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FACULDADE MAURICIO DE NASSAU

Ciência Política e Teoria Geral do Estado


Professor: WAGNER JOSE SILVA DE CASTRO
Aluno: Fco Rubens P. Bezerra Filho, 01244688 Turma: DOR0040101NNA
Maquiavel, Nicolau. O Príncipe [tradução Maria Júlia Goldwasser]. 2ª ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
CAPÍTULO I
QUANTOS SÃO OS TIPOS DE PRINCIPADOS E COMO CONQUISTÁ-LOS
“quot sint genera principatuum et quibus modis acquirantur”

Nicolau Maquiavel explica nesse capítulo inicial como identificar, criar e


classificar os tipos de domínios (repúblicas ou principados, novos ou anexos,
subordinados ou livres, através da guerra, da fortuna ou da virtù). Repúblicas ou
Principados são todos os Estados e governos que exerceram ou exercem certo poder
social. Podendo ser hereditários ou nascentes. Os domínios conquistados ou
submetem-se ao jugo de um príncipe ou conservam-se afeitos à liberdade.

“Todos os estados, todos os domínios que tiveram e têm poder sobre os


homens foram e são ou republicas ou principados. Os principados ou são hereditários,
nos quais o sangue de seu senhor vem governando há longo tempo, ou são novos.”
(pág.3).
CAPITULO II
DOS PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS
“de principatibus”

Explica tratar só dos principados hereditários, pois já abordou as repúblicas


em discursos anteriores. “Ocupar-me-ei somente dos principados e discutirei de que
forma podem ser governados e mantidos” (pág.5).

Diz que as dificuldades de um príncipe herdeiro de um Estado tradicional


(antigo) são muito menores que nos novos, visto os costumes consolidados “Nos
estados hereditários e acostumados à dinastia de seus príncipes são bem menores
as dificuldades para se governar do que nos novos, pois, basta não descuidar da
ordem instituída pelos seus antepassados” (pág.5).

O príncipe natural tem menos necessidade de ofender por isso é mais amado
“O príncipe natural (hereditário) tem menos motivo e menos necessidade de ofender;
daí resulta que seja mais amado” (pág.5).
É mais fácil conservar os Estados hereditários que os novos Estados.
Qualquer príncipe permanecerá soberano a menos que haja força extraordinária e
sobressalente. “Sempre uma mudança deixa preparada as fundações da outra” (pág.
6).

“visto que basta não preterir as regras dos ancestrais e, de resto, temporizar
com os casos novos” e “devido à antiguidade e à continuidade do domínio,
ficam extintas as recordações das mudanças e as razões das inovações”.
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte.
Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996 p.47, 48).
CAPITULO III
DOS PRINCIPADOS MISTOS
“de principatibus mixtis”

São aqueles nos quais um território é acrescentado ao Estado já constituído.


Nestes, os príncipes encontram maiores dificuldades, semelhantes àquelas
encontradas em principados novos. Nos principados novos decorre que os homens
gostam de mudar de senhor; pegam em armas, ofendem os governantes e sentem os
governantes que não podem atender os apoiadores como estes esperavam.

“se constata terem se tornado inimigos todos aqueles ofendidos com a nova
ocupação do principado e não se pode manter a amizade daqueles que
concederam apoio à própria ocupação por não conseguir satisfazê-los dentro
de sua expectativa” (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de
Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996,
p. 49).

Quem deseja conservar sua conquista deve acabar com a dinastia do antigo
príncipe e não alterar impostos ou leis (isso vale para povos com língua igual ou muito
semelhante a do conquistador). “Mas é na conquista de domínios em regiões
totalmente diferentes quanto à língua, costumes e instituições é que se encontram as
dificuldades, sendo necessário ser muito afortunado e ter muita habilidade para
conservá-los” (pág. 9).

Um dos maiores e mais eficazes recursos para este fim é que o conquistador
vá residir no lugar. O segundo melhor meio é fundar colônias que sirvam de entrave
àquele Estado. Maquiavel diz que estas colônias nada custam, são mais fiéis e menos
ofensivas; e os espoliados não podem fazer nada visto que são pobres e dispersos.
Mantendo-se tropas em vez de colônias, despende-se muito mais, gastando-se com
elas todas as receitas do Estado, e a conquista se transforma em prejuízo. A ideia é
fazer-se defensor dos vizinhos mais fracos, enfraquecer os poderosos e não deixar
em hipótese alguma que entre ali outro forasteiro conquistador tão poderoso quanto o
novo príncipe.

“deve também fazer-se chefe e defensor dos vizinhos menos poderosos, usar
de astúcia para debilitar os poderosos da província e evitar que por qualquer
acidente entre nessa província um estrangeiro tão poderoso quanto ele”
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte.
Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996, p. 53).
CAPÍTULO IV
POR QUE O REINO DE DARIO, OCUPADO POR ALEXANDRE, NÃO SE
REBELOU CONTRA SEUS SUCESSORES APÓS A MORTE DESTE
“cur darii regnum quod alexander occupaverat a successoribus suis post alexandri
mortem non defecit”

Este capitulo levanta o caso das conquistas de Alexandre Magno: grandes,


não consolidadas, mas que resistiram apesar das disputas entre seus sucessores.
Explica que um príncipe pode inserir ministros (como fez no reino do grão-turco) ou
coquistar alianças com barões do reino (como fez na França) para ajudá-lo a governar
o principado.

