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Roma foi fundada no ano 753 a.C.

e vai-se progressivamente afirmando como


potência: primeiro à escala itálica, depois europeia, norte-africana e mais tarde médio oriental,
até se unificar como a maior entidade política conhecida naquela época.

MONARQUIA (753 a.C. – 510 a.C.)


- Direito quiritário ou nacional;
- Época Arcaica (753 a.C. – 130 a.C)

A emergência da entidade politica em Roma remontante para os momentos anteriores


a IV a.C. detém muitas dúvidas devido à dificuldade de acesso a dados relativos a esses
momentos e ao facto de a cidade ter sido invadida e incendiada pelos gauleses.
A emergência de Roma remonta para quando Rómulo mata Remo e, em 754-753 a.C.,
funda Roma numa das colinas da margem do rio Tibre, na região Latium (hoje Lazio).
Rómulo tornou-se inicialmente chefe dos Latinos (Latini) – povo que habitava Roma
desde a antiguidade – ou de uma tribo que integravam e associava-os aos Sabinos (sabini) ou a
parte deles, pois eram entica e culturalmente próximos por habitarem a mesma região. Após
um breve período de partilha de poder entre ambos, Rómulo acabaria por ficar chefe único do
conjunto de ambos os povos e inaugurou assim uma monarquia com a duração de dois séculos
e meio.
Contudo, muito antes de a Monarquia terminar, este povo viu-se obrigado a entregar o
poder que detinha aos Etruscos (etruschi), um povo que chegou àquela região a partir dos
finais do século VII.
Rómulo foi assim o primeiro Rei (rex) e por isso representa o momento de passagem
de uma Roma onde não existia formalmente uma cidade no âmbito cidade-estado – e na qual
os povos se organizavam estabelecendo apenas ligações de dimensão politica e religiosa de
baixa intensidade integrativa – para uma Roma onde esses povos criaram uma cidade-estado,
pois acedem a um grau de integração muito superior.

Ao nível social, deve-se a Rómulo a integração básica e inicial da cidade, a qual


mantinha vários tipos de relações:

1. Patrícios VS Plebeus
- Patrícios – nobres (patricii): aristocracia romana que exerce o poder político e auxilia o Rei;
- Plebeus – não nobres (plebs): classe desfavorecida sem acesso ao poder político;
Ao nível do exército, a distribuição dos soldados por postos era feita com base no
censo, ou seja, era determinada pela riqueza. Assim, os patrícios integravam a cavalaria
(combatiam a cavalo) e os plebeus a infantaria (combatiam a pé).
Patrícios e Plebeus não se relacionavam, nomeadamente o casamento entre ambos
não era permitido (o que só foi absolvido com a “lex Canuleia” em 450 a.C).
Havia também na estrutura societária de Roma os proletari, um grupo de pessoas que
habitava Roma mas que não integrava o sistema politica nem era regulado pelo ordenamento
jurídico pois não tinham bens próprios e estavam recenseadas como pessoas mas não como
proprietários.
Esta divisão da ordem social tinha também como característica o acesso a cidadão
romano (Quirite). O cidadão romano podia aquele que fosse:
- Filho de pai e mãe romanos;
- Filho de pai romano casado com mãe estrangeira, desde que esse casamento tenha
sido feito à luz dos critérios romanos;
- Filho de mãe romana casada com pai estrangeiro, desde que esse casamento tenha
sido feito à luz dos critérios romanos;
- Atribuída a cidadania romana por feitos em honra de Roma.

2. Pater Familias
A família era a unidade base da organização social romana e não era determinada por
uma relação de consanguinidade (=Cognatio) entre os seus membros, mas sim por uma
relação de subordinação ao Pater Familias (=Agmatio). O Pater Familias garantia a união da
família e, embora a subordinação a si só terminasse com a sua morte, a família continuava
unida por laços familiares. Como era o Pater Familias que detinha todo o património e poder
nas suas mãos (pois era o mais velho), era ele que geria o fundo familiar, administrava as
propriedades da família e decidia a admissão de novos membros e a saída dos que estavam.

3. Clientela
Vínculo jurídico que assenta na dependência de alguém que carece de protecção face
a outra pessoa. Há assim uma relação de protecção e de lealdade, a qual era necessária para o
povo que tinha necessidade de se associar a alguém maior num período em que Roma era um
lugar perigoso.
Os clientes (plebeus e por vezes também estrangeiros) vão ocupar uma parcela de
terra que o patrono (patrícios) lhes cedia in precarium, pois não conseguia explorar
directamente, e pela qual pagam uma renda. Esta renda estabelecia em troca, não só a
ocupação da terra, como também de segurança e protecção.
Havia vários modos de adquirir a condição de cliente:
- Deditio: submissão voluntária de um grupo familiar ou político a uma gens;
- Applicatio: submissão de um estrangeiro à protecção da gens;
- Manumissio: instituto pelo qual o escravo o deixa de ser.
Os clientes deviam fidelidade ao seu patrono, e este dava-lhe em troca protecção.
Como os romanos consideravam os laços de fidelidade de natureza sagrada, a violação dos
laços de protecção por parte do patrono (patronus) podia levar à aplicação da pena de morte
ao mesmo. Isto significava que os clientes que eram vítimas da infidelidade do patrono,
podiam matá-lo sem serem punidos.

Ao longo da monarquia romana, o poder politico era do rei. O Rei (rex) tinha caracter
sagrado e estavam-lhe atribuídas funções militares, religiosas e judiciais. Desemprenhava as
funções de:
1. Comandante do exército (imperium militae): garantia a segurança do território
(motivo pelo qual os Reis eram Etruscos), o qual inicialmente só constituía a península itálica e
apenas a mais umas cidades.
O Rei era o chefe do exército e por isso:
- Delegava poderes como chefe do exército;
- Delegava poderes para comandar a cavalaria;
- Perseguia e reprimia os crimes mais graves.

2. Administrador da cidade (Imperium domi): resolvia os aspectos da vida colectiva na


relação das pessoas com a comunidade e os conflitos entre pessoas através da aplicação de
regras ordenadas por si.

3. Representante entre deuses e humanos: era um factor fundamental pois era a base
do seu poder político. O rei detinha um forte caracter sagrado e poder religioso, e por isso
tinha a função de ler os auspícios (voo das aves que significava a vontade dos deuses).

Para governar a cidade o Rei não actuava sozinho, tinha a ajuda do Senado.
O Senado (senatus) era composto por 100 elementos, que eram na sua maioria
patrícios. Tinha no período monárquico como principais funções: aconselhar e auxiliar o Rei,
auctoritas, ius belli et pacis e o interregnum.
Este órgão dava a sua opinião ao rei quando este tinha dúvidas, o que se denominou
de pareceres do Senado (Senatus Consultum). Estes pareceres detinham auctoritas, ou seja,
eram saberes socialmente reconhecidos e por isso o rei seguia-os ordinariamente. O senado
também detinha o ius belli et pacis, ou seja, tinha o direito de concluir tratados internacionais.
Para aceder ao senado era necessário ter em conta a riqueza de cada um, uma vez que
só entravam os mais ricos. Para determinar este acesso existia um Censor.
Censor = organizava a riqueza das famílias e determinava de acordo com essa
organização, quem acedia ao Senado. A sua função gerava poder político e por isso vai estar no
topo das magistraturas romanas, mesmo após a monarquia cair.

O Senado também exercia uma importante função após a morte do Rei: Interregnum.
O interregnum acontecia após a morte do rei e o poder que antes era dele é devolvido aos
Pater Familias mais antigos (Senado), que por sua vez vão delegar apenas um entre si para
exercer o Interrex.
O interrex tinha uma duração de 5 dias e como objectivo ler os auspícios e indicar
assim o nome do novo rei. Após isto, o rei era proclamado pelas assembleias em vigor para
poder tomar posse. Contudo, este rei necessitava de ser aprovado pelo povo.
Quando o interrex falhava, ou seja, quando os deuses não se manifestavam pelo voo
das aves, era declarado outro interrex para manter o poder seguro.

O povo funcionava organizado em assembleias (comitia):


Assembleias de Cúrias (Comitia Curiata): era um órgão que reunia todo o populus de Roma e
o qual era presidido por um sacerdote, o curio maximus. Reuniam-se para:
- Votar a “lex curiata de imperium”: eleição/aprovação da lei sobre a qual o novo rei,
proposto pelo Senado, era investido dos seus poderes – votavam o nome proposto para rei, o
qual era primeiro aprovado (creatio) e depois submetido a uma cerimónia religiosa
(inauguratio) onde os deuses aceitavam o novo rei revestido de poderes sagrados e políticos.
- Votar as propostas de lei do rei que, uma vez aprovadas, vigoravam como leges
regiae.
- Decidir a guerra e a paz.
Assembleias de Centúrias (Comitia Centuriata): estavam ligados à organização militar de
Roma, pois surgiu quando Roma se começou a focar mais na composição do seu exército, e
com o passar do tempo vai-se tornar a assembleia mais importante. Inicialmente a sua função
era decidir sobre a guerra e a paz, mas com o surgimento da República começa a assumir as
funções da Comitia Curiata: eleição dos magistrados e aprovação de leis. Com a sua perda de
importância face à comitia centuriata, não vai desaparecer imediatamente, mas passa apenas
a exercer rituais sagrados.

Quanto ao fim da monarquia, Tarquínio Prisco, nobre etrusco, destruiu no seu reinado
as instituições políticas e passou a governar como um rei absoluto exercendo um poder
despótico.
Embora Sérvio Túlio, seu sucessor, tenha implementado várias reformas para voltar a
institucionalizar o poder político estas foram todas anuladas por Tarquínio, o Soberbo, que
sobe ao poder.
Tarquínio, o Soberbo, foi o último Rei deste período histórico que voltou a introduzir o
poder despótico absoluto que o seu pai outrora tinha começado a implementar.
Este carácter absoluto, tirânico e arbitrário dos Tarquínios originou um golpe palaciano
levado a cabo por Bruto e Collatino em 510 a.C. que, com o apoio da população romana, ditou
o fim da monarquia.
Roma fica entregue a dois cônsules com o objectivo de travar a centralização do poder
e sucessivamente, os desvios autoritários. Destes cônsules, um tinha o poder de tomar
decisões e o outro, o poder de intercessio, ou seja, com o poder de vetar/paralisar a decisão
do primeiro cônsul. Ao fim do ano, o cônsul tem de prestar contas ao povo, mostrar o que foi
feito.

---- PERIODO DE TRANSIÇAO MONARQUIA (509 a.C.) – REPÚBLICA (367 a.C.) ---

Este período entre a monarquia e a república é um período marcado pela instabilidade


social e politica. A derrota face aos gregos limitou a possibilidade de comércio, e por isso
determinou o regresso a uma economia de base agrícola e consequentemente a uma estrutura
de poder assente na propriedade fundiária.
A insegurança também contribuiu para esta instabilidade, tudo por causa do fim da
expansão Etrúria que coloca Roma em colisão com outros povos. Isto traduziu-se numa
necessidade de mobilização constante do exército e por isso, o papel indispensável da plebe na
defesa militar de Roma.
Contudo, este período ficou marcado principalmente pela luta dos plebeus para
conquistarem a paridade política e o prestígio social atribuído aos patrícios (494 a.C.).
Os plebeus detinham liberdade e cidadania, pois não eram escravos, mas eram
privados de poder e considerados inferiores. Este grupo social, que ocupavam o posto da
infantaria no exército, conseguem com o passar do tempo nivelar-se face aos patrícios que
integravam a cavalaria. Com o seu prestígio na carreira das armas e com a ajuda do comércio
marítimo que dominavam e os fazia enriquecer, a plebe vai começar a reivindicar o poder que
antes pertencia aos patrícios.

A partir deste período o poder não volta mais a ser unitário, e para o exercer, dão lugar
as magistraturas.

