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O príncipe natural tem menos necessidade de ofender por isso é mais amado
“O príncipe natural (hereditário) tem menos motivo e menos necessidade de ofender;
daí resulta que seja mais amado” (pág.5).
É mais fácil conservar os Estados hereditários que os novos Estados.
Qualquer príncipe permanecerá soberano a menos que haja força extraordinária e
sobressalente. “Sempre uma mudança deixa preparada as fundações da outra” (pág.
6).
“visto que basta não preterir as regras dos ancestrais e, de resto, temporizar
com os casos novos” e “devido à antiguidade e à continuidade do domínio,
ficam extintas as recordações das mudanças e as razões das inovações”.
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte.
Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996 p.47, 48).
CAPITULO III
DOS PRINCIPADOS MISTOS
“de principatibus mixtis”
“se constata terem se tornado inimigos todos aqueles ofendidos com a nova
ocupação do principado e não se pode manter a amizade daqueles que
concederam apoio à própria ocupação por não conseguir satisfazê-los dentro
de sua expectativa” (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de
Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996,
p. 49).
Quem deseja conservar sua conquista deve acabar com a dinastia do antigo
príncipe e não alterar impostos ou leis (isso vale para povos com língua igual ou muito
semelhante a do conquistador). “Mas é na conquista de domínios em regiões
totalmente diferentes quanto à língua, costumes e instituições é que se encontram as
dificuldades, sendo necessário ser muito afortunado e ter muita habilidade para
conservá-los” (pág. 9).
Um dos maiores e mais eficazes recursos para este fim é que o conquistador
vá residir no lugar. O segundo melhor meio é fundar colônias que sirvam de entrave
àquele Estado. Maquiavel diz que estas colônias nada custam, são mais fiéis e menos
ofensivas; e os espoliados não podem fazer nada visto que são pobres e dispersos.
Mantendo-se tropas em vez de colônias, despende-se muito mais, gastando-se com
elas todas as receitas do Estado, e a conquista se transforma em prejuízo. A ideia é
fazer-se defensor dos vizinhos mais fracos, enfraquecer os poderosos e não deixar
em hipótese alguma que entre ali outro forasteiro conquistador tão poderoso quanto o
novo príncipe.
“deve também fazer-se chefe e defensor dos vizinhos menos poderosos, usar
de astúcia para debilitar os poderosos da província e evitar que por qualquer
acidente entre nessa província um estrangeiro tão poderoso quanto ele”
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte.
Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996, p. 53).
CAPÍTULO IV
POR QUE O REINO DE DARIO, OCUPADO POR ALEXANDRE, NÃO SE
REBELOU CONTRA SEUS SUCESSORES APÓS A MORTE DESTE
“cur darii regnum quod alexander occupaverat a successoribus suis post alexandri
mortem non defecit”
Em se tratando de cidades livres que vivem segundo suas leis, Maquiavel cita
três maneiras de conservá-las: a primeira é destruí-las, a outra é ir viver pessoalmente
residir nela, e a terceira deixá-la viver sob suas próprias leis impondo-lhe um tributo e
criando dentro dela um governo de poucos, que se conserve teu amigo.
Exemplos que corroboram o que Maquiavel acabou de citar são homens que
pela própria virtù e não pela fortuna se tornaram príncipes, exemplos como Moisés,
Ciro, Rômulo e Teseu. Tais personagens depois de vencerem perigos e passarem a
ser venerados, tendo aniquilado os que tinham inveja de suas qualidades, tornaram-
se poderosos, seguros, honrados e felizes. É possível acrescentar à lista o caso de
Hierão de Siracusa.
Maquiavel aponta que um cidadão pode tornar-se príncipe pelo valor ou pela
fortuna, e de nada adianta o indivíduo possuir grande valor se a sorte não lhe oferece
a oportunidade. Do mesmo modo, se a fortuna o beneficia, mas este não possui valor,
ele então não saberá nem poderá conservar o poder. Isto aconteceu a muitos na
Grécia, em cidades da Jônia e do Helesponto, que foram feitos príncipes por Dario;
assim como aqueles imperadores que de simples cidadãos chegaram ao poder
mediante a corrupção de soldados. Creio que seja visível nesse ponto da leitura a
inclinação de Maquiavel ao esforço inicial. Depreende-se se seus exemplos que os
bem-sucedidos são os que lutaram bravamente para conquistar e não para manter
suas conquistas. Ele aduz então dois exemplos recentes na época, Francesco Sforza
e Cesare Borgia.
