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CIÊNCIA POLÍTICA
1. Maquiavel
2. Hobbes
3. Locke
4. Montesquieu
5. Rousseau
6. O Federalista
A vida de Maquiavel cobriu o período de maior esplendor cultural de Florença, assim como
o do seu rápido declínio. Este período, marcado pela instabilidade política, pela guerra, pela
intriga, e pelo desenvolvimento cultural dos pequenos estados italianos, assim como dos
Estados da Igreja, caracterizou-se pela integração das rivalidades italianas no conflito mais
vasto entre a França e a Espanha pela hegemonia européia, que preencherá a última parte do
século XV e a primeira metade do século XVI. De fato, a vida de Maquiavel começou no
princípio deste processo - em 1469, quando Fernando e Isabel, os reis católicos, ao casarem
unificaram as coroas de Aragão e Castela, dando origem à monarquia Espanhola.
Maquiavel era filho de um influente advogado florentino, e durante a sua vida viu florescer a
cultura e o poder político de Florença, sob a direção política de Lourenço de Médicis, o
Magnífico. Veria também o crepúsculo do poder da cidade quando o filho de Lourenço e seu
sucessor, Piero de Médicis, foi expulso pelo monge dominicano Savonarola, que criou uma
verdadeira República Florentina. Quando Savonarola, um fanático defensor da reforma da
Igreja, foi também ele expulso do poder e queimado, uma segunda república foi fundada por
Soderini em 1498. Maquiavel foi secretário desta nova república, com uma posição
importante e distinta. A república, entretanto, foi esmagada em 1512 pelos espanhóis que
instalaram de novo os Médicis como governantes de Florença.
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Maquiavel parece não ter tido uma posição política clara. Quando os Médicis retomaram o
governo, continuou a trabalhar incansavelmente para cair nas boas graças da família. O que
prova que, ou era extraordinariamente ambicioso, ou acreditava de fato no serviço do estado,
não lhe importando o grupo ou o partido político que detinha as rédeas do governo. Os
Médicis, de qualquer maneira, nunca confiaram inteiramente nele, já que tinha sido um
funcionário importante da república. Feito prisioneiro, torturaram-no em 1513 acabando por
ser banido para a sua propriedade em San Casciano, mas esta atuação dos Médicis não o
impediu de tentar novamente ganhar as boas graças da família. Foi durante o seu exílio em
San Casciano, quando tentava desesperadamente regressar à vida pública, que escreveu as
suas principais obras: Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, O Príncipe, A
História de Florença, e duas peças. Muitas destas obras, como O Príncipe, foram escritas
com a finalidade expressa de conseguir uma nomeação para o governo dos Médicis.
Maquiavel foi o primeiro a discutir a política e os fenômenos sociais nos seus próprios termos
sem recurso à ética ou à jurisprudência. De fato pode-se considerar Maquiavel como o
primeiro pensador ocidental de relevo a aplicar o método científico de Aristóteles e de
Averróis à política. Fê-lo observando os fenômenos políticos, e lendo tudo o que se tinha
escrito sobre o assunto, e descrevendo os sistemas políticos nos seus próprios termos. Para
Maquiavel, a política era uma única coisa: conquistar e manter o poder ou a autoridade.
Tudo o resto - a religião, a moral, etc. -- que era associado à política nada tinha a ver com
este aspecto fundamental - tirando os casos em que a moral e a religião ajudassem à conquista
e à manutenção do poder. A única coisa que verdadeiramente interessa para a conquista e a
manutenção do poder manter é ser calculista; o político bem sucedido sabe o que fazer ou o
que dizer em cada situação.
Com base neste princípio, Maquiavel descreveu no Príncipe única e simplesmente os meios
pelos quais alguns indivíduos tentaram conquistar o poder e mantê-lo. A maioria dos
exemplos que deu são falhanços. De fato, o livro está cheio de momentos intensos, já que a
qualquer momento, se um governante não calculou bem uma determinada ação, o poder e a
autoridade que cultivou tão assiduamente fogem-lhe de um momento para o outro. O mundo
social e político do Príncipe é completamente imprevisível, sendo que só a mente mais
calculista pode superar esta volatilidade.
Maquiavel, tanto no Príncipe como nos Discursos, só tece elogios aos vencedores. Por esta
razão, mostra admiração por figuras como os Papa Alexandre VI e Júlio II devido ao seu
extraordinário sucesso militar e político, sendo eles odiados universalmente em toda a
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Europa como papas ímpios. A sua recusa em permitir que princípios éticos interferissem na
sua teoria política marcou-o durante todo o Renascimento, e posteriormente, como um tipo de
anti-Cristo, como mostram as muitas obras com títulos que incluíam o nome anti-Maquiavel.
Em capítulos como «De que modo os príncipes devem cumprir a sua palavra» (cap. XVIII)
Maquiavel afirma que todo o julgamento moral deve ser secundário na conquista,
consolidação e manutenção do poder. A resposta à pergunta formulada mais acima, por
exemplo, é que:
«Todos concordam que é muito louvável um príncipe respeitar a sua palavra e viver com
integridade, sem astúcias nem embustes. Contudo, a experiência do nosso tempo mostra-nos
que se tornaram grandes príncipes que não ligaram muita importância à fé dada e que
souberam cativar, pela manha, o espírito dos homens e, no fim, ultrapassar aqueles que se
basearam na lealdade».
