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PROVAS ORAIS ANTERIORES MPMG – 2017 e 2014

Concurso Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4

Márcio Luís Chila André Estevão Bertoldo Mateus de Giovanni Mansur


Freyesleben Ubaldino Pereira Oliveira Filho Solha Pantuzzo
2018
(LVI)
Renato Franco de Gilberto Osório Adriano Cardoso da Célia Beatriz Gomes
Almeida Resende Silva dos Santos

Bertoldo Mateus de
Giovanni Mansur
Elaine Martins Parise André Estevão Oliveira Filho
Solha Pantuzzo
2017 Ubaldino Pereira
LV Fernando Rodrigues Adriano Cardoso da
Carlos Alberto Valera
Martins Rogério Filipetto Silva
Dierle
Antônio Joaquim
Schellenberg
Elaine Martins Parise Adilson de Oliveira Bertoldo Mateus de Fernandes
Nascimento Oliveira Filho
2014
LIV Marco Paulo Cardoso Rodrigo Cançado
Luiz Gustavo Adriano Cardoso da
Starling Gonçalves Ribeiro Silva Anaya Rojas
Carlos Alberto Valera

Rogério Filippetto de Marco Paulo Cardoso Rodrigo Cançado


Elaine Martins Parise
Oliveira Starling Anaya Rojas
2013
LIII Gisela Potério
Luiz Gustavo Antônio Marcos Fernando Rodrigues
Santos Saldanha
Gonçalves Ribeiro Nohmi Martins
LV Concurso MPMG – 2017 – PROVA ORAL

DIA 1 – PONTO 9 – Jarlene e Luisa

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional: ELAINE MARTINS PARISE

1) Como pode ser definido o preâmbulo da CF e qual sua natureza jurídica? Tem força normativa ou
não?
O preâmbulo da Constituição Federal caracteriza-se por ser um prefácio que enuncia os princípios constitucionais
mais valiosos, assim como as ideias essenciais que alimentaram o processo de criação da Constituição.
Quanto à sua natureza jurídica, há 03 teorias: a) tese da irrelevância jurídica: o preâmbulo situa-se no domínio da
política, sem relevância jurídica; b) tese da plena eficácia: tem a mesma eficácia jurídica das normas
constitucionais, sendo, porém, apresentado de forma não articulada; c) tese da relevância jurídica indireta: ponto
intermediário entre as duas, já que, muito embora participe “das características jurídicas da Constituição”, não
deve ser confundido com o articulado.
Vale destacar que o STF, na ADI 2.076, conclui que “o preâmbulo ... não se situa no âmbito do Direito, mas no
domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte (...). Não contém o preâmbulo, portanto,
relevância jurídica”. Assim, tem-se que foi adotada a tese da irrelevância jurídica, ou seja, não tem força
normativa, pelo que não é norma de reprodução obrigatória nos Estados, nem pode servir como parâmetro para o
controle de constitucionalidade.

2) O que o senhor entende por Estado confessional?


Estado confessional é aquele que adota uma religião oficial.
O Brasil é um Estado não confessional (Estado secular/laico), tendo em vista que há uma separação entre o
Estado e a religião. O dever de neutralidade é exigido expressamente pelo dispositivo constitucional que veda aos
entes federativos estabelecer tratamento discriminatório entre as diversas igrejas - tanto para beneficiá-las, como
para prejudicá-las - ou criar embaraços ao seu funcionamento (CF, art. 19, I).

3) Ainda sobre o preâmbulo da CF, considerando que nele foi invocada a proteção de Deus, é necessário
que o mesmo ocorra com as Constituições Estaduais?
A menção a Deus feita pelo preâmbulo da Constituição de 1988 ("promulgamos, sob a proteção de Deus") não é
incompatível com a neutralidade religiosa do Estado brasileiro, por não ser uma alusão sectária, específica de
determinada seita ou entidade religiosa.
Trata-se apenas de um reconhecimento e da crença na existência de um Deus (monoteísmo) por parte dos
constituintes, reforçando o entendimento de que o Estado brasileiro não deve ser considerado um Estado ateu.

Considerando que tem-se que foi adotada a tese da irrelevância jurídica quanto ao preâmbulo da Constituição, ele
não tem força normativa, pelo que não é norma de reprodução obrigatória nos Estados, nem pode servir como
parâmetro para o controle de constitucionalidade. Assim, a invocação à proteção de Deus não é necessária nas
Constituições Estaduais.

4) Discorra sobre o estado de sítio. A quem cabe a decretação?


O estado de sítio consiste na adoção de medidas temporárias durante situações de extrema gravidade
ocasionadas por comoção grave de repercussão nacional, conflito armado com Estado estrangeiro ou, ainda,
quando as medidas adotadas durante o estado de defesa se mostrarem insuficientes.
Exige-se autorização prévia do Congresso Nacional para decretação do Estado de Sítio pelo Presidente da
República, salvo nos casos de agressão estrangeira ocorrida no intervalo das sessões legislativas, quando deverá
haver o referendo do Legislativo (CF, arts. 84, XIX e 49, II).
A decretação do estado de sítio depende da existência de um dos seguintes pressupostos materiais:
- comoção grave de repercussão nacional, caracterizada por série crise capaz de colocar em risco as instituições
democráticas ou o governo legitimamente eleito;
- ocorrência de fatos comprobatórios da ineficácia de medida adotada durante o estado de defesa;
- declaração de estado de guerra pelo Presidente da República ou resposta a agressão armada estrangeira (CF,
art. 137).
Diversamente dos pressupostos materiais, exigidos alternativamente, os pressupostos formais são cumulativos,
devendo ser observados os seguintes procedimentos:
I) oitiva do Conselho da República (CF, art. 89) e do Conselho de Defesa Nacional (CF, art. 91), órgãos
consultivos do Presidente da República, cujas manifestações não o vinculam;
II) solicitação ao Congresso Nacional de autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação,
devidamente fundamentada com os motivos determinantes do pedido;
III) autorização do Congresso Nacional pela maioria absoluta de seus membros; e
IV) edição de decreto pelo Presidente da República indicando a duração do estado de sítio, as medidas
necessárias a sua execução e as garantias constitucionais a serem suspensas.
Após a publicação do decreto, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as
áreas abrangidas (CF, arts. 137 e 138).

5) Como ficam as imunidades dos deputados e senadores durante o estado de sítio?

Art. 53, § 8º: As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser
suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do
recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.

6) Durante o estado de sítio, a CF pode ser emendada?


Art. 60, § 1º: A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou
de estado de sítio.

7) Estado de defesa: a quem cabe a decretação e qual seu tempo de duração, se é que ele existe?
O estado de defesa compreende de medidas temporárias destinadas a preservar ou restabelecer, em área restrita
e determinada, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por fatores políticos, sociais ou por fenômenos
naturais de grandes proporções.
Para sua decretação, devem ser observados pressupostos diversos. Os pressupostos materiais são as
condições fáticas exigíveis para a decretação do estado de defesa. A instauração desse estado de legalidade
extraordinária depende, alternativamente, da existência de grave e iminente instabilidade institucional ou de
calamidade de grandes proporções na natureza (CF, art. 136).
Os pressupostos formais dizem respeito aos procedimentos exigíveis para a legitimidade das medidas a serem
adotadas. A Constituição prevê cinco requisitos cumulativos:
I) prévia manifestação do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional. Por serem órgãos
consultivos, a manifestação não tem caráter vinculante para o Presidente da República;
II) decretação do Estado de Defesa pelo Presidente da República. Cabe ao Congresso Nacional decidir, por
maioria absoluta, acerca da decretação do estado de defesa ou de sua prorrogação (CF, art. 136, § 4. º), assim
como criar comissão de cinco membros, designados por sua de sua mesa diretora, para acompanhar e fiscalizar
as medidas referentes ao estado de defesa (CF, art. 140)..
III) previsão do prazo de duração da medida de, no máximo, de trinta dias, podendo ser prorrogado por uma única
vez;
IV) especificação das áreas abrangidas; e
V) indicação das medidas coercitivas (CF, art. 136, §§ 1º e 2º).

8) Quais são os instrumentos jurídicos adequados para o controle das omissões constitucionais?
A Constituição prevê remédios constitucionais para suprir as omissões constitucionais: o mandado de injunção e a
ação de declaração de inconstitucionalidade por omissão.

9) Quais os legitimados para ingresso da ADI por omissão?


Art. 103 da CF e art. 2º da Lei nº 9868/99: Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou a Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
V - o Governador de Estado ou o Governador do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

10) Há prazo para a propositura da ADI por omissão?


Não há prazo para a propositura de ADI por omissão, tendo em vista que se trata de um processo objetivo, a
matéria é de ordem pública, pelo que não preclui a possibilidade de arguição da omissão do Poder Público.

Eleitoral

1) Ação de impugnação ao registro de candidatura: quais são as hipóteses de cabimento?


A Ação de Impugnação de Registro de Candidaturas (AIRC) é instrumento hábil a impedir que candidato
escolhido em convenção partidária seja registrado, em virtude:
- não atendimento de algum requisito legal ou constitucional, a exemplo da ausência de uma ou mais condições
de elegibilidade
- presença de uma causa de inelegibilidade;
- não apresentação de algum documento indispensável ao pedido de registro de candidatura previsto no art. 11, §
1º da lei no. 9.504/97 (as Chamadas "condições de procedibilidade do registro").

2) Quais são os legitimados ativos para esta ação?


Poderá a autoridade judicial competente para o registro de candidatura indeferir o pedido de registro ex officio, em
caso de ausência de uma condição de procedibilidade do registro. Não havendo tal espécie de indeferimento,
qualquer candidato, partido político, coligação ou o Ministério Público Eleitoral terá legitimidade ativa para a
propositura da AIRC.

Art. 3° LC 64/90: Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou ao Ministério Público, no prazo de
5 (cinco) dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada.

§ 1° A impugnação, por parte do candidato, partido político ou coligação, não impede a ação do Ministério Público
no mesmo sentido.

3) Se o autor desistir da ação, o MP assume a titularidade?


Não há previsão legal para que o MP assuma a titularidade da ação. Contudo, considerando que o art. 127 da
Constituição Federal dispõe que incumbe ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica e do regime
democrático, o Parquet, atuando como custos legis, pode assumir a titularidade da ação no caso de desistência.
Isso porque, não se lhe aplicaria o instituto da preclusão consumativa, uma vez que, tendo a Constituição Federal
lhe conferido tal mister e não havendo lei proibindo que assuma a titularidade nesses casos, a sua função como
fiscal da lei permitiria tal atuação, a fim de possibilitar a continuidade da ação e eventual deferimento de registro
de candidatura contrário à ordem jurídica.
Vale destacar que o Plenário do STF reconheceu que o Ministério Público Eleitoral possui legitimidade para
recorrer de decisão que deferiu registro de candidatura, mesmo que não tenha apresentado impugnação ao
pedido inicial desse registro (STF. Plenário. ARE 728188/RJ. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
18/12/2013 (Info 733).

4) A ação tramita em segredo de justiça?


A ação de impugnação de registro de candidatura não tramita em segredo de justiça. Essa imposição é apenas
para a AIME (ação de impugnação de mandato eletivo), conforme art. 14 da Constituição Federal.

Administrativo: FERNANDO RODRIGUES MARTINS

1) Qual é o valor fundamental previsto na CF que dá ensejo a consensualidade entre os órgãos da


Administração Pública? FUNDAMENTO É UMA COISA FONTE É OUTRA (reiterou bem essa diferença).
O valor fundamental que dá ensejo à consensualidade na Administração Pública é a busca pela eficiência e
celeridade.

2) Quais as formas de consensualidade que são possíveis na Administração Pública?


A consensualidade está relacionada a uma busca de mecanismos informais de autocomposição de resolução de
conflitos na Administração Pública. Um exemplo, é a previsão na lei de parceria público-privada da resolução dos
conflitos por meio da arbitragem (art. 11).

3) É possível dizer que no ponto de vista da privatização a consensualidade é um modo de dar


concretização aos serviços públicos?
A privatização é uma prestação dos serviços públicos por particulares, pelo que há uma consensualidade com o
Poder Público para tanto.
4) O MPMG tem uma excelente forma de regulação. É importante perceber que o PGJ tem uma pujança
normativa para toda a sociedade mineira. Vc pode me situar qual é este dentro do MP? (não entendi)

5) Quais os princípios do direito regulatório?


Art. 170 CF: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos
produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte.
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham
sua sede e administração no País.

6) Na CF tem os princípios específicos. A legislação também tem os seus específicos próprios, eu


gostaria de saber destes.
A legislação prevê princípios específicos para o direito do consumidor e ao meio ambiente (não sei se era essa a
resposta que ele queria).

7) Há possibilidade de se aplicar o CDC nessas circunstâncias? (se relaciona com a questão acima)
O CDC é aplicável, considerando que a ordem econômica deve observar a defesa do consumidor. Assim, são
aplicáveis os princípios do CDC:
PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO OBJETIVA
PRINCÍPIO DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
PRINCÍPIO "VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM"
PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DO CONTRATO
PRINCÍPIO DA MODIFICAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DESPROPORCIONAIS
PRINCÍPIO DA EQUIDADE NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
PRINCÍPIO DA HARMONIA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA
8) O que é consensualidade na AP? Só do ponto de vista formal? (resposta 2)

9) Paradigma do direito. Eles conversam entre si, um não mata outro. Os paradigmas atuais da AP dizem
respeito a processualidade e consensualidade, a vista disso, pode-se dizer que a consensualidade está
ligada ao direito regulatório?
A consensualidade está ligada ao direito regulatório.

10) Qual a característica desse marco regulatório?


Princípio da eficiência.

11) O que seria disponível? O exercício que é disponível, e não a prestação do direito em si.
O interesse público não é disponível. O que é disponível é o exercício desse interesse público e não a prestação
do serviço público em si.

12) Como se situa o princípio da eficiência na AP?


Candidato: O princípio da eficiência é a produção mais efetiva, gastando menos com isso”.
Fernando Martins corrigiu o candidato: “O princípio da eficiência é o melhor exercício das missões públicas, não
importando o preço”.

13) Como escalonar a prestação do serviço público dentro da teoria da norma? É um direito? É um dever?
A prestação do serviço público é direito fundamental do indivíduo, prevista constitucionalmente. Em relação ao
Estado, a prestação do serviço público é um dever fundamental, pelo que não pode ter uma interrupção do
serviço sem uma causa subjacente (Fernando Martins).

14) Que tipo de direito é o direito de produção de normas? Um direito autônomo (Kelsen), autossuficiente,
responsivo (de transformação social – Estado providência) ou reflexivo (todos fazem norma)?
Direito reflexivo – cada setor faz sua norma. Como por exemplo, o setor de prestação de serviço de água, o qual
deve fazer a sua norma (Fernando Martins).

GRUPO TEMÁTICO II

Penal: ANDRÉ UBALDINO


Concurso de pessoas

1) Concurso de pessoas. Considerada a natureza acessória da participação, qual a teoria adotada no


Brasil neste respeito e suas consequências.
A participação é a conduta do partícipe, a qual tem natureza acessória, pois não realiza o núcleo do tipo penal.
Há diversas teorias acerca da acessoriedade, formuladas com base em seus graus:
a) acessoriedade mínima: para a punibilidade da participação é suficiente tenha o autor praticado um fato típico.
Exemplo: “A” contrata “B” para matar “C”. Depois do acerto, “B” caminha em via pública, e, gratuitamente, é
atacado por “C”, vindo por esse motivo a matá-lo em legítima defesa. Para essa teoria, “A” deveria ser punido
como partícipe.
Essa concepção deve ser afastada, por implicar na equivocada punição do partícipe quando o autor agiu
acobertado por uma causa de exclusão da ilicitude, ou seja, quando não praticou uma infração penal.
b) acessoriedade limitada: é suficiente, para a punição do partícipe, tenha o autor praticado um fato típico e
ilícito.
Exemplo: “A” contrata “B”, inimputável, para matar “C”. O contratado cumpre sua missão. Estaria presente o
concurso de pessoas, figurando “B” como autor e “A” como partícipe do homicídio.
É a posição preferida pela doutrina pátria.
Não resolve, todavia, os problemas inerentes à autoria mediata. Na autoria mediata, a execução do crime é feita
por pessoa que atua sem culpabilidade. Aquele que induziu, instigou ou auxiliou não é partícipe, e, sim, autor
mediato. A teoria da acessoriedade limitada só tem cabimento entre os que repudiam a autoria mediata,
considerando-a uma modalidade de participação.
No exemplo, inexiste concurso entre “A” e “B” (inimputável), em face da ausência de vínculo subjetivo.
c) acessoriedade máxima ou extrema: reclama, para a punição do partícipe, tenha sido o fato típico e ilícito
praticado por um agente culpável.
Exemplo: “A” contrata “B”, imputável, para dar
cabo à vida de “C”, o que vem a ser fielmente concretizado. “B” é autor do crime de homicídio, e
“A”, partícipe.
O grau de acessoriedade da participação é, portanto, o grau máximo – é preciso que a conduta principal seja
típica, ilícita e também culpável. Sempre que faltar um desses atributos na ação empreendida pelo agente
imediato, desaparecerá a participação, surgindo a figura do autor mediato.
d) hiperacessoriedade: para a punição do partícipe, é necessário que o autor, revestido de culpabilidade,
pratique um fato típico e ilícito, e seja efetivamente punido no caso concreto.
Destarte, se “A” contratou “B” para matar “C”, no que foi atendido, mas o executor, logo após o crime, suicidou-se,
não há falar em participação, em decorrência da aplicação da causa de extinção da punibilidade contida no art.
107, I, do Código Penal.
Essa teoria faz exigência descabida, permitindo em diversas hipóteses a impunidade do partícipe, embora o autor,
com ele vinculado pela unidade de elemento subjetivo, tenha praticado uma infração penal.
2) Requisitos exigíveis para a caracterização do concurso de pessoas no direito brasileiro.
O concurso de pessoas caracteriza-se por ser a colaboração empreendida por duas ou mais pessoas para a
realização de um crime ou de uma contravenção penal.
Apresenta 05 requisitos:
- pluralidade de agentes culpáveis;
- relevância causal das condutas para a produção do resultado;
- vínculo subjetivo;
- unidade de infração penal;
- fato punível.

3) Teoria adotada para o concurso de agentes. O brasil se rende a outras teorias, excepcionalmente?
Quais são elas? Dê exemplos de adoção dessas teorias excepcionais.
Para a caracterização do concurso de pessoas, adotou-se, como regra, a teoria unitária, monística ou monista:
quem concorre para um crime, por ele responde.7 Todos os coautores e partícipes se sujeitam a um único tipo
penal: há um único crime com diversos agentes. Assim, se 10 (dez) pessoas, com unidade de desígnios,
esfaqueiam alguém, tem-se um crime de homicídio, nada obstante existam 10 (dez) coautores.
Excepcionalmente, contudo, o Código Penal abre espaço para a teoria pluralista, pluralística, da cumplicidade
do crime distinto ou autonomia da cumplicidade, pela qual se separam as condutas, com a criação de tipos penais
diversos para os agentes que buscam um mesmo resultado. É o que se dá, por exemplo, nos seguintes crimes:
- aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante: ao terceiro executor imputa-se o crime
tipificado no art. 126, enquanto para a gestante incide o crime previsto no art. 124, in fine;
- bigamia: quem já é casado pratica a conduta narrada no art. 235, caput, ao passo que aquele que, não sendo
casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, incide na figura típica prevista
no § 1.º do citado dispositivo legal;
- corrupção passiva e ativa: o funcionário público pratica corrupção passiva (art. 317), e o particular, corrupção
ativa (art. 333); e
- falso testemunho ou falsa perícia: testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete que faz afirmação falsa,
nega ou cala a verdade em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral pratica o
crime delineado pelo art. 342, caput, e quem dá, oferece ou promete dinheiro ou qualquer outra vantagem a tais
pessoas, almejando aquela finalidade, incide no art. 343, caput.

4) O que é o princípio da exterioridade em relação ao concurso de pessoas?


O concurso de pessoas depende da punibilidade de um crime, a qual requer, em seu limite mínimo, o início da
execução. Tal circunstância constitui o princípio da exterioridade.

5) Segundo o CPP e outras teorias que tratam do assunto, quem é autor para o Direito?
Há várias teorias para definir o autor:

a) teoria subjetiva ou unitária: não diferencia o autor do partícipe. Autor é aquele que de qualquer modo
contribuir para a produção de um resultado penalmente relevante. Seu fundamento repousa na teoria da
equivalência dos antecedentes ou conditio sine qua non, pois qualquer colaboração para o resultado,
independente do seu grau, a ele deu causa. Essa teoria foi adotada pelo Código Penal, em sua redação primitiva
datada de 1940.

b) teoria extensiva: também se fundamenta na teoria da equivalência dos antecedentes, não distinguindo o autor
do partícipe.
É, todavia, mais suave, porque admite causas de diminuição da pena para estabelecer diversos graus de autoria.
Aparece nesse âmbito a figura do cúmplice: autor que concorre de modo menos
importante para o resultado.

c) teoria objetiva ou dualista: opera nítida distinção entre autor e partícipe. Foi adotada pela Lei 7.209/1984 –
Reforma da Parte Geral do Código Penal, como se extrai do item 25 da Exposição de Motivos: Sem completo
retorno à experiência passada, curva-se, contudo, o Projeto aos críticos desta teoria, ao optar, na parte final do
art. 29, e em seus dois parágrafos, por regras precisas que distinguem a autoria da participação. Distinção, aliás,
reclamada com eloquência pela doutrina, em face de decisões reconhecidamente injustas.
Essa teoria subdivide-se em outras três:

c.1) teoria objetivo-formal: autor é quem realiza o núcleo (“verbo”) do tipo penal, ou seja, a conduta criminosa
descrita pelo preceito primário da norma incriminadora. Por sua vez, partícipe é
quem de qualquer modo concorre para o crime, sem praticar o núcleo do tipo.
Exemplo: quem efetua disparos de revólver em alguém, matando-o, é autor do crime de homicídio. Por sua vez,
aquele que empresta a arma de fogo para essa finalidade é partícipe de tal crime.
Destarte, a atuação do partícipe seria impune (no exemplo fornecido, a conduta de auxiliar a matar não encontra
correspondência imediata no crime de homicídio) se não existisse a norma de extensão pessoal prevista no art.
29, caput, do Código Penal. A adequação típica, na participação, é de subordinação mediata.
Nesse contexto, o autor intelectual, é dizer, aquele que planeja mentalmente a conduta criminosa, é partícipe, e
não autor, eis que não executa o núcleo do tipo penal.
Essa teoria é a preferida pela doutrina nacional e tem o mérito de diferenciar precisamente a autoria da
participação. Falha, todavia, ao deixar em aberto o instituto da autoria mediata (é a modalidade de autoria em que
o autor realiza indiretamente o núcleo do tipo, valendo-se de pessoa sem culpabilidade ou que age sem dolo ou
culpa).

c.2) teoria objetivo-material: autor é quem presta a contribuição objetiva mais importante para a produção do
resultado, e não necessariamente aquele que realiza no núcleo do tipo penal. De seu turno, partícipe é quem
concorre de forma menos relevante, ainda que mediante a realização do núcleo do tipo.

c.3) teoria do domínio do fato: criada em 1939, por Hans Welzel, com o propósito de ocupar posição
intermediária entre as teorias objetiva e subjetiva. Para essa concepção, autor é quem possui controle sobre o
domínio final do fato, domina finalisticamente o trâmite do crime e decide acerca da sua prática, suspensão,
interrupção e condições. De fato, autor é aquele que tem a capacidade de fazer continuar e de impedir a conduta
penalmente ilícita.

Obs: O art. 29, caput, do Código Penal, acolheu a teoria restritiva, no prisma objetivo-formal. Em verdade,
diferencia autor e partícipe. Aquele é quem realiza o núcleo do tipo penal; este é quem de qualquer modo
concorre para o crime, sem executar a conduta criminosa. A teoria deve, todavia, ser complementada pela teoria
da autoria mediata.
Contudo, é preciso destacar que no julgamento da Ação Penal 470 – o famoso caso do “mensalão” – alguns
ministros do STF se filiaram à teoria do domínio do fato. Essa teoria também ganhou força com a edição da Lei
12.850/2013 – Lei do Crime Organizado, mais especificamente em seu art. 2.º, § 3.º: “A pena é agravada para
quem exerce o comando, individual ou coletivo, da
organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução”.

6) Cooperação dolosamente distinta: o que significou sua incorporação entre nós e o que significa.
Também chamada de “desvios subjetivos entre os agentes” ou “participação em crime menos grave”, está
descrita pelo art. 29, § 2.º, do Código Penal: “Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,
ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a 1/2 (metade), na hipótese de ter sido previsível
o resultado mais grave”.
1.ª parte: Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste.
Essa regra constitui-se em corolário lógico da teoria unitária ou monista adotada pelo art. 29, caput, do Código
Penal. Destina-se, ainda, a afastar a responsabilidade objetiva no concurso de pessoas.
2.ª parte: Essa pena será aumentada até a 1/2 (metade), na hipótese de ter sido previsível o resultado mais
grave.
Quando o crime mais grave não era previsível a algum dos concorrentes, ele responde somente pelo crime
menos grave, sem qualquer majoração da pena. Agora, ainda que fosse o crime mais grave previsível àquele que
concorreu exclusivamente ao crime menos grave, subsistirá apenas em relação a este a responsabilidade penal.
Por se tratar, contudo, de conduta mais reprovável, a pena do crime menos grave poderá ser aumentada até a ½
(metade).
Essa previsibilidade deve ser aferida de acordo com o juízo do homem médio, ou seja, o resultado mais grave
será previsível quando a sua visão prévia era possível a um ser humano dotado de prudência razoável e
inteligência comum.

Processo Penal: ROGÉRIO FILIPPETTO

1) Fundamentos da condução coercitiva.


Consoante disposto no art. 260 do CPP, se o acusado não atender à intimação para o interrogatório,
reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar
conduzi-lo à sua presença.
Conquanto não listada no rol das medidas cautelares diversas da prisão dos arts. 319 e 320 do CPP, a condução
coercitiva também funciona como medida cautelar de coação pessoal.
Por meio dela, o acusado (ou investigado) é privado de sua liberdade de locomoção pelo lapso temroral
necessário para ser levado à presença da autoridade judiciária (ou administrativa) e participar de ato processual
penal (ou administrativo da investigação preliminar), no qual sua presença seja considerada imprescindível.

2) Há possibilidade de que seja feita sem prévia intimação? O fundamento não se confunde com o da
prisão temporária ou da preventiva?
Questão desatualizada de acordo com o novo entendimento do STF quanto à condução coercitiva:

O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:


Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que,
sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi recepcionada pela
Constituição Federal. Assim, não se pode fazer a condução coercitiva do investigado ou réu com o objetivo de
submetê-lo ao interrogatório sobre os fatos.
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906).

Fundamentos: https://www.dizerodireito.com.br/2018/08/operacoes-policiais-nos-ultimos-anos.html

3) A autoridade policial pode oferecer representação para a decretação da prisão preventiva?


Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.

4) Pensando num reflexo das condições da ação penal, teria a autoridade policial capacidade
processual?
A capacidade processual consiste

5) O juiz pode decretar a prisão preventiva só com base na representação policial?


Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.

6) A polícia militar pode fazer essa representação para prisão preventiva?


Não. A legitimidade é do Ministério Público, do querelante ou assistente ou representação da Autoridade Policial.
Contudo, a polícia militar pode fazer o pedido aos legitimados, para que estes, analisando o caso concreto,
decidam pelo requerimento.

7) O senhor, como promotor, recebe uma representação pela prisão preventiva do comandante-geral da
Polícia Militar. E o juiz só recebe com vista. Como o senhor se manifesta?
Considerando que o Comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais tem foro por prerrogativa de função no
Tribunal de Justiça (art. 106, I, “b” da Constituição do Estado de MG), como promotor de justiça me manifestaria
pela remessa dos autos ao Procurador-geral de Justiça para manifestação quanto à prisão preventiva.

8) O que se entende por ordem pública?


Não se tem um conceito exato do significado da expressão ordem pública, o que tem levado a oscilações
doutrinárias e jurisprudenciais quanto ao seu real significado.
Para a maioria, a decretação da preventiva com base na ordem pública objetiva evitar que o agente continue
delinquindo no transcorrer da persecução criminal. A ordem pública é expressão de tranquilidade e paz no seio
social. Em havendo risco demonstrado de que o infrator, se solto permanecer, continuará delinquindo, é sinal de
que a prisão cautelar se faz necessária, pois não se pode esperar o trânsito em julgado da sentença
condenatória.
O Ministro Gilmar Mendes tem destacado as seguintes circunstâncias principais quanto ao requisito da garantia
da ordem pública:
1) a necessidade de resguardar a integridade física ou psíquica do paciente ou de terceiros;
2) o objetivo de impedir a reiteração das práticas criminosas, desde que lastreado em elementos concretos
expostos fundamentadamente no decreto de custódia cautelar;
3) associada aos dois elementos anteriores, para assegurar a credibilidade das instituições públicas, em especial
do poder judiciário, no sentido da adoção tempestiva de medidas adequadas, eficazes e fundamentadas quanto à
visibilidade e transparência da implementação de políticas públicas de persecução criminal e desde que
diretamente relacionadas com a adoção tempestiva de medidas adequadas e eficazes associadas à base
empírica concreta que tenha ensejado li custódia cautelar.

9) Dê exemplos de atos contrários à ordem pública.


Reiteração de crimes, violação à integridade física da vítima.

10) A repercussão do crime/clamor público poderia configurar vulnerabilidade da ordem pública?


Não será possível a decretação da prisão preventiva em virtude da repercussão da infração ou do clamor social
provocado pelo crime, isoladamente considerados. Tais argumentos, de per si, não são justificativas para a tutela
penal cautelar. Afirmações a respeito da gravidade do delito trazem aspectos já subsumidos ao próprio tipo penal,
ou seja, aspectos como a gravidade em abstrato do delito, o clamor social provocado pelo delito, ou a
necessidade de segregação cautelar do agente como forma de se acautelar o meio social devem permanecer
alheios à avaliação dos pressupostos da prisão preventiva, mormente para garantia da ordem pública, pois
desprovidos de propósito cautelar.
Nessas hipóteses de clamor público e repercussão social do fato delituoso, não se vislumbra periculum libertatis,
eis que a prisão preventiva não seria decretada em virtude da necessidade do processo, mas simplesmente em
virtude da gravidade abstrata do delito, satisfazendo aos anseios da população e da mídia. Não custa lembrar: o
poder judiciário está sujeito à lei e, sobretudo ao direito, e não à opinião da maioria, facilmente manipulada pela
mídia.
11) E a possibilidade de reincidência?
De acordo com a doutrina majoritária, pode ser um dos fundamentos da decretação da prisão preventiva com
base na ordem pública.

12) Lei maria da pena tem sistema próprio de medidas protetivas. É lei especial em relação ao CPP. É
possível aplicar medida cautelar diversa da prisão nos casos da Lei maria da Penha, dispensando as
medidas protetivas?
É possível aplicar medida cautelar diversa da prisão nos casos da Lei maria da Penha, dispensando as medidas
protetivas. De acordo com o art. 22, § 1º da Lei Maria da Penha, “as medidas protetivas referidas neste artigo não
impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as
circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público”.
Dessa forma, vige o princípio da atipicidade das medidas protetivas de urgência, pelo que o magistrado pode se
valer, em cada caso concreto, da medida que reputar mais adequada, necessária e proporcional para alcançar o
resultado almejado, seja ela prevista na Lei nº 11.340/06, no CPP (arts. 319 e 320) ou mesmo que não esteja
prevista em lei, valendo-se do seu poder geral de cautela (art. 297 do CPC).

13) Se não houver respeito às medidas protetivas, pode-se decretar a prisão preventiva?
Sim. De acordo com o art. 282, § 4º do CPP, o descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
de outras medidas cautelares, dentre elas as medidas protetivas, pode ensejar o decreto de prisão preventiva.
Uma vez descumprida, percebe-se que a medida cautelar não se revelar adequada ou suficiente ao caso,
admitindo-se a sua substituição ou cumulação com outra, ou em último caso, a decretação da preventiva.

14) Pode haver prisão preventiva independentemente de medida protetiva (decretar diretamente a
preventiva)?
Sim, desde que presentes os requisitos da prisão preventiva: o fumus comissi delicti, consubstanciado pela prova
da materialidade e indícios suficientes de autoria e o periculum lilbertatis, demonstrato com o perigo de liberdade
do preso (requisitos do art. 312 do CPP).

15) Mesmo que a pena máxima cominada ao crime seja inferior a 4 anos?
É possível a decretação da prisão preventiva mesmo que a pena máxima cominada ao crime seja inferior a 4
anos, nas demais hipóteses do art. 313 do CPP:

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

16) O recolhimento domiciliar noturno é modalidade de prisão?


O recolhimento domiciliar é uma medida cautelar diversa da prisão, prevista no art. 319, V do CPP.
A medida cautelar de recolhimento domiciliar apenas no período noturno e nos dias de folga deve ser adotada
quando o juiz entender que, apesar de ser cabível a prisão preventiva, sua decretação não é necessária, porque a
medida cautelar do art. 319, V, do CPP, já seria suficiente para produzir o mesmo resultado.

17) Juiz decreta a preventiva, por acreditar ser medida de urgência, e só dá vista ao MP posteriormente,
no curso da investigação. Agiu com acerto o juiz?
Quanto a essa questão, há divergência na doutrina. Isso porque, de acordo com o art. 310, II, do CPP, verificada
a legalidade da prisão em flagrante, o juiz poderá fundamentadamente converter a prisão em flagrante em
preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão, hipótese em que deverá ser expedido um mandado de
prisão.
Assim, para uma primeira corrente, o juiz pode converter o flagrante em preventiva de ofício.
Contudo, para uma segunda corrente, na qual se filia Renato Brasileiro, não é possível que o juiz determine de
ofício a imposição de medidas cautelares de natureza pessoal, aí incluída a prisão, durante a fase pré-processual,
mas somente na fase processual, sob pena de evidente violação ao sistema acusatório.
Destoa das funções do magistrado exercer qualquer atividade de oficio na fase investigatória que possa
caracterizar uma colaboração à acusação. O que se reserva ao magistrado, na fase investigatória, é atuar
somente quando for provocado, tutelando liberdades fundamentais como a inviolabilidade domiciliar, a vida
privada e a intimidade, assim como a liberdade de locomoção.
Portanto, o art. 310, II, do CPP, deve ser interpretado sistematicamente com o art. 306, caput, do CPP, que inseriu
no CPP a comunicação da prisão em flagrante ao Ministério Público, e com o arts. 282, § 2°, e 311, que preveem
que, na fase investigatória, ao juiz só é dado decretar uma medida cautelar se for provocado nesse sentido.
Enfim, a conclusão a que se chega é a de que o Ministério Público deve se apresentar em juízo para reivindicar a
decretação da prisão preventiva (ou temporária), caso entenda necessária a manutenção da privação da
liberdade do acusado, ou, ainda, no sentido da imposição de medida cautelar diversa da prisão.

GRUPO TEMÁTICO III

Direito Civil

1) Elementos estruturantes do ato ilícito.


O ato ilícito é tratado no art. 186, do CC/02, o qual determina que aquele que por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência violar direito e causar dano a outrem comete ato ilícito. Tal descrição refere-se ao ato
ilícito civil puro.
Da analise do refeito artigo e também consoante lecionam Pablo Stolze e Flávio Tartuce, o ato ilícito é constituído
pela violação de um direito (dever) e pelo dano. A expressão “violar direito E causar dano” é muito importante,
pois o código de 1916 falava em “violar direito OU causar dano”. O código civil atual exige que a ação produza
algum resultado, cause dano, para ser considerado ato ilícito. Se não houver dano, a priori, não há falar em ato
ilícito ou dever de indenizar. (art. 927, caput).

2) Conceitue abuso de direito.


Trata-se de ato ilícito equiparado. Nos termos do art. 187, do CC/02, também comete ato ilícito o titular de um
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
fé ou pelos bons costumes.
Trata-se exercício irregular ou imoderado de um direito que tem 3 parâmetros de configuração: fim econômico ou
social, boa-fé e bons costumes. Nas palavras de Rubens Limongi França: “O abuso de direito seria lícito quanto
ao conteúdo e ilícito quanto às consequências.” Ou seja, a ilicitude está na forma de execução do ato. Exemplos
de abuso de direito: Publicidade abusiva (art. 37 do CDC) Ex2: abuso no processo (arts. 79 e 80 do CPC) Ex3:
Abuso no exercício da propriedade ou ato emulativo (aemulatio) – art. 1228 e 1277 do CC.
Importante mencionar que a responsabilidade decorrente de abuso de direito independe de culpa, nos termos do
Enunciado 37 da I jornada de direito civil. Trata-se de responsabilidade objetiva.

3) Conceitue dano moral.


A respeito dos danos morais, existem duas grandes correntes conceituais. A primeira corrente, majoritária, afirma
que os danos morais são lesões aos direitos da personalidade, que podem ocorrer em detrimento tanto de
pessoas naturais quanto pessoas jurídicas (artigo 52 do CC/02 e enunciado 227 da Súmula do STJ). Os danos
morais de pessoas jurídicas só atingem sua honra objetiva (reputação social). É o entendimento também dos
paulistas Rubens Limongi França, Carlos Alberto Bittar e Maria Helena Diniz. Já a segunda corrente, minoritária,
afirma que os danos morais são lesões à dignidade humana, tendo como adeptos Gustavo Tepedino e Cristiano
Chaves. Tecnicamente, o professor Pablo Stolze considera a primeira melhor. Nesse sentido, a súmula 227 do
STJ permite o dano moral à pessoa jurídica. Se a pessoa jurídica pode sofrer dano moral, significa que tem
direitos da personalidade. E, no atual estágio do Direito Privado, pessoa jurídica não tem dignidade da pessoa
humana. Também reforçando essa conclusão, CC/02, art. 52. “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a
proteção dos direitos da personalidade." Pessoa jurídica tem honra, imagem e sigilo, exemplos de direitos da
personalidade.

4) Dano exclusivamente moral pode ser indenizado?


É perfeitamente possível que a indenização se dê por dano exclusivamente moral, nos termos do já citado art.
186, do CC/02. Com efeito, aquele que voluntariamente ou por negligência ou imprudência causar dano moral a
outrem comete ato ilícito e, consequentemente, é obrigado a indenizar, nos termos do art. 927, do mesmo diploma
legal.
No Código Civil de 1916 havia menção apenas ao gênero dano e não à espécie, se material ou imaterial, se
patrimonial ou moral. Isso fez com que a jurisprudência relutasse em reconhecer o dano moral. Somente após a
promulgação da Constituição Federal em 1988, a controvérsia esvaeceu. O artigo 5º da Lei Maior consagra
literalmente a existência do dano moral na esfera jurídica brasileira, não trazendo o Código de 2002 grande
novidade.

5) O senhor vê alguma modificação na responsabilidade dos pais dos filhos menores, considerando que a
guarda compartilhada atualmente é obrigatória, praticamente?
Consoante dispõe o art. 932, do CC/02, são responsáveis pela reparação civil os pais, pelos filhos menores que
estiverem sob sua autoridade e em sua companhia, dispondo o dispositivo seguinte, qual seja, o art. 933, que a
responsabilidade independe de culpa dos genitores. Percebe-se, assim, que a responsabilidade dos pais pelos
ilícitos cometidos pelos filhos menores é primária e objetiva, recaindo sobre o menor apenas subsidiariamente.
Embora existissem vozes contrárias no sentido de que a responsabilidade ora tratada tinha como fundamento o
poder familiar, a doutrina se sedimentou no sentido de que a responsabilidade pelos atos dos filhos era de quem
possuísse a guarda.
Tal entendimento, contudo, mereceu uma revisitação, de molde a analisá-lo à luz da Constituição. O afastamento
do posicionamento defendido pelos doutrinadores pátrios justificou-se diante da prevalência de um novo direito
civil constitucional, na medida em que, inserido no capítulo destinado à família, à criança e ao adolescente, o art.
227 da Constituição Federal estabelece ser dever da família “assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade” o direito à educação.
Por outro lado, assevera o art. 205 da mesma Carta Constitucional que a educação é dever da família, “visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania”. Outrossim, no art. 229 da
Magna Carta encontra-se o sagrado dever dos pais em assistir, criar e educar os filhos menores, de maneira que
as funções exercidas pelos pais representam verdadeiro múnus público.
Assim, o comando insculpido no texto constitucional levou à reflexão sobre como haveria de ser a educação dos
infantes “com absoluta prioridade” por parte dos pais. Levando-se em consideração que inexistem palavras inúteis
na lei, o dever dos pais de educar “com absoluta prioridade” os infantes não se coaduna com a possibilidade de
exclusão de responsabilidade do genitor que não detém a guarda pelo tão-só argumento de que não tinha o filho
em sua companhia.
A guarda compartilhada, instituída pela Lei n. 11.698/2008, que deu nova redação aos arts. 1.583 e 1.584 do
Código Civil em vigor, na dicção do parágrafo primeiro do art. 1.583, compreende ela “a responsabilização
conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao
poder familiar dos filhos comuns”, de maneira que a responsabilidade de ambos os pais restou expressa, o que
veio confirmar o entendimento alhures exposto.
De qualquer modo, no meu entendimento, mesmo a guarda unilateral, não tem o condão de eximir o não
guardião do dever de educar sua prole “com absoluta prioridade”, desde que não esteja ele privado do poder
familiar, quer por suspensão, quer por destituição judicial daquele poder.
Portanto, o dever dos pais, de responder pelos atos dos filhos menores, deve estar fundado no poder familiar,
outrora denominado pátrio poder, e não simplesmente na convivência sob o mesmo teto, ou seja, no fato de ter o
filho “em sua companhia” por ocasião do ilícito, afinal, não sendo destituído do poder familiar, embora separado
ou divorciado, mantém-se o sagrado dever de assistir, criar e educar os filhos.

6) O senhor faz alguma distinção na emancipação para efeito de responsabilidade civil?


Existe ampla divergência doutrinária acerca do tema, podendo-se distinguir três principais posicionamentos, são
eles: 01. Haverá responsabilidade dos pais caso a emancipação seja voluntária; 02. Haverá responsabilidade dos
pais ainda que os filhos sejam emancipados, qualquer que seja a sua forma; 03. Total irresponsabilidade dos pais.
Para Maria Helena Diniz (adepta da primeira corrente, a qual é majoritária) a emancipação se equipara à
maioridade e com ela cessa o poder familiar. Portanto, os pais não seriam mais responsabilizados, salvo na
hipótese do inciso I, do artigo 5º, do Código Civil/2002, na qual cabe responsabilidade solidária entre os pais e o
filho por se tratar de emancipação voluntária, concedida pelos genitores. O casamento (inciso II do artigo 5º do
Código Civil de 2002) gera o fim da incapacidade civil porque o menor constitui nova família, demonstrando, em
tese, a maturidade inerente. O exercício de emprego público (inciso III) indica o discernimento necessário para a
subsistência. A colação de grau em curso de ensino superior (inciso IV), o trabalho em estabelecimento civil ou
comercial ou a existência de emprego em que o menor tenha conseguido fazer economia própria (inciso V),
também caracterizam poder de administração para com sua vida. Todas são hipóteses legais e não há o que se
falar em responsabilidade dos pais.

7) Existe alguma influência da emancipação legal? (referência à pergunta anterior)


Como mencionado na resposta anterior, podendo-se distinguir três principais posicionamentos, são eles: 01.
Haverá responsabilidade dos pais caso a emancipação seja voluntária; 02. Haverá responsabilidade dos pais
ainda que os filhos sejam emancipados, qualquer que seja a sua forma; 03. Total irresponsabilidade dos pais.
Também como dito acima, apesar de existirem essas três correntes, prevalece o entendimento segundo o qual
nas hipóteses de emancipação legal não subsistirá a responsabilidade dos pais.
8) Quem será responsabilizado em caso de emancipação legal?
O próprio emancipado, já que tais hipóteses, legalmente previstas, indicam maturidade e capacidade de
administração da própria vida, afastando-se a responsabilidade dos pais, nos moldes do art. 932, do CC/02,
consoante entendimento majoritário.

9) O que seria nexo de causalidade?


Nexo de causalidade pode ser conceituado como o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a
conduta e o resultado. No âmbito do direito civil, o nexo de causalidade é elemento indispensável em qualquer
espécie de responsabilidade civil, sendo certo que estabelece o vínculo entre um determinado comportamento e
um evento, permitindo concluir, com base nas leis naturais, se a ação ou omissão do agente foi ou não a causa
do dano. Determina se o resultado surge como consequência natural da voluntária conduta do agente. Em suma,
o nexo causal é um elemento referencial entre a conduta e o resultado. É através dele que poderemos concluir
quem foi o causador do dano.
É entendimento pacífico em doutrina que o Código Civil Brasileiro adotou a teoria da causalidade adequada já
conhecida do Direito Penal. Por tal teoria somente causas ou condutas relevantes para a produção do dano são
capazes de gerar o dever de indenizar.
a) Efeitos da emancipação na responsabilidade civil.
(JÁ RESPONDIDAS ACIMA, SMJ.)

Processo Civil: ADRIANO CARDOSO DA SILVA

1) Diferença do uso da tutela de evidência para o julgamento parcial de mérito.

Em primeiro lugar, observa-se que a tutela de evidência consagra a possibilidade da antecipação do bem da vida
disputado em juízo, sem urgência, para a parte requerente, antes do aprofundamento dos debates no processo. A
lei atende à necessidade de se distribuir adequadamente os ônus da demora do processo, concedendo ao autor o
bem da vida disputado em juízo enquanto o processo aguarda solução final. Para que isso ocorra, é necessário
que a conduta do réu se mostre temerária no processo ou que o direito do autor se apresente robustamente
quanto a fatos ou se apoie em precedentes vinculantes. É isso que determina o art. 311:

“A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo


de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: I – ficar caracterizado o
abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte; II – as
alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III – se tratar de
pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de
depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa; IV – a petição inicial for instruída com prova documental
suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova
capaz de gerar dúvida razoável”.

Em segundo lugar, o Novo CPC positivou os chamados julgamentos antecipados parciais de mérito, que
permitem que o juiz resolva definitivamente parte do conflito, ainda que depois tenha que prosseguir com a
restante da causa. A ideia da lei é permitir o julgamento antecipado daquela parte do processo “pronta para
julgamento”, porque preenchidos os requisitos do art. 355, enquanto o processo prossegue para debater a
restante.

Não falamos aqui de tutelas provisórias, que comportam juízo provisório e de cognição sumária, e que nascem e
aguardam futura revogação ou confirmação pela sentença de mérito, não sendo aptas a produzirem coisa
julgada. Pelo contrário, são efetivos julgamentos de mérito que, muito embora não atinjam todos os pedidos
formulados no processo, têm natureza definitiva e aptidão para produzir coisa julgada material. Assim o art. 356:

“O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou


parcela deles: I – mostrar-se incontroverso; II – estiver em condições de imediato
julgamento, nos termos do art. 355”.

2) Quais são as hipóteses de ocorrência da dinamização do ônus da prova?


Em regra a distribuição do ônus da prova é rígida e estática, ou seja, parte da premissa de que os litigantes, após
a fase postulatória, se encontram cientes dos fatos que hão de ser provados, bem como o que cada um deverá se
encarregar de provar. Humberto Theodoro Júnior exemplifica de forma sintética:

"Dentro desse sistema legal, a partilha do ônus de provar é muito simples: (i) ao
autor cabe a prova do fato constitutivo do seu direito; e (ii) ao réu, incumbe provar a
existência de fato que impeça, modifique ou extinga o direito do autor1."

Contudo, é sabido que não são raros os casos em que a parte encarregada por provar não possua condições
favoráveis para tal, de maneira que se dificulte a busca pela solução mais justa do conflito. Desta forma, a lei
13.105/15 inova e admite o afastamento da rigidez da partilha estática do ônus legal da prova, flexibilizando, e
criando o que a doutrina denomina de teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova. Os parágrafos 1º e 2º do
artigo 373 da nova lei abarcam, reconhecem e regulam de forma expressa os casos em que pode ocorrer
modificação legal ou judicial das regras trazidas nos incisos do artigo acima citado. Vejamos.

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


(...) § 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas
à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput
ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o
ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
§ 2º A decisão prevista no §1º deste artigo não pode gerar situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.
§ 3º A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das
partes, salvo quando:
I - recair sobre direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
§ 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser celebrada antes ou durante o processo.

O parágrafo primeiro expõe que o magistrado terá que decidir previamente sobre a atribuição do ônus probandi,
determinando e criando condições para que a parte efetivamente se desincumba do respectivo ônus, com as
condicionantes do parágrafo segundo. Ou seja, não podendo "gerar situação em que a desincumbência do
encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil."

Já o parágrafo terceiro reproduz o parágrafo único do artigo 333 da lei processual civil de 1973, tratando da
distribuição convencional do ônus probatório. E, por fim, o parágrafo quarto inova ao admitir a realização da
convenção entre as partes, podendo, ainda, ser celebrada antes ou durante o trâmite do processo. Com a
incidência do parágrafo quarto, tal dispositivo acabará coadunando de forma intensa com a possibilidade das
partes realizarem negócios processuais, em conformidade com o artigo 190 do novo Codex.

3) Cabe recurso contra quem foi imputado o ônus da prova?


Insta frisar que da decisão que dinamiza o ônus da prova, com fundamento no art. 373, §1º, cabe o recurso de
Agravo de Instrumento, como se vê no inciso XI do art. 1015 do CPC de 2015.

4) Na hipótese de constatação pelo réu pela ocorrência de ilegitimidade passiva, qual o procedimento
deve ele adotar no momento da resposta?
Nos termos do novo CPC, quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação
jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar
o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.
Antes tida como espécie de intervenção de terceiros (nomeação à autoria), tal modalidade passou a ser defesa
preliminar a ser suscitada pelo réu.

DIERLE

5) É possível a utilização de uma tutela provisória para execução imediata de uma decisão de primeiro
grau (quebrar o duplo efeito)?
Sim, se a tutela provisória for concedida na sentença ou mesmo confirmada na sentença, eventual recurso contra
esta não será dotado do duplo efeito (devolutivo e suspensivo), mas apenas do efeito devolutivo, o que viabilizaria
sua execução provisória imediata (art. 1.012, § 1ºV, CPC/15)

6) Seria possível requerer em primeiro grau para inviabilizar a atuação do prefeito?


Não consegui extrair o sentido dessa pergunta, colegas. Creio que decorreu da resposta do candidato ou possa
ter faltado uma contextualização. Se alguém conseguir identificar algum sentido e puder contribuir para a
resposta, ficarei muito grata.

7) Funções da nova fase de organização e saneamento do processo de cognição de primeiro grau no


novo CPC.

O juiz na fase de saneamento do processo deverá resolver as questões processuais pendentes, se houver,
delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova
admitidos, definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373, delimitar as questões de direito relevantes
para a decisão do mérito e designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.

GRUPO TEMÁTICO 4

Coletivo: CARLOS ALBERTO VALERA (SUPLENTE)


1) Enumere 03 instrumentos de proteção do patrimônio cultural, discorrendo rapidamente sobre cada um
deles.
-Inventário - o inventário consiste na identificação e registro por meio de pesquisa e levantamento das
características e particularidades de determinado bem, adotando-se, para sua execução, critérios técnicos
objetivos e fundamentados de natureza histórica, artística, arquitetônica, sociológica, paisagística e antropológica,
entre outros. Os resultados dos trabalhos de pesquisa para fins de inventário são registrados normalmente em
fichas onde há a descrição sucinta do bem cultural, constando informações básicas quanto a sua importância
histórica, características físicas, delimitação, estado de conservação, proprietário etc.

-Registro -O Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, instituído pelo Decreto 3551/00, é um instrumento
legal de preservação, reconhecimento e valorização do patrimônio cultural imaterial brasileiro, composto por
aqueles bens que contribuíram para a formação da sociedade brasileira.
-Tombamento- o tombamento é um procedimento ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo
de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico,
ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou
descaracterizados. O tombamento também se caracteriza como espécie de intervenção do Estado na
propriedade, limitando o exercício de alguns atributos inerentes a esta como o uso e a fruição já que institui uma
gama de deveres no sentido de conservá-lo, não descaracterizá-lo e protege-lo.

Podemos citar, ainda, outros meios de proteção elencados no art. 216, da CRFB/88, como vigilância e
desapropriação.

2) Quem pode adotar essas providências citadas pelo senhor (registro, tombamento e inventário)?
Nos termos do art. 23, da Constituição Federal, compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal e Municípios
proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos.
Assim, administrativamente, ou seja, a competência material de proteção é comum a todos os entes políticos,
podendo todos eles lançar mão desses três institutos.

3) A nossa CE traz esses institutos? Candidato não soube responder. Resposta está no art. 216.
Sim. A constituição estadual mineira praticamente reproduz o art. 216, parágrafo primeiro, da Constituição da
República, estampando os mesmos institutos de proteção do patrimônio cultural:
Art. 209 – O Estado, com a colaboração da comunidade, protegerá o patrimônio
cultural por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação,
de outras formas de acautelamento e preservação e, ainda, de repressão aos danos e
às ameaças a esse patrimônio.

4) Se o imóvel não é tombado nem inventariado, o reconhecimento de seu valor cultural e sua proteção
podem ser reconhecidos pela via judicial?
Apesar de divergente, entendo que a via judicial é passível de ser utilizada para a busca da proteção,
conservação, preservação e promoção dos bens culturais, materiais ou imateriais, sejam eles públicos ou
privados, independentemente da existência prévia de ato administrativo declaratório de seu valor referencial,
extraindo-se da Constituição da República ser dever do poder público como um todo a defesa do patrimônio
cultural e não apenas da administração pública.
Ademais, o que torna um bem dotado de valor cultural é o seu valor em si, é a natureza do próprio bem, e não o
fato de estar protegido legal ou administrativamente, pois os atos de proteção não constituem o valor cultural, que
é necessariamente antecedente, mas apenas o declaram.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro diz que os bens não tombados, por exemplo, são aqueles que mais precisam de
proteção jurídica, não podendo o Judiciário se eximir de seu papel de proteção diante da omissão dos demais
poderes.

5) “Revisitando a resposta dada anteriormente”: como ficaríamos com a teoria da separação dos poderes
nesse reconhecimento?
Não há se falar em violação à separação de poderes, pois ao Poder Judiciário, a quem incumbe, por força de
preceito constitucional, apreciar toda e qualquer lesão ou ameaça a direito (artigo 5º, XXXV da CF/88), também é
dada a tarefa de dizer do valor cultural de determinado bem e de ditar regras de observância obrigatória, no
sentido de sua preservação, ante a omissão ou ação danosa de seu proprietário ou do poder público.

6) E a sentença do judiciário, por si só ela assegura a proteção? Ou ela impõe uma obrigação?

Apesar de a decisão ser meramente declaratória do valor cultural do bem, acredito que impõe uma obrigação
(não estou muito certa), porque impõe aos Poderes Públicos responsáveis o tombamento ou o inventario ou a
realização de qualquer instrumento protetivo.

7) Como ficaria o polo passivo dessa ação popular ou ação civil pública?
O polo passivo deveria abarcar os entes públicos responsáveis pela promoção da proteção. Como são todos os
entes políticos, acredito que poderia haver um litisconsórcio (ou não) a depender da natureza e importância do
bem para cada um (ex. se for imóvel de importância apenas local, somente o município seria chamado a
participar da lide) e também os particulares diretamente envolvidos, se estes foram os proprietários ou ocupantes
do imóvel ou móvel.

8) E se o bem for de natureza privada? Como ficaria o polo passivo?


Já respondida acima.

9) Município X promoveu tombamento de vários imóveis para beneficiar-se das cotas maiores de ICMS
(cultural). Passados 5 anos, um novo perfeito resolveu “destombar” vários imóveis, cedendo À pressão
dos proprietários dos imóveis tombados. Como promotor de justiça atuante nessa área de proteção do
patrimônio histórico e cultural da Comarca, quais serão suas ações e qual o fundamento jurídico de cada
uma delas? (Nesta questão o examinador sempre usa a cidade de onde vem o candidato. Dá uma
descontraída)
O ato administrativo do tombamento realizado pelo Município padece de nulidade absoluta por desvio de
finalidade, impondo-se a responsabilização do agente munícipe responsável.
No entanto, se os bens tombados realmente merecem a proteção do instituto, necessária a manutenção de sua
proteção, sendo inadequada a conduta do novo prefeito que cedeu à pressão dos proprietários para cancelar a
proteção.
Assim, como promotor, manejaria a devida ação de responsabilização do primeiro prefeito, reconhecendo-se a
nulidade dos primeiros atos e promovendo-se, em seguida, o reconhecimento de nova proteção aos bens se
devida.
10) Somente a via judicial é possível no caso posto?
Para a responsabilização e anulação do ato pode ser realizado um TAC, reconhecendo-se a possibilidade de
celebração desse instituto no âmbito da improbidade administrativa, tanto a partir de Resolução do CNMP, quanto
do CSMPMG. Também pode-se recomendar ao segundo prefeito que realize novo tombamento dos bens se,
como dito, entender devida a proteção, advertindo-o da impossibilidade de se cancelar a proteção em virtude de
pressão exercida por particulares, podendo tal ato caracterizar improbidade ou até mesmo crime.

11) O prefeito então cometeu um ato de improbidade, de acordo com o senhor. Seria feito um TAC nesta
hipótese?
Acredito que o primeiro prefeito cometeu um ato de improbidade por violação aos princípios da Administração
Pública, como moralidade e legalidade, previsto no art. 11, da LIA, podendo ser celebrado TAC nesta hipótese,
como já se admite através das regulamentações do CNMP e do CSMPMG.

12) Talvez o prefeito tenha descumprido ELE ato de violação de princípio. Mas e o Estado, que abortou a
incidência do ICMS? Ainda seria possível o TAC e como ficaria essa ação civil pública por ato de
improbidade?
Não há dados que demonstrem haverem os agentes públicos estaduais concorrido para a prática ilícita do
tombamento e, consequentemente, do repasse do ICMS cultural. Assim, incialmente, não haveria que se falar em
responsabilização de qualquer agente estadual, devendo a ACP por improbidade ser dirigida apenas ao agente
público municipal.

13) Diferença entre inventário e tombamento.


O inventário, na seara patrimonial, é instrumento de conhecimento de bens culturais, seja de natureza material ou
imaterial, que subsidia as políticas de preservação do patrimônio cultural; é “levantamento minucioso e completo
dos bens culturais” (Unesco8 , 19689 ). Para o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas
Gerais (IEPHA-MG), “o inventário é uma das atividades fundamentais para o estabelecimento e priorização de
ações dentro de uma política de preservação efetiva e gestão do patrimônio cultural”. E adiciona: “Toda medida de
proteção, intervenção e valorização do patrimônio cultural depende do conhecimento dos acervos existentes”
(IEPHA, 201210).
Na definição de Marcos Paulo de Souza Miranda: sob o ponto de vista prático o inventário consiste na
identificação e registro por meio de pesquisa e levantamento das características e particularidades de
determinado bem, adotando-se, para sua execução, critérios técnicos objetivos e fundamentados de natureza
histórica, artística, arquitetônica, sociológica, paisagística e antropológica, entre outros. Os resultados dos
trabalhos de pesquisa para fins de inventário são registrados normalmente em fichas onde há a descrição sucinta
do bem cultural, constando informações básicas quanto a sua importância histórica, características físicas,
delimitação, estado de conservação, proprietário etc. (MIRANDA, 2008).
De sua vez, o tombamento é um procedimento ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de
preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico,
ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou
descaracterizados. O tombamento também se caracteriza como espécie de intervenção do Estado na
propriedade, limitando o exercício de alguns atributos inerentes a esta como o uso e a fruição já que institui uma
gama de deveres no sentido de conservá-lo, não descaracterizá-lo e protege-lo.
O Tombamento pode ser aplicado aos bens móveis e imóveis, de interesse cultural ou ambiental, quais sejam:
fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas,
cascatas etc. Somente é aplicado aos bens materiais de interesse para a preservação da memória coletiva.
Ambos os institutos são meios de proteção do patrimônio cultural de bens moveis e imóveis, materiais e
imateriais. No entanto, o inventário parece ser o primeiro passo para uma proteção mais significativa, sendo um
processo de listagem e conhecimento de bens relevantes, ao passo que o tombamento já é capaz, por si só, de
impor diversas obrigações ao proprietário do bem protegido. Não obstante, há algumas legislações que também
dispõem acerca da impossibilidade de deterioração, descaracterização e destruição do bem inventariado,
condicionando-o a autorização do ente responsável.

14) O estudo de impacto de vizinhança pode funcionar como garantia do patrimônio cultural? Em caso
positivo, explique.

Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) pode ser definido como documento técnico a ser exigido, com base em lei
municipal, para a concessão de licenças e autorizações de construção, ampliação ou funcionamento de
empreendimentos ou atividades que possam afetar a qualidade de vida da população residente na área ou nas
proximidades. É mais um dos instrumentos trazidos pelo Estatuto da Cidade que permitem a tomada de medias
preventivas pelo ente estatal a fim de evitar o desequilíbrio no crescimento urbano e garantir condições de
mínimas de ocupação dos espaços habitáveis.
Constitui importante instrumento de garantia do patrimônio cultural na medida em que a própria lei determina que
o estudo será realizado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade
quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise da paisagem
urbana e patrimônio natural e cultural."
Assim, a repercussão que a implementação do empreendimento trará quanto o patrimônio cultural é obrigatório
no EIV, já que integrante do seu conteúdo mínimo e o seu caráter preventivo deve ser ressaltado.
Sendo um estudo técnico prévio, seu conteúdo poderá alertar e precaver o Poder Público quanto à repercussão
do empreendimento no que se refere às questões ligadas a visibilidade, acesso, uso e estrutura do meio ambiente
cultural que compõe determinada área, protegendo, assim, a identidade daquela comunidade específica, ao
verificar a existência de construções, vias, logradouros e praças que fazem parte da cultura local e que não
podem ser afetados pela inserção de novos empreendimentos.

15) Quem realiza esse estudo?

O particular ou o ente público que pretende a concessão de licenças e autorizações de construção, ampliação ou
funcionamento de empreendimentos ou atividades que possam afetar a qualidade de vida da população residente
na área ou nas proximidades, através de profissional ou equipe técnica devidamente habilitada.

16) Sobre o caso concreto: e se o prefeito não atender a recomendação?


Como cediço, a recomendação não tem caráter vinculante, não tendo o condão de obrigar o agente público
destinatário a adotá-la. Contudo, nela há uma forte carga moral e caso haja o desatendimento, a questão poderá
ser judicializada, constituindo o comportamento do agente público elemento importante para obtenção da
procedência do pedido e também de eventual tutela antecipada.

17) Tombamento é de exclusividade de poder público?


Sim, é ato administrativo exclusivo do Poder Público.

Processo Coletivo: GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO


1) Embora não tenhamos um código de processo, não há controvérsia acerca da autonomia científica
desse ramo processual. Conceitue o direito processual coletivo, de molde a ressaltar essa autonomia
científica.
Processo coletivo é aquele em que se postula um direito coletivo lato sensu, ou que se afirma a existência de uma
situação jurídica coletiva passiva, de titularidade de um grupo de pessoas (Fredie Didier). O processo coletivo é
dotado de categorias e princípios próprios, possuindo lógica completamente distinta do processo individual, o que
ressalta sua autonomia científica.

2) Existe uma distinção entre o direito processual comum e o especial. O senhor saberia fazer essa
distinção?
Acredito que o especial se refira ao processo das ações de controle concentrado e abstrato de constitucionalidade
(ADI, ADC, ADPF) e o comum se relacione com a tutela dos interesses e direitos metaindividuais, no processo
civil coletivo, através da ACP, Ação Popular, Mandado de Segurança Coletivo, Mandado de Injunção Coletivo, etc.

3) Com relação aos fundamentos do processo coletivo, a doutrina especializada aponta um fundamento
de ordem sociológica e outro de ordem política. Quais são eles?
Fundamento sociológico é o acesso à justiça, uma vez que as ações coletivas permitem a resolução de
demandas e pretensões retidas, principalmente de consumidores, relativas a bens e serviços de massa.
O fundamento político, de sua vez, é o princípio da economia processual, porquanto tais ações permitem a
solução de diversos conflitos por meio de um só processo.

4) Com relação aos princípios do processo coletivo. No que consiste o princípio da indisponibilidade
temperada/motivada?
O processo coletivo perpassa pelo princípio da indisponibilidade motivada e da proibição de abandono da ação
coletiva, uma vez que a demanda coletiva não depende da vontade das partes, e sim, da necessidade social de
sua propositura. A desistência infundada ou abandono da ação coletiva, conforme estabelece o art. 5º § 3º, da
LACP, impõe o controle por parte de outros legitimados ativos, em especial, o Ministério Público, que deverá
assumir a titularidade da ação, diante da inércia dos demais legitimados.
Noutro giro, o dever de agir não é absoluto, podendo o Ministério Público, no caso de ajuizamento ou não da ação
coletiva, de acordo critérios de conveniência e oportunidade, não propor a demanda. Destaca-se, porém, que o
inquérito civil prévio à propositura da ação em que for devidamente arquivado pode vir a sofrer a devida
fiscalização do Conselho Superior do Ministério Público.
Contudo, como avalia Gregório Assagra, não é admissível o abandono da ação pelo MP, uma vez que não é
compatível com o direito processual coletivo a extinção do processo sem julgamento do mérito (com base no art.
267, II ou III do CPC, casos de contumácia bilateral ou unilateral, respectivamente) e, ademais, não é compatível
também a ocorrência de perempção em sede de demandas coletivas, com fulcro na interpretação dos dispositivos
do art. 5º § 3º, da LACP e art. 9º, da Lei de Ação Popular (ALMEIDA, 2010, p. 66).

5) Com relação à execução do processo coletivo, vigora também esse princípio da indisponibilidade
temperada?
Quanto à execução, vige o Princípio da Indisponibilidade da Execução Coletiva, o qual concentra sua previsão
legislativa no art. 15 da Lei nº 7. 347/85 e art. 16 da Lei nº 4.717/65. Deles se extrai, a obrigatoriedade de
execução da sentença coletiva após o trânsito em julgado, sem qualquer temperamento de maneira que se o
autor quedar-se inerte, após 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado, o representante do Ministério Público
haverá que promover a execução no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de falta grave.
No entanto, como vimos na prova discursiva, uma sentença nula ou inexistente não deverá ser executada pelo
Parquet, havendo assim situações que poderiam excepcionar tal princípio.

6) Dentro da questão da obrigatoriedade da execução, existe uma peculiaridade que é o instituto da


reparação fluida (fluid recovery, n sei se escreve assim, rs). O que seria este princípio?
O instituto processual em questão, reconhecido no meio jurídico como fluid recovery, ou reparação fluida,
encontra-se previsto no artigo 100 do Código de Defesa do Consumidor, que assim dispõe:
"Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade
do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução da indenização devida.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela Lei n.° 7.347, de 24 de julho
de 1985".
A fluid recovery situa-se entre as formas de execução da sentença condenatória que proclama direitos individuais
homogêneos, constituindo o único tipo de execução genuinamente coletiva desta espécie de direitos, em
contraposição às formas de execução previstas nos artigos 97 e 98 do CDC, as quais aludem à reparação
individual dos prejuízos sofridos pela própria vítima ou seus sucessores.
Com efeito, o referido instrumento consiste numa liquidação / execução verdadeiramente coletiva, pois destina-se
a apurar o valor devido à vítimas indeterminadas (aquelas que não promoveram a liquidação de seus prejuízos
individuais), o qual será revertido ao Fundo Federal de Defesa dos Direitos Difusos (DIDIER, 2009, p. 377).
A fluid recovery será aplicada, portanto, após frustrado o ressarcimento individual dos danos reconhecidos na
sentença condenatória genérica, momento em que o artigo 100 do CDC, autoriza que os entes do artigo 82, do
mesmo diploma legal, postulem a reparação coletiva destes danos causados aos consumidores, cujos valores,
repisa-se, serão destinados ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. Por esta razão, Araújo Filho (2002, p. 161)
prefere nomeá-la de "liquidação e execução gerais, ou genéricas".
Pontue-se que a reparação fluida originou-se na jurisprudência norte-americana, e não possuía o escopo de
ressarcir individualmente as vítimas do dano de massa, na medida em que o seu produto era destinado para a
tutela geral do meio ambiente ou dos consumidores lesados. Isto se deu com a finalidade de contornar, nas ações
de classe, as dificuldades "na identificação das referidas pessoas; de distribuição entre elas da arrecadação; do
uso do eventual resíduo não reclamado pelos membros da coletividade" (GRINOVER, 2011, p. 163).
Considerando a possibilidade de os contemplados pela sentença condenatória genérica não buscarem, em
número compatível com a gravidade do dano, a quantificação de seus prejuízos individuais, por meio da
propositura das demandas de liquidação, o Código de Defesa do Consumidor Brasileiro (Lei n°. 8.078/1990),
inspirado no modelo norte-americano, instituiu a fluid recovery, sobretudo para os casos em que "o dano
globalmente causado pode ser considerável, mas de pouca ou nenhuma importância o prejuízo sofrido por cada
consumidor lesado" (GRINOVER, 2011, p. 163).

7) Em que consiste a extensão subjetiva da coisa julgada no processo coletivo?


Segundo a Lei 7.347/85, a coisa julgada nas ações civis públicas terá eficácia erga omnes”, isto é, será oponível à
toda coletividade, caso seja julgada procedente (coisa julgada “secundum eventum litis”). Se improcedente por
falta de provas, entretanto, a sentença fará coisa julgada apenas formal, sendo possível a repropositura da
demanda, com idêntico fundamento, caso sobrevenham provas novas (“coisa julgada secundum eventum
probationis”). Nada obstante, o CDC abordou o tema de forma mais pormenorizada, delimitando os efeitos da
coisa julgada, conforme o interesse metaindividual veiculado. Assim, a coisa julgada seria “erga omnes” nos
interesses difusos e “ultra partes” nos interesses coletivos em sentido estrito, exceto em casos de improcedência
por falta de provas (“coisa julgada secundum eventum litis”), oportunidade em que qualquer colegitimado poderá
propor idêntica acao coletiva, desde que munido por outras provas (“coisa julgada secundum eventum
probationis”). Em ambos os casos, os efeitos da coisa julgada não prejudicarão os direitos individuais da
coletividade ou do grupo. Já no caso de interesses individuais homogêneos, a coisa julgada somente terá efeito
erga omnes se for julgada procedente, beneficiando, assim, as vitimas individualizadas do evento comum
(transporte in utilibus da coisa julgada). Consigne-se que, neste caso, os efeitos da improcedência não poderão
prejudicar os interesses das vitimas do fato comum, sendo permitido a elas que a propositura de ações
individuais, exceto se tiverem integrado o polo ativo da demanda como litisconsortes.

8) Esse efeito “erga omnes” é em qualquer hipótese de resultado da ação?


Já respondida na pergunta acima.

9) O que é o transporte “in utilibus”?


O chamado transporte “in utilibus” da coisa julgada coletiva é uma forma de ampliação dos limites subjetivos da
coisa julgada, permitindo que indivíduos venham a se beneficiar do que foi decidido em uma ação coletiva. É esta
a norma contida na segunda parte do §3º do art. 103 do CDC:

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho
de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente
ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

O referido dispositivo permite que o titular de um direito individual liquide e execute a sentença coletiva que tutele
direitos difusos e coletivos em sentido estrito, desde que verse sobre a mesma questão de direito. Fica garantido
ao titular do direito individual a possibilidade de utilizar a sentença coletiva em seu processo individual,
transportando “in utilibus” a coisa julgada.

10) Uma associação tem que justificar por que não vai entrar com determinada ação civil pública?
Em relação às associações, regidas pelo direito privado, pelo qual apenas são obrigadas a fazer ou deixar de
fazer algo em virtude de lei, não há qualquer imposição do ordenamento para que ingressem com uma demanda
coletiva, podendo haver, isso sim, algum regramento interno em seu estatuto social nesse sentido que poderá ser
exigido pelos associados.

11) O que é o princípio da continuidade da demanda coletiva. Seria este princípio também temperado?
O princípio da continuidade da demanda coletiva encontra-se positivado em nosso ordenamento jurídico no §3 do
artigo 5º da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85), representando um complemento ao princípio anterior (da
indisponibilidade temperada) e evidenciando a necessidade de atuação do Ministério Público ou de outro
legitimado em assumir a titularidade de uma ação coletiva, no caso de abandono da ação ou de desistência
infundada por parte de associação legitimada.
Sobre o dispositivo analisado, duas observações merecem destaque: não se trata de abandono da demanda
coletiva apenas por associação, como referido no dispositivo legal, mas por qualquer legitimado; a continuidade
também é temperada, pois não se pode obrigar o Ministério Público ou outro legitimado extraordinário a dar
prosseguimento a uma demanda que, de fato, seja realmente infundada.

12) Existe temperamento quanto à obrigatoriedade da execução, por parte do MP?


Em tese, não. Como já dito em resposta acima, uma vez já tendo o processo passado pela fase do conhecimento,
encontrando-se reconhecido o direito, não poderia o Ministério Publico abrir mão de executá-lo, porquanto o
Parquet não tem poder para tanto, sendo substituto processual.
No entanto, há hipóteses excepcionalíssimas, como a retratada em nossa prova discursiva, na qual havia um
vício insanável no processo (citação invalida, o que torna nulo ou até mesmo inexistente o processo) em que o
Ministério Público não poderá executar a sentença coletiva.

13) Então não há possibilidade de o MP declinar dessa execução?


Respondida acima, smj.
DIA 2 – PONTO 1 – Ana Bárbara e Isadora

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional: ELAINE MARTINS PARISE

1) A respeito da jurisdição constitucional, é lugar comum dizer a CF 88 inovou a jurisdição constitucional


no direito brasileiro. Quais as principais inovações trazidas pela Carta de 88?
Será respondida na questão seguinte.

2) Depois da resposta da candidata, a examinadora disse “estamos falando de JURISDIÇÃO


CONSTITUCIONAL. TEM A VER COM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE”. Na verdade, os três
primeiros candidatos precisaram de uma explicação da examinadora quanto à resposta que ela queria.
Novidades da CF/88, quanto ao controle de constitucionalidade (jurisdição constitucional):
1) Ampliação do rol de legitimados para a propositora de ADI. Até a Constituição de 1967/1969 apenas o PGR
poderia propor ADI, após a CF/88, são também legitimados: Presidente da República, Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, Partido Político com representação no CN, Confederação Sindical ou entidade
de classe de âmbito nacional, Conselho Federal da OAB, Governador de Estado ou DF, Mesa de Assembleia
Legislativa.
2) ADPF.
3) ADO.
4) Também criou a Constituição de 1988 o mandado de injunção, que seria instrumento de controle subjetivo da
omissão inconstitucional.
5) EC3/93 criou a ADC.

3) A senhora sabe me dizer se houve ampliação do rol de legitimados para propor ADI? Quais são esses
legitimados, por favor?
Ampliação do rol de legitimados para a propositora de ADI. Até a Constituição de 1967/1969 apenas o PGR
poderia propor ADI, após a CF/88, são também legitimados: Presidente da República, Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, Partido Político com representação no CN, Confederação Sindical ou entidade
de classe de âmbito nacional, Conselho Federal da OAB, Governador de Estado ou DF, Mesa de Assembleia
Legislativa.

4) Se o Governador do estado sancionar uma lei, depois ele pode ingressar com uma ADI em face dessa
mesma lei? Por quê?
Sim, com o argumento de que errou e não pode permanecer em erro. Outro argumento é a possibilidade de
inconstitucionalidade progressiva, ou seja, o Governador sancionou a lei porque a entendia constitucional,
passado um tempo, a lei por circunstâncias fáticas, políticas, sociais, econômicas, se tornou inconstitucional na
perspectiva do próprio Presidente.

5) A constitucionalidade por ação pode ser formal ou material. Explique como se dá cada uma dessas
formas de constitucionalidade.
A inconstitucionalidade MATERIAL ou NOMOESTÁTICA ocorre quando há uma incompatibilidade entre o
conteúdo do ato infraconstitucional e o conteúdo da constituição. Ex.: violação de direito fundamental (art. 5º).
Já a inconstitucionalidade FORMAL ou NOMODINÂMICA trata: da forma como a norma foi elaborada, de
formalidade a ser observada na sua criação, está relacionada ao processo de criação da norma, que é algo
dinâmico.
DIVIDIDA EM TRÊS ESPÉCIES:
a) Inconstitucionalidade FORMAL PROPRIAMENTE DITA:
Violação de norma constitucional referente ao processo legislativo. Dividida em:
- SUBJETIVA = sujeito (in) competente. Sujeito: é a pessoa competente para elaborar o ato.
Ex: iniciativa de lei (art. 61, § 1º, CF – listagem dos assuntos que dependem de iniciativa exclusiva do Presidente
da República para a proposição de projeto de lei).
Obs: o vício de iniciativa é insanável e, portanto, não pode ser suprido pela sanção do Chefe do Executivo.
- OBJETIVA = demais fases do processo legislativo, como quando o quórum de votação não é observado.
Ex: de acordo com o art. 69, CF, uma lei complementar só pode ser aprovada por maioria absoluta.
b) Inconstitucionalidade FORMAL ORGÂNICA:
Violação de norma constitucional que estabelece competência legislativa para tratar de alguma matéria.
c) Inconstitucionalidade FORMAL por VIOLAÇÃO A PRESSUSPOSTOS OBJETIVOS
Ex: medidas provisórias e a não observância de seus requisitos objetivos (art. 62, CF).

6) Pode haver ajuizamento simultâneo de uma ADI em âmbito federal e estadual tendo por objeto a mesma
lei ou ato normativo estadual?
Sim. Uma lei estadual pode ferir simultaneamente uma norma da Constituição Estadual e uma da Constituição
Federal, dando ensejo a uma ADI estadual e a uma ADI nacional, respectivamente. Nessa hipótese, a ADI
estadual ficará suspensa até o julgamento pelo STF da ADI nacional.
Se a lei for julgada inconstitucional pelo STF, a ADI estadual será extinta pela perda do objeto. Se o STJ entender
que a lei é constitucional, o julgamento irá voltar a correr no TJ, que poderá julgar a lei constitucional ou
inconstitucional.

7) A ADI admite-se desistência?


Não, art. 5º, Lei 9868/99.

8) Pode ser aguida exceção de suspeição e impedimento?


Segundo o STF, não cabe arguição de suspeição de Ministro nos processos de controle abstrato, dado o caráter
objetivo da ação.
Entretanto, é possível a alegação de impedimento de Ministro, nos casos em que o Ministro do STF tenha atuado
anteriormente no processo na condição de Procurador-Geral da República, Advogado-Geral da União, requerente
ou requerido.

9) No âmbito do estado de MG, qual o órgão competente para julgamento das ADI’s? Qual ÓRGÃO.
O TJ.

10) Em relação à ADC, qual é a sua definição, a que ela se presta?


A ADC é espécie de controle concentrado no STF que visa a declaração de constitucionalidade de leis ou atos
normativos federais.
As leis nascem apenas com presunção relativa de constitucionalidade. Assim, a finalidade da ADC é tornar essa
presunção relativa em absoluta, acabando com a insegurança jurídica no ordenamento.
11) Composição do Conselho Superior do MP e como seus integrantes são escolhidos.
A Lei Orgânica Nacional do MP possui a seguinte disposição:
“Art. 14. Lei Orgânica de cada Ministério Público disporá sobre a composição, inelegibilidade e prazos de sua
cessação, posse e duração do mandato dos integrantes do Conselho Superior do Ministério Público, respeitadas
as seguintes disposições:
I - o Conselho Superior terá como membros natos apenas o Procurador-Geral de Justiça e o Corregedor-Geral do
Ministério Público;”
Já a Lei Orgânica do MPMG preconiza que:
“Art. 27. O Conselho Superior do Ministério Público é composto pelo Procurador-Geral de Justiça, que o presidirá,
pelo Corregedor-Geral do Ministério Público e por 9 (nove) Procuradores de Justiça eleitos por todos os
integrantes da carreira, para mandato de um ano.”

12) Quem preside este órgão? Não tem mais nenhum membro nato?
Procurador-Geral de Justiça e o Corregedor-Geral do Ministério Público, conforme determinação da LONMP.

13) Se recorda o número de conselheiros? Está previsto na lei.


São 14.

14) A respeito da prestação de contas de campanha, nas eleições majoritárias, quem deve prestar contas
e quais documentos deve apresentar?
Art. 28, § 1º, Lei 9504: “As prestações de contas dos candidatos às eleições majoritárias serão feitas pelo próprio
candidato, devendo ser acompanhadas dos extratos das contas bancárias referentes à movimentação dos
recursos financeiros usados na campanha e da relação dos cheques recebidos, com a indicação dos respectivos
números, valores e emitentes.”

Administrativo: FERNANDO RODRIGUES MARTINS

1- Quais são os tipos de controle que a AP possui?


Há os seguintes tipos de controle:
1) quanto ao órgão controlador:
a) controle legislativo: é aquele realizado pelo parlamento com auxílio dos Tribunais de Contas. Exemplo:
comissões parlamentares de inquérito;
b) controle judicial: promovido por meio das ações constitucionais perante o Poder Judiciário. O
controle judicial pode ser exercido a priori ou a posteriori, conforme se realize antes ou depois do ato
controlado, respectivamente. Exemplo: mandado de segurança e ação civil pública;
c) controle administrativo: é o controle interno no âmbito da própria Administração.
2) quanto à extensão:
a) controle interno: realizado por um Poder sobre seus próprios órgãos e agentes.
b) controle externo: quando o órgão fiscalizador se situa fora do âmbito do Poder controlado. Exemplo:
anulação judicial de ato da Administração.
3) quanto à natureza:
a) controle de legalidade: analisa a compatibilidade da atuação administrativa com o ordenamento jurídico. O
controle de legalidade pode ser exercido pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário. Exemplo: anulação
de contrato administrativo por violação da Lei n.8.666/93;
b) controle de mérito: é exercido pela própria Administração quanto aos juízos de conveniência e oportunidade
de seus atos.
4) quanto ao âmbito:
a) controle por subordinação: é aquele realizado por autoridade hierarquicamente superior àquele que praticou o
ato controlado;
b) controle por vinculação: é o poder de influência exercido pela Administração direta sobre as entidades
descentralizadas, não se caracterizando como subordinação hierárquica.
Exemplo: poder de fiscalização do Ministro de Estado sobre autarquia vinculada à sua pasta.
5) quanto ao momento de exercício:
a) controle prévio: é aquele realizado antes do ato controlado. Exemplo: mandado de segurança impetrado para
impedir a prática de ato ilegal;
b) controle concomitante: promovido concomitantemente à execução da atividade controlada. Exemplo:
fiscalização durante a execução de obra pública;
c) controle posterior: é realizado após a prática do ato controlado. Exemplo: ação popular proposta visando anular
ato lesivo ao patrimônio público.

2- No ponto de vista temporal, existe alguma classificação desse controle?


a) controle prévio: é aquele realizado antes do ato controlado. Exemplo: mandado de segurança impetrado para
impedir a prática de ato ilegal;
b) controle concomitante: promovido concomitantemente à execução da atividade controlada. Exemplo:
fiscalização durante a execução de obra pública;
c) controle posterior: é realizado após a prática do ato controlado. Exemplo: ação popular proposta visando anular
ato lesivo ao patrimônio público

3- A senhora misturou o interno e o externo. Existe o controle temporal?


Já respondido no item anterior.

4- Temporalmente, o controle é prévio, concomitante e corretivo. Pode ser pós, que o caso q o judiciário
faz. Essa observação é importantíssima.
Já respondido no item anterior.

5- O CNNP acabou de editar uma resolução que diz que as câmaras de PGJ não devem entrar numa
discussão orçamentárias das PGJs. O PGJ, portanto, tem livre disposição do orçamento internamento. A
senhora concorda com essa redação? (Olha o CNMP!!! É ele quem está falando!) (ENUNCIADO: “atos
praticados por procuradores gerais ou seus delegatários na função de ordenador de despesas ou de
gestão não podem ser revistos por qualquer órgão colegiado dentro da própria instituição, 13/06/2017,
Janot). Examinador não concorda com o enunciado (“enterra Kant”).
Segundo Fernando Martins: “Em data de 13.06.2017, editou o Enunciado nº 14 com a seguinte redação: “Atos
praticados por Procuradores-Gerais ou por seus delegatários, na função de ordenador de despesas ou de gestão,
não podem ser revistos por qualquer órgão colegiado dentro da própria instituição”. O CNMP ‘legislando’
acintosamente tornou inócuos a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público e o Estatuto do Ministério Público da
União que têm em seus corpos normas primárias específicas sobre o tema (LOMP, art.10, inc. III, art. 12, inc. I, II
e III e LC 75/93 art. 166, inc. XXII), substituindo a pretensão proposta, discutida e votada pelo parlamento em
respeito à Constituição Federal pela ‘vontade colegiada’ desprovida da adequada manifestação soberana do
povo[13].
Isso equivale dizer que a norma secundária expedida pelo CNMP num só golpe (literalmente golpe!), excetua o
Ministério Público, ao contrário de outras instituições, do dever de manter controle interno orçamentário, fiscal e
patrimonial dos atos Procuradores-gerais quando das funções de gestão ou ordenação de despesas (só não
retirou a fiscalização das funções jurídicas próprias). O controle a partir de agora, pelo indevido enunciado, será
apenas externo e a posteriori, desprezando-se os princípios da prevenção e precaução como essenciais matizes
dos direitos fundamentais e aqueles outros de accountability e condução responsável da coisa pública inerentes à
boa governança[14].
A ausência do controle interno possibilita inúmeros desmandos, em especial aqueles que colocam a
fundamentabilidade procedimental exercida pelo Ministério Público nas mãos dos chefes de governo (Presidente
e Governadores), responsáveis pela escolha dos Procuradores-Gerais. Exemplo nítido é a devolução de
duodécimos orçamentários a governos do Estado em detrimento ao necessário investimento financeiro nas áreas
de promoção aos direitos fundamentais pelo Ministério Público.
O pior, todavia, não é isso. Além de ferir frontalmente a Constituição Federal (desafiando toda sorte de ações
verticais para adequação valorativa, art. 70) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF, art. 48), a norma secundária
em testilha lesa a consistência argumentativa e coerência de todo o sistema, importando em ato que coloca em
xeque a legitimidade de atuação do Ministério Público, especialmente no dever de imputação. Evidente retrocesso
em deveres fundamentais de controle prévio e rebaixamento ético de instituição que deve contribuir integralmente
com o combate à corrupção e promoção do patrimônio público.”

5- A resolução é inconstitucional?
Já respondida acima.

6- O patrimônio público é direito fundamental, bem fundamental, direito subjetivo? Com base em que a
senhora diz isso? Pra ser um direito fundamental precisa de quê? Está expresso na CF? Ela disse q não e
ele disse q sim, está expresso.
O patrimônio público, tanto sob o aspecto subjetivo (titularidade individual e coletiva), quanto sob o aspecto
objetivo (ordem jurídica), foi forjado, externa e internamente, como direito fundamental, porquanto se trata de
conjunto de bens transindividual e solidarizado, a bem da dignidade da pessoa humana, sendo parâmetro básico
para a interpretação e concretização da própria ordem jurídica e da fixação dos parâmetros e valores do próprio
Estado Democrático de Direito. Merece, pois, assim como a moralidade administrativa, tutela ampla e irrestrita,
posto que, conforme Fernando Rodrigues Martins (MARTINS, Fernando Rodrigues. Controle do patrimônio
público. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 64), “a malversação do patrimônio público fere a
concepção deontológica de um direito fundamental e importa na desapropriação violenta e lesiva de uma
coletividade”.
Em seu livro, Fernando Martins preconiza que o patrimônio público é direito fundamental positivado no art. 5º,
LXXIII, CF (que trata da ação popular).

7- A senhora já ouviu falar de ação popular? Qual o objeto da ação popular?


O Objeto da ação popular é a defesa do patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, da
moralidade administrativa, do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural.

8- Improbidade adm. Há um artigo de XXX que diz que corrupção é improbidade administrativa. É mesmo
ou é só um conceito no âmbito penal?
A corrupção configura tão somente uma das faces do ato de improbidade, o qual possui um espectro de maior
amplitude, englobando condutas que não poderiam ser facilmente enquadradas sob a epígrafe dos atos de
corrupção. Improbidade e corrupção relacionam-se entre si como gênero e espécie, sendo esta absorvida por
aquela.

9- Quando falamos em STJ em relação a lei de improbidade, o STJ acaba sendo exigindo o dolo ou
culpa. Para que casos de improbidade se exige o dolo e em quais casos se exige a culpa?
A Lei de Improbidade exige que se prove o dolo nos atos de improbidade que impliquem em enriquecimento
ilícito, violação de princípios e a concessão/aplicação/manutenção de benefício fiscal contrário ao disposto na Lei
de Responsabilidade fiscal.
Já no caso de dano ao erário, admite-se dolo ou culpa.

10- Quando se fala que há um saber devido e um saber efetivo, é a mesma coisa de inobservância de
dever de cuidado?
Acredito que o examinador se referia a algo que o candidato afirmou erroneamente.

11- Tem que provar dolo e culpa da pessoa jurídica? Por quê?
Conforme o STJ, não há responsabilidade objetiva na Lei de Improbidade Administrativa. Contudo, a
responsabilidade da PJ é objetiva na Lei Anticorrupção.

12- Temos a lei anticorrupção que diz q responsabilidade é objetiva. A empresa não exerce ato, exerce
atividade. Por isso, a responsabilidade da empresa é objetiva, pelo risco.
13- Boa governança. O que é e princípios.
Segundo Fernando Martins: “Põe-se em relevo, pois, ‘a boa governança’ no lugar do governo. Observa-se,
evolutivamente, no centro das decisões o princípio da condução responsável (CANOTILHO, 2008, p. 329) de
assuntos que respeitam ao administrado como pessoa humana qualificada pelos direitos humanos.
Os poderes da República devem se guiar mediante os seguintes termos: incessante respeito aos direitos
humanos, aos princípios democráticos e ao Estado de Direito; adoção do princípio do desenvolvimento
sustentável e equitativo pressupondo gestões transparentes e responsáveis com os recursos naturais, humanos,
econômicos e financeiros; processos de decisão fundamentados e claros; primado do direito na gestão de
recursos; combate constante à corrupção.
A boa governança logra axiologicamente sentido mais humanizado, impondo aos agentes políticos a prática
accountability, ou seja, o dever duradouro de prestação de contas entre os órgãos públicos mutuamente
(horizontal) e a partir da iniciativa popular (vertical) (BENTO, 2003).”

14- Governo, boa governança e governabilidade: são a mesma coisa?


Governo é o conjunto de órgãos e as atividades que eles exercem no sentido de conduzir politicamente o Estado,
definindo suas diretrizes supremas.
Nota-se que o feudalismo e o modernismo, muito embora fossem instâncias estruturais políticas providas de
governos, eram desguarnecidas de governança. A governança tem gênese no Estado contemporâneo, totalmente
reconfigurado considerando hipercomplexas causas, onde sociedade civil, democracia e direitos humanos
ganham proeminência no campo da processualidade e legitimação (DINIZ, 1995, p. 385-415). Por isso, dentre as
diversas diferenças entre ‘governo’ e ‘governança’ pode-se destacar essencialmente o problema do valor.
Põe-se em relevo, pois, ‘a boa governança’ no lugar do governo. Observa-se, evolutivamente, no centro das
decisões o princípio da condução responsável (CANOTILHO, 2008, p. 329) de assuntos que respeitam ao
administrado como pessoa humana qualificada pelos direitos humanos.
A boa governança logra axiologicamente sentido mais humanizado, impondo aos agentes políticos a prática
accountability, ou seja, o dever duradouro de prestação de contas entre os órgãos públicos mutuamente
(horizontal) e a partir da iniciativa popular (vertical) (BENTO, 2003).
Governabilidade é a capacidade administrativa do governo de executar políticas públicas.

15- Governança é o plural, independente de governo.


16- O que seria “compliance” (n sei se escrevi certo) e seu valor para a sociedade anticorrupção?
Comply é um verbo em inglês que quer dizer cumprir, executar, satisfazer ou realizar o que lhe foi imposto. Vem
daí o termo Compliance. Na prática, significa estar em conformidade com as leis, regulamentos internos e
externos e princípios corporativos que garantem transparência na condução dos negócios.
O Compliance tem a função de monitorar e assegurar que todos os envolvidos com uma empresa estejam de
acordo com as práticas de conduta da mesma. Essas práticas devem ser orientadas pelo Código de Conduta e
pelas Políticas da Companhia, cujas ações estão especialmente voltadas para o combate à corrupção.
Com a promulgação da lei 12.846/13, que entrou em vigor em 29 de janeiro de 2014 e ficou conhecida como Lei
Anticorrupção, todas as empresas brasileiras (independentemente do tamanho) e seus dirigentes passaram a ser
expostos a graves consequências, na esfera civil e administrativa, por práticas de atos lesivos à administração
pública, nacional ou estrangeira, for praticado em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não. Isso inclui atos de
corrupção e fraudes em processos licitatórios e/ou quaisquer contratos com a administração pública.
O Compliance pode, então, ajudar como proteção dos dirigentes contra alegação de culpa por omissão, além de
reduzir as sanções aplicáveis à empresa. Segundo consta na Lei Anticorrupção: "Art. 7o - Serão levados em
consideração na aplicação das sanções:
VIII – a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de
irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica;"

17- Se nos trabalharmos com “compliance” mas ela por si só não consiga fixar os princípio, quais
ferramentas poderiam ser utilizadas para a resolução desses problemas, em face da pessoa jurídica de
direito privado?
A responsabilização prevista na Lei Anticorrupção.

18- O ressarcimento ao erário é uma punição?


Não é sanção, a rigor. É apenas uma recomposição do montante retirado da Administração Pública.

19- Então é uma reparação??? Tem que decidir: é reparação ou sanção.


Não é sanção (livro Fernando).

20- E a multa?
É sanção. Para Fernando Martins é punitiva, vale como um dano moral coletivo.

21- A multa de acordo com o faturamento. Quando se multa? Deu opções: punitiva, pedagógica, ética.
Punitiva.

22- Qual a base constitucional dos controles da AP?


Não se concebe Estado de Direito sem controle.
No art. 1º, parágrafo único, CF, está disposto que todo poder emana do povo, logo, somente em seu proveito ele
poderá ser exercitado.
23- Será que a base constitucional é essa mesmo? Miguel Reale: nossa CF é um totalitarismo normativo.
24- O que seria o controle quanto à natureza e o controle quanto ao tempo?
- quanto à natureza:
a) controle de legalidade: analisa a compatibilidade da atuação administrativa com o ordenamento jurídico. O
controle de legalidade pode ser exercido pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário. Exemplo: anulação
de contrato administrativo por violação da Lei n.8.666/93;
b) controle de mérito: é exercido pela própria Administração quanto aos juízos de conveniência e oportunidade
de seus atos.
- quanto ao momento de exercício/tempo:
a) controle prévio: é aquele realizado antes do ato controlado. Exemplo: mandado de segurança impetrado para
impedir a prática de ato ilegal;
b) controle concomitante: promovido concomitantemente à execução da atividade controlada. Exemplo:
fiscalização durante a execução de obra pública;
c) controle posterior: é realizado após a prática do ato controlado. Exemplo: ação popular proposta visando anular
ato lesivo ao patrimônio público.

25- A ação popular é uma garantia fundamental? Se sim, serve pra defender o quê?
Sim, a ação popular é uma garantia fundamental do cidadão para a defesa do patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, da moralidade administrativa, do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural.

26- “agora o senhor matou tudo”


27- Boa governança global é um conceito possível?
Segundo Flávio Martins: “Em muitos países, a boa governança ainda é simbólica. Sendo a democracia regime de
leis para a promoção humana e não de arbitrariedade do homem, faz-se necessário que a administração pública
cumpra os ditames constitucionais e infraconstitucionais que refiram ao administrado, enquanto agente
econômico desigual e vulnerável. Não faz sentido ao poder público descumprir as disposições normativas que
garantam à pessoa a concretude de seus direitos, isto porque é na lei que se encontra não apenas o limite de
atuação, senão a própria condição e base justificante da administração coexistir junto ao demais elementos do
Estado. Enfim, é na lei que o governo situa. Desse modo, justifica-se com ampla segurança nesta investigação
que a evolução da governança como instrumento democrático de promoção aos direitos humanos pode e deve ter
seus resultados aplicados no direito interno dos Estados-nação pela hermenêutica dialógica. Afinal, tanto
governança como a teoria do diálogo de fontes se põem a serviço da humanidade.”
Dessa forma, conclui-se que a boa governança global é possível, desde que os Estados-nação cumpram os
ditames constitucionais e infraconstitucionais que refiram ao administrado, enquanto agente econômico desigual e
vulnerável. Ou seja, se os Estados promoverem os direitos humanos por meio da hermenêutica dialógica e da
teoria do diálogo das fontes.

28- O que “abre as fronteiras do próprio estado”, em termos de Direito? (A resposta base seria direitos
humanos)
29- Faça um paralelo entre “compliance, reforcement (aplicar a regra) e diference (não sei se este último é
isso mesmo, n consegui entender bem. Perdoem minha ignorância) (...)”
Não encontrei os conceitos de reinforcement e difference ligados a compliance. Acredito que reinforcement possa
ser os mecanismos como punição de corrupção empresarial, alteração da legislação para propiciar essa punição,
meios que demonstrem a vontade do Estado de combater a corrupção e a efetivação desse combate.
30- Controle prévio, concomitante e posterior, corretivo e a separação dos poderes.
Quanto ao momento de exercício o controle pode ser:
- controle prévio: é aquele realizado antes do ato controlado. Exemplo: mandado de segurança impetrado para
impedir a prática de ato ilegal;
- controle concomitante: promovido concomitantemente à execução da atividade controlada. Exemplo:
fiscalização durante a execução de obra pública;
- controle posterior: é realizado após a prática do ato controlado. Exemplo: ação popular proposta visando anular
ato lesivo ao patrimônio público.
O princípio da separação dos poderes não traduz apenas a separação estanque das funções estatais, mas
também um sistema de freios e contrapesos, logo é possível que o Poder Judiciário controle atos administrativos
a fim de evitar excessos por parte do administrador.
Ademais, segundo Fernando Martins, o princípio da inafastabilidade do Poder Jurisdicional, constitucionalmente
previsto, permite esse controle. Assim, se é função típica do Poder Judiciário operar a jurisdição em todos os tipos
de demanda, inclusive naquelas em que a Administração Pública é parte, entende-se que o postulado da
separação dos poderes não pode configurar empeço ao Judiciário na incumbência de sua missão jurisdicional.
De acordo com Rafael Oliveira, em regra, cabe ao Judiciário apenas o controle de legalidade dos atos
administrativos. Com isso, não seria possível adentrar em juízos de conveniência e oportunidade.
No entanto, para o autor, há três teorias que procuram explicar, modernamente, o controle judicial em atos
discricionários:
1. teoria do desvio de poder ou desvio de finalidade. Admite que o Judiciário invalidade um ato administrativo em
desacordo com a finalidade da norma.
2. teoria dos motivos determinantes. A validade de um ato administrativo depende da correspondência entre os
motivos nele expostos e a existência concreta de fatos que ensejaram sua edição. Se o motivo é falso ou ilícito, o
ato será invalidado.
3. teoria dos princípios jurídicos (juridicidade). Essa teoria exige a compatibilidade dos atos administrativos com
os princípios consagrados no ordenamento jurídico, o que amplia a margem de controle do ato administrativo pelo
Judiciário.

31- Então no seu ponto vista, o que seria o poder discricionário e o mérito? São iguais?
Segundo José dos Santos Carvalho Filho, mérito administrativo é a avaliação de conveniência e oportunidade
relativas ao motivo e ao objeto inspiradoras da prática do ato discricionário.
Poder Discricionário é a prerrogativa conferida aos agentes administrativos de elegerem, entre várias condutas
possíveis, a que traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse público.
Um ato discricionário possui elementos vinculados (agente competente, forma e finalidade) e elementos
discricionários (motivo e objeto), apenas estes elementos discricionários configuram o mérito administrativo.

32- O controle judiciário é discricionário?


De acordo com Rafael Oliveira, em regra, cabe ao Judiciário apenas o controle de legalidade dos atos
administrativos. Com isso, não seria possível adentrar em juízos de conveniência e oportunidade.
No entanto, para o autor, há três teorias que procuram explicar, modernamente, o controle judicial em atos
discricionários:
1. teoria do desvio de poder ou desvio de finalidade. Admite que o Judiciário invalidade um ato administrativo em
desacordo com a finalidade da norma.
2. teoria dos motivos determinantes. A validade de um ato administrativo depende da correspondência entre os
motivos nele expostos e a existência concreta de fatos que ensejaram sua edição. Se o motivo é falso ou ilícito, o
ato será invalidado.
3. teoria dos princípios jurídicos (juridicidade). Essa teoria exige a compatibilidade dos atos administrativos com
os princípios consagrados no ordenamento jurídico, o que amplia a margem de controle do ato administrativo pelo
Judiciário.

33- Ferrajoli diz que o patrimônio público é bem fundamental. O que vc diria a ele?
Já respondida.

34- Foi uma opção constitucional dizer que é bem fundamental?


Para o examinado o patrimônio público é um direito fundamental.

35- Lei de ficha limpa: exige o reconhecimento de DOLO e não de culpa.


Eu acredito que o examinador se referia ao fato de que na lei de ficha limpa apenas o ato DOLOSO de
improbidade, que implique em lesão ao erário ou enriquecimento ilícito, pode gerar inelegibilidade, art. 1º, I, “l”, LC
64/90.

36- Um partido poderia responder objetivamente pela lei anticorrupção?


Não, a Lei 12. 846/13 em seu art. 1º, parágrafo único, dispõe que: “Aplica-se o disposto nesta Lei às sociedades
empresárias e às sociedades simples, personificadas ou não, independentemente da forma de organização ou
modelo societário adotado, bem como a quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas, ou
sociedades estrangeiras, que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou
de direito, ainda que temporariamente.” Nota-se que os Partidos Políticos não estão abarcados.
A inclusão dos Partidos Políticos nesse rol está entre as dez medidas contra a corrupção dendidas pelo MPF.

37- Princípio da condução responsável da administração.


Esse princípio é tratado por Canotilho, como sinônimo de boa governança, good governence.
O autor esquematiza os tópicos principais do princípio da condução responsável dos assuntos do Estado:
1. Aprofundamento do contexto político, institucional, constitucional, através da avaliação permanente do respeito
pelos Direitos Humanos, dos princípios Democráticos e do Estado de Direito.
2. centralidade do princípio do desenvolvimento sustentável e equitativo que pressupõe uma gestão transparente
e responsável dos recursos humanos, naturais, econômicos e financeiros (boa governação).
3. Recorte rigoroso dos esquemas procedimentais e administrativos da boa governança, designadamente: a)
processos de decisões claros a nível de autoridade públicas; b) instituições transparentes e responsáveis; c)
primado do direito na gestão de recursos; d) reforço das capacidades no que diz respeito à elaboração e
aplicação de medidas especificamente destinadas a prevenir e combater a corrupção.
38- O “compliance” se faz efetivamente sobre quem?
Toda a pessoa jurídica, todos os seus integrantes e todas as pessoas que com ela se relacionam.

GRUPO TEMÁTICO II

Penal: ANDRÉ UBALDINO


1) Que infração penal praticaria o funcionário público que emprega no seu interesse particular bem
fungível a ele confiado, embora com intenção de devolvê-lo? (“repito a pergunta mais de uma vez, se
necessário”)
Peculato. Importante observar que o peculato de uso é considerado fato atípico pelo STF, mas para esse
reconhecimento, é necessário que o bem seja infungível e não consumível.
Ex: haverá fato típico na conduta do servidor público federal que utilizar dinheiro público para pagar suas contas
pessoais, ainda que restitua integralmente a quantia antes que descubram.

2) Art. 322 CPP: violência arbitrária. Leu a redação do artigo. Esse tipo penal continua subsistente no
Direito brasileiro?) (foi paciente e repetiu o artigo mais de uma vez, com paciência).
Para o STF e STJ esse crime subsiste, pois não foi revogado pela Lei de Abuso de Autoridade. A doutrina diverge,
contudo.

3) Os crimes de usurpação de função pública e tráfico de influência podem ser praticados também por
funcionários públicos e, caso afirmativo, em que hipóteses? (ela respondeu e ele perguntou em seguida:
“algum adendo à sua resposta?” Com a resposta negativa da candidata, reiterou que queria saber acerca
da possibilidade ou não de prática isolada de prática de influência pelo funcionário público).
O funcionário público pode ser autor do crime de usurpação de função pública, desde que usurpe função diferente
da que já ocupa. STJ.
O tráfico de influência pode ser praticado por funcionário público, desde que solicite, exija, cobre ou obtenha
vantagem ou promessa, para si ou para outrem a pretexto de influir em ato de outro funcionário público, que não
ele próprio.

4) O princípio da insignificância pode ser aplicado ao crime de peculato e por quê.


O STJ possui entendimento sumulado (599) de que não se aplica o princípio da insignificância a crimes contra a
administração pública, porque, nesses casos, não está em pauta apenas o prejuízo patrimonial que a conduta
pode causar, mas também a moralidade administrativa.
Ressalta-se, no entanto, que o STF possui algumas decisões esparsas em sentido oposto, aplicando o princípio,
como em um caso de peculato em que o agente público subtraíra um farol de milha que guarnecia uma
motocicleta apreendida (HC 112.388/SP, DJe 14/09/2012).
O próprio STJ recentemente decidiu contrariando a própria súmula, em um caso de dano qualificado, em que o
réu furou bloqueio policial e passou por cima de um cone pertencente à Administração Pública. O Ministro Nefi
Cordeiro apresentou a seguinte justificativa: “A despeito do teor do enunciado 599, as peculiaridades do caso
concreto justificam a mitigação da referida súmula, haja vista que nenhum interesse social existe na onerosa
intervenção estatal diante da inexpressiva lesão jurídica provocada”.

5) Já se acha firme ou não o entendimento acerca de o desacato à autoridade estar descriminalizado e o


argumento ao qual se assenta.
Não, no que pese o STJ já ter decidido que o crime de desacato é incompatível com a Convenção Americana de
Direitos Humanos (CADH), há decisão da mesma corte afirmando que a conduta continua criminosa e compatível
com a Convenção.
A discussão gira em torno do fato de a Corte Interamericana de Direitos Humanos já proferiu recomendação para
que os países americanos descriminalizem o desacato, em face de essa prática afrontar o direito de liberdade de
expressão e direito à informação.
Em um primeiro momento, a quinta turma do STJ entendeu que essa recomendação possui força normativa e
afastou a criminalização do desacato.
Posteriormente, contudo, a terceira seção decidiu que tal recomendação não possui caráter vinculante, teria mera
força “moral” e, ainda, que o direito de liberdade de expressão não possui caráter absoluto. Assim, reafirmou a
vigência do crime de desacato.

Processo Penal: ROGÉRIO FILIPPETTO

1) O juiz, na sentença penal condenatória, pode fixar um valor mínimo de indenização para a vítima,
independentemente de pedido?
Pela atual redação do art. 387, em seu inc. IV, do CPP, cumpre ao juiz, ao condenar o réu, fixar um valor mínimo,
em prol do ofendido, para reparação dos danos causados pela infração, considerados os prejuízos sofridos.
A esse respeito, o entendimento consolidado em sede jurisprudencial é o de que a fixação da reparação cível na
sentença só é cabível quando houver pedido expresso do ofendido ou do MP, oportunizando-se ao réu o direito
ao contraditório, sob pena de manifesta violação à ampla defesa.
OBS: Nestor Távora, apesar de defender a impossibilidade de fixação de ofício, diz que a posição majoritária é
pela fixação desse quantum de ofício (CURSO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL. 2016. P. 1092). Todavia, não
é isso que se observa no exame das decisões do TJMG e do STJ. Prevalece a necessidade de requerimento.

2) As pessoas se defendem dos fatos descritos na denúncia e não da sua qualificação jurídica. Isso é
correto?
Sim. Trata-se do princípio da consubstanciação.
No momento de sentenciar, o juiz poderá ainda se deparar com situações que impliquem emendatio libelli ou
mutatio libelli. A forma de enfrentamento dessas questões está positivada nos artigos 383 e 384, CPP e guarda
íntima relação com os princípios da correlação – “ou seja, uma congruência lógica entre o que lhe foi apresentado
e a sentença” – e da consubstanciação – o acusado se defende dos fatos e não da capitulação legal dada a eles
pelo Ministério Público.

3) O processo penal autoriza a condenar com a nova classificação jurídica ou não? (pergunta feita de
acordo com a resposta da candidata)
Sim. Destarte, “o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave” (emendatio libelli, art.
383, CPP, com redação dada pela Lei nº 11.719/2008). Neste caso, a denúncia ou a queixa já contém toda a
descrição fática do crime que o juiz está a reconhecer na sentença, havendo simples equívoco na indicação do
tipo penal pelo Parquet ou pelo querelante. Não há, pois, óbice a que o juiz proceda à correção (emendatio libelli)
e sentencie de plano, sem necessidade de oitiva prévia das partes, ainda que o dispositivo legal estabeleça pena
mais grave. Como o réu se defende dos fatos e não da mera tipificação legal, não há que se falar em prejuízo.
Importante consignar, nos termos do art. 617 do CPP, que a emendatio libelli pode ser aplicada até mesmo na
fase recursal, desde que não implique reformatio in pejus.
FONTE: TÁVORA, NESTOR. CURSO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL. 2016. P. 1085.

4) “Emendatio libeli”: examinador citou trecho do livro do Dierle (“não surpresa para a formação das
decisões”). Quando o juiz decide, depois da manifestação das partes, ele não provoca uma surpresa?
Apesar da resposta da questão anterior ser a forma tradicional de entender o art. 383, do CPP, isto é, de que o
réu se defende somente dos fatos, sendo irrelevante a capitulação legal, entendemos ser mais prudente a
abertura de contraditório prévio à sentença ou decisão que vislumbra a possibilidade de mera retificação de
enquadramento do fato. Aliás, a hipótese é conducente à aplicação de interpretação conforme a Constituição, a
fim de evitar a surpresa das partes e, de outro lado, maximizar a efetividade do princípio do contraditório e da
ampla defesa, notadamente em favor do imputado. A aplicação de tese jurídica que consubstancia emendatio
libelli pode, de fato, acarretar mitigações à defesa do réu. Perfeitamente compatível com essa conclusão o
princípio da não surpresa adotado pela Lei nº 13.105/2015 (Novo CPC), em seus artigos 9º e 10º. O primeiro
dispõe que nenhuma decisão será tomada sem que antes sejam ouvidas as partes, ressalvadas as exceções ali
descritas. O último aviva que o juiz não poderá decidir, em qualquer grau de jurisdição, com base em fundamento
acerca do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, mesmo que se trate de matéria sobre
a qual deva decidir de ofício
FONTE: TÁVORA, NESTOR. CURSO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL. 2016. P. 1085.

5) O processo penal adota a rejeição implícita da tese da parte? (a candidata ficou um tempo calada e o
examinador reformulou a questão, e fez o mesmo com o segundo candidato). O juiz pode deixar de
enfrentar algum dos argumentos expostos pela parte?
Em conseqüência da necessidade de motivação da sentença, cumpre ao juiz a abordagem de todas as teses
suscitadas pelas partes. A rejeição implícita da tese, tolerada por doutrina mais antiga, não é mais admitida. É tida
por não fundamentada a decisão que, ao adotar certo entendimento, considere implicitamente rejeitado outro, em
sentido diverso. Cabe ao Magistrado a apreciação de tudo que for levado a debate, a menos, é óbvio, que se
cuide de argumentação totalmente desprovida de sentido. FONTE: PINTO, Ronaldo Batista. Processo Penal V:
nulidades, sentença, recursos, revisão criminal e habeas corpus. 2013.
A esse respeito, segue recente decisão do STJ que, embora aborde o CPC, é extensível à seara processual
penal: O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha
encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. O julgador possui o dever de enfrentar apenas as questões
capazes de infirmar (enfraquecer) a conclusão adotada na decisão recorrida. Essa é a interpretação que se extrai
do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015. Assim, mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem embargos de
declaração contra a decisão que não se pronunciou sobre determinado argumento que era incapaz de infirmar a
conclusão adotada. STJ. 1ª Seção. EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada
do TRF da 3ª Região), julgado em 8/6/2016 (Info 585).

6) O processo penal admite a fundamentação “per relationem”?


Sim. Há admissibilidade, pelos Tribunais Superiores, da motivação per relationem,
caracterizada pela utilização das razões empregadas, por exemplo, pelo magistrado da instância inferior (ou pelo
Ministério Público, em parecer), na fundamentação da decisão proferida.
Todavia, deve ser feita a seguinte ressalva. É nulo o acórdão que se limita a ratificar a sentença e a adotar o
parecer ministerial, sem sequer transcrevê-los, deixando de afastar as teses defensivas ou de apresentar
fundamento próprio. Isso porque, nessa hipótese, está caracterizada a nulidade absoluta do acórdão por falta de
fundamentação. De fato, a jurisprudência tem admitido a chamada fundamentação per relationem, mas desde que
o julgado faça referência concreta às peças que pretende encampar, transcrevendo delas partes que julgar
interessantes para legitimar o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que se quer chegar. Precedentes
citados: HC 220.562-SP, Sexta Turma, DJe 25/2/2013; e HC 189.229-SP, Quinta Turma, DJe 17/12/2012. HC
214.049-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
5/2/2015, DJe 10/3/2015. (Info 557)

7) As regras sobre os prazos para provimentos judiciais do novo CPC afetam o processo penal?
REGRA NO CPC: Art. 226. O juiz proferirá:
I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias;
II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias;
III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias
REGRA NO CPP: Art. 800. Os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos prazos seguintes,
quando outros não estiverem estabelecidos:
I - de dez dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista;
II - de cinco dias, se for interlocutória simples;
III - de um dia, se se tratar de despacho de expediente.
Se há regra própria no CPP, a regra do CPC não se aplica.

8) Finda a instrução criminal, em alegações finais, o MP pode mudar a tipificação da conduta em virtude
de fato não contido na denúncia, mesmo que isso importe em condenação por crime mais grave? Ele
pode fazer isso em sede de alegações finais? Não é necessário então que seja feita nova instrução
probatória?
O MP pode alterar a tipificação em sede de alegações finais, imputando crime mais grave por fato não contido na
denúncia. Nesse caso, há sim a reabertura da instrução que estava finda.
Nesse sentido:
Conforme se infere dos autos, encerrada a instrução do feito em que se apurava a prática do crime de roubo
majorado pelo emprego de arma e oferecidas as alegações finais por ambas as partes (fls. 90/98 e 101/103), foi
juntado ao feito o exame de corpo de delito de fls. 119, que concluiu que, da violência empregada pelo recorrente
durante a execução do roubo, resultou à vítima incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias,
devido ao traumatismo crânio encefálico.
Assim, oportunizada vista às partes acerca do documento juntado, fls. 120, o Ministério Público entendeu por
aditar a denúncia (fls. 121/122), incluindo a circunstância qualificadora relativa à lesão grave, tendo a defesa se
manifestado pela rejeição do aditamento (fls. 123/125).
O i. magistrado a quo, então, decidiu pelo recebimento do aditamento, fls. 126/127, determinando a manifestação
das partes na conformidade do art. 384, §2º, do CPP, sendo que o parquet informou que não havia mais
testemunhas a serem arroladas, pugnando pelo prosseguimento do feito (fls. 128). Já a defesa apenas apôs seu
ciente, nada requerendo neste momento processual (fls. 128v).
Imediatamente a seguir, os autos foram conclusos para sentença, na qual o recorrente foi condenado pelos fatos
narrados no aditamento. Ocorre que, após a manifestação das partes (não pugnando pela oitiva de novas
testemunhas), o d. julgador deveria ter designado nova audiência para interrogatório do réu para que este
exercesse seu direito à autodefesa, tendo em vista que, admitido o aditamento, a instrução, que estava finda, é
reaberta.

Nesse sentido, é a lição de Guilherme de Souza Nucci:


"...Havendo o recebimento do aditamento, o juiz deve designar audiência, no mínimo, para interrogar novamente
o réu, dando-lhe a oportunidade de exercer a autodefesa. Portanto, não depende de requerimento da parte
interessada. Cuida-se de medida cogente. Se a acusação e a defesa não ofertarem rol de testemunhas, ouve-se
somente o réu. Este, no entanto, precisa ser interrogado. (...) na verdade, quis-se dizer que, admitido o
aditamento, reabre-se a instrução, que estava finda. Portanto, não se trata de continuidade da audiência anterior,
mas de uma nova oportunidade para as partes justificarem a novel pretensão surgida, em face do recebimento do
aditamento..." (in Código de Processo Penal Comentado, Ed. Revista dos Tribunais, 9ª Edição, 2009, pág. 694)
Ainda, após realizado novo interrogatório do acusado e encerrada a instrução, as partes deveriam ser intimadas a
oferecerem novas alegações finais, considerando que aquelas encartadas às fls. 90/98 e 101/103 não se referem
ao crime descrito no aditamento, e, por óbvio, não se relacionam com a sentença. (TJMG - Apelação Criminal
1.0394.13.009598-4/001, Relator(a): Des.(a) Cássio Salomé , 7ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 05/02/2015,
publicação da súmula em 13/02/2015).

9) Acerca da última pergunta: e se o juiz vislumbra a suspensão condicional do processo? Ele pode fazer
isso de ofício?
Nas lições do Professor Renato Brasileiro quando na audiência de designação instrução e julgamento o MP se
recusa a oferecer a proposta de suspensão condicional do processo, o juiz não pode conceder de ofício, pois a
suspensão importa na restrição da titularidade da Ação Penal Pública, razão pela qual depende do MP e não
da vontade do juiz. Nesse caso deve o juiz aplicar a Súmula 696 do STF que dispõe:
REUNIDOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PERMISSIVOS DA SUSPENSAO CONDICIONAL DO PROCESSO,
MAS SE RECUSANDO O PROMOTOR DE JUSTIÇA A PROPÔ-LA, O JUIZ, DISSENTINDO, REMETERÁ A
QUESTAO AO PROCURADOR-GERAL, APLICANDO-SE POR ANALOGIA O ART. 28DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL.

GRUPO TEMÁTICO II

Civil: BERTOLDO MATEUS DE OLIVEIRA FILHO

1) A senhora pode comentar o acórdão do STF sobre a sucessão do companheiro na união estável
homoafetiva?
O STF apreciou o tema em sede de recurso extraordinário submetido à repercussão geral e fixou a seguinte tese:
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil.
O RE 878694 trata de união de casal heteroafetivo e o RE 646721 aborda sucessão em uma relação
homoafetiva. A conclusão do Tribunal foi de que não existe elemento de discriminação que justifique o tratamento
diferenciado entre cônjuge e companheiro estabelecido pelo Código Civil, estendendo esses efeitos
independentemente de orientação sexual.
A CF/88 prevê não apenas a família decorrente do casamento (família matrimonial), sendo protegidas outras
modalidades de família. Umas das espécies de família protegidas pela Constituição é a família derivada da união
estável, seja ela hetero ou homoafetiva. Isso está expresso no § 3º do art. 226 do Texto Constitucional.
O legislador, cumprindo a vontade constituinte, editou duas leis ordinárias que equiparavam os regimes jurídicos
sucessórios do casamento e da união estável (Lei nº 8.971/94 e Lei 9.278/96). O Código Civil de 2002, no
entanto, regrediu no tratamento do tema e “desequiparou”, para fins de sucessão, o casamento e a união estável,
fazendo com que o(a) companheiro(a) do falecido tivesse uma proteção bem menor do que aquela que é
conferida ao cônjuge. Dessa forma, o CC-2002 promoveu verdadeiro retrocesso, criando uma hierarquização
entre as famílias, o que não é admitido pela Constituição, que trata todas as famílias com o mesmo grau de valia,
respeito e consideração.
Princípios constitucionais violados Dessa forma, o art. 1.790 do CC é inconstitucional porque viola: o princípio
da igualdade; a dignidade da pessoa humana; o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à
proteção deficiente) e o princípio da vedação ao retrocesso.
2) Nesse julgamento, como se tratava da inconstitucionalidade do art. 1790, a senhora falou em 2
princípios elencados lá (dignidade da pessoa humana e isonomia). STF, no entanto, também mencionou
outro fundamento para reforçar o argumento. A legislação anterior era mais benéfica. A senhora pode me
dizer qual? Pode ser uma interpretação da senhora. (A candidata demorou pra responder, e ele deu uma
contextualizada, foi bacana). Ela respondeu e ele disse “esse princípio a senhora já falou”, dando mais
uma chance para ela responder. A candidata permaneceu calada por um tempo, ele foi paciente e esperou
ela se manifestar. Deu mais uma chance pra ela acertar. Ela respondeu e ele “quase”.
A resposta correta era a proibição ao retrocesso.

3) Qual é a diferença entre sucessão legítima e testamentária?


A sucessão legítima, também conhecida como sucessão ab intestato ou ainda não testamentária, é aquela
decorrente das disposições legais. Não havendo testamento, necessariamente a sucessão será legítima,
passando o patrimônio do falecido na ordem da vocação hereditária às pessoas indicadas pela lei, chamados
herdeiros (CAHALI, 2003, p. 28). Regra geral, a presença uma classe de herdeiros mais próxima por vínculos
hereditários ou legais com o autor da herança conforme enumeração legal exclui a classe subseqüente da
partilha.
Em outras três hipóteses a sucessão também será realizada pelas disposições da legítima. Primeira, quando em
seu ato de última vontade o autor da herança não dispõe da integralidade de seus bens, isto é, consta parte deles
em testamento e sobre outra parte nada manifesta. Segunda, caso houver caducidade do testamento ou, por fim,
se o testamento for considerado nulo. Nesse caso, a sucessão será deferida na ordem legal de vocação
hereditária às pessoas expressamente indicadas no art. 1.829 do CC. Sucessão legítima, portanto, é a que é
deferida por determinação legal (MONTEIRO, 2003, p. 9).
A sucessão testamentária, por seu turno, é conduzida pelo testamento, sendo que este instrumento pode
contemplar herdeiros, que sucedem a título universal, ou legatários, que sucedem a título singular.
Além disso, o testamento assume natureza de negócio jurídico por se tratar de uma declaração de vontade que
produz efeitos jurídicos, ainda que post-mortem. Assume também o caráter de instrumento solene, pois somente
pode ser escrito e sempre atendendo as formalidades previstas na lei, sob pena de ser declarado inválido (GAMA,
2006, p. 364).
Há limites ao direito de testar. O autor da herança tem grande liberdade, mas a lei impõe limites a serem
observamos em favor dos herdeiros necessários.
É neste sentido o texto do artigo 1.846 do Código Civil:
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a
legítima.