Quem considerar esses dois Estados citados acima encontrará dificuldade em


conquistar o Estado grão-turco, porém, vencendo-o, terá grande facilidade em
conservá-lo. Ao contrário, sob todos os aspectos encontrará também maior facilidade
em ocupar a França, porém com grande dificuldade em mantê-la.

Ora, se considerarmos de que natureza era o governo de Dario, veremos que


era semelhante ao reino do grão-turco e, por isso, foi necessário a Alexandre primeiro
derrotá-lo completamente em batalha campal. Morto Dario, Alexandre consolidou-se
naquele Estado por razões já expostas e nem os subsequentes conflitos entre seus
sucessores foram capazes de dissolver tal conquista. “se os seus sucessores
tivessem permanecidos unidos, poderiam ter desfrutado tranquilamente o domínio,
pois não nasceram naquele reino outros tumultos senão o que eles próprios
sucitaram” (pág.19).
CAPÍTULO V
DE QUE MODO SE DEVAM GOVERNAR AS CIDADES OU PRINCIPADOS QUE,
ANTES DE SEREM OCUPADOS, VIVIAM COM AS SUAS PRÓPRIAS LEIS
“quomodo administrandae sunt civitates vel principatus, qui antequam occuparentur,
suis legibus vivebant”

Em se tratando de cidades livres que vivem segundo suas leis, Maquiavel cita
três maneiras de conservá-las: a primeira é destruí-las, a outra é ir viver pessoalmente
residir nela, e a terceira deixá-la viver sob suas próprias leis impondo-lhe um tributo e
criando dentro dela um governo de poucos, que se conserve teu amigo.

“não há uma maneira segura de possuir a província a não ser destruindo-a.


E aquele que se torna senhor de uma cidade acostumada a viver livre e não
a destrói deve esperar por ela ser destruído, porque em suas revoltas ela
sempre terá como refúgio a palavra liberdade e suas antigas leis”
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte.
Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996, p. 65).
CAPÍTULO VI
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM COM AS ARMAS
PRÓPRIAS E VIRTUOSAMENTE
“de principatibus novis qui armis propriis et virtute acquiruntur”

Nos principados completamente novos, onde há um novo príncipe, existe


maior ou menor dificuldade para mantê-lo conforme seja maior ou menor a virtù de
quem o conquistou” (pág.23).

Exemplos que corroboram o que Maquiavel acabou de citar são homens que
pela própria virtù e não pela fortuna se tornaram príncipes, exemplos como Moisés,
Ciro, Rômulo e Teseu. Tais personagens depois de vencerem perigos e passarem a
ser venerados, tendo aniquilado os que tinham inveja de suas qualidades, tornaram-
se poderosos, seguros, honrados e felizes. É possível acrescentar à lista o caso de
Hierão de Siracusa.

“Hierão extinguiu a milícia antiga e organizou uma nova, deixou as amizades


antigas e contraiu novas, e assim que teve seus próprios amigos e soldados pôde
construir, sobre esta base, todo um edifício. Assim, teve muito trabalho para
conquistá-lo, mas pouco para conservá-lo” (pág. 26).
CAPÍTULO VII -
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM COM AS ARMAS E
FORTUNA OS OUTROS
“de principatibus novis qui alienis armis et fortuna acquiruntur”

“Aqueles que, somente pela fortuna, de cidadãos particulares se tornam


príncipes fazem-no com pouco esforço, mas com muito esforço se mantém” (pág. 27).

Maquiavel aponta que um cidadão pode tornar-se príncipe pelo valor ou pela
fortuna, e de nada adianta o indivíduo possuir grande valor se a sorte não lhe oferece
a oportunidade. Do mesmo modo, se a fortuna o beneficia, mas este não possui valor,
ele então não saberá nem poderá conservar o poder. Isto aconteceu a muitos na
Grécia, em cidades da Jônia e do Helesponto, que foram feitos príncipes por Dario;
assim como aqueles imperadores que de simples cidadãos chegaram ao poder
mediante a corrupção de soldados. Creio que seja visível nesse ponto da leitura a
inclinação de Maquiavel ao esforço inicial. Depreende-se se seus exemplos que os
bem-sucedidos são os que lutaram bravamente para conquistar e não para manter
suas conquistas. Ele aduz então dois exemplos recentes na época, Francesco Sforza
e Cesare Borgia.

Francesco, pelos devidos meios e grande virtù, passou de cidadão privado a


duque de Milão, e o que havia conquistado com enorme empenho com pouco esforço
manteve. Por outro lado Cesare Borgia, vulgarmente chamado duque Valentino,
conquistou o Estado com a fortuna do pai e com ela o perdeu.
CAPÍTULO VIII
DOS QUE CHEGARAM AO PRINCIPADO POR MEIO DE CRIMES
“de his qui per scelera ad principatum pervenere”

O principado também poderá ser conquistado por qualquer meio criminoso e


execrável. Entretanto, o cidadão que assim o fizer, mesmo que não possa ser julgado
inferior a nenhum outro capitão por sua grandeza de espírito e capacidade em safar-
se dos perigos e superar as adversidades, não poderá ser glorificado entre os homens
mais ilustres devido a sua bestial crueldade e desumanidade.
Maquiavel citou dois exemplos:
Agátocles Siciliano, não só simples particular, mais de ínfima e abjeta
condição, tornou-se o rei de Siracusa. Filho de oleiro, teve sempre uma conduta
criminosa durante toda a vida. Ingressando na milícia, conseguiu promover-se até
chegar a ser pretor de Siracusa. Decidiu tornar-se príncipe. Reuniu certa manhã o
povo e o Senado de Siracusa como se estivesse interessado em deliberar coisas
pertinentes à república, e, a um sinal combinado, fez seus soldados assassinarem
todos os senadores e as pessoas mais ricas do povo.

