Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

GRADUAÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS 2023/2

Júlia Freitas de Souza Silveira

RESENHA

RESUMO: Este texto propõe a debater sobre a dualidade das duas obras de Nicolau
Maquiavel, O Príncipe e Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio. Esta resenha
busca estabelecer uma discussão analisando o contexto em que as obras foram escritas,
estabelecer os pontos em que essas obras se assemelham e se diferem e trazer outras
referências bibliográficas que auxiliam e/ contrapõem com a visão maquiavélica.

Palavras-chave: Maquiavel, líder, Florença, estabilidade, República, Principado,


príncipe, pensamentos, fortuna e virtú.

I) Introdução:

Nicolau Maquiavel, considerado o pai da teoria política-moderna, nasceu em


Florença em 3 de maio de 1469. Ele desempenhou o papel de assessor político durante o
período republicano, após a queda do governo da família Médici. Durante suas
atividades nos tribunais, teve contato com influentes líderes da época, atuando como
diplomata e aconselhando os governantes de Florença para garantir a estabilidade
governamental. Teve sua fama por analisar as maneiras de exercer o poder. Em vez de
idealizar como um estado ou governante deveria ser, ele se concentrou em examinar a
realidade. Desse modo, Maquiavel, que já estava dentro dos meios políticos de
Florença, interessou-se e se dedicou a avaliar dois pontos que serão tratados ao longo da
discussão sobre o Principado e a República, juntamente com sua experiência de vida,
que ajudariam a fortalecer o seu discurso.
II) Do principado à república

Escrito durante seu exílio devido a uma suposta conspiração de Maquiavel contra
o governo dos Médicis, “O Príncipe” tem como base, resumidamente, a conformação
com o fato de que Florença seria governada por um príncipe, e assim o autor começa a
buscar um meio de se aliar ao novo governante para conseguir uma boa posição e
liberdade política.

Primeiramente, Maquiavel faz divisão sobre os dois tipos de principado, os


hereditários (ereditari), ou seja, aqueles que eram passados de pai para filho com a
tradição sanguínea real fortemente estabelecida. Este também se subdivide em dois, os
que é regido por príncipe e barões e o outro que regido pelo príncipe mais os ministros .
O outro tipo de principado existente para o autor são os novos (nuovi), que se dividem
em dois tipos: aqueles que são completamente novos e aqueles que são anexados ao
Estado hereditário do príncipe conquistador. Desse modo, através dessa classificação, o
autor florentino altera a divisão tradicional de tipologia de governo de como se governa
e a quem governa (tratado pelos grandes pensadores como Aristóteles e Platão para
refletir sobre aristocracia, república…), em uma única categoria de como manter e obter
o principado.

Além disso, trata também sobre mais duas tipologias do poder que são Republica
e Estados mistos e para cada um dessas três divisões há uma estratégia governamental.

Tal ótica tratada por Maquiavel, exibe um plano de fundo para iniciar o seu
pensamento sobre o modo como o Príncipe deveria agir para reger o poder e se manter
estável à ele, baseado no modelo de governo em que ele estava inserido. Diante dessas
classificações, que são dedicadas à discussão ao longo dos capítulos de “O Príncipe”,
reforça a ideia de que o florentino necessitava desta divisão para saber ordenar a melhor
forma de orientar os príncipes visando estratégias para obter a sua estabilidade, fato que
é reforçado em toda obra do autor. E como esse estrategismo é tratado pelo autor?

Para responder a essa pergunta, sem o objetivo de trazer um aprofundamento


teórico, trataremos de alguns pontos que Maquiavel explicita em sua obra. É
interessante destacar que o autor entende que as formas de um governo, em particular
dos principados, não podem ser desligadas dos modos de obtenção e manutenção, que é
justamente isso que as define.
Em primeira análise, é válido ressaltar que, Maquiavel defende que a política é
intrinsecamente imoral e pragmática. Partindo, então, dessa afirmativa, é notório que
novamente o autor se distancia dos padrões morais que antes eram tão defendidos
trazendo uma ruptura com esse pensamento, que exibiam a moralidade clássica, cristã.
E não que seja excluído este fato tão importante, mas, na verdade, contrário a isso, o
pensamento maquiavélico tratado em “O Príncipe” faz o caminho inverso e entende que
a política é que determina a moralidade.