4) O que é direito de representação?


Sucede-se por direito de representação quando, no momento da abertura da sucessão, falta quem devia suceder,
por determinação legal, e não sucedeu por impossibilidade física ou jurídica. Ocorre, nesse caso, uma só
transmissão, sucedendo em substituição os parentes indicados por lei. Assim,sucede-se por direito de
representação quando se toma o lugar de herdeiro pré-morto (1.851) ou indigno da classe chamada (1.816).

5) Quais são os testamentos ordinários?


O Código Civil admite três formas de testamento ordinário: público, cerrado e particular (Art. 1862, CC).
O testamento público é escrito pelo tabelião em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador,
feitas em língua nacional, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos, em presença de duas
testemunhas, que devem assistir a todo o ato.
Testamento cerrado, secreto ou místico é o escrito pelo próprio testador, ou por alguém a seu rogo e por aquele
assinado, com caráter sigiloso, completado pelo instrumento de aprovação ou autenticação lavrado pelo tabelião
ou por seu substituto legal, em presença do disponente e de duas testemunhas.
Denomina-se testamento particular ou hológrafo o ato de disposição de última vontade escrito de próprio punho,
ou mediante processo mecânico, assinado pelo testador, e lido por este a três testemunhas, que o subscreverão,
com a obrigação de, depois da morte do disponente, confirmar a sua autenticidade.
A vantagem desse meio de testar consiste na desnecessidade da presença do tabelião, tornando-se, assim,
simples, cômodo e econômico para o testador. Todavia, é a forma menos segura de testar, porque depende de
confirmação, em juízo, pelas testemunhas, após a abertura da sucessão.

6) Quais são os efeitos da comoriência na sucessão?


A comoriência é a presunção de morte simultânea, de uma ou mais pessoas, na mesma ocasião (tempo), em
razão do mesmo evento ou não, devido ao fato de não ser possível averiguar se algum dos comorientes faleceu
antes dos outros.
No caso da comoriência, como não se consegue identificar quem faleceu primeiro, sendo os indivíduos
considerados simultaneamente mortos, não cabe direito sucessório entre comorientes, vale dizer, comorientes
não são herdeiros entre si. Desaparece o vinculo sucessório entre ambos. Com isso, um não herda do outro e os
bens de cada um passam aos seus respectivos herdeiros.

7) Quais são os herdeiros necessários? Nesta ordem?


A ideia e concepção de “herdeiros necessários” está diretamente ligada á ideia de proteção a alguém
supostamente vulnerável. É assim que o artigo 1845 do Código Civil 2002, repetindo o conteúdo do Código Civil
1916, que por sua vez advinha do sistema originário da codificação, chegou até nós: São herdeiros necessários
os descendentes, ascendentes e o cônjuge”. Isto significa que pertence aos herdeiros necessários a metade dos
bens da herança, o que se denomina de legítima.
A ordem é aquela disposta pelo art. 1.829 do CC.

8) O senhor acha q o companheiro foi equiparado ao cônjuge como herdeiro necessário?


Há duas posições. A primeira defende a equiparação do companheiro ao cônjuge como herdeiro necessário. A
segunda, por sua vez, nega tal equiparação.
Uma das base de sustentação da corrente interpretativa do (a) companheiro (a) como herdeiro necessário está na
decisão do julgamento de inconstitucionalidade do artigo 1790 do Código Civil, que fazia diferenciação na herança
legitima entre cônjuge e companheiro e que teria atingido também o conteúdo do artigo 1845 que estabelece
quem é herdeiro necessário. Mas isto não seria possível, para a segunda corrente, pois o rol dos herdeiros
necessários é taxativo, e portanto não se pode dar interpretação que amplie a norma restritiva. E além disto, o
STF não disse isto. Ao contrário, como se depreende do voto do ministro Edson Fachin, que bem traduziu o
espirito da lei: “Na sucessão, a liberdade patrimonial dos conviventes já e assegurada com o não reconhecimento
do companheiro como herdeiro necessário, podendo-se afastar os efeitos sucessórios por testamento. Prestigiar
a maior liberdade na conjugalidade informal não é atribuir, a priori, menos direitos ou direitos diferentes do
casamento, mas, sim, oferecer a possibilidade de, voluntariamente, excluir os efeitos sucessórios”. (RE 646.724,
Ministro Edson Fachin, p. 57).
A equiparação feita pelo STF limitou-se às regras relativas à concorrência sucessória e cálculo dos quinhões
hereditários facultativos para que os companheiros não fiquem em desvantagem aos colaterais, como bem disse
Mário Delgado: (...) o artigo 1845 é nítida norma restritiva de direitos, pois institui restrição ao livre exercício da
autonomia privada e, conforme normas ancestrais de hermenêutica, não se pode dar interpretação ampliativa à
norma restritiva. (In. Famílias e Sucessões – Polêmicas, tendências e inovações, Ed. IBDFAM, 2018, P. 387).
Portanto, companheiros não necessariamente são herdeiros. Apenas quando eles assim o desejarem.

Processo Civil: ADRIANO CARDOSO DA SILVA

1) O rol de hipóteses de cabimento do agravo instrumento pode ser interpretado de modo extensivo? Se
sim, em quais procedimentos esse rol não se aplicaria? (A candidata disse q estava com dificuldade para
lembrar do exemplo, ele disse “vai fazendo o raciocínio que a senhora eventualmente vai lembrar” e deu
tempo pra ela pensar, foi paciente e reformulou a questão).
No âmbito do STJ não é pacífica a interpretação quanto a taxatividade do rol
do artigo 1015 do CPC/15. Inclusive, alguns Ministros posicionam-se no sentido de que “O rol do artigo 1.015 do
CPC/15 é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a
urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.”
O STJ, ao analisar o caso, no REsp 1722866 (ainda não publicado) considerou que diante da lacuna na
legislação que regula o processo de recuperação judicial (Lei 11.101/05) deve-se, mediante interpretação
extensiva do CPC/15, permitir a propositura do agravo de instrumento, afastando-se a taxatividade do rol do art.
1.015 em casos urgentes e de difícil reparação. A esse respeito, o tema estava afetado em IRDR pelo egrégio
TJMG, tendo como questão submetida a julgamento: “Definir a natureza do rol do art. 1015 do CPC/2015 e
verificar possibilidade de sua interpretação extensiva, para se admitir a interposição de agravo de instrumento
contra decisão interlocutória que verse sobre hipóteses não expressamente versadas nos incisos do referido
dispositivo do Novo CPC.” Tendo o STJ decidido o caso, a tendência é o TJMG seguir no mesmo sentido,
afastando-se a taxatividade do rol, nas hipóteses urgentes.
É cabível agravo de instrumento contra decisão interlocutória relacionada à definição de competência: É cabível a
interposição de agravo de instrumento contra decisão relacionada à definição de competência, a despeito de não
previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015. STJ. 4ª Turma. REsp 1.679.909-RS, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 14/11/2017.
É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos embargos à
execução: É admissível a interposição de agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução. STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 05/12/2017 (Info 617)

2) Em que consiste a primazia do mérito no juízo de admissibilidade dos recursos? Abarca vício de
fundamentação dos recursos?
O principio da primazia do julgamento do mérito está no art. 4º, CPC. Ele se irradia para a admissibilidade dos
recursos. Uma variável desse princípio é a primazia do julgamento do mérito recursal, que tem como ícone o art.
932, parágrafo único.
Por esses princípios, cabe ao juiz fazer o possível para evitar a prolação de uma sentença terminativa, buscando
chegar a um julgamento de mérito, que resolva definitivamente a crise jurídica.
O Novo CPC, em principio, é intransigente com vícios de fundamentação: art. 932, III: Relator não conhecerá do
recurso que não impugnar especificadamente os fundamentos da decisão. Art. 1021, p1º: mesma coisa no agravo
interno
Primazia do mérito abarca vício de fundamentação? A doutrina é divergente. Ela sinaliza mjoriatariamente que
não é possível consertar vícios de fundamentação (só vícios procedimentais, como falta de peças obrigatórias em
Agravo de Instrumento), mas há quem defenda que é possível. A favor:“O dispositivo comentado alcança,
inclusive, a hipótese em que o recorrente não impugna especificamente os fundamentos da decisão recorrida,
porque não faz distinção sobre a causa ou o motivo da irregularidade que pode ser sanada”. (NERY JR., Nelson.
CPC Comentado, p. 1.853). Contra: Daniel Assumpção, Manual..., p. 1.502 e Didier, Curso..., p. 54.
A 1ª Turma do STF posicionou-se contrariamente a essa possibilidade, afirmando que: O prazo de 5 dias previsto
no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja necessário sanar vícios formais,
como ausência de procuração ou de assinatura, e não à complementação da fundamentação. Assim, esse
dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos os fundamentos da decisão recorrida. Isso
porque, nesta hipótese, seria necessária a complementação das razões do recurso, o que não é permitido. INF
829.

3) A falta de preparo recursal poderia ser um exemplo?


Trata-se de exemplo, mas para o qual há regra específica.
§ 4o O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em
dobro, sob pena de deserção.
§ 5o É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de remessa e de
retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4o.
§ 6o Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por decisão irrecorrível,
fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo.

4) Em quais recursos se aplica o incidente de ampliação de recorribilidade e como funciona?


O incidente de ampliação de recorribilidade é também chamado de técnica de ampliação do colegiado ou
julgamento estendido. Não se trata de recurso, pois independe da prática de qualquer ato pela parte. A primeira
hipótese de aplicabilidade é no julgamento de apelação em que o resultado aponte dois votos em um sentido e
um voto no sentido contrário. Há a extensão de julgamento não unânime para que se atinja a decisão com mais
segurança, convocando julgadores em número apto a reverter o resultado. O incidente, na apelação, tem apenas
1 requisito: julgamento não unânime.
Destaque-se que a ausência de unanimidade tem de ser quanto ao resultado, não quanto à fundamentação.
A segunda hipótese de cabimento é no agravo de instrumento. 3 requisitos para TAC em Agravo de Instrumento:
(i) Decisão que julga mérito parcialmente; (ii) Decisão tem de ser reformada (não pode ser mantida, senão não
cabe TAC) ; (iii) decisão não unânime.
A terceira hipótese já não é mais em sede de julgamento de recurso, mas de ação rescisória. AR procedente por
acórdão não unânime: (i) pedido de rescisão (pedido rescindendo) deve ser julgado procedente; (ii) não
unanimidade.

5) O julgamento pode ser feito na mesma sessão ou deve ser feito na sessão seguinte? Sendo na mesma
sessão, deve ou não ter a sustentação oral?
Se for possível prosseguir o julgamento na mesma sessão, não será necessária a designação de nova sessão de
julgamento, já se colhendo, ali mesmo, os votos dos outros julgadores (art. 942, §1°, CPC). Nesse caso,
dispensa-se nova sustentação oral, pois os outros julgadores já terão assistido à que fora apresentada. É o que
ocorre em tribunais que mantêm câmaras julgadoras de cinco membros: a apelação é julgada por três deles,
formando-se a turma específica. Os outros dois, integrantes de outra formação, ficam no aguardo. Se, nesse
caso, o julgamento não for unânime, já se aproveita a presença dos outros dois e se colhem seus votos,
encerrando-se o julgamento. (DIDIER, Fredie, Ob. cit., p. 78).

DIERLE
6) Quais as mudanças que o novo CPC trouxe para os recursos repetitivos? No que tange ao
procedimento, teve alguma mudança mais emblemática?
Entre as novidades do novo CPC, o artigo 1.037, inciso II, amplia os efeitos da decisão do STJ que submete um
recurso ao rito das controvérsias repetitivas. Com a nova regra, quando houver a afetação de um recurso
repetitivo, o ministro relator “determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional”.
Pelo CPC de 73 (artigo 543-C), a afetação do repetitivo provocava apenas o sobrestamento dos recursos
especiais interpostos perante os tribunais de segunda instância, mas em alguns casos os ministros do STJ já
vinham determinando, excepcionalmente, a paralisação do trâmite de todos os processos em andamento do país.
Na nova lei, o parágrafo 4º do artigo 1.037 diz que “os recursos afetados deverão ser julgados no prazo de um
ano e terão preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas
corpus”.
No mesmo sentido, no que toca aos Recursos Extraordinários, sob a antiga regulamentação, o sobrestamento era
apenas dos recursos extraordinários interpostos. A jurisprudência do STF começou, todavia, a autorizar a
suspensão de processos sobre o assunto, ainda que não ainda em grau de recurso extraordinário, o que foi
encampado pelo legislador do novo CPC.
Uma vez tomada decisão no recurso paradigma, todos os demais recursos sobre o mesmo tema sofrerão
imediato efeito. Decisões contrárias serão revistas e as no mesmo sentido da decisão tomada no leading
case serão automaticamente mantidas.
A sistemática representa uma revolução na forma tradicional de julgamento e de eficácia das decisões. Isso
porque, no rito repetitivo, a decisão tomada no leading case afetará todos os recursos em trâmite no país,
imediatamente.
Outra inovação muito positiva do atual CPC é a previsão de um procedimento para que se faça a distinção entre o
caso paradigma e outros eventualmente sobrestados e para que a parte requeira o indeferimento imediato de
recurso intempestivo.
Como as partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão, após a afetação da tese no recurso paradigma,
elas poderão requerer o prosseguimento do seu processo se demonstrarem que as hipóteses são distintas.

7) Seria possível a interposição de recursos contra uma sucumbência na parte da fundamentação da


decisão? Ou seja, houve modificação/ampliação do interesse recursal com o novo CPC? Caso afirmativo,
por qual razão?
É possível a interposição de recursos diante de sucumbência na parte da fundamentação. Com o novo CPC,
houve ampliação do interesse recursal nesse sentido, o que se evidencia pelos terceiro e quarto exemplos a
seguir. Exemplos:
Interposição de embargos de declaração. Os embargos de declaração servem, como se sabe, para impugnar
qualquer decisão que seja obscura, contraditória, omissa ou que tenha erro material (art. 1.022 do CPC-15),
objetivando o esclarecimento ou a integração da decisão impugnada. É perfeitamente possível, portanto, que se
interponham embargos de declaração para se discutir somente a fundamentação (obscuridade, contradição), sem
que eventual acolhimento implique qualquer alteração na conclusão da decisão impugnada. O interesse recursal,
nestes casos, existe tanto para a parte sucumbente quanto para a que se sagrou vitoriosa.
Recurso nos casos de coisa julgada secundum eventum probationis.
Nos casos em que a coisa julgada é secundum eventum probationis (a regra nas ações coletivas), não há
coisa julgada se a sentença for de improcedência por insuficiência de provas; no caso de improcedência por
inexistência do direito, há coisa julgada (art. 103 do CDC). Embora o réu se sagre vencedor da demanda em
razão da improcedência por insuficiência de provas, ele terá interesse recursal para, impugnando a
fundamentação, tentar obter uma improcedência pela inexistência do direito, tendo em vista que neste caso a
decisão será acobertada pela coisa julgada material, o que lhe trará maior benefício.

8) Extensão da coisa julgada à resolução da questão prejudicial incidental.


A extensão da coisa julgada à resolução da questão prejudicial incidental, desde que observados certos
pressupostos, prevista no § 1º, do art. 503 do CPC-15, possibilita que a coisa julgada abranja questão resolvida
na fundamentação da decisão. Cabe ao recorrente impugnar a resolução da questão prejudicial incidental, pois
embora se trate de questão resolvida na fundamentação, se não o fizer a questão se tornará imutável pela coisa
julgada. Deve se ter extrema atenção. Questão prejudicial incidental decidida (ainda que na fundamentação), mas
não impugnada, é questão preclusa, não podendo o tribunal, no julgamento de recurso que não tenha impugnado
especificamente esta matéria, reexaminá-la

9) Formação do precedente obrigatório.


Sabe-se que o atual sistema processual ampliou, consideravelmente, a utilização de precedentes obrigatórios do
Brasil. Embora não se trate de uma novidade instituída pelo CPC-15, decerto a imposição da integridade e
coerência prevista no art. 926, bem como o rol dos considerados “precedentes obrigatórios” do art. 927, não
deixam mais espaço para se negar a adoção desse sistema de precedentes vinculantes no atual modelo
processual.
Comumente se afirma que o elemento normativo do precedente, ou seja, a ratio decidendi encontra-se na
fundamentação da decisão. Não é o lugar para se discutir se o precedente confunde-se realmente com a ratio
decidendi, tampouco se ele teria mesmo força normativa. De que forma for, é na fundamentação da decisão
precedente que o juiz do caso futuro buscará a ratio decidendi, que será utilizada como razão de decidir em
outros casos análogos (treat like cases alike), notadamente se esta for extraída de um dos pronunciamentos
judiciais insertos no art. 927, do CPC-15.
Mesmo que a parte seja vencedora da demanda, pode acontecer que as razões que levaram a sua vitória não
sejam as melhores, podendo desaguar na formação de um precedente que, analisando-se os casos futuros a
serem afetados pelo precedente, traga prejuízos concretos à parte em casos análogos. A utilidade do novo
julgamento (interesse recursal) pode estar caracterizada mesmo que inexista pretensão de alteração do
dispositivo da decisão, mas exista possibilidade de alteração da fundamentação, se a mudança for mais benéfica
ao recorrente, seja para evitar a formação de um novo precedente ou por ensejar a superação do precedente
existente
Com efeito, pode-se afirmar que há interesse recursal na impugnação apenas da fundamentação da decisão
nestes casos, seja pela parte vencida (que, naturalmente, poderá impugnar também o dispositivo da decisão),
seja pela parte vencedora, que tem interesse em evitar que aquela fundamentação possa lhe causar prejuízos
concretos em outros casos futuros, evitando-se a formação de um novo precedente ou a superação do
precedente existente.

GRUPO TEMÁTICO IV

Coletivo: CARLOS ALBERTO VALERA (SUPLENTE)

1) Qual a natureza jurídica da responsabilidade civil dos atos da improbidade administrativa?


A responsabilidade civil por atos de improbidade possui natureza subjetiva segundo a visão majoritária. O
STJ interpreta literalmente os artigos legais, concluindo que apenas as condutas que causam prejuízo ao erário,
previstas no art. 10, da Lei 8429, podem ser praticadas a título de dolo ou culpa. As demais condutas só admitem
responsabilização a título de dolo.
Fernando Martins, por seu turno, adota visão minoritária de que se trata de responsabilidade sempre objetiva,
pois é impositiva a observância dos princípios informadores da Administração Pública (art. 37, CR/88). Ademais, o
desconhecimento da lei não autoriza seu descumprimento.

2) Transitando pela responsabilidade civil, quais os tipos de responsabilidade civil que temos? Quando
aplicamos cada uma delas? Depois, perguntou: Em qual situação se aplica a responsabilidade civil
objetiva?
A responsabilidade civil poderá ser subjetiva, quando necessária a comprovação de culpa do agente
causador do dano, ou objetiva, quando importante comprovar somente a ocorrência do dano e o nexo causal. A
responsabilidade será subjetiva quando o dever de indenizar surgir em razão do comportamento do sujeito que
causa danos a terceiros, por dolo ou culpa. Já na responsabilidade objetiva, basta que haja o dano e o nexo de
causalidade para surgir o dever de indenizar, sendo irrelevante a conduta culposa ou não do agente causador. É
evidente que para a responsabilidade subjetiva é necessária a comprovação de quatro pressupostos
caracterizadores, quais sejam: ação ou omissão; dano; nexo de causalidade entre a ação ou omissão e o dano;
dolo ou culpa do causador do dano. Já para a responsabilidade objetiva só é necessário comprovar a ação ou
omissão, o dano e o nexo de causalidade.
A responsabilidade subjetiva constitui regra geral em nosso ordenamento jurídico, baseada na teoria da
culpa. A responsabilidade objetiva, por sua vez, encontra previsão primordial no parágrafo único do art. 927 do
CC, pelo qual haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza risco para os
direitos de outrem. Assim, a responsabilidade objetiva é fundada na teoria do risco, a qual possui as seguintes
principais modalidades: Teoria do risco administrativo: adotada nos casos de responsabilidade objetiva do Estado,
(art. 37, § 6.º, da CF/1988).
Teoria do risco criado: está presente nos casos em que o agente cria o risco, decorrente de outra pessoa ou de
uma coisa. Cite-se a previsão do art. 938 do CC, que trata da responsabilidade do ocupante do prédio pelas
coisas que dele caírem ou forem lançadas (defenestramento).
Teoria do risco da atividade (ou risco profissional): quando a atividade desempenhada cria riscos a terceiros, aos
direitos de outrem, nos moldes do que consta da segunda parte do art. 927, parágrafo único, do CC.
Teoria do risco proveito: é adotada nas situações em que o risco decorre de uma atividade lucrativa, ou seja, o
agente retira um proveito do risco criado, como nos casos envolvendo os riscos de um produto relacionados com
a responsabilidade objetiva decorrente do Código de Defesa do Consumidor. Dentro da ideia de riscoproveito
estão os riscos de desenvolvimento. Exemplificando, deve uma empresa
farmacêutica responder por um novo produto que coloca no mercado ou que ainda esteja em fase de testes.
Teoria do risco integral: nessa hipótese não há excludente de nexo de causalidade ou responsabilidade civil a ser
alegada, como nos casos de danos ambientais, segundo os autores ambientalistas (art. 14, § 1.º, da Lei
6.938/1981). No caso de dano ambiental causado pelo Estado, aplicar-se-ia essa teoria para essa parcela da
doutrina e da jurisprudência.

3) Como se conta o prazo prescricional de agentes políticos que foram reeleitos? Por quê? (a candidata
respondeu somente como o prazo era contado na questão anterior. Pediu tempo para responder e o
examinador respondeu tranquilo “a vontade”).
A Lei 8.429/92 estabeleceu o prazo prescricional de cinco anos contados do término do exercício de
mandato, cargo em comissão ou função de confiança (art. 23, I). Dispôs de forma diferente quando o agente
público ocupar cargo de provimento efetivo ou emprego.
A razão para o tratamento diferenciado consiste na presunção — que a experiência demonstra — de que
existem maiores dificuldades de conhecimento e de apuração de atos de improbidade administrativa na hipótese
de o agente político estar, ainda, em exercício.
Com efeito, a realidade mostra que somente ao cabo do mandato vem à tona denúncias quanto a fatos
anteriores, que constituem improbidade administrativa.
É certo que a Lei de Improbidade Administrativa foi editada antes de possibilidade de reeleição dos chefes do
Poder Executivo e, evidentemente, não poderia conter disposição sobre este tema. Cumpre então ao intérprete
buscar solucionar a matéria a partir dos princípios que inspiram o ordenamento jurídico. Assim, quando reeleito, a
prescrição inicia-se a partir do término do segundo mandato.

2) Os MPS estaduais possuem legitimidade recursal perante os tribunais superiores em matéria


administrativa? Se positiva, qual o papel do MP neste caso? Como fica a unidade e indivisibilidade do MP
brasileiro? Por quê?
Recentemente, o STF reafirmou que "Os Ministérios Públicos estaduais não estão vinculados nem
subordinados, no plano processual, administrativo e/ou institucional, à Chefia do Ministério Público da União, o
que lhes confere ampla possibilidade de atuação autônoma nos processos em que forem partes, inclusive perante
os Tribunais Superiores”.
Assim, nesses casos, o MP atuará como parte, pois compete ao MPF a atuação como fiscal da ordem
jurídica perante os Tribunais Superiores.
A unidade e a indivisibilidade não sofrem prejuízo. Isso porque, a rigor, a unidade e indivisibilidade do MP
limitam-se a cada instituição ministerial. A unidade nacional é meramente abstrata ou conceitual, pois, na prática,
só existem unidade e indivisibilidade entre os membros de um mesmo ministério público.

3) Qual ou quais princípios se aplicam no aforamento da ACP por ato de improbidade administrativa e seu
recebimento após a resposta preliminar? Explique.
Conforme decidido pelo STJ, tratando-se, o recebimento da petição inicial, de mero juízo preliminar,
conforme prevê o artigo 17, parágrafos 7º, 8º, e 9º da Lei 8.429/1992, basta a demonstração de indícios razoáveis
de prática de atos de improbidade e de sua autoria para que se determine o prosseguimento da ação, em
obediência ao princípio “in dubio pro societate (na dúvida, a favor da sociedade), a fim de possibilitar o maior
resguardo do interesse público.

4) É possível o manejo de ACP por ato de improbidade administrativa somente em face do particular? Por
quê? E a lesão ao erário?
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem considerado que, embora o particular esteja sujeito às
penalidades da Lei de Improbidade Administrativa, não pode responder em ação de improbidade sem que haja a
participação de um agente público no polo passivo da demanda. A justificativa é a de que a responsabilização de
terceiros está condicionada à prática de um ato de improbidade por um agente público. É dizer: não havendo
participação do agente público, há que ser afastada a incidência da LIA, estando o terceiro sujeito a sanções
previstas em outras disposições legais. Pelas mesmas razões, não poderá o particular figurar sozinho no polo
passivo de uma ação de improbidade administrativa, nele tendo de participar, necessariamente, o agente público.
Considera-se não ser possível alargar o conceito de agente público previsto da Lei de Improbidade Administrativa
para abarcar particulares que não estejam no exercício de função estatal, sob qualquer forma de investidura ou
vínculo.
Para que se obtenha o ressarcimento da lesão ao Erário, deve ser ajuizada Ação Civil Pública comum em
face do particular.

5) Recentemente o STF decidiu como paradigma que nas questões ambientais não há necessidade de
descrever a conduta da pessoa jurídica e pessoa física. A senhora acha que se aplica o mesmo raciocínio
aqui?
Não se aplica o mesmo raciocínio. O Superior Tribunal de Justiça firmou sua jurisprudência no sentido de
que é necessária a análise da razoabilidade e da proporcionalidade em relação à gravidade do ato de
improbidade e à cominação das penalidades, as quais não devem ser aplicadas indistintamente: faz-se
imprescindível, portanto, a individualização das condutas, não se podendo ultrapassar em espécie ou
quantidade o limite da culpabilidade do autor do fato. Do contrário, a inicial acusatória inverte de modo
ilegítimo e inaceitável o ônus da prova.

6) Qual ou quais princípios se aplicam no aforamento da ACP por ato de improbidade administrativa e seu
recebimento após a resposta preliminar? Explique. Fazendo uma questionamento extra, a jurisprudência
não tem evoluído com o princípio da não culpabilidade e da justa causa? O princípio da justa causa e da
não culpabilidade podem ser aplicados no âmbito da ACP por improbidade? Por quê? Não seria o caso de
ação estigmatizante? (no caso de conflitos entre dois princípios o da não culpabilidade e do in dubio pro
societatde como fica?) Dignidade da pessoa humana.
Conforme decidido pelo STJ, tratando-se, o recebimento da petição inicial, de mero juízo preliminar,
conforme prevê o artigo 17, parágrafos 7º, 8º, e 9º da Lei 8.429/1992, basta a demonstração de indícios razoáveis
de prática de atos de improbidade e de sua autoria para que se determine o prosseguimento da ação, em
obediência ao princípio “in dubio pro societate (na dúvida, a favor da sociedade), a fim de possibilitar o maior
resguardo do interesse público.
O princípio do in dubio pro societate, todavia, convive com os princípios da justa causa e da culpabilidade,
pois não impõe ao juízo o arrolamento impróprio ou inadequado de determinados requeridos. Em verdade, se tal
raciocínio realmente norteasse a ação do Judiciário, seria despropositada a fase de apreciação da admissibilidade
da petição inicial. Frente a isso, resta concluir que a presunção extraída do in dúbio pro societate não pode servir
de “cheque em branco” para recebimento da petição inicial. O convencimento judicial precisa se circunscrever a
uma margem de controle das partes, de modo que aquela presunção somente incidiria na hipótese de as provas
preliminares demonstrarem indícios de ocorrência do fato imputado. Assim, guarda-se respeito aos ditames do
Estado Democrático de Direito, sobretudo com o princípio da dignidade da pessoa humana.
FONTE: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3881760/mod_resource/content/0/
Artigo25anosLIArevSinteseProfJustinoeProfSchieflerjul2017.pdf

6) Ponderação de direitos fundamentais. Há algum preponderante? (Sim. Dignidade da pessoa humana). 


Comentário presente no arquivo original

7) Recomendou ao candidato a leitura da Edição 38, item 8 da jurisprudência em tese do STJ. Examinador
não concorda com o STJ, e pede argumentos neste sentido (não há necessidade do agente público).
Conforme a corrente de entendimento seguida pelo Examinador, a legitimidade passiva da ação de
improbidade seria determinada pelo objeto do ato ímprobo (recursos públicos geridos) e não pela identidade do
sujeito que o tenha praticado (agente público ou terceiro). Isso equivaleria, na prática, a enquadrar todo réu em
ação de improbidade administrativa, indistintamente, no art. 2.º da LIA – como se não houvesse o art. 3.º. Ou
seja, pouco importaria a figuração do particular como réu isolado, já que a detenção de recursos públicos por ele
o equipararia a agente público (art. 2.º) e não a terceiro (art. 3.º). Não parece restar dúvida de que a defesa dessa
orientação extensiva pautou-se por genuína preocupação em evitar a impunidade – ou a concepção que se
possua de impunidade.

Processo Coletivo: GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO

1) Importância dessa matéria do atual estágio do processo coletivo. A execução de modo geral é um
aspecto que tem muita relevância no processo coletivo, pelo menos em MG. Estamos conseguindo
construir jurisprudência favorável a nossa atuação. Estamos ingressando na fase da execução. Para que
haja uma liquidação em sentença, é necessário um pressuposto. A senhora saberia qual é? (a candidata
deu um pressuposto da execução, ai ele pediu pra ela responder de novo, reafirmando que queria um
pressuposto da liquidação).
Liquidação de sentença é a atividade judicial cognitiva pela qual se busca integrar uma norma jurídica
individualizada estabelecida em título judicial. Portanto, o pressuposto essencial para que haja liquidação é a
existência de uma decisão certificando o direito do credor a uma prestação, sendo que tal decisão deve ser
ilíquida ou genérica, ou seja, deve necessitar ser integrada de modo a serem completos os elementos que faltam
para a total definição da norma jurídica individualizada.

2) O novo CPC funciona subsidiariamente e trouxe novidade. Com relação à competência, com relação
aos juízes competentes para liquidação da sentença, hj podemos arrolar aproximadamente 4 hipóteses.
Quais são elas?
1 Competência do juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição (art. 516, II, CPC;
2 Competência do juízo do atual domicílio do executado (art. 516, parágrafo único, CPC);
3 Competência do juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução (art. 516, parágrafo único,
CPC);
4 Competência do juízo do local em que deva ser executada a obrigação de fazer ou não fazer (art. 516,
parágrafo único, CPC).

3) Dentre as categorias de direito coletivo “lato sensu”, existe uma que com certeza vai lhe dar mais
trabalho como promotora com relação à liquidação de sentença. A senhora poderia me dizer qual?
O maior problema das liquidações coletivas de danos difusos e coletivos está na fixação do quantum tendo
em vista a difícil mensuração deste tipo de dano. Não existe no nosso ordenamento jurídico nenhuma regra que
estabeleça quais devem ser os critérios adotados pelos magistrados para a fixação do valor da indenização por
danos difusos ou coletivos. Elton Venturi, sobre a quantificação do dano argumenta no sentido da utilização de um
critério utilizado na reparação ambiental, onde se busca fixar, de acordo com uma estimativa, os prejuízos
econômicos que o ato ou fato causou ao bem violado, levando sempre em conta a capacidade econômica do
causador do dano.
Todavia, as dificuldades na liquidação de sentença atinente a direitos individuais homogêneos são ainda
maiores. De fato, os direitos individuais homogêneos possuem titulares identificados. No entanto, passado o
prazo de 1 ano, uma vez não ocorrendo a identificação ou habilitação de titulares de direitos individual em número
compatível com a gravidade da lesão, poderá o MP ou qualquer co-legitimado promover a liquidação e execução
da indenização, que irá para o Fundo de Direitos Difusos (fluid recovery). Assim, o primeiro trabalho do monitor é
monitorar as liquidações e execuções. Após, sendo o caso de promover a liquidação, o promotor deverá apurar as
circunstancias individuais de cada lesão ao direito de cada titular, para que estime o valor do dano. Portanto, é
nítido o maior volume de trabalho derivado da liquidação de sentenças versando sobre direitos individuais
homogêneos.

4) No microssistema do processo coletivo existe alguma disposição específica sobre a liquidação da


sentença coletiva? Me refiro ao procedimento específico da liquidação de sentença, não a referências
isoladas. A candidata deu uma resposta que aparentemente ele não concordava. O segundo candidato
também teve certa dificuldade de entender a pergunta do examinador.
Provável resposta da candidata: Art. 100, CDC: Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados
em número compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e
execução da indenização devida.

5) E em alguma outra legislação sem ser o CDC? (“é uma pergunta muito ampla, eu sei disso”). Quais as
modalidades de liquidação de sentença?
Liquidação por arbitramento: é aquela em que a apuração do elemento faltante para a completa definição da
norma jurídica individualizada depende da produção de prova técnica - normalmente a pericial36, em qualquer
das suas modalidades (exame, vistoria ou avaliação- CPC, art. 464). De acordo com o art. 509, 1, do CPC, deve-
se optar por esse tipo de liquidação sempre que (i) assim o determinar a decisão liquidanda, (ii) houver
convenção das partes nesse sentido, antes ou depois da prolação da decisão liquidanda38-39, ou (iii) assim o
exigir a natureza do objeto da liquidação.
Liquidação por procedimento comum: Se a apuração do montante da dívida ou a individuação do objeto da
prestação depender de prova de fato novo, ainda que essa prova seja pericial, deve-se proceder à liquidação pelo
procedimento comum (CPC, arts. 509, II, e 511). Fato novo é aquele relacionado com o valor, com o objeto ou,
eventualmente, com algum outro elemento da obrigação, que não foi objeto de anterior cognição na fase ou no
processo de formação do título. O novo não diz respeito necessariamente ao momento em que o fato ocorreu,
mas ao seu aparecimento no processo: novo não é o fato posterior à decisão liquidanda, mas o fato que ainda
não foi discutido no processo, ainda que anterior à decisão liquidanda. Se algum elemento, que seja fundamental
para a aferição do valor, ainda não consta dos autos, é necessária a instauração da liquidação pelo procedimento
comum para que haja contraditório sobre esse elemento (que é novo, pois ainda não inserido nos autos) e, então,
possa ser fixado o valor com base nele.
DIA 3 – PONTO 10 – Ana Paula e Mariah

GRUPO TEMÁTICO I

- FONTES: BERNARDO GONÇALVES (Constitucional), Sinopse de Direito Eleitoral Juspodvium e site TSE.

1) Defina processo legislativo


R: Conceito jurídico - O processo legislativo pode ser definido como o conjunto de regras (de fases e atos
preordenados) que visam a produção ( elaboração) de normas em nosso ordenamento jurídico. Conceito sociológico:
Sociologicamente, ele pode ser definido como um conjunto de fatores políticos e ideológicos que condicionam a
elaboração das leis em nosso ordenamento. Como exemplos, temos fatores econômicos, políticos, geográficos
(terremotos, tsunami), ambientais, religiosos, etc.

2) Quais são as características do processo legislativo sumário?


R: O processo legislativo sumário é o padrão (comum) dotado de maior celeridade. É também chamado de "regime de
urgência constitucional . Características: 1) Depende, para ser deflagrado, de solicitação do Presidente da República em
matérias de sua iniciativa privativa ou concorrente (com outras pessoas ou entes). 2) O prazo do processo legislativo
sumário: no máximo de 45 dias na Câmara, no máximo 45 dias no Senado, e possíveis 10 dias de emendas (emendas
advindas da Casa revisora para serem apreciadas pela Casa iniciadora). 3) Ultrapassado o prazo regulamentar previsto
constitucionalmente, todas as matérias da Casa ficarão sobrestadas (suspensas) até que se ultime a votação do
processo legislativo sumário. Todavia, há uma exceção. Estas são as matérias com prazo constitucionalmente definido.
Como exemplo atual, temos o art. 62, da CR/88 (medidas provisórias). As medidas provisórias terão prazo de 60 dias,
podendo ser prorrogado por mais 60 dias. 4) Conforme dispositivo constitucional, o prazo do processo legislativo
sumário não corre (suspende) no período de recesso. E o processo legislativo sumário não se aplica aos projetos dos
códigos. 5) Por último, devemos ficar atentos, pois existe um outro regime de urgência em termos de processo
legislativo. É o chamado regime de urgência regimental. Trata-se de um regime de urgência que diz respeito ao
regimento interno das Casas.

Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal
e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.
§ 1º O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa.
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada
qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da
respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação.
§ 3º A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias,
observado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior.
§ 4º Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de
código.

3) O Presidente da República só pode pedir urgência nos processos de iniciativa dele?


R: Quanto ao tema, Bernardo diz que depende de solicitação do Presidente da República em matérias de sua iniciativa
privativa ou concorrente (com outras pessoas ou entes). Logo, pode pedir urgência em projeto de iniciativa de outro
legitimado, desde que o PR tenha atribuição concorrente para sua deflagração.

4) O que significa iniciativa privativa/reservada?

54
R: Iniciativa privativa (exclusiva ou reservada) é aquela em que a faculdade é atribuída a uma pessoa ou ente com a
exclusão dos demais. Exemplos: art. 61, § lº (Presidente da República); art. 93 (STF), caput; art. 48, XV (STF); art. 51
(Câmara dos Deputados); art. 52 (Senado).

Para revisar:
Conceito de iniciativa - É a faculdade atribuída a uma pessoa ou ente para deflagrar o processo legislativo.

Espécies de iniciativa a) Iniciativa Parlamentar é aquela em que a faculdade para iniciar o processo legislativo será
atribuída a deputados ou senadores. Porém, não só eles a detêm, mas também as comissões de deputados ou
comissões de senadores.b) Iniciativa extraparlamentar é aquela atribuída ao Presidente da República, ao STF, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e ao povo (art. 61, § 20). c) Iniciativa privativa (exclusiva ou
reservada) é aquela em que a faculdade é atribuída a uma pessoa ou ente com a exclusão dos demais. d) Iniciativa
Concorrente é aquela em que a faculdade de deflagrar o processo é atribuída a mais de um ente em concorrência.
Ou seja, todos podem concorrer para apresentação de uma proposição. Exemplo: art. 61, caput, da CR/88. e)
Iniciativa Conjunta é aquela em que a faculdade é atribuída a mais de uma pessoa ou ente, porém, em comunhão
(em grupo). Nesse sentido, o processo só é deflagrado se todos os entes apresentarem o projeto conjuntamente.
Um exemplo é o antigo art. 48, XV, da CR/88 (antes da EC n° 41/03). Tratava sobre o teto do funcionalismo público.
O teto seria a remuneração dos ministros do STF, que seria regulado mediante Lei de iniciativa conjunta de 4
Presidentes: Presidente da República, do STF, da Câmara e do Senado. A EC n° 41/03 modificou a exegese do art.
48, XV, determinando que o teto agora é de iniciativa privativa do STF para a produção normativa. f) Iniciativa
vinculada é aquela em que a faculdade é atribuída a um legitimado que é obrigado a dar início ao processo
legislativo, na forma e prazo estabelecido na Constituição. Portanto, o legitimado está vinculado a um prazo e a uma
forma previamente definidas no diploma constitucional. Exemplo: iniciativa das leis orçamentárias (Lei do Plano
Plurianual - PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e Lei Orçamentária Anual - LOA). Nestas, os projetos
devem ser enviados ao legislativo nos prazos estipulados no documento constitucional.

--> STF: a sanção não supre o vício de iniciativa (ela não teria esse poder). Qual é o fundamento? Há uma
inconstitucionalidade formal propriamente dita (por inobservância das regras do devido processo legislativo).

5) Art. 61, p. 1, CF prevê as matérias de iniciativa privativa do Presidente da República. A emenda à CF 74 de


2013 de iniciativa parlamentar conferiu autonomia às Defensorias Públicas da União e do DF. Na sua opinião,
essa emenda constitucional estaria eivada de vício de inconstitucionalidade formal? Por quê?
R: O STF recentemente decidiu que é possível que emenda à Constituição da República proposta por iniciativa
parlamentar trate sobre as matérias previstas no art. 61, § lº da CR/88. Nesses termos, as regras de reserva de iniciativa
fixadas no art. 61, § 1° da CR/88 não são aplicáveis ao processo de emenda à Constituição da República, que é
disciplinado no art. 60 da CR/88. Afirmou o STF, nos termos do informativo 826, que os limites formais ao poder
constituinte derivado são os inscritos no art. 60 da CR/88. Já a iniciativa privativa de leis sobre determinadas matérias é
assegurada, no plano federal, ao Presidente da República, ao STF, aos tribunais superiores e ao Procurador-Geral da
República. Nesses termos, entendeu o STF que não existe, portanto, identidade entre o rol dos legitimados para a
propositura de emenda à Constituição e o dos atores aos quais reservada a iniciativa legislativa sobre determinada
matéria. Do contrário, segundo o STF, as matérias cuja iniciativa legislativa é reservada ao STF, aos tribunais superiores
ou ao Procurador-Geral da República não poderiam ser objeto de emenda constitucional. De um lado, nenhum daqueles
legitimados figura no rol do art. 60 da CR/88 e, de outro, nenhum dos relacionados no mesmo dispositivo pode propor
emenda sobre essas matérias. Portanto, deve ser permitido que qualquer dos legitimados do art. 60 possa propor
emendas à CR/88, ainda que dispondo sobre as matérias (temas) do art. 61, § lº, 11, da CR/88. Além disso, ressaltou
também o STF, que existem diversas emendas constitucionais em vigor, cuja constitucionalidade poderia ser
55
legitimamente desafiada, se prevalecesse a tese da aplicação, às propostas de emenda, das cláusulas que reservam ao
Executivo e ao Judiciário a iniciativa legislativa sobre certos temas.

6) Esse raciocínio também se aplica às Constituições Estaduais?


R: Não. Parlamentares estaduais não poderão propor Emendas à Constituição do Estado em matérias que são
reservadas ao Governador do Estado iniciar o processo legislativo (simetria com as matérias do art. 61 § 1° da CR/88).
Nesses termos, será eivada de inconstitucionalidade emenda constitucional, de iniciativa parlamentar, que insira na
Constituição Estadual dispositivo versando,por exemplo, sobre servidores públicos estaduais. Aqui o fundamento é o de
que seria uma forma de os Deputados Estaduais burlarem a vedação do art. 61, § 1°, lI, "c", da CR/88. Assim sendo, o
poder das Assembleias Legislativas de emendar Constituições Estaduais não pode avançar sobre temas cuja reserva de
iniciativa é do Governador do Estado.

7) As leis complementares são hierarquicamente superiores às leis ordinárias?


R: 1° Corrente: Sim, há hierarquia. Essa corrente trabalha com alguns fundamentos. O primeiro fundamento é o
topográfico (é bem verdade que nem todos os autores que advogam a hierarquia defendem essa posição). A lei
complementar está no inciso lI do art. 59 e a lei ordinária está no inciso IlI. O segundo fundamento (que é o trabalhado
pela maioria dos autores que defendem a tese da hierarquia) envolve o aspecto formal do quórum, pois a lei
complementar requer um quórum de maioria absoluta, diferentemente da lei ordinária, que trabalha com o quórum de
maioria simples. Teríamos, aí, uma diferenciação hierárquica engendrada pelo constituinte, que teria criado uma figura
intermediária entre a Constituição e a legislação ordinária, concedendo a ideia de maior dificuldade para aprovar certas
matérias, que não seriam de cunho meramente ordinário. 2º Corrente: Estes vão entender que não há hierarquia entre
essas disposições normativas primárias. Na verdade, o que existe são campos materiais de competência diferenciados
(distintos). Na doutrina, a corrente majoritária é a segunda corrente. O STF, pelo seu entendimento majoritário, defende
que não há hierarquia. O Supremo entende que existem campos materiais de competência distintos. E, além desse
argumento, existe um outro, dotado de adequabilidade. Nesses termos, a questão pode e deve ser enfrentada também
pela lógica do fundamento de validade, ou seja, não há que se falar em hierarquia, na medida em que a lei ordinária não
retira seu fundamento de validade da lei complementar e vice-versa. Ambas têm por fundamento de validade a
Constituição.

8) E se for aprovada lei ordinária em matéria reservada à lei complementar? Essa lei ordinária é
inconstitucional? Por quê?
R: Será inconstitucional, pois invadiu esfera material de competência de lei complementar.

9) E se ocorrer o contrário?
R: Aqui, há uma relativização. Embora sejam os campos materiais diferenciados, majoritariamente, entende-se que,
nesse caso, essa lei complementar seria constitucional, sob o fundamento, ainda que frágil, de que quem pode mais,
pode menos. Ou seja, embora tenha sido aprovada lei complementar em matéria que não é de sua competência, teria
sido, também, aprovada lei ordinária, pois o quórum daquela é superior ao quórum desta.

10) O que é súmula vinculante?


R: Embora já fosse tradicional a edição de súmulas, as mesmas não eram dotadas de força vinculante. Nesse sentido,
temos, segundo o art. 103-A da CR/88 que o Supremo Tribunal Federal (exclusivamente) poderá, de ofício ou por
provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional,
aprovar Súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos
do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como
proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. Evidente, porém, que a Súmula vinculante,
56
como o próprio nome indica, terá o condão de vincular diretamente os órgãos Judiciais e os órgãos da administração
pública, abrindo a possibilidade de que qualquer interessado faça valer a orientação do Supremo, não mediante simples
interposição, mas por meio da apresentação de uma reclamação por descumprimento de decisão judicial.

11) Quem pode pedir a revisão da súmula vinculante?


R: Os mesmos legitimados da ADI presentes no art. 103 da CR/88. Além ainda dos: Tribunais Superiores, os Tribunais
de Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do
Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares e o Defensor Público-Geral da União. Temos,
também, que o Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em que seja parte, a edição, a revisão
ou o cancelamento de enunciado de Súmula Vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo. Sendo assim,
todos os legitimados podem propor direta ou incidentalmente a edição (revisão ou cancelamento) de Súmula Vinculante,
exceto os Municípios que só podem provocar o STF de forma incidental, no iter de processos em curso e que eles sejam
parte. Não podemos esquecer ainda que o próprio STF poderá de ofício (sem provocação) propor a edição revisão ou
cancelamento de Súmula vinculante.

12) Em relação à lei complementar 34 (lei orgânica do MP). Quais são os órgãos de assessoramento do
procurador-geral de Justiça?
R: Art. 88 – São órgãos de assessoramento da Procuradoria-Geral de Justiça:
I – as Procuradorias-Gerais de Justiça Adjuntas;
II – o Gabinete do Procurador-Geral de Justiça;
III – a Secretaria-Geral;
IV – a Assessoria Especial.

13) Nas eleições municipais, quem tem legitimidade para o ajuizamento da ação de ação de investigação
judiciária por abuso de poder?
R: De acordo com o art. 22 da LC 64/90, qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral
poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao corregedor-geral ou regional, relatando fatos e indicando provas,
indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicia.

Obs¹.:Jurisprudência do TSE
Legitimidade ativa: Ac.-TSE, de 3.11.2016, no AgR-REspe nº 958 (partido político coligado, isoladamente, após
realização do pleito); Ac.-TSE, de 11.11.2014, no AgR-REspe nº 27733: (legitimidade concorrente coligação/partidos,
isoladamete, após as eleições); Ac.-TSE, de 5.8.2014, no REspe nº 1429: (legitimidade do partido político para
prosseguir, isoladamente, em feito que ajuizou antes de se coligar); Ac.-TSE, de 25.11.2008, no RO nº 1537: (candidato
registrado que pertença à circunscrição do réu e os fatos da pretensão se relacionem à mesma eleição ); Ac.-TSE, de
29.6.2006, no REspe nº 26012: partido político, ainda que não tenha indicado candidatos para as eleições.
Obs.:²: De acordo com o artigo 24 da LC 64/90, nas eleições municipais, compete ao Juiz Eleitoral conhecer e
processar a AIJE, exercendo todas as funções atribuídas ao Corregedor-Geral ou Regional, constantes nos incisos do
art. 22 da referida Lei Complementar.

14) O eleitor tem legitimidade?


Não, segundo entendimento do TSE.

Jurisprudência TSE:

57
Ilegitimidade ativa: Ac.-TSE, de 2.8.2016, no AgR-REspe nº 29755: (representante de coligação, em nome próprio);
Ac.-TSE, de 24.10.2014, no AgR-REspe nº 31509: (candidato com registro de candidatura indeferido, por decisão
transitada em julgada, à época do ajuizamento da demanda); Ac.-TSE, de 21.9.2006, na Rp nº 963: (eleitor);
Ilegitimidade passiva: Ac.-TSE, de 9.11.2006, no AgR-Rp nº 1229 (pessoa jurídica).

“[...] Investigação judicial eleitoral. Omissão. Decisão monocrática. Indeferimento da inicial. Ilegitimidade ativa. Eleitor.
Recebimento. Agravo regimental. Obrigação. Magistrado. Motivação. Argumentos. Negado provimento. [...] 4. O mero
eleitor não é parte legítima para ajuizar pedido de abertura de investigação judicial, considerados os limites impostos
pela Lei das Inelegibilidades, de natureza complementar, que estabelecem, quanto ao tema, nova disciplina, sem
prejuízo da notícia de alegados abusos ao órgão do Ministério Público. [...]” (Ac. de 9.8.2011 no ED-Rp nº 317632, rel.
Min. Nancy Andrighi.)

“Representação. Investigação judicial. Eleitor. Ilegitimidade de parte. Indeferimento da inicial. Agravo regimental.
Inexistência de afronta à Constituição. Desprovimento. Possuem legitimidade para o ajuizamento de representação
visando a abertura de investigação judicial eleitoral apenas os entes arrolados no art. 22 da Lei Complementar no 64/90,
entre os quais não figura o mero eleitor, conforme a reiterada jurisprudência do TSE. O direito de petição consagrado no
art. 5o, XXXIV, a, da Constituição, embora sendo matriz do direito de ação, com ele não se confunde, encontrando este
último regulação específica na legislação infraconstitucional, daí decorrendo não poder ser exercido de forma
incondicionada. [...]” (Ac. de 30.11.2006 no AgRgRp no 1.251, rel. Min. Cesar Asfor Rocha.)

ADMINISTRATIVO - FERNANDO RODRIGUES MARTINS


Fonte: Livro de Direito Administrativo de Rafael Carvalho Rezende de Oliveira e JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO
FILHO

1) Base constitucional da licitação. Fundamento.


R: As principais fontes constitucionais da licitação são:
a) art. 22, XXVII, CRFB:2 estabelece a competência privativa da União para legislar sobre normas gerais de licitação e
contratação.
b) art. 37, XXI, CRFB:3 consagra a regra da licitação e admite que a lei estabeleça exceções;
c) art. 173, § 1.º, III, CRFB:4 remete ao legislador a tarefa de elaborar o Estatuto próprio das empresas estatais
econômicas, o qual conterá regras próprias de licitações e contratos.

Como fundamentos, JSCF enumera a moralidade administrativa e a igualdade de oportunidades.

2) Isso é pra contratação, então?


Parece conversar com o candidato, a partir de sua resposta.

3) E convênio?
Como não sei o teor da resposta, segue conceito convênio:
Os convênios administrativos são ajustes formalizados entre entidades administrativas ou entre a Administração Pública
e as entidades privadas sem fins lucrativos que têm por objetivo a consecução de objetivos comuns e o atendimento do
interesse público.

4) Qual a diferença de contrato e convênio?

58
R: As principais diferenças entre os convênios e os contratos podem ser sintetizadas da seguinte forma: a) quanto aos
interesses envolvidos nos ajustes: enquanto os contratos administrativos são caracterizados pela existência de
interesses contrapostos das partes (o Poder Público tem por objetivo promover o interesse público e o particular
pretende auferir lucro), os convênios administrativos são caracterizados pela comunhão de interesses dos conveniados
(os partícipes possuem os mesmos interesses); b) quanto à remuneração: nos contratos, os contratados recebem
remuneração pela prestação de determinado objeto (obra, serviço etc.), e o valor, ao ingressar no patrimônio privado,
deixa de ser considerado “dinheiro público”, razão pela qual o contratado pode dispor livremente sobre a sua destinação.
Por outro lado, nos convênios, o valor repassado pelo Poder Público ao particular continua sendo reputado “dinheiro
público”, que deve ser necessariamente aplicado no objeto do convênio, o que acarreta a necessidade de prestação de
contas pelo particular ao Poder Público (inclusive Tribunal de Contas) para demonstrar que a verba foi utilizada para
atendimento das finalidades do ajuste; c) quanto à necessidade de licitação: a celebração de contratos pela
Administração Pública depende, em regra, da realização de licitação prévia, na forma do art. 37, XXI, da CRFB e do art.
2.º da Lei 8.666/1993. Ao contrário, a formalização de convênios não depende de licitação, conforme dispõe o art. 116
da Lei 8.666/1993, o que não afasta a necessidade de instauração, quando possível, de processo seletivo que assegure
o tratamento impessoal entre os potenciais interessados; e d) quanto ao prazo: os contratos administrativos são
celebrados, sempre, por prazo determinado, conforme exigência contida no art. 57, § 3.º, da Lei 8.666/1993. Em relação
aos convênios, espécies de atos administrativos complexos, admite-se que os ajustes não estabeleçam prazo
determinado, não obstante seja recomendável a fixação de sua duração para fins de planejamento e controle.

5) Precisa de licitação pra convênio? (o candidato disse que não e o examinador ficou olhando pra ele um
tempo, meio que esperando ele falar mais alguma coisa. O candidato permaneceu firme na resposta e aí o
examinador disse “a Lei 8666 diz que se aplica. Se houver mais de uma pessoa interessada, será que não
pode?” o candidato retificou sua resposta)
R: A celebração de convênios, por sua natureza, independe de licitação prévia como regra. É verdade que a Lei nº
8.666/1993 estabelece, no art. 116, que é ela aplicável a convênios e outros acordos congêneres. Faz, entretanto, a
ressalva de que a aplicação ocorre no que couber. Como é lógico, raramente será possível a competitividade que marca
o processo licitatório, porque os pactuantes já estão previamente ajustados para o fim comum a que se propõem. Por
outro lado, no verdadeiro convênio inexiste perseguição de lucro, e os recursos financeiros empregados servem para
cobertura dos custos necessários à operacionalização do acordo. Sendo assim, inviável e incoerente realizar licitação

6) E como se qualifica a licitação? É um processo? Um ato administrativo?


R: Licitação é o processo administrativo utilizado pela Administração Pública e pelas demais pessoas indicadas pela lei,
com o objetivo de garantir a isonomia, selecionar a melhor proposta e promover o desenvolvimento nacional sustentável,
por meio de critérios objetivos e impessoais, para celebração de contratos.

OBS.: JSCF diz que é procedimento.


“Por isso, a natureza jurídica da licitação é a de procedimento administrativo com fim seletivo, porque, bem registra
ENTRENA CUESTA, o procedimento constitui um “conjunto ordenado de documentos e atuações que servem de
antecedente e fundamento a uma decisão administrativa, assim como às providências necessárias para executá-la”. De
fato, esse conjunto de atividades e documentos será sempre necessário, seja mais ou menos formal o procedimento. É
preciso que a
Administração divulgue o que pretende selecionar e contratar; que os interessados acorram com documentos e
propostas; que se obedeça a um processo formal de escolha e assim por diante. Tudo isso, sem dúvida, reclama a
presença de documentos e demanda certo lapso de tempo para sua conclusão. Avulta, ainda, a qualificação do
procedimento. Tratando-se de ordenada sequência de atividades, a licitação é procedimento vinculado no sentido de
que, fixadas suas regras, ao administrador cabe observá-las rigorosamente (art. 41, Lei nº 8.666/1993). Somente assim
59
estará salvaguardando o direito dos interessados e a probidade na realização do certame. Aliás, esse é um dos
aspectos decorrentes do princípio da probidade administrativa, princípio inscrito no art. 3º do Estatuto dos Contratos e
Licitações.”

7) A reposta do senhor me fez questão de uma questão. O processo civil tem umas fases interessantes. Que tipo
de linha dogmática se aplica às licitações? Sem resposta.

8) “Jurista famoso do Rio Grande do Sul, professor Carlos Alvaro. Aplica a teoria do formalismo axiológico ou
valorativo. O art. 1 do CPC já desposta que a processualidade tem que ser aplicada à luz dos valores
fundamentais. Ponto de intercessão entre o CPC e a CF. A linha a ser seguida, a meu ver, seria a do formalismo
valorativo e não a do formalismo exagerado, que tranca o procedimento, não permite que ele se desenvolva.”
Sem resposta.

9) Quais são os princípios que informam a licitação?


R: Breve resumo dos princípios informadores.

Princípio da competitividade - O caráter competitivo da licitação justifica-se pela busca da proposta mais vantajosa
para a Administração, motivo pelo qual é vedado admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou
condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo (art. 3.º, § 1.º, I, da Lei 8.666/1993).
Princípio da isonomia - O princípio da isonomia tem profunda ligação com os princípios da impessoalidade e da
competitividade, motivo pelo qual a Administração deve dispensar tratamento igualitário (não discriminatório) aos
licitantes, sendo certo que as restrições à participação de interessados no certame acarretam a diminuição da
competição. Lembre-se de que a isonomia pressupõe, por vezes, tratamento desigual entre as pessoas que não se
encontram na mesma situação fático-jurídica (tratamento desigual aos desiguais), desde que respeitado o princípio da
proporcionalidade, tal como ocorre com o tratamento diferenciado em relação às cooperativas e às microempresas e
empresa de pequeno porte. Mencione-se, ainda, a denominada “margem de preferência”. Da mesma forma, a busca
pelo desenvolvimento nacional sustentável justifica a previsão de critérios de desempate no art. 3.º, § 2.º, da Lei
8.666/1993.
Princípio da vinculação ao instrumento convocatório - O instrumento convocatório (edital ou carta convite) é a lei
interna da licitação que deve ser respeitada pelo Poder Público e pelos licitantes (art. 41 da Lei 8.666/1993). Trata-se da
aplicação específica do princípio da legalidade.
Princípio do procedimento formal - Os procedimentos adotados na licitação são formais e devem observar fielmente
as normas contidas na legislação (art. 4.º da Lei 8.666/1993). É oportuno ressaltar que o princípio do procedimento
formal não significa excesso de formalismo. Não se pode perder de vista que a licitação é um procedimento instrumental
que tem por objetivo uma finalidade específica: celebração do contrato com o licitante que apresentou a melhor
proposta. Por essa razão, a legislação tem flexibilizado algumas exigências formais, que não colocam em risco a
isonomia, com o intuito de garantir maior competitividade (ex.: quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as
propostas forem desclassificadas, a Administração poderá fixar prazo para que os licitantes apresentem nova
documentação ou outras propostas).
Princípio do julgamento objetivo - O julgamento das propostas apresentadas pelos licitantes deve ser pautado por
critérios objetivos elencados na legislação. A adoção de critérios subjetivos para o julgamento das propostas é contrária
ao princípio da isonomia.

10) Há a supremacia entre o interesse público sobre o privado, no caso da licitação?


R: Não achei um posicionamento direto no assunto, mas passagens que tangenciam a aplicação do princípio no âmbito
licitatório (não elenquei as hipóteses referente aos contratos – ex.: alteração unilateral ou cláusula exorbitante).
60
1) Para aqueles que entendem que a homologação e a adjudicação não geram direito à celebração do
contrato, uma vez que a Administração Pública poderia, mesmo após esses atos, revogar ou anular o
certame por fatos supervenientes. A celebração do contrato dependeria da análise discricionária
(conveniência e oportunidade) do administrador. Nesse sentido: Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Marcos
Juruena Villela Souto, Diógenes Gasparini, Lucas Rocha Furtado, Jessé Torre Pereira Junior e STJ. O
licitante vencedor não teria o direito ao contrato, mas apenas mera expectativa de direito. Todavia, se a
opção da Administração for pela celebração da avença, o primeiro colocado tem direito de ser contratado
em detrimento dos demais (direito de preferência), na forma do art. 50 da Lei de Licitações.
2) A revogação do procedimento licitatório, que é uma faculdade de desfazimento do procedimento por razões
de interesse público, em razão de fatos supervenientes devidamente comprovados (art. 49 da Lei
8.666/1993).

Obs.:
JSCF adota uma posição de aplicação da supremacia no âmbito administrativo.
x
Rafael é refratário à ideia de supremacia como princípio administrativo: “Portanto, não existe um interesse público único,
estático e abstrato, mas sim finalidades públicas normativamente elencadas que não estão necessariamente em
confronto com os interesses privados, razão pela qual seria mais adequado falar em "princípio da finalidade pública", em
vez do tradicional "princípio da supremacia do interesse público", o que reforça a ideia de que a atuação estatal deve
sempre estar apoiada em finalidades públicas, não egoístas, estabelecidas no ordenamento jurídico. A atuação do
Poder Público não pode ser pautada pela supremacia do interesse público, mas, sim, pela ponderação e máxima
realização dos interesses envolvidos.”

Em nome da dignidade da pessoa humana, os EUA soltam bombas na Coreia do Norte. O que o senhor acha
disso? Sem resposta.

Simpática sua reforma. O sr. Deveria ter me corrigido. Os EUA não trabalham com a dignidade da pessoa
humana. Sem resposta.

11) Já que o senhor fez uma opção pelo caminho de que não há supremacia, é possível dizer que há adjudicação
compulsória na licitação?
R: A adjudicação é o ato final do procedimento de licitação por meio do qual a Administração atribui ao licitante vencedor
o objeto da licitação. Não se confunde a adjudicação formal com a assinatura do contrato. O princípio da adjudicação
compulsória significa que o objeto da licitação deve compulsoriamente ser adjudicado ao primeiro colocado, o que não
significa reconhecer o direito ao próprio contrato.

12) A AP tem a obrigatoriedade de contratar?


Fez a licitação, ganhou, é obrigado a contratar?
R: Questão controvertida refere-se à existência do direito do licitante vencedor a ser contratado.
1.º entendimento: alguns autores entendem que a homologação acarreta o direito de o licitante vencedor ser
contratado. Nesse sentido: José dos Santos Carvalho Filho.
2.º entendimento: outros autores sustentam que a homologação e a adjudicação não geram direito à celebração do
contrato, uma vez que a Administração Pública poderia, mesmo após esses atos, revogar ou anular o certame por fatos
supervenientes. A celebração do contrato dependeria da análise discricionária (conveniência e oportunidade) do

61
administrador. Nesse sentido: Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Marcos Juruena Villela Souto, Diógenes Gasparini, Lucas
Rocha Furtado, Jessé Torre Pereira Junior e STJ.

13) A Cemig detém monopólio do triangulo mineiro. Ela tem obrigação de contratar com o consumidor?
Resposta como sugestão
Obs.: segundo o STF: " A atividade econômica em sentido amplo é gênero que compreende duas espécies, o serviço
público e a atividade econômica em sentido estrito. Monopólio é de atividade econômica em sentido estrito,
empreendida por agentes econômicos privados. A exclusividade da prestação dos serviços públicos é expressão de uma
situação de privilégio. Monopólio e privilégio são distintos entre si; não se os deve confundir no âmbito da linguagem
jurídica, qual ocorre no vocabulário vulgar. "

De início, salienta-se que o serviço público uma atividade prestacional, titularizada, com ou sem exclusividade, pelo
Estado, criada por lei, com o objetivo de atender as necessidades coletivas, submetida ao regime predominantemente
público.

No caso da CEMIG (sociedade de economia mista estatal), a atividade monopolizada é a de energia elétrica e, deste
modo, precisa ser prestada sem qualquer interrupção, uma vez que a população necessita, permanentemente, da
disponibilidade do serviço. Nesta toada, ao Estado diretamente ou através de concessionária ou permissionária, deve
fornecer à população o serviço, com o escopo do dever de satisfazer e promover direitos fundamentais, sob pena de
violação da dignidade da pessoa humana.

Nesta linha de raciocínio, como energia elétrica é serviço público dotado de essencialidade à vida moderna e tendo
como norte o princípio da generalidade ou universalidade, deverá a CEMIG contratar com o consumidor, a fim de
permitir a sua fruição de forma ininterrupta, sem paralisações injustificadas, devendo os serviços estar à disposição dos
usuários, em condições adequadas de uso. Ademais, orientação diversa privaria o usuário do gozo do serviço público, já
que não há empresa concorrente para prestar a comodidade.

Atenção: vide julgado do TJ/SC (ano 2018) abaixo colacionado que traz uma exceção.

1- " (...) 'O fornecimento de energia elétrica, que é serviço público essencial e de utilidade pública, relaciona-se,
diretamente, com a dignidade da pessoa humana, mas cede espaço, em regra, em favor do direito a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado quando a pretensa unidade consumidora estiver em localidade de
proteção ambiental. Contudo, em se tratando de área rural ou urbana consolidada, porquanto já mitigada,
faticamente, a proteção ambiental, não há prevalecer o óbice jurídico, com a consequente necessidade de
ligação da unidade à rede de energia elétrica.' Quarta Turma de Recursos - Criciúma Recurso Inominado RI
00012979220158240189 Santa Rosa do Sul 0001297-92.2015.8.24.0189 (TJ-SC) Miriam Regina Garcia Cavalcanti

PARA REVISAR
Princípio da generalidade ou universalidade
Atrelado ao princípio da igualdade, o princípio da universalidade ou da generalidade exige que a prestação do serviço
público beneficie o maior número possível de beneficiários. O prestador deve empreender esforços para levar as
comodidades materiais para as pessoas que ainda não recebem o serviço público. No Brasil, o princípio da generalidade
ou universalidade é consagrado expressamente na Constituição da República (saúde: art. 196, caput; educação: arts.

62
208, II, e 211, § 4.º). A legislação que trata, genericamente, das concessões e permissões de serviços públicos prevê a
universalidade como uma característica inerente à prestação desses serviços (art. 6.º, § 1.º, da Lei 8.987/1995 e o art.
3.º, IV, da Lei 9.074/1995). Da mesma forma, no âmbito dos setores regulados, as obrigações de universalização são
objeto de metas periódicas fixadas pelas agências reguladoras (ex.: arts. 18, III, e 80 da Lei 9.472/1997 – ANATEL).

14) O que é licitação frustrada e o que é licitação fracassada?


R:. São conceitos similares e ocorre quando existem licitantes presentes no certame, mas todos são inabilitados ou
desclassificados. Serão desclassificados os licitantes que apresentarem propostas em desconformidade com as
exigências do ato convocatório da licitação e as que tiverem preços excessivos ou manifestamente inexequíveis (art. 48,
I e II, da Lei de Licitações). Se todas as propostas forem desclassificadas (licitação fracassada ou frustrada), a
Administração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis (no convite, o prazo poderá ser de três dias) para a
apresentação de nova documentação ou de outras propostas que supram os motivos da desclassificação (art. 48, § 3.º,
da Lei)

GRUPO TEMÁTICO II

PENAL - ANDRÉ UBALDINO


Fonte: CP comentado Cleber Masson e CP comentado Rogério Greco.

1) Contou um caso verídico. Uma família numa região distante foi feita de refém por um grupo de assaltantes.
Foram amarrados, vítimas de violência de toda espécie, mas parte da ação criminosa foi testemunhada por
pessoas que ali passavam, que acionaram a polícia. Forças especiais foram até a região. Como medida de
precaução, se acercaram da propriedade, em trajes civis. No momento, avistaram um indivíduo portando uma
espingarda. Quando os policias se aproximaram o indivíduo efetuou um disparo. Este indivíduo alvejou um dos
policiais, que não usavam vestimentas que os identificassem como tal. Em resposta, um dos policiais o alvejou
também. Quando foram prestar socorro, descobriram que o indivíduo era uma das vítimas, que não havia
identificado os policiais como tais, uma vez que não estavam identificáveis. A vítima achou que eram os
assaltantes. Comente os possíveis crimes havidos nesta situação.
Sugestão:
Com base nos elementos trazidos, não posso atestar qual seria o (s) crime (s) cometido (s) em desfavor da família.
Acredito que o examinador queria saber sobre eventual crime cometido pelos policiais e/ou vítima.
Quanto ao disparo da vítima: acredito que tenha incorrido em erro de tipo permissivo, pois errou quanto aos
pressupostos de fato de uma causa de exclusão da ilicitude (aqui, trabalhei com a teoria limitada da culpabilidade).
Penso que não está presente um dos requisitos da legítima defesa, qual seja: agressão injusta.
Policial: agiu em legítima defesa, pois é perfeitamente cabível legítima defesa real contra legítima defesa putativa.

2) Explique o que são as teorias unitária e diferenciadora no estado de necessidade, e qual delas é adotada pelo
nosso CP.
R: Para a teoria unitária, o estado de necessidade será causa de exclusão de ilicitude, desde que o bem jurídico
sacrificado seja de valor igual ou de valor inferior ao bem jurídico preservado. Exige somente a razoabilidade da conduta
do agente. Se, todavia, o interesse sacrificado for superior ao preservado, tanto que era razoável exigir-se o sacrifício do
direito ameaçado, subsiste o crime, autorizando, no máximo, a diminuição da pena. Em síntese, essa teoria admite
somente o estado de necessidade justificante e é a adotada pelo CP. Por outro lado, a teoria diferenciadora, alicerçada
no princípio da ponderação de bens e deveres, diferencia o estado de necessidade justificante do estado de
necessidade exculpante. Assim, haverá estado de necessidade justificante (exclusão da ilicitude) somente com o
sacrifício de bem jurídico de menor relevância para a proteção de bens jurídicos de mais elevada importância. Por sua
63
vez, configura-se o estado de necessidade exculpante nas hipóteses em que o bem jurídico sacrificado for de valor
igual ou mesmo de valor superior ao do bem jurídico protegido. Constitui-se em causa supralegal de exclusão da
culpabilidade, em face da inexibilidade de conduta diversa. No Brasil, foi a teoria acolhida no Código Penal Militar.

3) A característica da legítima defesa exige ou não que indivíduo agredido não tenha a possibilidade de fuga?
Em outras palavras, é possível alegar legítima defesa quando o titular do direito atingido pudesse para protege-
lo, fugir?
R: Ao contrário do que ocorre no estado de necessidade, a possibilidade de fuga ou socorro pela autoridade pública não
impedem a legítima defesa. Não se impõe o commodus discessus, isto é, o agredido não está obrigado a procurar saída
mais cômoda e menos lesiva para escapar do ataque injusto.

4) O senhor conhece pontos de vista em colisão com este?


R: Como a agressão injusta pode ser emanada de um inimputável, a doutrina entende que a condição de inimputável do
agressor, se conhecida do agredido, impõe maior diligência no evitar e maior moderação no repelir o ataque. Assim, não
haveria desonra na fuga e a esta, se possível e capaz de afastar a agressão, deve recorrer o agredido.

Obs.: há posição que equiparava os inimputáveis a seres irracionais e a defesa contra o ataque deles originado,
consequentemente, não caracterizava legítima defesa, mas estado de necessidade (Nelson Hungria).

5) A necessidade da defesa na legítima defesa está vinculada à proporcionalidade entre o dano causado e o
dano impedido? A proporcionalidade aqui não é quanto à moderação da referência, mas quanto à própria
referência.
R: Segundo Roxin:” a necessidade da defesa não está vinculada à proporcionalidade entre o dano causado e o
impedido”. Assim, pois, quem somente pode escapar de uma surra apunhalando o agressor, exerce a defesa necessária
e está justificado pela legítima defesa ainda que a lesão do bem jurídico causado pelo homicídio seja muito mais grave
do que a que teria sido produzida pela surra. Nessa ótica, pode-se analisar que os meios para reprimir uma agressão,
podem ser os mais diversos possíveis, desde o menos gravoso até o mais danoso para o agressor, pois a intenção
principal é cessar a agressão injusta a qualquer custo, já que aquele que partiu para uma violência sem justificativa está
lesando um bem jurídico de alguém. Entretanto, trazendo para a realidade do direito penal brasileiro, é essencial a
moderação no emprego dos meios que forem utilizados para repelir uma agressão injusta, não podendo o indivíduo agir
de forma desproporcional alegando defender bem jurídico.

6) Qual a natureza jurídica dos ofendículos?


Há duas posições na doutrina acerca da espécie de excludente de ilicitude configurada pelos ofendículos: 1º C –
exercício regular de direito. 2º C – legítima defesa preordenada.

PROCESSO PENAL - ROGÉRIO FILIPPETTO

1) Atos inexistente, nulidade relativa e nulidade absoluta. Explique e dê exemplos.


a) O ato inexistente é contaminado por irregularidade que acarreta a inexistência do ato processual. Na realidade, não
se pode nem dizer que existe ato processual. De acordo com a doutrina, seria um não-ato processual. Ex.: sentença
proferida por um juiz impedido.

b) Já a nulidade é a sanção aplicada ao ato processual defeituoso, privando-o da aptidão de produzir seus efeitos
regulares.

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Exemplo de nulidade absoluta: ausência de defesa.
Exemplo de nulidade relativa: falta de intimação acerca da expedição de carta precatória para inquirição de testemunha.

2) A presunção do prejuízo na nulidade absoluta não seria legal?


R: O princípio pas des nullités sans grief - corolário da natureza instrumental do processo - impede a declaração da
nulidade se não demonstrado o prejuízo concreto à parte que suscita o vício (CPP, art. 563). Em se tratando de nulidade
absoluta, geralmente violadora de norma protetiva de interesse público com status constitucional ou convencional (v.g.,
devido processo legal, ampla defesa, contraditório), grande parte da doutrina entende que o prejuízo é presumido. No
entanto, essa presunção de prejuízo não tem natureza absoluta. Na verdade, cuida-se de presunção relativa (iuris
tantum), o que significa dizer que há uma inversão da regra do ônus da prova constante do art. 156, caput, do CPP.
Portanto, a parte responsável pela arguição da nulidade absoluta fica exonerada da comprovação do prejuízo, cabendo
à parte adversa demonstrar a inocorrência do prejuízo, caso tenha interesse na preservação do ato processual
impugnado. Sem embargo desse entendimento doutrinário de que o prejuízo é presumido, o Supremo Tribunal Federal
tem diversos precedentes no sentido de que o prejuízo deve ser comprovado pela parte interessada inclusive nas
hipóteses de nulidade absoluta. Logo, se acaso a defesa pleitear a declaração de uma nulidade absoluta, incumbe a ela
demonstrar o prejuízo decorrente da inobservância da forma prescrita em lei, sob pena de não lograr êxito na
invalidação do ato processual impugnado.

3) Leitura mais moderna da demonstração do prejuízo tem sido alargada para uma necessidade concreta do
prejuízo, não mais abstrata.
Parece fazer comentário a algum ponto da resposta do candidato.

4) Realização do interrogatório do acusado, a defesa não teve oportunidade de se entrevistar com ele
previamente. Isso é causa de nulidade?
E se o réu na companhia de seu defensor técnico tiver presenciado toda a instrução probatória? O
interrogatório, portanto, não foi a 1 vez que acusado e defensor se encontraram.
Sugestão de resposta:
Cuida-se de nulidade relativa, devendo a defesa demonstrar, oportunamente a comprovação do prejuízo, sob pena de
preclusão e consequente convalidação da nulidade.

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE DROGAS - PRELIMINARES - NULIDADE DO PROCESSO POR


AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO RECORRENTE ACERCA DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO -
NOTIFICAÇÃO ASSINADA NA SECRETARIA DO JUÍZO - AUSÊNCIA DE ENTREVISTA PRÉVIA COM ADVOGADO -

65
NÃO ARGUIÇÃO EM MOMENTO OPORTUNO -PREJUÍZO PARA A DEFESA NÃO DEMONSTRADO -
PRELIMINARES REJEITADAS - AUTORIA E MATERIALIDADE EVIDENCIADAS - COMPROVAÇÃO DE
CIRCUNSTÂNCIAS QUE AUTORIZAM A CONCLUSÃO DA PRÁTICA DO DELITO - ABSOLVIÇÃO REJEITADA -
RECURSO NÃO PROVIDO. - Preliminares - Para o acolhimento das nulidades arguidas faz-se necessário a
demonstração de prejuízo ao acusado, sendo que, não demonstrado qualquer prejuízo, nem sequer manifestando-se
especificamente em momento oportuno, não há falar em cerceamento de defesa ou prejuízo causado ao réu. Nulidades
afastadas. - Impossível o acolhimento das teses defensivas ventiladas, pois sobejamente comprovadas circunstâncias
que autorizam a conclusão de que o sentenciado comercializava substâncias entorpecentes, sem autorização legal ou
regulamentar. - Recurso não provido. Encontrado em: REJEITARAM AS PRELIMINARES E NEGARAM PROVIMENTO
AO RECURSO Câmaras Criminais / 4ª CÂMARA CRIMINAL 18/02/2014 - 18/2/2014 Apelação Criminal APR
10079130327079001 MG (TJ-MG) Corrêa Camargo

Ementa: REVISÃO CRIMINAL - PRELIMINARES DE NULIDADE - REJEIÇÃO - AUSÊNCIA DAS FORMALIDADES


PREVISTAS NO ART. 226 , CPP - RECONHECIMENTO FEITO PELA VÍTIMA EM JUÍZO - CONTRADITÓRIO -
VALIDADE - ENTREVISTA PRÉVIA COM DEFENSOR - INCORRÊNCIA - PREJUÍZO NÃO COMPROVADO -
NULIDADE RELATIVA - DEFENSOR PÚBLICO - INTIMAÇÃO PESSOAL MEDIANTE ENTREGA DOS AUTOS COM
VISTAS - INTELIGÊNCIA DO ART. 74, I, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº. 65/03 - MATÉRIA DE ORDEM
PROCESSUAL - COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA UNIÃO - APLICAÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR FEDERAL Nº. 80
/94 - APENAS INTIMAÇÃO PESSOAL - PEDIDO REVISIONAL INDEFERIDO. 1. Deve ser rejeitada a alegação de
nulidade do processo por ausência de cumprimento das determinações contidas no art. 226 do CPP , uma vez que o
reconhecimento realizado pela vítima perante o contraditório supre, sobremaneira, as formalidades exigidas no citado
dispositivo. 2. A alegação de nulidade pela ausência de entrevista prévia com defensor depende da demonstração
de prejuízo, sendo relativa. Não havendo qualquer comprovação de prejuízo ao réu ante a ausência de entrevista
reservada com o defensor, deve ser rejeitada a preliminar suscitada. 3. No Estado de Minas Gerais, segundo o art.
74, inc. I, da Lei Complementar nº. 65 /03, o defensor público tem como prerrogativa de função receber intimação
pessoal mediante entrega dos autos com vistas. Por ser a intimação matéria de ordem processual e, sendo essa, nos
moldes de art. 22 , I , da CR , de competência legislativa exclusiva da União, não podem os Estados legislar sobre o
assunto, salvo mediante autorização de Lei Complementar em casos específicos. A legislação a ser utilizada sobre o
assunto, então, é a Lei Complementar Federal nº. 80 que, em seu art. 89 , I , traz como prerrogativa do defensor público,
apenas a intimação pessoal, nada dizendo acerca da entrega dos autos com vistas. Preliminar também rejeitada. TJ-MG
- 100000847477400001 MG 1.0000.08.474774-0/000(1) (TJ-MG) - Data de publicação: 21/08/2009

Ementa: HABEAS CORPUS. INTERROGATÓRIO. ENTREVISTA PRÉVIA. DEFENSOR PÚBLICO. NULIDADE.


AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. EIVA NÃO EVIDENCIADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
INEXISTENTE. 1. Não obstante a legislação garanta ao interrogado a prévia entrevista com seu defensor (art. 185
, § 2º , do CPP ), não pode ser acoimado de nulo o ato realizado sem o referido procedimento, se a defesa não
logrou demonstrar que a falha no interrogatório, que ocorreu com a presença de profissional pertencente à
Defensoria Pública, não prejudicou o paciente, pois negou a autoria, teve a ampla defesa assegurada e a
condenação encontra esteio em outros elementos probatórios, porquanto no sistema processual penal pátrio nenhuma
nulidade será declarada se não restar comprovado o efetivo prejuízo (art. 563 do CPP ). 2. Ordem denegada. STJ -
HABEAS CORPUS HC 94415 MG 2007/0267246-9 (STJ)

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5) Se o juiz impede a realização da “diretc examination” e “cross examination”, qual deverá ser o procedimento
do promotor? Há nulidade? Qual sua natureza? O prejuízo tem que ser demonstrado na hora do ato ou
oportunamente?
R: A jurisprudência do STJ acabou se consolidando no sentido de que a inobservância do art. 212 caracteriza mera
nulidade relativa. Logo, a nulidade deve ser arguida oportunamente, sob pena de preclusão, sendo necessária, ademais,
a comprovação do prejuízo. Na mesma linha, o Supremo Tribunal Federal entende que a inversão da ordem de
inquirição das testemunhas, fazendo o magistrado suas perguntas em primeiro lugar para, somente depois, permitir que
as partes o façam, caracteriza nulidade relativa, razão pela qual, além da demonstração de prejuízo, também deveria
haver arguição oportuna, sob pena de preclusão. Se se trata de mera nulidade relativa, é importante deixar consignado
que eventual concordância das partes quanto à não observância do art. 212 do CPP por ocasião da audiência una de
instrução e julgamento acarretará a convalidação da nulidade. Afinal, por força do princípio da boa-fé, ninguém pode
arguir nulidade para a qual tenha concorrido (CPP, art. 565). Ora, se a parte não demonstrou sua irresignação no
momento em que a testemunha era inquirida pelo juiz através do sistema presidencialista, não poderá, posteriormente,
arguir a nulidade do referido ato processual.

6) O juiz pode reconhecer de oficio nulidade não arguida contra o réu? (o examinador enfatizou o “contra”) em
sede de recurso ocorre o mesmo?
R: Na 1° instância, o juiz é livre para reconhecer de ofício a existência de qualquer tipo de nulidade, seja ela absoluta,
seja ela relativa. Se as nulidades absolutas ou relativas não forem reconhecidas de ofício pelo juiz, as partes são livres
para fazer sua arguição, devendo atentar para o fato que as nulidades relativas devem ser arguidas oportunamente. Já
em grau recursal, o conhecimento de toda e qualquer nulidade pelo Tribunal está condicionado ao efeito devolutivo, em
razão do qual o poder de reexame da instância superior fica restrito à parte da decisão impugnada pelo recorrente ,
evitando-se, assim, a prestação da atividade jurisidicional sem que tenha havido provocação das partes. Ademais,
especial atenção deve ser dispensada à súmula 160 do STF, segundo a qual “é nula a decisão do Tribunal que acolhe,
contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.”. Deste modo, no
recurso da acusação, o Tribunal é livre para reconhecer qualquer nulidade em prejuízo do acusado, desde que o
conhecimento desse vício tenha sido devolvido à apreciação do juízo ad quem em virtude da interposição do recurso.

7) Apresentação em plenário de júri de novo documento que em nada influi no deslinde da causa, mas foi
juntado aos autos em prazo fora do período legal, há nulidade?
R: Não há nulidade, pois apresentado um documento sem nenhum dado relevante, incapaz, por isso, de influenciar no
ânimo dos jurados.
BRASILEIRO: “Como se pode perceber, só estão sujeitos à restrição do art. 479 do CPP documentos e/ou objetos que
guardem relação com a matéria de fato versada no processo. Logo, se se tratar de questão genérica, sem qualquer
relação com os fatos imputados ao acusado, a exibição é autorizada independentemente de prévia comunicação à parte
contrária. Por isso, é plenamente possível a leitura de livros técnicos, de modo a auxiliar a tese acusatória ou defensiva.”

STJ: “TJ: " 2. O art. 479 do Código de Processo Penal determina que, durante o julgamento, só será permitida a
leitura de documento ou a exibição de objeto que tenham sido juntados aos autos com a antecedência mínima de 3
dias úteis e com a ciência da outra parte. Este prazo de 3 dias úteis se refere também à ciência da outra parte, ou
seja, tanto a juntada aos autos do documento ou objeto a ser exibido quando do julgamento, bem como a ciência
desta juntada à parte contrária, devem ocorrer no prazo de 3 dias úteis previsto no art. 479 do Código de Processo
Penal. 3. Em que pese a ocorrência do desrespeito ao prazo fixado no art. 479 do Código de Processo Penal (o
documento, não obstante juntado aos autos no prazo de 3 dias úteis, só veio a ser disponibilizado à defesa às
vésperas do julgamento, ou seja, fora do prazo legal) não se vislumbra prejuízo efetivo à defesa, considerando que o

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documento em questão não foi utilizado por ocasião do julgamento pelo Tribunal do Júri. A inexistência de prejuízo
inibe o reconhecimento da nulidade do julgamento mesmo com o vício apontado."

" 1. A apresentação, pelo assistente de acusação, de fotografia da vítima em data bastante anterior ao delito
apurado nos autos não contraria o disposto no art. 479 do Código de Processo Penal, uma vez que, consoante dispõe
seu parágrafo único, a antecedência mínima e a ciência à outra parte são exigidas apenas quanto aos elementos
probatórios que possuam relação direta com os fatos submetidos ao Tribunal do Júri.”

8) Assistência de acusação se apresenta com uma camisa vestida com um retrato da vítima. Seria uma atuação
da acusação?
Não encontrei uma resposta específica, porém segue julgado do TJMG:

TJ-MG - Apelação Criminal APR 10439130032030001 MG (TJ-MG)


Data de publicação: 02/04/2014

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - PRELIMINAR - NULIDADE DO JULGAMENTO - INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA DA


VÍTIMA SOBRE OS JURADOS -PESSOAS TRAJANDO CAMISETAS COM FOTOS DA VÍTIMA DENTRO DO
PLENÁRIO - LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO - MANIFESTAÇÃO INCAPAZ DE ALTERAR O ENTENDIMENTO DO
JÚRI POPULAR - REJEIÇÃO - MÉRITO - DECISÃO DOS JURADOS CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS -
INOCORRÊNCIA - DOSIMETRIA DA PENA - CORREÇÃO - NECESSIDADE. 01. O simples fato de as pessoas em
Plenário estarem vestindo camisetas com a foto da vítima não se mostra capaz de influenciar os jurados a
ponto de decidirem contrariamente à sua íntima convicção. Além do mais, a liberdade de manifestação é
prevista no texto constitucional , não havendo vedação na Lei para tal procedimento. 2. Restando evidenciado
que o veredicto a que chegou o Conselho de Sentença não é manifestamente contrário à evidência dos autos, deve-se
manter a condenação imposta pelo Tribunal Popular do Júri, porquanto deve prevalecer o princípio da soberania dos
veredictos, conforme prescrito no artigo 5º , inciso XXXVIII , c , da CF/88 . 3. Constatando-se o equívoco na dosimetria
da pena, a sua correção é medida que se impõe.
6ª CÂMARA CRIMINAL 02/04/2014 - 2/4/2014 Apelação Criminal APR 10439130032030001 MG (TJ-MG) Rubens
Gabriel Soares

GRUPO TEMÁTICO III

CIVIL - BERTOLDO MATEUS DE OLIVEIRA FILHO

1) Faça uma digressão sobre a união estável no Brasil, sua evolução doutrinária e constitucional.
O Código Civil Brasileiro de 1916 refletia o pensamento da sociedade burguesa, sendo omisso em relação à união de
fato.
a. A família resultante desta união informal de homem e mulher, sem as solenidades do casamento de
papel passado vivendo como se marido e mulher fossem, denominava-se “concubinato”, significando
uma vida em comum com aparência de casamento.
b. O Código Civil de 1916 e ainda antes da Constituição Federal de 1988 diferenciavam a família oriunda
de um casamento da família dita ilegítima proveniente das uniões informais entre o homem e a mulher.
c. Filhos oriundos dessa relação: ilegítimos.
d. A partir da Dec. 60.
i. Primeiros julgados que impulsionaram a constituição de uma doutrina concubinária.

68
ii. Reconhecimento de uma indenização pelos serviços prestados quando por ocasião da
dissolução da relação concubinária (“alimentos disfarçados”).
iii. Concubinato:
1. Puro: não havia impedimentos matrimoniais.
a. Quando a mulher convivia com o homem sem ser casada, embora ela
pudesse casar com ele.
2. Impuro: quando havia impedimento matrimonial.
3. OBS: o direito não diferenciava essas duas figuras.
iv. Embora as relações concubinárias não constituísse uma família legítima, deve-se reconhecer
uma sociedade de fato.
1. Concubina  reconheceu o direito à meação de todos os bens adquiridos durante a
convivência, desde que ela provasse o esforço comum para a aquisição deles.
a. Fundamento: vedação ao locupletamento ilícito.
b. Tribunais: o que é esforço comum¿
i. O simples fato da mulher ficar em casa, cuidando do lar e da
educação dos filhos, estava contribuindo para homem sair para
trabalhar e construir um patrimônio comum.
Seguindo a evolução social com a promulgação da Carta Magna de 1988 a união estável elevou-se à categoria
de entidade familiar é o que diz o parágrafo 3º do artigo 226: “§ 3º - Para efeito de proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre homem e mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão
em casamento”.
Lei n. º 8.971de 29 de dezembro de 1994: trata especificamente dos direitos dos companheiros em relação aos
alimentos (art. 1º), sucessão hereditária (art. 2º) e meação (art. 3º). Ainda que breve não se pode negar o
caráter inovador dessa lei que concede direitos aos companheiros, que antes só se aplicavam aos casados.
Porém, continuava muito conservadora, apresentando requisitos para que esta união pudesse ser reconhecida,
exigindo ainda, o prazo mínimo de cinco anos, exceto se o casal tivesse filhos antes desse prazo.
e. Previu a meação dos bens havidos pelo esforço comum dos dois, porém, após a morte do
companheiro, seria uma meação post mortem, (...) o legislador omite-se a respeito da dissolução da
sociedade de fato em vida, com decorrente partilha dos bens, na forma prevista pela súmula 380 do
STF”
f. Ressalta-se que só encontram agasalhadas pela Lei 8.971 de 94 as uniões estáveis entre pessoas
desimpedidas.

Lei n. 9.278/96:
g. Seu artigo 1º reconhece com entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua de homem
e mulher desde que haja objetivo de vida em comum sob o mesmo teto visando a composição de
família, abandonando “a idéia objetiva de ligação por cinco anos para usar o termo “duradouro” e
“contínuo.
h. Os requisitos pessoais e temporais não mais existem para reconhecimento da união estável, o que
agora importa é a convivência ser duradoura, pública e contínua; a meação resulta da colaboração
onerosa dos companheiros na aquisição do patrimônio comum, salvo se houverem estipulado o
contrário. Outrossim, permanecem em vigor as regras do artigo 2º da lei 8.971/94, relativas ao direito
de herança do companheiro sobrevivente.

O novo Código Civil Lei n.º 10.406, a exemplo da Constituição aceita a união estável como entidade familiar
consagrando os arts. 1723 a 1727 para tratar do tema, sintetizando os principais ponto das Leis n.º 8.971/94 e
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9.278/96. O termo usado volta a ser “companheiro” para designar os que vivem em união estável, do mesmo
modo que não fixa prazo para a obtenção dos efeitos jurídicos e a distingue do concubinato.
i. O art. 1.723 reconhece a união estável como entidade familiar e o parágrafo 1º do art. 1723 determina
que a união estável não pode se constituir quando houverem impedimentos elencados no art. 1521,
porém, com exceção das pessoas casadas formalmente mas separadas de fato (desde que
comprovada) ou separada judicialmente. Assim, os solteiros, viúvos, separado e divorciados podem
constituir união estável.

STF: Determinou (suprindo a omissão do legislador) a extensão às uniões homoafetiva das regras que
disciplinam a união estável entre pessoas de sexos diferentes.

Regime sucessório:
j. O STF declarou a inconstitucionalidade do disposto no art. 1.790, CC, tendo em vista distinção de
regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo art. aplicado, em ambos os casos, o
regime estabelecido no art. 1.829,CC.
k. Fundamentos:
i. Ofensa à dignidade da pessoa humana: viola o valor intrínseco que postula que todos os
indivíduos têm igual valor e por isso merecem o mesmo respeito e consideração (a previsão
promovia uma discriminação ilegítima).
ii. Proporcionalidade (proteção deficiente): a depender das circunstâncias, tal regime jurídico
sucessório pode privar o companheiro supérstite dos recursos necessários para seguir com
sua vida de forma digna. Não há hierarquia entre famílias.
iii. Vedação ao retrocesso social: o sistema anterior sucessório (Leis acima) era substancialmente
mais favoráveis ao companheiro do que o inaugurado pelo CC/02.
Fontes:http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4312 ; caderno do curso
da Fundação do MPMG (reta final) e Manual Tartuce.

2) Com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, os chamados atos existenciais foram excluídos da
possibilidade de coerção, não podem ser submetidos a curatela. Isso teve uma influência no direito de família.
Comente a possibilidade de casamento de pessoa com deficiência mental autorizado por seu curador (essa não
tem uma resposta certa ou errada, quero mesmo saber a opinião do senhor).
As pessoas com deficiência tiveram uma inclusão familiar plena pelo seu estatuto protetivo, sendo certo que não haverá
afetação da plena capacidade civil da pessoa para casar-se e constituir união estável.
Substituiu-se a premissa da dignidade-vulnerabilidade pela dignidade-igualdade.
Assim, diante da revogação do art. 1548, inciso I, CC, e do novo sistema protetivo instituído pela Lei n. 13.146/15, as
pessoas com deficiência podem livremente se casar.
O autor (Flávio Tartuce) ressalta a necessidade de retomar uma antiga previsão constante originalmente no art. 3º, CC,
no sentido de ser reconhecida como absolutamente incapaz a pessoa que não tenha qualquer condição de exprimir
vontade.
Caso isso não ocorra, uma solução possível para resolver o problema seria concluir que, nos casos em que não há
vontade daquele que celebra o ato, o negócio jurídico deveria ser considerado inexistente.
Material da Fundação MPMG: o curador só atuará se o casamento gerar reflexos patrimoniais desfavoráveis ao
curatelado.

3) Nulidade do casamento por infringência de impedimento. Comente.


A ação declaratória é imprescritível, eis que a nulidade não convalesce pelo decurso do tempo.
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Pode ser promovida por qualquer interessado ou pelo Ministério Público (envolve preceitos de ordem pública).
Pode ser precedida de medida judicial para a separação de corpos.
Diante do princípio da não intervenção, a nulidade do casamento não pode ser reconhecida de ofício, mas apenas o
impedimento matrimonial.
Os efeitos da sentença são retroativos à celebração do casamento (ex tunc), mas não poderão prejudicar a aquisição de
direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé (tutela-se a boa-fé objetiva).
Fonte: Manual Tartuce.

4) Esses impedimentos têm alguma denominação? São conceituados de alguma maneira? São absolutos?
Relativos?
Os impedimentos matrimoniais atingem determinadas pessoas, em situações específicas. Os impedimentos envolvem a
legitimação.
Situações que envolvem ordem pública.
Caso o casamento seja celebrado, será ele nulo de pleno direito, havendo nulidade absoluta.
a. Ressalvaria a questão do casamento avuncular: segundo entendimento majoritário, continua em vigor o
Dec. lei n. 3.200/1941 que autoriza o casamento entre tios e sobrinhos se uma junta médica apontar
que não há risco biológico.
b. Fonte: Manual Tartuce.

5) Essa decretação de nulidade pode ser feita por quem?


Magistrado.

6) Indique duas causas de anulabilidade do casamento.


- Casamento contraído por quem não completou a idade mínima para casar (16 anos).
- Casamento celebrado sob coação moral.

7) Em determinada comarca, não tem juiz de casamento, e os casamentos são, há mto tempo, celebrados no
religioso e no civil pelo padre, com as devidas formalidades (inscreve no registro civil). O senhor considera este
casamento válido ou inexistente?
“Art. 1.550. É anulável o casamento:
(...) VI — por incompetência da autoridade celebrante”.
Em outras palavras, se um juiz de direito — materialmente competente para a celebração matrimonial —, por equívoco,
presidir o ato em comarca que esteja fora da sua atuação funcional, a hipótese é de simples anulabilidade.
Cuida-se, pois, de nulidade relativa, por mera incompetência em razão do local.
Poder-se-ia, no entanto, argumentar que, por haver a norma codificada feito apenas referência à “incompetência da
autoridade celebrante”, em qualquer situação — quer na falta de competência material, quer na falta da relativa — o
casamento seria sempre anulável.
Não tem sentido, todavia, esse entendimento.
Toda atividade hermenêutica pressupõe parâmetros de razoabilidade, e, nesse caso, a interpretação reducionista ou
meramente literal não é a mais recomendável. Como se reputar existente um casamento celebrado por um tabelião ou
um delegado de polícia? Como anular aquilo que não existe?
Afinal, o plano de existência, por imperativo lógico, não precederia o de validade?
Indiscutivelmente, em situações como essas, portadoras de distorção grave, a conclusão inafastável é a de flagrante
inexistência, pela ausência de jurisdição ou falta de competência material para a realização do ato.
E não se diga que tal entendimento poderá coroar injustiças, prejudicando nubentes de boa-fé que houvessem
acreditado na investidura da autoridade celebrante, uma vez que o art. 1.554, lastreado na teoria da aparência, é, em
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nosso sentir, perfeitamente aplicável à espécie: “Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem
possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver
registrado o ato no Registro Civil”.
Em outras palavras, posto o ato seja inexistente, a boa-fé do administrado, com fundamento na citada teoria da
aparência, justificaria o seu reconhecimento oficial. O que se observa, pois, é uma situação de eficácia constitutiva de
direitos, decorrente da atuação normativa da cláusula geral da boa-fé 212.

PROCESSO CIVIL - ADRIANO CARDOSO DA SILVA

1) Quais são os requisitos objetivos e subjetivos que devem estar preenchidos para a concessão da
indisponibilidade de bens no procedimento da lei de improbidade administrativa?
Cumpre ao requerente comprovar o pressuposto do fumus boni iuris (verossimilhança do direito invocado), que na
espécie corresponde à existência de fundados indícios da prática do ato de improbidade administrativa.
Conforme posição majoritária na doutrina e na jurisprudência (STJ), a demonstração do periculum in mora concreto é
desnecessária, ou seja, o perigo de dano é presumido.
a. Essa característica é própria da medida constritiva, assentada em fundamento constitucional expresso
no art. 37, §4º.
b. Trata-se de espécie de tutela de evidência.
Além disso, a decretação de indisponibilidade não depende da individualização dos bens pelo Parquet.

2) Esse entendimento citado pelo senhor do STJ sobre a não necessidade de “periculum in mora” é
predominante ou não?
Esse entendimento é o predominante. No entanto, cumpre ressaltar que doutrina minoritária sustenta a ausência de
razoabilidade da medida, defendendo que o poder geral de cautela do juiz deverá dimensionar acerca da necessidade
ou não da medida.

3) Existe a possibilidade de audiência de autocomposição no procedimento desta lei de improbidade?


O art. 17, §1º, da Lei n. 8.429/92, proíbe expressamente “transação, acordo ou conciliação” no processo de improbidade
administrativa. Ele havia sido revogado pela MP n. 703/15, mas que caducou.
No entanto, pelo menos no âmbito do MP, a autocomposição é admitida. “É cabível o compromisso de ajustamento de
conduta nas hipóteses configuradas de improbidade administrativa, sem prejuízo do ressarcimento ao erário e da
aplicação de uma ou algumas das sanções previstas em lei, de acordo com a conduta ou ato praticado”.
Além disso, diante da proximidade entre a ação penal e a ação de improbidade administrativa, não há razão para não
ser possível negociar as sanções civis de improbidade, tendo em vista a possibilidade de negociação das
consequências penais, mesmo nas infrações graves. A proibição de negociação prevista na LIA era, na verdade, um
reflexo da proibição no âmbito penal.
A Lei n. 12.846/13, a Lei Anticorrupção e a LIA compõe um microssistema legal de combate a atos lesivos à
Administração. A interseção entre as leis permite que se entenda cabível acordo de leniência como negócio atípico em
processo de improbidade administrativa.
Além disso, o §4º do art. 36 da Lei de Mediação expressamente admite a autocomposição em ação de improbidade
administrativa.

72
4) É possível aplicar as convenções processuais a este procedimento?
É admitida a aplicação da cláusula geral de negociação processual prevista no art. 190, CPC, sendo possível a
celebração de negócios jurídicos processuais atípicos.
Aplicação subsidiária do Código de Processo Civil.
Ex.: escolha convencional de um perito; pacto de disponibilização prévia de documentos; pacto de produção antecipada
de prova; pacto sobre o dever de financiar o custo da prova etc.
Para que tais convenções processuais coletivas sejam celebradas, é preciso que haja legitimação negocial coletiva por
parte do ente que a celebre.

5) Quais são as possíveis atuações processuais do membro do MP nas ações de improbidade? Faça uma
ponderação sobre a razoabilidade a e ponderação na aplicação da pena.
O membro do MP poderá atuar como autor (art. 17) ou como fiscal da ordem jurídica (art. 17, §4º), nesse ultimo caso
diante da propositura da ação pela pessoa jurídica interessada.
No que concerne a aplicação da pena, o juiz está preso aos parâmetros que a lei estabelece, não sendo as sanções
aplicadas obrigatoriamente de forma cumulativa (STJ). Dentro deles poderá fazer as suas opções, para chegar a uma
aplicação justa da sanção, atento às exigências da espécie concreta, isto é, às suas singularidades, sob a luz dos
princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Nesse contexto, esses princípios são concebidos com a finalidade de
combater o excesso, bem a proteção deficiente da probidade administrativa. Sendo assim, o juiz deverá levar em
consideração a gravidade do fato, a extensão do dano causado e o proveito patrimonial obtido pelo agente. A doutrina
também aponta outros elementos que poderão influir nessa dosimetria, tais como: a intensidade do elemento subjetivo
(dolo ou culpa) da conduta, a ofensividade da conduta do agente, o grau de reprovabilidade do comportamento, a
natureza da participação dos agentes, a reincidência etc. José dos Santos Carvalho Filho afirma ser possível ao
julgador, inclusive, socorrer-se das circunstâncias judiciais previstas no art. 59, CP.

6) Exemplos do STJ com relação à aplicação da razoabilidade e da proporcionalidade, na aplicação da pena. É


um posicionamento recorrente ou isolado?
Caso no qual se apurava a ocorrência de improbidade em atos de ex-Presidente e de ex-Diretor de Administração da
Casa da Moeda, por hipotéticas irregularidades em contratos firmados sem licitação: O colendo Superior Tribunal de
Justiça firmou sua jurisprudência no sentido de que é necessária a análise da razoabilidade e da proporcionalidade em
relação à gravidade do ato de improbidade e à cominação das penalidades, as quais não devem ser aplicadas
indistintamente: faz-se imprescindível, portanto, a individualização das condutas, não se podendo ultrapassar em
espécie ou quantidade o limite da culpabilidade do autor do fato. Do contrário, a inicial acusatória inverte de modo
ilegítimo e inaceitável o ônus da prova. (REsp 875.425/RJ).
É indispensável, sob pena de nulidade, a indicação das razões para a aplicação de cada uma das sanções, levando em
consideração os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade (REsp 658.389).

DIERLE

7) Como se dá o reexame necessário do julgamento? Ele se aplica aos julgamentos de carência de ação e de
improcedência dos pedidos na ação de improbidade?
O regramento geral do reexame necessário se encontra no art. 496 e seguintes do CPC, objetivando a revisão das
sentenças que sejam contrárias ao Poder Público: Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo
efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal,
os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público. II - que julgar procedentes, no todo ou em
parte, os embargos à execução fiscal.

73
Tal instituto também encontra previsão na Lei da Ação Popular (Lei n. 4.717/65), mas com um propósito bastante
diverso: a proteção da coletividade: Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação
procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.
Por conta de tal dispositivo, as sentenças de improcedência ou extinção do processo sem resolução do mérito, nas
ações populares, estão sujeitas necessariamente ao duplo grau de jurisdição, dada a relevância de tal demanda, que
consiste em uma forma de controle social dos atos administrativos e defesa dos direitos difusos.
Como sabemos, a Lei da Ação Popular compõe o microssistema processual coletivo, que envolve a ação civil pública,
ação popular, ação de improbidade administrativa, mandado de segurança coletivo e mandado de injunção coletivo.
Em relação a aplicação do instituto às ações de improbidade administrativa, há divergência entre a 1ª e a 2ª Turma do
STJ:
o 1ª Turma: a ausência de previsão da remessa de ofício, nesse caso, não pode ser vista como uma
lacuna da Lei de Improbidade que precisa ser preenchida, razão pela qual não há que se falar em
aplicação subsidiária do art. 19 da Lei 4.717/65, mormente por ser o reexame necessário instrumento
de exceção no sistema processual, devendo, portanto, ser interpretado restritivamente; deve-se
assegurar ao Ministério Público, nas Ações de Improbidade Administrativa, a prerrogativa de recorrer
ou não das decisões nelas proferidas, ajuizando ponderadamente as mutantes circunstâncias e
conveniências da ação".
o 2ª Turma: no REsp 1220667/MG, decidiu de forma diversa, afirmando que por “aplicação analógica da
primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65, as sentenças de improcedência de ação civil pública
sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário"
o Embargos de divergência em Recurso Especial (EREsp 1220667/MG, DJe 30/06/2017) acolheu o
entendimento da Segunda Turma, entendendo pela aplicação do regramento da remessa necessária às
ações de improbidade. É o posicionamento atual:
 A jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que o Código de Processo Civil deve ser
aplicado subsidiariamente à Lei de Improbidade Administrativa.
 Ademais, por "aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65, as
sentenças de improcedência de ação civil pública sujeitam-se indistintamente ao reexame
necessário".

8) Como se dá a aplicação do processo estrutural e das medidas estruturantes no procedimento de improbidade


administrativa?
O processo estrutural é compreendido como um conjunto de técnicas e instrumentos processuais aptos a tornar viável a
intervenção judicial, de modo responsável, em políticas públicas (implantar um política inexistente, complementar um
política deficiente ou aperfeiçoar uma política ineficiente), ou a que busca implantar uma reforma estrutural em um ente,
organização ou instituição, com o objetivo de concretizar um direito fundamental, ou ainda resolver litígios complexos,
assim compreendidos aqueles que põem em rota de colisão múltiplos interesses sociais, todos eles dignos de tutela
(conceito trazido pelo examinador no espelho de respostas). Partindo do pressuposto de que a doutrina e a
jurisprudência majoritárias acolhem a tese de que a ação de improbidade administrativa é espécie de ação civil pública,
entende-se que é possível formular pedidos de reparação por danos materiais e morais advindos da conduta ímproba.
Sendo assim, é defensável a concretização de negócios jurídicos processuais entre o autor e o demandado na ação de
improbidade administrativa, a fim de estabelecer mecanismos que garantam uma tutela mais efetiva e adequada em prol
dos interesses públicos, como a nomeação de perito, estabelecimento de calendário processual, redução dos prazos
legais etc.

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Além disso, sustenta-se a possibilidade da prolação de uma decisão estrutural, que estrutura o modo como se deve
alcançar a reparação integral do dano, determinando condutas que precisam ser observadas ou evitadas para que o
preceito seja atendido e o resultado alcançado.A despeito da acentuada intervenção judicial na atividade dos sujeitos
envolvidos no processo, sejam eles particulares ou públicos, tal processo é marcado pela dialeticidade, sendo certo que
o agente ímprobo deverá participar ativamente na construção da solução que promova de forma mais efetiva a
reparação dos danos materiais e morais oriundos do ato de improbidade administrativa.

GRUPO TEMÁTICO IV

COLETIVO - CARLOS ALBERTO VALERA (SUPLENTE)

1) Defina direitos humanos e faça um breve resumo de sua evolução histórica.


Para Flavia Piovesan, o conceito de direitos humanos é dotado de universalidade, pois possui extensão universal, pois
basta possuir condição de pessoa para ser titular de direitos. Portanto, o ser humano é visto como um ser
essencialmente moral com unicidade existencial e dignidade.
Evolução histórica:
a. Período Axial: é a partir do período axial que, pela primeira vez na História, o ser humano passa a ser
considerado, em sua igualdade essencial, como ser dotado de liberdade e razão, não obstante as
múltiplas diferenças de sexo, raça, religião ou costumes sociais. Lançavam-se, assim, os fundamentos
intelectuais para a compreensão da pessoa humana e para afirmação da existência de direitos
universais, porque a ela inerentes.
b. Idade Média: surgiram diversos documentos que contribuíram para a efetivação dos direitos humanos,
entretanto, esses documentos não eram cartas de liberdade e sim contratos feudais, onde o rei se
comprometia respeitar os direitos de seus súditos.
i. Surgiu a Magna Charta Libertatum (Magna Carta) de 15.6.1215, Outorgada por João-Sem-
Terra em 15 de Junho de 1.215, a qual impedia o exercício do poder absoluto.
ii. No final da Idade Média, precisamente no século XIII, surge a grande figura de Santo Tomás
de Aquino, que, tomando a vontade de Deus como fundamento dos direitos humanos,
condenou as violências e discriminações, dizendo que o ser humano tem direitos naturais que
devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o direito de rebelião dos que forem
submetidos a condições indignas.
c. Idade Moderna: esse período foi de suma importância para a sociedade, oferecendo assim quatro
diretrizes primordiais para os Direitos Humanos, sendo elas: a) a Petition of Rights de 1628; b) o
Habeas Corpus Act de 1679; c) a Bill of Rights de 1689 e d) a Declaração de Virgínia de 1776.
d. De acordo com as mutações históricas e as ideologias sociais, os direitos humanos passaram a ter
várias gerações aparecendo assim em diversas Constituições, vindo a consolidar-se no ordenamento
jurídico pátrio, como por exemplo, na Carta Magna de 1988.
Primeira dimensão abrange o direito à liberdade, à expressão, à locomoção e à vida, surgindo
entre os séculos XII e XIX. O primeiro documento que traz a instituição destes direitos é a
Magna Carta de 1215, da Inglaterra, assinada pelo rei João Sem Terra.
A segunda dimensão é formada pelos direitos sociais, culturais, econômicos, ramificações do
direito à igualdade, impulsionados pela Revolução Industrial européia. Os principais
documentos que representam esta geração são a Constituição de Weimar, da Alemanha e o
Tratado de Versales, ambos de 1919.
Englobando os direitos à paz, a uma qualidade de vida saudável, à proteção ao consumidor e
à preservação do meio-ambiente, surge a terceira dimensão dos direitos fundamentais.
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Introduzidos pela globalização política, a quarta dimensão é formada pelos direitos à
democracia, à informação, ao pluralismo e de normatização do patrimônio genético. Não é
unânime a aceitação desta geração de direitos fundamentais. Dentre os que a defendem
temos Pedro Lenza, Marcelo Novelino, Erival Oliveira e Norberto Bobbio.

2) É um conceito aberto, então? Construa um conceito de direitos humanos (“o senhor fez 3 cortes históricos.
Reviste a história romana, pq ela nunca praticou direitos humanos”)
Foi o Direito romano que estabeleceu um complexo mecanismo de interditos visando tutelar os direitos individuais em
relação aos arbítrios estatais. Na história romana, podem-se identificar estatutos reconhecendo liberdades básicas aos
cidadãos, evidenciando remotas sementes do ciclo de conformação da chamada primeira geração de direitos humanos.
A Lei das Doze Tábuas pode ser considerada a origem dos textos escritos consagradores da liberdade, da propriedade
e da proteção aos direitos do cidadão (https://jus.com.br/artigos/62478/direitos-humanos-fundamentais-evolucao-historica-e-
visao-da-carta-constitucional-patria )

3) Eu gosto do termo “dimensões” dos direitos humanos e não gerações. Nós temos uma quarta dimensão?
Sobre o que se trata?
 Vide questão 1.

4) Enumere pelo menos 2 ações que podem ser identificadas como processos de luta para a implementação dos
direitos humanos no Brasil.
Abolição da escravatura e movimento pelo sufrágio feminino.

5) Só pra saber seu ponto de vista: o senhor concorda com as cotas raciais?
Sim, conforme entendimento emanado do STF.
A igualdade proíbe que haja uma hierarquização dos indivíduos e que sejam feitas distinções sem fundamento. No
entanto, a igualdade também transmite um comando, qual seja, o de que deve haver a neutralização de injustiças
históricas, econômicas e sociais e que haja um maior respeito à diferença.
No mundo contemporâneo, a igualdade se expressa em três dimensões: a) a igualdade formal; b) a igualdade material;
c) a igualdade como reconhecimento.
Princípio do concurso público: A Lei nº 12.990/2014 não viola o princípio do concurso público. Isso porque, para serem
investidos nos cargos públicos, os candidatos negros têm de ser aprovados no concurso. Caso não atinjam o patamar
mínimo, sequer disputarão as vagas. A única coisa que a Lei fez foi criar duas formas distintas de preenchimento de
vagas, em razão de reparações históricas, sem abrir mão do critério mínimo de suficiência.
Princípio da eficiência: A Lei nº 12.990/2014 não afronta o princípio da eficiência. Não necessariamente os candidatos
aprovados em primeiro lugar, segundo o critério da nota, serão absolutamente melhores que os outros. A noção de
meritocracia deve comportar nuances que permitam a competição em igualdade de condições. Pode-se até mesmo
imaginar um ganho importante de eficiência. Afinal, a vida não é feita apenas de competência técnica, ou de capacidade
de pontuar em concurso, mas sim de uma dimensão de compreensão do outro e de variadas realidades. A eficiência
pode ser muito bem-servida pelo pluralismo e pela diversidade no serviço público.
Princípio da proporcionalidade: Por fim, o STF entendeu que a Lei nº 12.990/2014 não ofende o princípio da
proporcionalidade. A demanda por reparação histórica e ação afirmativa não foi resolvida com a simples existência de
cotas para acesso às universidades públicas. Isso não foi suficiente. O impacto das cotas raciais não se manifesta no
mercado de trabalho automaticamente, pois há um tempo de espera até que essas pessoas estudem, se formem e se
tornem competitivas. Além disso, a proporção de 20% escolhida pelo legislador é extremamente razoável. Se essa
escolha fosse submetida a um teste de proporcionalidade em sentido estrito, também não haveria problema, porque

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20%, em rigor, representariam menos da metade do percentual de negros na sociedade brasileira.
(https://www.dizerodireito.com.br/2017/07/o-sistema-de-cotas-para-negros-em.html )

6) O senhor acha que em nossa sociedade mista, a cor é fator preponderante ou é a questão econômica que tem
preponderância. A cota, na minha leitura, tinha que ter a desigualdade econômica e social, e não a cor.

7) Defina no que consiste o princípio da proibição do retrocesso socioambiental.


Para que seja possível exercer os direitos fundamentais, exige-se que a proteção da dignidade humana seja respeitada,
para que os indivíduos tenham um mínimo de segurança. Esse é o cerne do princípio da proibição do retrocesso, que
tem vínculo com o princípio da segurança jurídica, que protege os direitos fundamentais contra a atuação lesiva do
legislador que pretende suprimir ou reduzir a tutela de direitos já existentes.
De acordo com Luís Roberto Barroso (2009), pelo princípio da proibição do retrocesso, ao regulamentar um
mandamento constitucional e instituir determinado direito, a lei incorpora-se ao patrimônio jurídico dos cidadãos, não
podendo ser suprimido de maneira discricionária.
“Merece registro, ainda, (...), uma ideia que começa a ganhar curso na doutrina constitucional brasileira: a vedação do
retrocesso. Por esse princípio, que não é expresso, mas decorre do sistema jurídico constitucional, entende-se que se
uma lei, ao regulamentar um mandamento constitucional, instituir determinado direito, ele se incorpora ao patrimônio
jurídico da cidadania e não pode ser arbitrariamente suprimido. Nessa ordem de ideias, uma lei posterior não pode
extinguir um direito ou uma garantia, especialmente os de cunho social, sob pena de promover um retrocesso, abolindo
um direito fundado na Constituição. O que se veda é o ataque à efetividade da norma, que foi alcançada a partir da sua
regulamentação. Assim, por exemplo, se o legislador infraconstitucional deu concretude a uma norma programática ou
tornou viável o exercício de um direito que dependia de sua intermediação, não poderá simplesmente revogar o ato
legislativo, fazendo a situação voltar ao estado de omissão legislativa anterior.”

8) Este princípio tem amparo em nossa CF? Se sim, indique o dispositivo (art. 4, II e IX, CF).

9) Qual a natureza jurídica dos tratados e convenções sobre direitos humanos subscritos pelo Brasil ratificados
pelo Poder Legislativo que passam a integrar o sistema normativo brasileiro?
Com fundamento no art. 5º, §3º, da CF, os tratados internacionais de direitos humanos receberão tratamento jurídico
equivalente ao de emenda constitucional, caso aprovados em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros; ou serão dotados de caráter supralegal (abaixo da CF, mas acima dos
atos normativos primários).

10) Tem um lapso temporal nessa interpretação, não tem?


Sim, o lapso temporal consiste na EC n. 45/2004, que inseriu o §3º, do art. 5º, CF.
OBS: tratados internacionais de direitos humanos internalizados antes da EC n. 45/2004.

o "Prezados, gostaria de enviar uma opinião para fomentar a discussão a respeito do entendimento do
STF acerca da natureza supra legal dos tratados internacionais de direitos humanos ratificados antes
da EC 45/04. Com efeito, refletindo sobre os muitos argumentos levantados pela doutrina que defende
que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados antes da EC 45/04 têm natureza de
verdadeira norma constitucional, pensei no seguinte raciocínio, que, se não for inédito, dificilmente é
suscitado, pois não obtive êxito em encontrá-lo em nenhum estudo sobre o tema. Quando sobrevém
uma nova norma constitucional, deve ocorrer o fenômeno da recepção constitucional em relação às leis
anteriormente existentes, que forem com ela materialmente compatíveis. O aspecto formal dessas leis
anteriores não tem qualquer relevância, tanto que leis ordinárias anteriores à promulgação da CF/88,
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que tratam de matéria reservada à lei complementar de acordo com a sistemática da CF/88, são por
esta recepcionadas se forem materialmente compatíveis, mas com seu status alterado, ou seja, muito
embora mantenham o rótulo de leis ordinárias, passam a ter a essência de leis complementares. Pode-
se citar como exemplo o CTN, concebido como lei ordinária no ano de 1966, que, muito embora não
tenha sido aprovado por maioria qualificada, como devem ser as leis complementares, foi recepcionado
pela CF/88 com o status de lei complementar. Penso que esse fenômeno pode ser aplicado aos
tratados internacionais que versam sobre direitos humanos, incorporados ao ordenamento jurídico
brasileiro antes da EC 45/04. Vejamos: antes da promulgação da EC 45/04, os tratados internacionais
que versam sobre direitos humanos ratificados no Brasil possuíam o status de lei ordinária federal,
segundo entendimento do STF (1). A referida emenda constitucional incluiu o §3º no artigo 5º da CF
elevando os tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados por maioria qualificada, à
categoria de verdadeiras normas constitucionais. Assim, com o advento da nova norma constitucional
(§3º, artigo 5º da CF), pode-se suscitar a ocorrência do fenômeno da recepção constitucional dos
tratados internacionais sobre direitos humanos anteriormente ratificados. E como a nova norma
constitucional eleva os tratados internacionais que versam sobre direitos humanos à categoria de
emendas constitucionais (normas constitucionais, portanto), aqueles promulgados antes da EC/45 só
podem ser recepcionados nessa mesma categoria, pois o fenômeno da recepção altera o seu status de
lei ordinária federal para emendas constitucionais, mesmo que não tenham sido aprovados pela
maioria qualificada exigida no §3º do artigo 5º. Espero que essa breve síntese possa despertar algum
tipo de discussão, pois a criação de uma nova espécie normativa pelo Supremo Tribunal Federal é
desnecessária, e só tende a complicar um fenômeno que pode ser explicado de forma mais simples e
compatível com os instrumentos disponibilizados pelo ordenamento jurídico brasileiro.
https://www.migalhas.com.br/Leitores/82821

11) Antes do advento da Emenda 45/2004, tem um acórdão do ministro Gilmar Mendes que já se definia que
integrava como norma supralegal.

12) Havendo colisão entre direitos humanos ou direitos fundamentais, qual (is) critério (s) deve (m) ser utilizado
(s) para dirimir o conflito?
Diante da natureza abstrata dos direitos envolvidos, o critério a ser utilizado para a solução de eventual conflito será a
proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito).
o Conformidade ou adequação: é a “relação de adequação medida-fim” (CANOTILHO, 1999, p. 264), ou
seja, é aquela que ao adotar uma medida para a realização de um interesse público, faça com que esta
seja a mais adequada para a finalidade que o legislador pretendeu atingir (DILGUERIAN, 2004)[14];
o Exigibilidade ou necessidade: é o que não excede os limites indispensáveis à conservação do fim
legítimo pretendido, com a preocupação de aquele ser o menos oneroso para o cidadão (BONAVIDES,
2008). Além disso, Bonavides (2008) acrescenta que, para tal, é relevante o meio empregado e a sua
dosagem e não a sua escolha, ou seja, haveria uma discricionariedade legislativa;
o Proporcionalidade em sentido estrito: é onde a área de atuação do princípio da proporcionalidade é
mais relevante, visto que, cuida da ponderação entre direitos, bens ou interesses (AZEVEDO; BÔAS,
2009). Santos (2004) observa que tal subprincípio permite uma maximização das possibilidades
jurídicas frente a outras normas também válidas constitucionalmente. Em síntese: O subprincípio da
proporcionalidade em sentido estrito permite realizar uma proporcional distribuição dos ônus da vida
em sociedade, à medida que proíbe ao Estado sacrificar direitos fundamentais, sob a justificativa de
proteger direitos e interesses que, na prática, apresentam menor relevância. Assim, tendo em vista

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considerações fáticas do caso, os direitos ou interesses em tensão passarão por uma operação de
sopesamento (SANTOS, 2004, p. 114).

