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Apreciação crítica da obra “O príncipe” de Nicolau Maquiavel

Sumário
Introdução.................................................................................................................................1
Ideias centrais............................................................................................................................2
Principados............................................................................................................................2
Principados hereditários......................................................................................................2
Principados Mistos................................................................................................................2
Governo de cidades/principados que, antes de serem ocupados, viviam com leis
próprias..................................................................................................................................3
Principados novos conquistados com as armas próprias e virtuosamente......................3
Principados novos conquistados com as armas e fortuna dos outros..............................3
Aqueles que chegaram ao principado por meio de crimes................................................4
Principados civis....................................................................................................................4
Principados eclesiásticos.......................................................................................................5
Tipos de milícias, soldados e mercenários..........................................................................5
Soldados auxiliares, mistos e próprios................................................................................6
Competências de um príncipe acerca de suas tropas........................................................6
Coisas pelas quais os homens, especialmente os príncipes, são louvados ou vituperados
.................................................................................................................................................6
Liberalidade e parcimônia...................................................................................................7
Crueldade e piedade.............................................................................................................7
Evitando o desprezo e o ódio................................................................................................8
Para ser estimado..................................................................................................................8
A fortuna................................................................................................................................9
Conclusão...................................................................................................................................9
Bibliografia..............................................................................................................................13

Introdução
A obra "O príncipe" de Nicolau Maquiavel trata das teorias políticas de Nicolau
Maquiavel, o livro é reconhecido como um dos primeiros textos sobre filosofia política, nele,
o pensador italiano discursa sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como
deveriam ser.
Nicolau Maquiavel escreveu "O príncipe" em um período no qual a península itálica
era dividida em diversos estados independentes entre si, a obra foca na possibilidade de "um
novo príncipe" que poderia unificar a Itália. Maquiavel observou um possível candidato para
tal cargo quando Lourenço II de Médici tornou-se Senhor de Florença em 1513, depois, em
1516 Lourenço convenceu o Papa Leão X (tio de Lourenço) a torná-lo Duque de Urbino.
Diante disso, Maquiavel decidiu iniciar a sua obra com uma carta introdutória para Lourenço
II de Médici, de modo a tentar persuadi-lo a tomar esse cargo de príncipe.
O autor, Nicolau Maquiavel (Niccolò di Bernardo dei Machiavelli), foi um teórico
político, diplomata, filósofo e escritor da Itália Renascentista, mais conhecido pela sua obra
"O príncipe". Nasceu em Florença em 3 de maio de 1469 e morreu na mesma cidade em 21 de
junho de 1527. Por muitos anos ele foi um funcionário importante da República de Florença,
encarregado de assuntos diplomáticos e militares. Além de "O príncipe", também escreveu
comédias, músicas e poemas. Presenciou na sua vida, muitos conflitos políticos-militares na
península itálica entre as cidades-estados italianas daquele período. Na sua carreira, envolveu-
se frequentemente com política e assuntos militares, indubitavelmente, as experiências que
teve na sua vida profissional forneceu-lhe os conhecimentos que inseriu em "O príncipe".

Ideias centrais
Principados
Segundo a obra, todos os Estados, todos os governos que tiveram e têm autoridade
sobre os homens, foram e são repúblicas ou principados. Maquiavel separa os principados em
duas categorias: os hereditários, cujo governo é composto por indivíduos de sangue nobre há
muito tempo; ou novos.
Principados hereditários
Sobre os principados hereditários, diz o teórico político, seria mais fácil preservar
Estados hereditários, afeiçoados à linhagem de seu príncipe, do que seria os novos, pois basta
não desvalorizar os costumes dos antepassados, saber lidar com os acontecimentos fortuitos,
de modo que, se tal príncipe for capaz de fazer tais coisas ordinariamente, sempre se manterá
no poder, exceto se uma força extraordinária e excessiva de tal governante o prive do seu
governo, mas com a queda do príncipe, o seu usurpador torna-se o novo príncipe daquele
Estado, então a mudança estabeleceria a base para outro Estado.
No mundo atual, as monarquias e outros tipos de principados
hereditários da época de Maquiavel já não possuem o poder que uma vez tiveram. Portanto, os
pensamentos de Maquiavel acerca desse tipo de governo, hoje, são menos relevantes. Esses
tipos de governos entraram em declínio desde a época do italiano, notavelmente após as
revoluções burguesas, que agiram contra o absolutismo monárquico.
Principados Mistos
Para Maquiavel, os principados mistos ocorrem quando uma província se anexa a um
Estado hereditário já existente, para tal anexação, é necessário o uso de forças armadas e o
auxílio dos habitantes da província. Esse auxílio vem da crença do povo de que uma mudança
de senhor melhoraria as suas condições de vida, isso os motiva a levantar armas contra os seus
senhores atuais, possibilitando a tomada da província por um novo governante.
Contudo, diz o escritor, esses habitantes se enganam, percebem eventualmente que
pioraram a situação. Isso ocorre, pois, o novo príncipe possui uma necessidade natural e
ordinária de ofender os novos súditos com seus soldados e com outras injúrias lançadas sobre
a província recém conquistada. Assim, o novo príncipe tem como inimigos todos aqueles que
se ofenderam com a ocupação da província e, além disso, não pode manter como amigos os
que o puseram ali, uma vez que é impossível satisfazer os habitantes da maneira que eles
haviam imaginados e também não pode aplicar sobre eles corretivos violentos, uma vez que
está obrigado a eles.

