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Apelação Cível Nº 1.0261.14.

000757-4/001

<CABBCADBACDAAADAADBCAADDABABCCAABCDA
ADDADAAAD>
EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS – ACIDENTE DE TRÂNSITO –
RODOVIA DE PISTA SIMPLES E MÃO DUPLA - ABALROAMENTO
FRONTAL ENTRE VEÍCULOS – RESPONSABILIDADE DO CONDUTOR
QUE INVADE A CONTRAMÃO DIRECIONAL, SEM A DEVIDA
CAUTELA, EM LOCAL DE ULTRAPASSAGEM PROIBIDA (FAIXA
CONTÍNUA) - CONDUTA DETERMINANTE PARA O EVENTO DANOSO
– VERIFICAÇÃO – DANOS MATERIAIS – MONTANTE ORÇADO,
NECESSÁRIO À RECUPERAÇÃO DO VEÍCULO DA VÍTIMA SUPERIOR
AO PREÇO DE MERCADO – QUANTUM INDENIZATÓRIO SEGUNDO
TABELA FIPE – VALOR DO BEM À ÉPOCA DO SINISTRO –
CABIMENTO – ENTREGA OU ABATIMENTO DO SALVADO –
CONSEQUÊNCIA, SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA –
APURAÇÃO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA - CONSECTÁRIOS
LEGAIS SOBRE A INDENIZAÇÃO MATERIAL – DANOS MORAIS –
CARACTERIZAÇÃO – VALOR DA INDENIZAÇÃO – CRITÉRIOS DE
ARBITRAMENTO – JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA –
REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA – CABIMENTO.

- Age com culpa e de forma determinante ao evento danoso o


motorista que invade a sua contramão direcional, sem a devida
cautela, em trecho de faixa contínua, abalroando a parte frontal do
automóvel que circula em sua mão de direção.

- Se o valor do reparo das avarias causadas no veículo acidentado


são superiores ao preço do automóvel, se considera que houve
“perda total” do bem, devendo a parte adversa pagar o valor que o
automóvel correspondia à época do evento danoso.

- Em sede de reparação por dano material em veículo, a fixação da


indenização no valor de mercado, na data do sinistro, com base na
Tabela elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas -
FIPE, tem o efeito análogo ao da recomposição por "perda total",
perfazendo a restitutio in integrum em benefício do proprietário do
bem.

- Nessa situação, impõe-se a dedução do valor da sucata do quantum


indenizatório, igualmente computado na data do acidente, ou a
entrega do salvado ao responsável pelo ressarcimento, sob pena de
enriquecimento sem causa da vítima, a apurar em liquidação de
Sentença.

- Sobre o montante a apurar, deverá incidir correção monetária pelos


índices da CGJ/MG, e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês,
ambos a partir da data do evento danoso, nos termos das Súmulas
nºs 43 e 54, do STJ.

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Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

- Configura dano moral as lesões físicas leves sofridas pela vítima de


acidente automobilístico, além do abalo psíquico inerente ao evento
danoso, que enseja a procedência do respectivo pedido
indenizatório.

- O valor da indenização por danos morais deve ser fixado de forma


proporcional às circunstâncias do caso, com razoabilidade e
moderação, e em observância aos parâmetros jurisprudenciais.

- Sobre o valor da indenização moral devem incidir juros de mora de


1% (um por cento) ao mês a partir do evento danoso, conforme
Enunciado sumular nº 54, do STJ, em se tratando de relação
extracontratual.

- O termo inicial da correção monetária nas indenizações por dano


moral é a data do arbitramento definitivo, por força da Súmula nº 362,
do STJ.

- Mostrando-se procedência os pedidos iniciais, a parte Ré deve ser


condenada a arcar com a integralidade das custas processuais e da
verba honorária.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0261.14.000757-4/001 - COMARCA DE FORMIGA - 1º APELANTE: DANIELA ENES SILVA


- 2º APELANTE: ROBSON ROMERO DE SOUSA - APELADO(A)(S): DANIELA ENES SILVA, ROBSON ROMERO
DE SOUSA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 18ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO 1º
RECURSO E NEGAR PROVIMENTO AO 2º APELO.

DES. ROBERTO SOARES DE VASCONCELLOS PAES


RELATOR.

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DES. ROBERTO SOARES DE VASCONCELLOS PAES


(RELATOR)

VOTO

Trata-se de Apelações interpostas por DANIELA ENES SILVA e


ROBSON ROMERO DE SOUSA em razão da Sentença de fls.
151/158, prolatada pelo MM. Juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de
Formiga/MG, que, nos autos da Ação de Indenização por Danos Morais
e Materiais que a 1º Apelante ajuizou em desfavor do 2º Recorrente,
julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais.
Constou do dispositivo da Sentença:

"Ante o exposto, extinguindo o processo com


resolução de mérito, artigo 269, I, do CPC, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos
formulados na inicial, condenando o requerido
Robson Romero de Souza, a indenizar a autora a
quantia de R$31.841,35 (trinta e um mil oitocentos
e quarenta e um reais e trinta e cinco centavos), a
título de danos materiais.

Incidirá correção monetária de acordo com a tabela


da Corregedoria Geral de Justiça, a partir do
evento danoso para os danos materiais, súmula 54
do STJ, além de juros legais de 1% (um por cento)
ao mês, a partir do evento danoso (30/11/2.013).

Ante a sucumbência recíproca, condeno as partes


ao pagamento das despesas processuais e
honorários advocatícios que fixo em 15% (quinze
por cento) sobre o valor da condenação, suspensa
a exigibilidade em relação ao requerido eis que
concedo o benefício da justiça gratuita (artigo 12
da Lei 1.060 de 1.950).
P.R.I.".

Os Embargos de Declaração apresentados pelo Réu, às fls.


160/164, foram acolhidos, nos seguintes termos:

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“[...] Pois bem, em análise detida dos autos,


vislumbra-se que merece guaridas as alegações do
embargante, isso porque a parte Autora juntou com
a inicial os orçamentos demonstrando que o
conserto de seu veículo ficaria, em média, em R$
31.841,35 (trinta e um mil oitocentos e quarenta e
um reais e trinta e cinco centavos), não obstante,
quando da contestação, foi juntada pela Ré a
Tabela FIPE de fls. 68/73, demonstrando que o
valor de mercado do automóvel da requerente, era
de R$ 9.852,00 (nove mil oitocentos e cinquenta e
dois reais).

Assim sendo, tenho que o valor do conserto não


pode ser superior ao valor de mercado do bem,
sob pena de ocorrer enriquecimento ilícito da parte.
Explica-se, se os danos são superiores ao valor do
bem, considera-se que houve perda total, devendo
a parte adversa pagar o valor que o bem
correspondia à época do evento danoso.
[...]

Ante o exposto, ACOLHO os embargos de


declaração para condenar o requerido, Robson
Romero de Souza, a pagar a parte requerente,
Daniela Enes Silva, a título de danos materiais o
valor de R$9.852,00 (nove mil oitocentos e
cinquenta e dois reais).

No mais, mantenho a sentença tal como lançada


nos presentes autos.”.

Nas razões do 1º Recurso (fls. 173/185), a Autora assevera que,


diante do reconhecimento da culpa exclusiva do Réu pelo acidente
objeto da Ação, ele deve ser condenado ao pagamento do valor
correspondente a todos os prejuízos sofridos por ela, Requerente.
Afirmar que para o conserto de seu veículo seria necessário o
dispêndio da quantia de R$31.841,35 (trinta e um mil, oitocentos e
quarenta e um reais e trinta e cinco centavos). Pondera, que,
conquanto a Tabela FIPE atribua valor de mercado aos automóveis,
sua credibilidade é relativa, ilidida diante da prova do real do montante
destinado à aquisição do veículo. Sustenta ter feito prova documental,
não impugnada pelo Réu, de que o seu veículo, acidentado, havia sido
adquirido pela importância de R$17.000,00 (dezessete mil reais), em

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data próxima ao sinistro. Salienta que o seu automóvel pode ser


recuperado e, assim, deve ser determinada a condenação do 1º
Apelado a arcar com o valor imprescindível ao retorno do bem às
mesmas condições que se encontrava antes do evento danoso. Ainda,
insurge contra a improcedência de seu pedido de indenização por
danos morais, argumentando que o acidente narrado causou enorme
abalo em seu psicológico, sendo inclusive conduzida para o Pronto
Socorro da Municipalidade. Ao final, pede a reforma da Sentença para
que a indenização material seja majorada para a quantia de
R$31.841,35 (trinta e um mil, oitocentos e quarenta e um reais e trinta
e cinco centavos) ou, em eventualidade, para o montante de
R$17.000,00 (dezessete mil reais), com a condenação do Réu ao
pagamento de indenização por danos morais.
Em Contrarrazões (fls. 209/223), o Requerido pede o não
provimento do Recurso da Autora, salientado que, embora não tenha
sido o responsável pelo acidente, a eventual manutenção da Sentença
na parte que o condenou ao pagamento de indenização por danos
materiais não comporta alteração, uma vez que o mencionado
quantum indenizatório deve guardar correspondência com o valor de
mercado do veículo à época do sinistro. Ainda, ressalta que da
indenização material deve ser deduzido o valor da sucata ou
determinada a entrega do salvado em seu benefício. Em relação à
indenização pretendida, por danos morais, aponta que a Autora não fez
prova de qualquer lesão a ensejar tal reparação.
Já no 2º Apelo (fls. 187/199), o Réu assevera que o acidente foi
causado exclusivamente pela Autora, que, na condução de seu
veículo, não observou as regras de trânsito, e que aproveitou a
“parede” ou “sombra” da carreta que circulava no local, com o objetivo
de cruzar a Rodovia, sem observar o fluxo preferencial, dando causa
ao acidente. Afirma que a versão estampada no Boletim de Ocorrência
não reflete, com exatidão, a dinâmica do acidente. Sustenta que o
termo “ultrapassagem” se refere ao “abaulamento” que realizou para
evitar o choque com a lateral traseira da carreta e que sua manobra

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não implicou em invasão da contramão direcional, se valendo da


direção defensiva. Pede a improcedência integral dos pedidos iniciais.
Nas Contrarrazões de fls. 202/208, a Autora pugna pelo
desprovimento da 2ª Apelação.
É o relatório.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE:

Inicialmente, esclareço que, apesar da entrada em vigor do


Novo Código de Processo Civil de 2015, em 18/03/2016, a norma
processual a ser aplicada neste Recurso será a da lei revogada, qual
seja, o Código de Processo Civil de 1973, já que se deve considerar a
data da publicação da Sentença que motivou a interposição do
presente Recurso e a regra constante no art. 14, da nova Lei, que
dispõe sobre o direito intertemporal, cuja transcrição segue abaixo:

“Art. 14. A norma processual não retroagirá e será


aplicável imediatamente aos processos em curso,
respeitados os atos processuais praticados e as
situações jurídicas consolidadas sob a vigência da
norma revogada.”.