13) Proporcionalidade ou ponderação? Em face do quê?


Em face de outros direitos humanos ou fundamentais em aparente conflito.

14) Idoso e criança que chegam no hospital público. Só tem um médico. Um vai morrer. Como escolher? A
ponderação é do quê? Como se dá? DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. A ponderação em si é um bem vazio.
Dignidade humana partindo de um viés objetivo.
No caso em tela há um conflito aparente entre dois bens jurídicos de igual valor jurídico, qual seja, a vida. É verdade que
o juízo de ponderação deve incidir sobre o caso concreto, não havendo hierarquia, em abstrato, entre direitos
fundamentais. No entanto, à luz da situação exposta, não é possível definir qual bem jurídico irá prevalecer com base na
titularidade, eventual entendimento em sentido contrário violaria a dignidade da pessoa humana, uma vez que o
indivíduo sacrificado seria tratado como mero instrumento, e não como um fim em si mesmo.
Dessa forma, entende-se que o médico estará autorizado a atuar conforme o seu senso de equidade, sendo certo que a
responsabilidade penal restará afastada em razão da incidência do estado de necessidade, causa excludente de
ilicitude.

PROCESSO COLETIVO - GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO

 A questão da legitimidade, juntamente com a coisa julgada, é um dos aspectos mais próprios e relevantes do
processo coletivo. No sistema brasileiro, a legitimidade ativa é “ope legis”, ou seja, delineada pela lei de forma prévia e
abstrata. O legislador brasileiro adotou uma posição mista e heterogênea na definição dos legitimados ativos. No que
consiste essa definição mista e heterogênea?
 A Lei da Ação Civil Pública adotou a posição mista e heterogênea na definição dos legitimados ativos para
a propositura da ação, uma vez que prevê expressamente tanto entidades e órgãos que compõe a
Administração Pública Direta e Indireta (Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados, Distrito
Federal, Municípios, Autarquias, Fundações, Empresas Públicas, Sociedade de Economia Mista) quanto
pessoa jurídica de direito privado (associações).
1) Em que consiste a concorrência disjuntiva?
 A concorrência disjuntiva significa que cada legitimado possui atribuição autônoma para atuar em prol dos
interesses e direitos transindividuais, podendo atuar sozinhos ou em litisconsórcio, que é facultativo. A
atuação de um legitimado não exclui a atuação do outro.
2) A lei 7.347 não arrola entre os legitimados os partidos políticos. Imagine a seguinte situação: o senhor como
promotor tem em sua mesa autos com vista uma ACP movida pelo partido político local. Qual seria seu parecer, atuando
como “custos legis”?
 A resposta exige a apresentação de duas correntes a respeito do tema.
 Para a primeira, sustentada pelo prof. Hugo Mazzilli, os partidos políticos, “embora definidos em lei
especial, sua natureza é associativa; assim, a nosso ver, não só podem ajuizar ações diretas de
inconstitucionalidade e mandados de segurança coletivos, como também ações civis públicas ou coletivas,
desde que em defesa dos interesses transindividuais de seus membros ou em defesa das próprias
finalidades institucionais.” É a posição também defendida por Ricardo de Barros Leonel.

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Há julgado nesse sentido:“Ação Civil Pública Ambiental – Legitimidade – Partido Político – Preliminar –
Possuindo o partido político natureza associativa e preenchendo os requisitos da Lei, ele tem legitimidade para
figurar no pólo ativo das ações civis públicas. Preliminar rejeitada. Recurso provido.” (TJ-SP – AG: 7891355900
SP, Relator: Lineu Peinado, Data de julgamento: 09/10/2008, Câmara Especial de Meio Ambiente, p. em
17/10/2008).
A corrente que defende esse entendimento se baseia no fato de que os partidos políticos seriam espécie do
gênero associações.
 Para a segunda corrente – que sustenta a observância do rol do microssistema de tutela coletiva,
considerado numerus clausus – os partidos políticos não foram incluídos entre os legitimados do art. 5º da
Lei da Ação Civil Pública. Com base em tal interpretação, os partidos políticos não teriam legitimidade ativa
para o ajuizamento de ações civis públicas.
 Há também julgado recusando a legitimidade dos partidos políticos para ajuizamento de ações civis
públicas:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PARTIDO POLÍTICO. PDT. ILEGITIMIDADE ATIVA. Partido político não têm
legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação civil pública. Ausência da entidade autora no rol previsto no art.
5º da Lei nº 7.347/85 (alterada pela Lei nº 11.448/2007). Descabida a equiparação dos partidos políticos com as
associações de direito privado, para fins de legitimá-los à propositura de ações coletivas, pois (i) não há base
legal, e a legitimação anômala é interpretada restritivamente; e (ii) o eventual uso político do instrumento
poderia provocar malefícios, manejado contra opositores, aproveitando-se da ausência de custas e de
honorários, em regra. Artigo 17 da Lei Maior e Lei nº 9.096/95. Sentença de extinção mantida. Apelo
desprovido” (TRF 2ª Região, 6ª Turma Especializada, Rel.ª Des.ª Federal NIZETE LOBATO CARMO, Rel. para
acórdão Des. Federal GUILHERME COUTO, DJ 02.07.2013).
3) Qual a natureza jurídica dos partidos políticos? Eles são criados com que formato? (o próprio examinador deu a
resposta: associação)
A lei dos partidos políticos estabelece em seu art. 1 a destinação deles, dentre elas defesa dos direitos fundamentais
definidos na CF. Nessa ótica, acho que no parecer, seria mais adequado verificar se o partido político preenche os
políticos de uma associação. Se sim, ok.
4) O senhor conhece a ação coletiva passiva? Saberia dar um exemplo?
 Ocorre quando um agrupamento humano é colocado como sujeito passivo de uma relação jurídica afirmada na
petição inicial. Formula-se demanda contra uma dada coletividade. Exige-se para a sua admissibilidade que a
demanda seja proposta contra um “representante adequado (legitimado extraordinário para a defesa de uma
situação jurídica coletiva) e que a causa se revista de “interesse social”.
 Ex.: litígios trabalhistas coletivos.
 Fredie Didier.

80
Dia 04 – 20/10/2018 - NARLLA

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional - Elaine Martins Parise

1) O que é bloco de constitucionalidade? Como ele é trabalhado no direito pátrio?


Bloco de constitucionalidade é um conceito, trazido por Louis Favoreu, referente a normas com status ou valor
constitucional, estejam ou não compreendidas no texto formal da Constituição. Possui dois sentidos: o material e o
formal.
Pelo primeiro, qualquer norma que trate de matéria constitucional (organização do Estado, direitos fundamentais), ainda
que seja infraconstitucional, possui status de norma constitucional. Ou seja, abrange tanto normas constitucionais
quanto normas infraconstitucionais vocacionadas a desenvolver a eficácia de preceitos da Constituição. Desse modo, a
lei que determina o valor do salário mínimo, por exemplo, como tem por fim concretizar o disposto no art. 7º, IV, da
CR/88, integraria o bloco de constitucionalidade e, por conseguinte, poderia ser considerada parâmetro para o controle
de constitucionalidade.
Por outro lado, o bloco de constitucionalidade em sentido formal abrange somente normas que tenham a forma de
norma constitucional, tais como o texto expresso da CR, ADCT, EC cujo texto não seja inserido na CR, bem como
princípios implícitos e Tratados de Direitos Humanos aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CR. É o sentido adotado
pelo Direito pátrio, inclusive no âmbito do STF.

2) Uma lei já revogada pode ser objeto de ADI? Há exceção?


Para ser objeto de uma ADI, a lei ou ato normativo invocado como violador da Constituição deve estar vigente à época
do ajuizamento da ação, na medida em que a revogação extirpa a norma do ordenamento jurídico e, por isso, não mais
ameaça a supremacia da Constituição. Por outro lado, é cabível o controle difuso de constitucionalidade para a tutela de
direito subjetivos violados enquanto a lei ainda estava em vigor.
Nesse contexto, quando se ajuíza uma ADI, mas a lei é revogada no curso do processo, a ação é, em regra, julgada
extinta por perda superveniente do objeto. É importante ressaltar, todavia, que o STF reconhece algumas hipóteses nas
quais, mesmo com a revogação da lei, a ADI ainda será julgada.
Com efeito, o STF ainda apreciará a ADI quando haja a revogação fraudulenta da lei de modo a impedir,
deliberadamente, que o STF aprecie o mérito da questão; quando o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido
comunicado previamente que houve a revogação da norma atacada; e, por fim, quando a norma é revogada, mas seu
conteúdo é repetido, em essência, na nova norma.

3) O que é inconstitucionalidade progressiva?


Inconstitucionalidade progressiva é aquela que traduz situações intermediárias entre a constitucionalidade plena e a
inconstitucionalidade absoluta. Ocorre quando uma norma ainda é considerada constitucional (a chamada “norma ainda
constitucional” ou “norma em trânsito para a inconstitucionalidade”) devido a determinadas circunstâncias fáticas que
justificam sua manutenção no ordenamento até que, progressivamente, ela se torne inconstitucional.
O STF já reconheceu a inconstitucionalidade progressiva em duas ocasiões: no prazo em dobro para a Defensoria
Pública e na legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil ex delicto em favor de vítima hipossuficiente (art.
68, do CPP). Nas duas hipóteses, o STF considerou que as normas ainda são consideradas constitucionais, uma vez
que a Defensoria Pública não se encontra efetivamente aparelhada e instalada em todas as comarcas, o que justificaria
tanto a existência de prazo em dobro para suas manifestações, como a possibilidade de ajuizamento de ações que se
referem a suas atribuições institucionais por outros legitimados.

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4) O membro do MP pode concorrer a mandado eletivo? Nem antes da CR 88?
A alínea “e” do inciso II do § 5º do art. 128, da CR/88, com redação dada pela EC 45, veda o exercício de atividade
político-partidária por parte do membro do Ministério Público, sem qualquer ressalva, como fazia o texto originário da
CR/88. No mesmo sentido, o art. 44, V, da Lei 8625/93 e o art. 237, V, LC 75/93, os quais ressalvam exceções previstas
nessas mesmas leis. Diante dessa vedação, em regra, para se candidatar a um cargo eletivo, o membro do Ministério
Público deve se afastar do cargo nos prazos determinados, em conformidade com a LC 64/90, e se filiar a um partido
político no prazo legal. Discute-se, porém, o âmbito de abrangência dessa vedação.
Nesse contexto, entende-se que, para os membros que ingressaram na carreira antes da CR/88 e que optaram pelo
regime anterior, o exercício de atividade político-partidária não é vedado, podendo-se exercer mandato eletivo sem a
necessidade de afastamento da instituição. Quanto aos membros ingressos após a CR/88, mas antes da EC 45/04,
prevalece que eles podem exercer atividade político-partidária, filiando-se a partido político, desde que se afastem da
instituição nesse período. Por fim, no que tange aos membros que ingressaram no Ministério Público após a EC 45/04, a
atividade político partidária é terminantemente vedada. Assim, caso queira se candidatar a um cargo eletivo, o membro
do Ministério Público deve se afastar, definitivamente, da instituição.
Vale ressaltar, no entanto, que, recentemente, a Procuradora Geral da República reconheceu, em procedimento
administrativo, a possibilidade de um membro ativo do Ministério Público disputar o pleito eleitoral sem se afastar
definitivamente, mas condicionada à licença. O afastamento definitivo (exoneração ou aposentadoria) seria exigido
apenas com a diplomação. Segundo ela, o texto constitucional permitiria essa construção. Não se poderia negar ao
membro do Ministério Público a capacidade eleitoral ativa, que é direito fundamental.

5) Para qual órgão as contas são prestadas nas eleições presidenciais, estaduais e municipais?
A prestação de contas, seja nas eleições majoritárias, seja nas eleições proporcionais são prestadas diretamente pelo
próprio candidato, nos termos do art. 28, §§ 2º e 3º, da Lei 9504/97. No caso das eleições presidenciais, as contas são
apresentadas ao TSE. Nas eleições estaduais (Governador e Vice, Deputados Federais, Deputados Estaduais e
Senador), ao TRE. Por fim, nas eleições municipais, ao juiz eleitoral.

6) Se não prestar as contas no prazo devido o que pode ocorrer, ou melhor, quais as consequências para o
candidato? Ele poderia ser diplomado?

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A Justiça Eleitoral, ao verificar a regularidade das contas de campanha, poderá decidir pela aprovação, aprovação com
ressalvas, no caso de falhas não comprometedoras da regularidade, pela desaprovação, na hipótese de falhas que
comprometem a regularidade, e, por fim, pela não prestação, no caso de não apresentação das contas após a
notificação expedida pela Justiça Eleitoral (art. 30, incisos I a IV, da Lei 9504/97).
A não prestação de contas por parte do candidato acarreta a negação da expedição de certidão de quitação eleitoral
(que é condição de elegibilidade, nos termos do art. 10, § 1º, VI, da Lei 9504/97) pelo prazo do mandato ao qual
concorreu e, ultrapassado esse prazo, até que as contas sejam apresentadas. Além disso, conforme dispõe o art. 29, §
1º, da mesma lei, a inobservância do prazo de apresentação das contas eleitorais impede a diplomação dos eleitos,
enquanto perdurar.
http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-6-ano-
3/a-desaprovacao-das-contas-de-campanha-e-a-quitacao-eleitoral-a-evolucao-do-entendimento-do-tribunal-superior-
eleitoral

ADMINISTRATIVO: Fernando Martins


Tema: Processo Administrativo

Examinador disse que a referência é o autor/Prof. Bruno Nubens Barbosa Miragem, autor gaúcho
https://lattes.ufrgs.br/servlet/jpkFltGeral.cFltVisualizador?
&pTipoIdentif=2&pTipoRelat=1&pSearch=I3VmcmdzI2NwZCM5NTIzNTU0MDAwMCN1ZnJncyNjcGQj

1) Quais os princípios que informam processo administrativo?


Examinador ressaltou como um dos norteadores a duração razoável do processo.
Os princípios que regem o processo administrativo são o princípio do devido processo legal, o princípio do contraditório
e da ampla defesa, o princípio da oficialidade, o princípio da duração razoável do processo, o princípio da gratuidade,
em regra, o princípio da motivação.
Além desses, há quem mencione, ainda, o princípio da verdade real e o princípio do informalismo para o administrado e
formalismo para o Estado.
Obs. Ver caderno Valtinho p. 270. Art. 2º, lei 9784.

2) Princípios aplicáveis aos processos administrativos


O processo administrativo sofre a influência de três séries de princípios: a) princípios gerais do processo; b) princípios
do direito administrativo; c) princípios específicos do processo administrativo.
No presente tópico vamos apenas elencá-los, eis que para tratar do tema seria necessário um livro e, de fato, vários
livros sobre o tema já foram escritos.21
Os princípios gerais de processo aplicáveis ao processo administrativo são: devido processo legal, contraditório, ampla
defesa, juiz natural.
Os princípios do Direito Administrativo aplicáveis ao processo administrativo são: legalidade, finalidade, razoabilidade,
proporcionalidade, motivação, igualdade, impessoalidade, publicidade, moralidade, eficiência e segurança jurídica.
Os princípios específicos do processo administrativo são: inquisitório, oficialidade, verdade material, gratuidade e
informalismo.
Para finalizar esse tópico, é preciso ressaltar que a lista transcrita não é exaustiva, eis que cada autor acaba por adotar
uma tipologia própria de princípios.
FONTE: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/145/edicao-1/processo-administrativo:-aspectos-gerais

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3) Qual a diferença entre processo e procedimento?
https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/3947/processo-procedimento-existe-sentido-nessa-distincao

Processo e procedimento. Existe sentido nessa distinção?


Igor Costa de Miranda
RESUMO
Processo e procedimento são noções ou conceitos usados rotineiramente no discurso jurídico. Dessa forma, é preciso
esclarecer se há distinção entre os dois e qual sua relevância. Para a doutrina de uma forma geral o procedimento é tido
como o aspecto externo o formal do processo. Saber se a matéria é processual ou procedimental tem consequências
para a delimitação das competências legislativas dos Estados e da União, segundo a Constituição, e o Supremo Tribunal
Federal tende a encampar os atos procedimentais como processuais, restringindo o âmbito da competência legislativa
Estadual.

INTRODUÇÃO
Não se vislumbra um total consenso na doutrina e na jurisprudência acerca das definições de processo e de
procedimento. Isso posto, tomar-se-á como propósito do presente articulado mostrar, a partir do estudo de produções
literárias produzidas sobre o tema, como a doutrina nacional e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal abordam o
assunto, para, ao final, ousar uma opinião sobre a pergunta acerca existência de sentido na distinção entre processo e
procedimento.

PROCESSO X PROCEDIMENTO
Para começar a compreender a diferença entre os conceitos em questão se faz necessária uma breve digressão
histórica sobre a compreensão acerca da natureza jurídica do processo. Este já foi concebido como contrato, quase-
contrato, instituição e situação jurídica. Somente a partir da obra de Oscar Bulow (“Teoria das Exceções Processuais”) é
que a natureza do processo passa a ser vista como uma relação jurídica. Tal relação jurídica processual, no entanto,
diferencia-se das relações jurídicas do direito material em função dos seus sujeitos (autor, réu e Estado-juiz); objetos
(prestação jurisdicional) e pressupostos processuais.
Com a separação entre direito processual e direito material, foi possível erigir uma visão da natureza pública do
processo, em oposição à concepção privada até então dominante. A partir daí, com essa noção da natureza publicística
do processo, este é consagrado como o meio, o instrumento do Estado para entregar a prestação jurisdicional, ou seja,
para realizar seus fins. Nesse contexto, a relação jurídica processual tem por finalidade o exercício do poder jurisdicional
e o processo adquire uma dimensão teleológica ou finalística.
Dentro desse quadro, o procedimento se diferencia do processo na medida em que vai ser caracterizado como o
elemento formal, exterior ou extrínseco daquele, isto é, a maneira como os atos processuais se ligam entre si. O
procedimento é o modo como o processo se concretiza, se desenvolve, é o rito, o aspecto visível do processo, enfim, é
a ordenação de seus atos constitutivos.
Consequência disso é que num mesmo procedimento podem existir e serem decididos mais de um processo, como no
caso da reunião de processos, prevista pelo artigo 105 do CPC, bem como pode haver mais de um procedimento para a
mesma modalidade de processo, como o de conhecimento, consoante se depreende da previsão normativa contida nos
artigos 271 e 272 do CPC.
Esse raciocínio é o que de forma geral é encampado pela doutrina do processo civil. Por todos podemos mostrar as
palavras de Humberto Teodoro Júnior e Luiz Rodrigues Wambier:
“Enquanto o processo é uma unidade, como relação processual em busca da prestação jurisdicional, o procedimento é
a exteriorização dessa relação e, por isso, pode assumir diversas feições ou modos de ser. A essas várias formas
exteriores de se movimentar o processo aplica-se a denominação de procedimento”. (THEODORO JUNIOR, Humberto.
Curso de Direito Processual Civil, vol 1, 44 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. Pg 364).
84
“Processo e procedimento, na verdade, segundo expressiva doutrina, compõem, somado um ao outro, a relação jurídica
processual, o primeiro como dado substancial e o segundo como aspecto formal, de ordem estrutural, pois é por meio
dele – do procedimento – que o processo se desenvolve, com toda a sua complexa sequência de atos, entre si ligados,
de forma a proporcionar condições para que exista o provimento jurisdicional que ponha fim à lide” (Luiz Rodrigues
Wambier, Flávio Renato Correia de Almeida e Eduardo Talamini. Curso avançado de processo civi, vol 1: teoria geral do
processo e processo de conhecimento, 3 ed, ver. e atual. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, pg. 156.)
Fica claro então que o processo, no sentido teleológico mencionado, como instrumento de atuação do Estado, de
consecução de seus fins, não é fenômeno exclusivo da função jurisdicional, estendendo-se ao âmbito das outras
funções do Estado: a administrativa e a legislativa. Com efeito, as demais funções estatais também se desenvolvem por
meio de uma sequência ordenada de atos tendentes à produção de um resultado final.
Em verdade, convém destacar que no campo administrativo é mais notória uma divergência em relação aos conceitos
de processo e procedimento. Celso Antônio Bandeira de Melo adota entendimento consentâneo com o já apresentado
acima, apontando que o processo é uma sucessão encadeada de atos tendentes a um determinado fim, ao passo que
procedimento é o rito sob o qual se desenvolve a sucessão dos atos (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de
Direito Administrativo. 21ªed., São Paulo: Malheiros, 2006). Alinhada à mesma idéia, temos o posicionamento de Maria
Sylvia Zanella di Pietro (DI PIETRO, MARIA SYLVIA ZANELLA, Direito Administrativo, 13 ed. São Paulo: Atlas, 2001, pg.
497), para quem o processo é “uma série de atos coordenados para a realização dos fins estatais”, sendo o processo
administrativo nada mais do que o “instrumento indispensável para o exercício da função administrativa”, enquanto o
procedimento é o “conjunto de formalidades que devem ser observadas ... equivale a rito, a forma de proceder”.
Por sua vez, Lucia Valle Figueiredo encampa uma concepção diversa, imputando uma relação de gênero e espécie
entre processo e procedimento, senão vejamos:
“Temos, pois, processo (gênero): procedimento, como forma de atuação normal da Administração Pública; 2)
procedimento, seqüência de atos ordenada para a
emanação de um ato final, dependendo a validade do ato posterior sempre de seu antecedente, subdividindo-se em: a)
procedimentos nominados; b) procedimentos inominados; 3) processo, em sentido estrito, em que a litigiosidade ou as
“acusações” encontram-se, obrigando-se o contraditório e ampla defesa: a) processos revisivos; b) processos
disciplinares; c) processos sancionatórios”. (FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. 8ª ed. São
Paulo: Editora Malheiros, 2006, p.436).
Ainda, há aqueles, como Hely Lopes Meireles, que defendem só se configurar processo administrativo nas situações
que envolvam controvérsia entre Administração e administrado/servidor, ou seja, nos casos em que há um litígio,
chamando de processos de expediente as demais situações sem qualquer controvérsia entre os interessados.
(MEIRELLES, HELY LOPES, Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, pg.591).
Assemelhada à posição e Hely Lopes Meireles, mas agora no campo do processo jurisdicional e com caracteres
específicos, temos a tese adotada por Elio Fazzalari, para quem o processo nada mais é do que o procedimento com
contraditório. Para referido autor, o processo é, portanto, uma espécie do gênero procedimento, qualificado pela
existência do contraditório. Nesse ponto, deve-se destacar que para o teórico citado o contraditório não se limita à mera
participação dos sujeitos do processo, mas deve compreender a participação em simétrica paridade.
Ainda sobre a diferenciação entre normas procedimentais e processuais, importante destacar a opinião de Arruda Alvim,
segundo a qual normas de direito processual são aquelas que podem repercutir indiretamente no direito material,
enquanto que as procedimentais são aquelas que não têm tal capacidade. Esse doutrinador assim se manifesta:
“Se assim não fosse, e se os Estados federados legislassem nesse campo, ipso facto, estariam, obliquamente,
disciplinando assuntos diferentemente do que o tivesse feito o direito civil, e cuja disciplina desfiguraria a deste ramo,
para o qual a competência legislativa é exclusivamente da União (art. 22,I, CF/88).
As provas dizem respeito à tradução ou demonstração do direito material em juízo, e, pois, porque devem ser aptas a
retratar o próprio direito, se viessem a ser objeto de disciplina procedimental, de caráter não geral, estar-se-ia,
indiretamente, podendo fazer desaparecer situações de direito material, e estas variariam de um Estado federado para
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outro, e entre esses e o Distrito Federal. As situações de direito material devem, necessariamente, ter uniformidade, em
relação às situações iguais; e, quando o legislador federal entender que não devem ter uniformidade, a ausência de
uniformidade deve decorrer da lei material federal, e, ainda aqui, haverá, certamente, ser compatível com o princípio da
igualdade de todos perante a lei, tendo em vista a gama de assuntos exclusivamente adjudicados à competência
legislativa da União”. (Arruda Alvim, Tratado de direito processual civil – Arts. 1º ao 6º do CPC. 2. ed. São Paulo: RT,
1990, c.1, n 4.7.6, p. 258-260, Apud Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do Processo e da Sentença, Ed. RT, 6ª
ed., 2007).
Feita essa excursão pelo campo doutrinário, impende destacar que na seara da jurisprudência a discussão sobre a
diferença entre processo e procedimento assume contornos diferenciados, ganhando uma importância mais prática na
medida em que terá influência na delimitação das competências legislativas da União e dos Estados, em consequência
do que prevê os artigos 22, I, e 24, XI, da Constituição Federal. Segundo estes dispositivos normativos, compete à
União legislar privativamente sobre direito processual e compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre procedimentos em matéria processual. Assim, a jurisprudência assume o debate sobre a
diferença entre normas processuais e procedimentais.
Com efeito, o Supremo Tribunal Federal já analisou essa distinção por algumas vezes e considerou processuais os
seguintes temas, julgando inconstitucionais as normas estaduais que os disciplinavam: exigência de depósito recursal
prévio (ADI 4161); criação de recurso (AI 253.518-AgR); interrogatório de réu por videoconferência (HC 90.900);
regulamentação de “atos de juiz, direcionando sua atuação em face de situações específicas” (ADI 257); e valor da
causa (ADI 2655); prerrogativa do delegado de polícia de ajustar com o juiz ou a autoridade competente a data, a hora e
o local em que será ouvido como testemunha em processos e inquéritos (ADI 3896-6).
Nota-se, assim, uma tendência da Suprema Corte de encampar atos procedimentais como processuais, restringindo a
capacidade de atuação legislativa dos Estados. Não obstante, no voto da Ministra Ellen Grace, na ADI 1919-8, na qual
se discutia a constitucionalidade do Provimento no 556/97 do TJ-SP, que dispõe sobre a destruição física de autos de
processos arquivados há mais de cinco anos em primeira instância, pode-se verificar uma visão que se coaduna com a
noção de processo como relação jurídica e como instrumento de atuação do Estado (caráter teleológico). É o que se
defere do seguinte trecho:
“No tocante à alegação de invasão de competência legislativa perpetrada pelo Provimento contestado nesta ação direta,
ainda que a precisa delimitação entre a seara das normas de direito processual e das regras emanadas pelos Tribunais
no exercício de sua competência administrativa possa ensejar algumas dificuldades tenho para mim que o tema relativo
à destruição dos autos de processos judiciais arquivados não é objeto das normas de direito processual, no sentido
estabelecido pela Constituição em ser art. 22, I. Ao fixar a competência concorrente dos Estados para legislar sobre
procedimentos em matéria processual (art. 24, XI) e ao atribuir aos Tribunais, privativamente, a iniciativa de elaborar as
regras referentes à sua auto-gestão (art. 96, I), a CF afastou do art. 22, I o sentido lado do termo “direito Processual”
para abarcar apenas normas relativas às garantias do contraditório, do devido processo legal, dos poderes, direitos e
ônus que constituem a relação processual, ou ainda, na lição de Frederico Marques, normas que têm em vista compor
preceitos que regulem os atos destinados a realizar a causa final da jurisdição”
CONCLUSÃO
Ante todo o exposto, verifica-se que na esfera doutrinária a distinção entre processo e procedimento revela apenas dois
lados da mesma moeda ou, mais precisamente, dois aspectos (o abstrato e o concreto) da mesma ideia ou do mesmo
fenômeno: o conjunto de atos que tem por escopo a realização dos fins estatais. Por outro lado, a diferença desemboca
para o problema da separação de normas de cunho processual daquelas outras de natureza procedimental, o que terá
repercussão direta na fixação da competência legislativa dos entes da Federação, motivo pelo qual nesse caso a
discussão adquire maior relevo prático, fazendo sentido a perquirição do real ponto de separação entre essas duas
figuras.
Obs.: VER DIDIER P. 32, VOL. I.
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12983
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1. Processo ou procedimento administrativo
O termo procedimento administrativo foi utilizado durante muito tempo no direito brasileiro com maior vigor do que o
termo processo. O termo era utilizado principalmente para mostrar a diferença entre o processo judicial e a realidade
ocorrida perante a Administração Pública. Asseguravam-se garantias no processo judicial que não eram reconhecidas
nos procedimentos que transcorriam perante a Administração Pública. Normalmente a palavra procedimento era
precedida pelo adjetivo “mero”. Como se tratava de mero procedimento recusavam-se garantias.

A Constituição de 1988 modificou essa situação ao estabelecer no inciso LV do art. 5º que “aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes”.

A discussão acerca da diferença entre ambos os termos a partir daí ganhou relevância no processo administrativo. Há,
contudo, autores que ainda optam pela denominação “procedimento administrativo” como forma de diferenciá-lo do
processo judicial. Trata-se, no entanto, de corrente minoritária conforme alertam Sérgio Ferraz e Adilson Dallari:

“Sobrevive, contudo, embora minoritária, valiosa corrente (que a lei paulista abraçou) que opta conscientemente pela
denominação “procedimento administrativo” tanto para a realidade maior, antes descrita, quanto para a menor
(procedimento, em senso escrito). Aí afirmam os arautos que o fazem exatamente para apartar os dois fenômenos
análogos, segundo o estrato estatal perante o qual deflagrado: em suma, usam “processo” para o processo (perdão pela
redundância) judicial ou jurisdicional; usam “procedimento” para o processo administrativo”.9

Há também quem diferencie processo de procedimento com base na ocorrência ou não de contraditório. Havendo
contraditório haveria processo. A ausência deste implicaria a existência de procedimento.

Outros, ainda, afirmam que processo é meio por intermédio do qual o processo se desenvolve. Carmen Lúcia Antunes
Rocha assim leciona:

“O processo é o meio que pode se desenvolver por mais de um modo, que é o procedimento. Como escrevemos em
outra ocasião, ‘processo é o meio, o instrumento juridicamente criado para se realizar uma determinada finalidade.
Difere de procedimento, que é o modo pelo qual se atua...’ O processo é instrumento; o procedimento é a maneira de
fazer ou agir, ou, como na hipótese em foco, de conduzir o processo. O processo identifica o objeto e a forma de exercer
determinadas atividades administrativas; o procedimento é o modo de aperfeiçoar esta atividade”.10

Esse também é o entendimento do autor e foi a opção adotada pelo legislador federal a editar a Lei 9.784/1999. Essa lei
disciplina o processo administrativo perante a administração pública federal e utiliza ambos os termos. Ao utilizar o termo
procedimento, no entanto, sempre o faz referindo-se ao iter.11

Para finalizar esse tópico, é oportuno fazer a ressalva já feita pelo autor em outra obra:

“A concepção adotada não implica considerar o termo “procedimento administrativo” incorreto. É que, conforme já se
afirmou no início do presente estudo, as palavras são meros rótulos. Desse modo, embora seja preferível a opção
processo administrativo, não há óbice quanto à adoção do termo “procedimento administrativo”, desde que se tenha em
mente aquele núcleo comum em relação ao processo judicial e ao legislativo e a amplitude conferida pela Constituição
ao utilizar o termo processo administrativo em diversos artigos”.12

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Vale dizer, não se pode fazer um cavalo de batalha acerca de um problema que é predominantemente terminológico.13
É certo que palavras possuem uma carga semântica mínima que pode afetar a compreensão do intérprete.14 No direito
brasileiro, no entanto, embora se utilize os termos “processo e procedimento” as consequências jurídicas da opção por
um ou outro termo tem sido as mesmas. É por essa razão que autores como Celso Antônio Bandeira de Mello utilizam
indistintamente ambos os termos.15

Sintetizando, há garantias que serão sempre inerentes à realidade processual/procedimental que se desenvolve perante
a administração pública. Mais importante do que a nomenclatura é o regime jurídico que se aplicará em virtude da
escolha feita.

FONTE: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/145/edicao-1/processo-administrativo:-aspectos-gerais

Procedimento vem do latim procedere que significa ir por diante, andar a frente, prosseguir. De sua origem visualiza-se
seu significado, o modo de agir processual, a sucessão ordenada de atos à disposição para que se consubstancie a
tutela jurídica. Procedimento configura-se na exteriorização e materialização do processo, podendo assumir diversos
modos de ser.
Processo que também tem sua origem no latim procedere tem sentido diverso, relacionando-se com a relação jurídica
instrumental que se instaura e se desenvolve entre autor, juiz e réu, visando à solução para o conflito de interesses.
Conceito no meu caderno: processo é o instrumento utilizado pelo Estado para exercer jurisdição. Já procedimento é o
modo pelo qual os diversos atos se relacionam na série de atos que constitui o processo.

4) Processo Adm. qual seria o fim?


A produção de normas gerais e individualizadas pela Administração Pública (DIDIER, vol. I, p. 32). Ou seja, a produção
de um ato administrativo (Valtinho, p. 270).

5) Legitimidade procedimental?
Examinador destacou o direito a decisão.

6) Quais categorias de processos administrativos existem?


Processo administrativo ordinário, processo administrativo disciplinar, processo administrativo tributário.

7) Temos na doutrina que “aquilo que não estava nos autos não está no mundo”, no processo administrativo a
verdade tem de ser real ou formal?
Segundo entendimento que prevalece, o processo administrativo é informado pela verdade real ou material, que é
aquela voltada para a busca pela verdadeira realidade dos fatos, e não apenas para a verdade extraída daquilo que
consta nos autos. Contudo, cabe ressaltar que essa dicotomia é questionável, atualmente. Entende-se que se deve
buscar a verdade possível.
Caderno Valtinho:
- O “princípio da verdade real” (ou “princípio da verdade material”) contrapõe-se à “verdade formal”, que é aquela que
resulta dos autos.
- Atualmente, todavia, essa dicotomia entre verdade real e verdade formal está superada, de modo que se busca
sempre a “verossimilhança”, que é a “maior aproximação possível da verdade”.
- Em concursos públicos, deve-se entender que o processo administrativo pauta-se ainda pela verdade real.

8) Se não conseguir chegar à realidade? Como fazer?

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Destacou tutela de evidência caminha para esse lado, para que discutir fato público e notório etc.

9) É possível a reformatio in pejus no processo administrativo?


Sim. A lei 9784, que rege o processo administrativo no âmbito na União, traz regra expressa no sentido de que é
possível a reforma para piorar a situação do recorrente (art. 64, parágrafo único). Nessa hipótese, o recorrente deve ser
cientificado a fim de que apresente suas alegações antes de a decisão ser proferida. O que não se permite no âmbito do
processo administrativo é a reforma in pejus na revisão (art. 65, parágrafo único).

10) Só ocorre no processo disciplinar?


Ressaltou que não ocorre só no processo disciplinar.

11) Processualmente, há processo administrativo no âmbito do MP? Ou seja, há algum expediente?


Resposta da aluna [...], por exemplo, Inquérito civil público.

12) Mas Inquérito civil público não é processo? Ou é expediente?


Processo Administrativo de Expediente: O processo de expediente é aquele proveniente de provocação do interessado
ou por determinação interna de órgão público. A tramitação de tais processos é informal, nem possui um procedimento
próprio ou rito previamente definido, além de não alterar, não gerar, nem suprimir direitos dos administrados, dos
servidores, ou da Administração. São classificados como processo administrativo de expediente os pedidos de certidão
e apresentação de documentos para determinados registros internos. Fonte: https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?
id_dh=4857

É lugar comum no direito administrativo dizer que as classificações não são certas ou erradas, mas úteis ou inúteis. É
por essa razão que não há unanimidade quanto a classificação dos processos administrativos. Cada autor classifica os
processos administrativos de acordo com um critério que deseja ressaltar.
A classificação adotada pelo autor é fundada no conteúdo do processo. Há seis espécies de processo administrativo:
expediente, gestão, outorga, restritivo de direitos, sancionatório e de controle. Os processos de expediente são
extremamente simples e são inerentes à rotina burocrática da administração. Os processos de gestão são mais
complexos que os de expediente e destinam-se a instrumentalizar decisões administrativas de gestão da coisa pública.
Os processos de outorga são aqueles por intermédio dos quais a administração pública confere um direito a um
cidadão. Podem ser simples ou de concorrência. Serão simples quando um número ilimitado de outorgas puder ser
realizado. Um exemplo desse tipo de processo é a outorga do direito de construir. Serão de concorrência quando
somente um número limitado de outorgas puder ser realizado. Um exemplo desse tipo de processo é a licitação, onde
diversos interessados concorrem ao direito de vender um bem ou prestar um serviço para a administração.
Nos processos restritivos de direito são impostos gravames ou suprimidos direitos. Por intermédio deles são impostas
obrigações de fazer ou não fazer aos cidadãos.
Os processos sancionadores são aqueles onde se impõe ao cidadão uma sanção decorrente da prática de um ato ilícito.
São os processos por intermédio dos quais se aplicam penalidades. Muitas vezes a aplicação de sanções se dá
juntamente com a restrição de direitos. Nesse caso, haverá uma espécie mista de processo.
A última espécie são os processos de controle. São processos nos quais se analisa a correção da conduta de um agente
público. Exemplos desse tipo de processo são os iniciados pelas controladorias internas ou pelos tribunais de contas. No
curso do controle um ato ilícito pode ser identificado e, a partir desse momento, inicia-se um processo sancionador.
FONTE: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/145/edicao-1/processo-administrativo:-aspectos-gerais

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13) Há diferença entre ato e atividade? Antes se estudava só ato administrativo, com que lei passou observar
adequação?

14) Faça paralelo entre os requisitos dos atos administrativos o código civil?
Os requisitos do ato administrativo são: competência, finalidade, forma, motivo, objeto, conforme se extrai “a contrario
sensu” do art. 2º, da Lei 4717/65. Por outro lado, nos termos do art. 104 do CC/02, os requisitos de validade do negócio
jurídico (espécie de ato jurídico lato sensu) são agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, forma
prescrita ou não defesa em lei. Da análise dos dois dispositivos, percebe-se que os elementos coincidentes são: objeto e
forma. Por outro lado, diferentemente do negócio jurídico, o ato administrativo exige a demonstração de finalidade, do
motivo e da competência, que, de certo modo, seria equivalente à capacidade.

15) O MP, em sua função perante a sociedade, age utilizando o processo administrativo?

16) Diferença entre processo e procedimento?


Vide resposta questão 02.

17) Exemplifique com cautela o que são expedientes e diferencie de processo, pois você falou de alguns
expedientes que não são processos?

18) No MP tem algum processo administrativo?


Examinador ajudou lembrando que só existente no MP de Minas e Ceará?
R. Atividade consumerista – PROCON.

15) Como é instaurado esse Processo Administrativo?


16) Quem decide pela Instauração? O promotor do PROCON tem uma atividade mais pró ativa?
RES. 11/2011, PGJ – MPMG:
Art. 17. As práticas abusivas em relação às normas de proteção e defesa do consumidor serão apuradas em processo
administrativo, que terá início, mediante:
I - ato, por escrito, da autoridade competente;
II - lavratura de auto de infração;
III - reclamação.
§ 1º Antecedendo à instauração do processo administrativo, poderá a autoridade competente abrir investigação
preliminar, cabendo, para tanto, requisitar dos fornecedores informações sobre as questões investigadas, resguardado o
segredo industrial, na forma do disposto no § 4º do artigo 55 da Lei nº 8.078, de 11.09.1990.
§ 2º Na hipótese de se optar pela investigação preliminar, e desde que, ao final, decida-se pelo seu arquivamento, os
autos deverão ser encaminhados para a Junta Recursal do Procon-MG.
§ 3º Havendo necessidade de outras provas para a formação do convencimento dos membros da Junta Recursal sobre
a promoção de arquivamento da investigação preliminar, os autos serão devolvidos à Promotoria de origem para a
realização das diligências indicadas.

20) TAC - Membro do MP pode requisitar para receita federal o sigilo fiscal de um fornecedor? Nossa legislação
prevê isso? Como é sabido o MPF tem, mas o MPE?
Processo administrativo em qualquer processo administrativo havendo o PAD ele pode, no PROCON ele pode
por autorização expressa do art. 159 CTN, já que nessa atuação está investido no poder jurisdição.
LC 105?

90
RES. 11/2011, PGJ – MPMG:
Art. 20. Decorrido o prazo da impugnação, o órgão julgador determinará as diligências cabíveis, podendo dispensar as
meramente protelatórias ou irrelevantes, sendo-lhe facultado requisitar do infrator, de quaisquer pessoas físicas ou
jurídicas, órgãos ou entidades públicas as necessárias informações, esclarecimentos ou documentos, a serem
apresentados no prazo não inferior a 10 (dez) dias úteis.

GRUPO TEMÁTICO II

Examinador André Ubaldino


Tema: Pena e medida de seguranças

1) Qual diferença do sistema vicariante e do duplo binário?


Os sistemas mencionados tratam da aplicação da medida de segurança ao semi-imputável. De acordo com o sistema
vicariante ou unitário, somente é possível aplicar pena ou medida de segurança, mas não ambas concomitantemente.
Nesse sistema, a simi-imputabilidade acarreta ou a diminuição da pena ou a substituição da pena pela medida de
segurança, conforme art. 26, parágrafo único, e do art. 98, ambos do CP. Já pelo sistema duplo binário, vigente no
ordenamento pátrio até a reforma da Parte Geral do CP em 1984, era possível a aplicação concomitante tanto da pena
quanto da medida de segurança.
*JÁCAIUEMPROVA #DEFENSORIA: A FCC, na prova da DPE-BA, em 2016, tratou sobre uma temática interessante
denominada “saúde mental e direito penal” e considerou correta a seguinte alternativa: “o tratamento da pessoa com
transtorno mental deve ser realizado no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde”
Se o réu estava cumprindo pena privativa de liberdade pelo crime 1 e, em outra ação penal, recebeu medida de
segurança de internação pela prática do crime 2, isso não significa que a pena privativa de liberdade que estava sendo
executada deva ser convertida em medida de segurança. Neste caso, após terminar de cumprir a medida de internação,
não há óbice que seja determinado o cumprimento da pena privativa da liberdade remanescente. Isso não viola o
sistema vicariante, considerando que este somente proíbe a imposição cumulativa ou sucessiva de pena e medida de
segurança referente a um mesmo fato. No caso concreto, eram dois fatos distintos. STJ. 6ª Turma. HC 275.635-SP, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 8/3/2016 (Info 579).
- No sistema do duplo binário, o réu, após cumprir a pena pela prática de um crime, era submetido a uma perícia e, se
ainda fosse considerado perigoso, deveria cumprir medida de segurança de internação. Por isso, era chamado de “duplo
trilho” ou “dupla via”, considerando que o réu semi-imputável perigoso cumpria pena e mais a medida de segurança. O
sistema do duplo binário foi extinto com a Lei nº 7.209/84, que alterou a Parte Geral do Código Penal, dando lugar ao
sistema vicariante (ou unitário). Por meio desse sistema, o juiz, ao constatar que o réu é semi-imputável perigoso irá
decidir se aplica pena (com causa de diminuição) ou se determina que ele cumpra medida de segurança. Trata-se de
uma opção: ou uma ou outra. É o que está previsto no art. 98 do CP. O legislador tomou essa decisão porque percebeu
que a aplicação conjunta de pena mais medida de segurança por um único fato significava violação ao princípio do ne
bis in idem, já que o indivíduo suportaria duas consequências negativas em razão do mesmo fato. No entanto, o sistema
vicariante não proíbe que haja imposição sucessiva de medida de segurança por fatos diversos.
- A inimputabilidade não pode ser presumida e estendida a outras infrações penais. Ela é analisada e declarada, caso a
caso, ou seja, em relação a cada crime, em cada processo a que responde o réu. Quanto ao primeiro delito, entendeu-
se que o réu não era inimputável e, por essa razão, foi imposta pena privativa de liberdade. No que tange ao segundo
fato típico, o juiz reputou que o agente era inimputável, aplicando, por consequência, apenas uma medida de segurança.
Em cada infração penal sopesou-se o estado psíquico do réu e se não foi declarada sua semi-imputabilidade ou
inimputabilidade naquele momento, não se pode declará-la agora, de forma genérica.
- Por fim, ressalta-se que, na hipótese, não ficou provado que ocorreu superveniência de doença mental no curso da
execução da pena, situação em que poderia ser aplicado o disposto no art. 183 da LEP, o qual determina a substituição
91
da reprimenda privativa de liberdade resgatada pelo reeducando por medida de segurança: “Art. 183. Quando, no curso
da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício,
a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, poderá determinar a
substituição da pena por medida de segurança. Isso porque o réu não se tornou doente mental durante a execução da
pena.” Apenas ficou comprovado que, no momento da prática do fato 2, ele era totalmente incapaz (inimputável) de
entender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento.

2) Qual é o adotado nosso ordenamento?


Após a reforma de 1984, o sistema vicariante ou unitário passou a ser adotado pelo ordenamento pátrio.

3) Desde quando o Brasil adota esse sistema?


Desde 1984.

4) Esse sistema que se inaugurou com a reforma é qual, duplo binário ou vicariante?
Vicariante ou unitário.

5) Como são fixadas as diferentes penas no concurso e na continuidade delitiva?


O concurso material, aplica-se a regra do cúmulo material e as penas são simplesmente somadas. Já no concurso
formal, a regra é a exasperação, de modo que se aplica a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma,
aumentada, em ambos os casos, de 1/6 até 1/2. Todavia, se, nessa hipótese, a pena exceder àquela que seria cabível
com a aplicação do cúmulo material, aplica-se este e não a exasperação. É o chamado concurso material benéfico.
Ainda no âmbito do concurso formal, se caracterizado o desígnio autônomo em relação a cada um dos crimes praticados
em concurso formal, as penas também são aplicadas cumulativamente. Por fim, em relação ao crime continuado,
também se aplica a regra da exasperação, sendo que, nesse caso, as frações de aumento são 1/6 a 2/3. Tratando-se de
continuidade delitiva específica, incidente nas hipóteses de crimes dolosos cometidos com violência ou grave ameaça
contra vítimas diferente o aumento é de até o triplo.

6) Essas regras quanto às diferenças valem para as penas pecuniárias?


Não. De acordo com o art. 72, do CP, as penas pecuniárias são aplicadas distinta e integralmente no caso de concurso
de crimes. Logo, elas são somadas. Vale ressaltar, contudo, que há doutrina sustentando a inaplicabilidade dessa regra
ao crime continuado, ao argumento de que este, por ficção jurídica, é considerado crime único e, consequentemente, a
pena deveria ser aplicada uma única vez. Há precedentes do STJ nesse sentido. VER P. 503, SANCHES.

7) Valem para legislações penais especiais e penal?


Sim.

8) Quais são as principais controversas e entendimentos que predominam?


18) Explique o Princípio da secularização da aplicação da pena?
O princípio da secularização, de acordo com Luigi Ferrajoli, é a ideia de que inexiste uma conexão entre o direito e a
moral. O direito não tem a missão de (re)produzir os elementos da moral ou de outro sistema metajurídico de valores
éticos-políticos, mas, tão-somente, o de informar o seu produto de convenções legais não predeterminado ontológico
nem tampouco axiologicamente. Mas, por outro lado, salienta o constitucionalista, percebe-se a autonomia da moral com
relação ao direito positivo, ou seja, "os preceitos e os juízos morais, com base nesta concepção, não se fundamentam
no direito nem em outros sistemas de normas positivas – religiosas, sociais ou de qualquer outro modo objetivas -,
senão somente na autonomia da consciência individual". Essas são, segundo o jurista, as duas teses que

92
constituyem una adquisición básica de la cultura liberal. Y reflejan el proceso de secularización, culminado al inicio de la
Edad Moderna, tanto del derecho como de la moral, desvinculándose ambos em tanto que esferas distintas y separadas
de cualquer nexo com supuestas ontologías de los valore12.
Ressaltam, Amilton Bueno de Carvalho e Salo de Carvalho, que a secularização (laicização) é a ruptura entre a cultura
eclesiástica e as doutrinas filosóficas, especialmente entre a moral do clero e a forma de produção da ciência. Por isso,
o Estado "não deve se imiscuir coercitivamente na vida moral dos cidadãos e nem tampouco promover coativamente
sua moralidade, mas apenas tutelar sua segurança, impedindo que se lesem uns aos outros". Com o princípio da
secularização busca-se preservar a pessoa numa esfera em que é ilícito proibir, julgar e punir: a esfera do pensamento,
das idéias. O princípio da secularização, concluem os articulistas, pode subdividir-se em muitos outros (sub)princípios
como: da inviolabilidade da intimidade e do respeito à vida privada (art. 5º, X), do resguardo da liberdade de
manifestação de pensamento (art. 5º, IV), da liberdade de consciência e crença religiosa (art. 5º, VI), da liberdade de
convicção filosófica ou política (art. 5º, VIII) e da garantia de livre manifestação do pensar (art. 5º, IX).
O princípio da secularização fez um corte vertical entre a moral eclesiástica e o Direito, sendo que, segundo Luigi
Ferrajoli, os preceitos e os juízos morais não têm lastro no Direito, mas, tão-só, na liberdade da consciência individual.
Dessa forma, não pode o direito proibir atos considerados apenas imorais, pois nem tudo que é imoral é ilícito, da
mesma forma que nem tudo que é licito é moral.
https://jus.com.br/artigos/7458/uma-abordagem-critica-do-principio-da-secularizacao-na-legislacao-penal-atual
Veda-se, portanto, a possibilidade de a sanção penal ter conteúdo moral, não devendo a pena servir para reforçar ou
determinar a imoralidade.

9) Quais limites impostos pela lei e recomendados pela doutrina e jurisprudência nas incidências das
agravantes e atenuantes?
As agravantes e atenuantes genéricas são circunstâncias objetivas ou subjetivas que não integram a estrutura do tipo
penal, mas se vinculam ao crime, devendo ser consideradas pelo juiz no momento de aplicação da pena.
Inicialmente, cumpre destacar que essas circunstâncias possuem incidência subsidiária em relação às
qualificadoras/privilegiadoras e às causas de aumento ou diminuição de pena, de modo que se uma mesma
circunstância constituir, por exemplo, qualificadora e, ao mesmo tempo, agravante, deve ser aplicada apenas na terceira
fase da dosimetria da pena (art. 68, CP), evitando-se o bis in idem. Nesse sentido, o art. 61, caput, do CP prevê,
expressamente que as agravantes somente incidem quando não qualificam o crime.
O CP não fixou o quantum de aumento ou diminuição, deixando ao arbítrio do juiz, que deverá fundamentar sua decisão.
Contudo, segundo a doutrina e a jurisprudência – em especial do STJ que tem, inclusive, súmula sobre o tema –, o juiz
está atrelado aos limites mínimos e máximos abstratamente previstos no preceito secundário do tipo (súmula 231 do
STJ).
No caso de concurso de agravantes e atenuantes, aplica-se o art. 67, do CP, o qual traz as circunstâncias
preponderantes, quais sejam, as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade e da reincidência.
Nesse contexto, a jurisprudência do STJ entende que a agravante da reincidência pode ser compensada com a
atenuante da confissão, na medida em que esta ressai da personalidade do agente. O STF, em contrapartida, tem
entendimento no sentido de que a reincidência deve prevalecer, por ser preponderante. Por outro lado, o STJ também
tem precedente no qual reconheceu a compensação entre a agravante da violência contra a mulher (art. 61, “f”) e a
confissão.

PROCESSO PENAL: EXAMINADOR ROGÉRIO FILIPPETTO DE OLIVEIRA


PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA

1) A reformatio in pejus aplica-se ao Tribunal do Júri?

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Tendo em vista a soberania dos vereditos (art. 5ª, XXXVIII, da CR/88), o Tribunal do Júri, em uma nova sessão plenária,
é livre para apreciar os fatos, podendo absolver ou condenar o réu, inclusive em crime mais grave que o anterior.
Todavia, entende-se que, mantida a mesma condenação ou sendo ela similar àquela proferida em primeiro lugar, o juiz
está adstrito à pena anteriormente imposta, em virtude do princípio da reformatio in pejus indireta (efeito prodrômico).
Por outro lado, ocorrendo alteração substancial na condenação, de modo mais gravoso que a condenação anulada, há
controvérsia sobre a aplicação ou não da reformatio in pejus. Uma primeira corrente sustenta que o juiz não estaria
limitado à pena anterior. Já a segunda corrente entende que, ainda assim, o magistrado não poderia impor pena mais
gravosa que aquela aplicada quando da realização do primeiro júri.

2) Se houver nulidade no processo haverá limite para aplicação da pena. Haverá também o limite máximo para o
conselho de sentença?
Vide resposta anterior. Conselho de Sentença é livre para apreciar o caso, dada a soberania dos vereditos.

3) No julgamento da apelação “normal” (que não seja do júri) o tribunal pode reconhecer a causa madura,
reconhecer a nulidade da sentença, e aplicar o que dispõe o CPC?
A teoria da causa madura preceitua que, estando a causa em condições de imediato julgamento, ou seja, “madura”, o
Tribunal deverá decidir desde logo o mérito. Tem previsão expressa no art. 1.013, § 3º, do CPC.
Segundo Paulo Rangel, a “teoria da causa madura” também se aplica ao processo penal, de modo que, ainda que se
constate uma nulidade, deve-se preferir, se possível, a prolação de sentença de mérito em favor da parte prejudicada,
em vez de decretar a nulidade.
Vale ressaltar que, em que pese ser controversa a aplicação subsidiária do CPC ao processo penal, em razão do art. 15
desse diploma legal, prevalece que essa aplicação é possível, nos termos do art. 3º, do CPP, sendo que o STF já
reconheceu tal possibilidade ao decidir que os processos criminais estão sujeitos à suspensão decorrente do
reconhecimento da repercussão geral nos recursos extraordinários.

4) É possível aumentar pena privativa de liberdade depois de provocação após embargos de declaração? Por
exemplo, resolvendo a questão de que deveria ter aplicado o cúmulo material impróprio, mas aplicou o cúmulo
material improprio(sic)?
Acho que sim. Os embargos de declaração podem ter efeitos infringentes, devendo-se intimar, nesse caso, a defesa.

5) Os embargos declaratórios protelatórios afrontam a dignidade da justiça e podem caracterizar o abuso de


defesa? Explique. Há alguma sanção? Há consequência no processo penal?
A questão é divergente. Uma primeira corrente entende que a interposição de recursos protelatórios caracteriza abuso
do direito de defesa e permitiria a aplicação de multa por litigância de má-fé, com aplicação analógica do art. 80, do
CPC/15, nos termos do art. 3º, do CPP. Saliente-se que há decisão do STF nesse sentido, proferida sob a égide do
CPC/73. Por outro lado, uma segunda corrente nega a possibilidade de imposição de multa por litigância de má-fé no
âmbito do processo penal, na medida em que tal aplicação prejudicaria o réu, inibindo a atuação da defesa, e
configuraria analogia in malam partem. Essa é a posição reiterada do STJ. A despeito disso, esse mesmo Tribunal
entende ser possível tal comportamento configurar abuso do direito de defesa. Nessa hipótese, entende-se que se deve
iniciar o cumprimento da pena.

DECISÃO DO STF RECONHECENDO A POSSIBILIDADE: (ARE 1007952, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, julgado em
11/11/2016, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 23/11/2016 PUBLIC 24/11/2016)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. USO ABUSIVO DO RECURSO INTEGRATIVO. BAIXA IMEDIATA DOS AUTOS. EMBARGOS
REJEITADOS.
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1. Embora na esfera penal não seja viável a fixação de multa por litigância de má-fé, é perfeitamente possível o
reconhecimento do abuso de direito da parte, em razão da superveniência de inúmeros recursos contestando o não
conhecimento do agravo em recurso especial, com nítido caráter protelatório e intuito de impedir o trânsito em julgado da
condenação.
2. Embargos de declaração rejeitados, com a determinação de baixa imediata dos autos, independentemente da
publicação do presente acórdão ou da interposição de qualquer outro recurso, para que se dê início imediato ao
cumprimento da pena imposta ao embargante.
(EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 559.766/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
17/11/2015, DJe 02/12/2015)

https://www.conjur.com.br/2016-mai-18/defesa-nao-multada-litigancia-ma-fe-acao-penal

6) E quanto ao trânsito em julgado quando não reconhecer os embargos, ou melhor, reconhecer que são
embargos declaratórios protelatórios, se antecipa ou não o trânsito em julgado?
Vide comentário questão anterior.
Examinador: destacou que há precedente na ação penal 450

7) O MP pode impetrar HC?


Sim, conforme se extrai do art. 654, do CPP. Cumpre ressaltar que a legitimidade ativa para o HC é ampla. Tal ação
constitucional pode ser, inclusive, impetrada por pessoa jurídica em benefício de pessoa física.

8) Pode substituir um recurso já previsto em lei? Levando em consideração das características do HC.
O tema é controverso. O STJ e uma das turmas do STF entendem pelo não cabimento do chamado HC substitutivo, isto
é, aquele que substitui um recurso já previsto em lei. Por outro lado, há decisões da outra turma do STF no sentido da
possibilidade da utilização desse remédio ainda que haja previsão de recurso.
1) O Superior Tribunal de Justiça não admite que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso
próprio (apelação, agravo em execução, recurso especial), tampouco à revisão criminal, ressalvadas as situações em
que, à vista da flagrante ilegalidade do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade da paciente, seja cogente a
concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus.

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GRUPO TEMÁTICO III

CIVIL – ALIMENTOS

1) Direito de alimentos qual é a causa?


Os alimentos têm três causas possíveis: o poder familiar, as relações de parentesco e a responsabilidade civil.

2) Quem estar no poder familiar ou não qual o fundamento?


Quando se está no exercício do poder familiar, os alimentos possuem como fundamento tal vínculo. Cessado o poder
familiar, os alimentos passam ater como fundamento as relações de parentalidade.

3) O MP tem legitimidade para propor ação de alimentos? Quais fundamentos? Para atuar em favor de um
menor necessariamente tem de haver um pressuposto de situação de risco?
O MP pode ajuizar ação de alimentos em favor de criança ou adolescente independentemente da existência de situação
de risco, de órgão da Defensoria em funcionamento na comarca ou da extinção do poder familiar, nos termos de súmula
do STJ. O fundamento para tal legitimidade está na defesa dos interesses individuais indisponíveis, conforme preceitua
o art. 127, caput, CR/88.
Examinador disse que dever na verdade é de sustento.

4) Havendo o advento da maioridade como fica o dever de sustento?


O dever de sustento não se extingue automaticamente com o advento da maioridade, havendo necessidade de
ajuizamento de ação de exoneração ou mesmo discussão nos próprios autos em que a obrigação de alimentos foi
fixada, assegurando-se o contraditório, conforme estabelece súmula do STJ. O simples fato de a pessoa ter se tornado
maior de idade não afasta o dever do alimentante de prestar alimentos, na medida em que a jurisprudência pátria
entende que enquanto o filho estiver estudando, fazendo curso pré-vestibular, técnico ou superior, o dever persiste.
Examinador sempre chamava atenção para a súmula 358 – contraditório incidental que é aquele “sem
necessidade de ação”, ou melhor, pode se dá mediante contraditório nos próprios autos. Nenhuma lembrou de
falar da súmula.

PROCESSO CIVIL - Adriano Cardoso Silva e Dierle José Coelho Nunes

1) É possível convenções processuais sobre as provas? Como deve ocorrer após o advento do código de
processo civil?
Sim. Negócio jurídico processual é o fato jurídico voluntário em cujo suporte fático se confere aos sujeitos o poder de
regular situações processuais específicas ou alterar o procedimento, respeitando-se os limites do ordenamento jurídico
(Didier). O CPC/15 inovou ao trazer uma cláusula geral sobre negócio jurídico processual atípico. Sob égide do CPC/73,
os negócios processuais eram cabíveis, porém só havia previsão de negócios típicos, como eleição de foro, convenção
sobre ônus da prova. O CPC/15, todavia, ampliou tal possibilidade e, além dos negócios típicos, que continuam sendo
permitidos, autorizou a celebração de acordos processuais atípicos sobre ônus, poderes, faculdades, deveres
processuais (art. 190), em respeito ao princípio da autonomia da vontade. Tal negócio, contudo, deve respeitar alguns
requisitos básicos, como objeto lícito, partes capazes, forma, se exigível, além de versar somente sobre direitos que
admitam autocomposição. Desse modo, respeitados esses pressupostos, não há nenhuma vedação à celebração de
convenção processual sobre prova. Nesse contexto, Didier defende, por exemplo, que as partes poderão celebrar

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acordo dispensando assistente técnico na prova pericial. Pode-se pensar também numa convenção sobre as despesas
decorrentes da produção de prova.

2) Com relação às provas específicas fale sobre algumas convenções típicas e atípicas em matérias
probatórias?
Convenção típica: acordo sobre a distribuição do ônus da prova (art. 373, §3º), escolha, em comum acordo, do perito
(art. 471).
Convenção atípica: acordo sobre a dispensa de prova testemunhal ou pericial; acordo sobre hierarquização de provas,
acordo de rateio de despesas processuais decorrentes da produção de provas; dispensa consensual de assistente
técnico.

3) Qual o papel do MP nessas intervenções processuais?


O MP atua como fiscal da ordem jurídica, prezando pelo respeito aos limites do negócio jurídico processual. Deve se
atentar, por exemplo, à impossibilidade de celebração de acordo que envolve direitos indisponíveis que não admitem
autocomposição, à incapacidade das partes para convencionarem.
Obra referência de Robson Godinho que fala muito bem sobre o assunto.

4) Como funciona o princípio da atipicidade dos meios de provas e da comunhão das provas (conhecido como
aquisição processual)?
O princípio da atipicidade dos meios de provas está positivado no art. 369, do CPC/15, segundo o qual as partes podem
empregar todos os meios legais e os moralmente legítimos, ainda que não especificados em lei, para provar a verdade
dos fatos e influir na convicção do juiz. Por sua vez o princípio da comunhão das provas preceitua que, uma vez
introduzida no processo, a prova se desvincula daquele que a produziu, passando a integrar o processo e, por
conseguinte, ser utilizada a favor ou até mesmo contra a parte. Tem previsão no art. 371, do CPC/15.

5) A prova não precisa ter um procedimento pré-definido?


Não. A produção da prova é livre, desde que respeitados os limites impostos pelo ordenamento pátrio, que veda, por
exemplo, a prova ilícita. Todavia, uma vez disciplinada a forma como a prova deve ser produzida, o desrespeito a esse
procedimento pode acarretar sua ilicitude e a nulidade.

6) Houve alguma mudança na análise de prova no novo CPC?


O CPC/15, assim como CPC/73, adota o sistema de valoração da persuasão racional, segundo o qual o juiz aprecia as
provas produzidas nos autos conforme sua convicção, indicando as razões da formação de seu convencimento, nos
termos do art. 371, do CPC/15 e do art. 93, IX, da CR/88. Cabe salientar, entretanto, que, diferentemente do CPC/73, o
CPC/15 não utiliza o termo “livre” para se referir à convicção do juiz. A retirada desse termo causou divergência na
doutrina. Há que entenda que a não utilização do termo limitou a atuação do juiz, que não estaria livre para formar sua
convicção, haveria um silêncio eloquente. Por outro lado, há quem entenda que a retirada desse vocábulo não alterou
nada, continuando o juiz a ser livre para apreciar as provas.

7) Quem é ou são os destinatários da prova?


Os destinatários da prova são o juiz e as próprias partes. O juiz, pois é a partir da análise das provas que ele forma sua
convicção e decide.

8) O convencimento do juiz continua sendo livre?


Ver questão 06.

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Examinador disse que tanto não é “livre” que essa expressão já saiu da legislação.

9) Explique o a visão estática da prova e a teoria da carga dinâmica?


Na distribuição estática da prova, a lei define previamente a quem incumbe provar os fatos, sobre quem recai o ônus de
prová-los. É adotada pelo art. 373, caput. Já pela teoria da carga dinâmica, não há uma divisão predeterminada e
estanque sobre a quem incumbe o ônus de provar. Tal divisão leva em conta a facilidade de produção da prova, quem
tem mais facilidade, terá o ônus de produzi-la. Assim, na dinamização do ônus da prova, o juiz despreza a qualidade de
autor e de réu das partes, bem como quem alegou os fatos para, no caso concreto, investigar quem tem melhor
condição de produzir a prova.

10) Ele poderia proibir a produção da prova sem antes aferir se ela seria útil ou não. Como definir se será útil ou
não?
A partir dos fatos controvertidos.
Prova diabólica – aluna vez várias referências a essa expressão e o examinador concordou, mas não inqueriu a
respeito.

11) Quais requisitos para que o juiz inverta o ônus da prova?


Nos termos do CPC/15, o juiz distribuirá o ônus da prova de forma diferente do art. 373, caput, se houver previsão legal
em sentido contrário ou se as peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
cumprir o encargo, bem como a maior facilidade na obtenção da prova. Em todos os casos, deve-se oportunizar a parte
possibilidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído (regra de instrução).

GRUPO TEMÁTICO IV

COLETIVO - CARLOS ALBERTO VALERA


TEMA: HABITAÇÃO E URBANISMO - REFERÊNCIA CITADA PELO EXAMINADOR LIVRO DO PROMOTOR
MARCOS PAULO DE SOUZA MIRANDA.

1) O direito de moradia previsto no art. 6 CF é um direito fundamental?


Sim. Os direitos fundamentais não se restringem àqueles enumerados no art. 5º, conforme previsão do § 2º, desse
dispositivo constitucional, de modo que abrange, também, os direitos sociais enumerados no art. 6º, entre outros. O
mencionado § 2º, do art. 5º, da CR/88 adota uma concepção material dos direitos fundamentais (e não uma concepção
meramente formal, topográfica), pois os direitos fundamentais serão identificados não só pela forma, mas também por
seu conteúdo.

2) Os direitos e garantias individuais não estariam só no artigo 5º?


Vide questão anterior.

3) Se positiva a resposta, pode o poder público em sentido amplo alegar a cláusula da reserva do possível para
negar esse direito?
A questão da aplicação da cláusula da reserva do possível para negar a concretização dos direitos fundamentais de
índole prestacional é controvertida. A teoria da reserva do possível surgiu na Alemanha com o intuito de limitar o dever
do Estado de efetivar direitos fundamentais que trazem prestações positivas, tais como educação, moradia, transporte,
saúde, em virtude da escassez de recursos para tanto. Assim, diante das chamadas “escolhas trágicas”, em que se tem
o dever de prestar um direito, por um lado, e, por outro, não se tem recursos financeiros para garanti-los a todos os

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indivíduos, o Poder Público estaria autorizado a alegar tal limitação para deixar de concretizar esses direitos. Saliente-se
que a reserva do possível possui dois vieses: um relacionado à escassez fática de recursos e outro de caráter jurídico,
referente à ausência de previsão orçamentária. Essa teoria foi trazida para o Brasil a fim de justificar as dificuldades do
Poder Público de implementar o grande leque de direitos fundamentais trazidos pela CR/88. Todavia, ela é muito
criticada, considerando que não se poderia comparar a realidade social da Alemanha, onde a teoria surgiu e onde os
direitos sociais básicos são garantidos, com a realidade brasileira, na qual não se garante nem mesmo o mínimo
existencial para a população.
Nesse contexto, o STF tem entendimento reiterado no sentido de que essa cláusula não pode ser imoderadamente
aplicada, exigindo-se que o Poder Público comprove efetivamente, por meio de gráficos, estudos contábeis, entre
outros, a inexistência de recursos. Não se pode permitir a “erosão da consciência constitucional” (isto é, a inefetividade
das normas constitucionais em virtude do constante desrespeito pelo Poder Público) com base apenas da alegação
genérica de falta de recursos.

4) Numa interpretação hermenêutica a lei não pode falar palavras inúteis. Então porque esse direito não é
implementado? Por que então temos quadro milhões que não tem moradia, qual fenômeno sociológico que gera
essa situação?

5) Quem deve corrigir essa distorção?


Examinador: Não muda porque o PJ é conservador, sendo às vezes vassalo.
Disse que a obra do Gregório Assagra que fala do Ministério como Garantia Constitucional fundamental era
fundamental para responder essa questão.
Achei um artigo na net:
https://congressonacional2017.ammp.org.br/public/arquivos/teses/51.pdf

6) Indicar e explicar dois princípios const. aplicáveis à ordem urbanística?


Princípio da função social da propriedade – é previsto expressamente no capítulo da CR que trata da política urbana, ao
indicar que a propriedade urbana cumpra sua função social ao atender às exigências de ordenação estabelecidas no
plano diretor. Assim, o proprietário deve dar uma utilização a seu imóvel, por exemplo. Do contrário, pode vir até mesmo
a perder a propriedade, com a aplicação dos institutos previstos no art. 182, § 2º, CR/88.

7) O que é plano diretor? Quais as sanções para o gestor que não implementa?
Plano Diretor é uma lei de competência exclusiva do M e do DF que constitui instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbano. Está previsto no art. 182, da CR/88 e na Lei 10257, nos arts. 38 a 42-A.
Nos termos do art. 52, VI e VII, o prefeito que impede ou deixa de garantir os requisitos para a instituição do plano
diretor ou que deixa de tomar providências para a revisão do plano diretor incorrerá em ato de improbidade
administrativa.

8) É oponível a que título: dolo e/ou culpa?


Como a lei não faz ressalva quanto à possibilidade de punição a título de culpa, como o faz no art. 10, da lei 8429/92, a
punição do prefeito na hipótese aqui tratada deve ser a título de dolo, nos termos da jurisprudência pátria.

9) Descreva de forma sucinta como deve ocorrer o parcelamento do solo para fins urbanos?
O parcelamento do solo para fins urbanos deve observar o procedimento previsto na Lei 6766, as normas municipais,
bem como as normas ambientais pertinentes, devendo o empreendedor solicitar o licenciamento ambiental.

99
10) Tem algum procedimento imprescindível?
Sim. O registro do parcelamento no cartório de imóveis. A partir desse ato, por exemplo, é que as áreas passam a ser de
propriedade do M.
Examinador reclamou porque os alunos não falaram sobre o REGISTRO que, segundo ele, gera diversas
consequências na atuação do MP e os crime do art. 50 da lei 6.766/79.
Lei 6.766/79 –Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e da outras porvidências
Disposições Penais
Art. 50. Constitui crime contra a Administração Pública.
I - dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos, sem autorização
do órgão público competente, ou em desacordo com as disposições desta Lei ou das normas pertinentes do Distrito
Federal, Estados e Municipíos;
II - dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos sem observância
das determinações constantes do ato administrativo de licença;
III - fazer ou veicular em proposta, contrato, prospecto ou comunicação ao público ou a interessados, afirmação falsa
sobre a legalidade de loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos, ou ocultar fraudulentamente fato a ele
relativo.
Pena: Reclusão, de 1(um) a 4 (quatro) anos, e multa de 5 (cinco) a 50 (cinqüenta) vezes o maior salário mínimo vigente
no País.
Parágrafo único - O crime definido neste artigo é qualificado, se cometido.
I - por meio de venda, promessa de venda, reserva de lote ou quaisquer outros instrumentos que manifestem a intenção
de vender lote em loteamento ou desmembramento não registrado no Registro de Imóveis competente.
II - com inexistência de título legítimo de propriedade do imóvel loteado ou desmembrado, ressalvado o disposto no art.
18, §§ 4o e 5o, desta Lei, ou com omissão fraudulenta de fato a ele relativo, se o fato não constituir crime mais
grave. (Redação dada pela Lei nº 9.785, de 1999)
Pena: Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de 10 (dez) a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no
País.

11) Quem é a autoridade competente?


O projeto deve ser aprovado pela Prefeitura Municipal.

12) Já que falou em área rural para fins de parcelamento qual fração mínima permitida?
A lei não permite o parcelamento de área rural, localizada em zona rural, para fins urbanos, enquanto o M não redefinir
seu zoneamento. O art. 65 do Estatuto da Terra diz que o imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à
constitutiva do módulo de propriedade rural.
Art. 53. Todas as alterações de uso do solo rural para fins urbanos dependerão de prévia audiência do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, do Órgão Metropolitano, se houver, onde se localiza o Município, e da
aprovação da Prefeitura municipal, ou do Distrito Federal quando for o caso, segundo as exigências da legislação
pertinente.
Nessa questão reclamou que elas não respondiam de forma clara o que era área urbana e rural. Cortava e pedia
para começasse daí.
Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato
gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei
civil, localizado na zona urbana do Município.

100
§ 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal; observado o requisito
mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) dos incisos seguintes, construídos ou
mantidos pelo Poder Público:
I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II - abastecimento de água;
III - sistema de esgotos sanitários;
IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar;
V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado.

PROCESSO COLETIVO - Examinador Giovanni Mansur Solha Pantuzzo


Tema mandado de segurança coletivo

1) Quem são os legitimados ativos para Mandado de Segurança Coletivo?


Nos termos do art. 5º, LXX, da CR/88 e da Lei 12016/09, são legitimados partido político com representação no CN e
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e funcionando há mais de um ano.
Cortou todos que tentavam entrar com discussão do MP.

2) Partido político tem como condição sua representação?


Sim. É necessário que o partido político tenha representantes no CN.

3) Caso: Imagine que chegando à comarca de Prata existe um MSC realizado por partido local SEM
representação no congresso. A Sra. como promotora como manifestaria com relação a legitimidade? Seria pela
extinção ou continuidade?
Manifestaria no sentido da ilegitimidade ativa do partido. Contudo, seria prudente não extinguir o processo e requerer a
assunção do processo por outro legitimado, aplicando-se o microssistema da tutela coletiva (art. 5º, § 3º, da LEI
7347/85), se fosse a hipótese.
Destacou na resposta de todas que deveriam observar antes se a matéria se restringia ao âmbito local, caso sim
deveria apoiar.

4) É necessário autorização específica dos representados das entidades de classe para MSC?
Não. A lei 12016 dispensa a necessidade de autorização. Em que pese o STF e o STJ entenderem que as entidades de
classe atuam, no âmbito coletivo, como representantes de seus associados, necessitando, portanto, de autorização, no
caso do MSC, esses tribunais entendem que as entidades atuam como substitutos processuais, dispensando-se a
autorização específica.

5) Imagine que determinado sindicado impetrou MSC em favor da classe que represente, mas que um
interessado dessa categoria impetrou MS Individual com base no mesmo fato e direito que a autoridade, além
de ter o mesmo pedido da ação coletiva (MSC) que esteja na sua mesa. Como a Sra. deve proceder?
O MSC não induz litispendência para as ações individuais, conforme dispõe o art. 22, § 1º, da lei 12016/09. Todavia, os
efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante individual se não requerer a desistência de seu mandado de
segurança no prazo de 30 dias da ciência da impetração coletiva. Saliente-se que tal solução é criticada por parte da
doutrina a qual entende que a exigência de desistência da ação individual não é razoável, na medida em que o CDC
(diploma do microssistema da tutela coletiva), no art. 94, determina apenas a suspensão.

6) A litispendência estaria afastada?

101
Sim, conforme previsão legal.

7) Suponhamos que foi favorável ao MSC, ou seja, foi julgado procedente o pedido (já que não é a ação que é
procedente e sim os pedidos). Como fica a situação?
Vide resposta à questão 5.

8) Prazo para parte optar?


Vide resposta à questão 5.

9) O impetrante individual poderia ser beneficiado?


Vide resposta à questão 5.

10) O que importa é a intimação ou a manifestação?

11) Qual prazo?


12) Quais categorias de direitos coletivos lato senso, pela lei 12.016/09, passível de proteção pelo MS Coletivo?
A ausência de menção aos direitos difusos é um óbice à possibilidade destes? Qual seria o fundamento?
Segundo o art. 21, somente seriam defensáveis em MSC os direitos coletivos em sentido estrito e os individuais
homogêneos. A ausência de menção aos difusos não constitui óbice, dado que o legislador constituinte não fez essa
restrição.
Examinador destacou que a ideia central seria que se o constituinte não restringiu o examinador ordinário não
poderia restringir.

13) A natureza do mandado segurança em natureza?


O MS tem natureza de ação constitucional, sendo uma garantia aos direitos fundamentais.

14) Há alguma restrição?


Não é cabível nas hipóteses em que cabe HC e HD.

102
DIA 5 – Gabriela e Bernardo

GRUPO TEMÁTICO I

CONSTITUCIONAL - ELAINE MARTINS PARISE

1) Como se dá a repartição de competências na CR?


A Constituição da República, com relação à repartição de competências, adota as técnicas da repartição horizontal e da
repartição vertical.
A técnica da repartição horizontal é aquela na qual há uma distribuição fechada de competência entre os entes, ou seja,
cada ente terá suas competências definidas de forma numerada e específica, não as dividindo com nenhum outro ente.
Tal técnica advém do federalismo dual ou clássico, tendo como origem a Constituição dos EUA de 1787. A CF/88
enumera competências para a União e também para os Municípios, sendo as remanescentes direcionadas para os
Estados- Membros. Como exemplo, cite-se o art. 21, I, CF, que estabelece que compete privativamente à União legislar
sobre direito civil.
Já a técnica de repartição vertical é aquela na qual dois ou mais entes vão atuar conjuntamente ou concorrentemente
sobre a mesma matéria, sendo originária do modelo de federalismo cooperativo ou de integração, e tendo surgido na
Constituição alemã de Weimar (1919).
No Brasil adota-se a técnica da repartição vertical não cumulativa, na qual existem limites previamente definidos para
atuação concorrente, conforme se verifica no art. 24, CF, que trata da competência concorrente da União, dos Estados e
do Distrito Federal, prevendo que caberá à União estabelecer normas gerais sobre o tema, sem exclusão da
competência suplementar dos Estados.
Vale mencionar que na repartição vertical cumulativa não há limites previamente definidos para a atuação concorrente
entre os entes.
Conclusão: “O Brasil adota um sistema complexo de repartição de competências, trabalhando tanto a repartição
horizontal (de competências enumeradas e remanescentes) quanto a repartição vertical (de competências concorrentes
e comuns), tenho o objetivo de desenvolver um federalismo de equilíbrio (ainda em processo!), no qual permeiam
competências privativas (ou exclusivas), remanescentes, comuns e concorrentes entre os entes que compõem a
federação (União, Estados-membros, Municípios e DF)”.

Fonte: Bernardo Gonçalves – págs. 940 e 941.

2) Num determinado município mineiro, está em vigor uma lei de iniciativa parlamenta que previu a vistoria
anual e obrigatória de veículos com mais de 25 anos de uso. Em sua visão, essa lei é constitucional ou
inconstitucional? Por quê?

O critério adotado pelo Município para a vistoria – carros com mais de 25 anos de uso – não atende a nenhuma
peculiaridade local, referente àquele Município em questão. Restrição nesse sentido só seria viável por lei federal, para
não criar restrições mais pesadas e de forma não uniforme sobre os proprietários de veículo naquele município.
Vale lembrar que nos termos do art. 22, XI, CF, cabe à União, de forma privativa, legislar sobre transito e transporte.
Ressalte-se, contudo, que caso fosse comprovado interesse local, e caso a norma criada pelo município tivesse como
fundamento a proteção ambiental, ela poderia ser admitida, com fulcro no art. 30, CF.

3) Depois da resposta da candidata: mas uma lei municipal poderia legislar sobre este assunto? (A resposta é
essa que a senhora me deu agora: a competência é privativa de União)

103
Lei municipal não poderia legislar sobre o assunto, pois a Constituição Federal estabelece a competência privativa da
União para legislar sobre transito e transporte.

4) Chegando este fato a seu conhecimento, qual seria seu posicionamento, considerando que a senhora já disse
que a lei é inconstitucional?
Considerando que as normas que tratam sobre competência são consideradas como normas de reprodução obrigatória,
é cabível ADIN estadual impugnando a referida norma em face da Constituição Federal.
Assim, como Promotor de Justiça eu representaria ao Procurador- Geral de Justiça para que este ajuizasse a ação
declaratória de inconstitucionalidade da norma perante o Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

5) Discorra sobre a imunidade formal dos congressistas.


A imunidade formal consiste na possibilidade dos deputados e senadores não serem presos (ou não permanecerem
presos), ou ainda, na possibilidade de sustação de ação penal contra deputado ou senador por crime praticado pelos
mesmos após a diplomação.
A imunidade formal se subdivide em imunidade formal em relação à prisão e formal em relação ao processo.
A imunidade formal em relação à prisão é prevista no art. 53, §2º, CF, que estabelece que desde a expedição do
diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável,
hipótese em que os autos devem ser remetidos à Casa respectiva, dentro de 24 horas, para que, pelo voto da maioria
de seus membros, resolva sobre a prisão. Abrange crimes praticados antes ou após a diplomação.
Vale ressaltar que a imunidade formal em relação à prisão não abrange a prisão decorrente de condenação criminal
transitada em julgado, de modo que o STF tem admitido a prisão de Deputados e Senadores para o cumprimento de
pena (inclusive aplicando o novo entendimento da Corte com relação à possibilidade de execução provisória da pena).
Por sua vez, a imunidade formal em relação ao processo é prevista no art. 53, §3º, CF, e consiste na possibilidade de
sustação de ação penal contra deputado ou senador por crimes praticados após a diplomação.
Assim, caso o STF receba a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, deverá dar
ciência à casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. Por fim, vale mencionar que o pedido de sustação
será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora (art. 53,
§4º, CF).

Fonte: Bernardo Gonçalves – págs. 1050 a 1073

Dizer o Direito:
O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão
decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF.
STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, Rel.Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/6/2013 (Info 712).

6) Há possibilidade da prisão civil de parlamentar decorrente do inadimplemento de obrigação alimentar?


A doutrina diverge sobre o tema e não há decisão do STF a seu respeito.
Uadi Boulos e Marcelo Novelino admitem. Novelino cita, inclusive, a prisão, em junho de 2010, do deputado distrital
Roberto Lucena por não pagamento de pensão alimentícia.
Bernardo Gonçalves se posiciona pela impossibilidade de qualquer tipo de prisão preventiva e temporária, inclusive a
prisão alimentícia. Só admite a prisão do parlamentar em caso de flagrante de crime inafiançável e por condenação
criminal transitada em julgado. (Fonte: Bernardo Gonçalves, página 1057).

104
Contudo, a melhor posição parece ser a que admite a prisão do parlamentar como consequência do inadimplemento de
obrigação alimentar. Isso porque as imunidades buscam resguardar o exercício da atividade política e parlamentar,
impedindo que o Deputado ou Senador sofra represálias em decorrência de sua atuação no congresso.
Já a prisão em decorrência do inadimplemento de pensão alimentícia não possui caráter punitivo, na medida em que
tem caráter coercitivo, buscando compelir o individuo a adimplir o débito de natureza alimentar, que muitas vezes se
relaciona com o mínimo existencial à uma vida digna, garantindo que o alimentando tenha condições de manter a sua
subsistência.
Assim, verifica-se que a prisão decorrente do inadimplemento da obrigação alimentar deve ser admitida, pois não possui
natureza punitiva, não se enquadrando, portanto, no escopo da norma constitucional que prevê a imunidade formal com
relação à prisão.

7) Como se dá a nomeação e a destituição do Procurador-Geral de Justiça de acordo com a Lei Complementar


34/94?
A nomeação do PGJ será realizada pelo Governador do Estado, entre os Procuradores de Justiça com no mínimo 10
anos de serviço na carreira, indicados em lista tríplice, que é formada pelo voto obrigatório e plurinominal de todos os
integrantes da carreira.
A lista tríplice é encaminhada para o Governador, que poderá nomear qualquer um dos 3 Procuradores nela indicados.
Caso o Governador não realize a nomeação no prazo de 20 dias após o recebimento da lista, será automaticamente
investido no cargo o Procurador de Justiça mais votado.

Já a destituição ocorre por deliberação da maioria absoluta da Assembleia Legislativa, nos casos de abuso de poder,
conduta incompatível ou grave omissão nos deveres do cargo, assegurada ampla defesa, ou condenação por infração
apenada com reclusão, em decisão judicial transitada em julgado.
Nesses casos, caberá ao Colégio de Procuradores de Justiça decidir, por maioria absoluta, sobre a admissibilidade da
representação para a destituição, que deverá ser formulada por 1/3 dos seus integrantes, ou, no mínimo 1/5 dos
membros do Ministério Público em atividade. A sessão será presidida pelo Procurador de Justiça mais antigo na
instancia.
Se o Colégio de Procuradores de Justiça aprovar a representação, o pedido de destituição do PGJ será encaminhado à
Assembleia Legislativa pelo Procurador de Justiça mais antigo na instância, para que esta autorize o pedido de
destituição.
Autorizada a proposta de destituição, o Colégio de Procuradores de Justiça, em sessão presidida pelo Procurador de
Justiça mais antigo na instância, constituirá em votação secreta, comissão processante integrada por 3 (três)
Procuradores de Justiça e presidida pelo Corregedor-Geral do Ministério Público.
Acolhida a proposta de destituição, o Presidente da sessão, em 48 (quarenta e oito) horas, encaminhará os autos à
Assembleia Legislativa, que decidirá, por maioria absoluta, na forma do seu Regimento Interno.

Artigos relacionados:

Art. 5º, § 1º O Procurador-Geral de Justiça será nomeado pelo Governador do Estado, entre os Procuradores de Justiça
com o mínimo de 10 (dez) anos de serviço na carreira, indicados em lista tríplice, para mandato de 2 (dois) anos,
permitida uma recondução, observado o mesmo procedimento.
Vide art. 128, § 3º, da CF; art. 123, § 1°, da CE; art. 9º da Lei n. 8.625/93.
Vide art. 21, III; Lei Complementar Estadual n. 21/91.

§ 2º A eleição para a formação da lista tríplice far-se-á mediante voto obrigatório e plurinominal de todos os integrantes
da carreira.
105
19) Vide art. 9º, § 1°, da Lei n. 8.625/93.

§ 3º O Procurador-Geral de Justiça, o Corregedor-Geral do Ministério Público e os ocupantes de cargos de confiança da


Administração Superior do Ministério Público, para concorrerem à formação da lista tríplice, deverão renunciar aos
respectivos cargos até 30 (trinta) dias antes da data fixada para a eleição.
§ 4º A eleição referida no § 2º deste artigo será regulamentada pela Câmara de Procuradores de Justiça e deverá
ocorrer no 2º (segundo) dia útil do mês de novembro dos anos ímpares, vedado o voto por procuração.
§ 5º A Comissão Eleitoral será indicada pela Câmara de Procuradores de Justiça, cabendo-lhe encaminhar a lista tríplice
ao Procurador-Geral de Justiça, logo que encerrada a apuração.
§ 6º Os 3 (três) candidatos mais votados figurarão em lista, e, em caso de empate, incluir-se-á o mais antigo na
instância, observando-se, caso necessário, os demais critérios de desempate previstos no art. 185, parágrafo único.
§ 7º O Procurador-Geral de Justiça encaminhará ao Governador do Estado a lista tríplice com indicação do número de
votos obtidos, em ordem decrescente, até o dia útil seguinte àquele em que a receber.
§ 8º Caso o Governador do Estado não efetive a nomeação do Procurador-Geral de Justiça nos 20 (vinte) dias que se
seguirem ao recebimento da lista tríplice, será investido automaticamente no cargo o Procurador de Justiça mais votado,
para o exercício do mandato.
1) Vide art. 123, §§ 2º e 3º, da CE; art. 9º, § 4º, da Lei n. 8.625/93.

Art. 10. O Procurador-Geral de Justiça poderá ser destituído do cargo por deliberação da maioria absoluta da
Assembleia Legislativa, nos casos de abuso de poder, conduta incompatível ou grave omissão nos deveres do cargo,
assegurada ampla defesa, ou condenação por infração apenada com reclusão, em decisão judicial transitada em
julgado.
Art. 11. O Colégio de Procuradores de Justiça decidirá, por maioria absoluta, acerca da admissibilidade da
representação para a destituição do Procurador-Geral de Justiça, nos casos previstos no artigo anterior, desde que
formulada por 1/3 (um terço) de seus integrantes ou, no mínimo, 1/5 (um quinto) dos membros do Ministério Público em
atividade, em sessão presidida pelo Procurador de Justiça mais antigo na instância.
Parágrafo único. Admitida a representação, a deliberação, quanto à destituição do Procurador-Geral de Justiça, far-se-á
na forma disposta nos artigos subsequentes.
Art. 12. A destituição do Procurador-Geral de Justiça será precedida de autorização da Assembleia Legislativa.
3. Vide art. 128, § 4º, da CF; art. 123, § 4º, da CE; art. 9º, § 2º, da Lei n. 8.625/93.
4. Vide art. 21, II; Lei Complementar Estadual n. 21/91.
§ 1º O pedido de autorização para destituição do Procurador-Geral de Justiça, se aprovado pelo Colégio de
Procuradores de Justiça, será encaminhado à Assembleia Legislativa pelo Procurador de Justiça mais antigo na
instância.
§ 2º O Colégio de Procuradores de Justiça estará habilitado a iniciar o procedimento de destituição do Procurador-Geral
de Justiça, se a Assembleia Legislativa não se manifestar no prazo de 30 (trinta) dias contados do recebi mento do
pedido de autorização.
Art. 13. Autorizada a proposta de destituição do Procurador-Geral de Justiça, o Colégio de Procuradores de Justiça, em
sessão presidida pelo Procurador de Justiça mais antigo na instância, constituirá em votação secreta, comissão
processante integrada por 3 (três) Procuradores de Justiça e presidida pelo Corregedor-Geral do Ministério Público.
5. § 1º O Procurador-Geral de Justiça será cientificado, no prazo de 10 (dez) dias, da proposta de destituição,
podendo, em 15 (quinze) dias, oferecer defesa escrita, pessoalmente ou por defensor, e requerer produção de
provas.
§ 2º Não sendo oferecida defesa, o Corregedor-Geral do Ministério Público nomeará defensor dativo para fazê-la em
igual prazo.
106
§ 3º Findo o prazo, o Corregedor-Geral do Ministério Público designará data para instrução e julgamento nos 10 (dez)
dias subsequentes.
§ 4º Na sessão de julgamento, presidida pelo Procurador de Justiça mais antigo na instância, após a leitura do relatório
da comissão processante, o Procurador-Geral de Justiça, pessoalmente ou por defensor, terá 30 (trinta) minutos para
produzir defesa oral, deliberando, em seguida, o Colégio de Procuradores de Justiça pelo voto fundamentado de 2/3
(dois terços) de seus membros.
Vide art. 12, IV, da Lei n. 8.625/93.
§ 5º A presença à sessão de julgamento será limitada aos membros do Colégio de Procuradores de Justiça, ao
Procurador-Geral de Justiça e ao seu defensor.
§ 6º A sessão poderá ser suspensa, pelo prazo máximo de 10 (dez) dias, para a realização de diligência requerida pelo
Procurador-Geral de Justiça ou por qualquer membro do Colégio de Procuradores de Justiça, desde que reputada, por
maioria de votos, imprescindível ao esclarecimento dos fatos.
Art. 14. Rejeitada a proposta de destituição ou não atingida a votação prevista no § 4º do artigo anterior, o Presidente da
sessão determinará o arquivamento dos autos do procedimento.
Art. 15. Acolhida a proposta de destituição, o Presidente da sessão, em 48 (quarenta e oito) horas, encaminhará os
autos à Assembleia Legislativa, que decidirá, por maioria absoluta, na forma do seu Regimento Interno.
Vide art. 128, § 4º, da CF; art. 123, § 4º, da CE; art. 12, IV, da Lei n. 8.625/93.

8) De acordo com o critério da estabilidade formal, como se classifica a nossa CF?


Quanto à estabilidade formal a constituição brasileira de 1988 se classifica como rígida, uma vez que a sua modificação
requer procedimento específico, mais solene e complexo do que o procedimento legislativo ordinário.
Tal procedimento é previsto na própria Constituição, que em seu artigo 60 trata do procedimento de reforma
constitucional por meio de emendas.
Vale mencionar que Alexandre de Moraes entende que a CF/88 é super rígida, pois além de prever procedimento
específico e solene para a alteração das normas constitucionais, ainda estabelece um rol de cláusulas pétreas, que não
podem ser modificadas.

9) O que vem a ser fidelidade partidária?


Fidelidade partidária é o instituto de direito público que relaciona o detentor do mandato eletivo ao seu partido político, e
ao eleitor que, ao elegê-lo, escolheu também votar em determinado partido político.
Assim, o detentor de mandato eletivo que escolhe deixar o partido pelo qual foi eleito comete ato de infidelidade
partidária, o qual gera a perda do mandato.
No entanto, o STF já decidiu que a regra da perda do mandato por ato de infidelidade partidária não é aplicável aos
candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sendo nesse sentido a súmula 67 do TSE (a perda do mandato em razão da
desfiliação partidária não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário).
Por fim, vale lembrar que a resolução 22.610 do TSE e o art. 22-A da Lei 9.096/95 (incluído pela Lei 13.165/15) tratam
do tema, disciplinando hipóteses de justa causa, nas quais a troca do partido político não serão consideradas como ato
de infidelidade partidária, não gerando, portanto, a perda do mandato.

Art. 22-A: Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito.
P.u.: Consideram-se justa causa para desfiliação partidária somente as seguintes hipóteses:
I- Mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;
II- Grave discriminação política pessoa; e
III- Mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para
concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente.

107
Fonte: Sinopse Juspodium (6ª edição) – p. 103 e seguintes

ADMINISTRATIVO - FERNANDO MARTINS

1) potestas” ou “auctoritas” (autoridade) dentro do âmbito de poderes e deveres da Administração?


2) Hannah Arendt diz que é autoridade, em todos os seus livros ela afirma que autoridade pressupõe
legitimidade.
“Potestas” e “auctoritas” são conceitos que deitam suas raízes no Direito Romano. O primeiro termo expressa um poder
institucional, detido por militares, políticos, membros do clero, que confere ao seu exercente a possibilidade jurídica de
praticar determinado ato sobre terceiros, independentemente da anuência do último.
“Auctoritas”, por sua vez, quer demonstrar uma posição social de destaque desgarrada de qualquer escora institucional,
que decorre da aptidão pessoal de certa pessoa e que legitima as suas ações. Jesus Cristo, segundo Anselmo Borges, é
um perfeito exemplo de autoridade moral, já que mesmo sem ostentar qualquer posição oficial conseguiu carregar
multidões, que a ele se juntavam em razão da sua nítida perfeição moral.
Transportados esses conceitos para o âmbito da Administração Pública, principalmente lida em conformidade com a
Constituição Federal, é possível dizer que ambos fundamentam os deveres-poderes que se atribui à Administração. Em
verdade, é certo que os representantes do Estado gozam da “potestas”, na medida que materializam a vontade do ente
político a que integram e, no cumprimento das suas missões, devem possuir poderes de implementação. Todavia, em
um Estado Democrático de Direito, é juridicamente impensável um Poder que não se justifique por critérios racionais,
esfera em que a “autoritas” se faz presente. O estabelecimento de critérios objetivos de ingresso no serviço público
(regra do concurso), a avaliação periódica de desempenho, o dever de concretização de normais constitucionais
programáticas, dentre tantas outras normas que orientam a atividade executiva do Estado, trabalham em prol da
legitimidade do Poder, que será mais ou menos obedecido conforme melhor se organize a relação entre os termos aqui
trabalhados (“potestas-auctoritas”).

3) Sendo o Estado um meio e não um fim, qual seria a base axiológica da CF que fundamenta os poderes?
De um modo geral, a doutrina costuma apontar o princípio (implícito) da Supremacia do Interesse Público como sendo a
matriz de todas as prerrogativas usufruídas pelo Estado, a exemplo do que faz Bandeira de Mello.
Essa norma-princípio liga-se, de forma direta, ao artigo 3º da CR/88. De fato, é justamente por buscar promover o bem
de todos, construir uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza, a marginalização, acabar com todas as
formas de discriminação, dentre outras missões, que o Estado goza da possibilidade jurídica de impor condutas e
regular a vida em sociedade.
Ao lado do citado dispositivo, destaca-se o artigo 1º da Constituição, que fundamenta a vida em sociedade em valores
éticos nutridos pelo povo, o que sustenta, por igual, a supremacia que se costuma conferir ao Poder Público. Também
compõe essa base axiológica as normas que asseguram direitos e garantias fundamentais aos indivíduos (artigo 5º e
seguintes da CR), já que, todos eles, em quaisquer de suas dimensões, impõem condutas ao Estado que pressupõe os
meios necessários para seu cumprimento.
Em suma, os fundamentos (art. 1º), os objetivos (art. 3) e os direitos e garantias fundamentais são a base axiológica do
Poder.

4) Na primeira resposta, a senhora foi acertada pela segunda pergunta.

5) Qual é o conceito de interesse público, que é um dos motes dos poderes? Qual a trilogia antiga e dogmática
que era a base do interesse público? “Antiga” que eu falo, antes dos direitos fundamentais.
O interesse público é o feixe de interesses que os membros da sociedade possuem, não na sua condição de ser
individual, mas na condição de partícipes da vida em conjunto. Dito de outra forma, é o interesse que decorre do ser
108
social, visto enquanto membro de um grupo maior, e que visa ao bem geral, ainda que aponte para caminhos aptos a
desagradar interesses egoísticos.
É clássica a divisão entre interesse público primário e secundário (ALESSI). O primeiro seria o interesse geral, que
orienta as ações do Estado em prol da sociedade, já enunciado linhas atrás. O segundo representaria o interesse do
Estado enquanto pessoa jurídica, que, como tal, possui vontades que nem sempre se acomodam ao sentimento geral,
ou que tenham por escopo alcançar algum benefício que não seja estritamente pessoal. Como já arraigado na doutrina
italiana, é o primeiro conceito que conta com uma predominância em abstrato sobre os demais interesses.
Quanto a trilogia clássica mencionada pelo examinador:

6) Interesse público seria o bem comum, coletivo e ordem pública. A base seria essa. ( obs: não sei a fonte dessa
classificação)

7) Vou dar a possibilidade da senhora brilhar agora: qual é a discussão que se põe hoje sobre a predominância
do interesse público sobre o privado?
Atualmente, não se vê com bons olhos a ideia de que o “interesse público” conta com uma preponderância, em abstrato,
sobre os chamados “interesses privados”. Para boa parte da doutrina, essa relação de prevalência deve ser conciliada
com os direitos e garantias fundamentais, pedra fundamental do constitucionalismo contemporâneo.
Assim, seria equivocado dizer-se que em todas as situações de conflito o interesse público deve prevalecer sobre o
privado. Em verdade, é corrente a afirmação de que a composição de conflitos, quando em jogo direitos fundamentais,
dependerá da análise minuciosa do caso concreto, sendo vedada qualquer solução que sacrifique um direito
fundamental, ainda que pautada em argumentos voltados à satisfação do interesse público. Nesse passo, e trabalhando
com os consensos ocasionados desde o advento do Constitucionalismo, refuta-se qualquer solução apriorística em
detrimento da base axiológica da Constituição Federal, que tem em seu núcleo os direitos fundamentais.

8) Quais os tipos de deveres que a Administração tem?


Dirley da Cunha Júnior afirma que Administração tem os seguintes deveres: (a) dever de agir; (b) dever de juridicidade
(ou de legalidade); (c) dever de eficiência; (d) dever de probidade; e (e) dever de prestar contas.
José dos Santos Carvalho Filho lista um rol mais modesto de deveres, apenas fazendo menção àqueles que reputa mais
importantes, quais sejam: deveres de (a) eficiência, (b) prestação de contas e (c) de probidade.
Abaixo, o examinador enuncia mais um dever:

9) Talvez hoje os deveres mais proeminentes seja o de eficiência e proteção. Ler a CF à frente do CC, senão
seremos inadimplentes com os deveres de proteção.
Amigos, vale frisar que a afirmação acima é dotada de certo grau de subjetivismo, já que a importância é, por si mesma,
uma conceito relativo. Não por acaso o já citado CARVALHO FILHO prefere dar destaque ao dever de probidade, opção
que é feita por outros autores.
De qualquer forma, alguns comentários básicos sobre os dois deveres mencionados devem ser colocados.
A eficiência ganhou destaque constitucional com a edição da EC 19/1998, batizada de emenda da desburocratização,
ou da “Administração Gerencial”, que incluiu o princípio da eficiência ao lado de outros anunciados pelo artigo 37, caput,
da Constituição. Em suma, a eficiência impõe à Administração uma organização otimizada, apta a alcançar da melhor
maneira os fins estatais, bem como orienta a atuação dos agentes públicos, que devem optar pelo caminho menos
custoso e vocacionado a alcançar os melhores resultados possíveis.
Dirley da Cunha Júnior diferencia eficiência de eficácia e ambas da efetividade. Para o autor, a eficiência liga-se aos
meios, a eficácia aos resultados. É eficiente o meio que se apresente como mais apto para certo fim, ao passo que
eficaz é a ação que, de fato, atinge certo objetivo. Na sua visão, a real percepção do princípio constitucional da
eficiência culmina com a busca pela “efetividade administrativa”, ou seja, pelo desiderato de utilizarem-se os meios mais
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adequados (eficiência) que alcancem os melhores resultados (eficácia) - Curso de Direito Administrativo. 16ª Edição.
Páginas 48-48.
No que toca ao dever de proteção, saliento que não se trata de um dever inserto nas definições mais usuais adotadas
pelos administrativistas. Compulsando os livros de Di Pietro, Carvalho Filho, Dirley da Cunha e Alexandrino e Vicente
Paulo, não foi possível identificar qualquer menção específica sobre o assunto. Todavia, pode-se estabelecer que o
dever de proteção impõe à Administração Pública o zelo pelos interesses que lhe foram confiados, objetivo que deve ser
perseguido por uma “boa administração”. A ideia acaba por vincular os agentes estatais a uma atuação suficiente, que
não deixe ao desamparo os direitos do administrado, em atenção ao princípio da proporcionalidade, na sua dimensão da
proibição da proteção deficiente (Untermassverbot).

10) Todo dever pressupõe um direito?

11) Quais deveres não pressupõem direitos e estão na CF? Tem 2 que são clássicos. (“serviço militar
obrigatório e pagamento de tributo. Só temos duas certezas na vida: a morte o pagamento de imposto” –
KELSEN e CF).
Novamente o examinador aborda tema divergente. De fato, o examinador considerou que não há uma vinculação
necessária entre dever e direito, o que me parece equivocado.
A começar pelos exemplos fornecidos. O serviço militar obrigatório é um dever que jorra do texto constitucional (art. 143)
e que deve ser cumprido nos termos da lei. Há uma pessoa sobre o qual recai esse dever – em tempos de paz, homens
com 18 anos de idade -, não há dúvidas. No entanto, é evidente que há um direito a ele contraposto, já que o Estado
pode exigi-lo do particular. Dizendo de outro modo, o Estado tem o direito de vincular uma pessoa, ainda que contra a
sua vontade, ao alistamento militar. Em última análise, ninguém nega aos membros do Estado (o povo) o direito à
segurança, que é atendido, dentre outras maneiras, com a formação de um corpo armado capaz de repudiar eventuais
agressões estrangeiras.
Mais infeliz ainda é a compreensão de que o dever de pagar tributo não está ligado a nenhum direito. Se fosse
assim, o que o Estado exerceria ao criar um tributo ou ao ajuizar uma execução fiscal para cobrar o crédito tributário
inadimplido? É claro que o Estado possui o direito de exigir o (dever) tributo do particular, direito que se explica diante da
alta gama de prestações positivas que recaem sobre o Ente Político. É famosa a passagem extraída do voto de
MARSHALL, ao julgar o caso Mac Culloch vs Marland, onde se lê que “o direito de taxar, sem limite nem contraste, é,
na sua essência, o direito e exterminar, ou de destruir; e,se uma instituição nacional pode ser assim destruída, todas as
outras poderão, igualmente, ser destruídas” (grifo acrescido).
Na realidade, não há dever jurídico que não esteja ligado a um direito, ainda que este signifique pouco mais do
que a faculdade de exigir o seu cumprimento.
Por outro lado, existem deveres que não se atrelam a direitos, mas certamente não serão deveres jurídicos. Por
exemplo, é possível que uma pessoa seja impelida irremediavelmente pelo dever de ser cortes com o próximo, de
praticar caridade, dentre tantos outros imperativos que decorrem da moral. Nesse caso, haverá um dever, às vezes
reconhecido pelo próprio corpo social, mas que não atende a direito nenhum.

12) Classifique os tipos de abuso de poder.


O abuso de poder possui duas espécies. De um lado, identifica-se o “excesso de poder”, caracterizado pelo exercício de
certa atividade que não se encontra dentro do feixe de competência do agente público que a coloca em prática. Há um
exercício desmedido, que extravasa às atribuições legalmente conferidas ao administrador.
O abuso de poder também se manifesta por meio do desvio de poder. Há desvio quando um ato administrativo é
praticado visando objetivo diverso daquele para o qual estaria vocacionado. O agente se excede não por praticar ato
que se aloja fora da sua competência, mas por deturpar a competência administrativa, conferindo-lhe uma finalidade
diversa da estatuída regularmente.
110
13) O MP tem poder de polícia?
De forma sintética, o poder de polícia é aquele que permite ao Estado restringir direito ou liberdade do cidadão para
adequá-los aos padrões que o primeiro entende fundamentais ao bom convívio em sociedade. Nesse sentido está a
definição do Poder de Polícia sufragada pelo Código Tributário Nacional.
A doutrina costuma dividir o Poder de Polícia em ciclos, aduzindo que ele se expressa por meio das (1) ordens de
polícia; (2) do consentimento; (3) da fiscalização; e (4) da aplicação de sanções.
Feitas essas considerações, não parece caber ao Ministério Público a expedição de regras gerais e abstratas aos
particulares (“ordem de polícia), muito embora tenha a atribuição de expedir recomendações a órgãos e entidades,
públicas e particulares, sugerindo a adoção de medidas mais condizentes com a ordem jurídica.
O consentimento de polícia também não se iguala à atuação resolutiva da instituição, já que consiste em autorizações
dadas aos particulares para exercerem certas atividades ou utilizarem alguns bens públicos, ao passo que a última se
expressa por meio das formas de resolução de conflitos manejadas diretamente pelo MP, como a elaboração de termo
de ajustamento de conduta ou a expedição de recomendações.
Contudo, há uma zona de convergência quando em jogo a fiscalização e a aplicação de sanções.
De fato, há juristas que, com os olhos voltados para a atividade fiscalizatória, sustentam ser perfeitamente possível o
exercício do Poder de Polícia pelo Ministério Público. Em artigo sobre o tema, André Luís Alves de Melo (promotor em
Minas Gerais) sustenta que o Ministério Público exerce sim o Poder de Polícia, notadamente quando fiscaliza entidades
públicas e particulares, além de noticiar que no Estado de Minas Gerais cabe ao órgão o atendimento administrativo do
consumidor queixoso, situação que enseja, inclusive, a aplicação de sanções diretamente pelo Ministério Público.
Sustenta, ademais, que o viés resolutivo do Parquet lida continuamente com o Poder de Polícia, instrumento necessário
para a efetividade das soluções obtidas sem o intermédio do Poder Judiciário.
O tema não está livre de controvérsias, mas é sustentável a posição anunciada acima.

GRUPO TEMÁTICO II

PENAL - ANDRÉ UBALDINO

1) Quais as críticas à teoria causal da ação resultaram na sua reprovação pela doutrina e na busca de uma teoria
que melhor explicasse a conduta?
Sob os auspícios da teoria causal (positivista-naturalista), a ação era conceituada como um movimento corporal
voluntário que provoca uma modificação no mundo exterior. A ação, era assim, algo perceptível pelo sentido e produtora
de uma alteração externa, sendo conceituada de forma objetiva, sem qualquer tipo de considerações a respeito do
conteúdo da vontade que a animava.
Essa definição foi criticada principalmente por separar a ação do seu elemento anímico, o que a transformava em um
processo causal cego. De fato, embora não se negasse que a ação era fruto de um comportamento voluntário, ou seja,
era impulsionada pelo querer do agente, esse ato de vontade era visto como despido de conteúdo, elemento que
interessava apenas à culpabilidade. Assim, o injusto era visto como algo estritamente objetivo, residindo na culpabilidade
(orientada pela teoria psicológica) a análise do dolo ou da culpa (espécies de culpabilidade).
Também se criticou a teoria positiva-naturalista por não alcançar as condutas omissivas, que ficavam de fora da
conceituação por não ser possível demonstrar que uma inação poderia fazer surgir algum efeito exterior.

2) Para enfatizar a resposta: na ausência de culpa ou dolo, segundo o finalismo, o que nós teríamos, então?
Qual seria a consequência? (foi paciente com a candidata)
Na lição finalista (Welzel), a ausência de dolo ou culpa torna atípica a conduta, por não preenchimento do tipo subjetivo,
o que prejudica a aferição dos demais elementos do conceito analítico de delito.
111
3) O que são tipos penais preceptivos? (não se lembrou com essa denominação e o examinador não forneceu
maiores esclarecimentos)
Tipos penais preceptivos são aqueles que ordenam que algo seja feito, recriminando com a ameaça de pena as
condutas (omissivas) que deixarem de atender ao seu comando, violando, assim, o bem jurídico tutelado.

4) O que é a teoria jurídico-penal da conduta e o que a destaca das teorias anteriores?


Amigos, mesmo pesquisando em diversos livros (Greco, Azevedo e Salim, Zaffaroni e Pierangeli) não consegui localizar
este conceito, tampouco obtive sucesso em buscas na internet. Assim, a resposta que se segue é fruto do raciocínio
indutivo. Se alguém souber a resposta exata, com fontes, favor nos avisar.
A teoria jurídico-penal da conduta erige o comportamento humano (comissivo ou omissivo) como alicerce do direito
penal, que é construído tendo como base a definição de ação.
Durante um considerável espaço de tempo, o Direito Penal não via na conduta um elemento essencial do delito, sendo
conhecidas as punições que recaíram sobre seres inanimados (pedras), animais e pessoas mortas, todos eles
impossibilitados de praticar uma condutas.
Com a criação das primeiras teorias da conduta – a começar pelo causalismo de LITZ e BELING, o Direito Penal foi
erigido sobre a conduta humana, requisito mínimo para que se possa ventilar a tutela criminal.
Nesse novo contexto, para além das fatos alheios ao ser humano, o Direito Penal rompe com a punição de pessoas por
aquilo que são, pensam ou representam (direito penal do autor) e centra-se a sua atenção nos fatos humanos
materializados em comportamentos ativos ou omissivos (Direto Penal do fato), humanizando a proteção estatal aos bens
jurídicos mais caros ao corpo social

5) O que são os crimes omissivos espúrios?


Crimes omissivos espúrios, também chamados de crimes omissivos impróprios, comissivos por omissão, são aqueles
que, não obstante descrevam condutas comissivas em sua redação típica, estendem a tutela penal àqueles
comportamentos omissivos praticados por pessoas dotadas da condição de “garante”, que deveriam agir para impedir a
consecução do resultado danoso contido na narrativa típica.
Em verdade, os crimes omissivos espúrios alargam o alcance de um tipo penal inicialmente proibitivo – inibidor de
determinadas condutas comissivas – fazendo com que se enquadrem na situação criminal as pessoas que, dotadas pela
norma de um dever especial de agir, desobedeceram ao comando protetivo e permitiram o acontecimento do resultado
vedado pelo tipo penal.

PROCESSO PENAL - ROGÉRIO FILIPPETTO

1) Como fazemos para fixar a competência nos casos de crimes plurilocais?


De início, cumpre esclarecer que crimes plurilocais são aqueles que perpassam o território de mais de uma comarca,
conforme lecionam Azevedo e Salim. Para fins de fixação da competência, o Código de Processo Penal (art. 70, caput)
adotou, como regra, a “teoria do resultado”, estabelecendo a competência no foro em que realizado o resultado do
crime. No entanto, caso o delito seja da competência do Tribunal do Júri (homicídio, por exemplo), adotar-se-á como
critério de definição da competência a “teoria da atividade” ou “do esboço do resultado”, conforme assentado pelo
Superior Tribunal de Justiça.

2) Contextualizando: situação em que houve um acidente de trânsito em Contagem, se apurando a provável


existência do crime de homicídio doloso de trânsito. Quem seria competente para julgar ação, considerando que
o fato aconteceu em contagem, mas os envolvidos foram atendidos em BH, local onde o óbito efetivamente
ocorreu.
112
Conforme consignado na resposta anterior, por se tratar de crime da competência do Tribunal do Júri, o foro competente
será o da Comarca de Contagem, local em que aconteceu a ação criminosa (onde houve o esboço do resultado), não
obstante a Lei Adjetiva tenha agasalhado a teoria do resultado.

3) CP adota a teoria da atividade e o CPP a teoria do resultado. Nos casos dos crimes plurilocais há uma
exceção. A senhora falou isso de outras palavras, eu entendi o que a senhora quis dizer.
Na realidade, o Código Penal adota a teoria da ubiquidade (ou mista), que considera praticado o crime no local da ação
bem como no local do resultado (art. 6º). A teoria da atividade enunciada na lei material refere-se ao tempo do crime –
que se considera praticado ao tempo da ação (art. 4). Assim, a exceção relacionada aos crimes plurilocais não afasta
previsões do Código Penal, mas sim do Código de Processo Penal (art. 70, caput).

4) Se o agente é absolvido do crime doloso contra a vida, cessa a competência para julgar o crime conexo?
Excelência, a resposta à questão deve considerar o caráter bifásico do procedimento do tribunal do júri. Caso a
absolvição seja fruto de um juízo monocrático, alcançado pelo juiz togado em momento anterior à decisão de pronúncia,
os crimes conexos deverão ser analisados pelo juízo competente, cabendo ao juiz sumariante, caso não seja ele a
autoridade judiciária com atribuições para tanto, remeter os autos ao juízo respectivo (artigo 81, parágrafo único, do
CPP). Todavia, caso a absolvição decorra do pronunciamento dos jurados, ao cabo da segunda fase do procedimento
do júri, a competência para analisar os crimes conexos não é afetada, persistindo no Tribunal Popular.

5) Qual a competência para julgar o crime doloso contra a vida praticado contra deputado estadual?
A Constituição Federal equipara os parlamentares estaduais aos federais (art. 27, § 1º). Assim, os crimes cometidos por
aqueles deverão ser examinados pelo Tribunal de Justiça Local, ainda que não exista norma expressa nesse sentido na
Constituição do Estado-membro, por simetria ao modelo federal. Todavia, não há regra específica que atribua
competência a certo Tribunal quando a vítima do delito for Deputado Federal ou Senador. Assim, seguindo igual
caminho, o acusado da prática de crime doloso contra a vida de Deputado Estadual será julgado pelo Tribunal do Júri,
órgão de primeira instância.

6) Os juizados de violência doméstica têm competência para impor medidas protetivas em caso de violência em
relação homoafetiva?
Depende. Em verdade, a competência dos juizados de violência doméstica dependerá da presença de vítima do sexo
feminino, conforme preceitua a Lei 11.340/2006, batizada de “Lei Maria da Penha” (art. 1º e demais). Assim, preenchido
esse requisito, existirá a competência do juizado, independente da natureza da relação de afeto (homoafetiva ou
heterossexual). Dito de outa forma, é possível que seja infligida certa medida protetiva em prol de mulher participante de
uma relação íntima de afeto entabulada com outra mulher.
A questão muda de figura quando a relação homoafetiva tem como participantes pessoas do gênero masculino. Embora
já exista corrente doutrinária ampliativa, que preconiza a necessidade de se estender a proteção diferenciada para
pessoas “trans”, independente da realização da cirurgia de redesignação sexual ou demais providências registrais,
parece prevalecer a impossibilidade de resguardo à pessoa do gênero masculino. Portanto, nesse caso, o juizado de
violência doméstica não teria competência para determinar medidas protetivas.

7) No caso dos Juizados Especiais Criminais, havendo condenação a pena privativa de liberdade, quem tem
competência para execução dessa pena privativa de liberdade?
A intepretação sistemática da Lei 9.099/1995 revela que havendo condenação à pena privativa de liberdade, convertida
ou não em pena restritiva de direito, ou de multa cumulada com estas, cessará a competência dos Juizados na fase de
execução. Nesse sentido caminha a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que, diante do conteúdo do artigo 86

113
da Lei, apregoa ser da Justiça Comum a competência para a execução (BRASILEIRO. Legislação criminal especial
comentada. 6ª edição. pg. 447/448).

8) E se a condenação resultar na aplicação de uma pena de multa?


Em caso de condenação exclusivamente à pena de multa será adotado o critério do artigo 85 da Lei 9.099/1995. Assim,
a multa deverá ser paga diante da secretaria do juizado especial que a aplicou.
Todavia, entende-se que a previsão contida no mesmo dispositivo (art. 85) para o caso de não pagamento voluntário da
sanção pecuniária, determinando a conversão da pena de multa em privativa de liberdade ou restritiva de direitos, não
tem aplicação. No que toca à conversão da multa em pena privativa de liberdade, afirma-se que o dispositivo foi
derrogado pela lei 9.268 de 1996, que vedou essa cambialidade para as multas em geral. Quanto à conversão da multa
em pena restritiva de direito, observa-se que não há critério legal para tanto, o que torna inaplicável a disposição
cravada no dispositivo em comento. Nesse contexto, uma vez aplicada a pena de multa e não adimplida voluntariamente
pelo condenado, o caso será regido pelo Código Penal (art. 51), implicando na conversão da pena em dívida de valor e
avocando as regras relacionadas aos executivos fiscais.

GRUPO TEMÁTICO III

CIVIL - RACHEL

1) Pluriparentalidade. Comente essa decisão recente do STF, que foi dotada de repercussão geral.
A pluriparentalidade (dual partenity) consiste na possibilidade de uma única pessoa possuir mais de um pai ou mais de
uma mãe e usufruir integralmente dos direitos que decorrem de cada uma dessas relações. Dito de outra forma, na
pluriparentalidade duas ou mais pessoas ocupam a posição de pai/mãe em condomínio, excepcionando a tradicional
regra que implicava na unicidade de cada uma daquelas relações.
Em recente decisão o STF chancelou esse novo arranjo familiar, reconhecendo a uma pessoa a condição de filho de
dois pais diversos, tornando conciliável a situação decorrente do sangue com a que deflui da socioafetividade. Na
ocasião, a Corte Suprema assentou que, em casos tais, o filho poderá se beneficiar de todos os direitos decorrentes da
filiação em relação a ambos os pais, podendo, inclusive, suceder-lhes quando de suas mortes. O julgado buscou
amparo no princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da CF), norma que dá guarida a situações
existenciais antes impensáveis e que tutelam o ser humano e o seu direito de alcançar a felicidade.

2) No nosso Código, já existiu em algum momento o reconhecimento da socioafetividade? (a candidata


permaneceu em silêncio um tempinho e a examinadora refez a questão com outras palavras) Onde no código já
se sentia a presença da socioafetividade?
Sim. Na regulamentação do parentesco, o legislador civil já anunciava que este pode ser natural ou civil, caso decorra
de vínculos sanguíneos ou, no último caso, de outra origem (art. 1.593 do CC/02). Este termo aberto (“outra origem”)
permite que o direito legislado alcance arranjos familiares novos, de forma mais flexível, sendo a socioafetividade bom
exemplo de situação apta a se enquadrar nos seus termos.

3) Modalidades de parentesco: quais são?


De um modo geral, a doutrina afirma que existem 3 formas de parentesco: o natural, o registral e o que deflui da
socioafetividade. O parentesco natural decorre do vínculo genético, que liga as pessoas que descendem de um tronco
comum. O parentesco registral forma-se com base no registro, ligando entre si as pessoas que tem um laço
publicamente documentado. Por sua vez, fala-se em parentesco por socioafetividade quando o vínculo que une certas
pessoas decorre da vida em comum, da colaboração mútua, do trato com afeto, carinho e respeito que liga pessoas
pertencentes a um mesmo grupo.
114
Farias e Rosenvald, fazendo menção à classificação acima, afirmam que não há mais sentido em classificar o
parentesco, advertência que já fora feita por VILELA. Não obstante, o próprio código civil (art. 1.593) afirma que o
parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem.

4) O parentesco havido por reprodução assistida? Estaria incluído exatamente onde?


Depende do tipo de técnica adotada. Em suma, a reprodução assistida pode ser homóloga ou heteróloga. No primeiro
caso, o casal interessada no nascimento da criança doa o seu próprio material genético, o que acarretará entre eles e o
futuro filho um vínculo natural (decorrente da consanguinidade). Na segunda hipótese, a fecundação é fruto de uma
troca genética que envolve um dos pares, normalmente a mulher, e um terceiro, que apenas entrega sua carga genética
para viabilizar o nascimento da criança esperada, sem a pretensão de com ela manter qualquer tipo de vínculo. Nesse
caso, a criança será, inegavelmente, parente natural da mulher que a carregou no prazo da gestação. Por outro lado, o
vínculo com o pai é diverso, já que não há o elo genético entre eles, amoldando-se melhor ao rótulo do parentesco civil.
Frisa-se que há doutrina que chama a relação aqui descrita de parentesco tecnológico, dando ênfase ao papel da
ciência na concepção do ser nascente.

5) Qual seria o vínculo de parentesco entre o filho e o pai biológico doador de material genético em fecundação
heteróloga?
Em verdade, uma análise naturalista levaria à conclusão de que o fruto da fecundação heteróloga seria filho do doador
do material genético, sentença que também decorreria de uma leitura apressada do dispositivo civilista que cuida do
parentesco e suas fontes (art. 1.593 do CC). Todavia, o ordenamento jurídico optou por negar qualquer vínculo parental
entre ambos, prestigiando o vínculo registral sobre o vínculo biológico. Dito de outro modo, segundo o artigo 1.597 do
Código Civil vigente, o filho havido por inseminação artificial heteróloga estará ligado ao marido de sua mãe, e não do
homem responsável pela doação do material genético.
Cumpre frisar que mesmo para as hipóteses em que inexistir relação matrimonial, o fruto da técnica de reprodução
assistida continuará isento de qualquer parentesco com o doador (FIGUEIREDO).

6) O reconhecimento dos filhos é revogável?


