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13/11/2023, 17:21 Direito Romano: Aspectos mais importantes durante a Realeza, a República e o Império - Artigo de Direito Civil

Artigos

Direito Romano: Aspectos mais


importantes durante a Realeza, a
República e o Império
Breve análise histórico-jurídica da civilização Romana em seus
diversos períodos, com o intuito de demonstrar a importância
do seu estudo para a melhor compreensão dos institutos
jurídicos atuais.
George Magalhães Rodrigues Direito Civil 31/03/2004

C ada vez menos presente dentro das grades curriculares das diversas
Faculdades de Direito existentes e espalhadas atualmente pelo país, o
Direito Romano, que atravessou séculos até chegar aos tempos atuais
como primeira fonte do Direito dentro do mundo ocidental,
especialmente no que tange à matéria cível, é de indiscutível
importância para que possamos melhor compreender os institutos
jurídicos atuais, muitos dos quais brotaram da época Pretoriana, com
suas devidas adaptações e adequações às necessidades do mundo
atual.

Isto posto, torna-se necessário esclarecer que o presente trabalho que


se segue procura, a partir de uma breve análise sócio-cultural e
jurídica da sociedade romana, enfocar o nascimento das relações
jurídicas, que à princípio eram muito mais específicas, regendo
determinada situação de direito já existente, para aos poucos
começar a ganhar um caráter geral, regendo situações generalizadas,
o que conseqüentemente gerou uma maior abrangência da norma
jurídica. Estudar os institutos jurídicos atuais fazendo uma prévia
análise do Direito Pretoriano proporciona ao acadêmico uma visão
geral do mundo jurídico, ao mesmo passo em que o estudante passa
a compreender, e não apenas decorar, inúmeros conceitos derivados
do latim, língua oficial da civilização romana.

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Para fins didáticos, dividiremos em três partes o presente trabalho: O


Direito Romano na Realeza, O Direito Romano na República e o Direito
Romano no Império. Obedecendo à ordem cronológica dos fatos,
passaremos a fazer breves comentários sobre cada uma das fases da
História Romana na Antigüidade, para que possamos, ao final, ter
uma visão superficial, mas suficiente, da importância de se estudar o
Direito Romano, disciplina esta cada vez mais suprimida das
Faculdades de Direito.

O DIREITO ROMANO NA REALEZA

Trata-se do período histórico em que Roma foi governada pelos reis,


compreendendo uma faixa de aproximadamente 250 anos, segundo
os cálculos de VARRÂO, desde a fundação de Roma, em 753 a.C., até o
desaparecimento do trono, com Tarquínio, o Soberbo, em 510 a.C.

Havia duas classes bem distintas e opostas entre os habitantes da


cidade de Roma: os patrícios e os plebeus. Os primeiros, homens
livres, descendentes de homens livres, agrupados em clãs familiares
patriarcais, que recebiam o nome de gentes, formavam a classe
detentora do poder e privilegiada. Os plebeus, por sua vez, não faziam
parte das gentes, estando, no entanto, sob a proteção do rei. Até o
reinado de Sérvio Túlio, os plebeus não faziam parte da organização
política de Roma.

Durante a Realeza, o Poder Público em Roma era composto por três


elementos: o Rei (rex), o Senado (senatus) e o Povo (populus
romanus), este último, como acima mencionado, constituído apenas
por patrícios. Enquanto o rei, indicado por seu antecessor ou por um
senador, era detentor de um poder absoluto, ou imperium, com
atribuições políticas, militares e religiosas, sendo ao mesmo tempo
chefe de governo e de Estado, o Senado era um órgão de assessoria
do rei, com função predominantemente consultiva. Era, pois, o
Senado detentor da auctoritas, sendo ouvido pelo rei nos grandes
negócios do Estado.
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O povo romano (somente patrícios, inicialmente) reunia-se em


assembléias, que recebiam o nome de comícios curiatos, com o
objetivo de discutir e votar as propostas de lei, sempre de iniciativa do
rei. A unidade de voto recebia a denominação de cúria. A lei, assim
votada e aprovada, recebia o nome de leges curiatae. No entanto,
com as reformas empreendidas pelo rei Sérvio Túlio, a plebe foi
favorecida, quando a riqueza de cada um, e não mais apenas as suas
origens, passou a ser base para a distinção entre as pessoas. Com
isso, ganhavam o direito de voto os plebeus contribuintes, sendo por
estes entendidos aqueles que dispunham de meios para pagar
impostos e que agora tinham direito de prestar serviço militar. Estes
plebeus contribuintes votavam nos comícios centuriatos, sendo a
unidade de voto a centúria. Ao mesmo tempo, adquiriam os plebeus o
direito de praticar atividade comercial, o que favorecia,
conseqüentemente, o contato com outros povos e outras culturas,
culturas estas que mais tarde viriam a ser incorporados pelo Império
Romano, ao mesmo tempo em que ganhava o povo romano poder
econômico, passo fundamental para se alcançar o poder político.

