Você está na página 1de 20

Teoria Política I

O príncipe - Nicolau Maquiavel


Faculdade do poder: bem mais valioso —> Oferecimento da obra a Lourenço de
Médicis

Capítulo I
→ DE QUANTAS ESPÉCIES SÃO OS PRINCIPADOS E DE QUE MODOS
SE ADQUIREM

Repúblicas X Principados:

→ Principados: Novos ou hereditários. Hereditários quando seu sangue senhorial


já é nobre há muito tempo. Os novos podem ser totalmente novos ou acrescidos.
Tais domínios obtidos já estão acostumados à liberdade ou à submissão a um
príncipe.

Capítulo II
→ DOS PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS

→ Principados hereditários apresentam menores dificuldades quanto à permanência


do poder.

→ Apagar as lembranças e causas de inovações, uma vez que possam inspirar


outras.

→ Sempre se tem a necessidade de apoio dos habitantes de uma província para


nela adentrar.

A reconquista de tais regiões rebeladas mais dificilmente se perdem, uma vez


que o príncipe não vacila em assegurar punições àqueles que lhe traíram e em
reparar os pontos mais fracos.

Capítulo III
→ DOS PRINCIPADOS MISTOS
→ Anexação:

Província de mesmo idioma → extinguir a estirpe do último príncipe e, por um


curto período do tempo, não alterar leis ou impostos.

Idioma e costumes diferentes → O conquistador deve habitar tais províncias,


visando reprimir as desordens rapidamente → diminuição dos saques. Também
podem ser instaladas colônias, mantendo nelas tropas → os conquistados
dessas porção, ficando sem terras, pobres e dispersos, nada efetivo poderão
fazer contra o conquistador, enquanto os não lesados ficam à parte, temendo
que o mesmo lhes aconteça.

"Os homens devem ser acarinhados ou eliminados, pois se se


vingam das pequenas ofensas, das graves não podem fazê-lo;
daí decorre que a ofensa que se faz ao homem deve ser tal que
não se possa temer vingança."

Forças militares, ao invés de colônias, gastam muito mais, de modo a absorver


muita arrecadação do Estado → a conquista se transforma em perda e ofende
muito mais, transformando os habitantes em inimigos.

Deve se tornar chefe e defensor dos menos fortes, tendo em vista o


enfraquecimento dos mais poderosos, tomando cuidado ao aparecimento de um
forasteiro forte o qual seja chamado por aqueles que se sintam descontentes.

"Ocorre aqui como no caso do tuberculoso, segundo os


médicos: no princípio é fácil a cura e difícil o diagnóstico, mas
com o decorrer do tempo, se a enfermidade não foi conhecida
nem tratada, torna-se fácil o diagnóstico e difícil a cura. Assim
também ocorre nos assuntos do Estado porque, conhecendo
com antecedência os males que o atingem (o que não é dado
senão a um homem prudente), a cura é rápida; mas quando, por
não se os ter conhecido logo, vêmeles a crescer de modo a se
tornarem do conhecimento de todos, não mais existe remédio."
→ Afirma que a guerra não pode ser evitada, apenas adiada em benefício dos
outros. Não se pode deixar prosseguir uma crise para escapar a uma guerra.

→ Cinco erros cometidos pelo rei Luís:

1. Eliminou os menos fortes

2. Aumentou o prestígio de um poderoso na Itália

3. Colocou no poder um estrangeiro poderosíssimo

4. Não veio habitar no país

5. Não estabeleceu colônias

O sexto erro: tomada dos territórios venezianos, tornando grande a Igreja e


introduzindo a Espanha na Itália.

"Quem é causa do poderio de alguém arruina-se, por que esse


poder resulta ou da astúcia ou da força e ambas são suspeitas
para aquele que se tornou poderoso."

Capítulo IV
→ POR QUE O REINO DE DARIO, OCUPADO POR ALEXANDRE, NÃO
SE REBELOU CONTRA SEUS SUCESSORES APÓS A MORTE
DESTE

Principados - conservação de memória → duas formas de governo:

→ Um príncipe com servos que, por sua concessão, ajudam a governar o Estado
—> maior autoridade → o príncipe como o único chefe. Considera-se um Estado
difícil de conquistar, mas fácil de manter (uma vez conquistado) → Caso do reino de
Dario.

