua autoridade, o governante pode fazer o que quiser em seus
domínios.
O que é virtù e fortuna?

Virtù não é virtude no sentido clássico, no qual o homem luta


pela excelência e não tende nem aos vícios dos excessos nem
aos vícios dos defeitos, constituindo um meio termo.

Antes de ler o resumo de O Príncipe, é necessário entender


que virtù é a habilidade e a inteligência para governar. Ele deve
visar a harmonia e a paz em seu reinado.

Se um governante tem virtù, tem a capacidade de controlar e


superar as dificuldades impostas a seu governo, criando
estratégias para permanecer estável. Em alguns momentos
precisará ser piedoso e bom, em outros será severo e cruel.

A fortuna está relacionada à ideia de acaso e de sorte. Os


príncipes devem estar atentos à roda da fortuna, ora favorável
ao seu governo, ora um obstáculo.

Por esta razão, o príncipe precisa estar sempre atento,


desenvolvendo sua virtù para obter boas oportunidades mesmo
que a roda da fortuna não lhe seja favorável.

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Capítulos do livro O Príncipe de
Maquiavel
1. De quantas espécies são os principados e como são
adquiridos;
2. Os principados hereditários;
3. Os principados mistos;
4. A razão pela qual o reino de Dario III, ocupado por
Alexandre, não se rebelou contra seus sucessores
após a morte deste;
5. De que modo devem-se governar as cidades ou os
principados que, antes da conquista, possuíam leis
próprias;
6. Os principados conquistados com as próprias armas e
qualidades pessoais;
7. Os principados novos conquistados com as armas e
virtudes de outrem;
8. Dos que conquistaram o principado através do crime;
9. O principado civil;
10. Como medir as forças de todos os principados;
11. Os principados eclesiásticos;
12. Os tipos de milícias e os soldados mercenários;
13. Os exércitos auxiliares, mistos e próprios;
14. Os deveres do príncipe com suas tropas;
15. As qualidades pelas quais os homens, sobretudo os
príncipes, são louvados ou vituperados;
16. A generosidade e a parcimônia;
17. A crueldade e a clemência: se é melhor ser amado
do que temido, ou o contrário;
18. Os príncipes e a palavra dada;
19. Como evitar o desprezo e o ódio;
20. Se as fortalezas e muitas outras coisas cotidianas
usadas pelos príncipes sejam úteis ou inúteis;
21. Como um príncipe deve agir para ser estimado;
22. Dos secretários que acompanham o príncipe;
23. Como evitar os aduladores;
24. Porque os príncipes da Itália perderam seus
Estados;
25. Quanto pode a fortuna influenciar as coisas
humanas e como se pode resistir a ela;
26. Exortação para retomar a Itália e libertá-la dos
bárbaros.

Conhecer os capítulos é importante para ter uma visão geral da


obra, o que também facilita a leitura do resumo de O
Príncipe. Mesmo a leitura do índice, da contracapa, do prefácio e
do posfácio dos livros é uma técnica de leitura recomendada por
Mortimer Adler.

 Ele foi o autor de Como Ler Livros. Leia o resumo deste


clássico e descubra todas as outras técnicas que ajudam
na leitura.

 O Príncipe de Maquiavel está disponível em domínio


público no formato PDF. Lembre-se de que o resumo deve
ser lido após a leitura da obra completa, como uma forma
de estudo.

Resumo do livro O Príncipe de


Maquiavel
O Príncipe apresenta ao leitor os detalhes dos principados da
época. Maquiavel os dividiu em hereditários, civis ou
eclesiásticos. A intenção da obra é ensinar aos príncipes como
chegar ao poder e não perdê-lo, não perder seus territórios.

Maquiavel enfatizou a necessidade de se ter boas armas e boas


leis, além de comandar e defender os principados mais fracos
que estiverem em torno do território principal. Esta medida é
preventiva, pois fortalece a fronteira contra possíveis inimigos.

Os principados hereditários são mais fáceis de governar. Eles já


são vistos como sendo de famílias que têm direito ao poder.

