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2015
Faculdade de Direito
- Com o crescer das cúrias, nascem as tribus, mais vastas, mas que partilhavam o fim
religioso e a estrutura organizativa.
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- Para além dos auxiliares, o rex também era auxiliado pelo Senado. Originariamente
constituído pelos patergentis fundadores da civitas romana, mais tarde pelos mais
experientes (senex), e progressivamente pelos plebeus (312 a.C., com a Lex Ovinia,
definitivamente) – passando-se a designar paters et conscripti. Tinha como funções
principais: Conselho do Rex; Nomeação do Interrex no Interregnum; Dar a Sanção
Senatorial (auctoritas patrum) às leis comiciais; e resposta a consulta jurídica
(senatusconsultum).
- A vontade do povo, detentor de uma parcela da soberania, era expressa nos comitia
(assembleias, comícios). Reunindo regularmente ou por designação, os comitia curiata
eram os mais antigos, originariamente acessíveis só a patrícios, mais tarde a todo o
populus. Eram muito importantes na Lex Curiata de Imperio (voto por cúria) e em
funções religiosas, até serem absorvidas pelos tributa e centuriata no período
republicano.
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- Nos 1ºs tempos, o populus romanus é chamado a pronunciar-se por cúrias (comitia
curiata, que foram decaindo) e por centúrias (comitia centuriata). Mais tarde surgem,
ainda, os comícios por tribos (comitia tributa) e os concílios da plebe (concilia plebis,
com funções predominantemente legislativas, que após a Lex Hortensia de 287 a.C.
passam a vincular todo o populus romanus enquanto plebiscito).
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vigia dos costumes do povo (regímen morum) e possível atribuição de nota censória
que provocava desonra; o cobrar dos impostos, a fiscalização dos fornecimentos e
tudo o necessário para a construção e reparação de obras públicas (opera publica). O
seu mandato terminava com o lustrum, cerimónia de purificação dos seus atos. Mais
tarde, a Lex Publilia Philonis de censore plebeio creando estabelece que um dos
censores tem de ser sempre plebeu.
- A pretura (prae-itur, “o que vai à frente”) foi instituída peles Leges Liciniae Sextiae de
367 a.C. como magistratura própria, deixando de significar apenas chefe militar
(cônsul, questor ou censor). Essas Leges postularam uma dupla inovação: o acesso dos
plebeus ao consulado, mas, como contrapartida, a criação simultânea de duas
magistraturas reservadas ao patriciado, a pretura e a edilidade curul (só no ano
seguinte), que auxiliará a já existente edilidade plebeia. O pretor gozava do comando
militar (imperium) e, especialmente, da iurisdictio, o poder de “dizer o direito” e de
administrar a justiça de forma normal e corrente, em causas civis. Presidia à 1º parte
do processo, – fase in iure – onde era analisado o aspeto jurídico da causa, a matéria
de Direito, ou falta dela. Após o ius-dicere, são analisadas as questões de facto pelo
iudex, no desenrolar da 2ª parte do processo – fase apud iudicere. Então, o iudex (juiz
particular) decide se segue ou não a apreciação do pretor e profere a sentença,
consoante se dessem como provados, ou não, os factos, mas sempre dentro dos
parâmetros de Direito previstos pelo pretor na 1ª fase. Em 242 a.C., é estabelecida a
colegialidade na pretura, surgindo a figura do pretor urbano, encarregue das questões
de ius civile, ou seja, pleitos entre cives, e do pretor peregrino, que aplica o ius
gentium a questões entre peregrinos (não cives romanos) ou entre peregrinos e cives.
Em 227 a. C. são criados 2 pretores para Sicília e Sardenha, e em 197 mais 2, para a
Hispânia Citerior e Ulterior.
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fase in iure do processo antes da criação da pretura, até às Leges Liciniae Sextiae, em
367 a.C..
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isto decorre do carácter religioso e místico em que o Direito se via revolto na Roma
Arcaica.
- Todavia, com a publicação das legis actionis que as torna acessíveis a todo o Populus
Romanus, iniciou-se o processo de laicização do Direito. Esta conquista plebeia fez com
que os pontífices (patriciado) perdessem paulatinamente o monopólio do Direito.
Surgiram os 1ºs jurisconsultos, mestres conhecedores do Direito, a quem um cidadão
recorria, particularmente, no intento da justiça.
