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FONTES DO IUS ROMANUM

IUS ROMANUM: forma um sistema fechado, próprio só dos quirites (primitivos cidadãos romanos),
é duro e feroz. Esse direito embora mantendo-se fiel á sua estrutura originária, torna-se apto a
resolver as situações criadas pelas novas exigências da vida e pelo alargamento do comércio. Há
4 épocas históricas do ius Romanum.
Ius Romanum= ius civile + ius honorarium. O ius romanum é formado em primeiro lugar,
pelo ius civile. Depois surgiu o ius honorarium, é sobretudo uma criação do pretor
urbano. Fonte de direito é tudo aquilo que esta aberto ou se pode abrir, para correr “linfa
jurídica”, podendo esta ser recolhida com facilidade, é o lugar onde nos aparece o direito.
São fontes:
o Exsistendi (órgãos produtores das normas jurídicas – populos, comícios, senado,
magistrados, imperadore, iurisprudentes);
o Manifestandi (modos de produção ou formação das normas jurídicas – costume e lei
num sentido amplo, incluindo sensu stricto e lacto);
o Cognoscendi (textos onde se encontram as normas jurídicas, podem ser agrupadas
em fontes provenientes do mundo romano, fontes elaboradas no ocidente depois da
queda do império ou fontes elaboradas no oriente depois do corpus iuris civilis).
As fontes concretas do ius civile é o que provem das leis, dos plebiscitos, dos
senatusconsultus, dos decretos dos príncipes, da autoridade dos prudentes
(jurisprudência).
Fontes do ius praetorium: o direito pretório é o que os pretores introduziram com a
finalidade de ajudar/interpretar ou de integrar ou corrigir o ius civile por motivo de utilidade
pública.
Classificação das fontes cognoscendi: A história jurídica de um povo é a história dos
seus livros jurídicos. Estas fontes agrupam-se em 3 secções:
o Fontes provenientes do mundo romano – podem ser jurídicas ou extrajurídicas. As
jurídicas podem ser justinianeias, ou seja, reduzem-se ao corpus iuris civilis e esta
fonte é a maior de todas e por isso, diz-se que o direito romano e o corpus iuris civilis
quase se identificam, ou extrajustinianeias que são constituídas por restos de obras
de juristas, coletâneas pós-clássicas ou material arqueológico-jurídico diverso. As
extrajurídicas podem ser:
 Historiadores;
 Gramáticos e etimologistas;
 Escritores dramáticos;
 Filósofos, retóricos, oradores;
 Padres da igreja.
o Fontes elaboradas no ocidente depois da queda do Império (476): compreendem
principalmente o códex euricianus e as leges romanae barbarorum.
o Fontes elaboradas no oriente depois do corpus iuris civilis são:
 escólios do anónimo;
 paráfrase grega de Teófilo;
 écloga de Leão Isâurico;
 obras de basilio macedonium
 várias sinopses dos basílicos;
 vários manuais de direito.
ÉPOCA ARCAICA
Período histórico do direito romano que vai desde o inicio da vida jurídica em Roma (753
a.C.) até 130 a.C. É definida como o período de formação e do estado rudimentar das
instituições jurídicas. Apresenta como principal característica a imprecisão, sendo possível
distinguir o limite jurídico do religioso e do moral, apresentando-se todos como um só.
As instituições jurídicas apresentam-se sem contornos bem definidos.
A época arcaica subdivide-se em 2 fases:
o nacionalista: que vai de 730 a.C. a 242 a.C., data da criação do praetor pereginum
e é onde o ius romanum se apresentam como direito fechado e apenas prevê a
regulamentação das relações entre os cives e o ius romanum era exclusivamente ius
civile. Os non-cives não eram sujeitos ao ius romanum.
o universalista: vai desde 242 a.C. a 130 a.C. sendo o período do ius civile e do ius
gentium onde começa a necessidade de regulamentação das relações entre cives e
non-cives, e entre os non-cives entre si, que com novas necessidades comerciais e
com o desenvolvimento da vida social e civil se encontravam frequentemente em
conflito, e para ir de encontro com essa necessidade, criasse o praetor peregrinum.
O termino da época arcaica deveu-se ao facto de se aproximar a data da lex que introduz
um novo processo judicial ( Lex Aebutia de Formalis, que fez com que o direito passa-
se a ser escrito), e pelo facto de nessa altura Roma se ter tornado uma grande potência,
com um vasto território, como norte de Itália e Grécia, estabelecendo as bases do seu
império e do seu poder politico.
ÉPOCA CLÁSSICA
Vai de 130 a.C. a 230 d.C. Esta época pode ser definida como o período de apogeu e
culminação do ordenamento jurídico romano. Tem como principais características a sua
