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Fundamento legal geral da acção executiva - 20º e 202º, nº 2, da CRP e art. 817º CC
B) - acção executiva - (processo regulado nos art. 801º a 943º) - art. 4º, nº 3:
- destina-se a reparar efectivamente o direito violado. Pressupõe (art. 817º, 2ª parte) o
dever de realização de uma prestação,
- visa reparar um direito violado, com prévia solução da dúvida que possa haver sobre a
existência e configuração do direito exequendo,
- proporcionará resultado idêntico ao da realização da própria prestação, directa
(apreensão e entrega da coisa ou quantia devida) ou indirectamente (pela penhora e venda, com
pagamento);
- é pelo título que se determinam o fim e os limites da execução - 45º, 1;
- substituição do tribunal ao devedor.
I - acção executiva para pagamento de quantia certa - 817º CC, 811º e ss (processo
ordinário) e 924º e ss (processo sumário) CPC;
II - acção executiva para entrega de coisa certa - 827º CC e 928º CPC; se a coisa não for
encontrada, procede o exequente à liquidação e posterior penhora, convertendo-se a execução em
execução para pagamento de quantia certa - 931º. Realização da própria prestação ou
equivalente. O direito à prestação da coisa pode ter por base uma obrigação (coisa dada em
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arrendamento e não entregue) ou um direito real (execução de sentença de acção de
reivindicação ou de preferência);
III - acção executiva para prestação de facto, positivo ou negativo - 828º e 829º CC; 933º
a 942º CPC. Facto fungível: 933 e ss; se infungível, só indemnização do dano sofrido com o
incumprimento - 933º. Facto negativo - 941º e 942º.
Formas de processo
1 - decisão judicial, qualquer que seja o valor ou processo em que foi proferida, desde
que não careça de liquidação em execução de sentença, nos termos da al. b) do nº 1.
Ao contrário do que resultaria da al. a) do nº 1 e no sentido de acelerar as execuções
baseadas em título que não seja decisão judicial condenatória, o referido Dec-Lei nº 274/97, de 8
de Outubro, mandou que seguissem também a forma sumária as execuções baseadas em
2 - título que não seja decisão judicial condenatória, desde que:
a) - se trate de execução de valor não superior à alçada da 1ª Instância (hoje, 750
contos - art. 24º, nº 1, da Lei nº 3/99, de 13 de Janeiro);
b) - a penhora recaia sobre móveis ou direitos não dados antes em penhor, com
excepção do estabelecimento comercial - art. 1º, a) e b).
Este Dec-Lei nº 274/97 excluiu a reclamação de créditos nestas execuções, salvo direito
de retenção invocado no acto da penhora e créditos com garantia real - art. 2º.
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3 - execução fundada em processo de injunção - art. 21º, nº 1, do Anexo ao Dec-lei nº
269/98, de 1 de Setembro.
Manuel de Andrade - ciado por A. Ferreira - define título executivo como o documento
de acto constitutivo ou certificativo de obrigações, a que a lei reconhece a eficácia de servir de
base ao processo executivo.
O título executivo é o documento (título hoc sensu) donde consta (não donde nasce) a
obrigação cuja prestação se pretende obter por via coactiva (por intermédio do Tribunal), pelo
que deverá haver harmonia ou conformidade entre o pedido e o direito do credor constante do
título.
Desde que a execução não é conforme com o título, na parte em que existe divergência
tudo se passa como se não houvesse título: nessa parte a execução não encontra apoio no título.
Não constando do acórdão, que serve de base à execução para o pagamento de quantia
certa, a condenação da executada no pagamento de juros moratórias existe, quanto a esse pedido,
falta de título, pelo que não é admissível a execução por tal prestação.
A autonomia do crédito de juros relativamente ao crédito principal está, de resto,
afirmada no artigo 561º do Código Civil - STJ, 9.11.95, BMJ 451-333; contra, A. Geraldes, na
Col. STJ 01-I-55.
Com a mesma doutrina, mas acrescentando que havendo excesso de execução, ou seja, se
o exequente, no requerimento inicial, formula, para além de um pedido para o qual tem título
executivo, um outro pedido para o qual não tem título executivo, o juiz deve indeferir limi-
narmente a petição só na parte em que não há título, prosseguindo a execução na outra parte, o
mesmo STJ, em ac. de 4.11.97, no BMJ 471-293, com base no princípio da economia processual,
no art. 45º, nº 1 e no actual art. 811º-A, nº 2, CPC.
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Enquanto condição da acção (ib., 61 a 64) toda a desconformidade entre o título e a
realidade substantiva pode e deve, pois, ser conhecida pelo juiz, desde que a sua causa seja de
conhecimento oficioso e resulte do próprio título, do requerimento inicial de execução, da acção
de embargos de executado ou de facto notório ou conhecido pelo juiz em virtude do exercício das
suas funções.
Título e causa de pedir
Para recente Jurisprudência do STJ que nem justifica a afirmação - Col. STJ 98-I-41, as
livranças são o título executivo formal, mas a verdadeira causa de pedir são os factos que nelas se
reflectem.
Ou: Nas acções executivas a causa de pedir é constituída pela factu-alidade obrigacional e
não pelo título executivo, embora reflectida, indis-pensavelmente, neste - Col. STJ 94-III-69.
O Supremo Tribunal repetidamente afirma que o título executivo não é a causa de pedir
na acção executiva:
A causa de pedir é um facto, o título executivo é o documento ou a obrigação
documentada. A causa de pedir é um elemento essencial de identificação da pretensão processual,
ao passo que o título executivo é um instrumento probatório especial da obrigação exequenda -
BMJ 407- 448.
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Espécies - 46º
- As prestações futuras a que se refere o art 50º do C.P.C. são apenas as prestações que
cabem ao credor e não as que o devedor tenha de satisfazer.
- Assim, constitui título executivo bastante uma escritura de cessão de quota na qual se
convencione o pagamento do preço em prestações, sendo este pagamento a obrigação exequenda
- Col. STJ 99-I-105
Não pode o creditado instaurar execução contra o banco creditante com base na escritura
de abertura de crédito - BMJ 428-521.
Após a revisão processual de 1995/96 ficou claro que a obrigação pecuniária não precisa
estar determinada, admitindo-se a liquidação por simples cálculo aritmético - 805º.
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Dado o disposto nos art. 386º e 387º, nº 2, do CC, a pública forma e a fotocópia atestada
conforme por notário têm o mesmo valor que o original, mas pode o executado requerer a
exibição do original.