Em Roma, a lei é o comando imposto pelo povo e cumprido por si mesmo (“lex
rogata”), ou seja, é o povo e não o governo que aprova/delega e cumpre a lei, a qual era
denominada de constituição imperial.
Em Roma, o direito era por sua vez entendido como algo sacral, algo supremo. Nesta
estrutura estavam inseridos os colégios sacerdotais (collegia sacerdotalia), importantes
instituições com forte poder de influência sobre as decisões políticas. Destes colégios faziam
parte:

1.Colégio dos áugures: em Roma era necessário procurar legitimar a vontade divina na
forma como decidiam a vida dos homens. As formas de encontrar a expressão da vontade dos
deuses eram recorrendo aos:
- Auspicia: ler o voo das aves. O auspicium era um instrumento fundamental de
exercício do poder do rei que determinava a sua acção e o tempo de a executar. Ou seja, eram
os auspicia favoráveis ou desfavoráveis que diziam ao rei como e quando agir e por isso eram
mais comuns quando era necessário efectivar uma determinada decisão e o seu conteúdo.
- Auguria: procura todo o tipo de acontecimentos indícios dessa vontade no
comportamento/fisionomia/manifestações dos animais e da natureza. O augurium implicava a
possibilidade de uma decisão que se pretendia tomar, ser afastada porque o que se previa dela
era um efeito negativo. Assim, o augurium pretendia evitar e impedir que certas decisões
prejudiciais fossem tomadas e cumpridas. Era mais complexo do que o auspicium pois não
procurava apenas a vontade divina mas sim concentrar as condições para um melhor exercício
da acção humana.

2. Colégio dos pontífices: detinha os poderes politico-religiosos que o Rei devia


respeitar.
O colégio dos pontífices integrava primeiramente três pontífices, e mais tarde passa a integrar
cinco, e era presidido pelo Pontifex maximus.
Os pontífices, que eram designadamente patrícios, estavam por sua vez isentos de
pagar impostos e de cumprir serviço militar, e eram designados por cooptação para um cargo
vitalício numa cerimonia designada de inauguratio que era presidida por um áugure.
Os pontífices foram adquirindo um saber técnico crescente na criação de soluções para
resolver de forma pacifica os litígios que surgiam. Cabia-lhes a eles a interpretação das regras
do direito e a observação da religião.
Neste período de tempo, a validade jurídica dos actos assentava no cumprimento de
um conjunto de formalidades e rituais de natureza sacral, que por sua vez só podiam ser
praticados ou tinham de ser presenciados pelos sacerdotes.
Assim, este colégio tinha como objectivo ditar a justiça e impor as regras (mores
maiorum) com o auxílio dos deuses. Os sacerdotes pontífices exigiam que estas regras se
tornassem escritas de modo a reconhecer o seu direito. Para isto acontecer forma-se um corpo
de 10 patrícios, que não exercessem a função de sacerdote pontífice, que vão olhar para as
regras antigas de Roma (mores maiorum) e transformá-las em leis.

É neste seguimento que surge a Lei das XII Tábuas (450 a.C.), a lei mais antiga de
Roma. Este documento ditava o processo da lei e quem é que detinha o cargo de Pater
Famílias. Também estava na Lei das XII Tábuas determinado que a palavra para designar
estrangeiro era a mesma que designa inimigo: hostis (só mais tarde o estrangeiro passa a ser
designado como pereginus – aquele que atravessa o campo).

Era necessário garantir que a aplicação das mais graves e severas medidas repressivas,
e penas máximas não ficassem totalmente no arbítrio dos patrícios, e por isso é criada uma
contra magistratura: o tribuno da plebe e o provocatio at populum.
Existiam mais dois tipos de assembleias em Roma:
- Comitia Tributa: convocados pelos magistrados e no qual se decide e deliberam
assuntos não tão importantes, por exemplo, nomeação dos magistrados mais baixos;
- Tribuna da Plebe (concília plebis): constituída por plebeus apenas com a função de
eleger um magistrado, o que só acontece quando é necessário proteger os interesses do povo,
ou seja, eram eleitos quando houvesse uma determinada medida que afectasse os interesses
dos plebeus, e por isso podia paralisar qualquer ordem de outro magistrado. O objectivo desta
assembleia é elevar os plebeus ao mesmo lugar que os patrícios e evitar guerras civis.
Esta assembleia permitia a um cidadão condenado à morte por um magistrado com o
poder para tal, evitar a condenação pedindo a instauração de um processo nos comitia. O
processo comicial tinha duas fases:
- Inquérito (aquisito): feito pelo magistrado para apurar a real existência do crime;
- Resposta da assembleia (rogatio): a assembleia dava uma resposta através de uma
deliberação que se pronunciava sobre a pena.
Contudo, a 452 a.C. foi implementada uma lei que fixava os limites máximos de
tolerância para que os magistrados pudessem aplicar multas e penas sem o apelo ao populus
(Menenia Sextiae).
Esta assembleia aprovava também plebiscitos, leis aprovadas pelos plebeus nos
concilia plebis e as quais se declararam obrigatórias a todos os que as votassem e aprovassem.
Estes plebiscitos foram inicialmente apenas para os plebeus (449 a.C.), mas mais tarde
passaram a integrar todo o povo romano, incluindo patrícios (287 a.C.).

Com a abolição do dever de casar dentro do grupo e a legitimação dos casamentos


entre patrícios e plebeus, iniciou-se um caminho de integração social, política e jurídica.
Contudo, só com a entrada dos plebeus na vida familiar dos patrícios é que é possível a
abertura dos auspícia aos plebeus.
A instabilidade deste período de transição da monarquia para a república só termina
com a pacificação conseguida através da admissão dos plebeus nas magistraturas supremas,
como o consulado, formalizada nas Leges Liciniae Sextiae (367 a.C).
Estas medidas legislativas tinham então um significado quase mítico no culminar do
período de transição da monarquia para a república, uma vez que formalizam as reivindicações
históricas dos plebeus pela igualdade que consideravam necessária face aos patrícios para
assim se sentirem romanos em Roma. As Leges Liciniae Sextiae delititavam quatro aspectos:
1º - Limitação dos juros (lex Licinia de aere alleno): é possível ao devedor reduzir à
soma do valor do débito a pagar, o montante dos elevados juros já pagos e a possibilidade de
pagar o restante montante em três prestações a pagar anualmente;
2º - Nova forma de distribuição da terra (lex Licinia de modu agrorum): fixação de um
limite à possibilidade de apropriação de terras públicas e determinação de um limite de 500
jeiras de terra aos Pater Familias;
3º - Acesso dos plebeus aos cargos políticos (lex Licinia de consule plebeio):
possibilidade de ascensão dos plebeus ao consulado. Estava-lhes reservado um dos dois cargos
de cônsul. Estes cargos não são pagos, mas traduzem-se em liberdade a quem o exerce.
Embora só tenha sido cumprida a partir de 320 a.C., esta lei determinou uma evolução
significativa na participação política dos plebeus (172 a.C. passa a ser possível serem eleitos
dois cônsules plebeus);
4º- Lex Licinia Sextia de decemviris sacris faciundis: aumenta o número de
encarregados da custódia dos “livros sibilinos”, impondo que sejam escolhidos metade
patrícios e metade plebeus.

Estas normas instituíram o consulado como magistratura em que é exercido o poder


supremo do Estado, e a qual não está reservada apenas aos patrícios mas sim também aos
plebeus.

Contudo, os plebeus já tinham vindo a participar de certa forma nas magistraturas.


Entre 444 a.C. e 367 a.C., a cidade era governada ora por cônsules ora por tribuni militum
(colégio de comandantes militares). Uma vez que os plebeus tinham acesso a estes colégios,
isto permitia o seu acesso a cargos políticos.
Por um lado, para isto acontecer, foi necessário que a componente militar plebeia
impusesse ao Senado a sua participação. Por outro lado, há teorias que põem em hipótese o
Senado ter usado o tribunus militum para abrir portas às soluções que necessitassem da força
da plebe. Isto foi um factor muito importante pela forma como influenciou o ius Romanum.
Tinha como vantagem a junção e conciliação dos poderes supremos da política com os poderes
militares.

De qualquer modo, a abertura das magistraturas aos plebeus introduziu a


possibilidade de uma reforma social necessária para o fortalecimento de Roma como potencia
na Antiguidade. Possibilitou também uma profunda reforma de mentalidades com efeitos na
estrutura jurídica de organização do acesso ao poder e do seu exercício e na criação e
aplicação de regras jurídicas.

REPÚBLICA (367 a.C. – 27 a.C.)

O conceito de república era inicialmente relativo ao património do populus romano.


Contudo, era a vontade dos romanos impedir os aproveitamentos políticos levados a cabo na
monarquia.
Com a queda da monarquia, o predomínio etrusco desapareceu e a divisão dos
poderes passou a ser feita por magistrados de eleição popular, dos quais se distinguiam dois
cônsules que detêm o impeium que antes era do Rei. Este poder era, desde o início,
condicionado por algumas limitações, entre as quais as mais importantes foram: limitação do
exercício do poder da magistratura por um ano que e entrega do poder não a um mas sim a
diversos indivíduos.
Para poderem exercer a sua função de magistrados, os candidatos tinham de cumprir
alguns requisitos:
- Frequentar a carreira das honras (cursos honorum);
- Podiam ser submetidos à votação do eleitorado activo;
- Ter ingenuidade, ou seja:
- não podia ser escravo liberto nem filho de um liberto
- tinha de pertencer ao grupo a que a magistratura estava reservada
- ter a idade de 28 anos ou mais
Este era um cargo que não era remunerado mas quem o exercesse tinha de prestar
contas.

Com as Lex Liciniae Sextiae, foi possível dividir e hierarquizar as magistraturas de


forma a conecta-las num sistema de regras e princípios que garantissem a estabilidade e
continuidade do modelo político-institucional.
As magistraturas foram reguladas sempre a partir dos mesmos pressupostos: dois
titulares para cada uma com absoluta igualdade no grau e na função, subordinação das
magistraturas maiores às menores e separação rigorosa das mesmas.

As magistraturas podem ser de caracter:


- Ordinárias: magistraturas principais que podiam ter caracter permanente (o
magistrado estava sempre a exercer funções) ou não permanente (o magistrado exercia
funções não continuas). Eram periodicamente eleitos e constituíam os elementos
estabilizadores do regime.  Censores, cônsules, pretores, edis e questores.
- Extraordinárias: eram de caracter não permanentes e tinham poderes de intercessio
sobre todos os magistrados ordinários. Eram eleitos para fazer face às circunstâncias extremas
e imprevistas e os poderes dos quais eram revestidos tinham a duração da ameaça a enfrentar
mas com um limite máximo para exercer o mandato.  Tribuno da plebe e ditador.

Os magistrados dividiam-se em:


A. magistrados ordinários maiores
1.Censor: (ordinária não permanente) o titular é eleito nos comícios centuriais para um
mandato de 5 anos e no qual exercia funções apenas durante 18 meses, o necessário para
fazer o recenseamento. Eram em regra antigos cônsules que organizavam o censo. Era o
guardião da cidade e por isso organizava as famílias por riquezas para determinar a ascensão
ao Senado. Ocupada inicialmente por patrícios, mas em 339 a.C. um dos censores tinha de ser
obrigatoriamente plebeu. Os censores agiam sempre em conjunto.
2.Consul: Eram eleitos todos os anos nos comícios centuriais e definiam a política pública e
governava a cidade. Podia vetar as decisões do pretor ao abrigo do intercessio.
3.Pretor: (magistratura ordinária não permanente) Eram eleitos todos os anos nos
comícios centuriais. Eram inicialmente dois, mas com o aumento do território passam a seis e
mais tarde a oito. O seu imperium estava subordinado ao do Cônsul, o qual substitui nas suas
falhas e impedimentos para assim realizar/administrar a justiça. Tinha como principais
funções: aplicação da justiça; substituir o cônsul nos seus impedimentos no governo civil da
cidade; convocar os comícios para a eleição de magistrados menores (comitia tributa);
apresentação das propostas de lei para aprovação nos comícios.

B. Magistrados ordinários menores


4. Edil: Era eleito nos concilia plebis e foi inicialmente pensada para ajudar os tribunos
passando a ficar com a função de guardar os arquivos e gerir os tesouros. Tinha como
principais funções garantir a segurança de Roma, e por isso fazia o policiamento dos caminhos
e fiscalizava as medidas e os pesos.
5. Questor: Era eleito na comitia tributa e promovia a supervisão das receitas fiscais
arrecadadas e a distribuição dos fundos e receitas necessárias para as despesas determinadas
pelo Senado e cônsules.

A distinção entre magistrado maior e menor suscitou alguns conflitos e por isso
adoptou-se três princípios estruturantes destas relações:
1. Princípio da prevalência do imperium: permitia que os magistrados com imperium
pudessem vetar qualquer acto mesmo que esse fosse inerente às suas competências.
2. Princípio da hierarquia: estabelecia que o magistrado com imperium e potestas maior
podia anular as ordens e vetar os actos dos outros magistrados com imperium e
potestas menor.
3. Princípio da tutela da plebe: os concila plebis tinham o poder de veto sobre a
actividade dos outros.