São duas as principais fontes do Direito Romano na Realeza: o


costume e a lei. O costume, ou jus non scriptum, uso repetido e
prolongado da norma jurídica tradicional não proclamada pelo Poder
Legislativo, é a principal delas. A lei, de menor importância neste
período, nascia com a proposta do rei ao povo, que, reunido em
comícios curiatos ou centuriatos, aceitavam ou rejeitavam a iniciativa
do rei. Se aceita, a regra de direito, depois de ratificada pelo Senado,
tornava-se obrigatória. Vale ainda ressaltar que as leis, durante este
período, eram particulares, e não gerais, regendo verdadeiros
contratos entre patres da cidade.

O DIREITO ROMANO NA REPÚBLICA

Abolida a Realeza em Roma, foi implantada a República, advinda de


uma revolução chefiada por patrícios e militares, e que se prolongou
de 510 ate 27 a.C. Caracterizava-se por ser uma República
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Aristocrática, onde a administração se subdividia em várias


magistraturas.

O poder consular, ou dos cônsules, substitui o rei, enquanto


detentores do imperium. Encarnavam a suprema magistratura. Estes
cônsules eram eleitos em número de dois para um período de um
ano, cada um deles governando alternadamente um mês cada. Assim,
enquanto um governava, o outro fiscalizava, tendo contra o primeiro o
direito de veto, ou intercessio, em caso de discordância. No entanto,
o grande desenvolvimento da população romana fez com que as
funções consulares se repartissem por outras pessoas. Foi assim que
surgiram cargos como questores (responsáveis pela administração
das finanças), censores (encarregados de promover o recenseamento
e de fiscalizar os costumes), pretores (importantes magistrados para o
Direito. Estavam encarregados da administração da justiça), edis curis
(cuidavam da fiscalização do comércio e do policiamento da cidade),
governadores das províncias, ou procônsules (encarregados de
distribuir a justiça).

Além dos cônsules, a organização política de Roma na República ainda


era composta pelo Senado e pelo povo. O Senado, nesta época, era
um órgão consultivo e legislativo composto por 300 patres,
nomeados pelos cônsules. Os atos oriundos do Senado eram os
senatusconsultus.

O povo (populus romanus), por sua vez, agora era composto por
patrícios e plebeus, que reuniam-se em comícios (comícios curiatos,
comícios centuriatos e comícios tributos) para votar. A plebe, cuja
maior conquista na época foi a criação do tribuno da plebe
(magistrados plebeus invioláveis e sagrados, com direito de veto –
intercessio – contra decisões a serem tomadas), também se reunia
sozinha no concilia plebis, onde se votavam os plebiscitos.

As fontes do Direito Romano na República são as seguintes: costume,


lei, plebiscito, interpretação dos prudentes e os editos dos
magistrados. O costume, apesar de conservar extrema importância na
sociedade romana, tornava-se, pela incerteza a ele inerente,
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importante arma de que dispunham os patrícios contra os direitos da


plebe.

A lei, por sua vez, é a segunda fonte de Direito Romano na República.


É redigida, apesar de muita resistência por parte dos patrícios e do
Senado, a Lei das XII Tábuas, cuja importância é incontestável, sendo
considerada pelos próprios romanos como a fonte de todo o direito
público e privado. O cunho de romanidade presente em suas
disposições garantiu-lhe imediata aceitação por parte de todos,
passando a reger as relações jurídicas do povo romano. Mais tarde,
numerosas outras leis surgiram também com o intuito de reger as
relações dos povos de Roma e dos territórios submetidos, como a
leges rogatae e a leges datae.

O plebiscito é aquilo que a plebe deliberava por proposta de um


magistrado plebeu, aplicando-se, a princípio, unicamente à plebe,
adquirindo, a partir da Lei Hortênsia, valor de lei.

Os prudentes, ou jurisprudentes,são jurisconsultos encarregados de


adaptar os textos legais às mudanças do direito vivo, preenchendo,
assim, as lacunas deixadas pelas leis. A interpretação dos prudentes
corresponde ao que atualmente chamamos de doutrina, diferindo,
portanto, do que atualmente entendemos por jurisprudência
(decisões repetidas dos tribunais). Tais pareceres, ou seja, a
interpretação dos prudentes, passaram a influir na formação do
direito.

Por fim, são também fontes do direito romano os editos dos


magistrados, conjunto de declarações (edicta) destes, em que
expunham aos administrados os projetos que pretendiam
desenvolver. Para o Direito Romano, assumem maior relevância os
editos dos pretores, e, em especial, os editos urbanos. O pretor, como
magistrado que o era, era detentor do poder de fazer editos,
contribuindo assim para o florescimento, em oposição ao jus civile
(formalista e rigoroso), do jus honorarium, mais humano, pois com
ele se fazia uso da equidade, instrumento através do qual o pretor
adequava a justiça ao caso concreto, abrandando-se a impessoalidade
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do caso concreto.

