Você está na página 1de 5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0007190-22.2022.8.16.0131

Recurso Inominado Cível n° 0007190-22.2022.8.16.0131 RecIno


Juizado Especial Cível de Pato Branco
Recorrente(s): AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S.A.
Recorrido(s): POLYANA COMPAGNONI, Ciro Sabino dos Santos, ELIZIANE PRISCILA
ANDOLHE e JOÃO GABRIEL SABINO DOS SANTOS
Relator: Irineu Stein Junior

RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO


NACIONAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E
MATERIAIS. CANCELAMENTO DE VOO. MANUTENÇÃO
EXTRAORDINÁRIA DA AERONAVE. FORTUITO INTERNO.
FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANOS
MATERIAIS COMPROVADOS. RETIFICAÇÃO DO VALOR
DA CONDENAÇÃO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
SITUAÇÃO QUE ULTRAPASSA O MERO DISSABOR.
VALOR FIXADO QUE NÃO COMPORTA REDUÇÃO.
QUANTUM FIXADO QUE ESTÁ EM CONFORMIDADE COM
AS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO E DE
ACORDO COM OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO..

Trata-se de Recurso Inominado apresentado por AZUL LINHAS AÉREAS


BRASILEIRAS S.A. em razão da sentença de parcial procedência dos pedidos formulados
nos autos de AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS proposta por
CIRO SABINO DOS SANTOS, ELIZIANE PRISCILA ANDOLHE, JOÃO GABRIEL
SABINO DOS SANTOS e POLYANA COMPAGNONI.

Pretende a reforma da sentença.


Relatório dispensado, como autorizado pelo artigo 46 da Lei nº 9.099/95 e
Enunciado 92 do FONAJE.

Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade do recurso, dele


conheço.

A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial


para condenar a parte ré ao pagamento de indenização por danos materiais no valor de R$
2.405,58, bem como, em indenização por danos morais no valor de R$ 3.000,00.

Nas razões do recurso, a parte ré recorrente aduz a excludente de


responsabilidade ante a necessidade de manutenção extraordinária da aeronave.

Destaca-se que a relação jurídica estabelecida entre as partes (passageiros e


empresa de transporte aéreo) é regida pelo Código de Defesa do Consumidor, enquadrando-
se a parte autora no conceito de consumidor e a parte ré, no de fornecedor, nos termos dos
artigos 2° e 3° do Código de Defesa .o Consumidor.

Assim, é assegurado ao consumidor “a facilitação da defesa de seus direitos,


inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério
do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências” (art. 6º, CDC).

Neste contexto, a fornecedora de serviços de transporte aéreo responde


objetivamente pelos danos causados aos passageiros em decorrência da falha na prestação dos
serviços, exceto quando comprovar a inexistência da falha ou culpa exclusiva do consumidor
e de terceiros (art. 14, §3º, do CDC).

Denota-se dos autos que os autores adquiriram passagens aéreas da companhia


aérea ré, para o trecho Chapecó/Florianópolis, data ida 27/11/2021, às 05h e chegada às 06h;
volta data 28/11/2021, às 23h55min e chegada no dia 29/11/2021, à 01h00min.

Restou demonstrado que houve o cancelamento do voo, sem que houvesse a


realocação dos passageiros de forma viável, restando aos autores realizarem a viagem por via
terrestre.

Em que pese as alegações da parte ré recorrente no sentido de que houve o


cancelamento do voo em decorrência da manutenção extraordinária da aeronave aérea não
foram apresentadas evidências concretas de tal narrativa.
Certo é que tal situação se trata de fato previsível, que se insere no risco da
própria atividade empresarial desempenhada pela empresa ré (fortuito interno).

Desse modo, ante a inexistência de provas concretas acerca da excludente de


responsabilidade, resta evidenciada a falha na prestação de serviço.

Danos materiais

A atuação desidiosa da companhia aérea ensejou o desembolso de valores e os


comprovantes apresentados atestam os gastos que a parte autora teve.

Restou comprovado nos autos o dispêndio do valor de R$ 1.473,72 (seq. 1.11/1.


