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Principais consequências dos obstáculos naturais:

– Danos materiais, nomeadamente a destruição de infraestruturas e de vias de comunicação


(habitações, escolas, hospitais, estradas, …);

– Vítimas mortais e desalojados;

– Comprometimento da salubridade e da segurança alimentar;

– Maior exposição das populações a doenças e proliferação de epidemias;

– Aumento das desigualdades sociais e aumento da vulnerabilidade dos Países Em


Desenvolvimento.

Obstáculos históricos:

O processo de descolonização resultou na independência política dos países africanos e asiáticos.


Esta situação desencadeou-se, principalmente, devido à condenação moral da prática do
colonialismo pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelas nações africanas e asiáticas
reunidas na Conferência de Bandung. Este processo não ocorreu de igual forma em todos os países
(embora tenha ocorrido maioritariamente de forma pacífica) nem ao mesmo ritmo. Numa primeira
fase, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, tornaram-se independentes a maior parte dos
países asiáticos. Numa segunda fase, ocorreu a descolonização da maior parte dos países africanos,
desencadeada pela independência da Líbia em 1951. No caso das antigas colónias portuguesas, a
independência apenas foi alcançada após 1974 (Figura 2).

Potências colonizadoras e data de independência dos países africanos.i

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Potências colonizadoras e data de independência dos países africanos.

Durante a colonização, os países colonizados foram fornecedores de matérias-primas para a


metrópole (potência colonizadora); a sua governação estava a cargo dos colonizadores; foram alvo
de exclusão, marginalização e violação dos direitos humanos (escravatura); ou vivenciaram a perda
da sua identidade cultural devido à imposição dos valores das suas metrópoles.

O processo de descolonização facilitou a implementação de ditaduras, a instabilidade política e


social; desencadearam guerras civis entre as diferentes etnias que destruíram infraestruturas e
culturas agrícolas tornando estes países mais pobres; aumentaram o seu endividamento e a
incapacidade de saldar as suas dívidas externas; ou mesmo politicamente independentes
continuaram economicamente dependentes das antigas metrópoles, que continuaram a controlar
os meios de produção.

Assim, se a independência política foi alcançada, a dependência económica face aos Países
Desenvolvidos (PD) (as suas antigas metrópoles ou os países mais industrializados) manteve-se pois
as matérias-primas que exportavam não eram suficientes para suprir, ou seja ultrapassar, as

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necessidades de produtos industriais, daí terem que os importar. O constante endividamento e a
incapacidade de saldar (pagar) as dívidas contraídas daí resultantes, dificultaram o seu
desenvolvimento.
Principais consequências dos obstáculos históricos:
– Economias mantiveram uma forte dependência externa e ficaram destruturadas;
– Sociedades desarticuladas (grupos étnicos separados) e perda de identidade das populações;
– Os países enfrentaram uma forte instabilidade política (guerras civis, golpes de estado e ditaduras
militares);
– Elevado crescimento demográfico e agravamento das condições de vida, dado o fraco
crescimento económico e o insuficiente desenvolvimento das atividades económicas.

Obstáculos políticos:
A existência de regimes políticos ditatoriais, o desigual acesso a serviços, o desvio de capitais ou a
existência de conflitos armados, são dos maiores obstáculos ao desenvolvimento.
Os regimes ditatoriais não são propícios ao desenvolvimento pois não há gozo de plenos direitos,
como a liberdade de voto e de expressão ou ainda a violação dos Direitos Humanos (Figura 3). Estes
governos são muito vulneráveis à corrupção (desvio de capitais), situação que se deve aos
interesses dos grupos que estão no poder, uma vez que muitos utilizam o Estado em proveito
próprio. Desta forma, também muitos investidores estrangeiros não se sentem motivados para
investir nestes países, contribuindo assim, ainda mais, para o desemprego e pobreza, levando ao
desigual acesso a serviços.

Figura 3: As
crianças são muitas vezes mobilizadas e ativamente envolvidas em guerras e outros conflitos
armados, como esta "criança soldado". Quénia.