“Mas sendo tais Estados regidos por razões superiores inacessíveis à mente
humana, não discorrerei sobre eles, pois, sendo exaltados e conservados por
Deus, seria tarefa presunçosa e temerária fazê-lo.” (MAQUIAVEL, Nicolau. O
Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte. Tradução Edson Bini. 12. ed.
São Paulo: Hemus, 1996, p. 97).
CAPÍTULO XII
DE QUANTAS ESPÉCIES SÃO AS MILÍCIAS, E DOS SOLDADOS MERCENÁRIOS
“quot sint genera militiae et de mercenariis militibus”
“Os exércitos auxiliares, que são outra arma inútil” (pág.66), são tropas de um
poderoso chamadas para auxiliar e defender quem as chama. Segundo Maquiavel,
quando perdem o contratante é derrotado junto com eles e, quando vencem,
aprisionam-no.
Caso citado é o do Papa Júlio, que lançou mão do exército auxiliar do rei
Fernando da Espanha e só não foi preso nem traído devido a uma terceira força que
fez os inimigos fugirem e os auxiliares aquietarem-se, já que se vencera com outras
forças que não as destes.
“Um príncipe sábio sempre evitará estes exércitos, valendo-se dos seus
próprios, e preferindo até perder com suas tropas a vencer com tropas alheias, por
não considerar verdadeira vitória a vitória alcançada com armas alheias” (Maquiavel,
1996 p. 64).
Espelhar-se-iam os interessados em Carlos VII, pai do rei Luís XI, tendo com
sua fortuna e virtù expulso os ingleses da França, também sentiu necessidade de
armar-se de exército próprio e criou em seu reino a ordenança de guardas e infantes.
Mais tarde, o rei Luís, seu filho, extinguiu a infantaria e começou a contratar suíços a
soldo, erro que, continuado pelos outros, é a razão, como se vê agora de fato, dos
perigos que correm aquele reino. Sem armas próprias nenhum principado estará
seguro; aliás, estará inteiramente a mercê da fortuna, não havendo virtù que
confiavelmente a defenda na adversidade.
CAPÍTULO XIV
O QUE COMPETE A UM PRÍNCIPE ACERCA DA MILÍCIA
“quod principem deceat circa militiam”
Esse capítulo dá um indicativo ao príncipe para que vise tão somente à guerra,
sua ordem e sua disciplina, pois esta é a arte dos comandantes. Essa arte é deveras
imprescindível que permite que até homens comuns ascendam ao principado.
“Deve por tanto um príncipe não ter outro objetivo, nem pensamento, nem
tomar como arte sua coisa alguma que não seja a guerra, sua ordem e
disciplinaporque esta é a unica arte que compete a quem comanda” (pág. 69).
Diz-nos que olhar mais para o luxo que para a guerra sugere margem para a
perda do Estado. Deve-se apreciar a guerra em período de guerra e a guerra em
período de paz, estudando métodos, homens, relevo, previsões e a mente (lendo
histórias e analisando casos passados).
“Resta agora ver como deve se comportar um príncipe para com seus súditos
e amigos”. “Muitos imaginam repúblicas e principados que jamais foram vistos e que
nem se soube se existiram na verdade, porque há tamanha distância entre como se
vive e como se deveria viver, que aquele que trocar o que faz por aquilo que se deveria
fazer aprende antes a ruina do que sua preservação” (pág. 73).
CAPÍTULO XVI
DA LIBERALIDADE E DA PARCIMÔNIA
“de liberalitate et parsimonia”
Não pode um príncipe usar da virtù da liberalidade sem prejuízo próprio e sem
danos, de forma que seja divulgada, se for de forma prudente, não se preocupar com
a fama de miserável, porque com o tempo será considerado cada vez mais liberal, ao
verem que, graças à sua parcimônia, suas receitas lhe bastam, que pode defender-se
dos que lhe movem guerra e realizar seus empreendimentos sem onerar o povo. O
rei da França na figura de Luís XII fez tantas guerras sem exigir nenhum imposto extra
ao seu povo somente porque administrou bem as despesas supérfluas com grande
parcimônia.
“porque com o tempo será sempre considerado mais como homem generoso
à medida que se for percebendo que, graças à sua parcimônia, sua renda lhe
basta, pode defender-se daqueles que lhe fazem guerra, pode realizar seus
empreendimentos sem onerar o povo. De forma que acaba sendo generoso
com todos aqueles de quem não tira, que são inumeráveis, e miserável com
todos aqueles a quem nada dá, que são poucos.” Maquiavel afirma ainda que
“não há coisa que mais se consuma a si mesma do que a generosidade: à
medida que fazes uso dela, perdes a capacidade de usá-la e te tornas ou
pobre e desprezível ou, para escapar da pobreza, ladrão e odioso.”
