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Fernanda Cavassana de Carvalho
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba - PR – 04 a 09/09/2017
Resumo
Os objetivos da presente pesquisa são analisar a ação cultural estratégica promovida pela
Natura - empresa de cosméticos - de patrocínio e incentivo à música brasileira, por meio
do projeto Natura Musical e interpretar como esta ação reflete na consolidação da
identidade corporativa que a organização deseja transmitir, contemplando seus valores,
sua missão e sua visão. Para isto foram explorados os conceitos de marketing cultural e
de identidade por meio de uma análise bibliográfica, para que fossem analisados os
conteúdos dos canais online da empresa, considerando informações institucionais e
promocionais no site e na página do Instagram, por meio da metodologia de análise de
conteúdo. Pretende-se, assim, compreender como as estratégias direcionadas para
stakeholders4 podem transmitir a essência da organização, além de aproximá-la de novos
públicos, utilizando a cultura como estratégia.
1. Introdução
1 Trabalho apresentado na disciplina Teorias e Métodos da Pesquisa II, do curso de Relações Públicas da Unesp/Bauru,
1º sem 2017.
2
Graduando do Curso de Relações Públicas da FAAC-Unesp, email: felipe-moratto@hotmail.com.
3 Graduando do Curso de Relações Públicas da FAAC-Unesp.
4 Públicos de interesse.
5 Doutora em Administração de Empresas com ênfase em Marketing, Fundação Getulio Vargas, 2003.
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comportamentos, para que não haja problemas com os públicos (VAN RIEL, 1995, apud
ALMEIDA, 2009, p.219-220).
Birkigt e Stadler (1986, apud ALMEIDA, 2009, p.218) definem que identidade
corporativa se baseia na filosofia da organização, em suas metas e na imagem desejada,
para que então se crie uma forma de existir e de apresentar tal comportamento, ou seja, a
personalidade da organização. Sendo essa a definição que será a base desta análise.
Identidade organizacional se diferencia de identidade corporativa, quando a
definem como uma autorreflexão da organização, quem ela realmente é e como se
compreende. A essência da organização que a distingue de outras organizações
(ALBERT; WHETTEN, 1985, apud ALMEIDA, 2009). O que Almeida (2009, p.221)
entende como algo mais interior a organização, seu DNA, motivo de existir, o que a
diferencia, além do que ela procura ser.
A identidade de uma organização pode ser resumida através de suas diretrizes
organizacionais: sua missão, sua visão e seus valores, o que é explicado por certos autores.
Para Maximiano (2011, p.64) missão é a resposta para várias perguntas que
compreendem o motivo de existência de uma organização, quais necessidades ela atende,
que tipo de produtos oferece e qual a sua diferença perante as outras organizações.
Oliveira (2009, apud CARVALHO; SANTOS, 2016, p.26) adiciona a ideia de que a
missão resume as áreas em que a organização se encontra e em quais irá focar suas
atividades.
Visão seria uma meta de oportunidades futuras para a organização, nas quais ela
vai se empenhar para alcançar determinado objetivo ou lugar (TAVARES, 2005).
Oliveira (2007, apud CARVALHO; SANTOS, 2016, p.26) acredita que a visão
representa o que a organização almeja em um período mais longo de tempo, onde ela
espera chegar com suas atividades.
Enquanto para Djalma Oliveira9 (2009) os valores são os princípios que
fundamentam o funcionamento da organização, o que sustentam suas atividades. Fato em
que Bethlem (2009, apud CARVALHO; SANTOS, 2016, p.28) ressalta os valores
pessoais dos indivíduos que compõem a organização como influentes nos valores
organizacionais, como crenças e a moral que de certa forma têm relação com as ações da
organização e com quais valores ela irá se identificar.
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O tempo trouxe para a realidade das organizações novas possibilidades que Ivani
Becker interpreta como uma mudança no perfil dos mercados, como foi visto. Reis10
(2002, p.39) complementa com a ideia de que levando em conta a quantidade de
organizações com estratégias de marketing tradicionais que deixaram as marcas
padronizadas, o que realmente promove uma diferenciação é a capacidade de uma marca
gerar emoção, algo intangível e de certa forma subjetiva. O que a cultura, por ser um
aspecto social, pode fornecer em abundância. Continua ainda explicando a relação das
estratégias de comunicação e marketing cultural, com o despertar de valores, identificação
pessoal e emoção em cada indivíduo que receber a mensagem, com a possibilidade de ser
um relacionamento pessoal.
