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Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Apontamentos de Direito Romano


Sob a regência do Professor Doutor Pedro Caridade de
Freitas
Ano Letivo 2019/2020
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

História de Roma divide-se em 5 Grandes Períodos


(Consoante o Professor Caridade de Freitas)
I. Monarquia - 753/754 a.C. – 509/510 a.C.
II. Transição para a República - 510 a.C. – 367 a.C.
III. Pópulos Romano ou República – 367 a.C. – 27 a.C.
IV. Principado 27 a.C. – 285 d.C.
V. Dominado Imperium 285 d.C. – 395 d.C.

Monarquia – 753 a.C. – 510 a.C.

REX
O Rex tinha poderes absolutos e vitalícios. Era um rei sacerdote, exercia o poder absoluto e
tinha uma faceta de controlo da religião em Roma.
Rómulo (primeiro Rex de Roma) funda o Senado com 100 patres, cujos descendentes passaram
a ser designados por Patrícios.
- Poder para defender militarmente Roma, administrar a cidade e ainda possui o poder de
mediação divina, que lhe dava legitimidade.
- Resolvia os aspetos e conflitos da vida coletiva, da relação entre as pessoas, através da
aplicação de leges.
- Não era eleito através de um processo normal, sendo que era escolhido pelos Deuses que
revelavam a sua escolha através dos auspícios.

Este divide também a sociedade em Patrícios e em Plebeus.


● Os Patrícios deveriam ser sacerdotes, magistrados e juízes, ajudando também na defesa
pública e na organização da cidade de Roma. Eram sacerdotes, pontífices, e
representavam 100% do Senado o que lhes dava poder e influência.
● Os Plebeus deviam dedicar-se às atividades económicas: agricultura, pecuária...
Pópulos Romano = Patrícios + Plebeus
A divisão das pessoas em grupos, era realizada mediante o critério da riqueza, sendo que quem
tinha meios de riqueza/fortuna podia dedicar-se aos assuntos de gestão da cidade e ser
sacerdotes, todos os outros que não tivessem estes meios tinham de se dedicar a “ofícios
lucrativos”. Quem exercia funções públicas em Roma, não era renumerado porque não
precisavam desse dinheiro.
- Havia uma relação de dependência entre plebeus e patrícios, os casamentos entre si
eram proibidos, e os plebeus não tinham direito a possuir as suas próprias terras, logo
trabalhavam como assalariados para os patrícios que eram latifundiários, sendo esta a
forma como acumulavam património e geravam riqueza.

Senado

● Órgão representativo do patriciado fundado por Rómulo


● Órgão consultivo do Rei, só este o podia convocar;
Durante este período – 753 a.C./510 a.C. – tinha funções como:
- Poder de interregnum
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- A ratificação de outros órgãos


- Auxílio do Rex que visava o reforço das suas funções e a eficiência das decisões que ele
tomava, garantindo a sua execução.
- Guardião do cumprimento dos Mores Maiorum GUARDIÕES DA TRADIÇÃO

Sacerdotes
Papel e Influência:
Os romanos acreditavam que os Sacerdotes tinham a capacidade de comunicar com os Deuses,
de os ouvir, de falar com eles e entender as suas vontades.
- Faziam o calendário anual de Roma: dias nefastos ou nefastos, ou seja, dias maus ou
dias bons, e só eles tinham conhecimento deste calendário. Os plebeus para fazer algo
tinham do consultar os sacerdotes primeiro.
- Interpretavam os auspícios.

▪ No período da monarquia não vivíamos sobre a égide do ius (Direito), existiam apenas
regras de cariz moral, ético e religioso, que estavam nos “mores maiorum”, que eram do
conhecimento dos sacerdotes, como tal eram eles que resolviam os conflitos, resolviam os
casos. Normalmente decidiam em favor dos patrícios (nos casos que envolviam classes
sociais díspares).

Comitia Curiata

Órgão representativo da sociedade de Roma, do Pópulos Romano


Eram constituídos por: Todos os homens livres de Roma, ou seja, por todos os cidadãos de
Roma, sendo eles patrícios ou plebeus (os filhos não estão nos comitia).
Era uma organização militar (organizavam-se militarmente) ≠ Senado que não estavam
organizados militarmente. Estar organizado militarmente implica que todos os homens
participem na guerra.
Funções:
- Intervém na aprovação do novo Rex (não havia fator hereditário), eles aprovam depois da
leitura dos auguro.
- Tinham competência para aprovar leis, ou seja, confirmavam as Legas Regias – leis do rei –
que serviam para organizar a sociedade.

Direito no Período da Monarquia

Duas grandes fontes de direito:


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1. Mores Maiorum – “Tradição de uma comprovada moralidade” (Sebastião Cruz)


- Conteúdo jurídico que é tido como tradicional e moralmente correto na sociedade romana, o
comportamento era o que se tinha como moralmente adequado e passava-se de geração em
geração (tradição).
⮚ Não decorrem de uma criação da sociedade, não são costume, não tem origem na
sociedade/comunidade, pois eram transmitidos dos deuses para os pontífices, era o direito
que se aplicava de cima para baixo.
- Os pontífices tinham de resolver casos concretos em Roma (o direito fazia-se do caso para a
regra e não ao contrário como atualmente), como não havia tribunais o pontífice (patrício)
comunicava com os deuses a partir da leitura dos auspícios e determinava o que se fazia,
resolvendo o caso.
- A partir deste ponto o pontífice generaliza a aplicação daquela resolução/penalização e aplica
a todos os casos semelhantes.
⮚ Não eram escritos, eram apenas do conhecimento dos pontífices e aplicados por eles, por
vezes não de forma equânime (podia beneficiar a interpretação do direito a favor de um
patrício em despeito de um plebeu).
⮚ Direito com conotação moral, comprovada pelos Deuses que o transmitia através de
auguros, lidos e interpretados por pontífices.
⮚ Única fonte de Direito que se mantém desde a origem até ao fim de Roma, porque
qualquer construção jurídica exterior (lex rogata, edictos, fórmulas...) não podiam
contestar as bases normativas, ou as leis, criadas pelos Deuses.
- O Senado é o guardião do seu cumprimento

2. Consuetudo ou Costume (atual)


Nota: Costume é uma prática reiterada com convicção de obrigatoriedade, ou seja, é uma
prática repetida constantemente. Este nasce da comunidade e da sua vivência que cumpre um
comportamento porque entende que a repetição do mesmo é adequada e porque este
permite regular a sociedade. É tantas vezes repetido que a sociedade o cria e assume como
obrigatório e pode ser penalizado por falta de cumprimento.
O Direito regula a sociedade que está em constante evolução, logo, o legislador adapta os
costumes à lei, passa a valer por lei e não por costume, mas a sua origem é costumeira.

Costume ≠ Tradição, pois este repete-se porque sempre se o fez assim, mas não porque a
comunidade não entende que este não seja obrigatório.
Ex: Bacalhau na ceia de Natal.

⮚ O costume é um direito não escrito, a comunidade pode penalizar, a sanção que a


comunidade encontra é que pode evoluir.
- Este passa a lei quando esta transponde este costume para a mesma e passa a ser punível
com pena de prisão, ou seja, já há uma obrigação jurídica.
- Uma tradição pode violar a lei. Ex: Uma cidade em Portugal em que um dia todos fumam.
- Só é costume o que estiver em conformidade com a lei.

Há três tipos de Costumes em Roma:


I. Contraleges: Costume que vai contra a lei (mores maiorum).
II. Secundum legem: O costume e a lei têm o mesmo conteúdo, não há diferença.
III. Praeter legem: O conteúdo do costume é mais abrangente do que o da lei, vai para
além desta. Depende do tempo.
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Ex: A lei dizia que não se podia fumar até aos 16 anos, enquanto que o costume entende que é
até aos 18 anos.

Sacerdotes Pontífices:
- Função Iurisprudente: acaba involuntariamente por aplicar o direito de forma arbitrária e
nem sempre de acordo com a justiça. Para aplicar o direito de forma justa tem de o estudar,
praticar e submete-lo ao caso em concreto.

Iuris = Direito
Prudente = Prudência

→ Os Mores Maiorum vão ser aplicados, em Roma, pelos Sacerdotes pontífices, aos casos
concretos, porque em Roma não existia uma dogmática composta por regras gerais das
quais se partiam para se resolverem casos. Pode começar a haver alguma segurança e
consistência na aplicação do direito quando a solução se repete em vários casos
semelhantes.

Interregnum
● Duplo sentido de interregnum
O período em que não há rei e esta a ser eleito outro, é o interregnum, mas também é um dos
poderes que o senado tinha para regular o funcionamento das instituições em Roma.

Na Monarquia:
Período entre Reis, em que não há rei, e neste período o senado nomeia um Interrex que era
um homem que durante 5 dias tinha a função de ler os auspícios até encontrar o nome do
homem que de acordo com a vontade dos Deuses devi sentar-se no trono. Implicava o contacto
com os Deuses. Se durante esses 5 dias eles não conseguia chegar a esse nome elegia-se um
novo interrex, se ele chegasse ao nome apresentava-o ao senado que o aprovava descia para
os Comitia Curiata... Depois fazia-se a cerimónia de entrada num novo império.

Na República:
Na monarquia o poder era centralizado no rei, na república o poder era fragmentado entre
magistraturas ordinárias que eram colegiais, temporais, tinham poderes principais. Se por
algum motivo um dos cônsules tivesse de se ausentar o Senado assumia a função de
interregnum para regular o funcionamento desta magistratura.

Transição da Monarquia para a República


510 a.C. – 367 a.C.
(Período final da monarquia em que o Rex tinha sido destituído)

Os plebeus iniciam processos de revolta quanto aos poderes dos Patrícios, à organização
política de Roma e também contra a aplicação não justa e imparcial do Direito.
Defendem que o direito (ius) não pode estar apenas nas mãos dos patrícios, e fazem esta
reivindicação aos Comitia.
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No plano jurídico os romanos obedeciam a um conjunto de regras não escritas criadas no seio
da comunidade cívica impostas pela sua observância constante e prolongada (mores maiorum).
Os romanos acreditavam que estas regras correspondiam à vontade dos deuses que os
protegiam, e por isso, o colégio de pontífices exercia a função de fazê-las cumprir sem grande
dificuldade (Lições do Vera Cruz).

● Em 451 a.C. é constituída uma comissão paritária de 10 homens (mista entre homens
patrícios e plebeus) entre os Comitia Curiata que se chamava: Decemviris Legibus
Seribumdi. Tinham a função de reduzir a escrito os Mores Maiorum, ou seja, positiva-los
(direito escrito).

Após a entrega das leis escritas esta comissão dissolvia-se.