Os principados novos são os primeiros de alguma família ou


são recentes porque foram conquistados por outros estados
que têm seus príncipes hereditários.

Neste caso, o principado é considerado misto.


“…as alterações nascem principalmente de uma dificuldade natural a
todos os principados novos, que consiste no fato de os homens
gostarem de mudar de senhor, acreditando com isso melhorar”.

Os principados novos encontram mais dificuldades para se


estabelecerem, pois precisarão de apoio para manter o
território conquistado.

Caso um cidadão particular se torne o príncipe de sua pátria, seu


governo será chamado de principado civil. Será necessário uma
grande astúcia, governando em benefício do povo e não dos
poderosos. Se o povo for hostil, este abandonará o príncipe.

“Aqueles que, somente pela fortuna, de cidadãos particulares se


tornam príncipes fazem-no com pouco esforço, mas com muito
esforço se mantêm. E não encontram dificuldade no caminho porque
passam voando por ele: mas todas as dificuldades surgem quando
chegam ao destino”.

Os principados eclesiásticos são adquiridos por virtude ou


pela fortuna e são mantidos pela religião. Permanecem fortes e
estarão sempre no poder.

Além disso, não precisam ser defendidos, pois são


considerados seguros e felizes. Nestes exemplos, o poder é
aumentado com mais armas e mais virtudes.

Como o príncipe deve governar para permanecer no


poder?

Para ganhar forças, o príncipe precisa considerar como


inimigos todos aqueles que se incomodaram ou se ofenderam
por terem sido conquistados. Será necessário reconquistar
regiões rebeladas.

Não oprimir o povo é a regra de ouro para se manter no


poder. Os súditos precisam ver o príncipe como alguém que
promove a segurança e a estabilidade. O príncipe sábio se
certificará de que o povo sempre precise do Estado e o veja
como o provedor de suas necessidades.

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Os problemas do Estado são como a tuberculose. Fácil de


tratar no início, mas difícil de detectar. Com o tempo, o
diagnóstico se torna mais fácil e o tratamento mais difícil. Por
esta razão, é necessário prevenir a ocorrência de problemas.

Outro passo da estratégia de Maquiavel é não mudar os


costumes, as leis e os impostos das províncias conquistadas por
povos de costumes iguais. No entanto, os novos governantes
terão dificuldades.

Para amenizá-las, será necessário habitar a província, dominar


as desordens e estabelecer colônias.

Se o príncipe dá a seus súditos uma boa condição de vida,


alimento e trabalho, ele é amado. E, se os súditos forem fiéis,
deverão ser amados. Os que não aceitarem o príncipe devem
ser empregados como conselheiros ou considerados inimigos.

Primeiro, o povo deve ser considerado amigo, e é melhor não o


oprimir. O príncipe deve estar preparado para ver os cidadãos
fugirem nas adversidades. Entretanto, se um povo espera o mal e
recebe o bem, ele é mais fiel do que aquele que espera apenas o
bem.

A liberalidade prejudica o príncipe se for usada de uma forma


conhecida por todos, levando-o a ser desprezado e odiado. O
que usa seu exército para saquear fortunas alheias é benquisto
pelo povo.

O miserável é considerado correto, pois gasta pouco e não


rouba seus súditos, sendo um defeito que colabora na
manutenção do poder.
O príncipe deve manter sua palavra?

Maquiavel diz que não deve, caso isso lhe cause prejuízo ou
quando a circunstância que o levou a prometer algo não exista
mais. Para amenizar a palavra quebrada, será necessário
desenvolver a habilidade de transformar o intelecto das
pessoas e dissuadi-las de promessas outrora feitas.

O príncipe deve ser como a raposa, que sabe como escapar das
armadilhas. Também deve ser como o leão, que sabe aterrorizar
seus inimigos. Quando ser raposa ou ser leão vai depender das
circunstâncias.

Não há razão para manter a palavra com os homens, porque


eles são maus e igualmente não mantêm sua palavra. E
mesmo que o príncipe mude, ele deve sempre parecer ter uma
palavra que é como uma rocha.