Marketing cultural é a uma atividade que possibilita organizações atenderem
demandas culturais da sociedade através de seus produtos ou serviços, por meio
financeiro ou de bens11 (MACHADO NETO, 2000, apud MACHADO NETO, 2006,
p.111). Ideia que Muylaert (1994, p.27, apud BECKER, 1997, p.10-11) contempla, como
já foi apresentado, em sua explicação como um conjunto de estratégias de marketing e
comunicação que projetam a imagem da organização através de ações culturais, sempre
adequadas a identidade corporativa e ao seu interesse de públicos, comunicação por
atitudes.
De acordo com Reis (2002, p. 8-9) o termo cultura, quando falamos de marketing e
patrocínio cultural, recebe um significado amplo que vai desde produtos físicos como
livros, CDs, filmes ou jornais produzidos pela indústria cultural, passando pelas
produções artesanais populares anônimas como tecidos ou esculturas, até um sentido mais
profundo de manifestação artística como festas folclóricas e produções musicais. Ainda
acentua que a arte é a forma mais direta de se comunicar o que é cultural.
10 Ana Carla Fonseca Reis é doutora em Arquitetura e Urbanismo FAU-USP e mestre em Administração de
Empresas.
11 Qualquer elemento, em uma empresa ou entidade, que integra o seu patrimônio e é necessário para a produção
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Kotler e Scheff (1996, apud BECKER, 1997, p.31) acreditam que a partir do
momento em que uma empresa investe nas artes e na cultura como estratégia de
comunicação e mercado, demonstra uma preocupação com a comunidade e com a
cidadania, além de promover a marca, agregando valor a sua imagem para com seus
públicos de interesse. Além disso, apresentam a ideia de que uma comunidade
desenvolvida quanto ao setor cultural, oferece as organizações um maior número de
pessoas talentosas.
O papel geral do marketing cultural é promover a imagem da organização e de sua
marca, possibilitando uma certa simpatia e positividade da opinião pública, devido a
adoção de certas atividades culturais (MACHADO NETO, 2006, p.114). O processo,
segundo Reis (2002, p.24-25), é composto por um diagnóstico inicial da situação atual da
comunicação, seguido de um planejamento de objetivos e possíveis metas a serem
atingidas, partindo então para a decisão da estratégia que será utilizada para tal fim. O
patrocínio é o estágio seguinte que seria um método de relacionamento para tal processo
(porém também pode ser uma ação pontual), seguido de sua implementação e avaliação
dos resultados obtidos. Apresenta também alguns dos métodos possíveis de aplicação do
patrocínio, não necessariamente financeiro para promover a organização em determinado
projeto social, mas também pode acontecer através da cobertura de gastos, utilização de
bens móveis e imóveis (locais) sem que o patrocinado tenha acesso ao investimento
tangível.
Patrocínio pode ser confundido com marketing cultural, porém Zentes e Deimel
(1991, apud BECKER, 1997, p.25-26) os diferenciam quando explicam que o patrocínio
teria uma visão mais direta de retorno financeiro, em que um patrocinador investe
recursos financeiros, serviços ou produtos e o patrocinado oferece algo que possa gerar
um retorno positivo, como divulgação.
Finn (1992, apud BECKER, 1997, p.10) acredita que:
A adoção do patrocínio como uma das ações de Marketing Cultural é uma
estratégia que pode trazer resultados não apenas em termos de vendas, mas que
pode atingir os diversos públicos que se relacionam com a empresa, uma vez que,
ao transferir imagens ou significados do evento para a marca contribui-se criando
uma aura de prestígio que pode envolver ou beneficiar desde seu público interno,
seu público externo (fornecedores, distribuidores, instituições financeiras, etc.),
além de outras instituições que não desenvolvem relacionamento direto com a
empresa.