Aqui também é importante ressaltar o Enunciado Administrativo


nº 2, do STJ:

“Aos recursos interpostos com fundamento no


CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17
de março de 2016) devem ser exigidos os
requisitos de admissibilidade na forma nele
prevista, com as interpretações dadas, até então,
pela jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça.”.

No mesmo sentido é o Enunciado nº 54, da 2ª Vice-Presidência


do TJMG:

“54. A legislação processual que rege os recursos


é aquela da data da publicação da decisão judicial,

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assim considerada sua publicação em cartório,


secretaria ou inserção nos autos eletrônicos.”.

Outrossim, conheço do 1º Recurso, porque próprio, tempestivo e


por ter contado com o preparo de fl. 356.
Também conheço do 2º Apelo, presentes os requisitos para a
sua admissibilidade, salientando que o 2º Recorrente litiga sob o pálio
da Assistência Judiciária (fl.157).

MÉRITO:

Extrai-se dos autos que DANIELA ENES SILVA ajuizou a


presente Ação contra ROBSON ROMERO DE SOUSA, alegando que,
em novembro de 2013, iniciou a negociação do veículo Ford/Fiesta,
placa JPL-2790, com Elaine Cristina da Silva Dias e, especificamente
no dia 30/11/2013, enquanto conduzia o referido automóvel, a fim de
testá-lo, pela Rodovia MG-050, foi atingida pelo carro do Réu,
GM/Prisma, placa HIC-7531, que transitava em alta velocidade e, ao
tentar ultrapassar uma carreta, invadiu a mão de direção dela,
Requerente, provocando o abalroamento frontal dos automóveis.
Em sua defesa (fls. 42/63), o Réu argumentou que a carreta
mencionada pela Autora na Inicial fez uma conversão sem qualquer
aviso, convergindo à esquerda, cruzando a linha divisória de fluxos,
com o intuito de ingressar na via de acesso ao trevo de Formiga. Em
razão de tal conduta do motorista da carreta, ele, Requerente, foi
obrigado a realizar manobra de “abaulamento” para não colidir com o
reboque do caminhão. Disse que, após contornar a parte traseira da
carreta, se deslocando para a esquerda, mas sem invadir a contramão
direcional, continuou sua trajetória quando foi surpreendido pelo
automóvel da Autora, que iniciou manobra de saída do trevo de
formiga, para cruzar a Rodovia MG-050. Assim, argumentou que a
Requerente aproveitou a “parede” ou “sombra” da carreta, com o
objetivo de cruzar a Rodovia, contudo, não observou o fluxo
preferencial, dando causa ao sinistro.

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Ao sentenciar o feito, o MM. Juiz, sopesando a prova produzida,


conclui que o acidente foi causado pelo Réu que abalroou o veículo da
Autora ao invadir a contramão direcional na Rodovia, condenando-o ao
pagamento de indenização material no montante correspondente ao
valor de mercado do carro, uma vez que o conserto dos danos se
mostrou mais elevado. Lado outro, julgou improcedente o pedido de
indenização por danos morais, ao fundamento de que a Requerente,
em virtude do evento, sofreu apenas ferimentos leves.
Nas razões do 1º Recurso, a Autora pede a reforma da
Sentença para que a indenização material seja majorada para a
quantia de R$31.841,35 (trinta e um mil, oitocentos e quarenta e um
reais e trinta e cinco centavos) ou, em eventualidade, para o montante
de R$17.000,00 (dezessete mil reais), com a condenação do Réu,
ainda, ao pagamento de indenização por danos morais.
Já no 2º Apelo, o Réu ratifica a sua versão sobre a dinâmica do
acidente, apresentada em sua Contestação, argumentando que o
sinistro foi causado exclusivamente pela Autora, que, na condução de
seu veículo, não observou as regras de trânsito. Pugna pela
improcedência integral dos pedidos iniciais.
Tendo em vista que as matérias levantadas em sede
recursal pelas partes Recorrentes se interrelacionam, passo à
análise conjunta de ambos os Recursos.

RESPONSABILIDADE CIVIL PELO ACIDENTE DE TRÂNSITO:

Em relação aos danos decorrentes do acidente de trânsito em


que as partes se envolveram, cumpre salientar que o Código Civil/2002
determina que tem responsabilidade civil de indenizar àquele que
sofreu dano moral e material quem praticou a conduta antijurídica e
causou diretamente o prejuízo, conforme dispõem os arts. 186 e 927:

"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.".

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"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e


187) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.".

Segundo lição de Caio Mário da Silva Pereira quanto aos tais


dispositivos:

"Para a configuração da obrigação de indenizar por


ato ilícito exige-se a presença de três elementos
indispensáveis:
a) em primeiro lugar, a verificação de uma conduta
antijurídica, que abrange comportamento contrário
a direito, por comissão ou por omissão, sem
necessidade de indagar se houve ou não o
propósito de malfazer;
b) em segundo lugar, a existência de um dano,
tomada a expressão no sentido de lesão a um bem
jurídico, seja este de ordem material ou imaterial,
de natureza patrimonial ou não patrimonial;
c) e em terceiro lugar, o estabelecimento de um
nexo de causalidade entre um e outro, de forma a
precisar-se que o dano decorre da conduta
antijurídica, ou, em termos negativos, que sem a
verificação do comportamento contrário a direito
não teria havido o atentado ao bem jurídico." (in
"Instituições de Direito Civil", v. I, Introdução ao
Direito Civil. Teoria Geral do Direito Civil, Rio de
Janeiro: Forense. 2004. p.661).

É fato incontroverso nos autos que os litigantes se envolveram


em acidente automobilístico ocorrido em 30/11/2013, na Rodovia MG-
050, havendo divergência quanto à sua dinâmica.
O Boletim de Ocorrência, acostado às fls. 11/15, consta a
seguinte narrativa quanto ao sinistro:

“Segundo declaração dos condutores, o veículo


GM Prisma de placa HIC-7531 transitava sentido
Formiga/Divinópolis/MG na rodovia MG 050 onde
um veículo não identificado sendo uma carreta
estava efetuando uma manobra para entrar no
trevo de acesso a cidade de Formiga/MG e para
não colidir em sua traseira saiu para a
contramão de direção não observando que o
veículo Ford Fiesta de Placa JPL-2790 iniciara

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sua manobra para entrar na via MG 050 sendo


abalroado pelo veículo GM Prisma que não
conseguiu evitar o acidente. Referido acidente
resultou em duas vítimas ambos condutores que
foram socorridos por uma unidade do Corpo de
Bombeiros sendo levadas para o Pronto
Atendimento da cidade de Formiga. Os veículos
foram removidos pelo Socorro Jaja a pedido dos
condutores.” (Destacamos).

Demais disto, o documento de fls. 11/15 informa que a pista em


que ocorreu o evento era simples, de mão dupla, sem separação física,
de revelo plano e traçado reto (fl. 12-verso).
Saliente-se que o mencionado Boletim de Ocorrência foi
elaborado na data do acidente, 30/11/2013, pelo Policial Militar, Enio
Alberto Resende de Castro, que compareceu ao local e, após ouvir a
declaração dos envolvidos e de analisar as circunstâncias fáticas que
presenciou, elaborou o texto descritivo sobre o acidente, acima
transcrito.
Exceto quando há declaração unilateral de pessoa envolvida no
evento, não sendo este o caso dos autos, o Boletim de Ocorrência
respectivo é documento portador de presunção juris tantum de
veracidade na descrição dos fatos verificados diretamente por
autoridade ou agente público, razão pela qual somente deixa de
prevalecer diante de prova inequívoca em contrário.
Nesse sentido, a orientação do Colendo STJ:

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS. ACIDENTE. BOLETIM
DE OCORRÊNCIA. PRESUNÇÃO RELATIVA.
SÚMULA N. 7/STJ. PRECLUSÃO. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. BASES FÁTICAS
DISTINTAS.
1. Os documentos públicos têm presunção relativa
de veracidade, podendo ser afastada diante do seu
teor ou mediante a produção de provas em sentido
contrário.
[...].”

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(STJ - AgRg no AREsp 363.885/SP, Rel. Ministro


JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 24/11/2015, DJe 27/11/2015 -
Grifamos).

“PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ESPECIAL -


DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO: SÚMULA
284/STF - INADMISSIBILIDADE - REEXAME DE
PROVAS: SÚMULA 7/STJ - BOLETIM DE
OCORRÊNCIA - ATO ADMINISTRATIVO -
PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE.
[...]
3. O boletim de ocorrência feito por policial
rodoviário federal tem natureza de ato
administrativo e goza da presunção relativa de
veracidade, servindo para embasar a ação de
cobrança por danos materiais.
4. Recurso especial parcialmente conhecido e não
provido.”
(STJ - REsp 1085466/SC, Rel. Ministra ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
21/05/2009, DJe 04/06/2009 – Grifamos).

Na espécie, o Réu não derruiu o conteúdo do Boletim de


Ocorrência acostado aos autos, que se mostra válido e não nulo, sendo
de se salientar que, em Juízo, foi colhido o depoimento do Policial
Militar, Enio Alberto Resende de Castro, na qualidade de testemunha
compromissada e não contraditada, que confirmou a versão dada
anteriormente. Vejamos (fl. 132):

“Que não presenciou o acidente mencionado nos


autos, mas na condição de Policial Militar, esteve
no local e viu os veículos danificados; que a
descrição dos danos corresponde ao que está no
Boletim de Ocorrência; que embora não tenha
visto, a única explicação que o depoente encontra,
é que uma carreta foi manobrar e fez com um dos
veículos invadisse a pista contrária gerando a
colisão mencionada nos autos ; que pessoas no
local comentaram com o depoente que uma
carreta fez ali uma manobra, em sentido da
Mercedez; que é muito comum caminhão proceder
a este tipo de manobra, estima que umas 05 vezes
ao dia isto ocorra; que defini o local da colisão
como sendo na baia da pista de trânsito no sentido
Divinópolis/Formiga, quando a autora fazia a
conversão naquele local; que não se recorda se o

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requerido confirmou ter saído de trás de uma


carreta; que pelo que se recorda, o depoente
conversou com os condutores e com alguns
populares, além de observar as marcas na pista
“que falavam tudo”, para elaboração do BO; que
quando o depoente chegou ao local os veículos
ainda não haviam sido retirados e estavam como
ficaram logo após o acidente; [...]”. (Destacamos).