Porque é frequente o exequente juntar o original da letra ou livrança a um processo contra
um dos obrigados (falência) ou o cheque estar a ser objecto de procedimento criminal, tem-se
entendido que as cópias de tais títulos não valem como título executivo, não podendo com base
nelas instaurar-se execução, mesmo com cópia autenticada - Bol. 375-352, Col. STJ 93-III-69 e
Bol. 431-495 - ao menos, sem justificar a necessidade de juntar a cópia - Col. 94-III-69.
Recentemente decidiu o STJ ser admissível acção executiva com base em fotocópia
autenticada de letra extraída de execução pendente contra outro devedor - BMJ 482-181. Por
último, o Bol. 489-288, chamando a atenção para a necessidade de se não poder duplicar
execução com base no mesmo título.
Também foi discutido se pelos documentos particulares de empréstimo do CPP se podia
validamente consitutir hipoteca voluntária. Depois dos Pareceres dos Prof. Varela e M. Cordeiro
na Col. 91-III-45 e 55 parece não haver dúvidas da validade de tais hipotecas.
Também é seguro que as Caixas de crédito agrícola estão equiparadas aos estabele-
cimentos bancários. Como tal, aplica-se-lhes o Decreto-Lei n.° 32.765, de 29 de Abril de 1943,
que restabeleceu a suficiência de documento particular como meio de prova do contratos de
mútuo ou usura de estabelecimentos bancários, tenham ou não a natureza de mercantis, sejam ou
não comerciantes as outras partes contratantes - Bol. 473-404.
Prescrita a obrigação cartular constante de uma letra, livrança ou cheque, poderá o título
de crédito continuar a valer como título executivo, agora enquanto escrito particular consubstan-
ciando a obrigação subjacente?
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1 - a obrigação a que se reporta emerge de um negócio jurídico formal - o
documento não vale como título executivo porque a causa do negócio é elemento essencial deste
- 221º, 1 e 223º, 1, CC.
2 - a obrigação a que se reporta não emerge de um negócio jurídico formal - a
autonomia do título executivo em face da obrigação exequenda e a consideração do regime do
reconhecimento de dívida (art. 458-1 CC) levam a admiti-lo como título executivo, sem prejuízo
de a causa da obrigação dever ser invocada no requerimento inicial da execução e poder ser
impugnada pelo executado.
A Relação de Lisboa (Col. 97-V-129) decidiu que embora não apresentado a pagamento
no prazo de 8 dias a que se reporta o artº 29º da LUC, o cheque não deixa, só por isso, de ser
título executivo.
Foi propósito da reforma processual, ao dar nova redacção à al. c) deste art. 46º, ampliar
significativamente o elenco dos títulos executivos, deixando de se referir especificamente às
letras, livranças e cheques.
Diferente foi o entendimento do STJ que em Ac. de 4 de Maio de 1999, na Col. STJ 99-
II-82 decidiu que
I - Está ausente da letra ou do espírito da reforma processual civil de 1995, no que
respeita às alterações introduzidas na norma da al. c) do art. 46º, qualquer intencionalidade
visando a não aplicação dos normativos próprios da LUC.
II - O direito de acção do portador contra o sacador, por falta de pagamento, só poderá ser
exercido se o cheque, apresentado dentro dos 8 dias, não for pago e se a recusa de pagamento for
verificada, antes de expirar esse prazo, por um dos meios referidos nos arts. 40 e 41º da LUC
- Titulo executivo
- Cheque apresentado a pagamento fora de prazo
(Ac. STJ (S. Paixão) de 29 de Fevereiro de 2000, na Col. 00-I-124)
Em sentido contrário, o Dr. Gil Moreira dos Santos, na Revista Jurídica da Portucalense,
págs. 77 e ss, entende que a acção executiva, porque fundada num título que documenta uma
obrigação, que por ele fica PRESUNTIVAMENTE COMPROVADA, é independente do direito
material que ali se pretende fazer valer.
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- Sendo o título o PRESSUPOSTO PROCESSUAL na acção executiva. tem de entender-se
que nesta forma de realização do direito se prescinde de alegação PRÉVIA de uma verdadeira e
própria "causa de pedir", que, todavia, na acção declarativa é pressuposto objectivo da lide.
- Pela evolução histórica dos preceitos dos artigos 46 e 51 do C.P.C. ressalta que a
alínea c) do primeiro daqueles normativos pretendeu vincar que, SEM PERDA do "NOMEM
JURIS próprio dos títulos de crédito PARA OUTROS FINS, já ENQUANTO TÍTULO
EXECUTIVO, o cheque e os demais títulos de crédito são UM entre os muitos tipos de
DOCUMENTO PARTICULAR, cuja definição vai buscar á lei civil.
I - Prescrito um cheque à luz do artigo 52º da LUC (prazo de seis meses), o portador
perdeu o direito de acção cambiária fundado no mesmo, não podendo, pois, utilizá-lo já como
titulo executivo.
II - O cheque prescrito apenas pode continuar a valer como título executivo enquanto
documento particular consubstanciando a obrigação subjacente, desde que esta seja emergente de
negócio formal e a sua causa seja invocada no requerimento da execução de modo a poder ser
impugnada pelo executado.
III - De qualquer modo, o adquirente por endosso de cheque que haja prescrito não pode
usá-lo, em qualquer caso, como título executivo, já que a sua qualidade de credor aferia-se apenas
pela literalidade e abstracção do título e, tendo o mesmo perdido essa características, aquele não
pode socorrer-se do reconhecimento unilateral da divida, reconhecimento que só é válido nas
relações "credor originário/devedor originário" - 18.1.2001, Col. STJ 01-I-71
Por Acórdão de 30 de Janeiro de 2001, na mesma Col. STJ, pág. 85, decidiu o STJ que
I - Na actual versão do CPC (95/96) prescrita a obrigação cartular constante de uma letra
dada à execução, poderá, ainda assim, esta última valer como título executivo, enquanto docu-
mento particular consubstanciando a obrigação subjacente.
II - Todavia, para que tal aconteça, necessário se torna que, no requerimento inicial da
execução, o exequente invoque logo a respectiva causa da obrigação.
III - Se não fizer a aludida invocação, naquela altura, vedado está ao exequente vir fazê-
lo, mais tarde, na pendência do processo, por tal implicar uma alteração da acusa de pedir.