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As guerras, para além do elevado número de feridos e vítimas mortais civis e militares, destroem
infra-estruturas e causam grandes fluxos (movimentos) de refugiados. Os países que vivem em
estado de guerra, muitas vezes sustentada pelos próprios governos, canalizam parte da sua riqueza
para a compra de armas, não investindo no desenvolvimento das atividades económicas, nem em
áreas como a saúde ou educação das populações, pondo em risco gerações que poderiam
contribuir para a recuperação do país. Por vezes, coexiste ainda o recrutamento de crianças para as
forças armadas, as crianças-soldado (Figura 4).

Figura 4: Exemplos de leis contra a liberdade em alguns países do mundo.

Principais consequências dos obstáculos políticos:


– Destruição de infra-estruturas e vias de comunicação (escolas, hospitais, estradas, habitações,
…);– Vítimas mortais (soldados e civis) e desalojados;
– Gera fluxos de emigração (refugiados);
– Aumento da insegurança alimentar e social;
– Aumento das desigualdades sociais.
Obstáculos sociais:

Os PED são os principais responsáveis pela explosão demográfica na atualidade. A elevada Taxa de
Crescimento Natural (que resultam das elevadas taxas de fecundidade e natalidade e a diminuição
das taxas de mortalidade e mortalidade infantil) tem provocado um forte crescimento demográfico.
Os fracos níveis de escolaridade, sobretudo das mulheres, o fraco acesso a cuidados de saúde,
incluindo a saúde sexual, os casamentos precoces ou a ausência de planeamento familiar, são
também fatores responsáveis pelos níveis elevados de fecundidade. Contudo, os recursos não
crescem na mesma proporção, levando a desequilíbrios e à impossibilidade de muitos Estados
conseguirem satisfazer as necessidades das populações, conduzindo a situações graves de fome e
de subnutrição.
O acentuado crescimento demográfico, aliado à baixa capacidade de investimento na educação e
na saúde revela-se um obstáculo devido à impossibilidade de formar uma sociedade com
competências para promover o desenvolvimento. Como se pode ver no gráfico seguinte, são as
regiões menos desenvolvidas que mais contribuem para o elevado crescimento populacional

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contrariamente ao que acontece nas regiões mais desenvolvidas, onde, em alguns casos, o
crescimento é negativo.

As doenças, as fracas condições de higiene e a fome implicam, também, importantes


consequências (Figura 5). Os adultos que contraem doenças ou que apresentam má nutrição veem-
se obrigados a abandonar o seu trabalho e, consequentemente, perdem os rendimentos para
sustentar as suas famílias, o que leva a que os filhos abandonem a escola precocemente para
trabalhar e sustentar a família, tornando-se um ciclo vicioso, já que não tendo formação/educação
também não conseguirão auferir melhores salários e acabam por comprometer também o seu
próprio futuro (Figura 6).

Figura 6: Alguns números sobre o trabalho infantil no mundo, 2013.

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Por outro lado, a população mais qualificada dos PED tende a emigrar para os PD, privando o seu
país de mão de obra qualificada, essencial ao seu desenvolvimento (Figura 7).

Figura 7: Países com a menor despesa em educação em percentagem do PIB, 2014.

Nos PED, milhões de pessoas vivem ainda em habitações precárias sem o mínimo de condições ou
na qual faltam infraestruturas básicas como água potável canalizada, eletricidade ou instalações
sanitárias (Figura 8). Os níveis de desemprego ou os baixos rendimentos contribuem para que as
famílias não tenham capacidade para construir, arrendar ou comprar uma habitação condigna,
levando ao crescimento de bairros degradados. Muitas famílias constroem as suas habitações com
recurso a materiais de baixo custo (terra, adobes, madeira, chapas metálicas) tornando-se estas por
sua vez mais vulneráveis às catástrofes naturais e às epidemias.

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Figura 8: Percentagem da população com acesso a uma fonte de água melhorada, a saneamento
básico e a eletricidade na habitação, por região do mundo, 2014.