Liverotto de Fermo, criado na casa de um tio materno chamado Giovanni


Fogliani encarna o papel do exemplo moderno acima anunciado. Nos primeiros anos
de sua juventude ingressou no exército de Paolo Vitelli, exército depois assumido por
Vitelozzo. Estando muitos anos fora da casa de Giovanni, escreve querendo revê-lo,
querendo visitar sua cidade e cuidar de seu patrimônio. Exprime na carta o desejo de
ser recebido por cem cavaleiros e o tio atende a todos os caprichos do sobrinho. Mais
tarde, convida solenemente Fogliani e todos os homens mais importantes de Fermo
para um banquete. Liverotto, de caso pensado, põe-se a discutir casos polêmicos, vê
o assunto ganhar volume e sugere que todos se dirijam a um lugar mais reservado e
mais adequado àquele tipo de discussão. Mal haviam se sentado, quando saíram de
um esconderijo soldados que assassinaram Giovanni e todos os outros. Liverotto
consolidou-se príncipe com novas leis civis e militares de modo que se fez temido
dentro e fora de Fermo durante o longo ano que governou.

Poderia alguém perguntar-se de que forma esses governos após traições e


crueldades puderão viver seguros em sua pátria e defenderem-se de inimigos
externos por muito tempo, sem que jamais seus súditos tenham conspirado contra
eles, enquanto muitos outros empregando a crueldade, não conseguiram manter seus
estados. Maquiavel considera que o único modo de a crueldade ser possa bem
empregada é quando esta é feita uma única vez dada a necessidade de pôr-se em
segurança, sem nelas insistir posteriormente e mal empregadas são aquelas
crueldades que, a despeito de serem poucas no início, com o passar do tempo se
multiplicam em lugar de cessarem.
CAPÍTULO IX
DO PRINCIPADO CIVIL
“de principatu civili”

Mas, tratando do caso em que um cidadão particular se torna príncipe de sua


pátria não criminosamente, mas pelo apoio de seus concidadãos (o que o autor chama
de principado civil e que para alcançá-lo não é necessário ter muita virtù nem muita
fortuna, mas uma astúcia afortunada) diz ele que se ascende a este principado ou
pelo favor do povo ou pelo favor dos grandes.

Quando se atinge esta condição com ajuda dos grandes, o governante


encontra maiores dificuldades, pois estes são mais difíceis de satisfazer e lhe parecem
seus iguais, não podendo os comandar a seu modo. Porém, quando o consegue com
a ajuda do povo, além de este se dar por satisfeito somente pelo fato de não ser
oprimido, o príncipe encontra pouquíssimos que não estejam dispostos a obedecê-lo.

E mais ainda, quanto aos grandes, deve-se considerá-los pertencentes a duas


categorias: Aqueles que pela sua conduta se prendem totalmente a tua sorte e
aqueles que não o fazem. Aqueles que se prendem e não são ávidos devem ser
honrados e amados; aqueles que não se prendem deverão ser examinados e
encarados de duas maneiras: agem assim por covardia e falha natural de caráter,
caso em que tu deves deles se servir, sobretudo em se tratando de bons conselheiros,
pois na prosperidade te honrarão e não terás de receá-los na adversidade; mas
quando não se prendem a ti por cálculo e ambição, é indício de que pensam mais em
si mesmos do que em ti; quanto a estes o príncipe deve ficar em guarda e temê-los
como se fossem inimigos declarados, porque nas adversidades sempre contribuirão
para sua ruína.
CAPÍTULO X
COMO SE DEVEM MEDIR AS FORÇAS DE TODOS OS PRINCIPADOS
“quomodo omnium principatuum vires perpendi debeant”

Ao avaliar as qualidades destes principados convém observar outra questão:


se um príncipe dispõe de território suficiente para governar por si mesmo ou precisa
sempre ser defendido por outros. Maquiavel define os príncipes que podem governar
por si mesmos como os príncipes que podem governar-se por si mesmos, ou seja, por
abundância de homens ou dinheiro, são capazes de formar um exército bem
proporcionado e travar batalha com quem quer que os ataque. Define os que têm
sempre necessidade de outrem como os que não podem enfrentar o inimigo em
campanha, mas precisam refugiar-se em muros e defendê-los (vide exemplo das
cidades alemãs; pequenas, livres, fortemente fortificadas e que mantém trabalho e
comida para um ano, caso atacadas).
CAPÍTULO XI
DOS PRINCIPADOS ECLESIÁSTICOS
“de principatibus eclesiasticis”

“Agora, resta-nos somente discorrer sobre os principados eclesiásticos, cujas


dificuldades são todas anteriores à sua posse, porque conquistam ou por virtù ou por
fortuna e sem nem uma nem outra se mantêm, pois têm por base antigas instituições
religiosas” (pág. 53).