14) referente às passagens aéreas, além do valor de R$ 922,86 referente ao gasto com
combustível para a realização da viagem por via terrestre (seq. 1.15), que totaliza o valor de
R$ 2.396,58, atualizado na forma estabelecida na sentença.

Todavia, reconheço de ofício o erro material constante da sentença a fim de


adequar o valor dos danos materiais, retificando o valor de R$ 2.405,58, como constou,
passando a constar o valor de R$ 2.396,58.

Dano moral

A ré recorrente se insurge quanto à condenação em danos morais, aduzindo que


a situação em debate se situa no âmbito dos contratempos cotidianos, não sendo suficiente
para interferir no íntimo da parte recorrida de forma a abalar o seu estado emocional.

No que se refere à indenização por danos morais, tem-se que a falha na


prestação de serviço, por si só, não leva à presunção da existência de dano moral indenizável.

Ao contrário do entendimento exposto na sentença, o dano moral, nesta


hipótese, não é presumido e deve ser demonstrado a partir das demais circunstâncias fáticas
que permeiam o caso concreto.

Danos morais configurados. A falha na prestação do serviço de transporte aéreo


não necessariamente causa ofensa a direito imaterial do passageiro. O dano moral, nesta
hipótese, não é presumido e deve ser demonstrado a partir das demais circunstâncias fáticas.

Na hipótese dos autos, observando as peculiaridades, não há dúvida de que a


situação vivenciada pela parte autora configurou os danos morais, superando a hipótese de
meros aborrecimentos e transtornos da vida cotidiana, ensejando a convicção de lesão a
direito de personalidade. Isso porque o cancelamento do voo, sem a possibilidade de
remarcação fez com que os autores tivessem que se deslocar de carro, por mais de 600 km,
por mais de dez (10 ) horas na estrada, a fim de não perderem o evento (casamento) para o
qual tinham adquirido passagens.
Portanto, a ausência de solução administrativa viável pela ré recorrente, que não
possibilitou que a parte Autora fosse reacomodada em voo por outra Cia Aérea, o mais breve
possível ou, em caso de não haver outra Cia que realizasse o transporte, promovesse o
deslocamento para um outro aeroporto mais próximo, causou transtornos, além de gastos não
programados.

Como exposto pela autora na inicial, a viagem foi cansativa e desgastante. Certo
é que tais situações revelam o extremo desconforto e abalo de ânimo, com relevante afetação
psicológica e física da parte autora ocorrida em uma viagem.

Assim, resta configurado o dano moral.

Da alteração do quantum indenizatório.

O valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), fixado pelo juízo singular, se mostra
razoável a fim de compensar o abalo moral sofrido, sem causar enriquecimento sem causa.

Para a redução do valor fixado há o convencimento de que o valor deve sofrer


alteração somente quando demonstrados, de forma cabal, o excesso ou a insignificância do
valor arbitrado. Para tanto, incumbe à parte que recorre o dever de demonstrar onde residem
os motivos que autorizam que a Instância Revisora se posicione de forma diversa do Juízo de
primeiro grau. Todavia, os argumentos expostos nas razões recursais não se mostraram
suficientemente robustos a ponto de ilidir o posicionamento adotado pelo juízo singular, que
pode avaliar adequadamente as condições que interferem na fixação da indenização e em
observância aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, pelo que o valor deve ser
mantido.

Pelo exposto, voto por CONHECER E NEGAR PROVIMENTO AO


RECURSO, retificando, de ofício, o valor dos danos materiais (R$ 2.396,58), na forma da
fundamentação.

Ante a ausência de êxito recursal, fica a parte recorrente condenada ao


pagamento de honorários advocatícios, arbitrados em 10% do valor da condenação (art. 55,
Lei nº 9.099/95).

Custas devidas, conforme Lei Estadual nº. 18.413/14, arts. 2º, inc. II e 4º, e
Instrução Normativa - CSJEs, art. 18.

Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve,


por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S.A.,
julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Provimento em Parte nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Irineu Stein Junior (relator),
com voto, e dele participaram os Juízes Alvaro Rodrigues Junior e Marcel Luis Hoffmann.

04 de agosto de 2023

Irineu Stein Junior


Juiz (a) relator (a)

Você também pode gostar