Governo de cidades/principados que, antes de serem ocupados, viviam com leis próprias
Os Estados que eram conquistados, estavam habituados a viver livremente com as
suas próprias leis, após serem submetidos por um príncipe podiam, para Maquiavel, serem
lidados de três maneiras possíveis pelo novo governante, este poderia: i) destruir os Estados
conquistados; ii) ir ocupá-los pessoalmente; iii) permitir que eles vivam com suas leis,
arrecadando um tributo e criando em seu interior um governo de poucos, que permaneceriam
aliados do novo governante, pois sabem que precisam manter a amizade com o príncipe para
se manterem no poder.

Principados novos conquistados com as armas próprias e virtuosamente


Em um principado completamente novo, onde existe um novo príncipe, encontra-se
menor ou maior dificuldade de mantê-lo, dependendo de o quão virtuoso é quem o conquiste.
A ascensão de um indivíduo a príncipe pressupõe virtude ou fortuna, uma ou outra
dessas duas razões pode aliviar muitas dificuldades. Observa-se que aquele governante que se
apoia menos na sorte é capaz de reter o poder mais seguramente. Também pode gerar mais
facilidade de manter o poder o fato de um príncipe não possuir outros Estados, pois isso o
obriga a habitá-lo pessoalmente e, consequentemente, concentra o seu poder.
Os indivíduos que, por suas virtudes, tornam-se príncipes, conquistam o
principado com dificuldade, mas o conservam com facilidade. Os obstáculos que se
depararem no processo de conquista do principado, em parte nascem das novas disposições e
sistemas governamentais que são forçados a serem introduzidos para fundar o novo Estado e
estabelecer a sua segurança. Maquiavel ainda ressalta, não há coisa mais difícil de se
conservar, nem mais duvidosa a conseguir, perigosa de manejar, que tornar-se chefe de um
novo principado e introduzir novas ordens.
O novo príncipe possui como inimigos todos
aqueles que se beneficiavam com as velhas instituições e encontra fracos defensores entre
aqueles que obtém vantagens das novas ordens. Segundo o teórico político, essa fraqueza
surge, parte por medo dos adversários que ainda têm as leis a favor de seus interesses, parte
pela falta de crença dos homens no novo principado. Quando os inimigos do príncipe
encontram uma oportunidade de atacar, realizam tal com vigor, nesses momentos de ataque, o
Estado pode se encontrar à mercê de fracos defensores. Para determinar se esses
inovadores vão ter sucesso, diz Maquiavel, é preciso examinar se esses se baseiam sobre
forças suas próprias ou se dependem de outros, em outras palavras, se para concretizar a sua
obra forçam tal, ou se precisam rogar pela força de outros. Pois, quando dependem de si
próprios e podem forçar a conquista do poder, raramente falha, por outro lado, se precisam
pedir pela força de outros, sempre falham.
Principados novos conquistados com as armas e fortuna dos outros
Os indivíduos que somente por fortuna se tornam príncipes, conseguem ascender a tal
posição com pouca fadiga, mas, nesses casos, é preciso muito esforço para se manterem no
poder. Esses são aqueles que são concedidos um Estado, ora por dinheiro, ora por graça
daquele que lhes concedeu o Estado. Todavia, isso significa que eles estão submetidos à
vontade e à fortuna de quem os concedeu o Estado, duas coisas extremamente volúveis e
instáveis. Além disso, geralmente esses indivíduos não sabem e não podem manter a sua
posição: não sabem, pois, se não homens inteligentes e de virtude, é improvável que, saibam
comandar; não podem, pois não têm forças que lhes possam ser amigas e fiéis, afinal, elas
seriam, acima de tudo, fiéis à pessoa que concedeu o Estado a esse novo príncipe.
Maquiavel aponta também que, os Estados que surgem
rapidamente, não podem ter perfeição em seus alicerces e em sua estrutura. Dessa forma, a
primeira adversidade os extingue; exceto aqueles que, se tornaram repentinamente príncipes e
forem de tamanha virtude que saibam como se preparar para conservar aquilo que a fortuna
lhes presenteou, formando as bases que deveriam ter sido estabelecidas antes de se tornarem
príncipes.
Aqueles que chegaram ao principado por meio de crimes
O pensador italiano considera como principados obtidos por meio de crimes: quando
por qualquer meio criminoso ou nefário um ascende ao principado, ou quando um cidadão se
torna príncipe de sua pátria pelo apoio de seus concidadãos.
Maquiavel faz uma observação ao tratar desses indivíduos, segundo ele, ao ocupar um
Estado, o conquistador deve executar todas as ofensas que lhe sejam necessárias, fazendo-as
todas a um tempo só para não precisar renová-las a cada dia e poder, então, dar segurança aos
homens e conquistá-los com benefícios.
Aqueles que não fizerem isso, tem sempre necessidade de se manter em alerta, sendo
incapaz de confiar em seus súditos, pois que estes também não confiam nele diante das novas
e contínuas injúrias. Portanto, as ofensas devem ser feitas todas de uma só vez, de modo a
impactarem menos pessoas e, assim, ofender menos. Dessa forma, conforme os benefícios são
feitos aos poucos, serão mais bem apreciados.
Principados civis
Principados civis ocorrem quando um cidadão, com o favor de seus concidadãos,
torna-se príncipe de sua pátria. Não é necessária demasiada virtude ou fortuna, mas uma
astúcia afortunada. Segundo Maquiavel, um se ascende a esse principado ora com o favor do
povo ora com o favor dos grandes. Porque em toda cidade se encontram estas duas tendências
diversas e isso resulta do fato de que o povo não quer ser mandado nem oprimido pelos
poderosos e estes desejam governar e oprimir o povo. Dessas duas vontades conflituosas
nascem um de três efeitos: ou principado, ou liberdade, ou desordem.
Para o pensador italiano, o principado em questão é constituído
ou pelo povo ou pelos grandes, conforme uma ou outra destas partes tenha oportunidade.