A comissão tinha o mandato de um ano e elaborou 10 tábuas de bronze, onde estavam escritas
as principais normas jurídicas romanas, das variadíssimas matérias, mas sempre de direito
privado (direito civil). Tem escrito o direito aplicável ás relações entre privados, sejam eles
patrícios ou plebeus.
Os comitia aprovam estas 10 tábuas, mas entendem que o trabalho feito tinha sido escasso e
deviam desenvolver-se mais áreas “especiais” (direito penal), passando então a nomear assim
uma segunda comissão.
● Esta segunda comissão teria como função o aprofundamento da área do direito penal com.
A elaboração de mais tábuas (na prática de determinados crimes, quais as consequências
para os infratores?). Governou durante um ano de forma autoritária o governo da cidade
de Roma, não obstante apresenta aos comitia duas tábuas que não são aprovadas.

● Os comitia nomeiam uma terceira comissão mais pequena de dois cônsules (patrícios que
eram magistrados com poder de governo em Roma): Valério e Horácio. Estes teriam como
função elaborar mais tábuas com o direito em falta. Passado um ano apresentam duas
novas tábuas de leis que são aprovadas pelos comitia = Lex Laveria Horatia

Com estas duas tábuas surge assim a Lei das XII Tábuas de bronze que continha direito privado
e constituía a positivação dos Mores Maiorum, formando o primeiro Direito Romano (escrito).

XII Tábuas:
Tábuas I, II e III: Contêm processo civil;
Tábuas IV e V: Direito da família e das sucessões;
Tábua VI: Negócios Jurídicos (Direito de obrigações);
Tábuas VII a XII: Direito penal e direito processual penal

→ Os Iurisprudentes (sacerdotes pontífices) passam a ter uma dupla abrangência/função no


Direito: Aplicam as leis das 12 tábuas e interpretam-na, ou seja, é a conjugação dos mores
maiorum e da interpretação das leis das 12 tábuas.

Não obstante, os Mores Maiorum continuam a ser o cerne da justiça romana (porque era
direito proveniente dos deuses). -> Pouca separação entre religião e estado patente na
hierarquia das fontes.

● As positivações das principais regras das relações entre privados dos Mores Maiorum
foram inseridas na Lei das XII Tábuas, no entanto a relação entre uma instituição pública e
um privado era apenas regido pelos Mores Maiorum.

A lei das XII Tábuas constitui a primeira Lex Rogata de Roma.


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⮚ A Lex Rogata, no contexto da lei das XII tábuas, era uma lei elaborada por magistrados (10
membros selecionados dos, e pelos, comitia) que depois são submetidas à apresentação e
aprovação dos Comitia Curiata, sendo que o autor roga pela mesma (defende-a), perante
uma alta representatividade dos cidadãos romanos.

⮚ Divisão da Lex Rogata:


I. Praescriptio = Prefácio, onde se encontra o nome do magistrado, a assembleia que o
aprova/vota, o nome do primeiro agrupamento de homens que abre a votação (centúria) e o
nome do primeiro cidadão que a vai votar.
II. Rogatio = Corpo da lei, o que é que ela abrange, qual o objeto da lei.
III. Sanetio = Parte final que determina a eficácia da lei, e muitas vezes a parte sancionatória da lei.
Ex: Quem não cumpre esta lei esta sujeito a pagar uma multa; a uma contraordenação...
⎯ Praefecta = Nulos todos os atos contra a lei
⎯ Minus quam paerfecta = Aquela que se impõe multas aos transgressores da lei,
não preveem nulidades dos atos
⎯ Imperfaecta = Não preveem sanções nem a nulidade dos atos

O facto de estarmos perante leis aprovadas nos Comitia Curiata, onde estão representados
todos os cidadãos de Roma, demonstra um desenvolvimento, porque, simbolicamente, todo o
pópulos romano está a aprovar em conjunto as leis que vão regular as suas relações privadas.

Duas fontes de Direito em Roma passam a ser:


I. Mores Maiorum
II. Lei das XII Tábuas – 454 a.C.

A Lei das XII Tábuas faz com que as leis escritas se sobreponham aos mores, à moral oratória e
aos costumes. Resolve assim o problema do conflito entre mores e leges, optando pela lei.
Logo, no caso de se praticar um ato com fundamento num costume (contra legem), este, por
contrariar a lei, passaria a ser nulo.
A partir desta lei, as leges passam a poder revogar e emendar os mores, como depois
acontece com a Iurisprudência e os edictos do pretor.
→ Esta segunda fonte de direito marca a primeira tentativa de enunciar por escrito as regras
mais importantes do Direito então existente, e fazer aplicar de forma universal e igualitária
as regras jurídicas a patrícios e plebeus, tornando-se necessária e essencial em virtude das
divergências entre Iurisprudentes (sacerdotes pontífices) sobre as regras que
fundamentavam as soluções justas.
→ Existiam mores maiorum, costumes e usos que preenchiam, completavam e tornavam
eficazes os comandos desta lei. Os mores maiorum eram fundamentais para a eficácia das
normas legais e a efetividade das regras do ius.

Em 510 a.C. a monarquia caí, com o derrube de Tarquínio, e Roma precisa de encontrar um
sacerdote. A solução encontrada são os magistrados, cidadãos romanos (apenas patrícios), que
são eleitos pelos Comitia Curiata para governar a cidade de Roma.
- Tem um mandato temporário de 1 ano;
- Não se podem recandidatar ao mesmo cargo, mas podem candidatar-se a outros;
- Cargos não renumerados;
- Devem prestar deveres e esclarecimentos aos Comitia.

Órgãos de organização política romana (transição após queda da monarquia):


o Senado constituído por 100 homens (patrícios);
o Magistrados que assumem antigas funções do REX;
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o Os Comitia Curiata que vão desaparecendo com o tempo para dar lugar ao surgimento dos
“Comitia Centuriata”, a diferença reside na organização militar, que evolui e os Centuriata
veem o seu poder reforçado:
- Podem destituir magistrados;
- Fiscalizar e aprovar leis = Poder Legislativo

Os Comitia Curiata existem no início da República, mas vão sendo subalternizados, passando o
ser poder político para os Centuriata, e detendo o poder religioso.

Os dois principais órgãos de poder são os Comitia e os Magistrados, que, em com junto com
todas estas entidades e o Senado, vão ajudar a construir o Direito Romano da República ou
Clássico, que é o mais desenvolvido de todo o Império Romano.

Os plebeus foram contestando ao longo do tempo um tratamento diferenciado dos patrícios,


pois não podiam aceder ao Senado, não podiam casar com patrícias, nem podiam aceder a
cargos de magistratura.
Esta contestação culmina com a aprovação de leis que constituem na concessão de Direitos aos
plebeus que lhes permitia não receber um tratamento tão desigual. - LEX VALERIA HORATIA DE
PLEBISCITIS (toda lei aprovada nos Concilia Plebis valia como lei aplicável a todos)

Pópulos Romano e República - 367 a.C. – 27 a.C.


● Em 367 a.C. publicam-se, e aprovam-se, as Leges Liciniae Sextiae que marcam o início da
república no império romano.

Estas leges subdividem-se em três outras leis:


1. Lex de Liciniae de Aero Alieno: Até à publicação desta lei estava previsto que os devedores
(quantia devida a um patrício) deveriam pagar a quantia integral mais os juros de uma só
vez. Esta lei cria assim condições favoráveis ao devedor dizendo que poderia efetuar o
pagamento em três parcelas iguais.
Direito de não pagar a divida na integra no dia em que se vencia, podia fazê-lo em três
preações anuais (3 anos subsequentes). Reduziu-se o impacto das dividas entre os
plebeus. Se não se pagasse a divida nos três anos as premissas das Mores Maiorum
mantinham-se (venda do devedor em caso de incumprimento do seu dever em contrato de
mútuo = empréstimo).

2. Lex Liciniae de Modum Agrorum: Até à data da publicação destas leges havia um
predomínio de terras por parte dos patrícios, com a entrada em vigor destas leis
permite-se que os plebeus adquiram terras públicas e limita a área, delimita a
propriedade, dos patrícios, que não podiam ter mais de 500 jeiras de terra.

3. Lex Liciniae de Consule Plebeio: Permite que plebeus possam ascender até à função de
cônsul, o que representava meio caminho andado para ascender ao Senado. Os cônsules
com poderes de governo sobre Roma passam a poder ser plebeus, no entendo, esta
medida não foi posta em prática até 320 a.C. ano em que surge o 1º cônsul plebeu.
Este direito era submetido a dois requisitos: dos dois magistrados só um podia ser plebeu,
ou seja, havia a obrigatoriedade de um dos magistrados ser patrício.
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- Em 172 a.C. há uma alteração na lei que permite a existência de dois cônsules plebeus.

Em termos de orgânica política da Roma Republicana, o poder estava assente nos comitia,
no senado e nas magistraturas (assumiram os poderes do REX).

Os Comitia Centuriata

Os cidadãos eram organizados, militarmente, em centúrias (conjuntos de 100).


Funções:
- Aprovarem a declaração de guerra em conjunto com o Senado;
- Elegiam as magistraturas maiores (censor, Cônsul, pretor e ditador). A eleição é anual,
com exceção dos censores que eram de 5 em 5 anos, e do ditador que era um cargo
extraordinário que apenas surgia em situações extremas e que tinha a duração de
apenas 6 meses.
Eram todos eleitos por eles, havia campanha eleitoral, fazia-se o programa governativo
e eram apresentados aos Comitia que os elegiam mediante o conteúdo dos mesmos.
- Aprovam as Lex Rogata: propostas por magistrados maiores, em norma os cônsules e os
pretores (os ditadores não propõem leis), considerando que o que vigorava em Roma
eram as leges (como as leges Liciniae Sextiae de 367 a.C.), que eram apresentadas e
votadas perante os Comitia.
- Ratificam tratados de paz
- Possibilidade de comutar penas: Desde 509 a.C. que havia em lei chamada “Lex Valeria
de Provocatione” que dá origem a “Provocatio ad Populum”:
- Aquele que é condenado pelos cônsules à pena de morte (penas gravosas), podia
requerer aos Comitia, ou aos pretores, uma reavaliação do seu processo e da sua pena,
ou seja, os Comitia têm a última palavra sobre a vida e morte dos cidadãos de Roma.

Existiam mais dois tipos de Comitia:

1. Comitia Tributa (Tribos): São comícios restritos a cada uma das tribos de Roma. Havia 20
tribos: 4 urbanas e 4 rústicas. Homens e mulheres organizavam-se em tribos através de
laços familiares ou regionais. -> COMPOSTO POR PLEBEUS E PATRÍCIOS
- Esta Comitia estava reduzida aos cidadãos daquela tribo e tinham menor importância,
sendo que não podiam aprovar questões vitais de para a cidade de Roma, apenas
normas e regras jurídicas abstratas que vigoravam nas tribos.
→ Elegiam magistrados menores: Questor e Edis.
- Tinham competência judicial para julgar e aprovar penas pecuniárias para pequenas
infrações cometidas.
- Aprovam com o tempo pequenos impostos locais.
Competências residuais e restritas a um grupo (tribo), onde estavam representados
todos os homens da dita tribo.