Não. Segundo o direito legislado é impossível que aquele que outrora reconhecera certa pessoa como filho (a),
pautando-se em considerações a respeito da inconveniência deste ato – como arrependimento, por exemplo –
desconstitua a situação que com sua declaração fez surgir. Aliás, nem mesmo o reconhecimento feito em testamento é
revogável (arts. 1.609 e 1.610 do CC/02), subsistindo ainda que se retire tal negócio jurídico do mundo jurídico. Todavia,
o ato de reconhecimento pode ser anulado, se demonstrado que foi fruto de erro, dolo ou mesmo coação.

7) Se o reconhecimento for feito no testamento, e o testamento for revogado?


Como já consignado, ainda que o testamento venha a ser revogado, o reconhecimento do filho persistirá, conforme
proclama o artigo 1.610 do CC/02.

8) Poder familiar: conceitue.


O poder familiar é aquele que assiste aos pais, indistintamente, de criar, educar, ter em sua companhia, e praticar os
demais atos necessários ao sadio desenvolvimento dos filhos, enquanto menores. Como se pode ver, cuida-se de
poder-dever, com nítido caráter instrumental, já que se exerce em prol da pessoa dos filhos, que, independente do grau
de desenvolvimento, são dotados de dignidade e demandam a proteção parental.

9) Mas é um poder?
De certa forma, sim. De fato, os pais estão munidos de uma gama de possibilidades jurídicas que é necessária ao
cumprimento dos seus deveres familiares em relação aos filhos. Decidir a respeito da educação da criança, sua
115
formação religiosa, seu local de moradia, dentre tantas outras escolhas, pressupõe um poder para tanto. Contudo, deve-
se ter em mente que não se cuida de um poder que se encerra em si mesmo, mas que se volta ao desenvolvimento
pleno da prole, que se exerce não contra o filho, mas em seu proveito.

10) Quais críticas a doutrina faz a essa nomenclatura? A senhora poderia até fazer uma evolução histórica dessa
nomenclatura.
Critica-se a nomenclatura devido ao seu ranço autoritário, sugerindo que os detentores do tal “poder” teriam sob o seu
arbítrio a pessoa dos filhos. Esse fato se explica quando cotejado com o seu antecedente histórico, que tem em Roma,
no “pater familias” o seu ponto mais remoto. Àquela época, os filhos eram como meras propriedades da figura paterna,
que possuía ingerência absoluta sobre a sua vida, podendo inclusive dispor da sua existência, do seu corpo e de tudo
que lhe dissesse respeito.
Durante um longo hiato vigorou tal pensamento, sendo paulatinamente atenuadas as faculdades do chefe da família,
notadamente quanto às ingerências físicas a que poderia submeter seus filhos. De todo modo, até muito pouco tempo, a
figura do homem era soberana na direção da criação dos filhos, razão que levava ao uso da expressão “poder paterno”
ou “pátrio poder”. Também imperava uma visão sacralizada da família, que apenas era constituída pelo matrimônio.
Nesse diapasão, os filhos recebiam classificações diversas, conforme fossem nascidos da relação conjugal (legítimos)
ou não (ilegítimos). O movimento igualitário começou antes mesmo do advento da atual Constituição, com a edição de
da Lei 883/49 que permitiu o reconhecimento dos filhos ilegítimos, mesmo que adulterinos (espúrios). Com o advento da
Constituição de 1988, que conferiu especial proteção às crianças e aos adolescentes, bem como erigiu a dignidade da
pessoa humana como fundamento da República, a situação mereceu releitura, que também alcançou a igualdade na
direção dos rumos da família, agora atribuída ao homem e à mulher. O advento do “Estatuto da Criança e do
Adolescente” também potencializou a proteção diferenciada às crianças e aos adolescentes, que tiveram afirmada, em
sede infraconstitucional, a sua condição de pessoas dotadas de dignidade e merecedoras de consideração e respeito. O
novo código civil, e suas mudanças posteriores, também encamparam essa nova visão, substituindo a expressão poder
paterno por poder familiar.
Por fim, LÔBO também vê com ressalvas o termo “familiar”, já que passa a impressão de que outras pessoas da família
poderiam exercer as prerrogativas instrumentais que cabem, a princípio, apenas aos pais.

11) A doutrina caminha para que denominação? Que já é inclusive reconhecida em leis esparsas? Outra
denominação para o poder familiar. Nossa lei de alienação parental já essa referência. Cê lembra? (autoridade
parental)
A doutrina tende a utilizar a expressão “autoridade parental”, que demonstraria com mais clareza “a ideia constitucional
da prioridade absoluta e da proteção integral do menor, bem como a isonomia entre os genitores” (FIGUEIREDO E
FIGUEIREDO).

12) Por que seria “autoridade parental” um termo adequado? “Autoridade” e não “poder”?
Acredita-se que o termo poder carrega um traço de faculdade de agir que não encontra explicações racionais,
justificando-se pura e simplesmente em função de um status ostentado por certo indivíduo. Ademais, o termo invoca a
ideia, mormente no Direito Privado, de uma força que se opera sobre coisas, e não em prol de pessoas. Bom exemplo
disso colhe-se no “Direito das Coisas”, domínio em que o termo poder costuma ser empregado para nomear as posições
do titular sobre certo bem.
Autoridade (“auctoritas”), por sua vez, embora também avoque uma noção de poder, traz à tona um caráter ético, já que
depende das características pessoais de quem a detém, como nobreza de espírito, caráter, retidão, inteligência, etc.
Assim, a expressão demonstra que os pais deverão exercer seu dever-poder de forma adequada, visando sempre o
melhor interesse do filho.

116
PROCESSO CIVIL - ADRIANO CARDOSO DA SILVA

1) Diferencie sentenças liminares de decisões liminares, à luz das normas fundamentais do CPC.
As sentenças liminares são sentenças proferidas no início do processo, sem que o réu tenha exercido o seu direito ao
contraditório. No entanto, não há ofensa ao princípio contraditório, pois trata-se de situação em que o réu será
beneficiado, sendo o contraditório em tais situações inútil. Nesse sentido, o artigo 239, CPC, dispõe que para a validade
do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de improcedência liminar do
pedido.
Ademais, as sentenças liminares relacionam-se com o princípio da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF e
art. 4º, CPC) e da economia processual, na medida em que extinguem de forma antecipada um processo que seria de
qualquer forma julgado improcedente.
Como exemplo de sentenças limitares, cite-se a sentença de indeferimento da petição inicial (art. 330, CPC) e a
sentença de improcedência liminar do pedido).

Já as decisões liminares são decisões proferidas no início do processo ou de uma fase processual, sem a prévia oitiva
do réu ou executado, mas que não extinguem o processo (ao contrário do que ocorre com as sentenças liminares).
As decisões liminares se relacionam intimamente com a efetividade do processo.
Como exemplo, é possível citar as decisões a respeito de tutelas provisórias liminares (art. 300 e seguintes, CPC).

Fonte: anotações da aula de 2ª fase da Fundação

2) Faça uma concatenação de ambas com as normas fundamentais, principalmente o contraditório diferido.
O princípio do contraditório é previsto na Constituição Federal (art. 5º, LV) e no CPC (arts. 7º e 9º).
A sentença liminar não viola o princípio do contraditório porque é proferida a favor do réu, tratando-se de hipótese em
que o exercício do contraditório seria inútil.
Conforme ensina Daniel Amorim: “O NCPC, entretanto, e aqui de forma diferente do diploma legal revogado, cria uma
regra geral que consagra a dispensa do contraditório inútil. Nos termos do art. 9º, caput, NCPC, não se proferirá decisão
contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Ou seja, a exigência de oitiva prévia se dá exclusivamente
para a prolação de decisão contrária à parte, entendendo-se, a contrario sensu, que a decisão a seu favor poderá ser
proferida sem sua oitiva prévia. Trata-se, à evidência, do fundamento da dispensa do contraditório inútil: se a decisão irá
favorecer a parte não há qualquer necessidade de ouvi-la antes de sua prolação, servindo o dispositivo legal ora
analisado como regra geral a legitimar tal dispensa para qualquer situação”.
(Manual de Direito Processual Civil, Juspodium, 2016, p. 120)
Ressalte-se que o autor terá a oportunidade de exercer o contraditório a respeito da sentença liminar no momento em
que apelar, pois o recurso de apelação interposto contra tais sentenças é dotado de efeito regressivo, de modo que o
autor tem a possibilidade de influir na decisão do magistrado, que pode se retratar da decisão proferida.

Já com relação às decisões liminares, o contraditório é diferido, pois o art. 9º, CPC, expressamente autoriza que a
decisão seja proferida sem a oitiva das partes, que poderão se manifestar em momento posterior.
A adoção do contraditório diferido busca resguardar a efetividade da medida adotada, pois caso houvesse o
contraditório tradicional em tais situações, a ciência do réu poderia permitir a prática de atos processuais que levariam à
ineficácia da medida, ou então a demora para a citação do réu poderia tornar a medida ineficaz.

Fonte: anotações da aula do curso de 2ª fase da fundação.

117
3) Quais são os deveres do processo cooperativo ou comparticipativo? Eles envolvem quais sujeitos
processuais?
4) Quais são os deveres? 2 ou 3.
Pela redação do art. 6º, CPC, todos os sujeitos processuais devem colaborar entre si, de modo que os deveres do
processo cooperativo envolvem a colaboração das partes com o juiz, do juiz com as partes e das partes entre si.
A colaboração das partes com o juiz vem naturalmente de sua participação no processo, levando aos autos alegações e
provas que auxiliarão o juiz na formação do seu convencimento. Quanto mais ativa a parte na defesa de seus interesses
mais colaborará com o juiz, desde que atue com boa-fé.
A colaboração do juiz com as partes exige do juiz uma participação mais efetiva, entrosando-se com as partes de forma
que o resultado do processo seja o resultado dessa atuação conjunta de todos os sujeitos processuais. O juiz passa a
ser um integrante do debate que se estabelece na demanda, prestigiando esse debate entre todos, com a ideia central
de que, quanto mais cooperação houver entre os sujeitos processuais, a qualidade da prestação jurisdicional será
melhor.
A doutrina aponta 3 deveres do juiz na condução do processo, pautado no princípio da cooperação:
1) Dever de esclarecimento: consubstanciado na atividade do juiz de requerer às partes esclarecimentos
sobre suas alegações e pedidos, o que naturalmente evita a decretação de nulidades e a equivocada
interpretação do juiz a respeito de uma conduta assumida pela parte.
2) Dever se consultar: exigindo que o juiz sempre consulte as partes antes de proferir decisão, em tema já
tratado quanto ao conhecimento de matérias e questões de ofício.
3) Dever de prevenir: apontando às partes eventuais deficiências e permitindo suas devidas correções,
evitando-se assim a declaração de nulidade, dando-se ênfase ao processo como genuíno mecanismo de
proteção de direito material.

Fonte: Daniel Amorim, Manual de Direito Processual Civil, Juspodium, 2016, p. 145.

5) Como se dá o contraditório no processo civil constitucionalizado? Cite 3 momentos das normas


fundamentais em que esse contraditório se sobressai.
Tradicionalmente, o contraditório era compreendido de forma estática, sendo formado por dois elementos: informação e
reação.
No processo civil constitucionalizado, o contraditório passa a ser compreendido de forma dinâmica ou substancial,
abrangendo, também, o poder de influência das partes na formação do convencimento do juiz.
Nesse sentido, Daniel Amorim ensina: “Percebeu-se, muito por influência de estudos alemães sobre o tema, que o
conceito tradicional de contraditório, fundado no binômio “informação + possibilidade de reação” garantia tão somente no
aspecto formal a observação desse princípio. Para que seja substancialmente respeitado, não basta informar e permitir
a reação, mas exigir que essa reação no caso concreto tenha real poder de influenciar o juiz na formação do seu
convencimento. A reação deve ser apta a efetivamente influenciar o juiz na prolação de sua decisão, porque em caso
contrário o contraditório seria mais um princípio ‘para inglês ver’, sem grande significação prática. O ‘poder de influência’
passa a ser, portanto, o terceiro elemento do contraditório, tão essencial quanto os elementos da informação e da
reação” (Manual de Direito Processual Civil, Juspodium, 2016, p. 117).

Nas normas fundamentais trazidas pelo NCPC, é possível vislumbrar o contraditório substancial em 3 momentos:
O art. 8º prevê que incumbe ao juiz zelar pelo efetivo contraditório, deixando claro que o contraditório não pode
ser meramente formal, mas substancial e efetivo.
O art. 9º, com algumas ressalvas, estabelece que o contraditório deve ser prévio à decisão judicial, para que a
parte tenha a possibilidade de efetivamente influir naquela decisão.

118
O art. 10 veda as “decisões surpresa”. Ainda que possa decidir sobre o tema de ofício, o juiz não pode decidir
sem que tenha dado às partes oportunidade de se manifestar.

Pessoal, essa resposta não achei em livros. Juntei o que tinha no meu caderno da 2ª fase da fundação com o que vi
nesse artigo do Câmara: http://www.justificando.com/2015/04/17/o-novo-cpc-e-o-principio-do-contraditorio/
Se alguém souber uma resposta mais precisa, por favor se manifeste!

6) O descumprimento de normas fundamentais do NCPC que encontrem correspondência na CF viabiliza a


interposição de qual (is) recurso (s) e por quê? (“só pra te ajudar, não fique presa na ideia de recursos em geral, mas
sim em recursos especiais ‘lato sensu’”/ “pra te ajudar ainda mais, pense no descumprimento do art. 1 do NCPC”)

O descumprimento de normas fundamentais do NCPC que encontrem correspondência na CF viabiliza a interposição de


apelação, nos termos do art. 1009, CPC.
Além disso, caso a decisão tenha sido proferida em decisão interlocutória sobre tutela provisória, ou qualquer outra
matéria compreendida no rol do art. 1015, CPC, é cabível agravo de instrumento.
O recurso extraordinário, por sua vez, somente poderá ser manejado caso haja violação direta a dispositivos
constitucionais e que não exija a análise de dispositivos infraconstitucionais. Nesse sentido:
Ab initio, a jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de que a verificação de ofensa aos princípios da legalidade,
do livre acesso à justiça, do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório e da motivação das decisões
judiciais, bem como aos limites da coisa julgada, quando dependente do reexame prévio de normas
infraconstitucionais, revela ofensa indireta ou reflexa à Constituição Federal, o que, por si só, não desafia a
instância extraordinária. (STF, ARE 1.122.105 AgRg/2018)
STF, súmula 636: "Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a
sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida".

7) O que é princípio da legítima confiança e ele é um desdobramento de qual outro princípio?


De início, vale destacar que a CF não prevê expressamente o princípio da confiança, mas o art. 5º, §2º estabelece que o
rol de princípios é exemplificativo, admitindo-se outros decorrentes dos princípios dela decorrentes.

8) O princípio da proteção da confiança é desdobramento do princípio da segurança jurídica (é a dimensão


subjetiva do princípio da segurança jurídica). Trata-se é uma proteção do cidadão em face de quem exerce o poder.
As decisões judiciais podem constituir a base da confiança – a partir do momento em que os tribunais se manifestam em
um sentido, os indivíduos passam a se portar de acordo com o entendimento exteriorizado. Seria ilícito frustrar o cidadão
pela descontinuidade desmotivada da vigência daquela base.
Por isso, quando há entendimento jurisprudencial firmado, a sua modificação exige fundamentação, bem como a
modulação dos efeitos da alteração, para que o indivíduo não seja surpreendido.
Dispositivos do CPC: 926 – estabilidade da jurisprudência; 927, §§3º e 4º- prevê a possibilidade da modulação dos
efeitos e a necessidade de fundamentação adequada e específica; lei 9898/99, art. 27 – modulação dos efeitos nas
decisões de controle concentrado de constitucionalidade.
Fonte: aula de 2 fase do curso da fundação.

GRUPO TEMÁTICO IV

COLETIVO - CARLOS ALBERTO VALERA (SUPLENTE)

119
1) A atividade minerária é considerada de interesse público? B) Quais são as principais fases de um
empreendimento de mineração? Explique de forma sucinta.
A) A atividade minerária é considerada de interesse público, por ser atividade intimamente relacionada com o
desenvolvimento social e econômico, uma vez que os minerais são essenciais para a manutenção da qualidade de vida
atual.
Na Conferência Rio +10, realizada em Johannesburgo no ano de 2002, a mineração foi considerada como uma
atividade fundamental para o desenvolvimento econômico e social de muitos países, uma vez que os minerais são
essenciais para a manutenção da qualidade de vida atual.
Além disso, a mineração, ao lado da agricultura e do turismo, apresenta-se como um dos principais pilares da economia
brasileira, contribuindo de forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras
gerações, sendo fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade equânime, desde que seja operada com
responsabilidade social, estando sempre presentes os preceitos do desenvolvimento sustentável.
Fonte: Manual de Direito ambiental, Romeu Tomé, editora Juspodium, 4ª edição (2014), pág. 487.

Obs: Conceito mineração: A mineração consiste na atividade de extração de substancias minerais encontradas em
depósitos ou “jazidas” e de preparação destas substancias seja para consumo direto, ou como insumo de outros
processos industriais.
Além da extração de minérios, também pode ser considerado mineração a extração de petróleo, gás e água mineral,
que tem suas particularidades, como por exemplo, a utilização de poços.
A sociedade atual continua dependendo da mineração, seja para atender as demandas de produção de alimentos ou
para a construção de moradias, obras de infraestrutura, veículos e máquinas, seja para a produção de equipamentos
eletrônicos de alta tecnologia.
Fonte: apostila MPMG

B) Um empreendimento de mineração possui 4 fases distintas: i) pesquisa mineral; ii) implantação de mina; iii) operação
de mina; iv) desativação e fechamento.
A primeira fase é a da pesquisa mineral, que consiste na aquisição de conhecimento sobre a ocorrência mineral, de
forma a possibilitar as análises técnico – econômicas que indicarão se aquela ocorrência de fato é uma jazida, isto é, um
depósito contendo minério que possa ser aproveitado economicamente. Para a realização da pesquisa mineral, o
interessado deverá obter alvará do DNPM (departamento nacional da produção mineral), órgão gestor da mineração no
país. A solicitação deste alvará deve ser apresentada pelo interessado mediante descrição detalhada das atividades de
pesquisa a serem realizadas, com estimativa de custos e comprovação de capacidade financeira para realização da
mesma, devendo ainda conter anotação de responsabilidade técnica (ART) de profissional habilitado (geólogo ou
engenheiro de minas).
A parte inicial de uma pesquisa mineral é denominada de “prospecção mineral” consistente na identificação de um
potencial de ocorrência de minério, a parti de informações secundárias como mapas geológicos, levantamentos
geofísicos ou geoquímicos, ou informações de terceiros, de forma a identificar alvos nos quais serão requeridos a
autorização de pesquisa mineral.
A pesquisa mineral propriamente dita é feita de forma não interventiva (por meio de métodos indiretos, como pesquisa
de campo por geólogos e sobrevoo para utilização de sistemas de geofísica) e de forma interventiva (perfuração do solo
com utilização de sondas ou lavra experimental, por exemplo), sendo que nesta há necessidade de licenciamento
ambiental, em virtude do impacto ambiental gerado.
Ao final desta etapa, o interessado deve apresentar ao DNPM o “relatório final de pesquisa”, documento que comprova a
existência do jazimento mineral na área pesquisada, mas que ainda não comprova a viabilidade econômica da extração
deste minério. Somente no caso de aprovação deste relatório pelo DNPM, tendo sido comprovada a existência do
jazimento mineral, pode o interessado requerer a “concessão da lavra”, que é o direito de extrair aquele minério. As
120
empresas de mineração, com base nos resultados das campanhas de pesquisa mineral, analisam a viabilidade
econômica de um projeto de aproveitamento, ou explotação, do bem mineral.
Para obter a concessão de lavra, o interessado deve apresentar ao DNPM um “plano de aproveitamento econômico”
(PAE), documento que indica como se pretende realizar a lavra e o beneficiamento do minério encontrado, bem como
apresenta os investimentos necessários para esta operação e, principalmente, comprova que a mesma será lucrativa,
isto é, que existe viabilidade econômica na extração do minério.
Após a aprovação do PAE pelo DNPM, é requerido ao interessado que apresente a “licença de instalação” do
empreendimento pretendido, sem o que não poderá ser outorgada a “portaria de lavra” (não há concessão de lavra
antes do licenciamento ambiental).
Estando aprovado pelo DNPM o PAE, e tendo o empreendedor apresentado ao DNPM a licença de instalação do
empreendimento, concedida pelo órgão ambiental competente, é expedida a “concessão de lavra”, que permite ao
interessado iniciar a implantação da mina, que é a próxima etapa do empreendimento mineral.

A segunda fase é a da implantação da mina (também chamada de “desenvolvimento mineiro”).


As atividades de implantação podem depender de supressão de vegetação ou corte de solo e rochas, resultando em
impactos ambientais significativos sobre a fauna e a flora. Também é nessa etapa que podem ocorrer impactos sobre
sítios históricos e arqueológicos que porventura existam na área a ser afetada pelas obras de implantação.

Nessa etapa, geralmente, há mais mão de obra envolvida que a necessária para a etapa de operação, inclusive com a
implantação de canteiros de obras e alojamentos. Além disso, é nela que ocorrem os investimentos em obras e
aquisição de equipamentos, os quais devem ter sido previstos no PAE e são base de cálculo para a determinação do
valor total do investimento, valor este sobre o qual deve incidir a compensação ambiental prevista na Lei Federal
9985/00.
Sendo a etapa potencialmente mais impactante, é nela que se deveria concentrar uma fiscalização mais intensa e
constante por parte dos órgãos competentes. O principal aspecto a ser considerado é o cumprimento das
condicionantes de licenciamento e dos programas previstos nos planos de controle ambiental.
Ao final da etapa, tendo sido cumpridos e realizados os programas pertinentes, é requerida a licença de operação do
empreendimento.

A terceira fase é chamada de operação da mina ou fase da lavra, sendo caracterizada pela mineração propriamente
dita, ou seja, o aproveitamento do jazimento mineral e sua transformação em produto e riqueza.
Nessa etapa, que pode ser mais longa ou mais curta, a depender da produção prevista e do porte da reserva mineral,
também ocorrem impactos ambientais significativos, relacionados às atividades de extração de minerais, tais como
geração de poeira, alteração da paisagem, potencial contaminação das aguas etc.
Durante a operação da mina, é possível a descoberta de extensões do corpo de minério, bem como o aproveitamento
de parcelas antes consideradas não econômicas. Neste caso, o PAE deve ser revisado, e deve haver licenciamento
ambiental da expansão da mina, bem como do eventual aproveitamento de materiais antes não considerados
econômicos, que haviam sido depositados em separado.
Durante a operação da mina, a empresa está obrigada à apresentação de Relatório anual de lavra, informando a
quantidade de minério extraído. A extração do minério implica no pagamento de uma compensação financeira, através
da CFME (compensação financeira pela exploração de recursos minerais), que é distribuída da seguinte forma:
Município – 65%; Estado – 23%; União – 12%.
Também durante essa etapa, a empresa deve realizar a renovação periódica da licença de operação junto ao órgão
ambiental competente.

121
A quarta, e última, etapa é a da desativação e fechamento, também chamada, impropriamente, de
“descomissionamento”, devendo ser entendida como um processo que é planejado desde a etapa de estudo de
viabilidade do empreendimento (quando do seu licenciamento ambiental), devendo ser atualizado ao longo da vida útil
da mina e implantado progressivamente, sempre que possível.
O fechamento da mina deve estar previsto no PAE, conforme estabelecem as normas regulamentadoras do DNPM, e
também deve estar previsto nos programas ambientais que subsidiam o licenciamento do empreendimento.
A fase de desativação inclui atividades como desmontagem de estruturas, demolição de edifícios, recuperação de áreas
degradas e desmobilização do pessoal envolvido nas operações. Após a implementação de todas as medidas de
desativação, ocorre o fechamento da mina.
Quando o empreendimento é elemento importante da economia e da geração de empregos em um município, o
fechamento da mina deve incluir medidas para minimizar os efeitos negativos do mesmo sobre estes fatores, como, por
exemplo, planos de diversificação da economia municipal, que devem, evidentemente, ser desenvolvidos com a devida
antecedência.
Diferentemente das 3 etapas anteriores, a desativação e o fechamento de minas ainda não são claramente tratados no
ordenamento jurídico brasileiro.

Fonte: apostila MPMG


2) A atividade de mineração é passível de licenciamento ambiental? Por que e qual o fundamento legal ou
constitucional?
Sim, a mineração é passível de licenciamento ambiental, pois é atividade tipicamente degradadora do meio ambiente,
conforme reconhece a Constituição Federal, ao estabelecer, em seu artigo 225, §2º que aquele que explorar recursos
minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei.
Além disso, nos termos do art. 10 da Lei 6938/81, as atividades utilizadoras de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidoras, ou capazes de qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio
licenciamento ambiental.
Assim, a atividade de mineração deve ser precedida de licenciamento ambiental, nos termos dos arts. 225, §2º, CF e 10,
Lei 6938/81, por utilizar recursos ambientais, e por ser atividade potencialmente poluidora.

Vale ressaltar que o licenciamento ambiental dos empreendimentos minerários possui regramento distinto, conforme se
verifica nas resoluções CONAMA nº 09/90 e 10/90, e especificidades que devem ser observadas.
A primeira delas ocorre na verificação da própria viabilidade ambiental do empreendimento, que deve ser feita na
instrução do pedido de licença prévia. A viabilidade ambiental deve ser demonstrada por meio de EIA/RIMA, uma vez
que a mineração é atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, estando a extração de
minérios prevista no art. 2º, IX, da resolução CONAMA 01/86 como empreendimento em que há presunção absoluta de
significativo impacto ambiental.
Frise-se que o subsistema legal da mineração reforçou a necessidade do EIA como regra geral para estes
empreendimentos. Foi aberta apenas a possibilidade de uma exceção fundamentada para extração de minérios para
emprego imediato na construção civil sem beneficiamento (areia, cascalho, saibro), considerada um pouco menos
impactante. Nesse caso, o EIA pode ser substituído por um relatório de controle ambiental, desde que o órgão ambiental
fundamente essa decisão pela natureza, localização, porte e peculiaridades que garantam que aquele impacto
ambiental específico não é significativo (art. 3, resolução CONAMA nº 10/90 – trata da extração de minérios classe II).
Ademais, também é imprescindível para a viabilidade ambiental de uma mineração a apresentação e analise do plano
de recuperação da área degrada ou de plano de desativação/ fechamento da mina. Nos termos do art. 1º do decreto
federal 97.632/89, o PRAD deve ter sido submetido à aprovação do órgão ambiental competente quando da
apresentação de EIA, ou seja, na fase de licenciamento prévio do empreendimento.
122
A obrigação de apresentação do PRAD antes do início da instalação do empreendimento não pode ser vista como mera
formalidade. Com efeito, o órgão ambiental não pode permitir a instalação de qualquer empreendimento minerário sem
saber se e como é possível a recuperação do impacto a ser causado. Uma vez instalada a mina, sem garantias prévias,
o que restará à sociedade e ao meio ambiente após o esgotamento da jazida ou seu abandono será uma imensa cava
contaminada, acompanhada de uma lagoa ou pilha instável de rejeitos, sem perspectiva concreta de recuperação/
aproveitamento.
Caso seja instruído um procedimento de licenciamento sem avaliar a possibilidade de recuperação da área impactada,
sem determinar métodos concretos e materiais a serem empregados, sem estabelecer cronograma de atividades, sem
atentar se o empreendedor comprovou a capacidade financeira de adotar as providencias que forem necessárias, a
licença dele decorrente será nula.
Uma vez considerado viável o empreendimento, isto é, feito o diagnóstico da área a ser afetada e o prognóstico dos
impactos que serão causados, aprovado o PRAD e obtida a licença prévia, passa a ser função do órgão licenciador
estabelecer medidas de controle, prevenção, mitigação e compensação de impactos ambientais.

Fonte: apostila MPMG

3) A senhora sabe me dizer as fases de uma licença ambiental?


As licença ambiental possui 3 fases: licença prévia, licença de instalação e licença de operação.
Tais licenças são conceituadas no art. 8º da Resolução 237 do CONAMA:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua
localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a
serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações
constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo
cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes
determinados para a operação.
Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza,
características e fase do empreendimento ou atividade.

4) Em regra, as atividades de mineração exigem interferência de recursos hídricos, tais como rebaixamento de
lençol freático, etc. Essas intervenções exigem autorização, uma vez que a atividade é considerada de interesse
público. Qual a autorização devida? De quem é a competência? Qual a natureza jurídica?
No caso de interferência de recursos hídricos, como na hipótese de rebaixamento de lençol freático, devida é a outorga
de direitos de uso de recursos hídricos, nos termos do art. 12 da Lei 9433/97, que disciplina a Política Nacional de
Recursos Hídricos.
A outorga de recursos hídricos é prevista no artigo 11 da Lei 9.433/97, e tem como objetivos assegurar o controle
quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.
A competência para a outorga poderá ser do Poder Executivo Federal, Estadual ou Distrital, a depender da localização
dos recursos hídricos (art. 14, Lei 9433/97).
Nesse sentido, Roméu Thomé ensina: “A outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Executivo
Federal, dos Estados ou do Distrito Federal. De acordo com o art. 29, II da LPNRH, na implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos compete ao Poder Executivo Federal outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e
regulamentar e fiscalizar os usos, na sua esfera de competência. No mesmo sentido atribui ao Poder Executivo dos
Estados e do Distrito Federal a competência para outorga dos direitos de uso de recursos hídricos (art. 30, I da LPNRH).
123
Em relação à esfera federal, compete à Agência Nacional de Águas (ANA) outorgar, por intermédio de autorização, o
direito de uso de recursos hídricos. Já a outorga de direito de recursos hídricos em corpos de água de domínio dos
Estados fica a cargo do órgão ambiental estadual competente” (Manual de Direito Ambiental, ed. Juspodium,4ª edição,
2014, p.455).

A outorga tem natureza jurídica de ato administrativo, nos termos do art. 3º, II da Resolução CONAMA 65/06. Frise-se
que trata-se de ato de natureza precária, pois embora a outorga possua prazo determinado (e prazo máximo de 35
anos), ela pode ser suspensa ou revogada a qualquer tempo, conforme disposto no art. 15 da Lei 9433/97.

5) Como chama esse instrumento?


Outorga de direitos de uso de recursos hídricos – melhor explicado acima.

6) De quem é a competência? (a candidata respondeu da União).


Pode ser do Poder Executivo Federal, Estadual ou Distrital – melhor explicado acima.

7) Em todas as hipóteses?
Ver acima.
1- IGAM
?

8) A atividade de mineração, dada a rigidez locacional do depósito do minério, exige intervenção em áreas de
preservação permanente e até em áreas de Mata Atlântica. Se o empreendimento for de grande porte e promover
intervenções em áreas de preservação permanente, reservas legas e fragmentos de Mata Atlântica, o
procedimento estará sujeito a medidas compensatórias?
Sim.
De início, é necessário pontuar que a Constituição Federal estabelece que aquele que explorar recursos minerais fica
obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público
competente (art. 225, §2º).
Com relação às áreas de preservação permanente, a mineração é admitida pelo art. 8º da Lei 12651/12, que prevê a
possibilidade de supressão da vegetação de uma APP nos casos de utilidade pública, estando a atividade de mineração
compreendida no rol de atividades considerada como de utilidade pública (art. 3º, VIII, b, Lei 12651/12 e art. 2º, I, c,
Resolução CONAMA 369/06).
Em decorrência da imensurável relevância ambiental da vegetação das APPs, a resolução CONAMA estabelece uma
série de medidas mitigadoras e compensatórias (art. 5º) nos casos de supressão dessa vegetação, sendo aplicados,
ainda, nos casos das atividades minerárias, o princípio da reparação e a exigência do cumprimento do PRAD – Plano de
Recuperação da Área Degradada (Romeu Tomé, Manual de Direito Ambiental, ed. Juspodium, 4ª edição, 2014, pag.
517).

Com relação à reserva legal, o novo Código Florestal permite a exploração seletiva nas modalidades de manejo
sustentável, com propósito comercial, que depende de autorização do órgão competente e deve atender às seguintes
orientações: a) não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação nativa da área; b) assegurar a
manutenção da diversidade das espécies; c) conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que
favoreçam a regeneração de espécies nativas.
Os impactos ambientais das atividades minerárias não raras vezes mostram-se absolutamente incompatíveis com as
características preservacionistas da área de reserva legal, tornando-se praticamente impossível o manejo florestal

124
sustentável com objetivos de extração mineral, inviabilizando a atividade nessas áreas. (Romeu Tomé, Manual de
Direito Ambiental, ed. Juspodium, 4ª edição, 2014, pag. 517).
Contudo, caso a atividade minerária preencha os requisitos do manejo florestal sustentável, ela poderá ser admitida,
hipótese em que também deverá haver compensação ambiental, a ser definida pelo órgão competente.

Por fim, no que tange às áreas de vegetação da mata atlântica, a atividade minerária só é admitida nas áreas de
vegetação secundária em estágio avançado e médio de regeneração (não é permitida nas áreas de vegetação primária
– art. 14, Lei 11.428/06).
Nos termos da Lei 11.428/06, a supressão de mata atlântica para fins de atividades minerárias somente será admitida se
cumpridos os seguintes requisitos: a) licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de EIA/RIMA pelo
empreendedor; b) comprovação da inexistência de alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto; e c)
adoção de medida compensatória que inclua a recuperação de área equivalente à área do empreendimento, com as
mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica, e sempre que possível na mesma microbacia
hidrográfica, independentemente do pagamento de compensação ambiental prevista no art. 36 da Lei 9985/00.

9) Em caso positivo, quais são essas medidas? Quais seus fundamentos legais?
Com relação à APP as medidas compensatórias são previstas na resolução CONAMA 369:
Art. 5º: O órgão ambiental competente estabelecerá, previamente a emissão da autorização para a intervenção ou
supressão de vegetação em APP, as medidas ecológicas, de caráter mitigador e compensatório, previstas no § 4o , do
art. 4o , da Lei no 4.771, de 1965, que deverão ser adotadas pelo requerente.
§ 1o Para os empreendimentos e atividades sujeitos ao licenciamento ambiental, as
medidas ecológicas, de caráter mitigador e compensatório, previstas neste artigo, serão
definidas no âmbito do referido processo de licenciamento, sem prejuizo, quando for
o caso, do cumprimento das disposições do art. 36, da Lei no 9.985, de 18 de julho de
2000.
§ 2º: As medidas de caráter compensatório de que trata este artigo consistem na efetiva
recuperação ou recomposição de APP e deverão ocorrer na mesma sub-bacia hidrográfica, e prioritariamente:
I - na área de influência do empreendimento, ou
II - nas cabeceiras dos rios.

O art. 7, §8º também trata do assunto:


§ 8º: Além das medidas ecológicas, de caráter mitigador e compensatório, previstas no
art. 5º, desta Resolução, os titulares das atividades de pesquisa e extração de substancias minerais em APP ficam
igualmente obrigados a recuperar o ambiente degradado, nos termos do § 2o do art. 225 da Constituição e da legislação
vigente, sendo considerado obrigação de relevante interesse ambiental o cumprimento do Plano de Recuperação de
Área Degradada-PRAD.

Obs: a resolução se refere ao antigo código florestal, e o novo não prevê um rol de medidas compensatórias. Acredito
que essas medidas devam ser fixadas pelo órgão ambiental competente, seguindo as diretrizes da resolução CONAMA
369 (devem ocorrer na mesma sub-bacia hidrográfica, e prioritariamente na área de influência do empreendimento ou
nas cabeceiras dos rios).

Com relação à reserva legal, não encontrei um rol de medidas compensatórias. Acredito que em virtude do regime de
proteção da reserva legal, seja de difícil configuração prática a atividade de mineração em tais áreas. Caso ela ocorra,
entendo que o órgão ambiental competente deve fixar as medidas compensatórias (Colegas, essa não sabia a resposta
e tentei responder com base em um raciocínio indutivo. Não encontrei nos livros que pesquisei).
125
Com relação às áreas de vegetação de mata atlântica, o art. 32 da Lei 11.428/06 trata das medidas compensatórias,
estabelecendo que elas devem incluir a recuperação de área equivalente à área do empreendimento, com as mesmas
características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica e sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica. Além
disso, podem ser aplicadas as medidas compensatórias previstas no art. 36 da lei 9985/00.

Art. 32. A supressão de vegetação secundária em estágio avançado e médio de regeneração para fins de atividades
minerárias somente será admitida mediante:
I - licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de Estudo Prévio de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto
Ambiental - EIA/RIMA, pelo empreendedor, e desde que demonstrada a inexistência de alternativa técnica e locacional
ao empreendimento proposto;
II - adoção de medida compensatória que inclua a recuperação de área equivalente à área do empreendimento, com as
mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica e sempre que possível na mesma microbacia
hidrográfica, independentemente do disposto no art. 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000.

Obs: Reparem que tanto na APP como na Mata Atlântica, a compensação deve ser na mesma bacia hidrográfica!

2- (A senhora está se referindo à CONAM 269? Então é bacia hidrográfica).

PROCESSO COLETIVO - GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO

1) Há uma compreensão quase perfeita dos direitos difusos e coletivos. Mas há uma dificuldade na prática no
manejo conceitual dos direitos individuais homogêneos. Talvez pelo fato de serem acidentalmente e não
propriamente homogêneos. Há essa confusão não apenas no Judiciário, mas também no âmbito do MP. Dito
isso, a tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos é caracterizada por duas fases. A primeira (objeto da
ação), a conexão fica limitada ao núcleo de homogeneidade. Caso procedente essa primeira etapa, vem uma
segunda, em que a atividade cognitiva será complementada. Na segunda etapa, portanto, o juiz especifica a
margem de heterogeneidade. No que consiste o núcleo de homogeneidade e a margem de heterogeneidade?
Forte nas lições de Zanetti Jr. e Didier, pode-se conceituar o núcleo de homogeneidade como o espaço de comunhão de
questões fáticas e jurídicas dos membros do grupo, ou seja, dos titulares de direitos que tem uma origem comum.
Consiste justamente nessa similitude que permite ao Judiciário analisar de forma macroscópica a lide, podendo fixar
uma tese partilhável por todos aqueles que são titulares de um direito individual homogêneo.
Já a margem de heterogeneidade é formada pelas peculiaridades ínsitas a cada situação, se considerada sobre o
prisma individual. É o espaço do direito individual homogêneo que oscilará ao sabor da situação vivenciada por cada
membro do grupo e que, assim, deverá ser objeto de aferição na fase procedimental própria, a saber, a liquidação da
sentença coletiva.
permita-me interromper antes que vc desvie do foco)

2) “A senhorita esta mto bem preparada para este ponto, fico feliz.”
3) Outra característica é a existência de uma sentença genérica, que decorre dessa repartição. Nessa primeira
sentença, quais os elementos da demanda são apreciados e quais não são?
Na primeira sentença o julgador irá averiguar justamente os fatos que compõem o núcleo de homogeneidade do direito,
a razão de ser da tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos. Escapará ao exame do julgador, assim, aquilo que
transborda ao coletivo e integra a margem de heterogeneidade do direito coletivo (lato senso).
Mais especificamente, na fase inicial de conhecimento, caberá ao órgão julgador examinar se houve uma conduta ilícita
(em sentido amplo), se essa conduta gerou um dano à coletividade representada no processo, quem é o sujeito passivo
126
da relação, e qual a natureza da sua responsabilidade (fazer, não fazer, pagar), conforme julgado recentemente (06 de
dezembro de 2018) pelo STJ (RESP 1718535).
Vale dizer que o julgador não deve quantificar o dano a ser reparado, ao conhecer da lide coletiva. Perquirições acerca
do valor da obrigação e da titularidade individual da prestação refogem a essa primeira análise, devendo ser
entabuladas na fase de liquidação da sentença, conduzida pelo próprio interessado. Nesse ponto, estará em questão a
“margem de heterogeneidade”, já examinada em outro ponto deste questionário.

4) E quais elementos não são objeto dessa primeira decisão? (o examinador deu a oportunidade de a candidata
complementar a resposta, quando viu que ela tinha se esquecido de fornecer a resposta completa).
Não se examina a titularidade individual do crédito, tampouco o valor devido pelo sujeito passivo à coletividade lesada.
Essas questões, como já afirmado em “4”, devem ser compostas na fase procedimental seguinte, a liquidação da
sentença coletiva.

5) Com relação à legitimidade do MP, é correto afirmar que será ele autorizado a tutelar todo e qualquer direito
individual homogêneo?
Não é correto fazer essa afirmação. Prevalece na doutrina e na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que o
Ministério Público poderá tutelar os direitos individuais homogêneos indisponíveis ou aqueles que, embora disponíveis,
possuam uma relevante repercussão social. Essa orientação é condizente com o perfil constitucional da instituição, bem
traçado no artigo 127 da CR/88.
É de bom alvitre acentuar que há casos em que a repercussão social do direito individual homogêneo é presumida, a
exemplo do que acontece quando em jogo o Direito do Consumidor. Aliás, há recente súmula do Superior Tribunal de
Justiça nesse sentido (número 601).

6) A quem compete a identificação desse interesse social que impõe a atuação do MP com relação aos direitos
indivíduos homogêneos?
A averiguação desse interesse social será objeto de apreciação de atores distintos. Em um primeiro momento, caberá ao
órgão de execução do Ministério Público, no gozo da sua independência funcional, verificar se o conflito é passível de
ser patrocinado pelo Ministério Público. Se positiva a resposta, abrir-se-á à instituição diversas linhas de atuação para
solucionar o litígio (seja por meio de uma atuação resolutiva – preferencial – ou com uso da via jurisdicional). Optando-
se pelo ajuizamento da ação coletiva, é natural que a legitimidade do Ministério Público seja considerada pelo
magistrado, haja vista tratar-se de uma condição da ação, matéria de ordem pública passível de conhecimento ainda
que não provocado. Ademais, aferir-se a representatividade adequada do grupo substituído é fundamental ao bom
desempenho da prestação estatal, que vacilará conforme melhor esteja atendida a representação dos titulares da
relação jurídica de direito material.

7) Aponte uma hipótese em que o legislador atribuiu essa relevância social de modo a legitimar “a priori” o MP
para promoção de sua defesa.
Um bom exemplo seria a disposição contida no Estatuto do Idoso, cujo artigo 74, inciso I, proclama caber ao Ministério
Público a tutela dos direitos individuais homogêneos dos Idosos. Também seque esse caminho a Lei 8.069/1990, que
cuida da Criança e do Adolescente, também fixando, ab initio, a legitimidade do Parquet para propor a ação civil pública
em prol dos direitos individuais, difusos e coletivo (art. 201, inciso V) das destinatárias da proteção diferenciada
conferida pelo ECA.

8) A senhora se recorda de alguma outra?


Parece possível apontar a Lei Maria da Penha como outra hipótese em que a repercussão social é presumida e, assim,
apta a avocar a atuação ativa do Ministério Público (art. 37). De fato, ao legitimar-se o MP e as associações para a
127
defesa dos direitos transindividuais ali previstos, o legislador não fez qualquer concessão específica em torno dos
direitos individuais homogêneos das mulheres em situação de violência doméstica, cuja proteção tem nítida importância
social.

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DIA 6 - PONTO 4 – Renata Bolzan e Maikon

GRUPO TEMÁTICO I

CONSTITUCIONAL – ELAINE

1) Quais são os pressupostos para o clássico controle de constitucionalidade?


R. 1º) necessidade de uma Constituição Federal formal ou rígida (supremacia no ordenamento).
2º) Constituição Federal ser fundamento de validade para o resto do ordenamento.
3º) Existência de um órgão dotado de legitimidade para realizar o controle.
4º) Existência de uma sanção em virtude do descumprimento da Constituição Federal (invalidade da lei ou ato
normativo).
(Fonte: caderno Bernardo Gonçalves, curso forum).

2) Para que serve o controle?


R. O controle de constitucionalidade visa a garantir a supremacia e a defesa das normas constitucionais (explícitas ou
implícitas) frente a possíveis usurpações. Ele é entendido como a verificação de compatibilidade de leis ou atos
normativos em relação a uma Constituição, no que tange ao preenchimento de requisitos formais e materiais.
(Fonte: livro Bernardo Gonçalves)

3) Quais são as espécies de inconstitucionalidade indireta?


R. Inconstitucionalidade direta ou imediata - resulta da incompatibilidade direta e imediata de atos normativos em
relação à Constituição, não havendo qualquer outro tipo de intermediação normativa entre a norma inadequada e a
Constituição.
Inconstitucionalidade indireta ou mediata - há a inconstitucionalidade de uma norma intermediária entre o ato
normativo que se relaciona diretamente com a Constituição e a própria Constituição. Pode ser subdividida nas seguintes
espécies:
a) Inconstitucionalidade reflexa (ou por via oblíquoa) - consiste na incompatibilidade de uma norma infralegal (ex.
decreto ou resolução) com a lei a que o mesmo se relaciona e, por via reflexa ou mediata (indireta) com a própria
Constituição. Ex. Presidente da República expede decreto regulamentar que contraria a lei que ele pretendia dar fiel
execução. Esse decreto é ilegal e indiretamente inconstitucional. Obs. para o STF trata-se de ilegalidade e não de
inconstitucionalidade.
b) Inconstitucionalidade por arrastamento ou consequente - consiste na possibilidade do STF declarar a
inconstitucionalidade de uma norma objeto do pedido e também de outro ato normativo que não foi objeto do pedido em
virtude de correlação, conexão ou interdependência entre os mesmos. Trata-se de exceção ao princípio da adstrição.
Assim, a inconstitucionalidade desse ato normativo não decorre de sua incompatibilidade direta com a Constituição, mas
da inconstitucionalidade de outra norma que guarda relação de dependência com ele.

4) A inconstitucionalidade de uma lei pode ser declarada no bojo de uma reclamação?


R. A reclamação tem por finalidade a preservação da competência do Supremo Tribunal Federal ou a garantia da
autoridade de suas decisões, bem como o enfrentamento a ato administrativo ou decisão judicial que contrarie ou
aplique equivocadamente súmula vinculante (arts. 102, I, l, CF). Assim, ela não possui a finalidade de realizar o controle
de constitucionalidade, que possui ações próprias para tanto. No entanto, é possível que uma lei seja declarada
inconstitucional no bojo de uma reclamação, desde que trata-se de questão incidental e não principal do processo.

5) Em seu entendimento, o que vêm a ser os deveres constitucionais?


129
R. Os deveres constitucionais dizem respeito à participação ativa dos cidadãos na vida pública e implica em um
empenho solidário de todos na transformação das estruturas sociais. A Constituição Federal prevê vários deveres (de
natureza política, social, econômica, cultural, ambiental, etc) voltados para o Estado, os particulares e entidades sem
personalidade jurídica (ex. coletividade e família). Ex. dever de proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
(obrigação de toda a coletividade e do Estado), dever do Estado de prestar assistência jurídica gratuita, dever do
cidadão de alistamento eleitoral e de voto, dever de criminalização do Estado, etc.
Obs. há posicionamento doutrinário de que existem deveres constitucionais implícitos, pois a todo direito explícito
corresponderia um dever implícito decorrente do mesmo.

6) A senhora sabe me dar um exemplo de um dever dirigido aos cidadãos? “Além desse, me dá um outro
exemplo, porque este aí a senhora já colocou na segunda etapa de sua prova”.
R. a) Votar para escolher os governantes;
b) Cumprir as leis.
c) Respeitar os direitos sociais de outras pessoas.
d) Educar e proteger nossos semelhantes.
e) Proteger a natureza.
f) Proteger o patrimônio público e social do País.
g) Colaborar com as autoridades.

7) A senhora sabe a classificação dos deveres constitucionais? A senhora se lembra dessa classificação que a
doutrina faz? (candidata permaneceu em silêncio) Vou tentar ajudar: conexos, correlatos ou autônomos. A
senhora sabe me dar um exemplo de cada um deles?
R. Os deveres constitucionais ou fundamentais são classificados em:
a) deveres fundamentais conexos ou correlatos - tomam forma a partir dos direitos fundamentais aos quais se
encontram atrelados. Ex. Art. 225, CF - direito ao meio ambiente equilibrado gera o dever de proteção ao meio ambiente
por toda a sociedade (dever de solidariedade); art. 196 da CF - direito à saúde gera o dever de proteção à saúde.
b) deveres fundamentais autônomos - não se relacionam diretamente à conformação de nenhum direito fundamental.
Ex. deveres de pagar impostos, de prestar serviço militar, de colaborar na administração eleitoral, de votar para maiores
de 18 anos e menores de 70 anos.
Há doutrina que também os classifica em:
1) deveres de natureza defensiva (impõe comportamento negativo) e de natureza prestacional (impõe comportamento
positivo)
2) deveres expressos (previsão expressa na CF) e implícitos (não há consenso da doutrina sobre quais sejam).

8) Como se dá a designação do Promotor da Justiça para atuar no âmbito da Justiça Eleitoral?


R. O Ministério Público Eleitoral (MPE) não tem estrutura própria. Ele é composto por membros do Ministério Público
Federal e do Ministério Público Estadual.
O Promotor Eleitoral será o membro do Ministério Público local que oficie junto ao juízo incumbido do serviço eleitoral de
cada Zona. Na inexistência de Promotor que oficie perante a Zona Eleitoral, ou havendo impedimento ou recusa
justificada, o Chefe do Ministério Público local indicará ao Procurador Regional eleitoral o substituto a ser designado (art.
79, LC 75/93).
Os parâmetros de escolha dos membros dos Ministérios Públicos estaduais que atuarão nos processos eleitorais junto
aos juízes e juntas eleitorais foram definidos na Resolução n. 30/08 do CNMP. Segundo tal resolução:
a) a designação será feita por ato do Procurador Regional Eleitoral, com base em indicação do Chefe do Ministério
Público local;

130
b) a indicação recairá sobre o membro lotado em localidade integrante de zona eleitoral que por último houver exercido
a função eleitoral;
c) nas indicações e designações subsequentes, obedecer-se-á à ordem decrescente de antiguidade na titularidade da
função eleitoral, prevalecendo, em caso de empate, a antiguidade na zona eleitoral;
d) a designação será feita pelo prazo ininterrupto de 2 anos, admitindo a recondução apenas quando houver um
membro na circunscrição.

9) E o exercício dessas atribuições é vitalício? Qual é o prazo? É ininterrupto?


R. Não é vitalício. A designação será feita pelo prazo ininterrupto de 2 anos, admitindo a recondução apenas quando
houver um membro na circunscrição.

10) Suspende por férias?


R. Não. No prazo ininterrupto de 02 anos, já estão incluídos os períodos de férias, licenças e afastamentos.

ADMINISTRATIVO - FERNANDO RODRIGUES MARTINS

1) Qual a ciência mais antiga? A privatista ou a pública?


R. A ciência privatista é mais antiga do que a pública. O nascimento do Direito Administrativo está diretamente
relacionado com a consagração dos ideais da Revolução Francesa de 1789 e o surgimento do Estado de Direito. A partir
dos ideais liberais revolucionários da burguesia (separação de poderes, princípio da legalidade e Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão), o poder estatal é limitado e o Direito Administrativo é concebido, como ramo especial
do Direito, ao lado do Direito Privado. Origem: lei do 28 pluvioso de 1800 na França, que estabeleceu normas de
organização administrativa e de solução de litígios contra a Administração Pública. Caso Blanco (criança que foi
atropelada por vagonete da Companhia Nacional de Manufatura de Fumo, em que foi fixada a competência do Conselho
de Estado (jurisdição administrativa) para o julgamento da causa, em virtude da presença do serviço público no caso.
Obs. no período anterior não se concebia a existência do Direito Administrativo autônomo, pois o Estado era absolutista
("The king can do no wrong").

2) Conceitue ato administrativo. Sem te atrapalhar, tem um positivista brasileiro que diz que conceituar é pegar a
essência do objeto e extrair seu conceito. Eu quero a essência, o núcleo. “Manifestação de vontade unilateral da
Administração é o conceito correto”.
R. Ato administrativo é a manifestação unilateral da vontade da Administração Pública e de seus delegatários, no
exercício da função delegada, que, sob o regime de direito público, pretende produzir efeitos jurídicos com o objetivo
de implementar o interesse público.
Obs. Hely Lopes Meireles - "ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que,
agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou
impor obrigações aos administrados ou a si própria".
Obs. A exteriorização da vontade admnistrativa pode se dar por manifestações unilaterais (atos administrativos),
bilaterais (contratos da Administração) ou plurilaterais (consórcios e convênios).

3) O que seria um ato legislativo, um ato judicial e um ato administrativo? Poderia compará-los? A distinção
então se baseia em que critério?
R. No exercício geral da atividade pública, existem três categorias distintas de atos, cada qual sendo o ato típico de um
dos Poderes do Estado:
a) atos legislativos (elaboração de normas primárias);
b) atos judiciais (praticados no exercício da jurisdição); e
131
c) atos administrativos (a manifestação unilateral da vontade da Administração Pública e de seus delegatários, no
exercício da função delegada, que, sob o regime de direito público, pretende produzir efeitos jurídicos com o objetivo
de implementar o interesse público).
A distinção se dá em razão da atividade preponderante praticada pelo ente do poder público. Registra-se que o poder
legislativo e o judiciário também praticam atos administrativos no que tange às suas atividades de gestão interna, como
atos relativos à contratação de seu pessoal, à aquisição de material de consumo etc.

4) Qual é a diferença entre ato e fato administrativo?


R. Os atos administrativos, espécies de atos jurídicos, representam a vontade da Administração preordenada ao
atendimento da finalidade pública (ex. ato administrativo punitivo em PAD tem por objetivo punir o agente público). Já os
fatos administrativos são eventos materiais que podem repercutir no mundo jurídico (ex. falecimento de agente público
que acarreta a vacância do cargo). Em algumas hipóteses, os fatos representam simples acontecimentos materiais,
sem produção imediata de efeitos jurídicos (ex. construção de uma ponte).

5) O que são os atos existente, válido e eficaz? Parece q a lei não diz, mas a lei diz. O sujeito tem que ter
competência. O sujeito é, portanto, um dado de existência. Licitude é a qualidade do objeto, então ele existe. Se
prestarmos atenção, a existência sempre está no lado da validade. Como na língua portuguesa, do lado do
sujeito tem o predicado.
R. Como todo ato jurídico, o ato administrativo está sujeito a três planos lógicos distintos: Perfeição ou Existência,
Validade e Eficácia.
Ato perfeito ou existente - é o que completou o ciclo necessário à sua formação. Ele está revestido dos elementos e
pressupostos necessários para que possa ser considerado como ato administrativo. A perfeição do ato não diz respeito à
sua existência fática, mas sim à sua existência jurídica. Deste modo, um ato pode materialmente ser praticado
(existência fática), mas ser inexistente juridicamente por não atender a um ou mais requisitos necessários à sua
formação.
Ato válido - é o que foi expedido em absoluta conformidade com as exigências do sistema normativo. O plano de
validade do ato administrativo pressupõe que o ato seja perfeito, não se falando em ato válido ou inválido antes do
integral cumprimento do seu ciclo de formação. Prevalece que são pressupostos de validade do ato administrativo:
competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
Ato eficaz - é o que está apto para a produção de efeitos jurídicos. Ocorre a partir da publicação do ato na imprensa
oficial.
Obs. o ato administrativo pode ser:
a) perfeito, válido e eficaz - ato concluiu o seu ciclo de formação, com a presença de todos seus elementos, em
compatibilidade com a lei e apto para a produção dos efeitos típicos;
b) perfeito, inválido e eficaz - ato que concluiu o seu ciclo de formação e, apesar de violar o ordenamento jurídico,
produz seus efeitos (ex. contrato declarado nulo após 03 meses de execução);
c) perfeito, válido e ineficaz - ato que concluiu o seu ciclo de formação, em conformidade com o ordenamento jurídico,
mas que não possui aptidão para a produção de efeitos em razão da fixação de termo inicial ou de condição suspensiva,
bem como daqueles que dependem da manifestação de outro órgão controlador (ex. exoneração a pedido do servidor
com data futura);
d) perfeito, inválido e ineficaz - ato que concluiu o seu ciclo de formação, mas encontra-se em desconformidade com o
ordenamento jurídico e não possui aptidão para produção de efeitos jurídicos (ex. concurso público com exigências
inconstitucionais cujo resultado final ainda não foi homologado e publicado).

6) Quais são os requisitos do ato administrativo? Candidata pediu um minuto para responder “que isso, tá em
casa”.
132
R. Apesar de haver divergência, prevalece que são:
a) agente competente - o sujeito é o agente público que a legislação define como competente para o exercício de
determinada função administrativa. A competência é improrrogável (agente incompetente não se transforma em
competente) e irrenunciável (dever de exercer a função pública)
b) forma - é o revestimento externo do ato administrativo.
Forma em sentido estrito - é a forma pela qual o ato administrativo é instrumentalizado (ex. forma escrita).
Forma em sentido amplo - engloba o revestimento do ato e as formalidades que devem ser cumpridas para a
sua elaboração.
c) finalidade - é o resultado do ato (ex. a finalidade do ato que apreende medicamentos estragados é proteger a saúde
das pessoas). Relaciona-se com o atendimento do interesse público. É elemento vinculado do ato, visto que o interesse
público sempre será o fim mediato da atuação administrativa.
d) motivo - é a situação de fato ou de direito que justifica a edição do ato administrativo. É a causa do ato. Ex. a infração
funcional é o motivo que justifica a edição do ato administrativo punitivo.
Obs. motivo de fato - discricionário.
Motivo de direito - vinculado.
e) objeto - é o conteúdo do ato administrativo (ex. o conteúdo do ato que demite o servidor é punir aquele que cometeu
a infração funcional, rompendo o vínculo funcional com a Administração; o objeto da licença profissional é habilitar o
exercício de determinada profissão pelo interessado).
O objeto deve ser lícito (em conformidade com o ordenamento jurídico), possível (realizável concretamente) e moral (de
acordo com os padrões éticos e morais).
Objeto indeterminado - discricionário (a lei não define de maneira exaustiva o objeto do ato administrativo. Há margem
de discricionariedade. (ex. autorização para uso privativo de bem público, o administrador tem discricionariedade para
decidir a extensão da área, prazo, contrapartidas, etc).
Objeto determinado - vinculado. A lei delimita o conteúdo do ato administrativo (ex. licença para dirigir veículo
automotor).

7) Quais os atributos do ato administrativo?


R. São atributos do ato administrativo:
a) presunção de legitimidade e veracidade - os atos administrativos presumem-se editados conforme o ordenamento
jurídico (legitimidade), bem como as informações nele contidas presumem-se verdadeiras (veracidade). Essas
presunções são justificadas pelos princípios da legalidade, celeridade e supremacia do interesse público, bem como da
necessidade do preenchimento de formalidades para a prática do ato administrativo. A presunção é relativa. Principal
efeito da presunção de veracidade e da legitimidade dos atos administrativos é a inversão do ônus da prova e a
autoexecutoriedade dos atos administrativos. Não possuem essa presunção os atos privados da Administração, os atos
manifestamente ilegais e os atos que envolvam prova de fato negativo por parte do particular.
b) imperatividade ou coercibilidade - representam uma ordem emanada pela Administração Pública (obrigações de fazer
e de não fazer) que deve ser cumprida pelo administrado, em razão do princípio da juridicidade e da busca pelo
interesse público. Este atributo não está presente em todos os atos administrativos, como nos atos negociais
( permissões, licenças e autorizações) e atos enunciativos (pareceres, certidões, etc).
c) autoexecutoriedade - A Administração possui a prerrogativa de executar diretamente a sua vontade, inclusive com o
uso moderado da força, independente de manifestação do poder judiciário. Ex. demolição de obra clandestina,
requisição de bens em caso de iminente perigo público, interrupção de passeata violenta. Obs. doutrina majoritária aduz
ser necessária a existência de previsão legal ou de situação de emergência para a autoexecutoriedade.
d) tipicidade - o ato administrativo corresponde a uma figura determinada.

8) Pelo critério do conteúdo, como podemos classificar o ato administrativo?


133
R. Há autores que preferem sistematizar as espécies de atos administrativos em 2 grupos:
a) Quanto ao conteúdo (critério material) - o ato administrativo é classificado em: licença, permissão, autorização,
admissão, aprovação, homologação, visto, parecer, atos sancionatórios, etc.
b) Quanto à forma (critério formal) - decreto, portaria, alvará, resolução, circular, despacho, etc.

9) E quanto à formação? “Pode ficar tranquila, a senhora está indo bem.” A senhora me forneceu os
pressupostos e não a classificação. Simples, composto e complexo seria a classificação. A senhora sabe
discorrer sobre ela?
R. Quanto à formação, os atos administrativos classificam-se em:
a) atos simples - editados a partir da vontade de um único órgão público (ex. concessão de férias a servidor).
b) atos compostos - são formados pela manifestação de 2 órgãos: um que define o conteúdo do ato e outro que verifica
a sua legitimidade. A manifestação do segundo órgão é instrumental (ex. parecer que depende de visto da autoridade
superior para produzir efeitos).
c) atos complexos - são formados pela manifestação autônoma de vários órgãos, que concorrem para a formação de 1
único ato (ex. aposentadoria de servidor - manifestação da entidade administrativa e do T. Contas; nomeação de
ministro do STF - indicação do chefe do executivo e aprovação do SF).

GRUPO TEMÁTICO II

PENAL - ANDRÉ UBALDINO


EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

1) Quais são as causas que impedem inicialmente ou supervenientemente ao início da sua contagem o cômputo
dos prazos prescricionais?
Impedimento é a causa que obsta o início do curso da prescrição. De seu turno, na suspensão esse acontecimento
desponta durante o trâmite do prazo prescricional, travando momentaneamente sua fluência. Superado o entrave, a
prescrição volta a correr normalmente, nela se computando o período anterior.
As causas impeditivas da prescrição previstas no Código Penal estão reguladas no art. 116:

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do
crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o
tempo em que o condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A primeira hipótese trata de questão prejudicial ainda não resolvida em outro processo. Questão prejudicial é aquela que
influencia na tipicidade da conduta, é dizer, é aquela cuja solução é fundamental para a existência do crime e,
consequentemente, para o mérito da ação penal. As questões prejudiciais estão previstas nos arts. 92 (relativas ao
estado civil das pessoas) e 93 (relativas a questões diversas) do CPP.
Na questão prejudicial relativa ao estado civil das pessoas a prescrição será obrigatoriamente suspensa. Em relação às
questões prejudiciais diversas, a suspensão do processo é facultativa, mas, se o juiz por ela optar, também estará
suspensa a prescrição.

134
A segunda hipótese se justifica em razão da dificuldade em se conseguir a extradição de pessoa que cumpre pena no
exterior. Em respeito à soberania do outro país, aguarda-se a integral satisfação da sanção penal no estrangeiro, para,
posteriormente, ser o agente punido no Brasil.
Além do casos previstos no CP, são causas impeditivas e suspensivas da prescrição: a) suspensão condicional do
processo; b) art. 366 do CPP; c) citação de acusado no estrangeiro por carta rogatória; d) suspensão parlamentar do
processo (art. 53, §§ 3 a 5, da CF).
FONTE: Cleber Masson.

2) Dentre as causas que a senhora se recorda, a senhora citou a prejudicial absoluta (...) Isso despertou em mim
uma curiosidade: isso atinge só a prejudicial absoluta ou também a prejudicial relativa?
Na questão prejudicial relativa ao estado civil das pessoas a prescrição será obrigatoriamente suspensa. Em relação às
questões prejudiciais diversas, a suspensão do processo é facultativa, mas, se o juiz por ela optar, também estará
suspensa a prescrição.
FONTE: Cleber Masson.

3) A morte do agente produz a extinção da punibilidade. Há algum caso em que a morte da vítima extinga a
punibilidade do agente?
É considerada perempta, além das hipóteses legais, a ação penal com a morte do querelante na ação penal privada
personalíssima. O único exemplo vigente é possível no crime tipificado pelo art. 236 do CP (induzimento a erro essencial
e ocultação de impedimento).
FONTE: Cleber Masson.

4) Só observo que na primeira hipótese, o que na verdade causa a extinção é a circunstância de que após a
morte da vítima não comparece alguém. Então neste caso ocorre a perempção. Mas o segundo caso q vc narrou
é exatamente a hipótese que eu pedi.
Não houve pergunta.

5) Quais as causas extintivas da punibilidade advindas após o trânsito em julgado da sentença afastam todos os
efeitos penais do crime?
As causas de extinção da punibilidade que atingem a pretensão punitiva eliminam todos os efeitos penais de eventual
sentença condenatória já proferida. Destarte, esse ato judicial não serve como pressuposto da reincidência, nem pode
ser utilizado como título executivo judicial na área cível.
Por sua vez, as causas extintivas que afetam a pretensão executória, salvo nas hipóteses de abolitio criminis e anistia,
apagam unicamente o efeito principal da condenação, é dizer a pena. Subsistem os efeitos secundários da sentença
condenatória: pressuposto da reincidência e constituição de título executivo judicial no campo cível.

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:


I - pela morte do agente; (alcança todos os efeitos penais).
II - pela anistia (alcança todos os efeitos penais), graça (alcança apenas a pena) ou indulto (alcança apenas a
pena);
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; (alcança todos os efeitos penais)
IV - pela prescrição (PPP: alcança todos os efeitos da pena; PPE: alcança apenas a pena), decadência (alcança
todos os efeitos penais) ou perempção (alcança todos os efeitos penais);
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; (alcança todos os
efeitos penais)
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; (alcança todos os efeitos penais)
135
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. (alcança todos os efeitos penais)
FONTE: Cleber Masson

6) Marcos iniciais da contagem dos prazos prescricionais. Qual é o mais recentemente inserido na legislação
brasileira?

Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final


Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se
tornou conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação
especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a
ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012)
Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível
Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão
condicional da pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Como visto, o marco inicial de contagem de prazo prescricional mais recente inserido na legislação brasileira é o contido
no art. 111, V, do CP, o qual preconiza que “nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos
neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já
houver sido proposta a ação penal”.

7) Em que se inspirou essa mudança legislativa? (o examinador fez essa pergunta já adiantando que
provavelmente a candidata não saberia responder, “porque ninguém sabe”. Foi inspirada em uma norma do
direito do trabalho, uma vez que nele o marco se dá no momento em eu cessa a relação de emprego.)
De acordo com o examinador, a mudança legislativa foi inspirada em norma oriunda do direito do trabalho, em que há
prazo extintivo cujo termo inicial se dá ao tempo em que cessa a relação de emprego.

8) A retratação da retração em se tratando do direito de representação, é eficaz?


A primeira corrente, adotada pelo STJ, defende a possibilidade do desfazimento da retratação, desde que feito dentro do
prazo decadencial que o ofendido possuía para oferecê-la, a saber, seis meses, a contar da em que o ofendido vier a
saber a identidade de seu ofensor.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A HONRA. INJÚRIA. DOLO
ESPECÍFICO. DEMONSTRADO. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ.

136
RECONSIDERAÇÃO DA RETRATAÇÃO DENTRO DO PRAZO DECADENCIAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA N.
83 DO STJ.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Verifica-se que o Tribunal de origem fixou a premissa da inexistência de provas tanto em relação à conduta
delituosa do procurador da República quanto ao dolo específico, por parte dos jornalistas, em ofender a honra dos
recorrentes.
2. Assim, modificar o posicionamento da Corte local demandaria irremediavelmente o reexame da moldura fático-
probatória dos autos, o que é vedado nesta via especial ante a Súmula n. 7 do STJ.
3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça afirma que é admitida a retratação da retratação, desde que
seja feita dentro do prazo decadencial. Precedentes. Súmula n. 83 do STJ.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 561.919/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 30/03/2017,
DJe 07/04/2017)

Segunda corrente, minoritária, sustenta haver entre a retratação do ofendido e o instituto da renúncia semelhança
suficiente para investir o ato de retratar do poder de extinguir a punibilidade do agente ofensor de forma definitiva,
implicando, por conseguinte, a extinção definitiva do feito, formando, ainda, coisa julgada material.

PROCESSO PENAL - ROGÉRIO FILIPPETTO

1) MP tem legitimidade para propor a ação civil “ex delicto“?


O texto do CPP diz que sim: Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a
execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério
Público.
O STF, contudo, entendeu que, a partir da Constituição Federal de 1988, esta legitimidade não mais pertence ao
Ministério Público (e sim à Defensoria Pública). Isso porque o constituinte conferiu à Defensoria (e não ao MP) a
competência para promover a assistência jurídica dos necessitados (art. 134 da CF/88).Havia, no entanto, um problema
de ordem prática: quando o STF proferiu esta decisão, a Defensoria Pública ainda não estava totalmente instalada nas
diversas cidades do país. Logo, seria prejudicial às vítimas se o STF simplesmente proibisse o MP de propor a ação civil
ex delicto já que, na maioria dos lugares não havia Defensoria e o ofendido ficaria desassistido.
Por conta disso, o STF adotou a seguinte solução: ele declarou que o art. 68 do CPP estava em PROCESSO DE
INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA e que deveria continuar válido até que a Defensoria Pública estivesse
totalmente instalada. Assim, nos locais onde há Defensoria Pública, o MP não pode ajuizar as ações de que trata o art.
68. Por outro lado, onde não existir a Defensoria, o Parquet continua tendo, ainda, legitimidade.
Fonte: CICLOS

2) É possível falar em interesse de agir no processo penal?


O interesse de agir consiste na necessidade de bater às portas do judiciário, utilizando um provimento adequado e
almejando um resultando útil à situação do agente. Facetas:
(1) Interesse necessidade – segundo Pacelli, a necessidade é presumida, já que a sanção penal pressupõe o
devido processo legal a imposição jurisdicional. A exceção ao interesse necessidade é encontrada no Estatuto do Índio,
onde a sanção pode ser imposta pelo Chefe Tribal.
(2) Interesse adequação – nas ações de viés condenatório, o interesse adequação não tem relevância, já que a
ação penal tem um pedido genérico de aplicação de sanção e perfil único. ADVERTÊNCIA: nas ações não
condenatórias a adequação ganha destaque, notadamente na seleção entre HC e MS, já que o primeiro é inadequado
quando inexistir risco, mesmo que remoto, à liberdade de locomoção.
137
(3) Interesse utilidade: possibilidade de atendimento da pretensão acusatória, com a esperança, mesmo que
remota, da aplicação de sanção. Obs.: Prescrição virtual/hipotética/em perspectiva – segundo a Procuradoria Geral de
Justiça do MP/SP, deve o Promotor antes de oferecer a denúncia virtualizar qual será a provável pena aplicável numa
futura sentença condenatória. Se ele concluir que pela pena concreta ocorrerá prescrição retroativa (em face de
verdadeira hipótese idealizada por ele) é sinal que a ação é inútil, faltando interesse de agir e, ao invés, de denúncia
deve ser requerido o arquivamento do inquérito. Não se trata de arquivamento por causa extintiva de punibilidade, e sim
de interesse de agir.
Fonte: CICLOS

3) Os princípios da obrigatoriedade e da indisponibilidade regem a ação penal pública?


Sim. Princípio da obrigatoriedade ou compulsoriedade: o exercício da ação pública é dever funcional inerente à atividade
do MP. Obs.: princípio da obrigatoriedade mitigada ou princípio da discricionariedade regrada (nomenclaturas de
Tourinho Filho): ele se apresenta por intermédio do instituto da: transação penal, acordo de leniência, colaboração
premiada, TAC.
Princípio da indisponibilidade ou indesistibilidade: o MP não pode desistir da ação deflagrada nem do recurso interposto,
já que o recurso é desdobramento do direito de ação (arts. 42 e 576 do CPP). Obs.: Com a CF/88 o MP passou a ser
fiscal da justa aplicação da lei. De acordo com o direcionamento constitucional, nada impede o Promotor de requerer a
absolvição, recorrer em favor do réu, ou, até mesmo, impetrar HC em favor dele, o que não significa desistência da
ação.

Obs.: Princípio da indisponibilidade mitigada - Segundo Tourinho Filho ele se apresenta por meio da suspensão
condicional do processo, permitindo a paralisação do feito, pelo período de 2 a 4 anos, e se todas as obrigações forem
cumpridas, operar-se-á a extinção da punibilidade. Art. 89 da Lei 9099/95 – crimes com pena mínima até um ano.
Fonte: CICLOS

4) Delação ou colaboração? Há diferença?


Para parcela da doutrina, a nomenclatura "colaboração premiada" é mais ampla, devendo ser considerada como um
gênero, do qual uma das suas espécies é a delação premiada. A delação premiada ocorre quando o investigado ou
acusado colabora com as autoridades delatando os comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas que também
praticaram as infrações penais, também é denominada de “chamamento de corréu”. Assim, toda delação premiada é
uma forma de colaboração premiada, mas nem sempre a colaboração premiada será feita por meio de uma delação
premiada.
Fonte: CICLOS

5) Diante do modelo de cooperação, é possível o MP após a sentença condenatória, celebrar acordo de


colaboração premiada e desistir do recurso já interposto? O recurso pode ser objeto de transação (ainda não se
iniciou a execução)?
Não encontrei a resposta no livro do examinador.
Na internet, encontrei artigo de Paulo Rangel no sentido de que é possível desistir do recurso já interposto. Segundo o
autor, o processo penal brasileiro contemporâneo caminha no sentido de adotar o princípio da oportunidade, como
demonstram institutos como a transação penal, a suspensão condicional do processo, o acordo de não persecução
penal (Resolução 181 do CNMP) e, especialmente, a colaboração premiada, em particular, o acordo de imunidade
formalizado entre o MP e o colaborador, previstos para os mais graves delitos cometidos por organizações criminosas
(Lei n° 12.850/2013).
Logo, eu acredito que a resposta segue na direção de que quem pode o mais (deixar de denunciar), pode também o
menos (desistir do recurso).
138
6) Na colaboração premiada o MP pode se comprometer a não pedir a decretação da prisão preventiva ou pedir
a sua revogação?
Também não encontrei resposta no livro do examinador.
Todavia há julgado do STF em que se entendeu, obter dictum, que a Lei 12.850/13 não prevê a revogação da prisão
preventiva como benefício pela colaboração premiada. Segue trecho retirado do site do STF:
“O relator enfatizou que a Lei 12.850/2013 (que define organização criminosa e trata da colaboração premiada) não
apresenta a revogação da prisão preventiva como benefício previsto pela realização de acordo de colaboração
premiada, tampouco há na norma previsão de que, em decorrência do descumprimento do acordo, seja restabelecida
prisão preventiva anteriormente revogada”. HC 138207.

7) O assistente exercita a ação penal adesiva?


De acordo com Nestor Távora, a ação adesiva se caracteriza pela formação de um litisconsórcio ativo facultativo entre o
MP e o querelante, havendo conexão entre um crime de ação pública e outro de inciativa privada. Ex. tentativa de
homicídio (MP) e injúria (querelante de forma adesiva).
Já consoante Tourinho, a ação adesiva é a possibilidade da discussão dos interesses patrimoniais da vítima no âmbito
da ação criminal. A matéria ganhou destaque com a possibilidade do juiz na sentença condenatória fixar o mínimo de
indenização pelos danos causados pelo delito. (art. 387, IV, CPP - IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido).
Assim, considerando-se o conceito de ação penal adesiva de Tourinho, o assistente de acusação pode exercita-
la.

GRUPO TEMÁTICO III

CIVIL - RACHEL
INCAPACIDADE CIVIL

1) Discorra sobre a nova teoria das incapacidades.


R. O CC/02 aduzia que eram absolutamente incapazes: a) os menores de dezesseis anos; b) os que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; c) os que,
mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
No entanto, com o advento da Lei n.13.146/15 (Estatuto das Pessoas Com Deficiência), houve uma modificação no
CC/02, de modo que apenas os menores de 16 anos são considerados absolutamente incapazes. Assim, a pessoa
com deficiência não deve mais ser considerada civilmente incapaz.
O Estatuto das Pessoas com Deficiência pretendeu, em consonância com o princípio da dignidade da pessoa
humana, fazer com que a pessoa com deficiência deixasse de ser “rotulada” como incapaz, para ser considerada —
em uma perspectiva constitucional isonômica — dotada de plena capacidade legal, ainda que haja a necessidade de
adoção de institutos assistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e, extraordinariamente, a curatela,
para a prática de atos na vida civil (negociais e patrimoniais).
O Estatuto das Pessoas Com Deficiência também alterou o dispositivo legal do CC/02 que tratava dos
relativamente incapazes. Destarte, atualmente são relativamente incapazes: a) os maiores de dezesseis e menores
de dezoito anos; b) os ébrios habituais e os viciados em tóxico; c) aqueles que, por causa transitória ou permanente,
não puderem exprimir sua vontade; d) os pródigos.
Assim, o Estatuto converteu as pessoas que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua
vontade, de absolutamente incapazes para relativamente incapazes. Assim, a proteção jurídica dessas pessoas se
139
dará através da assistência, e não mais da representação.

2) Hoje um portador de Alzheimer num caso bem grave, que não pode exprimir sua vontade, é absolutamente
capaz?
R. Não, o CC, na redação alterada pelo Estatuto da Pessoa Com Deficiência prevê que quando a pessoa não
puder exprimir a sua vontade, por causa transitória ou permanente, ela será considerada relativamente incapaz.

3) Qual é a medida judicial adequada para a declaração dessa incapacidade relativa?


R. A medida judicial adequada é a curatela, consoante o CC e o CPC. Com a entrada em vigor do Estatuto da
Pessoa com Deficiência não há mais que se falar em interdição, eis que haverá uma curatela específica, para a
prática de determinados atos, relacionados aos direitos de natureza negocial e patrimonial.

4) Essa antinomia entre o CC e o CPC deve ser resolvida no caso em concreto levando-se em consideração o
quê?
Ao entrar em vigor o CPC/15 revogou os artigos do Código Civil que tratavam da legitimidade para requerer a
curatela trazidos pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, em que possibilitava legitimidade para a própria pessoa. Para
a maioria da doutrina, essa antinomia de normas, deverá levar em consideração a interpretação sistêmica e o que se
apresentar melhor para a pessoa com deficiência. Assim, o magistrado deverá, no caso concreto, verificar se a pessoa
com deficiência tem legitimidade para requerer a sua própria curatela.

5) A vontade desses absolutamente incapazes pode ter relevância jurídica?


O Código Civil dispõe que é nulo o ato praticado pelo absolutamente incapaz. Contudo, parte da doutrina afirma
que para se consideral alguém incapaz, não basta ele estar no rol da incapacidade formal do Código Civil. É essencial
a incapacidade sob o aspecto material, ou seja, que a pessoa, no caso concreto efetivamente necessite da tutela
estatal. Assim, a incapacidade de fato seria a soma da incapacidade formal com a incapacidade material. Logo,
apenas se presentes esses dois requisitos, poder-se-ia a pessoa ser considerada incapaz de manifestar a sua
vontade. Desse modo, é possível considerar válido e eficaz um ato ou negócio jurídico realizado por qualquer
incapaz, ainda que, no plano concreto ele não esteja representado ou assistido, em prol da valorização da vontade da
pessoa e em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana quando ausente a incapacidade material.
Ex. criança de 06 anos de idade compra um salgado na lanchonete da escola, a sua manifestação de vontade tem
relevância jurídica, pois, apesar de presente a incapacidade formal, está ausente a incapacidade material, não
havendo a necessidade da proteção da criança pelo Estado.
No entanto, parte da doutrina defende no caso supra a existência do ato-fato jurídico, que trata-se de um fato
jurídico qualificado pela atuação humana. É uma criação doutrinária cujo objetivo é reconhecer a validade e a eficácia
de alguns atos que não passariam na análise dos requisitos do negócio jurídico. Porém nesta espécie de fato jurídico
há o desprezo da vontade do incapaz, com a atribuição da relevância para o resultado ou para a consequência
jurídica.
25) A emancipação afasta a aplicação do ECA?
Não. A doutrina defende que a emancipação cessa a incapacidade civil, mas não antecipa a maioridade. O CC
prevê que a maioridade cessa aos 18 anos completos, não havendo a influência de eventual emancipação. Como o
ECA visa a proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes, entendido estes como as pessoas maiores de 12 e
menores de 18 anos, ele é aplicado para as pessoas emancipadas.
Nesse sentido é o Enunciado 530 da VI Jornada de Direito Civil: A emancipação, por si só, não elide a incidência
do Estatuto da Criança e do Adolescente.

PROCESSO CIVIL ADRIANO CARDOSO DA SILVA


140
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E EXECUÇÃO.

1) Comente sobre a cláusula geral de atipicidade dos meios executivos, do art. 139, IV (leu o artigo para
candidata quando ela demonstrou dificuldade pra responder)
O CPC prevê medidas de execução direta e indireta. Dentre as indiretas, o artigo 139, IV do CPC previu a cláusula
geral de atipicidade dos meios executivos. Desse modo, é possível que o juiz imponha medidas atípicas, a fim de
exercer coerção psicológica sobre o executado para o cumprimento da obrigação em prol dos princípios da
efetividade da execução e da economicidade processual. Em razão disto, vários juízos começaram a determinar a
apreensão de passaporte e de carteira de motorista. Sobre o tema, o STJ decidiu que é ilegal e arbitrária a medida
coercitiva de retenção de passaporte em decisão não fundamentada que não observou o princípio do
contraditório. Além do mais a medida era desproporcional, diante do valor da dívida. Ou seja, o STJ não decidiu
pela impossibilidade de retenção de passaporte como medida coercitiva, mas que, no caso em concreto, tal medida
era desproporcional. Quanto à apreensão da CNH, o STJ decidiu ser ela possível, pois não há limitação na liberdade
de locomoção. Contudo, deve ser analisado o caso concreto, à luz dos princípios da legalidade, proporcionalidade,
razoabilidade e dignidade da pessoa humana.

2) Na sua avaliação, seria uma carta branca ao juiz, então?


Não se trata de carta branca ao juiz, pois o juiz deve fundamentar a sua decisão, a qual deve estar em
consonância com os parâmetros previstos no artigo 8º do CPC, e notadamente com os princípios da
proporcionalidade, razoabilidade, menor onerosidade e da dignidade da pessoa humana.

3) Quais as novidades do NCPC com relação aos meios coercitivos na execução?


Foi instituída a cláusula geral de atipicidade dos meios executivos, o protesto da decisão transitada em julgado
quando não cumprida a obrigação no prazo legal, a inclusão do nome do devedor nos cadastros de inadimplentes, a
penhora de faturamento da empresa devedora, a fixação de astreintes em obrigação de pagar. Registra-se que vários
desses meios coercitivos eram adotados pela jurisprudência sob a égide do CPC/73.

4) Diferencie a multa com caráter punitivo da multa coercitiva. A qual caso se aplica uma e outra e a quem são
destinadas.
A multa coercitiva ou astreintes consiste em um meio coercitivo, de caráter patrimonial, destinado ao devedor para
que ele cumpra o mandamento jurisdicional e satisfaça a obrigação. Trata-se de um meio de execução indireta. Caso
o devedor não cumpra a obrigação, incidirá a multa coercitiva em favor do credor. Os Tribunais Superiores afirmam
que ela não possui caráter punitivo ou indenizatório.
Já a multa punitiva, se divide em compensatória e moratória, e oriunda de infrações prevista na lei ou em contrato.
Ela é destinada para a parte que cumpriu com a sua obrigação. A doutrina e a jurisprudência majoritárias entendem
que elas podem ser cumuladas, inexistindo "bis in idem", haja vista que possuem natureza jurídica distinta.

5) Quais as hipóteses e qual o meio para flexibilização da coisa julgada na execução?


O CPC/15 prevê expressamente a relativização da coisa julgada material em razão da coisa julgada
inconstitucional (inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação), que pode ser alegada por impugnação,
que terá eficácia rescisória. A doutrina defende que também pode ser usada a ação rescisória e a ação declaração
autônoma.
Outra possibilidade é a coisa julgada injusta inconstitucional, que não tem expressa previsão legal, mas vem sendo
adotada pelos Tribunais Superiores. Ela coocrre quando a sentença de mérito transitada em julgado causar uma
extrema injustiça, com ofensa clara e direta a preceitos e valores constitucionais fundamentais. Ex. sentença que
nega a paternidade por ausência de provas. É possível, relativizá-la e fazer o exame de DNA.
141
6) Quais os requisitos para o início do procedimento de execução provisória de cumprimento da sentença? A
caução é sempre exigível ou é uma discricionariedade do magistrado? Para facilitar, qual a natureza da
caução?
São requisitos:
a) recurso desprovido de efeito suspensivo;
b) petição com cópia da decisão exequenda, das procurações dos advogados, da decisão de habilitação se houver e
outras peças que entender-se pertinentes, além da certidão de interposição de recurso sem efeito suspensivo.
A caução é exigível para atos de levantamento de dinheiro, transferência de posse, alienação de propriedade ou
de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado. Ela é arbitrada de plano pelo juiz e prestada
nos próprios autos.
A caução pode ser dispensada nos casos de:
a) crédito de natureza alimentar, independente da origem;
b) o credor demonstrar situação de necessidade;
c) pendência de julgamento de Agravo no Resp/Rext;
d) a sentença exequenda esstiver em consonância com súmula da jurisprudência do STF ou do STJ ou em
conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos.
Nessas hipóteses de dispensa de caução, o devedor pode requerer a sua manutenção quando a dispensa
puder resultar manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação.
A doutrina diverge acerca da natureza jurídica da caução na execução porovisória:
1 C) garantia legal - exigida independente de qualquer requisito.
2 C) natureza cautelar - deve-se demonstrar "periculum in mora"e fumus boni iuris".

GRUPO TEMÁTICO IV

COLETIVO - JOAQUIM
IDOSOS

1) Qual a fonte na lei e quais os objetivos da política nacional dos idosos?


A Lei n. 8.842/94 dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências.
Nos termos do art. 1º da citada lei, a política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso,
criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.

2) Enumere alguns princípios da política nacional dos idosos.


Os princípios da política nacional dos idosos estão estabelecidos no art. 4º da Lei n. 8.842/94, e são: I - a família, a
sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à
sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer
discriminação de qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a
serem efetivadas através desta política; V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as
contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade
em geral, na aplicação desta lei.

3) Há política do idoso na cidade em que você trabalha? Há um protagonismo do idoso? Existe uma autonomia
do idoso? Ou ele é representado na maioria das vezes?
4) Seria importante que eles tivessem voz?
142
5) Caso concreto. Município x. com 50mil habitantes. Não existe ali instituição de longa permanência pra idoso,
e se utiliza de instituições filantrópicas para esta finalidade. Só que essas entidades não têm alvará sanitário,
não cumprem as exigências necessárias para seu regular funcionamento. Como promotora da comarca, qual
seria a sua ação em relação a esta situação?
De acordo com o art. 48 do Estatuto do Idoso, as entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das
próprias unidades, observadas as normas de planejamento e execução emanadas do órgão competente da Política
Nacional do Idoso, conforme a Lei no 8.842, de 1994. As entidades devem observar, dentre outros requisitos, a oferta de
instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança. Nessa perspectiva,
cabe ao Ministério Público exercer a fiscalização das entidades de atendimento e diligenciar no sentido da regularização
da situação. Caso descumpridas as obrigações legais, é possível, após representação ministerial e devido processo,
aplicar as seguintes sanções, de acordo com o caso concreto: a) advertência; b) multa; c) suspensão parcial ou total do
repasse de verbas públicas; d) interdição de unidade ou suspensão de programa; e) proibição de atendimento a idosos
a bem do interesse público.

6) Quem financia essa regularização?


Como já informado na questão anterior, as entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias
unidades. Logo, as próprias entidades devem financiar a regularização.

7) Situação bastante comum em MG: aparece na sua investigação que essa mesma instituição filantrópica não é
atendida pelo programa de saúde da família. Qual seria sua atitude neste caso?
Considerando que é função institucional do MP zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia (art.
129, II, da CF); que a saúde é direito social constitucionalmente reconhecido e que são de relevância pública as ações e
serviços de saúde (arts. 6º e 197, da CF), como promotor de justiça expediria recomendação administrativa para que o
Poder Público providenciasse o atendimento pelo programa de saúde da família à instituição filantrópica. Caso a
recomendação não fosse eficaz, proporia ação civil pública com a mesma finalidade, em defesa dos direitos
indisponíveis dos idosos abrigados na entidade.

8) Em relação ao direito à acessibilidade, o que faz e o que deve fazer a promotoria do idoso?
A promotoria do idoso, em relação à acessibilidade, deve diligenciar junto aos poderes públicos e à sociedade,
administrativa e judicialmente, a fim de assegurar condições de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de
espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus
sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de
uso coletivo.

PROCESSO COLETIVO - GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO


AÇÃO POPULAR

1) A ação popular foi o primeiro instrumento sistema brasileiro que regulamentou de forma autônoma os direitos
transindividuais. A CF 88 ampliou de certa forma o espectro de situações em que ela é cabível. Inciso 73 do art.
5 traz, todavia, uma peculiaridade, diz que “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
(...)”. A CF utiliza a expressão “anular ato lesivo”. Fica parecendo que somente se anula algo que existe. E se o
ato sequer for praticado/exteriorizado? É cabível a ação popular ou o cidadão fica tolhido da propositura desta
ação? Qual a natureza desta ação? (inafastabilidade da jurisdição é a resposta correta)
O objeto da ação popular tem previsão nos artigos 5º, LXXIII da CF e art. 1º, §§1º e 2º da LAP. Com efeito, não há
previsão expressa na LAP acerca da possibilidade de propositura de ação preventiva. Contudo, a doutrina entende que
143
a ação popular visa à tutela preventiva (inibitória ou de remoção do ilícito) e reparatória dos seguintes bens e direitos
difusos: i. Patrimônio público (envolve a Administração direta, indireta e qualquer instituição que recebe recurso público);
ii. Moralidade administrativa; iii. Meio ambiente e; iv. Patrimônio histórico cultural. Logo, com fundamento, sobretudo, na
inafastabilidade da jurisdição, é adequada a ação popular ajuizada em caráter preventivo.
Fonte: João Paulo Lordelo (Manual Prático de Processo Coletivo).

2) Qual a natureza da sentença de provimento de uma ação popular?


Necessariamente, toda ação popular tem que ter a natureza DESCONSTITUTIVA, mas poderá ter também natureza
CONDENATÓRIA, executiva ou mandamental. O art. 11 da LAP estabelece que “A sentença que, julgando procedente a
ação popular, decretar a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis
pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de dano,
quando incorrerem em culpa.
Registre-se que, na ação popular, o juiz poderá condenar ao pagamento de perdas e danos os responsáveis, ainda que
não exista pedido do autor para tal condenação. Há, pois, evidente mitigação do princípio da congruência.
Fonte: João Paulo Lordelo (Manual Prático de Processo Coletivo).

3) Princípio processual básico que estabelece que a sentença deve ficar adstrita aos limites do pedido, sob pena
de nulidade. Qual?
O princípio da congruência (ou adstrição) consta do art. 492 do CPC/2015: “É vedado ao juiz proferir decisão de
natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi
demandado.”
O princípio da congruência trata de uma proibição ao magistrado. Não poderá o juiz conceder nada a mais (ultra petita)
ou diferente do que foi pedido (extra petita). Assim, como não poderá fundamentar-se em causa de pedir diferente da
narrada pelo autor; caso não seja observado esse princípio a sentença será considerada nula.
Existem exceções, previstas em Lei, ao princípio da congruência. 1) Pedidos implícitos: o magistrado poderá conceder o
que não foi demando pelo autor; 2) Fungibilidade: o magistrado poderá conceder tutela diferente da requerida nas ações
possessórias e cautelares; 3) Demandas cujo objetivo é uma obrigação de fazer ou não fazer: o magistrado poderá
conceder tutela diversa; 4) O Supremo Tribunal Federal também admite o afastamento do princípio da congruência ao
declarar inconstitucionalidade de uma norma, em atenção a pedido formulado pelo autor, todavia, utilizando-se de
fundamentos diferentes daqueles que foram suscitados.

4) A lei de ação popular contém um dispositivo que excepciona essa proibição de julgamento “extra petita”. A
senhorita poderia me dizer qual é essa hipótese? (REPOSTA: art. 11)
Art. 11: “A sentença que, julgando procedente a ação popular, decretar a invalidade do ato impugnado, condenará ao
pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva
contra os funcionários causadores de dano, quando incorrerem em culpa.

5) Em face da ampliação de objetos que a CF trouxe, hoje há uma área comum de tutela entre a ação popular e a
ação civil pública. Suponha que foi proposta ação civil pública pela senhora em defesa do patrimônio público, e
uma semana depois um cidadão ingresse com uma ação popular com base nos mesmos elementos de fato e de
direito, mesma causa de pedir e pedido idêntico. Qual seria seu parecer? (RESPOSTA: há que se decretar a
litispendência).
No sistema brasileiro, o que define a relação entre demandas é a TEORIA DA TRÍPLICE IDENTIDADE (partes, pedido e
causa de pedir). Contudo, no processo coletivo, prevalece a italiana TEORIA DA IDENTIDADE DA RELAÇÃO JURÍDICA
MATERIAL. Para essa teoria, o que distingue as ações é a relação jurídica, o direito material discutido. Assim, se o

144
cidadão e o Ministério Público ajuízam duas ações coletivas com o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, há
litispendência, ainda que os legitimados sejam distintos. A rigor, a parte autora é a mesma: a coletividade.
Fonte: João Paulo Lordelo (Manual Prático de Processo Coletivo).

6) A ação popular, assim como a ação civil pública, tem um sistema próprio quanto à extensão subjetiva da
coisa julgada, dependendo do resultado da demanda. O que seria este sistema e no que ele consiste?
(RESPOSTA: art. 18 da lei de ação popular)
O regime jurídico da coisa julgada é visualizado a partir da análise de três dados: (i) limites objetivos – o que se submete
a seus efeitos; (ii) limites subjetivos – quem se submete à ela e; (iii)
modo de produção – como ela se forma.
No âmbito do processo INDIVIDUAL, o regime jurídico da coisa julgada é assim definido quanto aos limites subjetivos: A
coisa julgada produz efeitos INTRA PARTES. A regra está no art. 506 do NCPC.
Já no processo coletivo, a coisa julgada encontrará outros limites subjetivos. A coisa julgada será erga omnes ou ultra
partes (pois atinge terceiros), mas jamais intra partes (não poderá jamais beneficiar apenas as partes envolvidas).
Ademais, quanto ao modo de produção a coisa julgada, em regra, é secundum eventum probationis, com transporte
secundum eventum litis (in utilibus).
DIA 7 – PONTO 7 – Renata Valladão e Sophia

GRUPO TEMÁTICO I

CONSTITUCIONAL - ELAINE MARTINS PARISE


DIREITOS FUNDAMENTAIS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

1) Direitos fundamentais e garantias constitucionais são expressões sinônimas?


(fonte: Pedro Lenza)
As duas expressões compõem o título II da CRFB (dos Direitos e Garantias Fundamentais). É preciso, no entanto,
distingui-las.
Os direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional. Segundo Rui Barbosa, são disposições
meramente declaratórias, que imprimem existência legal a direitos reconhecimentos. Já as garantias são os
instrumentos através dos quais se assegura o exercício dos aludidos direitos (preventivamente) ou prontamente os
repara, caso violados. Rui Barbosa as qualifica como disposições assecuratórias, que atuam em defesa de direitos.

(fonte: Barroso)
Direito (do ponto de vista subjetivo) é a possibilidade de exercer poderes ou de exigir condutas. Garantias são
instituições, condições materiais ou procedimentos colocados à disposição dos titulares dos direitos para promovê-los ou
resguardá-los.

2) Os direitos fundamentais estão previstos unicamente no art. 5 da CF?


Não. O catálogo de direitos e garantias fundamentais, previsto no Título II da CRFB, abarca os direitos individuais (art.
5º), coletivos (também no art. 5º), sociais (arts. 6º a 11), à nacionalidade (art. 12) e políticos (arts. 14 a 17). Além disso,
conforme reconhece abalizada doutrina, bem como o STF, existem os chamados direitos fundamentais heterotópicos,
previstos em dispositivos esparsos no texto constitucional, a exemplo de outros direitos sociais (arts. 193 e ss) e dos
direitos solidários (arts. 3º e 225).
Lenza enfatiza, ainda, que os direitos e garantias previstos na CRFB (art. 5º e demais dispositivos destacados acima)
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que o
Brasil seja parte, conforme disposto no parágrafo 2º do art. 5º.
145
3) O STF já reconheceu que outro art. da CF também é direito fundamental?Sim. Exemplos extraídos da publicação
“A Constituição e o Supremo” (site oficial do STF):

● Art. 170, CR: direito fundamental de exercício de atividade econômica ou profissional lícita [RE 550.769, rel.

min. Joaquim Barbosa, j. 22-5-2013, P, DJE de 3-4-2014.]

● Art. 93, X, CR: direito fundamental do cidadão, em especial na qualidade de jurisdicionado, o de conhecer a

motivação das decisões judiciais [RE 575.144, voto do rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 11-12-2008, P, DJE de 20-2-
2009, Tema 50.]

● Art. 150, IV, CR: direito fundamental do contribuinte de não confisco. [ADI 4.628, rel. min. Luiz Fux, j. 17-9-2014,

P, DJE de 24-11-2014.]

● Art. 216, CR: direito fundamental de proteção jurídica do patrimônio cultural brasileiro [ACO 1.966 AgR, rel. min.

Luiz Fux, j. 17-11-2017, P, DJE de 27-11-2017.]

● Art. 225, CR. direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado [ADI 4.066, rel. min. Rosa

Weber, j. 24-8-2017, P, DJE de 7-3-2018.

(obs: para a Dra. Nívia Mônica, um direito é fundamental conforme seja essencial à afirmação da autonomia privada e
pública do cidadão. Por isso, não se restringe aos direitos individuais e sociais
4) Em seu entendimento, seria possível afirmar que o direito ao governo honesto é um direito fundamental?
Obs: a tese de mestrado da examinadora Elaine Parise é intitulada “Direito fundamental ao governo probo: a
transparência dos atos administrativos e a efetiva participação popular na Administração Pública”.
Sim, a CR consagra a ‘boa administração’ – o que pressupõe governo probo, honesto – como um direito fundamental.
No Brasil, reconhecidamente um Estado Democrático de Direito, impõe-se ao administrador a promoção do bem comum
a que alude o art. 3º, IV, da CR/88 e o dever de observar os princípios da moralidade, impessoalidade, eficiência e
probidade, todos previstos na Carta Magna, conferindo-se, assim, aos cidadãos o direito subjetivo de exigirem a
probidade e a lisura da Administração, uma vez que, segundo o art. 1º, parágrafo único, da mesma Carta, o poder
emana do povo e em seu nome será exercido (BRASIL, 1988). [...] Nesse viés, o direito à boa administração deixa de
ser apenas dever do agente público e se torna direito público subjetivo do cidadão. (excerto extraído do prefácio do livro
da examinadora do concurso 2017).
Isso porque, “a malversação do patrimônio público fere a concepção deontológica (dever-ser) de um direito fundamental
e importa na desapropriação violenta e lesiva de uma coletividade. É, em suma, a desafetação coletiva e despótica do
que é singularmente inapropriável” (trecho extraído do livro do examinador do concurso 2017, Fernando Martins).
Esse direito fundamental abriga outros direitos, a saber:
a) direito à administração pública transparente (princípio da publicidade), salvo exceções constitucionais;
b) direito à administração pública dialógica, com as garantias do contraditório e da ampla defesa, o que implica o dever
de motivação consistente e proporcional;
c) direito à administração pública imparcial, isto é, que não pratica a discriminação negativa;
d) direito à administração pública proba, o que deva condutas éticas não universalizáveis;
e) direito à administração pública respeitadora da legalidade temperada e sem ‘absolutização’ irrefletida das regras;
(obs: ideia de reinterpretação do princípio da legalidade a partir do fenômeno da constitucionalização do Direito
Administrativo, com a relativização da vinculação positiva do administrador à lei, e abertura à noção de princípio da
juridicidade: vinculação à lei e ao Direito)
f) direito à administração pública eficiente e eficaz, além de econômica e teleologicamente responsável.

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Nesse sentido, Juarez Freitas:
[...] direito fundamental à boa Administração Pública, que pode ser assim compreendido: trata-se do direito fundamental
à administração pública eficiente e eficaz, proporcional cumpridora de seus deveres, com transparência, motivação,
imparcialidade e respeito à moralidade, à participação social e à plena responsabilidade por suas condutas omissivas e
comissivas. A tal direito corresponde o dever de a administração pública observar, nas relações administrativas, a
convergência da totalidade dos princípios constitucionais que a regem. (FREITAS, Juarez. Discricionariedade
administrativa e o direito fundamental à boa administração pública. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 22)

Em outra publicação (artigo “Políticas Públicas, Avaliação de Impactos e o Direito Fundamental à Boa Administração”),
Juarez Freitas enfatiza o papel desse direito fundamental:
Cabe ao direito fundamental à boa administração o papel de norte das escolhas administrativas, com observância
mandatória das prioridades constitucionais, escrutináveis nos seus efeitos diretos e colaterais.
(…)
O direito à boa administração vincula racionalmente o gestor público e o força a medir consequências
sistêmicas de suas opções, pois terá de justificá-las coerentemente, sobretudo em seu custo-efetividade. Examinado
mais de perto, o direito fundamental é autêntico complexo de direitos, regras e princípios, encartados numa
verdadeira síntese, que serve de antídoto contra o arbítrio (por ação ou por omissão). (disponível em
file:///D:/ESTUDOS.%20MPMG/ORAL/ARTIGOS%20NOVOS%20ORAL/GT%204/juarez%20freitas%20direito
%20fundamental%20%C3%A0%20boa%20administra%C3%A7%C3%A3o.pdf

5) O que se entende por dimensão objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais?


Dimensão subjetiva (ou clássica) refere-se à noção de direitos subjetivos atribuídos ao indivíduo como pessoa.
Corresponde, no aspecto negativo, ao direito de resistir à intervenção estatal (liberdades) e, no aspecto positivo, ao
direito de exigir do Estado uma prestação/ação estatal (direitos sociais).
Já a dimensão objetiva é a força jurídica objetiva dos direitos fundamentais; independe dos titulares do direito, dos
sujeitos do direito. Compreende o conjunto de valores, de conteúdos normativos, que transcende a perspectiva subjetiva
e projeta por todo o ordenamento. Essa dimensão objetiva oferece critérios de controle da ação estatal,
independentemente de intervenções/violações de direitos fundamentais de determinada pessoa.

Cabe salientar que a dimensão objetiva possui 03 aspectos:


1. Os Direitos Fundamentais envolvem também deveres de proteção. Relaciona-se com a proporcionalidade como
proibição da proteção deficiente. Manifesta-se quando, nos deveres de proteção, é feito menos do que se deveria fazer.
O STF, no caso da Lei Maria da Penha, entendeu que o artigo que dispunha que, em caso de lesão corporal leve, a
ação penal seria condicionada à representação da vítima, violava a Constituição no aspecto em que impunha deveres
de proteção às mulheres.
2. Eficácia irradiante dos direitos fundamentais. Os direitos fundamentais fornecem impulsos e diretrizes para a
aplicação e interpretação do direito infraconstitucional, obrigando a uma espécie de interpretação conforme os direitos
fundamentais. A eficácia irrradiante tem relação com a “interpretação conforme a Constituição”; é um plus da
interpretação conforme. Conforme Daniel Sarmento, a eficácia irradiante dos direitos fundamentais manifesta-se,
sobretudo, em relação à interpretação e aplicação das cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados constantes
da legislação infraconstitucional, a exemplo dos conceitos de boa-fé, ordem pública, interesse público etc, o que
proporciona a extensão dos direitos fundamentais para o âmbito das relações privadas.
3. Procedimentos e Instituições (função organizatória e procedimental – Ingo Sarlet). Aqui a preocupação é consagrar
mecanismos que permitam que os direitos saiam do papel para a realidade. Importante que esses procedimentos sejam
adequados. Exemplo: para garantir o acesso à Justiça, é necessário que haja um Ministério Público aparelhado e cujos
membros sejam dotados de autonomia.
147
6) Caso prático 1. Em determinado concurso em que a realização de prova de aptidão física tem caráter
eliminatório, um candidato, alegando estar momentaneamente incapacitado em razão de estar com problema de
cotovelo, requereu comparecer em data diversa daquela prevista no edital, na qual os demais candidatos seriam
a ela submetidos. A Administração Pública indeferiu esse requerimento, ao argumento que a realização da prova
em data diversa feriria o princípio da isonomia. Em seu entendimento, a decisão mostrou-se correta ou
incorreta?
A decisão mostrou-se correta e alinhada à jurisprudência do STF e do STJ, no sentido de ser consentânea com o
princípio da isonomia a vedação (prevista no edital do concurso) de remarcação de etapa de concurso em razão de
circunstâncias pessoais do candidato.
A decisão da Administração Pública, ademais, concretizou os princípios da impessoalidade e da supremacia do
interesse público.

Recurso extraordinário. 2. Remarcação de teste de aptidão física em concurso público em razão de problema
temporário de saúde. 3. Vedação expressa em edital. Constitucionalidade. 4. Violação ao princípio da isonomia. Não
ocorrência. Postulado do qual não decorre, de plano, a possibilidade de realização de segunda chamada em etapa de
concurso público em virtude de situações pessoais do candidato. Cláusula editalícia que confere eficácia ao
princípio da isonomia à luz dos postulados da impessoalidade e da supremacia do interesse público . 5.
Inexistência de direito constitucional à remarcação de provas em razão de circunstâncias pessoais dos candidatos. 6.
Segurança jurídica. Validade das provas de segunda chamada realizadas até a data da conclusão do julgamento. 7.
Recurso extraordinário a que se nega provimento. (RE 630733, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 15/05/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-228 DIVULG 19-11-2013
PUBLIC 20-11-2013)

Principais argumentos do STF para decidir assim (fonte: Dizer o Direito):


• o princípio da isonomia estaria violado se a Administração Pública beneficiasse determinado indivíduo em detrimento
de outro nas mesmas condições;
• o princípio da isonomia não possibilita que o candidato tenha direito de realizar prova de segunda chamada em
concurso público por conta de situações individuais e pessoais, especialmente porque o edital estabelece tratamento
isonômico a todos os outros candidatos;
• além disso, a análise da presente questão não se limita ao exame do princípio da isonomia, devendo ser considerados
outros princípios envolvidos;
• o concurso público é um processo de seleção que deve ser realizado com transparência, impessoalidade, igualdade e
com o menor custo para os cofres públicos. Dessa maneira, não é razoável a movimentação de toda a máquina estatal
para privilegiar determinados candidatos que se encontrem impossibilitados de realizar alguma das etapas do certame
por motivos exclusivamente individuais;
• ao se permitir a remarcação do teste de aptidão física nessas circunstâncias, está se possibilitando que o término do
concurso seja adiado inúmeras vezes, sem limites, considerando que, naquele determinado dia marcado, algum
candidato poderia ter problemas de ordem individual, o que causaria tumulto e dispêndio desnecessário para a
Administração;
• assim, não é razoável que a Administração fique à mercê de situações adversas para colocar fim ao certame, de modo
a deixar os concursos em aberto por prazo indeterminado.

Atualização:
É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja GRÁVIDA à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público (e mesmo que o edital proíba
148
expressamente – acréscimo meu) STF. Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018
(repercussão geral).

D.O.D.:
Principais argumentos para o distinguishing em relação à grávidas:
• A CF/88 protege a maternidade, a família e o planejamento familiar, de forma que a condição de gestante goza de
proteção constitucional reforçada.
• Em razão deste amparo constitucional específico, a gravidez não pode causar prejuízo às candidatas, sob pena de
malferir os princípios da isonomia e da razoabilidade.
• Não seria proporcional nem razoável exigir que a candidata colocasse a vida de seu bebê em risco, de forma
irresponsável, ao se submeter a teste físico mediante a prática de esforço incompatível com a fase gestacional.
• O não reconhecimento desse direito da mulher compromete a autoestima social e a estigmatiza.
• As mulheres têm dificuldade em se inserir no mercado de trabalho e enfrente obstáculos para alcançar postos
profissionais de maior prestígio e remuneração. Por consequência, acirra-se a desigualdade econômica, que por si só é
motivo de exclusão social.
• O STF entendeu que a situação da candidata grávida merece tratamento diferente do caso de candidatos doentes ou
que não compareceram ao teste por motivo de força maior. Assim, justifica-se fazer um distinguishing em relação ao que
foi decidido no RE 630733/DF.

7) Caso prático 2. À guisa de se implantar campanha de conscientização para diminuir violência em estádios de
futebol, encontra-se em vigor uma Lei municipal que determina que sejam expostas nos placares eletrônicos
fotos de torcedores falecidos em conflitos de torcidas organizada. Essa norma é constitucional ou
inconstitucional, em seu entendimento?
A hipótese proposta foi inspirada em caso real verificado no âmbito do Município de Belo Horizonte. O Órgão Especial
do TJMG entendeu pela inconstitucionalidade da lei municipal, por violação ao princípio federativo e ao princípio da
dignidade da pessoa humana (direito fundamental à intimidade).

Excertos do voto-condutor:
“... tenho que a Lei Municipal 9.359/2007 extrapolou as linhas traçadas pelo princípio federativo ao adentrar na
seara reservada a outro ente federado, no caso em comento, o Estado de Minas Gerais, no que se refere aos
estádios estaduais, cuja administração é de competência da ADEMG; devendo, assim, seu campo de incidência ficar
adstrito aos estádios pertencente ao Município de Belo Horizonte e os de administração de particulares localizados em
seu território.”
“No que se refere especificamente ao art. 2º da lei impugnada, tenho que houve violação aos direitos fundamentais.
A Constituição Mineira em seu art. 4º, caput, dispõe que "o Estado assegura, no seu território e nos limites de sua
competência, os direitos e garantias fundamentais que a Constituição da República confere aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País"(…)
Como realçado no parecer ministerial, "...partindo-se da constatação de que os direitos de personalidade são
direitos fundamentais, conclui-se que a dignidade da pessoa humana, valor basilar do ordenamento jurídico,
implica o respeito à contingência corporal do Homem, resultando daí uma proteção que se projeta para além da
morte".
In casu, o art. 2º da Lei Municipal 9.359/2007 ao determinar a divulgação em placar eletrônico, em faixas ou em
cartazes, datas e nomes de torcedores falecidos em conflitos de torcidas uniformizadas, violou o direito fundamental
de intimidade, eis que, ao se dar publicidade não autorizada a fatos, datas e nomes de pessoas, poderá ocorrer
algum tipo de prejuízo à privacidade do indivíduo, envolvendo a proteção da sua intimidade, vida privada, honra e
imagem, bem como, seu conceito social perante a sociedade.
149
Em suma, tenho por inconstitucional o art. 2º da Lei Municipal n. 9.359/2007.”

OBS: a Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se, no processo, pela procedência parcial do pedido.


Transcreve-se a ementa:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI MUNICIPAL N. 9.359/2007 - ESTÁDIO DE FUTEBOL
CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO - DIMINUIÇÃO DE VIOLÊNCIA - VÍCIO DE INICIATIVA - INOCORRÊNCIA -
COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO - INTERESSE LOCAL - ÂMBITO DE APLICABILIDADE - PACTO FEDERATIVO -
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - DIVULGAÇÃO DE FATOS, DATAS E NOMES DE PESSOAS -
DIREITO À PRIVACIDADE.
'A iniciativa reservada estabelecida pelo legislador constitucional deve ser interpretada de forma restritiva, segundo
jurisprudência emanada do Supremo Tribunal Federal'. 'O simples fato de ocorrer um possível aumento de despesa, por
si só, não enseja a declaração de inconstitucionalidade por vício de iniciativa.
'A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, e sua
organização político-administrativa compreende à União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios'.
'A Constituição adotou, no que se refere à repartição de competências, o princípio da predominância do interesse;
assim, via de regra, compete a União tratar dos assuntos de interesse geral, os Estados-membros de interesse regional
e os Municípios os de interesse local'.
'Dentre as mais relevantes competências atribuídas ao Município estão a de legislar em assuntos de interesse local e de
suplementar a legislação federal e a estadual no que couber (Art. 30, incisos I e II da CF/88)'. A Lei Municipal
9.359/2007 extrapolou as linhas traçadas pelo princípio federativo ao adentrar na seara reservada a outro ente
federado, no caso em comento, o Estado de Minas Gerais, no que se refere aos estádios estaduais, cuja
administração é de competência da ADEMG; devendo, assim, seu campo de incidência ficar adstrito aos
estádios pertencentes ao Município de Belo Horizonte e os de administração de particulares localizados em seu
território'.
'O art. 2º da Lei Municipal 9.359/2007 ao determinar a divulgação em placar eletrônico, em faixas ou em cartazes,
datas e nomes de torcedores falecidos em conflitos de torcidas uniformizadas, violou o direito fundamental de
intimidade, eis que, ao se dar publicidade não autorizada a fatos, datas e nomes de pessoas, poderá ocorrer
algum tipo de prejuízo à privacidade do indivíduo, envolvendo a proteção da sua intimidade, vida privada, honra
e imagem, bem como, seu conceito social perante a sociedade'. (TJMG - Ação Direta Inconst 1.0000.07.456540-
9/000, Relator(a): Des.(a) Alvim Soares , CORTE SUPERIOR, julgamento em 11/06/2008, publicação da súmula em
30/07/2008

8) Na Lei Complementar 34/94 estão previstas penalidades a que estão sujeitos os membros do MP. O senhor
poderia enumerá-las?
Art. 208 – Os membros do Ministério Público estão sujeitos às seguintes penalidades, que constarão em seus assentos
funcionais:
I – advertência;
II – censura;
III – disponibilidade compulsória e cautelar;
IV – remoção compulsória;
V – exoneração.

9) A qual órgão incumbe a aplicação da pena de censura?


Art. 213 – A pena de censura será aplicada pessoalmente pelo Procurador-Geral de Justiça em sessão pública do
Conselho Superior do Ministério Público.

150
ADMINISTRATIVO - FERNANDO RODRIGUES MARTINS
BENS PÚBLICOS

1) Qual a classificação dada por Luigi Ferrajoli, que é um garantista, sobre os bens fundamentais?
Ferrajoli distancia-se das classificações baseadas nos critérios da titularidade e da afetação, propondo uma
classificação de índole constitucional, pela qual os bens fundamentais podem ser personalíssimos, sociais e comuns.
Para Ferrajoli, "bem é aquilo que pode ser objeto de uma situação jurídica". Classifica-os em bens fundamentais, bens
patrimoniais, bens sociais, bens personalíssimos e bens comuns.

2) Conceitue domínio público, considerando duas classificações: a titularidade a e finalidade.


Quanto à titularidade, os bens de domínio público são bens federais (art 20 da CR e DL 9760/46), bens estaduais (art.
26 da CR), bens distritais (corresponde ao conjunto dos bens estaduais e bens municipais), bens municipais e bens
interfederativos (integrantes dos consórcios públicos de direito público, nos termos do art. 6º, I, p. 1º, da Lei n. 11.107).
Quanto à finalidade (critério da afetação pública), os bens de domínio público são bens de uso comum do povo (CC, art.
99, I) – destinados ao uso da coletividade em geral, como rios, estradas, praças etc. –, bens de uso especial (CC, art.
99, II) –especialmente afetados aos serviços públicos e administrativos, como escolas públicas, hospitais públicos,
repartições etc. –, e bens dominicais (CC, art. 99, III) – desafetados, ou seja, que podem ser alienados na forma da lei.
(fonte: Rafael Oliveira)

3) Tudo que a AP toca vira público?


Não. A incorporação de bens ao patrimônio público depende de contrato (ex: compra e venda, permuta etc.), fenômeno
da natureza (ex: acessão natural, art. 1248 a 1253 CC) ou previsão legal (ex: desapropriação, usucapião, herança
jacente, efeito de condenação penal ou por ato de improbidade administrativa etc.).
No caso da afetação (ver questão 6) fática decorrente de fato administrativo, pode-se dizer que há uma incorporação do
bem ao domínio público sem qualquer formalidade – ex: desapropriação indireta pela construção de uma escola em
terreno privado sem procedimento formal –, o que, no entanto, não torna verdadeira a afirmação de que “tudo o que a
AP toca vira público”...

4) O que é domínio eminente?


Domínio eminente é a prerrogativa decorrente da soberania ou da autonomia federativa que autoriza o Estado a intervir,
de forma branda (ex: limitações, servidões etc.) ou drástica (ex: desapropriação), em todos os bens que estão
localizados em seu território, com o objetivo de implementar a função social da propriedade e os direitos fundamentais.
É o poder que o Estado exerce sobre todas as coisas de interesse público. Pode ser exercido, pois, sobre todo e
qualquer tipo de bem - bens públicos, bens privados, bens de ninguém.
Não se confunde, vale dizer, com domínio patrimonial, o qual se refere ao direito de propriedade do Estado (critério
utilizado para a questão 2, acima). (fonte: Rafael Oliveira)
(fala do examinador registrada pela anotadora: “Melhor utilizar a expressão ‘ato político’ do que ‘ato de
império’, senão seríamos súditos do Governo”)

5) Afetação e desafetação: o que são?


Afetação e desafetação relacionam-se com a vinculação ou não do bem público a determinada finalidade pública.
Afetação significa a atribuição fática ou jurídica de finalidade pública, geral ou especial, ao bem público. Os bens
públicos afetados são os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial. A afetação pode ocorrer por lei, ato
administrativo ou fato administrativo.
Desafetação é o caminho inverso: retirada, fática ou jurídica, da destinação pública anteriormente atribuída ao bem.
Consistem nos bens públicos dominicais. Dá-se também por lei, ato administrativo ou fato administrativo.
151
Ambos os fenômenos – afetação e desafetação – podem se dar de forma expressa (lei ou ato administrativo) ou de
forma tácita (fatos administrativos, isto é, simples eventos materiais).

6) Uma rua pode ser vendida? E se ela for desafetada?


A alienação dos bens públicos depende do cumprimento de requisitos legais, a saber, desafetação, justificativa
(interesse público), avaliação prévia, licitação (salvo art. 19, III e art, 17, I e II, lei 8666) e autorização legislativa (apenas
para bens imóveis).
A rua é bem afetado, de uso comum do povo. Enquanto conserva essa qualidade, é inalienável. No entanto, se
cumpridos os requisitos acima elencados, passa a ser alienável.
Esse regime, característico dos bens públicos, é designado por alienação condicionada ou inalienabilidade relativa.

7) Desafetação informal. Teoria do fato administrativo. (RESPOSTA: “a falta da utilidade do bem. Independente
de formalidade”)(Ver resposta à questão 6)
A desafetação pode ocorrer pela simples perda da destinação publica do bem, independentemente de qualquer
formalidade. Ex: incêndio destrói imóvel em que funcionava escola pública.

8) Características do regime jurídico dos bens públicos.


- Alienação condicionada ou inalienabilidade relativa (ver questão 7)
- Impenhorabilidade
- Imprescritibilidade (CR, art. 183, p 3º, e 191; CC, art. 102; DL 9760, art. 200; Sum 340 STF)
- Não onerabilidade

9) Eles são empenháveis?


Não, em razão da característica da “não onerabilidade”.

Segundo art. 1420 do CC, só os bens que se podem alienar podem ser dados em penhor, anticrese ou hipoteca.”

10) É possível a prescrição de algum direito real sobre bem público?


Não viola a vedação de usucapião de bens públicos a usucapião do domínio útil de terreno da marinha em desfavor do
enfiteuta (particular que é titular do domínio útil). Nesse caso, a usucapião não incide sobre a propriedade (a União
sequer é parte na lide), mas sobre a qualidade de enfiteuta.

D.O.D. sobre o tema:


Enfiteuse (ou aforamento)
José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 1311)
explica que, em algumas regiões, a União permitiu que particulares utilizassem, de forma privada, imóveis localizados
em terrenos de marinha. Como essas áreas pertencem à União, o uso por particulares é admitido pelo regime
da enfiteuse (aforamento) que funciona, em síntese, da seguinte forma:
 a União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil;
 o particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma importância a título de foro ou pensão.
Obs: O CC-2002 proibiu a constituição de novas enfiteuses (aforamentos), continuando a existir aquelas que já haviam
sido constituídas (elas são regidas pelo CC-1916). O CC-2002 determinou, ainda, que, a enfiteuse (aforamento) dos
terrenos de marinha poderia continuar a existir, sendo matéria a ser regulada por lei especial (art. 2.038, § 2º).

11) É possível ser dono de ilha no Brasil?

152
As ilhas são bens dominicais (titularidade da União, dos Estados ou dos Municípios), podendo, em regra, ser alienadas,
se satisfeitos os requisitos da questão 7. Assim, é possível, em tese (vide requisito do interesse público), que um
particular seja dono de ilha.
No entanto, excepcionalmente, as ilhas são bens afetados – art. 25 do Decreto 24.643 (código de aguas) -, caso em
que, mantida essa condição, não poderão ser alienadas (e, bem assim, não será possível, a um particular, ser dono de
ilha).

12) Uso extraordinário dos bens públicos por particular. O que é a delegação do uso desses bens públicos e
como se classifica?
A delegação do uso de bens públicos por particulares consiste em forma de consentimento estatal para que
determinada pessoa ou determinado grupo de pessoas utilize bens públicos privativamente. Para que ocorra, devem
ser observados os seguintes requisitos:
- Compatibilidade com o interesse público;
- Cumprimento das condições fixadas pelo ordenamento e pela Administração;
- Remuneração, em regra (para uso privativo, a regra é a onerosidade).
- A delegação pode se dar por meio dos seguintes instrumentos:
a. AUTORIZAÇÃO de uso de bem público. Ato administrativo negocial, discricionário e precário. Visa ao interesse do
particular (uso anormal).
a.1 AUTORIZAÇÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS COMERCIAIS. Art. 9º da MP n. 2.220/2001, com redação dada
pela Lei n. 13.465/17.
b. PERMISSÃO de uso de bem público. Ato administrativo negocial, discricionário e precário. O interesse do
permissionário e o interesse público são satisfeitos com igual intensidade (é uma diferença em relação à autorização).
c. CONCESSÃO de uso de bem público. Contrato administrativo. Não é precário. Fundamento é o interesse público.
Precedida de licitação e formalizada por prazo determinado.
c.1 CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO. Direito real resolúvel, que recai sobre bens dominicais, com a finalidade
de implementar regularização fundiária. Precedida de licitação na modalidade concorrência e tipo maior lance (Lei
8666).
c.2 CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA. Art. 1º da MP n. 2.220/2001, com redação dada pela
Lei n. 13.465/17. Preenchidos os pressupostos legais (semelhantes aos exigidos para a usucapião especial do art. 183
da CR), ela deve ser concedida (ato vinculado; nesse sentido: Rafael Oliveira e Carvalho Filho). Também direito real.
c.3 CONCESSÃO COLETIVA DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA. Art. 2º da MP n. 2.220/2001, com
redação dada pela Lei n. 13.465/17. Requisitos semelhantes aos da usucapião coletiva prevista no art. 10 do Estatuto
da Cidade (mas a concessão, diversamente, não opera a transferência da propriedade pública).
obs: cessão de uso de bem público não integra a resposta, porque se trata de ato de colaboração entre repartições
públicas. Opera transferência gratuita da posse de um bem público em benefício de outra.

