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Introdução
O art. 457º CC, afirma que “a promessa unilateral de uma prestação só obriga nos
casos previstos na lei”.
Em regra, portanto, fora dos casos em que a obrigação nasce directamente da lei, para
que haja o dever de prestar e o correlativo poder de exigir a prestação é necessário o
acordo (contrato) entre o devedor e o credor. A esta ideia se tem dado o nome de
princípio de contrato, não é razoável (fora dos casos especiais previstos na lei) manter
alguém irrevogavelmente obrigado perante outrem, com base numa simples
declaração unilateral de vontade, visto não haver conveniências práticas do tráfico que
o exijam, nem quaisquer expectativas do beneficiário de graus de tutela,
anteriormente à aceitação quer a lei cumpre salvaguardar.
O negócio jurídico unilateral é na sua estrutura sempre unilateral, isto é, composto por
uma única declaração de vontade ou um conjunto de declarações de vontades, tidas
com o mesmo sentido. Apenas intervêm, um sujeito jurídico, ou podem intervir vários
sujeitos jurídicos cujas declarações são paralelas; são declarações que têm o mesmo
conteúdo e, portanto, há apenas uma parte.
Há dois casos, que não são fontes de obrigações, embora venham previstos nesta
secção: a promessa de cumprimento, e o reconhecimento de dívida (art. 458º CC).
A lei admite que através do acto unilateral se efectue a promessa de uma prestação ou
reconhecimento de uma dívida sem que o devedor indique o fim jurídico que o leva a
obrigar-se, presumindo-se a existência e a validade da relação fundamental. Mas,
trata-se de uma simples presunção cuja prova em contrário, produzirá as
consequências próprias da falta de licitude ou da imortalidade da causa dos negócios
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jurídicos. Trata-se de negócios causais apenas se dando uma inversão no ónus da
prova.
A existência destes negócios serve apenas para dispensar o credor de provar a fonte da
obrigação: presume-se que a fonte existe, até que o devedor prove que não existe.
Mas, existem alguns negócios jurídicos unilaterais que são fontes de obrigações: a
promessa pública, e o concurso público.
A promessa unilateral
O autor do negócio fica obrigado à prestação logo que haja alguém que se encontre na
situação prevista – tenha praticado ou deixar de praticar o facto – mesmo que esse
alguém, credor dele, não saiba que existe a promessa pública.
- Se não tiver prazo, pode ter um termo imposto pela natureza ou pelos fins da
promessa e também caducará findo esse período.
A promessa pública, como negócio unilateral que é, não se identifica com as ofertas ao
público a que se refere o art. 230º CC. Estas são propostas negociais que, fazendo
parte de um contrato in itinere ou em mera expectativa, só se aperfeiçoam com a
aceitação de outra parte, que completa o ciclo da formação contratual.
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Concurso público
É um negócio unilateral pelo qual alguém promete um prémio a quem realizar certas
provas que se encontram discriminadas no concurso.
O concurso público (art. 463º CC) é um negócio jurídico unilateral feito por anúncio
público; dele deve constar:
- A prova do concurso;
- O prémio do concurso
Não tem que forçosamente constar do concurso público a designação das pessoas que
vão proceder à selecção dos concorrentes para atribuição do prémio final. Se o
anúncio público não contiver essa indicação, a decisão de concessão do prémio cabe
ao autor do concurso público.
A promessa pública sem prazo de validade fixado pelo promitente ou imposto pela
natureza ou fim da promessa mantém-se enquanto não for revogada.
Um dos critérios clássicos é o que atende ao número de pessoas que intervêm nesses
negócios. O negócio diz-se singular, se apenas intervém uma pessoa, se intervierem
mais de que uma pessoa, o negócio diz-se plural.
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Por outro lado, há negócios que são necessariamente plurais, e nalguns casos, os
negócios além de serem plurais, envolvem contraposição de interesses entre as várias
partes intervenientes. O negócio plural será bilateral ou plurilateral, sendo que o
contrato é a figura paradigmática deste tipo de negócios. Não se deve confundir nunca
parte com pessoas: podem intervir várias pessoas constituindo uma só parte.
A doutrina nem sempre está de acordo com isto, sendo que uma das soluções
possíveis envolve o atender-se às declarações emitidas, não apenas ao seu número,
mas à forma como elas se articulam no negócio.