Quando os grandes observam que não lhes é possível resistir ao povo, começam a emprestar
prestígio a um dentre eles e o fazem príncipe para poderem, sob sua sombra, dar expansão ao
seu apetite. Quando o povo, também, observa que não podem resistir aos poderosos, se volta a
um cidadão e o faz príncipe, para se defender com a autoridade do mesmo. O indivíduo que
chega ao poder com a ajuda dos grandes se mantém com mais dificuldade do que aquele que
ascende ao cargo com o apoio do povo, pois o príncipe se encontra rodeado que parecem seus
iguais, por isso, não pode governar nem manobrar como bem entender. Por outro lado, aquele
que chega ao principado com o favor popular, ao seu redor não se tem ninguém ou são
pouquíssimos que não estejam preparados para obedecer. Além disso, não é possível
honestamente satisfazer os grandes sem causar injúria aos outros, mas sim pode-se fazer bem
ao povo, eis que o objetivo deste é mais honesto daquele dos poderosos, uma vez que estes
desejam oprimir enquanto o povo apenas quer não ser oprimido. Todavia, um príncipe jamais
pode estar garantido de que não haverá inimizade do povo, dado que são muitos; enquanto
dos grandes, um príncipe pode se assegurar porque são poucos. Para Maquiavel, o pior que
pode um príncipe esperar de um povo hostil é ser por ele abandonado, eventualmente a
Revolução Francesa e a Revolução Russa de 1917 demonstraram que um povo hostil também
é capaz de provocar a destruição do principado. O pior que pode se esperar dos poderosos
inimigos, diz ele, não só deve temer ser abandonado por eles, como também deve recear que
os mesmos se lhe voltem contra, pois, se eles tiverem mais visão e maior astúcia, terão
sempre tempo para salvar-se e procuram adquirir prestígio junto àquele que esperam que
venha a vencer. Logo, existem muitas desvantagens e vantagens entre esses dois tipos de
principados civis. Para
esclarecer, Maquiavel aponta que os grandes devem ser considerados em dois grupos
principais: aqueles que procedem por forma a se obrigarem totalmente à tua fortuna e aqueles
que não. Os que se obrigam, devem ser considerados e amados pelo príncipe, enquanto os que
não se obrigam devem ser encarados de duas maneiras: se fazem isso por fraqueza moral ou
por natural defeito de espírito, o príncipe deve se servir deles, principalmente, pois são bons
conselheiros, porque na prosperidade servir-se deles honrará o príncipe e na adversidade não é
necessário temê-los; se fazem isso, ardilosamente, então, não se obrigam pois buscam tomar o
poder, pensam mais em neles próprios do que no príncipe, esses, diz Maquiavel, o príncipe
deve guardar-se, temendo-os como se fossem inimigos declarados, porque sempre, na
adversidade, ajudarão a arruiná-lo.
O teórico político florentino conclui que, a um príncipe, é necessário ter
o povo como amigo, pois, de outro modo, não há opções na adversidade. Diante do provérbio
de que “aquele que se apoia no povo firma-se na lama”, Maquiavel diz que tal só é verdade
quando um cidadão estabelece bases sobre o povo e imagina que o mesmo o libertará quando
oprimido pelos inimigos ou magistrados. O autor defende que, sendo um príncipe que se
apoia no povo, que possa mandar e seja um homem corajoso, que não esmoreça nas
adversidades, que possua armas e mantenha com seu valor e suas determinações fortalecendo
o povo todo, jamais sentirá por ele enganado e constatará ter estabelecido bons fundamentos.

Principados eclesiásticos
Os principados eclesiásticos, são adquiridos ou pela virtude ou pela fortuna, e sem
uma e outra ainda se conservam, pois, são sustentados pelas ordens já estabelecidas na
religião. Essas religiões se tornam tão fortes de tal modo que mantêm os seus príncipes no
poder. Esses principados são os únicos que possuem Estados e não os defendem, os únicos
que possuem súditos e não os governam. Os Estados não são tomados, por não serem
defendidos em primeiro lugar; os súditos, por não serem governados, não se preocupam, não
pensam e nem podem se separarem. Apenas estes principados, diz Maquiavel, são felizes e
seguros. Contudo, por eles serem dirigidos por razão superior, fora da concepção humana, o
pensador florentino resolve não dissertar muito sobre eles, afinal, nas suas palavras: “seria
obra de homem presunçoso e temerário”.
Tipos de milícias, soldados e mercenários
Segundo Maquiavel, os principais fundamentos de um Estado, tanto um novo quanto
um velho ou um misto, são boas leis e boas armas. Afinal, não pode haver boas leis onde não
existem boas armas e onde existem boas armas convém que haja boas leis. As armas com as
quais um príncipe defende o seu Estado, ou são suas próprias ou são mercenárias, ou
auxiliares, ou mistas.
Diz o escritor florentino, um Estado que se apoia nas tropas mercenárias,
jamais estará firme e seguro, porque elas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas e infiéis.
Elas são assim, pois, elas não prezam outra coisa senão a que as mantenha em campo, a não
ser dinheiro, mas não é o suficiente para fazer com que queiram morrer pelo principado.
Acrescenta, Maquiavel, que, essas tropas são de péssima qualidade. Pois, os capitães
mercenários podem ser homens excelentes, ou não: se forem, não são confiáveis devido à
aspiração deles de grandeza, visarão abater o príncipe; se não forem, certamente não serão
capazes de defender o Estado. Ressalta o autor, que um príncipe deveria ir
pessoalmente com as tropas e exercer as funções do capitão. A república deve mandar seus
cidadãos para servir nas tropas e, quando enviar um que não se mostre valente, deverá
substituí-lo, quando um se mostrar muito ambicioso, deve ser detido com as leis para que não
ultrapasse limites. Nos dias atuais, ainda vale o pensamento de
Maquiavel de que um Estado necessita de boas forças armadas para aplicar boas leis.