13) Qual a diferença entre autorização (utilização do bem público para interesse privado) e permissão
(utilização do bem público para interesse público)? Ver acima

GRUPO TEMÁTICO II

PENAL - ANDRÉ UBALDINO


ÂMBITO DE VALIDEZ TEMPORAL E ESPACIAL DA LEI PENAL

1) O Direito Brasileiro admite a extradição. A extradição se condiciona, para sua concessão, que a infração lá
fora praticada exiba certa gravidade, além de outros requisitos, seja para que o Brasil conceda a extradição,
153
seja para aplicação da lei brasileira ao caso quando a extradição não pode ser concedida. Qual é essa
extradição?(enunciado confuso. Parece-me que o examinador objetivava ouvir sobre extradição passiva. Desenvolvi
uma resposta mais abrangente para tentar tangenciar o ponto esperado).
Segundo o art. 81 da Lei n. 13.445/2017, a extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro
e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva
ou para fins de instrução de processo penal em curso.
A instituição da extradição tem por objetivo evitar que um indivíduo deixe de pagar pelas consequências do crime
cometido. Identificam-se duas espécies:
- extradição ativa → o requerimento de entrega é feito pelo Brasil ao Estado estrangeiro;
- extradição passiva → o requerimento de entrega é formalizado pelo Estado estrangeiro ao Estado brasileiro.
O procedimento da extradição passiva está previsto, basicamente, na Lei de Migração, que deverá adequar-se ao
balizamento dos incisos LI e LII do art. 5º da CR.
De acordo com o art. 83 da Lei de Migração, são condições para a concessão da extradição: I - ter sido o crime
cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado; e II - estar
o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter sido condenado pelas autoridades
judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade.
Assim, a extradição passiva poderá ter tanto caráter instrutório como executório. No primeiro caso, admite-se a
extradição mesmo diante da mera existência de procedimento persecutório instaurado no exterior. Na segunda
hipótese, o pedido de extradição pressupõe a existência de sentença penal condenatória.
Cumpre ressaltar que, até o advento da Lei n. 13.445/2017, a prisão do extraditando, decretada pelo Ministro Relator no
STF, era pressuposto do processo de extradição, tendo como objetivo assegurar a execução de eventual ordem de
extradição. No entanto, essa compulsoriedade foi revogada pela Lei de Migração, que, em seu art. 83, permite prisão
albergue ou domiciliar do extraditando, que responderá ao processo em liberdade.
Sem embargo disso, foi mantida a possibilidade, em caso de urgência, de decretação da prisão cautelar para fins de
extradição, consoante art. 82 da lei.
(fonte: Pedro Lenza)

2) A imunidade diplomática pode ser objeto de renúncia?


A imunidade diplomática (que, segundo doutrina majoritária, tem natureza jurídica de causa pessoal de isenção de pena
– aplicando-se a qualquer crime1, e não apenas aos praticados no exercício da função) tem caráter irrenunciável, sendo
vedado ao seu destinatário abdicar da prerrogativa, já que é conferida em razão do cargo, e não da pessoa (imunidade
funcional, baseada na relevância da função pública exercida pelo representante estrangeiro → teoria do interesse da
função).
Não obstante, o Decreto n. 56.435/65 permite que haja renúncia, desde que expressa por parte do Estado de origem do
agente diplomático (Estado creditante). Verbis:
1. O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáticos e das pessoas que
gozam de imunidade nos têrmos do artigo 37.
2. A renúncia será sempre expressa.
3. Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos têrmos do artigo 37 inicia uma
ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção ligada à ação
principal.
4. A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações civis ou administrativas não implica renúncia a imunidade
quanto as medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária.
(fonte: Rogério Sanches)

1
Imunidade de jurisdição penal
154
A imunidade pode ser renunciada pelo Estado acreditante, mas jamais pelo diplomata. Ela pertence ao Estado e não ao
indivíduo e precisa ser expressa (art. 32, 1, da Convenção de Viena). O mesmo ocorre no tocante aos funcionários e
empregados consulares (art. 45, 1, da segunda Convenção de Viena). Cumpre destacar que, em qualquer situação, se
o diplomata, o funcionário ou empregado consular ou o Estado estrangeiro for processado e não contestar a ação,
havendo revelia, esta atitude não implica renúncia à imunidade, como vem sendo reconhecido pelo Supremo Tribunal
Federal.” (fonte: Nucci)
A imunidade diplomática abrange a fase de jurisdição cognitiva e a fase de execução penal. No RHC 87.825/ES (Info
618 STJ) foi apreciado um caso em que o Estado acreditante renunciou a imunidade quanto à fase cognitiva (ou seja, o
diplomata foi julgado no Brasil), mas não a de execução (a condenação seria cumprida na Espanha).

3) Admitida a hipótese dessa renúncia, ela deveria ocorrer por decisão/parte de quem?
Ver resposta acima (Estado acreditante)

4) É preciso que haja ruptura do acordo ou pode o país individualmente renunciar a imunidade para aquele
caso? Era isso que eu queria saber.
Pode o país acreditante, individualmente, renunciar à imunidade para cada caso particular, não sendo necessária a
ruptura da reciprocidade entre os países.
Nesse sentido, o STF:
“(...) Isto porque de acordo com a Convenção de Viena Sobre Relações Diplomáticas, do qual o Brasil é signatário, os
agentes diplomáticos estrangeiros estão imunes à jurisdição penal do Estado perante o qual estão acreditados.
Assim, o chefe da missão diplomática e os membros do pessoal diplomático gozam, nos termos dos arts. 29 a 42 da
Convenção de Viena de 1961, dos direitos da inviolabilidade pessoal e de sua residência, da totalidade das
imunidades de jurisdição penal, etc. Tais privilégios e imunidades podem ser renunciados pelo Estado acreditante, a
quem tais direitos pertencem, mediante declarações especiais e em cada caso particular ajuizado perante
autoridades judiciais do Estado acreditado, i.e., o Brasil.” (Pet 3698, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, julgado em
05/10/2006, publicado em DJ 17/10/2006 PP-00048)

5) Conhece algum caso concreto (só por curiosidade)


Não encontrei resposta. Obs: no caso acima, julgado pelo STF, reconheceu-se que não houve renúncia à imunidade.

6) Não pode ser brasileiro nato o extraditando. É possível extraditar-se o brasileiro nato?
Em regra, não. Trata-se do princípio da inextraditabilidade do brasileiro, cujo fundamento é a ideia de soberania
(preservação da jurisdição nacional).
CR:
ART. 5º
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

LEI DE MIGRAÇÃO (LEI 13445/17):


Art. 82. Não se concederá a extradição quando:
I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato;
(...)
§ 5o Admite-se a extradição de brasileiro naturalizado, nas hipóteses previstas na Constituição Federal.
7) Sob nenhuma circunstância?
Só se perder a naturalidade. Ex:

155
CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA NATURALIZADA AMERICANA. ACUSAÇÃO DE
HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O BRASIL. PERDA DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA EM
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR. HIPÓTESE CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO
OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O Supremo Tribunal Federal
é competente para o julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato do Ministro da Justiça em matéria
extradicional. (HC 83.113/DF, Rel. Min. Celso de Mello). 2. A Constituição Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade
brasileira, estabelece duas hipóteses: (i) o cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a aquisição de
outra nacionalidade. Nesta última hipótese, a nacionalidade brasileira só não será perdida em duas situações que
constituem exceção à regra: (i) reconhecimento de outra nacionalidade originária (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a
outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b). 3. No caso sob exame, a situação da impetrante não se subsume a
qualquer das exceções constitucionalmente previstas para a aquisição de outra nacionalidade, sem perda da
nacionalidade brasileira. 4. Denegação da ordem com a revogação da liminar concedida. (MS 33864, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 19-09-
2016 PUBLIC 20-09-2016)

D.O.D.:

“Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o green card decidir adquirir a nacionalidade norte-americana, ele
irá perder a nacionalidade brasileira.
Não se pode afirmar que a presente situação se enquadre na exceção prevista na alínea “b” do inciso II do § 4º do art.
12 da CF/88. Isso porque, como ele já tinha o green card, não havia necessidade de ter adquirido a nacionalidade
norte-americana como condição para permanência ou para o exercício de direitos civis.
O estrangeiro titular de green card já pode morar e trabalhar livremente nos EUA.
Dessa forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e espontânea vontade.
Vale ressaltar que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes ao brasileiro nato. Assim, se
cometer um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da
CF/88.
STF. 1ª Turma. MS 33864/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 19/4/2016 (Info 822).
STF. 1ª Turma. Ext 1462/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/3/2017 (Info 859).”

SITE DO STF:

“A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal autorizou, nesta terça-feira (28/3), a primeira extradição de uma brasileira
nata de sua história. Por quatro votos a um, o tribunal definiu que, como ela havia se naturalizado norte-americana,
automaticamente renunciou à naturalidade brasileira. E por isso pode ser extraditada para responder por crimes
cometidos em outro país.”

8) O senhor disse anteriormente que não se admite a extradição em crimes políticos. Essa extradição poderia
alcançar crimes de imprensa, religiosos, fiscais e puramente militares?(doutrina escassa quanto ao tema.
Procurei desenvolver uma resposta fundamentadamente, mas peço a ajuda dos colegas para aperfeiçoa-la).
Atualmente, a extradição procura a garantir ao acusado um julgamento justo, de conformidade com o art. XIX da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo o qual “todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito
de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei...”.
Além disso, tem-se que, se houver fundados temores de perseguição por motivos de religião, opiniões políticas etc, o
estrangeiro será considerado refugiado (art. 1º da Lei n 9474), o que obsta o acolhimento do pedido de extradição.
156
Nessa ordem de ideias, há doutrina que, em inteligência do art. 5º, LII, da CR (não será concedida extradição de
estrangeiro por crime político ou de opinião), sustenta ser incabível a extradição também por crimes de imprensa,
crimes militares e crimes religiosos – cabendo ao STF apreciar o caráter da infração e dizer se se enquadra em
algum desses grupos
Especificamente quanto aos crimes de imprensa, cumpre ainda acrescentar que, não tendo sido a Lei de Imprensa (lei
n. 5.250/67) recepcionada pela Constituição da República, como decidiu o STF, faltará, para fins de extradição, o
requisito da dupla tipicidade, previsto no art. 82, II, da Lei de Migração.
Por outro lado, em relação aos crimes fiscais, não identifico óbice a que autorizem pedido de extradição, notadamente
diante da jurisprudência do STF, no sentido de que “a criminalização de sonegação fiscal (prevista na Lei 8.137/1990)
não viola o artigo 5°, inciso LXVII, da Constituição Federal (CF), em virtude de ter caráter penal e não se relacionar com
a prisão civil por dívida”:

PENAL E CONSTITUCIONAL. CRIMES PREVISTOS NA LEI 8.137/1990. PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA. OFENSA AO
ART. 5º, LXVII, DA CONSTITUIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. I - O Tribunal reconheceu a
existência de repercussão geral da matéria debatida nos presentes autos, para reafirmar a jurisprudência desta Corte,
no sentido de que a os crimes previstos na Lei 8.137/1990 não violam o disposto no art. 5º, LXVII, da Constituição. II -
Julgamento de mérito conforme precedentes. III - Recurso extraordinário desprovido. (ARE 999425 RG, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 02/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-050 DIVULG 15-03-2017 PUBLIC 16-03-2017 )

9) Quais os efeitos da sentença penal estrangeira independem, no Brasil, de homologação?


Em regra, a sentença penal estrangeira não precisa ser homologada no Brasil para gerar efeitos, bastando prova legal
da existência da condenação (carta de sentença).
O art. 9º do CP traz exceções (ou seja, dependerá de homologação): produção de efeitos civis e sujeição do condenado
a medida de segurança.
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências,
pode ser homologada no Brasil para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (Incluído pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
Parágrafo único - A homologação depende: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) para os efeitos previstos no
inciso I, de pedido da parte interessada; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a
sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Fonte: foca no resumo


PROCESSO PENAL - ROGÉRIO FILIPPETTO
PROVAS

1) O princípio da proporcionalidade pode ser utilizado para afastar a ilicitude da prova?

157
A Lei 11.689/08, que alterou o CPP, não tratou da teoria da proporcionalidade aplicada à validade da prova ilícita
(diversamente do que fez em relação às teorias da fonte independente – art. 157, p. 1º; da descoberta inevitável – art.
157, p. 2º; e, para parte da doutrina, da limitação da mancha purgada – art. 157, p. 1º, “... salvo quando não evidenciado
o nexo de causalidade...”). Não obstante, o princípio encontra-se implícito no texto constitucional e permite que, diante
de uma colisão de bens constitucionalmente tutelados, o intérprete possa aquilatar os valores contrapostos e optar por
aquele que se apresente mais relevante ao caso concreto.
Destarte, doutrina e jurisprudência, com base no princípio da proporcionalidade, são uníssonas em admitir a
possibilidade de utilização de prova ilícita no processo quando ela for produzida em benefício do acusado (PROVA
ILÍCITA PRO REO). Entende-se que o direito de defesa (CR, art. 5º, LV) e o princípio da presunção de inocência 9CR,
art. LVII) devem preponderar no conflito com o direito de punir. Seria inadmissível que alguém fosse condenado
injustamente pelo simples fato de a sua inocência ter sido comprovada por meio de uma prova obtida por meios ilícitos.
Noutro giro, ao Estado não pode interessar a punição de um inocente.
Já em relação à utilização do princípio da proporcionalidade para permitir o uso da prova ilícita em favor da
sociedade/acusação (PROVA ILÍCITA PRO SOCIETATE), há intensa controvérsia.
1. Barbosa Moreira, por exemplo, admite essa hipótese para a investigação de criminalidade organizada (obs: era isso
que o examinador queria ouvir, ao que consta da observação da anotadora), quando esta é “superior (superioridade de
armas) às Polícias e o Ministério Público, restabelecendo-se, assim, com base no princípio da isonomia, a igualdade
substancial na persecução penal”. (sobre o tema: https://www.conjur.com.br/2018-jul-09/mp-debate-relativizacao-prova-
ilicita-crimes-organizacao-criminosa) .
Outro exemplo de relativização da prova ilícita é o antigo caso, julgado pelo STF, relativo a tentativa de fuga de presos
considerados perigosos de estabelecimento penitenciário, em que a correspondência dos presos fora violada sem prévia
autorização judicial. Diante da situação excepcional, o STF, em juízo de proporcionalidade acerca das normas
constitucionais em aparente conflito (proteção ao sigilo da correspondência x preservação da segurança do presídio),
entendeu que:

HABEAS CORPUS - ESTRUTURA FORMAL DA SENTENÇA E DO ACÓRDÃO - OBSERVANCIA - ALEGAÇÃO DE


INTERCEPTAÇÃO CRIMINOSA DE CARTA MISSIVA REMETIDA POR SENTENCIADO - UTILIZAÇÃO DE COPIAS
XEROGRAFICAS NÃO AUTENTICADAS - PRETENDIDA ANALISE DA PROVA - PEDIDO INDEFERIDO. - A estrutura
formal da sentença deriva da fiel observancia das regras inscritas no art. 381 do Código de Processo Penal. O ato
sentencial que contem a exposição sucinta da acusação e da defesa e que indica os motivos em que se funda a decisão
satisfaz, plenamente, as exigencias impostas pela lei. - A eficacia probante das copias xerograficas resulta, em princípio,
de sua formal autenticação por agente público competente (CPP, art. 232, paragrafo único). Pecas reprograficas não
autenticadas, desde que possivel a aferição de sua legitimidade por outro meio idoneo, podem ser validamente
utilizadas em juízo penal. - A administração penitenciaria, com fundamento em razoes de segurança pública, de
disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que
respeitada a norma inscrita no art. 41, paragrafo único, da Lei n. 7.210/84, proceder a interceptação da
correspondencia remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar
não pode constituir instrumento de salvaguarda de praticas ilicitas. - O reexame da prova produzida no processo
penal condenatório não tem lugar na ação sumarissima de habeas corpus. (HC 70814, Relator(a): Min. CELSO DE
MELLO, Primeira Turma, julgado em 01/03/1994, DJ 24-06-1994 PP-16649 EMENT VOL-01750-02 PP-00317 RTJ VOL-
00176-01 PP-01136)
Mesmo para essa corrente que admite a prova ilícita pro societate, é certo que só deve ocorrer em situações extremas,
sob pena de tornar letra morta o art. 5º, LVI, da CR.

2. Já a outra corrente, que é acolhida pela doutrina majoritária e pelos Tribunais Superiores, não admite o uso da prova
ilícita pro societate com base no princípio da proporcionalidade. Admitir-se a possibilidade de o direito à prova prevalecer
158
sobre as liberdades públicas, indiscriminadamente, é criar um perigoso precedente em detrimento da preservação de
direitos e garantias individuais.
Nesse sentido:
I. Habeas corpus: cabimento: prova ilícita. 1. Admissibilidade, em tese, do habeas corpus para impugnar a inserção de
provas ilícitas em procedimento penal e postular o seu desentranhamento: sempre que, da imputação, possa advir
condenação a pena privativa de liberdade: precedentes do Supremo Tribunal. II. Provas ilícitas: sua inadmissibilidade no
processo (CF, art. 5º, LVI): considerações gerais. 2. Da explícita proscrição da prova ilícita, sem distinções quanto ao
crime objeto do processo (CF, art. 5º, LVI), resulta a prevalência da garantia nela estabelecida sobre o interesse na
busca, a qualquer custo, da verdade real no processo: conseqüente impertinência de apelar-se ao princípio da
proporcionalidade - à luz de teorias estrangeiras inadequadas à ordem constitucional brasileira - para sobrepor, à
vedação constitucional da admissão da prova ilícita, considerações sobre a gravidade da infração penal objeto da
investigação ou da imputação. III. Gravação clandestina de "conversa informal" do indiciado com policiais. 3. Ilicitude
decorrente - quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do
seu assentimento à gravação ambiental - de constituir, dita "conversa informal", modalidade de "interrogatório" sub-
reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art. 6º,
V) -, se faz sem que o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio. 4. O privilégio contra a auto-incriminação -
nemo tenetur se detegere -, erigido em garantia fundamental pela Constituição - além da inconstitucionalidade
superveniente da parte final do art. 186 C.Pr.Pen. - importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de
advertir o interrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua documentação formal - faz ilícita a
prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, com mais razão, em "conversa
informal" gravada, clandestinamente ou não. IV. Escuta gravada da comunicação telefônica com terceiro, que conteria
evidência de quadrilha que integrariam: ilicitude, nas circunstâncias, com relação a ambos os interlocutores. 5. A
hipótese não configura a gravação da conversa telefônica própria por um dos interlocutores - cujo uso como prova o
STF, em dadas circunstâncias, tem julgado lícito - mas, sim, escuta e gravação por terceiro de comunicação telefônica
alheia, ainda que com a ciência ou mesmo a cooperação de um dos interlocutores: essa última, dada a intervenção de
terceiro, se compreende no âmbito da garantia constitucional do sigilo das comunicações telefônicas e o seu registro só
se admitirá como prova, se realizada mediante prévia e regular autorização judicial. 6. A prova obtida mediante a escuta
gravada por terceiro de conversa telefônica alheia é patentemente ilícita em relação ao interlocutor insciente da
intromissão indevida, não importando o conteúdo do diálogo assim captado. 7. A ilicitude da escuta e gravação não
autorizadas de conversa alheia não aproveita, em princípio, ao interlocutor que, ciente, haja aquiescido na operação;
aproveita-lhe, no entanto, se, ilegalmente preso na ocasião, o seu aparente assentimento na empreitada policial, ainda
que existente, não seria válido. 8. A extensão ao interlocutor ciente da exclusão processual do registro da escuta
telefônica clandestina - ainda quando livre o seu assentimento nela - em princípio, parece inevitável, se a participação de
ambos os interlocutores no fato probando for incindível ou mesmo necessária à composição do tipo criminal cogitado,
qual, na espécie, o de quadrilha. V. Prova ilícita e contaminação de provas derivadas (fruits of the poisonous tree). 9. A
imprecisão do pedido genérico de exclusão de provas derivadas daquelas cuja ilicitude se declara e o estágio do
procedimento (ainda em curso o inquérito policial) levam, no ponto, ao indeferimento do pedido. (HC 80949, Relator(a):
Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 30/10/2001, DJ 14-12-2001 PP-00026 EMENT VOL-02053-
06 PP-01145 RTJ VOL-00180-03 PP-01001)
(Fonte: Renato Brasileiro)

Observação da anotadora: CANDIDATA FOI A ÚNICA QUE DEU EXEMPLO DE CRIME EM QUE O PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE PODERIA AFASTAR A LICITUDE DA PROVA: ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. SÃO CRIMES
DE ESTADO DE EXCEÇÃO.

Adendo → transcrição de trechos do Nucci (achei pertinente):


159
“No processo penal, como intuitivo, a aplicação da vedação das provas ilícitas, se considerada como garantia absoluta,
poderá gerar, por vezes, situações de inegável desproporção, com a proteção conferida ao direito então violado (na
produção da prova) em detrimento da proteção do direito da vítima do delito.
Pensamos que a questão, efetivamente, é das mais complexas e problemáticas do processo penal. Acreditamos que
isso ocorra, sobretudo, pela impossibilidade de se fixar qualquer critério minimamente objetivo para o aproveitamento da
prova ilícita, pela aplicação da proporcionalidade.
E essa impossibilidade está ligada às razões legitimantes da própria norma constitucional. Se a vedação das provas
ilícitas tem por objetivo, pelo menos um deles e dos mais relevantes, o controle da atividade estatal persecutória, que é
a responsável pela produção da prova, a existência de um critério fixo e objetivo já estimularia a prática da ilegalidade,
quando se soubesse, previamente, a possibilidade do aproveitamento da prova. Surge, então, reclamando aplicação e
força normativa, o postulado da vedação de excesso…
(…)
... o objeto de nossas preocupações é o aproveitamento da prova ilícita apenas quando favorável à acusação. E por
uma razão muito simples. A prova da inocência do réu deve sempre ser aproveitada, em quaisquer circunstâncias. Em
um Estado de Direito, não há como se conceber a ideia de condenação de alguém que o próprio Estado acredita ser
inocente. Em tal situação, a jurisdição, enquanto Poder Público, seria, por assim dizer, uma contradição em seus termos.
Um paradoxo jamais explicado ou explicável.
Aliás, o aproveitamento da prova ilícita em favor da defesa (...) constitui-se em critério objetivo de proporcionalidade,
dado que:
- A violação de direitos na busca da prova da inocência poderá ser levada à conta do estado de necessidade, excludente
geral da ilicitude (e não só penal);
- O princípio da inadmissibilidade da prova ilícita constitui-se em garantia individual expressa, não podendo ser utilizado
contra quem é o seu primitivo e originário titular.
Mas voltando à questão do aproveitamento da prova ilícita em favor da acusação, diríamos que o critério da
proporcionalidade poderá validamente ser utilizado nas hipóteses em que não estiver em risco a aplicabilidade potencial
e finalística da norma da inadmissibilidade. Por aplicabilidade potencial e finalística estamos nos referindo à função de
controle da atividade estatal (responsável pela produção da prova) que desempenha a norma do art. 5º, LVI, da CF.
Assim, quando não se puder falar no incremento ou no estímulo da prática da ilegalidade pelos agentes produtores da
prova, pensamos ser possível, em tese, a aplicação da regra da proporcionalidade.”

2) Existem 2 perspectivas no aproveitamento da prova que eu gostaria que o senhor abordasse: favorece a
defesa e a que pode favorecer a acusação. O senhor ainda vê a possibilidade de exceção, como o senhor disse?
(nesta primeira pergunta, achei que o examinador, como sempre tem feito, fez mais perguntas pro candidato pra
ver se ele fornecia alguma informação que parecia faltar em sua resposta. Pode não ser isso, esta primeira
prova foi gravada, aí vcs conferem se é isso mesmo ou se estou viajando).
Respondido acima

3) É possível a inversão na ordem de oitiva de testemunhas?


Com a reforma do CPP, operada pela Lei nº 11.690/2008, a participação do juiz na inquirição das testemunhas foi
reduzida ao mínimo possível.
Assim, segundo a redação atual do art. 212 do CPP, quem primeiro começa fazendo perguntas à testemunha é a parte
que teve a iniciativa de arrolá-la. Em seguida, a outra parte terá direito de perguntar e, por fim, o magistrado.
Desse modo, as perguntas agora são formuladas diretamente pelas partes (MP e defesa) às testemunhas (sistema de
inquirição direta), e, portanto, a inquirição de testemunhas pelas partes deve preceder à realizada pelo juízo.

160
Outrossim, nos termos do art. 400 do CPP, devem ser ouvidas primeiramente as testemunhas arroladas pela acusação,
e, depois, as indicadas pela defesa, ressalvada a hipótese do art. 222 do mesmo diploma legal (“A testemunha que
morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência”, podendo ocorrer de a testemunha
arrolada pela defesa ser ouvida primeiro).
Pois bem.
Em regra, segundo o STF e o STJ, a inversão da ordem de oitiva de testemunhas gera nulidade RELATIVA, sendo
necessárias, para o seu reconhecimento, a alegação no momento oportuno e a comprovação do efetivo prejuízo. Nesse
sentido: STF. 1ª Turma. HC 123840, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 01/08/2017; STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC
62.461/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 03/10/2017.
Em um caso concreto (recente julgamento), todavia, durante a audiência de instrução, a magistrada primeiro inquiriu as
testemunhas e, somente então, permitiu que as partes formulassem perguntas. O STF, nesse específico caso, entendeu
que houve violação ao art. 212 do CPP e, em razão disso, determinou que fosse realizada uma nova inquirição das
testemunhas, observada a ordem prevista no CPP. (STF. 1ª Turma.HC 111815/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2017 (Info 885).

4) Isso poderia ser entendida como espécie de negócio processual?


(Prezados colegas, tive dúvida nessa questão. Segue sugestão de resposta)
A fixação legal da ordem de testemunhas – primeiro as arroladas pela acusação, depois as arroladas pela defesa -
justifica-se por imperativo dos princípios do contraditório e da ampla defesa, na medida em que essa sistemática
assegura que a prova produzida pela acusação possa ser confrontada pela defesa.
Nesse sentido, a inversão da ordem de oitiva de testemunhas no processo poderia repercutir negativamente no direito à
defesa técnica efetiva, o qual é irrenunciável.
Esse raciocínio leva à conclusão de que a inversão do ônus da prova não se insere em espaço passível de
convencionalidade entre as partes, devendo prevalecer o regramento cogente que resulta do devido processo legal.
Por outro lado, poder-se-ia entender que, se a própria defesa técnica entendeu que, na situação específica, a inversão
da ordem de oitiva de testemunhas não traria prejuízos à defesa, nada obstaria a realização de negócio jurídico
processual acerca dessa questão, na medida em que o princípio da ampla defesa não é absoluto e, em última análise, o
objeto do ajuste não é ilícito (a se ver pelo entendimento jurisprudencial de que eventual inversão da ordem de oitiva é
causa de nulidade meramente relativa).

5) O negócio jurídico processual fica adstrito ao âmbito da prova, no direito processual civil? (parece ter relação
com a resposta dada pelo candidato à pergunta anterior)
No direito processual civil brasileiro – que, com o CPC/15, consagrou a Cláusula Geral de Negociação Processual,
corolário do Princípio do Respeito ao Autorregramento da Vontade no Processo –, o negócio jurídico processual pode
dizer respeito a todos os direitos que admitam autocomposição. Trata-se de conceito mais amplo do que a tradicional
acepção de direitos patrimoniais disponíveis, uma vez que há aspectos de direitos indisponíveis que admitem alguma
forma de autocomposição (CASSIO SCARPINELLA).
Logo, o negócio jurídico processual no processo civil não fica adstrito ao âmbito da prova, mas pode versar sobre tudo o
que envolve mudanças no procedimento e/ou sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou
durante o processo (CPC, 190), com os limites de validade próprios dos negócios jurídicos em geral (CC, Art. 104. A
validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma
prescrita ou não defesa em lei.). Necessário observar, ainda, o limite previsto no parágrafo único do art. 190 do CPC,
referente à impossibilidade de NJ processual quando alguma parte se encontre em situação de manifesta de
vulnerabilidade.

161
Sobre o tema, há diversos enunciados do FPPC (6, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 32, 115, 131, 132, 133, 134, 135, 252, 253,
254, 255, 256, 257, 258, 259, 260, 261, 262, 392, 402, 403, 404, 405, 406, 407, 408, 409, 410, 411, 412, 413, 490, 491,
492, 493, 569) e da ENFAM (36, 37, 38, 39, 41).

ADENDO - Embora a pergunta tenha sido limitada ao âmbito do processo civil, acho pertinente, por se tratar da arguição
de processo penal, acrescentar os seguintes apontamentos (extraídos de artigo do livro “30 anos da CR e Ministério
Público):
A Resolução n. 118 do CNMP inseriu as convenções processuais como um dos instrumentos de autocomposição cuja
aplicação passa a ser recomendada aos membros do MP de todo o país.
Tradicionalmente, a literatura processual sempre foi muito arredia em admitir negócios jurídicos processuais, por ser, o
direito processual, ramo do direito público, composto de a normas cogentes. Não haveria espaços para consensualidade
ou convencionalidade no direito público.
Ainda mais no âmbito do direito penal sancionador, a justiça clássica sempre foi imposta e não negociada, simbolizada
pela indisponibilidade da ação penal e pelo princípio inquisitivo. Todavia, contemporaneamente, a partir do modelo
acusatório, vem aumentando a contratualização também no processo penal, com o crescimento da justiça penal
consensuada (busca de resultados concertados entre os diversos sujeitos do processo).
Ex: colaboração premiada, transação penal, suspensão condicional do processo, composição civil de danos, acordo de
leniência etc.

6) Há validade do reconhecimento do acusado feito por meio de fotografia em aparelho celular?


Sim. O reconhecimento do acusado por meio de fotografia em aparelho celular, conquanto não disponha de previsão
legal (não é prova típica, mas inominada), tem valor probante, uma vez que o processo penal brasileiro é informado pelo
princípio da busca da verdade e pelo princípio da liberdade na produção das provas – o que é reforçado pela
circunstância de que, ao valorar a prova, o juiz não considera o ato reconhecimento de forma isolada, mas em conjunto
com os elementos probatórios.
Nesse sentido, já decidiu o STF:

HABEAS CORPUS. PROVA. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO. O reconhecimento fotográfico tem valor probante
pleno quando acompanhado e reforçado por outros elementos de convicção. Habeas corpus indeferido. (HC 74267,
Relator(a): Min. FRANCISCO REZEK, Segunda Turma, julgado em 26/11/1996, DJ 28-02-1997 PP-04064 EMENT VOL-
01859-01 PP-00196)

A corroborar esse entendimento, tem-se, ainda, a orientação dos tribunais superiores, no sentido de que, mesmo para o
reconhecimento formal, as disposições do art. 226 do CPP servem como meras recomendações, com o fim de evitar
sugestionamentos. Assim, os requisitos do art. 226 do CPP devem ser observados dentro do “possível”.
Nesse sentido:
O acórdão recorrido está alinhado à jurisprudência desta Corte Superior, no sentido de que as disposições contidas
no art. 226 do Código de Processo Penal configuram uma recomendação legal, e não uma exigência absoluta,
não se cuidando, portanto, de nulidade quando praticado o ato processual (reconhecimento pessoal) de forma
diversa da prevista em lei. Precedentes. 2. O Tribunal estadual consignou que o conjunto probatório dos autos,
notadamente os depoimentos das vítimas e das testemunhas ouvidas em juízo, não deixa dúvida de que foi o ora
agravante o autor do delito, e que a tese de negativa de autoria se encontra totalmente divorciada das provas colhidas
nos autos; entender de forma diversa, tal como pretendido, demandaria o revolvimento das provas carreadas aos autos,
procedimento sabidamente inviável na instância especial. Inafastável, assim, a aplicação da Súmula 7⁄STJ” (AgRg no
AREsp 1.054.280/PE, 6ª Turma, j. 06/06/2017).

162
É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que é legítimo o reconhecimento pessoal
ainda quando realizado de modo diverso do previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, servindo o
paradigma legal como mera recomendação (RHC 67.675⁄SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, DJe 28⁄03⁄2016)” (HC
311.080/SP, 5ª Turma, j. 16/05/2017).

Consoante jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, o art. 226 do Código de Processo Penal “não exige, mas
recomenda a colocação de outras pessoas junto ao acusado, devendo tal procedimento ser observado sempre que
possível” (RHC 119.439/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, DJe 05.9.2014). 5. Ausência de prejuízo obstaculiza o
reconhecimento de nulidade do ato” (RHC 125.026 AgR/SP, j. 23/06/2015).

7) O que está previsto no CPP?

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra
influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta
não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para
proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de
julgamento.

Os incisos I a IV do art. 226 do CPP estabelecem o seguinte método para que seja efetuado o reconhecimento:
1) a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida: É a
primeira forma de cautela que visa a evitar que o reconhecedor seja sugestionado ao ser colocado já de início frente ao
suspeito.
2) a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la: Outra forma de evitar que o
reconhecedor aponte o suspeito de forma irrefletida e impetuosa.
3) se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra
influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta
não veja aquela: Trata-se de uma medida que visa, principalmente, à segurança da pessoa que procede ao
reconhecimento. Com isso, garante-se também que o reconhecimento seja bem sucedido na medida em que se evita
que o reconhecedor se sinta constrangido.
4) do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para
proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais: Os pormenores mencionados pela lei referem-se ao
nome do reconhecedor, do suposto autor do crime e daqueles que foram colocados a seu lado. Realizado o
reconhecimento em juízo, torna-se desnecessário o cumprimento deste requisito, bastando que o juiz faça constar do
termo que a testemunha ou a vítima reconheceram o agente, quer diretamente, quer ao ser-lhes apresentado em uma
sala de reconhecimento.
8) Como se dá o aproveitamento da prova obtida por meio de colaboração premiada? Valor jurídico.
(examinador contextualizou a questão pro candidato quando ele pediu)
Introdução:

163
A colaboração premiada é meio de obtenção de prova que se destina à obtenção de elementos dotados de capacidade
probatória. Logo, tecnicamente, o que se obtém a partir do acordo de colaboração não é a prova (compreendida como
resultado probatório, é dizer, o próprio convencimento judicial gerado pela prova), mas sim o meio de prova
(compreendido como elemento idôneo à comprovação do fato).
Sem embargo disso, considerando que, em sentido mais amplo, o termo prova pode designar (i) o direito à prova; (ii) o
resultado da prova (convencimento); e também (iii) o meio de prova, a resposta que se propõe ao questionamento é:
O valor jurídico da prova obtida a partir de uma colaboração premiada é regido pela denominada regra da
corroboração, ou seja, o colaborador deve trazer elementos de informação e de provas capazes de confirmar as suas
declarações (ex: indicação do produto do crime, de contas bancarias, realização de interceptação ambiental etc).
Esse entendimento, que é acolhido pela jurisprudência, veio a ser positivado pela Lei n. 12850/13, no art. 4º, paragrafo
16:

§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente
colaborador.
Com o fito de prevenir delações falsas, o magistrado deve ter cautela no momento da valoração da prova obtida a partir
da colaboração premiada, devendo perquirir sobre a personalidade do colaborador, as relações precedentes entre ele e
o delatado, os moveis da colaboração, a verossimilhança das alegações etc.
A doutrina aponta que a colaboração premiada ganha contornos de verdadeira prova testemunhal em detrimento do
correu delatado...
(fonte: Renato Brasileiro)

A propósito, o entendimento do STF:


“A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, tem aptidão para autorizar a deflagração da investigação
preliminar, visando adquirir coisas materiais, traços ou declarações dotadas de força probatória. Essa, em verdade,
constitui sua verdadeira vocação probatória. 11. Todavia, os depoimentos do colaborador premiado, sem outras provas
idôneas de corroboração, não se revestem de densidade suficiente para lastrear um juízo positivo de admissibilidade
da acusação, o qual exige a presença do fumus commissi delicti. 12. O fumus commissi delicti, que se funda em um
juízo de probabilidade de condenação, traduz-se, em nosso ordenamento, na prova da existência do crime e na
presença de indícios suficientes de autoria. 13. Se “nenhuma sentença condenatória será proferida com
fundamento apenas nas declarações de agente colaborador” (art. 4º, § 16, da Lei nº 12.850/13), é lícito concluir
que essas declarações, por si sós, não autorizam a formulação de um juízo de probabilidade de condenação e,
por via de consequência, não permitem um juízo positivo de admissibilidade da acusação. 14. No caso concreto,
faz-se referência a documentos produzidos pelos próprios colaboradores, a exemplo de anotações, registros em
agenda eletrônica e planilhas de contabilidade informal. A jurisprudência da Corte é categórica em excluir do
conceito de elementos de corroboração documentos elaborados unilateralmente pelo próprio colaborador.
Precedentes.(...) (Inq 4074, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, julgado em 14/08/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-221 DIVULG 16-10-2018 PUBLIC 17-10-2018)”

Por fim, ainda no tema, vale observar que a prova obtida a partir da colaboração premiada no âmbito do processo penal
poderá ter reflexos também em outras áreas, ou seja, inclusive para fins não penais. Mediante autorização judicial, a
prova poderá ser compartilhada e utilizada validamente para a instrução de inquéritos civis, procedimentos
investigatórios administrativos e fiscais, ações de improbidade etc.
A ressalva é que o transplante de provas e a remessa de informações sigilosas “decorrentes da colaboração só
poderão ser autorizados mediante decisão judicial”, segundo entendimento do STF.
(Fonte: Masson e Marçal)
9) E quando se der em face de uma retratação do agente? Ver resposta abaixo
164
10) Existe diferença entre a retratação e a rescisão da colaboração?
Sim. Apesar de devidamente homologado, pode ocorrer de o acordo de colaboração vir a ser DEFEITO (gênero), por
meio de:

a. Rescisão;
b. Retratação;
c. Reconhecimento de causa de anulabilidade.
A rescisão vem inserida na avença em forma de cláusula e diz respeito ao descumprimento daquilo que foi acordado
entre as partes.
Quando a causa de sua ocorrência é imputada ao colaborador, duas são as principais consequências da rescisão: a)
perda do prêmio negociado; b) manutenção das provas – inclusive autoincriminatórias – produzidas pelo colaborador (o
que não acontece nos casos de retratação e anulabilidade), que poderão ser utilizadas em seu desfavor ou contra
terceiros.
São exemplos de fatos atribuídos ao colaborador (situações ligadas a má-fé):

● Reserva mental ou mentira em relação aos fatos;

● Adulteração ou destruição de provas que tinha em seu poder, após a celebração do acordo;

● Recusa de prestar informações de seu conhecimento relacionadas ao objeto do acordo;

● Prática de crime doloso da mesma natureza dos fatos em apuração, após homologação do acordo.

Lado outro, quando a rescisão é motivada por fatos atribuídos ao MP, deve-se prever no acordo que o colaborar poderá
fazer cessar a cooperação, assegurada a manutenção dos benefícios concedidos e as provas já produzidas.
São exemplos de fatos atribuídos ao MP:
 Deixa de pleitear em favor do condenado os benefícios legais acordados;
 Quebra sigilosidade da avença.

Já a retratação, que encontra previsão no art. 4, p. 10, da Lei n. 12850/13, consiste na possibilidade de desistência
(por arrependimento) do acordo por uma ou por ambas as partes, caso em que as provas autoincriminatórias
produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor 2 (obs: para Masson e
Marçal, também as provas não incriminatórias, mas que houverem sido produzidas pelo colaborador, não
poderão ser usadas contra ele).
A retratação não exige qualquer fim especial (segundo doutrina majoritária), tampouco apreciação judicial (se operada
antes da homologação judicial), operando-se o distrato por simples manifestação da vontade.
Aqui, o desfazimento do acordo não é impulsionado por ato de má-fé (como ocorre na rescisão por ato do colaborador).
Cumpre ressaltar que há quem considere a retratação uma faculdade personalíssima do colaborador, de maneira que,
se os resultados almejados com a colaboração não forem alcançados pelo MP, deverá o Parquet apenas pugnar pela
condenação do colaborador sem a outorga de qualquer prêmio (e não se retratar).
Com efeito, é possível a retratação parcial, desde que haja consenso entre as partes.
Outrossim, quanto ao momento adequado da retratação, a lei é omissa, havendo quatro correntes doutrinárias:
1ª. Somente até o momento da assinatura do acordo pelas partes; (LFG e Marcelo Rodrigues)
2ª. Depois da homologação judicia e antes da sentença; (Nucci)
3ª. Antes da homologação judicial; (Brasileiro, Sanches e Min. Dias Toffoli)

2
Art. 4º, p. 10, Lei 12.850: § 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias
produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu
165
4ª. Desde a celebração do acordo até a sentença (mas, se já homologado, deverá haver manifestação de vontade de
ambas as partes) (Cleber Masson e Vinicius Marçal)

Fonte: “Crime organizado”. Cleber Masson e Vinicius Marçal


11) Existem limites para a validade das provas no processo penal? Em regra, no direito, podemos produzir
qualquer tipo de provas. Faça uma análise com base no garantismo positivo e negativo.
O limite para a validade da prova no processo penal é que a sua obtenção se dê por meios lícitos (art. 5º, LVI, CR). E,
como destaca Nucci, os meios ilícitos não abrangem somente os que forem expressamente proibidos por lei, mas
também os imorais, antiéticos, atentatórios à dignidade da pessoa humana e aos bons costumes, bem como os
contrários aos princípios gerais de direito.
Isso porque, em um Estado Democrático de Direto, a descoberta da verdade não pode ser feita a qualquer preço,
devendo ser respeitados os direitos e as garantias fundamentais da pessoa humana, sob pena de se deslegitimar o
sistema punitivo.
Essa restrição – a saber, a inadmissibilidade de provas obtidas por meio ilícito – se justifica como limitação ao direito de
punir do Estado, ou seja, como proteção do indivíduo frete ao poder punitivo estatal. Assim, à luz do GARANTISMO
NEGATIVO (princípio da proporcionalidade como proteção contra os excessos estatais), impõe-se a regra da limitação
ao direito à prova, prevista no art. 5º, LVI, CR (certo que, como todo e qualquer direito fundamental, o direito à prova não
tem natureza absoluta).
De outro lado, se a prova, conquanto obtida por meios ilícitos, servir a demonstrar a inocência do acusado, com
afastamento, por conseguinte, da punição estatal, o princípio da proporcionalidade informa que ela deverá ser admitida
no processo. Nesse caso, assume relevância o GARANTISMO POSITIVO (princípio da proporcionalidade como
proibição de proteção insuficiente), na perspectiva de que, se fosse vedado o uso da prova ilícita para absolver um
inocente, restariam gravemente vulnerados os direitos fundamentais à defesa (CR, art. 5, LV) e à presunção de
inocência (CR, 5º, LVII).
Em síntese, “o que deve ser buscado pelos atores da persecução penal é o justo equilíbrio entre o garantismo e
a efetividade da sanção, garantismo negativo e garantismo positivo, na mesma medida”. Sobre esse almejado
equilíbrio, a lição de Luís Roberto Barroso:
“Garantismo é uma boa filosofia para lidar com o Direito Penal. Ele significa respeitar o devido processo legal
(contraditório, ampla defesa, duplo grau de jurisdição) e assegurar os direitos fundamentais do acusado. Significa não
querer salvar o mundo com tipificações abundantes e penas exacerbadas, nem tampouco fazer juízos morais
desqualificadores das pessoas, em lugar de julgar fatos objetivos. Garantismo, porém, não significa tratar o Direito
Penal sem seriedade mínima, nem tampouco abdicar dos deveres de proteção atribuídos ao Estado. A proteção
dos direitos humanos, em qualquer sociedade civilizada, exige um grau moderado, legítimo e proporcional de
repressão estatal, para que o bem seja mais atraente do que o mal.” (https://www.conjur.com.br/2014-dez-31/roberto-
barroso-ano-sinaliza-mudancas-supremo-tribunal-federal )

Fonte: Renato Brasileiro; Cleber Masson e Vinicius Marçal

(ps: A concepção de garantismo positivo, aliada aos direitos fundamentais, significa a proibição da proteção
deficiente, obrigando o Estado a agir, por meio da tutela penal, na proteção de bens jurídicos fundamentais. Contrapõe-
se à ideia de garantismo negativo, consubstanciado na proteção contra os excessos estatais).

(p2: exemplo de limitação à produção probatória sob a ótica do garantismo negativo:


FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA – APREENSÃO DE LIVROS CONTÁBEIS E DOCUMENTOS FISCAIS REALIZADA, EM
ESCRITÓRIO DE CONTABILIDADE, POR AGENTES FAZENDÁRIOS E POLICIAIS FEDERAIS SEM MANDADO
JUDICIAL – INADMISSIBILIDADE – ESPAÇO PRIVADO, NÃO ABERTO AO PÚBLICO, SUJEITO À PROTEÇÃO
166
CONSTITUCIONAL DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR (CF, ART. 5º, XI) – SUBSUNÇÃO AO CONCEITO
NORMATIVO DE “CASA” – NECESSIDADE DE ORDEM JUDICIAL – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E FISCALIZAÇÃO
TRIBUTÁRIA – DEVER DE OBSERVÂNCIA, POR PARTE DE SEUS ÓRGÃOS E AGENTES, DOS LIMITES
JURÍDICOS IMPOSTOS PELA CONSTITUIÇÃO E PELAS LEIS DA REPÚBLICA – IMPOSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, DE PROVA OBTIDA COM TRANSGRESSÃO À GARANTIA DA
INVIOLABILIDADE DOMICILIAR – PROVA ILÍCITA – INIDONEIDADE JURÍDICA – “HABEAS CORPUS” DEFERIDO.
ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA – FISCALIZAÇÃO – PODERES – NECESSÁRIO RESPEITO AOS DIREITOS E
GARANTIAS INDIVIDUAIS DOS CONTRIBUINTES E DE TERCEIROS. – Não são absolutos os poderes de que se
acham investidos os órgãos e agentes da administração tributária, pois o Estado, em tema de tributação, inclusive em
matéria de fiscalização tributária, está sujeito à observância de um complexo de direitos e prerrogativas que assistem,
constitucionalmente, aos contribuintes e aos cidadãos em geral. Na realidade, os poderes do Estado encontram, nos
direitos e garantias individuais, limites intransponíveis, cujo desrespeito pode caracterizar ilícito constitucional. – A
administração tributária, por isso mesmo, embora podendo muito, não pode tudo. É que, ao Estado, é somente lícito
atuar, “respeitados os direitos individuais e nos termos da lei” (CF, art. 145, § 1º), consideradas, sobretudo, e para esse
específico efeito, as limitações jurídicas decorrentes do próprio sistema instituído pela Lei Fundamental, cuja eficácia –
que prepondera sobre todos os órgãos e agentes fazendários – restringe-lhes o alcance do poder de que se acham
investidos, especialmente quando exercido em face do contribuinte e dos cidadãos da República, que são titulares de
garantias impregnadas de estatura constitucional e que, por tal razão, não podem ser transgredidas por aqueles que
exercem a autoridade em nome do Estado. A GARANTIA DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR COMO LIMITAÇÃO
CONSTITUCIONAL AO PODER DO ESTADO EM TEMA DE FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA – CONCEITO DE “CASA”
PARA EFEITO DE PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL – AMPLITUDE DESSA NOÇÃO CONCEITUAL, QUE TAMBÉM
COMPREENDE OS ESPAÇOS PRIVADOS NÃO ABERTOS AO PÚBLICO, ONDE ALGUÉM EXERCE ATIVIDADE
PROFISSIONAL: NECESSIDADE, EM TAL HIPÓTESE, DE MANDADO JUDICIAL (CF, ART. 5º, XI). – Para os fins da
proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da Constituição da República, o conceito normativo de “casa” revela-se
abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público onde alguém exerce profissão
ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna não
acessível ao público), os escritórios profissionais, inclusive os de contabilidade, “embora sem conexão com a casa de
moradia propriamente dita” (NELSON HUNGRIA). Doutrina. Precedentes. – Sem que ocorra qualquer das situações
excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional (art. 5º, XI), nenhum agente público, ainda que vinculado à
administração tributária do Estado, poderá, contra a vontade de quem de direito (“invito domino”), ingressar, durante o
dia, sem mandado judicial, em espaço privado não aberto ao público onde alguém exerce sua atividade profissional,
sob pena de a prova resultante da diligência de busca e apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque
impregnada de ilicitude material. Doutrina. Precedentes específicos, em tema de fiscalização tributária, a propósito de
escritórios de contabilidade (STF). – O atributo da auto-executoriedade dos atos administrativos, que traduz expressão
concretizadora do “privilège du préalable”, não prevalece sobre a garantia constitucional da inviolabilidade domiciliar,
ainda que se cuide de atividade exercida pelo Poder Público em sede de fiscalização tributária. Doutrina. Precedentes.
ILICITUDE DA PROVA – INADMISSIBILIDADE DE SUA PRODUÇÃO EM JUÍZO (OU PERANTE QUALQUER
INSTÂNCIA DE PODER) – INIDONEIDADE JURÍDICA DA PROVA RESULTANTE DE TRANSGRESSÃO ESTATAL AO
REGIME CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS. – A ação persecutória do Estado, qualquer
que seja a instância de poder perante a qual se instaure, para revestir-se de legitimidade, não pode apoiar-se em
elementos probatórios ilicitamente obtidos, sob pena de ofensa à garantia constitucional do “due process of law”, que
tem, no dogma da inadmissibilidade das provas ilícitas, uma de suas mais expressivas projeções concretizadoras no
plano do nosso sistema de direito positivo. A “Exclusionary Rule” consagrada pela jurisprudência da Suprema Corte dos
Estados Unidos da América como limitação ao poder do Estado de produzir prova em sede processual penal. – A
Constituição da República, em norma revestida de conteúdo vedatório (CF, art. 5º, LVI), desautoriza, por incompatível
com os postulados que regem uma sociedade fundada em bases democráticas (CF, art. 1º), qualquer prova cuja
167
obtenção, pelo Poder Público, derive de transgressão a cláusulas de ordem constitucional, repelindo, por isso mesmo,
quaisquer elementos probatórios que resultem de violação do direito material (ou, até mesmo, do direito processual),
não prevalecendo, em consequência, no ordenamento normativo brasileiro, em matéria de atividade probatória, a
fórmula autoritária do “male captum, bene retentum”. Doutrina. Precedentes. – A circunstância de a administração
estatal achar-se investida de poderes excepcionais que lhe permitem exercer a fiscalização em sede tributária não a
exonera do dever de observar, para efeito do legítimo desempenho de tais prerrogativas, os limites impostos pela
Constituição e pelas leis da República, sob pena de os órgãos governamentais incidirem em frontal desrespeito às
garantias constitucionalmente asseguradas aos cidadãos em geral e aos contribuintes em particular. – Os
procedimentos dos agentes da administração tributária que contrariem os postulados consagrados pela Constituição da
República revelam-se inaceitáveis e não podem ser corroborados pelo Supremo Tribunal Federal, sob pena de
inadmissível subversão dos postulados constitucionais que definem, de modo estrito, os limites – inultrapassáveis – que
restringem os poderes do Estado em suas relações com os contribuintes e com terceiros. (HC 103325, Relator(a): Min.
CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 03/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014
PUBLIC 30-10-2014)
GRUPO TEMÁTICO III
CIVIL - RACHEL
CURATELA

1. O que é a curatela, levando em consideração as recentes modificações advindas com o Estatuto da Pessoa
com Deficiência?
É uma medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, devendo durar
o menor tempo possível. A pessoa curatelada será considerada relativamente incapaz (art. 4º CC), devendo, conforme
o caso, ser representada ou assistida pelo curador.
Nelson Rosenvald destaca que a curatela tradicional tinha escopo meramente patrimonial. A partir do EPCD, a função
do curador passa a ser de promotor da saúde do curatelado, contribuindo para promover sua autonomia e reabilitação.
Não é mais um mero curador de bens.

2. Continua se valendo para as questões patrimoniais?


Sim, em verdade, segundo o novo paradigma a curatela afetará tão somente atos relacionados aos direitos de natureza
patrimonial e negocial, conforme art. 85 do EPCD

3. A curatela pode atingir os atos existenciais?


Não. O art. 85, §2º do EPCD é assertivo ao indicar que a definição à curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à
sexualidade, ao matrimônio. Com efeito, a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa para casar-se e
constituir união estável, exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso à informações adequadas
sobre reprodução e planejamento familiar, conservar a fertilidade, exercer o direito à guarda, tutela e adoção (art. 6º
EPCD).
Todavia, segundo o Enunciado 637 da CJF, admite-se a possibilidade de outorga ao curador de poderes de
representação para alguns atos da vida civil, inclusive de natureza existencial, a serem especificados na sentença,
desde que comprovadamente necessários para proteção do curatelado em sua dignidade.

4. Sobre a extensão da curatela: é preciso que haja uma pré determinação acerca disso? Ou o juiz não tem
que entrar neste mérito na extensão da curatela?
Nos termos do art. 1772, o juiz determinara, segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela.

168
O enunciado 574 da CJF reforça que a decisão judicial de interdição deverá fixar os limites da curatela para todas as
pessoas a ela sujeitas, sem distinção, a fim de resguardar os direitos fundamentais e a dignidade do interdito.

5. Mesmo para aqueles que não podem exprimir a sua vontade?


Sobre o tema, confira-se precedente da Corte Especial do TJMG:

EMENTA: INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE - DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DOS


ARTIGOS 84, CAPUT E SEU § 3º E 85, §§ 1º E 2º, AMBOS DA LEI 13.146/2015 (ESTATUTO DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA) E ARTIGO 4º, INCISO III, DO CÓDIGO CIVIL - CURATELA - INCAPACIDADE RELATIVA - VÍCIO
INEXISTENTE - 1. A Lei 13.146/2015, no que tange ao estabelecimento da incapacidade relativa para os portadores de
deficiência, está de acordo com a Convenção da ONU Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, promulgada pelo
Decreto nº 6.949/2009, com status equivalente ao de emenda constitucional, nos termos do art. 5º, § 3º, da Constituição
Federal. 2. Ao estabelecer que a "curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial
e negocial", o art. 85, § 1º, da Lei nº 13.146/15, não estipulou que o exercício do direito se daria de maneira absoluta, já
que ressalvada a proporcionalidade da definição da curatela às necessidades e circunstâncias de cada caso. (TJMG -
Arg Inconstitucionalidade 1.0000.17.034419-6/002, Relator(a): Des.(a) Márcia Milanez , ÓRGÃO ESPECIAL,
julgamento em 14/03/2018, publicação da súmula em 23/03/2018)

Do inteiro teor, extrai-se:

Nesse contexto, ao estabelecer que a "curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza
patrimonial e negocial", não alcançando "o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à
educação, à saúde, ao trabalho e ao voto", o art. 85, § 1º, da Lei nº 13.146/15, nada mais fez do que assegurar aos
portadores de deficiência os direitos que já eram resguardados pela Convenção de status constitucional.

Não houve, portanto, restrição dos direitos inerentes ao exercício da capacidade pelas pessoas portadoras de algum
tipo de deficiência, mas verdadeira ampliação, já que a finalidade da norma é promover a integração, a participação em
sociedade e o exercício dos direitos e liberdades fundamentais por tais indivíduos.

Por outro lado, ao permitir a prática de atos da vida civil de natureza não negocial, o Estatuto da Pessoa com
Deficiência não estipulou que o exercício do direito se daria de maneira absoluta, já que ressalvada a proporcionalidade
da definição da curatela às necessidades e circunstâncias de cada caso. (...)

Como visto o Estatuto da Pessoa com Deficiência limitou-se a definir a área de atuação do curador (atos de natureza
patrimonial e negocial), desaparecendo assim, afigura de interdição completa e do curador com poderes ilimitados. Isto
significa que, a permissão contida no art. 85, § 1º da Lei Federal n. 13.146/2015 não impede o reconhecimento de
incapacidade para prática de determinados atos da vida civil que não se insiram na esfera patrimonial e negocial, o que
deve ser verificado conforme as particularidades do caso concreto.

Nesse sentido foi a conclusão alcançada no parecer da Douta Procuradoria-Geral de Justiça:

"Sob essa ótica, não se pode retirar do indivíduo a sua capacidade legal para a prática de atos da vida civil apenas em
razão de sua deficiência, devendo a aferição da eventual incapacidade ser feita mediante a análise dos diversos
aspectos biopsicossociais que envolvem o caso concreto". (...)

169
6. As pessoas que se encontravam interditadas absolutamente (absolutamente incapazes). Quando da
entrada em vigor do Estatuto, como fica a situação jurídica delas?
para a primeira corrente, os portadores de deficiência passam a ser plenamente capazes com a emergência do EPD.
Nessa esteira, opina José Fernando Simão que “todas as pessoas que foram interditadas em razão de enfermidade ou
deficiência mental passam, com a entrada em vigor do Estatuto, a serem consideradas plenamente capazes. Trata-se
de lei de estado. Ser capaz ou incapaz é parte do estado da pessoa natural. A lei de estado tem eficácia imediata e o
levantamento da interdição é desnecessário.
Uma segunda corrente defende que os termos de curatela já lavrados e expedidos continuam válidos, embora a sua
eficácia esteja limitada aos termos do EPCD, ou seja, deverão ser interpretados em nova perspectiva, para justificar a
legitimidade e autorizar o curador apenas quanto à prática de atos patrimoniais (Pablo Stolze e Tartuce).
Observação feita pela examinadora: há duas correntes sobre a questão, e uma delas sustenta que seriam
automaticamente desinterditadas.

7. No seu entendimento, seria necessário o levantamento da curatela?


Resposta que depende da percepção de cada um. Entretanto, creio que defender a posição de Nelson Rosenvald, que
é procurador do MPMG, seja adequado.
Assim, filio-me à corrente segundo a qual não se tem o levantamento automático da curatela, pois seria temerário, com
sério risco à segurança jurídica e social, considerar, a partir do Estatuto, “automaticamente" inválidos e ineficazes os
milhares - ou milhões - de termos de curatela existentes no Brasil. A partir de agora, o que pode haver é o levantamento
casuístico da curatela, bem como a migração de certos casos para o instituto da tomada de decisão apoiada. Mesmo
mantida a curatela, é preciso ter em mente que a pessoa curatelada é relativamente incapaz.

8. O curador é obrigado a prestar contas de sua administração? Há exceção, qual é?


Sim, por aplicação do art. 1755 do CC (prestação de contas pelos tutores), cuja aplicação é imposta pelo art. 1774 e
1781 CC (aplicação das disposições da tutela à curatela).
O juiz poderá dispensar a prestação de contas quando o tutelado/ curatelado não tiver bens nem renda, ou se os bens
e a renda foram de baixo valor. Ademais, quando o curador for o cônjuge e o regime de bens do casamento for de
comunhão universal, não será obrigado à prestação de contas, salvo determinação judicial (art. 1.783 do Código Civil).

9. Faça considerações sobre a curatela especial e a estendida.


A curatela especial é um instituto processual, previsto no art. 71 do CPC, segundo o qual “o juiz dará curador especial:
i) ao incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a
incapacidade; e ii) réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for
constituído advogado”. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública.
Entende-se por curatela prorrogada ou extensa a possibilidade de a proteção que recai sobre o curatelado alcançar não
só o seu patrimônio, mas também os filhos nascidos ou nascituros (art. 1779 CC).

10. “A curatela especial é um caso específico mesmo... Vamos pensar mais um pouquinho. Tem a ver com o
exercício da autoridade parental do nascituro”. (Obs: essa anotação veio no material, como observação da
anotadora á fala da examinadora, mas pelo que levantei a definição dada tem a ver com curatela estendida).
11. Tomada de decisão apoiada: o que é e quais são suas características?

170
É um instrumento de auxílio à pessoa com deficiência para dar-lhe mais segurança na celebração de negócios
jurídicos, como contratos. A TDA é instituída pela via de um processo judicial por meio do qual a pessoa a ser apoiada
elege, pelo menos duas pessoas, com as quais tenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhes apoio
da tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes elementos e informações necessárias para exercer sua
capacidade. A TDA não altera a capacidade civil da pessoa (é plenamente capaz).
A legitimidade para formular o pedido de TDA é da própria pessoa a ser apoiada, que deve indicar quem serão os
apoiadores. O MP deve ser pronunciar sobre o pedido, após o que o juiz, amparado por equipe multidisciplinar, decidirá.
A decisão tomada por pessoa apoiada tem validade e efeitos sobre terceiros, que podem solicitar que os apoiadores
contra-assinem o contrato ou acordo. Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante,
havendo divergências de opiniões entre os apoiadores e apoiado, deverá o juiz, ouvido o MP, decidir sobre a questão.
A pessoa apoiada pode a qualquer tempo pedir o término do acordo firmado.
De acordo com o Enunciado 640 da CJF, a tomada de decisão apoiada não é cabível, se a condição da pessoa exigir
aplicação da curatela.

PROCESSO CIVIL - ADRIANO CARDOSO DA SILVA

12. Explique os poderes deveres monocráticos que o relator possui, em especial após o advento do novo
CPC. Faça uma correlação com o sistema de precedentes.
Ver art. 932 do CPC. A correlação com o sistema de precedentes pode ser extraída dos incisos IV e V, segundo os
quais o relator pode negar ou dar provimento a recurso (nesse caso, após o contraditório) se a decisão recorrida for
contrária a entendimento sumulado pelos tribunais superiores, acórdão repetitivo, entendimento firmado em IRDR e
IAC, que são precedentes vinculantes nos termos do art. 927 CPC.

13. Pode homologar uma composição entre as partes? E eventuais vícios? (perguntas relacionadas à anterior)
Sim, pode homologar, conforme art. 932, I do CPC (novidade CPC15).
Segundo o art. 932, §único, antes de considerar inadmissível o recurso o relator concederá prazo de 5 dias para o
recorrente saná-lo ou complementar a documentação exigível.

14. Uma vez ocorrida a desistência de recurso especial repetitivo, qual a postura o STJ deverá adota a
respeito do tema em julgamento?
Incidem as disposições do art. 998, § único do CPC, segundo o qual “a desistência do recurso não impede a análise da
questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários
ou especiais repetitivos”. Portanto, não obstante a desistência do recurso – a ser homologada – a tese será discutida
como se desistência não tivesse havido, formando precedente que, de todo modo, não se aplicará ao recorrente que
desistiu.

15. Como se estrutura o efeito suspensivo dos recursos no sistema atual no novo CPC? Quais têm e quais
não têm?
O efeito suspensivo consiste na suspensão dos efeitos da decisão recorrida até que o recurso seja julgado. A apelação,
como regra, tem efeito suspensivo, ressalvadas as hipóteses do art. 1012, § 1º do CPC, que admitem cumprimento
provisório tão logo publicada a decisão (efeito suspensivo próprio ou ope legis). Há, também, na legislação esparsa,
situações em que a apelação não tem efeito suspensivo, como o art. 14 da LACP. Os demais recursos não têm efeito
suspensivo automático, embora possam tê-lo concedido desde que se demonstre probabilidade de provimento do
recurso, ou se sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação (efeito suspensivo
impróprio ou ope judicis) (art. 995, caput c/c art. 1012, §4).
171
16. Na apelação desprovida de efeito suspensivo, em que momento pode o apelante requerer sua aplicação?
Ver art. 1012, §3º CPC. O pedido pode ser feito a qualquer tempo. Se feito assim que distribuída a apelação, mas antes
de sua distribuição no tribunal, será a esse dirigido. Por outro lado, se já distribuída a apelação, será endereçado ao
relator.

17. Você como promotor de justiça. Espera chegar no TJ pra requerer este efeito?
Excelência, o pedido de efeito suspensivo deve ser formulado tão logo se façam presentes as condições para sua
concessão excepcional (art. 1012, §4º CPC), e se isso se verificar antes da distribuição do recurso, não aguardaria a
remessa dos autos ao Tribunal, em especial porque sua concessão a esses casos tem natureza constitutiva, portanto,
gera efeitos ex nunc.

18. Qual o momento essa petição deve ser interposta?


Vide art. 1012, §3º CPC.

DIERLE
TEORIA GERAL DOS RECURSOS. PODERES DOS RELATORES

19. Quais são os requisitos intrínsecos e extrínsecos dos recursos extraordinários?


Os requisitos de admissibilidade são classificados em intrínsecos e extrínsecos. Os primeiros são: cabimento,
legitimação para recorrer, interesse em recorrer e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. Já os
requisitos extrínsecos são: tempestividade, regularidade formal, preparo e regularidade formal, onde se insere o pré-
questionamento.
O recurso extraordinário tem por pressupostos de admissibilidade, ainda, a necessidade de que a decisão recorrida
seja de última ou única instância, demonstração de repercussão geral e subsunção a uma das hipóteses de cabimento
do art. 102, III da CF.
(Autor consultado: Daniel Amorim)

20. O NCPC trouxe alguma novidade quanto ao pré-questionamento?


Pré-questionamento é requisito específico de RE e REsp que pressupõe que a matéria recursal já tenha sido objeto de
apreciação e soluço pelo tribunal a quo (arts. 102, III e 105, III CF – “causas decididas”). A decisão recorrida precisa ter
enfrentado, ventilado, decidido a questão constitucional ou infraconstitucional suscitada pela parte, sob pena de não
conhecimento do recurso.
O pré-questionamento pode ser explícito (a norma violada é mencionada na decisão recorrida) ou implícito (ocorre
quando, apesar de mencionar a tese jurídica, a decisão não menciona a norma violada (o dispositivo legal).
Se a decisão recorrida não ventilar a questão constitucional ou infraconstitucional, faz-se necessário interpor embargos
de declaração (súmula 98 STJ). Já era assim no CPC73.
A questão é que, sendo rejeitados os ED’s, o STJ entendia que o recurso deveria alegar violação ao art. 535 do CPC. Se
providos, os autos regressavam à origem para apreciação da matéria, permitindo novo manejo de recurso especial. Isso
é o que se chama de pré-questionamento real. O STF já admitia o pré-questionamento ficto.
O CPC15, acolhendo precedentes do STF, adotou a tese do pré-questionamento ficto (art. 1025).
(Autor consultado: Daniel Amorim)

21. Nome específico dado a essa modalidade de prequestionamento (ficto foi a resposta do candidato)

172
22. Explique estes dois efeitos dos recursos, com relação ao recurso ordinário: translativo ou devolutivo em
profundidade e expansivo objetivo externo.
O efeito translativo consiste na possibilidade de o tribunal conhecer determinadas matérias de ofício no julgamento do
recurso, em especial as matérias de ordem pública ou aquelas que possam ser conhecidas de ofício pelo juiz. Sobre o
tema, vale a transcrição da doutrina de Daniel Amorim:
“Tendo sido a matéria de ordem pública ou a prescrição objeto da impugnação recursal, essa matéria será analisada em
razão do efeito devolutivo; não havendo até o momento recursal qualquer decisão a seu respeito, a matéria de ordem
pública ou prescrição poderá ser analisada originariamente pelo tribunal em razão do efeito translativo. Não é tranqüila
a adoção desse efeito, existindo parcela doutrinária que defende ser a possibilidade de o tribunal conhecer matéria de
ordem pública e a prescrição de ofício uma conseqüência da profundidade do efeito devolutivo.
O efeito expansivo será gerado sempre que o julgamento do recurso ensejar decisão mais abrangente do que a matéria
impugnada (efeito expansivo objetivo), ou, ainda, atingir sujeitos que não participaram como partes do recurso, embora
sejam partes na demanda (efeito expansivo subjetivo).
O efeito expansivo objetivo poderá ser interno ou externo, a depender de a matéria atingida pelo julgamento estar
localizada dentro ou fora de decisão impugnada. O efeito objetivo externo se verifica sempre que o julgamento do
recurso atinge outros atos processuais que não a decisão recorrida. Exemplo: o autor requer a produção de provas, em
pedido indeferido, o que ensejou a interposição de agravo de instrumento. Como esse recurso não tem efeito
suspensivo, o processo seguiu seu trâmite e houve julgamento antecipado da lide. Foi interposta apelação e, durante
seu trâmite, o agravo de instrumento foi provido, assegurando ao autor o direito à produção de provas. Nesse caso,
pelo efeito expansivo objetivo externo do recurso, a sentença será anulada como conseqüência do provimento do
agravo. Exemplo 2: o mesmo fenômeno ocorre nos atos praticados em execução provisória quando a sentença
exeqüenda é reformada ou anulada pelo julgamento do recurso.
Em acréscimo, o efeito expansivo objetivo interno refere-se a capítulos não impugnados da decisão recorrida, que
serão atingidos pelo julgamento do recurso. Essa circunstância só será verificada nos capítulos não impugnados que de
alguma forma dependam dos capítulos impugnados, em relação de prejudicialidade, sendo que por uma questão de
lógica a modificação de um conduz à modificação do outro. Exemplo 1: ação de indenização por danos em que o réu é
condenado a pagar danos materiais de R$ 10.000,00 por ter sido considerado responsável pelo acidente. O réu recorre
questionando apenas o an debeatur, afirmando que não teve responsabilidade pelo acidente. Naturalmente, se acolhido
tal fundamento, mesmo que o valor da condenação não tenha sido expressamente impugnado, será afetado pelo
provimento do recurso. Exemplo 2: automática revisão da condenação em honorários e custas em caso de provimento
da apelação.
(Autor consultado: Daniel Amorim)

23. O CPC alterou de modo muito decisivo o efeito translativo em seu art. 1013, ampliando as possibilidades
de cabimento. Explique.
O citado dispositivo indica que a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada, com reexame
de todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não solucionadas, desde que relativas ao capítulo
impugnado.
Ademais, nesse dispositivo foi positivada a chamada “teoria da causa madura”, que permite ao tribunal decidir desde
logo o mérito quando (i) reforme a sentença fundada no art. 485 (sem resolução de mérito), (ii) decrete a nulidade da
sentença por ela não ser congruente com os limites do pedido e da causa de pedir, (iii) constante omissão no exame de
um dos pedidos, julgando-o, (iv) decrete a nulidade da sentença por falta de fundamentação e (v) reforme a sentença
que tenha acolhido a prescrição ou decadência.

173
GRUPO TEMÁTICO IV

COLETIVO - JOAQUIM
INFÂNCIA E JUVENTUDE E PRINCÍPIOS

1) Apresente dois dos princípios aplicáveis do campo da infância e juventude, explicando-os rapidamente.
Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, previsto no art. 227 da CF, segundo o qual os aplicadores do
direito devem buscar a solução que proporcione o maior benefício para a criança ou adolescente.

O princípio da absoluta prioridade compreende: (i) primazia de receber socorro; (ii) precedência de atendimento nos
serviços públicos ou de relevância social; (iii) preferência na formulação e execução de políticas públicas e (iv)
destinação privilegiada de recursos. Significa colocar os interesses das C&A em destaque, pois são pessoas em
desenvolvimento, logo, a proteção de hoje resguarda a formação do adulto de amanhã.

2) Proteção integral: qual o contexto em que surge? Não só como um princípio, mas também como uma
doutrina. Qual é o estado atual: possibilidade de retrocesso, avanço? Dê exemplos.
Antes do Código de Menores vigorava o modelo penal indiferenciado, sem um tratamento específico para as crianças e
adolescentes.
O Código de Menores (1927 e 1979) já estava desatualizado em face da legislação internacional. Nesse sistema, por
exemplo, a falta de recursos materiais para prover as necessidades básicas caracterizava situação irregular que
poderia, inclusive, importar em destituição do poder familiar. As normas se sustentavam sob o binômio
carência/delinquência. A situação irregular, decorrente de situações de perigo material ou moral, eram tratadas como
uma patologia social.
A CF88 rompeu com o paradigma patrimonialista e adotou o paradigma existencialista, que protege a existência da
pessoa humana e sua dignidade. O tratamento dado à C&A antes da CF88 não os reconhecia como sujeitos de direitos
em sua plenitude, mas sim como objeto de proteção. Adotava-se a doutrina da situação irregular, em que se tutelava o
menor em situação irregular, aquele que não estava no seio de sua família.
Com a CF88 as C&A passaram a ser considerados sujeitos de direito em sua plenitude, sendo-lhes dispensada
proteção integral e prioridade absoluta, devendo prevalecer sempre seu superior interesse.
O art. 227 dispõe que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
A justificativa da proteção integral é que as C&A são pessoas em desenvolvimento.

3) Princípios aplicados na prática. Como você se dispõe a lidar com eles na prática. Caso concreto:
adolescente vítima de bullying faz uso de arma de fogo e efetua disparo que causa a morte de dois colegas e
ferimentos em mais 4. Como promotor da infância e juventude, aplicando os princípios, o que o senhor faria?
Justifique sua ação com base nos princípios.
Considera-se bullying todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação
evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la,
causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas (Lei 13.185/15).
Considerando que essa é causa apontada para os atos infracionais praticados, entendo que seria o caso de se apurar o
ato infracional e ato contínuo, oferecer representação contra o adolescente infrator, sem prejuízo de requisição de
tratamento psicológico (art. 101, V do ECA c/c art. 4º, V da Lei 13.185).

174
4) Tendo em vista a prática do bullying e os princípios que orientam a proteção de crianças e adolescentes,
qual seria a responsabilidade da família e da sociedade? E como lidar com isso, pensando no aspecto coletivo
desses direitos?

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Lei 13.185/15
Art. 4o Constituem objetivos do Programa referido no caput do art. 1o:
I - prevenir e combater a prática da intimidação sistemática (bullying) em toda a sociedade;
II - capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e
solução do problema;
III - implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização e informação;
IV - instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e
agressores;
V - dar assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores;
VI - integrar os meios de comunicação de massa com as escolas e a sociedade, como forma de identificação e
conscientização do problema e forma de preveni-lo e combatê-lo;
VII - promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos marcos de uma cultura de paz e
tolerância mútua;
VIII - evitar, tanto quanto possível, a punição dos agressores, privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos que
promovam a efetiva responsabilização e a mudança de comportamento hostil;
IX - promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência, com ênfase nas práticas
recorrentes de intimidação sistemática (bullying), ou constrangimento físico e psicológico, cometidas por alunos,
professores e outros profissionais integrantes de escola e de comunidade escolar.
Art. 5o É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de
conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying).
A partir dos dispositivos transcritos, a responsabilidade da família consistiria em proteger, amparar e promover a
recuperação contra os traumas causados pelo bullying, bem como adotar medidas cabíveis para fazer com que a
prática cesse. A sociedade, em especial, as comunidades de convivência da C&A devem zelar para prevenir e coibir a
prática.
O MP poderia expedir recomendações a escolas versando sobre o tema, poderia agir nos termos do ECA (art. 201, V,
VIII e XI, por exemplo).

5) Na hipótese de colisão entre direitos do idoso e da criança e do adolescente, quais os critérios para se chegar
a uma solução.
Diante do caso concreto, haverá necessidade de se ponderar os direitos e necessidades em pauta para buscar
encontrar a solução mais adequada, promovendo uma análise de proporcionalidade.

PROCESSO COLETIVO - GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO


COMPETENCIA. CONTINÊNCIA, CONEXAO E LITISPENDÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO.

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1) Sabe-se que tanto no processo individual quanto no coletivo, a competência territorial é fixada, em regra, em
razão do local do dano. Qual a principal diferença da natureza da competência territorial em razão do dano no
processo individual e no processo coletivo?
A competência territorial no processo coletivo tem natureza funcional, logo, é absoluta. No processo individual, a
competência territorial é relativa.

2) Como é feita a arguição de incompetência do juízo em um e no outro caso, à luz do novo CPC?
A incompetência absoluta e a relativa podem ser argüidas em preliminar de contestação (art. 64 CPC). Entretanto, em
se tratando de incompetência absoluta, sua não alegação nessa oportunidade não obsta que venha ela a ser aduzida
em outra oportunidade, inclusive em qualquer grau de jurisdição (art. 64, §1º). Ou seja, não há preclusão. Já a
incompetência relativa, se não alegada em preliminar de contestação, importa em prorrogação da competência do juízo
processante (art. 65).

3) E se não for arguida como preliminar no processo coletivo?


Como a competência no direito coletivo tem natureza absoluta, se não alegada como preliminar de contestação, poderá
sê-lo em outro momento, admitindo-se, inclusive, que seja reconhecida de ofício pelo juiz.

4) O CDC aperfeiçoou essa regra de competência territorial em razão do dano, especificando o foro de acordo
com a eventual abrangência desse dano. Como ficou disciplinada essa questão?

Extensão do dano ou do risco Competência


Orientada sempre pelo princípio da
competência adequada
Local Juízo de quaisquer dos foros atingidos
(um único ou poucos foros atingidos, ainda que
em 2 estados vizinhos)
Regional Juízo com foro na capital do Estado atingido
(muitos foros de um único estado, sem
abranger todo o território estadual)
Regional Juízo com foro nas capitais dos Estados
(vários Estados sem abranger todo o território atingidos ou DF, se ele tiver sido atingido
nacional)
Nacional Juízo com foro em qualquer capital e DF.
(todo o território nacional)
Regras especiais Se a União é autora: foro de domicílio do réu,
não importa o lugar do dano
ECA: lugar da ação ou omissão
Estatuto do Idoso: domicílio do idoso →
prevenção.

5) E se o processo for de competência da Justiça Federal e a sua comarca não sedie seção da Justiça Federal?
(quando o candidato respondeu, o examinador tentou convencê-lo que estava errado. O candidato permaneceu firme
em sua resposta e estava certo, no final das contas)

176
6) E a súmula 183 do STJ? (foi cancelada) Obs: a resposta às perguntas foi agrupada abaixo.
24. Art. 193, p. 3

A legislação prevê situações em que, não sendo a comarca sede de seção da JF, a competência é atribuída à justiça
estadual, com recurso para o TRF (art. 109, §3º CF). Na falta de legislação nesse sentido – como é o caso de temas
relacionados ao processo coletivo – competirá o exame da causa à seção judiciária que tenha jurisdição sobre a
comarca onde ocorrido o dano.
A súmula 183 do STJ (Compete ao Juiz Estadual, nas Comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal,
processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo) foi cancelada. Vale registrar que o
fundamento dessa súmula era que a LACP, ao impor a competência absoluta do foro do local do dano, atribuía
competência da JF à JE, nos termos do art. 109, §3º CF.

7) Uma regra básica da competência absoluta é que ela é improrrogável. Em se tratando de processo coletivo,
existe a possibilidade de prorrogação da competência em virtude da conexão e continência? Ou seja, essa
regra que se aplica no direito individual de improrrogabilidade da competência absoluta também é aplicável no
processo coletivo? (“tentei desviar o senhor do caminho certo, mas, mais uma vez, o senhor acertou”) (fundamento:
art. 2 da lei de ação civil pública)

No processo coletivo, em que pese a competência absoluta, o art. 2º da LACP prevê a possibilidade de conexão,
registrando que “a propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas
que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto”. Sobre o tema, Adriano Andrade, Cleber Masson e Landolfo
Andrade anotam: “como o dispositivo fixa a prevenção em relação a todas as ações futuras, não se limitando àquelas
propostas em um mesmo foro, conclui-se que a partir de sua introdução na LACP, a competência territorial das ações
civis públicas ganhou um caráter sui generis, pois, a despeito de funcional (absoluta) e, portanto, declinável pelo
magistrado ex officio, e insuscetível de prorrogação por causas voluntárias (arguição em preliminar, eleição de foro), é
prorrogável por causas legais (conexão e continência).

8) Caso o senhor, em sua comarca, verifique a existência de duas ações civis penais públicas baseadas no
mesmo fundamento de fato e de direito, em que discutem o mesmo pedido, mas propostas por legitimados
diversos, como o senhor opinaria? (colegas, tive dúvidas diante da expressão em destaque)
A questão deve ser construída considerando os efeitos da litispendência entre demandas coletivas com partes distintas.
Nossa legislação é omissa a respeito, no que toca ao processo coletivo.
Segundo o CPC, o caso imporia a extinção do segundo processo sem exame de mérito. Para Didier essa solução só é
adequada quando houver a tríplice identidade na demanda (partes, pedido e causa de pedir).
Quando ocorrer litispendência com partes diversas, mais recomendado será a reunião das ações para processamento
simultâneo. Nas palavras de Didier, “é muito mais prático e rápido reunir as causas do que extinguir um dos processos
e permitir que o legitimado peça para intervir no processo que sobreviveu, requerimento que dará ensejo a um incidente
processual, com ouvida das partes e a possibilidade de interposição, ao menos teórica, de algum recurso”. Ademais, a
extinção do processo é contrária aos princípios da efetividade e do acesso à justiça que norteiam a tutela jurisdicional
supraindividual.
A reunião de processos, ressalte-se, não é um efeito exclusivo da conexão.

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DIA 8 – PONTO 7 – Bruno Carvalho e Alexandre Figueiredo

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional - ELAINE MARTINS PARISE

1) Os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil estão contidos no título 1 da CF e são


denominados princípios estruturantes, uma vez que indicam as diretrizes de formadora de uma ordem
constitucional. Quais são esses princípios? Discorra sobre eles.
Originariamente destacados na doutrina do constitucionalista português Canotilho, os princípios estruturantes,
previstos no artigo 1 da nossa Constituição da República, sintetizam as decisões políticas fundamentais do poder
constituinte acerca da forma e estruturação do Estado e do Governo, constituindo e apontando, de maneira sintética, as
diretrizes basilares que informam e conformam toda a ordem jurídica constitucional.
Dessarte, de acordo com a doutrina, a ordem constitucional brasileira rege-se pelos seguintes princípios estruturantes, a
saber:
* o Princípio republicano responsável por estabelecer a forma de governo do Estado, disciplinando a relação existente
entre governantes e governados. Tal forma de governo baseia-se na promoção da igualdade formal entre as pessoas,
possibilitando a participação dos cidadãos, direta ou indiretamente, no governo, na Administração Pública e, de um
modo geral, na tomada das decisões políticas, tornando irrelevante a ascendência do indivíduo para fins de titularidade
e exercício de funções públicas, no que se opõe paradoxalmente ao princípio monárquico, cujo pressuposto para o
exercício do poder político se assenta justamente em critérios de ordem genética e hereditária. Dessarte, a República se
caracteriza pelo caráter representativo dos governantes, inclusive do Chefe de Estado (representatividade), pela
alternância no exercício do poder (temporariedade) e pela noção de responsabilização política, cível e penal dos
governantes.
* O princípio Federativo, por sua vez, é responsável por definir a nossa forma de Estado, qual seja, a Federação,
proveniente da celebração de um pacto, de natureza indissolúvel, entre os Estados que a integram, os quais cedem a
sua soberania para o ente central, preservando, no entanto, a sua autonomia, nos termos estabelecidos na constituição.
Em respectiva aliança, que assume a forma de um só Estado, no nosso caso, da República Federativa do Brasil, ocorre
a instituição de um governo central em paralelo de outros governos regionais, que, apesar de dotados de autonomia
necessária à preservação das diferenças culturais locais, mostram-se ligados entre si em prol da consecução de
objetivos e ideais comuns.
Como corolário de tal forma de Estado, o princípio da indissolubilidade do pacto federativo, consagrado em nossa ordem
jurídica desde a primeira Constituição republicana, tem como escopo conciliar a descentralização do poder político com
a preservação da unidade nacional. Deveras, ao estabelecer que a República Federativa do Brasil é constituída pela
união indissolúvel dos Estados, Distrito Federal e municípios, a Constituição nega o direito de secessão aos entes que
compõem a Federação Brasileira, tanto que, caso ocorra a tentativa de eclosão de um movimento separatista, com
vistas ao rompimento da unidade da Federação Brasileira, o texto constitucional autoriza a realização de intervenção
federal, visando à manutenção da integridade nacional (art. 34, I, da CRFB).
* Estado Democrático de Direito (Estado Constitucional Democrático): Surgido após o término da Segunda Guerra
Mundial, na tentativa de consolidar as conquistas e colmatar as lacunas apresentadas pelos antigos modelos do Estado
Liberal e Social, o Estado Democrático de Direito vem a lume como um novo modelo de Estado, cujas propostas se
assentam na introjeção de novos mecanismos de soberania popular, a garantia jurisdicional de supremacia da
Constituição, que, nessa nova perspectiva, é elevada ao epicentro do ordenamento jurídico, assumindo o status de
norma formal e materialmente mais elevada, a busca pela efetividade dos direitos fundamentais e a ampliação do
conceito de Democracia.

179
Nessa perspectiva, as constituições contemporâneas incorporam a aspiração de eliminar a antiga dicotomia existente
entre constitucionalismo e Democracia, através de uma proposta que implemente um justo e adequado equilíbrio entre o
princípio democrático e força normativa da Constituição.
Com isso, a noção de oposição, ínsita ao debate entre as tradições liberais e republicanas, tangenciado no
sentido de estabelecer uma relação de primazia entre Estado de Direito (constitucionalismo) e Democracia (soberania
popular) acaba cedendo espaço a ideia de existência de determinada tensão entre ambos os conceitos, que, em vez de
se excluírem mutuamente, acabam por se retroalimentar, numa peculiar inter-relação entre Estado de Direito, direitos
fundamentais e democracia.

2) O que é o princípio republicano e o princípio da indissolubilidade do pacto federativo?


VIDE RESPOSTA ACIMA

3) O que é asilo político e quem detém competência para concedê-lo?


Em termos gerais, o asilo político pode ser conceituado como sendo o acolhimento de estrangeiro por parte de
um outro Estado que não o seu, em um contexto de perseguição sofrida por aquele praticada em seu próprio país ou
em um terceiro país. Ressalta-se que os motivos da perseguição que geralmente ensejam a concessão do asilo político
estão relacionados à liberdade de manifestação de pensamento ou de expressão, a dissidência política ou mesmo a
prática de crimes de cunho político que não configuram delitos de direito penal comum.
Registra-se que a concessão de asilo político é ato de soberania estatal e, em nosso ordenamento jurídico, ato
privativo do Presidente da República, que possui discricionariedade para conceder ou não o asilo político

4) A concessão do asilo político impede a posterior extradição?


Nos termos do que já restou decidido pelo Supremo Tribunal Federal, no Processo de Extradição n 524, “não há
incompatibilidade absoluta entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva, na exata medida em que o STF
não está vinculado ao juízo formulado pelo Poder Executivo na concessão administrativa daquele benefício regido pelo
direito das gentes. Disso decorre que a condição jurídica de asilado político não suprime, só por si, a possibilidade de o
Estado brasileiro conceder, presentes e satisfeitas as condições constitucionais e legais que a autorizam, a extradição
que lhe haja sido requerida. O estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de extradição quando o fato ensejador
do pedido assumir a qualificação de crime político ou de opinião ou as circunstâncias subjacentes à ação do Estado
requerente demonstrarem a configuração de inaceitável extradição política disfarçada”.

5) Em que consiste o direito à privacidade? Qual o posicionamento do STF com relação à privacidade das
pessoas públicas?
Em apertada síntese, o direito à privacidade pode ser conceituado como sendo o direito que o indivíduo detém
de de separar (segregar) de um grupo ou do corpo social ao qual pertence, isolando-se da observação dele ou, ainda,
como o direito ao controle das informações veiculadas sobre sua pessoa. Tal direito está ligado à exigência inerente à
natureza humana de o indivíduo se encontrar protegido em sua solidão, paz e equilíbrio, haja vista que a reclusão
periódica um imperativo da vida moderna, até como mecanismo de preservação do bem estar mental e da própria noção
de individualidade do sujeito. Em relação às pessoas públicas, assim entendidos os agentes públicos e demais pessoas
que, não obstante alheios aos quadros governamentais, gozem de notoriedade, o STF vem entendendo que o âmbito de
proteção do direito à privacidade - que como todo e qualquer direito em nosso ordenamento jurídico não goza de
posição de primazia absoluta - sofre significativa relativização, na medida em que a concretização tende a entrar em rota
de colisão com a garantia de outros preceitos de extração constitucional, qual seja, os direitos à informação e à
liberdade de expressão, sobretudo no que refere à informação de relevância pública. Nesse sentido, destaca-se as
decisões envolvendo a publicação de biografias não autorizadas e a divulgação de informações acerca da remuneração
paga pela Administração Pública aos seus servidores no Portal Transparência.
180
6) Qual o posicionamento da jurisprudência com relação a fotos e filmagens realizadas em local público, porém
sem a autorização da pessoa fotografada ou filmada?
De início, é imperioso destacar a existência de decisões divergentes acerca do assunto. Em pesquisa ao
repositório jurisprudencial do Colendo Superior Tribunal de Justiça, é possível encontrar decisões mais antigas,
sustentando a inocorrência de violação aos direitos constitucionais à intimidade, privacidade e imagem, dentre as quais,
cita-se os recursos especiais n 595.600 e 58.101, sob o fundamento de que, ao se expor em um local público, a pessoa
filmada ou fotografada acabaria por consentir taticamente quanto à exposição de sua imagem. Todavia, em decisões
mais recentes, em especial, o Resp 1.243.699, o STJ entendeu que, “não se pode deduzir que a mulher formosa, que se
apresente espontaneamente de biquini na praia, ambiente adequado, esteja a concordar tacitamente com a divulgação
de sua imagem em revista masculina de conteúdo erótico , e tenha ainda de considerar tal exposição como “um
elogio””.

7) O STJ já posicionou sobre o tema reiteradas vezes. A senhora tem conhecimento? Vide Acima

8) Em que consiste a filtragem constitucional?


Dentro do processo de constitucionalização dos diversos ramos do Direito e do reconhecimento da eficácia
irradiante dos direitos fundamentais ( dimensão objetiva dos direitos fundamentais), o fenômeno da filtragem
constitucional apresenta-se como uma proposta de leitura de todo o Direito Infraconstitucional, de todo o ordenamento
ordinário à luz da Constituição que, portanto, passa a ser uma lente leitura de todo o Direito infraconstitucional, de todo o
ordenamento ordinário à luz da Constituição que, portanto, passa a ser uma lente, um filtro através do qual se deve ler e
interpretar as categorias e os institutos de todos os ramos do Direito

9) A lei orgânica do MP prevê diversas prerrogativas aos membros do MP. A senhora poderia citar pelo menos
duas?
Nos termos do artigo 105 da Lei Orgânica do Ministério Público são prerrogativas dos membros ministeriais,
dentre outras, “ser ouvido, como testemunha ou ofendido, em qualquer processo ou inquérito, em dia, hora e local
previamente ajustados com o Juiz ou com autoridade competente (I)”; ser processado e julgado originariamente pelo
Tribunal de Justiça deste Estado, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada exceção de ordem
constitucional (IV); ser assegurado o direito de acesso, a dados e informações relativos à sua pessoa e à sua atividade
funcional, existentes nos órgãos da instituição, bem como a sua retificação e complementação (VI).

10) Um candidato tem contra si uma decisão condenatória com trânsito em julgado. Ele pode ser preso na
véspera da eleição?
Nos termos do artigo 236 do Código Eleitoral, em se tratando de condenação transitada em julgada por crime
de natureza inafiançável não há óbice à prisão do condenado à véspera da eleição, já que a vedação à prisão de
qualquer eleitor contida no citado dispositivo legal, no período compreendido 5 (cinco) dias antes e até 48 (quarenta e
oito) horas depois do encerramento da eleição, não se estende aos casos envolvendo flagrante delito, desrespeito a
salvo-conduto e condenação criminal por crime inafiançável.

ADMINISTRATIVO - FERNANDO RODRIGUES MARTINS


CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

181
1) Qual a base constitucional dos contratos administrativos?
Os contratos Administrativos, assim entendidos como sendo as pactuações avençados pelo Poder Público e o
particular, sob o regime predominante de Direito Público, para fins de consecução de atividades de interesse público
haure sua fonte normativa na valorização do trabalho e da livre iniciativa, bem como na cidadania, previstos,
respectivamente, nos incisos IV e II do artigo 1 da Constituição da República.

2) “Quero o ponto de vista de fonte da CF, prevista no art. 1.”


Quando o candidato responde 37, ele diz que essa é a fonte principiológica, e o que ele quer é a fonte.
3)Não confundir fonte com objetivo.

4) Cidadania e não soberania.

5) A propriedade é uma fonte na CF?


Não entendi a pergunta direito. Se o termo fonte foi empregado no sentido de fundamento constitucional de
validade e legitimidade de outros direitos de índole constitucional e infraconstitucional, acredito que sim. Basta pensar no
direito à herança, no direito ao nome empresarial, no direito de exclusividade da invenção no prazo legalmente previsto
e no direito de posse.

6) Quais são as normas gerais da licitação? Desde a CF.


As principais fontes constitucionais da licitação são: art. 22, XXVII, que estabelece a competência privativa da
União para legislar sobre normas gerais de licitação e contratação; art. 37, XXI, o qual consagra a regra da licitação e
admite que a lei estabeleça exceções; art. 172, § 1, III, que atribui ao legislador a tarefa de elaborar o Estatuto Próprio
das empresas estatais econômicas, o qual conterá regras próprias de licitação e contratos.
Já em âmbito infraconstitucional, tem-se que diversos diplomas normativos tratam do tema licitação, cabendo
destacar, em caráter exemplificativo, as seguintes leis: Lei 8.666/93 (Normas Gerais de Licitações e Contratos
Administrativos); Lei 10.520 (Pregão); LC 123/2006, alterada pela LC 147/2014 ( tratamento diferenciado para
microempresas e empresas de pequeno porte); Lei 13.303 (Marco Regulatório das Empresas Estatais).

7) A orientação constitucional para os contratos da administração direta, autárquica e fundacional é a mesma


daquela para os contratos das empresas estatais e sociedades de economia mista?
Não. Enquanto os contratos da Administração direta, autárquica e fundacional são regidos pelas noRmas gerais
editadas pela União nos termos da competência privativa outorgada pelo inciso XXVII do art. 22 da CFRB, os contratos
das empresas estatais e sociedades de economia mista se sujeitam ao regramento estabelecido no Estatuto Próprio das
empresas estatais (marco regulatório das estatais – Lei 13.303/16), cuja aprovação encerra a regulamentação da norma
de eficácia limitada vazada no artigo 172, § 1, III, da Constituição da República.

8) Que espeque constitucional fundamenta sua resposta?


Art. 37, inciso XXI.

9) E no caso das empresas estatais e sociedade de economia mista?


Art. 173, CF.

10) Diferença entre contrato e ato administrativo.


De início, é necessário estabelecer o conceito de ato administrativo, que, em linhas gerais, define-se como
sendo a manifestação unilateral de vontade da Administração Pública, ou de quem lhe faça as vezes, sob o regime
jurídico preponderantemente de Direito Público, tendo por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir
182
e declarar direitos ou impor obrigações aos administrados ou a si própria, sujeita ao controle por parte do Poder
Judiciário.

As principais diferenças entre o contrato administrativo e o ato administrativo podem ser sintetizadas na
bilateralidade, presente no contrato administrativo e, a princípio, ausente no ato administrativo, bem a manifestação de
vontade do particular, que, no caso do contrato, é requisito necessário para a sua configuração, ao contrário do ato
administrativo, em que tal elemento é prescindível, haja vista o atributo da imperatividade, em regra, presente nos atos
administrativos, conferindo ao Poder Público a prerrogativa de impor unilateralmente obrigações a terceiros, dentro
daquilo que se convencionou chamar de “Poder Extroverso”.

11) E o convênio?
De início, pontua-se que os convênios administrativos são ajustes formalizados entre entidades administrativas
ou entre a Administração Pública e as entidades privadas sem fins lucrativos que têm por objetivo a consecução de
objetivos comuns e o atendimento do interesse público.
As principais diferenças entre os convênios podem ser sintetizadas em relação aos seguintes critérios:
a) Quanto ao interesses envolvidos nos ajustes: Enquanto os contratos administrativos se caracterizam pela presença
de interesses contrapostos dos pactuantes ( o Poder Público tem por finalidade promover a salvaguarda do interesse
público, ao passo que o particular objetiva a obtenção de lucros), os convênios administrativos, por seu turno,
distinguem-se pela comunhão e convergência de interesses dos convenientes, é dizer, os partícipes da avença ostentam
os mesmos interesses.
b) Quanto à remuneração:
Nos contratos, os contratados auferem remuneração pela prestação de determinado objeto (obra, serviço, etc) e
o valor, ao ingressar no patrimônio privado, perde a natureza de “verba pública”, razão pela qual o contratado pode
livremente dele dispor. Noutro flanco, no caso dos convênios, o valor repassado pelo Poder Público ao particular
mantém o seu caráter de “Dinheiro Público”, que, por sua vez, deve ser necessariamente investido no objeto do
convênio, inclusive com a necessária prestação de contas pelo particular ao Poder Público, sobretudo ao respectivo
Tribunal de Contas, para fins de demonstrar que a verba repassada para a consecução das finalidades do ajuste.
c) Quanto à necessidade de licitação:,
A celebração de contratos administrativos pela Administração Pública condiciona-se, em via de regra, à prévia
realização de licitação ,nos termos do artigo 37, XXI, da CRFB e do artigo 2 da Lei 8.666/93. A formalização de
convênios, por sua vez, independe de licitação, a teor do disposto no artigo 116 da Lei 8.666/93, o que, nos termos do
entendimento doutrinário e jurisprudencial ora prevalecentes, não desonera a Administração de promover, quando
possível, processo seletivo que assegure a objetividade e impessoalidade do tratamento dispensado aos potenciais
interessados;
d) Quanto ao prazo:
Os contratos Administrativos são celebrados obrigatoriamente por prazo determinado, consoante exigência
inserta no artigo 57, § 3, da Lei 8.666/93. Os convênios admitem que os ajustes sejam concretizados sem prazo
determinado de vigência, apesar que, na praxe, mostre-se recomendável a fixação de prazo de duração para fins de
planejamento e melhor controle por parte do Poder Público.

12) Tem que haver licitação para contrato e para convênio?


Nos termos da clara dicção constitucional, a celebração de contratos administrativos deve ter como antecedente
necessário à deflagração de procedimento licitatório, por meio do qual se assegure a igualdade de participação entre os
licitantes e a escolha da proposta mais vantajosa para a Administração Pública, ressalvada as exceções legais, em que
se faz possível a contratação direta mediante procedimento de dispensa ou inexigibilidade.

183
No caso do convênio, entretanto, respectiva exigência não se faz presente, nos termos do artigo 116 da Lei
8.666/93, já que a exigência de realização de licitação a eles não se aplica, em virtude da inviabilidade de competição,
ínsita a respectivo tipo de ajuste, em que prevalecem a convergência de vontades dos diversos convenentes e a
colaboração mútua entre os pactuantes., o que não afasta a necessidade de instauração, quando possível e presentes
mais de um interessado, de procedimento de seleção ou chamamento público, mediante critérios objetivos que
assegurem a impessoalidade da Administração para com os potenciais interessados.

13) Os princípios para o contrato em direito privado se aplicam para os contratos em direito público?
Diante de uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico, verifica-se a possibilidade de incidência dos
princípios contratuais inerentes ao direito privado no âmbito dos contratos administrativos, dentre os quais, a função
social dos contratos e boa-fé objetiva, desde que observada, obviamente, a necessária relação de compatibilidade entre
tais preceitos e o regime jurídico especial de prerrogativas e sujeições a que se submete a Administração Pública, por
força dos princípios da Supremacia do interesse público sobre o particular e indisponibilidade do interesse público,
havidos como as pedras de toque do Direito Administrativo na conhecida lição do Administrativista Celso Antônio
Bandeira de Melo.

14) “A senhora é a segunda candidata que fala em diálogo de fontes aqui. É um assunto complicadíssimo. Tem
que ter cuidado ao tratar dessas ideias. A interpretação sistemática dá conta disso, não precisa ir além. Se a
senhora fala sobre este assunto, abre uma brecha pra eu te perguntar sobre isso, e eu não quero”. NÃO FALAR
DIÁLOGO DE FONTES!!!!

15) O que são cláusulas exorbitantes?


Em breve apanhado, as cláusulas exorbitantes são aquelas que extrapolam, excedem e ultrapassam o padrão
comum dos contratos em geral, a fim de consignar uma vantagem para a Administração Pública. Referem-se a certas
prerrogativas da Administração que a situa em posição de supremacia em relação ao particular contratado, sendo
provenientes dos princípios cardeais da indisponibilidade e da supremacia do interesse público sobre o particular. A
propósito, se tais cláusulas estivessem previstas em um contrato regido pelo direito privado seriam cláusulas abusivas,
ilícitas e, portanto, írritas ao bom direito.
Respectivas cláusulas exorbitantes encontram-se enumeradas no artigo 58 da Lei 8.666/93, que confere à
Administração Pública a possibilidade de: Modificação unilateral do contrato, rescisão unilateral por parte da
Administração Pública, além da fiscalização, da possibilidade de aplicação de penalidades e da ocupação provisória de
bens da contratada.

GRUPO TEMÁTICO II

PENAL - ANDRÉ UBALDINO


TEORIA DO TIPO PENAL

1)Welzel chamou o objeto de seu labor de tipos penais complexos. Ranieri, por sua vez, examinando objeto de
seu estudo, deu o nome de crimes complexos. Essas são expressões sinônimas?
A expressão de WELZEL traduz a congregação no tipo de requisitos objetivos – já presentes no causalismo –
somados aos elementos subjetivos (dolo e culpa), sendo esta a inovação da sua visão finalista da conduta.
A expressão ‘crime complexo’, por sua vez, representa outra realidade, designando os crimes que são
compostos por elementos que, por si sós, já tipificariam um delito autônomo. Tome-se como exemplo o delito de roubo,
que congrega na sua definição típica a descrição do furto e da ameaça, ambos detalhados em tipos penais próprios (art.
155 e 147, respectivamente).
184
2) O que são elementos normativos culturais do tipo?
O tipo objetivo é composto por elementos descritivos – cujo conteúdo é apreendido pelos sentidos, sem
demandar juízo de valor – e por elementos normativos, que são compreendidos mediante uma atividade valorativa por
parte do intérprete, que vai além da mera percepção natural dos fatos.
Como espécie de elemento normativo figuram as expressões que carregam um conteúdo que oscila conforme o
contexto cultural, como “pudor público”, “decoro”, “paz pública”. Essas expressões poderão representar verdades
distintas, cambiáveis com o decorrer do tempo e com as feições que o grupo social pode vir a assumir.

3) Dê um exemplo no direito vigente ou revogado de algum tipo penal que abrigue ou tenha abrigado algum
desses elementos.
A antiga contravenção penal prevista no artigo 61 do Decreto-lei 3.688/41, cuja redação era a seguinte: Art. 61.
Importunar alguem, em lugar público ou acessivel ao público, de modo ofensivo ao pudor:(Revogado pela Lei nº 13.718,
de 2018).

4) O que é um crime obstáculo?


Crime obstáculo é aquele que antecipa a punição penal para um momento que antecede a colocação do bem
jurídico em perigo. Segundo parcela da doutrina, trata-se de um crime “de perigo de perigo”, materializado na tipificação
do risco de se causar um risco real ao bem jurídico. Essa constatação faz com que alguns ventilem a
inconstitucionalidade da técnica penal, já que se estaria punindo um fato sem qualquer grau de lesividade, o que viola,
em última análise, o princípio (constitucional implícito) da proporcionalidade. Bom exemplo de crime obstáculo é o
“perigo de desastre ferroviário”, figura estatuída no artigo 260 do Código Penal, a associação criminosa (art. 288 do CP),
e o artigo 5º da Lei Antiterrorismo (pune atos preparatórios de terrorismo).

5) Explique as formas de adequação típica e seus fundamentos legais.


Chama-se de tipicidade o juízo de adequação de uma conduta a um preceito normativo incriminador (tipo
penal). Em geral, a doutrina aponta duas formas de adequação típica: a imediata e a mediata. Há adequação típica
imediata quando a conduta criminosa se encaixa no tipo penal diretamente, sem demandar a interferência de qualquer
outro preceito normativo para tanto. É a forma usual de tipicidade, verificada com primazia nas hipóteses em que o
executor material do núcleo do tipo alcança o resultado material por ele reclamado. Por outro lado, existem situações
em que a tipicidade de certo ato passa pela combinação de dois ou mais dispositivos penais, sem a qual a conduta não
se amoldaria ao quadro traçado no tipo incriminador. Nos delitos tentados, por exemplo, a tipicidade está condicionado
ao uso do tipo penal do crime somado ao artigo 14, inciso II, do CP, que amplia o aspecto temporal da figura consumada
do delito. Por igual, o partícipe se adequa ao tipo com auxílio do artigo 29 da Lei Penal, dispositivo este que alarga os
aspectos pessoal e espacial do delito.

6) Já leu algo de Luiz Gimenes de Assua (“só uma curiosidade, mesmo”)? Foi o primeiro a usar a expressão
“tipos anormais”. O que são os tipos penais anormais?
A expressão era coerente com a prevalência da teoria causalista da conduta, que concebia o fato típico como
sendo algo eminentemente objetivo, relegando à culpabilidade a análise do aspecto subjetivo do delito. Assim, normais
eram os tipos que eram compostos exclusivamente por elementos objetivos descritivos. Por outro lado, tipos anormais
eram aqueles também compostos por elementos normativos e subjetivos, em que se deixava evidente no tipo o
conteúdo da vontade do autor (elemento subjetivo especial – art. 159 – extorsão mediante sequestro – do CP) ou que
demandava uma análise valorativa por parte do intérprete(elementos normativos) (GRECO. Curso de Direito Penal.
Volume 1. página 176).

185
PROCESSO PENAL - ROGÉRIO FILIPPETTO
EXECUÇÃO PENAL

1) A execução provisória da pena, após a decisão de segundo grau, é um “overruling” no Processo Penal?
De forma simplificada, “overruling” é a superação de um precedente, tal como a ab-rogação que se opera no
âmbito legislativo. Voltando-se os olhos para a execução provisória da pena, é possível afirmar que a matéria foi objeto
de sucessivos “overrulings”, causando arrepios aos que reconhecem a estabilidade como marca fundamental de um
sistema que dá força aos precedentes. De fato, o Supremo Tribunal Federal entendia (tradicionalmente) que o
encerramento da instância ordinária autorizava a execução da pena, já que os recursos especial e extraordinário não
possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Em 2009, a Corte mudou o seu posicionamento, negando a possibilidade
de início do cumprimento da pena antes do trânsito em julgado da sentença. Mais tarde, no ano de 2016, a maior casa
judicial do país resgatou o seu entendimento mais antigo, voltando a afirmar que a execução provisória da pena é
possível após a certeza em torno dos fatos, que se opera com o esgotamento da discussão em segunda instância ou
com a condenação proferida originariamente no Tribunal. O debate chegou ao seu apogeu no julgamento do habeas
corpus impetrado pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, prevalecendo, por maioria, a tese permissiva do
cumprimento provisório da pena privativa de liberdade. Portanto, conclui-se que houve sucessivas superações de
precedentes em torno da matéria questionada.

2) Esses fundamentos podem evidenciar uma tutela de evidencia de caráter satisfativo, sem o perigo da
demora? Qual a natureza dessa execução?
A tutela da evidência é uma medida provisória, fundamentada na forte aparência do direito alegado pela parte,
obtida por meio de cognição sumária, que implica na entrega de uma prestação jurídica que apenas seria alcançada
após um juízo exauriente do magistrado. De fato, a sua concessão está desvinculada da comprovação do risco da
demora – próprio das tutelas provisórias da urgência -, contentando-se com o vetusto “fumus boni iuris”.
O conceito acima faz da execução provisória da pena uma medida não coincidente com as inúmeras tutelas da
evidência consagradas no direito brasileiro. Diferentemente destas, a execução provisória decorre de uma ordem judicial
fruto da cognição exauriente do(s) magistrado(s), que formaram a sua convicção a respeito da materialidade e da autoria
do delito após realizarem toda a atividade de instrução no processo. Assim, a imposição imediata da pena é o objeto de
uma decisão definitiva, embora não transitada em julgado, haja vista a pendência de recurso nas instâncias especiais.
A execução tem natureza provisória, como o próprio nome está a indicar.

3) É possível a prisão domiciliar “pro homini” com fundamento em estado de coisas inconstitucionais a quem
está no regime prisional semiaberto (se não houver estabelecimento prisional adequado)?

Conforme ficou definido na súmula vinculante número 56 do STF, a prisão domiciliar deve obedecer às diretrizes
fixadas no RE n° 641.320/RS. Em linhas gerais, o preso tem direito a cumprir a sua pena em situações fáticas
condizentes com a exigida pelo regime de pena que lhe foi imposto. Os Tribunais Superiores tem aceitado que o
condenado ao regime semiaberto cumpra a sua pena em estabelecimento distinto das “colônias agrícolas ou industriais”,
desde que o estabelecimento permita ao apenado usufruir das condições a que estaria sujeito naquelas localidades.
Não atendidos esses requisitos, será impossível uma imposição mais gravosa ao sentenciado, o que violaria, dentre
tantas outras garantias, a coisa julgada. No entanto, a forma de sanar essa situação não pode ser a simples soltura do
condenado ou a sua colocação, em caráter definitivo, em prisão domiciliar. Na visão do STF, o juiz da execução deverá
determinar: (a) a saída antecipada de condenado no regime com falta de vagas; (b) a liberdade eletronicamente
monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; e (c)
cumprimento de penas restritivas de direitos e/ou estudo aos sentenciados em regime aberto. Essas providências,
portanto, viabilizarão ao recém ingresso no sistema penal um tratamento condizente com o que foi determinado na
186
sentença. Portanto, é inadequada a substituição imediata da prisão-cárcere pela prisão domiciliar, embora tal medida
possa ser adotada em caráter provisório, até que sejam operadas as providências antes relacionadas.

4) Súmula vinculante 56 que diz que “A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no
RE 641.320/RS”. Assim, objetivamente, a simples ausência de vaga autoriza a prisão domiciliar?
Não.

5) O agente pratica falta grave. A homologação ocorreu em data posterior ao período exigido por decreto para a
concessão do indulto. Teria o agente direito ao indulto?
Não. Conforme o entendimento do STJ, a homologação não é o marco para se avaliar o preenchimento dos
requisitos do indulto. No caso, o julgador deverá considerar a data em que a falta foi cometida. Nas palavras do Tribunal,
“somente a falta grave está condicionada a lapso anterior ao Decreto, mas o processo administrativo para apuração e a
homologação da falta podem ocorrer após à publicação do Decreto” (informativo 591 do STJ, EREsp 1.549.544-RS, Rel.
Min. Felix Fischer, julgado em 14/9/2016, DJe 30/9/2016).

6) Para configuração dessa falta grave, é preciso haver uma audiência de homologação?
Não. Segundo o STJ, embora o reconhecimento da falta grave exija a observação da ampla defesa e do
contraditório (com auxílio de profissional habilitado), é desnecessária a oitiva em juízo do apenado se, durante o
procedimento administrativo, o contraditório foi efetivamente exercido. Nesse sentido, “É desnecessária nova oitiva do
reeducando em juízo, antes da homologação da falta grave, se ele teve a oportunidade de se manifestar no âmbito do
procedimento administrativo, instaurado para apurar a prática de infração disciplinar, acompanhado da defesa técnica.
Precedentes”.(STJ, Quinta Turma, AgRg no HC 425.059/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 15/03/2018).

7) Se o réu beneficiado com livramento condicional descumpre a condição prevista na sentença de livramento, a
revogação será obrigatória ou facultativa?
A revogação será facultativa, nos termos do artigo 87 do Código Penal.

8) O sentenciado deve ser ouvido novamente?


Em caso de condenação em outro processo.
Sim. Conforme o entendimento do STJ e o que dispõe a LEP (Art. 59 da LEP), a apuração de falta disciplinar
depende de um processo administrativo, em que serão assegurados os princípios do contraditório e da ampla defesa.

9) Essa manifestação do reeducando se dá em autodefesa ou por meio de defesa técnica?


Segundo o entendimento fixado na súmula 533 do STJ, “Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar
no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público
nomeado”.

10) Quem pode pedir a revogação do livramento condicional em razão da prática de novo crime?
(“isso é pegadinha. N gosto de fazer isso não, mas fiz aqui”. RESPOSTA: Conselho penitenciário e MP seria a
resposta correta).

11) O próprio juiz pode, de ofício?


Sim, por expressa disposição no artigo 143 da LEP – “A revogação será decretada a requerimento do Ministério
Público, mediante representação do Conselho Penitenciário, ou, de ofício, pelo Juiz, ouvido o liberado”.
187
12) Se admitirmos que um terceiro possa fazer esse pedido, e se houver a manifestação do MP, haveria algum
problema nisso? Haveria ofensa à paridade de armas?
Na situação ora noticiada, não se divisa qualquer forma de irregularidade ou problema em se permitir a
manifestação do Ministério Público acerca do pedido de revogação do Livramento Condicional. Pelo contrário, aliás.
Isso porque, de acordo com a nova fisionomia conferida pelo Texto Constitucional de 1988 ao Ministério Público,
instituição permanente, essencial à promoção da função jurisdicional, dotada de autonomia financeira, administrativa e
funcional, esse deixou de ser encarado, na perspectiva do processo penal, como um órgão genuinamente de acusação,
mas, sim, como um órgão estatal legitimado à acusação, de sorte que, nos exatos dizeres do mestre Eugênio Pacelli, “ o
Ministério Público não é mero acusador, mas órgão independente e desvinculado de qualquer tese que a priori
submetesse a sua atuação. (…). Não há parcialidade que lhe condicione o agir, tal como ocorre com a defesa criminal,
esta sim obrigada a defender os interesses do réu, ainda que este confesse ao eventual defensor eventual
responsabilidade pelo fato”.
De fato, enquanto órgão integrante das estruturas estatais e essencial à função jurisdicional e ao consequente
acesso a uma ordem jurídica justa, é preciso ter em mente que o Ministério Público tem como missão constitucional não
a promoção dos interesses acusatórios, mas sim a da ordem jurídica (Custus Iuris), o que, apesar da existência de
posicionamentos díspares, confere-lhe absoluta imparcialidade diante da e na jurisdição penal.
Nesse compasso, descabe se falar na violação no princípio da paridade de armas, já que, ao se manifestar
acerca do pleito de revogação do livramento condicional requerido por terceiro, o Ministério Público o faz na estrita
condição de interveniente imparcial, isto é, de curador da ordem jurídica e, por conseguinte, como fiscal da regular
promoção não só da exata concretização do jus puniendi estatal, como também dos direitos e garantias inerentes ao
Devido Processo Legal.
Isso importa afirmar que, ao se inteirar do caso concreto, o Ministério Público, não está preso à tese jurídica
encampada pelo terceiro requerente, tanto podendo se manifestar no sentido do acolhimento do pedido de revogação
de Livramento Condicional, como dele discordar, postando-se em favor do reeducando, isso tudo dentro, obviamente, da
sua natural independência funcional, que lhe confere relativa liberdade para atuar dentro dos limites impostos pela sua
consciência jurídica e pela ordem jurídica ora vigente.

GRUPO TEMÁTICO III

CIVIL - RACHEL
PROTEÇÃO DOS FILHOS E ALIENAÇÃO PARENTAL

1) Diferencie a guarda alternada da guarda compartilhada.


Excelência, inicialmente cumpre salientar que a guarda configura verdadeiro mecanismo de proteção da pessoa
do filho, com fulcro na prioridade absoluta do interesse infanto-juvenil.
A guarda compartilhada (conjunta) consiste no exercício concomitante do poder familiar por ambos os pais, com
maior amplitude possível, mesmos deveres e participação direta, em igualdade de condições, na criação e educação
dos filhos, ainda que com diferenças de tempo de presença física e residência principal única, de apenas um dos pais.
O Código Civil, em seu art. 1.589, §1º, a define como sendo ‘‘a responsabilização conjunta e o exercício de
direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.’’
Por sua vez, a guarda alternada corresponde ao revezamento dos pais em períodos exclusivos e guarda,
cabendo ao outro direito de visitas. Portanto, nela, durante determinado período, a mãe terá guarda exclusiva e, em
outros períodos, o pai terá a guarda exclusiva.

2) Diferencie guarda física e guarda jurídica, no caso da guarda alternada.


188
Excelência, a guarda jurídica é elemento do poder familiar, consubstanciado na responsabilidade de criação dos
filhos, ou seja, autoridade decisória quanto ao bem-estar, educação, cultura e lazer.
Por sua vez, a guarda física pode ser definida como o compartilhamento da mesma residência com a criança ou
adolescente, com o consequente exercício de vigilância material sobre ele.
No contexto da guarda alternada, apenas um dos pais exercerá a guarda física, ou material. Por outro lado, o
guarda jurídica sempre será exercida por ambos, afinal, os dois possuem o poder familiar. Contudo, pode-se dizer que,
em relação àquele que não estiver com a guarda física, haverá uma mitigação da guarda jurídica, que não poderá ser
exercida em sua plenitude, cabendo-lhe o direito de fiscalizar as deliberações tomadas pelo genitor com quem a guarda
física se encontra.

3) Alimentos na guarda compartilhada. Devem ser fixados?


Excelência, não há qualquer incompatibilidade entre os institutos da guarda compartilhada e da obrigação
alimentícia, afinal, possuem fundamentos diversos. Por um lado, a obrigação de prestar alimentos tem por base a
necessidade de alimentando – presumida, no caso do filho(a) – e a possibilidade do devedor alimentício. A seu turno, a
guarda compartilhada se funda no dever de cuidar, vigiar e proteger os filhos, em todos os sentidos, oriundo do poder
familiar. Nada impede a coexistência dos institutos.
Assim sendo, uma vez constatados, num caso concreto envolvendo guarda compartilhada, havendo
possibilidade em relação a um dos pais, normalmente àquele que não mora na residência principal da criança ou
adolescente e passa com ele menos tempo, os alimentos devem ser fixados.
Enfim, o compartilhamento da guarda não elimina a obrigação alimentícia dos pais, que continuam obrigados a
colaborar materialmente para o sustento da prole, proporcionalmente à sua capacidade contributiva e considerados os
gastos comuns e necessários daquele com quem o filho estiver residindo.

4) A lei que trata da guarda compartilhada faz referência a uma divisão relativa ao tempo de convívio dos filhos
de maneira equilibrada com ambos os genitores. O que a doutrina vem entendendo a respeito disso?
Conforme bem apontado por Vossa Excelência, o art. 1.589, §1º, do Código Civil dispõe que, ‘‘Na guarda
compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai,’’
contudo, ‘‘sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos’’.
Destarte, a doutrina vem entendendo que o equilíbrio a ser buscado deve possibilitar que o(a) filho(a) mantenha
contato com ambos os pais na maior medida possível, contudo, sem que lhe seja tolhida a sua noção de lar,
referibilidade a um domicílio, e a uma rotina, evitando-se mudanças constantes.
Assim sendo, esse equilíbrio deve preservar uma residência principal do incapaz, na qual ele permanecerá a
maior parte do tempo.

5) Em nome de que direito?


Em nome do direito da criança e do adolescente à absoluta prioridade da tutela de seus interesses, consoante
preconiza o artigo 227 da CRFB/88.

6) Esse convívio equilibrado não quer dizer o 50/50, não, né?


De forma alguma, Excelência. Há que se priorizar o melhor interesse da criança e do adolescente, na situação
concreta, o qual, em geral, não tende a ser, no aspecto temporal, dividido ‘‘meio a meio’’, considerando a maior
conveniência de o(a) filho(a) possuir uma noção de lar e uma residência principal.

7) Nas ações em que se decidirá sobre guarda (qualquer ação), a lei impõe um dever muito sério ao juiz. Na
audiência de conciliação, o que o juiz deve fazer?

189
Excelência, o juiz deve cientificar os pais do significado e importância da guarda compartilhada, a teor do art.
1.584, §1º, segundo o qual: ‘‘§ 1o Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda
compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas.’’
Na prática isso acontece pouco, a despeito de sua elevada importância, considerando a necessidade de
conscientização dos pais a respeito dos interesses de seus filhos em jogo.

8) O que é alienação parental? Cite dois atos de alienação parental. Dois, só.
Excelência, a teor do art. 2º da Lei nº 13.318, alienação parental corresponde à interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham
a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Conforme parágrafo único do referido dispositivo, ‘‘São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive
escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a
convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente
com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

9) Então não são só os cônjuges que podem praticar, né?


Não, Excelência, a alienação parental também pode ser praticada pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância.

10) Caso concreto. Processo em que se discute a guarda de um filho. Há denúncia de alienação parental. Na
avaliação psicológica, a perícia entende que o pai e a mãe praticam alienação parental. Neste caso, qual seria
sua atitude?
Excelência, na qualidade de Promotor(a) de Justiça oficiante no feito, requereria ao Juiz que determinasse, de
modo excepcional, a guarda provisória a outra pessoa, preferencialmente que já possua convivência com a criança,
notadamente um membro da família extensa, que tenha condições de resguardar a integridade psicológica da criança,
enquanto não se demonstrar que os pais ou um deles logrará fazê-lo.
Enfim, a prioridade da convivência da criança com os pais sucumbe face à absoluta prioridade dos interesses
da criança e do adolescente.

PROCESSO CIVIL - ADRIANO CARDOSO DA SILVA


TEORIA GERAL DO PROCESSO E PROCEDIMENTO COMUM

1) A categoria jurídica das condições da ação foi proscrita no sistema processual civil após o advento do novo
CPC?