Neste período de tempo a designação antiga de cidadão (quirite) ganhou um novo


sentido, pois não só passou a designar-se de cives, como se alargaram os critérios de
cidadania. O cidadão romano passou a poder ser:
- Filho de mãe romana mesmo fora de um casamento válido;
- Aquele que tivesse autorização de um magistrado para tal;
- Aquele que foi libertado da escravatura.
Desde à muito que a aquisição da cidadania, de direitos e de deveres era um aspecto
meramente jurídico. Só com a república é que surgiu uma categoria de cidadãos com direitos
limitados.

Quanto às assembleias da Monarquia, continuam em vigor.


1.Senado: passa a ter uma posição de maior relevo e era constituído na maioria por
antigos magistrados já fota de funções. Competia-lhe igualmente decidir no interregnum se
ambos os cônsules desparecessem. Este órgão começou a ganhar ainda mais importância,
principalmente com as decisões que tomava (senatusconsulta).
2. Comitia Curiais: com a limitação ao tratamento de apenas questões de índole
sagrado pode-se incluir com a república, a cerimónia meramente simbólica de confirmação no
imperium dos magistrados maiores. Contudo, entram em decadência no período da república.
3. Comitia Centuriata: foram as mais importantes assembleias da república. Eram
convocadas por um magistrado com imperium e tinham como principais funções aprovar as
declarações de guerra. Mais tarde estabilizaram-se com as funções de: eleição dos cônsules,
censores, pretores e do magistrado extraordinário designado como ditador; aprovação das leis
propostas pelos magistrados sob a aprovação prévia do Senado.
4. Comitia Tributa: eram constituídos pelo povo na sua totalidade, ou seja, continham
tanto plebeus como patrícios. Tinham como principais funções a votação de leis sobre
assuntos de menor relevância; eleição de magistrados menores (edis e questores).
5. Concilia Plebis: passam a ter importantes competências legislativas na cidade. Eram
convocados por magistrados plebeus e tinham como principais funções: eleger os magistrados
plebeus e votar os plebiscitos. Era uma magistratura especial que tinha como vantagens a
imunidade absoluta e o direito de se opor às decisões de todos os magistrados com o
intercessio.

O ditador surge na República como uma figura que se manifestava nas situações de
perturbações. A escolha do ditador estava dividida em duas fases: o Senado traçava um perfil e
o cônsul escolheria uma pessoa para tal. Este cargo durava 6 meses e tinha como objectivo
estabelecer a ordem. O ditador não tinha de prestar contas e ninguém podia paralisar as suas
ordens.

O fim da República deve-se ao facto de um destes ditadores não querer abdicar do seu
poder após os 6 meses. Foi o caso de Júlio César, que não quis abdicar do seu cargo e por isso
transformou este período num período de instabilidade.

PRINCIPADO (27 a.C. – 285 d.C)

O Principado é a forma de designar uma tentativa política de concretizar no governo


de Roma uma mistura de instituições da República com a Monarquia.
É um regime que gravita em torno de Octávio Cesar Augusto e não passou de uma
forma de governar assente no exemplo de Augusto e sujeita às características pessoais do
titular do poder político.
Ao longo deste tempo Roma viveu num ambiente de paz, o que proporcionou um
desenvolvimento económico e que por sua vez permitiu acalmar as tensões acumuladas com
as reformas introduzidas.

Octávio Augusto exerceu o poder político supremo, a partir de 43 a.C., através de um


triunvirato em que era ele o centro, com um mandato de cinco anos, depois renovado para um
novo e igual período de tempo. Em 31 a.C. Augusto declara-se cônsul único a toda a província
de Roma e em 33 a.C declara-se prínceps.
Augusto centralizou o poder em si próprio com a justificação de que não havia outra
alternativa para manter as instituições existentes em Roma.
Este era assim um regime que concentrava todos os poderes nas mãos de um so
homem, o prínceps. Foi a possibilidade de um só homem decidir sozinho sobre todos os
aspectos da vida romana até aí dispersos pelas magistraturas.
Augusto adquiriu assim:
- Poder de intercessio contra todo e qualquer acto dos magistrados ou Senado.
- Poder de votar os plebiscitos e convocar o Senado com os poderes do tribuno da
plebe.
- Comando militar e supremo do exército e uma extensão do seu poder até aos confins
do Império.

O prínceps era o primeiro em tudo, não apenas no exercício de poderes de imperium


mas também em todas as manifestações de poder.
Os poderes principais do prínceps eram:
- Imperium proconsulare maius et infinitum: exercício do comando militar supremo e
do governo das províncias; administração de todo o império com o imenso poder político;
capacidade de influenciar decisões; possibilidade de escolher decisores.
- Tribunitias potestas: faculdade de paralisar qualquer procedimento ou acção do
Senado ou das magistraturas que considerasse inoportunas ou inconvenientes.

No principado, foram instituídos os funcionários (praefecti). Os funcionários eram


designados pelo prínceps para fazer cumprir as leis e o seu período de exercício de funções era
indeterminado. Este grupo foi ganhando poderes e prestígio crescentes e exerciam funções
tendo sempre no topo o prínceps.

A situação politica criada pelo Principado empurra os comícios, o Senado e as


magistraturas para um papel meramente formal.
Comícios: O prínceps tornou estas assembleias em verdadeiros actos de adoração a si
mesmo, com rituais virados para o culto do chefe. Este chefe controlava as propostas,
manipulava as votações e instrumentalizava as deliberações.
As competências legislativas foram transferidas para o Senado. Os comícios têm a
partir de agora a competência para votar as listas apresentadas pelo prínceps ou pelo Senado,
mas não podem propor pela sua iniciativa nomes para a eleição dos magistrados. A decadência
politica dos comícios deixava bem claro o que o prínceps queria esconder: as instituições de
cariz republicano. Augusto aboliu a legislação popular no fim do seu governo.
Senado: O senado foi um órgão republicano concebido como instrumento de
concentrar a totalidade dos poderes no prínceps. Augusto reduziu o número de senadores
para 600 e o seu acesso passou a ser para pessoas com 25 anos ou mais.
O prínceps passa a ter o poder de convocar o Senado sempre que entenda, sem
qualquer outro formalismo ou regra. Vai expandir os poderes do Senado retirando-o do
populus, nomeadamente: administração das províncias mais antigas; nomeação dos
magistrados encarregados pelo tesouro público, poder de legislar; exercício da jurisdição
penal. Estes poderes, embora estivessem formalmente no Senado, eram exercidos pelo
prínceps.
O objectivo foi instrumentalizar o Senado, pois era mais fácil fazê-lo com o Senado do
que com o povo, e um leva ao outro.
Magistraturas: Passam a ser apenas um nome para iludir o desaparecimento dos
cargos tal como eles deviam ser exercidos e das suas funções. As magistraturas perderam
assim a iniciativa politica e a capacidade de intervenção e limitaram-se a exercer tarefas
meramente administrativas. Os magistrados faziam tudo para agradar o prínceps, na
esperança de ocuparem um dos muitos lugares que dependiam da sua indicação. Assim, o
Principado destruiu de forma eficaz o pilar fundamental sobre o qual assentava a república: as
magistraturas.
- Cônsul: o poder dos cônsules é limitado pelo prínceps.
- Pretor: o prínceps não conseguia praticar o direito e por isso não foi fácil substitui-los,
o que tornou o seu desgaste mais lento, mas acabou por acontecer.
- Censor: mantiveram-se sem importância política até Domiciano acabar mesmo com
elas como magistraturas.
- Edil: mantiveram-se como magistrados mas as suas competências foram
substancialmente reduzidas.
- Questor: foram reduzidas a metade e as suas funções principais foram entregues a
dois pretores.
- Tribunos da plebe: mantiveram o novo poder de intercessio, menos contra o
prínceps.

Uma das características do Principado era a sua sucessão. A transmissão do poder era
feita pela sucessão através do carisma pessoal. A pessoa indicada para sucessor do prínceps
era um dos seus melhores colaboradores, uma espécie de vice prínceps que ia aprendendo a
decidir e a organizar até suceder ao cargo.
A sucessão ao prínceps era assim feita a partir do momento que o prínceps em vigor
sente o seu governo a chegar ao fim. Nesse momento, chamava-se um herdeiro espiritual que
passava a seguir o prínceps em tudo o que fazia. Mais tarde, quando o prínceps morria, o
Senado iria surgir este sucessor herdeiro ao povo.

Com a concessão da cidadania romana (212) a todos os habitantes do Império foi


promulgada por António Caracala (o que permitia o aumento do número de famílias a pagar
impostos), com excepção:
- Aqueles que tinham sido condenados em processo penal à perda de cidadania;
- Aqueles que viam o seu estado de liberdade alterado com a aquisição da cidadania.

A crise do Império inicia-se com a crise do Principado como regime politica e forma de
governo. A queda do Principado deveu-se principalmente a:
- Aparecimento do Principado com uma estrutura que deixa em aberto a relação do
prínceps com os órgãos de poder da república.
- Desromanização do Império: a presença de romanos como titulares de cargos e
rituais da república foram-se esvaziando e a sede do principado e a figura do prínceps
enfraqueceram-se com a perda de importância de Roma e Itália. O exército deixou de ser
capaz de garantir a estabilidade deste vasto império.
- Forma como se dava a sucessão do prínceps.
- Redução da fonte de angariação de escravos, o que tem implicações na produtividade
dos campos agrícolas. O campo é abandonado e acentua-se o movimento acelerado da
urbanização.
- Incapacidade política de manter os vínculos institucionais a todo o Império, o que
obrigou a um processo de autonomia política progressiva das províncias. Esta desagregação
política tem consequências económicas inevitáveis: diminuição do envio de receitas das
províncias para Roma e abandono da manutenção de infra-estruturas básicas.
- Cristianismo: começou a difundir-se no império, ameaçando a figura do imperador.
Os cristãos não obedeciam as leis do império, pois a sua religião punha em causa o imperador
e o seu imperium expresso nas leis. O cristianismo e o caracter sagrado do prínceps não eram
compatíveis pois tinham na sua génese a existência de um só deus que por sua vez não eram o
mesmo.

IMPÉRIO (285 d.C. – 395 d.C.)

Diocleciano inicia o seu trabalho de recuperação do império, reunificando-o


territorialmente com o reforço da autoridade imperial. O centro léxico político passou a ser de
novo a superioridade de Roma e a importância da romanidade conseguiu-se através da via
militar, um suporte essncial do poder do imperador no vasto território unificado.
O objectivo passou por ser a reconstrução de um Estado romano em retorno à matriz
romano-itálica e ao caracter pagão. Diocleciano foi assim aos poucos recuperando a
estabilidade política com base na pacificação da força armada e na estabilidade económica do
Imperio.

Diocleciano era contra o Cristianismo, e por isso vai organizar perseguições aos
cristãos. Acreditava que esta religião colocava em causa a unidade do Império e o poder do
imperador.

As instituições dos regimes anteriores não deixam de existir, pois o Imperador


convoca-as quando quiser, mas não o vai fazer.
Assim, ao longo do seu império introduziu algumas reformas, que foram bem
planeadas e executadas pois contribuíram para a romanização do Império:
- Substituição dos muitos exércitos num único, disciplinado, hierarquizado e
obediente.
- Conversão dos governadores das províncias, sem competências militares e tributárias
em representantes da administração imperial nas províncias (funcionários).
- Equilíbrio contributivo entre os vários territórios.
- Simplicidade dos critérios de recolha de receitas públicas através dos impostos, o que
permitia a todos compreender o sistema e vigiar desvios.
- Publicação de um documento onde estava fixado um preço oficial para todos os bens
e onde comunicava as penas graves para aqueles que violassem o mesmo (301 d.C).
- Criação do curator civitatis, o qual exercia o controlo governamental a partir das
administrações financeiras do Império.
Contudo, a reforma mais ousada de Diocleciano foi a tentativa de constitucionalizar o
topo da hierarquia imperial numa tetrarquia.
Deste modo, nomeou um co-imperador, Maximiano: Diocleciano ficou a cargo do
governo da parte Oriental e Maximiano a cargo do governo da parte Ocidental. Esta foi a
primeira tentativa de dividir sistematicamente as competências que o poder central de Roma
exercia no restante território do império.
Neste regime era obrigatório os imperadores não envelhecerem no cargo e por isso
foram nomeados os sucessores dos imperadores, Galério e Constanço, oriundos do exército e
logo com poderes efectivos no governo de certas regiões. Estes dois sucessores (césares),
eram chefes militares e deveriam cooptar dois novos sucessores quando chegassem ao cargo
de imperadores, e assim sucessivamente.
Este sistema tinha duas vantagens:
- Mantinha o supremo do comando da força no imperador em Roma e onde fosse
necessário estar, tornando a defesa do império mais efectiva e sem perigo de decisões e
rebeliões.
- Garantia a sucessão das chefias políticas e militares de Roma através de regras que
impunham soluções prévias.

