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Nicolau Maquiavel

Nicolau Maquiavel foi um dos principais autores de sua época,


o Renascentismo, que consiste em um intermédio entre a Idade
Média e a Modernidade. Defensor do absolutismo e de ações
duras e austeras por parte de um governante quando
necessário, Maquiavel foi injustiçado ao entrar para a história
como o patrono da expressão “maquiavélico”, utilizada para
designar alguém capaz de tudo pelo poder. Para Maquiavel, a
conservação do poder nas mãos de um bom governante, mesmo
que em situações de maior controle, é condição necessária para
a conservação da ordem política.
Leia também: Ciência política – campo das ciências sociais que
estuda as formações políticas estruturais

Biografia de Maquiavel

Nicolau Maquiavel, em italiano, Niccoló di Bernardo dei


Machiavelli, nasceu no dia 3 de maio de 1469, no berço do
renascimento das artes e da cultura europeia, a cidade
de Florença. Em sua época, ainda não havia unificação italiana e
as cidades localizadas na Península Itálica eram independentes.
Apesar de entrar para a história como filósofo e teórico político,
foi na prática que Maquiavel construiu sua carreira: ele foi
um destacado funcionário público florentino em dois períodos
completamente opostos da cidade, a república e a monarquia.
Quando Maquiavel era ainda uma criança, Florença era
governada pela família Médici, que já sofria sucessivas
tentativas de golpes. Em 1478, Juliano de Médici foi assassinado
e seu irmão, Lourenço de Médici (Lourenço, o Magnífico), que
dividia o poder com Juliano, tornou-se senhor absoluto da
república florentina, ficando no poder até 1492, quando faleceu.
Após a morte de Lourenço, Piero II, seu filho, herdou o poder da
República de Florença, mas um golpe arquitetado pelo padre
dominicano Jerônimo Savonarola expulsou os Médici de
Florença. Em 1497, Savonarola foi excomungado da Igreja.
Em 1498, Maquiavel foi nomeado, pela primeira vez, para um
cargo público em Florença, tornando-se segundo secretário da
senhoria, crescendo, três meses depois, para chefe da segunda
chancelaria, seguindo carreira brilhante à frente da chancelaria
da cidade nos negócios exteriores.
No ano de 1501, Maquiavel casou-se com Marietta Corsini,
com quem teve seis filhos. Sua biografia o aponta como um pai
financeiramente provedor, mas carinhoso apenas quando estava
presente, pois a maior parte do tempo ele passava nos gabinetes
da chancelaria ou viajando a trabalho.

Nicolau
Maquiavel é um grande nome da teoria política.
Em 1512, os Médici retomaram o poder de Florença. Em 1513,
devido a uma atuação forte de Maquiavel com o governo anterior
e a sua ligação com milícias e campanhas militares ligadas a
esse mesmo governo, ele foi acusado de conspiração,
chegando a ser preso e torturado. Ao ser solto, exilou-se por
um tempo em sua casa de campo. Foi nessa época que
ele redigiu os primeiros esboços de O Príncipe.
O senhor de Florença, Juliano de Médici, pretendeu trazer
Maquiavel para o serviço público novamente, o papa, no entanto,
não o permitiu. Juliano de Médici morreu em 1516, e quem
herdou o poder de Florença foi seu filho, Lourenço de Médici (não
podemos confundir este Lourenço e este Juliano com o Lourenço
e o Juliano que governaram Florença ainda no século XV, o
Lourenço de agora é neto do Lourenço do passado, e o Juliano é
filho do Lourenço do passado, O Magnífico, que governou
Florença sozinho após a morte de seu irmão). Maquiavel
dedicou a Lourenço a sua obra O Príncipe.
Em 1520, Maquiavel retornou ao serviço público, não mais
ocupando a chancelaria, mas agora como historiador oficial de
Florença. A ele foi encomendada a história de Florença, obra que
levou cinco anos para ser finalizada. Maquiavel
permaneceu com Lourenço, atuando como conselheiro e
sendo enviado a algumas missões.
O filósofo, teórico político e funcionário público florentino faleceu
em 21 de junho de 1527. Seus dois principais
livros, Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio e O
Príncipe foram publicados postumamente, em 1531 e 1532,
respectivamente.
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Teoria de Maquiavel

