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DECISÃO MONOCRÁTICA
II. Inicialmente, destaca-se que é cabível o julgamento monocrático na hipótese dos autos, pois em
conformidade com o art. 12 do Regimento Interno das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis,
Criminais e Fazenda Pública do Estado do Paraná, o art. 932 do Código de Processo Civil e a Súmula
568 do Superior Tribunal de Justiça, ante o posicionamento pacificado desta Turma Recursal.
III. Satisfeitos os pressupostos processuais de admissibilidade do recurso, deve ele ser conhecido.
IV.Trata-se de recurso inominado interposto pelo Estado do Paraná contra sentença em ação
indenizatória que julgou procedente a pretensão inicial (ref. evento 25.1) para condenar o recorrente ao
pagamento de indenização por danos morais. Inconformado, o Estado do Paraná interpôs recurso,
requerendo a reforma da sentença, para o fim de julgar improcedente a demanda proposta pela parte
autora.
Em suma, a parte recorrida entrou com a presente ação alegando ter sido contratada por meio de Processo
Seletivo Simplificado – PSS para desempenhar a função de docente na rede pública de ensino e que o
edital do certame estipulava remuneração de R$ 13,63 (treze reais e sessenta e três centavos) por hora-
aula, enquanto a remuneração dos professores temporários, conforme a Lei Complementar nº 108/2005 e
o Decreto nº 2.947/2004, era de R$ 15,73 (quinze reais e setenta e três centavos), motivo pelo qual se
insurgiu contra indevida redução salarial. Ainda, aduziu que o Sindicato dos Trabalhadores em Educação
Pública do Estado do Paraná moveu ação coletiva nº 0001924-86.2018.8.16.0004, que foi julgada
procedente, determinando que os prejudicados recebessem a diferença salarial. Diante desse contexto, a
parte autora solicitou, aqui, a condenação do recorrente, ora requerido, ao pagamento de indenização por
danos morais, sustentando a ocorrência de danos extrapatrimoniais, ressaltando que a não quitação da
diferença salarial reconhecida em decisão judicial favorável constitui uma violação ao seu direito de
personalidade.
Pois bem.
V. A sentença aqui atacada acolheu o pleito inaugural. No entanto, razão assiste ao Estado do Paraná,
motivo pelo qual deve ser reformada.
Explico.
Embora tenha sido judicialmente reconhecida a ilegalidade do Edital nº 72/2017 GS/SEED, que
estipulava uma remuneração inferior ao limite legal, reconhecendo o direito de receber R$ 2,10 (dois
reais e dez centavos) a mais por hora-aula trabalhada, nota-se que o cerne desse litígio foi de natureza
patrimonial. Esse fato não implica automaticamente em uma violação à esfera moral do indivíduo. Isto
porque o dano moral está relacionado à esfera subjetiva e emocional do indivíduo, impactando aspectos
como sua dignidade, honra, reputação e integridade psicológica, entre outros elementos ligados à sua
personalidade. É importante destacar que simples aborrecimentos da vida cotidiana não são suficientes
para configurar dano moral indenizável. Para que isso ocorra, é necessário que haja violação efetiva do
direito de personalidade, caracterizando uma ofensa significativa e prejudicial à esfera emocional e
subjetiva.
Para tanto, embora seja incontestável que houve recepção a menor das verbas trabalhistas, conforme
reconhecido na sentença do processo nº 0001924-86.2018.8.16.0004, que condenou o recorrente a pagar
as diferenças calculadas entre os valores efetivamente pagos e os devidos no período, tal constatação não
implica automaticamente na conclusão de que o ato, por si só, resultou em afronta aos aspectos íntimos
da personalidade da parte. Do mesmo modo, é incontroverso que houve conduta errônea do recorrente
em relação ao pagamento das verbas, no entanto, não se demonstra que esta seja suficiente para
configurar qualquer tipo de ofensa à moral, à honra, à personalidade ou à dignidade do recorrido.
Logo, eventual condenação à indenização por danos morais exige apresentação de elementos capazes de
justificar uma possível reparação, o que, em que pese o alegado na origem, não restou demonstrado.
Ante a congruência do acima exarado, conheço o recurso interposto e, no mérito, dou provimento,
conforme fundamentação supra, para reformar a sentença e afastar a condenação do Estado do Paraná em
indenização por danos morais, julgando improcedente os pleitos iniciais.
Ante o êxito recursal, não há condenação da parte recorrente ao pagamento de verbas de sucumbência,
nos termos do artigo 55, da Lei nº 9.099/1995.
Curitiba, datado e assinado digitalmente.