2. Concilia Plebis (Concílio da Plebe): Assembleias de plebeus, contrapunha o Senado.


Aprovam medidas que vinculam os plebeus, dois tipos:
o Leis em Roma que só se aplicavam aos plebeus, logo estes aprovavam as mesmas –
Plebiscitos.
Estas eram leis propostas pelo tribuno da plebe (magistrado extraordinário) e
aprovadas pelos Concilia Plebis, vinculando apenas os plebeus.
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▪ A “Lex Hortensia de Plebiscites” de 287 a.C. vem permitir a aplicação dos plebiscitos aos
patrícios, sendo que a partir deste ano, eles estavam sujeitos às mesmas

o O Tribuno da plebe é um magistrado excecional e extraordinário, sempre plebeu,


que é eleito pelos Concília Plebis para representar e defender os seus direitos e
interesse perante a cidade de Roma. Tem poderes extraordinários sobre Roma, e os
seus atos não podem ser revogados por outros magistrados.

Nota:
Os plebiscitos, em regra, só têm o nome de UM magistrado (tribuno da plebe), enquanto que
as Lex Rogata têm, normalmente, o nome de dois magistrados, que são aprovadas nos comitia
Centuriata e vinculam toda o pópulos romano.

Senado

Órgão colegial representativo dos Patrícios, e a partir do século III a.C. vão também ascender
ao Senado os plebeus.
Funções:
- Garante o cumprimento dos Mores Maiorum;
- Compete conceder Auctoritas Patrum, ou seja, verificam se as leis aprovadas pelos
comitia estão em conformidade com os Mores Maiorum.
- Conduzir a política externa ao aprovar os tratados internacionais, receber embaixadas
de outros povos, fazer declaração de guerra em conjunto com os Comitia Centuriata,
organizar províncias, aprovar despesas de operações militares;
- Auxiliar a função dos Cônsules.

Magistraturas
Principais caraterísticas das magistraturas em Roma:
o Colegialidade: Para cada magistratura eram eleitos pelo menos 2 magistrados com
paridade (qualidade do que é igual) no grau e na função;
o Temporalidade: Normalmente os mandatos eram de um ano, com exceção do
censor (5 anos).
o Separação rigorosa entre as magistraturas (poderes);
o Impossibilidade de repetir cargos: Não se podiam recandidatar ao mesmo cargo,
mas podiam candidatar-se a outros;
o Responsabilidade: Eram responsáveis pelas infrações cometidas durante o seu
mandato;

Critérios para a eleição:


- Podiam ser submetidos à votação do eleitorado ativo (comitia);
- Não podiam ser escravos
- Tinham de pertencer ao grupo a que a magistratura estava reservada/disposta. Ex: Só
um plebeu se podia candidatar a Tribuno da Plebe e só um Patrício se podia candidatar
a Pretor.

Poderes comuns a todas as magistraturas:


⮚ Ius Auspiciorum: faculdade de indagar por certos signos a vontade favorável ou
contrária dos deuses, antes de qualquer ato importante.
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⮚ Ius Edicendi: Direito de promulgar edictos, ou seja, providências em matérias da sua


competência para a resolução de situações concretas especiais, ou programas da
própria atividade, promulgados no início do seu cargo e contendo as regras a que este
se sujeitará, um programa (de governo) que apresenta no momento da sua candidatura.
Direito de publicar os seus programas no fórum para o conhecimento de todo o pópulos
romano.
⮚ Coercitio: Direito de usar meios compulsivos para forçar qualquer cidadão a respeitar
uma ordem emitida pelo magistrado no exercício das suas funções (Ex: prisão; sanções
corporais ou pecuniárias; retenção de bens...)
⮚ Intercessio = Poder de veto. Todos os magistrados tinham este poder. Este poder servia
para equilibrar o consenso entre os “colegas”, para que as decisões fossem mais justas.
- O Tribuno da Plebe tinha poder de Intercessio sobre todos os magistrados. Podia vetar
as decisões que pudessem por em causa os direitos e interesses da Plebe.
- Na escala hierárquica, o magistrado acima tinha o poder de veto sobre o que o
precedia, por isso o censor tinha um poder mais forte porque não existia ninguém que
pudesse, nas magistraturas ordinárias, vetar as suas decisões.

Magistraturas Menores
Poderes:
⮚ Potestas: Representar o pópulos romano, e vincular as suas vontades com a vontade do
pópulos. Criava direitos e obrigações para a civitas. Era exercida no âmbito das
competências próprias.
- Ius Agendi cum populo e cum plebe
- Ius Agendi cum patribus

Edil ou Edis Curuis – 367 a.C.


Tinham poderes de Ius Edicendi, auspícios menores e poderes coercitivos e potestas– menos
o Edil Plebeu
Está na administração das cidades, administra o poder local, por isso é que muitos, no início,
eram eleitos nos Comitia Tributa (das tribos) que elegiam representantes para regular o poder
local, depois passam a ser eleitos pelo Comitia Plebe. Acaba por ser o grande administrador
municipal.

Funções:
- Função de polícia da cidade, controla o bom comportamento da cidade através da sua
fiscalização e da tomada de medidas de controlo;
- Conserva vias e edifícios públicos, saneamento das cidades, garantiam boas condições
dos edifícios (infraestruturas) públicas e policiavam esses locais.
- Controla abastecimento de cereais, ou seja, abasteciam os mercados das cidades.
- Organiza festas públicas
- Guarda dos arquivos públicos, bem como a função de gerir o tesouro da cidade
- A sua magistratura foi criada como um prémio de consolação aos patrícios, porque
apenas podiam ser exercidas por homens da sua classe.
- - Os patrícios organizavam e financiavam as festas públicas = Diferença entre Edis
Curuis (ius Edicendi) e Edis Plebeus (não tinha ius Edicendi).
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Questor – 450 a.C.


Tinha Ius Edicendi; auspícios menores; poderes coercitivos
Funções:
- Administra o erário de Roma, fiscaliza as receitas fiscais e as despesas públicas;
- Promove a distribuição de receitas entre vários magistrados para suprimir as despesas
dos cônsules e do senado;
- Podia instruir e acusar cidadãos romanos pela prática de crimes punidos pela pena de
morte, no entanto, só podiam ser crimes na área fiscal/financeira, pois era nessa que
exerciam as suas funções.
- Guardavam as arcas com o tesouro de Roma

Magistraturas Maiores/Ordinárias

Tinham os poderes:
⮚ Imperium: Poder supremo e ilimitado de comando (ex. comandar exércitos, convocar o
senado “agendi cum patribus” e as assembleias populares “agendi cum populo”,
administrar a justiça); Poder de soberania, de dar ordens. Nem todos os magistrados
tinham este poder – Cônsul e Pretor

⮚ Potestas: Poder de representar o pópulos romano e vincular com a sua vontade a vontade
do pópulos. Criava direitos e obrigações para a civitas. Era exercida no âmbito do exercício
das competências próprias. Poder de representação do Pópulo Romano, e todos tinham
esta função porque exerciam funções públicas.
- A intensidade da representação de um sensor era muito superior á de um questor. A
intensidade da sua representação dependia das suas funções (hierarquia).
Ex: Cardeal é mais importante do que um Bispo

⮚ Iurisdictio: poder de administrar a justiça. Dizer o Direito, e nem todos tinham este poder.
Aplicar o direito aos casos concretos.
- Pretor e Cônsul (Caridade); Pretor e Questor (Assistente)

Hierarquia:
1. Censor – 443 a.C. (Só tinham poder de veto sobre os colegas censores)
2. Cônsul – 509 a.C.
3. Pretor – 367 a.C.
4. Ditador
5. Questor – 450 a.C.
6. Edil Curuis – 367 a.C.

Cursos honorus = permite a ascensão crescente entre as magistraturas.

Cônsul
Têm os três poderes: Imperium, potestas e Iurisdictio
- Magistratura com poder na cidade e poder militar;
- Colegial (sempre mais do que um com paridade na exerção das funções);
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

- Anual;
- Dividia poderes com outras magistraturas;
Tinha poderes de coercitio e iudicatio – acusar, julgar e executar as sentenças sem obrigação de
seguir o concílio por ele convocado, e liberto de qualquer formalidade ou vínculo processual;
- Exercia todas as competências que não cabiam aos outros magistrados:
- Coercitio para a pena da morte
→ Detinha Ius agendi cum patribus e ius agendi cum pópulos

→ Apresentava propostas de lei ao senado (lex rogatio)

Nota: Se um dos Cônsules ia para a guerra, quem colmatava esta ausência era o Senado, e se
chegasse a notícia do seu falecimento eles elegeriam um novo magistrado.

Censor
Não tinha Imperium e função não permanente
- Poder de constituir o Senado. Poder frágil porque apenas poderiam indicar os patrícios ao
Senado.
- Poder de destituição mediante a análise do comportamento dos membros do Senado se
violassem as regras.
- Só o tribuno da plebe tinha poder de veto sobre si, ninguém das magistraturas ordinárias ou
inferiores/superiores tinha esse poder para alguém dos seus colegas colegiais.
- Magistratura ordinária não permanente.
- Titular de auspícia, ou seja, podia interpreta-los (os sinais dos Deuses).
- Eleito nos Comitia Centuriata para um mandato com exercício efetivo de funções de 18
meses, apesar de serem eleitos para 5 anos, a grande parte do seu programa era realizado nos
primeiros 18 meses.
- Controlava a aplicação dos mores maiorum
- Administrava os bens públicos
- Faziam o Recenseamento da População Romana para saber o número de habitantes sobre o
poder da Rés publica e do Império (antes), para saber quantos chefes de família existiam e qual
seria o rendimento familiar, para poder determinar e calcular os Tributos (Impostos).

Ditador
Magistrado Extraordinário
- Magistratura extraordinária, que, em regra, durava apenas 6 meses.
- Só surgia em determinados momentos da vida económica, social, militar que exigiam a
presença de uma personalidade que resolvesse questões que dividia os órgãos de poder, que
não chegavam a um consenso.
Ex: Era preciso criar uma campanha militar, era preciso tomar providências, o Senado, os
Comitia e etc. não chegariam a consenso a tempo, logo achavam mais prático e pragmático
nomear um homem para tomar estas decisões.

- Concentrava todos os poderes da civitas numa só pessoa;


- Consoante a situação era nomeado:
- Dictator optimo iure: plenos e indefinidos poderes (magistraturas ficavam suspensas);
- Dictator imminuto iure: com poderes específicos em matérias sacrais, mas com grande
relevância política.
- Era nomeado ou por questões/conflitos militares ou religiosas;
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

- Já foram nomeados ditadores para organizar festas.


- Eram nomeados quando as magistraturas ordinárias sentiam que não tinham capacidade
para resolver certas situações, logo, aquando da nomeação do Ditador, estas funções dos
magistrados eram “congeladas”.
- Ele só podia ser responsabilizado para outras coisas que não estavam integrados no seu
mandato, ou seja, perseguição de fins que não estavam descriminados nos objetivos do
seu mandato.