precisão e exatidão, sendo por isso mesmo considerada o modelo especifico da grandeza
do ius Romanum naquela época. Aqui utiliza-se a minuciosidade criando figuras jurídicas
concretas. Os jurisconsultos romanos baseavam-se na subtileza a invés da especulação .
Nesta época investiu-se na criação de normas para casos concretos visto que estes não
estavam previstos nas normas existentes. A ciência jurídica era criadora. O fim da época
Clássica deu-se com o desaparecimento do ultimo grande jurista (Ulipianos) assassinado
pelos soldados pretorianos, pelas crises sucessivas. A época Clássica subdivide-se:
o Pré-Clássica: Período de intenso desenvolvimento ascensional em direção ao
estado de grandeza do ius romanum.
o Clássica Central: Período de esplendor e de maior perfeição
o Clássica tardia: Inicio de certa decadência.
ÉPOCA POST-CLÁSSICA OU PRÉ-JUSTINEANEIA
Entre 230 d.C. e 530 d.C., entre o apogeu do clássico e o renascimento justinianeu, não
apresentando por isso individualidade própria estando sempre ligada a essas outras duas
épocas. Tendo como definição a confusão, apresentando-se como a época de decadência
do ius romanum, visto que o génio dos juristas deixa de existir. Os textos tornaram-se mal
copiados e mal compreendidos, ajustando-se à nova realidade, mas sem personalidade.
Caracteriza-se principalmente pela produção de obras (compilações e resumos) clássicas,
incluindo pequenas alterações. A partir de 395 d.C. tendo em conta o ocidente e o oriente,
estes revelam-nos características especiais, relativamente a esta "confusão":
o Ocidente:
 Verdadeira corrupção do ius romanum clássico.
 Influência dos direitos locais dos povos dos territórios dominados pelos
romanos e dos direitos dos povos bárbaros que se preparavam para invadir o
império.
 Direito romano vulgar, por outras palavras, o direito romano corrompido.
o Oriente:
 A "confusão" manifesta-se através de uma reação contra certas manifestações
vulgaristas isoladas: classicismo, tendência intelectual que pretende valorar e
imitar o clássico e reagir contra as suas deturpações.
 O ius romanum: progresso influenciado pela filosofia e direitos gregos –
helenização.
 Tendência para as regulae iuris, para as definitiones, para a generalização.
ÉPOCA JUSTINIANEIA
Vai desde 530, inicio da elaboração do corpus iuris civilis, até à morte do imperador
Justiniano (565). Inicia-se quando o Imperador Justiniano encarregou a uma comissão de
juristas de elaborar uma compilação dos melhores momentos da história do direito romano
que se viria a chamar de digesto ou pandectas que retrata uma coleção de ius e de leges.
A época é marcada por uma grande decadência do antigo e clássico direito romano e foram
estas preocupações que moveram Justiniano de modo a tentar resgatar um pouco da
história e tradição do direito romano, compilando também as mais famosas frases e citações
dos grandes jurisconsultus romanos. Deste modo, na época justinianeia o ius romanum
chega ao termo da evolução e codifica-se para perpetuar, tendo como principal
característica a atualização e a compilação, mas por outro lado também caracterizada pela
generalização.
CORPUS IURIS CIVILIS
É a compilação do ius romanum ordenada pelo imperador Justiniano, no séc. VI, e era a
única fonte de direito do império romano. É a compilação do Código Velho, Digesta (coleção
de fragmentos de obras jurisconsultos notáveis, com a indicação do autor da obra que
procedem, são 50 livros, divididos em títulos, divididos em fragmentos e depois em
parágrafos), Instituciones (manual que serve de introdução às outras partes do Corpus Iuris
Civiles, são 4 livros, divididos em títulos, divididos em parágrafos), Codex (coleção de
constituições imperiais, leges, que se divide em 12 livros, divididos em títulos, divididos em
constituições ou leis e divididas em parágrafos) e as Novellae (constituições novas –
novelas ou leges nova – que foram promulgadas depois do códex e que não chegaram a
ser recolhidas numa coleção oficial, é um preambulo, onde se indica as razões das medidas
tomadas, tem uma parte dispositiva que é a nova lei e terminam por um epilogus, contem a
formula da promulgação).
COSTUME
É a primeira fonte manifestandi, e a sua fonte exsistendi é o Populus. O Ius Romanum
começou por ser consuetudinário, um direito cuja fonte única inicialmente era o costume. O
costume primitivo dos romanos é diferente, no conceito, do costume atual, que deverá ter
surgido nos princípios da época pós-clássica.