Desse modo, outro ponto fundamental que perpassa as obras de Maquiavel é a


fortuna e a virtú, sendo respectivamente, os acontecimentos que fogem do controle do
planejamento de um príncipe e os rumos que alteram o destino de um homem ou de um
estado e a capacidade racional do homem, de sentir tal alteração e agir em cima dela
para que não fique sujeito a este imprevisto. Estes dois conceitos tratados por ele,
refletem em como o líder estabelece sua estabilidade. Assim, para o autor, um
governante bem-sucedido deve ser virtuoso, pois assim controlará o seu destino, e com
isso se manterá no poder e garante, consequentemente, o bem estar do estado. Também
ressalta a importância da fortuna, pois testa a “qualidade” do líder virtuoso e o resultado
disso demonstrará se foi vitorioso ou fracassado. Porém, reforçando a ideia de
estabilidade mais uma vez, em “O Príncipe”, não haveria medição de esforços,
independentes das vias que seriam tomadas para que ela acontecesse, e assim
ultrapassando os aspectos de moralidade, antes defendido pelos autores clássicos.

Em outro contexto, Maquiavel já retrata sua ambiguidade como antes supracitado


devido à sua forma de enxergar estas particularidades definidas por ele mesmo. Nesse
sentido, na outra obra do autor, “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”,
publicada em 1531, se assemelha a “O Príncipe” por dar continuidade ao seu
pensamento político e suas orientações sobre a importância de mantê-los conservados.
Porém, se diferem ao entender que uma República é mais durável e apresenta mais
estabilidade. Sob essa ótica, os cidadãos que antes eram considerados apenas um meio
para obter poder, agora são colocados no cenário como participantes também dele.
Assim, estimula o debate sobre o conceito de liberdade e virtude cívica, que segundo
ele, há uma necessidade de confiar ao povo a preservação da liberdade para garantir a
participação deste na vida pública. No entanto, tal confiança poderia levar o público a
intenções e desejos que não são consensuais (como acontece na maior parte das vezes)
pode resultar em conflitos políticos, por exemplo à uma forma de corrupção.
Outro ponto que se diferem, é o que se trata da moralidade. Nesse sentido, em “O
Príncipe”, como antes dito, trata a imoralidade como um meio para se manter estável e
já em “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio” defende que sua moral deveria
ser estabelecida através da participação cívica, sendo uma virtude necessária.

E também outro ponto fundamental na obra de Maquiavel já citado são os


conceitos de virtú e fortuna. Assim, ao explicar, durante O Príncipe e os Discursos, traz
cenários históricos, que compreende ser uma base para entender os acontecimentos do
governo em que é analisado já que a história é cíclica, onde os personagens e os estados
ficaram sujeitos à virtude e à fortuna, fica claro que não há na teoria de Maquiavel
qualquer previsibilidade diante dos fatos inesperados que podem ocorrer, porém
continua a defender que os líderes precisam se adaptar aos quadros que lhes são
apresentados.

III) Conclusão:

Diante do exposto ao longo do texto, percebe-se que a preocupação de Maquiavel


com a liderança de uma sociedade e os caminhos em que ela pode percorrer baseados
em moralidade, estabilidade, consistência, sabedoria e a importância com a
consequência das atitudes de um líder. Desse modo, apesar de ao longo do texto trazer
dois aspectos distintos e semelhantes nas obras, ambas são necessárias para o
entendimento da complexidade política e romper com os pensamentos tradicionais de
como ela funcionava.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

1981.

MAQUIAVEL, N. Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio.

São Paulo: Martins Fontes.


PLATÃO. A República, livros VII (315-325), VIII (inteiro). Editora VEGA.

ARISTÓTELES. Política, Livro VI.

Você também pode gostar