Como conquistar principados que já tinham suas


leis?

Em resumo, Maquiavel apresenta três formas:

 Arruiná-los como a estratégia mais segura;

 Habitá-los pessoalmente;

 Criar gradualmente um governo, deixando os súditos com


suas próprias leis.
Estados que possuíam outro príncipe governando são mais
facilmente conservados. Os que foram conquistados com
armas e fortunas de outros não são mantidos por causa da
corrupção do exército e da sociedade que não possui alicerce;
não é fortalecida.

Assim, estes governantes terão que se submeter à vontade de


quem lhes concedeu o Estado. É um caso em que o príncipe não
tem poder, pois quem comanda o Estado é o dono da fortuna.

Como usar a crueldade?

O governante deve agir difundindo a fama de ser cruel, já que


os príncipes, em geral, querem manter um ar de piedade.
Segundo Maquiavel, um bom príncipe não deve se preocupar se
seus súditos o considerem cruel, pois isso os manterá unidos e
fiéis.

Para sustentar a reputação de crueldade, ele cita os exemplos


dos governantes que permitiram o nascimento da desordem
por um excesso de piedade.

Os que alcançam o poder por meio de crimes não são


celebrados como homens de virtude. Mas Maquiavel
descreveu duas possibilidades para o uso da crueldade.

 Se o crime for de extrema necessidade, a maldade é


justificável se, depois disso, apenas o bem for praticado;
 Se o crime se perpetuar, o príncipe faltará com
escrúpulos.

O mal deve ser feito de uma só vez, e a bondade aos


poucos. Os homens se lembram dos benefícios recentes mais do
que de todo um mal infligido anteriormente.

A Itália do século XVI estava em péssimas condições por ter


confiado suas forças às milícias e aos mercenários.

O amor é preservado pelo vínculo de obrigação, que é


quebrado quando os homens o acham necessário. O medo
mantém os súditos unidos por causa do medo do castigo, que não
desaparece.

A importância do exército do príncipe

O objetivo principal do príncipe é cuidar da arte da guerra, de


sua organização e disciplina. Os que não pensam na guerra
perdem seu estado, os que pensam, tornam-se príncipes ou
aumentam seu poder.

A organização das tropas deve acontecer pensando


constantemente na guerra, sendo mantidas organizadas e
treinadas. Nem mesmo em tempos de paz um exército deve estar
ocioso.

A força de um principado deve ser medida de acordo com o


poder de seu exército, ou seja, pela força de suas armas.
Reinados com muita fortuna e muitos homens devem ter um
bom exército.

Se o príncipe não tiver bons fundamentos, ele cairá na


ruína. Poder e prestígio vêm das boas armas, que são uma
condição para que existam boas leis. Maquiavel não
recomenda o uso de tropas mercenárias e auxiliares, pois são
desunidas, ambiciosas e infiéis.

As boas tropas dependem da presença do príncipe e da


atuação como seu capitão. O perigo das tropas mercenárias é a
covardia, e o das auxiliares é seu valor.

As tropas auxiliares não são boas, porque são chamadas para


combater outro principado mais poderoso. Em caso de derrota,
o principado estará arrasado. Porém, se vencer, ficará refém
das tropas que o ajudaram.

As armas dos outros não só são danosas e prejudiciais, como


também são motivos de vergonha e constrangimento. O
principado não será seguro e estável se não estiver fundamentado
em suas próprias forças.

É melhor ser mais amado do que


temido ou mais temido do que
amado?
O príncipe deve aprender a não ser muito bom e piedoso,
assim como deve ser prudente e fugir dos vícios que o levariam
a perder seu poder.

De acordo com Maquiavel, é melhor que o príncipe seja mais


temido do que amado. Segundo ele, o governante temido
mantém o povo em paz, unido e leal. É preferível que um
indivíduo seja prejudicado do que todo o reino, por causa da
fraqueza de um príncipe piedoso.

