EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO
ESPECIAL CIVEL DA 62º VARA CÍVEL DE SERRAVILLE/RS
Processo nº 00008987-98.2023.4.5.0031
JOANA BRANDIBURGO DUMONT, brasileira, solteira, residente á
Rua das Margaridas, nº 34, condomínio Vale Verde, Serraville/RS. Por intermédio de seu procurador, que está subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar;
CONTESTAÇÃO REFERENTE A AÇÃO DE REPARAÇÃO DE
DANOS MATERIAIS E MORAIS DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRÂNSITO
Com fundamento no artigo 30º da lei 9.099/95, na ação de reparação
de danos materiais proposta por Flavio Dutra, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, pelos motivos e razões a seguir expostas.
1. DA SINTESE DOS FATOS
A Ré Joana Brandibrugo Dumont, contesta veementemente as
alegações formuladas pelo autor, Flavio Dutra, na inicial, de que teria agido com negligencia no acidente de trânsito mencionado.
Além disso, a Ré argumenta que o autor, ao realizar uma manobra
repentina ao cortar sua trajetória, também teve sua parcela de contribuição para o acidente, dificultando qualquer reação adequada de sua parte. Não sendo possível imputar somente a ela a responsabilidade exclusiva pelos danos alegados, ao passo que acidente ocorreu em circunstâncias imprevisíveis e incontroláveis (forte chuva e baixa visibilidade). A citação realizada por meio do e-mail de uma terceira pessoa não condiz com os requisitos legais de citação pessoal estabelecidos pelo Código de Processo Civil, sendo necessário o reconhecimento de sua nulidade.
Quanto a concessão da gratuidade de justiça ao autor, a Ré ressalta
que a decisão do magistrado foi revertida por meio de Agravo de Instrumento, o que demonstra que houve uma analise mau aprofundada da situação econômica do autor e a concessão do beneficio foi considerada adequada pelas instâncias superiores, mesmo o autor possuindo lojas de roupas o que não condiz com a situação de hipossuficiência que declara.
2. DO DIREITO 2.1 DO DANO MATERIAL
É notório que o valor exigido pelo autor diante de uma analise
minuciosa dos orçamentos é muito superior aos valores de mercado, caracterizando nitidamente enriquecimento ilícito, é inadmissível que uma empresa cobre apenas de mão de obra o valor total de outro orçamento já incluso todas as peças necessárias e mais o serviço de conserto.
Ademais, o acidente conforme narra o Boletim de Ocorrência, também
causou danos ao Réu, o qual, em decorrência da falta de sinalização na pista por parte do Estado, teve de assumir ambos os prejuízos.
Certo é que a ação de reparação deve proporcionar a mais ampla
satisfação do dano possível, porém sem causar enriquecimento ilícito para a vítima. Portanto, é de suma importância um ponto de equilíbrio para alcançar o princípio da reparação integral do prejuízo, moral ou material.
Segue decisões dos Tribunais Pátrios, os quais já mantém decisão
unânime sobre o assunto:
RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. CULPA DO RECORRENTE. FATO INCONTROVERSO. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. DANOS MATERIAIS. COMPROVAÇÃO. OCORRÊNCIA. ORÇAMENTO DE REFORMA DO VEÍCULO ABALROADO. UTILIZAÇÃO DO MENOR VALOR. DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Recurso inominado parcialmente provido. Diante do exposto, resolve esta 1ª Turma Recursal, por unanimidade de votos, conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe parcial provimento, nos exatos termos do vot (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0001490-82.2011.8.16.0056/0 - Cambé - Rel.: CÃntia Graeff de Luca - - J. 28.09.2015) (TJ-PR - RI: 000149082201181600560 PR 0001490-82.2011.8.16.0056/0 (Acórdão), Relator: CÃntia Graeff de Luca, Data de Julgamento: 28/09/2015, 1ª Turma Recursal, Data de Publicação: 01/10/2015)
É pacífico pela jurisprudência que sentença deve ser baseada no
orçamento de menor valor.
2.2 DO DANO MORAL
Impossível reconhecer a existência de efetivo dano moral indenizável,
pois somente a ocorrência do acidente e a necessidade de conserto, por si só, não são suficientes para causar o abalo psíquico ou ofensa à dignidade.
A propósito do tema, pertinente se faz mencionar a doutrina do
Desembargador Sergio Cavalieri Filho:
"Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a
dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem- estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos." (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2010, p. 78).
Não houve abalo à moral do Autor, nem tampouco à sua dignidade.
Os danos morais devem se restringir àquelas situações em que há dor, sofrimento e angústia, sob pena de banalizá-los. Portanto, resta evidente que o Autor não logrou êxito em comprovar o dano alegado, não fazendo jus a indenização arbitrada a este título.
3. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, a Ré requer:
a) O reconhecimento da nulidade da citação realizada por meio do e-
mail de terceira pessoa, nos termos dos artigos 239 e 240 do Código de Processo Civil; b) A improcedência dos pedidos formulados pelo Autor, considerando as circunstâncias do acidente e a contribuição do próprio Autor para o evento danoso; c) Subsidiariamente, caso reconhecida alguma responsabilidade da Ré, a redução do grau de responsabilidade a ela atribuído, nos termos do artigo 944 do Código Civil; d) A condenação do Autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios.
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas,
especialmente a prova pericial e a oitiva de testemunhas.