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A formação do negócio como um processo:

• O modelo de formação de negócio que o CC nos oferece é assente em duas


declarações que têm tecnicamente a designação de proposta e de aceitação.

Atos jurídicos:

• Ato real ou Operação - comportamento voluntário de uma pessoa, relativamente á


qual a lei atende (atribui efeitos) a essa voluntariedade, mas o comportamento não
comunica nada a ninguém. Ex. entrega da coisa para efeito do negócio jurídico da
doação; a ocupação como ato de apropriação de algo que não tem dono 1318º.
• Ato declarativo ou Declaração - são atos dirigidos a outra pessoa e tem o sentido de
comunicar qq coisa a alguém.
• Declarações de vontade e declarações de ciência - as declarações de vontade
ou negociais são atos comunicativos de uma vontade formada pelo autor da
declaração, já as declarações de ciência são enunciadas sobre a verdade ou
falsidade de um facto (ex. depoimento de uma testemunha judicial)

Artigo 217.º

(Declaração expressa e declaração tácita)


1. A declaração negocial pode ser expressa ou tácita: é expressa, quando feita por palavras,
escrito ou qualquer outro meio direto de manifestação da vontade, e tácita, quando se
deduz de factos que, com toda a probabilidade, a revelam.

2. O carácter formal da declaração não impede que ela seja emitida tacitamente, desde que
a forma tenha sido observada quanto aos factos de que a declaração se deduz.

A declaração negocial: é a declaração de vontade tendendo á formação de um negócio.

• Pode ser expressa - declaração feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio
direto de manifestação de vontade – art. 217.º/1 CC PPV é uma declaração que tem
a finalidade de ser transmitida a 3º e comunicar qq coisa. (comportamento
finalisticamente dirigido a comunicar algo a um destinatário.)
• Pode ser tácita - declaração extraída de um comportamento concludente. É uma
declaração implícita - PPV Declaração que se deduza de factos que, com toda a
probabilidade, a revelem - arts. 217.º/1 e 234.º CC; - este comportamento não é
comunicativo.
• Há que notar algumas particularidades:
• A natureza formal de uma declaração não impede que seja
tacitamente emitida. Requer-se que a forma prescrita tenha sido
observada quanto aos factos de que se deduza a declaração em causa
– art. 217.º/2.
• Só é legítimo descobrir declarações tácitas, quando haja verdadeira
vontade, dirigida aos efeitos e minimamente exteriorizada, ainda que
indiretamente.
• O Silêncio – Em Direito, silêncio é a total ausência de comunicação, que se
caracteriza não só pela ausência de palavras, gestos, escritos, mas também requer
que, da ambiência existente, não se possa, do silêncio, retirar qualquer mensagem.
Assim, não possui qualquer valor declarativo.
• O artigo 218.º CC consagra três casos em que o silêncio tem força de
declaração negocial:
• Quando a lei o determine; ex.1094º
• Quando um uso o determine
• Gera um problema que tem haver com o art. 3.º CC. Pergunta-
se se a “lei” juridificadora dos usos requerida no art. 3.º é o
próprio artigo 218.º. A resposta é negativa: o uso terá força de
declaração negocial quando seja juspositivado por uma lei;
• Por convenção – como manifestação da autonomia privada, as partes
podem atribui ao silêncio o significado que lhes aprouver; caso um
negócio necessite de uma forma específica, para as partes atribuírem
valor declarativo ao silêncio têm de estabelecer a convenção de
acordo com a forma prescrita para o negócio.

Declarações presumidas – a lei associa, a certo comportamento, o significado de


determinada declaração negocial, admitindo, contudo, que o interessado demonstre, afinal,
que outra havia sido a sua vontade; tem subjacente uma presunção ilidível – que se pode
refutar – ou iuris tantum – art. 350.º/2;
Declarações fictas – a presunção seria inilidível – que não se pode refutar – ou iuris et de
iure – art. 350.º/2;

A perfeição da declaração negocial

O momento em que a declaração se torna eficaz.

Artigo 224.º
(Eficácia da declaração negocial)
1. A declaração negocial que tem um destinatário torna-se eficaz logo que chega ao seu
poder ou é dele conhecida; as outras, logo que a vontade do declarante se manifesta na
forma adequada.

2. É também considerada eficaz a declaração que só por culpa do destinatário não foi por
ele oportunamente recebida.
3. A declaração recebida pelo destinatário em condições de, sem culpa sua, não poder ser
conhecida é ineficaz.

