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ENCICLOPÉDIA DIREITO ROMANO

FONTE DE DIREITO ​- ​Modo de formação e revelação de regras jurídicas.

ESTADO-CIDADE ​- ​Agrupamento de homens livres, estabelecidos sobre um pequeno


território, todos dispostos a defendê-lo contra qualquer ingerência estranha e onde ​igualmente
todos detêm uma parcela do poder. ​Os seus membros participam juntamente das decisões que
dizem respeito ao interesse comum. Há ​três órgãos políticos ​fundamentais: 1. um ou vários
chefes, vitalícios ou não; 2. uma assembleia de nobres ou de homens experimentados na vida; 3.
uma assembleia do povo.

ESTADO-TERRItÓRIO ​- ​Um só homem exerce o poder duma forma absoluta e exclusiva.

MONARQUIA
FAMÍLIA ROMANA - ​Base da estrutura romana, era um agregado de coisas e de pessoas
submetidas a um chefe, o ​PATER FAMILIAS ​- senhor ou soberano da família, não ‘’pai da
família’’. O vínculo que liga as pessoas ao ​pater familias ​não é o do sangue, mas o da ​sujeição ao
seu poder (absoluto, de vida e de morte, sobre todas as coisas e pessoas), caracterizado pela
ligação a cultos religiosos específicos. O ​pater familias g​ arantia a unidade da família, que se
mantinha mesmo após a sua morte, pelo carácter progressivamente institucional dos laços
familiares. Era ele que geria o fundo familiar, administrava as propriedades da família, decidia
da admissão de novos membros e da saída dos que estão, e cuidava dos ​sacra familiae.

GENS -​ Conjunto de famílias que se encontram ligadas e submetidas politicamente a uma


autoridade comum, o ​pater gentis.​ Os membros da ​gens ​reuniam-se em assembleias militares:
curiae - que decidem a gestão de Roma​. ​As ​gentes m
​ arcavam a organização social, política e
militar de Roma, determinando a forma e o conteúdo das normas e das soluções de
Direito.

cURIA -​ Existe quando certo número de comunidades familiares celebram, juntas, cerimónias
religiosas em honra de uma divindade superior às divindades domésticas, nomeando um chefe -
curião.

TRIBUS​ - ​É uma organização mais vasta.

CIVITAS ​- ​Surge quando as ​tribus, ​por acordo ou por necessidade de se unirem para se
defenderem, se coligam e escolhem um chefe - ​rex -.
REX - ​No topo da pirâmide hierárquica das estruturas religiosas, políticas e militares
romanas estava um ​rex. A monarquia postula a organização através de um rei, que comanda o
exército, administra a cidade, é sumo sacerdote, juiz supremo, diretor da ​civitas ​(chefe da
confederação de aldeias) e penaliza os criminosos. Era o ​rex ​o titular dos poderes políticos
supremos na relação com a comunidade porque estava investido de poderes religiosos
superiores na relação com as divindades. Detinha a ​chefia do exército​, resolvia os aspetos da
vida coletiva na relação das pessoas com a comunidade e ​dirimia os litígios entre as pessoas ​-
​ inha um ​poder de mediação entre homens e deuses​,
através da aplicação das ​leges regiae. T
que era fundamental, pois era a base do seu poder político e tinha ​poder religioso​. A primeira
grande função do ​rex é​ a de ​sumo sacerdote​. → Para os romanos, a religião era o vínculo que
originava e mantinha a união entre os seus membros. Era o titular do ​imperium militae - para
defender militarmente Roma -, do ​imperium domi ​- para administrar a cidade - e do poder de
mediação divina. Garante a ​pax deorum​. Ostenta símbolos de poder - manto púrpura. É
transportado - trono - enaltecendo a sua dignidade. O seu cargo é vitalício, mas não hereditário:
cada rei podia designar o sucessor (este só era considerado rei depois de investido pelo povo
reunido no comício das cúrias). O rei de Roma não era eleito em processo político normal, nem
designado pelo predecessor, ou aclamado pelos soldados; mas ​escolhido pelos deuses que
revelavam a sua escolha através de sinais, nomeadamente o voo das aves
(​AUGURATIO ​- o futuro era perscrutado nas vísceras dos animais, voos das aves, ...​) ao
interrex,​ ​que indicava o nome do escolhido e isso era respeitado pelos membros das
​ o ​suffragium. O
comitia curiata n ​ rei era empossado nos seus poderes de ​imperium ​com
autorização do Senado. Quando o rei morria, o seu poder sagrado de ler os auspícios ia para o
Sendo, como assembleia de anciãos com poderes de aconselhamento ao rei, que elegia entre os
seus membros um ​interrex pelo prazo de cinco dias. Era o I​ NTERREx ​(​membro do senado
que havia de exercer o poder supremo durante o ​interregnum e​ xistente entre a morte de um rei
e a proclamação do sucessor) ​que, ​lendo os auspícios, indicava o nome do novo rei, de entre
os senadores, a propor aos ​comitia curiata. S​ ubmetida a votação, ​o nome proposto era
aprovado (​creatio)​ , procedendo-se à ​inauguratio que era uma cerimónia religiosa de
​ uma investidura nos poderes sagrados supremos e
aceitação pelos deuses do novo ​rex e
no poder político ‘’soberano’’ (​imperium).