Pode ajudar na compreensão de Maquiavel imaginar que não está a falar sobre o estado em
termos éticos, mas sim em termos cirúrgicos. É que Maquiavel acreditava que a situação
italiana era desesperada e que o estado Florentino estava em perigo. Em vez de responder ao
problema de um ponto de vista ético, Maquiavel preocupou-se genuinamente em curar o
estado para torná-lo mais forte. Por exemplo, ao falar sobre os povos revoltados, Maquiavel
não apresenta um argumento ético, mas cirúrgico: «os povos revoltados devem ser amputados
antes que infectem o estado inteiro.»
O único valor claro na obra de Maquiavel é a virtú (virtus em Latim), que é relacionado
normalmente com «virtude». Mas de fato, Maquiavel utiliza-a mais no sentido latino de
«viril», já que os indivíduos com virtú são definidos fundamentalmente pela sua capacidade
de impor a sua vontade em situações difíceis. Fazem isto numa combinação de carácter,
força, e cálculo. Numa das passagens mais famosas do Príncipe, Maquiavel descreve qual é a
maneira mais apropriada para responder a volatilidade do mundo, ou à Fortuna, comparando-
a a uma mulher: «la fortuna é donna». Maquiavel refere-se à tradição do amor cortesão, onde
a mulher que constitui o objeto do desejo é abordada, cortejada e implorada. O príncipe ideal
para Maquiavel não corteja nem implora a Fortuna, mas ao abordá-la agarra-a virilmente e
faz dela o que quer. Esta passagem, já escandalosa na época, representa uma tradução clara da
idéia renascentista do potencial humano aplicado à política. É que, de acordo com Pico della
Mirandola, se um ser humano podia transformar-se no que quisesse, então devia ser possível
a um indivíduo de caráter forte pôr ordem no caos da vida política.
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E continua:
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O “Príncipe” é um manual de estratégia política que tanto pode servir para os bons
quanto para os maus: “Maquiavel diz apenas que, para alcançar o bem comum, meta
maior em qualquer Estado, pode-se ter que praticar o mal em alguns momentos.
Destarte, qualquer grupo que pretenda conquistar o poder e mantê-lo, a fim de realizar o
bem público, terá que usar dos artifícios ditos maquiavélicos”.
E para arrematar:
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O tópico sobre Thomas Hobbes que segue abaixo foi extraído do artigo da professora
Dayse Braga Martins, que pode ser encontrando em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?
id=2117. Cuida-se o texto abaixo de uma cuidadosa visão da obra de Hobbes e merece a
transcrição.
Este trabalho é dedicado ao estudo da Filosofia de Thomas Hobbes, uma filosofia afeita,
sobretudo à política.
Defensor do absolutismo estatal do Rei, Thomas Hobbes criou uma teoria que
fundamenta a necessidade de um Estado Soberano como forma de manter a paz civil.
Em sua construção hipotética partiu do contrário, ou seja, iniciou sua teoria a partir dos
homens convivendo sem Estado, para depois justificar a necessidade dele. Esse estágio
do convívio humano sem autoridade, onde tudo era de todos, recebe o nome de estado
natural.
Este breve relato da vida de Thomas Hobbes, possibilitará uma melhor compreensão de
sua filosofia:
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Teve a oportunidade de, desde os sete anos de idade, estudar os clássicos com Robert
Latimer. Interessando-se pelo estudo, aos quatorze anos, Hobbes ingressou na
universidade de Oxford, "Magdalen Hall", foi um estudante mediano. Nesta época,
morre Elizabeth I e assume seu primo Jaime I, iniciando a dinastia dos Stuart.
Depois de formado, com vinte anos, foi indicado para ser preceptor do filho de uma
família de prestígio. Naquela época os filhos de famílias ricas tinham uma espécie de
professor particular, era o chamado preceptor. Esta profissão não rendia muitos ganhos,
mas Hobbes pôde usufruir do conforto da casa e da vasta biblioteca, possibilitando o
aprofundamento de seus conhecimentos. Além disso, viajou pela França e Itália, onde
aperfeiçoou seus idiomas.
Em 1629, Hobbes foi o primeiro a traduzir para o inglês a obra "Guerra do Peloponeso",
do importante historiador grego, indicado como inventor da história racionalista,
Tucídides. A partir daí, o filósofo começa a mostrar suas tendências políticas.
Com este conhecimento eclético, Hobbes formulou sua própria metodologia para a
fonte do conhecimento, o empirismo racionalista. Esta metodologia original foi aplicada
em sua ciência política, ao analisar os fatos sociais, deduzindo conceitos, nominando-os
e, por fim, pondo-os em uma ordem sistematizada. Esta transformação de conceito para
palavra é o chamado nominalismo.
Sempre mostrou grande interesse pelos problemas sociais, sendo fiel defensor do
despotismo político. É o que comprova seus escritos: "Elementos de Lei Natural de
Política"(publicado em 1640, época em que voltou para França em decorrência de
atritos políticos); "O Cidadão"(publicado em 1642. Fala do homem em seu estado
natural.); "Leviatã" (publicado em 1651). Era preceptor do príncipe de Gales, que
depois veio a ser Rei Carlos II da Inglaterra).