Os homens traem facilmente suas amizades e são bons quando


lhes convém. A natureza humana é ingrata, inconstante e teme o
perigo.

“Os homens têm menos receio de ofender a alguém que se faça amar
do que alguém que se faça temer. […] Deve, porém, fazer-se temer
de modo que, se não atrair o amor, afaste o ódio”.

Mas ser temido não é o mesmo que ser odiado. O melhor


caminho é o do equilíbrio, com prudência e humanidade. É
inteligente não ter demasiada confiança nas pessoas. O
príncipe deve saber quando ser bom e quando ser mau,
punindo com leis ou com violência.

“… deve um príncipe viver com seus súditos de forma que nenhum


incidente, mau ou bom, faça variar seu comportamento: porque, vindo
às vicissitudes em tempos adversos, não terás tempo para o mal, e o
bem que fizeres não te será creditado, porque julgarão que o fizeste
forçado…”

Para afastar o ódio, é preciso ser dissimulado, demonstrando


um certo conjunto de habilidades, mesmo que o príncipe não
as tenha. Maquiavel explica que é necessário parecer tê-las.
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transformação cultural do mundo ocidental dos últimos
anos.

A postura do príncipe deve ser sempre a de um soberano com


cinco qualidades:

1. Piedoso;
2. Fiel;
3. Humano;
4. Íntegro;
5. Religioso.

Em caso de necessidade, agirá de forma contrária a estas


qualidades.

“… deves parecer clemente, fiel, humano, integro, religioso – e sê-lo,


mas com a condição de estares com o ânimo disposto a, quando
necessário, não o seres de modo que possas e saibas como tornar-te
o contrário”.

Para ser odiado pelo povo, será suficiente os bens de seus


súditos, seduzir suas mulheres e desonrá-los. Se nenhuma
dessas coisas acontecer, o povo viverá feliz.

Para ser amado, ele deve manifestar atos de grandeza e


coragem em ações irrevogáveis.
“Nada torna um príncipe tão estimado quanto realizar grandes
empreendimentos e dar de si raros exemplos”.

O povo também precisará de distrações, como festas e


espetáculos. O Estado deve contar com os melhores e ter bons
ministros. É imprescindível que haja confiança mútua entre o
príncipe e seus ministros para a manutenção do poder.

Os conselheiros devem ser sábios e devem falar somente se


solicitados. O príncipe, por sua vez, deve escutá-los e manter a
prudência.

Mas os conselheiros não podem receber muito poder, pois o povo


estará confuso sobre quem é seu senhor. A França, segundo
Maquiavel, teve vários barões locais que faziam com que o rei
tivesse pouca autoridade.

“… aquele que não detecta no nascedouro os males de um principado


não é verdadeiramente sábio”.

Em suma, o príncipe deve estar constantemente atento quanto


às armas, evitar a inimizade do povo e saber se defender dos
grandes. Ao seguir estas instruções, seu principado não será
perdido.

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Críticas a Maquiavel
Olavo de Carvalho, em seu livro Maquiavel ou A Confusão
Demoníaca, apontou severas críticas. A principal delas consiste
na demonstração de que Maquiavel incorreu em uma paralaxe
cognitiva.

 Para entender exatamente o que é paralaxe cognitiva, leia o


artigo específico sobre este assunto.

Segundo o professor, Maquiavel não sabia quais seriam os meios


para chegar ao poder, mas discursava como se soubesse. Sua
verdadeira história aponta que ele sempre apostou no lado
perdedor. Maquiavel nunca conseguiu estar ao lado dos que
efetivamente venceram.

Escrevendo em particular sobre O Príncipe, Maquiavel disse:

“Não digo jamais aquilo em que creio, nem creio naquilo que digo – e,
se descubro algum pedacinho da verdade, trato logo de escondê-lo
sob tantas mentiras que se torna impossível encontrá-lo”.
Ele não é, entretanto, nem um simples imoralista vulgar, nem
um realista científico, como pensam seus admiradores
modernos. Nem pode ser considerado um límpido patriota,
como os intérpretes italianos o celebram.