• Declarações recipiendas – declarações que têm um destinatário. Estas veem a sua


eficácia condicionada pela ligação particular que visam estabelecer o seu
destinatário. Assim, foram surgindo, ao longo dos tempos, várias teorias que se
reportam ao momento de eficácia de uma declaração recipiendas:
• Teoria da exteriorização – o negócio ficaria concluído quando a vontade se
tivesse exteriorizado, isto é, quando se tiver manifestado. Contudo, isto não
chega, já que o destinatário não tem conhecimento não lhe atribui qualquer
valor;
• Teoria da expedição – atribui eficácia à declaração quando seja remetida,
rumo ao destinatário. Contudo, não chega, visto que pode nunca chegar ao
destinatário;
• Teoria da receção – a eficácia dependerá de o destinatário a receber, com
efetividade. Contudo, este pode recebê-la sem dela tomar conhecimento;
• Teoria da posse/do acolhimento – Esta teoria corresponde a um
aperfeiçoamento da anterior, sendo que a declaração teria eficácia logo que
chegasse ao poder do destinatário. Mas esse “poder” não assegura que o
destinatário tenha ou possa ter consciência da declaração;
• Teoria do conhecimento – a declaração terá eficácia no momento em que
seja conhecida pelo destinatário.
• O Código Civil optou por diversas teorias. Assim, uma declaração
recipienda é eficaz:
• Quando chegue ao poder do destinatário (teoria da receção10) ou
dele seja conhecida (teoria do conhecimento) – art. 224.º/1, primeira
parte;
• Quando seja remetida e só por culpa do destinatário não tenha sido
oportunamente recebida (teoria da expedição) – art. 224.º/1. Em
qualquer caso, a declaração é ineficaz quando seja recebida pelo
destinatário em condições de, sem culpa sua, não poder ser
conhecida (relevância negativa da teoria do conhecimento) – art.
224.º/3.
• Declarações não recipiendas – declarações que não tenham um destinatário, isto é,
declarações que se reportam a negócios unilaterais. Este tipo de declaração torna-se
eficaz logo que a vontade do declarante se manifeste na forma adequada – art.
224.º/1.

Artigo 228.º

(Duração da proposta contratual)


1. A proposta de contrato obriga o proponente nos termos seguintes:
a) Se for fixado pelo proponente ou convencionado pelas partes um prazo para a aceitação,
a proposta mantém-se até o prazo findar;

b) Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir resposta imediata, a proposta mantém-
se até que, em condições normais, esta e a aceitação cheguem ao seu destino;
c) Se não for fixado prazo e a proposta for feita a pessoa ausente ou, por escrito, a pessoa
presente, manter-se-á até cinco dias depois do prazo que resulta do preceituado na alínea
precedente.
2. O disposto no número anterior não prejudica o direito de revogação da proposta nos
termos em que a revogação é admitida no artigo 230.º

Para este artigo importa distinguir:

• Negócio entre presentes - negócio celebrado qnd s pessoas estão na presença uma
da outra.
• Negócios entre ausentes - pessoas não estão na presença uma da outra, uma parte
emite uma declaração via correio eletrónico, carta, etc. que é destinada para alguém
que não está na sua presença.

Declarações subsequentes – declarações que recaiam sobre declarações prévias,


eventualmente já consubstanciadas em negócio jurídico. Distinguem-se em:
Declarações típicas – ocorrem, em regra, na base de negócios unilaterais, que visam
modificar ou extinguir a eficácia das declarações anteriores. Assim, têm natureza não-
negocial: o declarante tem margem para escolher fazê-las, mas não pode estipular quanto
aos seus efeitos, pois estes estão previstos na lei. O objetivo é proteger a confiança que a
primeira declaração haja suscitado;
Declarações atípicas – acordadas pelas partes ou facultadas pela situação existente. Em
regra, elas postulam um novo negócio, entre as partes;
Contradeclarações – declarações subsequentes, no sentido de suprimir ou de reduzir os
efeitos que deveriam resultar da primeira declaração. Exemplo: revogação da proposta –
art. 230.º/1. A contradeclaração surge, em certas ocasiões, como um venire contra factum
proprium, vedado pela boa fé. Por este motivo, apenas se pode realizar nos casos
legalmente previstos.
Declarações não-negociais – declarações que não comportem liberdade de estipulação, isto
é, o declarante é livre de as fazer, ou não, mas não de mexer nos seus efeitos, os quais são
estabelecidos pelo Direito. São, em regra, declarações (unilaterais) subsequentes.

A formação dos contratos

A proposta - Declaração feita por uma das partes que, sendo aceite pela outra (ou pelas
outras), dá lugar ao aparecimento de um contrato.

A proposta tem três características que a doutrina aponta:

• Completa – deve abranger todos os pontos a integrar no futuro negócio. Contudo,


desta característica não resulta que:
• O contrato final possa assentar, em menor ou maior grau, em modelos
tipificados na lei, sendo que no que as partes não regulam se aplicam as
regras supletivas;
• O contrato pode ter áreas em branco, nas quais não se aplicam as regras
supletivas, mas esquemas legais destinados a procurar uma solução;
• O proponente pode remeter para o destinatário a faculdade de, em certa
margem, completar a proposta;
• Podem existir lacunas, resolvidas segundo o art. 239.º CC;
• As partes podem concluir um contrato incompleto, remetendo para uma
negociação futura destinada a completá-lo.
O critério definitivo para definir a completude da proposta será a aceitação – art. 232.º CC;

• Firme – deve demonstrar uma intenção inequívoca de contratar, não podendo ser
feita em termos dubitativos ou hipotéticos. A firmeza pressupõe que o proponente
fica vinculado à sua proposta, sendo que se for aceite, verificar-se-á o contrato final;
• Formal – deve revestir a forma requerida para o contrato de cuja formação se trate –
art. 219.º CC. A forma é exigida para a validade do contrato, mas na sua falta pode
ocorrer um contrato diverso (declaração formalmente suficiente).