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relaciona com outra com este fim, ou seja, uma organização não cultural incentiva ou
patrocina uma organização cultural. O autor cita o exemplo do Centro Cultural Banco do
Brasil, em que o banco ficou conhecido por 88% da amostra utilizada em uma pesquisa
realizada, por se aliar a produções culturais em um ambiente em que são realizadas
atividades desta categoria, um centro cultural. O que podemos relacionar com o objeto de
estudo.
O site oficial da organização, em sua página “Sobre a Natura” 12, a apresenta como
uma das dez empresas mais inovadores do mundo, com participação em sete países da
América Latina e no continente europeu, na França. Com sete mil colaboradores em suas
sedes e um milhão e meio de consultoras e consultores (vendedores externos). A
organização acredita na importância da inovação para que consiga-se atingir um
desenvolvimento sustentável, ou seja, que não prejudique o meio ambiente.
Propõe uma participação ativa em vários setores da sociedade, não apenas na
dimensão econômica, mas também na social e ambiental, prezando pelo progresso através
do bem-estar tanto de seus colaboradores internos e externos, quanto da comunidade e do
meio ambiente no qual está instalada.
Os produtos fornecidos pela Natura se encontram na categoria dos cosméticos na
qual estão: perfumes, maquiagens, pincéis, bases faciais, delineadores, nécessaires,
xampus, condicionadores, cremes faciais, sabonetes, entre muitos outros produtos que
não fazem parte da maioria dos textos presentes no canal, que é formado majoritariamente
por uma ideologia sustentável e voltada a interação com a sociedade.
As diretrizes organizacionais da empresa estão expostas em uma página
institucional de fácil acesso chamada “Essência”13. Sua missão recebe o nome de “Razão
de Ser” da organização e seria: “Criar e comercializar produtos e serviços que promovam
o bem-estar/estar bem” (NATURA, 2017). A empresa na explicação de sua razão de
existência expõe a definição dos conceito de “bem-estar” e de “estar bem”, os quais são
possíveis entender, respectivamente, como uma “relação harmoniosa, agradável, do
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os editais estaduais e o nacional (que possuem valores diversos). Esta proposta é analisada
por uma equipe de especialistas do meio musical a partir de alguns critérios.
Para a seleção são utilizados os critérios de criação e produção artística com uma
importância maior, já que demonstram a inovação pretendida. A repercussão – potencial
de visibilidade – e articulação – capacidade de parcerias e circulação – com menos
importância, porém possuindo um valor médio na escala. E a viabilidade do projeto com
um peso menor, levando em conta: equipe de trabalho, custo-benefício e
contrapartidas/escopo.
Ao ser selecionado e aprovado pela lei, é assinado um contrato com a Natura em
parceria com as dimensões legislativas, aprovando a divulgação dos resultados,
participação em eventos da Natura, em produções de conteúdo, acompanhamento, entre
outras cláusulas.
A página do projeto no Instagram tem uma identidade própria, devido ao fato da
rede social se basear em conteúdos visuais – fotos e vídeos. Se apresenta como uma ação
para “promover encontros amplificando a frequência social de um Brasil criativo”.
O perfil possui um total de pouco mais de dez mil seguidores interessados com
publicações diárias relacionadas a artistas que foram lançados a partir de seus editais,
entrevistas com personalidades consolidadas na música brasileira, imagens de shows
musicais, transmissões instantâneas de produções, acompanhamento dos selecionados
dos novos editais, lançamentos, entre muitos outros conteúdos. Com o ideal de que “a
música é a voz e onde todo mundo se encontra”.
5. Análise de conteúdo
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No estudo17 o autor ainda sintetiza as fases gerais que certos autores definem para
uma análise de conteúdo correta. Em uma primeira fase é necessária uma leitura geral do
corpus, ou seja, do material estudado, a fim de captar o conteúdo sem escolher possíveis
unidades de análise. A segunda fase é determinada pela escolha, a partir dos objetivos da
pesquisa e da base teórica escolhida, de “recortes” do material que podem auxiliar na
obtenção dos resultados pretendidos. Já a terceira fase e última, é a categorização dos
métodos de análise destes recortes, ou seja, por quais parâmetros estas unidades serão
interpretadas.
A partir disso, a presente análise pode ser compreendida por meio destes estágios,
no qual a caracterização do corpus estudado foi realizada em um momento anterior
quando foi apresentada a organização Natura e também o seu projeto cultural, foco da
discussão, o Natura Musical.