Principais consequências dos obstáculos sociais:

– As populações vivem sem meios de subsistência, com fome, ausência de hábitos de higiene e uma
elevada vulnerabilidade a inúmeras doenças;

– Os níveis de instrução das populações são reduzidos (elevadas taxas de analfabetismo da


população, sobretudo feminina) conduzindo a uma inaptidão para incorporar processos produtivos
inovadores e de base tecnológica, condicionando a capacidade produtiva dos meios de produção;

– A reduzida produtividade e as baixas remunerações condiciona o acesso das famílias à satisfação


das necessidades básicas, contribuindo para que aumente o trabalho infantil e o abandono escolar.

Obstáculos económicos:

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O fraco dinamismo das atividades económicas e a elevada dependência externa constituem
também fortes entraves ao desenvolvimento. Nos PED, predominam atividades económicas
tradicionais (setor primário, nomeadamente a agricultura ou as pescas) com fraco rendimento e
fraca produtividade que não garantem a superação das necessidades da população.

Também a concentração das exportações num pequeno número de produtos deixa o país
vulnerável às variações dos preços nos mercados internacionais. Quando ocorre uma catástrofe
natural ou uma guerra que destrua ou impossibilite a sua produção/exploração, ou ainda quando
ocorre uma diminuição da procura desses produtos nos mercados internacionais, agravam-se os
problemas económicos (Figura 9).

Atualmente, o comércio mundial caracteriza-se de três formas:

As relações Norte-Sul: estabelecem-se fluxos comerciais entre Países Desenvolvidos e os Países


Em Desenvolvimento;

As relações Norte-Norte: decorrem entre Países Desenvolvidos;

As relações Sul-Sul: entre Países Em Desenvolvimento e países menos desenvolvidos.

Por outro lado, os setores secundário e terciário têm um peso reduzido na economia destes
países, devido a uma fraca industrialização e um comércio interno fracos, por falta de

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investimento, desfasamento tecnológico e baixo poder de compra. Assim, dado que as
exportações consistem, sobretudo, em produtos alimentares, recursos energéticos e matérias-
primas menos valorizados do que os produtos transformados dos países desenvolvidos, gera-se
um grande desequilíbrio nas trocas comerciais, aumentando a dívida externa (Figura 10).

O pagamento de elevadas dívidas externas, resultantes dos empréstimos concedidos por outros
países e/ou organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Banco
Mundial, acrescidas de elevados juros, impossibilitam o investimento de capitais na economia, no
desenvolvimento ou investimento de áreas como a saúde ou educação.

Principais consequências dos obstáculos económicos:

Populações e recursos explorados por interesses de uma economia especulativa;

– O pagamento de dívidas e juros não permite o investimento na modernização da estrutura


económica e na melhoria das condições de vida das populações (saúde, educação, …);

– As exportações estão centradas num número reduzido de produtos, provenientes do setor


primário (agricultura, exploração dos recursos naturais, …), o que dificulta a fragilidade económica
face aos mercados internacionais.

A influência do comércio mundial no desenvolvimento:


O comércio mundial refere-se ao conjunto de trocas comerciais entre os países, que gera, entre
eles, um circuito económico de importações e exportações. Assim, o comércio pode ser interno,
quando é realizado dentro de determinado país, pelos seus agentes económicos; ou externo,
quando é realizado por agentes económicos que pertencem a países distintos. A diferença entre as
importações e exportações, cujo valor determina, em cada país, a sua Balança comercial, pode
apresentar três situações: positiva, nula/equilibrada ou negativa (Figura 11).

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A relação entre o valor dos bens exportados e o valor dos bens importados corresponde aos Termos
de troca

Quando o valor das exportações é superior ao das importações verifica-se uma valorização dos
termos de troca que se tornam favoráveis ao país em causa. Quando a situação é inversa verifica-se
uma deterioração/degradação dos termos de troca, que se torna desfavorável a esse país. Para esta
degradação contribui um conjunto variado de fatores (Figura 12).