Contudo, hoje, os líderes estatais não assumem o papel de capitão para as suas tropas, as
forças armadas na maioria dos países atuais consistem em hierarquias de comando formadas
por cidadãos do Estado, os que estiverem mais ao topo da hierarquia possuem uma relação
mais próxima com o líder do Estado. Os governos do mundo moderno ainda mandam os seus
cidadãos ao serviço militar, todavia, variando de país para país se esse serviço militar é
obrigatório ou não.
Soldados auxiliares, mistos e próprios
As tropas auxiliares, são outra espécie de força armada que Maquiavel despreza em
seu livro, são aquelas que se apresentam quando um príncipe chama um poderoso para que,
com seus exércitos, venha para lhe ajudar e defender. Essas tropas podem ser favoráveis para
o seu respectivo principado, mas, para quem as chame, são geralmente prejudiciais, uma vez
que: perdendo o conflito, o Estado é arruinado; vencendo o conflito, o príncipe se prende a
esse outro Estado que o auxiliou. Por isso, diz ele, um príncipe prudente sempre evitará
recorrer a essas tropas e voltará às suas próprias forças, preferindo perder com as suas a
vencer com as de outrem.
Competências de um príncipe acerca de suas tropas
Para o pensador florentino, um príncipe deveria ter como foco a guerra, a organização
e a disciplina do Estado. Pois, essas seriam as coisas que mantém aqueles no poder, que
ascendem homens de condição privada ao posto de príncipe. Quando os príncipes pensam
mais em outros assuntos além das armas, perdem o Estado. Um exemplo disso pode ser
encontrado na história do Japão, quando Kukai, um homem erudito que fundou a escola
Shingon de budismo e inventou uma nova forma de escrita que proporcionou um aumento da
importância da arte e da literatura, a realeza do Estado japonês do período acabou pensando
demais sobre tais matérias, negligenciando a administração do território e das forças armadas.
As pessoas começaram a contratar samurais para protegê-los, uma vez que o Estado não os
protegia, eventualmente, os samurais se tornaram mais importante que o Estado, tomando o
poder da realeza, criando o Xogunato, que submeteu a autoridade do imperador.
Coisas pelas quais os homens, especialmente os príncipes, são louvados ou vituperados
Segundo Maquiavel, os príncipes devem saber, a fim de se manter, aprender a usar ou
não da bondade, segundo a necessidade. Todos os homens, principalmente príncipes, quando
analisados, adquirem notoriedade por alguns daqueles atributos que lhes acarretam ora
reprovação ora louvor. Portanto, um príncipe deve saber a cultivar virtudes, que incentivem a
admiração do povo acerca do governante delas; e deve evitar os vícios que prejudiquem o
respeito que o povo tem por ele ou que dificultam a manutenção do Estado.
Liberalidade e parcimônia
A liberalidade, isto é, ser generoso, é uma das características que podem ser atribuídas
a um príncipe, para Maquiavel, é bom para um espaço ser considerado liberal. No entanto, a
liberalidade, usada de maneira que se torne conhecida por todos, é prejudicial, pois, para
permanecer conhecido como liberal, um não pode esquecer de qualquer forma de
suntuosidade, assim, um príncipe que se encontre em tal situação, consumirá em ostentação
todas as suas finanças, provocando a necessidade de aplicar maiores impostos sobre a
população e de fazer qualquer coisa para obter dinheiro. Consequentemente, o povo acabaria
odiando tal príncipe e empobrecendo-o, o príncipe seria, então, reconhecido como miserável.
Então, Maquiavel diz que não é possível usar essa qualidade de
liberal sem sofrer danos, tornando tal característica conhecida, um príncipe deve ser prudente,
não se importando com o atributo de miserável, uma vez que, ao passar do tempo, será
considerado mais liberal do que miserável. Maquiavel defende que o povo eventualmente
perceberá que a parcimônia do príncipe é suficiente e, então, poderá este último realizar
empreendimentos sem ofender o povo. Portanto, defende o teórico político italiano, um
príncipe deve gastar pouco para não precisar aplicar impostos maiores sobre os seus súditos,
para poder se defender, para não se empobrecer, para não precisar se tornar rapinante, não se
importando de incorrer na fama de miserável, pois é um daqueles efeitos que lhe permitem
reinar. Todavia, não é correto aconselhar àqueles que governam
a gastarem pouco, afinal, às vezes é necessário gastar mais para garantir algo essencial para o
Estado, como serviços de saúde e infraestrutura, por exemplo. O conselho de Maquiavel
justifica o comportamento de príncipes avarentos e corruptos: aqueles que economizam
excessivamente em coisas do Estado para poder acumular riquezas e gastá-las em luxos
particulares.
Crueldade e piedade
Elaborando mais seus pensamentos acerca de características atribuídas a príncipes,
Maquiavel diz que, um príncipe deve desejar ser visto como piedoso, porém, não deve temer
ser visto como cruel, desde que a sua crueldade mantenha seus súditos unidos e leais.
Ademais, um príncipe precisa evitar ser excessivamente piedoso, pois se o for, não será capaz
de controlar as desordens das quais resultam mortes e furtos.