INTERREGNUM -​ Era o instrumento que, em períodos de ‘’dificuldade constitucional’’,


evitava o vazio do poder (por morte ou ausência prolongada dos cônsules), garantindo a
continuidade do ​imperium.​ O mesmo com as ausências dos magistrados titulares dos ​auspicia​:
os ​auspicia r​ egressavam aos senadores patrícios. Com este instituto, garantia-se, com respeito
pela estrutura constitucional republicana, um sistema de governo muito antigo que tinha dado
provas de eficácia na forma de manter instrumentos de governo e de continuidade da ‘’coisa
pública’’ em períodos difíceis de perigo e de ruptura, causadas pela ausência de uma
magistratura suprema. Período de 5 dias em que os membros da comissão de ​patres exerciam
por turno a função de ​interrex ​até que se estivesse de acordo quanto ao futuro rei. O rei afasta-se
da cidade por um período de 5 dias - ​REGIFFUGIUM -​ para confirmar os seus poderes, todos
os anos.

SENADO ​- ​Junta consultiva do rei: ​assistia e aconselhava o ​rex. O rex escolhia os


membros do Senado (só este o podia convocar), que era, por sua vez, constituído pelos ​patres
das ​gentes f​ undadoras da ​civitas​, e, mais tarde, pelos homens experimentados na vida (​senatus
deriva de ​senex ​- velho) escolhidos entre os patrícios. Era uma assembleia aristocrática, da qual
os plebeus não podiam fazer parte (só em 312 a.C, pela ​Lex Ovinia​). Teve as atribuições de
nomear o ​interrex e a de conceder a ​auctoritas patrum ​às leis votadas nos comícios. A resposta
do Senado, dada às consultas que lhe eram feitas (consentimento concedido pelo Senado Às
deliberações dos ​comitia)​ , chama-se ​SENATUSCONSULTUM​. ​As competências do
Senado no período monárquico: ​interregnum -​ forma de garantir a continuidade dos
AUSPICIA - voo das aves, fenómenos celestiais, comportamento das galinhas sagradas e de
outros animais; ​auctoritas ​- que permite a ratificação das deliberações de outros órgãos; ​ius
belli et pacis​ ​- direito de concluir os tratados internacionais; ​conselho e auxílio ao rei.

AUCTORITAS - Saber socialmente reconhecido: não se impõe pela Razão da força, mas pela
força da Razão.

Povo - Conjunto de guerreiros (​quirites​) divididos em distritos de recrutamento (​tribus ​e