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Depois de tantas lutas políticas, tendo sido alvo de muitas perseguições, dentre outros,
por acharem suas obras "O Cidadão" e o "Leviatã" ateístas, aos setenta e dois anos,
Hobbes volta aos estudos dos clássicos e suas traduções. Seus últimos anos de vida
foram de paz.
Thomas Hobbes faleceu em 1679, com noventa e um anos. E, só dez anos depois de sua
morte, as idéias liberais que tanto combatia triunfaram.
A teoria de Hobbes é por vezes mal interpretada. E, para melhor entender sua teoria,
antes de nos aprofundarmos, vamos tentar resolver esta problemática, analisando um
trecho do livro de Paulo Nader, "Filosofia do Direito" (4):
"... em Leviatã (1651), o filósofo inglês partiu da crença no chamado status naturae,
durante o qual os homens teriam vivido em constante medo diante das ameaças de
guerra. Nessa fase que aconteceu à formação da sociedade não haveria em favor do
status societatis se fizera por conveniência, pelo interesse em se obter garantia e tutela."
Paulo Nader fala na "crença" de Hobbes num "status naturae". Esta palavra "crença"
leva os leitores a pensar que o estado natural de Hobbes é um fato histórico. Ocorre que
toda sua teoria é uma construção hipotética, criada somente na sua mente.
Daí a importância de conhecer as fontes originais dos autores a serem estudados. Não só
porque alguns intérpretes destorcem os pensamentos dos autores, mas também, porque
são obscuros, deixando uma grande margem de erro para o leitor leigo no assunto.
Assim, importante sempre lembrar que tudo que falarmos sobre a teoria de Hobbes –
estado natural, estado de natureza dos homens- é sempre hipoteticamente, dentro da
teoria criada por ele.
Ao fazer a decomposição do Estado para sua análise, estuda-se seu elemento, que é o
homem. Hobbes estuda o homem no seu estado natural, sem interferência de nenhuma
autoridade. Ele imagina os homens convivendo sem Estado.
Hobbes analisa a natureza humana dentro da sua teoria hipotética sobre o prisma
realista. Ele não estuda a essência dos homens, mas sim, as condições objetivas dos
homens no seu estado natural.
A convivência dos homens sem um Estado que os tutele, acarreta uma igualdade
aproximada que leva à "guerra de todos contra todos".
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Neste estado de natureza todos os homens têm direito a todas as coisas. E, sabendo que
os bens são escassos, quando duas pessoas desejarem um só objeto indivisível, estas são
livres para lutar com todas as armas para satisfazer seu desejo.
"Todos são iguais no ‘medo recíproco’, na ameaça, que paira sobre a cabeça de cada
um, da ‘morte violenta’. Os homens ‘igualam-se’ neste medo da morte." (5)
A "guerra de todos contra todos" pode ser melhor entendida, também, com as palavras
do próprio autor, que no livro "Leviatã" (6) escreve:
"Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é
inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os
homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria
força e sua própria invenção. Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu
fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das
mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem
instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há
conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há
sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E
a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta."
"Todas estas fuentes tan diversas robustecen la idea pesimista que Hobbes tiene del
hombre como un ser dinámico y peligroso como un lobo, que, al revés que los otros
lobos, no tiene instintos sociales, y sólo es animado por el ansia de dominación sobre
los demás."
Em sua teoria hipotética, Hobbes não tem uma concepção pessimista do homem, e sim,
uma visão realista.
Contudo, quando o homem passa a viver numa sociedade, com uma autoridade para lhe
reger, as tensões se acabam e, em conseqüência, os homens vivem relativamente bem,
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pois a desconfiança que existia entre os homens em seu estado de natureza era racional,
e não como alguns autores afirmam, homem essencialmente mal.
O PACTO SOCIAL
O maior desejo do homem é manter sua vida. Hobbes atribui a este desejo o nome de
instinto de conservação. No estado natural a vida está em constante ameaça.
"(...)a condição preliminar para obter a paz é o acordo de todos para sair do estado de
natureza e para instituir uma situação tal que permita a cada um seguir os ditames da
razão, com a segurança de que outros farão o mesmo."
" O estado de natureza, como dissemos, é a longo prazo intolerável, já que não assegura
ao homem a obtenção do ‘primum bonum’, que é a vida. Sob forma de leis naturais, a
reta razão sugere ao homem uma série de regras (...), que têm por finalidade tornar
possível uma coexistência pacífica."
A Lei Natural é formada por diversas regras, dentre elas Hobbes destaca, no Leviatã as
seguintes(10):
4ª) "gratidão";
6ª) "perdão", "Que como garantia do tempo futuro se perdoem as ofensas passadas,
àqueles que se arrependam e o desejem";
7ª) "Que na vingança (isto é, a retribuição do mal com o mal) os homens não olhem à
importância do mal passado, mas só à importância do bem futuro";
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8ª) "Que ninguém por atos, palavras, atitude ou gesto declare ódio ou desprezo pelo
outro";
9ª) "Que cada homem reconheça os outros como seus iguais por natureza"
Como se pode observar, as regras da Lei de Natureza são ditames morais elaboradas
pela reta razão, que quer dizer a possibilidade do homem de agir da melhor forma para
atingir os fins desejados.