- Este passo laicizante também logrou tornar mais robusto o poder do pretor na fase in
iure, na medida em que deixou de analisar somente a correta pronúncia da legis actio,
mas passou a apreciar juridicamente com muito maior liberdade a justiça ou injustiça
da pretensão. A laicização foi favorável à pretura, e desfavorável para os sacerdotes.
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- O edicto constituía, assim, a forma por excelência do direito pretório (ius pretorium),
também chamado de ius honorarium. Este era inserido no ordenamento jurídico com
o fim de apoiar, completar ou até corrigir (!) o ius civile. Esta correcção não constituía,
contudo, uma revogação, mas sim um afastamento no caso concreto, na medida em
que o ius civile perpetuava-se intacto. É, somente, paralisado nos seus efeitos pelo ius
honorarium, atendendo às particularidades observadas pelo magistrado no caso
concreto. Pela sua consecutiva aprimoração do ordenamento jurídico vigente, os
edictos pretórios de qualidade tendiam a ganhar nova vida no edicto do pretor
seguinte, e assim por diante. Estas disposições “hereditárias” eram intituladas de
edictum tralaticium ou vetus. A actividade jurígena do pretor vai, assim, diminuindo,
até à cristalização definitiva, já no Principado, por Salvio Juliano a mando de Adriano,
por volta de 130 d.C.: o edictum prepetuum, em que fica reservado ao imperador o
direito de emendar o edicto pretório. Cessa o carácter inovador do ius honorarium.
- Ius Gentium era o direito criado pelos romanos aquando da expansão das fronteiras
de Roma, com vista a regular as relações entre estrangeiros, ou entre Romanos e
estrangeiros (non cives). Superintendia-o o pretor peregrino (pós-242, com a Lex
Plaetoria de Preatore Urbano).
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- Por sua vez, os tribunos da plebe começaram por ser os chefes revolucionários da
mesma na luta contra os patrícios, pela conquista da equiparação política, até
atingirem uma estabilidade institucional, no amainar das tensões sociais. Não
detinham imperium, nem auspicia, nem eram considerados magistratus, sendo a sua
grande arma o ius intercessionis a todos os atos do governo ou poder público. Era
responsável pelo auxilium aos plebeus em todas as questões requeridas e acolhia a
apellatio de um cidadão que pretendia exercer o derradeiro recurso a uma decisão
judicial. Inicialmente um único, na época dos decênviros contavam-se 10, podendo,
inclusive, vetar os intercessio dos restantes, por forma a revestir o exercício do direito
de veto duma relativa unanimidade. Antes da criação do tribunado da plebe, a mesma
encontrava-se representada por 2 edis plebeus, que posteriormente se tornaram
auxiliares do tribuno. Era no concilium plebis que a plebe debatia, elegia os tribunos e
edis, e votava ainda plebiscitos (pela Lex Hortensia de 287 a.C. adquirem força de lei e
passam a vincular todo o povo romano).
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Crise da República;
- A causa principal da crise da república foi a falta de idoneidade funcional das
estruturas organizativas da cidade-estado, já desfasadas, para reger a complexa
realidade do mundo romano. A verdade é que as magistraturas tinham sido pensadas
e criadas para uma realidade proporcional à Roma cidade-estado. Conforme
salientado, a temporalidade e pluralidade das magistraturas, a intercessio e a direcção
política do Senado constituíam um duro entrave à eficácia interna, mas especialmente
externa, da política romana.
- Outra grave crise a considerar, prendeu-se com um choque moral e cultural após a
tomada da civilização helenística. À original e exacerbada moralidade sóbria e
conservadora da civilização romana, subentrou uma moralidade de tipo individualista,
crítica e reivindicativa, convicta da capacidade revolucionária e mutante da acção
humana.
- Por tudo isso, nos últimos tempos da República, Roma vivia numa verdadeira selva
política, onde as disputas pelo poder, as guerras civis, as revoltas e contra-revoluções a
qualquer preço, conta e medida floresciam como uma gangrena que corroía a
eficiência e credibilidade do sistema dia após dia.
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eliminar), para os quais se reservavam graves penas, que podiam chegar à execução
sumária ou perda do ius honorum (elegibilidade para as magistraturas). Roma
mergulha numa busca incessante pelo homem carismático, que afiguram como única
hipótese de devolver a paz e harmonia ao mundo romano. Até que surge Octávio,
futuro Octávio César Augusto, neto por adoção e herdeiro político da vítima dos “idos
de Março”, Júlio César.