Mais importante ainda é o modo como elas se articulam entre si: casos há em que as
diversas declarações são paralelas e formam um só grupo, havendo igualmente casos
em que o conteúdo de uma declaração é o oposto ao conteúdo da outra, embora
convirjam num certo sentido, tendo em vista um resultado comum unitário.
Num contrato de sociedade há posições comuns dos autores do negócio e então este
mantém-se como negócio unilateral. O critério jurídico de distinção entre negócios
unilaterais e bilaterais reside na diferente posição que, perante os interesses que são
regulados pelo negócio, os autores do mesmo ocupam. Se os interesses forem
divergentes, para que haja negócio, as vontades dos diversos intervenientes têm de se
encontrar num ponto comum, sendo este o acordo de vontades ou livre consenso.
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Nos contratos ou negócios bilaterais, há duas ou mais declarações de vontade, de
conteúdo oposto, mas convergentes, ajustando-se na sua comum pretensão de reduzir
resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada parte.
Acerca dos contratos, não são integrados por dois negócios unilaterais, cada uma das
declarações (proposta e aceitação) é emitida em vista do acordo.
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d) Doutrina da percepção: o contrato só está perfeito quando o proponente tomou
efectivo da aceitação.
Do art. 224º CC, resulta consagrar o nosso direito a doutrina da recepção, que parece
ser aliás, a preferível “de iure condendo”. Não será todavia necessário que a
declaração chegue ao poder ou à esfera de acção do proponente, se, por qualquer
meio, foi dele conhecida (art. 224º/1).
Há no entanto uma classificação que é privativa dos contratos, que deve ser referida
pela sua importância:
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No entanto, este vínculo pode não ser simultâneo, gerando-se as obrigações em
momentos diferentes para ambas as partes, só com o desenvolvimento da execução
dessas obrigações para uma parte é que surgem as obrigações para actos
administrativos outras partes. Fala-se então em sinalágma sucessivo.
- Condição resolutiva tácita: é um instituto que confere a uma das partes a faculdade
de resolver o negócio, com fundamento na falta de cumprimento da outra parte (art.
801º/1 e 808º CC).
Quando o negócio é formal, as partes não podem realizar por todo e qualquer
comportamento declarativo; a declaração negocial deve, nos negócios formais, realiza-
se através de certo tipo de comportamento declarativo imposto por lei. Hoje o
formalismo é exigido apenas para certos negócios jurídicos, é uniforme, traduzindo-se
praticamente na exigência de documento escrito, e está assim simplificado,
relativamente aos direitos antigos. O princípio geral do Código Civil em matéria de
formalismo negocial é o princípio da liberdade declarativa ou liberdade de forma ou
consensualidade (art. 219º CC).
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Quando, nos casos excepcionas em que a lei prescrever uma certa forma, esta não for
observada, a declaração negocial é nula.
Negócios reais
São aqueles negócios em que se exige, além das declarações de vontade das partes,
formalizadas ou não, prática anterior ou simultânea de um certo acto material.
Quanto aos negócios familiares patrimoniais, existe, com alguma largueza, a liberdade
de convenção (art. 1698º CC), sofrendo embora restrições (arts. 1699º 1714º CC).
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O critério distintivo é, também, o de natureza da relação jurídica a que o negócio se
fere.
Esta classificação tem por excelência aplicação nos negócios jurídicos unilaterais.
Nestes casos, encontram-se com facilidade exemplos de negócios não recepiendos:
- Repúdio de herança;
- Testamentos;
- Aceitação de herança.
Importa não confundir os negócios unilaterais que são dirigidos a outrem com a
comunicação que tem de ser feita ao destinatário do negócio e com a aceitação por
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parte do mesmo. É que esta comunicação representa a mera condição de eficácia do
negócio.
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outra, sem contrapartida ou correspectivo. A outra parte procede com a consequência
e vontade de receber essa vantagem sem um sacrifício correspondente.
Negócios parciários
São uma subespécie dos negócios onerosos. Caracterizam-se pelo facto de uma pessoa
prometer certa prestação em troca, de uma qualquer participação nos proventos que a
contraparte obtenha por força daquela prestação (ex. art. 1121º CC).
A utilidade da distinção, está relacionada com a restrição por força da lei ou sentença,
dos seus poderes de gestão patrimonial dos administradores de bens alheios, ou de
bens próprios e alheios, ou até nalguns casos (inabilitação), de bens próprios, aos actos
de mera administração ou de ordinário administração.