Ocorre que, para estas regras terem efetividade têm que ser cumpridas por todos.
As leis naturais em si são válidas, mas não tem eficácia garantida, pois elas obrigam in
foro interno, não têm alguém que obrigue a cumpri-las . Os princípios naturais só têm
eficácia ou se forem positivadas ou se existir uma autoridade que obrigue o seu
cumprimento.
Para acabar com a insegurança entre os homens e fazer cumprir a Lei Natural é
fundamental e indispensável a presença de um Estado que esteja acima do interesse dos
cidadãos para garantir a paz civil.
Pedimos vênia para fazer uma citação um pouco extensa, pois não conseguiríamos
explicar a necessidade do poder soberano no pacto social de forma mais clara do que o
próprio filósofo(11):
"A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões
dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança
suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam
alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma
assembléia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de
votos, a uma só vontade. O que eqüivale a dizer: designar um homem, ou a uma
assembléia de homens, como representante de suas pessoas, considerando-se e
reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que aquela que representa sua
pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança
comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas
decisões a sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma
verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de
cada homem com todos os homens, de um modo que é como se cada homem dissesse a
cada homem: ‘Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este
homem, ou a esta assembléia de homens, com a condição de transferires a ele teu
direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações’. Feito isto, à multidão
assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim, civitas".
O Pacto da teoria hipotética de Hobbes é feito entre todos os cidadãos, que renunciam
ao direito de autodefesa. O Estado está fora do contrato.
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A função do Estado é de garantidor da paz civil. Ele está acima dos homens, como
beneficiário dos direitos dos cidadãos. Os cidadãos são para o Estado súditos. O Estado
tem o poder soberano.
O PODER SOBERANO
Soberania para Hobbes é o poder que está acima de tudo e de todos. Assim o Estado
Soberano está acima das leis e acima da Constituição, sendo um poder absoluto e
indivisível.
Mais uma vez, Norberto Bobbio fala com precisão das características do Estado
Soberano(12):
"O poder estatal não é verdadeiramente soberano e, portanto, não serve à finalidade para
a qual foi instituído se não for irrevogável, absoluto e indivisível. Recapitulando, pacto
de união é:
b)consiste em atribuir a um terceiro, situado acima das partes, o poder que cada um tem
em estado de natureza;
c)o terceiro ao qual esse poder é atribuído, com todas as três definições acima o
sublinham, é uma única pessoa."
Contudo, apesar do súdito ter que obedecer a tudo que o soberano mandar, existe uma
exceção: o súdito pode resistir ao perigo da morte. Esta exceção tem uma explicação
muito razoável, pois como poderia o homem não conservar sua própria vida, seu bem
inalienável, já que o poder soberano vem da reta razão, por sua vez, advinda do instinto
da auto conservação? Isto seria uma incoerência. Logo todos os homens têm o direito de
resistir a qualquer ato do Estado que ameace a conservação da sua vida.
AS FORMAS DE GOVERNO
O poder soberano pode ser adquirido de duas formas: pela livre vontade dos cidadãos,
que é chamado de Estado Político/Estado por Instituição; ou pela imposição aos
cidadãos, que são obrigados a acatar sob pena morte, é o Estado por Aquisição.
O Estado por instituição, na política de Hobbes, pode ser governado por três espécies:
pela Monarquia, governo de uma pessoa; por uma Democracia, governo popular, de
todos; e pela Oligarquia, governo de poucos.
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"(...) Com efeito, Hobbes tem em vista uma forma de democracia direta, tal como era
exercida na Grécia clássica, e não o que hoje entendemos por democracia indireta ou
governo representativo. Assim, a democracia exigiria um alto grau de politização, sendo
suscetível das mais diferentes formas de instabilização proveniente da retórica dos
demagogos."
CONCLUSÃO
Thomas Hobbes foi um filósofo político inovador, que formulou construções teóricas
muito inteligentes.
Dentre as várias contribuições de Thomas Hobbes para a ciência política e jurídica, vale
ressaltar:
RACIONOLISMO E EMPIRISMO
Para defender sua concepção política, Hobbes cria um teoria, desenvolvida por um
método resolutivo-compositivo, que justifica a necessidade do Estado, partindo da
análise da convivência dos homens sem autoridade.
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idealista ao não observar a possibilidade do abuso do poder por parte do Soberano. Ele
afirmava que a separação dos poderes iria enfraquecer a unidade estatal e defendia um
Estado com poderes ilimitados, acima da constituição e das leis civis.
O momento histórico vivido por Thomas Hobbes, era marcado por uma grande
interferência da Igreja no Estado, tinham o Estado como uma criação da vontade de
Deus. O Estado era criado porque era da vontade de Deus. Hobbes mais uma vez foi
autêntico em seu pensamento. Ele afirmava que o Estado era uma criação do homem,
não tinha qualquer relação com a vontade de Deus, era um ato puramente humano.
A prova do Estado ser leigo é o contrato social, que demonstra ser a criação do Estado
nada mais do que pura vontade política, criado pelo pacto entre os homens, um ser
artificial, independente da vontade divina.
A relação entre Lei Natural e a Lei Civil na teoria de Hobbes e sua concepção jus
naturlista e jus positivista poderia ser estudada exclusivamente em outro trabalho, mas
vamos enfocá-lo de forma resumida .