Ao longo do século XVI, a obra-prima de Maquiavel, O


Príncipe, tornou-se extraordinariamente popular. No entanto,
seu autor passou a ser visto como um exemplo imoral.

Maquiavel e o adjetivo maquiavélico tornaram-se sinônimos de


ações ruins, que fundamentam a tirania estatal. Para esta defesa,
a justificativa era a necessidade de manter a ordem, a
segurança e a prosperidade.

Em 1564, no Concílio de Trento, O Príncipe foi até mesmo


incluído na lista dos livros proibidos pela Igreja Católica.

Maquiavel era apenas um realista?

No final do século XVI, Maquiavel passou a ser visto como um


filósofo com qualidades intelectuais admiráveis. Os leitores
procuraram ver na obra uma descrição da tirania dos Estados em
vez de um incentivo à mesma.

O Príncipe de Maquiavel é um clássico que provocou diferentes


reações e interpretações.

Mas deve ser entendido que Maquiavel levou em consideração


apenas o comportamento eventual de governantes da época.
Usou isto como um modelo ao escrever e, por esta razão, sua
obra não é um retrato integral da realidade.

Seus escritos influenciaram governos posteriores. Ditadores


modernos se inspiraram em Maquiavel. Três exemplos notórios
foram Mussolini, Hitler e Stalin.

 Onde Hitler morreu? Na Alemanha ou na Argentina?

Todos sustentaram uma ditadura em seus países, mas


exacerbaram o nacionalismo, a defesa e o fortalecimento de
seus estados e também adotaram uma conduta imoral e tirania
para permanecer no poder.

 Entenda a ditadura venezuelana.

O Príncipe é um discurso, não uma descrição da


realidade

O Príncipe consiste em um projeto sem meios políticos para sua


concretização. Impossível de ser realizado, a única forma de se
propagar era através da escrita.

Nas palavras do Professor Olavo de Carvalho:

“O que este [Maquiavel] lança nas águas do futuro é apenas o anzol


do discurso, para trazer à tona a nova era que jaz no fundo do mar
das possibilidades”.

De acordo com Eric Voegelin, Maquiavel era um realista


honesto. Não disfarçava a realidade do poder e tirania dos
estados usando uma nova doutrina que buscava uma nova
realidade.

Olavo de Carvalho, entretanto, entendeu que Maquiavel não


encobria de fato a realidade da tirania dos estados, mas queria
outra realidade.

Esta seria a prosperidade e a segurança dos principados


através de ações de repressão reformuladas. Portanto,
discorreu sobre possíveis práticas que os governantes
deveriam adotar. Por exemplo:

 Acentuação do poder armado;

 Simulação dos fatos perante o povo;

 Controle e defesa dos territórios vizinhos;

 Treinamento de exércitos.

Devido a estas instruções, Olavo de Carvalho considera


Maquiavel como um pseudo-realista. Maquiavel critica
duramente os governos italianos e usou seus escritos para
tentar influenciar o curso dos acontecimentos políticos.

Ele não sabia quais seriam as formas de governos que


estariam em vigor no futuro, mas escreveu dois livros
abordando dois sistemas diferentes:

 O Príncipe dirige-se aos principados;


 Discurso Sobre a Primeira Década de Tito Lívio dirige-se
às repúblicas.

Olavo de Carvalho entendeu que Maquiavel os usou para dar


instruções e fomentar uma Terceira Roma, julgada por ele
como mais adequada.

As três Romas de Maquiavel

Maquiavel dividiu a história de Roma em três períodos.

A primeira Roma diz respeito ao antigo Império Romano, que


entrou em decadência porque o povo e os governantes teriam
permitido o crescimento da religião cristã.

A segunda Roma, por ser religiosa, estava condenada ao


fracasso. Por causa do papa e dos cristãos, ela não estava
propensa à guerra. A consequência é que não conquistou
ordem territorial e poder.