III - Documento a que disposição especial da lei atribui força executiva - 46º, d).
Podem ser de duas espécies: títulos judiciais impróprios, os que, não sendo decisões
judiciais, se formaram no decurso de um processo. São os casos do art. 1016º, nº 4 (saldo das
contas apresentadas pelo R.) e o execute-se do processo de injunção; e os títulos administrativos
ou de formação administrativa, os emitidos por repartições do Estado ou outras pessoas
colectivas, por créditos próprios. Era, nomeadamente o caso das certidões de dívida a Instituições
de Previdência e das certidões de dívidas por assistência hospitalar, criadas pelo Dec-Lei nº
194/92, de 8 de Setembro, cujo art. 2º, nº 1, declarava serem títulos executivos, sendo condições
de exequibilidade as referidas nas al. a) a e) do mesmo art. 2º.
Hoje a cobrança de dívidas ao Serviço Nacional de Saúde pressupõe o recurso à acção
declarativa, com especialidades, nos termos do Dec-lei nº 218/99, de 15 de Junho.
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IV - Título (extrajudicial) exarado em país estrangeiro - não carecem de revisão - 49º,
nº 2: o executado pode defender-se por qualquer meio, sem as restrições próprias da defesa se a
execução se fundasse em sentença estrangeira.
Feita a penhora, são citados para a execução, nos termos do art. 864º, o cônjuge do
executado e os credores com garantia real, relativamente aos bens penhorados.
Uma vez no processo, tanto aquele como estes adquirem alguns dos poderes processuais
que, competem, respectivamente, ao executado e ao exequente.
Como a falta da sua citação tem o mesmo efeito que a falta de citação do réu, nos termos
do nº 3 da disposição legal citada, devem ser considerados como partes no processo.
A intervenção do cônjuge do executado ocorre em dois tipos de situações:
a) - Quando o exequente requeira a sua citação, nos termos do art. 825º, por terem sido
penhorados bens comuns do casal;
b) - Quando a penhora tenha recaído sobre bens imóveis que o executado não possa
alienar livremente.
No primeiro caso, ao cônjuge apenas é permitido requerer, por apenso, a separação de
bens, que se organizará em processo de inventário, como determina o art. 1406º. Neste processo
de inventário, o cônjuge, que tem o direito de escolher os bens que integrarão a sua meação, será
parte principal. Mas nenhuma intervenção terá no processo de execução, pelo que neste não
poderá ser considerado como parte.
No segundo caso, a situação do cônjuge é totalmente diversa.
Hoje, o chamamento do cônjuge visa alcançar no processo executivo a mesma finalidade
que é prosseguida pela imposição da propositura contra ambos os cônjuges de acções de que
possa resultar a perda ou oneração de bens que só por ambos possam ser alienados (art. 28º-A).
Daí o estabelecido no novo art. 864º-B, introduzido pela Revisão de 95-96, onde se
consagra, para a situação que analisamos, que o cônjuge do executado "é admitido a deduzir
oposição à penhora e a exercer, nas fases da execução posteriores à sua citação, todos os direitos
que a lei processual confere ao executado".
Ocorrendo a citação do cônjuge com a abertura da fase da "convocação dos credores e
verificação dos créditos", é óbvio que não poderá exercitar poderes processuais previstos para as
fases anteriores, designadamente o de opor-se à execução por embargos, que o artº 812º reserva
exclusivamente ao executado.
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Mas, a partir da sua citação, o cônjuge fica ao lado do executado numa situação de
litisconsórcio passivo, com os poderes de ambos totalmente equiparados.
Donde ser de concluir que o cônjuge do executado, quando convocado na sequência da
penhora de bens imóveis, adquire, na acção executiva, o estatuto de parte principal.
OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO
Desaparecido o meio de defesa que era o recurso de agravo do despacho que ordenou a
citação - 234º, nº 5 - são hoje dois os meios de oposição à execução:
Este meio de defesa deve ser admitido, apesar do carácter taxativo dos art. 813º (a
oposição só pode ter algum dos fundamentos seguintes) e 929º, pois naqueles casos os embargos
seriam meio pesado e inadequado.
Já antes da revisão de 1996 se defendia a oposição por simples requerimento, nos casos
em que, dada a manifesta simplicidade da questão, se não justificava o uso do meio mais solene e
pesado dos embargos. Hoje, com a simplificação processual pretendida pela reforma e vista a
redacção taxativa do art. 813º, continua a entender-se que o requerimento é meio adequado de
defesa nos casos em que não sejam admissíveis embargos: não indicação do valor da acção ou
falta de outros requisitos da petição - que o Juiz não haja apreciado - 811º B e 820º - como acima
visto.
Apresentado no prazo da oposição por embargos e com resposta - em dez dias - ou sem
ela, o Juiz decide por despacho.
2 - EMBARGOS DE EXECUTADO
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dos embargos) que corre por apenso ao processo de execução (817º) e por via deles pretende o
embargante se julgue, total ou parcialmente, extinta a execução.
Também aqui se aplicam as regras gerais (342º e ss do CC) do onus da prova, pelo que
compete ao exequente a (alegação e) prova dos factos constitutivos do direito invocado e ao
embargante (réu/executado) a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do
direito do A./exequente/embargado.
Assim, a prova de qualquer excepção (pagamento, falta de apresentação a pagamento,
preenchimento abusivo de cheque ou letra, prescrição, novação) impende sobre o embargante.
Como decidiu o STJ no plenário das secções cíveis, em 14 de Maio de 1996, em proces-
so de embargos de executado é sobre o embargante subscritor do cheque exequendo, emitido
com data em branco e posteriormente completado pelo tomador ou a seu mando, que recai o ónus
da prova da existência de acordo de preenchimento e da sua inobservância - BMJ 457-59; da
mesma forma e quanto a letra em branco alegadamente preenchida contra o pacto ou acordo de
preenchimento, preenchimento abusivo que constitui excepção, decidiu o mesmo Supremo que o
ónus da prova desse preenchimento abusivo cabe ao obrigado cambiário, como facto
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito emergente do título de crédito (art. 342º, n.° 2,
do Código Civil).
Em suma, quem entrega uma letra em branco fica com o encargo de fazer a prova do seu
preenchimento abusivo e, no caso de execução, essa prova tem de ser feita nos embargos de
executado, cuja petição se destina à impugnação dos requisitos do título executivo e do direito
substancial do exequente, em termos idênticos aos da posição assumida pelo contestante em
processo comum de declaração (artigos 812º e seguintes do Código de Processo Civil) - BMJ
457-401.