→ Um príncipe e barões, os quais - não pelo príncipe, mas por sua antiguidade de
sangue - têm a função de ministros. Tais barões têm súditos e Estados próprios que
os reconhecem enquanto senhores —> natural afeição. Considera-se um Estado
fácil de se conquistar, mas difícil de nele manter o poder, considerando sua
organização.

Capítulo V
→ DE QUE MODO SE DEVAM GOVERNAR AS CIDADES OU
PRINCIPADOS QUE, ANTES DE SEREM OCUPADOS, VIVIAM COM
AS SUAS PRÓPRIAS LEIS

3 maneiras:

→ Aniquilando-os —> romanos em Cápua, Cártago e Numância → não as


perderam
→ Habitando-os pessoalmente.

→ Deixando que vivam com suas próprias leis, arrecadando tributos, criando em
seu interior um governo no qual se conserve amigos —> como os espartanos
fizeram com Tebas e Atenas, mesmo, todavia, perdendo-as.

Não há forma mais segura de conservação de conquistas senão a


destruição.

"E quem se torne senhor de uma cidade acostumada a viver


livre e não a destrua, espere ser destruído por ela, porque a
mesma sempre
encontra, para apoio de sua rebelião, o nome da liberdade e o
de suas antigas
instituições, jamais esquecidas seja pelo decurso do tempo, seja
por benefícios
recebidos."

Capítulo VI
→ DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM COM AS ARMAS
PRÓPRIAS E VIRTUOSAMENTE
"Digo, pois, que no principado completamente novo, onde exista
um novo príncipe, encontra-se menor ou maior dificuldade para
mantê-lo, segundo seja mais ou menos virtuoso quem o
conquiste."

→ Aquele que menos se apoiou na sorte reteve mais seguramente o poder

Combinação entre ambos: sorte e virtude.

→ Não há nada mais difícil de manejar que tornar-se chefe e estabelecer novas
ordens, uma vez que, a partir desse momento, tem por inimigos todos aqueles os
quais se beneficiavam pela antiga ordem.

→ Fraqueza: incredulidade dos homens —> necessitam de uma afirmação;


resultados de uma firme experiência.
→ Profetas armados venceram e os desarmados foram derrotados. —> Fazer crer
pela força, considerando a dificuldade de firmar os homens em uma persuasão.

Capítulo VII
→ DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM COM AS ARMAS
E FORTUNA DOS OUTROS

Com pouca fadiga se transforma, mas com muito esforço se mantém.

Príncipes os quais foram cedidos Estados a fim de que se conservassem para o


poder e glória de outro: a estes lhes cabe a submissão à vontade e à fortuna
soberano que lhes concedeu o Estado.

→ Tendo vivido sempre em ambiente privado, não é razoável que estes saibam
comandar. Além disso também não podem fazê-lo por não terem forças amigas e
fiéis.

Estados que crescem depressa não apresentam raízes ou estruturações


perfeitas → extinguidos pela primeira adversidade, a não ser que um príncipe
que recém assumiu um Estado for imbuído de tamanha virtude que saiba
conservar o que a fortuna lhe proporcionou. Construídos alicerces para o futuro
poderio.

→ VIRTUDE X FORTUNA
"Quem não lança os alicerces primeiro, com uma grande virtude
poderá estabelecê-los depois, ainda que se façam com
aborrecimentos para o construtor e perigo para o edifício."

"Quem, pois, julgar necessário, no seu principado novo,


assegurar-se
contra os inimigos, adquirir amigos, vencer ou pela força ou
pela fraude, fazer-se amar e temer pelo povo, seguir e
reverenciar pelos soldados, eliminar aqueles que podem ou
têm razões para ofender, ordenar por novos modos as
instituições antigas, ser severo e grato, magnânimo e
liberal, extinguir a milícia infiel, criar uma nova, manter a
amizade dos reis e dos príncipes, de modo que beneficiem
de boa vontade ou ofendam com temor, não poderá
encontrar exemplos mais recentes que as ações do duque."