A terceira Roma, idealizada por Maquiavel, seria capaz de


conquistar, mesmo que precisasse instrumentalizar a religião
para o Estado. Visando estas conquistas, ele deu instruções
para que os príncipes governassem, treinassem seus exércitos,
investissem em armas e leis, e tratassem seus governados.

“Maquiavel foi também um idealista utópico, e isto não só no seu


pensamento político, mas na ausência quase completa de ligação
consciente entre esse pensamento e a sua experiência pessoal mais
direta e visível. O aparente realismo com que ele aceita as limitações
da ação humana e descreve as misérias da política encobre não só o
utopismo profético da Terceira Roma mas a absoluta incapacidade
que o inventor dela tem de examinar sua invenção desde o ponto de
vista da sua própria posição real na existência”.

A contradição de Maquiavel

Maquiavel instruiu os cidadãos comuns e civis a se tornarem


governantes. Obviamente, ele mesmo não praticou o que
recomendou, porque não chegou ao poder. E caso tenha
tentado, não teve êxito, o que mostra que seu ensinamento é
falho.

Maquiavel levou uma vida como um funcionário público de


baixo escalão que perdeu seu posto por causa da publicação e
suas obras, e também foi exilado.

Outra contradição notória está em uma de suas instruções. Ela


envolve o problema da paralaxe cognitiva.

Os príncipes deveriam matar aliados-chave que os tivessem


ajudado a chegar ao poder para evitar traições, já que eles
poderiam fazer o mesmo por outros.

Ora, o próprio Maquiavel é o autor do plano que ajuda o


príncipe a governar e, de acordo com o que ele mesmo
escreveu, deveria ter sido um dos primeiros a morrer se o
príncipe levasse a sério seus conselhos.

Anticristianismo em Maquiavel
Maquiavel pode ser considerado um anticristão. Em O
Príncipe ele ignora a inspiração divina de Moisés, atribuindo
sua vitória contra o faraó e a conquista da Terra Prometida à
força das armas que possuía, ignorando o armamento superior
do exército egípcio.

Maquiavel também trata o cristianismo como um obstáculo para


o desenvolvimento da Itália e de sua chamada Terceira Roma.
Esta é mais uma razão pela qual ele não é apenas um realista,
um observador, mas um patriota.

Toda ciência política que partiu de Maquiavel é essencialmente


a negação do conhecimento clássico, que via o Estado como
instrumento do bem comum e a figura do governante como o
primeiro servidor deste princípio, comprometido com a ordem
justa, à luz da lei natural.

É imoral por causa da forma como ensina os governantes a se


manterem no poder por meio da repressão, assassinato,
dissimulação, crueldade e malícia. No entanto, ele não deixa de
ser um cientista político, pois relaciona fatos históricos com o
presente e ideias de realidade futura.

“Consciente do caráter radicalmente anticristão de sua utopia,


Maquiavel, nos últimos instantes, confessa seus pecados, recebe o
sacramento e morre no seio da Igreja, mas sem ter desmentido
publicamente uma só de suas palavras”.

De acordo com Olavo, os escritos de Maquiavel visam conduzir


a uma transição política, sendo esta uma transição “para o mal
consciente, refletido, planejado e transfigurado em obra de
arte”.

Maquiavel adaptado ao marxismo cultural

Em sua crítica, Olavo considera que Gramsci foi quem melhor


compreendeu Maquiavel. Ele viu claramente que “o Príncipe”
não era um indivíduo, mas uma elite revolucionária capaz de
controlar e conquistar seus adversários impotentes.

O maquiavelismo está presente em jornais e canais de TV de


todo o país, não apenas glorificando os ídolos da revolução
comunista, mas demonizando seus adversários.

Um exemplo notório foi o Foro de São Paulo, que foi ocultado a


fim de passar despercebido. As atrocidades genocidas dos
regimes comunistas deixaram de ser noticiadas
sistematicamente.

No mesmo período, os marxistas deram total apoio a todas as


iniciativas de “revolução cultural” politicamente
correta: abortismo, gayzismo, cotas raciais, liberação de drogas,
etc.

Fonte: https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/resumo-o-principe-maquiavel

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