Os embargos são um meio de defesa muito amplo em que o embargante pode alegar tanto
questões de direito como de facto, nomeadamente factos novos que não pôde alegar na
(inexistente) acção declarativa.
A maior ou menor amplitude dos fundamentos da defesa por embargos depende da
natureza do título que se executa. Com efeito, se o título executivo é uma sentença, compre-
ende-se que os fundamentos de embargos sejam mais restritos: o ora embargante teve todas as
possibilidades de defesa na acção declarativa, pelo que não pode repetir nos embargos os
mesmos meios de defesa ou os que podia ter alegado na acção declarativa. Assim,
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e) - Atender aos conceitos de
Inexequibilidade - o título diz-se inexequível quando não reúne as condições
externas necessárias para poder servir de base à execução, nos termos do art. 46º do CPC;
Inexigibilidade - consiste na impossibilidade legal do seu cumprimento coercivo -
817º CC.
Incerteza ou iliquidez - Tal como antes estatuído no artigo 802º do Código de
Processo Civil, «não pode promover-se a execução enquanto a obrigação se não torne certa e
exigível, caso o não seja em face do título», diz-se agora neste art. 802º que a execução
principia pelas diligências, a requerer pelo exequente, destinadas a tornar a obrigação certa,
exigível e líquida, se não o for em face do título executivo.
Sem a ocorrência de certeza e de exigibilidade da prestação não se poderá promover a
própria execução.
Todavia, diversamente do que sucedia na vigência do Código de Processo Civil de 1939, a
iliquidez da obrigação não constitui, hoje, obstáculo à instauração do processo executivo.
E quando se poderá falar da incerteza ou da iliquidez da obrigação? A obrigação é certa
sempre que a respectiva prestação se encontra qualitativamente determinada, «ainda que esteja
por liquidar ou por individualizar».
Ao invés, a obrigação não é certa quando esteja por fazer a determinação ou escolha,
entre uma pluralidade, da prestação, quer essa escolha incumba ao credor ou a terceiro, quer
pertença ao próprio devedor.
É o que acontece nos casos de obrigações alternativas e nos casos de obrigação genérica
de objecto qualitativamente indeterminado (cfr. artigos 400º, 539º e 543º do Código Civil e artigo
803º do Código de Processo Civil).
Por seu turno, obrigação ilíquida é aquela «em cuja prestação é essencial uma quantidade
que não está numericamente determinada».
Se se tiver um título executivo contendo uma obrigação ilíquida ou indeterminada, nada
obsta, como dissemos, à instauração da execução.
O que acontece é que a liquidação - ou seja, a conversão da obrigação em líquida - tem
lugar na fase liminar do processo executivo, embora já no decurso deste.
Liquidação que - frise-se - será efectuada, consoante as hipóteses, ou pelo exequente, ou
pelo tribunal, ou por árbitros, nos termos dos artigos 805º, 806º e 809º do Código do Processo
Civil (cfr. Lebre de Freitas, A Acção Executiva, 1993, págs. 65/70; Anselmo de Castro, A Acção
Executiva Singular, Comum e Especial, 1970, págs. 49/52; Castro Mendes, Acção Executiva,
1971, págs. 15/16; e Lopes Cardoso, Manual de Acção Executiva, 3.ª ed., págs. 193, 194 e 199) -
BMJ 462-367.
f) - Como se dispõe no art. 675º, deve cumpri-se a decisão que em primeiro lugar
transitou, sendo que antes da execução podia usar-se o recurso extraordinário de revisão - art.
771º, g).
g) - facto extintivo, impeditivo (anulabilidade - 287º, nº 1, CC) ou modificativo da
obrigação - Abrangem-se aqui as várias causas de extinção das obrigações, designadamente o
pagamento, a dação em cumprimento, a consignação em depósito, a compensação, a novação, a
remissão e a confusão (arts. 837º e segs. do CC), bem como aquelas que as modificam
(designadamente por substituição do seu objecto, extinção parcial ou alteração de garantias), a
prescrição... L. Freitas, op. cit., 148.
Ponto é que se verifiquem os requisitos da lei:
a) - Que o facto sela posterior ao encerramento da discussão no processo de declaração;
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b) - Que se prove por documento, salvo a prescrição que pode provar-se por qualquer
meio.
A este respeito, escreveu Alberto dos Reis:
«Sem dificuldade se compreendem estas duas exigências. Pretende-se evitar, por um lado,
que o processo executivo sirva para destruir o caso julgado, para invalidar o benefício que a
sentença atribuiu ao exequente; tem-se em vista, por outro lado, obstar a que a oposição à execu-
ção se converta numa renovação do litígio a que pôs termo a sentença que se executa. E como a
sentença assenta no estado de coisas existente à data do encerramento da discussão (art. 663º), daí
o tomar-se como ponto de referência, não a data da sentença, mas a data em que a discussão se
encerrou.
Também se compreende sem esforço a admissibilidade da alegação de factos extintivos
ou modificativos posteriores. O caso julgado tem de ser respeitado e acatado; mas pode suceder
que a situação jurídica apreciada e declarada pela sentença já não corresponda à realidade jurídica
no momento em que se promove a acção executiva - Processo de Execução, vol. 2º, pág. 28/29.
Não pode o compensante por crédito superior ao exequendo obter pagamento da diferença
- L. Freitas, 148.
A prescrição que aqui se refere é a verificada depois do trânsito em julgado da decisão,
como resulta dos art. 323º, nº 1 e 327º, nº 1, CC. Notar, ainda, os art. 309º e 311º, nº 2, do mesmo
CC.
B) - Execução de sentença homologatória de conciliação, confissão ou transacção -
815º - incluindo a sentença homologatória de partilha acordada em conferência de interessados -
Col. 97-IV-189.
Também aqui são invocáveis como fundamento dos embargos, além dos elencados no art.
813º, aqueles que determinem a nulidade ou anulabilidade da decisão arbitral.
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Estes fundamentos constam do art. 27º da Lei nº 31/86, de 29 de Agosto, mas o Tribunal
indeferirá oficiosamente o pedido de execução na situação prevista no nº 2 do art. 814º.
Porque neste caso o executado não teve ocasião de deduzir defesa em prévio processo
declarativo, permite-lhe a lei a mais ampla defesa nos embargos: além dos fundamentos do art.