Tribuno da Plebe
Magistrado extraordinário em funções permanentes
- Primeiros eleitos pelos comitia tributa e depois pelos concilia plebe;
- Garantia os interesses da plebe;
- Tinha imunidade absoluta;
- Tinha Intercessio sobre todos os magistrados;
- Tinham potestas coercendi, sem ligação à Intercessio.

⮚ No Séc. III a.C. passam:


- O Direito a convocar e presidir ao Senado;
- Estabelecer com os concilia plebis uma relação orgânica, convocando-os para analisar
decisões políticas ou normativas (plebiscita).

Pretor
Tinha os três poderes: Imperium, Potestas e Iurisdictio
o Criado pela Lex Liciniae Sextiae de 367 a.C.
o Lex Aebutia de Formulis de 130 a.C. – marco que altera a forma de atuar do pretor
(surgimento e entrada em vigor de fórmulas que lhe permitem criar direito);
o Administra cidades e tinha o Imperium igual ao do cônsul (chefe militar), sendo que o
podia substituir quando ele se ausentava
o Potestas inferior à do Cônsul (A Potestas, ou, influência aquando da representatividade
do pópulos seguia a hierarquia das magistraturas).
❖ Aplica Direito/justiça e interpreta o Direito, podendo mesmo criá-lo (a partir de 130 a.C.
com a Lex Aebutia de Formulis). Para tal vai ter um tribunal próprio = Tribunal do Pretor;
onde “julgava” as causas que lhe eram submetidas.
Foi a figura cimeira da construção do Direito em Roma
❖ Tem Ius Edicendi, o que lhe permitia, e obrigava, a submeter o seu edicto (programa para
o mandato) aos Comitia Centuriata e exercia funções durante um ano.
❖ A criação do Direito era feita através do seu edicto (Edictum), após 130 a.C.
o Interpreta, aplicava e, em algumas situações, criava direito.

Como magistrado eleito era chamado para administrar a justiça, era assim uma parte da
organização judicial em Roma, sendo que era chamado a tribunal (tendo também o seu próprio
tribunal) para contribuir para a solução do caso.

Nota: Mas quem decidia os casos, ou seja, decidia qual das partes em litígio estava “correta”
ou no seu “direito” era o Iurex = Desempenhava funções no âmbito da uma face processual,
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

sendo que a consequências plicadas, ou, o direito aplicado já tinha sido previamente
determinado pelo pretor, independentemente da resolução do caso.

A Pretura foi dividida em dois, que tratavam os dois ordenamentos jurídicos separadamente.
✔ O Pretor Urbano desempenha as funções na Cidade (Urbe)

✔ O Pretor Peregrino desempenha as funções de regular as relações jurídicas com os


estrangeiros e anda por todo o império.

❖ 130 a.C. “Lex Aebutia de Formulis” = Marco que altera a forma de atuar do pretor. Até esta
data ele não pode criar Direito novo, nem pode contestar, tinha de o aplicar e interpretar
segundo o Ius Civile, mas nunca o podia alterar.

Principais fontes de Direito em Roma:

1. Mores Maiorum
2. Leges = “Lex Rogata ou Leges Rogata”
3. Ius Praetorium = Direito do Pretor
4. Iurisprudentia
5. Senatus Consulta
6. Oratio Princeps
7. Constituições Imperiais

As Leges em Roma

⮚ Lex ou Leges
- Toda a norma escrita que pode ser lida;
- Declaração com valor normativo baseado num acordo (expresso ou tácito) entre que a
formulava e a quem se destinava;
- A lex vincula que a fórmula e a quem se destina;
- As leges não eram a fonte de direito por excelência, porque não havia uma produção
constante;
- Na Roma Republicana (367 a.C. a 27 a.C.) a lei não era a principal fonte de Direito, mas
passa a ser no período do Imperador.
→ Comitia Centuriata produziam as “Lex Rogata” são modalidades de leis públicas
→ Os Plebiscitos são modalidades de leis públicas que emanavam dos Concilia Plebe

Tipos de leges:

A. Lex Privata
- Declaração solene com valor normativo que tem por base um negócio privado
- Esta lex criava direito privado, que vinculava ambas as partes do contrato ou negócio.

B. Lex Pública
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

- Declaração solene com valor normativo feita pelo povo (pópulos) ao aprovar em comum, nos
comitia, com uma autorização responsável, a proposta apresentada pelo magistrado.
- Há acordo entre o magistrado que propõe a lex e o povo que a aprova.

- De entre as Lex Publica destacam-se:


1. Lex Rogata = Proposta por um magistrado, aprovada pelos comitia, onde roga pela
mesma.
- Regulam, em regra o Direito Público;
- São identificadas pelo nome dos dois cônsules do ano em que são propostas e
aprovadas;
Ex: Lei das XII Tábuas;
2. Plebiscitum = É aprovada pelos concilia plebis (concilia da plebe), normalmente
proposta pelo tribuno da plebe, onde é discutida e aprovada. Não recebem Autoritas
Patrum, porque apenas se aplicavam aos plebeus.
- Identificada com o nome de um dos magistrados, por norma o tribuno da plebe
o A “Lex Valeria Horatia de Plebiscites – 449 a.C.” diz que os plebiscitos tinham uma
força jurídica idêntica à das Lex Rogata, ainda que vinculassem apenas os plebeus;
o A “Lex Hortencia de Plebiscites – 287 a.C.” define que estas passam a vincular
também os patrícios.

Divisão da Lex Rogata:

I. Praescriptio (Prefácio) = onde se encontra o nome do magistrado, a assembleia que o


aprova/vota, o nome do primeiro agrupamento de homens que abre a votação
(centúria) e o nome do primeiro cidadão que a vai votar.

II. Rogatio = Corpo da lei, o que é que ela abrange, qual o objeto da lei. Parte dispositiva
da lei.

III. Sanetio = Parte final que determina a eficácia da lei, e muitas vezes a parte
sancionatória da lei. Ex: Quem não cumpre esta lei esta sujeito a pagar uma multa; a
uma contraordenação...
⎯ Praefecta = Nulos todos os atos contra a lei, contra as suas disposições;
⎯ Minus quam paerfecta = Aquela que se impõe multas aos transgressores da
lei, não preveem nulidades dos atos;
⎯ Imperfaecta = Não preveem sanções nem a nulidade dos atos contrários;

Fases de Aprovação de uma lei (Lex Rogata) em Roma:

1. Promulgatio = A Apresentação feita pelos magistrados aos Comitia da proposta de lei.


Os Comitia não são apanhados de surpresa porque, por norma, quando se candidatam
a um mandato num determinado cargo de magistratura este apresenta as suas
propostas do que gostaria de fazer/alterar.
A proposta de lei tem de ser afixada em praça pública para poder ser discutida por
todos.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Está em consulta pública durante 3 semanas.


2. Conciones = Fase da discussão em praça pública, em reuniões. Os cidadãos mais os
magistrados discutem a lei, se concordam ou discordam, se sugerem alterações. Fase
em que o Magistrado percebe qual o sentido do cidadão romano em relação à lei que
lhe é proposta.
3. Rogatio = Ocorre nos Comitia Centuriata, reunidos em assembleia para votar a lei. A lei
apresentada pode já ter sofrido alterações no seu conteúdo após a segunda fase
(canciones). O Magistrado vai rogar/pedir que a lei que propôs seja aprovada.
Explica-se o conteúdo da lei, novamente, e pede-se a aprovação da lei.
4. Votação= Vota-se a lei, este voto pode ser favorável, desfavorável ou abstenção. Era
voto de mão no ar.
5. Aprovação pelo Senado = Após ser votada favoravelmente pelos Comitia, o Senado vai
conceder ou não a Autoritas Patrum = Autoridade do Pater (Concede à lei o
reconhecimento de que esta não viola os Mores Maiorum).
- O papel do Senado na legislação romana é um papel de verificação da conformidade
das leis com os Mores Maiorum.
Se o Senado recusa a Autoritas Patrum isto significa que esta não respeita a tradição
romana. Cria uma crise constitucional entre Senado, os Comitia e o Magistrado.
- Muitas vezes o Senado era consultado pelos Magistrados antes de eles apresentarem
a proposta de lei aos Comitia. O parecer atribuído por parte do Senado ao magistrado
que o consultasse era “Senatos Consulta” não era vinculativa (não vincula o
magistrado, que pode manter a sua posição).
6. Publicação/Afixação da Lei = no fórum e é do conhecimento público para passar a ser
cumprida.

→ Para não haver conflitos jurídicos foi elaborada em 339 a.C. a Lex Publilia Philones
define que a Autoritas Patrum passa a ser concedida após a Canciones, ou seja, deixa
de ser concedida após a votação e antes da Rogatia, assim quando a roga aos Comitia já
sabe que está previamente aprovada pelo Senado. Antes de se votar a lei já se sabe que
esta está em conformidade com os mores maiorum.
- Assim deixa de haver conflitos entre o Senado e os Comitia no âmbito da aprovação
das leis

No nosso entender a alteração com a Lex Publilia Philones, representa uma


diminuição ou aumento do prestígio do senado?
Se dissermos diminuição está certo porque o senado é chamado a pronunciar-se antes
dos comícios que é inferior ao senado é como se os Comitias passassem a ser a palavra
final, mas também pode ser um aumento porque se o senado não lhe der Auctoritas a
lei já nem progredia para o resto das fases e “morria ali”.

→ Lex Papiria Tabellaria – 131 a.C. = O voto passa a ser secreto, até esta Lex o voto era
público, com o braço no ar.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Ius Honorarium: Direito de todos os magistrados, direito mais amplo, é apresentado nos
Edictos (onde se apresentam soluções jurídicas). É uma interpretação/aplicação dos Ius Civile
(Direito Civil). É a parte mais importante criada pelo Pretor.

Ius Praetorium: Direito que imana a produção, aplicação e criação do Pretor – essencial ente
usada no Pretor Urbano

Pretor
❖ O pretor é um magistrado ordinário integrado no Cursus Honorus que, em caracter das
suas funções de administrar justiça e em virtude das suas funções e para o exercício delas
ele é dotado dos 3 poderes de magistrados (potestas, Imperium e Iurisdictio), o pretor
surgiu em 367 a.C. e para as suas funções concretamente ele usava mais o poder de
Imperium e Iurisdictio e, a partir da lex Aebutia de Formulis o pretor passa a usar só o
poder de Iurisdictio, ele não perde poder de Imperium, pois este fica subentendido, ele
apenas precisa do poder Iurisdictio de administração corrente de justiça) e o de Imperium
passa a ter caracter extraordinário (ele não precisa sempre do poder de Imperium).

