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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0029486-50.2022.8.16.0030

Recurso Inominado Cível n° 0029486-50.2022.8.16.0030 RecIno


2º Juizado Especial Cível de Foz do Iguaçu
Recorrente(s): Luana Fernanda Kunz e Renato dos Santos Laveniski
Recorrido(s): AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S.A.
Relator: Irineu Stein Junior

RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO NACIONAL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CANCELAMENTO E ATRASO DE
VOO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. DANOS
MATERIAIS COMPROVADOS. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. AUSÊNCIA DE PROVA DE VIOLAÇÃO A
DIREITOS DA PERSONALIDADE. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO EM PARTE.

Trata-se de Recurso Inominado interposto por LUANA FERNANDA KUNZ e


RENATO DOS SANTOS LEVENISKI em razão da sentença de improcedência do pedido
formulado nos autos de AÇÃO DE INDENIZAÇÃO ajuizada contra AZUL LINHAS
AÉREAS BRASILEIRAS S.A.

Postulam a reforma da sentença.

Relatório dispensado, como autorizado pelo artigo 46 da Lei nº 9.099/95 e


Enunciado 92 do FONAJE.

Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade do recurso, dele


conheço.

A sentença julgou improcedente o pedido da inicial, sob o fundamento de que


não houve falha na prestação do serviço.
A parte autora interpôs o recurso inominado (seq. 32) pugnando a reforma da
sentença e a condenação da ré ao pagamento de danos materiais e de danos morais.

Trata-se na origem de Ação Indenizatória proposta em razão da falha na


prestação do serviço, aduzindo os autores que adquiriram passagens aéreas da ré, voo direto
para o trecho Foz do Iguaçu/PR – Navegantes/SC, ida na data 23/02/2022, partida às 12:55 e
chegada em Navegantes/SC, às 14:40; e volta na data 01/03/2022, partida de Navegantes/SC
às 15:25 e chegada em Foz às 17:10. Informam que o voo de ida teve diversas alterações e foi
reagendado, com acréscimo de conexão (Campinas/SP) para o dia 23/02/2022, partindo de
Foz do Iguaçu/PR, às 11:10, com conexão em Campinas/SP e chegada em Navegantes, às 12:
40. Afirmam que no momento do embarque foram informados que o voo de Foz do Iguaçu
/PR para Campinas/SP estava atrasado e que não poderiam embarcar porque não daria tempo
de fazer a conexão de Campinas/SP para Navegantes/SC, tendo sido realocados em outro
voo, de companhia congênere, para a mesma data (23/02/2022) e com alteração da conexão,
partindo de Foz do Iguaçu/PR, às 19:50, com conexão em Guarulhos/SP e chegada em
Navegantes/SC, às 23:30.

A relação jurídica estabelecida entre as partes (passageiros e empresa de


transporte aéreo) é regida pelo Código de Defesa do Consumidor, enquadrando-se a parte
autora no conceito de consumidor e a parte ré, no de fornecedor, nos termos dos artigos 2° e
3° do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, é assegurado ao consumidor “a facilitação da defesa de seus direitos,


inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério
do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências” (art. 6º, CDC).

Neste contexto, a fornecedora de serviços de transporte aéreo responde


objetivamente pelos danos causados aos passageiros em decorrência da falha na prestação dos
serviços, exceto quando comprovar a inexistência da falha ou culpa exclusiva do consumidor
e de terceiros (art. 14, §3º, do CDC).

Falha na prestação do serviço

A parte ré recorrida aduz que o atraso do voo se deu por motivo de força maior
(chegada tardia de outro voo ao aeroporto, o que interferiu nos demais).

Em que pese as alegações da parte ré não foram apresentadas evidências


concretas de tal narrativa.
Certo é que tal situação se trata de fato previsível, que se insere no risco da
própria atividade empresarial desempenhada pela empresa ré (fortuito interno).

Cumpre salientar que a tela sistêmica apresentada pela ré na contestação (seq.


21) não se mostra suficiente para a finalidade.

No caso, houve a alteração do voo inicialmente contratado, primeiro com a


inclusão de conexão não programa e depois houve nova alteração de voo, que não se realizou
devido a atraso e perda da conexão, ensejando a necessidade de realocação dos autores em
outro voo de companhia congênere, o que acarretou o atraso na viagem de aproximadamente
nove horas.

Por tais razões, resta evidente a falha na prestação do serviço.

Desse modo, deve a ré recorrente responder pelos danos suportados (art. 14


CDC).

Danos materiais

Os autores pretendem a restituição, em dobro, do valor de R$ 382,66


correspondente à diária não usufruída.