813º, pode ele alegar quaisquer fundamentos que lhe era lícito deduzir como defesa no
processo de declaração.
Pode deduzir defesa por excepção ou impugnação, só não podendo reconvir, que a
reconvenção não é meio de defesa mas de contra-ataque.
O Processo de Embargos
Os embargos devem ser deduzidos em 20 dias (10 no processo sumário - 926º, nº 1), a
contar da citação, da verificação ou do conhecimento do facto fundamento da oposição se a
respectiva matéria for superveniente (pagamento posterior à citação, p. e.) - 816º.
Ao contrário do que acontece no processo declarativo (486º, nº 2), o prazo corre
separadamente para cada executado - nº 3 do art. 816º - e por ser norma interpretativa é de
aplicação imediata aos embargos pendentes à data da sua entrada em vigor.
O Juiz aprecia liminarmente os embargos, rejeitando-os nas situações prevenidas no art.
817º, nº 1: fora de prazo, manifesta improcedência ou desajustamento em relação ao disposto nos
art. 813º a 815º, conforme o título executivo.
Se os embargos forem recebidos, o Juiz manda notificar o exequente para os contestar em
20 dias, seguindo-se, sem mais articulados, os termos do processo ordinário ou sumário, confor-
me o valor dos embargos.
Aplicam-se aqui as regras da falta de contestação - 484º e 485º - salvo quanto àqueles
factos antecipadamente afirmados no requerimento executivo que, estando em oposição com os
afirmados na petição d embargos, não podem considerar-se confessados - 817º, nº 3.
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3 - Contudo, se o caucionante for um terceiro e a situação for abrangível pelo n.° 1 do
artigo 623.° do Código Civil, poderá ressalvar o benefício da excussão.
4 - Neste caso, o exequente não poderá fazer-se pagar pelo valor da caução, sem prévio
respeito por esse benefício - BMJ 447-448 e Col. 95-II-73.
A Relação do Porto - Col. 94-V-241 decidira que não, pois a caução prestada pelo execu-
tado embargante para suspensão da execução até ao julgamento definitivo dos embargos é apenas
ditada por razões processuais, não podendo considerar-se como garantia especial das obrigações
do executado para além do património deste como garantia geral do cumprimento de tais
obrigações.
Com efeito, não tendo a caução sido penhorada e podendo ser prestada por forma
diferente do depósito de dinheiro - 623º do CC - não se vê como pode entregar-se ao exequente o
objecto da caução.
Em processo sumário (924º e ss) para pagamento de quantia certa o prazo de dedução
dos embargos é de dez dias, devendo cumular-se neles a oposição à penhora - 926º, nº 3.
Na execução para entrega de coisa certa (929º) pode o executado deduzir embargos,
além do mais, com fundamento em benfeitorias a que tenha direito, desde que, tendo corrido
processo declaratório, tal direito haja aí sido reconhecido - 929º, nº 1.
Trata-se de disposição inovadora - Col. 97-V-177, Bol. 490-229 e Col. STJ 99-III-54 -
que a ser aplicada a embargos deduzidos a sentença anterior à reforma processual será ofensiva
do princípio da confiança ínsito no do estado de direito democrático - art. 2º da Constituição - na
medida em que suprime um meio de defesa que ao tempo da acção declarativa não era de
dedução obrigatória nessa acção e que o R. confiava - legitimamente - poder deduzir nos
embargos.
Na execução para prestação de facto - 933º, 940º e 941º - os embargos serão deduzidos
em vinte dias.
A prova do cumprimento posterior da obrigação que na execução para pagamento de
quantia certa tem de fazer-se por documento - al. g) do art. 813º - pode aqui fazer-se por
qualquer meio - 933º, nº 2 - como além a prescrição - al. g) do art. 813º, in fine.
PENHORA
15
penhorado, por exemplo, o direito a uma universalidade, para quem entenda ser insusceptível de
posse uma universalidade) - que passa a ser exercida pelo Tribunal, através do depositário.
Mesmo quando penhorado um crédito ou um direito potestativo, ou o direito a celebrar
certo contrato, o poder de emitir a declaração de vontade respectiva passa para o Tribunal (820º
CC).
II - Ineficácia relativa dos actos dispositivos subsequentes - perdidos com a penhora os
poderes de gozo, o executado mantém os poderes de disposição, mas os actos de disposição ou
oneração posteriores à penhora e sem prejuizo das regras do registo são ineficazes em relação à
execução (819º CC) e não só, como diz a lei, em relação ao exequente, pois também o são em
relação ao Tribunal (custas), aos credores reclamantes e ao comprador dos bens (824º CC).
Assim, se o executado deu de arrendamento imóvel depois de registada a penhora sobre
ele incidente, este arrendamento é ineficaz em relação ao adquirente do bem em execução e o
locatário não pode fundar nele a recusa de entrega ao comprador.
São unânimes os Doutores na interpretação da norma do art. 819º CC, especialmente no
tocante aos efeitos da penhora.
A penhora não retira ao executado a propriedade dos bens, a qual só cessará pelos futuros
actos executivos, como decorre do próprio princípio da livre disposição jurídica do direito,
apenas sob a ineficácia da disposição para com a execução, ... e é, aliás, incontroverso.
A propriedade é mantida no executado como que apenas para o efeito de não ter que ser
retransmitida na emergência de os actos executivos se tornarem desnecessários, e para que os
bens possam circular livremente.
Se, quanto à disposição material dos bens, o princípio é o de indisponibilidade absoluta,
quanto à disposição, jurídica, ... rege o princípio oposto da livre disponibilidade do direito,
apenas com a limitação da ineficácia dos respectivos actos, para com a execução, independente-
mente de declaração judicial, isto é, tendo-se os actos como válidos e eficazes em todas as
direcções menos em relação à execução, para a qual são havidos como se não existissem (tan-
quam non essent) - 819º.
A regra tem aplicação indistintamente a todos os actos de disposição (ou cessão), transla-
tivos ou constitutivos, sejam de direitos reais de gozo ou de garantia, ou extintivos do crédito
(compensação, novação, renúncia, perdão, etc.
Compreende, ainda, as próprias constituições de direitos de carácter não real, como
locações ou semelhantes1.
1
- Anselmo de Castro, Acção Executiva..., 1970,150 e ss, maxime 155.