Atividade do Pretor divide-se em duas fases

1. Antes da “Lex Aebutia de Formulis – 130 a.C.”


- De 367 a.C. até 130 a.C. o pretor era aplicador, interpretador e conhecedor do Direito, sem o
poder alterar. Atuava no âmbito dos seus poderes de Imperium e de potestas, concedendo
actios, ou ações da lei.
- O pretor apenas aplica o Ius Civile aos casos concretos que lhe são submetidos, que com os
seus poderes de Imperium e potestas, vinculando os cidadãos com a sua vontade através da
interpretação dos Ius Civile.
→ - Até esta lei ele interpreta, procura dentro do Ius Civile soluções para situações que são
semelhantes. Não pode inovar. Aplica-se com base na similitude entre as normas e o caso.
- O Ius Civile era um direito formal, ritualista, cheio de fórmulas que diziam como se devia
celebrar um contrato especificamente.
- Até 130 a.C. não há contratos escritos, são todos “por voz”.

2. Depois da “Lex Aebutia de Formulis – 130 a.C.”


- O pretor atua como interprete, integrador e aplicador do Ius Civile, mas também passa a ter a
faculdade de criar direito novo através de fórmulas.
- Já se celebram contratos por escrito;
→ Concede-se a capacidade ao pretor de olhar para o Ius Civile e dizer “neste caso não se
prevê uma solução no ius civile”, e é o pretor que decide que num caso o demandante
merece ser protegido, merece uma Actio, e por isso cria uma fórmula nova.
- Reconhecimento de uma situação que merece ser protegida pelo direito e que na tes
não o era.
- Pode alterar o que está no Ius Civile, o que não significa que essa situação está
errada, significa apenas que naquele caso concreto o Ius Civile não pode ser aplicado, o
que não impede que em casos semelhantes a dita solução possa ser aplicada.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

⮚ As fórmulas = Direito escrito criadas no âmbito dos poderes de Iurisdictio do Pretor,


fazendo parte do seu Edicto.
Após esta data já se celebram contratos por escrito.
A partir de 130 a.C. o Pretor pode criar fórmulas para aplicar a um determinado caso ou
situação jurídica.
▪ O Pretor cria direito novo e fórmulas para a aplicação no seu tribunal, mas este tem de ser
criados através dos seus Edictos. Estas fórmulas são introduzidas no Ius Civile através do
seu Edicto.
▪ Cria-se insegurança jurídica porque o Pretor muda todos os anos. Esta insegurança tem de
ser colmatada, as fórmulas são criadas e aprovadas nos Edictos do Pretor.

→ O Juiz (Iudex) não define o Direito a aplicar, como atualmente acontece, este não tem
conhecimento do Direito. Ele só precisa de definir quem tem razão e depois aplicar o Litis
Contestatio definida pelo Pretor, onde estão as hipóteses de consequências jurídicas para
as várias opções de resolução do caso.

→ O Tribunal do pretor está sempre dividido em duas partes, antes e depois da Lex. O Iudex
aplica o direito pré-determinado pelo Pretor.
- Antes da Lex o Iudex aplica a interpretação/ações do Direito determinado pelo Pretor (Ius
Civile).
- Após a Lex o Iudex aplica a fórmula determinada e elaborada pelo Pretor.

República = Tribunal funciona em duas partes:

1. Fase In Iure: Parte Jurídica e da determinação do Direito. Compete ao pretor ouvir a parte
(normalmente essa parte procura-o), e após ouvir o demandante tem de verificar se o Ius
Civile protege a pretensão desse demandante. Se for protegido esse demandante tem
direito a uma ação = reconhecimento de um direito que ele pode reivindicar. Termina
atividade nesta fase.

● Sinalagma = Reciprocidade de direitos e obrigações num contrato sinalagmático


- Nestes contratos nascem obrigações para as partes? É isto que o pretor tem de analisar e
verificar se do contrato de compra e venda nasce no Ius Civile um Direito, por exemplo, de
reclamação do preço (juros que impõe).
● Actio = Direito de reclamar em tribunal um direito que nasce num contrato que ele
celebrou. Decorre do Ius Civile.
● Iusdicere = Momento em que se diz o Direito. Processo através do qual o pretor comunica
ao juiz o que se tem de fazer. Passagem para a segunda fase.

2. Apud Iudicem: É uma fase presidida pelo juiz (IUDEX). Este juiz não se assemelha ao da
atualidade. O Iudex é escolhido pelas partes ou pelo pretor para decidir o caso, dizer quem
tem razão, o que foi provado, porque este era um homem bom, logo consegue ser
imparcial.
- O Iudex ouve as partes, faz a prova, ouve as testemunhas, decide quem tem razão e aplica
a decisão jurídica que o Pretor tinha “antecipado”. Aplica o Ius Civile determinado pelo
Pretor.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

- O Iudex não é Iurisprudente, porque não estuda o Direito e não o conhece.

❖ O Pretor domina e preside no tribunal (tem maior peso e importância) - É o Pretor que
determina qual o Direito a aplicar aquando da demonstra da prova, se o demandante tinha
razão ou não e em que circunstâncias. No Tribunal do Pretor ele atua oralmente porque
este Direito era maioritariamente oral

Actios do Pretor
(São actios do Ius Civile, anteriores à Lex Aebutia Formulis de 320 a.C.)

1. Stipulationes Praetoriae: São impostas pelo pretor para proteger uma situação social
não prevista diretamente no Ius Civile, mas que merecem proteção. Através da
interpretação do pretor, do Ius Civile, é possível inclui-las no Ius Civile. Contrato verbal
e formal através do qual se criam direitos e obrigações para ambas as partes.
Se o negócio jurídico celebrado é incumprido e não é coberto pelo Ius Civile, o pretor,
consultado por uma das partes, pode protege-lo através desta Actio.

2. Restitutiones in Integrum: Ocorre quando um negócio jurídico injusto, mas válido


perante o Ius Civile, que origina uma situação protegida pelo Ius Civile, mas que não
merece ser protegida. O pretor, baseado no seu Imperium, ordena que as pertas se
desvincules da Stipulatio (negócio jurídico).
Ex: A ameaça B de que mata o filho se este não celebrar um Stipulatio com ele, e
fazem-no. B vai ter com o pretor e explica que só celebrou o contrato e vendeu o seu
bem porque foi ameaçado, e este tem de entender que o negócio só foi consumado
porque ouve coação, e por isso, face a esta coação o Pretor entende que este contrato
tem de se desfazer = Restituição do bem integral transacionado no negócio jurídico

3. Missiones in Possessionem: Ação de posse, relativa à posse de um bem. São uma


ordem dada pelo pretor sempre baseada nos seu Imperium, autorizando alguém a
apoderar-se durante certo tempo de bens de outra pessoa com poderes de
administração e de fruição. Estas chamam-se hoje embargos. Posse de bem para se
cessar de dividas de que é credor.
Ex: A e B celebram contrato de mútuo, empréstimo de dinheiro, A empresta dinheiro a
b, que tem de pagar no prazo acordado pelas partes, mas este não o faz porque não
tem €. A vai notificando-o e avisando-o, e depois dirige-se ao pretor para se queixar. B
tem um pomar, logo o Pretor pode decidir que o pomar pode ficar na posse de A e obter
o rendimento da venda dos frutos até saldar o valor da divida. Posse não implica
propriedade (titularidade do bem de raiz).

Nota: Um tenho um apartamento em meu nome, tenho a propriedade dele, ao arrendá-lo o


inquilino passa a ter a posse do mesmo. Propriedade ≠ Posse

4. Interdicta: Ordem sumária para resolver de momento uma situação que tem a
protege-la uma aparência jurídica, ficando essa ordem condicionada a uma apreciação
ulterior (=posterior).
Esta figura hoje chama-se providência cautelar. Há aparência de direito, e enquanto
não se define se há ou não direito, protege-se essa aparência.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Ex: Há um prédio com vários andares e a CM de Lisboa decide demolir o prédio para
naquele local construir uma estrada, há uma necessidade de reordenamento de
território e nesse local há um prédio com ¾ moradores. Há ordem da camara para
expropriação do prédio para demolição. Os proprietários não estão satisfeitos, porque
tem relação afetiva/emocional com o espaço e estes decidem pedir ao tribunal que
impeça a demolição do prédio, dizendo que se o demolirem não indeminização que
proteja a ligação afetiva ao prédio. O Tribunal concede uma providencia cautelar, ou
seja, á cautela mandam suspender o processo para se desenvolver e chegar a tribunal
onde vai ser resolvido, com os moradores a habitarem lá dentro, isto porque se o
demolissem era impossível repor a situação anterior de afetividade.

→ Após a Lex Aebutia de Formulis: passamos a ter as fórmulas do pretor: Fórmulas escritas
dadas ao Iudex.

Dois tipos de fórmulas

I. Denegatio Actiones: A fórmula nega a conceção de uma actio civile, àquela situação
atribuísse um actio, no entanto em crio um formula que nega essa aplicação, pois caso
essa se concedesse seria uma injustiça. Aquele caso concreto está fora da proteção do
Ius Civile, retirar ao cidadão a proteção que ele tem do Ius Civile, só é possível através
da fórmula, da realidade nova.

II. Exceptio: Fórmula que frusta uma actio civile concedida pelo Ius Civile, ou seja, na
exceptio não estamos a dizer que o Ius Civile deve deixar de proteger. A pretensão do
demandante não pode ser aceite naquelas circunstâncias, apesar dele ele ser
protegido pelo Ius Civile, eu, naquele caso concreto, retiro-lhe aquela proteção.

❖ O pretor podia criar formulas própria ou actio próprias através das fórmulas, construção
nova para regular situações específicas do direito Romano

→ As fórmulas contem estas Actiones, que, consequentemente estão discriminadas no edicto


do pretor.

Quatro grandes Actios do Pretor

1. Actiones in factum conceptae: O pretor defende que determinada situação social


merece proteção jurídica e não a tem concede uma actio baseada nesse facto social.
Estamos perante uma questão social, real, que não é protegida pelo Ius Civile e que o
pretor entende que é de justiça inclui-la no direito.

2. Actiones fictiniae: O pretor para aplicar a justiça finge como existente uma coisa ou
facto que se sabe não existir, ou finge como não existente uma coisa ou facto, ou um
negócio jurídico. Temos como forma paragmática a fixação jurídica: nós ficcionamos
realidades, inventamo-las. Determinadas realidades que podem não existir enquanto
tal pode-se atribuir-lhes realidades jurídicas.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Ex: Temos pessoas singulares, físicas, sujeitos de direitos e obrigações, o direito foi
construído para estas pessoa, no entanto, entendeu-se ficcionar/estender um conceito
de pessoas singulares a realidades diversas por nós criadas, nestes casos as empresas =
pessoas coletivas.

3. Actiones Utilis: O pretor aplica por analogia ações civiles existentes a outras situações
semelhantes, que não são protegidas pelo Ius Civiles. Esta situação que não é
protegida pode-se aplicar uma ação de forma analógica que normalmente aplicaríamos
a outra situação, passando a abarcar outra realidade semelhante.