190
Excelência, a questão enseja posições divergentes. Parte da doutrina defende que, como o Novo CPC deixou
de prever expressamente o termo ‘‘condições da ação’’, essa categoria jurídica teria sido extirpada do ordenamento,
com a consequente adoção da teoria abstrata da ação.
Para referida teoria, o direito de ação é amplo, genérico e incondicionado, não existindo qualquer requisito que
precise ser preenchido para sua configuração. Portando, nessa concepção, não existem condições para o exercício da
ação, mas tão somente pressupostos processuais ou questões de mérito.
Por outro lado, há quem entenda (como Daniel Amorim Assumpção Neves e Humberto Theodoro Júnior) que o
fato de o legislador não mais dizer expressamente o termo ‘‘condições da ação’’ não significa a inexistência da referida
categoria jurídica, que deriva de estudos científicos da compreensão do Direito Processual.
Para essa corrente, a legitimidade das partes e o interesse processual (art. 330, incisos II e III do CPC) não
podem ser considerados pressupostos processuais, pois demandam análise da relação jurídica do direito material
alegado pelo(a) autor(a). Ela advoga a prevalência da Teoria Eclética da ação.
Para a citada teoria, desenvolvida por Liebman, de fato, o direito de ação não se confunde com o direito
material, e existe de forma autônoma e independente. Contudo, não é incondicional e genérico. Ele só existe quando o
autor tem direito a um julgamento de mérito – sendo irrelevante se procedente ou não.
Portanto, sob a perspectiva da Teoria Eclética da ação, a existência do direito de ação não depende da
existência do direito material, mas da configuração de certos requisitos formais chamados de ‘‘condições da ação’’.
Originalmente, Liebman os concebeu como sendo a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade
das partes.
Como ao realizar o juízo da presença das condições da ação, o Estado-Juiz dá uma resposta aos
jurisdicionado, para a Teoria Eclética, essa resposta é consectária do direito de petição, e não do direito de ação,
consubstanciado no direito a uma sentença de mérito.
Vale dizer que, ao final de seus estudos, Liebman reformulou sua teoria, passado a entender que a
possibilidade jurídica estaria contida no interesse de agir, restando como condições da ação o interesse de agir e a
legitimidade das partes, assim como previsto nos artigos 17 e 330, II e III, do CPC.

2) Diferenças entre condições da ação e pressupostos processuais.


Excelência, a questão há que ser respondida sob a perspectiva dos adeptos da Teoria Eclética da ação, afinal, é
em seu contexto que a diferenciação é desenvolvida.
Assim sendo, à luz da Teoria Eclética da ação, as condições da ação são requisitos formais cuja existência é
necessária para que a parte autora tenha o direito a um provimento jurisdicional de mérito, e que demandam análise da
relação jurídica do direito material alegado, apesar de não se confundirem com exame de sua procedência.
Trata-se do interesse processual e da legitimidade das partes.
A seu turno, os pressupostos processuais são pressupostos mínimos de validade de uma relação processual.
Matérias preliminares, ligas em sua essência a formalidades processuais, que devem ser analisadas antes de se
adentrar ao julgamento do pedido. Diferentemente das condições da ação, eles não têm relação com a relação jurídica
de direito material alegada.
A doutrina os divide em pressupostos processuais subjetivos, que dizem respeito aos sujeitos processuais, e
pressupostos jurídicos objetivos, que não versam diretamente sobre os sujeitos processuais.
Os pressupostos processuais subjetivos são subdivididos nos que se referem ao juiz, que correspondem à
investidura e imparcialidade, e nos que se relacionam com as partes, quais sejam, a capacidade para ser parte,
capacidade de estar em Juízo e capacidade postulatória.
Por sua vez, os pressupostos processuais objetivos se subdividem em extrínsecos, aqueles analisados fora da
relação processual, os chamados pressupostos processuais negativos, e intrínsecos, analisados dentro da relação
jurídica processual.

191
São os seguintes, cuja análise deve se referir à sua ausência, para que não haja vício: coisa julgada material
(art. 485,V); litispendência (art. 485, V); perempção (art. 485m V); transação (art. 487, III, b); convenção de arbitragem
(art. 485, VII); e pagamento de custas processuais em demanda idêntica extinta anteriormente por sentença terminativa
(art. 486, §2º).
Os pressupostos processuais objetivos intrínsecos são a demanda, ou seja, existência de um ato de provocação
pela parte, afinal, a jurisdição é inerte; uma petição inicial apta, não inepta; a regularidade formal, consubstanciada na
prática dos atos na forma prevista em lei; e, por fim, a citação válida. Quanto à citação válida, parte da doutrina entende
ser pressuposto de existência, de modo que, sem ela, sequer existirá processo.

3) Quais a inovações trazidas para a intervenção do “amicus curiae” no procedimento comum?


Excelência, o NCPC passou a prever expressamente a figura do amicus curiae, incluindo-o no capítulo de
intervenção de terceiros. Portanto, deixou claro se tratar de intervenção de terceiros. Vale dizer que, para STF, trata-se
de terceiro interveniente atípico, e Didier defendia que era intervenção de auxiliar da Justiça.
Outra novidade é que o instituto é cabível em qualquer processo, inclusive de procedimento comum, desde que
a matéria discutida seja considerada relevante, e o tema de seu objeto de alta especificidade ou repercussão social, a
teor do art. 138 do CPC.
Pode ser determinada de ofício, pelo Juízo.
Pode se dar por meio de pessoa jurídica, pessoa natural ou até mesmo órgão despersonalizado, desde que
possua representatividade adequada.
Por fim, importante novidade trazida pelo NCPC, em seu art. 138, §2º, consiste na definição de que o julgador
definirá os poderes do amicus curiae. Não há um conjunto de poderes previstos em lei, salvo as prerrogativas de
oposição de embargos de declaração e do direito de recorrer em incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. É o
seu interesse recursal na construção de precedentes.
(Sobre o tema: Para STF, trata-se de terceiro interveniente atípico. Propósito: melhorar a qualidade da
prestação jurisdicional. Ele não tem interesse jurídico na demanda, o resultado não o atinge diretamente, mas tem
interesse no precedente, na tese jurídica a ser firmada. Função de dar legitimidade social e democrática à decisão. É
uma expressão de aplicação da Teoria da Sociedade Aberta dos Intérpretes da Peter Haberle. Representatividade
adequada ou tipicidade conglobante: reúnem requisitos que indicam condição efetiva para contribuir com o julgamento,
incluindo desde a constituição formal da pessoa jurídica à amplitude da sua representação, capacidade econômica e
jurídica para contribuir. A intervenção de amicus curiae não modifica a competência, a CRFB/88 estabelece que a
modificação ocorrerá no caso de assistente somente, conforma art. 190.)

4) Quem são os legitimados a intervir na qualidade de “amicus curiae”?


Qualquer pessoa natural ou jurídica, e até mesmo, órgão ou entidade especializada, desde que possua
representatividade adequada, ou seja, condição efetiva para contribuir com o julgamento, incluindo desde a constituição
formal no caso da pessoa jurídica à amplitude da sua representação, capacidade econômica, técnica e jurídica para
contribuir com a discussão.

5) A OAB pode?
Certamente, Excelência. Não há qualquer vedação nesse sentido. A OAB, conforme decidido pelo Supremo
Tribunal Federal, é um serviço público independente que se ocupa de atividades atinentes aos advogados, os quais
exercem função constitucionalmente privilegiada, na medida em que são indispensáveis à administração da Justiça, a
teor do artigo 133 da CRFB/88.
Seu Conselho Federal é legitimado universal para propositura da ações de controle de constitucionalidade,
conforme art. 103, VII, da CRFB/88, portanto, com mais razão ela pode figurar como amicus curiae em processos que
repute pertinente.
192
6) A decisão que admite essa intervenção é recorrível?
Sim, Excelência. Conforme expressamente disposto no art. 138 do CPC, a decisão que admite o amicus curiae
é irrecorrível. Vale ressaltar que o STF vinha entendendo que, no bojo das ações de controle de constitucionalidade,
decisão do relator que inadmite amicus curiae seria recorrível ao pleno. Contudo, essa posição foi recentemente
alterada, consoante decidido no RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em
17/10/2018(repercussão geral) (Info 920).

7) Explique as inovações da fase postulatória do procedimento comum. Foco na contestação.


Excelência, o artigo 319 do NCPC passou a exigir que conste da petição inicial a existência de união estável,
caso haja, assim como a opção pela realização ou não de audiência de conciliação.
Trata-se de decorrência natural do intento do legislador de incentivo aos métodos de autocomposição da lide,
mesmo após o ajuizamento da demanda. Assim sendo, a partir do NCPC, obrigatoriamente ocorrerá audiência de
conciliação ou mediação em toda demanda de procedimento comum, a não ser que ambas as partes manifestem
expressamente desinteresse na composição processual ou não se admitir autocomposição para os direitos objeto da
lide, conforme art. 334, §4º, do NCPC.
Isso significa que, antes de ser oferecida a contestação, será designada a audiência (seja de conciliação ou de
mediação).
O prazo contestacional, de 15 dias, pelo CPC de 1973, iniciava-se a partir da data de juntada do mandado de
citação cumprido aos autos. Já no NCPC, além e o prazo ser contado em dias úteis, o termo a quo passa a fluir
conforme as seguintes situações:
A – da data da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação;
B – do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, se
ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual e
C – De acordo com o modo como foi feita a citação, considera-se dia do começo do prazo: I - a data de juntada aos
autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo correio; II - a data de juntada aos autos do
mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça; III - a data de ocorrência da citação ou da
intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria; IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação
assinada pelo juiz, quando a citação ou a intimação for por edital; V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou
da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica; VI - a
data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de
origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de carta; VII – a data de
publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico; VIII - o dia da carga, quando a
intimação se der por meio da retirada dos autos, em carga, do cartório ou da secretaria.
Outra novidade envolvendo a contestação é que o NCPC passou a prever que a incorreção do valor da causa e
a indevida concessão do benefício de justiça gratuita devem ser nela impugnados, e não em incidente apartado.
Também inovando, o NCP, inspirado nos princípios da boa-fé, lealdade e da cooperação, passou a prever que o
réu, ao alegar a sua ilegitimidade, sempre que tiver conhecimento, deverá indicar quem é o correto sujeito passivo da
relação jurídica. Caso saiba quem é o correto sujeito passivo e não o indiciar, o réu arcará com as despesas processuais
e terá de indenizar o autor pelos prejuízos causados ante a falta de indicação.
Insta ressaltar que, igualmente de forma pioneira, o NCPC passou a prever que a reconvenção pode ser
realizada no bojo da própria contestação, não necessitando de ser realizada de modo apartado, tal como exigia o
CPC/73.
Vale destacar, ainda, que, pelo princípio da primazia da decisão de mérito, o NCPC estabeleceu, em seu art.
321, o dever de o Juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta
defeitos e irregularidades capazes de dificultar
193
o julgamento de mérito, intimar o para que a emenda, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou
completado.
No que concerne ao indeferimento da petição inicial, o NCPC inovou ao ampliar o prazo de retratação do Juiz,
de 48H (CPC/73) para 5 dias, e ao prever expressamente de que o réu apresente contrarrazões à apelação, o que no
CPC de 73 não ocorria.

DIERLE
TEORIA GERAL DO PROCESSO E PROCEDIMENTO COMUM

8) Seria possível a mescla do procedimento comum com as tutelas diferenciadas que o próprio CPC traz?
Certamente, Excelência. O NCPC é guiado pela instrumentalidade das formas e pelo princípio da primazia do
julgamento de mérito, de modo que é absolutamente possível e desejável que o procedimento comum seja adequado às
especificidades que a demanda impõe para a tutela efetiva e adequada do direito discutido.
Nesse sentido, o art. 139, inciso VI, dispõe que incumbe ao Juiz ‘‘dilatar os prazos processuais e alterar a ordem
de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade
à tutela do direito.’’
Igualmente nesse sentido é a cláusula geral de negócio jurídico processual, consagrada no art. 190 do CPC,
segundo a qual, ‘‘Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente
capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os
seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.

9) Quais são os impactos dogmáticos da aplicação da norma fundamental da boa-fé processual no novo
sistema? Quero um exemplo técnico da aplicação da boa-fé no curso do processo.
Excelência, o art. 5º do Novo CPC consagrou expressamente a norma fundamental de boa-fé, da qual derivam
diversos deveres anexos, como de cooperação, lealdade, e vedação a condutas contraditórias, assim como também
possui a função de servir como vetor interpretativo de todas as demais normais processuais e vedar o abuso de direito.
Um exemplo de sua aplicação no curso do processo é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ, 3a
Turma, EDcl no REsp 1.424.304/SP; rei. Min. Nancy Andrighi, j. 12.8-2014, DJe 26.8.2014) que não admite a chamada
‘‘nulidade de algibeira ou de bolso’’, em que a parte, embora tenha o direito de alegar a nulidade, mantém-se inerte
durante longo período, deixando para exercê-lo somente no momento em que melhor lhe convir. Trata-se de abuso de
direito processual que enseja renúncia tácita ao direito de alegar a nulidade.
Outro exemplo é a disposição do artigo 276, do NCPC, segundo a qual, ‘‘Quando a lei prescrever determinada
forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa.’’ Trata-se do
postulado ético que ficou conhecido como tu quoque.
Pode-se citar também, Excelência, o art. 1.000 do CPC consagra a vedação ao venire contra factum proprium,
o estipular que ‘‘ A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer,’’ considerando-se
‘‘aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer.’’ (parágrafo único).
É também possível elencar vários outros exemplos de aplicação técnica da norma fundamental da boa-fé
objetiva consagrados no NCPC, como as sanções previstas pelo art. 1.026, §§ 2" e 3 do Novo CPC ao agravo interno
manifestamente inadmissível ou julgado improcedente em votação unânime e aos embargos de declaração
manifestamente protelatórios; o ato atentatório à dignidade da justiça a produção de prova desnecessária à defesa do
interesse (art 77, Ill, do Novo CPC); ato de litigância de má-fé consubstanciado na dedução de pretensão ou defesa
contra texto expresso de lei ou fato incontroverso (art. 80, I, do Novo CPC); a provocação de incidente ou interposição
de recurso com o intuito manifestamente protelatório (art 80, VII, do Novo CPC); e a perempção, que extingue o direito
de ação em razão do abuso do seu exercício.

194
GRUPO TEMÁTICO IV

COLETIVO - JOAQUIM
PLANO NACIONAL DE ATUAÇÃO DO MP EM SAÚDE PÚBLICA
1) De que forma a lei orgânica do MP trata do planejamento institucional e qual princípio institucional o orienta?
Excelência, a respeito do planejamento institucional, a Lei Orgânica do MPMG dispõe que o Procurador-Geral
de Justiça deve apresentar anualmente o Plano Geral de Atuação do Ministério Público, destinado a viabilizar a
consecução de metas prioritárias, nas diversas áreas de suas atribuições. Ele deve ser elaborado com a participação
dos Centros de Apoio Operacional, das Procuradorias e das Promotorias de Justiça e aprovado pela Câmara de
Procuradores de Justiça, e aprovado pela Câmara de Procuradores de Justiça, tudo nos moldes do que estipula os
artigos 19, caput e parágrafo único, e 24, III, da Lei Orgânica do MPMG.
Outrossim, sobre o tema, vale acrescentar que compete ao PGJ – expedir recomendações, sem caráter
normativo, aos órgãos do Ministério Público para o desempenho de suas funções, nos casos em que se mostrar
conveniente a atuação uniforme, ouvido o Conselho Superior do Ministério Público, a teor do art. 18, XXIV, da Lei
Orgânica.
O planejamento institucional é orientado pelo princípio da unidade, segundo o qual o Ministério Público é
instituição una. Ou seja, todo e qualquer Ministério Público – o que engloba seus órgãos de execução no bojo de sua
atuação – tem o comprometimento de zelar pelo cumprimento de suas funções institucionais traçadas pelo seu perfil
constitucional, quais sejam, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.
Assim sendo, é interessante que a atuação seja planejada e siga diretrizes minimamente uniformes, sem
prejuízo, evidentemente, do princípio da independência funcional, de modo que seja otimizada pela edificação de
consensos e práticas interinstitucionais, que evitem intervenções repetitivas e inócuas do Ministério Público.

2) É possível a participação da sociedade?


Excelência, é possível, desejável e salutar que haja a participação da sociedade no planejamento institucional
do Ministério Público.
O Ministério Público é verdadeiro guardião da sociedade, defensor do regime democrático e dos interesses
sociais que lhes são mais caros. Na esteira das valorosas lições de Marcelo Pedrosa Goulart, trata-se de agente da
vontade política transformadora, trabalhador social para consecução dos múnus constitucionais que lhe foram
atribuídos.
Portanto, de modo a realçar a legitimidade social e democrática de sua atuação, é possível e preferível que seja
chamada para participar da elaboração de seu planejamento institucional a sociedade, a principal destinatária da
atuação ministerial, por meio de audiências públicas, tal como possibilita o art. 68, IV, da Lei Orgânica do MPMG.

3) Na área da saúde, temos o plano nacional de atuação. A senhora conhece o plano?


Sim, Excelência. Trata-se de plano instituído pelo Conselho Nacional de Procuradores Gerai do Ministério
Público dos Estados e da União – CNPG, no ano de 2006, o qual demonstra a importância da tutela coletiva ministerial
no âmbito da saúde, com o fito de realizar e proteger o direito humano à saúde, como fator de cidadania e dignidade da
pessoa humana; agir pela solidificação do direito à saúde como sendo um estado de pleno bem-estar físico, mental e
social; contribuir, especialmente, para a concretização do direito à saúde na sua dimensão coletiva; e, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS), promover a observância dos princípios descritos no art. 7º da Lei 8.080/90.

4) No plano nacional de atuação há um trecho que diz que “a intelecção da comissão permanente é de que o
modelo de gestão de saúde pública vigente é morbocêntrico, ou seja, ordenado para a recuperação da saúde e
seu respectivo custeio, o que contraria a letra constitucional. Há claros sinais de iminente esgotamento dessa
195
forma administrativa, posto que são descuradas as devidas ações do poder público para medidas de prevenção.
Assim sendo, o modelo em vigor absorve crescentes custos que tendem à perpetuação, até atingir um ponto de
ruptura de financiamento, impondo soluções seletivas ou mesmo a modificação do marco regulatório
constitucional”. Qual é o dispositivo constitucional referido pela comissão? Tendo em vista o agravamento da
crise de financiamento da saúde em geral, como o promotor deve atuar para agir em conformidade com a CF a
garantir saúde para todos com dignidade?
Excelência, o dispositivo constitucional referido pela Comissão é o art. 198, II, da CRFB/88, que determina
prioridade para atividades preventivas de tutela da saúde.
Deveras, o modelo morbocêntrico que tem por foco a recuperação a saúde, deixando de lado a prevenção de
doenças, tende à retroalimentação de custos infindáveis. Em outras palavras, ataca notadamente as consequências,
que jamais deixarão de existir se as causas não forem cuidadas de modo mais enérgico, mediante ações de saúde
preventivas.
Para garantir saúde e dignidade para todos, o Promotor deve fiscalizar energeticamente o cumprimento dos
planos de saúde (nacional, estaduais e municipais, notadamente os dois últimos), seus consectários administrativos,
suas linhas diretivas e reguladoras de políticas públicas de saúde em cada estamento federativo.
Deve promover também audiências públicas, para a oitiva da população não organizada sobre a sua percepção
de saúde, daí colhendo elementos para a definição de hipóteses de intervenção.
Nesse contexto, convém que o órgão de execução ministerial atue e investigue notadamente as causas que
ensejam os problemas sanitários, de modo a saná-las. Os motivos pelos quais faltam recursos, remédios, atendimentos,
prevenção de doenças comuns em sua área de atuação, etc.
Portanto, o Promotor de Justiça deve priorizar, sempre que possível, atuações de caráter preventivo de
situações de crise ou conflito, buscando a prévia mediação, com vistas à preservação de direitos e o respeito à ordem
jurídica, e preferir a solução administrativa à judicial, velando pela sua execução e cumprimento

5) O plano nacional aponta como ponto importante de referência o plano municipal de saúde. O que seriam o
plano municipal de saúde e o fundo municipal de saúde?
O Plano Municipal de Saúde (PMS) é o instrumento central de planejamento para definição e implementação de
todas as iniciativas municipais no âmbito da saúde para o período de 4 (quatro) anos. Nele, explicitam-se os
compromissos do governo para o setor saúde, por meio da definição de objetivos, diretrizes e metas, e refletem-se, a
partir da análise situacional, as necessidades de saúde da população e as peculiaridades próprias do município.
Trata-se de notável manifestação do princípio da descentralização do SUS, cuja elaboração deve se nortear
pela gestão democrática, em especial, por meio do Conselho Municipal de Saúde (CMS) e das Conferências de Saúde.
Portanto, a construção do PMS é um processo participativo que possibilita o envolvimento dos atores que vivenciam o
cotidiano do SUS no município, num processo de discussão e avaliação dos problemas de saúde e a melhor maneira de
enfrentá-los.
O Plano é elaborado no primeiro ano de gestão do governo municipal, com execução a partir do segundo ano
da gestão em curso até o primeiro ano da gestão subsequente.
O Fundo Municipal de Saúde é o fundo para o qual serão transferidos os recursos destinados para a saúde.
Suas verbas são aplicadas conforme definido no Plano Municipal de Saúde.

6) De que forma deve o promotor de justiça atuar no financiamento da saúde no município?


O Promotor deve acompanhar a elaboração do Plano Plurianual, da Lei de Diretrizes Orçamentárias dos
Municípios, e das respectivas Leis Orçamentárias Anuais, observando sua fidelidade à Constituição Federal, e ao
respectivo Plano de Saúde, sua suficiência de recursos e o respeito aos pisos orçamentários relativos ao Sistema Único
de Saúde, atuando, administrativa e/ou judicialmente, para garanti-los.

196
Também deve fiscalizar a concentração de todos os recursos financeiros para a execução das ações e serviços
de saúde nos respectivos Fundos de Saúde e fiscalizar para que o gestor de saúde seja o administrador e responsável
pela movimentação dos recursos depositados no Fundo de Saúde.

7) Dentro de uma investigação, qual seria o objeto?


O objeto seria o acompanhamento tanto da elaboração dos orçamentos, para verificar se está de acordo com
as reais necessidades, como de sua execução, aplicação de recursos.
Deve-se também apurar se é o gestor de saúde quem realmente determina como são gastos os recursos
destinados à saúde, porque em muitos Municípios o Secretário de Saúde não poder, pois esse está concentrado no
Prefeito ou no Secretário da Fazenda, ou até no dono de um Hospital.

8) O plano nacional de atuação traz recomendações sobre o relacionamento da promotoria com os órgãos de
controle social. Como promotora da saúde, como a senhora concretizaria este relacionamento?
Excelência, da forma mais estreita e próxima possível. Portanto, na esteira do que recomenda o Plano Nacional
de Atuação, eu iria fiscalizar a correta composição, o regular exercício dos Conselhos de Saúde e suas condições de
funcionamento, comparecendo, se possível, às suas reuniões, examinar suas atas de trabalhos e promover as medidas
necessárias ao exercício de suas atribuições; contribuir para a informação e o aperfeiçoamento técnico de Conselheiros
de Saúde; participar das Conferências de Saúde, velando, quando cabível, pela observância de suas diretrizes e demais
proposições de políticas de saúde pelos respectivos gestores; manifestar, quando oportuno, a posição do Ministério
Público; estabelecer aproximação com entidades (lato sensu) da sociedade civil, quando conveniente, colhendo
subsídios para fundamentar e aprimorar iniciativas e a transparência da atuação institucional; realizar audiências
públicas, reuniões e palestras como medidas de aproximação social do Ministério Público, promovendo o esclarecimento
público acerca das dimensões individual e coletiva do direito à saúde; priorizar, se possível, atuações de caráter
preventivo de situações de crise ou conflito, buscando a prévia mediação, com vistas à preservação de direitos e o
respeito à ordem jurídica e preferir a solução administrativa à judicial, velando pela sua execução e cumprimento.

PROCESSO COLETIVO - GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO


MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO

1) O mandado de injunção é garantia fundamental e tem sede no art. 5 da CF, embora tenha sido regulamentada
há pouco mais de um ano. Quando é cabível a impetração do mandado de injunção, nos termos da CF?
Excelência, nos termos do art. 5º, LXXI, da CRFB/88, é cabível a impetração de mandado de injunção sempre
que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

2) Antes do advento da Lei 13.300/16, havia três correntes no seio do STF com relação à natureza da decisão
concessiva do mandado de injunção. A senhorita poderia declinar quais seriam essas correntes e qual delas foi
a acolhida pela Lei 13.300?
Sim, Excelência, trata-se das teorias não concretista, concretista geral e concretista individual.
A primeira tese adotada pelo STF foi a teoria não concretista, segundo a qual não é possível ao Poder Judiciário
determinar que a omissão seja sanada, ou saná-la por si própria. No bojo do Mandado de Injunção nº 107/DF (STF, Ml
nº 107-3/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJU 21.09.1990, p. 9282), a Suprema Corte decidiu que o mandado de injunção
não é hábil para viabilizar o exercício do direito do impetrante, mas tão somente reconhecer e mora do Poder Legislativo
e recomendar-lhe que ela seja sanada. Tem por fundamento o princípio da separação dos poderes, cláusula pétrea da
CRFB/88.

197
Em 1992, no Mandado de Injunção nº 232-4/RJ (STF - Ml nº 232-1/R1, Rel. Min. Moreira Alves, D]U, de
27.2.1992), o STF adotou excepcionalmente a teoria concretista, na medida em que estabeleceu o prazo de seis meses
para 0 legislador suprir a mora e, se não suprisse, o impetrante (entidade beneficente de assistência social) passaria a
gozar da imunidade
(isenção de contribuição para a seguridade social) pretendida, a teor do art. 195, §7º, da CRFB.
Portanto, pela teoria concretista, é possível que o próprio Poder Judiciário proceda à implementação do direito
inviabilizado pela mora legislativa. Ela divide-se em geral, quando os efeitos da decisão são estendidos a todos aqueles
que se encontrem na situação do impetrante, e individual, na qual a implementação judicial do direito só é assegurada à
parte impetrante.
Nesse contexto, importante ressaltar que, no ano de 2007, no bojo dos marcantes Mandados de injunção nº
670/ES, 712/PA e nº 708/DF, decidiu-se que, já caracterizada a mora do Poder Legislativo, deveria o Pretório Excelso
concretizar o direito de greve dos servidores públicos, até que sobreviesse lei regulamentadora do direito de greve,
aplicando-se a teoria concretista geral.
Para tal viabilização (implementação) do exercício do direito, seria aplicada a lei de greve da iniciativa privada,
qual seja, a Lei nº 7.783/89, com algumas adequações (alterações necessárias, nos dizeres do Ministro Eros Grau,
relator do Ml n° 712/PA, no que foi acompanhado pela maioria dos Ministros).
Importante salientar que a Teoria Concretista pode ser caracterizada como intermediária ou direta, a depender
da necessidade ou não de cientificação do órgão omisso acerca de sua mora declarada, assim como da concessão de
prazo para que ela seja sanada, antes de o próprio Poder Judiciário implementar o direito objeto da ação.
Com o advento da Lei nº 13.300/16, nosso ordenamento jurídico adotou expressamente a teoria foi a concretista
individual intermediária, a teor de seu art. 8º, segundo o qual ‘‘ Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida
a injunção para: I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora; II -
estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou,
se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja
suprida a mora legislativa no prazo determinado. Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o
inciso I do caput quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo
estabelecido para a edição da norma.’’

3) Cabe mandado de injunção para a defesa de direitos difusos?


Perfeitamente, Excelência, é cabível. Havendo falta de norma regulamentadora que torne inviável a
concretização de um direito constitucional difuso, como, por exemplo, o fundamental direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, caberá mandado de injunção.
Não somente inexiste qualquer vedação nesse sentido, como também se trata de decorrência lógica do direito
fundamental de acesso à Justiça, esculpido no art. 5º, XXXV, da CRFB/88, e há previsão expressa na Lei 13.300/16
nessa direção, cujos artigos 12, caput e parágrafo único, e 13, preveem expressamente o mandado de injunção coletivo
para a direitos, as liberdades e as prerrogativas pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de
pessoas.

4) O MP é um dos legitimados ativos para ingressar com o mandado de injunção coletivo. Em que situação?
Excelência, a teor do art. 12, I, da Lei 13.300/16, o Ministério Público é legitimado ativo para impetrar mandado
de injunção coletivo quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis, na esteira do seu perfil institucional traçado pela
CRFB/88.

5) A DP é legitimada?

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Sim, Excelência, conforme art. 12, IV, a Defensoria Pública é legitimada para impetração da mandado de
injunção quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos
direitos individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5o da Constituição Federal.

6) Presente alguma situação que ensejaria o deferimento do risco, o STF admite provimento liminar em
mandado de injunção? (“STF nega terminantemente”)
Excelência, à época em que o STF adotava majoritariamente a tese não concretista, mesmo aplicando por
analogia a lei do mandado de segurança (que prevê a concessão de medida liminar) para o procedimento do mandado
de injunção, a Suprema Corte negava terminantemente provimento liminar em MI, sob o fundamento de que o
provimento provisório (da liminar) iria além (ultrapassaria) dos limites da decisão final prolatada no mandado de
injunção.
Com a adoção da tese concretista pelo STF, assim como pela Lei nº 13.300, a qual prevê, em seu art. 14
aplicação subsidiária da Lei do Mandado de Segurança, parte da doutrina defende o cabimento de provimento liminar
em mandado de injunção.
Nesse sentido, leciona Bernardo Gonçalves:

Pois bem, entendemos que com a adoção da tese concretista na jurisprudência do STF a
partir de 2007 e agora também com a previsão legal dessa tese (concretista) na Lei na
13.300/2016, seria sim viável a concessão de liminar em sede de mandado de injunção. E
isso mesmo sem a previsão expressa na Lei nº 13.300/2016. Aqui temos os fundamentos: a)
no reconhecimento jurisprudencial e legal (normativo) da tese concretista; b) e também na
medida em que a própria Lei nº 13.300/2016 determina a aplicação subsidiária das normas
do mandado de segurança, disciplinado pela Lei nº 12.016/2009, bem como da aplicação
novo CPC de 2015. (FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 9.
ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2017).

199
DIA9 – PONTO 8 – Euler e Lucas Murad

GRUPO TEMÁTICO I

CONSTITUCIONAL - ELAINE MARTINS PARISE


Obs.: Todas as respostas de direito constitucional foram realizadas com base no livro do Marcelo Novelino.

1) É correto afirmar que o poder constituinte originário é permanente?


Sim. Na concepção do Abade SIEYÈS, teórico de viés jusnaturalista, o Poder Constituinte se caracteriza por ser: (...) II)
permanente, por continuar existindo mesmo após concluir a sua obra; (...) Isso porque a qualquer momento é possível
que haja um ato político (golpe ou revolução) que rompa com a atual Constituição e instaure uma nova ordem jurídica
constitucional. Por isso tal poder é permanente e latente.

2) Quais os efeitos da promulgação de uma nova Constituição sobre a ordem jurídica até então em vigor no
plano das normas constitucionais e no plano das normas inconstitucionais?
Quando uma nova Constituição é promulgada, salvo expressa disposição em outro sentido, ocorre a revogação integral
da Constituição anterior (“revogação por normação geral”).
No que se refere à relação entre norma legal anterior e norma constitucional posterior, não se deve falar em revogação,
uma vez que esta pressupõe normas de semelhante densidade normativa. A rigor, uma norma só pode ser revogada por
outra emanada do mesmo Poder que a elaborou.
A incompatibilidade entre lei anterior e norma constitucional posterior é hipótese de não recepção. Explica-se: a
Constituição é o fundamento de validade, imediato ou mediato, de todos os atos normativos infraconstitucionais. Quando
do surgimento de uma nova Constituição, os atos materialmente compatíveis com ela são recepcionados – perdem seu
fundamento de validade antigo e recebem um novo –, diversamente do que ocorre com aqueles que se tornaram
materialmente incompatíveis, os quais perdem o seu fundamento de validade e não recebem um novo, acarretando a
cessação de sua vigência. A lei deixa de existir no mundo jurídico e, por consequência, perde a aptidão para produzir os
efeitos que lhe são próprios.
O Supremo Tribunal Federal, que em decisões anteriores se referia a este fenômeno como sendo hipótese de
revogação, no julgamento da ADPF, que tinha por objeto a compatibilidade entre a Lei de Imprensa e a Constituição de
1988, utilizou o termo não recepção.

3) E a repristinação?
A repristinação ocorre quando uma norma revogada volta a viger em virtude da revogação da norma que a revogou.
Apesar de haver quem defenda um efeito repristinatório imediato e automático da lei que revoga a lei revogadora
(Emanuele Gianturco), a posição amplamente dominante é no sentido de que a revogação de uma lei faz com que ela
desapareça, deixe de existir. Portanto, a revogação da lei ab-rogante não pode ter o efeito automático de “ressuscitar”
uma lei anterior que havia sido abolida.
No âmbito do direito constitucional é admitida apenas a repristinação expressa. O fundamento da repulsa à repristinação
tácita são os princípios da segurança jurídica e estabilidade das relações sociais. O permanente refluxo de normas
geraria dificuldades insuperáveis ao aplicador do direito.
Portanto, uma norma constitucional revogada não se restaura automaticamente com o surgimento de uma nova
Constituição, salvo previsão expressa nesse sentido.
No âmbito da legislação infraconstitucional, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro também admite apenas
a repristinação expressa ao dispor que, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a sua vigência (LINDB, art. 2.°, § 3.°).

200
Há hipóteses nas quais, apesar de não haver uma repristinação tácita propriamente dita, os efeitos produzidos são
bastante semelhantes, dando origem a um fenômeno denominado efeito repristinatório tácito. A principal diferença é que
neste ocorre novamente a vigência de uma norma aparentemente revogada ou cuja eficácia havia sido suspensa por
outra norma, ao passo que na repristinação tácita a norma que volta a ter vigência havia sido efetivamente revogada por
outra norma válida. Nas ações diretas de inconstitucionalidade processadas e julgadas pelo STF, o efeito repristinatório
tácito poderá ocorrer em duas situações. A concessão de medida cautelar suspendendo uma lei revogadora faz com que
a lei revogada volte a ser aplicada novamente, salvo determinação expressa em sentido contrário (Lei 9.868/1999, art.
11, § 2.°).12 Na decisão definitiva de mérito, se uma lei é declarada inconstitucional com efeitos retroativos (“ex tunc”), o
vício é reconhecido e declarado desde o seu surgimento. Neste caso, a lei inconstitucional não poderia ter revogado
uma norma válida, razão pela qual esta poderá voltar a ser aplicada novamente, caso esta solução seja mais razoável
que o vácuo legislativo. Zeno VELOSO pondera que seria uma contradição admitir que uma “lei revogada por outra lei
que, afinal, teve a sua inconstitucionalidade reconhecida, continua revogada, permanece sem eficácia”.
Hipótese semelhante ocorre com o exercício da competência legislativa plena pelos Estados (CF, art. 24, §§ 1.° a 4.°). A
Constituição estabelece que, no âmbito da legislação concorrente, a União tem competência para legislar sobre normas
gerais, cabendo aos Estados exercer a competência suplementar. Caso a União não elabore as normas gerais, os
Estados poderão exercer a competência legislativa plena para atender a suas peculiaridades. Todavia, a qualquer
momento a União poderá elaborar a norma geral de sua competência suspendendo a eficácia da lei estadual no que lhe
for contrário. Se, porventura, a lei federal sobre normas gerais for posteriormente revogada, a lei estadual suspensa
voltará a produzir efeitos novamente.
Por fim, existe a possibilidade de ocorrer o efeito repristinatório tácito com uma lei cuja eficácia tenha sido suspensa por
uma medida provisória. Caso a medida provisória suspensiva seja posteriormente rejeitada ou revogada, a lei suspensa
volta a produzir efeitos novamente.

4) Admite-se a iniciativa popular para a reforma da Constituição?


Valendo-se de uma interpretação sistemática, José Afonso da SILVA defende a possibilidade de iniciativa popular para a
propositura de emendas. Nesse caso, aplicar-se-ia, por analogia, a forma prevista para a iniciativa das leis. No entanto,
em razão de a iniciativa para propor emenda ser uma exceção à regra geral (CF, art. 61), deve-se fazer uma
interpretação restritiva do dispositivo (“normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente”), não devendo ser
admitida a iniciativa popular para esta hipótese.

5) A lei orgânica municipal se caracteriza como expressão do poder constituinte derivado?


A doutrina controverte sobre a manifestação do poder constituinte derivado decorrente nas leis orgânicas municipais. A
maioria da doutrina sustenta que as leis orgânicas municipais não traduzem manifestação do poder constituinte derivado
decorrente. Sustenta-se que a lei orgânica tem dupla subordinação, isto é, à constituição do respectivo estado (Poder
Constituinte Derivado Decorrente) e a constituição da republica (Poder Constituinte Originário).
Em prova elaborada pelo CESPE para o concurso de Advogado da União/2006, considerou-se errada a afirmativa de
que “o poder constituinte derivado decorrente abrange os Estados, para elaborarem suas constituições, e os Municípios,
para elaborarem suas leis orgânicas” (Questão 65).
Neste sentido, Dirley da CUNHA JR. Sustenta que “falar de um poder constituinte decorrente dos Municípios é cogitar a
existência de um poder decorrente do poder decorrente” (Curso de direito constitucional, p. 249). Pedro LENZA, citando
o entendimento adotado por Noemia Porto, parece concordar que “o poder constituinte derivado decorrente deve ser de
segundo grau, tal como acontece com o poder reformador, isto é, encontrar sua fonte de legitimidade direta da
Constituição Federal”, o que não ocorre na esfera dos Municípios (Direito constitucional esquematizado, p. 183).

6) Todos os direitos fundamentais são considerados cláusulas pétreas?

201
Os direitos individuais são aqueles conferidos ao indivíduo para protegê-lo contra o arbítrio do Estado ou de outros
particulares (direitos de defesa ou direitos de resistência). As garantias individuais, por sua vez, são os instrumentos
para assegurar o exercício desses direitos.74
Os direitos e garantias individuais, apesar de consagrados de forma sistemática no art. 5.° da Constituição brasileira de
1988, não se restringem a esse dispositivo, encontrando-se espalhados por toda a Constituição.
Assim como existem direitos e garantias individuais consagrados fora do art. 5.°, há normas nele contidas que não são
expressivas de um direito fundamental e que, por isso, podem ser suprimidas. É o caso, por exemplo, de algumas regras
penais (CF, art. 5.°, XLII a XLIV). Outra questão relevante se refere aos direitos coletivos consagrados no art. 5.° da
Constituição (“Capítulo I: Dos direitos e deveres individuais e coletivos”). Tendo em vista a expressa referência
constitucional apenas aos direitos individuais, os “direitos coletivos”, como as liberdades de reunião (CF, art. 5.°, XVI) e
de associação (CF, art. 5.°, XVII a XXI), também podem ser considerados cláusulas pétreas? Esses direitos
classificados pela Constituição e por parte da doutrina como coletivos, a rigor, são direitos individuais de exercício
coletivo, uma vez que o titular do direito não deixa de ser cada um dos indivíduos. Os instrumentos de exercício é que
são coletivos, não a titularidade dos direitos. Por serem direitos de defesa do indivíduo, ainda que seu exercício seja
coletivo, não resta dúvida de que devem ser incluídos no rol de cláusulas pétreas expressas.
Há quem defenda que todos os direitos e garantias fundamentais, e não apenas os individuais, foram consagrados
como cláusulas pétreas. Para justificar uma interpretação mais abrangente do dispositivo, são invocados, dentre outros,
os seguintes argumentos: I) “a expressão ‘direitos e garantias individuais’, utilizada no art. 60, § 4.°, IV, não se encontra
reproduzida em nenhum outro dispositivo da Constituição, razão pela qual mesmo com base numa interpretação literal,
não se poderia confundir estes direitos individuais com os direitos individuais e coletivos do art. 5.° de nossa lei
fundamental”; II) não existe expressamente na Constituição brasileira de 1988 qualquer regime jurídico diferenciado a
justificar uma distinção no que se refere à fundamentalidade dos direitos sociais;80 e III) a intenção do legislador
constituinte originário, quando da elaboração do dispositivo, foi contemplar todos os direitos e garantias fundamentais.

7) Em relação à comissão parlamentar de inquérito: é possível no âmbito da CPI a quebra do sigilo bancário?
STF – MS 24.817/DF, rel. Min. Celso de Mello (j. 03.02.2005): “A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de
qualquer pessoa sujeita a investigação legislativa pode ser legitimamente decretada pela Comissão Parlamentar de
Inquérito, desde que esse órgão estatal o faça mediante deliberação adequadamente fundamentada e na qual indique a
necessidade objetiva da adoção dessa medida extraordinária. Precedentes. – O sigilo bancário, o sigilo fiscal e o sigilo
telefônico (sigilo este que incide sobre os dados/registros telefônicos e que não se identifica com a inviolabilidade das
comunicações telefônicas) – ainda que representem projeções específicas do direito à intimidade, fundado no art. 5.°, X,
da Carta Política – não se revelam oponíveis, em nosso sistema jurídico, às Comissões Parlamentares de Inquérito, eis
que o ato que lhes decreta a quebra traduz natural derivação dos poderes de investigação que foram conferidos, pela
própria Constituição da República, aos órgãos de investigação parlamentar”.

8) Como é composta a Câmara de Procuradores, de acordo com a lei orgânica do MPMG? (a candidata
confundiu câmara com colégio e a examinadora deu a oportunidade de ela retificar a resposta, mas não sei se
ela considerou)
Subseção II Da Câmara de Procuradores de Justiça Art. 23. A Câmara de Procuradores de Justiça, presidida pelo
Procurador-Geral de Justiça, é composta pelos 10 (dez) Procuradores de Justiça mais antigos no cargo e por 10 (dez)
Procuradores de Justiça eleitos pelo Colégio de Procuradores, para mandato de 2 (dois) anos.

9) A partir de qual data pode ser iniciada a propaganda eleitoral?


Art. 36. A propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 15 de agosto do ano da eleição. (Redação dada pela
Lei nº 13.165, de 2015)

202
10) O que se entende por bem de uso comum, para fins de âmbito eleitoral?
Art. 37. § 4o Bens de uso comum, para fins eleitorais, são os assim definidos pela Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 -
Código Civil e também aqueles a que a população em geral tem acesso, tais como cinemas, clubes, lojas, centros
comerciais, templos, ginásios, estádios, ainda que de propriedade privada. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009)

11) Neste caso, é possível a propaganda eleitoral?


Não, nos termos do art. 37 da Lei 9504/97.
Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou que a ele pertençam, e nos bens de
uso comum, inclusive postes de iluminação pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de
ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação,
inscrição a tinta e exposição de placas, estandartes, faixas, cavaletes, bonecos e assemelhados. (Redação dada pela Lei
nº 13.165, de 2015) § 2º Não é permitida a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens públicos ou
particulares, exceto de: (Redação dada pela Lei nº 13.488, de 2017) I - bandeiras ao longo de vias públicas, desde que
móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos; (Incluído dada pela Lei nº 13.488, de
2017) II - adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e janelas residenciais, desde que não
exceda a 0,5 m² (meio metro quadrado). (Incluído dada pela Lei nº 13.488, de 2017) § 3º Nas dependências do Poder
Legislativo, a veiculação de propaganda eleitoral fica a critério da Mesa Diretora.

ADMINISTRATIVO - FERNANDO RODRIGUES MARTINS


SERVIÇOS PÚBLICOS

1) O Brasil tem uma das piores prestações de serviços do mundo. A senhora poderia dizer em que tipo de
atividade se situa o serviço público?
Não entendi a pergunta.
LAUBADÈRE denomina de serviço público “toda atividade de uma coletividade pública visando a satisfazer um objetivo
de interesse geral”.3
MARCELO CAETANO assim define: “Chamamos serviço público ao modo de atuar da autoridade pública a fim de
facultar, por modo regular e contínuo, a quantos deles careçam, os meios idôneos para satisfação de uma necessidade
coletiva individualmente sentida.”4
Eis o enfoque dado por FRITZ FLEINER: “Chamamos serviço público ao conjunto de pessoas e meios que são
constituídos tecnicamente em uma unidade e destinados a servir permanentemente a um fim público específico.”5
DIEZ simplifica o conceito, considerando que serviço público “é a prestação que a Administração efetua de forma direta
ou indireta para satisfazer uma necessidade de interesse geral”.6
Na doutrina pátria, também variam os conceitos. HELY LOPES MEIRELLES assim define: “Serviço público é todo
aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer
necessidades essenciais ou secundárias da coletividade, ou simples conveniências do Estado.”7
MARIA SYLVIA DI PIETRO, a seu turno, considera serviço público “toda atividade material que a lei atribui ao Estado
para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às
necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente de direito público”.8
Em nosso entender, o conceito deve conter os diversos critérios relativos à atividade pública. De forma simples e
objetiva, conceituamos serviço público como toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, basicamente
sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da coletividade.

2) Se é uma atividade prestacional, como cotejá-la com as seguintes: delegada, regulada e de fomento?
Dentre as mencionadas, o serviço público pode ser uma atividade delegada, desde que não seja um serviço público
propriamente dito, que é indelegável.
203
3) Sua resposta está correta, mas me despertou uma curiosidade: e como é feita a atividade regulada? Que tipo
de formação de norma se dá através dela?
AGÊNCIAS REGULADORAS – A qualificação legal expressa voltou à tona mais recentemente quando da instituição das
autarquias de controle ou, se se preferir, das agências reguladoras. Realmente, houve menção expressa em várias leis.
A Lei n 9.427, de 26.12.1996, declara que a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) é “autarquia sob regime
especial” (art. 1o); a Lei no 9.472, de 16.7.1997, reza que a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) é
autarquia submetida a “regime autárquico especial” (art. 8o); a Lei no 9.478, de 6.8.1997, qualifica a ANP (Agência
Nacional do Petróleo) como sujeita ao “regime autárquico especial” (art. 7o); a Lei n 9.782, de 26.1.1999, refere-se à
ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como sendo autarquia “sob regime especial” (art. 3o).
A instituição das agências decorreu do denominado poder regulatório, pelo qual as entidades exercem controle
basicamente sobre dois setores, ambos executados por pessoas da iniciativa privada: os serviços públicos,
normalmente delegados por concessão (como, v. g., a energia elétrica), e algumas atividades econômicas privadas de
relevância social (v. g., produção e comercialização de medicamentos).
Diante de tão reiteradas referências legais, seria de perguntar-se: quais os elementos definidores das autarquias de
regime especial? Sem embargo de os autores não traçarem linhas rigorosamente idênticas a respeito de tais elementos,
podemos dizer, numa visão geral, que corresponderiam às seguintes prerrogativas: (1o) poder normativo técnico; (2o)
autonomia decisória; (3o) independência administrativa; (4o) autonomia econômico-financeira.65
O poder normativo técnico indica que essas autarquias recebem das respectivas leis delegação para editar normas
técnicas (não as normas básicas de política legislativa) complementares de caráter geral, retratando poder regulamentar
mais amplo, porquanto tais normas se introduzem no ordenamento jurídico como direito novo (ius novum).66
Semelhante poder tem suscitado alguns questionamentos, inclusive quanto à sua constitucionalidade. Não vemos,
porém, qualquer óbice quanto à sua instituição, de resto já ocorrida em outros sistemas jurídicos. O que nos parece
inafastável é a verificação, em cada caso, se foi regular o exercício do poder ou, ao contrário, se foi abusivo, com
desrespeito aos parâmetros que a lei determinou.67
Consequentemente, o poder normativo técnico não pode deixar de submeter-se a controle administrativo e
institucional.68
Esse fenômeno, de resto já conhecido em outros sistemas jurídicos, tem sido denominado de deslegalização (ou
deslegificação, como preferem alguns), considerando que a edição de normas gerais de caráter técnico se formaliza por
atos administrativos regulamentares em virtude de delegação prevista na respectiva lei. Na verdade, não há, como
supõem alguns estudiosos (equivocadamente, a nosso ver), transferência do poder legiferante a órgãos ou pessoas da
Administração, mas tão somente o poder de estabelecer regulamentação sobre matéria de ordem técnica, que, por ser
extremamente particularizada, não poderia mesmo estar disciplinada na lei. Por conseguinte, nenhuma ofensa estará
sendo perpetrada ao princípio da reserva legal contemplado em âmbito constitucional.69 Em nosso entender, trata-se de
exigência dos tempos modernos e, por refletir inovação, não surpreende a reação oposta por alguns setores jurídicos,
costumeira em semelhantes situações.70 O que se exige, isto sim, é que as escolhas da Administração regulatória
tenham suporte em elementos concretos e suscetíveis de aferição.71

4) O direito administrativo tenta caracterizar a prestação de serviços numa dimensão subjetiva (“O Estado tem o
poder de prestar serviços, e pode até publicizar essa atividade, por meio de delegação”) e objetiva
(funcionalidade, funcionar para os serviços essenciais). A doutora poderia enfrentar o tema pra mim?
A dimensão subjetiva da prestação dos serviços públicos diz respeito à pessoa que deve prestá-los, qual seja, o Estado
ou particulares, por meio de delegação. É corolário do sentido subjetivo da Administração Pública. A dimensão objetiva
da prestação dos serviços públicos, por sua vez, refere-se ao aspecto material dos serviços públicos, ou seja, às
atividades essenciais ou que trazem comodidade ao usuário e que devem ser prestadas por meio do serviço público. É
consequência do sentido objetivo da Administração Pública.
204
5) Quais os elementos que caracterizam o serviço público?
1.1.Requisitos para a configuração do serviço público.
1.1.1. Substrato material.
É a ideia de que o serviço público é uma comodidade ou utilidade usufruída pela sociedade de forma contínua. O Estado
ou terceiro, entregando à coletividade uma comodidade, um benefício, uma utilidade, que é usufruída pela sociedade
continuadamente. A sociedade vive melhor com a prestação daquele serviço do que sem ele. Não há inicio, meio e fim, é
continuamente exercida pela sociedade.
1.1.2. Trato formal.
Fato de que o serviço público é prestado sob o regime de direito público, ainda que parcialmente público. Mesmo
quando particulares atuam na prestação do serviço, eles respeitam os princípios e regras inerentes à prestação do
serviço público. Particulares respeitam o princípio da continuidade, respeitando regras como a responsabilidade civil
objetiva, e assim por diante. Não é qualquer prestação de comodidade, mas uma prestação feita sob o regime de direito
público, ainda que parcialmente público. Não se admite a prestação de um serviço público num regime exclusivamente
privado.
1.1.3. Elemento subjetivo.
Deve ser prestado pelo Estado direta ou indiretamente. O Estado pode fazer a prestação do serviço público de forma
direta ou indireta. O art. 175 da CF diz: Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Há exceções. Há serviços exclusivos e indelegáveis, mas a princípio a prestação do serviço público poder ser feita pelo
Estado significa que ele tem o dever de promover a prestação do serviço público, seja prestando diretamente, seja
delegando a particulares a prestação de serviços, sob conta e risco dele.
Quando o Estado é delegatário de serviço, ele continua responsável por esse serviço prestado pelo particular. O
particular vai prestar o serviço mediante delegação do estado, o que se torna uma prestação indireta pelo Poder Público.

6) Quais os princípios que informam o serviço público?


Além dos princípios gerais do Direito Administrativo, há os princípios específicos previstos no artigo 6º da Lei 8.987 /95
(dispositivo legal que define a prestação de serviço adequado).
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários,
conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1º Serviço adequado é o que
satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua
prestação e modicidade das tarifas. § 2º A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das
instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço. § 3º Não se caracteriza como
descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por
razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, II - por inadimplemento do usuário, considerado o
interesse da coletividade.
São eles:
Princípio da regularidade: manutenção da qualidade do serviço.
Princípio da eficiência: quanto aos meios e resultados.
Princípio da continuidade: art. 6º, § 3º, Lei 8.987 /95 (supratranscritos).
Princípio da generalidade: o serviço público deve ser prestado erga omnes .
Princípio da atualidade: de acordo com o estado da técnica, ou seja, de acordo com as técnicas mais atuais.
Princípio da segurança: o serviço público não pode colocar em risco a vida dos administrados, os administrados não
podem ter sua segurança comprometida pelos serviços públicos.
Princípio da modicidade: serviço público deve se prestado da forma mais barata possível, de acordo com a tarifa
mínima.
205
Princípio da cortesia: os serviços públicos devem ser prestados com cortesia, educação e respeito aos direitos
fundamentais dos usuários.

7) Existe algum princípio específico do serviço público? Igualdade, universalidade e imutabilidade.


Sim, os supramencionados.

8) O que se pode dizer sobre o princípio da não discriminação tarifária?


É um princípio corolário do princípio da igualdade. Não se deve cobrar tarifas discriminatórias dos usuários, salvo se
houver motivo razoável com fundo constitucional. Por exemplo, não se pode cobrar diferentes valores para a utilização
do serviço público de transporte coletivo urbano. Tanto o rico quanto o pobre pagarão o mesmo valor. Entretanto, em
virtude de previsão constitucional e de ações afirmativas, é possível que o idoso (maior de 65 ou 60 anos, se houver lei
municipal prevendo tal isenção) não pague a tarifa do transporte coletivo urbano.

9) Pode haver tarifa diferenciada?


Em regra não, salvo se houver uma hipótese de diferenciação para garantir outros direitos fundamentais previstos na
CF, como no exemplo supramencionado.

10) Tem algum exemplo? (tarifas sociais seria um exemplo)


A gratuidade do transporte público urbano coletivo para os idosos maiores de 65 anos.

11) Classificação dos serviços públicos quanto à essencialidade.


Quanto à essencialidade
Serviços públicos propriamente ditos. Os serviços públicos propriamente ditos são aqueles cuja prestação deve ser feita
de forma privativa pelo Poder Público e, portanto, não podem ser delegados, em razão de sua essencialidade. Como
exemplo, podemos citar a segurança pública, defesa nacional.
Serviços públicos de utilidade pública. Os serviços públicos de utilidade pública são aqueles não essenciais, podendo
ser prestados diretamente ou não pelo Poder Público. Como exemplo, podemos citar o transporte coletivo.

12) Qual a base de verificação se o serviço é essencial ou não?


A base de verificação consiste no fato de o serviço poder ou não ser delegado ao particular, em virtude de sua
essencialidade.

13) Qual a pista normativa? Qual a base na lei para essa verificação? Não seria a lei de greve?
LEI Nº 7.783, DE 28 DE JUNHO DE 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais,
regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. Art. 10 São considerados
serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica,
gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e
alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações;
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de
dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI compensação bancária.
Ressalto que a interrupção de fornecimento de energia elétrica de ente público somente é considerada ilegítima quando
atinge necessidades inadiáveis da comunidade, entendidas essas - por analogia à Lei de Greve - como "aquelas que,
não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população" (art. 11, parágrafo
único, da Lei n.º 7.783/89), aí incluídos, hospitais, prontos-socorros, centros de saúde, escolas e creches (...)". O
acórdão paradigma (RESP 619.610/RS), de relatoria do Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, examinando
hipótese análoga, decidiu pela possibilidade de corte no fornecimento de energia elétrica, em razão de inadimplência,
206
em se tratando de Estado-consumidor, mesmo no caso de prestação de serviços públicos essenciais, como a educação,
verbis: "(...) (EREsp 845.982/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/06/2009, DJe 03/08/2009)

GRUPO TEMÁTICO II

PENAL - ANDRÉ UBALDINO


RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

1) Qual foi o conceito de resultado que se valeu o art. 13 do CP?


Relação de causalidade Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Resultado é a modificação no mundo exterior, perceptível pelos sentidos, provocada pelo comportamento do agente. Se
da conduta resulta modificação do mundo exterior perceptível pelos sentidos, essa modificação leva o nome de
resultado naturalístico ou material.
Não são todos os crimes que possuem resultado naturalístico. No que diz respeito à classificação doutrinária do crime
quanto ao resultado naturalístico, ele se apresenta como crime material, formal e de mera conduta.
Crime material Crime formal Crime de mera conduta
Tem resultado naturalístico, Tem resultado naturalístico Não tem resultado
descrito no tipo, sendo descrito no topo, sendo naturalístico descrito no tipo.
indispensável à dispensável à consumação.
consumação.

2) Qual a teoria adotada pelo direito brasileiro relativamente à relação de causalidade?


3) Esclareça o que seria a teoria da equivalência das condições e a teoria da causalidade adequada.
Acolheu-se como regra, a teoria da equivalência dos antecedentes. É o que se extrai do art. 13, caput, do CP. E, para se
constatar se algum acontecimento insere-se ou não no conceito de causa, emprega-se o "processo hipotético de
eliminação'', desenvolvido em 1894 pelo sueco Thyrén. Suprime-se mentalmente determinado fato que compõe o
histórico do crime: se desaparecer o resultado naturalístico, é porque era também sua causa; todavia, se com a sua
eliminação permanecer íntegro o resultado material, não se pode falar que aquele acontecimento atuou corno sua
causa.
Como causa é todo acontecimento que de qualquer modo contribui para o resultado, poderia operar-se o retorno ao
início dos tempos. "A" matou "B". Consequentemente, poderiam ser seus pais responsabilizados, pois sem a concepção
do filho a vítima não teria morrido. E assim sucessivamente, até o primeiro dos seus antepassados.
Essa crítica, contudo, é despropositada. Para que um acontecimento ingresse na relação de causalidade, não basta a
mera dependência física.
Exige-se ainda a causalidade psíquica (imputatio delictl), é dizer, reclama-se a presença do dolo ou da culpa por parte
do agente em relação ao resultado. De fato, a falta do dolo ou da culpa afasta a conduta, a qual, por seu turno, obsta a
configuração do nexo causal.
Excepcionalmente, o Código Penal adota, no § l .º do arL 13, a teoria da causalidade adequada.
Em síntese, o art. 13 do Código Penal acolheu como regra a teoria da equivalência dos antecedentes (caput, in fine) e,
excepcionalmente, a teoria da causalidade adequada (§ 1.º), no que tange às concausas relativamente independentes
supervenientes que por si sós produziram o resultado.

207
É a situação tratada pelo § l.º do art. 13 do Código Penal: "A superveniência de causa relativamente independente exclui
a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou"
(grifamos).
Nesse dispositivo foi acolhida a teoria da causalidade adequada. Logo, causa não é mais o acontecimento que ele
qualquer modo concorre para o resultado. Muito pelo contrário, passa a ser causa apenas a conduta idônea – com base
em um juízo estatístico e nas regras de experiência – a provocar a produção do resultado naturalístico. Não basta
qualquer contribuição. Exige-se uma contribuição adequada. Os exemplos famosos são: (l) pessoa atingida por disparos
de arma de fogo que, internada em um hospital, falece não em razão dos ferimentos, mas sim queimada por um
incêndio que destrói toda a área dos enfermos; (...)
No caso, a incidência da teoria da equivalência dos antecedentes acarretaria a imputação do resultado naturalístico ao
responsável pelos ferimentos, pois, eliminando-se em abstrato sua conduta, certamente a morte não teria ocorrido
quando e corno ocorreu.

4) A essa exigência de que deva existir o dolo e a culpa para que haja a relação causal se dá o nome de quê? (a
doutrina denomina isso de causalidade psíquica)
5) Quais as razões que nos levaram a adotar a adoção da teoria da equivalência das condições?
Não encontrei a resposta.
“Exposição de motivos do CP: DO CONCURSO DE PESSOAS 25. Ao reformular o Título IV, adotou-se a denominação
"Do Concurso de Pessoas", decreto mais abrangentes, já que a co-autoria não esgota as hipóteses do concursus
delinquentium. O Código de 1940 rompeu a tradição originária do Código Criminal do Império, e adotou neste particular
a teoria unitária ou monística do Código italiano, como corolário da teoria da equivalência das causas (Exposição de
Motivos do Ministro Francisco Campos, item 22). Em completo retorno à experiência passada, curva-se, contundo, o
Projeto aos critérios dessa teoria, ao optar, na parte final do artigo 29, e em seus dois parágrafos, por regras precisas
que distinguem a autoria de participação. Distinção, aliás, reclamada com eloqüência pela doutrina, em face de decisões
reconhecidamente injustas.”
Mas afirmaria que adotamos a teoria da equivalência das condições em virtude do momento histórico em que nosso
Código Penal entrou em vigor, na década de 1940, quando o positivismo era a corrente predominante. Tendo em vista o
sucesso das ciências naturais e a tentativa de sua importação para as ciências sociais (inclusive a sociologia era
denominada de física social), a teoria da equivalência das causas, em uma análise mecânica, era a teoria mais
adequada para o momento histórico vivido.

6) O que é causalidade antecipadora?


Concausas absolutamente independentes. Nesse caso, a causa efetiva do resultado não se origina da causa
concorrente. Interessante utilizar parte do conceito apresentado pelo doutrinador Cleber Masson (2015, p. 254), no
sentido de que “por serem independentes, produzem por si sós o resultado naturalístico. Constituem a chamada
‘causalidade antecipadora’, pois rompem o nexo causal”, em outras palavras, são causas sem qualquer relação ao
resultado.
80) Como determinamos o que é ou não causa de um resultado?
Por meio da eliminação hipotética. Abstratamente, se eliminarmos um fato e, com isso, o resultado não ocorrer, tal fato é
causa do resultado.

PROCESSO PENAL - ROGÉRIO FILIPPETTO


TEORIA GERAL DO PROCESSO. SISTEMAS PROCESSUAIS.

1) O juiz pode decretar a prisão processual de ofício?

208
Nos termos do art. 311 do CPP, sim. Ressalte-se que apenas a prisão preventiva processual pode ser decretada de
ofício pelo juiz. Enquanto não há processo, não é possível a decretação da prisão preventiva de ofício.
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo
juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou
por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

2) Nesse contexto, passemos para a situação do flagrante. A lei prevê que é possível a conversão do flagrante
em preventiva. Isso é uma modalidade de prisão de ofício?
Se não houver requerimento da autoridade policial ou da autoridade ministerial, se o juiz converter a prisão em flagrante
em prisão preventiva, esta será uma modalidade de prisão de ofício.

3) A investigação criminal é desprovida de contraditório. Nesse contexto, pode haver a contratação de


assistentes técnicos para a realização da perícia?
Nos termos do art. 159, §4º, do CPP, o assistente técnico só atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a
conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais. Portanto, só poderá atuar na fase processual, e não
durante a investigação criminal.
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso
superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a
formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do
laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Entretanto, nada impede que algum elemento de informação pericial seja realizado em sede de investigação criminal
defensiva. Mas, nesse caso, o profissional contratado não é, pelo menos ainda, assistente técnico.

4) No processo, a senhora mencionou a possibilidade de ofício na investigação. Nesse sentido, qual o sistema
processual adotado pelo direito brasileiro?
Creio que faltou uma palavra na pergunta. Talvez “prisão de ofício” ou “produção de prova de ofício”. Em concursos de
MP, geralmente é melhor optar pela corrente da inconstitucionalidade da produção de provas ou decretação de prisão
preventiva de ofício pelo juiz, em virtude do sistema acusatório. Embora haja parcela da doutrina que afirme que
adotamos o sistema misto, ou seja, acusatório em regra e com certos temperamentos inquisitivos, é ideal sustentarmos
que adotamos na verdade o sistema acusatório, que pode ser extraído do próprio art. 129 da CF.

5) A verdade judicial é a realização da verdade formal em prejuízo da verdade real?


Questão mais ideológica do que jurídica. Vejamos primeiro a definição de Capez:
“Da verdade formal ou dispositivo. Regra de que o juiz depende, na instrução da causa, da iniciativa das partes quanto
às provas e às alegações em que fundamentará sua decisão (iudex secundum allegata et probata partium iudicare
debet). Segundo o princípio, pode o juiz dar-se por satisfeito, quanto à instrução do feito, com as provas produzidas
pelas partes, rejeitando a demanda ou a defesa por falta de elementos de convicção. Este princípio é próprio do
processo civil. Contudo, nota-se clara tendência publicista no processo, levando o juiz a assumir uma posição mais
ativa, impulsionando o andamento da causa, determinando provas ex officio e reprimindo condutas abusivas ou
irregulares.
Da verdade material ou da livre investigação das provas. Característico do processo penal, dado o caráter público do
direito material sub judice, excludente da autonomia privada. É dever do magistrado superar a desidiosa iniciativa das
partes na colheita do material probatório, esgotando todas as possibilidades para alcançar a verdade real dos fatos,

209
como fundamento da sentença. Por óbvio, é inegável que, mesmo nos sistemas em que vigora a livre investigação das
provas, a verdade alcançada será sempre formal, porquanto “o que não está nos autos, não está no mundo”.”
Embora haja essa distinção clássica entre verdade formal e verdade material, atribuídas ao processo civil e penal,
respectivamente, parcela doutrinária entende que a busca pela verdade real é impossível por motivos inclusive
filosóficos, uma vez que a verdade seria inalcançável, principalmente no processo. Ela entende que a busca de verdade
real é um pretexto utilizado para suprimir garantias processuais fundamentais do acusado. Portanto, mesmo no
processo penal não se deveria admitir o princípio da verdade real, mas tão somente uma verdade possível, qual seja, a
verdade processual ou judicial.
Entretanto, para concursos de MP, talvez seja melhor defender a existência do princípio da verdade real, a depender do
examinador.

6) O CNMP pode dispor sobre a investigação criminal e sobre o acordo de não persecução?
Trata-se de tema muito controverso. Tendo em vista que o MPMG tem regulamentação própria sobre o assunto, o
melhor é defender a constitucionalidade do acordo, com fundamento nas seguintes premissas: a força normativa das
resoluções do CNMP, o fato de o acordo de não persecução penal não ter natureza penal, tampouco processual, o fato
de o acordo de não persecução penal ser matéria de política criminal do titular da ação penal, e o fato de que o acordo
não viola o princípio da obrigatoriedade penal, pois ambos visam a combater a impunidade.

7) Qual a natureza jurídica dessa resolução? É possível que ele institua normas, procedimentos?
O STF já assentou que as resoluções do CNJ (e, portanto, também as do CNMP) ostentam caráter normativo primário.
Portanto, é sim possível que ele institua normas e procedimentos, desde que respeitada a CF.

8) Como diferenciar leis penais, processuais penais e mistas?


Exemplo: o CPP tem uma, lei 9099/95 trouxe uma muito importante, no que tange a essa mitigação da aplicação da lei
penal.
A norma penal compõe a tríade normativa a ser considerada no presente estudo, sua índole notadamente é de direito
material, substancial, justamente por referir-se ao direito propriamente dito. E, para se ter uma ideia mais clara a
respeito, importa trazer a lume o conceito de direito penal. Assim, segue abaixo o conceito sucinto e bastante adequado
do professor Von Liszt, para quem “o direito penal é o conjunto das prescrições emanadas do Estado que ligam ao
crime, como fato, a pena como consequência” (apud JESUS, 2015, p. 47).
Eis que, em matéria de direito penal, o direito tutelado é o da sociedade, na medida em que as normas penais protegem
bens jurídicos com o escopo de proteger a harmonia e a paz sociais, protegendo por meio da tutela jurídica os bens
jurídicos mais importantes do meio social, como também constitui-se um direito subjetivo[1] do Estado, o jus puniendi,
que consiste no direito-dever-poder de punir o infrator da norma.
Pondere-se, em matéria de norma processual penal que, não obstante o direito processual penal se caracterize pela
aplicação da lei penal (direito formal ou adjetivo)[3], possui caráter instrumental, diferenciando-se da norma penal (de
direito material ou substantivo), da qual se vale para que o Estado aplique o jus puniendi.
A vista do aduzido, imperioso se faz a menção do conceito de direito processual penal, e, para tanto, colaciona-se o
conceito do saudoso professor Júlio Fabbrini Mirabete, que leciona o seguinte: Este é o conjunto de atos
cronologicamente concatenados (procedimentos), submetido a princípios e regras jurídicas destinadas a compor as lides
de caráter penal. Sua finalidade é, assim, a aplicação do direito penal objetivo. - Grifos no original - (MIRABETE, 1997,
p. 29)
As normas híbridas ou mistas, por sua vez, trazem aspectos penais e processuais penais na mesma norma. É um
exemplo o art. 366 do CPP e a transação penal prevista na lei 9099/95. Nesse caso, segundo o STF, deve ser
observada a irretroatividade da lei penal, mesmo que na mesma norma haja aspectos processuais penais, onde
vigoraria o “tempus regit actum”.
210
GRUPO TEMÁTICO 3
GRUPO TEMÁTICO 3
CIVIL – ANA

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA – Respostas com base no Manual de Direito Civil (Cristiano Chaves, Nelson
Rosenvald e Felipe Braga Neto – Juspodivm, 2017)

1) O que é prescrição extintiva? Seria a perda do direito?


A prescrição resulta de fatos jurídicos que envolvem, em seus suportes fáticos, a passagem do tempo mais a omissão
do titular. A pretensão não só sanciona a negligência da vítima, mas também tem como fundamento mais importante a
paz social e a estabilidade/segurança das relações jurídicas.
A prescrição atinge a exigibilidade do direito, ou seja, atua sobre a pretensão (posição subjetiva de poder exigir de
alguém uma prestação positiva ou negativa). Direitos sem pretensão não deixam de ser direitos subjetivos, só não são
exigíveis. Logo, a pretensão não é a perda do direito, mas sim de sua exigibilidade.
OBS: lembrar que, na esfera tributária, a prescrição é causa de extinção do crédito tributário (e implica a perda do direito
propriamente, não só da pretensão, já que o Fisco não pode cobrar dívida prescrita).
OBS2: a prescrição também pode ser aquisitiva (usucapião).

2) A partir de quando é contado o prazo prescricional? Tem uma disposição expressa no CC.
Nem sempre o prejudicado tem conhecimento de que ele tem aquele direito a ser perseguido, é uma visão mais
subjetiva. Se for preciso considerar o aspecto subjetivo? Tem súmula sobre o assunto.
O CC/02 adotou como regra a teoria da actio nata (art. 189): “violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se
extingue pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206”. A jurisprudência tem caminhado para um
entendimento mais favorável às vítimas de danos, pois nem sempre a data da violação corresponde à data em que a
vítima tomou conhecimento da violação. Se houver disparidade entre essas datas, o princípio da actio nata será
atendido quando a vítima tiver ciência inequívoca do dano e de sua autoria. O CDC trata expressamente disso (exige o
conhecimento da autoria do dano para iniciar a contagem do prazo prescricional).
Nesse sentido, é a SÚMULA N. 278 STJ - O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em
que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.

3) A ação do marido contestar a paternidade dos filhos havidos com sua esposa. Quando se inicia o prazo
prescricional?
O CC dispõe:
Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher, sendo
tal ação imprescritível.
Parágrafo único. Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm direito de prosseguir na ação.

Resumo do tema, cf. Dizer o Direito:


• Se o marido ou companheiro descobre que foi induzido em erro no momento de registrar a criança e que não é pai
biológico do seu filho registral, ele poderá contestar a paternidade, pedindo a retificação do registro (arts. 1.601 e 1.604
do CC).
• Para que o pai registral enganado consiga desconstituir a paternidade é indispensável que tão logo ele tenha sabido da
verdade (da traição) ele tenha se afastado do suposto filho, rompendo imediatamente o vínculo afetivo.
• Se o pai registral enganado, mesmo quando descobriu a verdade, ainda manteve vínculos afetivos com o filho registral,
neste caso ele não mais poderá desconstituir a paternidade porque teria manifestado, ainda que implicitamente, o
211
desejo de continuar sendo pai socioafetivo da criança, não podendo, depois de um tempo, arrepender-se e querer
retificar o registro.

4) A senhor então está me dizendo que tem um prazo??


Não há prazo.

5) E pra investigar a paternidade?


Somente os direitos subjetivos patrimoniais se sujeitam à prescrição – e somente as ações condenatórias de natureza
econômica (pois as ações meramente declaratórias são sempre imprescritíveis e as ações constitutivas, se for o caso,
se submetem a prazos decadenciais). As pretensões relacionadas ao estado das pessoas (como é a pretensão de
descobrir o pai biológico) são imprescritíveis, bem como as vinculadas aos direitos da personalidade (embora os reflexos
patrimoniais dos direitos da personalidade sejam prescritíveis)

6) Alimentos. Prazo prescricional.


O dever que prestar alimentos constitui obrigação imprescritível. No entanto, a pretensão para a cobrança de alimentos
já fixados em sentença ou ato voluntário prescreve em dois anos, contados a partir da data em que se vencerem, de
acordo com o artigo 206, § 2º do Código Civil. Em relação ao absolutamente incapaz ou filho menor de 18 anos de idade
que esteja sob o exercício do poder familiar, não haverá a fluência do prazo prescricional, por se tratar de causa
impeditiva da prescrição, nos termos dos arts. 197, II, e 198, I, do CC.

7) E se o alimentando for absolutamente incapaz?

De acordo com o CC, a prescrição não corre contra os absolutamente incapazes (art. 198, I, do CC) e tampouco corre
na constância do poder familiar, entre ascendentes e descendentes (art. 197, II, CC).

8) E se for relativamente capaz, corre prescrição contra ele?


O CC somente protege os absolutamente incapazes em relação à prescrição. Quanto aos relativamente incapazes,
estabelece o direito de regresso contra o assistente que der causa à prescrição, cf. art. 195:
Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou
representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.
Quando o dever alimentar for entre pais e filhos, contudo, aplica-se o art. 197, II do CC, segundo o qual a prescrição não
corre na constância do poder familiar.
ATENÇÃO: a alteração promovida pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência passou a considerar relativamente
incapazes sujeitos antes tidos como absolutamente incapazes. Antes da Lei 13.146/2015 eram considerados
absolutamente incapazes “os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para
a prática desses atos”; e “os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade”. Com a nova lei, a
deficiência deixou de ser causa de incapacidade a impossibilidade de exprimir a vontade passou a caracterizar
incapacidade relativa. Assim, tais pessoas passaram a estar sujeitas à prescrição. Parte da doutrina critica tal alteração,
por configurar um retrocesso na proteção das pessoas com deficiência. A seguir, interpretação doutrinária que visa
compatibilizar a alteração legislativa com a proteção à pessoa com deficiência:
A título de conclusão, o raciocínio jurídico a ser empreendido a respeito da questão posta, então, é o
seguinte:
I) antes da promulgação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, os artigos 3º
e 198, I, do Código Civil (na redação originária) impediam que contra as pessoas com deficiência
que, por esta razão, não tinham o necessário discernimento para a prática de atos da vida civil,
corresse prazo prescricional;
212
II) a Lei nº 13.146/2015, alterando o art. 3º do Código Civil, retirou as pessoas com deficiência sem
o necessário discernimento para a prática de atos da vida civil do rol dos absolutamente incapazes,
de maneira que elas não mais estariam resguardadas contra os efeitos da prescrição;
III) o fundamento da modificação do art. 3º do Código Civil pela Lei nº 13.146/2015 foi a
necessidade de se conferir capacidade civil plena, em igualdade de condições com os indivíduos em
geral, às pessoas com deficiência, necessidade essa reconhecida pelo e diretamente decorrente do
art. 12.2 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que o Estatuto da Pessoa
com Deficiência veio a regulamentar;
IV) nos termos do art. 4.4 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que tem
força de Constituição, as suas normas jamais poderão ser interpretadas no sentido de restringir
direitos ou garantias dos indivíduos que ela pretende tutelar;
Sendo assim,
V) a supressão da garantia do impedimento ou da suspensão da prescrição em favor daqueles que
não possuem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil é incompatível com a
Constituição (art. 5º, §3º da Constituição c/c art. 4.4 da Convenção de que se trata).
É importante deixar claro que a inconstitucionalidade não reside na regra que atribuiu
capacidade civil plena a todas as pessoas com deficiência, ainda que, em razão dela, não
tenham discernimento para a prática de atos da vida civil. O que é acometida de
inconstitucionalidade, por desrespeito ao art. 4.4 da Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência, é a supressão da norma que assegurava que contra essas pessoas
desprovidas de capacidade cognitiva não correria prazo prescricional.
Não se pode, desta maneira, taxar de plenamente inconstitucional o art. 114 da Lei nº 13.146/2015,
que alterou os arts. 3º e 4º do Código Civil, mas deve-se reconhecer uma inconstitucionalidade
parcial, sem redução de texto, da norma que, em decorrência dele, suprime a garantia das pessoas
com deficiência contra o fluxo do prazo prescricional.
Consequência de tudo isso é que, mesmo após a alteração do art. 3º do Código Civil, não corre
prazo prescricional contra as pessoas com deficiência que, por essa razão, não tenham o
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil.
Fonte:https://jus.com.br/artigos/50234/prescricao-e-decadencia-contra-as-pessoas-com-deficiencia-
apos-a-promulgacao-da-lei-n-13-146-15-uma-analise-constitucional

9) Principais distinções entre prescrição e decadência. Me dê 3 exemplos.

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Objeto Extingue a pretensão Extingue o direito
Prazo É fixado por lei. Pode ser suspenso, Pode ser estabelecida por lei ou pela
impedido ou interrompido. vontade das partes. Corre contra
todos, não admitindo as causas de
interrupção, suspensão ou de
impedimento legal (exceção: art. 198,
I, CC).

213
Análise pelo juiz A prescrição, apesar de dizer A decadência legal pode ser
respeito a interesses patrimoniais, conhecida de ofício, enquanto a
poderá ser conhecida de ofício pelo caducidade convencional não pode.
juiz (487, II, CPC)
Arguição Só pode ser invocada em instâncias Pode ser alegada em qualquer tempo
ordinárias. Em instância especial, ou grau de jurisdição, exceto nas
caso não haja o prequestionamento, instâncias extraordinárias, salvo
não pode ser alegada. quando houver prequestionamento.
Renúncia Após a consumação, pode ser A decadência legal não admite
renunciada, desde que não renúncia, nem após a consumação.
prejudique a terceiros.

10) No âmbito das relações civis, em geral, qual o prazo prescricional para a ação de reparação de danos?
Nas relações civis, o prazo é de 3 anos.
Art. 206. Prescreve: (...)
§ 3o Em três anos:
(...)
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;

OBS: lembrar que, em relação aos entes públicos, o prazo será de 5 anos (Decreto 20.910/32.

11) Se esse ilícito tiver natureza criminal, isso influencia no prazo prescricional?
O prazo pode ser suspenso, então?
Nas hipóteses de investigação ou processo criminal com impacto em demandas cíveis, há a suspensão do prazo
prescricional para a propositura de processos na esfera cível, como ações de indenização. Nesses casos, o lesado pode
optar por ingressar com o processo cível de forma antecipada, conforme prevê o artigo 935 do Código Civil de 2002, ou
aguardar a solução da questão criminal para propor o pedido de ressarcimento, nos termos do artigo 200 do CC/2002.
De acordo com o ministro Villas Bôas Cueva (STJ – Resp 1.631.870), “em se tratando de responsabilidade civil ex
delicto, o exercício do direito subjetivo da vítima à reparação dos danos sofridos somente se torna viável em toda
plenitude quando não pairam mais dúvidas acerca do contexto em que foi praticado o ato ilícito, sobretudo no que diz
respeito à definição cabal da autoria, que, de praxe, é objeto de apuração concomitante no âmbito criminal”.
Com esse entendimento, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ao manteve acórdão do Tribunal de Justiça de
Sergipe que determinou o prosseguimento de ação de indenização por danos morais apresentada após arquivamento
de inquérito penal sobre acidente automobilístico.

12) Se não tiver o IP, a lei fala sentença definitiva, a senhora entende que há de haver necessariamente, um
processo em curso, ou ao menos um inquérito, para que suspenda essa contagem?
Se não houver apuração do crime, será imprescritível no cível??
A suspensão do transcurso do prazo de prescrição prevista pelo artigo 200 do Código Civil visa resguardar o direito das
vítimas à reparação de danos decorrentes de ilícitos que são, concomitantemente, cíveis e criminais. O objetivo é
diminuir os prejuízos advindos da pendência de investigação a cargo da Justiça criminal, que costuma ser morosa.
O fato de algumas vítimas terem optado por ajuizar a ação de indenização antes do término da investigação criminal não
afasta o direito de que os demais lesados aguardem o desfecho do inquérito para propor os processos de
ressarcimento.
214
Nos termos da jurisprudência do STJ, o artigo 200 do CC/2002 somente é afastado quando, nas instâncias ordinárias,
ficou consignada a inexistência de relação de prejudicialidade entre as searas cível e criminal ou quando não houve a
instauração de inquérito policial ou de ação penal.

ADRIANO CARDOSO DA SILVA

1) Uma vez suspensos os processos individuais e coletivos, por força de decisão de afetação por parte relator
STJ ou STF, como se proceder ao distinguishing dessa afetação? Atenha-se ao procedimento.
Essa petição a que a senhora se refere seria apresentada onde? STJ, STF... ?
Após essa petição, alguém será intimado a apresentar alguma manifestação? A outra parte, por exemplo?

Conforme o art. 1.037, § 9º e seguintes, do CPC, o distinguising deve se dar por requerimento, em que a parte,
demonstrando a distinção de seu caso em relação à matéria objeto da afetação, postulará o prosseguimento de seu
processo.
O requerimento a ser apresentado à autoridade judicial depende de onde o processo restou sobrestado. No
primeiro grau, é dirigido ao juiz; no tribunal de origem, ao relator; se o recurso especial ou extraordinário foi sobrestado
no tribunal de origem, ao relator do acórdão recorrido; por fim, em tribunal superior, ao relator do recurso especial ou
extraordinário (§ 10).
A outra parte deverá ser ouvida sobre o requerimento, no prazo de cinco dias (§ 11).

2) Quais as mudanças na aplicação do contraditório e da fundamentação para a formação de precedentes no


sistema do novo CPC? Explicação de natureza mais procedimental. Por exemplo, o relator poderia marcar uma
mesa pública pra debater certos assuntos?

O CPC/2015 trouxe como novidade, na formação de precedentes obrigatórios, o incidente de resolução de demandas
repetitivas e de julgamento de recursos especiais e extraordinários repetitivos, bem como o incidente de assunção de
competência.
Nesse contexto, tem-se um contraditório ampliado, inclusive com a figura do amicus curiae (art. 138), o que colabora na
formulação da fundamentação das decisões vinculantes.
No que diz respeito ao julgamento de casos repetitivos, por exemplo, há previsão expressa de que o incidente terá
específica publicidade e divulgação, por meio de registro eletrônico no CNJ (art. 979), admitindo-se que o relator ouça as
partes e demais interessados, além de pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia, bem como o
Ministério Público. É possível também a designação de audiências públicas para a oitiva de pessoas com experiência e
conhecimento da matéria (art. 983 e § 1º, do CPC, bem como art. 1.038, I e II).

3) Em que consistem os deveres de coerência, integridade e estabilidade no direito jurisprudencial? (fonte:


resumo do João Paulo Lordelo sobre precedentes no NCPC).
Dever de UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA: Por ele, os tribunais não podem ser omissos diante de divergência
interna, entre seus órgãos fracionários, sobre a mesma questão jurídica.
O art. 926, §1o, do CPC acrescenta que os tribunais devem sintetizar sua jurisprudência dominante, elaborando
enunciados de súmula.
i. Dever de MANTER A JURISPRUDÊNCIA ESTÁVEL: Qualquer mudança de posicionamento (overruling) deve ser
adequadamente justificada, impondo-se, além de ter sua eficácia modulada, em respeito à segurança jurídica.
Fala-se, aqui, no princípio da “inércia argumentativa”, que: a) exige uma forte carga argumentativa para o afastamento
de um precedente, diante de um caso assemelhado ao que gerou sua formação (fundamentação qualificada que
215
justifique o overruling ou distinguishing); b) facilita uma carga argumentativa mais fraca para aquele que pretende aplicar
o precedente ao caso semelhante (que deve, todavia, identificar seus fundamentos determinante e a similitude fática).
iii. Dever de PUBLICIDADE AOS PRECEDENTES ! Nos termos do art. 927, 5º, do NCPC, caberá aos tribunais organizar
seus precedentes por tema e divulgá-los na internet. Isso os torna mais acessíveis.
iv. Deveres de COERÊNCIA E INTEGRIDADE: São estabelecidos no art. 926, um enunciado de difícil compreensão:
“Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.”. Cabe ressaltar que,
muito embora a ideia de integridade, na doutrina, tenha íntima relação com as ideia de Ronald Dworkin, o NCPC traz um
enunciado normativo, e não doutrinário. Assim, não há necessidade de corresponder exatamente a determinada
orientação filosófica. Para Didier, esses dois deveres, juntos, devem ser compreendidos como a imposição de uma
jurisprudência consistente. Além disso, a coerência e a integridade são pressupostos para que a jurisprudência possa
ser universalizada. Não é legítimo universalizar o que não é coerente.
a) DEVER DE COERÊNCIA ! Pode ser analisada em variados aspectos.
A coerência formal está ligada à noção de não-contradição. Já a substancial está ligada à ideia de conexão positiva de
sentido. A coerência, em sua dimensão externa, impõe ao tribunal o respeito às suas próprias decisões anteriores, em
respeito ao princípio da igualdade. Impõe o dever de autorreferência, de diálogo com os precedentes anteriores. Ela
também ressalta o caráter histórico do desenvolvimento judicial do direito. Na sua dimensão interna, o dever de
coerência está relacionado com a construção do precedente, ou seja, com o dever de fundamentação. Nesse sentido,
coerência é uma qualidade exigida de qualquer decisão judicial.
Alguns critérios para aferir a coerência:
• Conformidade com o repertório conceitual da Teoria Geral do Direito (não é qualquer interpretação que vale - devem
ser respeitados os padrões dogmáticos, como ressalta Tércio Ferraz Sampaio);
• Recondução a uma norma superior (relação de justificação entre duas normas);
• Conformidade com a regra que impõe requisitos para a congruência interna (o precedente precisa ser certo, claro e
coerente).

b) DEVER DE INTEGRIDADE: Relaciona-se com a ideia de unidade do direito. Segundo MARINONI, a decisão judicial
não consiste apenas em um meio para a solução de determinado caso concreto, mas também como um meio para a
promoção da unidade do direito. A ideia de “integridade” está muito relacionada às ideias de RONALD DWORKIN.
Contudo, tal autor não tem sido seguido pela
doutrina processualista em tal ponto. Impõe ao tribunal as seguintes posturas:
• Decidir em conformidade com o Direito, observada toda a sua complexidade (normas constitucionais, legais, infralegais
etc.). Aqui, o dever de integridade impede o voluntarismo judicial;
• Decidir em respeito à Constituição;
• Observar as relações necessárias entre o Direito processual e o material;
• Enfrentar todos os argumentos favoráveis e contrários ao acolhimento da tese jurídica.

O CPC atualmente ordena a uniformização da jurisprudência dos tribunais, mantendo-a íntegra, estável e coerente (art.
926).

DIERLE
MICROSSISTEMA DE LITIGIOSIDADE REPETITIVA E FORMACAO DE PRECEDENTES.
1) Como se procede ao overruling na hipótese de o TJ, por meio de seu 1º Vice-Presidente, negar seguimento ao
recurso especial que ataca acórdão que foi embasado em precedente proferido pelo STF em recurso especial
repetitivo? Como se busca a superação desse entendimento?

216
A decisão do 1º vice presidente do TJ, no caso narrado, deverá ser atacada mediante agravo interno (art. 1021 do CPC),
o qual será interposto para o órgão colegiado, na forma do regimento interno do tribunal. É através deste recurso que o
recorrente poderá demonstrar a inaplicabilidade, ao seu caso, da decisão proferida pelos tribunais superiores em
recurso repetitivo.
Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para
apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao
presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
(...)
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça,
respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos;
§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021.

Conforme preceitua o §3º do art.1021 do CPC, é vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão
agravada para julgar improcedente o pedido de agravo interno – o que busca fazer com que o tribunal efetivamente
analise os argumentos do recorrente.
Importante referir que o CPC não previu, originariamente, a realização de juízo de admissibilidade no tribunal de origem,
o que somente foi incluído pela Lei 13.256/2016 (ou seja, originalmente o juízo de admissibilidade do REsp e RE seria
feito somente nos tribunais superiores, o que foi alterado pela referida legislação).

2) É possível a apresentação IRDR de cunho preventivo? Existiria algum risco do uso desse instituto de modo
preventivo?

O IRDR tem como um de seus requisitos a efetiva repetição de processos sobre a mesma matéria unicamente de direito
(art. 976, I do CPC), do que se depreende que não é possível IRDR preventivo. A instauração do incidente exige a
multiplicidade de processos e o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. Caso fosse possível a instauração de
IRDR sem a repetição de processos, haveria risco de indesejável ativismo judicial, inviabilizando as possibilidades
interpretativas oriundas da norma, o que engessaria o ordenamento jurídico (pois acabaria estabelecendo uma
interpretação correta “a priori”, sem que houvesse controvérsia entre decisões).

GRUPO 4
JOAQUIM
BENS COLETIVOS. CONFLITOS ENTRE PARADIGMAS CONSEQUENCIALISTA E COLETIVO EM EVENTUAL
CONFLITO

1) O art. 81, p.u., CDC classifica os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos e menciona
interesses e direitos, não utiliza a expressão “bem”. O que seria o bem coletivo? Seria o bem um
interesse? Não há uma diferença entre bem coletivo e direito coletivo?
OBS: não encontrei na doutrina o conceito de “bem coletivo” tal como o examinador o refere. Contudo, aparentemente,
refere-se ao objeto da tutela jurisdicional (a prestação a ser pleiteada judicialmente), o que efetivamente não se
confundiria com o direito em si. Ex: direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (direito) e ecossistema de um
determinado local preservado (bem coletivo).

217
A doutrina discorre sobre a diferença entre interesse e direito. Para Fredie Didier, o CDC utilizou a expressão “interesse”
por influência da doutrina italiana (país em que vige a dualidade de jurisdição – judicial e administrativa, no qual “direitos
subjetivos” se referem às relações entre particulares, tuteladas pela justiça civil; e a expressão “interesses legítimos” se
refere aos que são julgados perante órgão da justiça administrativa. Enquanto o direito subjetivo se vincula diretamente
ao indivíduo, protegendo seu interesse individual, os interesses legítimos se dirigem ao interesse geral e favorecem o
indivíduo apenas como componente, como “membro do Estado”. Na doutrina italiana, portanto, tanto o direito subjetivo
quanto o interesse legítimo são direitos! Como no Brasil há unidade de jurisdição, Didier entende que essa distinção não
faz sentido. A doutrina majoritária não diferencia, portanto, direito e interesse, reconhecendo a exigibilidade dos
interesses elencados no CDC.
Conforme material do João Lordelo:

2) Dê exemplos diferenciando o que seria um bem individual e um bem coletivo na área da saúde, do
idoso, da infância e juventude, etc. Quero o objeto.
Não encontrei essa resposta na doutrina, mas responderia que os bens coletivos estão relacionados à atuação estatal
mediante políticas públicas, podendo-se exemplificar com a existência de Programa de Saúde de Família, do Conselho
Tutelar, de entidades de acolhimento de idosos (etc.) em um determinado município. Já o bem individual corresponderia
ao medicamento/cirurgia/tratamento pleiteado especificamente por um cidadão; o direito a alimentos pleiteado
especificamente por uma criança ou por um idoso, etc.

3) O que se entende por consequencialismo? O que seria um paradigma consequencialista? (resposta


abaixo, com a questão 4).
4) Essa consequência seria só econômica? Pensando dentro de um sistema material coletivo, as
consequências da conduta individual são só econômicas ou há outras consequências relevantes?
O consequencialismo consiste na atuação pautada nos efeitos da decisão, ou seja, em razão das consequências,
afastando-se, em certa medida, da interpretação fundada em princípios abstratos e argumentos a priori, independentes
da situação concreta.
Importante vincular o paradigma consequencialista às mudanças recentemente incorporadas à LINDB, que determina
que o juiz deve decidir considerando as consequências do caso concreto.
Abaixo, transcrevo texto da prof. Irene Nohara, comentando as alterações da LINDB, pois entendo que os argumentos
podem ser utilizados caso o consequencialismo seja objeto de questionamento:
O problema de se barrar o argumento valorativo, apoiado supostamente em valores jurídicos
abstratos, é que cada caso concreto possui suas particularidades e, portanto, nada obsta também
que haja freios éticos, baseados, por exemplo: em moralidade administrativa, em dignidade humana
etc.
Exemplo: um trem está desgovernado e se o maquinista não puxar uma alavanca, irá
inevitavelmente provocar a morte de cinco pessoas que trabalham nos trilhos, por outro lado, ao
puxar a alavanca, haverá a colisão do trem com uma pessoa só. Assim, os alunos concordam que

218
se puxe a alavanca e que se mate um só homem, pois, no critério escolhido: é melhor matar um do
que matar cinco. Outra situação (outro contexto): uma pessoa está com problemas de saúde e cinco
homens precisam de transplante de órgãos, será que seria melhor matar um do que deixar cinco
morrerem, se for para usar o mesmo critério em outro contexto?
O que se sugere com esses exemplos pitorescos é que não se pode simplesmente congelar os
critérios para resolução de problemas quando os casos apresentam peculiaridades distintas. Os
critérios tópicos não funcionam da mesma maneira em todos os contextos. Ora será melhor decidir
em função dos efeitos, ora a decisão deve barrar imediatamente determinada conduta,
independentemente e principalmente pelos efeitos, ou seja, a justiça da decisão ora deve focar nos
resultados, a depender das particularidades concretas, ora nos limites éticos, pois há dimensões
valorativas que são óbices à utilização irrestrita de critérios adequados a situações diferentes.
Por exemplo, o Estado deve criar meios, dentro das balizas do ordenamento jurídico, para impedir a
utilização de trabalho escravo por empresas e, se houver contraditório, ampla defesa e definição
legal, as empresas não poderão alegar ou negociar os efeitos com base em uma avaliação
econômica, pois a dignidade humana é, nesse caso, um valor superior que é prezado pela
fiscalização estatal.
Seria demais exigir da decisão que constate que efetivamente houve o emprego de trabalho escravo
tipificado adequadamente ter de mencionar medidas alternativas ou pretender mensurar os
impactos da decisão no mercado, se houvesse o fim da exploração das pessoas…

5) Na saúde, especificamente, essa ótica consequencialista aparece em muitos discursos, que invocam
principalmente a equidade em matérias de saúde (filas de espera, transplantes, cirurgias) ou discussão
sobre o impacto financeiro do orçamento público. Como Promotora de Justiça, diante de demandas
individuais que chegam a todo momento, como lidar com as consequências coletivas dessa demanda
na imputação de responsabilidade?

A avaliação econômica é relevante, uma tendência inclusive, mas não é suficiente, por si, para dar
conta de todas as situações interpretativas. Logo, é improvável que seja afastada a possibilidade de
o juiz aplicar também um valor (como a dignidade humana) que limite de per se certas condutas. Se
ficarmos só num realismo consequencialista, abandonando a dimensão axiológica da interpretação
(como se ela não tivesse de ser concretizada…), fomentaremos inclusive as interpretações
perigosas: como o Estado não tem recursos, logo, não haveria o reconhecimento de direitos,
o que, pode, em alguns contextos, ser absurdo, dado que a Administração tem a obrigação
de se planejar e se organizar para garantir os direitos existentes.
Aliás, esse foi um tipo de argumento perigoso apresentado recentemente pelo atual Ministro da
Fazenda Meirelles, no sentido de que “ou mudamos a Constituição, ou não resolveremos a dívida da
União”, mas não seria a União que deveria se adequar para cumprir as determinações
constitucionais? Com esse tipo de inversão viveremos num estado de exceção permanente
ditado pelo primado da realidade, onde o Direito poderá ser flexibilizado ao se deparar com
os obstáculos práticos de realização…
Corre-se, portanto, o risco de passarmos da discussão abstrata do conteúdo dos princípios, que
deseja ser banida pelo projeto, para uma discussão que não deixa de ser especulativa também (ou
seja, não perde o caráter abstrato) acerca da consequencialidade na aplicação do direito.

Acredito que, em relação à exigibilidade do direito à saúde, é prudente adotarmos um entendimento ponderado, que
considere a dignidade humana e o direito à saúde como superiores à “reserva do possível”, mas que também busque
219
efetivar o direito do modo menos oneroso possível ao Estado, considerando inclusive o interesse no uso adequado dos
recursos públicos. Assim, tendo em mente a indisponibilidade do direito à saúde e o fato de ser um direito fundamental,
pode-se utilizar como parâmetro para o fornecimento de medicamentos a decisão recente do STF, que assentou os
seguintes parâmetros:
O Poder Judiciário poderá determinar ao poder público o fornecimento de medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS, desde que presentes, cumulativamente, os seguintes
requisitos:
1 – Seja comprovado pela parte autora, mediante laudo médico fundamentado e devidamente
circunstanciado (da lavra de médico que assiste o paciente), de que o medicamento pleiteado lhe
seja imprescindível, necessário também demonstrar a ineficácia dos fármacos fornecidos pelo SUS
para o efeito do tratamento pretendido;
2 – A demonstração da incapacidade financeira do demandante (paciente) de arcar com o custo do
medicamento prescrito; e
3 - Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Importante discorrer, ainda, sobre a legitimidade do Ministério Público, reconhecida pelo STF em regime de repercussão
geral, para pleitear o fornecimento de tratamento de saúde, considerando a indisponibilidade do direito à saúde:

O acórdão recorrido entendia pela ilegitimidade ativa do MP, porquanto o fornecimento de


medicamentos a pessoas determinadas não se inseria no âmbito objetivo da ACP, de modo que foi
indeferida a inicial.
No RE, o MP de Minas Gerais sustentou que "a defesa dos interesses individuais indisponíveis -
quer como autor, quer na condição de fiscal da lei - constitui atribuição tradicional do Ministério
Público, que nunca despertou controvérsia".
Em contrarrazões, o Estado de Minas alegou "a impossibilidade da utilização da ACP como
instrumento para defesa de interesse de natureza meramente individual", apontando a ilegitimidade
do parquet para a defesa de direitos individuais homogêneos que não se enquadrem em relações
de consumo. Vários Estados, a União e o DF foram admitidos como interessados.
Ao votar, o relator, ministro Marco Aurélio, destacou que "é induvidoso que ao MP cabe, ao teor do
exposto no inciso III, art. 129 da CF, promover inquérito civil em ACP visando a defesa de interesses
difusos e homogêneos, coletivos."

GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO

COISA JULGADA COLETIVA

1) Uma das características mais marcantes do processo coletivo é a possibilidade de extensão dos efeitos da
coisa julgada para quem não foi parte, o que é inadmissível no direito processual (citou “O processo”, de
Kafka). Em princípio, essa extensão seria uma violação grave de princípios constitucionais, mas isso não ocorre
no processo coletivo, em razão de 3 princípios. Quais são estes princípios/mecanismos existentes no processo
coletivo que impedem que a extensão dos efeitos da coisa julgada seja considerada uma violação aos p.
constitucionais daquele que não participou do processo?
Legitimação de entes específicos exponenciais, aferição da representatividade adequada, incidência da coisa julgada
predominantemente benéfica.

220
O princípio da legitimação de entes específicos exponenciais consiste na técnica adotada pela legislação brasileira de
estabelecer, ex ante, um rol de legitimados para pleitear em juízo direitos coletivos. Outros países adotam técnicas
diversas, atribuindo ao indivíduo (isoladamente) ou à associações civis a legitimidade para a tutela de direitos coletivos
lato sensu (ou seja, não são órgãos públicos que desempenham essa atribuição). No Brasil, tem-se:

Art. 5º (LACP): Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada
pela Lei nº 11.448, de 2007).
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei nº
11.448, de 2007).
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448,
de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio
ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais,
étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Art. 82 do CDC: Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos
por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91
e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

O princípio da adequada representação será tratado a seguir e o princípio da coisa julgada preponderantemente
benéfica consta nas respostas subsequentes.

Princípio da adequada representação ou do controle judicial da legitimação coletiva


A grande dúvida que há no Brasil é se, sem prejuízo do controle legislativo da representação (que define quais os
legitimados), poderia também o juiz, tanto quanto nos EUA, fazer o controle judicial, reconhecendo, no caso concreto, a
falta de representação adequada e legitimidade do autor coletivo e considerando-o incapaz de prosseguir na demanda.
Ou seja, é possível, como no sistema
norte-americano, que o juiz faça uma verificação prévia da idoneidade/capacidade do legitimado à ação coletiva?
1ª posição (NELSON NERY JR.): Não é possível o controle judicial da representação adequada, salvo para as
associações, pois há uma presunção ope legis. A própria LACP estabelece alguns requisitos para as associações
(constituição há pelo menos 1 ano; pertinência temática). Para NERY, o Estado federado do Rio Grande do Sul, por
exemplo, pode ajuizar ação civil pública na defesa do meio ambiente do Estado do Amazonas, porque o interesse

221
processual na ação civil pública é aferível em razão da qualidade do direito tutelado: difuso, coletivo ou individual
homogêneo.
2ª posição (DOUTRINA MAJORITÁRIA, STF E STJ): É possível o controle judicial ope iudicis) da representação
adequada, em complemento ao que o legislador já fez. Haveria, portanto, um controle duplo. Para essa corrente, o
controle judicial recairia sobre o critério da finalidade institucional ou pertinência temática do autor coletivo (não recairia
sobre os critérios norte-americanos). É a corrente AMPLAMENTE MAJORITÁRIA (STF).

2) O legislador tratou da extensão dos efeitos da coisa julgada, no processo coletivo, de forma diferente a
depender da categoria de direito coletivo “lato sensu” em discussão. Em se tratando de direitos coletivos
“strictu sensu”, quais os efeitos da coisa julgada?
E se for caso de improcedência em caso de insuficiência probatória?
Nos direitos coletivos stricto sensu, a coisa julgada é ultra partes. Para Didier, é aquela que atinge não só as partes do
processo, mas também determinados terceiros.
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos
termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;
Fredie Didier: “A opção pela coisa julgada secundum eventum probationis revela o objetivo de prestigiar o valor
justiça em detrimento do valor segurança, bem como preservar os processos coletivos do conluio e da fraude
processual. Importante ressalvar que o julgamento por insuficiência de provas não precisa ser expresso. Deve, contudo,
decorrer do conteúdo da decisão que outro poderia ter sido o resultado caso o autor comprovasse os fatos constitutivos
de seu direito”.

3) Quanto aos direitos individuais homogêneos, qual a extensão dos efeitos da coisa julgada em casos de
procedência e improcedência da pretensão?

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e
seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

Fredie Didier: “A redação do art. 103, III do CDC é um tanto lacunosa. Deixa claro que haverá extensão da coisa julgada
para o plano individual no caso de procedência do pedido da ação coletiva. Não há regramento, no entanto, da coisa
julgada coletiva, somente da extensão da coisa julgada coletiva ao plano individual. Talvez isso decorra do equívoco de
considerar a ação envolvendo direitos individuais homogêneos como uma demanda individual tutelada coletivamente, e
não como uma autêntica ação coletiva” (para o autor, tal ação é coletiva, pois os direitos individuais homogêneos
pertencem, por ficção, a um grupo de indivíduos). A doutrina majoritária aplica o dispositivo de modo literal, não
reconhecendo a exceção da coisa julgada no caso de insuficiência de provas.

4) E os interessados que não participaram do processo como litisconsortes?


Os interessados que não participaram do processo poderão propor ação individual, no caso de improcedência do
pedido. No caso de procedência, podem liquidar e executar a sentença que os beneficie, em razão do disposto nos arts.
95 e 97 do CDC.

Art. 103, § 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os


interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.

222
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados.
Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

5) Quanto à defesa de direitos difusos, é correto afirmar, no caso de julgamento improcedente da pretensão na
ação coletiva com insuficiência de provas, não ocorrerá coisa julgada?
De acordo com o art. 103, I do CDC, nas ações que tratem de direitos difusos, a coisa julgada será erga omnes, salvo se
o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas. Ou seja, se o mérito for julgado improcedente, haverá
coisa julgada erga omnes. É correto afirmar que, no caso de improcedência pela insuficiência de provas, não haverá
coisa julgada erga omnes. A coisa julgada relacionada aos direitos difusos também é secundum eventum probationis
(ver resposta à questão 2).

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-
se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81.

6) Transporte “in utilibus” da coisa julgada. O que é?


O transporte “in utilibus” consiste na produção de efeitos, ao particular, apenas quando a coisa julgada lhe beneficia. No
caso de prejuízo (improcedência do pedido), não haverá transporte da coisa julgada ao âmbito individual.
Fredie Didier: “A cognição nos processos coletivos é mais ampla para alcançar a decisão de mérito e mais bem proteger
os direitos coletivos. Justamente por isso, considerando a maior certeza nos juízos de procedência, o CDC estabeleceu
que a coisa julgada coletiva estende os seus efeitos ao plano individual in utilibus: o indivíduo poderá valer-se da coisa
julgada para proceder à liquidação dos seus prejuízos e promover a execução da sentença (art. 103, §3º). Trata-se do
denominado transporte in utilibus da coisa julgada coletiva para o plano individual”. A sentença de improcedência na
ação coletiva não prejudica as ações individuais, mas a sentença de procedência nos direitos difusos e coletivos stricto
sensu poderá ser liquidada e executada no plano individual.

7) Em qual princípio do direito processo coletivo, se assenta o transporte “in utilibus” da coisa julgada?
Comentário do examinador: A máxima efetivação não é aquela que fala do ativismo judicial, que atribuiu ao juiz
possibilidade q geralmente ele não tem no processo individual? Não seria o princípio do máximo BENEFÍCIO do
processo coletivo? Máxima efetividade e máximo benefício são coisas distintas.

Material do João Lordelo:


Princípio do MÁXIMO BENEFÍCIO DA TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA (arts. 103, §§3º e 4º e 104 do CDC):
entende-se que a coisa julgada coletiva só beneficia os indivíduos; NUNCA os prejudica. A decisão coletiva contrária
não vincula o indivíduo, que poderá ajuizar sua própria ação individual posteriormente. Isso ocorre porque o legitimado
extraordinário coletivo não pede autorização dos titulares dos direitos metaindividuais antes de propor a ação coletiva.
Logo, se um indivíduo determinado não pediu a ninguém para defender algo que também é seu, não poderá a sentença
prejudicá-los. O princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional é o que justifica o transporte in utilibus da coisa
julgada.

Não confundir com a “máxima efetividade”:

223
Princípio do ATIVISMO JUDICIAL OU DA MÁXIMA EFETIVIDADE DO PROCESSO COLETIVO
Pelo princípio do judicial activism, o juiz pode flexibilizar as regras processuais e
procedimentais a bem da tutela coletiva. Trata-se de mais um princípio implícito. Com efeito, o juiz, no processo
coletivo, tem poderes mais acentuados do que o juiz de um processo individual. Isso decorre de algo que está no direito
norte-americano, denominado defining function, que significa a “função de definidor” (aumento dos poderes do
magistrado). O juiz tem mais poderes na condução e na solução do processo.

224
DIA 10 – PONTO 2 – Diego Gomes e Mariana Melo

GRUPO TEMÁTICO I

ELAINE MARTINS PARISE


TRIBUNAL DE CONTAS

1) Qual ou quais princípios dão lastro à obrigatoriedade da prestação de contas pelos administradores
públicos?
R: Diz a Constituição, prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade,
gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos pelos quais a União responda, ou que, em nome desta,
assuma obrigações de natureza pecuniária (art. 70, p.ú).

2) O Tribunal de Contas tem poder geral de cautela? Essa é a posição do STF?


R: Nos termos do art. 44, § 2º da Lei 8.443/92, o TCU possui competência para decretar, no início ou no curso de
qualquer procedimento de apuração que lá tramite, a indisponibilidade dos bens do responsável por prazo não superior
a 1 ano. Tal possibilidade demonstra o fundamento legal para existência de um poder geral de cautela do Tribunal de
Contas.
O STF entende que essa previsão é constitucional, de forma que se admite, ainda que de forma excepcional, a
concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares, por deliberação fundamentada do Tribunal de
Contas, sempre que necessárias à neutralização imediata de situações que possam causar lesão ao interesse público
ou ainda para garantir a utilidade prática do processo que tramita no TCU. Isso não viola, por si só, o devido processo
legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o contraditório ou a ampla defesa. STF. 2ª Turma. MS 33092/DF,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779).
No julgamento do M 24.510/DF, o Plenário do STF reconheceu que o TCU possui poderes constitucionais implícitos para
determinar a suspensão cautelar de procedimentos licitatórios irregulares, como forma de prevenir lesão ao erário e
garantir a efetividade de suas decisões: (...) 2- Inexistência de direito líquido e certo. O Tribunal de Contas da União tem
competência para fiscalizar procedimentos de licitação, determinar suspensão cautelar (artigos 4º e 113, § 1º e 2º da Lei
nº 8.666/93), examinar editais de licitação publicados e, nos termos do art. 276 do seu Regimento Interno, possui
legitimidade para a expedição de medidas cautelares para prevenir lesão ao erário e garantir a efetividade de suas
decisões). (...)

3) Essas cautelares podem ser expedidas sem a oitiva do interessado?

R: Sim. O STF entende que essa previsão é constitucional, de forma que se admite, ainda que de forma excepcional, a
concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares, por deliberação fundamentada do Tribunal de
Contas, sempre que necessárias à neutralização imediata de situações que possam causar lesão ao interesse público
ou ainda para garantir a utilidade prática do processo que tramita no TCU. STF. 2ª Turma. MS 33092/DF, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779).

4) Qual teoria o STF lastreou sua decisão (que admitiu o poder geral de cautela do TC)?

R: Teoria dos Poderes Implícitos: “Mandado de Segurança. 2. Tribunal de Contas da União. Tomada de contas especial.
3. Dano ao patrimônio da Petrobras. Medida cautelar de indisponibilidade de bens dos responsáveis. 4. Poder geral de
cautela reconhecido ao TCU como decorrência de suas atribuições constitucionais. 5. Observância dos requisitos
225
legais para decretação da indisponibilidade de bens. 6. Medida que se impõe pela excepcional gravidade dos fatos
apurados. Segurança denegada. (MS 33092, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
24/03/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-160 DIVULG 14-08-2015 PUBLIC 17-08-2015)

5) O que são contas de gestão e contas de governo? Há diferença entre elas?

R: Diferenciação tratada por Márcio André nos comentários ao Informativo 834/STF, segundo ele a partir de uma
distinção apresentada pelo Min. Barroso (vencido na ocasião).

Contas de GOVERNO Contas de GESTÃO


Também denominadas de contas de desempenho ou Também chamadas de contas de ordenação de
contas de resultado. despesas.
Ao prestar estas contas, o administrador tem como Esta prestação de contas tem como objetivo avaliar
objetivo demonstrar que cumpriu o orçamento dos não os gastos globais do governante, mas sim cada
planos e programas de governo. um dos atos administrativos que compõem a gestão
contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial do ente público.
Tais contas são referentes à atuação do chefe do Tais contas são referentes à atuação do chefe do
Poder Executivo como agente político. Poder Executivo como administrador público.
A competência para julgar as contas de governo é da A competência para julgar em definitivo as contas de
respectiva Casa Legislativa (Poder Legislativo), após gestão seria do Tribunal de Contas, sem a
parecer prévio do Tribunal de Contas. participação da Casa Legislativa.
Ex: no caso dos Prefeitos, a competência para julgar Assim sendo, se o Prefeito age como ordenador de
as contas de governo seria da Câmara dos despesas, suas contas de gestão devem ser julgadas
Vereadores, após parecer prévio do Tribunal de de modo definitivo pelo Tribunal de Contas sem a
Contas. intervenção da Câmara Municipal.
Fundamento constitucional: Fundamento constitucional:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de
Contas da União, ao qual compete: Contas da União, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo II - julgar as contas dos administradores e demais
Presidente da República, mediante parecer prévio responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos
que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar da administração direta e indireta, incluídas as
de seu recebimento; fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo
Poder Público federal, e as contas daqueles que
derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade
de que resulte prejuízo ao erário público;

6) Qual é a consequência da rejeição das


R: Nos termos do artigo 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar 64/1990, a rejeição das contas do Poder Executivo
Municipal pelo Poder Legislativo correspondente enseja a inelegibilidade do detentor do mandato, ou seja, o prefeito.
Porém, o legislador ressalvou as hipóteses em que a decisão de rejeição houver sido suspensa ou anulada pelo Poder
Judiciário. O prazo de inelegibilidade se inicia na data da decisão e se estende às eleições que se realizarem nos oito
anos seguintes.

226
Art. 1º São inelegíveis: I - para qualquer cargo: (...) g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou
funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por
decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as
eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no
inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que
houverem agido nessa condição; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Quanto ao tema, cabe mencionar que, segundo decidido pelo STF em sede de repercussão geral, “Para os fins do artigo
1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar 64/1990, a apreciação das contas de Prefeito, tanto as de governo quanto as
de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer
prévio somente deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos vereadores” (STF. Plenário. RE 848826/DF, rel.
orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 10/8/2016 - repercussão geral - Info
834). A Câmara Municipal é o órgão competente para julgar as contas de natureza política e de gestão. Essa é a
interpretação que se extrai do art. 31, § 2º da CF/88:
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos
sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. (...) § 2º - O parecer prévio, emitido pelo
órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de
dois terços dos membros da Câmara Municipal.

7) Após a emissão do parecer prévio e do julgamento das contas, chegou ao conhecimento da Câmara de
Vereadores a existência de irregularidades em balancetes já apresentados pelo prefeito. A Câmara então
solicitou ao Tribunal de Contas do Estado que reexaminasse esses balancetes. Inconformado com esse ato, que
reputou abusivo e ilegal, o prefeito impetrou mandado de segurança. Qual seu posicionamento, como promotor
de justiça? Pode ou não o Tribunal de Contas reexaminar essas contas que já haviam sido examinadas?
R. O parecer nos autos de mandado de segurança deve ser no sentido da possibilidade de reexame de contas. A
possibilidade de reexame das contas já apreciadas é prevista expressamente pelo Regimento Interno do TCE-MG, nos
seguintes termos:
DO PEDIDO DE REEXAME
Art. 349. Caberá pedido de reexame, com efeito suspensivo, em parecer prévio sobre as contas prestadas anualmente
pelo Governador e pelos Prefeitos.
Art. 350. O pedido de reexame será interposto uma única vez, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da ciência do
parecer prévio, na forma prevista no art. 168 deste Regimento, e conterá:
I - o(s) nome(s) e a qualificação do(s) interessado(s);
II - os fundamentos de fato e de direito;
III - o pedido de novo parecer. Parágrafo único.
O pedido de reexame será apreciado pelo Colegiado que emitiu o parecer prévio e sua distribuição não poderá recair no
Relator do processo de prestação de contas, ou, se vencido o Relator, no prolator do voto vencedor.
Art. 351. Recebido o pedido de reexame interposto pelo responsável ou interessado, o Relator poderá determinar a
manifestação da unidade técnica competente, no prazo de até 15 (quinze) dias, após o que serão os autos remetidos ao
Ministério Público junto ao Tribunal para parecer conclusivo em igual prazo.
Parágrafo único. Não havendo determinação de manifestação da unidade técnica competente, o Relator encaminhará
os autos diretamente ao Ministério Público junto ao Tribunal para cumprimento do disposto no caput deste artigo, e, em
seguida, o processo será concluso para voto e posterior inclusão em pauta. Art. 352. Se o pedido de reexame for
interposto pelo Ministério Público junto ao Tribunal, recebido o recurso, poderá o Relator determinar a manifestação da
unidade técnica competente, no prazo de até 15 (quinze) dias, findo o qual será concluso o processo para voto e
deliberação.

227
Art. 353. O parecer prévio será remetido ao Poder Legislativo decorrido o prazo do art. 40 da Lei Complementar nº
102/2008, ou, se admitido recurso, após decisão definitiva transitada em julgado.

Desse modo, afirma-se que é possível que Tribunal de Contas reexamine contas, mesmo que ela já tenham sido
julgadas. Nesse sentido já decidiu o STJ, INFORMATIVO 122:

CONTAS MUNICIPAIS. REEXAME. O Tribunal de Contas Municipal pode reexaminar as contas do Município,
mesmo quando estas já tenham sido examinadas pelo próprio Tribunal, com parecer prévio de aprovação,
julgadas e aprovadas pela Câmara Municipal. No caso, realizada a inspeção pelo TCM a pedido da Câmara dos
Vereadores ao rumor de que haviam despesas com várias firmas fantasmas relacionadas nos balancetes
mensais do Município, constatou-se as irregularidades. RMS 11.785-GO, Rel. Min. Garcia Vieira, julgado em
7/2/2002.

8) A Assembleia Legislativa pode decretar a perda do cargo de Conselheiro do Tribunal da Contas em


virtude da prática de infrações administrativas previstas na CE?
R. De acordo com o Regimento Interno do Tribunal de Contas de Minas Gerais, não é possível que a Assembleia
Legislativa decrete a perda do cargo de Conselheiro do Tribunal de contas, pois para tanto será necessária sentença
judicial transitada em julgado. Assim dispõe o Regimento Interno:

Art. 11. Nomeado e empossado, o Conselheiro somente perderá o cargo por sentença judicial transitada em
julgado.

Além disso, a Constituição do Estado de Minas Gerais estabelece que:


Art. 78 – Os Conselheiros do Tribunal de Contas são escolhidos dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes
requisitos:
[...]
§ 4° – O Conselheiro do Tribunal de Contas tem as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos e subsídio do
Desembargador, aplicando-se-lhe, quanto a aposentadoria e pensão, as normas constantes no art. 36 desta
Constituição.

A Constituição Estadual estabelece, assim, que o Conselheiro do Tribunal de Contas possui as mesmas prerrogativas e
garantias do Desembargador, razão pela qual não é possível a perda do cargo por meio de decisão da Assembleia
Legislativa.

9) Numa licitação, determinada empresa privada fraudou documentos que permitiram sua habilitação em
licitação promovida pela Administração Pública. O Tribunais de Contas da União declarou a inidoneidade dessa
empresa para participar de novos procedimentos licitatórios pelo prazo de 5 anos. Inconformada, a empresa
impetrou mandado de segurança questionando a possibilidade do TCU aplicar essa penalidade. Em seu
entendimento, foi correta ou abusiva a atuação do TCU? Posição do STF sobre o assunto.
R: O TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa privada para participar de licitações promovidas
pela Administração Pública. Essa previsão está expressa no art. 46 da Lei 8.443/92, sendo considerada constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a inidoneidade do licitante
fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública Federal. STF. Plenário. MS
30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
Segundo entende o STF, o poder outorgado pelo legislador ao TCU, de declarar, verificada a ocorrência de fraude
comprovada à licitação, a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na
228
Administração Pública Federal (art. 46 da Lei n. 8.443/92), não se confunde com o art. 87 da Lei das Licitações (art.
87), que é dirigido apenas ao controle interno da Administração Pública e de aplicação mais abrangente. São
dispositivos com objetivos e aplicações distintas (STF. Pet 3606 AgR, Rl. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em
21/09/2006).
O Tribunal de Contas pode aplicar punições para empresas privadas. O parágrafo único do art. 70 da CF/88 traz essa
possibilidade: Art. 70 (...) Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou
que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

10) O TCE pode requerer ao governador do Estado a intervenção em determinado município que não venha
efetuando a tempo e modo o pagamento de precatórios?
Não é possível. Tal atribuição é do Poder Legislativo e não do Tribunal de Contas, conforme já decidiu o Supremo
Tribunal Federal:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. INTERVENÇÃO ESTADUAL NO MUNICÍPIO. C.F., art. 35, I, II e III. Constituição do
Estado do Pará, art. 84, I, II e III. COMPETÊNCIA ATRIBUÍDA AO TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO PARA
REQUERER AO GOVERNADOR A INTERVENÇÃO. Constituição do Pará, art. 85, I. I. - É inconstitucional a atribuição
conferida, pela Constituição do Pará, art. 85, I, ao Tribunal de Contas dos Municípios, para requerer ao Governador do
Estado a intervenção em Município. Caso em que o Tribunal de Contas age como auxiliar do Legislativo Municipal, a
este cabendo formular a representação, se não rejeitar, por decisão de dois terços dos seus membros, o parecer prévio
emitido pelo Tribunal (C.F., art. 31, § 2º). II. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
(ADI 2631, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 29/08/2002, DJ 08-08-2003 PP-00086
EMENT VOL-02118-02 PP-00338)
Constituição do Estado do Maranhão. (...). Decretação da intervenção do Estado em Município, proposta pelo tribunal de
contas (...). A tomada de contas do prefeito municipal, objeto principal do controle externo, é exercido pela câmara
municipal com o auxílio do tribunal de contas, órgão a que cumpre emitir parecer prévio, no qual serão apontadas
eventuais irregularidades encontradas e indicadas as providências de ordem corretiva consideradas aplicáveis ao caso
pela referida casa legislativa, entre as quais a intervenção. Tratando-se, nessa última hipótese, de medida que implica
séria interferência na autonomia municipal e grave restrição ao exercício do mandato do prefeito, não pode ser aplicada
sem rigorosa observância do princípio do due process of law, razão pela qual o parecer opinativo do tribunal de contas
será precedido de interpelação do prefeito, cabendo à câmara de vereadores apreciá-lo e, se for o caso, representar ao
governador do Estado pela efetivação da medida interventiva.
[ADI 614 MC, rel. min. Ilmar Galvão, j. 14-10-1992, P, DJ de 18-5-2001.]
ATENÇÃO: Pessoal, em relação a essa pergunta, essa decisão do STF foi a única que achei, mas ela fala em Tribunal
de Contas Municipal e não estadual. Desse modo, não tenho certeza se a resposta está correta.

11) Qual (is) órgão (s) detém (êm) legitimidade para executar decisões de condenação patrimonial
proferidas pelo Tribunais de Contas?
R: A legitimidade para a propositura da ação executiva é apenas do ente público
beneficiário (titular do crédito constituído a partir da decisão), ou seja, o ente público lesado, conforme tem decidido o
STF (AI 826676 AgR). Ressalte-se que o STJ tem decisão no sentido de que a legitimidade irá variar caso o acórdão do
TC tenha determinado o ressarcimento ao erário (legitimidade do ente lesado) ou, então, apenas uma multa
(legitimidade do ente federativo ao qual está ligado do TC) - AgRg no REsp 1181122/RS. Saliente-se , ainda, que o STF
já decidiu que o próprio Tribunal de contas não poderá executar seu acórdão, sendo ainda parte ilegítima para a
propositura da ação executiva o MP de Contas e o MP (Estadual ou Federal) – ADI 4070/RO e ARE 823347 RG.