2
- A Acção Executiva à luz do Código Revisto, 2ª ed., 214 e ss.
16
simplesmente, inoponível à execução. Trata-se duma inoponibilidade objectiva ou situacional,
diversa da inoponibilidade meramente subjectiva, isto é, em face dum certo terceiro (CASTRO
MENDES, Acção, p, 96, nota 2)3.
Já em 19804 Castro Mendes ensinava que a inoponibilidade de que fala a lei - 819º a 821º
do CC - refere-se ao processo de execução, a qualquer nele interveniente - exequente, tribunal,
arrematante, credores, etc. Lição que repete em Direito Processual Civil, III, 372, nota 350.
O facto de a administração do imóvel penhorado estar confiada a outrem, não retira ao seu
proprietário o poder de disposição ou oneração do mesmo. Tais actos não padecem de invalidade,
mas tão só de ineficácia em relação à execução.
É de referir que a ineficácia do contrato tem em vista os fins da execução: daí que o
negócio não produza efeitos em relação ao eventual comprador do prédio em execução, que
pode, no entanto, por declaração de vontade, tornar o contrato eficaz, também em relação a si5.
Criticando diferente entendimento do Supremo, Vaz Serra6 ensinou que sendo o arren-
damento ineficaz relativamente ao exequente, também o é para o adquirente do prédio na exe-
cução, pois, destinando-se aquela ineficácia a defender os interesses da execução, tem também o
fim de defender os do adquirente nela.
Não tem sido outro o ensinamento, a bem dizer unânime, da Jurisprudência do Supremo
Tribunal quando decidiu que não é eficaz em relação ao requerente da posse judicial avulsa o
contrato de arrendamento celebrado com o requerido após efectivação da penhora e registo desta 7
ou estende a ineficácia do arrendamento a credor hipotecário anterior a tal oneração8: a venda
judicial, em processo executivo, de um imóvel hipotecado faz caducar o arrendamento, não
registado, dessa coisa celebrado posteriormente à constituição daquela garantia real.
3
- Ib., 216, nota 7.
4
- Acção Executiva, edição da AAFDL, 99.
5
- Januário Gomes, Constituição da Relação de arrendamento urbano, 1980, 277-278.
6
- RLJ 109-377.
7
- Col. STJ 1995-III-68.
8
- BMJ 458-227 e o recentíssimo 482-219.
17
I - A protecção de terceiros não fica limitada aos casos em que é o proprietário a celebrar
dois negócios incompatíveis, sendo extensiva a situações em que a segunda venda, registada, tem
natureza judicial.
II - Àquele que adquire, no âmbito da acção executiva, um direito que se encontrava
inscrito no registo predial a favor do executado, não pode ser oposta uma transmissão
anteriormente efectuada pelo mesmo executado a favor de uma terceira pessoa que não registou
essa aquisição.
III - A precedente solução não é modificada pelo facto de ter sido o exequente, e não o
executado, a nomear à penhora o prédio que foi vendido.
IV - Tanto por via da doutrina do Ac. uniformizador nº 3/99, como por via do preceituado
no art. 59, nº 4, introduzido pelo Dec-lei nº 533/99 de 11/12 - não é possível afirmar a eficácia da
anterior venda sobrepondo-se à segunda aquisição registada, quando se não provou que os
últimos adquirentes conheciam a real titularidade do bem.
V - Se os anteriores adquirentes não registaram o seu direito, não podem invocar perante
terceiros o facto de terem adquirido a posse dos anteriores titulares, sob pena de ineficácia das
regras do registo predial.
Objecto da Penhora
Art. 821º CPC que remete para os art. 601º a 603º e 833º do CC.
I - bens do devedor
a) - susceptíveis de penhora, condição esta definida pela lei processual que define os
bens absoluta ou totalmente impenhoráveis (822º), relativamente impenhoráveis
(823º) e parcialmente penhoráveis (824º); sem prejuízo do regime de
b) - separação de patrimónios: 2070º e 2071º para a Herança, 1695º no tocante aos
bens comuns do casal.
18
Enquanto que a lei civil (204º e 205º) distingue entre coisas móveis e imóveis, a lei
processual regula separadamente a penhora de imóveis, a de móveis e a de direitos.
Enquanto nos regimes de separação os bens comuns são objecto duma relação de
compropriedade, nos regimes de comunhão constituem um património colectivo de afectação
especial, por deles serem simultaneamente titulares marido e mulher e se encontrarem vinculados
à satisfação das necessidades da sociedade conjugal.
Respondem, por isso, pelas dívidas de ambos os cônjuges, nos termos do artº 1695º do
CC. Por estas dívidas respondem, também, na falta ou insuficiência daqueles bens, solida-
riamente (ou conjuntamente, se o regime for o da separação de bens) os bens próprios de qual-
quer dos cônjuges.
No que respeita às dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respon-
dem, em primeiro lugar, os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua mea-
ção nos bens comuns, de harmonia com o disposto no nº 1 do art. 1696º do CC.
Na execução movida somente contra o cônjuge obrigado no título, apenas se podem
penhorar, em princípio, os bens próprios do executado e a sua meação nos bens comuns.
Se a dívida for da responsabilidade de ambos os cônjuges e o credor quiser executar os
bens comuns do casal, terá de se munir de um título executivo onde ambos figurem como
devedores; se somente tiver título contra um deles, terá de obter também título contra o outro
(v.g., sentença condenatória).
Contudo, mesmo em execução movida apenas contra um dos cônjuges podem ser
penhorados, a título provisório, a fim de ficarem indisponíveis, os bens comuns do casal,
desde que o exequente, ao nomeá-los à penhora, peça a citação do cônjuge do executado,
para requerer a separação de bens (artº 825º, nº 1). Essa citação far-se-á logo a seguir à
penhora ou depois de junta a certidão de encargos inscritos, quando a penhora for registável (art.
864º, nº 1, alínea a).
19
O processo de separação de meações segue os termos do art. 1406º do CPC, e que se
destaca: o exequente deve ser citado para os termos do inventário cujos termos qualquer credor
pode promover (Col. 00-III-177 e 1406º, 1, a)); a escolha de bens que formarão os quinhões é
fiscalizada pelos credores (al. c) do nº 1 e Col. STJ 98-I-35); não há licitações - Col. 97-II-27.