Apesar de ser uma república, Florença não era exatamente


democrática. Os cargos políticos, sobretudo o Executivo, eram
dados a uma classe de pessoas ligada à burguesia e à nobreza.
Os Médici, por exemplo, eram uma família de duques, nobres
donos de terras originários da Toscana. A teoria política de
Maquiavel reflete o que ele vivenciou: uma política não
democrática em uma cidade cheia de conflitos internos e
externos pelo poder, além de sofrer a forte influência da Igreja
Católica.
Em sua teoria política, Maquiavel destacou a importância de se
manter o poder, ou seja, do governante manter-se no
governo, para que o Estado e a ordem social sejam
preservados. Ele se destacou como um teórico do absolutismo,
mas é necessário observar o porquê: mais por conservação da
ordem do que por concordar com qualquer formação de
privilégios políticos.
Assim como outros renascentistas, ele inovou ao separar o
domínio religioso dos demais domínios. No
caso, Maquiavel foi importante por separar o domínio
religioso do domínio político. Isso foi inaugurado pelos
humanistas cívicos que surgiram com o Renascimento. Conforme
o professor João Aparecido Gonçalves Pereira:
“como o humanismo cívico foi um movimento que aconteceu nas
diversas áreas do conhecimento, quando se trata do âmbito político,
ele não significou somente uma recuperação do discurso filosófico
greco-romano e dos assuntos que haviam sido desconsiderados da
pauta da filosofia cristã, mas também uma mudança de paradigma do
pensamento em torno da condição humana inserida no mundo
empírico. Isto é, passou-se a considerar como importante a vida
terrena dos homens com os seus respectivos desdobramentos, como
as atividades políticas e sociais.”|1|

Ora, a obra de Maquiavel demarcou essa mudança de paradigma


do Renascimento no âmbito político, na vida política, na vida
pública, no âmbito jurídico, no funcionalismo público etc.
Veja também: Filosofia política – reflexões filosóficas sobre a
origem ou a organização da vida em sociedade

O Príncipe

O Príncipe é um manual para os governantes sobreviverem


no poder. Nesse livro, Maquiavel apontou aquilo que é
necessário para que haja a conservação do poder e a
consequente conservação do Estado em uma cidade.
Dentro da obra de Maquiavel, podemos destacar alguns pontos
centrais encontrados no livro em questão:
 Virtu e fortuna: é melhor ter a virtu do que contar apenas com a
fortuna, isto é, é melhor ter uma capacidade de provisão, uma
força e, em alguma tradução, até a virtude, do que contar apenas
com a sorte. Virtu é toda a característica de bom preparo do
governante. Ter a boa sorte é bom, mas aquele que tem a boa
sorte, e está preparado para a sorte ruim, permanece no poder.
 Os fins justificam os meios: Maquiavel não disse essa frase,
mas ela foi atribuída à sua obra por estar alinhada com o seu
pensamento. Um bom governante, para manter o governo e a
ordem social, precisa tomar medias impopulares e até cruéis às
vezes. Em nome da ordem, essas medidas são justificáveis.
 Ser amado é bom, mas é preferível ser temido: o temor impede
a revolta. O amor é inconstante, e a confiança do amor permite a
revolta. Não é de todo ruim ter algum amor do povo, mas é melhor
ser temido, pois o que teme não se levanta contra.
 Ações populares e ações impopulares: as ações populares,
aquelas que agradam ao povo, que são boas para o povo, devem
ser feitas lentamente. As ações impopulares devem ser feitas de
uma vez. Essa tática visa a manter a popularidade do governante.
Ele sempre será lembrado como bom, caso venha de tempos em
tempos soltando parte do resultado de sua ação popular, e será
rechaçado por um tempo (mas logo cairá no ostracismo), se tomar
uma medida impopular de uma vez.

Influências de Maquiavel

Maquiavel foi claramente inspirado por um


espírito humanista renascentista que pegou as influências do
mundo clássico e as transformou para as deixar aptas à sua
época. Destro dessas referências, aparecem Tito Lívio,
Tucídides, Cícero, Platão e Aristóteles. Com sua engenhosa
teoria, ele acabou inaugurando uma política moderna que
ecoa até hoje em nosso mundo, inspirando estadistas,
governantes e toda a classe política, que encontra nessa teoria
uma poderosa ferramenta política.
Intelectualmente ele teceu influências (seja para a concordância,
seja para a discordância) em Thomas Hobbes, John Locke, os
iluministas franceses, como Voltaire e
Montesquieu, Rousseau, Hegel e Marx.

Frases de Maquiavel

 “Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar


do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de
gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já
que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo
do castigo, que nunca falha.”
 “O primeiro método para estimar a inteligência de um governante
é olhar para os homens que tem à sua volta.”
 “Tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal.”
 “Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens,
pois quem não espera o bem não teme o mal.”
Nota

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