4. Actiones addictitae qualitates: São ações que responsabilizam o pater famílias, total
ou parcialmente, pelas dividas dos filhos ou dos servos, e no âmbito de contratos por
eles celebrados.

Ao longo de toda a república o pretor é o grande aplicador do direito através do seu tribunal,
fá-los diretamente através das actios que concede ou formulas que cria.

❖ Usa o edicto perpetua ou edictum perpetuum como base da sua atuação que apresenta
no início do seu mandato anual, ou a edictos repentina - que submete ao longo do
mandato aos Comitia para resolver uma situação que é necessária resolver.

Quatro tipos de Edictos

1. Edictos perpétua: Aqueles que são aprovados no início das magistraturas, que servem
para eleger os magistrados
2. Edicto repentina: Pode ser submetido aos comitia a qualquer altura ao longo do ano
para resolver situações novas e inesperadas que nem o edicto perpetuum ou ius civile
resolvia
3. Edicto Nova: Determinações que um pretor a cada ano pode adicionar aos edictia
translatícia
4. Edicto Translaticio: Estão em vigor de um ano para o outro. A partir do principado, a
partir da época cristã, dos imperiais, vamos ter uma alteração na vida politica de Roma.
Júlio César inicia um período de transição que vai ser consolidado com César Augusto e
os seus sucessores. Este inicia um processo lento que os príncipes subsequentes vão
adotar, de diminuição de intervenção e poder das magistraturas, e a centralização das
funções que estes tinham na sua pessoa ou nos oficiais por ele nomeados.

O pretor não é, na maior parte dos casos, um jurista. Ele não sabe nada de direito, ele é um
magistrado que não segue o curso honorus, tem a função de aplicar a justiça, pode criar
fórmulas, tem Iurisdictio, mas na maior parte dos casos não é conhecedor de Direito.

Iurisprudente
O pretor necessita da intervenção de uma outra pessoa: o Iurisprudente.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

● Junto do pretor pode haver sempre, ou este pode recorrer sempre, à figura do
Iurisprudente.
- Estes são vozes caladas em que os seus nomes nem ficaram para a posterioridade, mas que
estudavam, conheciam e interpretavam o direito.
- Era a estes homens que o pretor recorria, ou as partes que iam a tribunal, para saber que
direito aplicar e criar.

→ O Iurisprudente pensa o direito sem ter poder para vincular as partes que o consomem, ele
tem autorias (o saber reconhecido socialmente, renome). Uma vez que este não é um
magistrado, não tem império, nem potestas, o seu saber não vincula ninguém.

Tem poder de recorrer a quem pensa no Direito, muito do trabalho do pretor na aplicação do
direito e na construção de novas fórmulas, este tem o aconselhamento do Iurisprudente, que
dá a sua opinião, mas se o pretor não concordar com esta pode recorrer a outro.
Pode haver sobre uma situação opiniões diversas.

→ As partes em causa também podem recorrer aos Iurisprudente, a parte demandante, a


parte demandada e o pretor podem recorrer a estes homens sabedores de direito.
→ O pretor pode escolher recorrer e aceitar a opinião do Iurisprudente que tiver a opinião

mais socialmente aceite.

O direito romano foi essencialmente construído pelos prudentes, que são os grandes criadores
de direito. Homens que não tem nome necessariamente, mas que foram estes Iurisprudentes
que estudam e pensam direito que por detrás do pretor, do cônsul ou das partes
desenvolveram a resolução de lacunas do ius Civile.

Segunda perna do Ius Romano, ou seja, do desenvolvimento e criação do Direito Romano.


Caraterísticas:
- Não era um magistrado, tinham apenas conhecimentos de Direito.
- O seu saber era socialmente reconhecido:
o Legitimidade de cariz social porque eram os cidadãos que lhe reconheciam o
conhecimento, ou não, que ele tinha. Ele era mais influente e conhecido na sociedade
quantos mais cidadãos o reconhecessem e procurassem.
- Quem fazia o Iurisprudente eram os cidadãos, pois era a ele que recorriam quando tinham
uma dúvida jurística, o que refletia o reconhecimento do seu saber e importância (mérito).
- Era uma função não renumerada. Tinham muita reputação, mas viviam na miséria e sofriam
de privações.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Os primeiros Iurisprudentes em Roma foram os sacerdotes, que tinham a função de interpretar


e aplicar os Mores Maiorum, que só eles podiam fazer porque tinham o conhecimento dos
mesmos. Eram chamados para os interpretar em relação aos casos.

“O Homem que tinha um saber socialmente reconhecido” - Vera Cruz

Iurisprudência – nos três períodos da história de Roma

Processo continuo de laicização da Iurisprudência têm três fazes:

1. Lei das XII Tábuas 450 a.C. = Positiva os Mores Maiorum; Dá-se a positivação do Direito
em Roma e a publicação do mesmo, passa a ser domínio do conhecimento público.
2. Ius Flavianum = Direito de Queneus Flávios- Chegou a ser Tribuno da Plebe, começou a
vida como escravo e secretário de um sacerdote Apius Cláudius (conhecia os Mores
Maiorums) sofria de uma incapacidade e para exercer as suas funções de sacerdote
servia-se de um adjunto (secretário), que compila as fórmulas processuais e publica-as
para o conhecimento geral. Acabou por se tornar um homem proeminente da
sociedade ao tornar-se tribuno da plebe e adquirir os poderes deste cargo.
3. Ensino público do Direito: Por Tibério Coruncâneo = Um homem chamado Tibério, foi
o primeiro homem (plebeu) a tornar-se pontífice maximus em Roma. Gostava de
ensinar e andava rodeado de discípulos. Permitiu que todos os homens e cidadãos de
Roma pudessem entrar na sala onde ele exercia as suas funções, o que permitia ao
Populos romano entender como se exerciam as funções e o processo dos seus
encargos.

Os Mores Maiorum, de cariz religioso, continuam a ser aplicados até ao fim do Império
Romano.

Funções dos Iurisprudentes – República


Os Iurisprudentes tinham conhecimentos de Direito que eram socialmente reconhecidos.
- Desenvolvia uma tríplice atividade:
(Estas atividades podiam ser executadas simultaneamente)

1. Respondere = atividade que consistia em responder às questões e duvidas colocadas


por magistrados e cidadãos; antes de um parecer era uma opinião jurídica

2. Cavere (tomar precauções) = Consistia em aconselhar as partes, ou a parte, quanto à


melhor forma de formalizar juridicamente uma determinada questão ou situação ou
negócio que estivesse em causa. Formalização jurídica do negócio em causa.

3. Agere = Parte da atividade que consistia em aconselhar quanto ao meio processual


(ações juridicamente adequadas) adequado para proteger os interesses e os direitos
em causa. O Iurisprudente aconselharia a cidadã de como agir perante uma
determinada situação jurídica.

O Iurisprudente tem um papel fulcral na construção do direito em Roma.


Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

● Os Iurisprudentes não vinculam com a sua opinião os cidadãos romanos, mas eles têm
uma opinião totalmente iniciadora da alteração jurídica e da própria construção de
direito, no papel que tem de aconselhamento às partes, e de ajuda no tribunal dos
pretores, de apoiarem o processo de criação de fórmulas e leis em Roma. Através do
aconselhamento a partes, eles incitam, indiretamente, à criação de direito em Roma.

● Iurisprudência como fonte mediata de direito (Sebastião Cruz): É fonte de direito, mas
necessita de um veículo para se assumir enquanto tal. Sozinha a Iurisprudência da
república não vincula as partes, no entanto, este pode ser utilizado por outros
intervenientes com os três poderes que através das actios, das fórmulas, dos edictos, as
suas vozes e opiniões impõem-se.

Principado – 27 a.C. 🡪 285 d.C.

A Rés Pública termina, mais ou menos, com o assassinato de Júlio César e, após largos anos de
guerra civil, chega-se ao período em que Octávio César Augusto (sobrinho do anterior) chega
ao poder, dando início ao Principado, e inicia reformas públicas, institucionais, que são na
maior parte dos casos lentas e silenciosas.

Principado é Rés Pública na aparência, mas não no seu funcionamento pois tinha elementos da
monarquia (prínceps é uma figura da monarquia) e alguns da Rés Pública que nem sempre
eram respeitados. Outro elemento diferenciador dos períodos anteriores é a concentração dos
poderes (político, militar, legislador e jurídico) na figura do Imperador/Princeps. Estes
elementos vão levar ao enfraquecimento deste regime e conduzir à queda do Imperio Romano.

Princeps é o primeiro dos homens e assume-se como procônsul, fazendo então as reformas.
Período em que as diversas instituições da república vão perdendo importância em detrimento
do poder crescente do prínceps.
Augusto e os seus sucessores vão tentar disciplinar a Iurisprudência, vão conceder a força
vinculativa à opinião dos Iurisprudentes.

Lições do Vera-Cruz:
● Augusto por razões políticas ligadas às bases do Principado, destrói chave mestra da
República e da possibilidade de uma criação e aplicação do direito de forma independente
dos poderes políticos e religioso: A separação rigorosa entre poder (potestas/Imperium) e
autoridade (Auctoritas).
Funda assim (na sua figura – prínceps) o Imperium e a Auctoritas, as duas realidades antes
separadas no período da República fundem-se numa só e inicia-se o período de declínio do
direito enquanto fonte criadora e independer do poder político, que neste caso era a
Iurisprudência.

“Ius Publice Respondendi Ex Auctoritas Princeps” – O direito de responder ou dizer em público


sobre a autoridade do prínceps, dar conselhos e pareceres debaixo da autoridade do prínceps.

Ius Publice Respondendi Ex Auctoritas Princeps


(Surge com Augusto)
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Surge com o Princeps Augusto e constitui uma autorização de vinculação ao parecer ou à


opinião.
Direito de poder ser consultado e emitir a sua opinião sobre a autorização do prínceps. A
opinião que é proferida em determinadas circunstâncias pelo Iurisprudente tem uma dimensão
superior à que tinha antes porque passa a vincular o próprio Princeps.
- Opinião passa a vincular o Princeps que escolhe os iurisprudentes a quem atribui este
“poder”.
Aquele que tem este poder e profere opiniões e pareceres, estes vinculam o Princeps e o
Tribunal do Princeps.
Isto não significa que haja uma limitação no dizer ou opinar sobre o direito, não restringe a
possibilidade do Iurisprudente de proferir a sua opinião livremente, delimita que apenas
aqueles a quem é concedido este “poder” podem vincular o Princeps e o tribunal do mesmo.