Surge para exemplificar esse discurso Alexandre VI, que de todos os


pontífices que já existiram foi quem mais mostrou quanto um papa, pelo dinheiro e
pela fortuna, poderia impor-se: usando como instrumento o duque Valentino e como
ocasião a invasão dos franceses. E, ainda que seu intento fosse fortalecer não a
Igreja, mas sim o duque, tudo o que fez reverteu para a Igreja, a qual, após a sua
morte e a do duque, foi herdeira de seus esforços.

Nicolau Maquiavel, sendo a favor do laicismo político, ao tratar dos


principados eclesiásticos usa de uma ironia.

“Mas sendo tais Estados regidos por razões superiores inacessíveis à mente
humana, não discorrerei sobre eles, pois, sendo exaltados e conservados por
Deus, seria tarefa presunçosa e temerária fazê-lo.” (MAQUIAVEL, Nicolau. O
Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed.
São Paulo: Hemus, 1996, p. 97).
CAPÍTULO XII
DE QUANTAS ESPÉCIES SÃO AS MILÍCIAS, E DOS SOLDADOS MERCENÁRIOS
“quot sint genera militiae et de mercenariis militibus”

Apreciador da arte bélica, Maquiavel observa que a base de todos os Estados


são os bons exércitos, fundamentais para haver boas leis. “Os principais fundamentos
de todos os estados, tanto dos novos como dos velhos ou dos mistos, são boas leis e
boas armas. Como não se podem ter boas leis onde não existem boas armas, e onde
são boas as armas costumam ser boas as leis, deixarei de refletir sobre as leis e falarei
das armas” (pág.57)

As armas com que um príncipe defende seu estado ou são próprias, ou


mercenárias ou auxiliares ou mistas. Por experiência vê-se que somente os príncipes
e repúblicas armadas fazem progressos imensos, enquanto os exércitos mercenários
trazem apenas danos. Considera, portanto, as tropas mercenárias inúteis e perigosas.
Dessa forma, recomenda que o príncipe desempenhe, ele próprio, a função de
capitão. e aconselha:

“quando o príncipe conduz exércitos, no comando de uma multidão de


soldados, então se fará necessário, mais do que nunca, ignorar a fama de
cruel, pois sem esta fama não se terá jamais o exército unido nem pronto para
algum combate.” (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de
Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996,
p. 126).

Quanto às tropas auxiliares, também as considera inúteis e ate mesmo mais


perigosas que as mercenárias, porque em caso de derrota permanece-se derrotado,
em caso de vitória fica-se prisioneiro delas.
CAPÍTULO XIII
DOS SOLDADOS AUXILIARES, MISTOS E PRÓPRIOS
“de militibus auxiliariis, mixtis et propriis”

“Os exércitos auxiliares, que são outra arma inútil” (pág.66), são tropas de um
poderoso chamadas para auxiliar e defender quem as chama. Segundo Maquiavel,
quando perdem o contratante é derrotado junto com eles e, quando vencem,
aprisionam-no.

Caso citado é o do Papa Júlio, que lançou mão do exército auxiliar do rei
Fernando da Espanha e só não foi preso nem traído devido a uma terceira força que
fez os inimigos fugirem e os auxiliares aquietarem-se, já que se vencera com outras
forças que não as destes.

“Um príncipe sábio sempre evitará estes exércitos, valendo-se dos seus
próprios, e preferindo até perder com suas tropas a vencer com tropas alheias, por
não considerar verdadeira vitória a vitória alcançada com armas alheias” (Maquiavel,
1996 p. 64).

Espelhar-se-iam os interessados em Carlos VII, pai do rei Luís XI, tendo com
sua fortuna e virtù expulso os ingleses da França, também sentiu necessidade de
armar-se de exército próprio e criou em seu reino a ordenança de guardas e infantes.
Mais tarde, o rei Luís, seu filho, extinguiu a infantaria e começou a contratar suíços a
soldo, erro que, continuado pelos outros, é a razão, como se vê agora de fato, dos
perigos que correm aquele reino. Sem armas próprias nenhum principado estará
seguro; aliás, estará inteiramente a mercê da fortuna, não havendo virtù que
confiavelmente a defenda na adversidade.
CAPÍTULO XIV
O QUE COMPETE A UM PRÍNCIPE ACERCA DA MILÍCIA
“quod principem deceat circa militiam”

Esse capítulo dá um indicativo ao príncipe para que vise tão somente à guerra,
sua ordem e sua disciplina, pois esta é a arte dos comandantes. Essa arte é deveras
imprescindível que permite que até homens comuns ascendam ao principado.

“Deve por tanto um príncipe não ter outro objetivo, nem pensamento, nem
tomar como arte sua coisa alguma que não seja a guerra, sua ordem e
disciplinaporque esta é a unica arte que compete a quem comanda” (pág. 69).

Diz-nos que olhar mais para o luxo que para a guerra sugere margem para a
perda do Estado. Deve-se apreciar a guerra em período de guerra e a guerra em
período de paz, estudando métodos, homens, relevo, previsões e a mente (lendo
histórias e analisando casos passados).