Esse conflito entre piedade e crueldade, segundo o autor italiano,
levanta a questão “É melhor ser temido ou amado pelos seus súditos?”, uma importante
questão associada a manutenção do poder de um príncipe. Como não é tarefa simples ser
piedoso e cruel ao mesmo tempo, um príncipe deve optar por ou ser cruel ou ser piedoso. Para
Maquiavel, a resposta é clara, é mais seguro ser temido do que amado, uma vez que os seres
humanos são, para ele, geralmente ingratos, volúveis, mentirosos, tementes do perigo,
ambiciosos de ganhos; e, são somente fiéis e favoráveis ao príncipe quando se encontram
dependentes dele para viver bem, contudo, assim que essa dependência ao soberano se cessa,
revoltam-se. Portanto, Maquiavel conclui que o príncipe deveria,
sempre que não for capaz de conquistar o amor, que apenas fuja do ódio, mesmo porque
podem muito bem coexistir o ser temido e não ser odiado. Acrescenta ele que, quando o
príncipe tem sob o seu comando uma multidão de soldados, então não é necessário se
importar com a fama de cruel, pois é por meio da temeridade que um se mantém um exército
unido e disposto a realizar algum objetivo. Assim, é essencial para o escritor renascentista
que, para a manutenção do poder, é necessário que o príncipe saiba fazer-se ser temido caso
não seja capaz de conquistar o amor do povo.
Evitando o desprezo e o ódio
O teórico político italiano aconselha, de forma geral, que um príncipe deve evitar
aquelas circunstâncias que possam fazê-lo odioso e desprezível. Segundo ele, O príncipe será
odiado pelos seus súditos, principalmente, se for rapace e usurpador dos bens e das mulheres
dos súditos, portando deve se abster de tais coisas; e, contanto que se conserve a honra à
universalidade dos homens, estes vivem felizes ,de modo que o príncipe só precisará combater
a ambição de poucos. Ademais, o príncipe será considerado desprezível se ele for :volúvel,
leviano, efeminado, pusilânime e irresoluto. Então, o príncipe, para evitar tais características,
deveria se empenhar nas suas ações de maneira que nelas se reconheça grandeza, coragem,
gravidade e fortaleza, em relação às ações privadas do súditos, deveria buscar fazer a sua
palavra ser irrevogável; deveria, também, manter-se no poder de maneira que ninguém seja
capaz de considerar em enganá-lo ou traí-lo.
No plano político atual, tais estratégias de evasão ao ódio e ao desprezo ainda
prevalecem, políticos sempre buscam tornar a sua imagem pública similar a estes padrões de
Maquiavel, então tentam se mostrar para o povo como pessoas generosas, sisudas, vigorosas,
corajosas e solucionadoras. Fazem isso a fim de ganhar a afeição do povo.
Maquiavel defende que príncipes que seguem tais parâmetros são muito bem vistos e,
é difícil conspirar contra indivíduos tão bem vistos. Para ele, um príncipe deve ter somente
dois temores: conflitos internos, de parte de seus súditos; e conflitos externos, de parte de
potentados estrangeiros.
Um príncipe deve se defender de conflitos externos, nas palavras do
teórico político, “com boas armas e bons amigos”, ressalta ele, também, que tendo boas
armas, um príncipe sempre terá bons amigos. Contra conflitos internos, um príncipe prudente
se assegura ao fugir do ódio e do desprezo, além de manter o povo satisfeito.
Para Maquiavel, uma das melhores soluções contra as
conspirações é, simplesmente, não ser odiado pela maioria. Do lado do conspirador, diz o
autor sucintamente, existe apenas medo, ciúme, suspeita de castigo que o atordoa; porém, do
lado do príncipe existe a majestade do principado, as leis, as barreiras dos amigos e do Estado
que o defendem. Além disso, acrescenta que, com a benevolência popular, é improvável que
surjam indivíduos tão temerários que venham a conspirar. Assim, Maquiavel conclui que um
príncipe deve dar pouca importância às conspirações se ele é benévolo ao povo; mas, quando
este o odeia e lhe seja adverso, deve temer tudo e a todos. Então, principados bem
organizados e os príncipes hábeis que os governam, procuram sempre não desesperar os
poderosos e satisfazer o povo.
Para ser estimado
Visto que, um príncipe deve evitar ser odiado, claramente, ele deveria realizar coisas
que melhorem a visão que o povo tem de si. Logo, Maquiavel aponta que, para ser um
governante admirado, é necessário realizar grandes feitos e dar de si exemplos raros na forma
de comportar-se com os súditos.
Grandes obras mantém os súditos animados e estimula a admiração deles pelo
príncipe, esperando pelo êxito de seu soberano. Por meio de grandes atos pode, o governante,
motivar as suas tropas e atrair a admiração e lealdade de seus súditos. Segundo Maquiavel,
quando o povo fica perpetuamente animado com séries de grandes empresas, não há tempo
para agir contra o príncipe.
Favorece o príncipe, diz o escritor florentino, dar de si exemplos raros na
forma de comportar-se com os súditos. Em outras palavras, quando alguma pessoa fizer algo
extraordinário de bem ou de mal na vida civil, o príncipe deverá, respectivamente, premiar ou
punir essa pessoa, de modo que tal premiação ou punição seja bastante comentada. Maquiavel
também aponta que, acima de tudo, um príncipe deve empenhar-se em conceder de si, com
cada uma dessas ações, títulos de grandeza e de inteligência extraordinária.
A fortuna
No penúltimo capítulo do livro, Maquiavel reconhece que muitas pessoas pensam que
as coisas do mundo são governadas pela fortuna e que, dessa forma, os homens não são
capazes de modificar essas coisas nem as evitar, por isso se deixam governar pela sorte.
Todavia, o escritor italiano defende que, para que o livre arbítrio não seja extinto, ele
considera a possibilidade de ser verdade que a sorte seja o fator decisivo da metade das ações
humanas, mas que se esse for o caso, metade, ou quase, das ações, está sob o controle das
pessoas. Para exemplificar, Maquiavel expõe o seu pensamento em uma situação
hipotética, nela, um rio torrencial alaga as planícies de uma região, devastando árvores e
edifícios que se encontravam no alcance dessa má fortuna; todos fogem dessa destruição, tudo
cede ao seu ímpeto, sem oposição. Contudo, esse caos não impediu que as pessoas tomasses
providências com anteparos e diques, de modo que, crescendo depois, o seu ímpeto não fosse
tão desenfreado nem tão danoso.
