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Resumo da Tutoria

1ª sessão – 12/10/2022

A história romana surge dividida em cinco épocas, marcadas por diferentes sistemas
políticos, que tiveram implicações na forma de criar e dizer Direito:
1. Período da monarquia/ período do rex e das gentes - 753 a.C. a 509 a.C.
2. Período de transição da monarquia para a república - 509 a.C. a 367 a.C. (data
da Lex Liciniae Sextiae)
3. Período da república/ período do populus/ período da res publica - 367 a.C. a
27 a.C. (data em que Júlio César sobe ao poder de pro cônsul)
4. Período do principado/ período do prínceps inter pares (período entre iguais) -
27 a.C. a 285 d.C.
5. Período dominano/ do império/ prínceps cum rex – 285 d.C. a 385 d.C (fim da
Roma ocidental)

A Monarquia Romana
Introdução:

O Rex e as gentes, as duas principais instituições deste período, marcaram a


criação jurídica primitiva dos romanos.

Organização política:

A organização política de Roma, neste período, assenta em três grandes pilares


constantes:
• O Rex: está no topo da pirâmide hierárquica das estruturas religiosas,
políticas e militares romanas. É a ligação entre o profano e o divino, escolhido
por manifestação visível dos deuses e desempenha várias funções:
1. Imperium militae (poder militar para defender militarmente Roma) - o rei
pode organizar o exército, comandar a cavalaria e escolher órgãos militares;
2. Imperium domi (administração civil) – é o rei quem administra a cidade e
procura dirimir os litígios entre as pessoas, nomeadamente através da aplicação
das lex regiae, propostas de lei que resultavam da formalização de regras
consuetudinárias ordenada pelo rei.
3. Poder de mediação divina - o rei é o sumo pontífice, pelo que tem o poder de
percecionar e descodificar a vontade divina. Este poder de mediação entre os
homens e os deuses era fundamental, pois constitui a base do poder político do
rex e a fonte da sua legitimidade.
Como era eleito o rex?
Podemos considerar que o rei de Roma não era eleito através de um processo
político comum, mas sim escolhido pelos deuses, que revelavam a sua escolha
através de sinais, nomeadamente o voo das aves (auguratio), ao interrex, que
indicava o nome do escolhido. O fundamento do poder político e militar do rex
era mágico e religioso, sendo o cargo vitalício.

Ou seja, quando o rex morria, sucedia o seguinte:


o O poder sagrado do rex de ler os auspícios ia para o senado, que elegia
entre os seus membros um interrex pelo prazo de cinco dias.
o O interrex, lendo os auspícios (indicação de sinais divinos no voo das
aves), indicava o nome do novo rei, de entre os senadores, a propor aos
comitia curiata no suffragium, como apontava a lex curiata de imperium.
o Submetida a votação nos comitia curiata, o nome proposto era
aprovado, procedendo-se seguidamente à cerimónia religiosa de
aceitação pelos Deuses do novo rex.
o O rei era empossado dos seus poderes de imperium pelos comitia
curiata, com autorização do senado, que era sempre detentor da última
palavra

• O Senado: Órgão que representava os patrícios, ou seja, a aristocracia


romana. Como órgão consultivo do rei, só este o podia convocar. Na
monarquia primitiva, o Senado é apenas uma assembleia constituída pelos
chefes das gentes (pater famílias), que detém o direito de vida e morte sobre
cada um dos membros da família. As competências do Senado neste período
são as seguintes:
1. Interregnum (5 dias) - forma de garantir a continuidade dos auspícios-
aquando da morte do rei, é o Senado que assegura, com a sua faculdade de
nomear alguém que substitua o rei (interrex), que se continuam a
interpretar os sinais divinos enquanto o novo rei não é nomeado
2. Auctoritas- permite a ratificação das deliberações de outros órgãos (ex.: a
lex rogata dos comitia curiata), após a verificação da conformidade das leis
com a tradição moral e jurídica de Roma.
3. Conselho e auxílio ao rex na governação.

• A Comitia Curiata: Reunião de homens livres/assembleias populares, que


reunia todo o populus de Roma. Tinha como competência:
1. Votar as propostas de lei do rei que, uma vez aprovadas pelo Senado,
vigoravam como leges regiae.
2. Aprovar o nome do futuro rei de Roma, proposto pelo interrex.
3. Realizar a segunda votação para reconhecimento e investidura do novo rex
nos poderes de imperium (lex curiata de império). O seu presidente era um
sacerdote, o curio maximus e as votações eram levadas a cabo por um ato de
adesão ou de rejeição (sim ou não).