O DIREITO ROMANO NO ALTO IMPÉRIO

Também conhecido como principado, ou diarquia, é um período de


transição entre a República e o Dominato (ou Baixo Império),
estendendo-se de 27 a.C. a 284 d.C.

Aqui, o príncipe ou imperador congrega poderes quase ilimitados,


sendo o chefe supremo das forças armadas. A sua autoridade é
máxima, e o seu poder é partilhado com o Senado. O poder judiciário,
portanto, é repartido entre o príncipe e o Senado. As magistraturas,
de início, continuavam a funcionar normalmente.

Dado o seu caráter de transição, numerosas são as fontes de direito


romano durante esta fase. Somando-se às fontes da República
(costumes, leis, editos dos magistrados, senatusconsultos),
acrescentam-se as constituições imperiais e as respostas dos
jurisconsultos.

O costume ainda nesta época desempenha papel importante


enquanto fonte de direito. Quanto às leis, adquirem maior
importância as leges datae, medidas tomadas em nome do povo pelo
imperador, correspondendo aos nossos atuais regulamentos
administrativos. Os editos dos magistrados perdem muita importância
neste período, tendo o novo regime praticamente tirado de fato a
independência e o espírito de iniciativa dos pretores, fazendo com
que estes aos poucos passassem a apenas reproduzir os editos de
seus antecessores. Os senatoconsultos são medidas de ordem
legislativa que emanam do Senado. Durante o Alto Império, o
senatoconsulto é feito a pedido do príncipe.

As constituições imperiais eram medidas de ordem legislativa


promulgadas pelo imperador e elaboradas pelo consilium principis,
colégio constituído pelos mais importantes jurisconsultos da época.
Gradualmente, esta fonte vai adquirindo maior importância até
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chegar a constituir a fonte única de direito romano durante o Baixo


Império. Ainda como fonte do direito romano no Alto Império, as
respostas dos jurisconsultos são as sentenças e opiniões feitas por
quem fixa o direito, mas é somente a partir de Adriano que tais
respostas passaram a ganhar força de lei. Em havendo divergência
entre os pareceres, ao juiz era lícito seguir a opinião que a ele
parecesse melhor, o que se aproxima, desta forma, da utilização do
instituto que hoje conhecemos como eqüidade.

O DIREITO ROMANO NO BAIXO IMPÉRIO

O Baixo Império, também conhecido como Dominato, estende-se de


284 d.C. a 565 d.C., e caracteriza-se pelo poder supremo do
imperador, que, ao assumir atribuições dos outros órgãos
constitucionais, torna-se monarca absoluto, concentrando todos os
poderes em suas mãos. Durante este período, o Império Romano
encontrava-se subdivido em Império Romano do Ocidente e Império
Romano do Oriente, sendo cada um desses blocos entregue a um
imperador.

As constituições imperiais, ou leges,,são a única fonte do direito


romano neste período. A maior parte delas tem forma de editos. As
codificações, ou compilações, que aqui surgem podem ter caráter
oficial ou particular, conforme sejam elaboradas por iniciativa de
imperadores ou por iniciativa privada. A importância de Justiniano é
tamanha que podemos dividir as compilações existentes neste
período como anteriores, posteriores ou da época de Justiniano.

Ocorre, no entanto, que a maior contribuição deste período e,


certamente, um dos maiores legados deixados pela civilização romana
corresponde ao Corpus Juris Civilis, obra esta que reúne o direito
romano propriamente dito. O direito de Justiniano é uma obra que
reúne em um só corpo numerosos textos de lei das épocas anteriores,
assim como de sua época também, tendo tido vigência em todo o
Império Romano, daí a sua incontestável importância não apenas para
a época, mas também para a posterioridade, pois é o Direito Romano,
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cujos principais institutos encontram-se condensados no Corpus Juris


Civilis, que constitui a raiz a partir da qual brotaram-se os principais
institutos jurídicos ocidentais dos tempos atuais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRETELLA JR., José. Curso de Direito Romano. 8ª edição, Rio de


Janeiro, Forense, 1983.

MOURA, Paulo César Cursino de. Manual de Direito Romano. 1ª


edição, Rio de Janeiro, Forense, 1998.

PEIXOTO, José Carlos de Matos. Curso de Direito Romano. Tomo I, 3ª


edição, Rio de Janeiro, Haddad Editores, 1955.

TABOSA, Agerson. Direito Romano. Volume Único. Fortaleza,


Imprensa Universitária, 1999.

Sobre o(a) autor(a)


George Magalhães Rodrigues
Estudante de Direito

O conteúdo deste artigo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a


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