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ESTADO DO MARANHÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
GABINETE DA SEXTA PROCURADORIA CÍVEL

PROCESSO Nº 0809850-06.2023.8.10.0060.
(SIMP: 024067-750/2024)
APELAÇÃO CÍVEL: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS CUMULADA COM
OBRIGAÇÃO DE FAZER E TUTELA ANTECIPADA.
APELANTE: FRANCISCO FERREIRA DA SILVA.
APELADO: FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS MULTSEGMENTOS NPL
IPANEMA VI - NÃO PADRONIZADO.
RELATOR: DESEMBARGADOR ANTÔNIO JOSÉ VIEIRA FILHO.
PROCURADORA DE JUSTIÇA: SÂMARA ASCAR SAUAIA (RESPONDENDO).
QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO.

PARECER MINISTERIAL

1. RELATÓRIO

Trata-se de Recurso de Apelação interposto por FRANCISCO


FERREIRA DA SILVA, nos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER E TUTELA ANTECIPADA, em face de Sentença
de ID. 33615194, que julgou improcedentes os pedidos formulados pelo
Autor, nos seguintes termos:

“ISTO POSTO, com fulcro no artigo 487, I, do Código


de Processo Civil, rejeito os pedidos iniciais, por
falta de amparo legal.
Condeno a parte autora ao pagamento das custas
processuais e honorários da sucumbência, estes
últimos fixados em 10%(dez por cento) sobre o valor
da causa, ficando a exigibilidade de tais verbas

“ 2024 - O Ministério Público do Maranhão no fomento à resolutividade das demandas sociais”

SÂMARA ASCAR SAUAIA (RESPONDENDO)


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suspensa por ser a parte demandante beneficiária da


Justiça Gratuita, nos termos do art. 98. § 3º, do
Código de Processo Civil.
Conforme exposto na parte final da fundamentação,
arbitro multa no percentual de 2% (dois por cento)
sobre o valor atualizado da causa, a ser pago pelo
demandante e revertido em favor da parte adversa.
Ressalte-se, por oportuno, que a concessão de
gratuidade não afasta o dever de o beneficiário
pagar, ao final, as multas processuais que lhe sejam
impostas (art. 98, § 4º, do CPC).
Publique-se. Registre-se. Intimem-se, servindo a
presente como mandado.
Observadas as formalidades legais, arquivem-se os
autos.”

Irresignado com a Decisão, o Apelante interpôs o presente Apelo


(ID. 33615197), onde requereu, preliminarmente, o afastamento da multa
por litigância de má-fé, e no mérito, o conhecimento e provimento do
recurso, para reformar a Sentença a fim de que o pedido da exordial seja
julgado, desde logo, procedente, mediante a declaração de inexistência de
débito e condenação por danos morais pelo constrangimento sofrido, por
ter seu nome inscrito no cadastro de inadimplentes por dívida que alega
não ter contraído.

Devidamente intimada, a parte apelada apresentou contrarrazões


(ID. 33615210).

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Em ID 34073304, os presentes autos foram remetidos a esta


Procuradoria de Justiça para emissão de parecer.

É o que se tinha para relatar.


Passa-se à manifestação.

2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1 ADMISSIBILIDADE

No que concerne ao juízo de admissibilidade, tem-se que os


pressupostos intrínsecos e extrínsecos, exigidos para a interposição do
presente recurso, restaram regularmente preenchidos, pelo que merece ser
conhecido.

2.2. MÉRITO

No mérito, adianta-se que merecem prosperar as razões do


Recorrente, em parte, pelos motivos adiante expostos.

No caso em apreço a parte demandante fora surpreendida com a


inscrição de seu nome nos cadastros de proteção ao crédito, em virtude do
inadimplemento de um débito junto à empresa ocupante do polo passivo da
presente demanda, no quantum de R$ 4.293,55 (quatro mil duzentos e
noventa e três reais e cinquenta e cinco centavos), com número de
contrato BVCBC26457677543 e data de inclusão em 18/10/2022, supostamente
entabulado junto ao requerido.

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Diante de tais fatos, requereu a declaração de inexistência da


dívida, exclusão do seu nome do cadastro de inadimplentes e a condenação
da parte Ré ao pagamento de indenização a título de danos morais.

Por sua vez, em sede de contestação (ID 33615084), o Réu


demonstrou: 1) a origem do débito; 2) a cessão de crédito legítima e
documentada; 3) a inexistência de danos morais, em razão do mero
exercício regular de direito na cobrança realizada. Pois bem.

Nas ações declaratórias de inexistência de débito incube à parte


Ré comprovar a existência da relação jurídica originadora do débito
quando tal relação é negada pelo autor, já que a este não é possível
produzir prova de fato negativo.

