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Para Maquiavel, virtú pode ser entendida como a qualidade necessária que um

homem, ou vários, necessitam para manter um domínio. Isto é, qualidades morais


virtuosas promovem a manutenção de um domínio, seja este um principado ou uma
república. Em ambos os casos, são necessários alguns pontos para que essa
manutenção ocorra; um exemplo é o bem da flexibilidade moral necessária tanto em
principados quanto em repúblicas, variando apenas em quem a deve praticá-la e
como.

Como bem oposto a virtú, Maquiavel nos apresenta a fortuna, explicada como a
sorte, o acaso. Ele apresenta a fortuna como algo que ocorre esporadicamente e
fluida, não podendo ser, no entanto, tida como algo imutável, como é a virtú.
Maquiavel pontua que, um governo pautado na fortuna poderá ser corrompido
rapidamente, não tendo este bases sólidas para continuar existindo.

De acordo com esse cenário, é necessário comentar a variação de significado no


emprego desses conceitos nas obras de Maquiavel. Em “Comentários sobre a
primeira década de Tito Lívio”, Maquiavel explora sobre a república, esta tendo seu
inicio, de modo geral, quando habitantes, antes somente agrupados, querem a
precaução da segurança e defesa, juntando-se e instituindo assim um primeiro líder,
podendo ser este apenas um, que ele afirma ser necessário para se manter a ordem
de uma república e visar pelo bem comum. Este deve não somente pensar em si
mesmo, mas em como instruir as instituições em prol da liberdade e este no início
terá que montar o exército para suprir a primeira necessidade que levou os homens
à constituição de uma cidade. Maquiavel explica que, a principio, esses cidadãos
são virtuosos, sendo a virtú na república recaída sobre o povo, e não sobre um
governante.

Esse povo deve sempre buscar pela liberdade e pelo bem comum, e ter a
capacidade de pedir por isto; desta forma sob a ótica de Maquiavel são bem vindas
as desordens, defendendo que são com elas que vêm as boas leis, pois é
necessário fazer de tudo para manter a liberdade, tendo a flexibilidade moral de se
adaptar às situações e adaptar essas leis as situações. Um povo virtuoso usa das
desordens para assegurarem seus direitos, as boas leis e as instituições prezando
pela liberdade de acordo com o que é necessário para o momento.

Sendo, o homem mal por natureza, a virtú do povo se assenta sobre o fato de estes
terem a consciência que apenas as boas leis e as boas instituições podem forçá-los
a se manterem na virtú, não se tornando assim um povo corrompido. Logo, pode se
entender que os homens a princípio movem-se para a constituição de uma cidade e
nessa cidade buscam a preservação da liberdade e das boas leis para manter-se
bons. Maquiavel dá o exemplo de Roma, que as várias discordâncias entre o povo e
o senado levaram essa cidade como virtuosa por um longo período de tempo.
Por outro lado, em “O Príncipe” Maquiavel discorre sobre a virtú de uma forma
diferente. Esta, ainda contando com a flexibilidade moral e saber-se adaptar em
situações, no entanto, é necessária em apenas um homem, o príncipe.

A primeira característica da virtú em um príncipe é ter o talento para manter seu


reinado fazendo uso de tudo que é necessário, incluso atitudes más; no entanto
Maquiavel não as considera más se o fim delas for o de objetivo do príncipe, que é
manter seu reinado. Como Maquiavel se abstém de falar sobre reinados
hereditários, o surgimento de um reinado advêm da conquista sobre outro reinado.
Um príncipe virtuoso deve ter, acima de boas leis, boas armas. Estas serão
necessárias para manter seu reino forte e protegido, tendo essa característica de
boas armas, é necessário saber usar-se da virtú sabendo aplicar o mal de uma vez,
defendendo que fazendo isso e dando o bem aos poucos, o povo ficará sob seu
domínio e ele não terá a característica de mal. Entretanto Maquiavel diz que, se
necessário, é melhor antes ser amado do que temido, pois se é mais respeitado
pelo temor dos que pelo amor.

Ademais, a virtú em um principado, cabendo a apenas um soberano, recai na sua


capacidade de saber fazer bom uso do mal, saber escolher seus aliados (no
entendo é mais confiável que um príncipe trabalhe por si mesmo e tenha virtú para
manter o reinado por si mesmo), ser “um grande simulador e dissimulador” como
pontua Maquiavel, sabendo adaptar-se as situações e esconder suas características
e mostrar outras, para manter seu poder, sendo este o resultado final de sua ação,
os meios que o usa são virtuosos.

Entretanto, quando um principado ou um governo popular ficam a mercê da fortuna,


estes têm mais chances de se deteriorarem, serem corrompidos ou tomados;
Maquiavel acredita que a fortuna pode ser necessária como um modo mais rápido e
fácil de se constituir um domínio, entretanto sustentar-se na fortuna torna-se um
erro, por esta ser passageira.

Em “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio” uma cidade pode conhecer
a fortuna quando se tem um bom legislador. Porém, sendo a fortuna passageira,
essa cidade será deixada e será necessária a característica da virtú nos cidadãos
para que ela não seja corrompida, porém caso os cidadão tenham se deixado levar
pela fortuna e não possuam a virtú, essa cidade começará a ser corrompida, sendo
necessária novas leis e instituições podendo, ainda, não conseguir sair da
corrupção. Maquiavel afirma que todas essas mudanças para tentar tirar a cidade
da corrupção são perigosas, por é difícil um homem se curvar de boa vontade as
novas leis, logo, sustentar-se apenas na fortuna poderá destruir uma cidade.

Por conseguinte, em O príncipe a fortuna é apresentada como as ocasional idades


positivas que acontecem, como a facilidade de um príncipe conseguir um
principado. Entretanto quando a fortuna se esvai este príncipe precisa das
qualidades proporcionadas pela virtú para conseguir manter seu reinado.

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