Capítulo VIII
→ DOS QUE CHEGARAM AO PRINCIPADO POR MEIO DE CRIMES

Mais duas formas de ascensão ao poder além da fortuna e da virtude:

→ Pelo meio criminoso —> Ascensão em uma milícia (conceito tratado nesse
capítulo).
→ Quando um cidadão privado torna-se príncipe pelo favor de seus concidadãos
(conceito tratado no próximo capítulo).

"Ao ocupar um Estado, deve o conquistador exercer todas


aquelas ofensas que se lhe tornem necessárias, fazendo-as
todas a um tempo só para não precisar renová-las a cada dia e
poder, assim, dar segurança aos homens e conquistá-los com
benefícios, Quem age diversamente, ou por timidez ou por mau
conselho, tem sempre necessidade de conservar a faca na mão,
não podendo nunca confiar em seus súditos, pois que estes nele
também não podem ter confiança diante das novas e contínuas
injúrias."

As ofensas devem ser feitas de uma só vez, pois ofendem menos quando
pouco degustadas.

Benefícios feitos aos poucos → melhor apreciação.

Capítulo IX
→ DO PRINCIPADO CIVIL

Ascensão por meio do favor de seus concidadãos → principado civil.

→ Favor do povo ou dos grandes.

"Em toda cidade se encontram estas duas tendências diversas e


isso resulta do fato de que o povo não quer ser mandado nem
oprimido pelos poderosos e estes desejam governar e oprimir o
povo: é destes dois anseios diversos que nasce nas cidades um
dos três efeitos: ou principado, ou liberdade, ou desordem."

→ Os grandes, quando não podem resistir ao povo, começam a prestigiar um dos


seus e torná-lo um príncipe, para assim dar expansão ao seu apetite sob sua
sombra. → Se mantém com maior dificuldade.

→ O povo, quando não pode resistir aos poderosos, volta sua estima a um cidadão,
fazendo dele príncipe para, com sua autoridade conferida, defendê-lo. → Se
mantém com maior facilidade.

"Contra a inimizade do povo um príncipe jamais pode estar


garantido, por serem muitos; dos grandes, porém, pode se
assegurar porque são poucos."

→ Pode-se ganhar o povo ao assumir a proteção deste.


→ A um príncipe é necessário ter o povo como amigo.

Capítulo X
→ COMO SE DEVEM MEDIR AS FORÇAS DE TODOS OS PRINCIPADOS

Estados os quais podem manter-se por si mesmos e Estados que necessitam


da defesa de outrem.

→ Estados que podem manter a si mesmos possuem dinheiro e poder, além da


abundância de homens, para organizar fortes exércitos capazes de enfrentas
batalhas.

→ Aqueles que dependem da defesa de outrem não são capazes de enfrentar o


inimigo em campo aberto, portanto, refugiam-se atrás dos muros das cidades.

"Os homens são sempre inimigos dos empreendimentos onde


vejam dificuldades, e não se pode encontrar facilidade para
atacar quem tenha sua cidade forte e não seja odiado pelo
povo."

Capítulo XI
→ DOS PRINCIPADOS ECLESIÁSTICOS

Sustentados pelas ordens religiosas → mantêm os príncipes sempre no poder.

"Só estes possuem Estados e não os defendem; súditos, e não


os governam; os Estados, por serem indefesos, não lhes são
tomados; os súditos, por não serem governados, não se
preocupam, não pensam e nem podem separar-se deles.
Somente estes principados, pois, são seguros e felizes."

→ Engrandecidos e mantidos por Deus → "razão superior".

→ Antes de Alexandre VI, o poder papal não era considerado na Itália. Tudo o que
fez reverteu em favor da grandez da Igreja → reduziu o poder dos barões.
→ Papa Júlio se viu frente à grandiosidade da Igreja - conquistada por Alexandre - e
à possibilidade de acumular dinheiro. Seguiu as práticas de Alexandre e as ampliou,
de maneira a favorecer a Igreja, e não um cidadão em particular → Torna os
partidos Orsíni e Colonna - antes opositores - subordinados ao poder eclesiástico.

Capítulo XII
→ DE QUANTAS ESPÉCIES SÃO AS MILÍCIAS, E DOS SOLDADOS
MERCENÁRIOS

"Os principais fundamentos que os Estados têm, tanto os novos


como os velhos ou os mistos, são as boas leis e as boas armas."