As fontes de Direito:

• Consuetudo: Corresponde ao atual costume. Consistia no direito não escrito,


cuja origem se prendia com uma prática reiterada acompanhada de
convicção de obrigatoriedade, que acabava por se tornar num
comportamento obrigatório, que caso não fosse cumprido dava origem a
uma punição.
• Mores maiorum: Consistiam num conjunto de regras fundadas no
património de valores e crenças dos romanos, que era conservado pela força
da tradição e que expressavam a moralidade socialmente aceite e de
aplicação comprovada, desenvolvidas e adaptadas na resolução de casos
concretos pelos sacerdotes romanos, pela inovação da intervenção divina
que interpretavam caso a caso. Serviam de referência padrão para elaborar
regras do direito.
Não eram costume e por isso não tinham punição se não fossem seguidos.
Eram transmitidos pelos deuses à sociedade, através dos pontífices e foram
parcialmente formalizados na Lei das XII Tábuas, embora não se tenha
esgotado aí o processo criador/ adaptador dos mores maiorum em Roma.
• Lex regiae

A República Romana
A lei das XII Tábuas:
Surgem em 450 a.C. e fazem com que o direito nelas contido tenha de ser
aplicado. Até aqui, tudo se passava num plano religioso e de tradição imposta sem
argumentação explicativa, sem juridicidade.
Uma das principais reivindicações dos plebeus era a limitação do arbítrio dos
julgadores, primeiro do Rex, depois dos sacerdotes e dos supremos magistrados. Tal
derivava de os problemas serem resolvidos com base em regras consuetudinárias,
oralmente interpretadas pela aristocracia patrícia.
O desfasamento entre os sacerdotes e os plebeus levou a que os plebeus
iniciassem processos de revolta. Criou-se então uma comissão, designada de decemviri
legibus scrbumdi, que tem como função elaborar as leis, e que ao fim de um ano
elaborou 10 tábuas onde estão escritas as principais normas jurídicas romanas nas mais
variadas matérias.
Os comitia aprovaram-nas, mas acharam que era necessário desenvolver mais,
pelo que nomearam uma segunda comissão que teria de elaborar mais tábuas para
concluir o trabalho. No entanto, estas foram revogadas e só mais tarde, com a lex valeria
horatia, duas novas leis foram criadas por dois patrícios (cônsules) da terceira nomeação
dos Comitia.

As Leges Valeria Horatia


• Lex Valeriae Horatia de Tribunícia Potestate: de 449 a.C., cria o Tribunado
da Plebe, magistratura permanente que surge de uma situação de
reconhecimento do passado, após guerras civis, na qual o Tribuno é uma
figura protegida na lex, que tem o poder de intercessiones sobre o cônsul.
• Lex Valeria Horatia de Provocatione: permite aos comitia ganhar o poder de
permutar penas e decidir sobre a vida e a morte das pessoas. Data de 509
a.C., e cria o instituto provocatio ad populum, que permite que aquele que
fosse condenado pelos cônsules ou pretores (magistrado com imperium) à
pena de morte, podia requerer aos comitia (primeiro curiata depois
centuriata), uma reavaliação do seu processo e da sua pena. Este mecanismo
existia para evitar a aplicação arbitrária de penas. Recorria-se aos comitia,
uma vez que este era o órgão representante da comunidade e o processo
levado a cabo por eles dividia-se em duas fases: o inquérito, no qual se
tentava perceber o que sucedera, ouvindo as várias partes envolvidas e a
decisão da Assembleia, que opinava acerca da sua concordância ou não com
a pena aplicada pelos magistrados.
• Lex Valeria Horatia de Plebiscitis: data de 287 a.C., e vem permitir a
aplicação dos plebiscitos aos patrícios, leis propostas pelo tribuno da plebe e
aprovadas pelos concílios da plebe, que inicialmente vinculavam apenas os
plebeus.
Com esta lei, os plebeus ganham maior poder, pois passam a vincular essa lei
aos patrícios sem estes poderem opinar. Estamos, por isso, perante o eclodir
da luta dos plebeus contra os patrícios.

Dúvida: Os comitia distinguem-se dos concilia porque, enquanto os comitia são reuniões
de todo o povo em assembleia, os concilia são reuniões apenas da plebe.

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