12) Das decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça Militar cabe recurso ao Superior Tribunal Militar?
229
R: Não. O STM é órgão da Justiça Militar da União, não sendo competente para julgar, em grau de recurso, os feitos
advindos da Justiça Militar estadual. Nada obstante, das decisões do TJM é cabível recurso ao STJ (CF, arts. 122 a
125).

13) Os procuradores-gerais do Estado detêm prerrogativa de foro?


R: Constituição Estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado seja julgado pelo TJ. A CF/88 determinou, em
seu art. 125, § 1º, que a competência dos Tribunais de Justiça deve ser definida na Constituição do Estado. Dessa
forma, não há qualquer problema de a CE fixar foro privativo no TJ para o Procurador Geral do Estado.
Por sua vez, a lei estadual não pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por prerrogativa de função no
TJ. Isso porque a Constituição Estadual, ao prever as competências do TJ, não pode trazer um dispositivo aberto,
delegando ao legislador infraconstitucional a tarefa de definir as autoridades com foro privativo. STF. Plenário. HC
103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).

14) Lei ordinária pode prever essa prerrogativa?


Vide resposta anterior.

15) Discorra como se dá a escolha do Corregedor-Geral do MPMG e do Corregedor-Geral do Conselho


Nacional. Em ambos os casos, admite-se ou não a recondução?
A escolha do Corregedor-Geral do MPMG é feita através de eleição realizada pelo Colégio de Procuradores, entre os
Procuradores de Justiça inscritos, por mandado de dois anos, permitida uma recondução.
Já a escolha do Corregedor-Geral do CNMP é feita através de eleição secreta, dentre os membros do Ministério Público
que compõem o CNMP, sendo vedada a recondução.
Assim dispõem os dispositivos legais:

Corregedor-Geral do MPMG: Art. 37. O Corregedor-Geral do Ministério Público será eleito pelo Colégio de Procuradores,
entre os Procuradores de Justiça inscritos, na segunda quinzena do mês de dezembro dos anos ímpares, para mandato
de 2 (dois) anos, permitida uma recondução, observado o mesmo procedimento.

Corregedor-Geral do CNMP: § 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor nacional, dentre os


membros do Ministério Público que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe
forem conferidas pela lei, as seguintes: (ART. 130-A, CF)

16) Ação de captação de recursos para fins eleitorais. Qual é o bem jurídico protegido por essa ação?
R:O bem jurídico protegido é a lisura da campanha eleitoral. Arbor ex fructu cognoscitur, pelo fruto se conhece a árvore.
Se a campanha é alimentada com recursos de fontes proibidas ou obtidos de modo ilícito ou, ainda, realiza gastos não
tolerados, ela mesma acaba por contaminar-se, tornando-se ilícita. De campanha ilícita jamais poderá nascer mandato
legítimo, pois árvore malsã não produz senão frutos doentios. Também é tutelada a igualdade que deve imperar no
certame. A afronta a esse princípio fica evidente, por exemplo, quando se compara uma campanha em que houve
emprego de dinheiro oriundo de “caixa dois” ou de fonte proibida e outra que se pautou pela observância da legislação.
Em virtude do ilícito aporte pecuniário, a primeira contou com mais recursos, oportunidades e instrumentos não
cogitados na outra. Evidente, então, que os participantes não tiveram as mesmas chances de vitória (José Jairo Gomes,
2018).

17) Qual o prazo para a propositura dessa ação?


R: a) termo inicial: pode ser proposta a partir do pedido de registro de candidatura (e não do seu deferimento), ainda que
se refira a condutas praticadas antes do prazo permitido para a campanha – observar que esse termo inicial difere do
230
termo inicial do RCED e da AIME, que só podem ser propostas a partir da data da diplomação; b) termo final: até 15 dias
após a diplomação. Esse prazo pode ser explicado pela possibilidade de se arrecadar recursos após as eleições caso a
campanha seja encerrada com déficit (ou seja, o gasto superou o aporte de recursos).

18) Se julgada procedente, quais serão as consequências?


R: Nos termos do artigo 30-A, §2º, da Lei 9504/97: a) se a decisão é proferida antes da diplomação: negação do
diploma; b) se a decisão é proferida depois da diplomação: cassação do diploma. Em ambos os casos, se o condenado
interpuser recurso ordinário da decisão proferida pelo juiz eleitoral ou pelo TRE no exercício de sua competência
originária, em razão do efeito suspensivo automático atribuído a tais recursos (art. 257, § 2º, CE), ele poderá ser
diplomado, tomar posse ou continuar no exercício do mandato até que sobrevenha decisão confirmatória da
condenação ou seu trânsito em julgado. Além dessas duas, com previsão expressa no dispositivo referente à citada
ação, ainda temos: c) multa no valor equivalente a 100% da quantia que ultrapassar o limite estabelecido: art. 8º,
Resolução 23.553/17 do TSE. Essas sanções podem ser aplicadas mesmo se o candidato não for autor do ilícito, tendo
em vista que a lei lhe atribuiu a administração financeira da campanha; d) invalidação dos votos dados ao candidato; e)
inelegibilidade prevista no art. 1º, I, j, LC 64/90, que constitui efeito secundário da decisão judicial que aplica as sanções
referidas nos itens “a” e “b”.

ADMINISTRATIVO - FERNANDO RODRIGUES MARTINS


CARGO PÚBLICO

A atividade administrativa se divide em unidades, em estrutura física e de pessoal. Nesse tripé, nossa arguição se dará
com relação ao pessoal.

1) Conceito de agente público.


Agente público é todo aquele que exerce função pública (conceito amplo), de forma permanente ou não,
independentemente do vínculo jurídico, com ou sem remuneração.
“Sendo assim, podem ser considerados agentes públicos aqueles que exercem função
pública em virtude de relação trabalhista, em qualquer dos entes da Administração Pública
Direta ou Indireta, seja este regime estatutário, mediante a nomeação de servidores que se
submetem às regras definidas em estatuto próprio, seja um regime de emprego, por meio de
contratação de empregados, sob o regime da Consolidação das Leis Trabalhistas, para
prestarem serviços, mediante regime de emprego público.
Da mesma forma, todos os particulares contratados sob regime de cargo temporário, nos
moldes definidos pelo art. 37, IX da Constituição Federal, ainda são considerados agentes
públicos e exercem função pública. Também podem ser considerados agentes públicos
aqueles que, mesmo não possuindo qualquer vínculo de natureza administrativa ou política
com o ente estatal, atuam no exercício de funções públicas, como, por exemplo, o mesário no
dia da eleição ou o jurado, no dia em que presta o serviço de atuação no júri popular, ou
ainda, os agentes das concessionárias e permissionárias de serviços públicos e os titulares
das serventias de cartório, autorizados, após a provação em concurso, para execução de
serviços notariais, mediante delegação.” (CARVALHO, Matheus.
Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017, p.
770)

231
Informação adicional: O Código Penal confere a mesma abrangência ao definir "funcionário público" (art. 327).
Todavia, importante lembrar que a expressão "funcionário público" já está superada no Direito Administrativo,
sendo substituída pela expressão "agente público".

2) Nessa classificação, o senhor não esqueceu o famoso “agente de fato”? Pode ser aplicada a teoria da
aparência para o agente de fato?
“Os agentes públicos podem ser divididos em, pelo menos, dois grupos:
a) agentes públicos de direito: são os agentes que possuem vínculos jurídicos formais e legítimos com o Estado,
regularmente investidos nos cargos, empregos e funções públicas; e
b) agentes públicos de fato: são os particulares que, sem vínculos formais e legítimos com o Estado, exercem, de boa-
fé, a função pública com o objetivo de atender o interesse público, inexistindo investidura prévia nos cargos, empregos e
funções públicas” (OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo / Rafael Carvalho Rezende
Oliveira. — 5. ed. rev., atual. e ampl. — Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017).

O agente de fato, também conhecido como agente putativo, enquanto exercer a função pública, deve ser considerado
agente público, em que pese a sua investidura irregular. E, em decorrência da segurança jurídica e da presunção de
legalidade dos atos administrativos, aplica-se a Teoria da Aparência, reputando-se válidos os atos praticados pelo
agente de fato, se os administrados atingidos estiverem de boa-fé e se por outra razão não for o ato viciado. São dois
pressupostos para aplicação da Teoria da Aparência: a boa-fé de terceiro e a imobilidade da Administração, que, diante
da irregularidade, não toma qualquer providência.

“Consoante a Teoria da Aparência, a nomeação de servidor sem concurso público é nula,


mas os atos praticados são válidos, em atenção ao princípio da segurança jurídica. Ademais,
não há devolução dos salários, sob pena de enriquecimento da Administração Pública já que
os serviços foram prestados. E não se faz possível retornar ao status quo ante” (CARVALHO,
Matheus.
Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017, p.
299).

3) Conceito de cargo.
“No entendimento de Celso Antônio Bandeira de Melo, os cargos públicos são ''as mais simples e indivisíveis unidades
de competência a serem expressadas por um agente, previstas em número certo, com denominação própria,
retribuídas por pessoas jurídicas de direito público e criadas por lei". No mesmo sentido, Marçal Justen Filho dispõe que
"cargo público é uma posição jurídica, utilizada como instrumento de organização da estrutura administrativa, criada e
disciplinada por lei, sujeita a regime jurídico de direito público peculiar, caracterizado por mutabilidade por determinação
unilateral do Estado e por certas garantias em prol do titular".
(...) Enfim é pacífico o entendimento de que o cargo público se configura uma unidade de competência à qual será
atribuído um plexo de atribuições e que deve ser criado mediante lei e assumido por um determinado agente, com
vínculo estatutário, de natureza profissional e permanente, para execução das atividades a ele inerentes” (CARVALHO,
Matheus. Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 789).

4) Obrigatoriamente para cada cargo se tem uma função?


Sim! “A função pública é o conjunto de atividades atribuídas a um cargo ou emprego público, seja este cargo isolado ou
de carreira, para provimento efetivo, vitalício ou em comissão. Com efeito, pode-se definir que todo cargo ou emprego
público deve ter função estipulada por lei, que corresponde às tarefas a serem executadas pelo servidor público

232
que, de forma lícita, o ocupar” (CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. -
Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 792).

5) Toda função tem um cargo? Exemplo.


“Não obstante inexista cargo ou emprego público sem funções, o contrário não é verdade. Isso porque, na estrutura da
Administração Pública, admite-se a criação, por meio de lei, de funções de confiança, para exercício de atividades de
direção, chefia ou assessoramento. A função de confiança não é atribuída a nenhum cargo público, sendo
disposta diretamente na organização administrativa e atribuída a um servidor que já detenha cargo público
efetivo. Sendo assim, pode-se dizer tratar-se de uma "função sem cargo", atribuída a servidores públicos.”
(CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017, p.
792).

6) Quais os elementos do cargo?


Função, denominação, remuneração e responsabilidade.

7) E o emprego? Qual é o regime de aposentadoria deles?


“A expressão designa o vínculo profissional entre a Administração Pública e os seus agentes regidos pela Consolidação
das Leis do Trabalho, mediante celebração de contrato que definirá todos os direitos e obrigações do particular sujeito à
disciplina administrativa e também dos entes estatais, na relação ajustada.
Celso Antônio Bandeira de Mello estabelece que os empregos públicos "são núcleos de encargos de trabalho
permanentes a serem preenchidos por agentes contratados para desempenha-los, sob relação trabalhista, como, alias,
prevê a lei 9.962 de 22.2.2000" (CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. -
Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 788).
O regime de aposentadoria dos empregados públicos é o Regime Geral da Previdência Social. Nesse sentido:

Estão sujeitos ao RGPS, além dos empregados em geral, aqueles contratados sob o regime
da Consolidação das Leis do Trabalho para prestação de serviços em entidades da
Administração Indireta de Direito Privado, como as empresas públicas e sociedades de
economia mista, sejam elas prestadoras de serviço público ou exploradoras de atividade
econômica. Da mesma forma, os servidores detentores de cargo temporário, nos moldes
definidos pelo art, 37, IX da Constituição da República, são vinculados ao Regime Geral de
Previdência. (CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e
atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 892).

8) Defina o cargo em comissão.


O cargo em comissão é a unidade indivisível de atribuições, prevista na estrutura organizacional do estado, para
execução de atribuições de direção, chefia ou assessorame nto, ou seja, funções que exigem a confiança direta e
pessoal da autoridade pública. Em virtude desta situação, tais cargos podem ser preenchidos por quaisquer pessoas,
integrantes ou não dos quadros da Administração Pública, mediante nomeação livre, sem a necessidade de prestação
de concurso público ou qualquer procedimento seletivo, ainda que simplificado. Por se tratar de relação de confiança
entre agentes, a exoneração do servidor ocupante deste cargo é de livre iniciativa de sua chefia, sem a necessidade de
qualquer motivação ou garantia de contraditório. A doutrina costuma designar como exoneração ad nutum a dispensa do
servidor comissionado” (CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador:
JusPODIVM, 2017, p. 791).

9) Conceitue função de confiança.


233
“É uma "função sem cargo", uma função isolada dentro da estrutura do serviço público. Por se tratar da função de
direção, chefia ou assessoramento e por não estar atribuída a um cargo específico, a função de confiança somente
pode ser exercida por alguém que já esteja investido em cargo efetivo”. (CARVALHO, Matheus. Manual de direito
administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 792).

10) Pessoa em cargo efetivo pode ter um cargo em comissão?


Sim. Os cargos em comissão podem ser preenchidos por quaisquer pessoas, integrantes ou não dos quadros da
Administração Pública.

11) O que difere os agentes políticos das demais categorias? O senhor tem alguma lembrança da CF que
estabelece essa diferença? A CF dá uma pista de que tanto os membros MP quanto os da Magistratura tem esse
aspecto de agente político. Qual é?
Os agentes políticos são os componentes do Governo nos seus primeiros escalões e diferem das demais categorias em
razão (i) da atuação com independência funcional, com funções delineadas na Constituição e (ii) da ausência de
subordinação aos demais agentes, pois ocupam os órgãos de cúpula ("órgãos independentes").
A Constituição Federal, ao delinear as funções dos membros do Ministério Público e Magistratura, garantindo-lhes
independência funcional e remuneração mediante subsídio, assim como assegura aos detentores de mandato eletivo,
aos Ministros de Estado e aos Secretários Estaduais e Municipais (art. 39, §4º da CF), indica que os Promotores de
Justiça e os Magistrados também são considerados agentes políticos.

Informações adicionais:
Há enorme controvérsia doutrinária em relação à conceituação dos agentes políticos, sendo
possível apontar, para fins didáticos, dois grandes entendimentos sobre o assunto.

Primeira posição: conceito amplo: agentes políticos são os componentes do Governo nos
seus primeiros escalões que atuam com independência funcional, com funções delineadas na
Constituição, que não se encontram subordinados aos demais agentes, pois ocupam os
órgãos de cúpula ("órgãos independentes"). Inserem-se nesse conceito os chefes do
Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos), os membros das Casas
Legislativas (Senadores, Deputados e vereadores), membros do Poder Judiciário
(magistrados), membros do Ministério Público (Procuradores e Promotores) etc. Nesse
sentido: Hely Lopes Meirelles.

Segunda posição: conceito restritivo: agentes políticos são aqueles que ocupam local de
destaque na estrutura estatal, responsáveis pelas decisões políticas fundamentais do Estado.
Esse é o entendimento majoritário. Nesse sentido: José dos Santos Carvalho Filho, Celso
Antônio Bandeira de Mello, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Diógenes Gasparini. (OLIVEIRA,
Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo / Rafael Carvalho Rezende
Oliveira. — 5. ed. rev., atual. e ampl. — Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2017).

12) O que são Agentes honoríficos? Eles respondem por improbidade administrativa?
Os agentes honoríficos, também chamados de agentes designados, são todos aqueles que auxiliam a Administração
Pública, transitoriamente, em virtude de convocação efetivada pelo Poder Público. Exercem múnus público e quando
requisitados devem atuar, sob pena de sanção. São exemplos de agentes honoríficos: os jurados e os mesários.

234
Os agentes honoríficos respondem por improbidade administrativa, uma vez que são considerados agentes públicos 3,
nos termos do art. 2º da Lei n 8.429/1992.

13) Fale sobre a classificação da remuneração dos agentes públicos no Direito Brasileiro.
(...) o sistema remuneratório ou remuneração em sentido amplo da Administração direta e indireta para os servidores da
ativa compreende as seguintes modalidades: a) subsídio, constituído de parcela única e pertinente, como regra geral,
aos agentes políticos; (b) Remuneração, dividida em (b1) vencimentos, que corresponde ao vencimento (no singular,
como está claro no art. 39, § 1º, da CF, quando fala em “fixação dos padrões de vencimento”) e às vantagens pessoais
(que, como diz o mesmo art. 39, §1º, são os demais componentes do sistema remuneratório do servidor público titular
de cargo público na Administração direta, autárquica e fundacional) e em (b2) salário, pago aos empregados públicos da
Administração regidos pela CLT, titulares de empregos públicos, e não cargos públicos (Direito administrativo brasileiro.
28. ed., São Paulo: Malheiros, 2003, p. 449).

14) Diferencie vencimento e vencimentos.


Vencimento é a retribuição pecuniária fixada em lei pelo exercício de cargo público.
Vencimentos, também chamados de remuneração, correspondem a soma do vencimento mais as vantagens pecuniárias
permanentes instituídas por lei. Nesse sentido:
“Vencimento é a retribuição pecuniária fixada em lei pelo exercício de cargo público (art. 40
da Lei 8.112). O valor previsto como correspondente aos distintos cargos é indicado pelo
respectivo padrão. O vencimento do cargo mais as vantagens pecuniárias permanentes
instituídas por lei constituem a remuneração (art. 41)” (Mello Celso Antônio Bandeira de.
Curso de Direito Administrativo. 14. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 277).

15) Pode-se dizer que entre os poderes existe isonomia ou paridade? Há vinculação e equiparação entre as
remunerações (entre os Poderes)?
“Inicialmente, o texto constitucional busca garantir a isonomia entre os servidores públicos, definindo que a fixação de
remunerações e vencimentos não será feita aleatoriamente, devendo ter como parâmetro a natureza, o grau de
responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira, os requisitos para a investidura e as
peculiaridades dos cargos. Dessa forma, em obediência à impessoalidade e igualdade, presentes na atuação
administrativa, as diferenças de vencimentos para servidores públicos serão embasadas por critérios objetivos, não
sendo possível a discriminação de determinada carreira em benefício de outras.
Ainda, como forma de garantia da isonomia, o art. 37, XII, da Carta Magna, dispõe que "os vencimentos dos cargos do
Poder Legislativo e do Poder judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Executivo". Mais uma vez, o
texto constitucional se preocupa com a igualdade entre os agentes públicos, não podendo haver diferença de
remuneração em virtude do Poder do Estado ao qual estejam vinculados.
(...)
Não obstante a garantia de isonomia, não se admite a equiparação ou vinculação de espécies remuneratórias, entre
carreiras no serviço público. De fato, a vedação está expressa no art. 37, XIII da Constituição da República.
A equiparação ocorre quando se definem vencimentos similares para carreiras diversas, em virtude das
responsabilidades de suas funções serem idênticas e dos requisitos para ingresso na carreira serem definidos com

3
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

235
critérios de igual dificuldade. Neste caso, haveria uma carreira paradigma e, sempre que houver aumento dos servidores
desta carreira, os agentes da carreira equiparada farão jus ao mesmo aumento.
A vinculação ocorre entre carreiras de responsabilidades diversas, quando, por exemplo, se atrela a remuneração dos
servidores técnicos de um determinado órgão à dos servidores que exercem função de analista. Nestes casos, a carreira
de hierarquia inferior receberá percentual definido, com base na remuneração da outra. Da mesma forma, o reajuste
remuneratório feito, mediante lei, para os servidores que exercem função de analista ensejará revisão aos demais
agentes.
Em ambos os casos, a vedação constitucional visa evitar o chamado "aumento em cascata”, ensejando o acréscimo de
valores nos vencimentos de uma determinada classe de servidores, sem que haja lei específica, justificado pelo simples
fato de que uma outra carreira obteve vantagens, mediante previsão legal.
Da mesma forma, o Supremo Tribunal Federal não admite que haja aumento de remuneração de servidores públicos,
sob a alegação de isonomia, haja vista a necessidade de lei para que haja alteração vencimental aos agentes públicos”
(CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017, p.
855).

16) Qual é o teto para o Município?


O teto para o Município é o subsídio do Prefeito.
Informação adicional: Importante conhecer a controvérsia que envolve a submissão dos Procuradores Municipais ao
teto do Prefeito ou dos Desembargadores do TJ (https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI237550,31047-
Maioria+do+STF+decide+que+teto+remuneratorio+de+procuradores).

17) Qual a diferença entre estágio probatório e estágio experimental?


“O estágio probatório é o período de efetivo exercício dentro do qual será avaliada a aptidão do servidor estatutário
para o cargo. Atualmente, o estágio probatório é de três anos, na forma do art. 41 da CRFB, alterado pela EC 19/1998”
(OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo / Rafael Carvalho Rezende Oliveira. — 5. ed. rev.,
atual. e ampl. — Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017). O estágio experimental, por sua vez, era uma
figura atípica instituída pelo Estatuto dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, caracterizando-se, como uma das
fases do concurso público a que se submetia o candidato que almejasse titularizar um cargo efetivo. O concurso público
no Estado do Rio de Janeiro era compreendido de 03 (três) fases, quais sejam: provas ou provas e títulos; exame de
sanidade físico e mental e estágio experimental. Durante o período denominado estágio experimental era averiguado o
desempenho do candidato no exercício das atividades do cargo que ele buscava ocupar.
Importante ressaltar que o estágio experimental, no Rio de Janeiro, foi revogado pela Lei Complementar n. 140/2011.

GRUPO TEMÁTICO II

PROCESSO PENAL - ROGÉRIO FILIPPETTO


COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

1) Existe no processo penal alguma prerrogativa processual no que diz respeito às intimações?
Sim. O Ministério Público, a Defensoria Púbica e os defensores dativos possuem a prerrogativa da intimação pessoal de
todos os atos processuais. Nesse sentido:

Quanto ao defensor dativo, a intimação deverá ser pessoal, via mandado, e não por meio da
imprensa, conforme dispõe o § 4º do art. 370 do CPP, com redação dada pela Lei nº
9.271/96.
(...)
236
Já quanto à Defensoria Pública, o art. 44, I (no âmbito da Defensoria Pública da União), o art.
89, I (no âmbito da Defensoria Público do Distrito Federal e Territórios) e o art. 128, I (no
âmbito da Defensoria Pública dos Estados), todos da Lei Complementar nº 80/94, garantem,
além da intimação pessoal, que esta se realize mediante entrega dos autos com vista
(Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009). É de se registrar, mais uma vez,
que todos os prazos do defensor público (resposta à acusação, memoriais, recursos etc.)
serão contados em dobro, nos termos dos arts. 44, I, 89, I e 128, I, todos da Lei
Complementar nº 80/94. Esta prerrogativa já constava da Lei nº 1.050/60 (art. 5º, § 5º,
incluído pela Lei nº 7.871/89)
(...)
Quanto à intimação do Ministério Público, é importante lembrar o que dispõem as leis
orgânicas do parquet, Lei nº 8.625/93 (art. 41, IV), no âmbito do Ministério Público dos
Estados, e Lei Complementar nº 75/93 (art. 18, II, h), que organiza o Ministério Público da
União, no sentido de se fazer a intimação de seus membros por via pessoal e nos autos, e
não por meio de mandado. Os autos, portanto, é que deverão ser remetidos ao Ministério
Público para a realização da intimação. (PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. – 21.
ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2017).

2) Como se daria a intimação dos procuradores (Advogado do réu, defensor)? Em especial do defensor.
“(...) a intimação dos advogados constituídos pelo réu (na ação pública e na privada) e pelo querelante (na ação privada,
tanto na exclusiva quanto na subsidiária da pública), bem assim pelos advogados dos assistentes da acusação, será
feita pela imprensa, onde houver. Não havendo órgão de publicação dos atos judiciais, a intimação poderá ser feita
diretamente pelo escrivão, por mandado ou via postal com comprovante de recebimento ou por qualquer meio idôneo
(art. 370, § 1º e § 2º, CPP).” PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. – 21. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo:
Atlas, 2017).
Os defensores públicos e defensores dativos, como dito, serão intimados pessoalmente.

3) Como é essa intimação pessoal? Existe diferença entre a intimação a ser feita ao defensor público e ao
defensor nomeado?
A intimação pessoal da Defensoria pública ocorre mediante entrega dos autos com vista e a intimação dos defensores
dativos se dará por mandado.

4) No caso do defensor público, essa intimação deve incorrer na pessoa do defensor que atua no processo ou
pode se dar na pessoa do Defensor-Geral?
Na esteira da jurisprudência do STJ, é prescindível que a intimação pessoal ocorra na pessoa do Defensor Público que
atua no processo, sendo válida a intimação direcionada ao Defensor Público Geral. Nesse sentido:

(...) Não se pode exigir que a intimação de Defensor Público tenha de ser feita por meio
de mandado destinado ao mesmo oficiante na causa. (...)Na hipótese, o Defensor
Público-Geral foi pessoalmente intimado do acórdão de apelação, não havendo de se
falar em nulidade do ato processual com eventual renovação do prazo recursal. (HC
189.491/AP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe
28/06/2012)

(...) Em que pese a Lei n.º 1.060/50 prever a obrigatoriedade da intimação pessoal do
Defensor Público de todos os atos do processo, não há que se reconhecer a nulidade
237
do feito se o Juízo promover a intimação de outro membro do órgão, máxime se houver
intimado o Defensor Público-Geral do Estado. (HC 163.631/AP, Rel. Ministro GILSON
DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 31/05/2011, DJe 01/07/2011)

(...) Conquanto não tenha sido feita a intimação diretamente ao Defensor oficiante no
caso, procedeu-se à intimação do próprio Defensor Público-Geral. Tal circunstância
elide a apontada nulidade, por ausência de intimação pessoal, porquanto devidamente
respeitadas as prerrogativas inerentes ao cargo. (HC 43.629/AP, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 31/08/2009)

5) Publicada a sentença condenatória em audiência, o réu estava ausente. Foi intimado e se silenciou quanto à
interposição ou não de recurso. A DP protocolou recurso 15 dias depois de prolatada a sentença. Este recurso
está regular? É tempestivo?
Inicialmente, é importante consignar que, em caso de divergência de vontade do réu e do seu defensor no tocante à
interposição de recurso, deve prevalecer a manifestação da defesa técnica em homenagem ao princípio da ampla
defesa. Nos termos da Súmula 705 do STF, a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do
defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.
Portanto, o fato do réu ter se silenciado quanto à interposição de recurso, não impede o conhecimento do apelo
interposto por seu defensor público.
Além do mais, por mais que a apelação tenha sido interposta depois que ultrapassado o prazo devido de 10 dias (em
razão da prerrogativa de contagem de prazo em dobro da Defensoria Pública), o apelo deve ser conhecido, tendo em
vista a inobservância, no caso narrado, da prerrogativa de intimação pessoal do Defensor Público, que, mesmo presente
na audiência em que a sentença tenha sido publicada, somente terá sua intimação aperfeiçoada com a remessa dos
autos à Defensoria Pública. Nesse sentido:

A intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença do defensor na audiência de


leitura da sentença condenatória, se perfaz com a intimação pessoal mediante remessa
dos autos. (HC 125270, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em
23/06/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-151 DIVULG 31-07-2015 PUBLIC 03-08-2015)

A data da entrega dos autos na repartição administrativa da Defensoria Pública é o termo


inicial da contagem do prazo para impugnação de decisão judicial pela instituição,
independentemente de intimação do ato em audiência. STJ. 3ª Seção. HC 296.759-RS,
Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 23/8/2017 (Info 611).

6) E se isso tivesse se dado no âmbito do Tribunal do Júri?


Mesmo no âmbito do Tribunal do Júri, o Supremo Tribunal Federal vem entendendo pela necessidade da intimação
pessoal da Defensoria Pública, com a remessa dos autos à instituição, sendo insuficiente a intimação realizada no
Plenário em que o Defensor Público esteja presente.

Habeas corpus. 2. Homicídio triplamente qualificado. Terceira sessão de julgamento do


Tribunal do Júri. Condenação. 3. Apelo defensivo considerado intempestivo ao fundamento
de suficiência da intimação pessoal da Defensoria Pública em plenário. 4. A Defensoria
Pública deve ser intimada pessoalmente de todos os atos do processo, sob pena de nulidade,
a teor do art. 370, § 4º, do Código de Processo Penal, do art. 5º, § 5º, da Lei 1.060/1950 e do
art. 44, I, da Lei Complementar 80/1994. Homenagem ao princípio constitucional da ampla
238
defesa. 5. Alegação de excesso de prazo na prisão cautelar. Inocorrência. Acusado foragido
do distrito da culpa. Necessidade da custódia preventiva para assegurar a aplicação da lei
penal. 6. Ordem parcialmente concedida tão somente para determinar ao TJ/MG que
prossiga no julgamento do recurso defensivo, mantida a prisão cautelar do acusado. (HC
126663, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 08/09/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-193 DIVULG 25-09-2015 PUBLIC 28-09-2015)

Na oportunidade, o Ministro Gilmar Mendes consignou que “constitui prerrogativa dos membros da Defensoria Pública
da União e dos estados não apenas a intimação pessoal, mas, também, a entrega dos autos com vista”.

Observação importante: Os entendimentos aqui expostos sobre a intimação pessoal da Defensoria Pública também se
aplicam ao Ministério Público.

7) O processo penal tem formas específicas para intimações. É possível intimação via SMS ou “whatsapp”?
Inicialmente, importante esclarecer que não existe disposição legal que autorize a intimação por “whatsapp” ou SMS. O
art. 370, §2º do CPP prevê que, caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a intimação far-se-á
diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio
idôneo. Como cediço, a doutrina entende tratar-se de meio idôneo o telefone e o fax. No entanto, se mostra
controvertida a admissibilidade da utilização do “whatsapp” ou SMS, na hipótese do art. 370, §2º do CPP, e para as
demais intimações no Processo Penal.
O art. 14 da Lei n. 11.419/2006, que dispõe sobre a informatização do processo judicial, prevê que os sistemas a serem
desenvolvidos pelos órgãos do Poder Judiciário deverão usar, preferencialmente, programas com código aberto,
acessíveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores, priorizando-se a sua padronização. A despeito
do uso do “whatsapp” poder se afigurar benéfico, por garantir celeridade na prática do ato processual e o alcance eficaz
da finalidade de comunicar o interessado a respeito dos acontecimentos do processo, não se pode desconsiderar que
trata-se de aplicativo comercial, que pode ter o seu funcionamento interrompido, como já ocorreu em decorrência de
decisões judiciais, o que comprometeria o serviço jurisdicional.
Sem embargo das diversas discussões que podem ser travadas sobre o tema, impede ressaltar que, em recente
julgamento, o CNJ – no Procedimento de Controle Administrativo (PCA) 0003251-94.2016.2.00.0000, que contestava
decisão da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Goiás que proibira a utilização do aplicativo no âmbito do Juizado
Civil e Criminal da Comarca de Piracanjuba (GO) – aprovou por unanimidade a utilização do aplicativo “whatsapp” como
ferramenta para intimações nos Juizados Especiais. O CNJ entendeu, na ocasião, que os princípios norteadores dos
Juizados, quais sejam, os previstos no art. 2º, da Lei nº 9.099/95 (informalidade, simplicidade e celeridade), permitem
considerar o “whatsapp” “meio idôneo de comunicação”, admitindo, portanto, sua utilização para realização de
intimações das partes no processo judicial, na esteira do art. 19 da citada lei. Asseverou o CNJ, ainda, a natureza
voluntária do uso da ferramenta, ressaltando que a adoção desse procedimento depende de adesão da parte.
Após a referida decisão, diversos Tribunais passaram a regulamentar e expandir a intimação via “whatsapp”, como
ocorreu aqui em Minas, em que o aludido aplicativo já é utilizado para intimação em alguns Juizados Especiais do
Estado e para a intimação das vítimas, nas Varas Especializadas em Violência Doméstica contra a mulher
(http://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/tjmg-expande-intimacao-via-aplicativo-em-juizados.htm#.XA1iLGhKjIU.
http://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/informes/varas-de-violencia-contra-a-mulher-intimacao-por-
whatsapp.htm#.XA1iLmhKjIU)
Nota-se, desse modo, o crescente uso do “whatsapp” e do telefone para a realização de intimações nos processos
penais, sendo possível identificar a tendência dos Tribunais e do CNJ de aceitarem essa modalidade de intimação, se as
partes manifestarem concordância com tal procedimento.

239
Inclusive, foi instituído, na 1ª Vara Criminal de Belo Horizonte, pelo período experimental de 90 dias, o procedimento de
intimação, com a utilização do aplicativo de mensagens “whatsapp”, baixado no aparelho celular destinado à unidade
judiciária, exclusivamente para essa finalidade, ou do Programa “whatsapp” web. Essa modalidade de intimação,
todavia, não se aplica às hipóteses em que a Lei determina a intimação pessoal
(http://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/informes/intimacao-por-whatsapp-na-1-vara-criminal-de-belo-horizonte.htm#.XA-
HuWhKjIU).
No que diz respeito ao SMS, o seu uso também vem sendo aceito em alguns órgãos do Poder Judiciário, como no
Juizado Especial Cível e Criminal no Fórum de Ibiraçu (ES). (https://www.conjur.com.br/2013-mai-17/partes-processos-
sao-intimadas-torpedo-sms-ibiracu-es).

8) O NCPC trouxe uma disposição a respeito. Ela poderia ser avocada?


O Código de Processo Civil, em seu art. 270, prevê que as intimações realizam-se, sempre que possível, por meio
eletrônico, na forma da lei. No entanto, não há disposição legal que autoriza expressamente a possibilidade do uso do
“whatsapp” para as intimações eletrônicas.
Em que pese a inexistência de norma nesse sentido, o NCPC autoriza a celebração de negócios processuais atípicos,
respaldados na cláusula geral de negociação processual (artigo 190), o que permite que os litigantes acordem a
intimação por meio do mencionado aplicativo.
Além do mais, está tramitando um projeto de lei, para modificar o Código de Processo Civil, com intuito de permitir
expressamente o envio de intimações por meio de aplicativos de mensagens. A ideia é estimular o uso dessas
ferramentas - já adotadas por alguns tribunais - para agilizar o funcionamento da Justiça
(https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/07/18/projeto-autoriza-intimacoes-judiciais-por-whatsapp/
#conteudoPrincipal).
No tocante ao Processo Penal, não se vislumbra óbice para que as partes convencionem a intimação por “whatsapp”,
até mesmo considerando o aumento do uso dos instrumentos consensuais também nessa seara.

9) Art. 370, CPP: possibilidade de utilização de qualquer meio idôneo; forma residual de comunicação. Havendo
a citação por edital, é possível dizer que essa evasão do distrito da culpa autoriza a prisão preventiva?
Nos termos do art. 361 do CPP, se o réu não for encontrado, será citado por edital. A simples não localização do
acusado não justifica, por si só, a custódia preventiva (HC 401.711/ES, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma,
julgado em 23/10/2018, DJe 16/11/2018). No entanto, “a fuga do acusado do distrito da culpa é fundamentação
suficiente para a manutenção da custódia preventiva ordenada para garantir a aplicação da lei penal”. STJ. 5ª Turma.
HC 239269-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/11/2012. No mesmo sentido: AgRg no RHC 99.761/MS, Rel.
Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 08/11/2018, DJe 23/11/2018. RHC 97.256/BA, Rel. Ministra Laurita Vaz,
Sexta Turma, julgado em 23/10/2018, DJe 13/11/2018.
Portanto, restando comprovado que o réu se evadiu do distrito da culpa, sobretudo, se esse foi o motivo determinante da
citação por edital, perfeitamente possível a decretação da prisão preventiva (HC 469.811/SP, Rel. Ministro Felix Fischer,
Quinta Turma, julgado em 23/10/2018, DJe 30/10/2018).

10) É possível colher a prova sem a presença do acusado?


O direito de presença, consectário lógico da autodefesa e da ampla defesa, consiste no direito de o acusado
acompanhar todos os atos da instrução probatória, ao lado de seu defensor, auxiliando-o na realização da defesa. O
direito será assegurado com a garantia de presença imediata (in loco) ou remota (videoconferência).
Em regra, as provas serão colhidas na presença do acusado. No entanto, tal direito não é absoluto, havendo hipóteses
em que a instrução probatória poderá ocorrer sem a presença do acusado  (1) audiência sem o réu em caso de
intimidação de testemunha (CPP, art. 217); (2) revelia; (3) julgamento do réu foragido; (4) provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas, quando o réu não puder estar presente. Nesse sentido:
240
Portanto, por força do direito de presença, consectário lógico da autodefesa e da ampla
defesa, assegura-se ao acusado o direito fundamental de presenciar e participar da
instrução processual.
Não se trata, todavia, de um direito de natureza absoluta. Dentre os direitos fundamentais
que podem colidir com o direito de presença, legitimando sua restrição, encontram-se os
direitos das testemunhas e das vítimas à vida, à segurança, à intimidade e à liberdade de
declarar, os quais se revestem de inequívoco interesse público, e cuja proteção é
indiscutível dever do Estado. Portanto, na hipótese de efetiva prática de atos intimidatórios,
subentende-se que houve uma renúncia tácita ao direito de presença pelo acusado, pela
adoção de comportamento incompatível com o exercício regular de um direito. Daí dispor o
art. 217 do CPP que, se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação,
temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a
verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na
impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição,
com a presença do seu defensor. Nesse caso de retirada do acusado da sala de audiência,
deve o juiz manter todos os corolários da ampla defesa, assegurando a presença do
defensor técnico na audiência, bem como um canal de comunicação livre e reservada deste
com o acusado. (BRASILEIRO, Renato. Manual de processo penal: volume único, 4. ed.
rev., ampl. e atual., Salvador: Ed: JusPodivm, 2016, p. 99).

"O direito de presença do réu é desdobramento do princípio da ampla defesa, em sua


vertente autodefesa, franqueando-se ao réu a possibilidade de presenciar e participar da
instrução processual, auxiliando seu advogado, se for o caso, na condução e direcionamento
dos questionamentos e diligências. Nada obstante, não se trata de direito absoluto, sendo
pacífico nos Tribunais Superiores que a presença do réu na audiência de instrução, embora
conveniente, não é indispensável para a validade do ato, e, consubstanciando-se em
nulidade relativa, necessita para a sua decretação da comprovação de efetivo prejuízo para a
defesa e arguição em momento oportuno (...)" (RHC 39.287/PB, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, DJe 1º/2/2017).

11) Que tipo de prova? Qualquer prova? A prova testemunhal, por exemplo? Uma testemunha em estado
especial ou qualquer testemunha?
Qualquer prova, dependendo do contexto, poderá ser produzida sem a presença do acusado (conforme já dito na
resposta anterior). Nos casos de testemunhas em estado especial, por exemplo com risco de morte, é possível a
antecipação da sua oitiva e, dependendo da circunstância, o réu não poderá estar presente, como na hipótese em que
ocorreu a suspensão do processo após a citação por edital (art. 366 do CPP).

12) Havendo a citação por edital, há suspensão do processo e do prazo prescricional? Essa suspensão é
indefinida?
Nos termos do art. 366 CPP, se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Parte da doutrina entende que a suspensão da prescrição por prazo indeterminado viola a Constituição Federal que
previu quais são os crimes imprescritíveis. Nesse tocante, surgiram duas correntes:

241
1) A suspensão da prescrição é limitada pelo tempo máximo de prescrição admitido no CP (20 anos), quando
então é declarada extinta a punibilidade;
2) A suspensão da prescrição é limitada pelo tempo da prescrição da pena máxima do crime da denúncia. O
STJ tem súmula nesse sentido (Súmula 415).
Há julgados antigos do STF no sentido de que a suspensão da prescrição deve durar por prazo indeterminado, com
argumento de não se tratar de imprescritibilidade, mas de condicionar o prazo a evento futuro e incerto (RE
460.927/2007). Ademais, a CF não proíbe a criação de outras hipóteses de imprescritibilidade pela lei ordinária.
Informações adicionais:
- Foi reconhecida a repercussão geral da matéria pelo STF (tema 438, RE 600.851/DF), mas a questão ainda não
julgada (http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?
incidente=2684154&numeroProcesso=600851&classeProcesso=RE&numeroTema=438)
- Há regramento diferente para os crimes de lavagem em dinheiro (vide resposta da próxima questão).

13) É possível a citação por edital na Lei de Lavagem de Dinheiro? Qual é o fundamento dessa exceção? Ela foi
duramente atacada pelo Pacto de São José de Costa Rica. Como ficou o legislador quanto às críticas
doutrinárias?
No caso de processo por crime de lavagem de dinheiro, o art. 2º, § 2º, da Lei 9.613/98 determina que não se aplica o
art. 366 do CPP, devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o
processo até julgamento, com a nomeação de advogado dativo.
Há quem defenda a inconstitucionalidade do art. 2º, §2º, da Lei 9613/98, por violação à ampla defesa, consagrada na
Constituição Federal e na Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica. Nesse
sentido:

A proibição contida no art. 2°, § 2°, de não aplicação do art. 366 do CPP para os crimes de
lavagem de bens é absurda e inconstitucional […].Da inconstitucionalidade da proibição:
cuida referido artigo (366), como sabemos, da suspensão do processo decorrente da citação
por edital, desde que o acusado desaparecido não compareça nem constitua advogado. A
garantia de ser informado o acusado do inteiro teor da peça acusatória é impostergável (v.
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 8o, que tem status constitucional, por
força do art. 5°, § 2°, da CF). Todos têm esse direito. Faz parte da ampla defesa. É garantia
constitucional, logo, integra a parte rígida do princípio do devido processo penal. Não pode,
em conseqüência, ser suprimida pelo legislador infraconstitucional. Conclusão: o art. 2°, § 2,
da Lei no 9.613/98 é mais um exemplo de lei que é um “não-direito”, de desconhecimento
total do legislador dos seus limites. Ganhou vigência com sua publicação, mas não possui
validez (v. Ferrajoli, “Diritto e Ragione”). Não é juridicamente válido. É um nada jurídico.
(GOMES, Luiz Flávio, CERVINI, Raul. Crime Organizado. Enfoque criminológico, jurídico (Lei
9.034/95) e política criminal. 2a Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1997.p.
357)

No entanto, há forte corrente doutrinária que entende pela constitucionalidade da previsão, por compreender que a
suspensão do processo, em decorrência da citação por edital, não representa benefício ao réu, porque o prazo da
prescrição também estará suspenso, podendo o juiz, inclusive autorizar a produção de provas antecipadamente e a
decretação da prisão preventiva. Além disso, o juiz poderá determinar a execução de medidas cautelares como a busca
e apreensão e o sequestro de bens, direitos e valores do acusado, salvaguardando a eficácia do processo principal.
Diante das severas críticas feitas pela primeira corrente doutrinária aqui exposta, o legislador alterou a redação do
artigo, determinando a nomeação de advogado dativo, se o acusado não comparecer nem constituir advogado.
242
“Sempre houve crítica de parte da doutrina ao dispositivo ora estudado, sustentando a
sua não-aplicabilidade, com a manutenção da aplicação do art. 366 aos crimes de
lavagem, para que se assegure o princípio do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório. A parte final do dispositivo foi inserida pela lei 12.683/2012 e parece ter
resolvido esse problema, de forma que o acusado que não comparecer, nem constituir
advogado, deverá ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a
nomeação de defensor dativo.
A determinação da citação por edital e do prosseguimento do processo com a
nomeação de defensor dativo foi o meio pelo qual o legislador conciliou o dispositivo
legal com os princípios do contraditório e da ampla defesa, fazendo com o que o
processo tenha o seu curso normal, sem a sua suspensão prevista no art. 366 do
Código de Processo Penal e assegurando o contraditório e a ampla defesa do réu, por
meio de defensor nomeado para tal fim. Trata-se de medida semelhante à prevista no
art. 396-A, §2º do Código de Processo Penal, que determina a nomeação de defensor
ao acusado que, citado, não constituir defensor. Apesar de a lei dispor defensor
dativo, nos Estados em que houver Defensoria Pública, o exercício da defesa do
acuso caberá ao Defensor Público.”(HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. Volume Único,
10. Ed. Ver., atual. E ampli. – Salvador: Juspodivm, 2018, p. 600).

DIREITO PENAL - ANDRÉ UBALDINO


ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO

1) O CP trata sobre os erros sobre os pressupostos fáticos sobre a causa de excludente de ilicitude. Nesse
caso, há um erro de tipo permissivo ou uma discriminante putativa por erro de proibição?
R: Segundo a teoria limitada da culpabilidade (adotada pelo CP), o erro sobre os pressupostos fáticos de uma causa de
justificação (situação descrita no artigo 20, §1º) constitui erro de tipo permissivo (descriminante putativa por erro de tipo),
com exclusão do dolo, mas podendo subsistir a culpa. Aqui o erro relaciona-se com o fato típico. Já o erro sobre a
existência ou sobre os limites de uma causa de justificação são erros de proibição indireto (se inevitável, exclui a
culpabilidade; se evitável, reduz a pena).
Para a teoria estrita ou extremada da culpabilidade (não adotada pelo CP), qualquer erro sobre as causas de exclusão
da ilicitude (descriminantes) será erro de proibição (chamado de erro de proibição indireto), inclusive o erro sobre os
pressupostos fáticos, pois o dolo sempre permanecerá íntegro no tipo, de sorte que o erro está ligado à culpabilidade.
Ressalte-se, entretanto, que tais teorias são ramificações da teoria normativa pura da culpabilidade, sendo que a
diferença situa-se na natureza jurídica desta descriminante putativa (erro sobre os pressupostos fáticos).
Para uma terceira corrente, denominada de teoria da culpabilidade que remete à consequência jurídica, trata-se de erro
sui generis. Preconiza que o erro sobre os pressupostos fáticos (art. 20, §1º) não exclui o dolo (teoria limitada) nem pode
ser tratado como erro de proibição (teoria extremada), de sorte que considera haver erro sui generis, excludente da
culpabilidade dolosa e não da conduta dolosa. Com efeito, se o erro for inevitável, fica excluída a culpabilidade dolosa
(não o dolo) e a culpabilidade culposa, isentando o agente de pena; se evitável o erro, o agente, a despeito de ter agido
com dolo, sofrerá as consequências do crime culposo (culpabilidade culposa), se previsto em lei, ou seja, o agente
responde pela pena do crime culposo. (Fonte: sinopse Juspodivm: Alexandre Salim/Marcelo André).

2) Teoria limitada prevista na parte geral prevê que, na hipótese de um erro sobre os pressupostos fáticos,
estaríamos diante de um erro de tipo permissivo. Neste caso, não estaríamos então diante de uma exclusão do
dolo, e, por conseguinte, exclusão da tipicidade e isso não alcançaria também o concorrente?

243
R: O erro de tipo permissivo, ainda que envolva excludente de ilicitude, exclui o dolo e consequentemente a tipicidade.
Se o erro recai sobre os pressupostos fáticos da conduta, é um erro de tipo permissivo, portanto, o regramento é de erro
de tipo. Se for inescusável ou evitável, afasta apenas o dolo e responde pela culpa se houver previsão culposa. Se for
inevitável ou escusável, afasta dolo e culpa. Em relação ao concorrente, caso seja autor, por ser uma questão pessoal
do coautor, depende dele estar em erro ou não. Já em relação ao partícipe, ele está vinculado ao autor e, segundo a
teoria da acessoriedade limitada, responde apenas se o fato for típico e ilícito. Nesse caso, como a excludente excluiu a
ilicitude, o partícipe também não responderá.

3) Caso concreto. A se verdadeira tornaria sua ação legitima. Essa ameaça, portanto, não é real, e
plenamente justificada. Se A reagir, repelindo-a, ele terá excluída a tipicidade de sua conduta. Imagine agora que
B não sabia da ausência existência real da agressão, mas fornece os meios para que A aja. Ora, se excluída a
tipicidade para A, não estaria também excluída para B?
A hipótese continua sendo um erro de tipo permissivo, que afasta dolo e culpa se for inevitável. Caso B não saiba da
existência real da agressão e lesiona bem alheio, ele não estará abarcado por excludente de ilicitude, pois vigora a ideia
subjetiva que é necessário o conhecimento da injusta agressão ou ameaça para caracterização da legitima defesa. Se B
não sabia da ameaça e age, ainda que ela existisse, se ele não a conhece, ele responderá pelo crime.
Sobre o erro determinado por terceiros e concurso de pessoas, aduz Cleber Masson:
“ É possível que o agente provocador e o provado pelo erro atuem dolosamente quanto à
produção do resultado. Imagine-se o seguinte exemplo: “A pede emprestado a B um pouco
de açúcar para adoçar excessivamente o café de C.Entretanto, B, desafeto de C, entrega
veneno no lugar do açúcar, com a intenção de mata-lo. A famoso químico, percebe a
manobra de B, e mesmo assim coloca veneno no café de C, que o ingere e morre em
seguida. Ambos respondem por homicídio qualificado. (CP, art. 121, §2º, inc. III)) : A como
autor, e B na condição de partícipe.
E se, no exemplo acima, A age dolosamente e B culposamente?
Não há erro provocado, pois A atuou dolosamente. E também não há participação culposa
por parte de B, pois inexiste participação culposa em crime doloso. Enfim, não há concurso
de pessoas. A responde por homicídio doloso, b por homicídio culposo” (2015, p 342).

4) Conhece algum autor que faça essa crítica?


Há autores que criticam essa possibilidade, pois adotam uma teoria objetiva, se o sujeito age mesmo sem o
conhecimento da ameaça, existiria uma excludente da ilicitude.

5) O que é erro de tipo? Quais suas espécies e quais as consequências de sua configuração?
R: Erro de tipo é a falsa percepção da realidade acerca dos elementos constitutivos do tipo penal. O art. 20 do CP
somente menciona as elementares – é o chamado erro de tipo essencial. O instituto impede o agente de compreender o
aspecto ilícito do fato por ele praticado. Para Damásio E. de Jesus, contudo, erro de tipo é o que incide sobre
elementares e circunstâncias da figura típica, tais como qualificadoras e agravantes genéricas (erro de tipo acidental).
O erro de tipo tem por espécies o erro de tipo essencial e o erro de tipo acidental.
O erro de tipo essencial pode ser escusável ou inescusável:
a) Escusável, inevitável, invencível ou desculpável, é a espécie de erro que NÃO deriva de culpa do agente, ou seja,
mesmo que ele tivesse agido com a cautela e a prudência de um homem médio, ainda assim não poderia evitar a falsa
percepção da realidade sobre os elementos constitutivos do tipo penal.
b) Inescusável, evitável, vencível ou indesculpável, é a espécie de erro de provém da culpa do agente, é dizer, se ele
empregasse a cautela e a prudência do homem médio poderia evitá-lo, uma vez que seria capaz de compreender o
caráter ilícito do fato.
244
O erro de tipo, escusável ou inescusável, sempre exclui o dolo. De fato, como o dolo deve abranger todas as
elementares do tipo penal, resta afastado pelo erro de tipo. Por essa razão, Zaffaroni denomina erro de tipo de “cara
negativa do dolo”. Os efeitos variam conforme a espécie do erro de tipo. O escusável exclui o dolo e a culpa,
acarretando a impunidade total do fato, enquanto o inescusável exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo,
se previsto em lei (excepcionalidade do crime culposo). Excepcionalmente, todavia, pode acontecer de o erro de tipo,
ainda que escusável, NÃO excluir a criminalidade do fato. Esse fenômeno ocorre quando se opera a desclassificação
para outro crime.
O erro de tipo acidental é o que recai sobre dados diversos dos elementos constitutivos do tipo penal, ou seja, sobre as
circunstâncias (qualificadoras, agravantes genéricas e causas de aumento de pena) e fatores irrelevantes da figura
típica. A infração penal subsiste íntegra, e esse erro NÃO afasta a responsabilidade penal. O erro de tipo acidental não
afasta o dolo ou a culpa, não faz o agente julgar lícita a ação criminosa, tendo em vista que recai apenas sobre um
elemento não essencial do fato ou erra no movimento de execução (Aníbal Bruno).
São cinco as hipóteses de erro acidental: a) erro sobre o objeto (error in objecto) – o agente, tendo vontade e
consciência de praticar uma conduta que sabe ser penalmente ilícita, comete erro quanto à qualidade do objeto. Ex.:
queria furtar uma pulseira que supunha ser de ouro, mas não passava de mera bijuteria. O erro é, portanto, irrelevante.
b) erro sobre a pessoa (error in persona) – o erro não recai sobre qualquer elementar, circunstância ou outro elemento
do tipo, mas sim sobre a identificação da vítima, o que não acarreta modificação na classificação do crime cometido pelo
agente: art. 20, §3o, do CP. Ex.: o agente queria matar seu pai, mas acaba confundindo-o e mata outra pessoa, responde
como se tivesse causado a morte do pai. c) erro na execução (aberratio ictus) – por ACIDENTE ou ERRO NO USO DOS
MEIOS, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, ATINGE PESSOA DIVERSA. Aqui aplica-se o §3 o
do artigo 20, que trata do erro quanto à pessoa, respondendo o agente como se tivesse atingido a vítima que pretendia
ofender. De acordo com o art. 73, do CP: Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado
o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do artigo 20 deste Código. No caso de ser também atingida a
pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do artigo 70 deste Código. Assim, se atingir também quem
pretendia ofender, aplicam-se as regras do concurso formal: Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos,
consoante o disposto no artigo anterior. d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) – fora dos casos de
acidente ou erro na execução do crime, sobrevier resultado diverso do pretendido. De acordo com o art. 74, do CP, o
agente responderá por culpa, se houver previsão legal: Ex.: sujeito arremessa pedra para destruir vitrine, mas erra o
alvo e atinge uma pessoa. Responderá por lesões corporais culposas, ficando afastada sua responsabilidade no que diz
respeito à tentativa de dano. Se ocorrer também o resultado pretendido, será aplicada a regra do concurso forma de
crimes (art. 70). e) aberratio causae – o erro reside na causa do resultado. Ex.: o sujeito, almejando matar a vítima por
afogamento, a arremessa do alto de uma ponte, vindo esta, contudo, após chocar-se com o pilar central, a falecer por
traumatismo craniano. Incluem-se nas hipóteses de aberratio causae as situações em que ocorre o chamado dolo geral.

6) O que é um delito putativo por erro de tipo? Quais suas consequências? Forneça alguns exemplos.
R: no erro de tipo, o agente não possui a vontade de cometer o delito, ou seja, realiza a tipicidade objetiva sem ter a
vontade de realizá-la (não há tipicidade subjetiva). No delito putativo, o agente possui vontade de cometer o delito, mas,
em face do erro, pratica uma conduta atípica. Dessa maneira, o delito putativo por erro de tipo ou delito de alucinação é
o crime imaginário ou erroneamente suposto, que existe exclusivamente na mente do agente. Ele quer praticar um
crime, mas, por erro, acaba por cometer um fato penalmente irrelevante. Ou seja, o agente possui consciência e vontade
de cometer o delito, mas, em face do erro acerca dos elementos da figura típica, pratica uma conduta atípica. Exemplos:
245
(1) “A” deseja praticar tráfico de drogas, mas por desconhecimento comercializa talco; (2) A, imaginando-se grávida e
com intenção de provocar autoaborto, ingere pílula abortiva. (Fontes: Cleber Masson e Alexandre Salim/Marcelo André)

7) Há um artigo do CP que diz que “o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”. A doutrina costuma fazer algumas críticas sobre
este artigo. O senhor poderia me dizer quais são elas?
Obs.: não encontrei respostas a questão. Se alguém puder debater no grupo.

GRUPO TEMÁTICO III

DIREITO CIVIL - BERTOLDO


PERSONALIDADE CIVIL

1) Discorra sobre a personalidade civil.


R: Nos termos do artigo 2º do CC, “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. A doutrina aponta que, aparentemente, a primeira parte do artigo diz
uma coisa (“a personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida”), e a segunda diz outra (“a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”). Isso porque sua leitura traz a seguinte dúvida: a pessoa natural
forma-se com o nascimento com vida ou com a concepção? A dúvida acentua-se ainda mais quando o sistema jurídico
reconhece em várias passagens direitos ao nascituro. Ex.1: artigo 7º do ECA; Ex.2: CC, art. 542 admite doação ao
nascituro; CC, art. 1.798 diz que o nascituro pode receber herança – o Código Civil reconhece direitos ao nascituro.
Ex.3: no direito do trabalho é reconhecido o direito à estabilidade da gestante, mesmo que desconheça o estado
gravídico no ato da despedida pelo empregador (súmula 244 do TST: “o desconhecimento do estado gravídico pelo
empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade”) – esse direito é do nascituro
e não da empregada. O nascituro pode exercer direitos, mas a personalidade supostamente só seria iniciada com o
nascimento com vida.
Diante disso, importa mencionar que surgiram 3 teorias explicativas para justificar a natureza jurídica do nascituro.
a) Teoria natalista: a personalidade só é adquirida pelo nascimento com vida (Silvio Rodrigues). Para esta teoria, o
nascituro não tem direitos, mas sim mera expectativa de direitos. A teoria natalista exige, para que tenhamos uma
pessoa física, a presença simultânea de dois requisitos: (i) o nascimento; (ii) e que este nascimento tenha sido com vida.
Se não houve ainda nascimento, não há pessoa, pois o nascituro, para a teoria natalista, não é pessoa. Se houver o
nascimento (no sentido de saída do feto do corpo feminino), mas sem vida, tampouco estivemos diante de uma pessoa.
Esta teoria peca ao ignorar os direitos ao nascituro, pois, como vimos, o nosso ordenamento jurídico traz direitos a ele.
Aponta-se que o CC (art. 2º) parece ter se filiado à teoria natalista, ressalvando, entretanto, desde a concepção, os
direitos do nascituro. O próprio STF, ao julgar a ADI 3510, embora não tenha sido explícito e os votos tenham divergido
muito entre si, parece ter adotado a teoria natalista.
b) Teoria concepcionista: a personalidade é adquirida pela concepção uterina (antes, portanto, do nascimento
com vida). Com isso, o nascituro já titulariza direitos da personalidade, embora os direitos patrimoniais estejam
condicionados ao nascimento com vida – evento futuro e incerto (Pablo Stolze, Francisco Amaral, Cristiano Chaves,
Nelson Rosenvald, Felipe Peixoto Braga Neto, Silamara Chinelato, Flávio Tartuce). Assim, a doação e a herança ao
nascituro ficam condicionadas ao nascimento com vida, pois são direitos patrimoniais. O Pacto de São José da Costa
Rica, no art. 4.1, estabelece que “toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido por
lei, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”. Cristiano Chaves,
Nelson Rosenvald, Felipe Peixoto Braga Neto, afirmam que há, para o nascituro, o direito de nascer e, mais, a proteção
civil-constitucional seria tanto maior quanto mais avançada estivesse a gravidez. Nesse sentido, o nascituro seria
246
pessoa em formação, pessoa num estágio peculiar e próprio de desenvolvimento. Assim, o nascituro tem personalidade
desde a concepção. Apenas certos efeitos de certos direitos, ou seja, os patrimoniais materiais (apreciáveis
economicamente), dependem do nascimento com vida, como o direito de receber doação e de receber herança. Os
direitos absolutos da personalidade, como o direito à vida, o direito à integridade física e à saúde, independem do
nascimento. Portanto, se o pai falecer, estando grávida a mulher, deverá ser nomeado curador para o nascituro, se a
mulher não tiver o poder familiar (CC, art. 1.779). Não só isso. No plano legislativo, nossa legislação admite os
chamados alimentos gravídicos. Em sede jurisprudencial, o STJ já reconheceu dano moral ao nascituro (REsp
1.487.089) no conhecido caso do humorista Rafinha Bastos x Wanessa Camargo. Muito antes disso, o STJ já afirmara
que o nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai (REsp 399.028).
c) Teoria condicionalista ou da personalidade condicional: a personalidade do nascituro é meramente formal e
condicionada ao nascimento com vida (condição suspensiva). Para esta teoria, os direitos patrimoniais do nascituro
estão condicionados ao nascimento com vida, malgrado já disponha de direitos da personalidade (Maria Helena Diniz,
Washington de Barros Monteiro).
A teoria condicionalista foi encabeçada pela professora Silmara Juny Chinelato, que escreveu um livro intitulado “tutela
civil do nascituro”. Ela percebeu que a segunda e terceira teorias dizem rigorosamente a mesma coisa. A teoria
concepcionista parte da premissa que o nascituro tem personalidade desde a concepção, pois já tem direitos da
personalidade, porém, esta teoria entende que os direitos patrimoniais estão condicionados ao nascimento com vida. Já
a teoria condicionalista reconhece que o nascituro tem personalidade formal, pois está condicionada ao nascimento com
vida exatamente pelo fato de os direitos patrimoniais estarem condicionados, apesar de ele já exercer os direitos da
personalidade. A diferença entre uma e outra teoria é somente de adjetivação (qualificação), e nada mais. Para a teoria
concepcionista, o adjetivo já pode ser personalidade, e para a teoria condicionalista há personalidade condicional. Estas
duas teorias estabelecem um ponto comum indiscutível: o nascituro já titulariza os direitos da personalidade, mas os
direitos patrimoniais estão condicionados.

NATALISTA CONDICIONALISTA CONCEPCIONISTA


A personalidade jurídica só A personalidade civil começa A personalidade jurídica se inicia
se inicia com o nascimento. com o nascimento com vida, com a concepção, muito embora
O nascituro não pode ser mas o nascituro titulariza alguns direitos só possam ser
considerado pessoa. Só será direitos submetidos à condição plenamente exercitáveis com o
pessoa quando nascer com suspensiva (ou direitos nascimento.
vida. eventuais). O nascituro é pessoa desde o
momento em que ele é concebido
(o nascituro é um
sujeito de direitos).
O nascituro tem apenas O nascituro possui direitos sob O nascituro possui direitos.
expectativa de direitos. condição suspensiva.
Sílvio Rodrigues, Caio Mário, Washington de Barros Monteiro, Pablo Stolze, Francisco Amaral,
Sílvio Venosa. Arnaldo Rizzardo, Maria Helena Cristiano Chaves, Flávio Tartuce e
Diniz e Simlara Chinellato. maioria da Doutrina.

Afirma Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald, Felipe Peixoto Braga Neto que a diferenciação entre as teorias
concepcionista e natalista, no entanto, não traduz – em linha de princípio – maior relevância pragmática, sendo no
entanto rica na perspectiva acadêmica. É que o próprio CC já se apressa em esclarecer que a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro, querendo dizer que, embora, tecnicamente, o nascituro não seja pessoa, ele é
protegido como se o fosse. Isso não apenas no direito civil, mas também no direito penal (que pune o aborto), no direito

247
processual civil (que possibilita que a ação de alimentos, por exemplo, seja proposta por nascituro, representado pela
mãe).
Por fim, cabe mencionar que a prova do nascimento com vida, de acordo com a medicina, decorre da
presença de ar nos pulmões. O procedimento que constata a presença de ar nos pulmões chama-se Docimasia
Hidrostática de Galeno.

2) O natimorto tem personalidade?


R: Sim. Como o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a concepção, o natimorto tem sim direito da
personalidade. Neste sentido, o Enunciado 1 da Jornada do Direito Civil: A proteção que o Código defere ao nascituro
alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura. Portanto, o
natimorto tem direitos da personalidade, pois eles foram adquiridos com a concepção.

3) O natimorto tem direito ao nome?


R: Sim. Considerando que o natimorto tem direitos da personalidade, pois eles foram adquiridos com a concepção, ele
possui direito ao nome, que é um direito da personalidade com propósito de identificação de alguém na sociedade.
Cuida-se de um sinal (elemento de identificação) que individualiza a pessoa, fazendo com que ela seja diferenciada dos
demais membros da família e da sociedade.

4) Cite algum exemplo de direito à integridade intelectual.


R: Os direitos da personalidade na dimensão intelectual protegem o elemento criativo, tão próprio da inteligência
humana. São as projeções da criatividade humana, como a liberdade de pensamento, o direito autoral e o direito ao
invento.
Obs: A classificação dos Direitos da Personalidade deve se fazer considerando-se os aspectos fundamentais da
personalidade, ou seja, o físico, o intelectual e o moral. De forma que, os direitos da personalidade, podem ser
classificados em: Direito à integridade física, Direito à integridade moral e Direito à integridade intelectual. Vejamos cada
um deles. O direito à integridade física consiste na proteção jurídica à vida, ao corpo humano, ao cadáver e à liberdade
pessoal de submeter-se ou não a exame e tratamento médico. O direito à integridade intelectual consiste na proteção à
liberdade de pensamento e no direito autoral, ou seja, consiste no poder que as pessoas têm de vincular seu nome às
produções de seu espírito, tendo a garantia de publicar, reproduzir e explorar, tal produção, punindo aqueles que dele se
apropriarem., indevidamente. O direito à integridade moral corresponde à proteção pertinente à pessoa, no que diz
respeito à sua honra, liberdade, recato, imagem e nome. Honra é a dignidade pessoal e a consideração que a pessoa
desfruta no meio em que vive. É o conjunto de predicados que lhe conferem consideração social e estima própria. É a
boa reputação.

5) E a integridade moral?
R: O direito à integridade moral corresponde à proteção pertinente à pessoa, no que diz respeito à sua honra, liberdade,
recato, imagem e nome. Honra é a dignidade pessoal e a consideração que a pessoa desfruta no meio em que vive. É o
conjunto de predicados que lhe conferem consideração social e estima própria. É a boa reputação.

6) O CC diz que ninguém pode ser submetido a tratamento médico que acarrete risco de vida. Qual direito à
personalidade está sendo protegido?
R: O direito à integridade física, que consiste na proteção jurídica à vida, ao corpo humano, ao cadáver e à liberdade
pessoal de submeter-se ou não a exame e tratamento médico.

7) Com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a curatela não poderia incidir sobre os atos
existenciais. O senhor poderia me dizer o que seriam os atos existenciais?
248
R: Atos existenciais são aqueles diretamente relacionados com os direitos de personalidade e a dignidade da pessoa
humana. O Estatuto da Pessoa com Deficiência prevê expressamente em seu artigo 85:
Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
§ 1o A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à
educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
Desse modo, pode-se afirmar que a curatela abrange apenas direitos de caráter patrimonial e negocial, estando
excluídos atos relacionados a própria individualidade e autonomia do ser humano, tendo em vista que com o advento do
Estatuto de Defesa da Pessoa com Deficiência ocorreu uma mudança paradigmática no ordenamento jurídico brasileiro,
pois o portador de deficiência não é mais considerado como incapaz.

PROCESSO CIVIL - ADRIANO CARDOSO DA SILVA


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

1) Explique as mudanças nos procedimentos possessórios envolvendo ocupações populares trazidas pelo
CPC/15.
A regulamentação do litígio coletivo pela posse de imóvel (art. 565 NCPC) é uma novidade do Novo CPC. Criou-se uma
audiência de mediação obrigatória antes da concessão da liminar, a ser feita em até 30 dias da propositura da ação.
Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de
Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre
seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.
Além desses órgãos, essa audiência terá a participação obrigatória do MP (art. 565, §2º), bem como da Defensoria,
desde que tenha no processo parte beneficiária da gratuidade da justiça (art. 565, §2º).
Concedida a liminar, se no período de um ano da concessão, ela não for executada, deverá ser marcada uma nova
audiência. Esse um ano, pela lei, é da distribuição do processo. Todavia, a doutrina recomenda a contagem do
deferimento da liminar.
Nos termos do art. 565, §3º, o juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à
efetivação da tutela jurisdicional. Daniel Assumpção afirma que o dispositivo é inútil, pois esse poder está inserido nos
poderes instrutórios em geral.

2) Como ficou a citação dos ocupantes?


No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal
dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais (art. 554, §1º do CPC/2015). Para fim
da citação pessoal prevista no § 1o, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por
edital os que não forem encontrados (§2º).

3) Participação da DP será obrigatória?


A participação da Defensoria Pública será obrigatória se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica

4) E quanto ao MP?
O Ministério Público será intimado em todas as ações possessórias em que figurem no polo passivo grande número de
pessoas.

5) Quais as diferenciações procedimentais entre os procedimentos familiares em relação ao comum? As


audiências conciliatórias ou de mediação são obrigatórias neste procedimento especial?

249
 Maior valorização das formas de resolução consensual do conflito:
- todos os esforços serão empreendidos para a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do
auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação.
- o juiz pode suspender o processo a requerimento das partes que estiverem tentando se conciliar. Não há
prazo, trata-se de suspensão que não se confunde com a do art. 313, II, do CPC.
- não há previsão de que, se as duas partes não quiserem, não haverá conciliação. Assim, a maior parte da
doutrina defende que a audiência de conciliação e mediação é indispensável.
- a audiência de mediação e conciliação poderá dividir-se em tantas sessões quantas sejam necessárias para
viabilizar a solução consensual, sem prejuízo de providências jurisdicionais para evitar o perecimento do
direito.
- não havendo acordo, seguir-se-á no procedimento comum.

 Citação
- o mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar desacompanhado de
cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de examinar seu conteúdo a qualquer tempo  tentativa de
diminuir a litigiosidade.
- a citação deve ser providenciada em até 15 dias antes da audiência.
Obs: No procedimento comum, o réu deve ser citado com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência (art. 334
do CPC/2015).
- na audiência, as partes devem estar acompanhadas de seus advogados/defensores.
Obs: Daniel Assumpção defende que, em caso de ausência, deve ser aplicado o princípio da instrumentalidade
das formas e somente declarada nulidade se houver prejuízo.

 Depoimento do incapaz sobre fato relacionado a abuso ou à alienação parental


- O Juiz, nesse caso, deverá estar acompanhado por especialista.

Informações adicionais: O Capítulo X (Das Ações de Família) do NCPC regulamenta os procedimentos das ações
CONTENCIOSAS de família, notadamente: divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda,
visitação e filiação.
Aplica-se, ainda, SUBSIDIARIAMENTE, às ações de alimentos (primeiro aplica Lei n. 5478/68) e nas quais versar sobre
interesse da criança e do adolescente (primeiro aplica o ECA).

6) O MP tem obrigação de participar deste procedimento especial de ação de família?


Nos termos do art. 698 do CPC/2015, nas ações de família, o Ministério Público somente intervirá quando houver
interesse de incapaz e deverá ser ouvido previamente à homologação de acordo.

7) É possível a propositura pelo cônjuge de embargos de terceiro para a defesa de sua meação?
Sim. Na esteira do art. 674, §1º do CPC/2015, o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou
de sua meação, são considerados terceiros para ajuizamento dos embargos, ressalvado o disposto no art. 843 4

4
Art. 843. Tratando-se de penhora de bem indivisível, o equivalente à quota-parte do coproprietário ou do cônjuge
alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.
§ 1o É reservada ao coproprietário ou ao cônjuge não executado a preferência na arrematação do bem em
igualdade de condições.
§ 2o Não será levada a efeito expropriação por preço inferior ao da avaliação na qual o valor auferido seja incapaz
de garantir, ao coproprietário ou ao cônjuge alheio à execução, o correspondente à sua quota-parte calculado
sobre o valor da avaliação.

250
DIERLE
8) Quais os tipos de diferenciação procedimental que temos no atual sistema processual?
A regra do sistema judicial brasileiro sempre foi a da rigidez procedimental, isto é, por questões de segurança e
previsibilidade, o procedimento processual só pode ser criado ou alterado por lei (federal ou estadual), de modo que
não seria lícito ao juiz surpreender as partes com inovações no rito. Todavia, mais modernamente, tem sido sustentado
que, não havendo procedimento legal adequado para a tutela do direito ou da parte, compete ao juiz providenciar esta
operação para compatibilizar o procedimento às garantias constitucionais do processo, promovendo flexibilização
procedimental. A doutrina estrangeira chama essa flexibilização de princípio da adaptabilidade ou da elasticidade.
Existem 3 condições principais para o uso do princípio da adaptabilidade: (i) Regime de exceção: o seu uso só é
possível frente a uma particularidade justificadora. (ii) Observância do princípio do contraditório: as partes têm de ser
previamente avisadas. (iii) Observância e não afastamento das regras do processo constitucional: não se pode, sob o
fundamento de flexibilizar, prejudicar garantias constitucionais. Somente é permitida a potencialização das garantias.
“Fernando Gajardoni Fonseca, classifica a flexibilização procedimental em três sistemas: os da flexibilização por força de
lei, da flexibilização procedimental judicial e da flexibilização voluntária das regras de procedimento. No primeiro, a
flexibilização pode ser "legal genérica", em que a norma admite a variação do procedimento a critério do juiz ou,
"alternativa", em que se permite ao magistrado optar, dentre as opções previamente estabelecidas em lei, pelo
procedimento que melhor se adeque à demanda. No segundo, frente a inexistência de previsão legal, o magistrado tem
ampla liberdade na conformação do procedimento, devendo ele determinar os atos processuais que o deverão compor.
Por fim, no terceiro sistema, a flexibilização do procedimento "parte dos litigantes, competindo ao juiz papel secundário
de controle da legalidade e, especialmente, da razoabilidade da opção eleita". (...) Por outro lado, o novo Código
processual brasileiro prevê algumas hipóteses de flexibilização no art. 139, em que se permite a dilatação de prazos e a
alteração da ordem de produção dos meios de prova pelo juiz (flexibilização legal genérica) e no art. 190 o legislador
admite mudanças no procedimento, em casos que admitam a autocomposição, por convenção das partes (flexibilização
voluntária das regras de procedimento)” (Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/
bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.254.20.PDF).
Outros exemplos de diferenciação procedimental seriam: o art. 153 do Estatuto da criança e do Adolescente (Lei n.
8.069/90), o art. 723, parágrafo único do CPC (jurisdição voluntária), art. 21 e § 1º da Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/96),
art. 6º da lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), e a atipicidade das medidas executivas nas obrigações de fazer,
não fazer e dar coisa (Disponível em: http://www.arcos.org.br/periodicos/revista-eletronica-de-direito-processual/volume-
vi/flexibilizacao-procedimental#topo).

Outras informações interessantes sobre o tema: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/novo-cpc/alfaiataria-


no-novo-cpc-a-flexibilizacao-do-processo-e-do-procedimento-na-lei-13-1052015-09112015

9) Quem pode fazer a adequação do procedimento no NCPC?


O CPC/2015, em especial em seu artigo 190, abre-se à possibilidade da realização de adequações procedimentais
pelas partes, ora sozinhas, ora em conjunto com o juiz, buscando a construção de procedimentos aptos a ensejar um
processo constitucionalizado efetivo (e adequado) para a resolução do conflito. Do mesmo modo, no intento de
oportunizar uma melhor adequação do procedimento ao caso concreto, o código autoriza às partes disporem sobre seus
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais.

10) Existe a possibilidade de propositura de ação monitória pura no Brasil?


Não! Há duas espécies de ação monitória: ação monitória pura e ação monitória documental. Fala-se em ação
monitória pura aquela cujo procedimento não exige prova escrita, bastando apenas a análise da verossimilhança das

251
alegações do autor. Por sua vez, na ação monitória documental, as alegações trazidas pelo pretenso credor devem
estar acompanhadas de prova escrita.
No ordenamento jurídico brasileiro, apenas é aceita a ação monitória documental. Nesse sentido:
“(...) o direito brasileiro, fortemente influenciado pelo direito italiano, adotou o procedimento monitório documental, ao
exigir do autor a apresentação de uma prova literal capaz de demonstrar a verossimilhança de sua alegação de
existência do direito de crédito que alega ter contra o réu. Preferiu não adotar o procedimento monitório puro, por meio
do qual basta a alegação da parte de que o direito de crédito existe, dispensando-se qualquer produção probatória pelo
autor no momento de propositura da demanda. A já tradicional e triste “malandragem brasileira”, também conhecida
como “Lei de Gerson” (embora aqui com injustificada injustiça ao nosso “canhotinha de ouro”), faz crer que a opção do
legislador brasileiro foi realmente a mais adequada (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual
civil: volume único. 8. ed. Salvador: Jus Podivm, 2016, p. 1690).”

11) Como esse procedimento funciona?


O procedimento da ação monitória concede a oportunidade ao credor que, munido de uma prova literal representativa
de seu crédito, porém sem eficácia de título executivo, possa abreviar o iter processual para a obtenção de um título
executivo.
Trata-se de uma faculdade desse credor, que, todavia, pode optar pelo ajuizamento da ação de conhecimento.
Em verdade, nada impede que havendo título executivo se opte pela monitória, em analogia ao que determina o art. 785
do CPC.
É chamado de procedimento monitório documental, pois o legislador optou por exigir a prova escrita da probabilidade do
direito pleiteado.
Detalhes da ação monitória e do seu procedimento:
Hipóteses de cabimento: Nos termos do art. 700, do CPC a ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar,
com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz o pagamento de
quantia em dinheiro (inciso I); a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel (inciso II) e o
adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer (inciso III).
Petição inicial
- Segue as regras do art. 319 do NCPC, porém o NCPC, em seu art. 700 §2º cria requisitos específicos: (i) Memorial dos
cálculos que justifique a indicação da importância devida que deve constar na inicial (voltada para a ação monitória de
pagar quantia certa); (ii) Valor atual da coisa reclamada (voltada para ação monitória de entrega de coisa); (iii) Conteúdo
patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido (voltada para ação monitória de obrigações de fazer ou
não fazer).
- STJ entende que não precisa de causa de pedir, basta a referência ao documento  crítica da doutrina, que aponta
confusão do STJ entre ônus de alegar com ônus da prova.
Obs: Nessas três hipóteses, os valores indicados serão os valores da causa (art. 700, §3º do CPC)
Indeferimento da Petição Inicial
- Segundo o art. 700 §5º NCPC, se não cabível o procedimento monitório porque há dúvida da idoneidade do
documento, é possível a emenda a inicial, para converter a ação monitória em ação de procedimento comum.
Mandado monitório
- Se evidente o direito do autor, haverá a expedição de mandado monitório (art. 701)
- Existe grande divergência quanto à natureza desse pronunciamento do juiz:

 Decisão Interlocutória (Humberto Theodoro Jr.)  é criticada por quem defende a existência de mérito na
ação monitória e a ocorrência de coisa julgada.

 Sentença  crítica: poucos elementos cognitivos, cognição não exauriente.

252
 Depende: sem Embargos (Sentença) e com embargos (D. Interlocutória)  crítica: no lapso para saber se
haverá ou não embargos, essa decisão fica sem qualificação?

 Mero despacho  crítica: juiz aprecia regularidade formal e analisa probabilidade do direito para expedir
mandado monitório, então não pode ser mero despacho, há conteúdo decisório.
- Admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para o procedimento comum
- Expede-se o mandado monitório para que? Ele é uma ordem de cumprimento da obrigação em 15 dias. Nesses 15
dias o que o réu pode fazer? (i) Ele pode cumprir a obrigação  Nesse caso, há isenção de custas (forma de
execução indireta) mas não estará liberado totalmente do pagamento dos honorários, paga 5%. (ii) Inércia do réu  em
caso de inércia, nos termos do art. 701 caput do NCPC, aquela decisão da expedição do mandado monitório se constitui
de pleno direito em título executivo judicial, independentemente, de qualquer formalidade. Não se confunde esse efeito
com o da revelia, o qual tem por principal efeito a presunção de veracidade com chances do revel ainda se lograr
vitorioso. Aqui não há isso, há a formação do título executivo. (iii) Pedir o parcelamento do art. 916 do CPC (aplicável
à monitória conforme art. 701, §5, do CPC)  no prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e
comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o
executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e de juros de um por cento ao mês. (iv) Ingressar com os embargos ao mandado monitório
Embargos monitórios
- Eles podem ter qualquer matéria passível de alegação como defesa;
- Independe de garantia do juízo;
- Suspende a eficácia do mandado monitório;
- Se o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, precisa apontar o que entende correto, sob pena de
rejeição liminar, se esse for o seu único fundamento, e, se houver outro fundamento, os embargos serão processados,
mas o juiz deixará de examinar a alegação de excesso.
- Esses embargos são decididos por sentença recorrível por Apelação (art. 702, §9º do NCPC);
- Se houver o acolhimento dos embargos, ocorre a extinção da monitória; se houver a rejeição, a decisão que expediu o
mandado monitório se converte em título executivo judicial.

12) A Fazenda Pública pode ser ré neste procedimento?


Apesar da controvérsia doutrinária que existia na vigência do CPC/1973, com o advento do NCPC, a admissibilidade da
ação monitória em face da Fazenda Pública restou prevista expressamente no § 6o do art. 700.
Na verdade, o novo digesto processual incorporou o entendimento consolidado no STJ, exposto, inclusive, na S úmula
339 (“É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública”).

GRUPO TEMÁTICO IV

MATERIAL COLETIVO - JOAQUIM


DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

 Contextualização. O que são? Qual a origem desses direitos básicos? Onde estão definidos?
R: Nos termos, do art. 5º, inciso XXXII, da CF, a defesa do consumidor é um direito fundamental. O texto
constitucional ainda dispõe que a defesa efetiva dos interesses dos consumidores é princípio geral da ordem econômica
(art. 170, V). Além disso, o artigo 48 do ADCT determina a elaboração do CDC pelo Congresso Nacional em prazo de
120 dias, motivo pelo qual alguns autores asseveram ter o CDC raízes constitucionais. Nesse sentido, o artigo 6º do
Código de Defesa do Consumidor. Traz um rol numerus apertus (exemplificativo) dos direitos básicos do
consumidor, em virtude da natureza principiológica do CDC. E o artigo 7º deixa isso claro, sendo uma cláusula de
abertura.
253
 Por que o dia 15 de março é o dia do consumidor?
R: o Dia do Consumidor é celebrado anualmente em 15 de março para lembrar o discurso do presidente americano John
Kennedy no Congresso Americano em defesa do direito dos consumidores, o que abriu caminho para as atuais leis de
proteção ao consumidor. Na ocasião, elencou quatro direitos do consumidor: de ser ouvido, à segurança, à informação e
à escolha. Mais tarde, a data foi chamado de Dia Internacional dos Direitos do Consumidor.

 Me apresente 2 desses direitos básicos e apresente seus elementos essenciais e aplicação.


R: O art. 6º, inciso I, do CDC dispõe que são direitos básicos do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança
contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.
Os artigos 8º, 9º e 10 do CDC encontram estrita relação com o artigo 6º, inciso I.
Com base no artigo art. 8º, produtos ou serviços não poderão oportunizar riscos, salvo aqueles notadamente previsíveis
(periculosidade inerente). Assim, inicialmente o CDC trata de vida, saúde e segurança, demonstrando, dessa feita, que
os produtos/serviços não poderão oportunizar riscos à integridade/vida dos consumidores, salvo aqueles normalmente
previsíveis. Exemplo: uma faca é fabricada para realizar cortes. Ou seja, possui risco inerente à sua essência e
previsivelmente pode produzir um dano. Tal característica possibilita ao consumidor ingressar com uma ação contra o
fornecedor caso essa faca não tenha condições de efetuar cortes. Da mesma forma, outros serviços/produtos podem
apresentar riscos imanentes à sua natureza. Citem-se, por exemplo, determinadas cirurgias, alguns esportes radicais,
medicamentos, etc. Nessa conjuntura, será dever do fornecedor informar (dever de informar) o consumidor acerca dos
riscos, por força do princípio da transparência. Sobretudo, em se considerando que a ausência de informações pode
acarretar lesões à própria vida.
O art. 9º do CDC trata do fornecimento de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou
segurança dos consumidores. Aqui, os riscos não são normais e previsíveis, vale dizer, não são esperados pelos
consumidores. Desse modo, só podem ser evitados se houver informação adequada e ostensiva (é aquela explícita,
clara, incorporada ao produto ou serviço de forma tão manifesta que não pode ser ignorada por nenhuma pessoa de
inteligência mediana) sobre a periculosidade ou nocividade do produto ou serviço. O descumprimento desse dever de
informação pode resultar em responsabilidade civil objetiva do fornecedor (art. 12, caput, parte final) sem falar-se na
possibilidade de responsabilidade administrativa e criminal (art. 63).
O art. 10, caput, reflete a adoção da teoria do risco do negócio (da atividade). Os fornecedores não poderão colocar no
mercado produto ou serviço que “sabe ou deveria saber” serem nocivos ou perigosos à saúde ou segurança. O
dispositivo cuida da chamada periculosidade exagerada, assim considerada aquela cujo potencial danoso é tamanho
que nem mesmo a prestação de informações ostensivas e adequadas aos consumidores é capaz de mitigar seus riscos.
Já o inciso IV, do art. 6º, aduz que a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos
ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços.
Desvela-se como um dos incisos mais amplos do artigo 6º, haja vista falar sobre publicidade, práticas comerciais
abusivas e cláusulas abusivas, institutos regulamentados no CDC.

 Temos as normas técnicas que estabelecem padrão para material elétrico. Quais os direitos básicos aí
garantidos?
R: O art. 6º, inciso I, do CDC dispõe que são direitos básicos do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança
contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.

 Direito básico ao acesso ao consumo. O senhor atua como promotor numa comarca no Norte de Minas,
onde pessoas são privadas do consumo de bens essenciais. Quais seriam esses bens essenciais? Como

254
garantir, por meio de uso de mecanismos no Direito, o acesso a esses bens? (saia da abstração e me diga “o
quê” e “como”)
O direito de acesso ao consumo é um dos principais instrumentos de garantia do mínimo existencial, pois estabelece o
ato de consumir como forma de participação ativa do indivíduo na economia, e, por conseguinte, na vida em sociedade,
transformando-o, ao incluí-lo nos processos sociais, em cidadão. O direito ao consumo, como pressuposto efetivo da
justiça social, determina, destarte, em seu aspecto formal, que todos devem ter acesso aos bens indispensáveis a uma
vida digna, e em seu aspecto material, que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo proporcionem
uma melhoria na qualidade de vida do consumidor, sejam social e ambientalmente sustentáveis e permitam a liberdade
de escolha daquele que consome. (Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/8599)
O produto essencial é aquele que possui importância para as atividades cotidianas do consumidor não sendo razoável
exigir que o consumidor deixe seu produto essencial para conserto pelo prazo de 30 dias, quando o bem é fundamental
para desenvolver suas atividades. (BENJAMIM, MARQUES, BESSA, 2007)
A partir deste ponto de vista, é possível elencar como essenciais alguns produtos e serviços óbvios, tais como:
alimentos, medicamentos, fornecimento de água, de energia elétrica e serviço de telecomunicação. Em outras palavras,
produtos e serviços fundamentais para a sobrevivência digna de um consumidor.
(08/10/2016.www.pgadvogados.com.br/noticias/35/O+que+torna+um+produto+essencial%3F)
Para garantir o acesso a tais bens, é possível instaurar procedimento no âmbito extrajudicial para acompanhar a família,
oficiando a rede de apoio municipal, como CRAS e demais órgãos para que insiram tais indivíduos em programas
assistenciais e em cursos profissionalizantes, para que as pessoas tenham capacidade de acesso a esses bens, seja
pelo próprio esforço ou com auxílio da assistência social, preservando assim a dignidade de tais indivíduos.

 Direito a ser ouvido. Que ferramentas/institutos jurídicos/estratégias podem ser utilizados para se
garantir esse direito?
R: O direito a ser ouvido significa que os interesses dos consumidores devem ser levados em conta pelos governos no
planejamento e execução das políticas econômicas. Tal direito pode ser exercido através de audiências públicas, por
exemplo, através da qual os anseios sociais são conhecidos e a partir disso é possível estabelecer e planejar a
execução de políticas econômicas que atendam o anseio social.

 Para ouvir as pessoas sobre o quê? (Ex.: democracia no mercado. Veículos autônomos. Consumidor
tem direito a ser ouvido sobre isso?)
As pessoas devem ser ouvidas a respeito de seus interesses sociais, que devem ser levados em conta para elaboração
de políticas econômicas.
Pessoal, em relação a veículos autônomos, achei apenas o seguinte artigo:
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-do-tozzinifreire/carros-autonomos-aspectos-juridicos-no-brasil-
10042018

 Existe democracia no mercado?


Sim, a democracia no mercado existe através da escolha do consumidor.
Toda vez que uma pessoa entra no supermercado e escolhe um produto, ela elege aquele produto como a que melhor
atende sua necessidade e efetua seu voto ao compra-lo. No mercado, são os lucros e prejuízos que sinalizam as
preferências dos indivíduos e permitem que investimentos sejam feitos naqueles setores nos quais a demanda é mais
urgente. Investimentos ruins são deficitários e recebem menos investimentos futuros; investimentos bons sinalizam boas
[4]
oportunidades de negócios, atraindo mais recursos para aquele fim. É também observável as consequências sobre
aqueles que não conseguem agradar seus eleitores, os consumidores. Os falíveis CEOs são rapidamente afastados

255
pelo mercado de ações quando não alcança bons resultados com os eleitores/consumidores, ao invés de esperar a
morosidade burocrática para o impedimento ou retirada de um político que não agrada aos eleitores. Para as empresas
serem lideradas de forma democrática e, se necessário, punidas por seus clientes ou, como disse Mises, por
consumidores soberanos em todos os lugares por meio do ostracismo. As escolhas, acertadas ou não, incorrem
consequências apenas sobre que as fez. Se foram erradas, logo terão oportunidade de consertar, se foram acertadas,
haverá satisfação. Como disse Milton Friedman: “As urnas geram conformidade sem unanimidade; o mercado gera
unanimidade sem conformidade. É por essa razão que é desejável usar urnas, tanto quanto possível, somente para
aquelas decisões nas quais a conformidade é essencial. ”5

COLETIVO - GIOVANNI MANSUR SOLHA PANTUZZO


INTERVENÇÃO DE TERCEIRO NO PROCESSO COLETIVO

1) Oposição.
O que é?
“A oposição pressupõe que alguém pretenda, no todo ou em parte, o mesmo objeto (coisa ou direito) sobre o qual
controvertem autor e réu (art. 56 do CPC/1973). A oposição consiste na dedução dessa pretensão em juízo, pelo
titular da pretensão (opoente), de um lado, em face do autor e o réu (opostos), de outro” (ANDRADE, Adriano;
MASSON, Cleber Rogério; ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos: esquematizado. 5. ed. rev., atual. e
ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015, p. 240).

Informações adicionais:

 A oposição vinha prevista no CPC/1973 como espécie de intervenção de terceiro, mas sempre houve
debate doutrinário a respeito de sua real natureza.

 O Novo Código de Processo Civil retirou a oposição do rol das intervenções de terceiro típicas e a colocou
no rol dos procedimentos especiais.

 A oposição possui natureza de ação.

Até em que momento processual pode ser oferecida?


Nos termos do art. 682 do CPC/2015, a oposição poderá ser oferecida “até ser proferida a sentença”. Isso porque, se
admitido o processamento, a oposição será apensada aos autos e tramitará simultaneamente à ação originária, sendo
ambas julgadas pela mesma sentença (art. 685).

É cabível no bojo de uma ação civil pública?


“(...) oferecida a oposição, acresce-se à relação processual original, que se dava entre autor e réu da ação, uma nova
relação processual, na qual o autor e o réu da ação original passam a figurar no polo passivo, na condição de opostos.
Ocorre que o autor das ações civis públicas é legitimado extraordinário, defendendo direito alheio em nome próprio. E,
ressalvadas opiniões em contrário, a legitimidade extraordinária a ele outorgada pela LACP (art. 5.º) e pelo CDC (art. 83)
não abrange a atuação no polo passivo, mas apenas no ativo. Logo, não nos parece possível a incidência da
oposição no processo coletivo, por não ser possível aos autores das ações civis públicas defenderem direito
alheio em nome próprio no polo passivo de uma relação processual. (ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber
Rogério; ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos: esquematizado. 5. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015, p. 240).

5
https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_de_mercado
256
2) Denunciação da lide.
O que é?
“A lei não prevê expressamente o conceito de denunciação da lide, dando início ao seu tratamento no art. 125 do Novo
CPC, já por suas hipóteses de cabimento. Partindo dessas hipóteses de cabimento, a doutrina ficou encarregada de
conceituar o instituto. Serve a denunciação da lide para que uma das partes traga ao processo um terceiro que
tem responsabilidade de ressarci-la pelos eventuais danos advindos do resultado desse processo. O direito
regressivo da parte contra terceiros (ou excepcionalmente contra a própria parte contrária), portanto, é o fator principal
que legitima a denunciação da lide.
A denunciação da lide é uma espécie de intervenção coercitiva , estando vinculado o denunciado à demanda em
razão de sua citação, pedida tempestivamente por autor ou réu.
(...)
Segundo autorizada doutrina, a denunciação da lide é uma demanda incidente, regressiva, eventual e antecipada:
(a) incidente porque será instaurada em processo já existente;
(b) regressiva porque fundada no direito de regresso da parte contra o terceiro;
(c) eventual porque guarda uma evidente relação de prejudicialidade com a demanda originária, considerando-se
que, se o denunciante não suportar dano algum em razão de seu resultado, a denunciação da lide perderá seu
objeto;
(d) antecipada porque no confronto entre o interesse de agir e a economia processual o legislador prestigiou a
segunda; afinal, não havendo ainda nenhum dano a ser ressarcido no momento em que a denunciação da lide ocorre,
em tese não há interesse de agir do denunciado em pedir o ressarcimento. Razões de economia processual,
entretanto, permitem excepcionalmente uma demanda sem interesse de agir.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Direito processual civil -Volume único. 9. ed.- Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 285/286).

É possível no processo coletivo?


A questão é controvertida na doutrina, existindo duas correntes:
2) Não há regra que proíba a denunciação da lide em causas coletivas. Assim, “cabe ao órgão julgador,
no caso concreto, verificar, após um juízo de ponderação se a denunciação da lide é ou não conveniente
para a duração razoável do processo e a eficiência. Não há, em relação à ação civil pública, nenhuma regra
especial quanto à admissibilidade da denunciação da lide (excetuada a possibilidade de extensão do
previsto no CDC, com as reservas que serão opostas abaixo)”. “(...) ponderadas as circunstâncias do caso
concreto, quando não houver ampliação da discussão em juízo que inviabilize ou torne excessivamente
difícil a tutela coletiva, caberá denunciação” (DIDIER JR. Fredie. ZANETI JR. Hermes. Curso de Direito
Processual Civil: processo coletivo. 12. ed. – Salvador: Ed. JusPodvm, 2018, p. 255). Nesse sentido,
também se posiciona Ada Pellegrini Grinover.
3) Não é admissível denunciação da lide em processo coletivo. “Duas são as razões daqueles que
defendem uma concepção restritiva na interpretação do art.125, II, CPC, na ação coletiva: a) as frequentes
situações em que, na ação civil pública, se pleiteia indenização com base em responsabilidade objetiva do
réu, impediriam que a denunciação da lide introduzisse discussão sobre a existência de culpa de terceiro
(art. 14, §1º, Lei nº 6.938/1981: indenização por danos ambientais; arts. 12 e 18 do CDC: indenização por
danos causados aos consumidores); b) relevância do direito litigioso, que merece um tratamento processual
privilegiado. Hugo Nigro Mazzilli, por exemplo, entende não ser possível a denunciação da lide, nas
hipóteses de responsabilidade regressiva. Também nesse sentido, Nelson Nery Jr., que, como visto, é
adepto de uma interpretação restritiva do inciso II do art. 125 do CPC”. (DIDIER JR. Fredie. ZANETI JR.
Hermes. Curso de Direito Processual Civil: processo coletivo. 12. ed. – Salvador: Ed. JusPodvm, 2018, p.
255/256)

257
Informações adicionais  Denunciação da lide em ações coletivas de consumo

“Apesar da inexistência de óbice legal genérico, a denunciação da lide é defesa em ações (sejam individuais,
sejam coletivas) movidas em face dos fornecedores, quando fundadas no fato do produto, por conta do que
dispõe o art. 88, c.c. o art. 13, parágrafo único, do CDC. Parte da doutrina sustenta que tal vedação, a despeito de
a remissão do art. 88 limitar-se ao art. 13 (que trata do fato do produto), aplicar-se-ia, também, ao fato do
serviço, sob o argumento de que, nas ações de reparação de danos provocados por serviço defeituoso, a possibilidade
de ingresso em juízo de outros responsáveis, contra a vontade do consumidor autor, poderia ser-lhe igualmente
prejudicial. A divisão doutrinária se reproduz na jurisprudência. No STJ, a 4.ª Turma sustenta que a vedação limita-se às
ações fundadas no fato do produto,260 ao passo que a 3.ª Turma, alterando seu entendimento anterior 241/1300 (que
era idêntico ao da 4.ª Turma), agora se posiciona no sentido de que a proibição se estende às hipóteses de fato do
serviço” (ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber Rogério; ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos:
esquematizado. 5. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015, p. 241/242).
Para Didier e Zaneti, o art. 88 do CDC veda, na verdade, o chamamento ao processo, uma vez que todos aqueles que
participam da cadeia produtiva (produtor, importador, distribuidor etc) possuem responsabilidade solidária. Tratando-se
de hipótese de responsabilidade solidária, a modalidade interventiva cabível é o chamamento ao processo (art. 130 do
CPC), e não a denunciação da lide. Assim, os referidos doutrinadores concluem que “somente é admissível, nas causas
de consumo, inclusive, coletivas, o chamamento ao processo de que cuida o inciso II do art. 101, CDC; as demais
hipóteses ficam proibidas, por força do art. 88 do CDC. Em relação à denunciação da lide, não há qualquer proibição em
tese: é no caso concreto, à luz de suas peculiaridades, que o problema deve ser resolvido” (DIDIER JR. Fredie. ZANETI
JR. Hermes. Curso de Direito Processual Civil: processo coletivo. 12. ed. – Salvador: Ed. JusPodvm, 2018, p. 257/260)

Qual a posição do STJ sobre essa questão?


“O STJ tem frequentemente repelido a denunciação da lide nas ações civis públicas fundadas na responsabilidade
objetiva do réu, quando a denunciação invoca a responsabilidade subjetiva de terceiro. Alega-se que a introdução da
discussão sobre a responsabilidade subjetiva tende a procrastinar a conclusão do processo, atentando contra os
princípios da celeridade e economia processual” (ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber Rogério; ANDRADE, Landolfo.
Interesses difusos e coletivos: esquematizado. 5. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2015, p. 242).
Nesse sentido:
(...)pacífico o entendimento desta Corte Superior a respeito da impossibilidade de
denunciação à lide quando a relação processual entre o autor e o denunciante é
fundada em causa de pedir diversa da relação passível de instauração entre o
denunciante e o denunciado, à luz dos princípios da economia e celeridade
processuais. Precedentes.
(AgRg no Ag 1213458/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 30/09/2010)

Outros julgados que inadmitiram a denunciação da lide, em ação civil pública:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LANÇAMENTO EM RIO DE ESGOTO SEM TRATAMENTO.


ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA PARA IMPOR À RÉ A REALIZAÇÃO DE OBRAS
PARA SOLUCIONAR O PROBLEMA. REQUISITOS DO ART. 273 DO CPC. REEXAME DE
PROVA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A DEFESA DOS DIREITOS
DIFUSOS.

258
I. O Ministério Público, segundo expressa disposição constitucional, tem legitimidade para
promover ação civil pública em defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos.
É destes interesses que se cuida no caso, pois visa o parquet a coibir o lançamento em rio de
esgoto não tratado, problema cuja solução, segundo procura demonstrar o autor, cabe à
recorrente.
II. O deferimento de antecipação dos efeitos da tutela não pode ser revisto em recurso
especial quando, para tanto, for necessário o reexame das provas que caracterizam a
verossimilhança da alegação e a iminência de dano grave irreparável. Aplicação da Súmula
n.º 7 desta Corte.
III. É incabível a denunciação da lide se o alegado direito de regresso não decorre de lei
ou contrato, mas depende ainda de apuração segundo as regras genéricas da
responsabilidade civil.
Assim sendo, não viola o art. 70, III, do Código de Processo Civil o acórdão que indefere
pedido de denunciação da Fazenda local sob o fundamento de que os deveres impostos ao
Estado pela Constituição Federal e pela Constituição Estadual não implicam o
reconhecimento automático do direito de regresso.
IV. Recurso especial improvido. (REsp 397.840/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/02/2006, DJ 13/03/2006, p. 186)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.


1. É parte legítima para figurar no pólo passivo da Ação Civil Pública a pessoa jurídica ou
física apontada como tendo praticado o dano ambiental.
2. A Ação Civil Pública deve discutir, unicamente, a relação jurídica referente à
proteção do meio ambiente e das suas conseqüências pela violação a ele praticada.
3. Incabível, por essa afirmação, a denunciação da lide.
4. Direito de regresso, se decorrente do fenômeno de violação ao meio ambiente, deve
ser discutido em ação própria.
5. As questões de ordem pública decididas no saneador não são atingidas pela preclusão.
6. Recurso especial improvido.
(REsp 232.187/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/03/2000, DJ 08/05/2000, p. 67)

3) Nomeação à autoria
Na ação coletiva para defesa de direito difuso dos consumidores ainda é possível o chamamento ao processo,
inobstante o instituto da nomeação a autoria não mais exista? Há previsão expressa no CDC do Chamamento ao
processo?
Nos termos do art. 101, inciso II do CDC, o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao
processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a
sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu
houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-
se, em caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada a denunciação
da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este.

Sobre o chamamento ao processo previsto no art. 101, II do CDC, Didier e Zaneti explicam que: “A intervenção com
base em contrato de seguro será, no mais das vezes, a denunciação da lide, porquanto não possua a empresa
259
seguradora vínculo de direito material com o adversário do denunciante-segurado. Sucede que o Código de Defesa do
consumidor, como forma de ainda mais bem tutelar os direitos do consumidor, criou uma figura do chamamento ao
processo em casos de seguro” (DIDIER JR. Fredie. ZANETI JR. Hermes. Curso de Direito Processual Civil: processo
coletivo. 12. ed. – Salvador: Ed. JusPodvm, 2018, p. 259).

4) Litisconsórcio facultativo.
O CPC prevê as hipóteses em que o litisconsórcio facultativo nas ações coletivas pode ser limitado quanto ao
número de litigantes. Quais são essas duas hipóteses? Em que fase do processo pode haver essa limitação?
Nos termos do art. 113, § 1 o do CPC/2015, o juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes
quando: (i) este comprometer a rápida solução do litígio ou (ii) dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
Essa limitação poderá ocorrer na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução.

5) Amicus curiae.
É uma hipótese de intervenção de terceiro?
Com o Novo Código de Processo Civil, o amicus curiae passou a ser tratado como hipótese típica de intervenção de
terceiro, estando inserido no Capítulo V do Título II (que trata da intervenção de terceiros).
É possível a participação do amicus curiae numa ação civil pública? Com base em quê?
(...) com o CPC-2015, a previsão de intervenção de amicus curiae foi generalizada. O art. 138 do CPC é claro ao permitir
a intervenção do amicus curiae em causas “relevantes” ou com “repercussão social”, características facilmente
encontráveis em processos coletivos.
Não há mais espaço para a discussão sobre o cabimento de intervenção do amicus curiae em processo
coletivo. Trata-se, assim, de mais um impacto positivo do CPC-2015 na tutela jurisdicional coletiva.
Na doutrina, há defesa de que a intervenção por amicus curae poderá ser utilizada para permitir a intervenção individual
dos membros do grupo no processo coletivo. Assim, os membros do grupo e as associações, entre outros interessados,
poderão indicar defeitos na atuação do colegitimado que ajuizou a ação ou colaborar cm sua atuação, fornecendo
dados, informações e esclarecimentos sobre o objeto do processo.
Essa abordagem tem uma série de vantagens: a) permite a participação do membro do grupo sem que ocorra discussão
sobre sua legitimidade, pois, “supera entraves dogmáticos, pragmáticos e políticos que dificultam a aceitação de
indivíduos como assistentes das partes no processo coletivo”; b) permite um amplo controle social da legitimação, afinal
“a participação de um amicus curiae retira do juiz e do Ministério Público, quando atua como custos legis, a
responsabilidade por controlarem sozinhos a adequação do representante”; c) amplia o contraditório, compreendido
como o direito de influência e dever de debates, o que fomenta uma decisão mais qualificada, pois “contribui para o
exercício do contraditório ao fomentar uma discussão multilateral. Afinal, não apenas os membros dos grupos afetados
podem participar do debate na qualidade de amicus curiae, mas qualquer pessoa que tenha um profundo interesse na
resolução da causa”. (DIDIER JR. Fredie. ZANETI JR. Hermes. Curso de Direito Processual Civil: processo coletivo. 12.
ed. – Salvador: Ed. JusPodvm, 2018, p. 250/251)

“Especificamente no que toca à participação do amicus curiae na ação civil pública, as seguintes hipóteses são
normalmente referidas: a. Art. 31 da Lei 6.385/1976, que dispõe que, em todo processo judicial que verse sobre matéria
de competência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), tal instituição deve ser intimada para, se quiser, oferecer
parecer ou prestar esclarecimentos. É o que poderá acontecer, por exemplo, nas ações civis públicas em que o
Ministério Público busca a reparação dos danos causados aos titulares de valores mobiliários; b. Art. 118 da Lei
12.529/2011 (anterior art. 89 da Lei 8.884/1994), que prevê que, nos processos judiciais em que se discuta a aplicação
dessa lei, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá ser intimado para, se quiser, funcionar como
assistente.” (ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber Rogério; ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos:
esquematizado. 5. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015, p. 244).
260
LIV Concurso do MPMG – 2014 – PROVA ORAL

Dia 01 – Ponto 16 – Danielle Mazzoni e Andre de Melo

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional
Examinador: Elaine Parisi

1. Você saberia distinguir princípios, normas e regras?


Norma jurídica é um imperativo de conduta, que coage os sujeitos a se comportarem da forma por ela esperada e
desejada, exprimindo um dever ser que resulta em uma consequência jurídica.
As normas se exprimem por meio de regras ou princípios.
Os princípios são normas com auto grau de abstração, cuja aplicação se dá através do sopesamento (Dworkin).
De acordo com Alexy, os princípios são mandamentos de otimização (normas que ordenam que algo seja
realizado na maior medida possível), Prima facie (os comandos são aceitos no primeiro momento e precisam de
verificações) e admitem diferentes graus de concretização.
As regras, por sua vez, são normas com baixo grau de abstração, aplicadas de forma direta e imediata aos casos
previstos em seu preceito. As regras são aplicadas à razão do "tudo ou nada" (Dworkin) e são consideradas por
Alexy como mandamentos definitivos: normas que são sempre satisfeitas ou não satisfeitas.

2. Havendo conflito entre um princípio e uma regra como ele deve ser solucionado?
As regras são geralmente resultantes do sopesamento pelo legislador de princípios e valores. A observância das
regras promove valores (previsibilidade, confiabilidade, segurança e eficiência) e princípios (justiça formal,
igualdade e democracia) fundamentais em um Estado Democrático de Direito. Por essa razão, havendo conflito
entre um princípio e uma regra, a regra deve em regra prevalecer, para que a voloração pessoal do aplicador não
substitua a escolha do legislador democraticamente eleito.
O afastamento da regra somente poderá ocorrer nos casos de: a) inconstitucionalidade; b) manifesta injustiça; c)
situações excepcionalíssimas que, por escaparem à normalidade, não poderiam ser previstas pelo legislador.
A não aplicação de regras válidas no caso concreto é conhecida como derrogabilidade (ou superabilidade). Nessa
hipótese, o interprete confere ao princípio da justiça e demais princípios que justificam o afastamento da regra um
peso maior do que ao conferido ao princípio da segurança jurídica e àqueles subjacentes à regra superada. A
ponderação não é feita propriamente entre o princípio e à regra, mas sim entre os princípios que fornecem razões
favoráveis ou contrárias à aplicação da regra.

3. Em que consiste o fenômeno da constitucionalização simbólica?


Marcelo Neves constrói o conceito de constitucionalização simbólica a partir do estudo da legislação simbólica,
que é aquela dotada de alto grau de ineficácia jurídica e de falta de vigência social, que há uma hipertrofia da
função político-simbólica em detrimento da força normativo-jurídica.
O autor elenca uma tipologia de legislações simbólicas:
a) fórmula de compromisso dilatório: a legislação surge em circunstâncias políticas
nas quais as partes envolvidas aprovam uma lei que sabidamente não resolveria o
conflito. Com isso, protela-se a resolução do problema;
b) confirmação dos valores sociais de um grupo: um grupo quer deixar claro que seus
valores são mais relevantes que os valores de um outro grupo;
c) legislação-álibi: o Estado age para acalmar (em situações, por exemplo, de comoção pública), buscando
demonstrar a sua capacidade de solucionar os problemas sociais. Entretanto, essa legislação não tem significado
prático relevante.
A Constituição simbólica, portanto, tem lugar no debate entre norma e realidade constitucional. A Constituição
simbólica revela um aspecto negativo, que consiste no déficit de concretização jurídico-normativa. O risco é que
esta constituição crie um simulacro da realidade, servindo para encobrir problemas sociais.

4. O que é uma constituição cesarista?


Constituição cesarista é aquela que decorre de um ato unilateral de vontade política soberana do governante,
mas que é submetida a plebiscito ou referendo, na tentativa de conferir-lhe aparente legitimidade. A participação
popular visa apenas ratificar a vontade do detentor do poder, o que a aproxima das constituições outorgadas e a
distancia das promulgadas.

5. O que significa recepção constitucional?


Pelo instituto da recepção, as normas antigas materialmente compatíveis com a Constituição nova serão
recepcionadas, sob novo fundamento de validade, para se evitar um vácuo normativo, que poderia tornar a nova
constituição inaplicável, por absoluta ausência de normas que possibilitassem sua incidência e densificação. O
fenômeno fundamenta-se nos princípios da continuidade da ordem jurídica e da supremacia da Constituição. O
controle quanto à recepção ou não é realizado através de ADPF.
De acordo com a teoria da recepção constitucional, a incompatibilidade formal superveniente, via de regra, não
impede que determinada norma seja recepcionada, apenas alterando o seu status. Foi ocorreu, por exemplo, com
o Código Tributário Nacional, recepcionado pela Constituição Federal de 1988 com o status de lei complementar.
A não recepção é exatamente o oposto: a eficácia negativa das normas constitucionais impede que as normas
antigas materialmente incompatíveis com a nova Constituição sejam recepcionadas e, portanto, válidas. Segundo
entendimento da teoria do controle de constitucionalidade, isso não se confunde com o fenômeno da
inconstitucionalidade, vez que a norma em questão, quando foi elaborada, tinha como
parâmetro uma Constituição anterior (princípio da contemporaneidade).
Os requisitos para a recepção de uma norma jurídica são: a) Estar em vigor no momento do advento da nova
Constituição; b) Não ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no ordenamento jurídico; c) Ter
compatibilidade formal e material perante a Constituição sob cuja regência foi editada (no ordenamento anterior);
d) Ter compatibilidade material com a nova Constituição, pouco importando a
compatibilidade formal.
Quando ocorre o deslocamento de competência federativas do ente menor para o maior, como, por exemplo, na
hipótese em que a competência legislativa municipal é atribuída aos Estados pela nova constituição, a legislação
anterior não pode ser recepcionada. Na hipótese inversa, a lei do ente maior deverá ser recepcionada como lei
dos entes menores até que elaborem suas respectivas leis.

6. Em que consiste o método concretista de interpretação das normas constitucionais?


Os intérpretes concretistas utilizam um procedimento similar ao aplicado no método tópico a partir do
posicionamento que para interpretar o caso concreto é preciso partir de critérios específicos utilizados diante do
problema e da norma jurídica a ser interpretada.
Porém, o método concretista abandonou a posição do método tópico no momento em que defende que o texto
constitucional deverá ser o referencial, o primado, diante do problema.
O método concretista se desdobra em três métodos específicos, desenvolvidos por Konrad Hesse, Friedrich
Muller e Peter Häberle.
A) Método Hermenêutico-concretizador de Konrad Hesse: Segundo Konrad, interpretação e aplicação
consistem em um processo unitário, são inseparáveis. Diversamente do método tópico-problemático, este método
não inicia no problema em sim, mas na pré-compreensão do sentido da norma, que deve ser, então, concretizada
para e a partir de uma situação histórica concreta.
Os elementos básicos desse método são: a) norma a ser concretizada; b) problema concreto a ser resolvido; c)
compreensão prévia do intérprete quanto à norma e quanto ao problema a ser resolvido.
A compreensão está ligada ao círculo de intérpretes, não é qualquer um que irá conseguir interpretar a
Constituição, sem uma compreensão prévia.

B) Método concretista-estruturante de Friedrich Müller: Na visão de Friedrich Müller, deve-se falar em


concretização da constituição e não interpretação, pois a interpretação é apenas uma das etapas da
concretização. O teor literal da norma é apenas a "ponta do iceberg" do problema interpretativo (concretizador).
Na concretização normativa, o operador deve considerar tanto os elementos resultante da interpretação do
programa normativo (diversidade de sentidos semanticamente possíveis do comando linguístico inserido no
texto normativo) quanto os decorrentes da investigação do domínio normativo (conjunto de domínios reais,
fáticos, abrangidos em função do proprograma fnormativo, isto é, a realidade social que o texto intenta
conformar). O resultado do conjutno formado pelo programa normativo é a norma jurídica.
Müller diferencia norma e texto normativo. O texto não possui normatividade. Não é lei, apenas a forma da lei.
Atua como diretriz e limite das possibilidades legais de uma determinada concretização material do direito. A
normatividade, como um processo estruturado que se manifesta nas decisões práticas, não decorre somente do
texto da norma, mas também de numerosos elementos, tais como: a) Elementos metodológicos (Métodos
Interpretativos clássicos, Princípios Interpretativos da constituição, problemas da lógica formal e da axiomatização
do direito constitucional); b) Elementos do âmbito da norma; c) Elementos dogmáticos (Doutrina e jurisprudência);
d) Elementos teóricos (filosofia, poder constituinte, soberania popular); e) Elementos de Política Constitucional
(ex: reserva do possível).

C) Método Concretista da Constituição Aberta de Peter Häberle: o foco do trabalho de Peter Häberle não
está direcionado para os procedimentos a serem utilizados na interpretação constitucional, mas sim para os
sujeitos que dela participam. Peter Häberle propõe uma abertura do círculo de interpretes da Constituição,
como consequência da necessidade de integração da realidade no processo de interpretação constitucional.
Quanto mais pluralista for a sociedade, mais abertos devem ser os critérios interpretativos. Ainda que o tribunal
constitucional seja considerado o intérprete definitivo, com a prerrogativa de dar a última palavra sobre como a
constituição deve ser interpretada, todo aquele que vive no contexto regulado por uma norma constitucional
(cidadãos, grupos sociais, igrejas, sindicatos) seria um legítimo intérprete ou, ao menos, um cointérprete.
Para Bonavides, o método concretista da constituição aberta exige um sólido consenso democrático, instituições
fortes e uma cultura política desenvolvida, pressupostos estes não encontrados em sistemas sociais e políticos
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
No controle de constitucionalidade brasileiro, foram introduzidos dois importantes instrumentos de abertura da
interpretação da constituição: a figura do amicus curiae e as audiências públicas, que tornam a interpretação mais
democrática e garantem uma maior legitimidade às decisões.

7. O que é a interpretação autêntica da Constituição?


A interpretação autêntica é aquela realizada pelo próprio órgão que editou a norma a ser interpretada, declarando
seu sentido, alcance e conteúdo, por meio de outra norma jurídica. É chamada de contextual quando vem inserida
no próprio texto interpretado, ou posterior, quando elaborada para esclarecer o sentido duvidoso da lei já
publicada.
As leis interpretativas não traduzem usurpação das atribuições institucionais do judiciário e não se revelam
espécies normativas imunes ao controle jurisdicional, podendo ser elas próprias interpretadas por juízes e
tribunais.
A interpretação autêntica da Constituição somente pode ser feita por outra norma constitucional, jamais pelo
legislador ordinário.
Para Kelsen, contudo, sempre é autêntica a interpretação feita pelo órgão aplicador do Direito, pois ele cria
Direito. Pouco importa se cria uma norma geral, ou se cria Direito apenas para um caso concreto:
"A interpretação feita pelo órgão aplicador do Direito é sempre autêntica. Ela cria
Direito. Na verdade, só se fala de interpretação autêntica quando esta interpretação
assuma a forma de uma lei ou de um tratado de Direito internacional e tem caráter
geral, quer dizer, cria Direito não apenas para um caso concreto mas para todos os
casos iguais, ou seja, quando o ato designado como interpretação autêntica
represente a produção de uma norma geral. Mas autêntica, isto é, criadora de Direito
é-o a interpretação feita através de um órgão aplicador do Direito ainda quando cria
Direito apenas para um caso concreto, quer dizer, quando esse órgão apenas crie uma
norma individual ou execute uma sanção. A propósito importa notar que, pela via da
interpretação autêntica, quer dizer, da interpretação de uma norma pelo órgão jurídico
que a tem de aplicar, não somente se realiza uma das possibilidades reveladas pela
interpretação cognoscitiva da mesma norma, como também se pode produzir uma
norma que se situe completamente fora da moldura que a norma a aplicar representa.
Através de uma interpretação autêntica deste tipo pode criar-se Direito, não só no caso
em que a interpretação tem caráter geral, em que, portanto, existe interpretação
autêntica no sentido usual da palavra, mas também no caso em que é produzida uma
norma jurídica individual através de um órgão aplicador do Direito, desde que o ato
deste órgão já não possa ser anulado, desde que ele tenha transitado em julgado. E
fato bem conhecido que, pela via de uma interpretação autêntica deste tipo, é muitas
vezes criado Direito novo - especialmente pelos tribunais de última instância. Da
interpretação através de um órgão aplicador do Direito distingue-se toda e qualquer
outra interpretação pelo fato de não ser autêntica, isto é, pelo fato de não criar Direito."
(Kelsen, Hans, 1881-1973. Teoria pura do direito; [tradução João Baptista Machado].
6a ed. - São Paulo : Martins Fontes, 1998. – pág. 149/150)

8. No que consiste a interpretação conforme a Constituição?


O princípio da interpretação conforme a constituição é corolário da supremacia constitucional e da presunção de
constitucionalidade. De acordo com ele, as normas devem ser compreendidas à luz da Constituição, de modo a
realizar, através da chamada "filtragem constitucional" os valores nela consagrados. O pressuposto é a
plurissignificatividade (ou polissemia, plurivocidade) da norma objeto de análise, isto é, a interpretação conforme
encontra limites no sentido inequívoco do dispositivo legal, não sendo permitido ao intérprete contrariá-lo.
No direito brasileiro, a interpretação conforme a constituição tem sido empregada em dois sentidos distintos:
a) Plano da interpretação: enquanto princípio instrumental, metanorma que impõe a interpretação de normas
infraconstitucionais à luz dos valores consagrados pela constituição. Verificando-se que a norma
infraconstitucional apresenta diversas interpretações possíveis (norma plurissignificativa), deve-se optar pelo
sentido compatível ou, ainda, excluir aqueles incompatíveis.
b) Plano do controle de constitucionalidade: enquanto técnica de decisão judicial: b.1) ao impor um dado sentido
em detrimento dos demais (interpretação conforme propriamente dita); b.2) ao excluir determinada interpretação
considerada inconstitucional (declaração parcial de nulidade sem redução de texto; b.3) ao afastar a incidência da
norma em uma situação concreta (inconstitucionalidade em concreto).

Eleitoral

9. O que são partidos políticos e qual a respectiva natureza jurídica desses partidos políticos?
Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado, que gozam de autonomia para constituição e
funcionamento, destinadas a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema
representativo e defender os direitos fundamentais previstos na constituição (art. 1º da Lei nº 9.096/95).
Os partidos políticos possuem natureza de pessoa jurídica de direito privado (associação civil).

10. O que é fidelidade partidária?


A fidelidade partidária é a vinculação entre o candidato eleito pelo sistema proporcional e o seu partido político,
decorrente do entendimento de que, no sistema proporcional, o mandato pertence ao partido político e não ao
candidato.
Desse modo, a violação à fidelidade partidária, caracterizada pela mudança de partido sem justa causa,
acarretará a perda do mandato político obtido pelo sistema proporcional.
Conforme o § 1º do art. 1º da Resolução-TSE nº 22.610/2007, considera-se justa causa a incorporação ou fusão
do partido, a criação de novo partido, a mudança substancial ou o desvio reiterado do programa partidário e a
grave discriminação pessoal.
De acordo com o STF, o princípio da fidelidade partidária não se aplica a quem foi eleito pelo sistema eleitoral
majoritário.

11. O promotor de justiça, em suas atribuições de caráter eleitoral, pode propor ação de perda de mandato
eletivo por desfiliação partidária?
Sim. A questão atinente à migração partidária caracterizadora de ato de infidelidade transpõe as fronteiras dos
interesses internos dos partidos políticos, repercutindo decisivamente no próprio postulado democrático,
notadamente no processo de formação da representação política pela via do sistema proporcional. O ato de
infidelidade partidária, sem a justa causa, foi considerado pelo STF como um ultraje ao princípio democrático,
fraude à vontade popular e frontal transgressão ao sistema eleitoral.
Mostra-se, portanto, intrínseca às funções constitucionais conferidas ao Ministério Público – defesa do regime
democrático – a possibilidade do ajuizamento das ações de perda de mandato eletivo por desfiliação partidária
sem justa causa.
Ademais, o art. 1º, §2º da Resolução-TSE n. 22.610/2007 prevê expressamente a legitimidade ativa do Ministério
Público para o ajuizamento da ação: "quando o partido político não formular o pedido dentro de 30 (trinta) dias da
desfiliação, pode fazê-lo, em nome próprio, nos 30 (trinta) subsequentes, quem tenha interesse jurídico ou o
Ministério Público Eleitoral".

Administrativo
Examinador: Marco Starling

1. O que são bens dominicais?


São os bens públicos desafetados, que não têm destinação pública definida, ou seja, todos aqueles que não se
enquadram entre os bens de uso comum e o de uso especial.