Hobbes, sempre a frente de sua época, apesar de pertencer à história do direito natural,
antecipa as tendências do direito positivo do século XIX e, apesar de serem correntes
antagônicas, atribuiu às leis naturais e civis de sua teoria hipotética características jus
naturalistas e jus positivistas.
Para Hobbes não existem dois direitos, mas apenas um, que é o direito positivo.
Contudo reconhece a lei natural como fundamento do direito positivo, sendo obrigatória
a lei natural somente quando em conformidade com a lei positiva.
NOTAS
4. Paulo Nader: "Filosofia do Direito". 7ª Edição, Editora Forense, Rio de Janeiro, 1999,
página 132.
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9. Ibid, p. 40.
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Vida e Obra:
John Locke (29 de agosto de 1632 — 28 de outubro de 1704), filósofo inglês e ideólogo
do liberalismo, é considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos
principais teóricos do contrato social.
Locke rejeitava a doutrina das idéias inatas e afirmava que todas as nossas idéias tinham
origem no que era percebido pelos sentidos. Escreveu o Ensaio acerca do Entendimento
Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a origem e a naturezade nossos
conhecimentos.
Locke viveu no século XVII na Inglaterra, período marcado pelo antagonismo entre a
Coroa e o Parlamento, aquele controlado pela dinastia Stuart (absolutista) e este último
defensora do liberalismo, representada por uma burguesia ascendente. Locke era
contrário aos Stuart.
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“Liberalismo pode ser definido como um conjunto de princípios e teorias políticas, que
apresenta como ponto principal a defesa da liberdade política e econômica. Neste
sentido, os liberais são contrários ao forte controle do Estado na economia e na vida das
pessoas”.
O pensamento liberal teve sua origem no século XVII, através dos trabalhos sobre
política publicados pelo filósofo inglês John Locke. Já no século XVIII, o liberalismo
econômico ganhou força com as idéias defendidas pelo filósofo e economista escocês
Adam Smith.
Cuida-se da principal obra de Locke, escrita provavelmente entre 1679 e 1680, mas só
foi publicado na Inglaterra em 1690, após o triunfo da revolução gloriosa – que foi o
movimento que assegurou a vitória do Parlamento sobre a realeza e instituiu uma
monarquia limitada, triunfando o liberalismo sobre o absolutismo com a aprovação do
Bill of Rights.
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e) DO PODER LEGISLATIVO:
“Uma vez que o grande objetivo do ingresso dos homens em sociedade é a fruição da
propriedade em paz e segurança, e que o grande instrumento e meio disto são as leis
estabelecidas nessa sociedade, a primeira lei positiva e fundamental de todas as
comunidades consiste em estabelecer o poder legislativo enquanto primeira lei natural
e fundamental, que deve reger até mesmo o poder legislativo” (p. 100)
“O poder legislativo é o que tem o direito de estabelecer como se deverá utilizar a força
da comunidade no sentido da preservação dela própria e dos seus membros” (101)
f) DA TIRANIA:
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g) DA DISSOLUÇÃO DO GOVERNO:
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Biografia
Montesquieu nasceu numa família nobre francesa. Estudou numa escola religiosa
de oratória. Após concluir a educação básica, foi estudar na Universidade de
Bordeaux e depois em Paris. Nestas instituições teve contato com vários
intelectuais franceses, principalmente, com aqueles que criticavam a monarquia
absolutista.
Em 1729, enquanto estava em viagem pela Inglaterra, foi eleito membro da Royal
Society.
- Era contra o absolutismo (forma de governo que concentrava todo poder do país
nas mãos do rei).
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O conceito de lei:
Montesquieu contribuiu para a adoção de lei científica nas ciências humanas, que até
aquele momento a noção de lei “compreendia três dimensões essencialmente ligadas à
idéia de lei de Deus”, ou mais claramente, “as leis eram simultaneamente legítimas
(porque expressão da autoridade), imutáveis (porque dentro da ordem das coisas) e
ideais (porque visam uma finalidade perfeita) (in Os clássicos, p. 114).
O autor define lei como “relações necessárias que derivam da natureza das coisas” e
assim rompe com a tradicional submissão da política à teologia:
O autor, no entanto, não se preocupa com as leis que regem as relações entre indivíduos,
mas sim as leis e instituições criadas para reger as relações entre os homens, ou seja, o
objeto de estudo de Montesquieu é o espírito das leis, isto é, as relações entre as leis
positivas e diversas coisas, tais como clima, as dimensões do Estado, a organização do
comércio, as relações entre as classes; procura explicar as leis e instituições humanas,
sua permanência e modificações, a partir de leis da ciência política.
Os três governos.
Para tanto, o autor verifica o funcionamento político das instituições sobre dois
aspectos: a natureza e o princípio de governo
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1
poderia ser a paralisia” Afinal, Montesquieu “via na divisão dos poderes
2
muito mais um preceito de arte política do que um princípio jurídico”
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3
particulares.
3
MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O espítito das leis. São Paulo: Martins
Fontes, 1993, Livro XI, capítulo VI.
4
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política. 12. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. p.
239-240.