- É esta posição que se nos afigura como mais adequada. De facto, Octávio nunca
desprezou as instituições republicanas, procurando, de início, interferir o mínimo
possível no seu normal funcionamento. Ele próprio preferia que o tratassem como
mero cônsul, e não como prínceps. Todavia, a verdade é que vai instituindo em torno
da sua figura uma monarquia sui generis, um verdadeiro “império democrático”, bem
característico da sua personalidade moderada e racional.
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- A lei fundamental de cada província era estabelecida pela lex provinciae. Dentro de
cada província, há cidades com diferentes estatutos: civitates foederatae –
formalmente independentes -, civitates liberae – com autonomia administrativa-,
civitates imunes – que não pagavam impostos-, civitates stipendiariae – adstritas ao
pagamento de uma tributação fixa (stipendium), fiscalizado por um questor adjunto do
governador provincial.
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- Consegue manter a paz durante o seu reinado, e ficou famoso por se revelar a
antítese religiosa do pai do Dominatus: Constantino era um fervoroso adepto do
Cristianismo, que ficara para sempre marcado pelo aclamado Acordo de Milão, de 313
(ainda quando o Império se encontrava dividido entre o mesmo Constantino e Licínio)
em que fora permitido, novamente, o culto da religião cristã – restituindo liberdade
religiosa – e o retorno de todos os bens confiscados aos mesmos. Haviam terminado
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- Sucedem-se então, mais uma vez, lutas atrozes pelo domínio do poder imperial,
travadas entre os 5 pretendes ao trono: 3 filhos e 2 sobrinhos de Constantino, que
acaba por ser dividido, novamente, por dois dos filhos, Constâncio e Constante a quem
competirá o governo ocidental e oriental, respectivamente. Pouco duraria esta
diarquia, pois morto Constante às mãos de Magnêncio (proeminente general), este
último procura ainda concentrar todo o poder imperial sob a sua égide pessoal, mas
sem sucesso. Constâncio acaba por retomar o poder, desta feita de forma total e
indivisível. Sucedeu-lhe em 360 Juliano, a quem a história foi pouco grata, pois levou a
cabo boas reformas, revelando-se um homem de verdadeira virtude que muito
poderia ter dado a Roma, não fosse a sua morte prematura. Finalmente sucede-lhe
Teodósio I, em 379, cuja memória ficará eternamente associada ao Edictum de
Tessalónica de 380, 1 ano decorrido da sua subida ao poder, em que institui o
Cristianismo como religião oficial do Império Romano.
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- A 1ª, usus, só por uma vez (numa constituição do imperador Constantino, do ano de
319) fora empregue com o suposto sentido de fonte de direito, pelo que o seu uso -
passando a redundância - frequente era como forma de designar um mero hábito,
desprovido, pois, de obrigatoriedade.
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- No relato tradicional da sua elaboração, fala-se numa incessante luta plebeia pela
publicação de leis escritas, por forma a suprimir o arbítrio do magistrado na
prossecução do processo penal ou civil, e do sacerdote que procedia à interpretatio.
Todos os magistrados e sacerdotes pontífices eram, então, exclusivamente patrícios.
Também era reivindicada a inclusão nessas novas leis do acesso plebeu ao ager
publicus (tesouro), a equiparação de direitos políticos, a abolição da servidão por
dívidas e a permissão do casamento (connubium) entre patrícios e plebeus. O
patriciado teria repelido estas pretensas por alguns anos mas, no ano de 451 a.C.,
todas as magistraturas ordinárias foram suspensas, bem como a provocatio ad
populum, e nomeada uma comissão regedora da civitas que ficaria encarregue da
elaboração das Leges (decemviri legibus scribundis – decênviros encarregados de pôr
por escrito as leis). O colégio dos decênviros, presidido por Ápio Cláudio, trabalhou por
1 ano e concluiu a escritura de 10 tábuas que foram sujeitas à aprovação dos comitia
centuriata. Todavia, sentindo que a obra não estava ainda completa, o seu mandato foi
reeleito por 1 ano mais. Esta 2ª comissão ficou encarregue da elaboração de 2 novas
tábuas, e não escapou à memória da tirania com que governou Roma no seu mandato.
O próprio conteúdo destas duas últimas tabuas ficou recordado como tabulae iniquae
(tábuas injustas, por oposição às 1ªs 10, equae).