Além disso, para explicar o porquê de príncipes que se encontram em
feliz e franco progresso, repentinamente, podem se encontrar em ruína, apesar de não terem
mudado as suas naturezas ou as suas qualidades; Maquiavel associa duas razões.
Primeiramente, pois o príncipe que se apoia totalmente na sorte arruína-se segundo as
variações desta. Em segundo lugar, porque, segundo o autor florentino, seriam felizes aqueles
que acomodam o seu modo de proceder com a natureza dos tempos, da mesma forma que
seriam infelizes, aqueles que, com os seus procederes, entram em choque com o
momento que atravessam. Maquiavel explica que isso ocorre, pois,
os homens, com as suas ambições, procedem de maneiras diferentes: alguns com cautela,
outros com ímpeto, uns com violência, outros com astúcia, uns com paciência e outros com
impaciência. No entanto, ainda que dois indivíduos procedam da mesma maneira, é possível
que um alcance o seu objetivo e outro não, da mesma maneira, é possível que dois indivíduos
alcancem fins igualmente com duas tendências diversas; isso depende da natureza dos tempos
que se adaptam ou não ao proceder dos mesmos. Assim, dois indivíduos agindo por formas
diversas podem alcançar o mesmo fim, enquanto dois que operam da mesma forma, um
alcança o seu objetivo e o outro não. A variação do conceito de bem
depende disso, pois, se um se orienta com prudência e paciência e os tempos e as situações se
apresentam de modo a que a sua orientação seja boa, ele alcança a felicidade; caso os tempos
e as circunstâncias se modificam, ele se arruína, uma vez que não mudou o seu modo de
proceder. Segundo Maquiavel, não é possível encontrar uma pessoa tão prudente que saiba
acomodar-se a isso, seja porque não é possível desviar daquilo a que a natureza o inclina, ou
porque se alguém prosperar seguindo sempre um único método não é possível persuadi-lo de
abandoná-lo. Maquiavel conclui, assim, que variando a sorte e permanecendo os indivíduos
fixados nos seus modos de agir, esses serão felizes quando a sorte for boa e serão concordes e
infelizes quando houver má fortuna.

Conclusão
A obra renascentista de Maquiavel, “O príncipe”, certamente marcou o mundo com as
teorias políticas do escritor italiano e ainda é um objeto de estudo para muitos. O texto tem a
sua relevância para o Direito pois ela é intimamente ligada à Política. Segundo Norberto
Bobbio, um filósofo político “Onde não há poder capaz de valer as normas por ele (o
ordenamento jurídico) estabelecidas recorrendo também em última instância à força, não há
direito” (BOBBIO, 2000, p.232). A obra de Maquiavel é, portanto, importante para o
estudante do Direito.
Analisando a obra, chega-se à conclusão de que os conhecimentos de
Maquiavel ainda são válidos para o mundo atual, ainda que certos conceitos como
“principados hereditários”, por exemplo, não sejam tão relevantes como eram na época do
autor. Nesse sentido, “O príncipe” ainda ilumina o estudo da Política com a luz do
Renascimento, tornando muito mais nítida a visão acerca do plano político.
Segundo o escritor italiano, todos os Estados foram e são
repúblicas ou principados. Esses principados se dividem entre hereditários, cujo governo é
composto por indivíduos de sangue nobre há muito tempo, e novos.
Os Estados hereditários afeiçoados a linhagem de seu
príncipe, para Maquiavel, são mais fáceis de serem conservados, uma vez que, basta o
governante respeitar os costumes dos antepassados e saber lidar com eventos fortuitos, se o
fizer ordinariamente, poderá sempre manter-se no poder. Exceto, é claro, em casos onde uma
força extraordinária prive o príncipe de seu governo, gerando um novo Estado. Contudo, esse
conceito de Maquiavel não é tão relevante hoje em dia como era naquela época, afinal,
existem menos Estados hereditários no mundo atual.
Explicado o que são principados
hereditários, o autor ainda ressalta um tipo de principado que surge quando uma província se
anexa a um Estado hereditário já existente, este é o principado misto. Essa junção somente é
possível por meio do auxílio dos habitantes da província, que acreditam que o novo soberano
trará uma nova e prospera vida à região, e forças armadas. Todavia, diz Maquiavel, essa
população se engana pois eventualmente o príncipe precisará ofender seus novos súditos com
os seus soldados e outras injúrias para impor o seu poder, uma vez que jamais poderá
satisfazer as imaginações que essa população tinha de um novo Estado.
Essa questão de dominação
de províncias por um Estado hereditário, levanta outro ponto: como um governante deve atuar
após a conquista de um outro Estado que já vivia com as suas próprias leis. Segundo
Maquiavel, há três caminhos para o príncipe resolver essa situação: i) destruir o Estado
conquistado; ii) ocupar o Estado conquistado pessoalmente; iii) permitir que o Estado
conquistado viva com as suas próprias leis, exigindo impostos e criando em seu interior um
governo de poucos, cuja lealdade ao governante se conservaria uma vez que estes indivíduos
estariam cientes que, sem o príncipe, não estariam em uma posição tão privilegiada.
Diante dos
principados novos, Maquiavel os separa em sua obra em: aqueles conquistados por meio de
armas próprias e de maneira virtuosa; aqueles conquistados por meio as armas de outros e de
maneira fortuita; aqueles conquistados por meio de crimes; os civis; e os eclesiásticos.