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Nesse período, os contratos passaram a ser considerados instrumentos de grande
importância no desenvolvimento da vida econômica da sociedade, já que garantiam a
regulação de interesses individuais com a igualdade das partes contratantes, no
mesmo passo que atendiam à necessidade de ampliação das relações de troca.
Assim, a partir dessa ideologia liberal, formou-se o que hoje se conhece por modelo
clássico de contrato, pautado nas concepções de ampla liberdade para contratar e de
total submissão a seus termos, como se o contrato fizesse lei entre as partes.
Assim, considera que os três princípios clássicos da teoria liberal do contrato são:
O Código Civil francês, que refletiu em seu texto os princípios da Revolução Francesa
(liberdade, fraternidade e igualdade), acabou por trazer à sociedade outros dois
valores importantes, o de propriedade e o de contrato.
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Segundo Maria Helena Diniz, o poder de autorregulamentação dos interesses das
partes contratantes, condensado no princípio da autonomia da vontade, envolve
liberdade contratual (Gestaltungfreiheit), que é a de determinação do conteúdo da
avença e a de criação de contratos atípicos, e liberdade de contratar
(Abschlussfreiheit), alusiva à de celebrar ou não o contrato e à de escolher o outro
contratante.
Entre eles está a preservação da ordem pública, uma vez que não se pode admitir que
um contrato cujo objecto seja ilícito seja executado. Os contratos, dessa forma, devem
ser exercidos nos limites da lei e da ordem pública.
Por fim, o princípio da liberdade das partes encontra limites voltados à defesa da parte
economicamente mais fraca do contrato, objectivando igualar os contratantes no que
diz respeito ao acesso às informações necessárias para a realização do negócio
jurídico.
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ou seja, as partes estão obrigadas ao cumprimento do contrato (pacta sunt servanda -
os pactos devem ser cumpridos).
Como o contrato obriga as partes, não é admissível que uma delas, unilateralmente,
possa recusar-se a cumprir sua obrigação. Da mesma forma, para por fim às obrigações
que derivam do contrato é necessária a vontade concordante das partes ou a
ocorrência de alguma causa extintiva prevista em lei. De fato, o contrato só se
extingue por mútuo acordo; a resolução unilateral somente é admitida nos casos em
que a lei expressa ou implicitamente o permita e deve se operar mediante denúncia
notificada à outra parte.
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de meios judiciais, no conteúdo do contrato, com o objectivo de adequá-lo à situação
concreta formada após a celebração do contrato.
Dentro dessa perspectiva, terceiro é aquele que não é parte contratante, sendo
totalmente estranho ao contrato ou à relação sobre a qual ele estende seus efeitos.
O acto negocial deriva de acordo de vontades das partes, sendo lógico que apenas as
vincule, não tendo eficácia em relação a terceiros. Assim, ninguém se submeterá a
uma relação contratual, a não ser que a lei o imponha ou a própria pessoa queira.
Assim, o princípio da relatividade dos efeitos contratuais tem algumas exceções, como,
por exemplo, nos casos:
(i) dos herdeiros universais de um contratante que, embora não tenha participado da
celebração do contrato, sofrem seus efeitos (princípio geral do direito ubi commoda ibi
incommoda); porém, a obrigação assumida pelo de cujus não lhes será transmitida
além da herança; e (ii) da estipulação em favor de terceiros, do contrato por terceiro e
do contrato com pessoa a declarar, que podem estender seus efeitos a outras pessoas
alheias à celebração do contrato, constituindo a elas direitos ou deveres (como é o
caso do seguro de vida).
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A concepção de que as estipulações do contrato só têm efeito entre os contratantes é
coerente com o modelo clássico de contrato, uma vez que gera a satisfação de
necessidades exclusivamente individuais das partes.
Entretanto, com a nova perspectiva do direito civil, essa concepção passa a ser
inspirada não mais no individualismo da ideologia liberal, mas no princípio da
socialidade, com objectivo de enfraquecer a ideia do contrato apenas como
instrumento da satisfação dos interesses egoísticos das partes, reconhecendo o valor
social dos contratos.
Assim, coloca-se como limite da liberdade contratual a função social dos contratos, um
dos princípios modernos, admitindo, portanto, a possibilidade dos efeitos dos
contratos recair também sobre terceiros alheios à relação contratual.