o Usos: são os hábitos de agir, e não tem relevância jurídica, são praticas
consuetudinárias não coercivas usadas na época arcaica.
o Mores Maiorum: expressão primeiramente usada para exprimir a ideia de costume
e significa essencialmente a tradição de uma comprovada moralidade. Significava o
que era justo, honesto e totalmente aceite. Verdadeiro costume romano, tradição
inventada que se impunha aos cidadãos como norma e como fonte de normas, nas
suas relações recíprocas, limitando o exercício de cada um sobre a superfície da terra
romana. Estes na época arcaica, eram a única fonte até surgir a Lei das XII tábuas,
mas depois destas, os mores maiorum continuaram como fonte de direito romano
publico, enquanto a lei era a fonte principal do direito privado. No entanto a meio da
época arcaica os mores maiorum foram reduzidas ao mínimo, e na época clássica
quase desaparecem por completo.
o Consuetudo: surge para traduzir a ideia de costume. Designar costume em sentido
moderno é a observância constante e uniforme duma regra de conduta pelos
membros duma comunidade social, com a convicção da sua obrigatoriedade. É
esculpida por juristas da época post-clássica para afrontar as constituições imperiais
injustas e a sua inflexibilidade. Tinha de haver consenso generalizado e de ser
repetida ao longo dos tempos.
LEI DAS XII TÁBUAS
Surgiu a 430 a.C. e desapareceu a 360 a.C. num incendio. No tempo, a lei é a segunda
fonte manifestandi. A fonte exsistendi da lei, tomada esta sensu stricto, são os comícios, já
no sensu lato, são o senado, o imperador. A lei das XII tabuas, efetuou-se em Roma e é
uma obra codificada de grande envergadura, contribuindo para a evolução do direito
romano. Elaborada por um organismo especialmente constituído para esse fim, dez homens
para redigir as leis. Depois aprovada nos comícios das centúrias, afixada publicamente no
fórum e finalmente publicada em 12 tabuas de madeira. É o documento de maior relevo no
direito antigo. Teve origem nas reivindicações jurídicas dos plebeus, pois queria igualar os
plebeus aos patrícios. É dividida em 12 partes e cada uma subdividida em fragmentos ou
leis: I-III tratam do processo civil; IV-V família e sucessões; VI negócios jurídicos mais
importantes; VII-XII direito penal. Antes da lei das XII tábuas, o ius romanum era ius
consuetudinarium, baseado nos mores maiorum, agora é ius legitium, fundamentado na lex.
Foi um ponto de partida para as constituições jurídicas posteriores, e vigorou até ao corpus
iuris civilis.
PRETOR
Pretor: magistrado do ius romanum, encarregado da administração da justiça. Interpreta a
lex, mas sobretudo defende o ius e da justiça, interpretando o ius civile. Há dois tipos: pretor
urbano e pretor peregrino.
Ius praetorium (funções): aquilo que os pretores introduziram no direito civil para
interpretá-lo e corrigi-lo. Pega no direito civil e flexibiliza-o, não revoga nem afasta o direito
civil por uma razão de interesse público.
3 fases da atividade do pretor:
o 1º fase: a função do pretor era administrar a justiça de acordo com o ius civile e ele
era a voz viva do iuris civilis. A sua atividade era exclusivamente interpretativa.
o 2º fase: o pretor, baseando-se no seu imperium, tinha poder de soberania e os
cidadãos não se podiam opor e usa expedientes próprios para criar direito (ius
praetorium), mas de forma indireta.
o 3º fase: a partir da lex aebutia de formulis o pretor baseado na sua iurisdictio e
mediante expedientes adequados cria direito, mas agora de uma forma mais direta
ainda que por via processual. Assim, o pretor concede uma actio própria denominada
actio praetoria. E como em direito romano ter actio é ter ius, o pretor concedendo
actio cria diretamente ius.
Expedientes do pretor: baseados no seu império para bem interpretar, integrar e corrigir
o ius civile eram as seguintes: stiupulationes praetoriae, restitutiones in integrum, missiones
in possessionem e os interdicta.
o Stipulationes praetoriae: é uma stipulatio (negócio jurídico tipicamente obrigacional
cujas características podem ser: solene – feito com invocação e presença espiritual
dos deuses, formal – negócio tinha forma jurídica e devia ser realizado entre
presentes mas sobretudo porque devia ser usado uma fórmula própria, verbal-oral –
deviam empregar-se palavras não escritas mas orais tipo de negócios verbais,
abstrato- negócio jurídico em que se prescinde da sua causa juridica) que tem de
