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Abstract: Machiavelli's work “The Prince” is a classic of political literature that, although
written in the 16th century, remains current even in the modern global situation. The present
work seeks, then, to establish the relationship between Machiavelli's teachings about how a
sovereign stays in power and the recent facts that are taking place in Brazil and around the
world. This research is justified because the analysis of modern history shows us how
Machiavelli's teachings remain relevant today. The methodology used was the analysis of
Machiavelli's book “The Prince”, analyzing the ideas presented there from the perspective of
prominent scholars such as Sadek and Aron. As a result, a critical reading of Machiavelli's
work was proposed, which goes beyond the apparent obviousness and demonstrates the depth
that can be extracted from that writing.
1 INTRODUÇÃO
Como seus textos geraram ameaças a valores cristãos vigentes, principalmente sobre
as análises do poder político da igreja católica, ele foi associado diretamente ao diabo, surgindo
daí o jargão "pensamento maquiavélico", ou seja, enganoso. Chamar um inimigo de
“maquiavélico”, portanto, seria uma forma de desqualificá-lo, apresentando-o como a
encarnação do mal.
Contudo, não se pode fazer uma simples análise superficial de uma obra que é
considerada um clássico para a humanidade. Sadek (2011, p. 14), esclarece que Rousseau, ao
analisar Maquiavel, afirmou que o referido autor, "fingindo dar lições aos Príncipes, deu
grandes lições ao povo". O presente trabalho se propõe, portanto, a analisar a obra “O Príncipe”,
de Maquiavel, descortinando seus mistérios e tentando desvendar o motivo de tal obra ser
considerada um clássico mundial. Durante a análise do livro serão feitas ainda breves
considerações quanto aos tempos atuais, verificando se os ensinamentos daquela época
continuam se aplicando aos tempos modernos.
Foi reconhecido como um dos maiores pensadores da teoria pública moderna, tendo
escrito sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser, descrevendo
o Estado real, capaz de impor a ordem e a estabilidade, tendo seu ponto de partida e de chegada
a realidade concreta, ou seja, examinada tal como é e não como gostaria que fosse, tendo
substituído o “dever ser” pelo “ser” em seu pensamento. Nesta carta escrita para F. Vettori, em
1513, citada por Francisco C Weffort, revela sua predestinação para falar sobre o Estado, nos
dizeres: “O destino determinou que eu não saiba discutir sobre a seda, nem sobre a lã; tampouco
sobre questões de lucro ou de perda. Minha missão é falar sobre o Estado. Será preciso
submeter-me à de emudecer, ou terrei que falar sobre ele” (WEFFORT, 2001, p. 17).
Suas principais obras foram: “O Príncipe” (1512 a 1513), “Os discursos sobre a
primeira década de Tito Lívio” (1513 a 1519), “A arte da guerra” (1519 a 1520) e “História de
Florença” (1520 a 1525). De todas as obras escritas por Maquiavel, optou-se no presente
trabalho por se fazer um estudo da obra “O Príncipe”, vez que essa é a obra mais conhecida e
referenciada do aclamado autor.
No segundo tipo ocorre quando os costumes são semelhantes, mas a língua é diferente.
Nesse caso, Maquiavel também destaca a necessidade de eliminar o antigo soberano e sua
linhagem, bem como não alterar leis e impostos. Com isso, a partir de certo tempo, logo esse
território será integrado como se fosse um só corpo.
A terceira situação possível seria quando o idioma e os costumes são diferentes. Nessa
situação, existem mais dificuldades para o príncipe e, para isso, são necessárias ações
diferentes, mas em todas elas está prevista a eliminação do antigo príncipe e sua linhagem. A
primeira solução seria o novo príncipe morar no novo território.
Outro meio eficaz para conquistar um território com língua e costumes diferentes é
colonizá-lo. Ou seja, divide-se o território em colônias-chaves, e manda habitantes para essas
terras. Para Maquiavel, os únicos descontentes serão os povos que terão suas terras ocupadas
pelos colonos, mas eles serão vozes isoladas e sem influência. O autor destaca que esse modelo
de conquista é mais barato que enviar tropas que, além de mais caro, fará a população conviver
muito de perto com o inimigo que terá suas terras, costumes e idiomas diferentes que os seus.