Saliente-se que as provas neste Voto já referidas e as demais


produzidas são harmônicas no sentido de que o abalroamento entre
os veículo envolvidos no acidente ocorreu na mão direcional em que
trafegava a Autora.
Demais disto, os elementos probatórios permitem concluir que a
Requerente havia saído de via marginal e adentrado na pista de
rolamento da Rodovia MG/050, na mesma mão direcional em que já
estava trafegando, quando o Réu, que circulava em sentido contrário
ao da Requerida, para desviar ou ultrapassar uma carreta que estava
obstruindo a sua passagem, invadiu a contramão direcional, atingindo
frontalmente o veículo Ford/Fiesta.
A Autora, em depoimento pessoal prestado em Juízo, afirmou
(fl. 130):

“[...] que a depoente saiu da rua Rodolfo Almeida e


subiu na “Chapada”, chegando ao trevo na saída
da cidade, entrou na rua da Mercedes, foi reto e
entrou no Bianquinho, um pouco mais a frente,
quando já havia “pego a minha pista”, o requerido
saiu de trás de um caminhão e colidiu com o
veículo dirigido pela depoente; que a colisão
ocorreu quando a depoente já estava na MG-050.”
(Grifamos).

O próprio Réu, em Juízo, confirma que o acidente ocorreu na


pista em que trafegava a Autora, contrária à sua mão direcional (fl.
131):

“Que a colisão ocorreu logo após a Polícia


Rodoviária, MG-050, em sentido à Divinópolis; que
após o local do acidente a pista tem uma
bifurcação; que o veículo do depoente foi atingido

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frontalmente e o da autora na lateral esquerda


dianteira; que “na tentativa de desviar dela, o
acidente ocorreu na mão direcional da autora”; que
o depoente não transitava logo atrás de uma
carreta, mas havia uma carreta em sentido
contrário, a qual fez uma conversão à esquerda,
entrando na área do trevo sem se aproveitar da
área para conversão; [...].” (Grifamos).

Diná Ramalho Fonseca Vieira, qualificada como “do lar”,


testemunha que presenciou o acidente, compromissada e não
contraditada, asseverou (fl. 133):

“Que a depoente estava vindo de Luz, tendo


presenciado o acidente, que estava em outro
veículo, que transitava no mesmo sentido que o da
autora; que o veículo que colidiu com o da autora
saiu da pista dele e colidiu com o da autora; que
não “entendo” de trânsito, não sabendo explicar
muito bem a dinâmica do acidente, mas afirma que
o outro veículo colidiu com o da autora na faixa de
trânsito desta (autora); [...] que a carreta estava em
sentido contrário ao da depoente; [...] que o veículo
do requerido estava ultrapassando a carreta; que
não se recorda se a carreta fez uma manobra no
local ou se seguiu em linha reta; [...] que pelo que
percebeu o veículo da autora estava em linha reta
à frente do veículo que a depoente estava; que
entende como sendo ultrapassagem um veículo
passar pelo outro quando no mesmo sentido
'podar' [...].”(Grifamos).

Jair Alves da Cunha, qualificado como “Guincheiro”,


compromissado e não contraditado, disse em seu testemunho (fl. 146):

“Que não presencio o acidente, chegando ao local


logo após ao mesmo [sic]; que passava na
marginal existente ali; que os veículos ficaram
parados do lado esquerdo da rodovia no sentido
Formiga/Belo Horizonte, sobre o asfalto; que é
comum acontecer acidentes no local pois os
motoristas entram a esquerda de forma irregular,
ou seja, sem fazerem o retorno adequadamente;
[...] que o veículo de Robson foi atingido na frente
e o de Daniela na lateral esquerda; [...].”
(Grifamos).

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Ainda, Alisson Lopes da Silva, “Aposentado”, testemunha que


também presenciou o sinistro, compromissada e não contraditada,
afirmou (fl. 150):

“Que presenciou o acidente, não se recordando a


data, mas ao final do ano de 2013; que o depoente
vinha no sentido Divinópolis/Formiga próximo ao
posto Santa Cruz, estando uns 200 metros da
traseira do veículo da Autora, quando a carreta
transitava em sentido contrário; que o veículo do
requerido “entrou ultrapassando a carreta”,
invadindo a faixa de transito pela qual ia a autora e
colidindo frontalmente; que a faixa, no local do
acidente, é contínua nos dois sentidos; que
presenciou o requerido dizer que “o seguro pagaria
tudo, felizmente estava tudo bem”; que quando da
colisão da autora estava transitando na faixa
correta de transição.” (Grifamos).

Frise-se que as parte transitavam em sentidos opostos da


Rodovia e que o abalroamento ocorreu na pista de rolamento em que
trafegava a Autora.
A alegação defensiva do Requerido, de que a Requerente
aproveitou a “parede” ou “sombra” da carreta, com o objetivo de cruzar
a Rodovia, não restou demonstrada nos autos.
No Boletim de Ocorrência, de fato, consta que o veículo da
Autora estava “cruzando o fluxo de trânsito” (fl. 13-verso), todavia, os
elementos probatórios comprovam que o indicado “cruzamento de
fluxo” se refere à saída da 1ª Apelante da via marginal, lateral à
Rodovia, para assim adentrar na MG-050, seguindo na mesma mão
direcional, em sentido retilíneo, não tendo o intuito de efetuar o
cruzamento/transposição das vias da estrada.
Tanto é assim que o choque entre os veículos envolvidos
causou danos na parte frontal do GM/Prisma (fl. 12-verso) e no lado
esquerdo dianteiro do Ford/Fiesta (fls. 14 e 16/19). Se a Autora
estivesse cruzando a Rodovia, iniciando trajetória perpendicular à MG-
050, como tenta fazer crer o 2º Apelante, ele teria abalroado a parte
direita do veículo do Requerente, o que não ocorreu.

Fl. 14/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

Saliente-se que, mesmo que a Autora ainda não tivesse


terminado de adentar na pista da Rodovia, no mesmo sentido em que
já trafegava, se repita, não se pode concluir que ela não conduzia o
seu veículo com a devida atenção, frisando que foi o Réu quem invadiu
a contramão direcional, surpreendendo a Requerida e dando causa ao
abalroamento frontal entre os respectivos automóveis.
Registre-se que o fato de o Réu estar desviando, efetuando
manobra de “abaulamento” ou ultrapassando a carreta mencionada
pelas partes e testemunhas em seus depoimentos, não ilide a sua
responsabilidade pelo sinistro, porque do conjunto fático-probatório se
extrai que foi a conduta imprudente dele, motorista do GM/Prisma, ao
adentrar em sua contramão direcional, sem observar o fluxo da faixa
contrária, a causa determinante do sinistro.
Nesse sentido, é o magistério de Aguiar Dias:

“Falamos em oportunidade melhor e mais eficiente


de evitar o dano e não em causa. Consideramos
em culpa quem teve não a last chance, mas a
melhor oportunidade e não a utilizou. Isso é
exatamente uma consagração da causalidade
adequada, porque se alguém tem a melhor
oportunidade de evitar o evento e não a aproveita,
torna o fato do outro protagonista irrelevante para
sua produção. Estamos de pleno acordo com a
lição de Wilson Melo da Silva. O que se deve
indagar é, pois, qual dos atos imprudentes fez com
que o outro, que não teria consequências, de si só,
determinasse, completado por ele, o acidente.
Pensamos que sempre que seja possível
estabelecer inocuidade de um ato, ainda que
imprudente, não se deve falar em concorrência de
culpa. Noutras palavras: a culpa grave necessária
e suficiente para o dano exclui a concorrência de
culpa, isto é, a culpa sem a qual o dano não se
teria produzido."
(DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil,
vol. II, 9ª ed. rev. e at.. Rio de Janeiro, Forense,
1994, p. 695 - Grifamos).

A propósito:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -


ACIDENTE DE TRÂNSITO - PEDIDO DE

Fl. 15/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

REVOGAÇÃO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA -


VIA INADEQUADA - APELAÇÃO ADESIVA NÃO
CONHECIDA - INVASÃO DE CONTRAMÃO
DIRECIONAL - CAUSA DETERMINANTE DO
ACIDENTE - DANOS MORAIS E MATERIAIS -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. A apelação não
é a via adequada para se pleitear a revogação do
benefício da assistência judiciária, o que deve se
dar por meio de incidente de impugnação à
assistência judiciária, em autos apartados, com a
realização de dilação probatória, nos termos do
disposto na Lei nº 1.060/1950. O motorista que
invade a contramão direcional deve responder
pelos danos decorrentes do acidente a que deu
causa. [...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0674.14.002179-3/001,
Relator: Des. Rogério Medeiros, 13ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 10/03/2016, publicação da
súmula em 18/03/2016 - Grifamos).

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL


CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE
DANOS. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.
COLISÃO DE VEÍCULOS. CONTRAMÃO
DIRECIONAL. CAUSA DETERMINANTE DO
EVENTO DANOSO. DANOS MATERIAIS.
COMPENSAÇÃO. PRELIMINARES REJEITADAS
E RECURSO NÃO PROVIDO.
[...]
- A conduta do motorista que invade a contramão
direcional e colide com o veículo em sentido
contrário deve ser reconhecida causa determinante
para o sinistro, pois o condutor deve observar a
sua mão de direção, guardar distância de
segurança lateral e frontal entre o seu e demais
veículos, bem como, em relação ao bordo da pista.
[...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0245.10.017487-0/001,
Relator: Des. José Flávio de Almeida, 12ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/09/2014,
publicação da súmula em 17/09/2014 - Grifamos).

Embora excepcionalmente se admita o trânsito na contramão


em via com duplo sentido de circulação, nesta hipótese a preferência é
sempre do veículo que segue em sentindo contrário, conforme se extrai
da penalidade prevista no art. 186, do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 186. Transitar pela contramão de direção em:

Fl. 16/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

I - vias com duplo sentido de circulação, exceto


para ultrapassar outro veículo e apenas pelo tempo
necessário, respeitada a preferência do veículo
que transitar em sentido contrário:
Infração - grave;
Penalidade - multa;”.

Ao discorrer sobre o mencionado artigo, Arnaldo Rizzardo


enfatiza que a preferência é sempre do veículo que segue em direção
contrária:

"Dirigir na contramão de direção constitui uma


infração muito comum e de difícil admissibilidade.
Compreende a circulação no sentindo contrário ao
permitido na via.
Duas hipóteses possíveis e previstas no CTB: a)
Nas vias de duplo sentido, quando o condutor sai
de sua pista e ingressa na que vem em sentido
contrário à circulava. Permitem-se esta saída de
sua pista e o ingresso na contrária unicamente
para ultrapassar o veículo que está na frente, e
apenas pelo espaço necessário, devendo, em
seguida, retornar para a faixa em que trafegava
antes.
[...]
De se observar que o veículo que vem em sentindo
contrário terá SEMPRE PREFERÊNCIA."
(in Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro.
7ª ed. RT. 2010. p. 409 - Grifamos).