Um príncipe sábio deve observar comportamento semelhante e jamais


permanecer ocioso nos tempos de paz, e sim com engenho fazer deles um cabedal
para dele se valer na adversidade, a fim de que, quando mudar a fortuna, esteja
sempre pronto a lhe resistir (pág.72).
CAPÍTULO XV
DAQUELAS COISAS PELAS QUAIS OS HOMENS, E ESPECIALMENTE OS
PRÍNCIPES, SÃO LOUVADOS OU VITUPERADOS
”de his rebus quibus homines, et praesertim principes, laudantur aut vituperantur”

“Resta agora ver como deve se comportar um príncipe para com seus súditos
e amigos”. “Muitos imaginam repúblicas e principados que jamais foram vistos e que
nem se soube se existiram na verdade, porque há tamanha distância entre como se
vive e como se deveria viver, que aquele que trocar o que faz por aquilo que se deveria
fazer aprende antes a ruina do que sua preservação” (pág. 73).
CAPÍTULO XVI
DA LIBERALIDADE E DA PARCIMÔNIA
“de liberalitate et parsimonia”

Não pode um príncipe usar da virtù da liberalidade sem prejuízo próprio e sem
danos, de forma que seja divulgada, se for de forma prudente, não se preocupar com
a fama de miserável, porque com o tempo será considerado cada vez mais liberal, ao
verem que, graças à sua parcimônia, suas receitas lhe bastam, que pode defender-se
dos que lhe movem guerra e realizar seus empreendimentos sem onerar o povo. O
rei da França na figura de Luís XII fez tantas guerras sem exigir nenhum imposto extra
ao seu povo somente porque administrou bem as despesas supérfluas com grande
parcimônia.

“porque com o tempo será sempre considerado mais como homem generoso
à medida que se for percebendo que, graças à sua parcimônia, sua renda lhe
basta, pode defender-se daqueles que lhe fazem guerra, pode realizar seus
empreendimentos sem onerar o povo. De forma que acaba sendo generoso
com todos aqueles de quem não tira, que são inumeráveis, e miserável com
todos aqueles a quem nada dá, que são poucos.” Maquiavel afirma ainda que
“não há coisa que mais se consuma a si mesma do que a generosidade: à
medida que fazes uso dela, perdes a capacidade de usá-la e te tornas ou
pobre e desprezível ou, para escapar da pobreza, ladrão e odioso.”
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte.
Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996, p. 121, 122).

César era um dos que pretendiam chegar ao principado em Roma; mas, se


tivesse sobrevivido depois de consegui-lo e ele não fosse moderado os gastos, teria
destruído aquele império. (Pág.76)

Acrescenta ainda o autor que é bom ser visto como liberal e que saques e pilhagens
nos perdedores da guerra não diminuem a reputação do rei, mas sim a aumentam,
pois é prejudicial gastar o que é seu e não o que é dos outros.
CAPÍTULO XVII
DA CRUELDADE E DA PIEDADE; SE É MELHOR SER AMADO QUE TEMIDO, OU
ANTES TEMIDO QUE AMADO
“de crudelitate et pietate; et an sit melius amari quam timeri, vel e contra”

Já inicia o capítulo dizendo Maquiavel que todo príncipe deve desejar ser
considerado piedoso e não cruel. “entretanto, devo adverti-lo para não usar mal esta
piedade” (pág.79). Um príncipe deve não se preocupar com a fama de cruel, pois
apesar dela será mais piedoso que aqueles que, por excessiva piedade, deixam
evoluir as desordens. “É melhor ser amado que temido ou o inverso?” (pág.80). Como
é difícil combinar ambos, amor e temor, é muito mais seguro ser temido do que amado.
“Os homens te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida dos filhos desde que o perigo
esteja distante; mas quando precisas deles, revoltam-se” (pág.80). O amor é mantido
por vínculo de reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido
sempre que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que
nunca te abandona. Quando um príncipe está liderando centenas de homens em
campanha, ele não precisa se preocupar com a fama de cruel, porque, sem essa fama,
jamais se mantém um exército unido.

Faço minhas as palavras do autor quando conclui que os homens amam segundo sua
vontade e temem segundo a vontade do príncipe, deve este contar com o que é seu
e não com o que é de outros, empenhando-se apenas em evitar o ódio, como dito.
CAPÍTULO XVIII
DE QUE MODO OS PRÍNCIPES DEVEM MANTER A FÉ DA PALAVRA DADA
“quomodo fides a principibus sit servanda”

É importante ressaltar que existem dois tipos de combates: um com as leis e


o outro com a força. Um príncipe deve saber usar ambas as naturezas, uma vez que
uma sem a outra não é duradoura. “Isto já foi dito aos príncipes, em palavras veladas,
pelos escritores antigos, que escreveram que Aquiles e muitos outros príncipes
antigos haviam sido criados por Quíron, o centauro, que os guardava sob sua
disciplina” (pág.83).

Visto que um príncipe, se necessário, precisa saber usar bem seu lado animal
(metaforicamente chamado de Quíron pelas lendas antigas), precisa saber escolher
sua natureza animal optando ser leão e raposa simultaneamente. Precisa ser leão
para aterrorizar os lobos (ameças) e deve valer-se da raposa na simulação,
dissimulação e astúcia.

“Um princípe, portanto, não é necessário ter de fato todas as qualidades


supracitadas, mas é indispensável parecer tê-las” (pág.85).

Deve parecer, para os que virem e ouvirem, todo piedade, todo fé, todo
integridade, todo humanidade e todo religião. “Como não há tribunal onde reclamar
das ações de todos os homens, e principalmente dos príncipes, o que conta por fim
são os resultados” (pág.85).