Maquiavel é enfático ao ressaltar que o príncipe sempre terá que ter aliados do novo
território conquistado. Ele deverá pegar os antigos chefes menores e chamá-los para si, mas terá
que ter cuidado para não os dar autonomia e nem força suficientes que o estimulem a trair ou
conspirar contra o novo príncipe.
O autor destaca que se o príncipe não seguir essas regras, o seu reino será fadado ao
fracasso e passará por percalços e dificuldades antes de ele ser perdido. Maquiavel cita como
exemplo do rei francês Luís XII. Ele ocorreu em seis erros substanciais para não ter conseguido
conquistar Veneza e nem Nápoles. São os seguintes esses erros: mesmo tendo costumes
diferentes e idioma diferente dos territórios que queria conquistar, Luís XII não foi morar nos
territórios pretendidos, não os colonizou, tentou expulsar a população (afastando qualquer tipo
de simpatia da população), eliminou possíveis aliados, fortaleceu que já era muito forte (a
Igreja) e colocou como representante um soberano que era poderoso.
Outro exemplo utilizado por Maquiavel é o exemplo de Alexandre Magno, que viveu
quatro séculos antes de Cristo e o autor de “O Príncipe” o vê como exemplo de soberano. Desde
muito jovem, Alexandre conquistou territórios vizinhos ao seu país, mas ele tinha o interesse
maior de conquistar o Império Persa de Dario III. O macedônio casou três vezes: duas vezes
por interesses políticos e a terceira vez, com uma mulher persa, por sentimento.
Ele, mesmo não lendo Maquiavel por ter vivido cerca de dois mil anos antes, “seguiu”
a cartilha do Príncipe. Alexandre foi morar na Pérsia e, inclusive, morreu no Palácio de
Nabucodonosor. Ele deixou como sucessores seus generais, que governaram ao lado do meio-
irmão Felipe e do filho persa que viveu apenas até os oito anos.
Para ilustrar o exemplo de Alexandre, Maquiavel lembra que o conquistador separou
dois tipos de administração: o príncipe que governa com ministros e o príncipe que governa
com a nobreza.
Na segunda situação explicada por Maquiavel, ele cita o exemplo da França, onde na
qual os soberanos antigo e novo são obrigados a reinarem com a nobreza. São estados, conforme
Maquiavel, mais fáceis de se chegar ao poder, mas quando lá se chega, o príncipe se vê obrigado
a conviver com nobres, muitas vezes conspiradores. E mais: é necessário eliminar o soberano
antigo e sua linhagem, mas não se pode eliminar uma classe social porque, como já vimos, o
príncipe precisa do apoio da população.
Nesse sentido, Maquiavel traz o tema de como governar territórios livres. Para isso ele
cita três condições, sendo nem todas eficazes. A primeira condição é a necessidade de o
soberano conquistador dizimar o novo território. A segunda é morar no novo território. E a
terceira é agravar em torno de si um punhado de pessoas do novo território para administrar
com elas. No entanto, nessa terceira situação, Maquiavel já a descarta porque mais cedo ou
mais tarde esses aliados irão conspirar contra o príncipe.
Em todo o caso, o príncipe deverá sempre buscar desenvolver a virtù, que surge quando
ele agarra e vê a oportunidade de poder e ser capaz de governar. Maquiavel cita o exemplo de
quatro figuras históricas: Moisés que guiou o povo hebreu e criou uma nação, o persa Ciro,
Rômulo que criou Roma e o ateniense Teseu. Cada um deles, destacou Maquiavel, teve a
capacidade de conciliar pessoas, unir interesses e serem eficazes ao se tornarem referências
para seu povo e as demais nações. O autor ressalta que eles foram venerados e mesmo assim
tiveram que ter exércitos fortes, porque a persuasão não é eterna. Por isso se faz também
necessário garantir a soberania pelas armas.
Para o autor, quem chega ao poder em troca de dinheiro ou pela graça alheia, com
muita dificuldade manter-se-á no poder. Só com muita virtude, sorte e valor poderá se manter.
Em outras palavras, Maquiavel faz alusão metafórica neste caso, ao fato de que é preciso ter
raízes muito profundas, sólidas e ramificadas para resistir no poder, posto que, de modo diverso,
a primeira tempestade o derruba, dado o despreparo, de modo que, se não procurar se
estabilizar, valorizar, tornar-se astuto, perderá o Estado.