especifico o facto de ser imposta pelo pretor afim de proteger uma situação social
não prevista no ius civile e que merecia proteção. Se um negócio jurídico fosse
inválido, o pretor concedia um expediente através do seu império ao lesado, novo
contrato legalmente bem feito. (formalmente inválido, materialmente justo)
o Restitutiones in integrum: é um expediente do pretor para obter um efeito contrário
das stipulationes praetoriae (formalmente válido, materialmente injusto). Há um
negócio jurídico, injusto, mas válido perante o ius civile que origina uma situação
protegida pelo ius civile, mas que não o merece como uma stipulatio formalmente
bem-feita, mas realizada sob coação grave. Espécies de restituitiones in integrum:
 ob metum: concedida a favor daquele que celebrou um negócio jurídico sob
coação grave. Art. 255º CC e 246º CC.
 ob dolum: concedida aquele que realizou um negócio em virtude de dolo, ou
seja, porque foi enganado. (quando terceiros o induzem em erro). Art. 253 nº1.
 ob errorem: concedida ao que efetuou um negócio jurídico em virtude dum
erro desculpável, ou seja, porque se equivocou sem que esse deva considerar-
se indesculpável. Concedido aos maiores de 25 anos, realizados por eles
próprios ou pelos representantes.
 ob fraudem creditorum: (fraude causada a credores) este expediente era
concedido pelo pretor a favor do credor contra o devedor, mas sobretudo contra
o direto adquirente dos bens do devedor por este os ter alienado para defraudar
o credor. Além de fraude ao credor, também se podia exigir má fé tanto da
parte do devedor como do direto adquirente.
LEGES
Lex: depois das XII tábuas, o ius romanum passou a ser um ius legitium, baseado na lei,
porque o costume cedeu à lei. A lei é uma declaração com valor normativo, baseada num
acordo, entre quem emitia a declaração e o s seus destinatários, havendo uma distinção
entre lei publica (aquela que provinha de um órgão especifico do poder politico) e lei privada
(declaração de vontade normativa, emitida por alguém relativamente a um bem, sobre o
qual detém propriedade). As leges regiae eram leis votadas nos comissios das cúrias, que
incidiam sobre a proposta de um determinado rei.
Lex Rogata: é a lei publica. Deriva de uma promessa solene da comunidade social, baseia-
se num negócio público. Tem valor normativo, é feita pelo povo, para se aprovar em
comum, nos comícios com uma autorização responsável a proposta de um magistrado. Tem
por base um acordo entre magistrados que propõe a norma e o povo que a aprova, e por
isso, vincula as duas partes. Processo de formação das leges rogatae:
o Promulgatio (os projetos das leges a propor a votação dos comita, eram feitos pelos
magistrados que tinham a faculdade de convocar os comícios, o texto do projeto
deveria ser afixado em um local público, para que o povo tomasse conhecimento, é
a esta afixação que se chama promulgatio);
o Conciones (eram as reuniões, tidas em praça publica para se discutir o projeto de
lex, não tinham carater jurídico nem oficial; os discursos favoráveis chamam-se
suasiones e os discursos desfavoráveis chamam-se dissuasiones);
o Rogatio (terminado o prazo da promulgatio, o magistrado que presidia, mandava ler
o texto do projeto de lex, e acabada a leitura, pedia a aprovação, que era denominada
rogatio);
o Votação (sendo o voto positivo ou negativo, teria de ser feito com palavras
sacramentais);
o Aprovação pelo senado (depois de votada favoravelmente pelos comita, a lei
precisava de ser referendada pelos auctoritas patrum);
o Afixação (depois de concedida a auctoritas patrum, o projeto de lex tornava-se lex e
era então publicada no fórum).
A composição da lex rogatae é:
o Praescriptio (o prefacio – contém o nome do magistrado proponente, a assembleia
que votou, o primeiro agrupamento a abrir votação e do primeiro cidadão a votar);
o Rogatio (é a parte dispositiva da lex);
o Sanctio (parte final da lex – estabelece a sua eficácia, e a sua relação com as outras
normas, e tem de respeitar os mores maiorum e as velhas leis inderrogáveis).
As leges rogatae, não declaram nulos os atos contra as suas disposições, limitam-se
apenas a impor multas ao infrator ou simplesmente a reprovar.
Classificação quanto a sanctio:
o Perfectae (declaram nulos os atos contrários às suas disposições);
o Minus quam perfectae (iImpõe multas/sanções aos infratores);
o Imperfectae (nem anulam os atos contrários nem impõe sanções);
o Lei mais do que perfeita (era nulo mas implicava uma sanção)