O primeiro tipo,
pode ter uma maior ou menor dificuldade de se preservar, dependendo de quão virtuoso é o
seu príncipe. Segundo Maquiavel, um príncipe terá mais dificuldade em adquirir o seu poder e
mais facilidade de conservá-lo, uma vez que tem as suas próprias armas para realizar as suas
próprias empresas. O segundo tipo, diz ele, é necessário muito mais esforço para se preservar,
uma vez que depende da vontade e da fortuna de quem concedeu o Estado ao príncipe, duas
coisas que podem facilmente mudar. Ademais, geralmente esses indivíduos não possuem o
conhecimento nem a capacidade para manter a sua posição. Não saberão comandar, a não ser
que sejam pessoas de tamanha virtude, mas mesmo tendo o conhecimento necessário, não
terão sequer a capacidade de se manterem no poder, pois as “suas” forças são leais a quem
concedeu o Estado.
Os governos conquistados por meio de crimes, ocorrem quando um ascende ao
principado por qualquer meio criminoso ou nefário, ou quando um cidadão se torna príncipe
pelo apoio de seus concidadãos. Para Maquiavel, o conquistador deve fazer todas as ofensas
necessárias de uma vez só, a fim de não precisar realizá-las frequentemente, a fim de dar
segurança aos homens e conquistá-los com benefícios. Caso o contrário, deverão permanecer-
se em alerta.
Os principados civis ocorrem quando um cidadão, com o favor de seus concidadãos,
torna-se príncipe de sua pátria, ou seja, é um governo conquistado de maneira criminosa.
Segundo Maquiavel, isso pode ocorrer ora com o favor do povo ora com o favor dos grandes.
Isso se deve pois o povo não quer ser mandado nem oprimido pelos poderosos, e estes
desejam governar e oprimir o povo, dessa relação conflituosa, pode gerar um dos seguintes
efeitos: principado; liberdade; ou desordem. A melhor opção para o príncipe desse tipo de
governo, diz o pensador florentino, é ter o povo a seu favor, pois os poderosos limitariam o
seu poder ou tentariam tomá-lo de si. Maquiavel defende que se um príncipe capaz de
governar, corajoso, que não esmorece nas adversidades, que possua armas e mantenha
fortalecendo o povo com seu valor e suas determinações, jamais se sentirá enganado pelo
povo e perceberá ter formado bons fundamentos para o seu Estado.
Os principados eclesiásticos, segundo o teórico
político, podem ser adquiridos ou pela virtude ou pela fortuna e se conservam pelas ordens já
estabelecidas na religião. Esses são os únicos principados que possuem Estados e não os
defendem e que possuem súditos, porém não os governam. São os únicos principados felizes e
seguros. Maquiavel, contudo, se recusa a dissertar muito sobre eles, pois, por serem dirigidos
por uma razão superior, fora da concepção humana, seria obra de homem arrogante e
imprudente. Explicado os tipos de principados que
existem, é preciso definir os gêneros de milícias, soldados e mercenários, afinal somente é
possível haver boas leis se existirem boas armas e onde existem boas armas convém que haja
boas leis. As armas com as quais um príncipe defende o seu Estado podem ser suas próprias,
ou mercenárias, ou auxiliares, ou mistas. As forças mercenárias são as menos confiáveis, diz
Maquiavel, geralmente falharão com o príncipe por não serem confiáveis ou por não serem
capazes de defender o Estado. Ressalta ele que um príncipe deve exercer as funções do
capitão para as suas tropas e essas deverão ser formadas por cidadãos. Atualmente, o
pensamento de Maquiavel de que um Estado necessita de boas forças armadas para aplicar
boas leis ainda é válido. Todavia, hoje, os líderes estatais não assumem o papel de capitão de
suas tropas, diferentemente do que “O príncipe” propõe. As tropas auxiliares, são
outra espécie de força armada que Maquiavel não recomenda que os príncipes utilizem, essas
armas se pertencem a outro poderoso que o príncipe pediu auxílio militar. Favorecem o seu
respectivo principado, mas são prejudiciais para o príncipe que lhes requisitou, uma vez que,
perdendo o conflito, o Estado é arruinado; vencendo o conflito, o príncipe se torna endividado
a esse outro poderoso. Ainda discursando sobre as forças
armadas de um Estado, Maquiavel defende que o príncipe tem uma série de competências que
deve cumprir acerca de suas tropas, forcar em: guerra; organização; e disciplina do Estado.
Essas são as coisas que garantem a manutenção daqueles no poder, que ascendem ao posto de
príncipe, por isso devem ser realizadas. Contrariamente, perdem o Estado.
Contudo, não se mantém o poder apenas
por meio de armas, é necessário aprender a usar ou não da bondade, conforme for preciso. Um
príncipe deve saber cultivar virtudes, que estimulem a admiração por parte do povo; e deve
evitar os vícios que prejudiquem o respeito que o povo tem por ele ou que dificultam a
manutenção do Estado. Entre as características que um príncipe
deve buscar ser reconhecido por, temos “liberal”, isto é, generoso. No entanto, a liberalidade,
caso conhecida por todos, pode ser prejudicial, pois, para permanecer assim, não pode
economizar em qualquer forma de suntuosidade, gastando excessivamente e, então, precisará
aplicar maiores impostos sobre a população e fazer o que for necessário para obter dinheiro.