Maquiavel ensina em sua obra que, ao tomar um Estado, o conquistador deve definir
todas as crueldades que necessitará cometer, e praticá-las todas de uma vez, evitando ter de
repeti-las a cada dia; assim tranquilizará o povo, ao não renovar as crueldades, seduzindo-o
depois com benefícios. Quem agir diferentemente, estará obrigado a estar sempre de arma em
punho, e nunca poderá confiar em seus súditos, que devido às contínuas injúrias, não terão
confiança no governante. Já os benefícios devem ser concedidos gradualmente, de forma que
sejam mais bem apreciados. Assim, O Príncipe deve sempre agir pensando no povo, pois na
verdade é o povo quem detém o poder e a força. Com um monarca cruel, o povo se torna
amedrontado e injuriado, acabando por se reunir e destruir seu poderio. Porém quando os
benefícios vêm, o povo se sente feliz e quer bem o monarca, o que diminui consideravelmente
a possibilidade de conspiração.
O governo civil para Maquiavel é governo em que o cidadão se torna soberano pelo
favor de seus concidadãos. Em seu dizer:
O Príncipe será avaliado em sua força, se, caso seja atacado, tiver condições de reunir
um exército suficiente, para defender-se. Caso contrário, será forçado a refugiar-se no interior
de seus muros, ficando na defensiva. A influência para definir a força de um Estado vem do
povo; se o povo estiver ao lado do Príncipe, mesmo que um tirano consiga tomar o lugar do
Príncipe, não logrará êxito, pois o povo se levantará contra ele.
Ao falar sobre os principados eclesiásticos, Maquiavel avalia que tais principados são
adquiridos ou pela virtude ou pela fortuna, mas sã mantidos independentemente desses dois
fatores, devido à força das ordens rigidamente instituídas na religião. Tal situação pode ser
assemelhada, nos dias atuais, aos ministros do STF no Brasil que, embora necessitem de
virtudes ou fortuna para ingressarem ao cargo, eles não precisam nem de uma nem de outra
para se manterem em sua posição, tendo em vista a rigidez das instituições e o procedimento
rígido e nunca utilizado na história de realização de um impeachment de um ministro da Corte
Maior do Brasil.
Nesse jaez, Maquiavel aduz que um Estado pode possuir três tipos de armas: soldados
mercenários, tropas auxiliares e as suas próprias tropas. De acordo com o autor, soldados
mercenários não possuem fidelidade para com o soberano, mas apenas para com seu dinheiro.
Assim, um Estado não pode confiar suas forças apenas em tropas mercenárias. Tropas
auxiliares, por sua vez, são tropas que possuem fidelidade a outro Estado, de modo que também
não são recomendadas para defender os interesses de um soberano. De tod as as armas, então,
as mais confiáveis são as tropas próprias de determinado Estado, as quais devem ser valorizadas
e mantidas sob controle para a manutenção do príncipe. Sadek (2001) esclarece que, para
construir seus argumentos, Maquiavel se utiliza de diversos fatos históricos, pois a metodologia
daquele autor se baseia em analisar a realidade, não como ela deveria ser, mas como ela, de
fato, se apresenta.
Sadek (2001) esclarece que Maquiavel entendia que existiriam traços humanos que
seriam imutáveis e esses traços imutáveis teriam a tendência a se repetir ao longo da história.
Nesse sentido, podemos verificar a atualidade das previsões de Maquiavel nos recentes
conflitos que assolam o mundo, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. No caso desse
conflito, o grupo mercenário Wagner, originalmente contratado pela Rússia, decidiu se rebelar
e, em determinado momento da guerra contra a Ucrânia, marchou contra Moscou para
reivindicar um melhor tratamento por parte da Rússia. O grupo mercenário não conseguiu
impor sua vontade em relação à Rússia, mas é possível perceber, por esse fato concreto, que
Maquiavel estava correto ao falar sobre a falta de lealdade de armas mercenárias. Para as
próprias tropas, contudo, Maquiavel afirma que o príncipe deve ter o maior zelo e percebe-se
que a Rússia conseguiu superar essa crise porque possui tropas muito poderosas e não havia
uma relação de dependência militar com o grupo mercenário que se rebelou.