Lex Data: era uma lei de natureza publica que emanava de um magistrado no uso de uma
autorização legislativa concedida pelo povo.

Lex Dicta: de natureza publica e também emanava de um magistrado, mas tem objetivos
restritos, destinando-se apenas a bens de domínio publico por parte de particulares.
SENATUSCONSULTUM

Senatusconsulta: inicialmente significava uma consulta feita pelo senado, porque os


magistrados para resolver certas questões eram obrigados a ouvir (a consultar) o senado,
mas não eram obrigados a seguir a sua opinião. Desde que a opinião do senado começou
a ter um certo valor, senatusconsultus passou a ter como significado uma decisão do
senado, tornando-se fonte de Direito, sobretudo através do edicto do pretor, pois concedia
as próprias ações. E ter ação é ter direito. O povo teve que se habituar à ideia de que o
senado tinha também força legislativa e podia criar fontes imediatas de direito. Quando
passou a ser o imperador a estabelecer a norma, o senado perdeu a força jurídica, até
porque as propostas de lei já não eram apresentadas pelos magistrados ao senado, mas
sim ao imperador. Sistema de Designação: os senatusconsultos são designados pelo nome
do magistrado que o propõe, pela matéria que trata e pelo nome da pessoa que deu motivo
à decisão do senado. Estrutura:
o Praefatio (prefácio) (contém o nome do magistrado convocador e dos senadores
que intervieram na redação, e o lugar e a data em que se celebrou a reunião do
senado); e
o Relatio (conteúdo) (narra os motivos e a proposta apresentada, e ainda a sentença,
resolução ou decisão aprovada).

SENATUSCONSULTUM TERTULLIANUM

Senatusconsultum Tertullianum: este concede à mãe consanguínea, que realizou um


matrimónio sine manu (não estava submetida ao pater), ou que não é casada, o direito de
suceder iuris civile na herança dos seus filhos, masculinos ou femininos, legítimos ou
naturais (antes a mãe só herdava iuris praetorium). O Direito sucessório está feito à imagem
da família romana. Direito da Família Romana: – Segundo o ius civile:
o Família agnatícia próprio iure (em sentido próprio): as pessoas são familiares umas
das outras na medida que estiverem juridicamente submetidas ao pater. O pater tem
um poder exclusivo, denominado de pátria potestas, que possui duas dimensões:
uma dimensão jurídico-pessoal, em que o pater tem poder pessoal sobre todos os
membros agregados (juntos) e tem poder de correção; uma dimensão jurídico-
matrimonial, em que o pater é o titular de todo o matrimónio e dos membros da família.
Membros da família agnatícia (Conjunto de membros submetidos juridicamente ao
pater)
 natura subjectae: filhos/as e netos.
 iure subjectae: adaptio (adoptados, os que ingressam na família por força de
um ato jurídico), uxor in manu (conventio in manu – contrato matrimonial em
que a mulher se declarava ficar num regime jurídico submetida ao pater,
contrário de uxor in manu é a uxor sine manu); adrogatio (adrogados, em que
o pater submete um contrato e o outro fica submetido ao pater).
Quando é que esta família se pode desfazer? Não era a maioria de idade que fazia com
que o filho deixasse de estar submetido ao pater. Esta família só se podia desfazer caso o
pater morresse. Se o pater morresse passava-se a uma: família agnatícia em sentido amplo,
nesta família a única coisa que permanece da família agnatícia em sentido próprio é o
próprio nome da família;
o Família Gentilícia, permanência dos mortos na memória dos vivos. – Segundo o ius
praetorium: família cognatícia, o que liga os membros da família é o critério jurídico
da sanguinidade (comunhão de sangue), e fazem parte aqueles que têm
descendência direta ou ascendência comum; Affinitas, fazem parte da família,
aqueles que ligam um conjugue ao parente do outro.
Direito Sucessório: Prevalência fundamental entre a sucessão testamentária, quando
existe um testamento válido, e a sucessão ab intestata, quando não existe testamento. A
sucessão no Direito romano só pode ser uma das coisas. Ordem da Sucessão em Direito
Romano: Testata (quando existe um testamento válido - Critérios para fundamentar a
validade dos testamentos: Princípio da instituição de herdeiros, não há testamento válido
se o autor de um testamento não instituir um herdeiro (artigo 2030º, nº1 e nº2, C.C.); Não
praticar o praeteritio, o testador – aquele que faz o testamento – para manter o testamento
válido tem de deserdar os que, se não houvesse testamento, eram herdeiros) e Ab
intestata (quando não existe testamento - Segundo o ius civile: os heredes sui – filho,
filha e mulher casada submetida juridicamente ao pater – herdam por igual, a herança
reparte-se sem distinção; os outros agnados – irmãos e irmãs – se os concorrentes
estiverem no mesmo grau, a herança é dividida se estiverem em grau diferente, o parente
mais próximo exclui o mais distante; gentilis, se os concorrentes estiverem no mesmo grau,
a herança é dividida se estiverem em grau diferente o parente mais próximo exclui o mais
distante. - Segundo o ius praetorium: liberi, heredes sui e os emancipados e seus
descendentes; legitimi, se os concorrentes estiverem no mesmo grau, a herança é dividida
se estiverem em grau diferente o parente mais próximo exclui o mais distante; cognati –
parentes consanguíneos até ao 6º grau e os adoptados – se os concorrentes estiverem no
mesmo grau, a herança é dividida se estiverem em grau diferente o parente mais próximo
exclui o mais distante; uxor, desde que se trate de um matrimónio celebrado segundo o ius
civile e dissolvido por morte, e não por divórcio). Em suma, a herança distribui-se por
grupos, se houver um único representante, este recebe toda a herança, já se houver vários
representantes, e estiverem todos ao mesmo grau, a herança é dividida por todos; se
estiverem em graus diferentes, o parente mais próximo exclui o parente mais distante.

