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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

6ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0019457-33.2023.8.16.0182

Recurso: 0019457-33.2023.8.16.0182 RecIno


Classe Processual: Recurso Inominado Cível
Assunto Principal: Penalidades
Recorrente(s): ESTADO DO PARANÁ
Recorrido(s): DANILLO HENRIQUE GENITORE

DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO INOMINADO. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. INSURGÊNCIA RECURSAL DO ESTADO DO
PARANÁ. AUTOR CONTRATADO POR MEIO DE PROCESSO
SELETIVO SIMPLIFICADO (PSS). SENTENÇA PROCEDENTE.
VALORES DEVIDOS RECONHECIDO NOS AUTOS Nº 0001924-
86.2018.8.16.0004 DA (1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE CURITIBA
/PR), QUE RECONHECEU A NULIDADE QUANTO AO VALOR DA
HORA-AULA E DETERMINOU O PAGAMENTO DA DIFERENÇA.
AUSÊNCIA DE DANO MORAL. MERO ABORRECIMENTO QUE NÃO
CONFIGURA OFENSA À DIGNIDADE E PERSONALIDADE DA
PESSOA HUMANA. PRECEDENTES DESTA TURMA RECURSAL.
SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

DECISÃO MONOCRÁTICA

I. Relatório dispensado nos termos do Enunciado 92 do FONAJE.

II. Inicialmente, destaca-se que é cabível o julgamento monocrático na hipótese dos autos, pois em
conformidade com o art. 12 do Regimento Interno das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis,
Criminais e Fazenda Pública do Estado do Paraná, o art. 932 do Código de Processo Civil e a Súmula
568 do Superior Tribunal de Justiça, ante o posicionamento pacificado desta Turma Recursal.

III. Satisfeitos os pressupostos processuais de admissibilidade do recurso, deve ele ser conhecido.

IV.Trata-se de recurso inominado interposto pelo Estado do Paraná contra sentença em ação
indenizatória que julgou procedente a pretensão inicial (ref. evento 25.1) para condenar o recorrente ao
pagamento de indenização por danos morais. Inconformado, o Estado do Paraná interpôs recurso,
requerendo a reforma da sentença, para o fim de julgar improcedente a demanda proposta pela parte
autora.

Em suma, a parte recorrida entrou com a presente ação alegando ter sido contratada por meio de Processo
Seletivo Simplificado – PSS para desempenhar a função de docente na rede pública de ensino e que o
edital do certame estipulava remuneração de R$ 13,63 (treze reais e sessenta e três centavos) por hora-
aula, enquanto a remuneração dos professores temporários, conforme a Lei Complementar nº 108/2005 e
o Decreto nº 2.947/2004, era de R$ 15,73 (quinze reais e setenta e três centavos), motivo pelo qual se
insurgiu contra indevida redução salarial. Ainda, aduziu que o Sindicato dos Trabalhadores em Educação
Pública do Estado do Paraná moveu ação coletiva nº 0001924-86.2018.8.16.0004, que foi julgada
procedente, determinando que os prejudicados recebessem a diferença salarial. Diante desse contexto, a
parte autora solicitou, aqui, a condenação do recorrente, ora requerido, ao pagamento de indenização por
danos morais, sustentando a ocorrência de danos extrapatrimoniais, ressaltando que a não quitação da
diferença salarial reconhecida em decisão judicial favorável constitui uma violação ao seu direito de
personalidade.

Pois bem.

V. A sentença aqui atacada acolheu o pleito inaugural. No entanto, razão assiste ao Estado do Paraná,
motivo pelo qual deve ser reformada.

Explico.

Embora tenha sido judicialmente reconhecida a ilegalidade do Edital nº 72/2017 GS/SEED, que
estipulava uma remuneração inferior ao limite legal, reconhecendo o direito de receber R$ 2,10 (dois
reais e dez centavos) a mais por hora-aula trabalhada, nota-se que o cerne desse litígio foi de natureza
patrimonial. Esse fato não implica automaticamente em uma violação à esfera moral do indivíduo. Isto
porque o dano moral está relacionado à esfera subjetiva e emocional do indivíduo, impactando aspectos
como sua dignidade, honra, reputação e integridade psicológica, entre outros elementos ligados à sua
personalidade. É importante destacar que simples aborrecimentos da vida cotidiana não são suficientes
para configurar dano moral indenizável. Para que isso ocorra, é necessário que haja violação efetiva do
direito de personalidade, caracterizando uma ofensa significativa e prejudicial à esfera emocional e
subjetiva.