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- Outro problema gerador de acesa discussão entre a Doutrina foi a alegada influência
grega quanto à ideia da compilação, e ainda quanto ao seu efectivo conteúdo. No que
à “ideia” concerne, a opinião é quase unânime de que a intenção codificadora é
claramente de influência helénica, pois trata-se, assim como no direito grego e nas
antigas Leis de Sólon, de leis profanas cuja técnica utilizada é de um primor e rigor com
um único precedente grego, que sugere inclusive a hipótese de um empréstimo
directo. Quanto à influência no conteúdo, é mais discutida, mas parece-nos óbvia nos
preceitos de certas Tábuas, como a abolição das carpideiras, que Cícero refere como
originária das Leis de Sólon.
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populo lhes apresenta uma proposta de lei (rogatio). Daí a designação alternativa de
leges comitiales - leges rogatae -, decorrente do processo legislativo de pergunta-
resposta.
- No dia da votação (dias não fastos- administração da justiça –, nem dias nefastos –
festas religiosas –, nem dias de mercado), o povo, chamado por meio de arauto,
reunia-se no Forum (comitia tributa) ou no Campo de Marte (comitia centuriata). No
início da cerimónia, o magistrado proferia uma oração (carmen precationis) e fazia um
sacrifício aos deuses. De seguida, após o pregoeiro (preco) ler a rogatio, iniciava-se a
votação. Esta era feita individualmente, inicialmente por expressão oral para um
rogator que anotava o voto, e, mais tarde, secretamente, através da inserção de uma
tabuinha (tesserae) numa urna (cistae). As tabuinhas podiam conter VR- aprovação, A-
rejeição ou NL- abstenção. Feita a votação, os escrutinadores (diribitores)
comunicavam o voto da respectiva tribo ou centúria ao magistrado, enquanto o
pregoeiro ia comunicando cada voto à assembleia. A proclamatio do preco terminava
quando estava assegurada a aprovação ou rejeição da rogatio. Seguia-se, finalmente, a
publicação da lei comicial, nas, já referidas, tabulae dealbatae. De referir ainda, como
nota, que a identificação das leges era feita geralmente com o nome do, ou dos,
magistrados que proponham a lei e por vezes com a referência ao assunto tratado.
- Quanto à sua estrutura, a lei comicial via-se tripartida: praescripto, rogatio e sanctio.
Na 1ª ficava a indicação do magistrado ou tribuno proponente, a assembleia votante, o
local e a data da votação, a tribo ou centúria que 1º votou e ainda o cidadão que
primeiro exerceu o direito de voto. A rogatio continha o texto da proposta de lei
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apresentada à assembleia popular. Rogatio pode significar, então, tanto o texto da lei
aprovada, como a proposta da mesma. Relativamente à 3ª, a sanctio, afastamos desde
já as posições que lhe atribuíam a estatuição da violação do disposto no 2º elemento
estrutural, na medida em que tanto a previsão como as consequências para o violador
da referida constavam no texto central integral da rogatio. Como tal, define-se este
último elemento como hipotéticas cláusulas adicionais ao conteúdo normativo da lei
comicial. 5 tipos de cláusulas, ou capita, são mormente destacadas, a que nos
referiremos seguidamente:
- Um problema surgiu com a classificação tripartida de leges chegada até nós num
fragmento de obra intitulado Tituli ex corpore Ulpiani. Este texto estabelecia três tipos
de leges: a lex perfecta, a lex minus quam perfecta e a lex imperfecta. De atender que
nestas situações já surge o moderno conceito de sanctio (sanção) - não o atrás referido
aquando da estrutura das leges comitiales - e ainda que esta tripartição se refere a leis
proibitivas/limitativas.
- Quanto à lex perfecta não surgem problemas: a ordem jurídica prevê a nulidade do
acto para quem, na sua prática, viole um preceito juridicamente tutelado,
desrespeitando o comando. Mas surgem problemas com as lex imperfecta e minus
quam perfecta.
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Plebiscitos (plebiscita);
- Nas enumerações Gaianas e Justinianeias, bem como em Ulpiano ou Papiniano, os
plebiscitos surgem sempre no 2º lugar, logo após as já abordadas leges comitiales.
Estes definem-na como “o que a plebe manda e estabelece, sob proposta de um
magistrado plebeu, como o tribuno”. Mais uma vez, a carência de iniciativa legislativa
própria.
- Historicamente, o plebiscito começa por ser uma deliberação ilegal numa, igualmente
ilegal, assembleia da plebe, e como o seu processo de convocação costumava ter por
base as tribus, vestia por vezes o nome de concilia plebis tributa. Todavia, só o populus
romani tinha o poder de ordenar (iubere) e criar leges vinculativas para todos, ficando
à plebe o direito parco de sciscere (estabelecer), não vinculativamente, claro está.