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- Vida e Obra
Em seu Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes (1755),
ele dá uma descrição hipotética do estado natural do homem, propondo que, apesar de
desigualmente dotado pela natureza, os homens em uma dada época eram de fato iguais:
eles viviam isolados um do outros e não estavam subordinados a ninguém; eles
evitavam uns aos outros como fazem os animais selvagens. De acordo com Rousseau,
cataclismas geológicos reuniram os homens para a "idade de ouro" descrita em vários
mitos, uma idade de vida comunal primitiva na qual o homem aprendia o bem junto
com o mal nos prazeres do amor, amizade, canções, e danças e no sofrimento da inveja,
ódio e guerra. A descoberta do ferro e do trigo iniciou o terceiro estágio da evolução
humana por criar a necessidade da propriedade privada.
Rousseau recebe críticas principalmente de Voltaire, que diz: "ninguém jamais pôs tanto
engenho em querer nos converter em animais" e que ler Rousseau faz nascer "desejos de
caminhar em quatro patas" mas o propósito de Rousseau é de combater os abusos e não
repudiar os mais altos valores humanos.
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Sua teoria política é sob vários aspectos uma síntese de Hobbes e Locke. Foi o ferro e o
trigo que civilizaram os homens e arruinaram a raça humana....Do cultivo da terra, sua
divisão seguiu-se necessariamente....Quando as heranças cresceram em número e
extensão ao ponto de cobrir toda a terra e de confrontarem umas com as outras, algumas
delas tinham que crescer as custas de outras... A sociedade nascente deu lugar ao mais
horrível estado de guerra. Posteriormente Rousseau propôs que esse estado de guerra
forçou os proprietários de terra ricos a recorrer a um sistema de leis que eles impuseram
para proteger sua propriedade.
Estão no pensamento de Rousseau aquelas linhas que serão logo a seguir características
do movimento romântico que caracterizou a primeira metade do século XIX: A
valorização dos sentimentos em detrimento da razão intelectual, e da natureza mais
autêntica do homem, em contraposição ao artificialismo da vida civilizada. Sua
influencia no movimento romântico foi enorme.
Vontade Geral: pode-se dizer que a vontade geral é aquela que dá voz aos interesses que
cada pessoa tem em comum com todas as demais, de modo que, ao ser atendido um
interesse seu, também estarão sendo atendidos os interesses de todas as pessoas.
Segundo descreve Machado, a vontade geral é aquela que traduz o que há de comum em
todas as vontades individuais, ou seja, o “substrato coletivo das consciências”
(ROUSSEAU 11, p. 49). Ou ainda, é o fator unificador da multiplicidade dos
contratantes, representando, dessa forma, o coração da democracia no Contrato social
(PEZZILLO 9, p. 77). No entanto, para que essa noção seja melhor compreendida, há
que se tratar também da noção de vontade particular, vontade corporativa e vontade
todos. (Marcio Morena Pinto, in A noção de vontade geral e seu papel no pensamento
político de Jean-Jacques Rousseau, disponível em
http://www.fflch.usp.br/df/cefp/Cefp7/pinto.pdf)
É justamente por essa razão que Rousseau afirma que a liberdade natural é limitada pela
força e a civil tem como limite a vontade geral, pois a primeira consiste na liberdade
que pertence a cada indivíduo, enquanto ente independente e solitário em relação aos
demais, que encontra na liberdade do outro uma força que limita a sua, enquanto a
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segunda, que se refere aos cidadãos, considerados partes de um corpo moral coletivo,
constituído pelo pacto social, está voltada para o interesse comum.
Contrato Social: Apesar da crítica que Rousseau faz acerca da perda da liberdade do
homem quando vive em sociedade, não há como a humanidade retroceder àquele
estágio, é necessário então trocar aquela liberdade pela liberdade do cidadão, “faz-se
isso mediante um ato associativo, que cria a entidade social e no qual todos cedem
direitos e se tornam súditos, mas ao mesmo tempo ganham direitos na condição de
cidadãos e participantes do corpo soberano. Isto é o ‘contrato social’, mas a maneira
como o soberano deverá expressar-se, através de leis e atos de governo, é deixada para
um processo de elaboração constitucional. Enquanto todos puderem ser ao mesmo
tempo súditos e cidadãos participantes haverá liberdade” (Ian Adms, Pensadores
Políticos Essenciais, p. 72).
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O contrato social para Rousseau é "Uma livre associação de seres humanos inteligentes,
que deliberadamente resolvem formar um certo tipo de sociedade, à qual passam a
prestar obediência mediante o respeito à vontade geral. O "Contrato social", ao
considerar que todos os homens nascem livres e iguais, encara o Estado como objeto de
um contrato no qual os indivíduos não renunciam a seus direitos naturais, mas ao
contrário entram em acordo para a proteção desses direitos, que o Estado é criado para
preservar.
O Estado é a unidade e como tal expressa a "vontade geral", porém esta vontade é posta
em contraste e se distingue da "vontade de todos", a qual é meramente o agregado de
vontades, o desejo acidentalmente mútuo da maioria.
John Locke e outros tinham assumido que o que a maioria quer deve ser correto.
