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ORGANIZACIONAL1
LUIZA OLIVA GONÇALVES 2
RESUMO
Este artigo aborda ações de Responsabilidade Social voltadas para o campo das
artes, tomando como objeto de análise as empresas que patrocinam os grupos
Corpo e o corpo de baile da Fundação Clóvis Salgado. A finalidade do estudo é fazer
um apanhado do investimento em cultura no Brasil e apresentar alguns dos
principais argumentos das empresas em termos da sua ação comunicativa
transcendente, ou seja, os argumentos organizacionais que justificam o patrocínio
cultural. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e documental. O estudo
indica que apesar de os investimentos em cultura estarem crescendo no Brasil,
grande parte deles é direcionado para a educação. Nas considerações finais
apontamos que a cultura apesar de receberem incentivos de grandes empresas no
Brasil não o alvo central da busca por reputação. No caso dos grupos analisados os
argumentos dos patrocinadores são genéricos, não sendo a dança um elemento da
retórica organizacional na busca por reputação.
ABSTRACT
This article discusses Social Responsibility actions focused on the arts field, taking
as an object of analysis the companies that sponsor the Grupo Corpo and Fundação
Clóvis Salgado dance groups. The purpose of the study is to provide an overview of
the investment in culture in Brazil and present the main arguments of the companies
in terms of their transcendent communicative action, that is, the organizational
arguments that justify cultural sponsorship. The methodology used was bibliographic
and documentary research. The study indicates that although investments in culture
are growing in Brazil, most of them are directed to education. In the final remarks we
point out
1 Artigo apresentado como requisito para aprovação no Trabalho de Conclusão de Curso, TCC III.
Orientação profa. Dra. Lúcia Lamounier Sena
2 Graduanda do curso de Relações Públicas da Puc Minas.
1 INTRODUÇÃO
Tabela 2 - Maiores incentivadores em cultura no Brasil por meio das leis de incentivo
fiscais federais (2019).
É válido ressaltar também que quatro, das dez empresas listadas estão à
frente no ranking das Marcas Brasileiras mais Valiosas de 2019, pela Interbrand. No
entanto, duas delas, Banco do Brasil e Petrobrás, são empresas estatais.
Um destaque especial do setor privado é o Banco Itaú, que além de liderar o
ranking da consultoria, ainda incentivou mais de 48 milhões de reais em cultura no
último ano por intermédio do Itaú Cultural, sendo hoje um dos principais
patrocinadores do Grupo Corpo, Fundação Clóvis Salgado, Instituto Inhotim e
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, conforme indicado nos seus respectivos
canais institucionais. Em 2019 o Itaú Cultural apoiou cerca de 80 projetos artísticos
entre eles shows e apresentações, como forma de reforçar seu discurso e
posicionamento organizacional de defesa da democratização do acesso à cultura no
país, valorização da diversidade e, em consequência, tem atuado na construção de
um legado cultural para a marca.
Em terceiro lugar temos o Banco do Brasil, que há 25 anos promove
gratuitamente mostras, eventos e seminários nas mais diversas áreas da cultura
dentro de seus próprios centros culturais, localizados em Belo Horizonte, Brasília,
Rio de Janeiro e São Paulo.
No âmbito estadual, a estatal Cemig se consolidou em 2019 como uma das
maiores incentivadoras da cultura em Minas Gerais, segundo o Jornal Estado de
Minas (2019). Sendo patrocinadora da Fundação Clóvis Salgado (FCS), Grupo
Corpo, Corpo Cidadão, Grupo Galpão, Instituto Inhotim, Orquestra Filarmônica de
Minas Gerais e várias outras instituições.
Apresentado esse contexto, na última seção desse artigo trazemos os casos
exemplares, o Grupo Corpo e seu projeto social, o Corpo Cidadão, bem como a Cia.
De Dança Palácio das Artes – Fundação Clóvis Salgado; com o intuito de mostrar a
Responsabilidade Social Empresarial e todos os dividendos que o investimento em
cultura podem oferecer.
3 Os dados biográficos sobre o Grupo Corpo que serão aqui apresentados baseiam-se no compilado realizado por
Inês Bogéa, 2001.
construção e têm ampliado a presença da CDPA em palcos nacionais e
internacionais.
3.3 Mapeamento dos patrocinadores das companhias de dança mineiras
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciamos essa pesquisa apresentando que um dos nossos objetivos era fazer
um apanhado sobre a questão das transformações do conceito de responsabilidade
social e entender o quanto essa prática organizacional se conecta, também, com a
dimensão da reputação. Como vimos, a Responsabilidade Social Empresarial é um
conceito que nasceu na década de 1980, quando as marcas passaram a se
apropriar de um discurso voltado para o social através de ações que transcendiam o
seu produto, em resposta à demanda de diferenciação em um mercado global e
competitivo.
