FUNDAMENTOS DA POLÍTICA E DO ESTADO 1/2023 – [vespertino] Professor: Fernanda L. S. de Medeiros Discente: [Vinicius Augusto O F L Oliveira] RA: [22310607] Fichamento 6: [WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, o Federalista. São Paulo:Ática,1995.]
No segundo capítulo do livro Clássicos da política, Maria Tereza Sadek apresenta-
nos o tão falado e famigerado Nicolau Maquiavel. São mais de cinco séculos que separam os escritos do autor florentino e, mesmo assim, trata-se de um dos teóricos mais lidos e falados no âmbito da filosofia política e da academia até os dias de hoje. Seus escritos ultrapassaram o escopo acadêmico, chegando até mesmo ao mais comum do vocabulário popular. Neste sentido devemos nos ater ao que realmente foi dito e expressado pelo indigitado pensador, fugindo um pouco do imaginário popular e se aprofundando em suas idéias e premissas para melhor compreende-lo. Para começar, é importante que se entenda o período e a localidade em que foram escritos os textos de Maquiavel. Tratava-se da Itália de 1512. Como descrito por Sadek, não passava de um mosaico de Estados com culturas e estilos próprios de poder, além de estarem em constante conflito entre si e com nações alheias. Neste contexto, Sadek chega a mencionar que governantes não conseguiam permanecer no poder por mais de dois meses. Tal fato evidencia a incontrolável instabilidade social e política vigente na época. E foi em meio a esse ambiente turbulento que Maquiavel desenvolveu toda a sua filosofia, após ser expulso da segunda chancelaria do governo quando os Médicis voltaram ao poder de Florença. Além de ser torturado e preso por, supostamente, ter conspirado contra o governo em vigor. Maquiavel decide pensar e escrever sobre toda essa instabilidade do Estado, o que, segundo ele mesmo, significou sua vida pública. Maquiavel, em seus estudos sobre o Estado, tinha por foco atingir um Estado eficiente. Para isso, frisou sua análise em encontrar uma “realidade objetiva”, segundo Sadek. A autora revela que Maquiavel não se atinha ao “dever ser” pregado por Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino, mas sim ao “ser” pregado pelos historiadores clássicos. A busca por essa “realidade objetiva” nada mais era do que se ater ao que realmente acontecia, aos fatos em si, não ao que preconizava a ética e a moralidade. Com base nisso, ele começa a refletir sobre como instituir um Estado estável tendo em vista o “ser”, isto é: tendo em vista que as coisa são como são. Na busca pela “verdade objetiva”, Maquiavel encontra uma constante entre os homens. De acordo com ele, os homens são invariavelmente “ingratos, volúveis, covardes ante os perigos e ávidos por lucro”. Tal constante resulta em todos os conflitos que conhecemos, esclarece Sadek. Resulta inclusive nos conflitos políticos. Nesta levada, Maquiavel conclui que: por o ser humano ter tais características intrínsecas, a história seria cíclica, sendo sempre uma alternância entre conflitos e estabilidade, todos temporários e pelas mesmas motivações. A única variação seria o tempo, sendo maior ou menor a estabilidade mediante a época e governante. A história, nesta ótica, seria o caminho pelo qual se chegaria a uma solução envolvendo os problemas políticos, visto que sempre se repetem. Já o poder político, por ser fruto da malignidade de nossas características mais intrínsecas, jamais teria sua estabilidade garantida de forma efetiva. A única forma seria impor uma correlação entre as forças da sociedade (aqueles que desejam dominar e aqueles que não desejam ser dominados), promovendo a estabilidade. A solução seria a instalação de um principado. Sadek enfatiza que Maquiavel não tem por base uma visão ideológica sobre qual modelo seria melhor, mantinha todo seu foco na efetividade dos sistemas onde quer que fossem adotados. Maquiavel vai dizer que, num principado, o príncipe não trata-se de um ditador. Seria um “fundador do estado” ou um “provedor da ordem”. Alguém com virtu (virtude), deveria ocupar esse cargo. Não a virtude como a época, vista pelas lentes do cristianismo. Um homem virtuoso seria um homem que ama a fortuna, o poder, a glória e nada deixaria de fazer afim de conservar consigo estas benesses. Um homem que faria de tudo para conservar o poder, não se limitando em freios morais ou extraterrenos, pois para ele, isso é o que mais importa. A virtu é a chave para o sucesso do príncipe. O principado, com o príncipe como agente unificador, deveria então ser instaurado em um Estado como o que vivera Maquiavel, desunido, instável e problemático. A finalidade seria, por meio do príncipe, estabilizar, unir e estabilizar o Estado como um todo. Após o poder político (príncipe) tiver cumprido seu papel “agregador” e “educador”, o povo estaria pronto para experimentar a liberdade republicana. Na republica, como dito por Sadek, o povo é virtuoso, as instituições são estáveis e completam a dinâmica social. Até mesmo os conflitos seriam virtuosos. O principado seria um regime de transição para a republica, portanto o caminho para a tão cobiçada estabilidade do Estado.