→ As armas usadas por um príncipe para defender seu Estado são próprias,
mercenárias, auxiliares, ou mistas (sendo a primeira, a terceira e a quarta tratadas
no próximo capítulo).

Auxiliares e mercenárias: inúteis e perigosas. Forças mercenárias são instáveis,


ambiciosas e infiéis → capitães mercenários sempre aspiram à própria
grandeza.

O príncipe deve exercer as funções do líder e ir pessoalmente comandar as


tropas.

No caso da República, deve-se mandar os cidadãos. Caso um destes não se


revele valente, deverá ser substituído, e caso muito animoso, deverá ser
controlado por leis para que não ultrapasse um certo limite.

Capítulo XIII
→ DOS SOLDADOS AUXILIARES, MISTOS E PRÓPRIOS

"Estas tropas auxiliares podem ser úteis e boas para si mesmas,


mas, para quem as chame, são quase sempre danosas, eis que
perdendo ficas liquidado, vencendo ficas seu prisioneiro."

A ruína com o envolvimento de tropas auxiliares é certa, visto que são unidas e
têm sua obediência voltada a outrem.
"Um príncipe prudente, portanto, sempre tem fugido a essas
tropas para voltar-se às suas próprias forças, preferindo perder
com as suas a vencer com aquelas, eis que, em verdade, não
representaria vitória aquela que fosse conquistada com as
armas alheias."

Tropas mistas: forças mercenárias e próprias juntas → melhores que as


auxiliares ou mercenárias, inferiores às forças próprias.

Sem armas próprias, nenhum principado está seguro.

"As forças próprias são aquelas que se constituem de súditos,


de cidadãos ou de criaturas tuas; todas as outras são ou
mercenárias ou auxiliares."

Capítulo XIV
→ O QUE COMPETE A UM PRÍNCIPE ACERCA DA MILÍCIA (TROPA)

"Deve, pois, um príncipe não ter outro objetivo nem outro


pensamento, nem tomar qualquer outra coisa por fazer, senão a
guerra e a sua organização e disciplina, pois que é essa a única
arte que compete a quem comanda."

Guerra → virtude; faz com que os príncipes mantenham seu poder e que
homens privados subam a ele.

A negligência de tal arte faz com que se perca o Estado.

Exercício da guerra: ação e mente.

→ Ação: conhecimentos práticos


→ Mente: ler histórias e observar as ações dos grandes homens

Um príncipe inteligente não deve nunca ficar ocioso em tempos de paz.


Capítulo XV
→ DAQUELAS COISAS PELAS QUAIS OS HOMENS, E ESPECIALMENTE OS
PRÍNCIPES, SÃO LOUVADOS OU VITUPERADOS

As ações de um príncipe para com os súditos e amigos → a verdade, e não a


imaginação destas.

"Eis que um homem que queira em todas as suas palavras fazer


profissão de bondade, perder-se-á em meio a tantos que não
são bons. Donde é necessário, a um príncipe que queira
semanter, aprender a poder não ser bom e usar ou não da
bondade, segundo a necessidade."

É necessário prudência para não deixar que seus vícios lhe tirem o poder.

A ruína pode estar disfarçada de virtude, e a virtude, por sua vez, pode também
estar disfarçada de vício.

Capítulo XVI
→ DA LIBERALIDADE E DA PARCIMÔNIA

"A liberalidade, usada por forma que se torne conhecida de


todos, te prejudica, porque, se usada virtuosamente e como se a
deve usar, ela não se torna conhecida e não conseguirás tirar de
cima de ti a má fama do seu contrário; porém, querendo manter
entre os homens o nome de liberal, é preciso não esquecer
nenhuma espécie de suntuosidade [...]".

Usa a liberalidade para com aqueles dos quais nada tira → muitos

Usa a miséria para com os outros a quem não dá → poucos

"Portanto, um príncipe deve gastar pouco para não precisar


roubar seus súditos, para poder defender-se, para não ficar
pobre e desprezado, para não ser forçado a tornar-se rapace,
não se importando de incorrer na fama de miserável, porque
esse é um daqueles defeitos que o fazem reinar."

→ A liberalidade foi usada por César, por exemplo, para ascender ao poder, todavia,
para mantê-lo, o líder teve de ser comedido nas despesas.