Convite a contratar – através de vários meios, as entidades interessadas podem incitar


pessoas indeterminadas a contratar, não é uma proposta negocial pq não compreenda
todos os elementos que, da sua aceitação, surja um contrato. Assim, esta
figura não pressupõe apenas uma aceitação, mas uma negociação.
Depois de determinar se a proposta é eficaz, temos de determinar durante quanto tempo o
proponente está vinculado á sua proposta. Durante este período o proponente está sujeito
á decisão do destinatário.

Não esquecer que a aceitação tb é uma declaração negocial e como tal, está sujeita aos
requisitos do art.224º.

Artigo 228.º
(Duração da proposta contratual)
1. A proposta de contrato obriga o proponente nos termos seguintes:
a) Se for fixado pelo proponente ou convencionado pelas partes um prazo para a aceitação,
a proposta mantém-se até o prazo findar;
b) Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir resposta imediata, a proposta mantém-
se até que, em condições normais, esta e a aceitação cheguem ao seu destino;

c) Se não for fixado prazo e a proposta for feita a pessoa ausente ou, por escrito, a pessoa
presente, manter-se-á até cinco dias depois do prazo que resulta do preceituado na alínea
precedente.
2. O disposto no número anterior não prejudica o direito de revogação da proposta nos
termos em que a revogação é admitida no artigo 230.º

A duração da eficácia da proposta pauta-se pelo disposto no art. 228.º CC, nos seguintes
termos:

• Se for fixado um prazo para a aceitação, a proposta mantém-se até ao termo desse
prazo – art. 228.º/1, a);
• Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir resposta imediata, a proposta será
eficaz até que, em condições normais, ela e a aceitação cheguem ao seu destino –
art. 228.º/1, b);
• Estas “condições normais” devem ser determinadas em abstrato e tendo em
conta o meio utilizado pelo proponente para enviar a sua declaração:
• Carta – de acordo com o art. 249.º/1 CPC, uma carta demora 3 dias a
chegar ao seu destino, pelo que uma proposta se manteria por 6 dias:
3 dias para ir do proponente ao destinatário e 3 dias para retornar ao
proponente. O terceiro dia terá de ser um dia útil, caso contrário
considera-se o dia útil imediatamente seguinte.
• E-mail – o período normal é imediato, pelo que teria um dia;
• Se nada for dito, a proposta é eficaz pelo período que, em condições normais,
possibilite a chegada da proposta e da aceitação ao seu destino, acrescidos 5 dias –
art. 228.º/1, c). Assim, o prazo seria 3 dias para chegar ao destinatário, mais 5 dias,
mais 3 dias para retornar ao proponente, isto é, 11 dias no total.

Para melhor se compreender o período de duração da eficácia da proposta negocial,


devemos reparar nos modos que podem conduzir à sua extinção:

• Decurso do prazo – decorre por caducidade, passando os prazos acima referidos.


Pode acontecer que um proponente declare que a sua proposta se manteria
indefinidamente. O professor Menezes Cordeiro considera que isto não é possível,
pois uma pessoa não pode estar indefinidamente à espera. Também considera a
resposta de 20 anos (arts. 300.º e ss.) demasiado excessivo. Assim, aplica
analogicamente o disposto no art. 411.º: o proponente pode solicitar ao Tribunal
que fixe o prazo para aceitação da proposta;
• Revogação – ato unilateral praticado pelo proponente, que tem por conteúdo
extinguir a proposta emitida. Só é possível revogar uma proposta antes de se formar
o contrato, isto é, antes da sua aceitação. O art. 230.º define duas situações
possíveis:
• Quando o proponente tenha reservado a faculdade de revogar – art. 230.º/1;
• Quando a revogação seja recebida, pelo destinatário, antes ou ao mesmo
tempo que a proposta – art. 230.º/2;
• Aceitação ou rejeição – a aceitação extingue a proposta originando o contrato, a
rejeição extingue a proposta sem que se crie o contrato;
• Outras formas – resultam da lei outras formas de extinção da eficácia da proposta:
• Por morte ou incapacidade do proponente, havendo fundamento para
presumir ser essa a sua vontade – art. 231.º/1 – ou se tal resultar da própria
declaração – art. 226.º/1;
• Por morte ou incapacidade do destinatário – art. 231.º/2;
• Por ilegitimidade superveniente do proponente, desde que anterior à
receção da proposta – art. 226.º/2;
• Outras causas gerais de extinção de direitos, como a impossibilidade absoluta
superveniente.

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