curias)​ - 3 tribos - ​ramnes, titius, luceres​. O povo, detentor duma parcela do poder político,
​ s
exercia os seus direitos manifestando a sua vontade em assembleias, denominadas ​comitia. O
comícios mais antigos e mais importantes foram os ​comitia curiata (​ atribuição de investidura
do rei no poder // a partir da república, as suas atribuições foram absorvidas pelos ​comitia
centuriata e​ pelos ​comitia tributa)​ . De início, só os patrícios faziam parte das ​curiae. A
sociedade romana era formada essencialmente pelos ​PATRÍCIOS - ​eram os primeiros
romanos, proprietários rurais, que, em caso de guerra, integravam a cavalaria, base do exército,
e massa popular, conhecida por ​plebs (aristocratas, classe social elevada) ​e pelos ​PLEBEUS ​-
classe humilde​. ​Os patrícios tinham todos os direitos, os plebeus não → luta entre plebeus e
patrícios: os plebeus desejavam a equiparação aos patrícios. A ​plebe ​possuía a condição de
​ a organização político-militar. Os dois grupos viviam separados e os
membros da ​civitas n
plebeus em relação de dependência com os patrícios. As relações de clientela são comuns a
​ LIENS ​eram um grupo subordinado à ​gens. ​A
todas as comunidades desta época: os C
fidelidade da clientela à sua ​gens ​de pertença étnico-religiosa mantinha-a próxima do seu
PATRONUS​, chefe da ​gens a​ que pertencia, envolvendo este num ​dever de proteção ao
cliens.​ ​A violação dos laços de proteção pelo ​patronus p
​ odiam levar à aplicação da pena de
morte - os próprios clientes podiam matá-lo sem serem punidos. Por sua vez, o cliente tinha
obrigação de pagar as multas do patrono, auxiliá-lo militarmente, pagar o dote aos seus filhos e
não o podia acusar em tribunal.
cOMITIA CURIATA ​- ​Era o órgão que reunia todo o ​populum ​de Roma. Homens livres com
capacidade militar, cujo grande objetivo era de criar a Legião Romana. A cidadania estava
dividida em três tribos, chefiadas por um ​tribuno​. Cada tribo integrava 10 cúrias, chefiadas por
um ​curião ​e cada cúria estava subdividida em 10 decúrias, cada uma delas chefiada por um
decurião. ​Os vínculos que ligavam os membros da mesma cúria eram, em regra, de ordem
familiar e de linhagem. Tinham, sobretudo, funções civis e religiosas. Os ​comitia curiata eram
também importantes na formulação de regras concretizadoras dos ​mores maiorum. ​Aprovavam
as leis régias, aprovavam o novo rei.

REPÚBLICA
POTESTAS​ ​- Poder de representar o ​populus romanus; ​era comum a todos os magistrados.

IMPERIUM ​- Poder de soberania. Continha as faculdades de comandar os exércitos, de


convocar o senado, de convocar as assembleias populares, de administrar justiça. O ​imperium
não é como a ​potestas c​ omum a todos os magistrados, mas própria dos cônsules, dos pretores e
do ditador.

IURISDICTIO - ​Poder específico de administrar a justiça duma forma normal ou corrente -


era o poder principal dos pretores

LEI DAS XII TÁBUAS - ​Segundo tradição, ​efetuou-se em Roma, nos anos 451 a 449
a.C., uma obra codificadora de grande evergadura​. Foi elaborada por um organismo
especialmente constituído para esse fim; depois, aprovada nos comícios das centúrias; afixada
publicamente no ​forum e finalmente publicada em 12 tábuas de madeira. Daí a sua designação -
é o documento de maior relevo do Direito Antigo. Esse documento teve ​origem nas
reivindicações jurídicas dos plebeus. ​A ciência do Direito - ​iurisprudentia -​ , a princípio,
constituía um privilégio dos sacerdotes pontífices, e estes eram só patrícios. Os plebeus eram
tratados quase sempre desfavoravelmente. Esta ​situação de tratamento desigual - para os
patrícios tudo ram facilidades e direitos, para os plebeus tudo eram dificuldades e
deveres ​- criou um ambiente de clamores sucessivos por parte dos plebeus a exigirem uma lei
escrita: um regime de igualdade. Depois de várias campanhas sem êxito, os plebeus sempre
conseguiram que se iniciasse a preparação da elaboração da reforma do ordenamento jurídico
até aí vigente e baseado apenas nos ​mores maiorum​, que os patrícios sacerdotes-pontífices
ultimamente vinham interpretando com bastante arbitrariedade. Em 451 a.C., o povo reunido
nos comícios das cúrias e das centúrias nomeia uma magistratura extraordinária, composta de
dez cidadãos patrícios. Estes, durante um ano, gozariam de plenos poderes, mas teriam de fazer
o tão desejado código. ​Redigiram as 10 Tábuas ​ou capítulos de leis, que foram aprovadas pelos
comícios das centúrias. Como essas 10 Tábuas não foram suficiente, foi constituído para o ano
seguinte (450 a.C.) um novo decenvirato - formado por patrícios e plebeus - para que se
terminasse o código. Estes elaboraram as duas Tábuas restantes, mas foram expulsos,
terminado o prazo do seu mandato, por uma revolta popular. Para o ano de 449 a.C., foram
eleitos pelo povo os dois cônsules (já duma forma normal), Valério e Horácio. Estes ​mandaram
afixar no ​Forum ​as XII Tábuas.