Após falar sobre as armas, Maquiavel passa a discorrer sobre as virtudes que um
príncipe deve possuir. Preliminarmente, o autor discorre sobre uma série de vícios e virtudes
que são comumente atribuídos aos príncipes de sua época. Após, ele afirma que, em
determinadas situações, a fim de salvar o Estado, o príncipe precisará deixar de praticar alguma
virtude e saber incorrer atitudes que seriam consideradas vícios. Em algumas situações, então,
se o príncipe deseja manter-se no poder, ele precisa compreender que algumas virtudes podem
ser causa de sua queda, e alguns vícios podem contribuir para que ele se mantenha no poder.
Ato contínuo, Maquiavel fala sobre a crueldade e a piedade. Quanto a se ter a virtude
da piedade ou se ter o vício da crueldade, o autor afirma que o vício da crueldade é preferível
para que um príncipe se mantenha no poder. Maquiavel chega a essa conclusão pois, ao analisar
a história, ele conclui que os homens, por natureza, são ingratos e possuem menos escrúpulos
em desobedecer a alguém que se faça amar que alguém que se faça temer. Não obstante,
Maquiavel aduz que o príncipe, embora não precise ser amad o, deve, ao menos, evitar ser
odiado, pois o ódio é igualmente danoso ao soberano. O autor conclui afirmando que, se
possível, o príncipe deve ser amado e temido. Se não for possível ser amado, deve ser, ao menos,
temido, mas não deve ser odiado pelo povo, pois o ódio também poderia levar a sua ruína.
Assim, no que tange aos vícios e às virtudes, o príncipe deve saber que, para manter o
Estado, ele precisará, em determinado momento, deixar de lado uma atitude considerada
virtuosa caso aquela atitude possa levá-lo à sua queda. A virtude aqui é ressignificada por
Maquiavel, passando a representar a capacidade que o príncipe possui de se manter no poder.
Para se manter no poder, então, Maquiavel afirma que o príncipe precisará aparentar ser cheio
de virtudes, ainda que, em essência, ele não as possua. O autor afirma que o povo dá mais
atenção às palavras que ouve que aos atos que vê, sendo necessário que o príncipe saiba
aparentar ser todo virtude em seus discursos para se manter no poder, ainda que ele não pratique
tais virtudes na prática.
Nicolau Maquiavel, então, levanta uma discussão sobre as estratégias que um príncipe
deve empregar para evitar o desprezo e o ódio de seus súditos. O autor argumenta que é
fundamental para um líder manter a confiança e o respeito de seu povo, pois o desprezo e o
ódio podem minar sua autoridade. Ele afirma que o ódio é mais perigoso do que o desprezo,
pois é um sentimento mais ativo que pode levar a rebeliões e a conspirações. Para Victoria
Kahn (1994), Maquiavel oferece várias sugestões práticas utilizando técnicas persuasivas de
linguagem. Ele argumenta que um príncipe deve evitar confiscar bens e mulheres de seus
súditos ou impor tributos muito pesados sobre eles, porque isso só serviria de justificativa para
que o odiassem. Do contrário, o líder deve ser justo e generoso, demonstrando cuidar do bem-
estar de seu povo.
Maquiavel destaca, ainda, que muitos príncipes têm o hábito de construir fortalezas e
realizar outras obras defensivas na crença de que isso traz mais segurança contra-ataques
externos e internos. No entanto, Maquiavel questiona se essas medidas são realmente eficazes
ou se acabam por enfraquecer o governante ao invés de fortalecê-lo. Ele sugere que a melhor
defesa de um príncipe é conquistar o respeito e a lealdade de seu povo e argumenta que um
líder que é amado e admirado por seus súditos terá muito menos chances de enfrentar revoltas
do que aquele que depende apenas de fortalezas e outras medidas defensivas.
Maquiavel discorre, ainda, sobre o erro que os príncipes cometem quando dão ouvidos
aos bajuladores. Ele explica que a origem desse problema reside no fato de que os homens, por
gostarem da bajulação, se deixam por ela enganar. Nesse sentido, Maquiavel sugere algumas
estratégias de atuação aos príncipes: a. a primeira delas é no sentido de que eles escolham bem
os seus conselheiros e só a eles deem o direito de lhes dizer a verdad e; b. a segunda é sobre a
importância de que tenham em mente que cabe a eles decidirem qual o momento ideal para
ouvir seus conselheiros, ou seja, os conselheiros apenas devem falar quando forem
interrogados; c. outra orientação dada por Maquiavel é que os príncipes deixem claro aos seus
conselheiros que ouvir a verdade, mesmo que ela desagrade, não é uma ofensa para eles; d. o
autor ainda acrescenta que um bom príncipe deve questionar seus conselheiros sobre tudo, ouvir
atentamente a opinião de cada um, mas deve decidir sozinho e segundo o seu modo de ver.