→ É parcimonioso ao gastar o seu; em se tratando do que é dos súditos ou de


outrem, não deixa de praticar liberalidade alguma. —> Nesse caso, a liberalidade
faz com que o líder seja seguido por seus soldados:

"Daquilo que não é teu nem de súditos teus, podes ser o mais
generoso doador, como o foram Ciro, César e Alexandre, eis
que o despender aquilo que é dos outros não te tira reputação,
ao contrário, a aumenta; somente o gastar o teu é que te
prejudica."

Melhor ser considerado miserável, uma vez que essa infâmia não gera ódio, do
que gerar uma má fama pela liberalidade.

Capítulo XVII
→ DA CRUELDADE E DA PIEDADE; SE É MELHOR SER AMADO QUE TEMIDO,
OU ANTES TEMIDO QUE AMADO

"Reportando-me às outras qualidades já referidas, digo que cada


príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel:
não obstante isso, deve ter o cuidado de não usar mal essa
piedade."

→ Não deve temer a fama de cruel, desde que ela mantenha seus súditos unidos e
leais → Dessa forma será mais piedoso do que aqueles que permitem a desordem
por piedade, uma vez que estas prejudicam toda a comunidade.

→ Deve agir de forma equilibrada, com prudência e humanidade, evitando ao


máximo o excesso de confiança, visto que pode lhe tornar intolerável.
É necessário ser amado e temido → Sabendo da dificuldade de conciliar os
dois, é preferível (mais seguro) ser temido. → Tem-se os homens como
ingratos, ambiciosos, volúveis e tementes do perigo.

"Deve o príncipe, não obstante, fazer-se temer de forma que, se


não conquistar o amor, fuja ao ódio, mesmo porque podem
muito bem coexistir o ser temido e o não ser odiado: isso
conseguirá sempre que se abstenha de tomar os bens e as
mulheres de seus cidadãos e de seus súditos e, em se lhe
tornando necessário derramar o sangue de alguém, faça-o
quando existir conveniente justificativa e causa manifesta."

Deve-se abster dos bens alheios → homens são apegados ao patrimônio.

Fugir a todo custo do ódio.

Capítulo XVIII
→ DE QUE MODO OS PRÍNCIPES DEVEM MANTER A FÉ DA PALAVRA DADA

"Quando seja louvável em um príncipe o manter a fé (da palavra


dada) e viver com integridade, e não com astúcia, todos
compreendem; contudo, vê-se nos nossos tempos, pela
experiência, alguns príncipes terem realizado grandes coisas a
despeito de terem tido em pouca conta a fé da palavra dada,
sabendo pela astúcia transtornar a inteligência dos homens; no
final, conseguiram superar aqueles que se firmaram sobre a
lealdade."

Dois modos de combater: leis (próprio do homem) e força (próprio dos animais)

Quando o primeiro não é suficiente, recorre-se ao segundo

Domínio do emprego do homem e do animal


→ Mitologia grega: Aquiles e outros líderes treinados pelo centauro Quiron
(metade homem, metade animal)
→ Uma natureza sem a outra não é durável

"Um senhor prudente não pode nem deve guardar sua palavra,
quando isso seja prejudicial aos seus interesses e quando
desapareceram as causas que o levaram a empenhá-la. Se
todos os homens fossem bons, este preceito seria mau; mas,
porque são maus e não observariam a sua fé a teu respeito, não
há razão para que a cumpras para com eles. Jamais faltaram a
um príncipe razões legítimas para justificar a sua quebra da
palavra."

→ Raposa X leão: a primeira não tem defesa contra os lobos e o segundo não pode
se defender dos laços. É preciso ser raposa, para conhecer os laços, e leão para
aterrorizar os lobos.

→ Simular e dissimular:

"A um príncipe, portanto, não é essencial possuir todas as


qualidades acima
mencionadas, mas é bem necessário parecer possuí-las. Antes,
ousarei dizer que,
possuindo-as e usando-as sempre, elas são danosas, enquanto
que, aparentando possuí-las, são úteis; por exemplo: parecer
piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso, e sê-lo realmente, mas
estar com o espírito preparado e disposto de modo que,
precisando não sê-lo, possas e saibas tornar-te o contrário,
Deve-se compreender que um príncipe, e em particular um
príncipe novo, não pode praticar todas aquelas coisas pelas
quais os homens são considerados bons, uma vez que,
freqüentemente, é obrigado, para manter o Estado, a agir contra
a fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião.
Porém, é preciso que ele tenha um espírito disposto a voltar-
se segundo os ventos da sorte e as variações dos fatos o
determinem e, como acima se disse, não apartar-se do bem,
podendo, mas saber entrar no mal, se necessário."