Conforme apresentado a RSE tem o propósito de construir uma reputação
positiva frente ao seu público ao longo da existência da organização, sendo,
portanto, uma ação comunicativa de longo prazo. Sendo assim, desponta-se no
contexto empresarial investimentos em áreas como educação, cultura, meio
ambiente, vulnerabilidade infantil, dentre outros que são apropriados ao negócio
organizacional, na nova ordem comercial que exige.
Ao mapear os investimentos em cultura, especificamente da dança, no Brasil
foi possível notar que apesar de ser uma área que recebe financiamento,
principalmente por meio de incentivos fiscais no país, o segmento cultura ainda não
é colocado como a principal diretriz para a Responsabilidade Social das empresas.
Indicamos através dos dados apresentados que grande parte dos
investimentos em cultura tem como referência o setor da educação. Assim, conclui-
se que não há clareza na diferenciação de ambos os setores no que diz respeito às
formas de financiamento, ou talvez aquilo que as empresas têm priorizado seja
realmente o setor da educação, entendendo-o como uma dimensão de investimento
em cultura de maneira consequente.
No âmbito deste trabalho não foi possível explicar exatamente o motivo da
educação ser a prioridade nos investimentos. No entanto, podemos especular que a
educação em termos de visibilidade das organizações traga mais dividendos à
reputação das empresas no Brasil. Provavelmente pelo déficit histórico do país
nessa área. Mas esse nosso pressuposto merece ser mais bem aprofundado em
outras pesquisas.
É válido ressaltar também que apesar dos indicadores do investimento em
cultura serem baixos no Brasil os dados apontam para um crescimento desde 2016.
Apesar de que em sua maioria esses recursos dependem de incentivos federais,
como a atual Lei Federal de Incentivo à Cultura, em Minas Gerais saíram grandes
nomes do teatro, como o Grupo Galpão, da música com a Orquestra Filarmônica de
Minas Gerais e claro, na dança com o Grupo Corpo e a Cia. De Dança Palácio das
Artes.
Ao mapear as empresas que patrocinam a dança em Minas Gerais, pudemos
notar uma similaridade em seus discursos, boa parte desses investidores colocam
que investir em arte e cultura é investir no social, nas pessoas, na cidadania, é
também se preocupar com o bem-estar e qualidade de vida da sociedade como um
todo e até zelar por um futuro melhor para as próximas gerações. Esse
posicionamento é acompanhado, na maioria das vezes, em um ganho positivo na
reputação dessas empresas, como a Cemig coloca, é uma consequência de suas
ações transcendentes.
Em relação ao grupo Corpo como caso exemplar, tínhamos como hipótese de
que seu projeto social, o Corpo Cidadão como um projeto de grande destaque
dentro do negócio organizacional, Grupo Corpo. No entanto, as informações
apontaram para o contrário dos nossos pressupostos.
Verificamos um distanciamento entre o que é a organização Grupo Corpo e o
que é o seu projeto de responsabilidade social, Corpo Cidadão. Sendo assim, em
relação à visibilidade do Corpo Cidadão, apesar de se tratar de uma parte integrante
de uma das maiores companhias de dança do país, sua repercussão e visibilidade
pública não fazem jus à organização da qual é originária.
Apesar do Grupo Corpo ter sua legitimação fundamentada através de seu
processo imanente que é o produto dança, ainda assim é uma organização que se
propôs a fazer um investimento em um projeto social. No que tange aos valores ou
princípios do Corpo Cidadão, pode-se afirmar a existência de um comprometimento
com o desenvolvimento das potencialidades de crianças e jovens voltado para o
respeito e solidariedade, de forma que se promova cada vez mais diálogo, por meio
da arte e cultura, com a comunidade em que se atua.
Nesse sentido, esse estudo aponta para o fato de que o Corpo Cidadão se
limita a um trabalho social do Grupo Corpo, focado no oferecimento de um espaço
na formação de talentos que posteriormente possam se integrar à Companhia, no
entanto, não há como relacionar o projeto ao conceito de RSE para a construção de
uma reputação positiva.
Um aprofundamento sobre isso seria possibilitado a partir de um acesso aos
dirigentes da organização, mas devido a um contexto que é bem particular do
momento no Brasil e no mundo, esse contato não foi possível, no entanto, este é um
trabalho que futuramente pode ser retomado e certamente se abre como um bom
objeto de pesquisa para ser aprofundado.
REFERÊNCIAS
BOGÉA, Inês (Org.). Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo. São Paulo:
Cosac & Naify, 2001.
GRUPO CORPO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo635927/grupo-corpo>. Acesso em: 10 de
fev. de 2020.
Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE). Censo GIFE 2018. São Paulo,
2019. Disponível em: <http://gife.org.br/censo-gife/>. Acesso em: 14 de mar. de
2020.
Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE). Censo GIFE traz dossiê sobre
investimento privado em cultura. São Paulo, 2010. Disponível em:
<https://gife.org.br/censo-gife-traz-dossie-sobre-investimento-privado-em-cultura>.
Acesso em: 14 de mar. de 2020.
HALLIDAY, Tereza Lúcia. O que é Retórica. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.