Nesse sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. ATO
INCOMPATÍVEL. PAGAMENTO VOLUNTÁRIO DO
PREPARO RECURSAL. INDEFERIMENTO DO
BENEFÍCIO. CONTRATO DE SEGURO. DANOS
MORAIS. DISCUSSÃO ACERCA DA
ABRANGÊNCIA DA COBERTURA POR QUEM
NÃO É BENEFICIÁRIO. DIREITO ALHEIO
PLEITEADO EM NOME PRÓPRIO.
DESCABIMENTO. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA. PROVA IURIS
TANTUM. NÃO DESCONSTITUIÇÃO. DANOS
MORAIS. DEVER DE INDENIZAR EXISTENTE.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. RAZOABILIADE E
PROPORCIONALIDADE. TERMO INICIAL.

Fl. 17/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

CORREÇÃO MONETÁRIA. DECISÃO. JUROS DE


MORA. RESPONSABILIDADE
EXTRACONTRATUAL. INTELIGÊNCIA DA
SÚMULA 54 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. POSSIBILIDADE.
[...]
V - Age com culpa o condutor do veículo que
invade a contramão de direção, em desacordo com
as determinações do art. 186 do Código de
Trânsito Brasileiro, que considera infração
gravíssima transitar pela contramão de direção.
VI - O condutor do veículo que der causa a
acidente de trânsito deve responder pelos
prejuízos dele decorrentes.
[...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0439.11.005733-8/001,
Relator: Des. Vicente de Oliveira Silva, 10ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/03/2016,
publicação da súmula em 18/03/2016 - Grifamos).

“ACIDENTE DE TRÂNSITO - VIA DE DUPLO


SENTINDO - CONTRAMÃO - DANOS MATERIAIS
- LUCROS CESSANTES - LIQUIDAÇÃO DE
SENTENÇA. Nas vias de duplo sentido de
circulação, o condutor de veículo que adentra na
contramão para realizar manobra de
ultrapassagem ou desvio de obstáculo deve fazê-lo
com elevada cautela, respeitando sempre a
preferência do veículo que segue na via de sentido
contrário. [...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0145.14.012206-3/001,
Relator: Des. Estevão Lucchesi, 14ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 03/03/2016, publicação da
súmula em 11/03/2016 - Grifamos).

Não se pode perder de vista que o trecho em que ocorreu o


acidente era de faixa contínua, conforme fotografias de fls. 94/95 e
testemunho acima transcrito (fl. 150), até porque o local precedia o
“Trevo de Formiga”, sendo próximo, pois, às interseções de pista.
Dispõe o art. 33, do Código de Trânsito Brasileiro:

“Art. 33. Nas interseções e suas proximidades, o


condutor não poderá efetuar ultrapassagem.”.

Fl. 18/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

Destacando tal dispositivo legal e a responsabilidade do


motorista que não observa a proibição de ultrapassagem, Arnaldo
Rizzardo leciona:

"Conforme conceituado no Anexo I do Código,


interseção é “todo cruzamento em nível,
entroncamento ou bifurcação, incluindo as áreas
formadas por tais cruzamentos, entroncamentos ou
bifurcações”. São locais onde se concentra uma
circulação constante de veículos, oriundos de
outras vias ou lugares, e em locais assemelhados,
como postos de gasolina, restaurantes, vilarejos e
entradas de cidades, onde se verifica constante
entrada e saída [...].
Daí a proibição de ultrapassagem nesses trechos e
em suas proximidades, pois é comum e entrada
repentina de veículos na via, sendo que os
condutores, não raramente, olham apenas para o
sentido da faixa na qual querem entrar, não
visualizando a direção oposta, onde é possível
ocorrer uma ultrapassagem.
Ocorrendo acidentes em tais locais, responderá
pelos danos o motorista do veículo que efetuar a
ultrapassagem, pois realizada em lugar proibido,
transitando na contramão de direção."
(in Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro.
7ª ed. RT. 2010. p. 134 - Grifamos).

Mesmo que o Réu estivesse circulando em velocidade


compatível ao local do acidente, de 80km/h (fl. 12-verso), não restando
demonstrada a alegação da Autora que ele trafegava em alta
velocidade, o Requerido adentrou na pista contrária à sua direção, em
local de proibida ultrapassagem.
Acrescente-se que o Código de Trânsito Brasileiro determina
que o condutor deve, a todo o momento, ter domínio de seu veículo,
dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do
trânsito, nos termos do seu art. 28:

“Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter


domínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e
cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.”.

Também dispõe o art. 29, II, do Código de Trânsito Brasileiro:

Fl. 19/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

“Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres


abertas à circulação obedecerá às seguintes
normas:
(...)
II - o condutor deverá guardar distância de
segurança lateral e frontal entre o seu e os demais
veículos, bem como em relação ao bordo da pista,
considerando-se, no momento, a velocidade e as
condições do local, da circulação, do veículo e as
condições climáticas;”.

Com efeito, considerando as conjunturas do sinistro, não há


como afastar a culpa do Réu pelo acidente objeto da Demanda, uma
vez que, sem a devida cautelar, invadiu e a sua contramão direcional,
em trecho de faixa contínua, abalroando a parte frontal do automóvel
que circula em sua mão de direção.
Frise-se que a responsabilidade do Requerido é exclusiva, não
tendo razão quando alega a culpa exclusiva da vítima, também não
sendo o caso de se cogitar a configuração de culpa concorrente, pelas
razões neste Voto já expostas, concernente à causa determinante para
o sinistro.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS:

Em relação à indenização material, verifica-se que ,na Sentença


vergastada, o MM. Juiz condenou o Réu ao pagamento da importância
de R$9.852,00 (nove mil, oitocentos e cinquenta e dois reais),
correspondente ao preço de mercado do veículo da Autora, segundo a
Tabela FIPE, documentado à fl. 70, tendo em vista que o valor
necessário para o conserto do carro se mostra superior ao do próprio
bem.
A Autora, no 1º Apelo, assevera que para a reparação de seu
veículo seria necessária a quantia de R$31.841,35 (trinta e um mil,
oitocentos e quarenta e um reais e trinta e cinco centavos). Pondera,
que, conquanto a Tabela FIPE atribua valor de mercado aos
automóveis, sua credibilidade é relativa, ilidida diante da prova do real

Fl. 20/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

do montante destinado à aquisição do veículo. Afirma ter demonstrado


por meio de documentos, não impugnados pelo Réu, que o seu
veículo, acidentado havia sido adquirido pela importância de
R$17.000,00 (dezessete mil reais), em data próxima ao sinistro.
Salienta que o seu automóvel pode ser recuperado e, assim,
determinada a condenação do 1º Apelado a arcar com o valor
necessário para que o bem volte às mesmas condições que se
encontrava antes do evento danoso. Pede a reforma da Sentença para
que a indenização material seja majorada para a quantia de
R$31.841,35 (trinta e um mil, oitocentos e quarenta e um reais e trinta
e cinco centavos) ou, em eventualidade, para o montante de
R$17.000,00 (dezessete mil reais), com a condenação do Réu ao
pagamento de indenização por danos morais.
O 2º Apelante não tece considerações detalhadas sobre a
indenização material a que foi condenado, nem mesmo em relação ao
seu valor, todavia, pauta pela improcedência de tal pedido. Demais
disto, em Contrarrazões, requer o não provimento do 1ª Apelo e, em
eventualidade, assevera que o quantum indenizatório deve guardar
correspondência com o valor de mercado do veículo à época do
sinistro. Ainda, ressalta que da indenização material deve ser deduzido
o valor da sucata ou determinada a entrega do salvado em seu
benefício.
A condenação do Réu ao pagamento de indenização material
deve ser mantida, restando demonstrados os danos provocados ao
veículo da Autora, em decorrência do sinistro a que ele deu causa,
conforme ilustram as fotografias de fls. 16/19.
Todavia, ainda pende discussão quanto ao montante devido
pelo Requerente a título de indenização por danos materiais à 1ª
Recorrente.
Com a Exordial, a Autora apresentou o orçamento do valor que
seria necessário para a restauração de seu carro, conforme fls. 22/23,
totalizando a cifra de R$31.845,35 (trinta e um mil, oitocentos e
quarenta e cinco reais e trinta e cinco centavos). A Requerida também
fez juntar cópia da “Autorização para Transferência de Propriedade de

Fl. 21/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

veículo” (fl. 21), que indica que ela formalizou a aquisição do


Ford/Fiesta, placa JPL-2790 em 02/12/2013, constando como o preço
de compra a quantia de R$17.000,00 (dezessete mil reais).
Por outro lado, o Réu, com sua Contestação, apesentou os
documentos de fls. 68/72, que informam o preço de mercado de
veículos tipo Ford/Fiesta, ano 2002, combustível Gasolina, de modelos
diferentes (“Fiesta GL 1.0 3p”, “Fiesta GLX 1.6 n8V 3p”, “Fiesta Street
1.0 8v 3p”, “Fiesta GL Class 1.0i 5p” e “Fiesta GL 1.0 5p”), segundo a
Tabela FIPE (elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas), no mês de referência abril de 2014.
O Certificado de Registro de Licenciamento de Veículo juntado
pela Autora (fl. 20) não indica detalhes do padrão do seu veículo, com
descrições apenas em relação à marca/modelo (Ford/Fiesta), ano de
fabricação e modelo (2002/2003), tipo de combustível (Gasolina) e
capacidade/potência e cilindrada (05L/066CV). Todavia, a Requerida
não impugnou a documentação de fls. 68/72, nem sequer se insurgiu
contra a condenação imposta na Sentença, que classificou o seu
veiculo como sendo correspondente àquele modelo indicado à fl. 70. A
1ª Apelante se limita a argumentar pelo pagamento da indenização
material no valor apontado na Exordial, orçado para o reparo do bem,
ou pelo valor de aquisição do seu automóvel, pelo que se conclui que o
tipo do seu veículo tem correspondência com um daquele indicado pelo
Réu à fl. 70, e utilizado como referência na Sentença vergastada
(“Fiesta Street 1.0 8v 3p”, ano 2002, combustível Gasolina).
Noutro giro, a Tabela FIPE apresentada pelo Réu à fl. 70 não
avalia o veículo Ford/Fiesta correspondente ao da Autora, na época do
acidente (novembro de 2013), tendo como referência o mês de abril de
2014.
De toda forma, considerando o valor de mercado indicado no
mencionado documento, de R$9.852,00 (nove mil, oitocentos e
cinquenta e dois reais), não se mostra plausível concluir que, meses
antes, o custo do referido automóvel equivalia ao triplo do seu preço
médio, a atingir a quantia de R$31.845,35 (trinta e um mil, oitocentos e
quarenta e cinco reais e trinta e cinco centavos), orçada para o reparo