Diocleciano renunciou voluntariamente o cargo de imperador a favor do seu sucessor


(305 d.C), arrastando Maximiano a fazer o mesmo.
Contudo, este projecto politica falha com a morte de Constanço, sucessor de
Diocleciano, pois desencadeia uma luta pelo poder com características idênticas às que se
queria evitar com estas reformas. A escolha dos césares que se seguiram a Diocleciano e
Maximiano não foi respeitada pelo exército, que impõe à força a aclamação de Constantino
8filho de Constanço) como Imperador. O regime da tetrarquia chega ao fim.

Constantino aceita subir ao trono em co-regência com Licínio, respeitando a separação


política entre Ocidente e Oriente. Isto durou apenas dois anos, pois as divergências entre
ambos iam aumentando e Licínio é constrangido a abdicar do trono, acabando por ser
assassinado.
Constantino passa a governar sozinho a parte ocidental e oriental do império, no qual
se mantiveram duas capitais: Roma e Bizâncio. O seu percurso conduz o poder imperial para
um despotismo oriental monárquico, firmando a autoridade do chefe e o princípio dinástico do
principado. Roma regressa assim ao regime monárquico.
O novo imperador segue o caminho de Diocleciano completando as reformas
burocráticas por ele iniciadas.
É fixada uma orgânica uniforme para os servidores administrativos do Império, com
hierarquia, honras, carreiras, categoria e uniformidade de remunerações.
Este governo de Constantino passa a integrar:
- Os dois chefes das administrações financeiras imperiais: o chefe do erário e o chefe
do património da Coroa.
- Magister officirum: chefe da casa do imperador (cargo criado por Constantino).
- Quaestor sacri palatii: chefe do tribunal imperial.
O direito público romano termina e passa a corresponder à vontade do soberano
expressa na lei, na decisão politica e na ordem administrativa executada.
Estas mudanças empobrecem e aniquilam as estruturas jurídico-políticas que
mantinham o Império Romano, o que contribui para o desenvolvimento dos elementos que
provocam a queda do Império.

Constantino termina a perseguição aos cristãos: estudou o potencial centralizador e de


obediência que o Cristianismo e a fé cristã representavam e por isso vai utilizá-la para manter
o Império Romano territorialmente unificado.
Em 313 d.C, com o Édito de Milão, torna livre e legítimo o culto cristão.
Estava assim aberto o caminho para tornar o Cristianismo na religião oficial do
Império.
O imperador reconhece a jurisdição dos bispos, apoia a construção de Igrejas em todo
o território e doa bens e terrenos à Igreja. Por outro lado, proíbe as cerimonias religiosas pagãs
criticadas pelos cristãos e manda demolir os templos religiosos considerados ofensivos.
A Igreja passa a aceitar a intervenção do imperador em matérias religiosas. Contudo,
rapidamente se sentiu ameaçada com esta proximidade imperial e Constantino, ao aperceber-
se, convoca concílios com o propósito de fixar dogmas fundamentais em torno dos quais a
Igreja se devia manter unida.

Após a morte de Constantino, o princípio dinástico por si instaurado não funcionou. As


ameaças militares voltaram com os seus filhos (nomeados de césares): Constante e Constanço.
Ambos tinham igualdade de poderes imperiais mas adoptaram políticas completamente
diferentes no governo de Roma.
Constante é assassinado e Constanço nomeia Gaio para substituir o irmão. Mal chega
ao poder, Gaio inicia um governo despótico próprio abusando dos poderes que lhe foram
atribuídos. É por isso destituído e julgado, ficando Juliano (meio irmão de Constanço) com o
seu cargo.
Constanço morre em 361 d.C e Juliano reina sozinho o império. Vai tentar reduzir a
despesa pública, diminuir a carga fiscal e termina o favorecimento da Igreja cristã e dos
privilégios dos cristãos (benefícios fiscais e reconhecimento jurisdicional dos bispos).
A morte de Juliano tem como consequência um novo período de anarquia e
desgoverno até que o exército impõe dois generais como imperadores: Valentiniano e Valente.
Iniciam ambos um governo militar.
Em 375 d.C. Valentiniano morre em combate contra os bárbaros, e em 377 d.C. morre
Valente após uma batalha com os hunos. O filho de Valentiniano, Graciano, é aclamado
imperador e designa como co-imperador Teosódio (379 d.C).
Tiosódio era um militar respeitado e procurou centralizar o poder político
concentrando as competências no imperador. Conseguiu vencer os Visigodos e salvar
Constantinopla. Contudo, permitiu a entrada de Visigodos no exercito de Roma, o que abriu
caminho para a barbarização do exercito imperial. Isto contribuiu para o colapso do império.
Em 380 d.C., com o Édito de Tassalónica, proclama o Cristianismo como religião oficial
do Império Romano.
Teodósio morre em 395 e com ele rompe-se a possibilidade de manter unido o Império
Romano. Os seus filhos passam a reinar separadamente no Oriente e no Ocidente, os quais
acabam por entrar em guerra.

Na antiguidade clássica o Direito estava normalmente confundido com a Religião. Não


eram os Reis ou os legisladores a fazer leis, mas sim recebiam dos deuses normas que
deveriam reger a comunidade.
Por isso, na sociedade primitiva romana, as normas religiosas – fas – estivessem
confundidas com as normas jurídicas –ius.
O FAZ é as regras, os rituais e as fórmulas ditadas pelos deuses aos reis e aos
sacerdotes para serem cumpridas pelos romanos como actos sagrados. Representam uma
regra ideal de vida, que não é discutida ou contestante porque foi criada pelos deuses para a
felicidade dos homens. Envolve a religião, os sacerdotes e os romanos no cumprimento de
regras sagradas, na forma de o fazer. Pode ser entendido como uma expressão da lei divina.
A norma jurídica é uma interpretação humana do fas, e por isso expressa a lex
humana.
O IUS resulta do fas (há uma precedência de um em relação ao outro), corresponde a
um conjunto de convenções humanas com legitimidade e obrigatoriedade que assenta no fas.
O fas era um direito divino interpretado pelos sacerdotes, aceite pela comunidade e
expressa nos mores maiorum. Os mores maiorum constituíam uma espécie de direito natural
originário de Roma e eram concretizados caso a caso, em processo idêntico, através do ius.

O ius civile era o conjunto de regras resultantes da interpretação feita pelos sacerdotes
das regras divinas e dos mores maiorum, antes da expansão romana. É um elemento
constitutivo que integra o ius Romanum.
O ius honorarium/ius edictale, ou o direito criado pelos magistrados, é todo o ius
Romanum não-civile, é o direito criado pelos edictos de pretores, edis e governadores de
província. É um direito criado por magistrados.

O ius é uma força que necessita de AUCTORITAS, para poder ser válido e eficaz. Esta
auctoritas é necessária tanto na criação como na aplicação.
O IMPERIUM está em Roma mais ligado ao momento da aplicação. É um poder de
soberania e um poder absoluto a que os cidadãos não podem opor-se porque é exercido em
nome e para o bem da comunidade. É inicialmente detido pelo rei e mais tarde, na República,
distribuído pelos magistrados. Enquanto a potestas é comum a todos os magistrados, o
imperium só foi conferido a cônsules, pretores e ditadores.
O ius é criado pela auctoritas dos jurisprudentes e aplicado com o imperium dos
magistrados (pretor).

A lex era toda a norma jurídica escrita que podia ser lida. Era uma declaração solene
com valor normativo emitida por um órgão constitucional com competência de legitimidade
para fazer, baseada num acordo entre entidade eminente e os destinatários.
AS FONTES DO DIREITO ROMANO

As fontes de direito estão ligadas a procedimentos relativos à produção do direito.


Têm uma dupla natureza:
- Real: o direito na vida quotidiana nas suas manifestações concretas.
- Formal: a sua formulação normativa e a integração num ordenamento jurídico.

As fontes de direito são, tanto hoje como em Roma, elementos de um processo de


criação e instauração de modelos consensuais de comportamento a seguir por cada um dos
membros de uma sociedade, que marcam a passagem para o jurídico quando a comunidade
requer a sua aprovação e efectividade. Esta actividade passa pela epifania dos valores,
contrastes socioculturais e a problematicidade das opiniões dos jurisprudentes, nos processos
criativos e conflituais do ius, em busca da solução justa e possível.
As fontes de direito são assim modos de formação e revelação de regras jurídicas, são
institutos dos quais se formam regras jurídicas.

AS FONTES DE CRIAÇÃO DO DIREITO

1. AS FONTES CONSUETUDINÁRIAS DE IUS ROMANUM – MORES MAIORUM


Segundo o consuetudo (prática social reiterada – elemento objectivo, usos, pois tem
de haver uma prática repetida –, acompanhada da convicção de obrigação jurídica – elemento
subjectivo, pois tem de haver uma noção de obrigatoriedade), os mores maiorum são a
tradição, entendida por todos, de uma comprovada moralidade que dirimia casos da
vida/litígios. Para a tradição ser de comprovada moralidade tem de ter conteúdo ético e moral
muito valioso. Os mores maiorum eram inicialmente interpretados pelos sacerdotes pontífices,
pois não era algo humano mas sim sacral.
Em Roma, a religião está omnipresente em todas as manifestações da vida social, o
que permitia aos colégios sacerdotais afirmarem-se como centros de conhecimentos e
manifestações do Direito. As violações dos mores maiorum eram assim sancionadas na esfera
do ius sacrum.
De início, os mores maiorum constituíam um acervo de regras de matriz religiosa
consensualmente aceites que integravam um património de valores e crenças dos romanos e
que era conservado pela tradição. Na ausência de leis aplicadas por órgãos legitimados, eram
os sacerdotes pontífices que mantinham a estabilidade dos acontecimentos.
Os mores maiorum eram por isso um conjunto de regras fundadas na tradição que
expressavam a moralidade aceite e de aplicação comprovada, desenvolvidas e adaptadas na
resolução de casos concretos pelos sacerdotes romanos, pela invocação divina que
interpretavam caso a caso. Os sacerdotes criaram assim novas regras de ius e novas
instituições jurídicas.
A interpretatio pontifícia constitui assim uma fonte de Direito ao lado de outras fontes
do ius civile aceites: a lei e o costume.
A aplicação dos mores maiorum era feita de forma impositiva, o que se identificava
com os mecanismos do imperium que fazem cumprir a lei. Deste modo, os jurisprudentes
desta época não questionavam a auctoritas dos mores maiorum e só mais tarde os
imperadores começam a impor a sua vontade sobre todas as outras fontes de Direito.
Os mores maiorum estão parcialmente formalizados na Lei das XII Tábuas e
continuaram a ser um fundo táctico de valores e tradições consensualmente aceites, essenciais
como referencias e na sua aplicação aos casos concretos.
Contudo, a Lei das XII Tábuas termina com a hegemonia dos mores maiorum.
IUS PAPIRANUM – Conjunto de leis da monarquia, recolhidas por VI Papiro, propostas pelo Rei
e aprovadas pelos comícios das cúrias. Os romanos dizem que os ius papirianum nunca
existiram, eram apenas uma forma de os imperadores poderem ditar comandos.

Quando os plebeus conquistaram a paridade de direitos políticos face aos patrícios,


com o seu acesso às magistraturas, o ius muda. O ius quiritium (direito próprio de cada
cidadão romano; conjunto de normas destinadas a diferenciar o ius Romanum das regras que
disciplinavam outras comunidades) dá lugar ao IUS CIVILE.

2. FONTES DE CRIAÇÃO DE IUS NA ACÇÃO DOS MAGISTRADOS – PRETOR


A criação de novos institutos jurídicos envolveu a aplicação da actuação do pretor. Esta
actuação do pretor não está prevista no ius civile e tem como base a legitimação dos mores
maiorum.