Por fim, Maquiavel apresenta os motivos pelos quais os príncipes da Itália perderam os
seus estados. Para ele, o rei de Nápoles, o duque de Milão e outros cometeram erros
relacionados aos exércitos, suscitaram o ódio popular ou não souberam se defender dos grandes.
Dessa forma, Maquiavel conclui que não faz sentido que esses príncipes culpem a fortuna por
suas perdas, uma vez que, para ele, os motivos relacionam-se a suas próprias inaptidões. Nesse
contexto, o autor aborda a influência da fortuna sobre as coisas humanas e o modo como pode
ser contrastada quando é adversa. Assim, Maquiavel afirma ser inegável a força da fortuna
sobre os acontecimentos do mundo e de que a sabedoria dos homens é impotente contra ela.
Contudo, segundo Sadek (2001), essa atitude de Maquiavel foi uma “concordância meramente
estratégica”, tendo em vista que ele “concord a para poder desenvolver os argumentos da
discordância”.
Nesse contexto, Maquiavel realiza uma analogia entre a fortuna e o rio e entre os diques
e cais e a virtù. Ele explica que a fortuna é como um rio que, quando se enfurece, derruba
árvores, casas e inunda planícies. Em que pese o enfurecimento do rio (fortuna) ser algo
inevitável, ele defende que é possível que os homens, em épocas tranquilas, construam diques
e cais (virtù) para ao menos diminuírem os estragos. Dessa forma, Maquiavel conclui que a
fortuna adversa pode ser superada pela virtù.
Ao final de seu livro, Maquiavel realiza uma exortação ao príncipe Lorenço de Médici, a
quem a obra é dedicada. Nesse sentido, ele argumenta que a Itália precisa ser unificada e
libertada da influência estrangeira, e que um príncipe deve emergir para liderar esse esforço.
Ele sugere que Lorenço, da poderosa família Médici, é o príncipe ideal para realizar essa tarefa.
Maquiavel elogia Lorenzo e sua família, expressando confiança em suas habilidades de
liderança e seu potencial para unificar a Itália. Ele enfatiza a necessidade de agir com coragem,
decisão e determinação para alcançar esse objetivo. O autor termina sua obra com uma
mensagem de esperança e otimismo, instando Lorenço a tomar medidas ousadas e ambiciosas
para alcançar a grandeza política e a glória para si mesmo e para sua pátria.
Aron (1985) esclarece que a obra de Maquiavel é condenada por uns, que veem nela os
maus conselhos dados aos soberanos, mas redimida por outros, que interpretam "O Príncipe"
não como um livro de conselhos aos soberanos, mas como um livro que traz importantes lições
ao povo, que passaria a compreender que muitas vezes os príncipes apenas aparentam virtude
sem, de fato, praticá-las. Contudo, o referido comentador afirma que Maquiavel, por meio de
sua obra, apresentou um profundo questionamento sobre a estrutura de poder de um Estado,
indagando se seria possível que um príncipe se mantenha no poder caso ele seja muito virtuoso.
Se não for possível que um príncipe seja virtuoso, contudo, a população também ficaria
insatisfeita em ter um soberano que lhe oprima. Esse questionamento, aparentemente sem uma
resposta clara, é o que torna a obra "O Príncipe" um clássico atemporal que, até hoje, é estudada
e tida como referência para muitos.
5 CONCLUSÃO
Para os estudiosos de tal obra, ainda hoje permanece sem resposta o questionamento
apresentado por Maquiavel se seria possível um príncipe se manter no poder sem saber utilizar,
quando necessário, de métodos que fogem ao tradicional conceito de virtude. O presente
trabalho se propôs, portanto, a analisar tal obra não com o fim de esgotá-la, mas de instigar
maiores investigações por parte de seus leitores. Procurou-se, ao longo das linhas aqui escritas,
demonstrar a importância do livro “O Príncipe” para a literatura mundial, demonstrando como
é possível perceber que os ensinamentos ali contidos são muitas vezes utilizados até os tempos
modernos, servindo ora como referência para aqueles que querem se manter no poder, ora como
alerta para o povo explorado pelos detentores do poder.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS