Você está na página 1de 2

O Príncipe, de Maquiavel – Uma lente política

Na Itália, mais especificamente em San Casciano, foi onde Nicolau Maquiavel


escreveu “O Príncipe” no ano de 1513, resultado de uma meditação sobre sua longa experiência
nos negócios públicos florentinos. Dedicada a Lourenço II (1492-1519), a obra reúne uma série
de conselhos e ensinamentos sobre a dinâmica política, que envolvem a conquista e a
conservação de principados hereditários e principados novos (com este último podendo ser
totalmente novo ou acrescentado a um principado já existente, onde o príncipe adquiriu por
herança) e os interesses do povo e dos grandes nas cidades.
Maquiavel explica a dinâmica política nos principados usando exemplos de sua época,
demonstrando de forma prática as consequências dos atos do príncipe. Podemos observar esta
característica logo no Capítulo II, onde Maquiavel aponta o caso do Duque de Ferrara, na Itália,
que resistiu aos ataques dos venezianos em 1484, e aos de Papa Júlio em 1510, somente por ser
antigo o domínio de sua família no poder. O escritor florentino se aproveita deste acontecimento
histórico para dar crédito ao seu argumento de que, em um principado hereditário, se não houver
uma força extraordinária e excessiva que prive o príncipe do poder, bastará que ele não
abandone a praxe dos antecessores e apenas se atente com as eventuais situações particulares,
para assim, cultivar-se em seu principado.
Falando em príncipe, muitas vezes somos levados a pensar que esta posição só pode
ser ocupada pelo filho do rei, por conta dos filmes, livros e diversos outros materiais artísticos
e históricos que corroboram para esse pensamento, no entanto, não é apenas pela
hereditariedade que alguém pode assumir o principado e torna-se príncipe. Como explica
Maquiavel no capítulo IX do livro, o principado civil é uma forma de governo onde um cidadão
comum torna-se príncipe, não por meio de crimes ou outra violência que seja intolerável, mas
com o favor do povo ou dos grandes, essa ocasião é chamada por Maquiavel de uma astúcia
afortunada.
Também em seu livro, Maquiavel conta a existência de duas forças atuantes nas
cidades: os grandes, que desejam comandar e oprimir o povo; e o povo, que deseja não ser nem
comandado nem oprimido pelos grandes. Ao perceberam que não podem resistir ao povo, os
grandes escolhem um dos seus e o fazem príncipe, aumentando sua reputação e prestígio, para
poderem ser protegidos e terem seus interesses atendidos, da mesma forma, o povo também
percebe que não pode resistir ao grandes e elegem príncipe um dos seus, para serem defendidos
por sua autoridade.
Mas a conquista não é tudo, ao tornar-se príncipe, se existe o desejo de manter-se no
poder, é necessário levar em conta diversos eventos e tomar decisões cabíveis para tal. Dois
conceitos apresentados e desenvolvidos por Maquiavel em seu livro são Virtù e Fortuna, ambos
muito importantes para se conquistar e também manter o poder nos principados. A Virtù se
refere a várias características da personalidade do príncipe que o ajudam na tomada de decisão,
na resolução de problemas do principado, conquistando favores dos grandes e para ser amado
ou temido pelo povo, desta forma mantendo o poder. É devido que o príncipe leve em conta
diversos fatores locais, temporais, econômicos e os interesses políticos do povo e dos grandes,
pois uma dessas características pode levar à glória num determinado momento e em outro
causar a ruina do principado. Outro conceito importante, como citado no início deste parágrafo,
é a Fortuna, que pode ser descrita como uma providência causada por fatores externos, que
ocorre para o príncipe, para a cidade e/ou para o principado como um todo. Em outras palavras,
a Fortuna é uma ocasião, um evento ou acontecimento que pode trazer grandes conquistas,
sejam elas, boa fama, popularidade ou riquezas, mas também pode trazer a ruína, a destruição
para o principado, ou a perda do posto de príncipe para o eleito. Para que a Fortuna se torne em
algo bom para o príncipe, ele deve tomar decisões importantes para tal, decisões essas que
precisam ser fundamentadas pela sua Virtù.
Podemos perceber que, em sua obra, Maquiavel buscou retratar a realidade política de
seu tempo, fruto de sua vasta experiência de vida no cenário político, sistematizando anos de
aprendizado em um pequeno livro com singelas 110 páginas, aproximadamente. É
impressionante que até hoje “O Príncipe” pode ser usado como uma lente política, para
entendermos melhor as motivações dos governantes e também para compreendermos qual a
dimensão das suas ações, e assim, termos uma visão mais ampla de todo o cenário dos interesses
das cidades do nosso tempo.

Texto redigido por Kauan Gautman D. de Oliveira – R.A.: 117916, em 05 de abril de 2021.
Estudante de Filosofia na UEM – Universidade Estadual de Maringá
A/C do professor José Antônio Martins – Disciplina de Filosofia Política

Você também pode gostar