​ seguir às ​Liciniae Sextiae, f​ oi possível dividir e


LEGES LICINIAE SEXTIAE - A
hierarquizar as magistraturas no âmbito de uma organização constitucional que colhia nas
instituições que se foram gerando a forma de as conectar num sistema de regras e princípios
que garantisse estabilidade e continuidade ao modelo político-institucional, legitimado e
preservado pelo Direito. As características essenciais do regime ‘’constitucional’’ que passa a
vigorar são: ​o poder político é exercido em nome da comunidade e entregue aos
magistrados detentores de ​imperium;​ o Senado, dotado de ​auctoritas ​política, é o órgão
de conselho e consulta dos magistrados, garantindo a continuidade institucional do
​ nde assenta a ​maiestas, ​passa a ter
poder público de Roma em caso de crise; o ​Populus, o
uma organização institucionalizada que expressa as suas posições através de
deliberações das suas assembleias.

SENADO ​- ​Órgão político por excelência da República. ​Constituído pelas pessoas mais
influentes da ​civitas, t​ inha um verdadeiro carácter aristocrático. Neste órgão, encontravam-se
reunidas a ​autoridade​, a ​riqueza e o ​saber técnico​. O Senado não possuía ​imperium ​mas a
tinha a ​auctorita: g​ ozava duma influência social extraordinária. No aspeto jurídico, as suas
decisões (​senatusconsulta​) tinham a forma de conselho, mas eram verdadeiras ordens. Sendo
uma instituição antiquíssima, com cerca de 300 membros escolhidos pelo ​rex e​ ntre os ​patres,
chefes dos grupos gentílicos, ​o Senado continuou a ser um dos mais importantes órgãos na
nova organização constitucional republicana​. Agora não como estrutura representativa da
classe patrícia, mas como assembleia política da aristocracia de Roma, patrícia ou plebeia,
escolhida de início pelos cônsules e os tribunos militares consulares e depois por via dos
censores. Pela sua natureza e pelas suas características, ​garantia a Roma estabilidade,
continuidade institucional e conhecimentos suficientes para orientar as magistraturas e
a vontade popular. ​Cabia-lhe conduzir a política externa e receber as embaixadas dos outros
povos, aprovar tratados e fazer declarações de guerra, aprovar as despesas para operações
militares, organizar as províncias, ficar os cultos públicos permitidos, auxiliar o trabalho dos
cônsules. Para exercer esses poderes, o Senado dispunha: do ​INTERREGNUM​, da
AUCTORITAS PATRUM​, do​ ​sENATUSCONSULTUM​.
AUCTORITAS PATRUM - Consentimento concedido pelo Senado às deliberações dos
comitia. ​Materializava-se no poder santorial de confirmar as deliberações de outras assembleias.
O magistrado que apresentava uma proposta da lei ou o nome de um candidato para um cargo,
deveria remeter a decisão da assembleia popular para análise pelo Senado. Assim a assembleia
​ odia apor a sua ​auctoritas,​ confirmando o decidido na assembleia popular. A
dos ​patres p
auctoritas patrum ​dava ao Senado um poder efetivo de ​controlo e de ratificação das
deliberações das assembleias populares​, tomadas com base nas propostas dos magistrados.

SENATUSCONSULTUM ​- Era a consulta dada pelo Senado a um magistrado, a pedido


deste. Os debates no Senado eram muito abertos, apesar de um regimento muito minucioso e do
processo de formação de um ​senatusconsultum ser muito complexo. O processo pode ser
interrompido por ​intercessio ​de um dos cônsules ou do tribuno da plebe, o que retirava validade
jurídica à deliberação.