SENATUSCONSULTUM VELLIANUM

É assim denominado por ter sido proposto pelo cônsul Velleus, embora ajudado pelo cônsul
Silanus, o que só tomou o nome do primeiro pois foi o grande defensor da proposta. Proibiu
a todas as mulheres a prática de intercessio a favor de qualquer homem, ou seja, quer dizer
que proibiu que elas se responsabilizassem pelas dívidas contraídas por um homem. A
justificação oficial da proibição da intercessio às mulheres foi baseada no facto das
mulheres serem ingénuas e terem falta de experiência. Assim, os homens abusavam da
sua ingenuidade e falta de experiência, levando-as a ficar intercedentes das dívidas
contraídas por eles, sendo obrigadas a pagar e, eram raras as vezes que conseguiam
reaver o seu dinheiro. Elas chegavam a perder os seus bens e, às vezes, ficavam na
miséria, fazendo com que se entregassem à prostituição. E assim surgiu o senatusconsultus
Velleianum, cuja verdadeira finalidade era a proteção das mulheres. O senado então proibiu
a todas as mulheres a intercessio a favor de qualquer homem. A proibição da intercessio
não anulava o negócio de intercessão feito pela mulher, ou seja, a intercessão era válida,
só que era totalmente ineficaz, porque o pretor podia inutilizar o pedido do credor ao mandar
a mulher intercessora e até a própria mulher podia opor-se quando mandada pelo marido.
Se esta pagasse, ignorando a existência deste senatusconsultum, ou fosse levada a pagar,
podia reclamar o que pagou, pois, a mulher não era obrigada, uma vez que o negócio de
intercessio era totalmente ineficaz.
Casos de não aplicação deste senatusconsultum: Este não proibiu às mulheres o
pagamento de uma dívida alheia, nem as doações, desde que se fizesse com espírito de
liberdade (o que proibiu foi as obrigações).
Casos de exceção deste senatusconsultum: Se se provava que que a mulher tinha agido
com algum interesse patrimonial; ou se se demonstrava que ela tinha intercedido com
intenção de prejudicar o credor. Este senatusconsultum protegia as mulheres enganadas e
não as mulheres enganadoras.