1. EDITOS DO PRETOR
O edictum era o programa de actividades a desenvolver durante o mandato pela
pessoa que se apresentava para exercer a magistratura de pretor. O edicto era afixado
publicamente na apresentação da candidatura antes do exercício das funções.
O edicto do pretor cria ius praetorium (apresenta um programa, cria direito e tem
auctoritas), o qual consiste uma parte do ius honorarium. Era assim uma das fontes de direito
objectivo em Roma.
Vinculado ao seu edictum e limitado pela opinião pública e pela intercessio do seu
colega, o pretor urbano era um magistrado que dispunha de meios coercivos para obrigar as
partes a pôr-se de acordo sobre o iudicium (procedimento através do qual um iudex decidia
um litigio, dando uma solução).
A partir do século II, esta actividade do Pretor deixa de ser tao criativa: um pretor cria
um édito e quando outro Pretor lhe sucede, este vai olhar para o édito do seu antecessor e
tirar daí algumas regras. Perde-se assim a criatividade e autonomia do magistrado. Contudo, o
momento que vinculou isto foi quando o Imperador Adriano chama um jurisprudente/jurista,
Sálvio Juliano, para este olhar para todos os éditos antigos e criar um único a partir do qual
todos os pretores o seguissem: ÉDITO PREPETUM ou ÉDITO DE ADRIANO.

2. EXPEDIENTES DO PRETOR
Os expedientes do pretor fundaram-se no seu imperium e destinavam-se a interpretar,
completar e corrigir o ius civile. Estes expedientes podiam assumir a forma de:
- STIPULATIONES PRAETORIAE: stipulatio que é imposta pelo pretor para proteger uma certa
situação social não prevista nas regras do ius civile e que, no seu entender, merece protecção.
A stipulatio é um negócio jurídico entre presentes que cria obrigações a partir de uma
pergunta feita pelo credor e uma resposta imediata dada pelo devedor que se unem
materialmente para construir a obligatio. Quando o devedor não cumpria a sua promessa
porque estava livre face ao ius civile, então o credor recorria às stipulationes praetoriae, onde
o pretor ordenava uma nova stipulatio, agora com uma garantia pessoal.
- RESTITUTIONES IN INTEGRUM: aplica-se a casos onde um negócio jurídico válido pelas
normas do ius civile resulta desequilibrado e injusto quando efectivado. Assim, um credor
pode ser privado pelo pretor se a obtenção de um crédito não for justa ou adequada.
- MISSIONES IN POSSESSIONEM: embargo de bem que é determinado pelo pretor, como meio
de coacção justo. O pretor dá uma ordem, assente nos seus poderes de imperium, autorizando
uma pessoa a apoderar-se ou a deter certos bens de outra pessoa, durante um determinado
período de tempo, com a possibilidade de os administrar e deles fruir. Se o destinatário da
ordem do pretor não cumprir o determinado, o pretor força-o a cumprir decretando o mesmo
outra vez.
- INTERDICTA: o interdictum é uma ordem dada pelo pretor de forma sucinta, imediata e
imperativa, com base no seu imperium e tomando apenas como fundamento uma aparência
jurídica para proteger uma verta situação que carece dela. A ordem do pretor fica
condicionada e assim aberta a uma reapreciação sempre possível em qualquer momento
posterior à acção primeira do pretor. O interdictum é geralmente concebido pelo pretor a
pedido de um particular interessado na tutela assim obtida. Pode ser concebido quando é de
interesse público, a pedido de qualquer cidadão romano. Podem ser interditos:
- Exibitórios: ordem do pretor destinava-se a apresentar ou exibir uma certa coisa;
- Restituitórios: ordem é a de devolver ou restituir uma coisa;
- Proibitórios: pretor impede ou proíbe que uma pessoa perturbe o gozo de um direito
legítimo de outra.
- Possessórios: destinam-se a proteger a posse, pois o ius civile não prevê qualquer
tipo de garantia para tal.

LEGIS ACTIONES: Processo oral em que o pretor tinha uma intervenção simples: dar ou não dar
actiones civiles.

LEX AEBUTIA DE FORMULIS: Processo escrito pelas partes; ordem escrita que o pretor dava ao
iudex para condenar ou absolver consoante este ou outro facto fossem apurados e a validade
como prova.

(ANTES DE 130 A.C.)


Pretor é designado pela Comitia Centuriata e tinha de apresentar um programa de
acções onde considerava quem tem razão – EDITUM.
O Pretor não podia criar soluções imediatas, ou seja, criar direito, mas ia interpretando
ius civile. Podia assim dar ordem às partes para que se faça justiça num caso concreto e
mandar cumprir o ius civile se um contrato não estivesse de acordo com esse.

(DEPOIS DE 130 A.C.) pag 414


O Pretor pode, após 130 a.C. criar direito próprio e passa assim a importar a equidade
ou justiça do caso concreto.
Quando o Pretor julga e chega a uma conclusão que algo é injusto, cria (de forma total)
uma solução justa. Pode assim criar uma acção concreta para um caso.

ACTIONES PRAETORIAE: O pretor pode criar acções próprias, com uma estrutura bastante
complexa. Se o pretor cria acções, cria direito.

3. FORMALIZAÇÃO DO IUS NA LEX


A noção de lei estava aplicada não apenas às leges data e às leges rogatae, mas
também passa a servir para designar também os senatusconsultos e as constituições imperiais,
ou seja, de qualquer modo de criação política de normas jurídicas.
Os romanos sentiram a necessidade de certeza do direito, o que resultava do facto de
jurisprudentes e pretores aceitarem como certas as rationes maiorum e partirem delas para
construir soluções de Direito.
A lei é definida como o comando de emanada autoridade competente dotada de
generalidade e abstracção. É geral, pois aplica-se a uma generalidade de situações, e abstracta
pois aplica-se a uma abstracção de pessoas.
A lei existe como acto constituinte que institui uma ordem e é feita em função da
contingente realidade histórico-social como resposta normativa com imputação decisória
racional que transforma o ethos em direito positivo.

1. LEI DAS XII TÁBUAS


A Lei das XII Tábuas foi o ponto de partida da problemática da lei no ius romanum. É
apenas uma codificação parcial dos mores maiorum vigentes em Roma, que não cobriu todos
os aspectos da fenomenologia socio-económica com relevo jurídico em Roma.
A Lei das XII Tábuas constitui um corpo de previsões normativas com natureza
abstracta e de carácter geral que reproduz com fidelidade nas suas sínteses textuais as
questões sociais e económicas centrais da época em que foi elaborada.
As suas principais reformas foram o poder do pater famílias e o seu exercício, a
sucessão mortis causa e a normação das relações de vizinhança, as servidões prediais e as
acções para defesa da propriedade.
A obligatio passa a ser um vínculo ideal, fictício entre o credor e o devedor,
estruturado em torno de um sujeito que está obrigado a prestar algo face a outro.
A Lei das XII Tábuas acrescentou também penas de morte a outros crimes que eram
permitidas ser executadas pelas famílias das vítimas quando o réu fosse considerado culpado.
A Lei das XII Tábuas tem fixado duas fases:
- IN IURE: Desenrolava-se na presença do magistrado. Era exercida através das declarações
solenes das partes que permitia concretizar os termos exactos da controvérsia que motivava o
conflito entre as partes. Frente ao magistrado, as partes expunham as suas pretensões e esta
procura concilia-las. Se não conseguisse, passava-se para a parte seguinte.
- APUD IUDICEM: Ocorria frente a um juiz privado. O iudex voltava a ouvir as partes e avaliava
os meios de prova apresentados para sustentar o afirmado por cada uma delas, pronunciando
oralmente a sentença que era definida e vinculativa.
2. PLEBISCITOS
O plebiscito é uma deliberação da plebe, reunida em concilio, que aprovava uma
proposta/comandos gerais e abstratos de um magistrado plebeu. Só depois de 449 a.C. é que
os plebiscitos passam a ter carácter vinculativo para todos os plebeus e, em certos casos, para
patrícios também.
A igualdade face à lei só foi possível ser concretizada num longo processo de cedências
e de compromissos políticos.

3. LEGES ROGATAE
As reivindicações políticas plebeias culminam com a atribuição de poderes legislativos
à assembleia do populus.
De início, as leges determinavam todas as deliberações dos comitia e só mais tarde
passa a ter um conteúdo conceptual ligado exclusivamente às deliberações dos comitia com
carácter normativo e natureza legislativa.
O procedimento legislativo nas assembleias populares iniciava-se com a proposta do
magistrado, que a assembleia aprovava ou rejeitava. Se a proposta fosse aprovada como
deliberação passava a designar-se lex data ou rogata.
A lex rogata é aprovada e de novo submetida a outra votação, mas desta vez do
Senado, para que este com a sua auctoritas aprove ou não. Isto constitui assim uma fonte de
direito. Tem como destinatários toda a comunidade de cidadãos romanos e o seu caracter
vinculativo deriva imediatamente do comando constitucional que está na base da sua
aprovação como tal, consagrado na Lei das XII Tábuas.
Em Roma, a lei passa por um processo de seis etapas a que obedecia o processo
formativo das leges rogatae até à sua plena vigência:
1. PROMULGATIO: Afixação do texto do projecto a apresentar à assembleia pelo
magistrado com poder para convocar os comícios em lugar público e por três dias,
antes da votação, para que todos o conhecessem.
2. CONCIONES: Reuniões informais realizadas em lugar público, num local escolhido pelo
convocante, para que houvesse uma discussão intensa e alargada.
3. ROGATIO: Pedido de aprovação do projecto de lex pelo magistrado. O comício
convocado para aprovar um projecto de lei, iniciava-se com formalidades religiosas a
que se seguia o discurso de apresentação do projecto de lei pelo magistrado. Neste
discurso fazia-se uma leitura do projecto e expunha as razões do pedido da sua
aprovação.
4. VOTAÇÃO: Feita oralmente e de braço no ar, com uma contagem manual. A partir de
131 a.C. a votação passou a ser feita por voto estrito e secreto.
5. APROVAÇÃO: Feita pelo Senado, através do qual os senadores concediam, pela sua
aprovação, a auctoritas patrum à lex. Depois da votação favorável do projecto de lei, o
texto normativo era submetido ao Senado, que votando de forma positiva, conferia a
sua auctoritas patrum às normas aprovadas.
6. AFIXAÇÃO: Acto que fechava o processo legislativo das leges rogatae. A deliberação
dos comitia, que aprova a proposta do magistrado, referendada pelo Senado,
transformava-se em lex e era afixada no Forum em tábuas de madeira ou bronze como
forma de publicidade. A publicação dava início ao seu período de vigência.
Para melhor entender, em Roma, a primeira lei republicana foi a Lei das XII Tábua que
integrava as leis republicanas. Destas leis fazia parte a lex rogata, a lei pela qual os romanos
legislavam.
Para legislar em Roma, era preciso haver iniciativa legislativa, que por sua vez só podia
vir primeiramente dos magistrados (cônsul e pretor). Era assim necessário que os magistrados
apresentassem o texto da lei em praça pública para depois se seguir uma discussão pública
que durava um dia (pôr-do-sol marcava o fim dos trabalhos). Uma vez aprovado o texto da lei,
esta precisava de ser promulgada. A promulgação da lei era feita pelo Senado, pelo qual tinha
de passar antes de ser levada aos comícios.

A lex rogata dividia-se em três partes:


- PRAESCRIPTIO: Apresentação onde se escreviam os elementos identificadores da lei: quem é
o magistrado que vai rogar a lei e qual a assembleia que a aprovou (parte genérica).
- ROGATIO: Texto da lei: a sua parte dispositiva/normativa. Feita pelo magistrado que se dirigia
ao Populus reunido nos comitia.
- SANCTIO: Parte final da lex que estabelece os modos da sua eficiência através de sanções, se
esta houver, para o incumprimento da lei.

4. SENATUSCONSULTOS
O senatusconsultum é de início uma deliberação ou consulta feita ao Senado por um
magistrado, depois de uma deliberação ou decisão do Senado. Não eram deliberações
legislativas mas mesmo assim os magistrados seguiam-no ordinariamente.
Os magistrados da república eram obrigados a ouvir ou consultar o Senado mas não a
seguir a sua deliberação. O senado não exercia assim qualquer decisão legislativa, era um
órgão meramente consultivo e por isso as suas deliberações tinham a natureza de pareceres
ou consultas. A sua abrangência estava limitada à pessoa ou entidade que solicitava o parecer.
A valoração dos senatusconsulto como fonte legislativa resultou da lenta afirmação da
auctoritas patrum do senado. Esta força da autorictas era tal que se criou a ideia que era o
Senado quem verdadeiramente legislava.
Com a queda da República e a partir de Adriano, o Senado deixou de aprovar os
senatusconsultum como força de lei, pois quem passou a aprovar as normas que vigoravam
como lei é o prínceps. A partir de aqui, as deliberações do senado como força de lei eram
designadas de orationes princips (aproximam-se das constituições imperiais; era o discurso do
prínceps ao Senado que era muitas vezes aprovado por unanimidade, pois os senadores
votavam muitas vezes por medo à censura se não o fizessem).
Os senatusconsultum tinham:
- PRAEFATIO: inscrevia-se o nome do magistrado que convocou o Senado e dos senadores que
intervieram na redacção do texto da deliberação, o lugar e a data.
- RELATIO: exposição dos motivos que determinaram o deliberado, o texto da proposta do
magistrado e a resolução que foi votada.