A leitura dos textos apresentados no site institucional da empresa possibilita uma
visão geral da organização – sua razão de existência, sua visão de futuro para a
organização e seus valores fundamentais conhecidos como crenças. Também é possível
visualizar a forma como a Natura se instala na sociedade, os projetos dos quais participa
e quais ideais a empresa carrega em suas ações.
Partindo da ideia explorada por Denise Almeida (2009), citada por Eduardo
Carvalho e Rita Santos (2016), apresentada anteriormente na conceituação de identidade
corporativa e diretrizes organizacionais18. Os recortes escolhidos a partir do material
analisado, são as diretrizes organizacionais da Natura, como método de sintetização da
identidade da empresa, obtidas a partir de informações institucionais. Como também o
edital do projeto Natura Musical, a fim de captar sua ideia geral, e as publicações do
último mês de sua página no Instagram, para uma análise da identidade visual e do
discurso utilizado.
A etapa de categorização da análise de conteúdo será desenvolvida a partir da
comparação entra cada uma das diretrizes organizacionais que formam a identidade
corporativa da organização – missão, visão e valores – com dois tipos de conteúdos
referentes ao Natura Musical: a identidade do projeto apresentada em seu edital e as
publicações realizadas na rede social. Nesta etapa, que será descrita a seguir, resultados
poderão ser coletados a fim de comprovar ou questionar se uma ação cultural, diferente
17 “O método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise de dados qualitativos no campo da saúde” (2004).
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Tópico 2 (p. 3).
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das funções básicas da organização, pode ser utilizada como estratégia de reafirmação da
identidade corporativa, contemplando e transmitindo suas características.
6. Resultados da análise
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Tópico 3 (p. 5).
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ideia de que a empresa é um conjunto de relações no qual o seu valor e sua longevidade
estão ligados à sua capacidade de contribuir para evolução da sociedade. O que pode ser
analisado na forma como o projeto pretende transformar relações em uma possível
visibilidade para temas contemporâneos da dimensão social. A organização se propõe a
não apenas viver de relações, mas utiliza delas para algo além de suas atividades, para
questões sociais.
Outro valor que merece destaque, acredita que quanto maior a diversidade das
partes, maior a riqueza e a vitalidade do todo. Como já foi dito, a apresentação do Natura
Musical defende em todo o seu discurso a necessidade da diversidade nos projetos que se
interessarem pelo patrocínio. A empresa acredita na diversidade e isso fica ainda mais
evidente nas publicações em que vemos uma pluralidade de raças, gêneros, orientações
sexuais, estilos de vestimentas, idades, estilos musicais, entre muitas outras características
que demonstram esta importância. Em poucos meses de publicação podemos ver uma
variedade de pessoas e estilos que comprovam o edital e ainda asseguram uma troca de
experiências, já que além de artistas selecionados, a quantidade de comentários de pessoas
do Brasil inteiro remete ao ideal social da ação.
Esta diversidade contempla outro valor da Natura. Acreditar que a busca pela beleza
deve estar livre de preconceitos e manipulações, o que pode-se relacionar com a
explicação acima, já que são retratados em algumas das publicações da rede social: um
homem usando maquiagens, mulheres negras com seus cabelos naturais, roupas
alternativas, assim como idosos. O conceito de beleza é transformado em algo único da
Natura, feito de acordo com seus critérios e isso é transmitido através da ação visual, além
do próprio projeto cultural que em nenhum momento determina estilos específicos,
gêneros, raças ou qualquer tipo de restrição.
Em síntese o projeto Natura Musical contempla vários pontos da identidade da
organização, desde a importância estabelecida quanto às relações interpessoais, quanto a
um possível auxílio social, ou até mesmo quanto a diversidade respeitada nas diretrizes
organizacionais e mantida durante a ação. Uma ação cultural mesmo que externa as
atividades da organização é capaz de não apenas reafirmar a identidade corporativa, como
também proporcionar novos relacionamentos, já que por meio da música, como podemos
ver na rede social, uma quantidade considerável de pessoas se interessou pelo projeto e
provavelmente conheceu mais sobre a Natura, caso nunca tivessem entrado em contato
com seus produtos.
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7. Considerações finais
Referências bibliográficas
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