Fl. 22/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

do carro da 1ª Apelante, e por ela pretendida sob o título de


indenização material.
O valor estimado para o conserto do automóvel Ford/Fiesta,
indicado pelo documento de fls. 22/23, pois, se mostra, em muito,
superior ao valor de mercado do bem, tendo em vista a documentação
de fl.70, e inclusive superior ao preço de aquisição do veículo pela
Autora, de R$17.000,00 (dezessete mil reais), indicado à fl. 21.
É pacifico na jurisprudência desta Eg. Corte que o montante
para o reparo do bem não pode ser superior ao seu valor de mercado,
sob pena de ocorrer enriquecimento sem causa da parte. Ora, se os
danos são superiores ao valor do automóvel, considera-se que houve
perda total, devendo a parte adversa pagar o valor que o veículo
correspondia à época do evento danoso.
Nesse sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -


DANOS MATERIAIS - ACIDENTE RODOVIÁRIO -
CONDUTA IMPRUDENTE DO DEMANDADO -
DEMONSTRAÇÃO - RESPONSABILIDADE
CONFIGURADA - VALOR RELATIVO AO
CONSERTO DO VEÍCULO SUPERIOR AO
PRÓPRIO VALOR DO BEM - IMPOSSIBILIDADE -
LIMITAÇÃO - TABELA FIPE - RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
- Para a caracterização da responsabilidade civil,
necessária se faz a demonstração de um ilícito
praticado pelo agente (culpa), do dano sofrido pela
vítima e do nexo de causalidade entre um e outro
(artigos 186 e 927 do Código Civil).
- Os valores apurados para o conserto de veículo
envolvido em acidente, por força da razoabilidade,
não poderão extrapolar o próprio valor do bem,
determinado em tabela FIPE.”
(TJMG - Apelação Cível 1.0672.12.018908-5/001,
Relator: Des. Márcio Idalmo Santos Miranda, 9ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/06/2016,
publicação da súmula em 30/06/2016 - Grifamos).

“APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO -


RESPOSNSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE
TRANSITO - OFENSA ÀS REGRAS DE
TRÂNSITO - DEMONSTRAÇÃO CULPA - DANO E
NEXO CAUSAL - COMPROVAÇÃO -
PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE

Fl. 23/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

CIVIL - PRESENÇA - DANOS MATERIAIS PROVA


- VALOR - TABELA FIPE - HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS -
CONDENAÇÃO RÉU - IMPOSSIBILIDADE -
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS - MAJORAÇÃO.
[...]
A condenação a título de danos materiais deve
corresponder, a princípio, ao valor do veículo
determinado pela Tabela FIPE quando o
orçamento para conserto do automóvel é superior
ao valor do bem.
[...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0461.14.003406-1/001,
Relator: Des. Leite Praça, 17ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 21/05/2015, publicação da súmula
em 02/06/2015 - Grifamos).

“Apelação Cível. Acidente de Trânsito. Sentença


extra petita. Inocorrência. Conversão à esquerda.
Responsabilidade Exclusiva dos Réus. Danos
Materiais. Tabela Fipe. Atentando-se a sentença
aos exatos limites traçados na lide, não há que se
cogitar em julgamento extra petita, não estando o
magistrado adstrito aos fundamentos levantados
pela parte autora para acolhimento do pedido
inicial. Se a prova produzida nos autos é no
sentido de que ao convergir à esquerda, o
condutor não observou o fluxo de trânsito e os
cuidados necessários à realização da manobra,
deixando de sinalizar sua intenção, dando causa à
colisão do veículo do autor, que já havia iniciado
ultrapassagem, deve ser condenado ao
pagamento de indenização pelos prejuízos sofridos
por esse. Havendo nos autos orçamento para
reparo de peças compatíveis com aquelas
danificadas no acidente, em valor superior ao
preço de mercado da motocicleta, é medida de
justiça que a indenização corresponda ao
ressarcimento pela perda total do veículo, de
acordo com o valor médio apurado na Tabela
Fipe.”
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.12.202954-9/001,
Relator: Des. Estevão Lucchesi, 14ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 11/09/2014, publicação da
súmula em 19/09/2014).

Saliente-se que, não há como prosperar a indenização material


pela quantia de R$17.000,00 (dezessete mil reais), como pretende a 1ª

Fl. 24/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

Apelante, equivalente ao preço que adquiriu o veículo acidentado (fl.


21), uma vez que o valor da Compra e Venda que formalizou com
terceira pessoa, por sua conveniência e sem a intervenção do Réu,
não pode vincular este, sendo certo que a adoção do valor divulgado
pela Tabela FIPE para a fixação do montante da indenização por
danos materiais se mostra mais razoável e idônea no caso dos autos.
Mudado o que deve ser mudado:

“APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE DE TRÂNSITO -


INVASÃO DA CONTRAMÃO -
RESPOSABILIDADE DA RÉ DEMONSTRADA -
LUCROS CESSANTES - NÃO COMPROVAÇÃO -
DANOS MATERIAIS - PERDA TOTAL DO
VEÍCULO - RESSARCIMENTO RESTRITO AO
SEU VALOR DE MERCADO, NA DATA DO
ACIDENTE - DANOS MORAIS - MAJORAÇÃO -
LIDE SECUNDÁRIA - COBERTURA NOS LIMITES
DA APÓLICE - DANOS MORAIS - AUSÊNCIA DE
COBERTURA - INEXISTÊNCIA DE DEVER DE
RESSARCIR OS VALORES DESPENDIDOS A
ESSE TÍTULO - RECURSOS PARCIALMENTE
PROVIDOS.
[...]
A indenização deverá se restringir ao valor de
mercado do veículo, pela tabela FIPE, na data do
acidente, não sendo possível imputar à sociedade
empresária-ré o ressarcimento da quantia total do
contrato de financiamento.
O contrato de financiamento do automóvel foi
celebrado por conveniência do primeiro
requerente, quando da sua aquisição, sendo certo
que a condenação da requerida à quitação da
referida importância implicaria na ocorrência de
enriquecimento sem causa.
[...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0027.08.166304-2/001,
Relator: Des. Eduardo Mariné da Cunha, 17ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/07/2014,
publicação da súmula em 05/08/2014 – Grifamos).

Na espécie, pois, o valor da indenização material relativa aos


danos no veículo Ford/Fiesta da Autora deverá ser apurado em
liquidação de Sentença, mediante a apresentação do valor de mercado
do respectivo bem envolvido no acidente, na data do sinistro

Fl. 25/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

(30/11/2013), segundo Tabela FIPE, considerando o modelo/tipo


Ford/Fiesta indicado à fl. 70.
Em caso análogo, assim decidiu este Eg. TJMG:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO -


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS,
MATERIAIS E LUCROS CESSANTES -
ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO - MANOBRA
COM VEÍCULO DE CONVERSÃO SEM A DEVIDA
CAUTELA E EM DESRESPEITO À SINALIZAÇÃO
DE PARADA OBRIGATÓRIA - COLISÃO COM
MOTOCICLETA - CULPA DO CONDUTOR DO
VEÍCULO - COMPROVAÇÃO -
RESPONSABILIDADE CIVIL -
CARACTERIZAÇÃO - LESÕES FÍSICAS
GRAVÍSSIMAS - DANOS MORAIS -
CONFIGURAÇÃO - VALOR DA INDENIZAÇÃO -
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE - JUROS DE MORA E
CORREÇÃO MONETÁRIA - DANOS MATERIAIS
PERDA TOTAL DA MOTOCICLETA -
RESSARCIMENTO RESTRITO AO SEU VALOR
DE MERCADO, NA DATA DO ACIDENTE, E AO
LIMITE APONTADO NA INICIAL - JUROS DE
MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA - LUCROS
CESSANTES - AFASTAMENTO DAS
ATIVIDADES LABORATIVAS - RESSARCIMENTO
NECESSÁRIO - VALOR CALCULÁVEL PELO
SALÁRIO MÍNIMO, SE NÃO HÁ PROVA DO
SALÁRIO MENSAL DA VÍTIMA - JUROS DE
MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA - PENSÃO
PARA A VÍTIMA - PEDIDO PREJUDICADO FACE
ÓBITO - SUBSTITUIÇÃO PELOS PAIS PARA OS
DEMAIS PEDIDOS - CABIMENTO -
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL -
CABIMENTO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
ART. 20, §3º, DO CPC - APLICAÇÃO - RECURSO
PROVIDO EM PARTE.
[...]
O valor da indenização material relativa aos danos
na moto deverá ser apurado em liquidação de
sentença, mediante a apresentação do valor de
mercado da motocicleta envolvida no acidente, na
data do sinistro (27/01/2010), segundo Tabela
FIPE, estando limitado, lado outro, ao valor
indicado na inicial, de R$3.000,00.
Sobre o valor da indenização material, devem
incidir juros de mora e correção monetária da data
do evento danoso, nos moldes das Súmulas 43 e

Fl. 26/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

54 do STJ, porque no caso trata-se de ato ilícito


extracontratual.
[...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0223.10.021262-8/001,
Relatora: Desa. Márcia De Paoli Balbino, 17ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/02/2015,
publicação da súmula em 10/03/2015 – Grifamos).

Acrescente-se que a fixação da indenização no valor de


mercado do veículo, com base na Tabela FIPE, tem o efeito análogo ao
da recomposição securitária por "perda total", perfazendo a restitutio in
integrum em benefício do proprietário do bem.
Permitir a retenção do veículo pela parte lesada, para dele se
aproveitar economicamente, resultaria uma indenização superior ao
efetivo prejuízo material suportado.
Mesmo que o Réu não tenha requerido, em seu 2º Apelo, a
dedução do valor da sucata ou a determinação da entrega do salvado
em seu benefício, pautando por tanto apenas em sede de
Contrarrazões, uma vez assegurada a indenização pelo valor do bem,
a estabelecer a recomposição patrimonial da Autora, se torna
impositivo que, sob pena do seu enriquecimento sem causa, a ela seja
determinada a entrega do salvado ao Réu ou, caso não seja possível,
o abatimento do preço da sucata sobre o quantum da condenação por
danos materiais.
Sobre o tema, mencionam-se outros precedentes da
Jurisprudência:

“CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ACIDENTE DE


TRÂNSITO. PERDA TOTAL DO VEÍCULO.
REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS.
DEDUÇÃO DO VALOR CORRESPONDENTE À
SUCATA. PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA ENTRE
O PEDIDO E A DECISÃO. VIOLAÇÃO NÃO
OBSERVADA NA HIPÓTESE. ENRIQUECIMENTO
ILÍCITO CONFIGURADO.
[...]
3. A finalidade da reparação por danos materiais é
a recomposição do patrimônio do lesado, de modo
que se retornem as coisas ao seu status quo ante.
4. A reparação foi calculada com base no valor de
mercado do bem, do qual deveria ter sido

Fl. 27/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

descontado aquele correspondente ao que restou


do veículo sinistrado, ou seja, o valor da sucata,
que, na hipótese, permanece de propriedade do
recorrido. Impedir esse desconto é permitir o
enriquecimento sem causa do recorrido.
5. O valor da dedução deverá ser apurado em
liquidação de sentença.
6. Entre os acórdãos trazidos à colação pelo
recorrente, não há o necessário cotejo analítico
nem a comprovação da similitude fática, elementos
indispensáveis à demonstração da divergência
jurisprudencial.
7. Recurso especial conhecido em parte e, nessa
parte, provido.
(STJ - REsp 1058967/MG, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
20/09/2011, DJe 29/09/2011 - Grifamos).

"DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO RÉU.
CITAÇÃO. § 1º, ART. 214, CPC. REVELIA
RATIFICADA. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
INDENIZAÇÃO FIXADA NO VALOR DE
MERCADO DO VEÍCULO SINISTRADO.
ENTREGA DO SALVADO. NECESSIDADE.
INDENIZAÇÃO PELO CAPÍTULO DA SENTENÇA
QUE DECIDIU SOBRE A RESPONSABILIDADE
PELO ACIDENTE OCORRIDO. MATÉRIA NÃO
DEVOLVIDA AO CONHECIMENTO DO
TRIBUNAL. TRÂNSITO EM JULGADO. [...]
II - Uma vez que o apelado será indenizado pelo
valor de mercado de seu veículo, é necessário que
se imponha a obrigação de entregar ao apelante o
salvado, sob pena de enriquecimento sem causa
do apelado. [...]."
(TJMG - Apelação Cível 1.0674.12.000044-5/001,
Relator: Des. Mota e Silva, 18ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 11/03/2014, publicação da súmula
em 14/03/2014 – Grifamos).

"INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO.


BOLETIM DE OCORRÊNCIA. PRESUNÇAO
"JURIS TANTUM" DE VERACIDADE. DEVER DE
INDENIZAR. VALOR DE MERCADO DO
VEÍCULO. ABATIMENTO DO SALVADO.
[...]
Em sendo estimado o conserto do veículo em valor
superior ao seu valor de revenda, deve a
indenização não ultrapassar ao seu valor de
mercado, deduzido o valor que deve-se fixar para a
sucata ou o salvado."

Fl. 28/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

(TJMG - Apelação Cível 1.0043.04.001752-7/001,


Relator: Des. Duarte de Paula, 11ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 20/02/2008, publicação da
súmula em 05/04/2008 – Grifamos).

Com efeito, por consequência, deve ser garantido ao Requerido


o direito à entrega do salvado ou à dedução do valor da sucata,
computado também à época do sinistro, do quantum indenizatório, a
apurar em liquidação.
Ressalte-se que, no caso particular dos autos, se mostra
necessária a liquidação de Sentença por arbitramento, uma vez que o
documento de fl. 70 não indica o valor de mercado do carro da Autora
na data do sinistro (novembro de 2013), trazendo apenas o preço
segundo a Tabela FIPE no mês de abril de 2014 e que do preço médio
do respectivo bem poderá ser eventualmente decotada a importância
equivalente ao salvado, apurada, igualmente, à época do evento
danoso, caso não seja possível a transferência da sucata para o nome
do Réu.
A liquidação por arbitramento está prevista no art. 475-C, do
CPC/1973, e deve ser utilizada sempre que a natureza do objeto da
liquidação exigir:

"Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento


quando:
I - determinado pela sentença ou convencionado
pelas partes;
II - o exigir a natureza do objeto da liquidação.".

"Art. 475-D. Requerida a liquidação por


arbitramento, o juiz nomeará o perito e fixará o
prazo para a entrega do laudo.
Parágrafo único. Apresentado o laudo, sobre o
qual poderão as partes manifestar-se no prazo de
dez dias, o juiz proferirá decisão ou designará, se
necessário, audiência.".

Relevantes as considerações de Antônio Cláudio da Costa


Machado acerca da liquidação por arbitramento:

Fl. 29/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

"Liquidação por arbitramento é procedimento


eventual, que visa a definição do quantum
debeatur da obrigação reconhecida pela sentença
condenatória por intermédio da estimação ou
avaliação técnica realizada por expert da confiança
do juiz. Veja-se que a liquidação por arbitramento
se distingue da liquidação por artigos porque
enquanto esta última depende da prova de fatos
novos, aquela é realizada por técnico que arbitrará
o quantum devido a partir de fatos já provados nos
autos, mas que a sentença propositalmente não os
enfrentou nesta perspectiva econômico-
valorativa.". (in Código de Processo Civil
Interpretado e Anotado, Manole, São Paulo, 2006,
p. 868).

Em casos semelhantes ao dos autos, já decidiu este Eg. TJMG:

“FERROVIA. PASSAGEM DE NÍVEL.


INEXISTÊNCIA DE SINALIZAÇÃO.
ABALROAMENTO DE VEÍCULO POR
LOCOMOTIVA. RESPONSABILIDADE PELOS
DANOS CAUSADOS. DANOS MATERIAIS.
PERDA TOTAL DO VEÍCULO. INDENIZAÇÃO
PELO VALOR DE MERCADO, DECOTADOS OS
SALVADOS. LIQUIDAÇÃO POR
ARBITRAMENTO. [...]. Considerando a perda total
do veículo, os danos materiais devem ser
reparados, através do pagamento de indenização
equivalente ao valor de mercado do bem, à época
do sinistro, menos o valor do salvado, tudo
conforme se apurar em liquidação por
arbitramento. A incidência dos juros e correção
monetária nas indenizações decorrentes da prática
de ato ilícito deve obedecer ao disposto nas
Súmulas 43 e 54, do STJ. Recurso parcialmente
provido.”
(TJMG - Apelação Cível 1.0105.05.146413-6/001,
Relator: Des. Pereira da Silva, 10ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 11/08/2009, publicação da
súmula em 28/08/2009 - Grifamos).

“APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -


ACIDENTE DE TRÂNSITO - PROPRIETÁRIO DO
VEÍCULO - RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
COM O CONDUTOR - DANOS MATERIAIS -
PERDA TOTAL DO VEÍCULO - INDENIZAÇÃO
PELO VALOR DE MERCADO, DECOTADOS OS
SALVADOS - LIQUIDAÇÃO POR
ARBITRAMENTO - NECESSIDADE - LUCROS

Fl. 30/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

CESSANTES - AUSÊNCIA DE PROVA - JUROS


DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO
INICIAL DE INCIDÊNCIA.
Conforme jurisprudência pacífica desta Corte e dos
Tribunais Superiores, o proprietário será
responsável solidário pelo ato culposo de terceiro,
ao qual confiou a direção do seu veículo.
Tomando por base a afirmação da autora, não
impugnada pelo réu, de que o montante
necessário para conserto do veículo sinistrado
supera, em muito, seu valor de mercado,
configurando o que se convencionou chamar de
""perda total"", os danos materiais devem ser
reparados, através do pagamento de indenização
equivalente ao valor de mercado do bem, à época
do sinistro, menos o valor do salvado, tudo
conforme se apurar em liquidação por
arbitramento.
A incidência dos juros e correção monetária nas
indenizações decorrentes da prática de ato ilícito
devem obedecer ao disposto nas Súmulas 43 e 54
do STJ.”
(TJMG - Apelação Cível 1.0223.06.189181-6/001,
Relator: Des. Eduardo Mariné da Cunha, 17ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/10/2008,
publicação da súmula em 12/11/2008 - Grifamos).

Cumpre salientar que sobre o valor da indenização material, que


será objeto de liquidação, deverá incidir correção monetária pelos
índices da Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais
(CGJ/MG), desde a data do evento danoso, utilizada como parâmetro
para o cômputo da indenização material, a apurar, e nos termos da
Súmula nº 43, do STJ, uma vez que a atualização monetária constitui
ajuste necessário para exprimir a oscilação inflacionária e preservar o
poder de compra da moeda, não estabelecendo ganho de capital.
Assim dispõe referido Enunciado sumular:

“Súmula nº 43 - Incide correção monetária sobre


dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo
prejuízo.”

A propósito:

Fl. 31/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

“APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE DE TRÂNSITO -


PERDA DO CONTROLE DIRECIONAL - INVASÃO
DA CONTRAMÃO - RESPONSABILIDADE
EXCLUSIVA DO PRIMEIRO RÉU
DEMONSTRADA - BOLETIM DE OCORRÊNCIA -
PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE NÃO
DESCONSTITUÍDA - DANOS MATERIAIS
DEVIDOS - DANOS MORAIS - QUANTUM.
[...]
O valor da indenização material relativamente à
perda do veículo deverá ser equivalente ao valor
de mercado indicado pela tabela FIPE, na data do
acidente, limitado ao montante pedido na inicial.
Sobre o valor da indenização material, devem
incidir juros de mora e correção monetária da data
do evento danoso, nos moldes das Súmulas 43 e
54 do STJ, porque se trata de ato ilícito
extracontratual.” (TJMG - Apelação Cível
1.0024.06.255371-4/002, Relator: Des. Eduardo
Mariné da Cunha, 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento
em 16/03/2016, publicação da súmula em
29/03/2016 - Grifamos).

Os juros de mora de 1% (um por cento) ao mês também devem


incidir sobre o quantum a apurar a partir do evento danoso, por se
tratar de ilícito extracontratual, a teor da Súmula nº 54, do STJ:

“Súmula 54 - "Os juros moratórios fluem a partir do


evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual.".

Também nesse sentido, o teor do art. 398, do CCB/2002:

“Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato


ilícito, considera-se o devedor em mora desde que
o praticou.".

Sobre o tema:

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
EMPREGADO QUE FALECEU EM
DECORRÊNCIA DE DOENÇA DESENVOLVIDA
NO AMBIENTE DE TRABALHO
(PNEUMOCONIOSE). AÇÃO PROPOSTA PELA
VIÚVA.