3. PRINCÍPIOS MODERNOS
Se por um lado os princípios tradicionais foram concebidos para garantir ampla e total
liberdade entre os contratantes para disporem de seus interesses individuais como
desejassem, por outro lado, o exercício dessa liberdade, quando em casos extremos,
mostrou que esse modelo, em vez de libertar, poderia acabar escravizando a parte
social ou economicamente mais fraca.
Isso porque, diante do poderio econômico das grandes indústrias que se formavam e
impunham unilateralmente suas condições, enfraquecia-se a isonomia das partes e as
concepções liberais existentes à época.
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(i) criando, por lei, uma superioridade jurídica que pudesse compensar a inferioridade
econômica ou social da parte mais fraca,
O princípio da boa-fé objectiva está ligado não só à interpretação dos contratos (uma
vez que não pode prevalecer o sentido literal da linguagem sobre a intenção da
declaração de vontade dos contratantes), mas também ao interesse social de
segurança das relações jurídicas.
Para que haja segurança jurídica nos contratos, faz-se imprescindível que as partes
celebrem o negócio com lealdade, honestidade, probidade, honradez, confiança
recíproca, ou seja, procedam com boa-fé.
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A boa-fé dos contratantes deve existir em todas as fases do contrato (pré-negocial, na
formação, na execução e na extinção), devendo as partes esclarecerem os factos e o
conteúdo das cláusulas, objectivando o equilíbrio das prestações, o respeito mútuo e a
cooperação entre os contratantes.
É difícil definir, num só conceito, o que vem a ser o princípio da boa-fé, não só porque
apresenta múltiplos sentidos, ora se relacionando à ideia de justiça que deve imperar
sobre todo o ordenamento jurídico ou sobre determinados ramos, auxiliando a
interpretação ou a integração de suas normas, ora como regra de conduta (boa-fé
objectiva) ou estado de espírito do sujeito (boa-fé subjectiva), mas principalmente
porque em cada um desses sentidos a sua noção deve ser construída a partir de
critérios próprios, que não permitem a sua unificação num único conceito.
A boa-fé que deve integrar as relações contratuais é a boa-fé objectiva, pois trata-se
de uma norma que requer o comportamento leal e honesto dos contratantes, sendo
incompatível com quaisquer condutas abusivas, tendo por escopo gerar na relação
obrigacional a confiança necessária e o equilíbrio das prestações e da distribuição dos
riscos e encargos, ante a proibição do enriquecimento sem causa.
Assim, se os contratantes não agirem com a boa-fé objectiva em qualquer das fases do
contrato, estarão descumprindo uma obrigação imposta por lei, incorrendo em acto
ilícito, tendo como consequências as mesmas de qualquer ilicitude.
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Com o crescimento da indústria e de seu poderio econômico, passou-se a observar que
o contratante mais forte (aquele detentor de poder econômico ou de mercado, do
monopólio das informações sobre o objecto do contrato) acabava por aproveitar de
sua condição para extrair o máximo de vantagem do contrato, em detrimento da parte
mais fraca.
Entretanto, após a mudança dos tempos e do direito civil de modo geral, a autonomia
privada passou a depender da existência de um equilíbrio entre os contratantes.
Dessa forma, para que se alcance o equilíbrio entre as partes, é necessário comparar
os contratantes. Se os contratantes forem economicamente iguais, o equilíbrio se dará
pela isonomia (nesse cenário, nenhum deles poderá titularizar direito contratual que
não seja reconhecido pela ordem jurídica também para o outro). Já entre os
contratantes desiguais, o equilíbrio não se estabelecerá pela isonomia, mas sim
através da lei, que deverá atribuir à parte mais fraca da relação contratual direitos e
prerrogativas negados à outra, com o objectivo de equalizar as condições com que
negociam.
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Assim, o equilíbrio econômico entre as partes é a ruptura com o modelo
extremamente individualista do século XIX. Cabe aos intérpretes, então, actuarem no
sentido da máxima observância da equidade nos contratos.
Se, num dado momento da história do direito contratual, a justiça foi sinônimo de
liberdade e autonomia, hoje, ela se baseia e se projecta no equilíbrio, de modo a
convocar o intérprete ao incessante compromisso de vigília das relações contratuais.
Dessa forma, para que não haja o esmagamento das partes economicamente mais
fracas, imprescindível que o direito contratual estabeleça o equilíbrio entre as partes,
com o objectivo de atingir o máximo de igualdade de condições para a celebração do
negócio jurídico.