No presente caso, restou comprovada que a origem do débito se


deu em relação a cartão de crédito VISA INTERNACIONAL 4551 XXXXXXXX 8419,
o qual originou o contrato de nº BVCBC26457677543, que após a cessão de
crédito à parte Ré, passou a ser de nº 54309288, apenas para controle
interno deste cessionário.

Sendo assim, restou devidamente comprovada a origem dos débitos


questionados, através das faturas apresentadas pela parte Ré (ID
33615189).

No que tange ao dano moral pleiteado pelo apelante, não


concedido pelo Juízo de 1º grau, cabe ressaltar que a relação jurídica
aqui firmada é consumerista (Lei nº 8.078/1990, art.2º e 3º), cuja

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responsabilidade é objetiva, sendo prescindível demonstração de culpa


(art. 14), bastando a comprovação do defeito na prestação de serviço para
configuração do dever indenizatório.

Dessa forma, o feito em questão trata-se de ação de indenização


por danos morais em que o autor objetiva ser ressarcida pelos danos
causados em virtude de ter o seu nome negativado indevidamente junto ao
Órgão de Proteção ao Crédito.

Ademais, em face da responsabilidade objetiva, cabe ao apelado


alegar toda a matéria de defesa cabível, comprovando o fornecimento do
serviço de forma eficiente, bem como que a inscrição do autor no SERASA
tenha sido realizada conforme os ditames da lei, ou ainda, uma das
possíveis excludentes de sua responsabilidade, art. 14, II, parágrafo 3º,
CDC.
In casu, o apelante não logrou êxito em demonstrar o pagamento
das dívidas questionadas. Sendo assim, resta concluir acerca da
legalidade do negócio jurídico firmado entre as partes.

Nesse sentido é a jurisprudência:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL - NEGATIVAÇÃO DE NOME - PARTE RÉ COMPROVA
A ORIGEM DA DÍVIDA - PARTE AUTORA NÃO COMPROVA SEU
PAGAMENTO - PEDIDO INICIAL JULGADO IMPROCEDENTE -
RECONVENÇÃO - DÍVIDA COMPROVADA - PEDIDO JULGADO
PROCEDENTE. - É de se julgar improcedente pedido deduzido
em ação declaratória de inexistência de dívida c/c
indenização por danos morais ao fundamento de negativação
indevida de nome se a parte ré demostra que a parte
autora contraiu a dívida e incorreu em inadimplência, ao

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passo que esta parte não comprovou que pagou a dívida


contraída - Deve ser julgado procedente o pedido deduzido
em reconvenção de condenação da parte autora/reconvinda a
pagar a dívida cuja existência restou comprovada na ação
declaratória de inexistência de dívida c/c indenização
por danos morais.

(TJ-MG - AC: 10000221482607001 MG, Relator: Evandro Lopes


da Costa Teixeira, Data de Julgamento: 09/11/2022,
Câmaras Cíveis / 17ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
10/11/2022)

Por outro lado, observa-se que o apelante foi condenado ao


pagamento de multa por litigância de má-fé fixada em 2% sobre o valor
atualizado da causa.

Sobre o tema cabe ressaltar que a referida condenação exige a


prova do dolo específico e intenção da parte em ludibriar o Juízo.

Segue, nesse sentido:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE EXECUÇÃO - DECISÃO QUE INDEFERIU A

APLICAÇÃO DE MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ - AUSÊNCIA DE DOLO - NÃO

CONFIGURAÇÃO - PROVIMENTO NEGADO. - Para o reconhecimento da litigância de

má-fé, é necessário que o dolo seja claramente comprovado, uma vez que não

se admite em nosso direito normativo, a má-fé presumida" (TJDFT - AGI:

20150020208973). (TJ-MG - AI: 10000191463686001 MG, Relator: Roberto

Vasconcellos, Data de Julgamento: 28/04/0020, Data de Publicação:

04/05/2020). GRIFO NOSSO.

No caso dos autos, não houve o convencimento de que a parte


requerente tenha agido com má-fé ao ajuizar a presente ação, visto que

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não há indícios suficientes capazes de demonstrar comportamento


intencionalmente malicioso e temerário do apelante.

Observa-se que, ao contrário do que entendeu o Juízo


sentenciante, a pretensão do autor não excedeu os limites da probidade,
especialmente se considerada a garantia constitucional do exercício do
direito de ação e de acesso ao Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV).

Dessa forma, não há como presumir que a atitude do autor ao


ajuizar a demanda teve objetivos escusos, devendo, desse modo, ser
excluída a condenação ao pagamento da multa por litigância de má-fé.

3. CONCLUSÃO

Posto isso, manifesta-se esta Procuradoria de Justiça, pelo


CONHECIMENTO e PROVIMENTO PARCIAL do referido recurso, para que a
Sentença seja PARCIALMENTE REFORMADA, apenas para excluir a condenação do
recorrente ao pagamento de multa por litigância de má-fé.

São Luís - MA, data do sistema.

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