Povo - Reune-se em assembleias ou comícios, cujos poderes são essencialmente o de eleger


certos magistrados e o de votar as leis propostas por aqueles magistrados. Os comícios
funcionavam como tribunal de última instância, quando tinha lugar a ​provocatio ad populum.​
Há três espécies de comícios: ​comitia curiata​, ​comitia centuriata (​ intervêm na eleição dos
cônsules, dos pretores,… e na votação das leis propostas por estes magistrados), ​comitia
tributa (​ elegiam alguns magistrados menores e votavam certas leis). Havia ainda os ​concilia
plebis.

MAIESTAS​ - Soberania do povo. Entendeu-se que a República é património do Povo.

ASSEMBLEIAS DO ​POPULUS
cOMITIA CURIATA​- ​Neste período, o ​Populus,​ como conjunto dos cidadãos, exercia o seu
poder reunido em assembleias designadas ​comitia​. Aí ​decidia da guerra e da paz, da escolha
das magistraturas, da feitura das leis​. As assembleias reuniam de forma separada, consoante
os grupos politicamente relevantes. Os cidadãos estavam organizados em cúrias, centúrias e
tribos para exercerem os seus direitos políticos, nomeadamente ​votarem as leis propostas
pelos magistrados, em assembleias por eles convocadas​. As assembleias mais antigas eram
​ sua principal função era ​elegerem o rei, para um cargo vitalício, e os
os ​comitia curiata. A
​ stas assembleias tinham poderes militares e
100 membros do Senado, designados ​patres. E
integravam uma maioria significativa de patrícios e alguns plebeus. As ​curiae tinham
normalmente 30 membros e reuniam em grupos de 10 - cada grupo de 10 era uma ​tribus.
Tinham a sua importância circunscrita às questões do direito sacro, deixando a decisão política
para os ​comitia centuriata. ​Com a república, os ​comitia curiata e​ ntram em decadência.
cOMITIA CENTURIATA - S​ ão uma expressão do poder crescente da plebe após a
introdução das reformas no exército. Cada cidadão votava na respetiva centúria - era por
maioria que se obtinha o resultado final dos ​comitia centuriata.​ Foram as mais importantes
assembleias populares da república. Convocadas por um magistrado ​cum imperio​, estas
assembleias tiveram como primeira grande competência aprovar as declarações de guerra -
leges de bello indicendo.​ Com a progressiva afirmação da sua força política, foram estabilizadas
como suas competências: ​o poder de eleger cônsules, pretores, ditadores e censores;
confirmar os censores; aprovar as leis propostas pelos magistrados; formalizar
declarações de guerra e tratados de paz; e dar veredictos sobre a vida ou morte dos
acusados.

COMITIA TRIBUTA - S​ empre tiveram poderes de natureza civil. A base da organização


destas assembleias é territorial - os participantes pertencem a uma mesma circunscrição
administrativa do território de Roma designada ​tribus.​ São assembleias deliberativas de todos
os cidadãos, organizadas por tribos, convocado e presidido por um magistrado maior. Exercem
funções de ​votação de leis sobre assuntos de menor relevância; eleição de magistrados
menores; atribuições religiosas residuais; fixação de penas pecuniárias para as infrações
detetadas.

CONCILIA PLEBIS - ​Assembleias que passaram a ter importantes competências


legislativas na cidade, nomeadamente na votação de uma série de medidas que introduziram
reformas profundas no ​ius civile.​ Convocados pelos magistrados plebeus, reuniam no interior do
pomerium. ​Tinham as competências de ​eleger os magistrados plebeus; votar os ​plebiscita.

cIVES ​- A
​ designação mais antiga dos cidadãos romanos é ​quirites.​ O ​cives era o romano
integrado no ordenamento centurial. Podia ser ​cidadão romano ​aquele que: nascesse em Roma
de pais romanos ou de pai romano e mãe estrangeira, desde que esta tivesse adquirido o direito
de casar-se com um cidadão romano, unidos por um um ​matrimonium iustum;​ nascesse de mãe
romana mesmo fora de um casamento válido; tivesse autorização de um magistrado para tal; ou
a quem fosse concedida a cidadania pela comunidade; por ter sido libertado da escravatura.
Desde muito cedo, em Roma, a aquisição da cidadania e dos direitos e deveres inerentes era uma
questão jurídica, o que abria a cidade ao exterior e a um grande número de pessoas que podiam
adquirir o estatuto de cidadão, fosse qual fosse a sua origem geográfica, étnica, religiosa, ou
outra. O cidadão romano participava na vida da cidade através da escolha dos magistrados e da
votação de propostas da lei apresentadas pelos magistrados, contribuía com serviço público
para a comunidade, servia nas legiões, contribuía em assembleia, com um ​tributum.​