Atualmente, o comércio mundial caracteriza-se de três formas:

As relações Norte-Sul: estabelecem-se fluxos comerciais entre Países Desenvolvidos e os Países


Em Desenvolvimento;

As relações Norte-Norte: decorrem entre Países Desenvolvidos;

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As relações Sul-Sul: entre Países Em Desenvolvimento e países menos desenvolvidos.

Os termos de troca têm sido mais desfavoráveis para os PED, principalmente os menos
desenvolvidos pois estes exportam essencialmente produtos com menor valor acrescentado (ex.
produtos agrícolas) ou produtos pouco transformados e importam produtos transformados com
maior valor acrescentado (ex. maquinaria, tecnologia). Desta forma, os PED têm de exportar cada
vez mais produtos para adquirirem, no mercado internacional, a mesma quantidade de bens. Esta
situação contribui para um maior empobrecimento destes países e um maior benefício dos países
desenvolvidos (Figura 13).

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O comércio justo e o comércio internacional:

O Comércio justo trata-se de um movimento social e uma modalidade de comércio internacional


que procura o estabelecimento de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais
equilibrados nas cadeias produtivas, promovendo o encontro de produtores responsáveis com
consumidores éticos. A ideia de um comércio justo surgiu na década de 1960, quando foi criada,
na Holanda, a Fair Trade Organisatie. O primeiro produto a seguir este padrão de certificação foi
o café em 1988. Todavia, este movimento rapidamente se espalhou pela Europa e hoje conta já
com mais de 300 organizações em sessenta países na atual International Fair Trade Association.

O fundamento do Comércio justo é construir princípios e práticas comerciais equitativos e


coerentes e garantir os direitos dos produtores e trabalhadores, especialmente dos países menos
desenvolvidos. Em poucas palavras, é o comércio onde o produtor recebe remuneração justa
pelo seu trabalho (Figura 14). Os seus principais princípios são:

– A sustentabilidade integral, em todas as dimensões (social, económica e ambiental), com um


foco de responsabilidade compartilhada entre todos os atores envolvidos nas cadeias comerciais;

– As relações comerciais justas, solidárias e transparentes, a longo prazo que dignifique o


trabalho dos seres humanos, que respeite as diversidades culturais, étnicas e de género e que
fomente a sustentabilidade ambiental e entre gerações;

– A promoção e o respeito pelos Direitos Humanos, fomentando um justo reconhecimento do


trabalho de trabalhadores agrícolas e artesanais.

Figura 14: Logótipo do comércio justo.

Consequências da globalização no comércio mundial:

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O comércio mundial é uma consequência do desenvolvimento dos transportes e das
telecomunicações que contribuíram para que o mundo “encurtasse” distâncias e fossem
possíveis rápidas (e com menores custos) trocas comerciais. Este processo de globalização
permitiu a abolição de algumas fronteiras nas relações comerciais, possibilitando o surgimento
das empresas multinacionais/transnacionais.

Estas expandem-se por todos os continentes sendo difícil definir a sua nacionalidade assim como
a origem dos seus produtos, que são adquiridos em qualquer parte do mundo. As multinacionais
são cada vez em maior número e geram capitais elevadíssimos, muitas vezes superiores ao PIB de
muitos países, sobretudo dos PED (Figura 15).

A globalização do comércio apresenta aspetos positivos e negativos, tanto para os países mais
desenvolvidos como para os menos desenvolvidos (Quadro 1).

Aspetos positivos Aspetos negativos


Aumento dos fluxos de importação e Os lucros não são aplicados nos
de exportação de bens países de acolhimento
Promove a descida dos preços dos Aumento descontrolado do consumo
produtos
Maior divulgação dos produtos Desrespeito pelos Direitos Humanos
comerciais
Transferência de tecnologia para os Exploração desmedida de matérias-
países menos desenvolvidos primas e de mão-de-obra barata e
abundante
Desenvolvimento dos transportes e Marginalização dos países que não
das telecomunicações estão preparados para os mercados
internacionais
Aproximação geográfica, gerando Proliferação dos problemas
oportunidades de negócio ambientais
Contribui para o crescimento Aumento das crises financeiras
económico

Retirado do site:welovegeografia

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