Extinção da moratória
Atenta a nova redacção dada ao nº 1 do art. 1696º do CC, todas as dívidas da exclusiva
responsabilidade de um cônjuge podem dar hoje lugar à penhora subsidiária de bens comuns, sem
se ter de esperar a dissolução do casamento, a declaração da sua nulidade ou anulação ou ainda a
separação dos bens do casal.
A adjectivação deste regime substantivo é feita no art. 825, aplicável não só nos casos de
responsabilidade exclusiva do executado, mas também naqueles em que a responsabilidade é
comum, segundo a lei substantiva, mas a execução foi movida contra um só dos responsáveis -
quer haja título executivo contra ambos quer haja título executivo apenas contra o executado - L.
Freitas, op. cit., 183 e ss.
O art. 27º do Dec-Lei nº 329-A/95, de 12 de Dezembro, que mandou aplicar nas causas
pendentes à data da sua entrada em vigor a nova redacção do art. 1696º e consequente extinção da
moratória, foi julgado inconstitucional por Ac. do TC, no DR, II, de 12.11.98 e já assim fora
decidido pelo STJ, por Ac. no BMJ 474-369,
Nova redacção dada ao nº 1 do artigo 1696º do Código Civil pelo artigo 27º do
Decreto-Lei nº 329-A195, de 12 de Dezembro - Constitucionalidade orgânica e
material do artigo 27º do Decreto-Lei nº 329-A/95, de 12 de Dezembro - Reserva
relativa da Assembleia da República
20
III - Por outro lado, a alínea b) do nº 1 do artigo 165º da Constituição (reserva relativa da
Assembleia da República) respeita a direitos, liberdades e garantias do cidadão, e não aos
chamados «direitos e deveres económicos, sociais e culturais», em que se inserem os relativos à
família, elencados no artigo 67º daquela lei fundamental.
IV - Portanto, não estamos no âmbito de qualquer reserva relativa da Assembleia da
República, não sendo de considerar aqui qualquer inconstitucionalidade orgânica do artigo 27º do
Decreto-Lei nº 329-A/95, de 12 de Dezembro.
V - É de afastar igualmente a inconstitucionalidade material do citado artigo 27º, pois a
aplicação aos processos pendentes da nova redacção dada ao artigo 1696º, nº 1, do Código Civil
pelo artigo 27º do Decreto-Lei nº 329-A/95, ao retirar o privilégio da moratória forçada - não
implica uma diminuição do conteúdo essencial de um direito social como é o da independência
social e económica da família consagrado no artigo 67º da Constituição, para efeito do seu
relacionamento com o artigo 18º do mesmo diploma fundamental.
VI - É que uma coisa são os direitos liberdades e garantias dos cidadãos contidos no
artigo 18º da Constituição; outra são os direitos sociais da família, não podendo assimilar-se os
segundos aos primeiros para efeitos de àqueles ser aplicado o art. 18º da Constituição.
VII - Aliás, a haver prejuízo para o conteúdo essencial dos direitos em causa, ele nunca
resultava do art. 27º (norma de direito transitório), mas sim do próprio art. 1696º revisto.
Está assente que o sigilo bancário não impede a penhora de depósitos bancários, antes o
nº 6 do actual art. 861ºA do CPC, introduzido pelo dito Dec-lei nº 375A/99, de 20 de Setembro,
manda que o Tribunal solicite os elementos necessários ao Banco de Portugal, se o exequente não
conseguir identificar adequadamente os saldos as contas bancárias a penhorar.
A propósito da nomeação e penhora de saldos de contas ou depósitos bancários,
levantava-se a questão de saber se o exequente pode pedir ao tribunal que oficie ao Banco de
Portugal ou a determinado Banco para que por este se proceda à identificação e posterior penhora
de tais saldos e contas, dado que o sigilo bancário impedirá, normalmente, a completa identifi-
cação de contas e saldos do executado.
A nova redacção do art. 861ºA, introduzida pelo Dec-lei nº 375A/99, de 20 de Setembro,
especialmente pelo aditamento do nº 6, facilita claramente a penhora de saldos de contas
bancárias.
Antes desta alteração, a Jurisprudência divergia, mas parecia estar a orientar-se no sentido
hoje fixado na lei:
O regime do segredo bancário impede, por princípio, que o exequente conheça a
identificação concreta de depósitos bancários do executado; como assim, é deferível o pedido de
penhora do conteúdo de depósitos bancários, através da designação do titular e do estabeleci-
mento bancário, competindo a este o subsequente esclarecimento complementar, ao tribunal -
BMJ 463-472.
21
Mais recentemente decidiu ser legal que o Juiz oficie aos bancos ou BP no sentido de
identificar e penhorar tais contas, atento o menos rigoroso regime de sigilo da nova lei, os art. 78º
e 79º do Dec-Lei nº 298/92, de 31 de Dezembro.
O segredo bancário tem de cessar perante justa causa, visando a salvaguarda de interesses
manifestamente superiores. Tais interesses projec-tam-se em o credor ver satisfeito o pagamento
dos seus créditos, não permi-tindo a justiça que o devedor fuja ao cumprimento do devido sob a
capa de não ser permitida a informação sobre a sua conta de depósito - BMJ 472-425.
Já de acordo com a nova redacção do art. 861ºA o STJ decidiu (Ac. de 4.5.2000, no BMJ
497-323), que para a nomeação à penhora de depósitos bancários basta a indicação do titular da
conta e do estabelecimento bancário.
Pois se a lei permite a entrada forçada no domicílio do devedor e que aí se apreenda o
dinheiro, como impedir a apreensão do mesmo dinheiro, só porque, em vez de estar debaixo do
colchão ou no cofre ele está no banco?
22
O funcionário examina os documentos e, na dúvida, faz a penhora, cabendo ao juiz
decidir se a penhora se mantém ou não, depois de ouvir exequente e executado e obtidas as infor-
mações necessárias - 832º CPC.
É claro que este meio não inibe o terceiro de embargar em defesa do seu direito, incom-
patível com a penhora.
al. a) - foram penhorados bens que, de acordo com o direito processual, eram absoluta ou
relativamente, total ou parcialmente impenhoráveis;
al. b) - a penhora devia ter começado por outros bens, quer porque a responsabilidade do
executado é subsidiária (meação do cônjuge devedor - 1696º, nº 1) quer porque beneficia do
regime de excussão prévia (fiador).
al. c) - a penhora incidiu sobre bens que, de acordo com o direito substantivo, eram
impenhoráveis objectivamente (direito de uso e habitação, direito a alimentos, direito a sucessão
de pessoa viva, posição do arrendatário habitacional); ou convencionalmente (602º: bens excluí-
dos por acordo entre aquele credor e o devedor; 603º - bens doados ou transmitidos por testa-
mento com cláusula de exclusão de responsabilidade por dívidas do beneficiário; e 833º do CC -
credores que receberam bens para os alienarem e credores posteriores que não podem penhorar os
bens cedidos.
