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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Autos nº. 0003883-60.2017.8.16.0123

Recurso Inominado n° 0003883-60.2017.8.16.0123


Juizado Especial Cível de Palmas
Recorrente(s): VIACAO OURO E PRATA S/A
Recorrido(s): ALIANE DE SOUZA CASTILHO
Relator: Osvaldo Taque

RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DIREITO DO


CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS. TRANSPORTE TERRESTRE DE PASSAGEIROS. ATRASO EM
VIAGEM INTERESTADUAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
COMPANHIA DE TRANSPORTE. ART. 14 DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. INEXISTÊNCIA DE CAUSAS EXCLUDENTES. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. PERDA DE PROVA DE CONCURSO PÚBLICO.
DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM DA INDENIZAÇÃO (R$ 10.000,00)
QUE DEVE SER MANTIDO. VALOR ARBITRADO QUE OBSERVOU AS
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO E OS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1.Trata-se de Recurso Inominado interposto pela requerida VIAÇÃO OURO E PRATA


S.A. nesta AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS C/C
LUCROS CESSANTES proposta por ALIANE DE SOUZA CASTILHO, em face da
sentença que JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos, para o fim de:
a) Condenar a reclamada em danos materiais no valor de R$ 890,78 (oitocentos e
noventa reais e setenta e oito centavos), valores que deverão ser corrigidos pela média
do INPC+ IGP-DI, a partir do efetivo prejuízo e com juros de mora de 1% ao mês a
contar da citação; b) Condenar a reclamada ao pagamento de danos morais em favor do
promovente no valor de R$10.000,00 (Dez mil reais), corrigido pela média do INPC +
IGP-DI a contar da sentença e juros de mora de 1% ao mês a contar da citação.

Alega a requerida/recorrente que merece reforma a sentença no que concerne à


condenação ao pagamento de danos morais, haja vista que inexistiu qualquer fato capaz
de ensejar o pagamento de indenização a tal título de valores com patamares
elevadíssimos. Argumenta que a recorrida não se precaveu em relação a chegada em
Porto Alegre, deixando para viajar somente no dia da realização do concurso.

Assim, pugna pela exclusão da condenação por danos morais e, subsidiariamente, pela
minoração do quantum indenizatório.

2. Cinge-se a controvérsia neste recurso inominado quanto à ocorrência de danos


morais pela recorrida/requerente, em razão do atraso em viagem interestadual sob a
responsabilidade da empresa recorrente/requerida, bem como o alegado valor excessivo
da indenização arbitrado na sentença.

Pois bem.

2.1.Da análise do processado, entendo que não assiste razão à recorrente.

Não procede a alegação da parte recorrente de que inexistiu qualquer fato capaz de
ensejar indenização por dano moral à recorrida e em valores com patamares elevados.

Primeiramente, restou incontroverso que houve atraso do ônibus de propriedade da


recorrente, no dia 09 de julho de 2017, em que a recorrente embarcou de Pato Branco
(PR) com destino a Porto Alegre (RS), mas a recorrente ressalta a precariedade das
estradas e o fato de que atrasos são normais em viagens de ônibus que percorre longas
distâncias.

Tem-se que a responsabilidade da recorrente pelo serviço de transporte de passageiros é


objetiva, nos termos do Art. 14 do CDC, e não tendo comprovado que o atraso decorreu
de caso fortuito externo, culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros, deve arcar com
os danos daí advindos.

Eventuais problemas mecânicos no veículo não são motivos para afastar o pleito
indenizatório, pois é obrigação da recorrente dar a devida manutenção em sua frota de
ônibus, a fim de evitar que as viagens previstas sofram atraso ou mesmo cancelamento.

O prejuízo que a recorrida sofreu em decorrência do atraso (dano e nexo causal) foi a
perda do concurso público promovido pelo Instituto Geral de Perícias do Estado do Rio
Grande do Sul, sendo que tal fato foi devidamente comprovado nos autos, tendo sido
juntado documentos relativos aos gastos com compra dos materiais do curso
preparatório, o comprovante de inscrição do concurso etc.