→ Necessidade de aparentar fé, integridade, piedade, humanidade e religião.

Capítulo XIX
→ DE COMO SE DEVA EVITAR O SER DESPREZADO E ODIADO

Fugir às circunstâncias que podem tornar odioso um príncipe → usurpação de


bens e mulheres dos súditos:

"Desde que não se tirem nem os bens nem a honra à


universalidade dos homens, estes vivem felizes e somente se
terá de combater a ambição de poucos, o que se refreia por
muitos modos e com facilidade."

O príncipe também deve fugir do que lhe torna desprezível, portanto deve se
empenhar para que sejam reconhecidas a grandeza, a coragem e a fortaleza de
suas ações. Em se tratando de ações privadas, deve querer que suas
sentenças sejam irrevogáveis entre os súditos.

→ Assim, torna-se reputado.

"Do lado do conspirador não existe senão medo, ciúme, suspeita


de castigo que o atordoa; mas, do lado do príncipe, existe a
majestade do principado, as leis, as barreiras dos amigos e do
Estado que o defendem; consequentemente, somada a tais
fatores a benevolência popular, é impossível exista alguém tão
temerário que venha a conspirar. Isso porque, geralmente, onde
um conspirador teme antes da execução do mal, se tiver o povo
por inimigo, deve temer ainda mesmo depois de ocorrido o fato,
não podendo por isso esperar qualquer amparo."
→ A importância de não ser odiado por uma maioria → Conservar a felicidade do
povo.

Capítulo XX
→ SE AS FORTALEZAS E MUITAS OUTRAS COISAS QUE A CADA DIA SÃO
FEITAS PELOS PRÍNCIPES SÃO ÚTEIS OU NÃO

"Jamais existiu um príncipe novo que desarmasse os seus


súditos, mas, antes,
sempre que os encontrou desarmados, armou-os; isto porque,
armando-os, essas armas passam a ser tuas, tornam fiéis
aqueles que te são suspeitos, os que eram fiéis assim se
conservam e de súditos tornam-se teus partidários."

Com a agregação de um principado novo a um antigo é , porém, necessário


desarmar o conquistado.

→ A melhor fortaleza é não ser odiado pelo povo.

Capítulo XXI
→ O QUE CONVÉM A UM PRÍNCIPE PARA SER ESTIMADO

"Quando surge a oportunidade de alguém ter realizado alguma


coisa
extraordinária de bem ou de mal na vida civil, obtendo meio de
premiá-lo ou punilo por forma que seja bastante comentada.
Acima de tudo, um príncipe deve empenhar-se em dar de si,
com cada ação, conceito de grande homem e de inteligência
extraordinária."

→ Estimado quando amigo e inimigo; pode sem qualquer consideração se


revelar a favor de um ou outro —> atitude mais conveniente que a neutralidade.
"Sempre acontecerá que aquele que não é amigo procurará
tua neutralidade e aquele que é amigo pedirá que te definas
com as armas. Os príncipes irresolutos, para fugir aos perigos
presentes, seguem na maioria das vezes o caminho da
neutralidade e, geralmente, caem em ruína."

→ Jamais deve um príncipe fazer aliança com um mais poderoso que ele para
atacar os outros → ao vencer, torna-se prisioneiro
→ Deve-se mostrar amante das virtudes → incentivar os homens virtuosos, o
comércio, a agricultura, além de distrair o povo com festas e espetáculos

Capítulo XXII
→ DOS SECRETÁRIOS QUE OS PRÍNCIPES TÊM JUNTO DE SI

"A primeira conjetura que se faz da inteligência de um senhor,


resulta da observação dos homens que o cercam; quando são
capazes e fiéis, sempre se pode reputá-lo sábio, porque soube
reconhecê-los competentes e conservá-los. Mas, quando não
são assim, sempre se pode fazer mau juízo do príncipe, porque
o primeiro erro por ele cometido reside nessa escolha."