Causas:
● Proliferação de prudentes em Roma: havia naquele tempo cerca de 300 Iurisprudentes a
emitir a opinião, a aconselhar juridicamente e a acompanhar nas escrituras os cidadãos
romanos, a aconselharem os pretores e os magistrados. Cada um pode ter uma opinião
diferente, desde que seja argumentada e fundamentada.
- Demasiados iurisprudentes em Roma o que pode resultar em confusão por demasiada
divergência doutrinária (partes consultam várias opiniões, e torna-se mais difícil entender qual
a opinião mais justa.
Problema: Um cidadão romano com um problema pode recorrente a vários Iurisprudentes que
lhe transmitem diferentes opiniões, qual é a juridicamente mais justa? Isto cria confusão e
incerteza jurídica, logo augusto quis criar regras e dar alguma segurança aos cidadãos romanos.

● Quando Augusto começa a retirar poder ao tribunal do pretor e á sua figura, como este é o
líder, o pópulos acredita que este está a aplicar a justiça, por isso não se revoltam. Os
magistrados, que começam a perder poderes, não gostam muito, mas como eles estão
vinculados á sua figuras tem de aceitar.
A única voz que se vocaliza a sua contestação é o Iurisprudente, pois eles conhecem o direito e
sabem o que é justo ou não, por isso Augusto desenvolve o Publice Respondendi que atribui a
quem quer, a quem quer que vincule com a sua opinião o pópulos e a sua pessoa, no entanto,
os outros também podem opinar, só que no tribunal do Princeps só a opinião dos
Iurisprudentes é que importava.
- Esta lista de iurisprudentes é móvel, podem entrar e sair da mesma vários de acordo com a
sua “relação” com o Princeps.
Critica, ou o combate do Princeps, que os Iurisprudentes podem fazer face às transformações
políticas que Augusto estava a incitar, por isso atribui o Publice Respondendi para delimitar o
poder das opiniões dos iurisprudentes.

Consequências:
- Funcionalização da Iurisprudência: A sua figura que era livre, passa a estar dependente do
Princeps, os cidadãos passam a consultar os Iurisprudentes presentes na lista porque sabem
que só a sua opinião é que pesa no tribunal do Princeps. Passa a ter uma opinião oficial. É o
momento em que se cria o direito oficial em Roma.
Passa-se do direito livre pensado para os casos concretos para um direito funcionalizado,
oficial, pelos juristas que fazem parte, e que são escolhidos pelo Princeps, para vincular com os
seus pareceres os cidadãos romanos.

O Tribunal do Princeps acaba por esvaziar o Tribunal do Pretor, mas não acaba com a existência
de Iurisprudentes que não estavam vinculados por este poder.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Digesto Solvra1
- É onde está a compilação da Iurisprudência, uma compilação de doutrina (iura), é a sua
opinião.
- Refere essencialmente os juristas que tiveram o poder de vincular a sua opinião com a do
tribunal.

Temos cinco grandes iurisprudentes ou os príncipes do Direito:


1. Paulo – Escreveu sentenças (opiniões)
2. Papiniano
3. Modestino
4. Ulpiano
5. Gaio2 ou Gaius – “Institutas de Gaio” que são lições jurídicas, que são mandadas aplicar
como base do direito. Pai do pensamento racionalista atual.

Todos, exceto Gaio, tiveram Ius Publice Respondendi. Nós não sabemos se Gaio existiu ao
certo.

Muita da evolução do direito em Roma provem dos equívocos anteriores; Não há ruturas
políticas há aceitações tácitas por parte da população em relação às evoluções das instituições
(transições de um período para o outro) – Opinião do Imperador Caridade

(Outra Fonte de Direito)

Senatusconsulta

No período da República:
- Fonte mediata de Direito, não é fonte vinculativa de direto, na medida em que o Senado não
tem, na república, funções legislativas. O que podia fazer era consultar, ou ser consultado pelos
cidadãos em questões de índole social-política.
- Tinha papel de garantir a preservação, continuidade e respeito da tradição moral de Roma
através dos Mores Maiorum.
- Sempre que era consultado as suas opiniões eram emitidas, e não são vinculativas, até
determinado momento.
- Sempre que emite opiniões, fá-lo através do Senatus Consulta, não é vinculativa, os que vão
fazer a consulta é que decidem se seguem ou não esta opinião.

Senatus Consultas de Leiano


- Tinham força de lei

A evolução institucional em Roma é feita por impulsos político e anuências tacitas dos
cidadãos.

Na república, os senados emitiam pareceres não vinculativos.

1
É o direito que chega até nós hoje

2
Interrogação Histórica. Não se sabe se existiu ou se as suas iniciais representam as de 5 juristas que assinaram o
nome das obras Institutas com as suas inicias
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Ao conferir Auctoritas Patrum, este conferia validade à lei no processo legislativo, mas não era
vinculativo – conformação da lei aos Mores Maiorum. Os patrícios assumem os
Senatusconsulta como obrigatórios porque estes, normalmente, iam de encontro aos seus
interesses.

⮚ Toda a atividade até ao período cristão era meramente consultiva. Não há uma alteração
jurídico-constitucional, há sim uma anuência/conformação dos cidadãos à opinião do
senado.

´
Alterações políticas de Augusto
Augusto vai aproveitar-se desta situação para iniciar alterações políticas, vai retirar o poder
político ao senado, que passa para a sua figura (prínceps).

- Augusto retira competência política ao senado (caminho de centralização do poder político


nas suas próprias mãos), e para os recompensar o Senado passa a ter papel legislativo.
- Tira poder do tribunal do pretor ao criar o seu próprio tribunal
- Retira função política ao senado e dá-lhe funções legislativas
- Retira papel legislativo aos Comitia, porque os magistrados deixam de propor leis aos
Comitia e sim ao Senado.

A intervenção do Senado (função legislativa):


- Qualquer senador (incluindo o prínceps – primeiro senador) propunham ao senado propostas
de lei, apresentavam um resumo da lei em que perante o senado resumiam a sua lei. =
Apresentação
- Apresentavam depois oralmente a matéria dispositiva da lei, qual o seu enquadramento
jurídico = Dispositiva
- Quais as consequências da violação da lei, qual a sanção = Parte sancionatória da lei

Final sec. I d.C.


- Os próprios Princeps apresentam propostas de lei, o Senado não esperava pela parte
dispositiva da lei, aprovava apenas com a parte inicial. O Princeps apresentava a lei na “oração
inicial”, e sem esperar pela outra parte aprovava automaticamente a lei.

❖ Oratio Princeps (Séc. d.C.) = Nova fonte de Direito, que é a evolução dos
Senatusconsulta por força da intervenção do prínceps no Senado. Aprovação por parte
do Senado por parte da proposta inicial da lei, sem precisar de ser apresentado o
conteúdo dispositivo e sancionatório. Deixa de existir Senatusconsulta, na medida que
passam a ser aprovados pela mera apresentação da parte inicial da lei.

- Senado retira a si próprio o seu poder legislativo, pelo facto do aumento do poder
politico-legislativo do Princeps ao longo do tempo, porque lhe reconheciam uma autoridade
que não questionavam, por isso tudo o que ele sugeria era aceite e aprovado pelo Senado.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Fontes de Direito nos períodos do Imperium Romanum

● O Período da república é o período do Ius Vetus = Período em que o direito era feito
através da vontade do povo. Aplicação do caso para o direito.
● Ius Novum = Período em que o direito decorre da vontade legislativa e soberana do
imperador ou prínceps. Não parte do caso, parte da generalização e da abstração jurídica, o
imperador preocupa-se em legislar de forma geral e abstrata para todo o império romano.
Manda aplicar algum direito da república

Constituições Imperiais
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Decisões de carater jurídico proferidas pelo imperador. Temos com Adriano (2º Imperador)
uma nova evolução.
- O senado aceita de forma automática a proposta de lei do prínceps = Oratio Princeps
- É preferível que o próprio imperador emita a própria legislação sem ouvir o Senado, porque
tem:
● “Pro consulare maius” = poder ilimitado de governar sobre Roma, o que significa que
também tem o poder legislativo.

A partir do Séc. III d.C. tornam-se a principal fonte de direito que representa a vontade do
prínceps e vincula todo o império.
A partir do Séc. IV são as únicas leis, não há mais criação de leis.

Tipos de Constituições Imperiais:


1. Edito: É uma constituição imperial d e carater geral e abstrato, é proferida pelo imperador
no âmbito do seu poder pro consulare maius.
Edito Caracala: Atribui cidadania a todos os homens livres (nem servos, nem escravos) que
habitassem nas fronteiras do império, passam a ser cidadãos e passam a regular-se pelo Ius
Civile.

Ius Gentium: Direito que é produzido e criado pelo pretor peregrino para regular as interações
jurídicas entre os estrangeiros e os cidadãos romanos.
Após o Edito de Caracala: É considerado como direito suprapositivo, ou seja, está acima do
direito positivo/legislado. Vai-se sobrepor aos Ius Civile, passa a ser considerado como direito
que vai corrigir, alterar e modificar o Ius Civile. É visto como o direito de todos os povos, por
isso é utilizado na falta e na lacuna do Ius Civile, passa a ser um direito “internacional”.

❖ Digesto: Foi um texto fundamental para o ensino e para a prática do direito desde o séc. XI
até ao XIX d.C. Momento em que deixou de ser usado para ambas as funções, porque
aqueles que os estudaram durante séculos, conseguiram depois elaborar os Códigos Civis.

Constituições Imperiais

Definição: Diploma que emanava da vontade do imperador, do prínceps. O Senatos Consulta


aprovava-a pela simples apresentação da mesmo, o que leva o imperador a deixar de sentir a
necessidade de se deslocar ao Senado para legislar, com os seus poderes pode legislar sozinho
🡪 surgimento das constituições imperiais e da sua vontade pessoal.
- Generalidade e abstração como caraterísticas das constituições

A partir do séc. III d.C. são as leis


A partir do séc. IV d.C. passa a ser a única fonte de direito aplicada em Roma

→ A solução jurídica não é necessariamente uma norma (parte do caso para a lei), no caso do
imperador ele faz o inverso e cria a norma geral que depois de aplica ao caso (parte da lei
para o caso) – Começa-se a fazer o oposto do que acontecia nos primeiros momentos do
Império Romano em que se partia do caso para a norma.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

Tipos de Constituições Imperiais


1. Edita: Edita de Caracala que concede a cidadania. É uma constituição imperial de carater
geral e é proferida dos mais altos poderes/cargos do imperador 🡪 emitidas no âmbito do
“proconsulare maius” (acima de cônsul, poder de vincular as pessoas através da sua
vontade)
2. Decreta: Decisão judicial pronunciada pelo imperador nos casos processuais que lhe são
submetidos. Imperador tem função judicial de apelação, o tribunal decide, mas dessa
decisão poderia haver uma última tentativa de recurso e quando se apelava ao imperador
para comutar penas de morte a sua decisão chama-se = decreta (clemência ou comutação
de penas).
3. Rescripta: respostas escritas dadas pelo imperador a questões que lhes são formuladas
pelos magistrados ou pelas partes (particulares).
- As questões feitas pelos magistrados chamam-se: consultas e a resposta do Imperador é
denominada por epístolas, ou seja, uma rescripta
- As questões pelos particulares são as preces e a reposta é a subscriptio que depois do séc.
IV d.C. passam a chamar-se Adnotationes.
Dividem-se em duas fases:
I. Consultas que dão lugar às epístolas
II. Preces que dão lugar aos subscriptios que após o Séc.