A perda de um concurso público, pelo qual a recorrida se preparou por meses, com
estudos e sacrifícios, obviamente enseja indenização por danos morais.

Nesse sentido, vide a ementa de acórdão do Tribunal de Justiça do Paraná:

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS - TRANSPORTE - ATRASO EM VIAGEM INTERESTADUAL -
QUEBRA DO ÔNIBUS - PERDA DE PROVA DE CONCURSO PÚBLICO
–APLICAÇÃO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE - RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DA EMPRESA TRANSPORTADORA - INEXISTÊNCIA DE CASO
FORTUITO OU DE FORÇA MAIOR - AUSÊNCIA DE DANO MATERIAL - VALOR
DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL MANTIDO -SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA
-HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CORRETAMENTE FIXADOS -ART. 20, § 3º, DO
CPC -SENTENÇA MANTIDA -RECURSOS DESPROVIDOS. (TJ-PR -AC: 5548176
PR 0554817-6, Relator: Renato Braga Bettega, Data de Julgamento: 08/10/2009, 9ª
Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 279)

Há que se refutar a alegação da recorrente de que houve falta de precaução por parte da
recorrida quanto à chegada em Porto Alegre, deixando a mesma de viajar somente no
dia da realização do concurso, eis que não se pode exigir que o passageiro tenha de
arcar com despesas de hospedagem, por optar em viajar na véspera do compromisso ou
com maior antecedência.

Portanto, conclui-se que foi acertada a sentença a quo em condenar a recorrente em


indenizar a recorrida pelos danos materiais e morais que suportou em razão da falha na
prestação de serviços, consistente no atraso da viagem interestadual de via terrestre.

2.2. No tocante ao pleito subsidiário da recorrente, de que o valor arbitrado a título de


indenização por dano moral seja minorado, eis que excessivo, igualmente não merece
acolhimento.

Isso por que o valor arbitrado (R$ 10.000,00) está em consonância com as
circunstâncias do caso concreto, considerando-se a atitude da recorrente, as
consequências para a recorrida (que no caso, foram graves, em face da perda de um
concurso público), a capacidade econômico-financeira da recorrente, as funções
compensatória, sancionatória e pedagógica/preventiva do dano moral. Ainda, está
balizado pelos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, sendo que o quantum
não implica em onerosidade excessiva para o recorrente e nem em enriquecimento sem
causa da recorrida.

2.3.Assim, devidamente fundamentada a sentença a quo, sendo que as razões recursais


apresentadas não foram suficientes para que fossem alterados o que foi ali
fundamentado e decidido, deve o presente recurso inominado ser desprovido.

2.4.Em face da sucumbência, nos termos da parte final do caput do Art. 55 da Lei nº.
9.099/95, há que se condenar a recorrente ao pagamento de honorários de advogado da
parte contrária, que arbitro em 10% (dez por cento) do valor atualizado da condenação,
considerando-se o trabalho realizado, o tempo despendido, a natureza da demanda e o
grau de zelo do profissional (Art. 85, § 2º, do CPC). Custas devidas (Lei Estadual nº.
18.413/14, arts. 2º, inciso II, e 4º e instrução normativa - CSJEs, art. 18).

3. Isso posto, voto pelo não provimento do recurso inominado interposto pela
requerida, mantendo-se íntegra a sentença a quo, com o acréscimo das verbas de
sucumbência, nos termos da fundamentação supra.

Intimem-se.
Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve,
por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de VIACAO OURO E PRATA S/A, julgar pelo(a)
Com Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Marcel Luis Hoffmann, sem
voto, e dele participaram os Juízes Osvaldo Taque (relator), Fernanda Bernert Michielin e Helder Luis
Henrique Taguchi.
29 de novembro de 2019

Osvaldo Taque

Juiz (a) relator (a)

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