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: comentários de Napoleão Bonaparte.
Tradução Edson Bini. 12. ed. São Paulo: Hemus, 1996, p. 121, 122).
Acrescenta ainda o autor que é bom ser visto como liberal e que saques e pilhagens
nos perdedores da guerra não diminuem a reputação do rei, mas sim a aumentam,
pois é prejudicial gastar o que é seu e não o que é dos outros.
CAPÍTULO XVII
DA CRUELDADE E DA PIEDADE; SE É MELHOR SER AMADO QUE TEMIDO, OU
ANTES TEMIDO QUE AMADO
“de crudelitate et pietate; et an sit melius amari quam timeri, vel e contra”
Já inicia o capítulo dizendo Maquiavel que todo príncipe deve desejar ser
considerado piedoso e não cruel. “entretanto, devo adverti-lo para não usar mal esta
piedade” (pág.79). Um príncipe deve não se preocupar com a fama de cruel, pois
apesar dela será mais piedoso que aqueles que, por excessiva piedade, deixam
evoluir as desordens. “É melhor ser amado que temido ou o inverso?” (pág.80). Como
é difícil combinar ambos, amor e temor, é muito mais seguro ser temido do que amado.
“Os homens te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida dos filhos desde que o perigo
esteja distante; mas quando precisas deles, revoltam-se” (pág.80). O amor é mantido
por vínculo de reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido
sempre que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que
nunca te abandona. Quando um príncipe está liderando centenas de homens em
campanha, ele não precisa se preocupar com a fama de cruel, porque, sem essa fama,
jamais se mantém um exército unido.
Faço minhas as palavras do autor quando conclui que os homens amam segundo sua
vontade e temem segundo a vontade do príncipe, deve este contar com o que é seu
e não com o que é de outros, empenhando-se apenas em evitar o ódio, como dito.
CAPÍTULO XVIII
DE QUE MODO OS PRÍNCIPES DEVEM MANTER A FÉ DA PALAVRA DADA
“quomodo fides a principibus sit servanda”
Visto que um príncipe, se necessário, precisa saber usar bem seu lado animal
(metaforicamente chamado de Quíron pelas lendas antigas), precisa saber escolher
sua natureza animal optando ser leão e raposa simultaneamente. Precisa ser leão
para aterrorizar os lobos (ameças) e deve valer-se da raposa na simulação,
dissimulação e astúcia.
Deve parecer, para os que virem e ouvirem, todo piedade, todo fé, todo
integridade, todo humanidade e todo religião. “Como não há tribunal onde reclamar
das ações de todos os homens, e principalmente dos príncipes, o que conta por fim
são os resultados” (pág.85).
Não é preciso muito para ver dentro das últimas duas passagens destacadas
que a frase consolidada como sendo de Maquiavel (os fins justificam os meios) em
momento algum do texto aparece.
É visível que Nicolau Maquiavel não muito queria ter com a ética alguma
relação íntima e que “princípio da moralidade” chega quase ao antagonismo de seu
discurso, no entendo, tolhendo os excessos, em momento algum enxerguei ele dizer
“os fins justificam os meios”. Vi algo mais próximo do “deixem as aparências
acobertarem os caminhos necessários para o resultado almejado”.
CAPÍTULO XIX
DE COMO SE DEVA EVITAR O SER DESPREZADO E ODIADO
“de contemptu et odio fugiendo”
Torna o príncipe odioso, sobretudo, ser àvido por lucro e usurpador das
coisas e das mulheres dos súditos. Homens em geral, na análise do autor, vivem
contentes enquanto deles não se toma o patrimônio nem a honra, restando ao príncipe
apenas ter que combater a ambição de uns poucos. Torna-o desprezível ser tido como
inconstante, leviano, efeminado, covarde e indeciso, devendo empenhar-se para que
se reconheça grandeza, ânimo, ponderação e energia. Ele deve afirmar suas decisões
como irrevogáveis e manter sua posição de modo que ninguém pense em enganá-lo
nem fazê-lo mudar de opinião.
Um príncipe deve ter dois receios: um interno, por conta de seus súditos, e
outro externo, por conta das potências estrangeiras. Ele deve ter em pouca conta as
conspirações enquanto o povo lhe for favorável, mas, quando este se tornar seu
inimigo ou lhe tiver ódio, temer todas as coisas e todo o mundo.