“Cuide, pois, o príncipe de vencer e manter o estado: os meios serão sempre


julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo está sempre voltado para as
aparências e para o resultado das coisas, e não há no mundo senão o vulgo; a minoria
não tem vez quando a maioria tem onde se apoiar” (pág.85 e 86).

Não é preciso muito para ver dentro das últimas duas passagens destacadas
que a frase consolidada como sendo de Maquiavel (os fins justificam os meios) em
momento algum do texto aparece.

É visível que Nicolau Maquiavel não muito queria ter com a ética alguma
relação íntima e que “princípio da moralidade” chega quase ao antagonismo de seu
discurso, no entendo, tolhendo os excessos, em momento algum enxerguei ele dizer
“os fins justificam os meios”. Vi algo mais próximo do “deixem as aparências
acobertarem os caminhos necessários para o resultado almejado”.
CAPÍTULO XIX
DE COMO SE DEVA EVITAR O SER DESPREZADO E ODIADO
“de contemptu et odio fugiendo”

Torna o príncipe odioso, sobretudo, ser àvido por lucro e usurpador das
coisas e das mulheres dos súditos. Homens em geral, na análise do autor, vivem
contentes enquanto deles não se toma o patrimônio nem a honra, restando ao príncipe
apenas ter que combater a ambição de uns poucos. Torna-o desprezível ser tido como
inconstante, leviano, efeminado, covarde e indeciso, devendo empenhar-se para que
se reconheça grandeza, ânimo, ponderação e energia. Ele deve afirmar suas decisões
como irrevogáveis e manter sua posição de modo que ninguém pense em enganá-lo
nem fazê-lo mudar de opinião.

Um príncipe deve ter dois receios: um interno, por conta de seus súditos, e
outro externo, por conta das potências estrangeiras. Ele deve ter em pouca conta as
conspirações enquanto o povo lhe for favorável, mas, quando este se tornar seu
inimigo ou lhe tiver ódio, temer todas as coisas e todo o mundo.

“um dos remédios mais eficazes de que dispõe um príncipe contra as


conspirações é não ser odiado pelo povo em geral, porque os conspiradores
sempre pensam que matando o príncipe propiciarão satisfação ao povo. Mas
quando creem que com isso prejudicarão o povo, não encontram coragem
para empreender tal ação, pois as dificuldades que terão pela frente serão
infinitas.” (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão
Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996, p. 134)

Faz-se necessário a todos os príncipes satisfazerem antes o povo do que os


soldados, porque o povo é quem tem mais poder. Nos impérios da Antiguidade, no
reino turco e no sultanato citados na obra, os exércitos ainda tem mais expressão que
o povo então vale o governante ser mais íntimo daqueles do que deste. Entretanto é
importante ressaltar que esses são a exceção: via de regra, nos principados e
repúblicas (que como o a própria etimologia da palavra denuncia é uma res pública =
coisa do povo) o povo é detentor e legitimador do poder e dele se devem estreitar
laços.

Quando indagado se o melhor é ser amado ou temido, Maquiavel responde


que o ideal seria que se fosse os dois, mas na impossibilidade de ser um e outro, é
melhor ser temido que amado.

os homens são “ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, esquivos ao


perigo, ávidos de ganho” e “hesitam menos em prejudicar alguém que se faça
amar do que alguém que se faça temer, pois o amor se mantém por um laço
de obrigações, o qual, considerando-se que os homens são maus, é rompido
toda vez que se apresenta a oportunidade de uma vantagem particular. O
temor, diferentemente, é mantido pelo medo de ser castigado, o qual não te
abandona jamais.” (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de
Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996,
p. 125)
CAPÍTULO XX
SE AS FORTALEZAS E MUITAS OUTRAS COISAS QUE OS PRÍNCIPES FAZEM
DIARIAMENTE SÃO ÚTEIS OU NÃO
“an arces et multa alia quae cotidie a principibus fiunt utilia an inutilia sint”

Estudando e viajando, Maquiavel pode afirmar exatamente que jamais existiu


um príncipe novo que desarmasse os seus súditos, pelo contrário, encontrando-os
desarmados, sempre os arma, porque, ao lhes dar armas, estas armas tornam-se do
príncipe, tornam-se fiéis os que eram suspeitos, conservam-se leais os que já o eram
e transformam-se os súditos em seus partidários. Mas quando os desarma, começa a
ofendê-los, mostrando desconfiar deles por vileza ou má-fé. A exceção é em caso de
conquista de uma nova província que é anexada ao Estado. Um príncipe novo, em um
principado novo, sempre cria exércitos. Mas também defende o uso da força para
manter o povo persuadido de algo. “todos os profetas armados foram vencedores e
os desarmados, derrotados.” (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de
Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996, p. 69)

Outro ponto levantado pelo capítulo foi o fato de ter sido costume entre os
príncipes levantar fortalezas que sejam o bridão e o freio dos que pretendem opor-se
a eles, além de construírem um refúgio seguro contra ataque repentino. Já de início,
Maquiavel dá parecer favorável a esse método fundamentando sua posição na
tradição, isto é, ele aprova esse método porque foi usado pelos antigos. Maquiavel
acha elogiável esse meio, mas só o considera necessário quando o príncipe teme
mais seu povo que os estrangeiros.