Fl. 32/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA


ESTADUAL COM DECLARAÇÃO DE NULIDADE
DOS ATOS PROCESSUAIS E REMESSA DOS
AUTOS PARA A JUSTIÇA DO TRABALHO.
REJEIÇÃO. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA. TERMO
INICIAL. DATA DO ÓBITO. JUROS
MORATÓRIOS. INCIDÊNCIA A PARTIR DO
EVENTO DANOSO. SÚMULA 54/STJ.
[...]
3. Caso em que os juros de mora estão sujeitos ao
regime da responsabilidade extracontratual,
incidindo a partir da data do evento danoso (óbito),
nos termos da Súmula 54 deste Tribunal.
4. Recurso especial desprovido.”.
(STJ - REsp 1295221/SC, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 03/03/2015, DJe 10/03/2015 - Grifamos).

Importante consignar que o valor a ser apurado em liquidação,


que será devido pelo Réu, não poderá ultrapassar o montante limite de
R$31.845,35 (trinta e um mil, oitocentos e quarenta e cinco reais e
trinta e cinco centavos), atualizado, apontado pelo Autor na Exordial (fl.
06), nos termos dos arts. 128 e 460, ambos do CPC/1973:

“Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que


foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de
questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei
exige a iniciativa da parte.”.

“Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a


favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem
como condenar o réu em quantidade superior ou
em objeto diverso do que Ihe foi demandado.”.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS:

Quanto à indenização moral cumpre salientar que, em acidentes


acarretadores de lesão física, ainda que de grau leve, é inegável a
caracterização da ofensa moral porque a integridade física é parte do
direito da personalidade, que goza de proteção legal conforme art. 12,
do CCB/2002:

Fl. 33/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

"Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a


lesão, a direito da personalidade, e reclamar
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.".

É conceito de direito da personalidade, segundo a doutrina:

"A personalidade jurídica é a projeção da


personalidade íntima, psíquica de cada um; é a
projeção social da personalidade psíquica, com
conseqüências jurídicas. Dizia o Código Civil de
1916: "Art. 2º. Todo homem é capaz de direitos e
obrigações na ordem civil." O novo Código Civil
substituiu o termo homem por pessoa. A
modificação é apenas de forma e não altera o
fundo. Nada impede, porém, que se continue a
referir a Homem com o sentido de Humanidade. A
personalidade, no campo jurídico, é a própria
capacidade jurídica, a possibilidade de figurar nos
polos da relação jurídica.
Como temos no ser humano o sujeito da relação
jurídica, dizemos que toda pessoa é dotada de
personalidade." (Silvio de Sávio Venosa in Direito
Civil - Parte Geral, 3ª ed. Atlas, São Paulo - SP,
2003, p. 147).

Pietro Perlingieri leciona:

"A personalidade é, portanto, não um direito, mas


um valor (o valor fundamental do ordenamento) e
esta na base de uma série aberta de situações
existenciais, nas quais se traduz a sua
incessantemente mutável exigência de tutela. Tais
situações subjetivas não assumem
necessariamente a forma do direito subjetivo e não
devem fazer perder de vista a unidade do valor
envolvido." (in Perfis do Direito Civil - Introdução ao
Direito Civil Constitucional, 3ª ed., Renovar, Rio de
Janeiro - RJ, 2007, pp. 155, 156).

Destarte, a incolumidade física consiste em direito da


personalidade, de forma que, havendo acidente com lesão anatômica,
a vítima terá direito à indenização por dano moral. Vejamos:

Fl. 34/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

“ APELAÇÃO - ACIDENTE DE TRÂNSITO -


CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DANO MORAL
- EXISTÊNCIA - FIXAÇÃO.
[...]
2. Em acidentes que ocorre lesão física, é inegável
a caracterização da ofensa moral, vez que a
integridade orbita nos direitos da personalidade,
que goza da proteção legal.
3. [...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0145.10.029154-4/001,
Relator: Des. Maurílio Gabriel, 15ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 02/06/2016, publicação da
súmula em 10/06/2016).

“APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -


ACIDENTE COM PASSAGEIRO EM
TRANSPORTE COLETIVO - LESÃO FÍSICA -
OFENSA A DIREITO DA PERSONALIDADE -
FORTUITO INTERNO - IRRELEVÂNCIA - DANOS
MORAIS - CONFIGURAÇÃO - VALOR DA
INDENIZAÇÃO - CORREÇÃO MONETÁRIA -
TERMO INICIAL - DATA DA PUBLICAÇÃO DA
SENTENÇA - LUCROS CESSANTES -
NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO.
[...]
- Não havendo dúvida quanto à responsabilidade
civil, deve-se considerar devida a indenização por
danos morais, decorrente de lesão física causada
em acidente.

[...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.09.740361-2/001,
Relator: Des. Aparecida Grossi, 16ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 28/04/2016, publicação da
súmula em 06/05/2016).

Na espécie, restou demonstrado pelos elementos probatórios


que o acidente causado pelo Réu resultou em danos na integridade
física da Autora, tanto que ela foi encaminhada ao Pronto Atendimento
da cidade de Formiga, conforme indicado no Boletim de Ocorrência (fl.
14-verso).
Embora a própria Requerente tenha admitido “ter sofrido apenas
lesões físicas leves” (fl. 05), isto não afasta a violação do direito de
personalidade da 1ª Apelante, não configurando mero aborrecimento,
como entendeu o MM. Juiz.

Fl. 35/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

Demais disto, a Autora também experimentou intenso pânico e


desespero com o acidente em si, o que também evidencia o dano
moral sofrido, salientando que este decorre dos próprios fatos que,
indiscutivelmente, acarretam padecimento íntimo, angústia, que
dispensam a prova da amargura, por advir das regras de experiência
comum (CPC/1973, art. 335).
É reiterada a orientação no sentido de que:

“Não há falar em prova do dano moral, mas, sim,


na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento,
sentimentos íntimos que o ensejam. Provado assim
o fato, impõe-se a condenação, sob pena de
violação ao art. 334 do Código de Processo Civil.”
(REsp nº 86.271/SP, Relator o Ministro Carlos
Alberto Menezes Direito, Acórdão publicado no DJ
de 09/12/1997).

Consoante leciona Carlos Roberto Gonçalves, “dano moral é o


que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra,
a dignidade, intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se infere
dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que acarreta ao
lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação” (GONCALVES,
2009, p.359).
Deste modo, o Réu deve reparar os danos morais
experimentados pela Requerente.
Sobre o tema, eis a jurisprudência:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -


ACIDENTE DE TRÂNSITO - TRANSPORTE
COLETIVO - LESÕES DE NATUREZA LEVE -
DANOS MORAIS - EXISTÊNCIA - LIDE
SECUNDÁRIA - PROCEDÊNCIA. Para o dever de
indenizar impõe-se ocorrência de ato ilícito, nexo
causal e dano, nos termos dos art. 186 e 927 do
CC/02. Configura dano moral aquele fato que,
fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, de forma
que lesões decorrentes de acidente de trânsito,

Fl. 36/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

ainda que leves, não se tratam mero


aborrecimento ou desconforto, e sim abalo à
integridade física e psíquica da pessoa a ensejar a
procedência do pedido indenizatório. [...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.09.661953-1/001,
Relator: Des. Amorim Siqueira, 9ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 10/11/2015, publicação da
súmula em 04/12/2015 - Grifamos).

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -


ACIDENTE DE TRÂNSITO - TRANSPORTE
COLETIVO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA -
DANO MORAL - LESÃO LEVE - QUANTUM
INDENIZATÓRIO - JUROS DE MORA - TERMO
INICIAL - DENUNCIAÇÃO DA LIDE -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS INDEVIDOS. [...]
As lesões, ainda que leves sofridas pela vítima,
associadas à angústia, à aflição e aos sentimentos
similares causados pela manobra do coletivo,
justificam a condenação ao pagamento de dano
moral, ainda que em patamar moderado. [...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.11.324109-5/001,
Relator: Des. Marco Aurelio Ferenzini, 14ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 05/02/2015,
publicação da súmula em 13/02/2015 – Grifamos).

Quanto à fixação do valor da indenização, esclarece Maria


Helena Diniz que, na avaliação do dano moral, o órgão judicante
deverá estabelecer uma reparação equitativa, baseada na culpa do
agente, na extensão do prejuízo causado e na capacidade econômica
do responsável. Acrescenta que, na reparação do dano moral, o juiz
determina por equidade, levando em conta as circunstâncias de cada
caso, o quantum da indenização devida, que deverá corresponder à
lesão e não ser equivalente, por ser impossível tal equivalência.
Salienta que a reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena
e satisfação compensatória, não se podendo negar sua função: 1-
penal, constituindo uma sanção imposta ao ofensor; e 2-
compensatória, sendo uma satisfação que atenue a ofensa causada,
proporcionando uma vantagem ao ofendido, que poderá, com a soma
de dinheiro recebida, procurar atender às satisfações materiais ou
ideais que repute convenientes, diminuindo assim, em parte, seu

Fl. 37/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

sofrimento. Conclui que fácil é denotar que o dinheiro não terá na


reparação do dano moral uma função de equivalência própria do
ressarcimento do dano patrimonial, mas um caráter,
concomitantemente, satisfatório para a vítima e lesados e punitivo para
o lesante, sob uma perspectiva funcional. (Entrevista publicada na
“Revista Literária de Direito”, número 09, Janeiro/Fevereiro de 1996,
pp. 7/14).
Apreende-se da doutrina de Caio Mário da Silva Pereira que na
reparação do dano moral estão conjugados dois motivos ou duas
concausas: I) punição ao infrator pelo fato de haver ofendido um bem
jurídico da vítima, posto que imaterial; II) pôr nas mãos do ofendido
uma soma que não é o "pretium doloris", porém o meio de lhe oferecer
a oportunidade de conseguir uma satisfação de qualquer espécie, seja
de ordem intelectual ou moral, seja mesmo de cunho material, o que
pode ser obtido "no fato" de saber que esta soma em dinheiro pode
amenizar a amargura da ofensa ("Da Responsabilidade Civil", 5ª
Edição, Forense: Rio, 1994, pp. 317 e 318).
Carlos Alberto Bittar também ensina que, na fixação do
"quantum" devido, a título de dano moral, deve o julgador atentar para:
a) as condições das partes; b) a gravidade da lesão e sua repercussão;
e c) as circunstâncias fáticas. Ressalta que lhe parece de bom alvitre
analisar-se primeiro: a) a repercussão na esfera do lesado; depois, b) o
potencial econômico-social do lesante; e c) as circunstâncias do caso,
para finalmente se definir o valor da indenização, alcançando-se,
assim, os resultados próprios: compensação a um e sancionamento a
outro ("Reparação Civil por Danos Morais: A Fixação do Valor da
Indenização", Revista de Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil
de São Paulo, v. 147, set./out. 1994, p. 11).
Saliente, ainda, que o art. 944, do CCB/2002, exige a
observância do critério da proporção no arbitramento da indenização:
"Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do
dano.".