Intercessio/intercedere (intercessão/interceder): Em Direito Privado, significa a intenção


favorável, intervir a favor de outra pessoa. Em Direito Público significa proibição. Neste caso
tratamos a intercessio em Direito Privado. Espécies de intercessio:
o comulativa, quando alguém se responsabiliza pela dívida de um terceiro
conjuntamente com ele;
o privativa, quando alguém se coloca no lugar do devedor inicial, cuja obrigação se
extingue (expromissio);
o tacita, quando alguém se obriga para que outra pessoa, que naturalmente deveria
ser o devedor principal, não se obrigue.

Quanto à intercessio comulativa: uma obrigação correal é quando esta consistia na


prestação de uma garantia, um aumento da segurança de que uma dívida será cumprida e
de que o credor será satisfeito, é o reforço do cumprimento de uma obrigação, podendo ela
ser uma garantia pessoal ou real.

Garantia pessoal: estas davam ao credor, uma garantia do património do fiador e da sua
própria pessoa. Esta reúne-se em dois grupos:
o Adpromissio: surge como um novo devedor (fiador) que se junta ao devedor
principal, existindo assim duas obrigações, tem como forma: sponsio, forma solene
de promessa, só própria dos cidadãos romanos, feita com invocação dos deuses das
partes dos negociantes; fidepromissio, promessa feita com a invocação da deusa
fides, admitida a cidadãos quer sejam ou não romanos; fideiussio, é uma ordem que
garantia qualquer espécie de obrigações, até mesmo as obrigações naturais e
futuras. As suas características são a acessoriedade (carácter de acessório), pois
surge depois da obrigação principal, e sendo acessória, a adpromissio não pode ser
mais gravosa porque se fosse estaria reduzida aos termos de obrigação; e a
subsidiariedade(subsidiário);
o Expromissio: surge um novo devedor, que substitui o devedor inicial, ao contrário
da adpromissio, só existe uma obrigação. O expromissor é o novo e o único devedor.

Garantia real: é o direito sobre uma coisa, concedida a um credor para assegurar o
cumprimento da obrigação. Esta reúne-se em três grupos: fidúcia, verifica-se uma datio
(transferência de propriedade) da coisa a favor do credor, propriedade que deverá cessar
assim que se efetue o cumprimento da obrigação; pignus (penhor), verifica-se uma traditio
(transferência de posse) da coisa a favor do credor. O pignus é o direito que o credor tem
de reter uma coisa alheia, para forçar o devedor a cumprir a sua obrigação, quando é
cumprida essa obrigação o devedor recupera aquilo que foi penhorado; e a hypotheca, que
se traduz numa especial afetação da coisa, ao cumprimento de uma obrigação.
SENATUSCONSULTUM MACEDONIANUM
Um título especial: o Código Gregoriano, o Digesto do “Corpus Iuris Civilis” e o Código
Justinianeu. Este senatusconsultum proibiu o empréstimo de dinheiro a todo o filiusfamilias
(filhos), mesmo que ele ocupasse um alto cargo, pois pressupõe-se que esse empréstimo
fosse para fins imorais. A sua finalidade era de evitar a devassidão (o obsceno) dos
filiusfamilias e protegê-los contra esse perigo. O filiusfamilias, devido ao dinheiro que tinha
e que tinha obtido através de empréstimos, entregava-se às maiores imoralidades e à
prática de crimes gravíssimos, chegando mesmo a mandar assassinar o seu pateres (que
era o seu genitor, pai de sangue) para mais depressa ficar sui iuris (pessoa livre, capaz de
tomar decisões sem precisar de outra pessoa) e receber a herança. Este senatos é de
carácter público (direito público). Como efeito, os empréstimos de dinheiro contraídos por
um filiusfamilias originavam simplesmente uma obrigação natural, aquela cujo cumprimento
não pode ser exigido judicialmente, o credor não tem uma actio (ação). Todavia, se o
devedor pagar entende-se que realizou um verdadeiro pagamento e não pode repetir, o
credor goza do direito de fazer seu aquilo que recebeu a título de pagamento (solutio
retentio), o devedor não pode repetir, isto é, não tem a seu favor uma condictio indebiti. E
como consequência, se o credor emprestava dinheiro ao filiusfamilias demandava-o (exigia-
o) e o pretor podia, logo de o início, solucionar radicalmente a questão, não reconhecendo
a existência de uma actio (ação) a favor do credor (denegatio actionis). Em geral, não
procedia dessa forma pois era conveniente averiguar se esse empréstimo de dinheiro podia
no caso concreto ser exigível e isso efetuava-se somente na fase apud iudici. Normalmente,
o pretor concedia/reconhecia a actio (ação) ao credor mas na fórmula colocava uma
cláusula (exceptio/proteção), que inutilizava a pretensão do demandante (exigente). A
exceptio/proteção era concedida a todo o filiusfamilias; ao pater; aos herdeiros do
filiusfamilias; e ao garante da dívida. E era negada se o filiusfamilia se fizesse passar por
sui iuris; se quem emprestou dinheiro tinha motivos plausíveis para julgar o filiusfamilias um
sui iuris; se o senatus tirar a proteção a obrigação passa a civil; se o empréstimo do dinheiro
se destinou para finalidades ou para pagar dívidas; OU se o dinheiro foi para proveito do
pater ou para pagar um débito do pater. A fraude é um prejuízo doloso (enganador), no
negócio em fraude à lei, não há violação direta mas indireta, procura-se atingir fins proibidos
pela lei através de um meio não proibido pelo senatus. Tem como consequência o
Senatusconsultum Macedonianum continuar a aplicar-se. Verifica-se nos casos de normal
não-aplicação, em que o senatus proíbe aos filiusfamilias o empréstimo de dinheiro, pois
pressupõe-se que é para fins imorais, e então o filiusfamilias contrai um empréstimo de
géneros; OU quando deixa de haver exceção ao senatus para então ele se aplicar, nos
termos normais.
IURISPRUDÊNCIA
Destaca-se das leges, e é um caso análogo. É a opinião de quem estuda direito, e é um
misto de ciência (distinguindo o certo e o errado) com técnica (que determinava o modo de
alcançar a justiça). É uma fonte jurisprudencial, criada pelo pretor. Os jurisprudentes tinham
a função de cavere (acompanhar e aconselhar os particulares no modo como devem
realizar os negócios jurídicos); agere (dar orientações no âmbito de ações jurídicas) e
respondere (dar respostas e pareceres elaborados sobre os problemas jurídicos).
Obrigação civil: existe uma obrigação, sendo que o credor tem a ação e o devedor tem a
obrigação.