Uma vez registado, o senatusconsultum adquiria força de lei.

5. CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS
As constituições imperiais são leges em que se manifesta directamente a vontade
imperial. É direito criado pelo imperador e torna-se fonte única de direito romano porque
conseguiu a aceitação da comunidade, magistrados e jurisprudentes e concentra nas mãos do
prínceps todos os poderes públicos.
Com o aparecimento das orationes prínceps in senatus, tudo o que o prínceps dita,
torna-se imediatamente numa constituição imperial.
As constituições imperiais tinham três partes:
- INSCRIPTIO: Primeira parte e contém o nome do imperador ou imperadores (autores da
constituição) e da pessoa a quem ela é dirigida.
- CORPUS: Corpo normativo da constituição que detinha o conteúdo material do comando
normativo nela encerrado.
- SUBSCRIPTIO: Parte final da constituição, contém a dará e a indicação do lugar em que foi
escrita (destina-se a deixar claro de quem era a constituição, se do imperador do ocidente ou
oriente.

As constituições imperiais podem ser de quatro tipos:


- EDICTUM: acto normativo produtor de normas de caracter genérico que representa a
transposição para o imperador o direito do magistrado republicano (ius ascendi). Eram actos
que emanavam do imperium do prínceps mas que não detinham inovação legislativa, pois
quando o prínceps colocava regras novas, fazia-o sob recomendação. Expressavam-se como
uma vontade geral e abstracta.
- DECRETUM: decisões judiciais do prínceps com valor preceptivo. São sentenças do imperador
nos processos julgados. Tinham inovações normativas e resultam do poder jurisdicional do
imperador, actuando enquanto juiz. O prínceps passou assim a interferir directamente na
aplicação do direito aos conflitos levados a juízo, fazendo de magistrado e juiz. Expressa-se
como uma vontade individual e concreta. O prínceps tinha assim três características que o
colocavam no centro:
- AVOCAÇÃO: poder do tribunal pelo prínceps, que se destinava a punir
comportamentos censuráveis ou delituosos. Ou seja, o Pretor dirime conflitos mas o
imperador pode “avocar-se” a si (=chamar-se assim) para exercer essa competência.
- RECURSO: poder de o prínceps aplicar uma sentença.
- DELEGAÇÃO: possibilidade de delegar as competências de jurisdição nos seus
funcionários e delegados, dando a comissários seus a resolução de certos casos particulares.
- RESCRIPTUM: respostas dadas pelo imperador por escrito, a oficiais que faziam
questões jurídicas controversas a ele dirigidas, sob a forma de pareceres. Dividem-se em
epistulae (consultas ou perguntas feitas ao imperador por uma entidade oficial) ou
subscriptiones (consultas ou perguntas feitas ao imperador por particulares). O imperador
fazia anotações sobre as perguntas.
- MANDATUM: ordens directamente dadas pelo imperador aos funcionários. Expressa a
vontade do imperador e visava a subordinação administrativa dos funcionários ao imperador,
recorrendo à vinculação hierárquica do modelo organizativo da administração imperial.

4. JURISPRUDÊNCIA
Na actualidade, a jurisprudência são decisões dos tribunais. Na Roma antiga, a
jurisprudência tem um significado diferente do da actualidade, é a prudência própria do
direito, a capacidade de distinguir o justo do injusto. Somos mais prudentes quando temos
esta capacidade de distinção.
Inicialmente, os jurisprudentes em Roma eram os sacerdotes pontífices, pois tinham a
função de interpretar os mores maiorum e ditar o justo e o injusto. A interpretação do ius
civile era assim considerada uma actividade em monopólio exclusivo dos pontífices e situava-
se no âmbito religioso.
A função que antes era dos sacerdotes pontífices passa então para as mãos dos
jurisprudentes. No século III a.C. inicia-se então o processo de racionalização progressiva da
jurisprudência, libertando-se da imposição religiosa e passando agora a estar ao alcance de
qualquer homem que tenha a capacidade de ditar o justo ou injusto, o que a caracteriza num
processo designado como laicização ou secularização da jurisprudência. Este processo passou
por três fases:
- LEI DAS XII Tábuas (publicidade da lei): a promulgação da Lei das XII Tábuas corresponde à
aceitação de que um direito consuetudinário não escrito permitia aos intérpretes resolver
litígios invocando o ius. O monopólio pontifício permaneceu na interpretação dos preceitos da
Lei das XII Tábuas das normas consuetudinárias que ficaram de fora e na formalização dos
actos. A Lei das XII Tábuas torna-se com esta laicização, acessível a todos os cidadãos.

- IUS FLAVIANUM: Em 304 a.C. Cneu Flávio, escriba do prontífice Appius Claudius Caecus que
era cego, publicitou uma colecção de fórmulas processuais das legis actiones, que o sacerdote
pontífice recorria quando queria resolver casos, revelando o segredo dos pontífices. Esta
colecção ficou conhecida como ius flavianum e, quando foi libertado, permitiu a Cneu Flávio
ocupar os cargos de tribuno da plebe e de edil curul. Uma vez magistrado, este publicitou um
calendário religioso que continha os melhores dias para resolver os casos, desvendando assim
a fonte do poder incontestado dos pontífices.

- ENSINO DO DIREITO: o primeiro plebeu a aceder ao cargo de pontifex maximus foi Tibério
Coruncâneo em 252/3 a.C.. Uma vez consciente da importância da transmissão dos
conhecimentos por ele obtidos, começa a ensinar Direito em público. Fá-lo rodeado de
discípulos enquanto responde publicamente às questões que lhe são colocadas na qualidade
de pontifex maximus. Os commentarii pontificum passam assim a ser de livre acesso e todo
aquele que quisesse aprender direito podia fazê-lo desta forma.

Os sacerdotes pontífices são assim substituídos pelos jurisprudentes. A sua actividade


fica então marcada por três momentos:
- RESPONDERE: Actividade principal do prudente na qual os prudentes eram questionados em
público e emitiam a sua opinião ou darem pareceres ou conselhos em casos que envolvessem
a interpretação de normas de ius civile. Ou seja, o prudente partia sempre de um problema
real ou imaginário, e depois analisa os prós e os contras de dar razão a uma parte e a outra, e
no fim emite uma opinião. Estas questões podiam ser feitas por alunos, pretores ou pelo povo
em geral.
- CAVERE: actividade de elaboração de esquemas negociais cuidando do interesse adequado
ou de contractos de ius civile. O prudente dava auxílio às partes na produção dos negócios
jurídicos. Era assim a actividade de redigir formulários para os negócios jurídicos.
- AGERE: actividade desenvolvida na assistência às pessoas que o procuravam sobre a escolha
de via processual mais adequada para prosseguirem com êxito os seus interesses, que era
depois utilizada na defesa do interessado perante o juiz na fase seguinte. Ou seja, o prudente
aconselhava as partes sobre a forma como se devem comportar em juízo, perante o pretor e
depois o iudex.

A jurisprudência é marcada por duas características, a sua gratuidade, pois os


pareceres e conselhos não são remunerados, e a publicidade, poias as respostas eram dadas e
argumentadas publicamente.
Depois de 130 a.C. o jurisprudente tinha o poder de escrever a proposta de fórmula
(na qual o réu pode sugerir alterações), que o pretor vai adoptar directamente. Ou seja, o
pretor vai redigir a fórmula, mas já tem uma proposta pela parte do jurisprudente.

Octávio César Augusto vai colocar em vigor o Ius Publicum Respondere, na qual
entrega a determinados prudentes o poder de emitir publicamente opiniões como se fossem
suas. Este poder era entregue aos prudentes com mais auctoritas e assim acumulava nestes
uma maior importância.
Assim, o prudente, que era totalmente livre, vai começar a procurar cair nas boas
graças do prínceps para lhe ver atribuído este direito. Isto significa por consequência a cada
vez menor dependência dos jurisprudentes.
O prínceps começa desta forma, gradualmente, a lançar o seu poder a todos os pontos
do factor jurídico.
Contudo, quem seguia estas opiniões?
Com a Lei das Citações, Teodésio II diz que se deve seguir as opiniões de Gaio, Ulpiano
e Papirianum. Se estas opiniões divergirem entre si, deve seguir-se a opinião do princpes dos
jurisprudentes.

TÓPICA/ARS INVENIENTI – arte de encontrar argumentos; arte que os prudentes têm de


encontrar argumentos para emitir e fortalecer opiniões. Estes argumentos podem ser jurídicos.
Esta arte faz-se em recurso à retórica (arte da persuasão) e à dialéctica (arte de discursar).

Outra característica da jurisprudência é a actividade de docente pelos prudentes. A


docência do direito iniciou-se como já sabemos em 252 a.C. com Tibério Caruncânio, que
começa uma prática de responder em público às questões colocadas ao colégio pontífice. Esta
actividade era inerente e interna a actividade jurisprudencial, pois ensinar era responder em
público e de forma aberta a questões colocadas aos jurisprudentes.
Para isto, os jurisprudentes utilizavam instituições, manuais que escreviam para os
seus alunos.
O Império Romano cai em 476 e encontrava-se dividido em Império Romano do
Ocidente e Império Romano do Oriente.
O Império Romano do Ocidente cai em 486 e foi um império com muita influência
germânica. Do ponto de vista jurídico, o Direito Romano é mais importante e bem estruturado
do que o direito germânico, o que levou a que os povos dominados influenciassem os povos
dominantes. Contudo vai acontecer o inverso, os povos dominadores a acolher o direito que se
estabelece nos povos que dominam mas o Direito Romano não fica imune ao direito
germânico, e por isso vai-se dar a VULGARIZAÇÃO DO DIREITO ROMANO.

FONTES DE DIREITO DO PERÍODO VISIGOTICO

As fontes visigóticas são fontes que constituem um inestimável repositório do


chamado direito romano vulgar do Ocidente.
No Reino Visigótico surgiram alguns textos legais, alguns completos e com elementos
seguros sobre a autoria e a data, e outros incompletos:

1. BREVIÁRIO DE ALARICO (506)


O Breviário de Alarico, ou Lei Romana dos Visigodos foi sancionado por Alarico II em
506. Pertence à categoria das leis romanas dos bárbaros e consiste numa selecção de fontes
romanas, de “iura” e de “leges”.

2. CÓDIGO REVISTO DE LEOVIGILDO – LEI DE TEUDIS (546)


O Código Revisto de Leovigildo foi promulgado pelo Rei Teudis, no ano de 546, e ficou
conhecido como “Lei de Teudis”. Foi um diploma que se destinou a reprimir abusos cometidos
na cobrança das custas judiciais.
Contudo, o Código Revisto de Leovigildo significa a grande colectânea que se segue
cronologicamente ao Breviário de Alarico.

3. CÓDIGO VISIGÓTICO (versão de Recesvindo,654, e de Ervígio, 681)


A legislação dos monarcas visigodos aplica-se ao conjunto da população.
Chindasvindo (642-653) incrementou esta actividade legislativa ao publicar, pelo
menos, oitenta e nove leis, com as quais introduziu reformas relevantes nos mais variados
sectores da vida jurídica: orgânica do Estado, sistema judiciário, processo, direito privado e
direito penal. Chindasvindo procurava abrir caminho para uma projectada obra codificadora
que substituísse o Código de Leovigildo, contudo isso só foi atingido o tempo do seu filho e
sucessor Recesvindo (649-672).
Com o passar do tempo surgiu o Código Visigótico, que recebe várias designações,
entre elas, a de “Lex Visigothrum Recesvindiana”. O Código Visigótico foi promulgado em 654 e
teve assim várias versões: não só a chamada forma Recesvinda, mas também a forma ervigiana
(com carácter oficial, de 681, devida ao Rei Ervígio ) e a forma vulgata (de iniciativa individual).
A forma vulgata do Código Visigótico é um conjunto de manuscritos de épocas muito
diversas, que vão desde a última fase da dominação visigótica até à Reconquista. São revisões
não oficiais, mas de origem privada, da autoria de juristas e práticos do direito anónimos, que
tomam por base a forma ervigiana, introduzindo-lhe modificações e acrescentos diversos.
O Código Visigótico pode considerar-se um produto do cruzamento de três correntes
jurídicas: romana, germânica e canónica – a corrente jurídica romana foi a que exercer maior
influência.
O Código Visigótico está sistematizado em doze livros, que se subdividem em títulos
integrados por leis. Três quintas partes destas leis são encimadas pelas palavras “antiqua” ou
“antiqua emendata”; as restantes apresentam-se com o nome do monarca que as estabeleceu
ou simplesmente alterou.