Outro ponto levantado pelo capítulo foi o fato de ter sido costume entre os
príncipes levantar fortalezas que sejam o bridão e o freio dos que pretendem opor-se
a eles, além de construírem um refúgio seguro contra ataque repentino. Já de início,
Maquiavel dá parecer favorável a esse método fundamentando sua posição na
tradição, isto é, ele aprova esse método porque foi usado pelos antigos. Maquiavel
acha elogiável esse meio, mas só o considera necessário quando o príncipe teme
mais seu povo que os estrangeiros.
“O príncipe que tiver mais medo do povo que dos estrangeiros deverá
construir fortalezas, mas o que tiver mais medo de estrangeiros do que do povo deverá
deixá-las de lado” (pág.103). A melhor fortaleza que existe é não ser odiado pelo povo,
porque, ainda que tenhas fortalezas, se o povo te odiar, elas não te salvarão, pois
jamais faltam aos povos sublevados estrangeiros que os auxiliem.
CAPÍTULO XXI
O QUE CONVÉM A UM PRÍNCIPE PARA SER ESTIMADO
“quod principem deceat ut egregius habeatur”
Deve-se acentuar que um príncipe deve estar atento para não fazer jamais
aliança com alguém mais poderoso que ele, vide os venezianos que se aliaram à
França contra o duque de Milão quando poderiam ter evitado o pacto que resultou
suas ruínas.
Não quis deixar passar sem abordar um ponto julgado importante por
Maquiavel e um erro que segundo ele os príncipes dificilmente sabem se defender: os
aduladores. As cortes estão repletas e raramente se defendem os príncipes deles pelo
receio de se o fizerem parecerão desprezíveis.
Proteger-se dos aduladores é deixar claro para os homens que não ofendem
a personalidade do príncipe ao dizerem a verdade, mas lembrando de que se todos a
puderem fazê-lo, faltarão com o devido respeito ao príncipe. O ideal é buscar um
terceiro modo, escolhendo homens sábios e somente a estes concedendo livre arbítrio
para dizer-lhe a verdade, e apenas sobre as coisas que o príncipe lhes perguntar.
“Se um príncipe não for sábio por si mesmo, não poderá ser bem
aconselhado” (pág.114). A menos que a sorte o ponha nas mãos de um só homem
muito prudente que o oriente em tudo. Nesse caso duraria pouco, porque o orientador
lhe tomaria o Estado. No caso de tentar evitar isso e aconselhar-se com vários, ainda
sim sem sapiência jamais poderia unificar os conselhos nem integrá-los.
Que tais figuras não acusem a fortuna pela perda de seus reinos, mas sim sua
própria indolência por não terem jamais, em épocas de paz, pensado que os tempos
poderiam mudar.
CAPÍTULO XXV
DE QUANTO PODE A FORTUNA NAS COISAS HUMANAS E DE QUE MODO SE
LHE DEVA RESISTIR
“quantum fortuna in rebus humanis possit, et quomodo illi sit occurrendum”
Com tudo isso nada mais ele quis dizer do que afirmar que a sorte é
imprevisível; devem-se tomar providências para catástrofes, antes que ocorram. A
fortuna demonstra sua força onde não encontra uma virtù ordenada.
Disse o autor em seu capítulo final que viu que sua época era o ponto propício
para a Itália colocar-se em pé rompendo o grilhão que a mantinha oprimida. Enxergava
ser aquele o momento para surgir uma figura de muita virtù de espírito italiano que
compilasse chefe, ordem, mudança e libertação. Não se deveria, portanto, perder a
ocasião para que a Itália, depois de tanto tempo, visse o seu redentor.
“não posso exprimir com que amor ele seria recebido em todas as províncias
que sofreram devido a esses aluviões externos, com que sede de vingança,
com que obstinada fé, com que piedade, com que lágrimas! Que portas se
lhe fechariam? Que povo lhe negaria obediência? Que italiano se negaria a
servi-lo? Todos sentem ceder esse bárbaro domínio. Assuma, portanto,
vossa ilustre casa com que se empreendem os projetos justos, para que, sob
vossa insígnia, seja esta pátria enobrecida e, sob vossos auspícios, se
verifique o dito de Petrarca” (pág.127).
“Virtù contro a furore
Prenderà l’arme, e a fia el combater corto;
Che l’antico valore
Nell’italici cor non è ancor morto”.
Sua intenção é proteger seus escritos sob um nome de poder para, assim,
disseminá-los.