→ Três tipos de inteligência:

1. Uma que entende as coisas por si → excelente

2. A que discerne o que os outros entendem → boa

3. Não entende nem por si, nem por intermédio dos outros → inútil

→ Um bom ministro - a ser escolhido pelo príncipe - nunca deve pensar primeiro
em si, visto que tem nas mãos o Estado de outrem.
→ Para que o príncipe conserve este um bom ministro, deve honrá-lo, pensar nele e
fazê-lo rico.

Capítulo XXIII
→ COMO SE AFASTAM OS ADULADORES
"Não há outro meio de guardar-se da adulação, a não ser
fazendo com que os homens entendam que não te ofendem
dizendo a verdade; mas, quando todos podem dizer-te a
verdade, passam a faltar-te com a reverência."

→ Tendo isso em vista, o príncipe deve escolher homens sábios em seu Estado,
dando-lhes liberdade para falar a verdade sobre aquilo que pergunta e nada
mais → não deve ouvir mais ninguém além dos tais escolhidos.
→ Deve consultá-los, ouvir suas opiniões para deliberar por si → ser obstinado em
suas decisões.

"Um príncipe, portanto, deve aconselhar-se sempre, mas


quando ele queira e não quando os outros desejem; antes,
deve tolher a todos o desejo de aconselhar-lhe alguma coisa
sem que ele venha a pedir."

→ Deve, portanto, ser grande perguntador e paciente ouvinte da verdade - quando


esta for por ele solicitada.

→ Os bons conselhos devem nascer da prudência do príncipe, e não o


contrário.

Capítulo XXIV
→ POR QUE OS PRÍNCIPES DA ITÁLIA PERDERAM SEUS ESTADOS

"Um príncipe novo é muito mais observado nas suas ações do


que um hereditário; e, quando estas são reconhecidas como
virtuosas, atraem mais fortemente os homens e os ligam a si
muito mais que a tradição do sangue."

Casos na Itália:

→ Além do defeito comum das armas, alguns tiveram o povo como inimigo, outros,
tendo a amizade de tal povo, não se garantiram contra os grandes
→ Em tempos pacíficos, não se deve assumir a permanência desse período →
Não se deve também fugir em tempos de guerra, abandonando o povo.
"As defesas somente são boas, certas e duradouras quando
dependem de ti próprio e da tua virtude."

Capítulo XXV
→ DE QUANTO PODE A FORTUNA NAS COISAS HUMANAS E DE QUE MODO
SE LHE DEVA RESISTIR

"Julgo poder ser verdade que a sorte seja o árbitro da metade


das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra
metade, ou quase."

→ Relação entre sorte e livre-arbítrio


→ O príncipe não deve se apoiar inteiramente na sorte
→ Não se pode, porém, desviar da direção a qual a natureza o inclina

Ímpeto X Cautela → Equilíbrio

"Considero seja melhor ser impetuoso do que dotado de cautela,


porque a fortuna é mulher e consequentemente se torna
necessário, querendo dominá-la, bater-lhe e contrariá-la; e ela
mais se deixa vencer por estes do que por aqueles que
procedem friamente. A sorte, porém, como mulher, sempre é
amiga dos jovens, porque são menos cautelosos, mais afoitos e
com maior audácia a dominam."

Capítulo XXVI
→ EXORTAÇÃO PARA PROCURAR TOMAR A ITÁLIA E LIBERTÁ-LA DAS
MÃOS DOS BÁRBAROS

"Tornada sem vida, espera ela por aquele que cure as suas
feridas e ponha fim aos saques da Lombardia, às mortandades
no Reino de Nápoles e na Toscana, e a cure daquelas suas
chagas já de há muito enfistuladas. Vê-se como ela implora a
Deus lhe envie alguém que a redima dessas crueldades e
insolências bárbaras. Vê-se, ainda, toda ela pronta e disposta a
seguir uma bandeira, desde que haja quem a empunhe."

→ Condição "favorável" à ascensão de um príncipe → período de dificuldades


→ Necessidade de um exército próprio que não resista à cavalaria e que não
tenha medo da infantaria
→ O sucesso, nessas condições, significaria a Maquiavel a notabilização da pátria
italiana.

Você também pode gostar