MAGISTRATURA/MAGISTRADO - ​Magistratus ​significa o cargo e governar, mas


também a pessoa que governa. Magistrado ​são todos os detentores de cargos políticos de
consulado para baixo. Inicialmente, os magistrados são os verdadeiros detentores do ​imperium​,
que antes pertencia ao rei. O ​imperium é​ um poder absoluto, um poder de soberania, ao qual os
cidadãos não se podem opor. As magistraturas importantes eram: ​a ​dos cônsules, a dos
censores, a dos pretores, a dos questores e a dos edís curúis. ​Estas magistraturas
designavam-se ​magistraturas ordinárias ​(as extraordinárias eram o tribunado da plebe e a
ditadura), uma vez que estavam integradas numa certa ​ordem hierárquica - o ​cursus honorum.​ A
ordem hierárquica estava instituída da seguinte forma: 1º questor, 2º edil curul, 3º pretor, 4º
cônsul, 5º censor. As ​magistraturas maiores tinham ​imperium e ​potestas e as ​menores apenas
potestas​. As ordinárias podiam ser ​permanentes (o titular estava sempre em funções) ou ​não
permanentes ​(o titular exercia funções não contínuas). As ​magistraturas extraordinárias
eram sempre não permanentes e tinham poderes de ​intercessio ​sobre os atos de todos os
magistrados ordinários. As magistraturas foram reguladas com cada vez maior minúncia e
pormenor: dois titulares para cada uma, com absoluta paridade no grau e função, para permitir
um efetuvo controlo recíproco; subordinação das magistraturas maiores às menores.
Para se ser candidato a uma magistratura, era necessário ter: o ​ius suffragii ​- os candidatos
podiam ser submetidos à votação do eleitorado ativo; e a ​ingenuidade ​- não ser escravo liberto
nem filho de um liberto; pertencer ao grupo a que a magistratura estava reservada (patrício ou
plebeu); não ter sido acusado de ​infamia​; ter a idade de 28 anos ou mais.

MAGISTRATURAS ORDINÁRIAS
MAGISTRATURAS MAIORES
cENSOR ​- O ​titular é eleito pelos ‘’comitia centuriata’’ para um mandato com exercício
efetivo de funções de 18 meses. Tem como exceção a duração do seu mandato, que é de 5 anos
(ao contrário das restantes magistraturas, que exercem o cargo por 1 ano). Sem ​imperium​, mas
com a titularidade dos ​auspicia m ​ ais importantes, as suas funções são a de proceder ao
recenseamento, repartindo a ​cives ​em classes e tribos; proceder à ​Lexio Senatus ​(escolha dos
membros do Senado); afastar o nome dos indignos - vigilância sobre os costumes dos cidadãos
(nota censória → ignomínia); arrendar por adjudicação a arrecadação de impostos, os
fornecimentos e a reparação das obras públicas por 5 anos. No final dos 5 anos, fazia-se uma
cerimónia de confirmação de tudo o que tinha sido feito pelo censor - ​lustrum ​-, que era uma
cerimónia de cariz religioso. Em 339 a.C., a ​lex Publilia Philonis veio obrigar que um dos censores
fosse plebeu. Os censores agiam sempre em conjunto. O registo dos cidadãos e do respetivo
património era feito a partir das declarações prestadas pelos ​patres​, sendo o juízo do censor em
relação à inscrição (por tribo e por centúria) livre e descricionário, na recusa da inscrição (a
‘’nota censória’’ tinha natureza infamante), na mudança dos registos, nas exclusões e inclusões.
A importância política da censura reforça-se com o plebiscito Ovíneo, de 312 a.C., que
institucionalizou como função do censor a nomeação dos senadores (​lectio Senatus)​ .