Fl. 38/44
Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

No caso, do exame de suas circunstâncias, verifico que a Autora


é qualificada como “Professora”, sendo pessoa de condição digna e
aparentemente modesta.
O Réu, por sua vez, foi qualificado como “Motorista” na Exordial
e no Boletim de Ocorrência do acidente, e, em sua Contestação, como
“Ministro do Evangelho, sendo certo que ele litiga sob o pálio da
Assistência Judiciária.
Frise-se que, em virtude do acidente, a Autora sofreu lesões
físicas leves e, também, inegável abalo psicológico. Noutro giro, a
conduta do Réu, que não conduziu o seu veículo com a devida cautela
enquanto circulava na Rodovia MG-050, deve ser repreendida, não se
podendo olvidar a repercussão negativa causada por sua negligência
e a natureza repressiva da indenização.
Todavia, a indenização por dano moral, embora não possa
consubstanciar incentivo à permanente reincidência do responsável
pela prática do ato danoso, também não pode servir como fonte de
enriquecimento do indenizado.
Nesse rumo, observando critérios norteadores da razoabilidade
e da proporcionalidade, levando-se em conta a condição do ofensor, os
princípios orientadores da intensidade da ofensa, sua repercussão na
esfera íntima da vítima e o caráter pedagógico da medida, considero
que a indenização moral deve ser fixada em R$5.000,00 (cinco mil
reais), que também se mostra condizente com os parâmetros utilizados
pelos Tribunais.
A propósito:

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544


DO CPC) - AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS DECORRENTES DE
ACIDENTE DE TRÂNSITO NO QUAL HOUVE
ATROPELAMENTO EM FAIXA DE PEDESTRE -
INSURGÊNCIA DO MOTORISTA RÉU.
[...]
4. No que tange à verba indenizatória, nos termos
da orientação deste Pretório, o valor estabelecido
pelas instâncias ordinárias pode ser revisto tão
somente nas hipóteses em que a condenação se
revelar irrisória ou exorbitante, distanciando-se dos

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Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

padrões de razoabilidade, o que não se evidencia


no presente caso, em que o quantum indenizatório
pelos danos morais foi arbitrado em R$ 5.000, 00
(cinco mil reais).
5. Agravo regimental desprovido.”
(STJ - AgRg no AREsp 87.729/MG, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
08/04/2014, DJe 14/04/2014 – Grifamos).

“APELAÇÃO – ACIDENTE DE TRÂNSITO – AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS – Demonstração da culpa do réu na
conduta do veículo de propriedade da corré – Réu
que ingressou no cruzamento com o semáforo
vermelho – Ato Ilícito Configurado. DANOS
MORAIS – Quantia fixada que não atende ao
objetivo a que se propõe – Lesões sofridas no
tornozelo esquerdo da autora que não resultaram
em comprometimento significativo – Redução do
montante devido para o valor de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) – Razoabilidade e
proporcionalidade atendidas. Recurso parcialmente
provido.”
(TJSP - Relator: Luis Fernando Nishi; Comarca:
Santos; Órgão julgador: 32ª Câmara de Direito
Privado; Data do julgamento: 19/05/2016; Data de
registro: 19/05/2016 – Grifamos).

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS - ACIDENTE DE
TRÂNSITO - CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO
PÚBLICO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO
TRANSPORTADOR - ESPÉCIE OBJETIVA -
DANO E NEXO CAUSAL DEMONSTRADOS -
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA - NÃO
OCORRÊNCIA - ÔNIBUS DE PASSAGEIRO -
COLISÃO - DEVER DE INCOLUMIDADE -
LESÕES FÍSICAS - DANO MORAL -
CONFIGURAÇÃO - EXCLUDENTE DA
RESPONSABILIDADE - INEXISTÊNCIA -
INDENIZAÇÃO - VALOR - DENUNCIAÇÃO DA
LIDE - ACEITAÇÃO - ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA -
LIDE SECUNDÁRIA - AUSÊNCIA DE
PRETENSÃO RESISTIDA - ISENÇÃO DO
DENUNCIADO.
[...]
Na hipótese em comento, conquanto se reconheça
a dor e sofrimento causados à apelada, resultantes
da não observância da característica mais
importante do contrato de transporte, qual seja, a
cláusula de incolumidade, deve-se levar em

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Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

consideração, também, o fato de a lesão física por


ela sofrida ter sido de grau leve.
Neste contexto, o valor indenizatório fixado em
sentença a título de danos morais, qual seja,
R$10.000,00 (dez mil reais), é claramente
demasiado e não merece ser mantido.
Portanto, vejo por bem reduzir o montante
indenizatório para R$5.000,00 (cinco mil reais), o
qual, a meu ver, se mostra compatível com lesão
extrapatrimonial sofrida, além de respeitar os
critérios de proporcionalidade e razoabilidade, sem
implicar em enriquecimento sem causa e
atendendo, ainda, ao objetivo de inibir o ofensor da
prática de condutas futuras semelhantes, não
merecendo qualquer reforma.
[...].”
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.10.124697-3/001,
Relator: Des. Leite Praça, 17ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 24/09/2015, publicação da súmula
em 06/10/2015 – Grifamos).

Sobre o valor da indenização ora arbitrada deve incidir correção


monetária pelos índices da CGJ/MG, desde a data de publicação deste
Acórdão, a teor da Súmula nº 362, do STJ:

"Súmula nº 362, do STJ: A correção monetária do


valor da indenização do dano moral incide desde a
data do arbitramento”.

Nesse sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS - CANCELAMENTO DE
VOO - RELAÇÃO DE CONSUMO -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DANOS
MORAIS - CONFIGURAÇÃO - VALOR DA
INDENIZAÇÃO - - JUROS DE MORA -
ALTERAÇÃO DE OFÍCIO DO TERMO INICIAL -
[...]
- A correção monetária e os juros moratórios são
acessórios e consectários lógicos da condenação
(danos morais) e constituem matéria de ordem
pública, de modo que aplicar, alterar ou modificar
seu termo inicial, de ofício, não configura
julgamento extra petita, nem reformatio in pejus.

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Apelação Cível Nº 1.0261.14.000757-4/001

- Nos termos da Súmula 362 do STJ, a correção


monetária do valor da indenização por danos
morais incide desde a data do arbitramento.
- Havendo relação contratual entre as partes, os
juros de mora devem contar desde a data da
citação.
[...].’
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.11.275628-3/001,
Relator: Des. Marco Aurelio Ferenzini, 14ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/04/0016,
publicação da súmula em 06/05/2016 - Grifamos).

“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


- ATRASO DE VÔO - RAZOÁVEL TEMPO DE
ESPERA - VALOR DA INDENIZAÇÃO - FIXAÇÃO
- OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE -
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO -
CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL.
[...]
- A correção monetária do valor da indenização do
dano moral incide desde a data do arbitramento
definitivo.”
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.11.266543-5/001,
Relator: Des. Evandro Lopes da Costa Teixeira,
17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 21/08/2014,
publicação da súmula em 02/09/2014 - Grifamos).

No tocante aos juros moratórios, tratando-se de


responsabilidade extracontratual estes devem incidir a partir da data do
evento danoso, que se deu em 30/11/2013, conforme Súmula nº 54, do
STJ, neste Voto já transcrita.

ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA:

Com o presente julgamento, foi determinada a liquidação por


sentença do valor da indenização por danos materiais devido pelo Réu
à Autora, com a condenação deste, ainda, ao pagamento de
indenização moral à Requerida, em virtude do acidente a que deu
causa, de forma exclusiva, objeto da Ação. Os pedidos iniciais, pois, se
mostram procedentes.
Dessa forma, não merece prosperar o reconhecimento da
sucumbência recíproca constante da Sentença, cabendo ao Réu arcar

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com a integralidade da verba honorária, já adequadamente arbitrada


em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação no Primeiro
Grau, e das custas processuais.

DISPOSITIVO:

Com essas considerações, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO


1º RECURSO para:
a) determinar que o valor da indenização material,
correspondente às avarias apresentadas no veículo Ford/Fiesta, placa
JPL-2790, da Autora, decorrentes do acidente provocado pelo Réu,
seja apurado em liquidação de Sentença, mediante a apresentação do
valor de mercado do respectivo bem envolvido no acidente, na data do
sinistro (30/11/2013), segundo Tabela FIPE, considerando o
modelo/tipo indicado à fl. 70.
Por consequência, para que não haja enriquecimento sem
causa, fica assegurado o direito do Réu à entrega do salvado, livre e
desembaraçado de ônus, assim como a documentação necessária à
transferência da sua propriedade, no prazo de 15 (quinze) dias após o
pagamento da indenização material apurada em favor da parte Autora,
ou ao abatimento do valor da sucata, computado também à época do
sinistro, sobre o montante da condenação por danos materiais,
conforme se verificar em liquidação por arbitramento.
Sobre o montante a se apurar, deverá ser corrigido
monetariamente pelos índices da CGJ/MG, desde a data do evento
danoso, utilizada como parâmetro para o cômputo da indenização
material e por força do teor da Súmula nº 54, do STJ. Os juros de mora
de 1% (um por cento) ao mês também devem incidir a partir da data do
evento danoso (30/11/2013), nos termos do Enunciado sumular nº 54,
do STJ.
O quantum, a apurar, da indenização material devida pelo
Requerido à Autora, não poderá ultrapassar a importância limite de
R$31.845,35 (trinta e um mil, oitocentos e quarenta e cinco reais e
trinta e cinco centavos), atualizado, apontado na Exordial (fl. 06).

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b) condenar o Réu ao pagamento de indenização moral em


favor da Autora, no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais), corrigido
monetariamente pelos índices da CGJ/MG, a partir da data de
publicação do presente Acórdão, e acrescido de juros de mora de 1%
(um por cento) ao mês, desde a data do evento danoso, que se deu em
30/11/2013.
NEGO PROVIMENTO AO 2º RECURSO.
Como consectários, condeno o Réu ao pagamento da
integralidade da verba honorária, já fixada na Sentença em 15%
(quinze por cento) da condenação, suspensa, todavia, a exigibilidade
de tais valores, tendo em vista que a parte litiga sob o pálio da
Assistência Judiciária. Fica o Requerido, ainda, isento do pagamento
das custas processuais, além das custas do seu 2º Apelo, a teor do art.
10, II, da Lei Estadual nº 14.939/2003.
A Autora deve arcar com 50% (cinquenta por cento) das custas
do 1ª Recurso, ficando o Réu isento do pagamento dos demais 50%
(cinquenta por cento), por força da já referida Lei Estadual nº
14.939/2003.

DES. SÉRGIO ANDRÉ DA FONSECA XAVIER - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. VASCONCELOS LINS - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO 1º


RECURSO E NEGARAM PROVIMENTO AO 2º APELO."

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