Obrigação natural (obligatio naturalis): é uma obrigação jurídica porque produz efeitos
jurídicos. Existem duas características desta obrigação: incoercibilidade da prestação, em
que o credor não tem ação, ou seja, não pode exigir de volta o dinheiro; e irrepetibilidade
da prestação, soluti retentio, se o filiusfamilia der o dinheiro que pediu emprestado, trata-se
de verdadeiro cumprimento de uma obrigação, e concretamente de um pagamento, e por
isso o credor tem direito a reter o que lhe foi dado a título de pagamento.

Autóritas: a conexão entre o ius romanum e o império reside na própria noção de ius, é
uma força que necessita de uma autoritas para ser eficiente. Essa autoridade que se traduz
num "impor-se" e um "não se desobedecer" tem que se verificar quando o ius é criado por
uma identidade pública e quando é criada pelos próprios juristas que para além de ciência
precisam de autoridade social para que as suas doutrinas se imponham e triunfem, ou seja,
se sustentem.
Magistraturas:
o Magistratura romana: cursos honorum – carreira dos magistrados.
 Questor – matéria crime/criminal
 Edil curul – tratavam da cura urbis – problemas relacionados com a cidade
(ruas, limpeza, problemas urbanísticos)
 Pretor – mais próximo do nosso atual juiz
 Cônsul – mais alto cargo politico da republica romana, o mais alto posto do
cursos honorum
 Censor – organiza o censo das populações
o Magistratura extraordinária:
 Tribunas da plebe
 A ditadura (ditador) – utilizada quando a republica romana estava em crise, o
ditador era eleito, mas tinha mandato temporário
Poderes dos magistrados:
o Protesta – poder de representação do povo romano, aplicava o direito em nome do
povo. Poder comum a todos os magistrados.
o Imperium – poder de soberania a que ninguém se podia opor. Poder concedido ao
cônsul, pretor e ditador.
o Jurisdictio – poder de administrar a justiça de forma normal e correta.
Limites ao poder do império:
o Temporalidade – estava no poder apenas por um ano
o Pluralidade – era repartido por várias magistraturas
o Cogialidade – dentro da magistratura, repartido por vários magistrados. Direito de
veto – dentro da cogialidade um magistrado podia vetar o outro utilizando o ius
interssesiones:
 Direito público – direito de veto
 Direito privado – reforçar de uma garantia
o Provocation ad populum – provocação ao povo, poder de convocar as comissões a
travar certa atuação de um magistrado.

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