cÔNSUL - ​Os titulares eram eleitos, todos os anos, pelos ‘’comitia centuriata’’ - Assembleias
Populares. O ​imperium ​do pretor estava subordinado ao dos cônsules, que podiam vetar as
decisões do pretor, ao abrigo do ​ius intercessionis;​ ​O cônsul exercia todas as competências
residuais que não cabiam expressamente aos outros magistrados​. Desde a ​coertio ​para a
pena de morte até às sanções mais insignificantes, os censores, os questores, desprovidos de
imperium tinham de recorrer ao cônsul para dar efetividade às suas ordens. Exercem o seu
cargo por 1 ano. Prestam contas às Assembleias Populares. ​São dois​: o mais velho e o mais
votado. I​ NTERCESSIO​: q ​ ualquer um dos cônsules pode anular/revogar a decisão do colega.
Emissão dos ​senatusconsulta. I​ niciativa legislativa. Competência, a princípio, ilimitada. Comando
supremo militar. ​Manutenção da ordem pública interna​.

PRETOR - Com as ​leges liciniae sextiae,​ em 267 a.C., passa a haver a distinção/nova
magistratura do pretor. Era um ​magistrado maior (embora menor face ao cônsul), nomeado
nos comícios centuriais a que o cônsul presidia. O pretor encarregava-se de ​administrar e
aplicar a justiça ​e substituir o cônsul nos seus impedimentos no governo civil da cidade. Tinha
iurisdictio (poder de dizer o Direito). Existiam 2 fases de julgamento, em que participava o
pretor: ​1. ​in iure -​ o pretor examinava o ​enquadramento jurídico do caso (questão de
Direito) → qual o Direito aplicável?​; ​2. ​apud iudicem -​ o pretor fazia a prova dos factos
(questão de facto → subsume-se à questão de Direito: "Se aconteceu da forma A, a solução
​ e aconteceu da forma B, acontece ​y.​" - ordem condicional e lógica binária). ​O pretor
é ​x. S
faz um enquadramento hipotético dos factos e dá o enquadramento ao ​iudex (juiz). O pretor fixa
os parâmetros do Direito e o ​iudex a​ plicava o Direito. E
​ ra ele que convocava os comícios para a
eleição dos magistrados menores e apresentava propostas de lei para aprovação aos comícios.
Por vezes, o Senado encarregava o pretor de comandar o exército fora da cidade. A pretura era
uma magistratura monocrática, ordinária, permanente e, inicialmente, unitária. Em 242 a.C.
juntou-se ao pretor urbano (que resolvia os conflitos entre cidadãos romanos) e o pretor
peregrino (que intervinha nos conflitos entre cidadãos e peregrinos). Com o aumento do
território e das funções, ​os pretores passaram a ser seis​. Deve apresentar-se perante os ​comitia
com o seu ​edicta (​ conjunto de medidas, programa, preocupações). Era o magistrado que tinha os
três poderes: ​potestas imperium iurisdictio.

MAGISTRATURAS MENORES
EDIL CURUL - ​É uma magistratura com colegialidade, pois são 2 edis, e privativa, porque
só ​os patrícios é que a podiam exercer. ​Senta-se no assento curul (símbolo de poder que dá
dignidade à magistratura). As suas principais funções são de fiscalização da limpeza da via
pública e da cidade - ​cura urbis​; superintendência e policiamento dos mercados - ​cura
annonae​; organização das festas públicas da cidade - ​cura ludorum;​ Ajuda os tribunos e fica
com a guarda dos arquivos e a gestão do tesouro. Com a república, ergueu-se como uma
magistratura patrício-plebeia que estendeu a sua jurisdição de polícia a toda a cidade. Passou a
superintender a atividade dos mercados e o controlo do abastecimento de cereais; e a organizar
as festas e os espetáculos públicos, importante elemento da propaganda política; assegura a
segurança interna; tem poder de ​coertio ​e ​iurisdictio entre as pessoas no mercado (resolve os
conflitos e eles não chegam ao pretor).

QUESTOR - ​Primeiros magistrados a surgir após os cônsules. Desempenhavam funções


civis: administravam o erário do ​Populus Romanus​, promoviam a supervisão das receitas fiscais
arrecadadas e a distribuição dos fundos e receitas necessários para as despesas decididas pelos
cônsules nos termos das diretivas dadas pelo Senado. Até à introdução das ​Questiones
Perpetuae,​ eram eles que faziam a instrução e acusação dos crimes punidos com pena de morte.
Geria o tesouro, decidindo onde se devia gastar.