Rousseau questionou essa postura, argumentando que os indivíduos que fizeram a
maioria podem, na verdade, desejar alguma coisa que está contrária aos objetivos e
necessidades do estado, para com o bem comum. A vontade geral é para assegurar a
liberdade, a igualdade, e justiça dentro do estado, não importa a vontade da maioria, e
no contrato social (para Rousseau uma construção teórica mais que um evento histórico
como os pensadores do Iluminismo tinham freqüentemente assumido) a soberania
individual é cedida para o estado em ordem que esses objetivos possam ser atingidos.
Por isso a vontade geral dota o Estado de força para que ele atue em favor das teses
fundamentais mesmo quando isto significa ir contra a vontade da maioria em alguma
questão particular.
Rousseau reforça o contrato social através de sanções rigorosas que acreditava serem
necessárias para a manutenção da estabilidade política do Estado por ele preconizado.
Propõe a introdução de uma espécie de religião civil, ou profissão de fé cívica, a ser
obedecida pelos cidadãos que depois de aceitarem-na, deveriam segui-la sob pena de
morte.
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O artigo reproduzido abaixo, cujos três autores são mestrandos da UECE sintetiza o
pensamento dos autores que americanos que no ano de 1788 publicaram, sob
pseudônimo, uma série de artigos na imprensa de Nova York em favor da ratificação da
Constituição dos Estados Unidos pelos estados americanos.
Introdução
Inúmeros teóricos abordaram o tema “formas de governo”. Porém, e até então, não
havia desapego às práticas da antiguidade. Neste sentido, pensadores que trataram e
defenderam o federalismo, além de avançarem para uma nova forma de governo,
inovaram, saindo da teoria, passando para a praticidade, com a sua implementação,
tomando a questão da liberdade com novo foco e sob uma nova ótica, originados com as
discussões decorrentes da aprovação da Constituição Americana no século XVIII.
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John Locke (1632-1704) foi um teórico liberal. Teoriza que o homem possui
originariamente direitos naturais que devem ser defendidos pelo Estado, como o direito
à propriedade. É considerado o fundador do Empirismo2. Como filósofo, é conhecido
pela “teoria da tábula rasa” do conhecimento. Influenciou a Revolução Americana, cuja
declaração de independência foi alicerçada sobre os direitos naturais e o direito a
resistência para fundamentar a ruptura das colônias com a Inglaterra (MELLO, 2004).
Charles de Montesquieu (1689-1755), fundador da teoria dos três governos e dos três
poderes, base do constitucionalismo moderno. Autor da obra O Espírito das Leis, na
qual elabora conceitos sobre formas de governo e exercício da autoridade política que se
tornaram pontos doutrinários básicos da ciência política. Ofereceu aos constituintes
americanos as bases do ideal do federalismo (ALBUQUERQUE, 2004).
Isto posto, podemos ter uma visão ampla dos pensadores e de suas ideias, que vieram a
servir de base para a argumentação federalista e também dos confederados. Alguns
teóricos influenciaram bem mais, outros menos. Mas a efetivação da liberdade estava
presente no contexto da revolução americana, bem como nas discussões para aprovação
de uma nova ordem política.
CIÊNCIA POLÍTICA
Os fatos sociais não surgem por acaso. É necessária a existência de um ambiente que
possibilite a implantação de um processo de mudança. Dentro desse ambiente,
encontramos a correlação de forças internas e externas que condicionam todo o
processo. No final do século XVIII, havia um crescente descontentamento das colônias
americanas com o governo inglês, e treze colônias já não tinham representatividade no
parlamento daquele país. Como consequência, ocorreu a Guerra da Independência
americana (1775-1783), tendo sido elaborada uma Constituição que caracterizava o
novo país como uma Confederação.
Dentro daquele contexto, várias causas levaram à Guerra da Independência. Uma delas
foi a Revolução Industrial, que possibilitaria uma maior abrangência mercantil. Outro
fator foi a Guerra dos Sete Anos (Inglaterra X França), uma luta entre as duas potências
por áreas de influência na América. A guerra foi vencida pela Inglaterra, mas, foi muito
onerosa. Para reparar os gastos, a Inglaterra promoveu arrocho do pacto colonial, tendo
como consequência lógica o início de uma tensão social entre a colônia e a metrópole.
Com o propósito de se buscar um meio termo para essas tensões sociais é que os
congressos começam a ser realizados (em 1774, ocorre o primeiro, na Filadélfia), sem
caráter separatista.
Deter-nos-emos a fazer uma breve síntese da atuação dos defensores do federalismo que
vieram, por intermédio de seus artigos, no intuito de ratificar a Constituição Americana,
a fundamentar a construção de uma nova ordem liberal. Traçamos, a seguir, um breve
perfil:
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A Constituição teve por base as ideias dos pensadores liberais ingleses que
apresentamos no início do artigo. Esses teóricos são mais bem compreendidos se
observados por dois pontos de vista: econômico, posto que defendem a livre-iniciativa
e a ausência de interferência do Estado no mercado; sob o ponto de vista político:
podem ser entendidos como defensores de uma nova forma de organização do poder,
contrária ao Absolutismo, proposta pelos iluministas franceses (Liberdade, Igualdade e
Fraternidade).
Para Josênio Parente (1994), os principais mentores dos teóricos federalistas foram
Hobbes e Montesquieu. Os artigos Publius colocam uma questão bastante moderna: a
fundação de um governo popular numa sociedade sem castas.