Consta dos autos que os autores juntamente com outros amigos alugaram um
apartamento para passar o carnaval em Bombinhas/SC, no período de 23/02/2022 a 01/03
/2022, com valor da diária de R$ 1.148,00.

Considerando que houve o atraso do voo de, aproximadamente, nove horas e


que os autores só chegaram no destino às 23:30 horas, os autores fazem jus ao valor
correspondente à diária não usufruída.

No caso, é devido o reembolso do valor proporcional ao gasto dos autores com a


diária não usufruída, no valor de R$ 382,66 (seq. 1.3), na forma simples.

Todavia, indevida a restituição em dobro, como pretendido pelos autores


recorrentes, vez que não se aplica ao caso o art. 42, parágrafo único, do CDC, por não se
tratar de cobrança indevida.

O valor a ser restituído (R$ 382,66) deve ser corrigido monetariamente pela
média dos índices INPC/IGP-DI a contar do efetivo desembolso e de juros de mora de 1% ao
mês, estes a contar da citação.

Danos morais
No que se refere à indenização por danos morais, tem-se que a falha na
prestação de serviço, por si só, não leva à presunção da existência de dano moral indenizável.
Ou seja, o dano moral, nesta hipótese, não é presumido e deve ser demonstrado a partir das
demais circunstâncias fáticas que permeiam o caso concreto.

O Superior Tribunal de Justiça possui o entendimento de que “a configuração


do dano moral pressupõe uma grave agressão ou atentado a direito da personalidade, capaz
de provocar sofrimentos e humilhações intensos, descompondo o equilíbrio psicológico do
indivíduo por um período de tempo desarrazoado” (AgInt no REsp 1655465/RS, Rel.
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 24/04/2018, DJe 02/05/2018).

Apenas é caracterizado o dano moral quando o consumidor é ofendido na sua


honra, na sua imagem ou é colocado em situação vexatória, que causa transtorno psicológico
relevante, o que não se evidencia na hipótese em debate, pois “a verificação do dano moral
não reside exatamente na simples ocorrência do ilícito, de sorte que nem todo ato
desconforme o ordenamento jurídico enseja indenização por dano moral. O importante é que
o ato ilícito seja capaz de irradiar-se para a esfera da dignidade da pessoa, ofendendo-a de
maneira relevante.” (AgRg no REsp 1269246/RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, julgado em 20/05/2014, DJe 27/05/2014).

Inobstante seja inegável o aborrecimento decorrente das alterações do voo e do


atraso na chegada ao destino final, não se evidencia a ocorrência de repercussão de maior
gravidade a ponto de caracterizar o abalo de ordem moral aos autores, ônus que lhes
incumbia (art. 373, I, do CPC).

Realizada audiência de conciliação (seq. 18), ocasião em que os autores


poderiam pleitear a produção de provas da ocorrência de danos psicológicos, no entanto,
manifestaram o desinteresse na instrução probatória.

Certo é que competia à parte autora a demonstração da ocorrência dos danos


extrapatrimoniais, mesmo que aplicáveis as disposições do Código de Defesa do
Consumidor, por se tratar de fato constitutivo do direito alegado.

No caso, ressalte-se inexistente a demonstração de excepcionalidade capaz de


ensejar a reparação por danos morais.

O que fica evidenciado é mero descumprimento contratual pela parte ré, o que
não é capaz de garantir o reconhecimento da compensação moral.
Portanto, diante da ausência de ocorrência de prejuízos concretos que afetaram
diretamente os direitos personalíssimos dos autores, não há que se falar em condenação por
danos morais, restando indeferido o pedido.

Pelo exposto, voto no sentido de CONHECER E DAR PARCIAL


PROVIMENTO AO RECURSO para reformar parcialmente a sentença e condenar a ré ao
pagamento da indenização por danos materiais, na forma da fundamentação.

Ante o parcial êxito recursal, fica a parte recorrente condenada ao pagamento de


honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) do valor da condenação (art. 55
da Lei nº 9.099/95).

Custas devidas, conforme Lei Estadual nº 18.413/14, arts. 2º, inc. II e 4º, e
Instrução Normativa - CSJEs, art. 18.

Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve,


por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de Luana Fernanda Kunz, julgar pelo(a) Com
Resolução do Mérito - Provimento em Parte, em relação ao recurso de Renato dos Santos Laveniski,
julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Provimento em Parte nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Alvaro Rodrigues Junior, com
voto, e dele participaram os Juízes Irineu Stein Junior (relator) e Marcel Luis Hoffmann.

01 de dezembro de 2023

Irineu Stein Junior

Juiz (a) relator (a)

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