Para tanto, os contratantes, embora sejam livres para ajustar os termos do contrato,
deverão agir sempre dentro dos limites que se fazem necessários para evitar que o seu
negócio prejudique injustamente terceiros alheios ao contrato.
No que tange às funções dos contratos, se classifica em três principais, quais sejam:
(ii) a função regulatória, pois reúne direitos e obrigações assumidos pelas partes
voluntariamente; e
(iii) a função social, já que o exercício do contrato dirige-se para a satisfação dos
interesses sociais.
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No modelo clássico de contrato só se admitiam as funções econômica e regulatória,
sendo estranho à época pensar nos reflexos sociais que o negócio contratual pudesse
causar, justamente pelo modelo liberal não aceitar que se operassem os efeitos além
das partes contratantes (princípio da relatividade dos efeitos contratuais).
Dessa forma, assim como ocorre com o princípio da boa-fé objectiva, o ordenamento
jurídico moçambicano impõe aos contratantes a obrigação de agir de acordo com o
princípio da função social dos contratos.
Como qualquer obrigação definida por lei, quando não cumprida, as partes
contratantes incorrerão em acto ilícito, que terá como consequências as mesmas de
qualquer ilicitude.
Os contratos que não regulam interesses sem utilidade social, fúteis ou improdutivos,
não merecem protecção jurídica; merecem-na apenas os que têm função econômica-
social reconhecidamente útil.
O princípio da função social dos contratos, então, é de suma importância para que os
interesses individuais não ultrapassem os interesses colectivos e sociais, levando para
as relações contratuais mais justiça e igualdade.
CONCLUSÃO
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No modelo tradicional de contrato, à época da ideologia liberal no século XIX, os
princípios contratuais visavam a individualidade e a autonomia das partes
contratantes, sem qualquer interferência do Estado.
Assim, hoje, sem prejuízo dos princípios clássicos (liberdade das partes ou autonomia
da vontade, força obrigatória dos contratos e relatividade dos efeitos contratuais), as
relações contratuais devem ser regidas pelos princípios da boa-fé objectiva, do
equilíbrio econômico entre os contratantes e da função social do contrato.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 5. Ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 3: teoria das obrigações
contratuais e extracontratuais. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore. Teoria geral dos contratos. São Paulo: Atlas,
2011.
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Teoria geral dos contratos no novo código civil. São Paulo:
Editora Método, 2002.
23
[1] COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 5. Ed. São Paulo: Saraiva,
2012. P. 37
[3] COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 5. Ed. São Paulo: Saraiva,
2012. P. 34-37
[4] Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito,
possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.
[5] LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore. Teoria geral dos contratos. São Paulo:
Atlas, 2011. P. 75
[6] THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro:
Forense, 2004. P. 4
[9] THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro:
Forense, 2004. P. 1
[10] LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore. Teoria geral dos contratos. São Paulo:
Atlas, 2011. P. 78
[11] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 3: teoria das
obrigações contratuais e extracontratuais. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 41
[13] Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores.
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[14] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 3: teoria das
obrigações contratuais e extracontratuais. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 48
[15] LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore. Teoria geral dos contratos. São Paulo:
Atlas, 2011. P. 87
[16] LOUREIRO, Luiz Guilherme. Teoria geral dos contratos no novo código civil. São
Paulo: Editora Método, 2002. P. 45
[18] LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore. Teoria geral dos contratos. São Paulo:
Atlas, 2011. P. 93
[19] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 3: teoria das
obrigações contratuais e extracontratuais. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 50
[21] LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore. Teoria geral dos contratos. São Paulo:
Atlas, 2011. P. 94
[23] THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro:
Forense, 2004. P. 3
[24] Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.
[25] Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os
usos do lugar de sua celebração.
25
[27] BIERWAGEN, Mônica Yoshizato. Princípios e regras de interpretação dos contratos
no novo Código Civil. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. P. 77
[28] COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 5. Ed. São Paulo: Saraiva,
2012. P. 47
[29] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 3: teoria das
obrigações contratuais e extracontratuais. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 53
[30] COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 5. Ed. São Paulo: Saraiva,
2012. P. 42
[31] LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore. Teoria geral dos contratos. São Paulo:
Atlas, 2011. P. 115
[32] THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro:
Forense, 2004. P. 31
[34] Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função
social do contrato.
[36] COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 5. Ed. São Paulo: Saraiva,
2012. P. 51
26