“Os príncipes, com a finalidade de poder conservar com maior segurança


seus Estados, habituaram-se a construir fortalezas que atuassem como rédea
e freio para aqueles que planejassem fazer-lhes oposição e constituíssem um
refúgio seguro em caso de uma súbita rebelião.” (MAQUIAVEL, Nicolau. O
Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed.
São Paulo: Hemus, 1996, p. 151).

“O príncipe que tiver mais medo do povo que dos estrangeiros deverá
construir fortalezas, mas o que tiver mais medo de estrangeiros do que do povo deverá
deixá-las de lado” (pág.103). A melhor fortaleza que existe é não ser odiado pelo povo,
porque, ainda que tenhas fortalezas, se o povo te odiar, elas não te salvarão, pois
jamais faltam aos povos sublevados estrangeiros que os auxiliem.
CAPÍTULO XXI
O QUE CONVÉM A UM PRÍNCIPE PARA SER ESTIMADO
“quod principem deceat ut egregius habeatur”

Existiu no tempo de Maquiavel o rei Fernando de Aragão que, no início de seu


reinado, conquistou Granada, feito este que foi o fundamento de seu Estado. Agiu
num momento de paz interna e sem temor de ser impedido, mantendo ocupado nessa
empreitada o ânimo dos barões de Castela, os quais, por pensarem naquela guerra,
não pensavam em fazer inovações, enquanto ele conquistava reputação e poder.

Um príncipe consegue estima quando toma uma posição abertamente com


relação aos seus amigos e inimigos, porque, se opta pela neutralidade, torna-se presa
do vencedor. Essa divisão é sempre melhor do que se manter neutro, pois o vencedor
não vai querer amigos suspeitos que não o ajudaram na adversidade ao passo que o
perdedor te rejeitará porque não quiseste, com as armas em punho, partilhar da sua
sorte.

Deve-se acentuar que um príncipe deve estar atento para não fazer jamais
aliança com alguém mais poderoso que ele, vide os venezianos que se aliaram à
França contra o duque de Milão quando poderiam ter evitado o pacto que resultou
suas ruínas.

Deve um príncipe ainda mostrar-se amante da virtù, abrigando arte, valores e


honra além de estimular seus concidadãos a desenvolverem suas atividades na
agricultura, no comércio e demais ramos. Deve proporcionar prêmios a quem intente
melhorar sua cidade ou seu Estado e manter o povo entretido com festas e
espetáculos (o tão consolidado pão e circo).

Como toda cidade é dividida em corporações e tribos, deve dar atenção a


essas coletividades, reunir-se com eles vez por outra, dar de si mesmo um exemplo
de humanidade e de munificência, mantendo sempre firme sua majestade e sua
dignidade.
CAPÍTULO XXII
DOS SECRETÁRIOS QUE OS PRÍNCIPES TÊM JUNTO DE SI
“de his quos a secretis principes habent”

Não é pouca importância, para um príncipe, a escolha de seus ministros. Essa


escolha é o reflexo da virtù e da imagem do príncipe onde quer que se apresentem e
residam seus ministros. Maquiavel diz existirem três tipos de cérebro:
“o que compreende por si só, o que discerne aquilo que outros compreendem e o que
não compreende nem por si só nem por intermédio de outros.” (MAQUIAVEL, Nicolau.
O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed. São
Paulo: Hemus, 1996, p. 160). Convém ao príncipe que seu ministro possua o segundo
tipo, para que este não tenha a expectativa de enganá-lo. E o governante ainda
precisa estar atento e perceber se seu ministro pensa mais em tirar proveito para si
do que em atender aos interesses do Estado, pois neste caso, jamais será um bom
ministro, digno de confiança.

Para evitar os bajuladores, o príncipe somente deve dar a liberdade aos


sábios de a ele se dirigir falando a verdade e somente quanto às questões sobre as
quais indagar. E ele próprio deve ser sábio para conseguir harmonizar os diferentes
conselhos que receber e agir da maneira mais adequada à situação. Deve haver
mútua confiança entre príncipe e ministro, caso contrário, sempre haverá um fim mau
para um deles.
CAPÍTULO XXIII
COMO SE AFASTAM OS ADULADORES
“quomodo adulatores sint fugiendi”

Não quis deixar passar sem abordar um ponto julgado importante por
Maquiavel e um erro que segundo ele os príncipes dificilmente sabem se defender: os
aduladores. As cortes estão repletas e raramente se defendem os príncipes deles pelo
receio de se o fizerem parecerão desprezíveis.

Proteger-se dos aduladores é deixar claro para os homens que não ofendem
a personalidade do príncipe ao dizerem a verdade, mas lembrando de que se todos a
puderem fazê-lo, faltarão com o devido respeito ao príncipe. O ideal é buscar um
terceiro modo, escolhendo homens sábios e somente a estes concedendo livre arbítrio
para dizer-lhe a verdade, e apenas sobre as coisas que o príncipe lhes perguntar.

Nesse ponto do discurso, inseriu o autor um exemplo interessante, “Dom


Luca, homem de confiança de Maximiliano I, imperador da Áustria que, falando de
Sua Majestade, disse que ele não se aconselhava com ninguém, mas também nada
fazia a seu modo” (pág.114). Isto quer dizer que antes de se tornar regra, os planos
de Maximiliano repercutiam na Corte e, não havendo aprovação nos corredores,
abandonava seus projetos ou adequava-os às críticas.