MAGISTRATURAS EXTRAORDINÁRIAS
dITADOR - Tem um papel fundamental desde os primórdios da República até às guerras
púnicas. Indicado pelo cônsul, com base em parecer do Senado, governa por um período de 6
meses - um dos cônsules, com o acordo do colega e do Senado, escolhe o ditador, pela sua ​dictio​.
O Senado deliberava sobre a situação (grave perigo externo ou interno) a enfrentar e o perfil
adequado do cidadão que deveria exercer o cargo, e um dos cônsules indicava o nome da pessoa
que ficava ditador. Consoante os casos, nomeia-se uma pessoa específica com capacidades
adequadas à resolução do problema em causa; é afastada a ordem ordinária durante a sua
magistratura, para fazer frente a situações de emergência. Pelo menos até 300 a.C., a ​coertio ​do
ditador não estava sujeita nem à ​intercessio tribunício nem à ​provocatio ad populum.​ O Senado
não exercia qualquer controlo político sobre a sua atividade; e, no fim do mandato, não tinha de
responder pelas suas ações e pelas somas gastas na defesa militar, como faziam os outros
magistrados. O ​imperium do ditador impunha-se a todas as outras magistraturas; não está
​ e nenhuma magistratura​; não presta contas dos seus atos no final. Num
sujeito à ​intercessio d
período de instabilidade, ​vem repor a ordem​. Era criada em ​momentos de ​iustitium,​ com
suspensão da normalidade legal e da aplicação normal da justiça. ​Tinham vários poderes:
supremo comando militar: poder coercitivo (​imperium militae)​ ; direito de convocar e presidir
aos órgãos colegiais; praticar atos coercivos a fim de se fazer obedecer pelos cidadãos e pelos
magistrados menores; direito de emanar e fazer publicar no ​forum ​os seus ​edicta; ​possibilidade
de assumir os auspícios maiores. No fim do seu exercício, retomava a ordem normal. O mandato
do ditador termina no dia em que termina o do cônsul que o escolheu.

TRIBUNO DA PLEBE - Eleito pelos ​comitia tributa, ​mais tarde pelos ​concilia plebis​, com
vista a garantir os interesses da plebe, tinha imunidade absoluta e o direito de se opor às
decisões de todos os outros magistrados, interseccionando os seus atos. O tribuno da plebe
acabou por constituir uma nova aristocracia política, com um poder imenso que advinha dos
efeitos da sua ​intercessio na justiça civil e criminal. Acabou por ser reconhecida aos tribunos da
plebe uma ​potestas coercendi q ​ ue saiu das baias em que nasceu, isto é, deixou de ser apenas um
pressuposto de facto do poder imanente ao ​ius intercessio,​ para passar a ser, de forma
institucionalizada, um poder próprio, desligado da ​intercessio​, e sem qualquer controlo. Poder
de convocar o Senado e os ​comitia.​ Era um chefe revolucionário, com uma função cada vez mais
institucionalizada. Na época das XII Tábuas, fixaram-se 1o tribunos da plebe. Ele não se pode
afastar da cidade - os limites da sua atuação eram o ​POMERIUM - ​espaço sagrado onde não
se podia construir, onde se podiam tirar os ​auspicia e​ os magistrados exerciam a sua autoridade.
O tribuno não tem ​imperium, ​não é um magistrado, não tem ​auspicia. A ​ uxilia os plebeus,
exercendo, por meio de veto ​por iniciativa própria ou por apelo plebeu - ​appelatio​) - pode
paralisar qualquer ato do governo, pode opor-se aos ​senatusconsulta.​ Não se pode opor aos
comitia​. Dispõe de ​intercessio ​- tem contrapoder face a todas as magistraturas. Os edis passam a
ser seus auxiliares, tendo como funções guardar os arquivos da plebe. Vigilância dos bairros
plebeus. É eleito pelos ​concilia plebis (​ a deliberação dos ​concilium é o
PLEBISCITUM/PLEBISCITA ​; nos primeiros tempos, estes ​plebiscita s​ ó vinculam os
plebeus, mais tarde abrangem a ​civitas)​ . Têm, mais tarde, c​ oertio extra pomerium ​e ​intercessio.
Em 287 a.C., com a ​Lex Hortensia de Plebiscitis: e​ quiparação de plebiscitos às leis (vinculação de
patrícios e plebeus), os tribunos da plebe passam a ser membros do Senado.

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