4. Mandata: Ordens dadas pelo imperador aos governadores e demais funcionários das
províncias.

Com as Constituições Imperiais surge a figura do Ius Novum em relação ao Ius Vetos
● Ius Novum: Direito que é feito pelo prínceps imperador, para criar legislação geral e
abstrata, para criar um novo ordenamento jurídico que se impõe, e através do seu poder
proconsulare maius vincula esse direito à população. Cria direito novo, é um direito que
assumindo a tradição de Roma e as soluções jurídicas criadas na Réspública e no
Principado integra-as no “novo” ordenamento jurídico (Constituições Imperiais).
- Impõem-se porque o prínceps tem poder legislativo, é a fonte do direito (devido ao
Imperium).

Este poder de vincular a população de Roma com o seu ordenamento jurídico vai-se sentir
na atuação dos tribunais.
● O tribunal não é livre de seguir a opinião que melhor lhe convém, é o próprio imperador a
determinar qual a jurisprudência a ser seguida, que jurisprudente pode vincular o
processo.
● O Jurisprudente só vincula a sua opinião no tribunal se o imperador

§ Em 321 d.C. do Imperador Constantino (converteu-se ao cristianismo que declara depois


como religião oficial, acabam augúrios, e é a alteração de uma sociedade politeísta para
uma monoteísta)
🡪 Proíbe a invocação, ou seja, siga, em tribunal dos comentários de Paulo e de Ulpiano
porque contrariavam a de Papiniano cujas opiniões ele considerava mais importantes.

§ Nova Constituição Imperial de Constantino em 328. d.C.


Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

🡪 Ordena aos juristas que apliquem como primeira fonte de direito nos processos uma obra
do jurista Paulo que se chamava “Pauli Sententiae” que é uma compilação das opiniões do
jurista Paulo, mas se forem contrárias a Papiniano não são aplicadas

§ Em 426 d.C. é aprovado pelo Imperador Valentiniano III vai aprovar uma constituição
imperial, que apresenta primeiro ao Senado, e essa lei tem a designação de “Lei das
Citações”. Esta é uma constituição imperial que reflete a concentração dos poderes na
figura do imperador/prínceps.
1. O “Tribunal dos Mortos” é o outro nome da lei da Citações porque a lei vai definir
quais os juristas que devem ser aplicados em Tribunal, sendo que estes já estavam
todos mortos (5 juristas mencionado na aula anterior).
2. Mantem o afastamento da posição ou da opinião de Paulo e Ulpiano a Papiniano
3. Confirma a autoridade suprema das Pauli Sententiae
4. Definição do critério quantitativo na invocação da jurisprudência, ou seja, o tribunal
deverá seguir as opiniões mais perfilhadas entre os 5 juristas (haja mais consenso). Em
caso de empate nas opiniões segue-se a opinião perfilhada de Papiniano
5. Se Papiniano nada tiver dito e se houver empate o juiz escolherá a posição que melhor
fundamente a decisão para o processo em causa.
6. A opinião de Papiniano sobrepunha-se, em termos de importância, aos demais
iurisprudentes presentes nesta Constituição Imperial.

“A lei das Citações mata a jurisprudência em Roma”


🡪 Vincula o tribunal à opinião do Imperador que se reflete nos jurisprudentes que ele
seleciona e atribui Respondendi. Na prática, reduz a Iurisprudência a 5 autores.

A partir do sec. IV vamos assistir a uma preocupação por parte dos imperadores em iniciar o
processo de compilação do Direito Romano.

Tinha duas vias de Compilação:


1. Compilação de Constituições Imperiais: Compilação de leges
2. Compilação de Iura: Compilação de doutrina, de jurisprudência. Objetivo de compilar a
doutrina com Ius Publice Respondendi
Tentaram-se ambas as vias.

Podem-se fazer:
I. Compilações privadas- feita por jurista que decide compilar todas as constituições
imperiais desde augusto até à sua época. Não tem valor jurídico. Era um trabalho que não
vinculava as pessoas

Compilações privadas/particulares
● Códex Gregorianus: Código do séc. III d.C. Compilação de leis (constituições imperiais) que
foram elaboradas no período do imperador deoclesiano. Liberdade privada. Composto por
15 livros que depois é subdividido em títulos, e serve com um repositório de compilações
imperiais que vai servir como modelo e instrumento de trabalho que vão ser usadas por
compiladores seguintes.
- O ponto de partida dos outros compiladores vai ser sempre este Códex.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

● Códex Hermogenianus: Composto por 16 livros e estas constituições imperiais são até
deoclesiano, no entanto ele vai incluir algumas constituições imperiais de imperadores
posteriores a estes (valentiniano III).

Compilações oficiais/imperiais (a mando do imperador):


● Código Teodosiano: Primeira compilação pública. 429 d.C. O seu objetivo era compilar todo
o direito romano, quer em termos de leges, quer em termos de iura. Queria incluir toda a
matéria. Já havia o modelo dos dois códigos privados.
- Não conseguiu cumprir os objetivos a que se propôs, porque se fosse mais simples
compilar as constituições imperais tornava-se mais simples a compilação da outra doutrina,
a comissão não conseguiu reunir a matéria da iure (429 d.C.) e em 435 d.C. nomeia-se uma
segunda comissão que elabora um código de constituições imperiais.
- 16 livros em que 11 deles são de matéria de direito público e 5 de direito privado

Código de Justiniano

● Código Justiniano: Obra máxima do direito romano.


Justiniano é imperador do império romano do Oriente, o seu objetivo era conquistar para o
império romano do oriente todo o território do ocidente que estava ocupado pelos povos
bárbaros. Inicia muitas campanhas militares para conquistar toda a europa que tinha
pertencido ao império romano, consegue fazê-lo até a península de Itália, não chega à
península Ibérica
- Entende que não basta a conquista militar, é necessário também compilar todo o Direito
Romano, para reerguer o império nessa vertente.
- Comissão presidida por jurista Treboniano para fazer uma compilação do direito romano.

O Trabalho é bem-sucedido e é apresentado perante o imperador num conjunto de quatro


grandes livros:
1. O Códex: Primeira versão (veto) -529 d.C. e a segunda versão (Novum) 534 🡪 Constituido
por 12 livros e é composto por constituições imperiais, é dos 12 volumes, o que está
dedicado às leges, ao direito imposto pelo imperador no âmbito do seu poder de
Imperium, Potestas e Proconsulare maius.
-Foi inspirado nos outros códigos já compilados.
- Tem constituições de todos os imperadores posteriores a deoclesiano até ao imperador
justiniano.
- Não quer fazer uma compilação de tudo o que foi feito, é feito para ser aplicado em tribunais,
é direito vigente porque as constituições que estão nele incluídas estão em vigor. Não há
contradições entre as constituições compiladas.
- O próprio código acaba por assumir a natureza jurídica de constituição imperial
2. O Digesto: 533 d.C.
- Compilação de Iura, ou seja, doutrina, e a compilação está em 50 livros.
- Inclui-se jurisprudência com Ius Publice Respondendi (doutrina oficial em Roma).
3. As institutas ou instituições: 533 d.C.
- São um só livro e é um manual para o ensino do direito, foi essencialmente redigido por 3
juristas: Triboniano; Teófilo e Doroteo.
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

- A importância das institutas, apesar de ter sido um manual escolar ao qual foi dado força
legal, tem força de lei, tem função de preambulo 🡪 ao qual é dado natureza jurídica obrigatória,
onde constitui as regras de interpretação jurídica.
4. As novelas: 534 d.C.
- Lei nova (=novela).
- São compilação das novas constituições imperiais de Justiniano, de 439 a 444 ele continua a
legislar, e essas leis não estão incluídas no código por isso colocam-se nas novelas
- Através das novas leis ele vai incluir leis que vem resolver problemas interpretativos que
tinham sido registados no processo compilatório do código.
- Lei Deo Auctore – Confirma a Lei das Citações e é incluída no Código de Justiniano

Código de Justiniano
Apesar de estarmos perante um código do Oriente (caí no séc. XV d.C.) é mandado aplicar por
Justiniano ao ocidente durante o curto espaço de tempo em que ele ocupa os territórios
ocidentais.

COMPILAÇÃO JUSTINIANEIA – De Justiniano


(Séc. VI d.C.)
Composta por 4 grandes obras
1. Códigos: Leis (constituições imperiais)
2. Digesto: Doutrina com Ius Publice
Respondendi
3. Institutas: Manual escolar para o ensino do direito e no preambulo temos as regras
relativas à interpretação jurídica
4. Novelas: Constituições imperiais novas que não estão compiladas no código

O Código de Justiniano é uma compilação de direito romano extrapolar (modificado/alterado):


- Alterado pelo tempo (criado desde o tempo da monarquia romana, com enfâse no período
da república3, no entanto sofre alterações com o principado e o dominado, sofre alterações
com as divisões do império) e o direito que chega a justiniano é este só que alterado.
- Há evolução do tempo, as questões que obrigavam os juristas, jurisprudentes ou pretores a
penar direito nos seus respetivos períodos não são as mesmas que surgem mais tarde. A
origem, os conceitos intemporais são os mesmos.

❖ O que justiniano manda compilar e o que nós estudamos é direito romano pós-clássico,
alterado pelo tempo, pelo local, pela evolução da língua, pelas soluções jurídicas e é
influenciado pelos povos com quem eles mantiveram contacto, ou seja, não é o Ius Civile
puro pois esse só se aplicava dentro das fronteiras do império.

3
Direito romano clássico
Beatriz Costa TB 1º ano de Licenciatura

A compilação sofre influência dos direitos orientais, porque é lá que decorre este processo. Por
isso é que falamos em direito novo e velho.

O código justiniano é um código com Imperium, o que marca uma diferença para a época
clássica, pois nesta altura era desenvolvida na autorias do jurisprudente que ia aconselhando e
marcando a sociedade romana.
o O Código é uma lei e quando o manda aplicar é pelo seu Imperium, ou seja, é um direito
soberano que se impõe. É imposto pela potestas do soberano.

Os povos germânicos não aplicam este código, e este acaba


por se perder (não é perder no sentido literal, é não se
aplicar).

Irnério 🡪 Italiano do séc. XII que encontra as obras


justinianeia e procede ao seu Renascimento
Na idade média este código passa a ser chamado “Corpus
Iuris Civile” e vai ser aplicado na Europa até ao século XVIII
porque é um direito imperial, é um direito que é imposto
pelo imperador, tem Imperium e potestas. Tem imperatividade.

A base do ensino jurídico estava aqui presente.

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