“Se um príncipe não for sábio por si mesmo, não poderá ser bem
aconselhado” (pág.114). A menos que a sorte o ponha nas mãos de um só homem
muito prudente que o oriente em tudo. Nesse caso duraria pouco, porque o orientador
lhe tomaria o Estado. No caso de tentar evitar isso e aconselhar-se com vários, ainda
sim sem sapiência jamais poderia unificar os conselhos nem integrá-los.

“Os bons conselhos devem brotar da prudência do príncipe, e não a prudência do


príncipe dos bons conselhos” (pág.115) .
CAPÍTULO XXIV
POR QUE OS PRÍNCIPES DA ITÁLIA PERDERAM SEUS ESTADOS
“cur italiae principes regnum amiserunt”

Se observadas todas as recomendações que o autor fez até esse estágio do


livro, um príncipe novo passará por antigo tranquilamente (e creio seja mesmo esse o
cerne e o objetivo dele com esta obra). “Um príncipe novo é muito mais observado em
suas ações do que um hereditário e, quando suas virtudes são conhecidas, atrai um
número muito maior de súditos e muito maior lealdade do que a antiguidade do
sangue” (pág.117).

Considerou-se esse capítulo a missão de voltar os olhos dos leitores da época


(e os de agora, só que historicamente bem mais afastados) para aqueles senhores
que, na Itália, perderam seus Estados – como o rei de Nápoles, o duque de Milão e
outros, nos quais se encontraram erros comuns. Primeiro quanto aos exércitos, depois
o fato de ter o povo como amigo ou inimigo ou, mesmo contando com a amizade do
povo, não saber conter os grandes.

Que tais figuras não acusem a fortuna pela perda de seus reinos, mas sim sua
própria indolência por não terem jamais, em épocas de paz, pensado que os tempos
poderiam mudar.
CAPÍTULO XXV
DE QUANTO PODE A FORTUNA NAS COISAS HUMANAS E DE QUE MODO SE
LHE DEVA RESISTIR
“quantum fortuna in rebus humanis possit, et quomodo illi sit occurrendum”

Maquiavel não ignora que muitos de seus contemporâneos foram de opinião


de que as coisas desse mundo são governadas pela fortuna e por Deus. Ele rebate
dizendo que já que nosso livre-arbítrio não desapareceu, é até possível ser verdade
que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que deixou ao nosso
governo a outra metade, ou quase.

Com tudo isso nada mais ele quis dizer do que afirmar que a sorte é
imprevisível; devem-se tomar providências para catástrofes, antes que ocorram. A
fortuna demonstra sua força onde não encontra uma virtù ordenada.

“Se um príncipe se conduz com prudência e paciência, e os tempos e as


coisas contribuem para que seu governo seja bom, será bem-sucedido, mas, se
mudarem os tempos e as coisas e ele não mudar seu modo de proceder, então se
arruinará” (pág.121).

Conclui ele o discurso dizendo que, variando a fortuna e obstinando-se os


homens em sua maneira de ser, serão felizes enquanto ambas estiverem de acordo;
mas quando discordarem serão infelizes.
CAPÍTULO XXVI
EXORTAÇÃO PARA PROCURAR TOMAR A ITÁLIA E LIBERTÁ-LA DAS MÃOS
DOS BÁRBAROS
“exhortatio ad capessendam italiam in libertatemque a barbaris vindicandam”

Disse o autor em seu capítulo final que viu que sua época era o ponto propício
para a Itália colocar-se em pé rompendo o grilhão que a mantinha oprimida. Enxergava
ser aquele o momento para surgir uma figura de muita virtù de espírito italiano que
compilasse chefe, ordem, mudança e libertação. Não se deveria, portanto, perder a
ocasião para que a Itália, depois de tanto tempo, visse o seu redentor.

“não posso exprimir com que amor ele seria recebido em todas as províncias
que sofreram devido a esses aluviões externos, com que sede de vingança,
com que obstinada fé, com que piedade, com que lágrimas! Que portas se
lhe fechariam? Que povo lhe negaria obediência? Que italiano se negaria a
servi-lo? Todos sentem ceder esse bárbaro domínio. Assuma, portanto,
vossa ilustre casa com que se empreendem os projetos justos, para que, sob
vossa insígnia, seja esta pátria enobrecida e, sob vossos auspícios, se
verifique o dito de Petrarca” (pág.127).
“Virtù contro a furore
Prenderà l’arme, e a fia el combater corto;
Che l’antico valore
Nell’italici cor non è ancor morto”.

A citação da canção All’Italia (À Itália), de Petrarca, encerra este capítulo tão


movimentado. Em tradução livre: “A virtude, contra o furor, / Tomará armas e
que seja breve o combate, / Pois o antigo valor / Não está morto no coração
dos italianos.”.
Ao Magnífico Lorenzo de Medici

Nicolau Maquiavel dedica a obra a Lorenzo de Medici, o Magnífico, dizendo


oferecer-lhe o que possuía de mais precioso: seu conhecimento. Conhecimento esse
adquirido nas inúmeras viagens pela Europa e pelos seus estudos subsequentes.

Sua intenção é proteger seus escritos sob um nome de poder para, assim,
disseminá-los.

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