Assim, o povo passaria odiá-lo, o empobreceria e, então, o príncipe acabaria sendo
desprezado pelo povo. Um príncipe deve utilizar a liberalidade prudentemente, pois, o povo
eventualmente perceberá que a parcimônia do príncipe é suficiente, podendo este fazer
empreendimentos sem ofender o povo. Idealmente, propõe Maquiavel, um príncipe deve
gastar pouco para não precisar aplicar impostos maiores sobre os seus súditos, para poder se
defender, para não se empobrecer, para não precisar se tornar rapinante, uma vez que isso o
permite governar. Contudo, esse argumento de Maquiavel, pode ser utilizado para justificar a
atitude de príncipes avarentos e corruptos: aqueles indivíduos poderosos que economizam
excessivamente em coisas do Estado para acumular riquezas e gastá-las em luxos para si
mesmos. Elaborando mais
acerca de características atribuídas a príncipes, Maquiavel discursa sobre a crueldade e a
piedade. Segundo ele, um príncipe deve desejar ser visto como piedoso, mas não deve temer
ser visto como cruel, desde que a sua crueldade mantenha a ordem e o controle de seus
súditos. Além disso, é preciso evitar ser excessivamente piedoso, pois não será capaz de
controlar as desordens das quais resultam mortes e furtos. Esse ponto, para Maquiavel,
levanta a questão: “É melhor ser temido ou amado pelos seus súditos?”. A resposta do escritor
florentino para essa questão é clara, é mais seguro ser temido do que amado, uma vez que,
para ele, as pessoas somente são fiéis e favoráveis ao príncipe quando dependem dele para
viver bem. Logo, Maquiavel explica, que um príncipe deve buscar conquistar o amor de seus
súditos, mas, se não o for possível, não se deve preocupar em ser temido, apenas precisa fugir
do ódio, pois podem muito bem coexistir o ser amado e não ser odiado.
Sucintamente, o pensador italiano aconselha que um príncipe deve evitar
circunstâncias que possam fazê-lo odioso e desprezível. Segundo ele, o príncipe será odiado
pelos seus súditos caso: seja rapace; usurpador dos bens e das mulheres dos súditos. Será
desprezado caso for: volúvel, leviano, efeminado, pusilânime e irresoluto. Então o príncipe
deve agir de maneira a evitar que tais características sejam atribuídas a ele, de forma que as
suas ações demonstrem grandeza, coragem e integridade. Observa-se que essas estratégias de
evasão ao ódio e ao desprezo ainda prevalecem no mundo atual, figuras políticas sempre
tentam tornar a sua imagem pública similar a estes padrões de Maquiavel, então, para adquirir
a afeição do povo, tentam parecer como pessoas generosas, sisudas, vigorosas, corajosas e
solucionadoras. Ademais, príncipes que seguem tais parâmetros, diz o escritor italiano, deve
ter somente dois temores: conflitos internos, que podem ser resolvidos simplesmente não
sendo odiado pela maioria; e conflitos externos, que são solucionados por meio de boas forças
armadas e bons aliados.
Dado que, um príncipe deve evitar ser odiado, ele deve realizar coisas
que melhorem a visão que o povo tem de si. Assim, Maquiavel defende que, para ser
admirado, um príncipe precisa realizar grandes feitos e conceder, advindos de seu poder,
exemplos raros de si ao comportar-se com seus súditos. Por meio de grandes atos, o
governante pode motivar as suas tropas e atrair a admiração e lealdade de seus súditos. Dando
de si exemplos raros ao comportar-se com os súditos, isto é, premiar ou punir uma pessoa
após tal indivíduo fizer algo extraordinário de bem ou de mal na vida civil, de modo que tal
premiação ou punição seja bastante comentada.
Quando se trata da manutenção do poder, a fortuna é
algo que deve ser levado em consideração. Segundo Maquiavel, existem muitas pessoas que
acreditam que as coisas do mundo são governadas pela fortuna e, dessa maneira, qualquer
tentativa de modificar essas coisas e evitá-las é fútil. Contudo, o teórico político florentino
defende que, para não desconsiderar o livre arbítrio, deve considerar a possibilidade de ser
verdade que a sorte seja o fator decisivo da metade as ações humanas, porém, se esse for o
caso, aproximadamente metade das ações está sob o poder das pessoas. Além disso, explica
ele que há duas razões para príncipes que se encontram em feliz e franco progresso podem,
repentinamente, se encontrar em ruína apesar de não terem mudado os seus modos de atuação.
Primeiramente, pois o príncipe que se apoia totalmente na sorte encontra-se a mercê desta.
Em segundo lugar, porque, são apenas felizes aqueles que acomodam o seu modo de proceder
com a natureza dos tempos, da mesma maneira que são infelizes, aqueles que, com os seus
procederes, entram em choque com a fortuita realidade. Para Maquiavel, não é possível
encontrar um indivíduo tão prudente que saiba se acomodar às variações da fortuna, seja
porque não é possível desviar daquilo a que a natureza o inclina, ou porque se alguém
prosperar seguindo sempre um único método não é possível persuadi-lo de abandoná-lo.
Portanto, Maquiavel conclui que, variando a sorte e permanecendo os indivíduos presos aos
seus modos de proceder, esses somente serão felizes quando a sorte for boa e serão concordes
e infelizes quando houver azar. Diante da análise apresentada,
observamos que “O príncipe” é uma obra que ainda permanece válida no mundo atual, apesar
de grandes diferenças entre a realidade do célebre teórico político e a nossa, os pensamentos
nela contidos ainda conseguem, no geral, ajudar os seus leitores à terem uma melhor
compreensão do plano político, o que promove a prosperidade e o que provoca a queda. Para
Maquiavel, o governante deve fazer tudo que lhe for necessário para se manter no poder. Essa
ideia é a essência da obra de Maquiavel, um texto que discursa extensamente sobre o Estado,
suas variações e, principalmente, como preservá-lo. Esses pensamentos de Maquiavel foram
tão bem construídos que permaneceram válidos apesar da passagem do tempo. Trata-se de
uma das obras sobre política mais brilhantes elaboradas pelo pensamento humano e ainda
possui grande importância no mundo atual.

Bibliografia
http://www.dominiopublico.gov.br
Livro: O príncipe, Nicolau Maquiavel, editora Rideel.
MARCHI. Guia de Metodologia Jurídica, São Paulo, Saraiva, 2009, capítulo VIII, “Da
leitura”, p. 219- 228.

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