A respeito do tema, Carlos Alberto Bittar ensina:

Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano


valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se,
portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da
personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal, na
autoestima), ou o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o
da reputação ou da consideração social, na estima social). (Bittar, Carlos Alberto.
Reparação civil por danos morais. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015)

Para tanto, embora seja incontestável que houve recepção a menor das verbas trabalhistas, conforme
reconhecido na sentença do processo nº 0001924-86.2018.8.16.0004, que condenou o recorrente a pagar
as diferenças calculadas entre os valores efetivamente pagos e os devidos no período, tal constatação não
implica automaticamente na conclusão de que o ato, por si só, resultou em afronta aos aspectos íntimos
da personalidade da parte. Do mesmo modo, é incontroverso que houve conduta errônea do recorrente
em relação ao pagamento das verbas, no entanto, não se demonstra que esta seja suficiente para
configurar qualquer tipo de ofensa à moral, à honra, à personalidade ou à dignidade do recorrido.
Logo, eventual condenação à indenização por danos morais exige apresentação de elementos capazes de
justificar uma possível reparação, o que, em que pese o alegado na origem, não restou demonstrado.

Sobre o tema, já firmou entendimento esta Turma Recursal. In verbis:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


PAGAMENTO DE HORAS-AULAS EM VALOR INFERIOR AO MÍNIMO
LEGAL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DA PARTE RÉ. PLEITO
DE AFASTAMENTO DOS DANOS MORAIS. CONTRATAÇÃO POR MEIO DE
PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO (PSS). EDITAL N.º 72/2017. AÇÃO
ANTERIOR QUE RECONHECEU A NULIDADE QUANTO AO VALOR DA
HORA-AULA E DETERMINOU O PAGAMENTO DA DIFERENÇA. DANO
MORAL NÃO CONFIGURADO. MERO ABORRECIMENTO DA PARTE
AUTORA. NÃO COMPROVAÇÃO DE OFENSA À DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA, REPUTAÇÃO DA VÍTIMA OU DANO PSICOLÓGICO.
PRECEDENTE DESTA TURMA RECURSAL. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 6ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais - 0001135-62.2023.8.16.0182 - Curitiba - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA
TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS GISELE LARA RIBEIRO
- J. 15.12.2023)

RECURSO INOMINADO - PEDIDO DE DANOS MORAIS – SENTENÇA


JULGADA IMPROCEDENTE - EDITAL Nº 72/2017 – GS/SEED - VERBA
SALARIAL INFERIOR AO MÍNIMO LEGAL DA REMUNERAÇÃO DOS
PROFESSORES – CONTRATO POR MEIO DE PROCESSO SELETIVO
SIMPLIFICADO (PSS) – REDUÇÃO DE 15,33% DOS VALORES PERCEBIDOS
NO ANOS DE 2018 – VALORES DEVIDOS RECONHECIDO NOS AUTOS N.
001924- 86.2018.8.16.0004, QUE TRAMITARAM JUNTO À 1ª VARA DA
FAZENDA PÚBLICA DE CURITIBA/PR – DANO MATERIAL RESSARCIDO –
DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - REMUNERAÇÃO MENOR -
CONDUTA, POR SI SÓ, INSUFICIENTE PARA CONFIGURAR SOFRIMENTO
OU HUMILHAÇÃO- SENTENÇA MANTIDA – RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. (TJPR - 6ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0041301-
10.2021.8.16.0182 - Curitiba - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL
DOS JUIZADOS ESPECIAIS LUCIANA FRAIZ ABRAHAO - J. 14.06.2023)

Ante a congruência do acima exarado, conheço o recurso interposto e, no mérito, dou provimento,
conforme fundamentação supra, para reformar a sentença e afastar a condenação do Estado do Paraná em
indenização por danos morais, julgando improcedente os pleitos iniciais.

Ante o êxito recursal, não há condenação da parte recorrente ao pagamento de verbas de sucumbência,
nos termos do artigo 55, da Lei nº 9.099/1995.
Curitiba, datado e assinado digitalmente.

Vanessa Villela De Biassio

Juíza de Direito Substituta

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