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3 A Questão do Mérito
Pela primeira vez, a teorização sobre os governos populares deixava de se mirar nos
exemplos de forma de governo da antiguidade, iniciando-se, assim, seu caráter
eminentemente moderno. Segundo Limongi (2004, p. 247), o raciocínio desenvolvido
por Hamilton deixa entrever o desdobramento necessário. A única forma de criar um
governo central, que realmente mereça o nome de governo, seria capacitá-lo a exigir o
cumprimento das normas dele emanadas. Para que isso se efetivasse, seria necessário
que a União deixasse de se relacionar apenas com os estados e estendesse o seu raio
deação diretamente aos cidadãos. vEm O Federalista n. 2 (JAY apud LIMONGI, 2004,
p. 258) tratando sobre as vantagens naturais da União, diz que “nada é mais certo do
que a indispensável necessidade de um governo, e é igualmente inegável que, quando e
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como quer que ele seja instituído, o povo deve ceder-lhe alguns de seus direitos
naturais, a fim de investi-lo dos necessários poderes”.
Torna-se evidente que a nova Constituição seria o contrato que regeria a relação Estado/
povo ou governo e governado. Os poderes estariam nas mãos de homens que
governariam o Estado. Segundo Limongi (2004, p. 249), “todo homem que detém o
poder tende dele abusar”. Neste momento, os defensores do federalismo se aproximam
de Montesquieu, uma vez que apontam a necessidade de um poder para frear outro
poder. Neste sentido, O Federalista faz uma relação com a natureza humana: “se os
homens fossem anjos, não seria necessário termos governos” (MADISON, O
Federalista, n. 51, apud LIMONGI, 2004, p. 272). Mas é da natureza humana ter
ambições, interesses e desejos. Para reiterarmos as posições federalistas sobre a
natureza humana, recorremos mais uma vez a Limongi (2004, p. 263):
Na medida em que a razão do homem continuar falível e ele puder usá-la à vontade,
haverá sempre opiniões diferentes. Enquanto subsistir a conexão entre o raciocínio e o
amor-próprio, suas opiniões e paixões terão uma influência recíproca umas sobre as
outras; e as primeiras serão objetos aos quais as últimas se apegarão. Para Silva (2003,
p. 1), os defensores do federalismo reconhecem a fraqueza e maldade da natureza
humana. É fácil notar como, para eles, uma sociedade não tem como sobreviver pacífica
e eticamente sem que haja pressões, ameaças e punições declaradas para possíveis
desvios. Partindo disso, provam que um grupo de homens não está livre de tais
problemas e demonstram que estados também precisam ser policiados (cf. SILVA,
2003).
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Mas como seria possível distribuir para cada um dos poderes instrumentos iguais de
autodefesa? Segundo Madison (O Federalista, n. 51, apud LIMONGI, 2004, p. 274), no
governo republicano predomina a autoridade do Legislativo, apontando um caminho: A
solução [...] está em repartir essa autoridade entre diferentes ramos e torná-los —
utilizando maneiras diferenciadas de eleição e distintos princípios de ação — tão pouco
interligados quanto o permitir a natureza comum partilhada por suas funções e a
dependência em relação à sociedade.
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Afirma Madison que existem dois processos para remediar os malefícios das facções:
um, pela remoção de suas causas; outro, pelo controle de seus efeitos. Para combater as
causas, deveria ser destruída a liberdade, que é a essência de sua existência. Mas,
fazendo desta maneira, estaria aplicando um remédio que seria pior do que a própria
doença. Outro caminho apontado por Madison para combater as causas das facções
seria fazer com que todos os cidadãos tivessem os mesmos sentimentos, opiniões e
interesses. Assim, os federalistas acreditam que as facções devem existir, mas sem
prejudicar a liberdade. A unificação de opiniões diferentes dos homens também é
apontada como uma solução impraticável por Madison, ao afirmar que “a diversidade
das aptidões humanas, nas quais se originam os direitos de propriedade, não deixam de
ser um obstáculo quase insuperável para uma uniformidade de interesses” (O
Federalista, n. 10, apud LIMONGI, 2004, p. 263). Nesse sentido, “a conclusão a que
somos levados é a de que as causas da facção não podem ser removidas e de que o
remédio a ser buscado se encontra apenas nos meios de controlar os seus efeitos”
(MADISON, O Federalista, n. 10, apud LIMONGI, 2004, p. 265), pois o autor
afirmava que o remédio é fornecido pelo princípio republicano, e entendia “república
como um governo no qual se aplica o esquema de representação – abre uma perspectiva
diferente e promete a cura que estamos buscando”
Neste contexto, o tamanho da república servia como meio para repelir facções ou filtrar
o facciosismo. Mais cidadãos eleitores, melhor discernimento, mais grupos de interesses
reduziriam as chances de conspiração. A representação dividiria responsabilidades
locais, estaduais e federais, e poderia realizar o interesse comum contra facções
majoritárias oprimindo minorias, exercitando o povo sobre as razões pelas quais teria
vantagens em controlar sua própria paixão. Assim, os vários corpos legislativos se
completariam, vigiando um ao outro, e os federalistas integrariam república e federação.
Madison insistiu em que, na democracia direta, as pessoas devem reunir-se todas; na
república, atuam por representação (LEONEL, 2007).
Conclusão
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