4. CÓDIGO DE EURICO
Existiram leis promulgadas pelos monarcas visigodos, logo a seguir à sua instalação na
Gália, às quais se deram o nome de Leis Teodoricianas pois foram atribuídas a Teodorico I e a
Teodorico II. Eram diplomas que disciplinaram vários aspectos privatísticos, com destaque para
a repartição de terras que resultou do acordo de hospitalidade militar entre Visigodos e
Romanos.
O Código Euriciano foi promulgado pelo rei Eurico a 476/476 e constituiu a primeira
colectânea sistemática de direito visigótico. É uma fonte tradicionalmente enquadrada na
categoria das leis dos bárbaros e é a que mais se ocupa do direito privado.

O DIREITO ROMANO JUSTINIANEU DESDE O SÉCULO VI ATÉ AO SÉCULO XI

O movimento da revitalização intensa do direito romano justinianeu iniciou-se em


Itália durante o século XI e desenvolveu-se imediatamente no século a seguir. Foi um marco
relevante na passagem da Alta para a Baixa Idade Média e transformou-se num autêntico
fenómeno dos Estados da Europa ocidental, recebendo assim o nome de renascimento do
direito romano.
Quanto ao Império Romano do Oriente, este tinha capital em Bizâncio e permaneceu
de pé até ao ano de 1473 (século XV). No Oriente, as fontes justinianas permaneceram até à
queda de Constantinopla (1453) e, após a morte de Justiniano, a sua obra legislativa tornou-se
largamente objecto de paráfrases, traduções para grego, resumos, etc..
Contudo, no Ocidente, a vigência das colectâneas justinianeias foi algo efémera. As
fontes justinianeias chegaram ao mundo ocidental por volta do século VI, e uma vez
conhecidas, continuaram a ser conservadas e até analisadas, designadamente nos centros de
cultura eclesiástica.

PRÉ-RENASCIMENTO DO DIREITO ROMANO

Enquanto no Ocidente o império cai devido à vulgarização do Direito Romano, no


Oriente dá-se um processo ascendente. O direito no Império Romano do Oriente vai ser
influenciado pelo Direito grego, criando por isso um efeito não decadente mas sim de
esplendor.
O renascimento do direito romano apenas surgiu no século XII, com a chamada Escola
e Bolonha ou dos Glosadores, que assentava na descoberta do Digesto (que foi descoberto em
1135, mas que já era conhecido e citado antes do século XII).
Os motivos para o incremento do estudo do direito romano justinianeu foram de
várias ordens, tanto política como religiosa, cultural ou até mesmo económica (1º MOMENTO
DE RECUPERAÇÃO DO DIREITO ROMANO).
Quanto à razão económica, esta está ligada com o florescimento económico. O
florescimento económico remete às trocas comerciais, que por sua vez são mais fáceis se não
existirem barreiras, que podem assumir forma jurídica (barreiras jurídicas ao comércio). É
importante um direito que não complique as relações entre comerciantes do norte e do sul da
Europa, relativamente à questão sobre qual o direito (de que nação) que se vai aplicar. Para
isto era necessário um direito supranacional, que regulasse estas relações.
Relativamente às razões políticas, o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico
queria ter poder nos outros reis e príncipes da Europa, e por isso cobrava dinheiro a estes para
lhes dizer qual o direito que tinham de aplicar (vai aplicar o melhor do Direito Romano).
Já no que toca às razoes religiosas, havia uma necessidade para que a Igreja
respeitasse o direito romano. A Igreja queria que houvesse um direito que vigorasse ao nível
internacional e que estivesse de acordo com os príncipes da Igreja.
Antes do surgimento da Escola de Bolonha, houve na Itália vários centros onde se
conhecia o direito justinianeu e usavam-se também esquemas didácticos depois adoptados
pelos Glosadores.

RENASCIMENTO PROPRIAMENTE DITO DO DIREITO ROMANO COM A ESCOLA DE


BOLONHA OU DOS GLOSADORES

ESCOLA DE BOLONHA
O renascimento do direito romano ou, se assim quisermos dizer, o estudo sistemático
e a divulgação da obra jurídica justiniana iniciou-se no século XII, com a Escola de Bolonha. A
Escola de Bolonha tinha como objectivo o estudo do direito (que se fez através do estudo do
Corpus Iuris Civilis), e este fazia-se por sua vez através de glosas.
Na base desta escola encontramos Irnério, que não só conferiu ao ensino do direito a
autonomia antes denegada dentro do conjunto das disciplinas que compunham o saber
medieval, com também estudou os textos justinianeus numa versão completa e originária.
Irnério trouxe para essa obra os seus conhecimentos dialécticos e gramáticos da sua formação
de mestre em artes liberais. Irnério ia formando discípulos, entre os quais se destacam os
“quatro doutores”, Bulgarus, Martinus, Hugo e Jacobus. Mais tarde sobressaem Placentino e
Azo, e depois Acúrsio, que elaborou uma colectânea em que sistematiza a obra dos autores
precedentes.
A Escola de Bolonha recebe também as designações de Escola Irneriana e de Escola
dos Glosadores.

GLOSAS
O principal instrumento de trabalho dos juristas pertencentes a esta escola foi então a
glosa. A glosa é um processo de exegese textual já antes utilizado em domínios culturais
estranhos ao direito. Cifrava-se num pequeno esclarecimento imediato, numa simples
palavranou expressão com o objectivo de tornar inteligível algum passo considerado obscuro
ou de interpretação duvidosa. Podiam ser de vários tipos
 GLOSAS INTERLINEARES: Inseriam-se entre as linhas dos manuscritos que continham
as normas analisadas.
 CLOSAS MARGINAIS: Referiam-se não apenas a um trecho ou a um preceito mas sim a
todo um título, inserindo-se assim na margem do texto.
 REGULAE IURIS: Definições que enunciavam de forma sintética princípios ou dogmas
jurídicos fundamentais.
 CASUS: Meras exemplificações de hipóteses concretas a que as normas se aplicavam, e
mais tarde transformaram-se em exposições interpretativas.
 DISSENSIONES DOMINORUM: Davam a conhecer os entendimentos diversos de
autores consagrados sobre problemas jurídicos relevantes.
 QUAESTIONES: Enunciavam os textos e as razoes favoráveis e desfavoráveis às
soluções em confronto, concluindo-se pela interpretação própria.
 DISTINCTIONES: Traduziam-se numa análise dos vários aspectos em que o tema
jurídico considerado podia ser decomposto.
 SUMMAE: Os Glosadores mais famosos, filósofos e teólogos, abordavam de maneira
completa e sistemática certos temas.

Os glosadores focaram-se então no estudo do Corpus Iuris Civilis, e por isso,


estabeleceram uma divisão das várias partes do mesmo, diferente da originária, pois as
colectâneas justinianeias não foram conhecidas ao mesmo tempo e essas tinham
características e amplitude muito diversas, tornando-se assim necessário dividi-las de modo a
facilitar o seu ensino em cadeiras autónomas.

CORPUS IURIS CIVILIS


O Corpus Iuris Civilis foi criado no Império Romando do Oriente, no século VI a.C, a
partir do imperador Justiniano. O imperador Justiniano queria reunificar o império romano, e
procurou fazê-lo levando a cabo a sua campanha das armas e estendendo a sua influência pelo
direito.
É a compilação do melhor Direito da Época Clássoca Romana; é o conjunto de normas
do Ius Civile (direito dos cidadãos romanos).

1. CODEX (259) – O códex foi a primeira obra de integração do Direito Romano, e


constitui por isso constituições imperiais/leis. No ano de 533 foi objecto de revisão,
denominando-se Código de 2ª Leitura.
2. DIGESTO/PANDECTAS – O digesto foi criado por influência grega e é a segunda obra
que integra o Direito Romano. É um conjunto de opiniões jurídicas dos juristas sobre
casos da vida, e está distribuído em 50 livros (nos quais se destacam o digesto velho,
digesto esforçado, digesto novo)
3. INSTITUTIONES – As institutiones são pequenos livros que eram seguidos no ensino.
4. NOVELAS – As novelas são de natureza jurídica legal. Conforme continuou a legislar,
Justiniano encontrou legislações de imperados anteriores, e também suas, que por sua
vez não estavam integradas no códex mas que eram consideradas constituições
imperiais.
Os Glosadores tinham um respeito quase sagrado pelo Corpus Iuris Civilis. Estudaram-
no com uma finalidade essencialmente prática, a de esclarecer as respectivas normas de forma
a poderem aplicá-las às situações concretas. Encaravam o Corpus Iuris Civilis como uma
espécie de texto revelado e intangível. O papel do jurista era assim reduzir-se ao
esclarecimento de tais preceitos com vista à solução das hipóteses concretas da vida.

MAGNA GLOSA
A Escola dos Glosadores já não assim estudava directamente o texto da lei justinianeia,
mas a glosa respectiva. Faziam-se glosas de glosas, ou seja, cada mestre acrescentava a sua
própria glosa às anteriores, identificando-a com uma sigla.
Acúrsio ordenou este enorme material, procedendo a uma selecção das glosas
anteriores relativas a todas as partes do Corpus Iuris Civilis, conciliando ou apresentando
criticamente as opiniões discordantes mais credenciadas. Surge assim a Magna Glosa, que
abrange no total 96 940 glosas.
Podemos então definir a Magna Glosa como um conjunto de todas as glosas no Corpus
Iuris Civilis (recolhidas entre 1220 e 1234), o que originou o aparecimento da escola de pós-
acurcianos, que estudavam a Magna Glosa.
Pode-se considerar assim Acúrsio como um dos maiores expoentes da Escola dos
Glosadores, justificando-se assim a enorme difusão que a sua obra alcançou.
A partir deste momento, as cópias do Corpus Iuris Civilis apresentam-se
acompanhadas da glosa acursianas, e a Glosa de Acúrsio vai ser aplicada nos tribunais dos
países do Ocidente europeu ao lado das disposições do Corpus Iuris Civilis.

A Escola de Bolonha e as que lhe seguiram, foi bastante concorrida ao nível de


estudantes de múltiplas proveniências. Bolonha tronou-se em poucas décadas o centro para
onde convergia um número avultado de estudantes, que viriam a agrupar-se em nações.
Rapidamente se constituíram treze nações de países situados para além dos Alpes, que se
congregavam numa Universidade.
Estes estudantes eram pessoas já com alguma formação jurídica que procuravam junto
dos mestres famosos uma especialização que lhes assegurava, quando de volta às terras de
origem, posições destacadas no campo do ensino ou da vida pública.

ESCOLA DOS COMENTADORES


Durante o século XIV desenvolveu-se uma nova metodologia jurídica, que corresponde
à Escola dos Comentadores. A Escola dos Comentadores surgiu porque os glosadores que
apareciam no século XI/XII não se deparavam com reis a legislar, e quando os comentadores
aparecem já se deparam com essa realidade. Desse modo, vão ter de decifrar o Corpus Iuris
Civilis, mas com o direito local dos reis.
O estudo por recurso às glosas vai ser objecto de crítica por Jack Revinim e Pierre Belle,
que voltam a olhar para o Corpus Iuris Civils, fundando desse modo as Escolas dos
Comentadores.
O nome deriva do facto de os seus representantes terem utilizado o comentário como
instrumento de trabalho característico, à semelhança do que ocorreu com os Glosadores a
respeito da glosa. Os comentadores explicavam juridicamente o conteúdo das normas e não a
sua aplicação.
Há dois aspectos básicos que explicam o facto de ter surgido uma mudança ou uma
evolução do pensamento jurídico.
A primeira foi a decadência da Escola dos Glosadores, pois o seu método típico
revelou-se insatisfatório para transformar o sistema romano num direito actualizado, capaz de
corresponder às exigências da época.
O segundo foi a utilização do sistema aristotélico. O método dos Comentadores
caracteriza-se por uma aberta utilização da dialéctica aristotélica no estudo do direito.