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Senatusconsultos (senatusconsulta);
- Nas já referidas Institutas de Gaio e Justiniano, o senatusconsulta surgem na 3ª
posição, logo após as leges e os plebiscitas. Todavia, inicialmente, os senatusconsulta
não possuíam valor de lei nem força normativa.
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técnica das leges saturae, situação que nunca foi regulamentada. Posteriormente
poderiam ser, ou não, afixadas na praça públicas, nas tabulae dealbatae
Constitutiones principum;
- É, mais uma vez, de salientar que as constitutiones principum surgem, tanto nas
Institutas de Gaio como de Justiniano em 4º lugar, após as leges, os plebiscita e os
senatusconsulta. São entendidas como “aquilo que o imperador estabelece por
decreto, por edicto ou por epistula”. A razão de ser deste poder vinculativo das
constituições imperiais tem suscitado alguma discórdia na comunidade estudiosa, mas
a larga maioria dos textos jurídicos da época atribui a sua legitimidade ao imperium do
prínceps, através de transferência popular pela lex de imperio. Há claro quem procure
argumentar que não há uma expressão unitária do fundamento das constituições,
proclamando que cada acto jurídico deva ser olhado sob o prisma das magistraturas
correspondentes, mas não é de crer que assim seja.
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- Os mandata não eram mais que instruções enviadas pelo imperador aos seus
subordinados – incluindo governadores das províncias imperiais e senatoriais. Está
claro que estas ordens revestiam carácter pessoal, quanto ao seu destinatário. Embora
a enumeração das fontes não lhes faça regularmente menção, a verdade é que tinham
poder vinculativo, revestindo uma importância extra no direito administrativo e
privado (testamentos militares, proibições de casamento, etc.). Quem teria a ousadia
de desrespeitar uma ordem do prínceps? Impensável.
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- Mas o que era, então, o iurisconsultus? Após a laicização, quais as suas funções e/ou
o seu método de trabalho? Antes de prosseguir, há que estabelecer uma fronteira
entre iurisconsultos e orator. O jurisconsulto é aquele que sabe e conhece o ius civile;
o orator, por sua vez, é o mestre na arte da eloquência e de bem falar, a retórica. Este
último, na maior parte dos casos não pussui conhecimentos de ius civile, limitando-se
a exteriorizar o ministrado pelo colega iurisconsultus. Apesar da rivalidade que muitas
vezes os separava, orator e iurisconsultus estavam no topo da pirâmide social romana,
e personificavam, melhor que ninguém, o protótipo do cidadão perfeito – eram
homens riquíssimos (apesar de exercerem as suas profissões de forma gratuita,
recebiam chorudas comissões e prémios, conquistando o prestígio para uma futura
carreira política), nobilíssimos, eloquentíssimos, sumos juristas e pontífices máximos.
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conexo aos “ritos processuais”. Há quem fale ainda numa função jurisconsulta de
guardar, conservar e transmitir o Direito de geração em geração, falando-se,
recorrentemente, no jurista como um “arquivo vivo”, pelo menos até às primeiras
teorizações por escrito - os primeiros livros da doutrina - que explanavam a opinião
dos clássicos, como verdadeiros manuais de Direito.
- Como já sabemos, de início o poder de respondere podia ser exercido por qualquer
pessoa, privado ou funcionário público, variando a sua admissibilidade apenas em
função do seu prestígio (auctoritas) e na confiança na qualidade e rigor dos seus
estudos. Todavia, a situação rapidamente se alterou com a chegada de Augustus ao
poder, e no redemoinho político provocado pelos adventos da nova forma
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– (Na mesma data) - Constituição Omnem: publicada por Justiniano juntamente com a
constituição Tanta, decreta uma reforma do ensino do direito, que passa assentar nas
Institutiones de Justiniano, no Digesto e no Código.
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codificado. Embora prevista a sua compilação (na Constituição Cordi), nunca chegaram
a ser oficialmente compiladas, sendo conhecidas apenas através de três compilações
de mão particular e desconjuntas:
2) O chamado Authenticum, versão latina de 134 novelas publicadas entre 535 e 556
d.C. preparada, muito provavelmente, em Itália nos finais do reinado de Justiniano
(falecido em 565 d.C.; assim chamado por, na Idade Média, se acreditar estar-se
perante o texto original das novelas (tratando-se, na verdade, de traduções latinas de
novelas originariamente redigidas em grego).
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