O que antes da revisão processual de 95/96 era um processo especial apenas dirigido à
defesa da posse - 1037º a 1043º CPC - é agora - 351º, nº 1 - um incidente de oposição a qualquer
acto ordenado judicialmente, de apreensão (salvo se em processo de recuperação de empresa e de
falência) ou entrega de bens, que ofenda a posse ou qualquer direito incompatível com a dili-
gência ordenada, direito de que seja titular quem não é parte na causa.
O conceito de terceiro - agora quem não é parte na causa - é o mesmo que antes9: é
aquele que não interveio no processo ou no acto jurídico de que emana a diligência judicial nem
representa quem foi condenado no processo ou no acto se obrigou. O próprio condenado ou
obrigado pode deduzir embargos de terceiro quanto aos bens que, pelo título da sua aquisição ou
pela qualidade em que os possuir, não devam ser atingidos pela diligência ordenada.
9
- Miguel Mesquita, 102.
23
Os direitos reais de aquisição (promitente comprador com eficácia real, o preferente
legal (ou convencional com eficácia real) não são, em princípio, incompatíveis com a penhora
porque a própria execução lhes faculta a aquisição do direito prometido - 886º, 3, b) e 903º - ou
sujeito a preferência, que o preferente é notificado da venda - 876º, 2 e 892º.
Também os titulares de direitos reais de garantia - credor pignoratício, direito de
retenção - apesar de terem posse em nome próprio, não poderão embargar de terceiro porque a
sua posse não é, em regra, ofendida pela penhora: reclamem o seu crédito na execução e aí verão
o seu interesse satisfeito.
Em suma: o novo art. 351º, nº 1, veio alargar a legitimidade activa para os embargos de
terceiro: por um lado, desvinculou-a da posse, ao admitir que os embargos se fundem em direito
incompatível com a realização ou o âmbito da diligência; por outro lado, conferiu-a a todo o
possuidor (em nome próprio ou alheio) cuja posse seja incompatível com essa realização ou
esse âmbito.
O actual art. 351º veio, pois, estender, não apenas aos titulares de direitos reais não
possuidores, mas também a possuidores em nome alheio a quem a lei civil não a atribuía, a legiti-
midade para embargar de terceiro.
Exemplos: - pode embargar de terceiro a mulher que não foi parte na acção de despejo,
instaurada só contra o arrendatário marido, mesmo que o fundamento seja a falta de pagamento
de rendas porque, se ela tivesse sido demandada, podia tê-las pago ou depositado - Col. STJ 97-
II-130; idem em arrendamento não habitacional e regimes de comunhão (de adquiridos ou
geral) porque o direito ao arrendamento faz parte, integrou-se na comunhão - 1724º, b) e 1732º
CC
- Não são admissíveis embargos de terceiro à apreensão de bens em processo de
recuperação de empresa ou falência que tem regras próprias - 201º e ss do CPEREF.
- o senhorio não pode embargar a penhora do arrendamento de estabelecimento
instalado em prédio seu, nem o arrendatário pode embargar de terceiro a penhora do
prédio de que é arrendatário porque em nenhum destes casos a penhora ofende, é
incompatível com os direitos de cada um: o senhorio continuará senhorio de quem
comprar o estabelecimento (115º RAU - trespasse); o arrendatário continuará
arrendatário de quem comprar o prédio (1057º CC).
Esta previsão do art. 352º vale tanto para a hipótese em que a diligência é determinada
num processo em que é parte o outro cônjuge, como para a situação em que essa diligência é
ordenada num processo em que é parte qualquer outro sujeito.
Cabem naquela primeira hipótese os casos em que, numa execução movida contra um só
dos cônjuges, são penhorados bens próprios do cônjuge não executado ou são penhorados bens
comuns sem que o exequente peça a sua citação para requerer a separação de bens (art° 825º, nº
1): em qualquer destas situações, o cônjuge do executado, que é terceiro relativamente à execu-
24
ção, pode embargar para defender, no primeiro caso, os seus bens próprios e, no segundo, os bens
comuns10.
Ao embargante cabe provar a natureza (própria ou comum) dos bens penhorados.
Tratando-se de bens próprios, a penhora não pode subsistir, uma vez que, mesmo quando
respondam pela dívida segundo o direito substantivo, não podiam ser apreendidos sem que o seu
proprietário fosse executado.
Tratando-se de bens comuns, em dois casos não pode o cônjuge do executado embargar:
a) - quando tenha sido requerida a sua citação, nos termos do art. 825º, nº 1, e o
executado não tenha bens próprios;
b) - quando a penhora incida sobre bens levados para o casal pelo executado ou por ele
posteriormente adquiridos a título gratuito e sobre os rendimentos de uns e outros
desses bens, ou sobre bens sub-rogados no lugar deles, ou ainda sobre o produto do
trabalho e os direitos de autor do executado, dado que estes bens, ainda que comuns,
respondem ao mesmo tempo que os bens próprios (art. 1696-2 CC).
Mas os embargos já são admissíveis quando, por haver bens próprios do executado, não
esteja verificado o condicionalismo em que actua a responsabilidade subsidiária, quando não
tenha sido requerida a citação do cônjuge nos termos do art. 825º, nº l, ou quando, sendo a dívida
comum e havendo título executivo contra ambos os cônjuges, apenas um tiver sido demandado11.
10
- T. de Sousa, 188.
11
- Lebre de Freitas, Acção Executiva, 237.
25
O embargado pode alegar e provar, nos embargos de terceiro, factos integrantes da
impugnação pauliana - Col. STJ 01-I-95 - tendo a decisão de mérito efeitos de caso julgado, nos
termos do art. 358º do CPC.
Podem os embargos de terceiro ser deduzidos antes de realizada mas depois de ordenada a
diligência. São os embargos de terceiro com função preventiva - 359º.
Neste caso não se realiza a diligência antes da decisão liminar dos embargos e, se eles
forem recebidos, continuará a diligência suspensa até decisão final - nº 2 do art. 359º.
26