A atitude dos Comentadores foi de grande pragmatismo. Voltaram-se para uma


dogmática dirigida à solução dos problemas concretos. Os comentadores despenderam-se da
colectânea justinianeia.
Os comentadores, em vez de estudarem os próprios textos romanos, aplicaram-se de
preferência às glosas, e depois aos comentários sucessivos que sobre elas iam sendo
elaborados. Ao lado de tais elementos, socorreram-se de outras fontes, designadamente dos
costumes locais, dos direitos estatuários e do direito canónico. Chegaram assim à criação de
novos institutos e de novos ramos do direito.
Bártolo (1314/1357) foi um o comentador mais famoso, quer pela sua extensa
produtividade, quer pela influencia que exerceu. É por isso o jurisconsulto que simboliza o
século XIV.

O DIREITO CANÓNICO

O Direito Canónico teve um significado muito valioso no quadro histórico do sistema


jurídico português, que se prolonga até aos tempos modernos. Nesta época, o direito canónico
disciplinava múltiplos aspectos das relações sociais que se encontram hoje confiados à
legislação estadual.
O Direito Canónico (ou Direito Eclesiástico) é o conjunto de normas jurídicas que
disciplinam a matéria de competência da Igreja Católica. O Direito Canónico é um direito,
estabelecido pela autoridade eclesiástica, que influência o direito romano; é uma via de
difusão do Direito Romano no Ocidente. Na idade média, Deus é a entidade em nome de quem
tudo se faz. Havia reinos que detinham o seu próprio direito, mas havia sempre um direito
supra estatal.

FONTES DO DIREITO CANÓNICO


1. SAGRADAS ESCRITURAS: Bíblia (Antigo e Novo Testamento).
2. TRADIÇAO: Conhecimento que passa de geração em geração (é por via da tradição que
o conhecimento vai passando) e pode dar origem ao costume. A Igreja apenas propõe
ou interpreta declarativamente.
3. COSTUME: O costume tinha de ser antigo (tinha de ter 10 ou 15 anos de escrita),
racional, conforme a fé e conforme a racionalidade (tinha de preencher estes
requisitos para ser considerado costume).
4. CANONE: Reuniões à escala geral
5. CONCORDIAS VS CONCORDATA:
a. CONCORDIAS: Acordo entre o Rei e o Clero desse mesmo país.
b. CONCORDATA: Acordo entre estados, entre o vaticano com um estado
nacional.

ENTIDADES ECLESIÁSTICAS
1. PAPA: O papa podia legislar sozinho ou com o apoio dos conselhos dos cardeais, e
podia criar dois tipos de legislação:
a. DECRETO OU CARTA DECRETAL: O Papa legisla por iniciativa própria sem ser
consultado por alguém – inexistência de prévia consulta. As normas jurídico-
canónicas são da directa iniciativa do Papa.
b. DECRETAL: Legisla com a consulta de alguém – existência de prévia consulta.
2. CONCÍLIO: São reuniões do membro do clero, eminentemente eclesiásticos.

CORPUS IURIS CANONICO


O período do direito canónico antigo decorre desde o seu aparecimento até cerca de
meados do século XII. Deu-se a criação de preceitos jurídico-canónicos, convocados a
disciplinar situações cada vez mais vastas e complexas. Sentiu-se por isso a necessidade de
reunir e sistematizar essas normas.
Face ao aparecimento de novas colectâneas de direito canónico não foi estranho a
tendência para a uniformização e centralização deste sistema jurídico. Pelos fins do século XI
iniciou-se um esforço pontifício de unificação normativa da Igreja, e que atribuiu
essencialmente à Santa Sé a criação dos preceitos jurídico-canónico.

O Corpus Iuris Canónico contém as colectâneas de direito canónico, abaixo referidas:


1. DECRETOS DE GLACIANO (1140) – Significa um marco importante na evolução do
direito canónico. Deveu-se a João Graciano, monge e professor em Bolonha, que
procurou fazer uma síntese e compilação dos princípios e normas vigentes.
2. DECRETAIS DE GREGÓRIO IX OU DECRETAIS (5 livros) – São uma colectânea de
normas pontifícias, que S. Raimundo de Peñafort organizou face à solicitação de
Gregório IX. Foram promulgados no ano de 1234.
3. LIVRO SEXTO/ SEXTO DE BONIFÁCIO – Bonifácio VIII teve, em 1298, a iniciativa de
uma colectânea que abrangesse o conjunto dessas normas canónicas aparecidas
após as Decretais.
4. 7º/CLEMENTINAS (1234) – Papa Clementino V, após ao Concílio de Viena (em
França, a 1311/1312), mandou recolher e determinou a compilação dos cânones
dele resultantes, acrescentados de decretais próprias.
5. ESTRAVAGANTES COMUNS/ EXTRAVAGANTES DE JOÃO XXII – a palavra
“extravagantes” indica que são textos que se encontram fora das colecções
autênticas.

HUMANISMO JURÍDICO
No século XV deu-se a queda do Império Romano do Oriente. Nesta época, os juristas
trabalhavam o Corpus Iuris Civile, e o sistema jurídico é de base humanista (3º MOMENTO DE
RECUPERAÇÃO DO DIREITO ROMANO).
O Direito Romano influencia o nosso direito porque houve momentos de
recuperação/renascimento:
- 1º MOMENTO: Idade Média, quando Justiniano manda colidir o digesto.
- 2º MOMENTO: Renascimento, crítica humanista.

Os humanistas verificaram que os glosadores tinham a necessidade de fazer glosas


porque não percebiam bem o latim. Desse modo, vão procurar e descobrir a essência dos
textos. Contudo, o direito vai-se fazendo e melhorando, complementado com as relações
jurídicas e, tal como os comentadores, os humanistas não tinham prática.

No renascimento, o Direito Romano é estudado por via indirecta, com base nas
opiniões, e os humanistas vêm dizer aquilo que os da Idade Média disseram, pois achavam que
era necessário voltar às origens, recuperar o saber das escolas que estudavam o Direito
Romano.

Relativamente ao humanismo renascentista inclui-se uma natural revisão crítica da


ciência do direito. O seu aparecimento deveu-se a dois factores essenciais, o progresso do
humanismo renascentista e a decadência da obra dos Comentadores na segunda metade do
século XV.
O humanismo jurídico quinhentista surgiu de início quando se começou a encarar o
direito romano como uma das várias manifestações da cultura clássica. Foram os juristas desta
escola os iniciadores do estudo crítico das fontes romanas, os primeiros que procuraram
detectar as interpolações nos textos justinianeus.
O humanismo jurídico começou a afirmar-se ano nível europeu com Alciato, Budé e
Zasio, e deve encarar-se num horizonte mais rasgado, abrangendo o conjunto das correntes
espirituais e intelectuais, sobretudo os impulsos racionalistas e individualistas, que definem
esse período.
Ou seja, no século XVIII, surge o racionalismo no centro deste estudo. O século XVII é
um século que aparentava ser um século de demolição, o século da razão. É um século
marcado por afirmação de Grócio: “mesmo que Deus não existisse, dois mais dois não deixaria
de ser quatro”.

A Escola Humanista surgiu como uma primeira correte filológico-crítica italiana, depois
continuada e desenvolvida em França. Foi em França, na Universidade de Bourges onde Alciato
inaugurou o ensino do direito romano segundo a nova metodologia, que o humanismo jurídico
conseguiu incremento decisivo. Mais tarde deu-se a irradiação europeia, mais ou menos bem-
sucedida, destacando-se a tendência que se caracteriza pela autonomia interpretativa do
jurista em face das normas legais.

A recuperação do direito romano no século XVI vai-se fazer na Escola Humanista, que
queria recuperar o Direito antigo.
DIREITO NATURAL
Durante os séculos XVI e XVII, a Europa conheceu duas linhas de pensamento, que se
afirmaram nas áreas da filosofia jurídica e política e no respeito do direito internacional
público.
O Direito Natural é transformado por este autor, e podemos por isso distinguir um dois
momentos do Direito Natural:
- ANTES DE GRÓCIO: A lei humana tinha de se respeitar e era imposta por Deus.
- DEPOIS DE GRÓCIO: O Direito Natural passa a ser produto da razão e associa-se a ele um
Código e também o positivismo.

Hugo Grócio (1583/1645) foi considerado fundador do jusnaturalismo moderno, e


representou como que a ponte de passagem das correspondentes concepções teológicas e
filosóficas para o subsequente jusnaturalismo racionalista.
O novo sistema de direito natural seria verdadeiramente construído pelos autores que
desenvolveram os postulados inseridos na obra de Grócio.
Com os aludidos autores, embora oferecendo contributos diferenciados, a
compreensão do direito natural desvincula-se de pressupostos metafísico-religiosos. Com isto
chega-se ao direito natural racionalizado. Considera-se que as normas que disciplinam as
relações entre os homens e comuns a todos eles são imanentes à sua própria natureza e
livremente encontradas pela razão, sem necessidade de recurso a postulados teológicos.
O direito natural racionalista teve uma larga influência directa sobre a ciência jurídica
positiva. Deve salientar-se que se organizaram minuciosas exposições sistemáticas do direito
natural, conseguidas por dedução exaustiva de axiomas básicos.

Isto leva então à conclusão de que o direito tem de ser sempre racional e por isso a
ideia é a de o passar a escrito (código moderno), para que o direito seja uniforme. Se o direito
está escrito em códigos, o resultado vai ser:
- 1º POSITIVISMO: Trabalho do jurista vai ser o de interpretar a lei – HERMENEUTICA JURÍDICA
(=interpretação).

A hermenêutica jurídica dividiu-se em vários momentos. O primeiro foi o


PANDACTISMO OU JURISPRUDÊNCIA DE CONCEITOS: A lei está condensada em códigos. Alguns
autores do século XVIII (Puchta, Savjeny, Yaning, da escola da hermenêutica) diziam que
devemos olhar e interpretar a lei condensada em código e temos de encontrar nela o conceito
que ela encerra – o direito é científico.

USO MODERNO
O “usus modernus pandectarum” surgiu na Alemanha e passou daí para outros países
e é uma nova metodologia do estudo e aplicação do direito romano. Significa um ciclo de
passagem da Escola dos Comentadores para a Escola Histórica.
O “usus modernus” traduz o reflexo da penetração das ideias jusracionalistas no
campo do direito. Esta influência fez-se sentir em dois planos:
1. As ideias jusracionalistas só indirectamente se repercutiram na vida jurídica. O
fenómeno constitui um esforço de adaptação do direito romano, não ocorrendo
qualquer alteração no estilo de exposição e no método herdados dos Comentadores.
2. A aferição da actualidade dos preceitos romanísticos beneficiou do refinamento
teórico da referência ao direito natural racionalista. Tinha-se em conta o próprio
direito pátrio, que integrava o ordenamento vigente ao lado dessas normas
susceptíveis de práticas actualizadas.

Ou seja, no século XVIII, o direito romano foi recuperado pelo “usus modernus
pandectarum”, no qual os autores olharam para o Direito Romano antigo para fazerem uma
crítica sobre o que tinham de recuperar e o que podiam descartar.

PENSAMENTO JURÍDICO EUROPEU

POSITIVISMO JURÍDICO
O positivismo é aquilo que está posta igual à lei (o jurista deve fazer a hermenêutica).
O positivismo jurídico destacou-se no século XIX, e os seus dogmas afiguram-se muito
precisos. O direito identifica-se com a lei, a qual materializa ou positiva o direito ideal de
inspiração racionalista. A ordem jurídica constituiu um todo acabado, e a sua plenitude atinge
o momento definitivo num conjunto de Códigos modernos, sistemáticos, completos.
A expressão exacta do positivismo jurídico é a Escola da Exegese, de raiz francesa, que
surge ligada ao movimento codificador e se manterá por todo o século XIX. Dominou a ciência
do direito da maioria dos países da Europa continental.
Os autores desta corrente encararam a lei como manifestação da vontade soberana, e
por isso devia-se interpretá-la segundo um método lógico-gramatical.

No século XIX viu-se nascer a jurisprudência dos conceitos. A jurisprudência dos


conceitos consistia em recuperar o direito romano para recuperar o digesto (que também
pode ser mencionado através da palavra grega “pandectas”) e identificar a partir daí uma série
de conceitos (encontrados no digesto) e criar assim uma série de disposições.

No direito falta então recuperar a criatividade. O jurista tem de realizar justiça.

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