2. É possível afirmar que os bens dominicais possuem a mesma concepção/destinação de bens


particulares? Alguns doutrinadores entendem que sim, outros que não. Não há certo ou errado, quero
saber a sua fundamentação. Se é correta a comparação entre os dois tipos de bens.
Embora alguns autores sustentem que o bem público dominical é aquele que o estado conserva como se fosse
um particular, essa afirmação é muito perigosa. Isso porque, embora os bens dominicais se submetam a regime
mais flexível, por não terem destinação pública, esse regime continua sendo público, caracterizando-se pela
impenhorabilidade, imprescritibilidade e não onerabilidade. Os bens dominicais, ao contrário dos bens
particulares, não podem ser livremente alienados, tampouco usucapidos. De acordo com entendimento do STJ,
os bens dominicais ocupados por particulares não geram posse, mas sim mera detenção, sem direito a
indenização por benfeitorias.

3. O Ministério Público, na sua comarca de atuação, possui legitimação para requerer a desafetação de
determinado bem público? Fundamente. O examinador disse que o bem teria deixado de ter interesse
público, e por esse motivo talvez a desafetação tiraria o caráter público do bem. (o candidato se
confundiu na hora de falar, falou de afetação)
Não consegui encontrar a resposta em nenhum material. A sugestão a seguir foi elaborada com base na minha
concepção:
Conforme visto no item anterior, a desafetação do bem público não o retira da submissão ao regime jurídico de
direito público. Ainda que despido de finalidade pública específica, o bem continuará integrando o patrimônio
público, cuja tutela inclui-se entre as funções institucionais do Ministério Público. Por essa razão, em situações
específicas, em que o interesse público reclame a desafetação do bem, terá o Ministério Público legitimidade para
requerê-la. A título de exemplo, pode-se citar a situação de um município em que se constata um excesso de
edifícios públicos utilizados por repartições administrativas e uma escassez de recursos orçamentários para
realização de obras de saneamento básico. O Ministério Público poderia requerer a desafetação de parte dos
edifícios, com realocação das repartições para outros prédios com ocupação ociosa, para que os prédios
desafetados fossem alienados ou locados, de modo a obter receitas para a realização das obras de saneamento
básico e, assim, atender ao interesse social.

GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro (promotor de justiça)

1. Numa comarca, no norte de minas, você como promotor eleitoral tem notícia de que um eleitor votou e
tentou votar novamente em nome do seu irmão gêmeo univitelino. Qual a providência que o senhor
tomaria?
Requisitaria a instauração de inquérito para apuração do crime do art. 309 do Código Eleitoral: "Art. 309. Votar ou
tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem: Pena - reclusão até três anos".

2. O crime é tentado ou consumado?


O crime do art. 309 do Código Eleitoral pune do mesmo modo a consumação e a tentativa, tratando-se de "delito
de atentado". O crime é, portanto, consumado.
Saliente-se que há autores que defendem que o "crime de atentado" admitiria a tentativa, mas a pena aplicada
seria a do crime consumado e não a da tentativa, o que, na prática, tem a mesma consequência da consideração
como consumado.

3. Sobre o art. 41-B, §3º do Estatuto do Torcedor prevê que o juiz deve converter a pena impeditiva de
comparecimento na proximidade do estádio bem como a qualquer local em que se realize evento
esportivo por pena privativa de liberdade? Esse prazo não feriria o art. 55 do CP, que prevê que as pernas
restritivas de direito devem ter a mesma duração das penas restritivas de liberdade? (foi confuso, o
examinador ficou indo e voltando na pergunta ver nos outros candidatos)
OBS: acredito que o examinador se referia ao art. 41-B, §2º: "Na sentença penal condenatória, o juiz deverá
converter a pena de reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem como a
qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3 (três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a
gravidade da conduta, na hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido
anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo".
Resposta sugerida: Conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial, o art. 55 do CP trata-se de regra geral,
que pode ser excepcionada em virtude das peculiaridades de cada delito. Assim, tratando-se o art. 41-B, §2º do
Estatuto do Torcedor de norma especial, que prevê pena restritiva de direito peculiar e específica (impedimento de
comparecimento às proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo), não
há qualquer óbice à aplicação de prazo diverso à pena privativa de liberdade cominada. A norma, ademais,
concretiza o princípio da individualização das penas ao prevê que o tempo de duração da pena restritiva de
direitos deverá ser graduado de acordo com a gravidade da conduta.

4. Houve suspeita de fraude de adulteração de resultados de um time do Alto Paranaíba para que não
caísse pra segunda divisão, você como promotor de justiça, vê crime nisso?
Sim, a conduta encontra tipificação no art. Art. 41-E do Estatuto do Torcedor: "art. 41-E. Fraudar, por qualquer
meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva ou evento a ela
associado: Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa".

Processo Penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento (promotor de justiça)

1. Dentro da esfera normativa quais as hipóteses legais de defesa anterior ao recebimento da denúncia?
A defesa preliminar ou resposta preliminar, que não se confunde com a resposta à acusação (artigo 396, CPP) e
tampouco com a antiga defesa prévia (revogada pela Lei 11.719/08), é prevista em alguns procedimentos
especiais para ser feita entre o oferecimento e o recebimento da peça acusatória, tendo como objetivo impedir ou
evitar a instauração de lide temerária.
São exemplos de procedimentos especiais que prevêem a defesa preliminar:
a) Lei de drogas (n 11.343/06): Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para
oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
b) Crimes de responsabilidade dos funcionários públicos: CPP, Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a
denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para
responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.
c) Juizados especiais criminais (Lei n 9.099/95): Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para
responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão
ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente,
passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.
d) Competência originária dos tribunais (Lei n 8.038/90): Art. 4 - Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal,
far-se-á a notificação do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias.

2. Quais as repercussões processuais da falta de juntada de laudo toxicológico definitivo antes da


sentença definitiva, depois que o juiz prolatou a decisão? Além da absolvição haveria alguma outra
medida? Seria possível a nulificação da sentença, um retorno para o 1º grau?
A questão sobre as consequências advindas da inexistência de juntada do laudo toxicológico definitivo nas ações
penais condenatórias pelo crime de tráfico de drogas é polêmica, encontram-se decisões em diversos sentidos.
Parte da jurisprudência entende que a prolação de sentença sem a juntada nos autos de laudo toxicológico deve
conduzir à absolvição do réu por ausência de provas da materialidade (cf. HC nº 287879/SC, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, DJe de 02/09/2014; HC nº 228.928/RJ, Rel. Minª. Marilza Maynard, DJe de16/9/2013).
Há também precedentes entendendo que, embora a ausência de juntada do laudo toxicológico definitivo configure
nulidade, em caso de recurso exclusivo do réu essa nulidade não poderá ser reconhecida, ensejando a
absolvição, nos termos da Súmula nº 160 do Supremo Tribunal Federal: "é nula a decisão que acolhe, contra o
réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício". (HC 228.928/RJ,
Rel. p/ Acórdão Ministro CAMPOS MARQUES, julgado em 27/08/2013, DJe 16/09/2013; TJMG - Apelação
Criminal 1.0024.17.046743-5/001, Rel. Des. Catta Preta, julgamento em 23/08/2018, publicação da súmula em
03/09/2018)
Por fim, parcela da jurisprudência, tanto no TJMG quanto no STJ, entende que a hipótese não enseja a
absolvição, mas sim o reconhecimento da nulidade absoluta da sentença, com retorno dos autos ao 1º grau para
que outra sentença seja proferida, após a juntada do laudo definitivo e sua submissão ao contraditório, na medida
em que a comprovação da materialidade do delito é condição de validade da própria decisão, matéria que afeta o
interesse público e diz respeito à própria atividade jurisdicional (HC 196.625/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 12/03/2013, DJe 26/03/2013; TJMG - Emb Infring e de Nulidade 1.0297.16.001417-
3/002, Relator(a): Des.(a) Jaubert Carneiro Jaques , 6ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 24/04/2018,
publicação da súmula em 04/05/2018).

3. No tocante ao Estatuto da Criança e do Adolescente, o senhor poderia nos dizer quais as


especificidades do procedimento recursal do processo penal nesse particular?
Quanto ao sistema recursal, o artigo 198 do ECA prevê expressamente que será adotado o sistema do Código de
Processo Civil , com algumas adaptações, quais sejam:
I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo ;
II - em todos os recursos, salvo o de agravo de instrumento e de embargos de declaração , o prazo para interpor
e para responder será sempre de dez dias ;
III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor ;
IV - o agravado será intimado para, no prazo de cinco dias , oferecer resposta e indicar as peças a serem
trasladadas;
V - será de quarenta e oito horas o prazo para a extração, a conferência e o conserto do traslado;
VI - a apelação será recebida em seu efeito devolutivo . Será também conferido efeito suspensivo quando
interposta contra sentença que deferir a adoção por estrangeiro e , a juízo da autoridade judiciária, sempre que
houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação;
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância , no caso de apelação, ou do instrumento, no
caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no
prazo de cinco dias ;
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou o instrumento à superior instância
dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo pedido do recorrente; se a reformar , a remessa dos
autos dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias,
contados da intimação.

GRUPO TEMÁTICO III

DIREITO CIVIL
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus (procurador de justiça)

Perguntas:
1. Distinguir prescrição e decadência.
A prescrição é a perda da possibilidade de exigir de alguém um determinado comportamento. É a perda
da pretensão, nascida da violação de um direito subjetivo, em razão do decurso do tempo.
A decadência acarreta a perda de um direito potestativo que não foi exercido por seu titular no prazo
previsto em lei, ou seja, a decadência afeta o direito em si, extinguindo-o.
Aprofundamento: (Apostila CP IURIS)

“Os prazos de prescrição estão concentrados em dois artigos do Código Civil: arts. 205 e 206.
Os demais prazos do CC, via de regra, são decadenciais. Os prazos prescricionais são sempre em
anos.
Prazos em dias, meses, em anos e dias, são sempre decadenciais.
Prescrição está associada às ações condenatórias, relativas a direitos subjetivos. Há violação, nasce
uma pretensão, devendo o sujeito ser condenado a indenizar.
Por outro lado, decadência está relacionada a direitos potestativos, às ações constitutivas (positivas ou
negativas), em que a outra parte tem uma relação de sujeição. Ex.: numa ação desconstitutiva, como anulação de
casamento, há prazo para tanto, podendo ou não exercer, não podendo a outra parte se opor quanto a isso.
Agnelo Amorim diferencia prescrição e decadência. O professor ainda menciona que as denominadas
ações imprescritíveis deveriam ser denominadas de ações perpétuas. Ou seja, são perpétuas (imprescritíveis)
todas aquelas ações que não estão sujeitas nem prescrição nem a decadência, tais como:
 Todas as ações meramente declaratórias;
 Algumas ações constitutivas, tais como aquelas que não têm prazo especial de exercício fixado em
lei.
Quanto às ações condenatórias, seguindo o entendimento de Agnelo Amorim, não há, entre elas, ações
perpétuas (imprescritíveis) pois todas são atingidas, ou por um dos prazos especiais do art. 206 ou pelo prazo
geral do art. 205. Ademais, não há ações condenatórias perpétuas (imprescritíveis), nem sujeitas a decadência,
bem como não há ações constitutivas sujeitas a prescrição. Além disso, não há ações declaratórias sujeitas a
prescrição ou a decadência.

a) Regras quanto a prescrição


O Código Civil adotou a tese da prescrição da pretensão.
i. Noções gerais da prescrição
O art. 189 diz que, violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual poderá ser extinta pela
prescrição.
Perceba que a prescrição é a causa extintiva da pretensão.
O direito em si permanece incólume. E portanto, o art. 882 do CC é perfeito quando diz que não se
pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou obrigação judicialmente inexigível.
Isso porque a dívida prescrita continua sendo dívida, não podendo apenas exigir o pagamento.
Para as ações condenatória, quando não houver prazo específico, o prazo prescricional geral será de
10 anos.
O início do prazo prescricional inicia com o surgimento da pretensão, ou seja, decorre da exigibilidade
do direito. A pretensão nasce após a violação do direito.
A partir do momento em que o direito é violado, há nascimento de uma pretensão. Ex.: sujeito ofendeu
a moral do outro, tendo direito à reparação dos danos, contados o prazo a partir do momento em que foi praticada
a ofensa.
ii. Teoria da actio nata com o viés subjetivo
Parte da doutrina pondera de que não se pode admitir apenas com o surgimento do dano a contagem
do prazo prescricional. Para início do prazo prescricional seria necessário o conhecimento do dano pelo sujeito
que o experimentou.
Portanto, só teria início a contagem do prazo a partir do momento em que a parte teve o conhecimento
do ato ou do fato do qual nasce o seu direito de exigir. O que há aqui é a adoção da teoria da actio nata com o
viés subjetivo.
Ex.: no caso de responsabilidade civil do estado por erro médico, a data para o início do lapso
prescricional não é a data do acidente, e sim a data em que a vítima tem ciência inequívoca de sua invalidez ou
da extensão da incapacidade. A partir desse conhecimento é que inicia o prazo prescricional. Este é o teor de
súmula 278 do STJ.
Ex.2: o médico esqueceu uma agulha dentro do corpo de uma mulher. Não tinha a mulher o
conhecimento de que havia uma agulha dentro de si, até o dia em que, por meio do raio-X, percebeu-se o
instrumento dentro do corpo. Neste caso caberá ação de indenização, a contar do momento em que teve o
conhecimento do fato.
É a adoção da teoria da actio nata com viés subjetivo, adotada pela jurisprudência.
Em sede legislativa, esta teoria foi adotada pelo art. 27 do CDC, estabelecendo que prescreve em 5
anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem
do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Se o indivíduo experimentou o dano, mas não sabe que o experimentou, não começa a contar o prazo.
iii. Exceção, renúncia e alteração da prescrição
De acordo com o art. 190, a exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.
Os prazos aplicáveis às pretensões devem regular as exceções correspondentes.
É possível a renúncia da prescrição expressa ou tacitamente, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de
terceiro, depois que a prescrição se consumar. Tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado,
incompatíveis com a prescrição.
Não é possível renúncia prévia da prescrição!
Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes, pois tem origem estritamente
legal (art. 192). Já a decadência poderá ser legal ou convencional.
iv. Momento de alegação da prescrição e prescrição intercorrente
A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita (art. 193).
Agora, não está limitada à primeira manifestação da parte, podendo a prescrição ser alegada em sede de recurso.
O código civil não traz qualquer novidade, e portanto a súmula 150 do STF continua em vigor, dizendo
que a execução prescreve no mesmo prazo da prescrição da ação.
O NCPC incluiu uma outra forma de prescrição nas ações de execução, denominada prescrição
intercorrente. O art. 921 do NCPC estabelece entre as hipóteses de suspensão da execução, o fato de o
executado não ter bens penhoráveis.
Nesta situação, o juiz suspende o processo pelo prazo de 1 ano, situação na qual também ficará
suspensa a prescrição. Após ultrapassado o prazo de 1 ano, começa a correr o prazo da prescrição intercorrente.
Então, o NCPC traz a hipótese e possibilidade de prescrição intercorrente nas ações de execução. O juiz, depois
de ouvir as partes, no prazo de 15 dias, poderá de ofício reconhecer a prescrição intercorrente e extinguir o
processo.
Segundo o art. 195, os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus
assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.
Veja que os relativamente incapazes ou as pessoas jurídicas poderão cobrar indenização daqueles que
deixou a prescrição acontecer.
O art. 196 diz que a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.

b) Regras quanto à decadência


A decadência é a perda do direito em razão do seu não exercício.
A decadência pode ter origem na lei ou por convenção das partes.
O art. 207 diz que, salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
Portanto, via de regra, decadência não se interrompe e não se suspende.
O art. 208 estabelece que a decadência não corre contra os absolutamente incapazes. Atente-se que
os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas também têm ação contra os seus assistentes ou
representantes legais, que derem causa à decadência, ou não a alegarem oportunamente.
É nula a renúncia à decadência legal. Por outro lado, é possível renunciar a decadência convencional,
após a sua consumação.
Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência legal, enquanto a decadência convencional não pode
ser reconhecida de ofício.
O NCPC traz a possibilidade de reconhecer a decadência sem dizer sua natureza.
Todavia, se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita poderá alegá-la em qualquer grau
de jurisdição.

2. Em relação aos institutos (prescrição e decadência) promover uma distinção em relação à fluência de
prazos.

A prescrição pode ser suspensa ou interrompida nas hipóteses taxativamente previstas em lei.
A decadência, em regra, não se suspende nem se interrompe. O ordenamento jurídico pode prever
situações excepcionais de determinadas causas que interferem no curso de um prazo decadencial, a exemplo do
que se vê no artigo 26, §2º, do CDC (obsta o início).

Aprofundamento: (Apostila CP IURIS)

Causas que impedem ou suspendem a prescrição


A prescrição poderá ser impedida ou suspensa, bem como ser interrompida.
No caso de impedimento, o prazo prescricional não começa a correr, mas na suspensão o prazo, já
iniciado, para de correr, voltando a correr de onde parou.
Na interrupção, o prazo para e volta a correr do início.
São hipóteses de impedimento e suspensão da prescrição:
 Não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
O enunciado 296 do CJF, por uma questão de valorização constitucional, estabelece que não corre
também a prescrição entre os companheiros durante a união estável.
 Não corre a prescrição entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
 Não corre a prescrição entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela
ou curatela;
 Não corre a prescrição contra os absolutamente incapazes (menores de 16 anos);
 Não corre a prescrição contra os ausentes do País em serviço público;
 Não corre a prescrição contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de
guerra;
 Não corre a prescrição pendendo condição suspensiva;
Vale também para termo inicial, o qual recebe o mesmo tratamento da condição suspensiva.
Este dispositivo seria desnecessário, pois enquanto não tiver ocorrido a condição suspensiva, não
adquiriu sequer o direito, não tendo como exigir.
 Não corre a prescrição não estando vencido o prazo;
 Não corre a prescrição pendendo ação de evicção.
A evicção é a perda de uma coisa em decorrência a uma decisão judicial ou decisão administrativa que
atribui determinada coisa a terceiro. Enquanto estiver cobrando algo em juízo não estará correndo a prescrição
contra o sujeito que vendeu a coisa.
 Não corre a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, quando a ação se originar de fato que
deva ser apurado no juízo criminal;
Houve um ilícito civil e penal. O sujeito está respondendo o processo na esfera penal, razão pela qual
deverá aguardar o término do processo penal para aferir a responsabilidade civil do indivíduo. Enquanto não
houver a respectiva sentença definitiva, não começará a correr o prazo prescricional.
O art. 201 diz que, suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, esta suspensão só
aproveita aos demais se a obrigação for indivisível.
Com relação à interrupção da prescrição, percebe-se que há condutas do credor ou conduta do
devedor, fazendo com que o prazo se interrompa e retorne ao seu início.
A interrupção da prescrição somente ocorrerá uma única vez, sendo as hipóteses:
 interrompe a prescrição o despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
O NCPC, de acordo com o art. 240, §1º, estabelece que a interrupção da prescrição, operada pelo
despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da
ação.
Portanto, o prazo em que foi ajuizada a ação será considerada como marco interruptivo da prescrição,
visto que o despacho terá força retroativa.
O art. 19, §2º, da Lei 9.307, estabelece que a instituição da arbitragem interrompe a prescrição
retroagindo à data de requerimento de instauração àquela arbitragem.
Portanto, a instituição de arbitragem também interrompe a prescrição.
 interrompe a prescrição o protesto judicial ou o protesto cambial;
 interrompe a prescrição a apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de
credores;
 interrompe a prescrição qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
 interrompe a prescrição qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento
do direito pelo devedor.
Veja, aqui há uma conduta do devedor. Ex.: pagamento de juros pelo devedor. Outro exemplo o STJ
entendeu que constitui causa interruptiva da prescrição a propositura de demanda judicial pelo devedor, seja
anulatória, seja de sustação de protesto, que importe em impugnação de débito contratual ou cártula
representativa de direito de credor.
A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do
processo para a interromper.
A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
O art. 204 diz que a interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros credores. Da
mesma forma, a interrupção operada contra um codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais
coobrigados.
A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros, mas a interrupção efetuada contra o
devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.
Havendo a interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário, mas se o indivíduo é
herdeiro de um devedor solidária, a interrupção em relação ao herdeiro não prejudica os demais herdeiros, salvo
se a obrigação for indivisível.
No § 3º, o CC estabelece que, no caso de interrupção produzida contra o principal, esta interrupção
também atingirá o fiador. Trata-se de aplicação da gravitação jurídica.

Processo Civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva (representante da OAB)
Processo de conhecimento: Atos processuais, comunicação dos atos processuais e procedimento

1. Discorrer sobre a legitimidade ordinária e a extraordinária e, se possível, dar exemplos.


Na legitimação ordinária, a ação é promovida por quem é titular do próprio direito material. Alguém
defende em seu próprio nome direito próprio.
Exemplo: Credor, portador de um título de crédito, cobra uma dívida em juízo em face do devedor
emitente do título.
Na legitimação extraordinária, a ação é promovida por uma pessoa em nome próprio, mas defendendo
direito alheio. Há atuação como substituto processual.
O substituto processual é parte principal, não é procurador. A sua legitimidade decorre de lei. O
substituído não necessariamente participa do processo.
Exemplo: Ministério Público quando atua na defesa de direitos individuais homogêneos, promove
demanda em face do Estado objetivando obter medicamento em favor de cidadão idoso ou ajuíza ação de
alimentos em favor de criança.

2. Quando o MP atua pedindo alimentos para o menor a legitimação é ordinária ou extraordinária?


Legitimação extraordinária, conforme pontuado na resposta anterior.

3. Quais são os requisitos que o juiz deve seguir para dar uma sentença liminar?
O art. 332 autoriza que o magistrado sentencie liminarmente o processo, resolvendo o mérito, antes
mesmo de citar o requerido, mas desde que se trate de uma sentença de improcedência e que se dispense a
etapa instrutória (produção de provas).
Na verdade, essa improcedência liminar é um caso de tutela de evidência, prestada em caráter
definitivo, fazendo coisa julgada material, visto que é evidente a falta do direito alegado pelo demandante.
Para que seja proferida esta sentença, é preciso observar os demais requisitos do art. 332.
Ou seja, será possível julgamento liminar de improcedência:
 Quando o pleito contraria enunciado de Súmula do Supremo Tribunal Federal ou Súmula do Superior
Tribunal de Justiça;
 Quando o pleito contraria acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou acórdão proferido pelo
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
 Quando o pleito contraria entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
 Quando o pleito contraria enunciado de súmula de Tribunal de Justiça sobre direito local;
 Quando o pleito estiver prescrito ou já estiver operado a decadência do direito do autor;
Veja, aqui há uma sentença, sendo cabível o recurso de apelação, no prazo de 15 dias, admitindo o
juízo de retratação pelo juiz.

4. Quais são os efeitos materiais e processuais da citação?


A doutrina aponta que o principal efeito da citação válida é completar a estrutura tríplice da relação
jurídica processual (autor-juiz-réu).
Segundo Daniel Amorim Assunção Neves, o art. 240 do CPC prevê três efeitos da citação, sendo um
deles processual e dois materiais.
Efeito processual: indução de litispendência.
Efeitos materiais: torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor.
Apesar de não constar do art. 240, do CPC, segundo o autor mencionado, é possível sustentar o
fenômeno da estabilização da demanda como um dos efeitos processuais da citação.
Noutro ponto, pertinente consignar que, com o advento do Novo CPC, a interrupção da prescrição
deixou de ser efeito material da citação.

5. Com relação à petição inicial e à defesa/contestação, diferenciar os ritos dos procedimentos sumário e
ordinário?
O NCPC, em seu art. 318, afirma que existem dois procedimentos: comum e especial. Assim, percebe-
se que não existe mais procedimento ordinário e procedimento sumário.
Em relação aos processos que já estavam em curso, aplica-se a regra do art. 1.046, §1º, que traz uma
regra de direito intertemporal.
Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos
pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
§ 1o As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos
procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início
da vigência deste Código.

Sobre as diferenças da petição inicial e contestação no rito sumário, estabelecia o CPC/1973:


Art. 276. Na petição inicial, o autor apresentará o rol de testemunhas e, se requerer perícia,
formulará quesitos, podendo indicar assistente técnico. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de
26.12.1995)
Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta escrita ou oral,
acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará seus quesitos desde
logo, podendo indicar assistente técnico. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)
§ 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que fundado nos mesmos
fatos referidos na inicial. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)

No rito sumário (e ainda hoje no rito dos Juizados Especiais) é admissível a contestação verbal que
será reduzida a termo.
No rito sumário (e também nos Juizados Especiais) não se admite a reconvenção. Admite-se, todavia, o
pedido contraposto.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Coletivo
Examinador: Dr. Antônio Joaquim (procurador de justiça)
Improbidade e tutela dos princípios da administração pública

1. Estabeleça uma relação entre os princípios da impessoalidade e o princípio da eficiência. Dar exemplo
dos dois princípios juntos de maneira evidente.
Há dois sentidos conferidos ao princípio da impessoalidade:
1º Sentido: Significa agir de forma impessoal, não buscar interesses pessoais. Exige ausência de
subjetividade.
A Lei 9.784/99 traz o conceito de impessoalidade:
Lei 9.784/99 Art. 2º, Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de: III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou
autoridades;
2º Sentido: É bem definido por José Afonso da Silva: “os atos e provimentos administrativos são
imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública,
de sorte que ele é o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que formalmente manifesta a vontade estatal
(TEORIA DO ÓRGÃO), nos termos do art. 37, §1º CF.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o princípio da impessoalidade “traduz a ideia de que a
Administração tem de tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem
favoritismo, nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não
podem interferir na atuação administrativa. E completa: “o princípio em causa não é senão o próprio princípio da
igualdade ou isonomia”.

O princípio da eficiência apresenta, também, dois aspectos: pode ser considerado de acordo com
modo de atuação do agente público, do qual é esperado o melhor desempenho possível de suas funções,
logrando os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração
Pública, com o mesmo objetivo: obter os melhores resultados na prestação do serviço público.
José dos Santos Carvalho Filho, ao comentar a inclusão do princípio da eficiência no art. 37, da CF pela
EC 19/1998, consigna que “A inclusão do princípio, que passou a ser expresso na Constituição, suscitou
numerosas e acerbas críticas por parte de alguns estudiosos. Uma delas consiste na imprecisão do termo. Ou
seja: quando se pode dizer que a atividade administrativa é eficiente ou não? Por outro lado, afirma-se ainda, de
nada adianta a referência expressa na Constituição se não houver por parte da Administração a efetiva intenção
de melhorar a gestão da coisa pública e dos interesses da sociedade. Com efeito, nenhum órgão público se
tornará eficiente por ter sido a eficiência qualificada como princípio na Constituição.88 O que precisa mudar, isto
sim, é a mentalidade dos governantes; o que precisa haver é a busca dos reais interesses da coletividade e o
afastamento dos interesses pessoais dos administradores públicos. Somente assim se poderá falar em eficiência.
(...)

A Constituição Federal apresenta regras que materializam a aplicação conjunta de ambos os princípios.
Por exemplo, o art. 37, II, que institui a exigência de concurso público para o exercício de cargos ou empregos
públicos; e o art. 37, XXI, que ordena a aplicação do procedimento licitatório como instrumento eficaz para que a
Administração celebre o melhor contrato possível. Em ambos procedimentos, verifica-se que se busca, a um só
tempo, atender aos princípios da impessoalidade e eficiência.

2. Você, promotor em uma determinada comarca, em que há publicidade da administração municipal na


televisão, em que há várias peças sobre vários temas (saúde, escolas, construção de casas) e a
propaganda é vinculada à figura do prefeito, qual a qualificação jurídica que o senhor dá, e quais
providências tomaria? Que elementos são necessários para que essas hipóteses de ressarcimento, multa
e perda da função(citadas pelo candidato, o examinador só repetiu ressarcimento e multa, e o candidato
repetiu que disse perda da função) sejam promovidas, numa investigação/inquérito, que provas serão
colhidas?
Dispõe o art. 37, § 1º, da CF que “a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos
órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”
A Lei 9784/99 preceitua que “art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios
da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público e eficiência. Parágrafo único. Nos processos administrativos serão
observados, entre outros, os critérios de: III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a
promoção pessoal de agentes ou autoridades”.

A propaganda oficial que contenha promoção pessoal ofende o princípio da impessoalidade e configura
ato de improbidade administrativa.
A depender das circunstâncias do caso concreto, a propaganda com promoção pessoal poderá ser
tipificada como ato de improbidade que implique enriquecimento ilícito (art. 9, XII - usar, em proveito próprio,
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta
lei.), dano ao erário (art. 10, IX, XI e XIII ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou
regulamento; liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma
para a sua aplicação irregular; e permitir que se utilize o trabalho de servidor público em serviço particular) ou
violador a princípio da administração pública (art. 11, I, praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou
diverso daquele previsto, na regra de competência;):

EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO - APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO CIVIL PÚBLICA


POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - MUNICÍPIO DE TIMÓTEO -
PUBLICIDADE - PROMOÇÃO PESSOAL DO PREFEITO - CAMPANHA ELEITORAL -
ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - DEMONSTRADOS -
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO PÚBLICO - DEVIDO - MULTA CIVIL - JUROS E
CORREÇÃO.
1- Por aplicação analógica do art. 19 da Lei nº 4.717/65, deve ser conhecido o
reexame necessário de ações civis públicas por ato de improbidade administrativa.
2- Tendo em vista que o agente público produziu e distribuiu exemplares da
revista do Município, às expensas da Administração Pública, como forma de
promoção pessoal, em época de campanha eleitoral, resta configurada a prática
dos atos de improbidade previstos no art. 9º, caput, e inciso XII; no art. 10, caput;
e art. 11, caput, e inciso I, da Lei 8.429/92, cabendo a condenação do ex-prefeito
ao ressarcimento ao erário e pagamento de multa civil, nos termos do art. 12 da
mesma Lei.
3- Consoante posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, considerando que as
sanções, como a multa civil, e o ressarcimento do dano, previstos na Lei da
Improbidade Administrativa, inserem-se no contexto da responsabilidade civil
extracontratual por ato ilícito, os juros de mora e a correção monetária devem incidir
desde a data do evento danoso (Súmulas 43 e 54, ambos do STJ). (TJMG - Apelação
Cível 1.0687.13.002715-8/001, Relator(a): Des.(a) Jair Varão , 3ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 08/03/0018, publicação da súmula em 27/03/2018)

A título de exemplo, colaciona-se dois julgados em que o TJMG entendeu que o ato se amolda ao
disposto no art. 9º, XII:

EMENTA: EMBARGOS DECLARATÓRIOS - OMISSÃO - IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA - ANÁLISE DA OBTENÇÃO DE VANTAGEM PESSOAL PELO
AGENTE PÚBLICO - ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS SEM ALTERAÇÃO DO
RESULTADO. 1- Devem ser acolhidos os embargos declaratórios quando constatada a
existência de omissão no acórdão; 2- A utilização de recursos públicos para a
publicação de revista cujo conteúdo é utilizado para a promoção pessoal do
agente público constitui ato de improbidade administrativa tipificado no inciso
XII do art. 9º da Lei nº 8.429/92. (TJMG - Embargos de Declaração-Cv
1.0521.09.089407-7/005, Relator(a): Des.(a) Renato Dresch , 4ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 21/06/0018, publicação da súmula em 26/06/2018)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA -PUBLICIDADE


- MATÉRIA JORNALÍSTICA PAGA - PROMOÇÃO PESSOAL - DOLO -
CARACTERIZAÇÃO. - Reconhece a Constituição Federal de 1988 de forma expressa
o princípio da publicidade, como meio de informação institucional da Administração
Pública, com escopo de prestação de contas pelos administradores aos administrados
sobre projetos e políticas públicas.
- A veiculação em periódico custado e distribuído pela Prefeitura Municipal de matérias
nas quais é enaltecida a atuação do gestor municipal constitui flagrante violação aos
princípios da impessoalidade e moralidade administrativa e uso de dinheiro público em
proveito próprio, condutas que configuram atos de improbidade administrativa.
(TJMG - Apelação Cível 1.0123.10.039910-4/001, Relator(a): Des.(a) Versiani Penna ,
19ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/11/2018, publicação da súmula em
29/11/2018)

Neste outro caso, o STJ entendeu pela manutenção da aplicação do art. 10:

4. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou, com base no contexto fático-


probatório dos autos, que, "confirmada que a compra dos bonés destinados à
promoção pessoal do prefeito foi realizada com dinheiro público, forçoso reconhecer a
ocorrência de ato de improbidade administrativa com prejuízo ao erário; não havia
interesse público na aquisição de tais materiais, ao que consta, adquiridos em número
10 (dez) vezes superior ao número de servidores locais (fls. 69/71 1º volume e 534 3º
volume). No mais, as notas fiscais e de empenho juntadas aos autos (fls. 50/61 1º
volume), demonstram a 'exata extensão do dano a aferição dos valores pagos', ao
contrário do alegado pelo embargante. (...) No caso concreto, considerado o
enquadramento da (...) conduta no art. 10 e que o dolo é intrínseco à própria
conduta praticada, pois o prefeito utilizou-se de verba pública da Municipalidade para a
aquisição de bonés visando a sua promoção pessoal, correta a condenação. Diante da
gravidade da infração considerada, as penalidades fixadas não se mostram abusivas,
ausente, portanto, violação aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade" (fls.
717-718, e-STJ). A revisão desse entendimento implica reexame de fatos e
provas, obstado pelo teor da Súmula 7/STJ. Precedentes: AgRg no REsp
1.437.256/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
30.9.2014; AgRg no AREsp 532.658/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 9.9.2014; AgRg no AREsp 666.459/SP, Rel. Ministro Og Fernandes,
Segunda Turma, DJe 30.6.2015; e AgRg no AREsp 341.206/RS, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, DJe 30.3.2016. 5. Recurso Especial não conhecido. (REsp
1635407/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 19/12/2016)

Da mesma forma, há entendimento de que o ato mencionado se amoldaria ao disposto no art. 11, I,
devendo ser ressaltado que há mais julgados recentes do STJ mantendo decisões de cortes estatuais que
entenderam dessa forma:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - PUBLICIDADE


OFICIAL - RECURSOS PÚBLICOS - PROMOÇÃO PESSOAL - ATO ÍMPROBO -
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE. 1- Na ação civil pública por ato
de improbidade o juiz não se vincula ao pedido do autor quanto à tipificação dos atos
ou à sanção aplicável, mas somente aos fatos descritos na inicial; 2- A Lei 8.429/92
divide os atos de improbidade administrativa entre aqueles que importam em
enriquecimento ilícito em razão do recebimento de vantagem patrimonial indevida (art.
9º), os que causam prejuízo ao erário por ação ou omissão (art. 10), o que implicam
em concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário (art. 10-A) e
aqueles que atentam contra os princípios da administração pública, violando os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições (art. 11);
3- A utilização de publicidade oficial, seja por meio de jornal oficial ou de recursos
públicos para a publicação em revista privada, cujo conteúdo destina-se à promoção
pessoal do agente público, constitui ato de improbidade administrativa. (TJMG -
Apelação Cível 1.0569.13.003684-5/001, Relator(a): Des.(a) Renato Dresch , 4ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/11/2018, publicação da súmula em 13/11/2018)

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROPAGANDA INSTITUCIONAL. PROMOÇÃO
PESSOAL DO ADMINISTRADOR. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONFIGURADO. 1.
Nos moldes do que dispõe o art. 37, § 1º, da Constituição Federal, a publicidade dos
atos governamentais deve sempre guardar um caráter exclusivamente educativo,
informativo ou de orientação social, sendo absolutamente vedada a publicação de
informativos que visem ao proveito individual do administrador. 2. Diante das
premissas fáticas estabelecidas pelo Tribunal de origem, não há como se afastar
a prática de improbidade administrativa prevista no art. 11 da Lei nº 8.429/1992,
porquanto demonstrado o dolo, no mínimo genérico, de fazer uso de propaganda
institucional para o fim de obter proveito pessoal. 4. Agravo interno a que se
nega provimento. (AgInt no AREsp 820.235/MA, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 02/08/2018)

(AgInt no REsp 1573264/PB, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 16/02/2017, DJe 10/03/2017)

Processo Coletivo
Examinador: Dr. Carlos Alberto Valera (promotor em Uberaba)
Direito do consumidor

1. Enumerar os princípios norteadores da relação consumerista?

CDC:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento
das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança,
a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes
princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:
a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade,
segurança, durabilidade e desempenho.
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a
ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e
equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus
direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de
qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos
alternativos de solução de conflitos de consumo;
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de
consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações
industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar
prejuízos aos consumidores;
VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;
VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo

Aprofundamento: (Apostila CP IURIS)

I. Princípio da vulnerabilidade do consumidor


A vulnerabilidade do consumidor fundamenta todo o sistema de consumo. É em razão dela que surgiu o
CDC.
É importante distinguir vulnerabilidade de hipossuficiência:
 Hipossuficiência:
Tem caráter processual, sendo analisada no caso concreto pelo magistrado. No caso da existência
hipossuficiência, o juiz deverá inverter o ônus da prova, que é regra de procedimento.
Ex.: sujeito diz que a operadora de celular está fazendo cobranças indevidas, pois não efetuou as
ligações. O juiz entenderá que não terá como comprovar que não ligou (fato negativo), de forma que a operadora
poderá comprovar que ele ligou, devendo o juiz inverter o ônus da prova, em razão da hipossuficiência de João.
Não é razoável que o consumidor faça prova de fato negativo.
 Vulnerabilidade:
Tem caráter material, surgindo uma presunção absoluta de que o consumidor é vulnerável. Todo o
consumidor é vulnerável. Serão encontradas diversas menções à vulnerabilidade do consumidor no CDC.
A Política Nacional das Relações de Consumo está fundada no reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor no mercado de consumo, conforme expressa o art. 4º, I, CDC.

II. Princípio da transparência


O princípio da transparência não se confunde com a aparência. A transparência transpassa o que
aparenta.
A Política Nacional das Relações de Consumo busca, dentre outros objetivos, assegurar a
transparência das relações de consumo, conforme o art. 4º, caput, CDC.
O STJ diz que o direito à informação, abrigado expressamente pela CF, é uma das formas de
expressão do princípio da transparência, em especial no direito do consumidor. A transparência vai vedar, por
exemplo, que o consumidor se valha de cláusulas dúbias e contraditórias para excluir direitos do consumidor.
É necessário saber exatamente qual é o serviço, qual é o produto, quais são os riscos, etc. Isto é
transparência, que está muito ligado ao direito de informação.
Com relação a isso, há o emblemático caso do “credit scoring”, que foi decidido pelo STJ. O “credit
scoring” é um cálculo de risco de crédito, que é feito pela empresa. Alguém busca comprar algo a crédito e a
empresa faz o credit scoring que é o cálculo de risco. As empresas verificam, por meio de um mecanismo de
pontuação, qual é a probabilidade de inadimplência daquele consumidor.
As empresas não precisam do consentimento prévio do consumidor para formar esse cadastro, tal
como entendeu o STJ. Dessa forma, é válido o credit scoring.
O consumidor, segundo o STJ, não poderá impedir que haja o cálculo e o cadastro de sua pontuação.
Por outro lado, o STJ decidiu que poderá o consumidor requerer da empresa que lhe informe quais os dados e
critérios que foram utilizados para compor o cálculo de sua pontuação.
Cabe ressaltar que o sistema do credit scoring, que é a pontuação do consumidor que quer contratar
algo a prazo, é plenamente válida, conforme o STJ.
O STJ, por meio da Súmula 550, diz que a utilização de escore de crédito, método estatístico de
avaliação de risco que não constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o direito
de solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados considerados no
respectivo cálculo.

III. Princípio da informação


O princípio da informação está ligado ao princípio da transparência.
Este princípio irá se bipartir nos seguintes direitos:
 Direito do consumidor de ser informado
 Dever do fornecedor de informar

Segundo o art. 6º, III, CDC, o consumidor tem o direito básico à informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.
O STJ já entendeu várias vezes que informação adequada é informação completa, gratuita e útil. Em
relação ao “útil”, o STJ veda haja a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo uso de informações
soltas, destituídas de qualquer relevância e serventia para o consumidor.
Basicamente, o STJ está dizendo que a informação deve ser completa, gratuita e útil, não devendo
adotar uma informação útil, seguida de informação inútil, para depois trazer outra informação útil, juntamente com
outra inútil, e assim sucessivamente. Isso porque, num eventual contrato em que o fornecedor traga diversas
informações inúteis junto com informações úteis, o consumidor poderá ser prejudicado pela não leitura integral do
documento, pois, diante de uma situação dessas, o consumidor simplesmente assinaria o documento sem que
tivesse a certeza de seu conteúdo.
A obrigação de informação é desdobrada em 4 categorias:
 Informação-conteúdo: servirá para saber quais são as características intrínsecas do produto e do
serviço.
 Informação-utilização: mais do que saber o que há dentro do produto, é necessário saber como ele
usará o produto ou do serviço.
 Informação-preço: é necessário saber quais são os custos, as formas e condições de pagamento.
 Informação-advertência: é necessário saber os riscos do produto ou do serviço.

IV. Princípio da segurança


O art. 6º, I, do CDC estabelece ser direito básico do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança
contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos.
Já o art. 8º do CDC diz que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão
riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de
sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e
adequadas a seu respeito.
Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar essas informações, através de
impressos apropriados que devam acompanhar o produto.
Não será fornecido produto nocivo ou perigoso, salvo se for da própria natureza dele. Ex.: faca é
perigoso, bastante haver informações adequadas sobre o manuseio de uma faca para estar de acordo com o
CDC.
No caso de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança, o
fornecedor deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade,
sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
Segundo o art. 10, o fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que
sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou alto grau de periculosidade à saúde ou segurança.
Se o fornecedor introduziu o produto e descobriu após que o produto era nocivo à saúde ou segurança.
Neste caso, o §1º impõe ao fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado
de consumo, tenha conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às
autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. Esses anúncios publicitários
serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. Este é o
chamado Recall.
Ainda que o consumidor não faça leve o produto ao fornecedor para consertar o bem, seja porque não
quis, seja porque não ficou sabendo, e posteriormente vier sofrer um acidente de consumo, neste caso, o
fornecedor continuará responsável pelo bem e deverá indenizar o consumidor.
Além disso, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sempre que tiverem conhecimento
de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, deverão informar os
consumidores a respeito dessa periculosidade.

V. Princípio do equilíbrio nas prestações


O art. 4º, III, fala sobre o equilíbrio nas prestações entre consumidores e fornecedores. É preciso evitar
o enriquecimento sem causa.
O dispositivo assegura a harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico,
de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.
O art. 51, IV, CDC, dispõe que são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais que
estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
Isso não autoriza a colocar o consumidor em vantagem exagerada. O que se busca efetivamente é o
equilíbrio nas prestações, de forma que, se a cláusula é abusiva, esta cláusula é nula.
Por essa razão, é abusiva a cláusula que estipula penalidade exclusivamente ao consumidor, sem que
haja penalidade pelo descumprimento ocasionado por parte do fornecedor. Essa mesma pena que deve ser
imputada ao consumidor também deverá ser imputada ao fornecedor.
Percebe-se que o equilíbrio das prestações acaba por relativizar o princípio do pacta sunt servanda,
que é a ideia de que o contrato deve ser lei entre as partes.
A cláusula de seguro de saúde que restringe o transplante de órgãos é abusiva, visto que acarreta uma
vantagem desarrazoada ou uma desvantagem exagerada ao consumidor. Esta é a posição do STJ.
Isso porque, se o plano diz que será tratada certa doença e o sujeito faz o plano justamente porque terá
coberto a sua doença pelo plano. Após, não é razoável que o plano não cubra o transplante de órgão necessário
para o tratamento daquela doença pela qual foi contratado o plano de saúde. Aqui a desvantagem fica exagerada
ao consumidor.
O CDC, em seu art. 6º, V, prevê como direito básico do consumidor a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou a revisão das cláusulas em razão de fatos
supervenientes que tornem aquelas obrigações excessivamente onerosas.
Basicamente, se há desequilíbrio no nascedouro do contrato, é possível que essa cláusula seja
modificada. Da mesma forma, se, após o nascimento, ocorrer um fato superveniente, passando-se a perceber um
desequilíbrio no contrato, também será admitida a modificação ou a revisão das cláusulas contratuais.
O fato superveniente altera o equilíbrio contratual. Para fazer a revisão do contrato na relação de
consumo, não é preciso que o fato seja imprevisível, pois o CDC não adota a teoria da imprevisão.
Pela leitura do art. 6º, V, o CDC adotou a teoria do rompimento da base objetiva do negócio. Não
precisa que o evento seja imprevisível para alterar ou modificar as cláusulas contratuais.
Em relação ao princípio da equivalência, o STJ entende que o aumento da idade do segurado justifica a
maior necessidade de assistência médica e por isso justifica o aumento da mensalidade do plano ou do seguro de
saúde. Não é apenas o equilíbrio para favorecer o consumidor. O CDC traz a previsão de equilíbrio, de forma que
nenhuma das partes poderá experimentar enriquecimento ou empobrecimento sem causa.

VI. Princípio da reparação integral


É necessário reparar o dano experimentado pelo consumidor de maneira integral.
Dentre os direitos básicos do consumidor, o art. 6º, VI, estabelece que o consumidor tem direito à
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.
A ideia da reparação integral, segundo a doutrina, deve ser concedida em sentido amplo, a fim de
reparar e a prevenir a ocorrência do dano.
Exemplo de aplicação do princípio da reparação integral é o caso das seguradoras que, no contrato de
adesão, inseriam a cláusula de que o seguro cobriria danos pessoais. Após, ocorria o sinistro. A pessoa queria a
indenização por danos morais, já que o contrato falava em danos pessoais. No entanto, a seguradora se negava,
dizendo que apenas cobria danos pessoais, que, para as seguradoras, seriam apenas os danos materiais, e não
morais.
O STJ, por conta de diversos casos, editou a Súmula 402, estabelecendo que o contrato de seguro por
danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.
Ou seja, a seguradora deve agir com transparência e informação. Na dúvida, deverá ser interpretada a
cláusula dúbia em favor do consumidor. Caso não queira cobrir os danos morais, deverá mencionar
expressamente tal cláusula no contrato de adesão.
Uma consequência do princípio da reparação integral é de que a jurisprudência brasileira não admite a
indenização tarifária. Exemplo disso é o caso de extravio de bagagem.
Segundo o STJ, é firme a jurisprudência da Corte, no sentido de que, após a edição do CDC, não
prevalece mais a tarifação da Convenção de Varsóvia. Ou seja, existe essa convenção tarifando indenização no
caso de bagagem estrangeira, mas a reparação deverá ser integral pelo CDC.
A única exceção à luz do CDC, que vai permitir, portanto, a tarifação de indenização, ocorrerá quando o
consumidor for pessoa jurídica. Neste caso, a indenização poderá ser limitada e tarifada, conforme o art. 51, I, do
CDC, em que diz, na sua parte final, que nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa
jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis. Portanto, é possível a indenização limitada
se o consumidor for pessoas jurídica, desde que essa limitação seja justificada.

VII. Princípio da solidariedade (responsabilidade solidária)


O princípio da solidariedade diz respeito à responsabilidade relativa aos danos sofridos pelos
consumidores. De forma mais ampla, diz respeito à responsabilidade sobre vícios ou fatos relativos a produtos ou
serviços.
O consumidor poderá exigir o seu direito à reparação contra todos aqueles fornecedores, ou contra
apenas um deles, conforme preferir, levando-se em conta a solidariedade entre eles.
Segundo o art. 7º, parágrafo único, tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente
pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
O art. 25, §1º, diz que, havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão
solidariamente pela reparação.
O art. 18 também afirma que os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor.
Claramente, há a consagração da responsabilidade solidária entre os fornecedores.
Dessa forma, o STJ entende que empresas de plano de saúde respondem solidariamente por dano
causado por médico ou hospital que foi por ela credenciado. O plano de saúde diz ao cliente que poderá ir em 3
hospitais, pois estariam cobertos pelo plano. Se a pessoa sofrer um dano nesse hospital escolhido, o plano de
saúde e o hospital são responsáveis solidários pela reparação do dano. Veja, é necessário que o consumidor
tenha ido no hospital credenciado pelo plano.
Isto não se confunde com a pessoa que escolhe o médico, que escolhe o hospital, nos chamados
“seguros saúde”, e depois é ressarcido. O sujeito faz a consulta com quem quer, pega a nota e após o seguro
saúde o ressarce pelo valor da consulta. Neste caso, o STJ entende que não há a responsabilidade da
seguradora pela má-prestação do serviço.
No tocante à responsabilidade, se houver um anúncio falso publicado na internet que cause ofensa e
gere danos à outra pessoa, neste caso, todos responderão solidariamente pelos danos sofridos por aquela
pessoa. Ou seja, a empresa proprietária do site, a empresa de propaganda que foi responsável pela contratação
do aluno, o portal que hospeda o site do conteúdo, etc.
O STJ entende, no tocante a provedor de conteúdo de internet, que ele não responderá objetivamente
pelo conteúdo inserido pelo usuário. Isso porque há a liberdade de expressão e o provedor não poderá fazer uma
censura prévia do que seria publicado. Por outro lado, quando o provedor da internet é comunicado do conteúdo
inadequado, terá obrigação de retirar imediatamente o conteúdo moralmente ofensivo, por exemplo. Caso não
retire após a cientificação, passará então o provedor a responder solidariamente com o autor do dano.

VIII. Princípio da interpretação mais favorável ao consumidor


Em caso de cláusula dúbia, que acabe violando a transparência e o direito de informação do
consumidor, será adotado o princípio da interpretação mais favorável ao consumidor.
O art. 47 do CDC diz que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.
A interpretação contra o estipulante também é prevista pelo Código Civil. Perceba que o CDC vai
dialogar com o CC. O art. 423 do CC diz que, quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas e
contraditórias, deve ser adotada a interpretação mais favorável ao aderente. É o caso do consumidor que celebra
o contrato de adesão, situação em que deverá se valer do Código Civil também para dizer que será interpretada a
norma de maneira mais favorável ao consumidor.
Se em um seguro de veículo as cláusulas contratuais aludem conceitos de direito penal, como furto e
roubo, há de se considerar também a figura da extorsão. Isso porque a distinção rígida entre roubo, furto e
extorsão não é uma distinção que o leigo consiga fazer, pois escapa da compreensão do homem-médio. Este é o
entendimento do STJ, caso inclusive julgado pelo STJ.
Na mesma linha, o STJ entendeu que, quando a cláusula do contrato de seguro diz que está coberto o
evento de furto qualificado, a seguradora não pode se negar a cobrir o evento se o que ocorreu foi furto simples.
Isso porque a distinção rígida entre o que é furto simples e furto qualificado é uma distinção inerente ao
profissional do direito penal. Neste caso, como escapa tal conhecimento do homem-médio, essa cláusula deve
ser interpretada de maneira mais favorável ao consumidor.

IX. Princípio da boa-fé objetiva


A boa-fé objetiva é um dever imposto a qualquer uma das partes que estiver nos polos da relação
negocial. É o dever de o sujeito agir com lealdade, cooperação, não adotar condutas que quebrem uma legítima
expectativa gerada na outra parte.
Por isso, a boa-fé objetiva é criadora de deveres anexos, que é o dever de adotar comportamentos
conforme aquilo que é legitimamente esperado.
Com base na boa-fé objetiva, a jurisprudência tem entendido que a suspensão do atendimento do plano
de saúde em razão de um simples atraso na prestação mensal, principalmente se já tiver havido o pagamento da
prestação após isto, é quebra da boa-fé objetiva, gerando abuso do direito. Isso porque, se a operadora de plano
de saúde permite que o sujeito pague com atraso, não é possível dizer que o plano não vigora mais.
O princípio da boa-fé objetiva exprime 3 funções:
 Função interpretativa:
O juiz deve sempre prestigiar, diante de convenções e contratos, a teoria da confiança, segundo a qual
as partes agem com lealdade na busca do adimplemento contratual. O juiz deve interpretar as cláusulas
contratuais de modo a desconsiderar a malícia da parte que se vale de evasivas para criar convenções
duvidosas, a fim de obter vantagens incomuns. O juiz deve interpretar as cláusulas lacunosas ou imprecisas de
acordo com o que, normalmente, são entendidas pelos indivíduos.
 Função de controle:
Visa evitar o abuso do direito subjetivo, limitando condutas e práticas comerciais abusivas. Quando não
houver lealdade no exercício do direito subjetivo, de forma a frustrar a confiança criada em outrem, o ato será
abusivo e considerado ilícito, conforme o art. 187 do CC.
 Função integrativa:
Insere deveres anexos, cuja violação é chamada de “violação positiva do contrato” (ou “adimplemento
ruim”), são eles:
a) Dever anexo de informação;
b) Dever anexo de cooperação: o fornecedor deverá cooperar para que o consumidor possa alcançar
suas expectativas, facilitando os meios para que o mesmo possa adimplir o contrato.
c) Dever anexo de proteção: o fornecedor deve preservar a integridade pessoal e patrimonial do
consumidor que, quando violados, geram danos materiais e morais. Ex.: quando o fornecedor disponibiliza
estacionamento para os veículos dos clientes, assume o dever, derivado do princípio da boa-fé objetiva, de
proteger os bens e a pessoa do usuário.

X. Princípio da reparação objetiva


Sabe-se que a responsabilidade civil por danos causados ao consumidor é uma responsabilidade
objetiva. Não se discute culpa!
O art. 14 do CDC diz que o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Veja, o fornecedor responde objetivamente, independentemente de culpa.
Esse princípio da reparação objetiva não tem caráter absoluto, pois o art. 14, em seu §4º, traz uma
exceção. Isso porque a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação
de culpa.
Portanto, haverá a responsabilidade subjetiva do profissional liberal.
O CDC fala ainda que as sociedades coligadas responderão por culpa, mas verificaremos mais à frente.

XI. Princípio do adimplemento substancial


O adimplemento substancial não está explicitamente no CDC.
A teoria, denominada de “substancial performance”, vai impedir que haja a resolução de um negócio
que já houve o adimplemento substancial da prestação ou das prestações.
Em outras palavras, se a parte inadimplida é mínima, preserva-se o negócio jurídico. Ex.: o sujeito
pagou 30 das 36 parcelas, ficará mantido o negócio, devendo o fornecedor buscar por outras vias o pagamento
das 6 parcelas remanescentes.
O STJ tem decisão adotando a teoria do adimplemento substancial. Essa teoria, para a Corte, visa
impedir o uso desequilibrado do direito de resolução do contrato por parte do credor, com base no princípio da
preservação do contrato e no da boa-fé.

XII. Princípio do venire contra factum proprium


Não há disposição explícita no CDC.
O venire contra factum proprium non potest é a vedação da adoção de um comportamento
contraditório, abrupto, que viole a boa-fé objetiva.
É o caso do sujeito que teve uma cirrose provocada por vírus C. Ele adquiriu essa doença muito tempo
depois da assinatura do contrato de seguro-saúde. Era uma doença desconhecida do autor. Em outras
oportunidades anteriores, o sujeito buscou tratamento para outras doenças e recebeu o reembolso pelo seguro-
saúde. No entanto, mais tarde, foi tratar da cirrose pelo vírus C. Efetuou o pagamento do tratamento, mas quando
foi pedir o reembolso para o seguro-saúde, lhe foi negado o ressarcimento. Neste caso, o STJ entendeu que
haveria venire contra factum proprium, não sendo permitido a adoção desse comportamento contraditório.
Anderson Schreiber entende que, para o venire contra factum proprium ficar caracterizado, é preciso
que haja o preenchimento de 4 requisitos:
 Conduta inicial (factum proprium)
 Haja uma legítima confiança no outro objetivamente (Espera-se o comportamento mais lógico)
 Comportamento contraditório ao sentido objetivo;
 Ocorrência de dano sofrido pela parte ou potencial de dano.

XIII. Princípio da conservação do contrato


O CDC diz no art. 51, §2º, a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato,
exceto quando da ausência dessa cláusula, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a
qualquer das partes.
Na mesma linha, o Código Civil diz que, no art. 184, respeitada a intenção das partes, a invalidade
parcial de um negócio jurídico não prejudicará o negócio jurídico na parte válida, se for possível fazer essa
separação entre a parte inválida e a parte válida.

XIV. Princípio da modificação das prestações desproporcionais


Mais uma vez traz a ideia de equilíbrio. Trata-se de um subprincípio do princípio da equivalência das
prestações.
Dentre os direitos básicos do consumidor, está a modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas.
Há aqui a teoria do rompimento da base objetiva. Não há a teoria de origem francesa, denominada
teoria da imprevisão. No Código Civil, há adoção da teoria da imprevisão, conforme art. 478.

XV. Princípio da equidade


A equidade, no sentido aristotélico, é a justiça do caso concreto.
A autorização para se valer da equidade como julgamento vem no art. 51 do CDC, o qual estabelece
que são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que estabeleçam obrigações incompatíveis com a boa-fé ou com a equidade. Portanto, cláusula
incompatível com a equidade é nula de pleno direito.
O STJ entende que são nulas as cláusulas contratuais que impõem ao consumidor uma
responsabilidade absoluta por compras realizadas por cartão de crédito furtado até o momento em que esse
consumidor comunica o furto à operadora ou ao banco.
Quando há uma previsão contratual nesse sentido, coloca-se o consumidor em desvantagem
exagerada, violando a equidade. Isso porque são as administradoras de cartão de crédito e os vendedores que
devem apurar a regularidade no uso dos cartões, pedindo identidade para verificar quem é o dono do cartão.
Dessa forma, não se poderá penalizar o consumidor em razão disso.
O NCPC, na mesma linha do anterior, prevê que o juiz somente decidir por equidade nos casos
previstos em lei. No entanto, a previsão da equidade encontra-se no art. 51, de modo que não há uma violação ao
disposto no CDC.

XVI. Princípio da harmonia nas relações de consumo


O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor não pode implicar tratamento hostil do fornecedor.
O essencial é que haja equilíbrio.
O CDC, quando estabelece a Política Nacional das Relações de Consumo, diz que essa política terá
por objetivo, dentre outros, assegurar a harmonia das relações de consumo.
Nesse sentido, há a compatibilização das relações de consumo com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico.
Para o STJ, a proteção da boa-fé nas relações de consumo não pode significar favorecer
indiscriminadamente o consumidor, prejudicando direitos e valores que também foram outorgados legitimamente
ao fornecedor. É preciso buscar a harmonia nas relações de consumo.
Por conta disso, o STJ diz que é lícito que a concessionária interrompa o fornecimento de energia
elétrica ou de água se depois do aviso prévio o consumidor se mostra inadimplente com o pagamento da
respectiva conta. E essa possibilidade é admitida pelo STJ mesmo na hipótese em que o consumidor seja um
órgão público.
Em relação a órgãos públicos e a pessoas jurídicas de direito público, o STJ ressalva que é possível o
corte, desde que não se trate de órgão que preste serviço público essencial (ex.: hospital, escola, posto de saúde,
delegacia de polícia).
A prestação de energia elétrica, ainda que decorrente de inadimplemento, só é legítima se não afetar
direito à saúde e à integridade física do usuário. Com base nesse entendimento, o STJ também impediu que
houvesse o corte do fornecimento de energia elétrica para a pessoa portadora de HIV que necessitava de energia
elétrica para deixar a geladeira ligada para refrigeração dos medicamentos. Dessa forma, a concessionária
deverá cobrar o débito por outras vias, sem impedir o fornecimento de energia elétrica.
É importante ressaltar que a interrupção de energia elétrica só é admitida para débito atual. Débitos
antigos deverão ser cobrados por outras vias.
Felipe Peixoto Braga resume o que o STJ entende sobre a legitimação do corte de energia elétrica por
inadimplemento do consumidor. Portanto, são requisitos para que haja o corte legítimo:
 Não haja lesão irreversível à saúde ou à integridade física do usuário;
 Não exista discussão judicial da dívida;
 Não seja débito irrisório;
 Não seja débitos pretéritos e antigos;
 Não seja decorrente da fraude de medidor de consumo de energia que foi apurada unilateralmente
pela concessionária;
 Não se trate de débitos inadimplidos relativo ao usuário antigo do imóvel, pois se trata de obrigação
de natureza pessoal e não real (não é propter rem). Se foi um antigo usuário inadimplente pelos débitos da conta
de energia elétrica, o novo usuário não será obrigado a fazê-lo.

XVII. Princípio do acesso à justiça


O CDC traz vários dispositivos nesse sentido.
O art. 83 diz que, para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
Dentre os direito básicos do consumidor, o inciso VIII diz que resta assegurada a facilitação da defesa
de seus direitos.
No tocante à questão processual, a fim de facilitar a defesa do consumidor, o art. 101, I, diz que, na
ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, o consumidor poderá propor a ação no seu
domicílio. Trata-se apenas de uma facultatividade do consumidor.
No entanto, o STJ entende que, se o juiz verificar que a facilitação da defesa dos direitos do
consumidor está sendo prejudicada, neste caso, a cláusula de eleição de foro será nula.
Em se tratando de relação de consumo, segundo o STJ, é de natureza absoluta a competência,
podendo ser declinada de ofício pelo magistrado, considerando o princípio da facilitação da defesa pelo
consumidor. Dessa forma, a competência territorial assumiria o caráter absoluto. No entanto, caso o consumidor
seja o autor da ação, poderá ele decidir se vai ajuizar a ação no seu domicílio ou no domicílio do fornecedor.
Dentre os instrumentos que se têm para a facilitação da defesa do consumidor está a inversão do ônus
da prova. A inversão do ônus se dá quando o juiz percebe que a alegação é verossímil ou quando o consumidor
se mostrar hipossuficiente.
Hipossuficiência não significa que o consumidor é mais pobre que o fornecedor. Não se trata apenas de
hipossuficiência econômica. A hipossuficiência poderá ocorrer inclusive quando o consumidor é mais rico do que o
fornecedor, e ainda assim seja hipossuficiente.
A hipossuficiência poderá ser:
 Hipossuficiência econômica: ocorre quando o poderio econômico do fornecedor é absolutamente
superior e capaz de prejudicar o consumidor por conta de suas condições financeiras.
 Hipossuficiência técnica: ocorre quando o paciente é submetido a uma cirurgia médica, não tem o
conhecimento técnico da especialidade médica. Ainda que seja muito rico, será hipossuficiente, podendo ser
determinada a inversão do ônus da prova.

O STJ decidiu que a inversão do ônus da prova deverá se dar no momento do saneamento do
processo, a fim de viabilizar a produção da prova pelo fornecedor.
Lembrando que o NCPC trouxe regramento distinto do CPC/73, inovando a aproximando do CDC.
Dessa forma, o NCPC adotou a teoria dinâmica do ônus da prova.
O art. 5º do CDC estabelece que, para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo,
contará o Poder Público com os seguintes instrumentos:
 Manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente;
 Instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público;
 Criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de
infrações penais de consumo;
 Criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de
litígios de consumo;
 Concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.
Veja, o art. 5º viabiliza o princípio do acesso à justiça, facilitando o direito do consumidor.

2. Você se ateve muito ao consumidor, e a pessoa jurídica, não entra nessa situação?
O art. 2º do CDC diz que consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
Segundo o STJ, o CDC adotou a teoria finalista mitigada, a qual leva em conta a vulnerabilidade
técnica, jurídica, fática, informacional ou hipossuficiência. Ou seja, consumidor seria aquele que retira o bem do
mercado e coloca fim na cadeia de produção. Trata-se de um conceito econômico de consumidor.
Pertinente consignar que, no caso do consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada e
tarifada, conforme o art. 51, I, do CDC, em que diz, na sua parte final, que nas relações de consumo entre o
fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis.

A quem se aplica o CDC, segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:


 Não se aplica o CDC na relação entre condomínio e condômino;
 Não se aplica o CDC na relação entre autarquia previdenciária (INSS) e seus beneficiários;
 Não se aplica o CDC na relação entre participantes de plano de benefício e entidade de previdência
complementar fechada;
 Não se aplica o CDC às relações jurídicas tributárias entre contribuinte e o Estado;
 Não se aplica o CDC nas relações de locações disciplinadas pela Lei 8.245;
 Não se aplica o CDC nas relações entre estudantes e programas de financiamento estudantil, eis que
esse financiamento não é serviço bancário, e sim um fomento à educação;
 Não se aplica o CDC nas relações entre cooperativa e cooperado para o fornecimento de produtos
agrícolas, pois se trata de ato cooperativo típico;
 Não se aplica o CDC nos contratos de financiamento bancário com o propósito de ampliar capital de
giro;
 Não se aplica o CDC nas relações entre os consorciados entre si;
 Não se aplica o CDC no caso de serviço público de saúde, custeado com receitas tributárias;
 Não se aplica o CDC nas relações trabalhistas;
 Não se aplica o CDC nos casos de contratos administrativos;
 Não se aplica o CDC nas relações entre representante comercial autônomo e sociedade representada;
 Não se aplica o CDC nas relações entre postos e distribuidores de combustível;
 Não se aplica o CDC nas relações entre lojistas e administração de shopping;
 Não se aplica o CDC no caso de serviços advocatícios;
 Aplica-se o CDC nas relações entre cooperativas de crédito e seus clientes, pois integram o Sistema
Financeiro Nacional;
 Aplica-se o CDC nas relações entre concessionária de serviço público e seus usuários, pois há uma
relação jurídica típica de direito privado, que remunera o serviço por meio de tarifa;
 Aplica-se o CDC nas relações entre usuários e a Empresa Brasileiras de Correios e Telégrafos;
 Aplica-se o CDC nas atividades de natureza notarial;
 Aplica-se o CDC na relação de consumo entre a seguradora e a concessionária de veículos , desde
que o seguro não integre os produtos ou serviços oferecidos por esta;
 Aplica-se o CDC nas relações entre os associados e a administradora do consórcio;
 Aplica-se o CDC nas relações de entidade privada (ou aberta) e seus participantes;
 Aplica-se o CDC para aquisição de veículo para utilização como táxi;
 Aplica-se o CDC aos contratos de financiamento do Sistema Financeiro da Habitação.
 Aplica-se o CDC em relação aos contratos de administração imobiliária, caso em que o proprietário do
imóvel contrata uma imobiliária para administrar seus interesses;
 Aplica-se o CDC nas relações entre sociedade empresária vendedora de aviões e sociedade
empresária administradora de imóveis que tenha adquirido avião com o objetivo de facilitar o deslocamento de
sócios e funcionários;
 Aplica-se o CDC nas relações entre canal de televisão e seu público;
 Aplica-se o CDC nas relações entre sociedades ou associações sem fins lucrativos, quando
fornecerem produto ou prestarem serviço remunerado;
 Aplica-se o CDC no caso de doação de sangue (fornecedor vende sangue a hospitais e terceiros);
 Aplica-se o CDC nas relações entre microempresa que celebra contrato de seguro;
 Aplica-se o CDC no caso de serviços funerários;
 Aplica-se o CDC no caso de aplicações em fundos de investimento;
 Aplica-se o CDC nas relações entre estabelecimento de casa noturna e clientes;

3. São cumuláveis os danos morais e materiais na relação consumerista? Em caso positivo, qual o
fundamento? O candidato falou em reparação integral e o examinador perguntou se ele não estava
confundindo com o dano ambiental. Existe súmula do STJ sobre cumulação de danos materiais e morais?
(examinador disse que existe sim, Súm. 37)
O CDC estabelece que “Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VI - a efetiva prevenção e
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e
administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou
difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados”.
Súmula 37 do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do
mesmo fato.
Súmula 387 do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
4. Quais os requisitos para a imputação do dano moral consumerista? Questionou se a responsabilidade
é objetiva na relação consumerista. O candidato disse que sim, e o examinador perguntou se ele tinha
certeza. Ele manteve o sim, e o examinador mandou prosseguir. O examinador mandou o candidato
lembrar-se de que se tratava de dano moral. Pediu pra exemplificar os direitos da pessoa a que o
candidato havia se referido.
Segundo o art. 5º, V, da Constituição Federal, é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.
Já o inciso X estabelece que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
O art. 6º, VI, do CDC, diz que é direito básico do consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.
O dano moral é um dano extrapatrimonial, atingindo a vítima em seus direitos não patrimoniais.
Conceitua-se dano moral como sendo uma ofensa ao direito da personalidade da vítima.
A indenização por danos morais é uma indenização compensatória, e não ressarcitória. Não há um
retorno ao status anterior, sendo uma indenização simplesmente compensatória.
A responsabilidade civil, na sistemática do CDC, é objetiva, com exceção dos profissionais liberais, que
é subjetiva.

5. Na linha do direito a imagem, a PJ pode ser vítima de dano moral?


O STJ tem admitido a reparação do dano moral à pessoa jurídica, especialmente por violação à sua
imagem (Resp. 752672/RS, Resp. 777185/DF).
Art. 52 do Código Civil: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade.
O STJ, na Súmula 227, diz que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Nesses casos, a honra
atingida à pessoa jurídica é a objetiva, sendo o prestígio que ela tem perante a sociedade.
Ex.: o protesto indevido de duplicata enseja indenização por dano moral, pois afeta a imagem do dano
moral. É dano in re ipsa, não sendo demonstrar o prejuízo, pois este é presumido. Se houve a negativação do
nome da pessoa jurídica que não tinha qualquer negativação gerará dano moral, conforme entende o STJ.

Apesar da previsão legal e do entendimento da jurisprudência majoritário, há enunciado do CJF em


sentido diverso: 286 - Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana,
decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.

6. O tempo que o consumidor eventualmente tem o dissabor de ficar no telecenter ou em fila, enseja dano
moral?

O Superior Tribunal de Justiça entende que o simples fato de ocorrer demora em fila para atendimento
não enseja dano moral:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73) - AÇÃO


CONDENATÓRIA - ESPERA EM FILA BANCÁRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE
NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO.
IRRESIGNAÇÃO DO AUTOR.
1. A mera invocação de legislação municipal que estabelece tempo máximo de espera
em fila de banco não é suficiente para ensejar o direito à indenização. Precedentes.
2. Conforme entendimento jurisprudencial desta Corte a demora no atendimento
em fila de banco, por si só, não é capaz de ensejar a reparação por danos
morais, uma vez que, no caso dos autos, não ficou comprovada nenhuma
intercorrência que pudesse abalar a honra do autor ou causar-lhe situação de
dor, sofrimento ou humilhação.
Incidência do óbice da súmula 7/STJ no ponto.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 357.188/MG, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado
em 03/05/2018, DJe 09/05/2018)

Todavia, em algumas hipóteses, o Superior Tribunal de Justiça tem aplicado a teoria do desvio
produtivo do consumidor e garantido indenização por danos morais a clientes pelo tempo desperdiçado para
resolver problemas gerados por maus fornecedores. Somente de maio até outubro deste ano, a corte aplicou a
teoria em ao menos cinco casos.
Na decisão mais recente, do dia 27 de setembro, o ministro Moura Ribeiro, da 3ª Turma do STJ,
manteve decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que aplicou a teoria no caso de um cancelamento
indevido de cartão de crédito. Ao tentar fazer uma compra, a mulher descobriu que seu cartão havia sido
bloqueado. Sem conseguir desbloqueá-lo, recorreu ao Judiciário (REsp 1.763.05 HYPERLINK
"https://www.conjur.com.br/dl/stj-desvio-produtivo.pdf"2 HYPERLINK "https://www.conjur.com.br/dl/stj-desvio-
produtivo.pdf"/RJ).

Em outro caso julgado em setembro, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino manteve decisão do TJ-SP
que aplicou o desvio produtivo e condenou uma faculdade a pagar R$ 15 mil de indenização a um aluno que
concluiu curso superior, mas não recebeu o diploma, o que o impediu de conseguir emprego na área (AREsp
1.167.382/SP).

Outra decisão do TJ-SP que aplicou o desvio produtivo e foi mantida no STJ trata de uma seguradora
que não fez a transferência de veículo sinistrado. Após receber diversas multas, o ex-proprietário pediu que fosse
indenizado pela empresa (AREsp 1.274.334/SP).

O desvio produtivo também foi aplicado pelo TJ-SP, e mantido pelo ministro Antonio Carlos Ferreira, do
STJ, no caso envolvendo o cancelamento de matrícula de uma aluna. Aprovada no vestibular, ela fez a matrícula
e afirmou que não podia apresentar naquele momento o comprovante de conclusão do segundo grau, pois ainda
não havia terminado o ensino médio (AREsp 1.271.452/SP).

https://www.conjur.com.br/2018-out-03/stj-reafirma-aplicacao-teoria-desvio-produtivo-consumidor

(...) A hipótese dos autos bem caracteriza aquilo que a doutrina consumerista contemporânea identifica como
desvio produtivo do consumo, assim entendido como a situação caracterizada quando o consumidor, diante de
uma situação de mau atendimento em sentido amplo precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas
competências de uma atividade necessária ou por ele preferida para tentar resolver um problema criado pelo
fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável. Em outra perspectiva, o desvio
produtivo evidencia-se quando o fornecedor, ao descumprir sua missão e praticar ato ilícito, independentemente
de culpa, impõe ao consumidor um relevante ônus produtivo indesejado por este, onerando indevidamente seus
recursos produtivos, in verbis:
(...)
O desserviço praticado pela Apelante prejudica a prática dos atos da vida civil e provocam aborrecimentos que
superam os do cotidiano, configurando dano moral, gerando obrigação de indenizar, independentemente de prova
atinente a prejuízo material, pois se trata de dano in re ipsa, com fulcro no artigo 186 e 927, do CC, c/c artigo 5, X,
da CFRB.(...)
RECURSO ESPECIAL Nº 1.763.052 - RJ (2018/0222077-1)
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/
bibli_boletim/bibli_bol_2006/RDCons_n.106.13.PDF

7. Quais os critérios para fixação do dano moral consumerista? O candidato apresentou um critério e o
examinador questionou se era o único apresentado pela doutrina e pela jurisprudência.
Em linhas gerais, conforme construção jurisprudencial, para fixação do dano moral deve ser
considerada a extensão do dano, as condições socioeconômicas das partes, a função pedagógica, proibição do
enriquecimento sem causa e a proporcionalidade. Não há na lei critério claro e específico.
O STJ tem adotado o método bifásico da quantificação do dano moral, proposto pelo Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino.
Para este método, considera-se:
 1ªFase – Interesse jurídico lesado: deve ser analisado o interesse jurídico que sofreu o dano.
 2ªFase – Circunstâncias do caso concreto, gravidade do fato, culpabilidade, concorrência da vítima,
condições econômicas da vítima e do autor.

“A doutrina e a jurisprudência têm encontrado dificuldades para estabelecer quais são esses critérios
razoavelmente objetivos a serem utilizados pelo juiz nessa operação de arbitramento da indenização por dano
extrapatrimonial. Tentando proceder a uma sistematização dos critérios mais utilizados pela jurisprudência para o
arbitramento da indenização por prejuízos extrapatrimoniais, destacam-se, atualmente, as circunstâncias do
evento danoso e o interesse jurídico lesado”, disse Sanseverino.

“Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a indenização, considerando o interesse
jurídico lesado, com base em grupo de precedentes jurisprudenciais que apreciaram casos semelhantes. Na
segunda etapa, devem ser consideradas as circunstâncias do caso, para fixação definitiva do valor da
indenização, atendendo à determinação legal de arbitramento equitativo pelo juiz”
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/O-m
%C3%A9todo-bif%C3%A1sico-para-fixa%C3%A7%C3%A3o-de-indeniza%C3%A7%C3%B5es- HYPERLINK
"http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunicação/noticias/Notícias/O-método-bifásico-para-fixação-de-
indenizações-por-dano-moral"p HYPERLINK "http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunicação/noticias/
Notícias/O-método-bifásico-para-fixação-de-indenizações-por-dano-moral"or-dano-moral

A correção monetária incidente sobre a indenização por danos morais vai ter como termo inicial a data
da prolação da decisão em que se arbitra o seu valor. Este entendimento se encontra na Súmula 362 do STJ.
Outro ponto que merece ser mencionado é a Súmula 498 do STJ, a qual estabelece que não incide
imposto de renda sobre a indenização sobre danos morais, pois não se trata de acréscimo patrimonial, mas
apenas de compensação.

Dúplice função do dano moral


O dano moral tem uma função dúplice?
SIM. A indenização por dano moral tem uma função dúplice. De um lado, ela compensa a vítima pelos
danos morais recebidos. Por outro lado, a indenização pune o ofensor.
É a função punitiva ou função pedagógica da indenização do dano moral. Trata-se da denominada
doutrina do punitive damages.
Embora no Brasil não exista uma lei que expressamente autoriza a função punitiva da indenização por
dano moral, ela acaba sendo largamente adotada e admitida pela jurisprudência. Pode-se afirmar que a
indenização por dano moral tem essa função dúplice, compensando a vítima, mas também punindo o ofensor.
Dia 2 – Ponto 03 – Thiago Belém e Joana’arc

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional
Examinador: Fabiano Ferreira Furlan (promotor de justiça de BH)
Ponto: Poder constituinte

1. Conceitue e classifique poder constituinte. Após a fala do candidato, o examinador questionou: E os


municípios? A Lei orgânica municipal está atrelada ao poder constituinte originário, derivado, ou a
nenhum deles?
É o poder ao qual incumbe criar ou elaborar, alterar ou reformar e complementar uma Constituição.
Nasce como poder no movimento do constitucionalismo, no século XVIII, que vai inaugurar as constituições
escritas. Pode ser classificado como Poder Constituinte Originário (criar), Derivado-Reformador (alterar) e
Decorrente (complementar).
O poder Constituinte Originário é uma prerrogativa extraordinária que ocorre em um momento
extraordinário e que visa à desconstituição de uma ordem anterior e a constituição de uma nova ordem
constitucional. Por outro lado, o Poder Constituinte Derivado é responsável pelas alterações no texto
constitucional, segundo as regras instituídas pelo Poder Constituinte Originário. Por fim, o Poder Constituinte
Decorrente é a prerrogativa conferida aos Estados-membros de criar e alterar suas constituições, a fim de se
adaptarem à nova realidade constitucional.
Em relação aos Municípios, a corrente majoritária entende que não há nos municípios poder constituinte
decorrente. Fundamenta-se em : a) interpretação literal de que a CR/88 não dispôs sobre Constituição para os
municípios; b) as Leis Orgânicas são subordinadas às Constituições Estaduais e à CR/88, e não é possível poder
constituinte decorrente de um poder constituinte que já é decorrente. Corrente minoritária defende que os
Municípios possuem poder constituinte decorrente, pois é ente federativo com autonomia derivada diretamente da
CR/88.

2. O poder constituinte originário possui limitações?


De acordo com uma visão clássica, o Poder Constituinte Originário seria ilimitado. Contudo, atualmente,
essa visão é refutada sob o argumento de que, fora do direito positivo interno, existem limitações materiais a
serem observadas. São elas de três categorias: limites transcendentes, imanentes e heterônomos.
Os limites transcendentes são aqueles advindos de imperativos do direito natural, de valores éticos ou de
uma consciência jurídica coletiva. Nesse sentido, parte da doutrina sustenta o dever de manutenção dos direitos
fundamentais, em razão do princípio da vedação ao retrocesso.
Os limites imanentes estão relacionados à configuração do Estado à luz do Poder Constituinte material
ou à própria identidade do Estado de que cada Constituição representa apenas um momento da marcha história.
Referem-se a aspectos como soberania ou a forma de Estado.
Os limites heterônomos são provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos como, por
exemplo as obrigações impostas ao Estado por normas de direito internacional.

3. Falando de poder constituinte, o tema das cláusulas pétreas vem à mente. Todos os direitos
fundamentais integram a condição de cláusula pétrea?
Uma interpretação literal ou gramatical sustenta que somente o rol de direitos e garantias previstos no art.
5º teriam natureza de cláusula pétrea; Gilmar Mendes defende uma interpretação literal restritiva, de tal sorte que
apenas os direitos considerados individuais previstos no art. 5º revestem-se da natureza de normas
superconstitucionais; Por outro lado, uma interpretação extensiva preconiza que todos os direitos fundamentais
são cláusulas pétreas; E, por fim, Barroso sustenta uma interpretação extensiva sistemática, por meio da qual,
considera-se cláusulas pétreas os direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira geração. O STF já
sinalizou que adota a corrente da interpretação extensiva sistemática, porém não expressamente (Ex. princípio da
anterioridade e imunidade tributária)

Eleitoral
Ponto: Eleição, diplomação

4. Discorra sobre as fases do processo eleitoral.


O processo eleitoral é um fenômeno dialético, um todo sistêmico, uno, sequenciado, cíclico. Ele
se desenvolve mediante fases administrativas e jurisdicionais bem demarcadas. Quando uma se exaure,
imediatamente é deflagrada a fase subsequente. Quando uma eleição termina, a próxima já começa a ser
preparada, em um ritual de etapas sucessivas, interpostas e circunstanciadas.

Nessa perspectiva, as principais fases do processo eleitoral estão assim ordenadas: a) Alistamento e
transferência de domicílio eleitoral b) Atos preparatórios da eleição; c) Convenções para escolha de candidatos; d)
Registro de candidaturas; e) Propaganda eleitoral; f) Votação, apuração e totalização; g) Proclamação dos
resultados; h) Prestação de contas da campanha eleitoral; i) Diplomação. Por conveniência didática, a doutrina
denomina de microprocesso eleitoral ou processo eleitoral em sentido estrito o período que se estende da fase
das convenções partidárias até a fase da diplomação

5. O preso pode votar? E o preso provisório?

Segundo o inciso III do artigo 15 da Constituição Federal, é causa de suspensão dos direitos políticos a
condenação criminal transitada em julgado enquanto durarem seus efeitos. Trata-se de efeito automático da
sentença condenatória, de modo que o preso tem suspensa sua capacidade eleitoral ativa e passiva, enquanto
durarem os efeitos da condenação. Uma vez extinta a punibilidade pelo cumprimento da pena ou outra causa, o
indivíduo restabelece seus direitos políticos, independente de reabilitação, conforme entendimento firmado pelo
TSE.
Em relação ao preso provisório, como não há sentença penal condenatória transitada em julgado, não há
suspensão de seus direitos políticos e, portanto, ele poderá exercê-los. Na prática, contudo, muitos presos
provisórios não votam porque a Justiça Eleitoral somente está obrigada a instalar seções eleitorais em locais com
mais de 50 eleitores (art. 117, CE).

Administrativo
Examinador: Marco Paulo Starling (Procurador de Justiça)
Ponto: Controle da Administração Pública

1. Qual o principal controle administrativo realizado pelo poder público? Qual a forma de controle típica
que a administração realiza em si própria? Como se denomina no direito administrativo esse controle que
a administração realiza em si própria? (o examinador formulou várias vezes, e o candidato pediu pra
repetir e ele formulou novamente) Resposta: Autotutela (Fiquei em dúvida se foi o examinador que
respondeu, o candidato falou controle interno, autocontrole). E o que seria a Autotutela? A autotutela visa
resguardar/ reverenciar/ homenagear princípios fundamentais da República; quais são, pra você, os 3
principais princípios fundamentais da República?(Obs. O examinador falou em princípios fundamentais
da república, não sei se queria dizer princípios da administração e foi erro técnico, diante do tema.) O
examinador considera que não há uma resposta correta, quer a opinião do examinado e a sua
fundamentação. Candidato respondeu legalidade, moralidade e eficiência.
Controle administrativo é a prerrogativa reconhecida à Administração Pública para fiscalizar e corrigir, a
partir de critérios de legalidade ou de mérito, a sua própria atuação. O principal controle é o interno, denominado
de autotutela, exercido por determinada entidade administrativa sobre seus próprios órgãos. Esse controle é
justificado pela hierarquia administrativa inerente à estruturação interna das pessoas administrativas e, por essa
razão, independe de previsão legal. Consiste no poder-dever da Administração Pública em rever seus próprios
atos, seja para anulá-los, quando constatada a ilegalidade, ou revogá-los, por razões de conveniência e
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos (art. 53 da Lei 9784 – Lei do Processo Administrativo – e
Súmulas 346 e 473 do STF).
Importa salientar que o controle exercido pela Administração Direta sobre os atos das entidades da
Administração Indireta denomina-se tutela administrativa e, em âmbito federal, supervisão ministerial. Em virtude
da autonomia dessas entidades administrativas, a tutela somente será permitida quando houver previsão legal
expressa.
Princípios fundamentais são aqueles que representam as decisões políticas estruturais do Estado,
servindo de matriz para todas as demais normas constitucionais. Os três principais princípios fundamentais da
República são o princípio Republicano (forma de governo), o princípio do Estado Democrático de Direito (regime
de governo) e o princípio Federativo (forma de estado).

2. Seria correto afirmar que o MP é um órgão específico de controle administrativo? ex. de órgão de
controle: tribunal de contas. Candidato respondeu que não e o examinador questionou: Se ele não é, o
que ele seria, então? Disse que algumas pessoas entram no MP e não sabem bem o que é o MP, para que
ele serve.
A resposta perpassa pela natureza jurídica do Ministério Público. Há quem sustente que o Ministério
Público estaria atrelado ao Poder Legislativo, a este incumbida a elaboração da lei e ao Ministério Público, a
fiscalização do seu fiel cumprimento.
Há quem defenda que a atividade do Ministério Público é eminentemente jurisdicional, razão pela qual
estaria ele atrelado ao Poder Judiciário.
Há quem afirme que a função do Ministério Público é administrativa, pois ele atua com o fim de promover
a execução das leis e estaria atrelado ao Poder Executivo.
Há quem entenda que o Ministério Publico seria um quarto poder, devido as suas funções institucionais e
sua autonomia previstas constitucionalmente.
E há, por fim, quem afirme que o MP, embora não seja um quarto poder, é Instituição independente e
desvinculada de quaisquer dos Poderes, pois suas atribuições advêm diretamente da Constituição.
Assim, seria órgão específico de controle administrativo, caso considerado atrelado ao Poder Executivo.
Em quaisquer das outras acepções, o MP exerce controle externo da Administração Pública.

3. O Tribunal de Contas, como órgão auxiliar do legislativo, com suas prerrogativas, pode apreciar a
constitucionalidade de leis ou atos administrativos emanados pelo poder público? Pode determinar
qualquer sanção ao ente (município, p.ex.) que expediu o ato ou norma?
A Súmula 347 do STF preleciona que o Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade de leis e atos do Poder Público. Porém essa súmula vem sendo relativizada em
posicionamentos monocráticos do Ministro Gilmar Mendes (MS 25.888) e, recentemente, do Ministro Alexandre
de Moraes (MS 35410). O entendimento do STF é no sentido de que o TC pode deixar de aplicar a norma, o que
não é o mesmo que declará-la inconstitucional. No que concerne aos atos e contratos administrativos, o TC
poderá sustar os atos administrativos que não forem corrigidos pela Administração e quanto aos contratos poderá
determinar à autoridade administrativa que promova a anulação do contrato, sob pena de imediata comunicação
ao Congresso Nacional, conforme entendimento do STF (MS 23550).

GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro (promotor de justiça)

1. Em Capinópolis houve um caso em que o padrasto frequentemente estuprava a enteada, o que ocorreu
durante alguns anos, e dessa relação nasceu uma criança que foi criada pela avó, companheira do
padrasto e mãe da mãe da criança. O padrasto foi condenado por um promotor. Posteriormente, outro
promotor que chegou a cidade denunciou a mãe/avó por ter sido omissa. Mas a promotora que está
fazendo os memoriais está em dúvida, pois a acusada cuida do neto muito bem, é uma mulher muito
sofrida, aparentando ter 60 anos de idade, quando tem apenas 40. Todas as testemunhas do caso,
inclusive o conselho tutelar, disseram que ela sempre agiu com omissão. O que você, como promotor
faria a respeito? (Inicialmente pareceu que ele queria que auxiliasse a promotora, mas depois mandou
dizer como se o candidato fosse o promotor do caso.) Questionou se o candidato gostaria de ir para uma
comarca no norte, no sul, aonde? Riu e
Sendo a acusada mãe da vítima, ela encontra-se na posição de garante, nos termos do art. 13 § 2º,
alínea “a” do CP, eis que tem a obrigação legal, derivada do poder familiar, de manter, educar e proteger sua filha.
Assim, comprovada sua omissão, deverá ser condenada por crime de estupro de vulnerável comissivo por
omissão. No entanto, o fato de haver tido uma vida muito sofrida (conduta social) e o de haver cuidado bem do
neto (circunstância posterior ao crime), podem ser levados em conta como circunstância judicial favorável e
atenuante genérica, respectivamente, na dosimetria da pena. Ademais, sua conduta também ensejaria a
incapacidade para o exercício do poder familiar em relação à vítima, sua filha, nos termos do art. 92, II do CP, e,
consequentemente, a incapacidade para tutela de seu neto.

2. Um adolescente praticou ato infracional, duplamente qualificado, análogo ao homicídio, causando


grande comoção popular. A imprensa, diante da comoção, pediu ao promotor que concedesse uma
entrevista sobre o fato. A questão é relativa à Lei 8.069. O promotor pode conceder a entrevista? É crime
fazer referência ao adolescente? Só passar a versão fática é crime? Identificar o adolescente é crime? No
contexto geral, o problema é o seguinte: o senhor pode dar a entrevista? Se der, o que o senhor pode
fazer na entrevista?
Nos termos do art. 17 do ECA, é direito da criança e do adolescente a preservação de sua imagem e
identidade. Por sua vez, o art. 143 veda a identificação de criança ou adolescente na divulgação de notícia
relativa a seu envolvimento em ato infracional, seja por fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco,
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. Nesse contexto, o desrespeito a aludida vedação não é
considerada crime, mas sim infração administrativa prevista no art. 247 do mesmo diploma. Dessa forma, desde
que não haja menção a elementos que possam identificar o adolescente, não há impedimento que o Promotor dê
entrevista relatando a versão fática. Caso descumpra o preceito legal, poderá responder pela infração
administrativa do mencionado art. 247.
3. Quanto à classificação dos crimes de corrupção de menores do CP e do ECA, esses crimes são
materiais ou formais?
No que tange à relação entre a conduta e o resultado, o crime pode ser classificado em material, formal e
de mera conduta. Crimes materiais são aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um
resultado naturalístico, sendo a ocorrência deste último necessária para a consumação. Crimes formais, de
consumação antecipada ou de resultado cortado são aqueles nos quais o tipo penal contém em seu bojo uma
conduta e um resultado naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação. Crimes de mera
conduta, por sua vez, são aqueles em que o tipo penal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém
resultado naturalístico, razão pela qual ele jamais poderá ser verificado.
Partindo desses conceitos, o STJ sumulou entendimento (súmula 500) no sentido de que o crime de
corrupção de menores previsto no ECA (art. 244-b) é crime formal, ou seja, a consumação se dá com a simples
participação da criança ou adolescente em infração penal cometida por agente imputável, sendo dispensada, para
sua configuração, prova de que o menor tenha sido efetivamente corrompido. Cumpre salientar que o STF segue
o mesmo entendimento.
No que concerne ao crime de corrupção de menores previsto no CP (art. 218), a doutrina diverge sobre o
tema. Uma primeira corrente sustenta que é crime material, uma vez que é necessária a realização, por parte da
vítima, de pelo menos algum ato tendente à satisfação da lascívia de outrem. Uma segunda corrente defende que
a consumação se dá com a indução, que é o convencimento do menor a realizar o ato que deverá conduzir à
satisfação da lascívia de terceiro.

Processo Penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento (procurador de justiça)
Ponto: Processo penal, jurisdição e competência

1. Quais são as exceções legais ao princípio de unidade de processo e de julgamento? Qual o nome
técnico para ficar parado o processo? (Suspenso, resposta do candidato, confirmada pelo examinador)
O princípio da unidade de processo e de julgamento impõe, nos casos de conexão e continência, a
reunião de todos os processos em um só deles, com julgamento único (simultaneus processus). Está previsto no
art. 79 do CPP.
São exceções legais obrigatórias:
1 – Concurso entre a jurisdição comum e a militar (art. 79, I, CPP);
2 – Concurso entre a jurisdição comum e juizado da infância e juventude (art. 79, II, CPP);
3 – Doença mental superveniente à prática delituosa (art. 79, § 1º);
4 – Citação por edital de um dos corréus, seguida de seu não-comparecimento e não-constituição de defensor
(art. 366);
5 – Recusas peremptórias no júri (art. 469, § 1º);
6 – Suspensão do processo em relação ao colaborador (art. 4º, § 3º, Lei 12850/13)

Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes
prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, ou juiz reputar conveniente a separação (art. 80,
CPP).
O nome técnico é a suspensão do processo.
2. Na competência por prerrogativa de função haverá atração da pessoa que não detém a prerrogativa
funcional? Candidato fez referência à súmula do STF, e o examinador questionou se essa súmula trata da
atração como obrigatória.
Conforme entendimento sumulado pelo STF (súmula 704), “não viola as garantias do juiz natural, da
ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados”.
Cumpre lembrar que em julgado mais recente o STF entendeu que compete a este tribunal decidir quanto
à conveniência de desmembramento de procedimentos de investigação ou persecução penal, quando houver
pluralidade de investigados e um deles tiver prerrogativa de foro perante a Corte (Informativo 750).

3. Diferencie exceção de incompetência de juízo e conflito de jurisdição. De quem é a legitimidade para


propositura de ambos? Qual órgão apreciaria um conflito entre um juiz estadual e um juiz federal?
A exceção de incompetência (declinatória fori) é a defesa indireta apresentada pela parte para que seja
reconhecida a incompetência relativa do foro perante o qual está tramitando o feito criminal. Será dirigida ao juiz
do feito que decidirá o incidente. Será formado em autos apartados. Poderá ser oposta por escrito ou
verbalmente. Da decisão que julga procedente a exceção de incompetência caberá recurso em sentido estrito
(art. 581, incisos II e III, CPP) e será irrecorrível a decisão que julga improcedente a mencionada exceção, no
entanto, nada impede que a questão seja ventilada em habeas corpus ou mandado de segurança em matéria
criminal ou em preliminar de futura e eventual apelação.
Por outro lado, o conflito de jurisdição (ou conflito de competência) é um procedimento incidental que se
forma para resolver a controvérsia estabelecida por manifestações de diferentes órgãos jurisdicionais, que
igualmente se afirmam competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para a prática
daqueles atos. O incidente deve ser suscitado perante o tribunal competente e deverá ser sempre escrito. Se
negativo, será suscitado nos próprios autos e se positivo, formar-se-ão autos apartados. O acórdão emitido pelo
tribunal que decidir o conflito poderá permitir o manejo de habeas corpus ou do mandado de segurança em
matéria criminal, a depender da natureza do direto que esteja em jogo, ou ainda do recurso especial ou do
recurso extraordinário, se presentes as hipóteses constitucionais de cabimento.
A legitimidade para propor a exceção de incompetência será do acusado, na oportunidade da defesa.
Impende assinalar que doutrina majoritária sustenta que pode ser oferecida inclusive pela acusação. Já o conflito
de jurisdição pode ser suscitado pela parte interessada (o que deve incluir o assistente de acusação), órgão do
Ministério Público junto a qualquer dos juízos em dissídio e de qualquer dos juízes ou tribunais em causa (art. 115
do CPP).
O conflito existente entre juiz estadual e juiz federal, desde que vinculados a tribunais diversos, deverá
ser dirimido pelo STJ, conforme art. 105, I, d da CR/88. Se o juiz estadual estiver investido de competência
federal (art. 109, § 3º), competirá ao Tribunal Regional Eleitoral, consoante súmula 3 do STJ: “compete ao
Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva Região, entre Juiz Federal e
Juiz Estadual investido de jurisdição f

BIBLIOGRAFIA

FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Editora Juspodivm: 2016.


NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. Editora Juspodivm: 2017.
NETO, Jaime Barreiros. Direito Eleitoral. Editora Juspodivm: 2017.
https://www.blogsoestado.com/flaviobraga/2014/04/27/as-fases-do-processo-eleitoral-4/
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. Editora Método: 2018.
https://jus.com.br/artigos/35505/a-natureza-juridica-do-ministerio-publico
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado - Parte Geral. Editora Método. 2014.
GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado – Parte Especial. Editora Saraiva: 2017.
DE LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Editora Juspodivm: 2016.
ALVES, Leonardo Barreto Moreira Alves. Processo Penal – Parte Geral. Editora Juspodivm: 2017.

GRUPO TEMÁTICO III

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus (procurador de justiça)

1. Conceitue o instituto da Curatela. (Pediu para repetir a resposta) Então o instituto não se aplicaria aos
maiores? Ela pode ser conceituada como uma medida de restrição ou de proteção? Em regra os menores
são colocados em tutela. Todavia, a condição desse menor pode autorizar, segundo a doutrina e a
jurisprudência, que se aplique a curatela. Logicamente esse menor é portador de condição(requisitos
autorizadores) para a interdição, mas a idade não é de maior incapaz. Em que situação é possível a
curatela em lugar da tutela para menores? O examinador respondeu que seria o menor relativamente
incapaz, que pode ser interditado, a interdição viria, porque ele possui requisitos para a curatela.

2. A legitimação do MP é ordinária, extraordinária ou subsidiária na ação de interdição? Como o MP se


posiciona na representação processual do processo da interdição? Segundo a lei civil, como o senhor
denominaria essa legitimação?(Pois o candidato não tinha falado se era ordinária, extraordinária ou
subsidiária)? Candidato respondeu extraordinária e o examinador falou subsidiária e explicou o que era
extraordinária. O candidato voltou atrás e disse que era subsidiária.

3. Aponte uma hipótese de legitimação ordinária do MP para a Curatela. É uma situação em que ele
concorre em igualdade com outros legitimados. Para ajudar o senhor vou dizer que é uma hipótese do
código em que há curatela sem interdição. Quando a curatela visa apenas à administração de bens ou
negócios, o MP é legitimado para requerer a favor de quem? São duas classes de pessoas. O candidato
não sabia. Trata-se do art. 1.780 do CC que prevê que o enfermo ou o portador de deficiência física,
podem ter nomeado curador para administração de seus bens ou negócios, tendo o MP tem legitimidade
ordinária para requerer essa curatela.

4. Discorra sobre a curatela dos pródigos.

5. O senhor, como promotor na comarca de Frutal, recebe um processo de pedido de interdição em que
filhos alegam que a idade avançada do pai, de 90 anos de idade, não recomenda que ele pratique sozinho
os atos da vida civil. O que o senhor diz a respeito?

Processo Civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva (representante da OAB)
Ponto: Execução de titulo judicial
1. Qual a defesa cabível para um devedor de título judicial? ( resposta correta: caso legal + exceção de
pré-executividade) Tem efeito suspensivo? Quais os requisitos para a concessão do efeito suspensivo?
Penhora não é harmônico na doutrina, mas o examinador disse que considera correto. Questionou quais
seriam os outros dois requisitos além da penhora?

2. Diferencie fraude contra credores e fraude à execução. Quais os efeitos processuais caso a fraude a
execução seja considerada? Com relação aos efeitos processuais, a fraude à execução, como fraude
contra o poder judiciário, pode ser considerada litigância de má-fé, impondo-se a multa? (o examinador
cortou muito o candidato o tempo todo)

3. No curso do processo de conhecimento, de uma execução de disputa de bem que tornou-se litigioso
pela citação, se o devedor aliena o bem é fraude contra credores ou fraude à execução?

4. O juiz pode começar de ofício o cumprimento de uma sentença? A parte tem que requerer o seu
cumprimento?

5. Qual o seu entendimento sobre honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença? Sendo
em tese de competência do MP, você acha que são aplicáveis os honorários de sucumbência nessa fase?
(lembrar que ele é representante da OAB, ele frisou antes de iniciar a pergunta) Examinador acha que
cabe. Agradeceu pela resposta favorável do candidato.

6. A sentença arbitral pode ser sempre considerada título judicial, na sua opinião? Depende de alguma
característica própria da sentença? ex. sentença arbitral que obriga coobrigados a entregar alguma coisa.

7. Com relação à decisão que julga a liquidação de sentença, qual o recurso cabível? Candidato
respondeu: Agravo de Instrumento. Examinador questionou: Sempre? Examinador disse que tem uma
corrente favorável e interrompeu o candidato.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito material coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim (procurador de justiça) – falou fora do microfone o tempo todo, estava difícil
de entender, e não formulou bem as perguntas.
Ponto: Conflitos de paradigmas na decisão
1. Discorra sobre o seu entendimento sobre o discurso consequencialista dentro da decisão, dentro do
quadro dos juízos emitidos.

2. Distinguir o interesse de um grupo de pessoas do direito individual homogêneo. (O examinador usou


esses termos). Pediu um exemplo.

3. Apresente outras características dos interesses coletivos, em geral (difusos e coletivos).

4. Puxando para o aspecto prático. Conflito de interesses no aspecto consequencialista. Conflito entre
dois grupos: usuários de ciclovias e os usuários de automóveis. Como se supera esse conflito entre dois
interesses coletivos.
Direito material coletivo
Examinador: Dr. Carlos Alberto Valera (promotor em Uberaba)
Ponto: Proteção ao portador de necessidade especiais, natureza, fundamentos e instrumentos.

1. Defina os conceitos de deficiência e de deficiência permanente.


2. Qual a natureza principiológica dessa proteção?
3. Qual o(s) fundamento(s) dessa proteção? Cite dois dispositivos constitucionais que tratem dessas
questões. (O candidato não citou os artigos, apenas o conteúdo, e o examinador considerou correto)
4. Quais os instrumentos disponíveis para tutela jurídica dessas pessoas? (O examinador respondeu que:
ACP, recomendação, TAC e previsão do crime do art. 8º, Lei 8.754 – não tenho certeza, mas acho que a lei
é essa mesmo) O candidato falou em interferência do MP e o examinador criticou a nomenclatura e disse
que o MP não interfere, mas fiscaliza.
5. É licito ao órgão de execução do MP exigir dos municípios, com referência ao ensino fundamental, a
criação de escolas especiais para receber alunos e alunas portadores de necessidades especiais? O
candidato foi pelo caminho de capacitar os profissionais das escolas convencionais. O examinador disse
que o fundamento para não precisar criar escolas especiais é a inclusão, não citado pelo candidato).
Dia 03 – Ponto 11 – Mariana Michelette e Gabriel

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional
Examinador: Dra. Elaine Parisi
Ponto: Súmulas Vinculantes, Reclamação do MP e Ação de Impugnação de Mandato Eletivo.

1. O que é Súmula Vinculante? Qual o seu objeto? É possível a edição de súmula com a finalidade de
interpretar a constituição? Quais são os requisitos e o procedimento da súmula vinculante? Qual a
maioria? O município pode pleitear a revisão de uma súmula? Explicar melhor a forma difusa com que o
município pode pleitear/promover a revisão? O PGR precisa emitir parecer no processo de revisão de
súmula? As súmulas vinculantes têm efeitos imediatos? (A candidata respondeu que elas têm efeitos a
partir da sua publicação). Há alguma exceção?

a) Conceito
Súmula vinculante é o enunciado de um entendimento jurisprudencial extraído de reiteradas decisões no
mesmo sentido pelo Supremo Tribunal Federal, aprovado nos moldes da Lei 11.417/06, e com efeito vinculante
em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal.
O instituto jurídico conhecido como súmula vinculante foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro pela
EC nº 45/04, conhecida como Reforma do Judiciário, visando combater a morosidade do judiciário.

b) Objeto
Terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
É possível a edição de súmula vinculante com a finalidade de interpretar normas determinadas da
constituição.

c) Requisitos para a edição


Devem existir reiteradas decisões sobre matéria constitucional em relação a normas acerca das quais
haja, entre órgãos judiciários ou entre estes e a Administração Pública, controvérsia atual que acarrete grave
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre idêntica questão.

e) Procedimento
• Procedimento instaurado de ofício pelo STF ou por algum dos legitimados:
I - Presidente da República;
II - Mesa do Senado Federal;
III – Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – Procurador-Geral da República;
V - Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VI - Defensor Público-Geral da União;
VII – partido político com representação no Congresso Nacional;
VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;
IX – Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
X - Governador de Estado ou do Distrito Federal;
XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os
Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os
Tribunais Militares.

• O Procurador-Geral da República, nas propostas que não houver formulado, manifestar-se-á
previamente à edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula vinculante.
• Aprovação por dois terços dos seus membros (8 ministros)
• Publicação no DJe

f) Municípios como legitimados incidentais


Os Municípios também passaram a ter legitimação ativa, porém como legitimados incidentais, conforme o
art. 3.º, § 1.º, da Lei nº 11417/06.
Dessa forma, o Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em que seja parte, a
edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do
processo.

g) Produção de efeitos
A partir da publicação do enunciado da súmula na Imprensa Oficial, ela terá efeito vinculante em relação
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual,
distrital e municipal.
Entretanto, por decisão de 2/3 (dois terços) dos seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou
decidir que só tenha eficácia a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse público.

2. O que a senhora entende por reclamação constitucional? Qual é a sua natureza jurídica? Quais os seus
legitimados ativos? O Procurador Geral de Justiça de MG, ao verificar que um acórdão contraria súmula
vinculante, dispõe de legitimidade para pleitear a reclamação no STF? Não depende de ratificação do
PGR?

a) Conceito
A reclamação é um instrumento constitucional posto à disposição dos jurisdicionados (ou daqueles que
participam da relação processual) que visa garantir/preservar a competência e a autoridade das decisões dos
Tribunais.

b) Natureza Jurídica
O STF (plenário, 2012) bem como Ada Pellegrini Grinover, sustentam que a reclamação tem natureza
jurídica de direito constitucional de petição (art. 5o, 34, CF), (seria uma espécie de meio sui generis de
impugnação de decisão judicial). O STF entende ainda que a decisão proferida em reclamação se sujeita à coisa
julgada.
Doutrina majoritária, no entanto, sustenta que tem natureza jurídica de ação constitucional (tal como o
mandado de segurança, HC, HD, MI), criticando a posição do STF.

c) Legitimados ativos
De acordo com o CPC/15, são legitimados para a reclamação tanto a parte interessada quanto o
Ministério Público, podendo ser proposta perante qualquer tribunal.
Entende o STF que o Ministério Público Estadual, por ser dotado de autonomia administrativa e funcional,
é legitimado para a propositura de reclamação diretamente no STF. Assim, o PGJ é legitimado para pleitear
reclamação no STF caso verifique que um acórdão violou súmula vinculante (não há necessidade de o PGR
propor a reclamação nem de ratificá-la).

2.1. Norma municipal foi declarada inconstitucional pelo TJ, não houve recurso. Posteriormente, o poder
legislativo edita norma de igual conteúdo, cabe reclamação? Sim ou não, por quê?
Não cabe reclamação. O exercício da atividade legislativa não constitui ofensa à autoridade da decisão
proferida pelo Tribunal de Justiça, já que a função típica legislativa não é alcançada pela eficácia erga omnes e
nem pelo efeito vinculante da decisão que declara a inconstitucionalidade de uma lei. A edição de norma com
idêntico conteúdo a outra já declarada inconstitucional constitui o fenômeno conhecido como reação legislativa,
plenamente admitido pelo STF.
Consigne-se, no entanto, que a lei nova editada, com idêntico conteúdo àquela declarada
inconstitucional, nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, demandando do legislador um maior
ônus argumentativo a demonstrar que a correção do precedente é legítima (deve comprovar que as premissas
fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a decisão do TJ não mais subsistem).

3. MP pode deflagrar processo legislativo?


Sim, pois, nos termos do art. 61 da CF, o PGR possui iniciativa para projetos de leis ordinárias e
complementares.
Além disso, conforme art. 128, §5º, CF, os Procuradores-Gerais possuem iniciativa para deflagram o
processo legislativo de Leis Complementares que tratem sobre a Lei Orgânica do MP.
De forma simétrica, a Constituição de MG atribui iniciativa ao PGJ para iniciar o processo legislativo de
leis ordinárias e complementares estaduais.

4. O que é promotor natural?


"Promotor natural" é um princípio fundado na limitação dos poderes dos chefes da instituição de designar
promotores para, em caráter especial, funcionar em determinados casos (seu fundamento não é da necessidade
de proteção da imparcialidade, como ocorre com o juiz natural).
De acordo com o atual entendimento do STF, tal princípio é imanente ao sistema constitucional brasileiro
(sua matriz constitucional seriam as cláusulas da independência funcional e da inamovibilidade dos membros da
instituição).

5. Um membro do MP pode exercer outra função pública? A candidata falou do magistério e a


examinadora questionou se essa seria a única hipótese.
Nos termos do art. 138, §5º, II, da CF é vedado ao membro do MP exercer, ainda que em disponibilidade,
qualquer outra função pública, salvo uma de magistério.
A única exceção a esse dispositivo é a decorrente do art. 29, § 3º, do ADCT, que permite ao membro do
Ministério Público admitido antes da promulgação da Constituição, optar pelo regime anterior, no que respeita às
garantias e vantagens (posição do STF e do TSE).
Essa opção foi exercida pelo ex-Ministro da Justiça Eugênio Aragão, que mesmo sendo membro do
Ministério Público Federal, assumiu o ministério.
OBS: Examinador RENATO FRANCO DE ALMEIDA tem artigo de 2006 defendendo a possibilidade
de TODOS OS MEMBROS DO MP (independentemente da data de ingresso) exercerem atividade político-
partidária: "lícito se mostra afirmar que, ao contrário do quanto disposto na Resolução 5/2006 do CNMP, todos os
membros do Parquet, independentemente da data de ingresso na Instituição, poderão exercer atividades político-
partidárias nos limites que a lei de regência estabelecer, diante da cristalina inconstitucionalidade da alínea e do
inciso II do § 5o do artigo 128 da CF, na redação ofertada pela Emenda Constitucional 45/2004”.
Link: https://aplicacao.mpmg.mp.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/755/3.1.2%20Atividade%20pol
%C3%ADtico-partidária.pdf?sequence=1

Eleitoral

6. Quem pode figurar no polo passivo da ação de impugnação de mandato eletivo? E quais são os seus
legitimados ativos? Uma associação pode ingressar com essa ação? O MP pode assumir a titularidade
ativa dessa ação na hipótese da desistência do autor? Essa ação tramita em segredo de justiça?
A ação de impugnação de mandato eletivo tem previsão constitucional (artigo 14, § 10, CF) e tem por
finalidade a desconstituição de mandato eletivo caso haja provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
fraude.
A legitimidade passiva da AIME é do candidato eleito (se for eleição majoritária, há litisconsórcio
passivo entre os integrantes da chapa).
Não há disciplina na CF acerca dos legitimados ativos à AIME. Entende o TSE que a legitimidade
ativa é do Ministério Público eleitoral, de qualquer candidato àquele pleito, partido político e coligação (rol do
artigo 22 da LC 64/90).
- De acordo com TSE (2008), o segundo colocado em pleito majoritário tem interesse jurídico para
recorrer em AIME proposta pelo MP, uma vez que ele é legitimado para a ação e também tem possibilidade de
ascensão à chefia do Executivo.
- Quanto às associações, existe divergência doutrinária, havendo quem (Tito Costa, Pedro Henrique
Távora) admita sua legitimidade, como, como dos eleitores em geral, sob o fundamento de que o bem jurídico
tutelado nessa ação constitucional é de natureza coletiva, indivisível e do interesse de todos. Assim, não havendo
limitação específica de origem constitucional ou legal, deve prevalecer a possibilidade genérica que emerge da lei
processual civil. Tal posição, no entanto, não é agasalhada pelo TSE.
- A desistência da AIME pelo autor não extingue a ação, em razão do relevante interesse público que ela
representa. O MP, no cumprimento de suas funções essenciais estabelecidas no art. 127 da CP tem legitimidade
para assumir o polo ativo da AIME na condição de substituto processual.
- Por disposição expressa do artigo 14, § 11, CF, a AIME deve tramitar em segredo de justiça,
respondendo o autor se a ação for temerária ou de manifesta má-fé.

Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Ponto: Contratos administrativos: alterações contratuais e cláusulas exorbitantes
1. A alteração bilateral de contrato pode ser considerada cláusula exorbitante? Por que é uma cláusula
“normal”?
Os contratos administrativos são caracterizados pelo desequilíbrio das partes, uma vez que as cláusulas
exorbitantes, previstas no art. 58 da Lei 8.666/1993, conferem prerrogativas à Administração e sujeições ao
contratado, independentemente de previsão editalícia ou contratual. São cláusulas exorbitantes: alteração
unilateral, rescisão unilateral, fiscalização, aplicação de sanções e ocupação provisória.
Assim, a alteração bilateral dos contratos, por contar com manifestação de vontade de ambas as partes
contratantes, é uma cláusula normal, aplicável nos contratos em geral.

2. A alteração bilateral de contrato importa em limitações; quais seriam as hipóteses em que o legislador e
a doutrina consideram possível a alteração bilateral. (3 hipóteses)
A alteração do contrato será bilateral nos seguintes casos:
• Quando conveniente a substituição da garantia de execução;
• Quando necessária a modificação do regime de execução da obra/serviço/modo de fornecimento, por
inaplicabilidade dos termos contratuais originários;
• Quando necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição de circunstâncias
supervenientes;
• Para reestabelecer o equilíbrio econômico-financeiro do contrato (áleas administrativas ou áleas
econômicas).

3. Quais as hipóteses em que a doutrina brasileira alberga em relação à Teoria da Imprevisão? O que
seriam interferências imprevistas? (É uma hipótese da Teoria da Imprevisão)
No âmbito dos contratos administrativos, prima-se bastante pela manutenção de seu equilíbrio
econômico-financeiro firmado inicialmente. Prova disso é que, nos casos em que há uma situação fática não
prevista à época da celebração contratual que venha a alterar o equilíbrio econômico-financeiro da avença, faz-se
uma recomposição dos preços, justificando-se tal mudança através da teoria da imprevisão.
Com efeito, ocorre a teoria da imprevisão quando, no decorrer da execução do contrato, acontecem
eventos excepcionais e imprevisíveis que alteram substancialmente a equação econômico-financeira do pacto.
São 4 as hipóteses que ensejam a utilização da teoria da imprevisão:
a) caso fortuito e força maior (situações imprevisíveis e inevitáveis que alteram a relação contratual)
b) interferências imprevistas (situações preexistentes à celebração contratual, apenas vindo à tona
durante sua execução). Ex: lençol de água subterrâneo de pouca profundidade em local que haverá uma
construção.
c) fato da administração (se caracteriza pelo desequilíbrio ser causado por uma atuação direta da
Administração Pública no bojo do contrato, como um atraso no processo de desapropriação do terreno onde vai
ser executada uma obra)
d) fato do príncipe (o desequilíbrio também é causado pelo poder público, mas, neste caso, a ação da
Administração Pública se dá extracontratualmente, não deixando, pois, de incidir na relação contratual. É o caso,
por exemplo, da elaboração de uma lei que aumenta o valor de imposto que incide em produto imprescindível
para a execução do contrato, onerando substancialmente o contratado)

GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
Ponto: Princípios Penais Fundamentais, Crimes contra a Administração Pública, Lei de tortura e crimes
hediondos
1. O art. 316, §1º, CP, prevê o crime contra a Administração Pública- excesso de exação (o examinador
promoveu a leitura do artigo) existe excesso de exação quando o funcionário de cartório cobra
emolumentos excessivos? O emolumento não seria uma contrapartida do trabalho prestado?
As custas e os emolumentos relativos aos serviços prestados pelos serviços notariais e registrais
possuem natureza tributária, visto serem compulsórios (STF). Dessa forma, segundo o conceito de funcionário
público do art. 327 do Código Penal, o funcionário do cartório que cobrar emolumentos excessivos poderá
responder pelo crime de excesso de exação.

1.1. Art. 319-A, CP: Se o diretor da penitenciária deixa de vedar o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou
celular, se enquadrando no caso do artigo, não havendo prejuízo para a administração, o senhor o
denunciaria? Qual a função do Direito Penal? Qual a sua peculiaridade?
O tipo penal previsto no art. 319-A do Código Penal é um crime formal, consumando-se com a omissão
do diretor da penitenciária, ainda que não seja verificado resultado naturalístico caracterizado pelo prejuízo para a
administração.
Entretanto, considerando que a função primordial do direito penal é a proteção dos bens jurídicos mais
caros para a sociedade, conforme a corrente funcionalista moderada ou teleológica de Roxin, caso não haja lesão
ou perigo de lesão ao bem tutelado, deve-se reconhecer que o fato é materialmente atípico.

2. O que é o principio/ regra de interpretação da Insignificância Imprópria?

O princípio da insignificância imprópria preconiza que o fato, apesar de formal e materialmente típico, não
deve ser punido, tendo em vista que a aplicação da reprimenda seria desnecessária e inoportuna (ex: agente
primário, bons antecedentes, reparou danos à vítima). Para os que defendem a existência desse princípio, seu
fundamento seria a parte final do artigo 59 do CP (Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção
do crime:). No entanto, frise-se que tanto doutrina majoritária quanto jurisprudência pacífica rejeitam a aplicação
desse princípio.

3. Indique três consequências penais negativas da prática de crimes hediondos.


Nos termos da CF e da Lei nº 8.072/90, os crimes hediondos:
a) insuscetíveis de anistia, graça e indulto;
b) inafiançáveis;
c) Progressão de regime de pena em prazo maior que o previsto na LEP;

Processo Penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Ponto: Questões e processos incidentes

1. Diferencie arresto, sequestro e especialização de hipoteca legal, no âmbito do Processo Penal.


Arresto, sequestro e especialização de hipoteca legal são medidas cautelares de natureza patrimonial
previstas no Código de Processo Penal.
Todas essas medidas têm natureza cautelar, daí por que sua aplicação se subordina à constatação de
que há risco de dano na demora da entrega da prestação jurisdicional (periculum in mora) e de que há razoável
probabilidade de ser acolhida a pretensão reparatória (fumus boni iuris).
O arresto é medida cautelar patrimonial que atinge bens de origem lícita do acusado pela prática do
crime, visando posterior ressarcimento dos prejuízos sofridos pela vítima. São duas as espécies de arresto:
1) arresto de imóveis preparatório da hipoteca legal (art. 136 do CPP): Em atenção à circunstância de
que o procedimento de especialização da hipoteca legal pode demorar, a lei prevê a possibilidade de adoção de
arresto preparatório de bens imóveis do indiciado ou acusado, como forma de evitar que sejam alienados antes
da inscrição da hipoteca ou que haja desvios de frutos civis.
2) arresto de bens móveis (art. 137 do CPP): Se o indiciado ou réu não for titular de bens imóveis ou se o
valor deles for insuficiente, é possível, durante a ação penal ou antes de seu exercício, o arresto de bens móveis
que integrem o seu patrimônio lícito, hipótese em que as coisas serão retiradas da posse do agente e entregues,
em depósito, a quem o juiz determinar.
O sequestro é medida constritiva incidente sobre o proveito do crime, ou seja, bens decorrentes
indiretamente da prática do crime, portanto ilícitos. A constrição visa evitar que o acusado tenha ganhos ilícitos
com a prática do crime. Para a decretação do sequestro é necessária e suficiente a existência de indícios
veementes da proveniência ilícita dos bens (art. 126 do CPP).
Hipoteca legal é o direito real de garantia que tem por objeto bens imóveis pertencentes ao devedor que,
embora continuem em seu poder, asseguram, prioritariamente, a satisfação do crédito. De forma diversa do
sequestro, a hipoteca recai sobre bens que compõem o patrimônio lícito do autor da infração, ou seja, não tem
por objeto os proventos da infração.
A medida assecuratória em questão destina-se a assegurar a reparação do dano causado à vítima, bem
assim o pagamento de eventual pena de multa e despesas processuais, tendo a primeira preferência sobre essas
duas últimas (art. 140 do CPP).
Para que se possa realizar a inscrição da hipoteca, devem estar presentes dois requisitos (art. 134 do
CPP): a) certeza da existência da infração; b) indícios suficientes de autoria.
O art. 142 do Código de Processo Penal prevê que o Ministério Público poderá requerer a especialização
da hipoteca legal ou o arresto de bens móveis quando houver interesse da Fazenda Pública, ou se o ofendido for
pobre e o requerer.

2. O CPP foi alterado para prever a alienação antecipada de bens. Analise o procedimento e os requisitos
do instituto.
O artigo 144-A do CPP, que trata sobre a alienação antecipada de bens, foi incluído pela lei 12.694/12. O
instituto, que já era previsto na lei de lavagem de ativos e na lei de drogas, visa a preservação do valor dos bens
sempre que: a) estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou b) quando houver
dificuldade para sua manutenção.
- A alienação deve ocorrer, preferencialmente, por meio eletrônico (o que possibilita que a arrematação
atinja um numero maior de pessoas, colaborando na obtenção do preço real do bem apreendido e na celeridade e
economicidade do procedimento).
- No primeiro leilão, o bem deve ser vendido, no mínimo, pelo valor da avaliação; não sendo alcançado o
valor mínimo, far-se-á um segundo leilão no qual os bens poderão ser vendidos por, no mínimo, 80% do valor da
avaliação.
- Leiloado o bem, o fruto da arrematação aguardará o fim do processo em conta vinculada ao juízo. Em
caso de absolvição, os valores serão devolvidos ao acusado; em caso de condenação, deverão ser convertidos
em renda para a União, Estado ou DF.

3. Pode ser oposta exceção de suspeição em relação a delegado que atua em inquérito policial em que a
vítima é seu pai? O delegado tem algum dever a esse respeito?
Nos termos do Art. 107, CPP, não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do
inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
Assim, considerando o vínculo de parentesco entre a autoridade policial e a vítima, que possui interesse
no feito, deve ocorrer a declaração de suspeição.

4. Analise as questões prejudiciais no Processo Penal. Podemos inferir que há questões prejudiciais que
suspendem necessariamente, qual seria a sua natureza jurídica?
Questões prejudiciais são questões meritórias prévias à resolução da demanda, ou seja, que exigem
solução antes do julgamento do processo criminal. As questões prejudiciais podem ser homogêneas ou
heterogêneas:
• Homogêneas: questões de natureza penal que refletem na tipicidade da infração, mas se resolvem no
próprio juízo criminal por ocasião da sentença. Ex: na sentença por receptação, o juiz tem que decidir sobre a procedência
ilícita do bem.
• Heterógenas: questões de natureza extrapenal (versam sobre outras áreas do direito) que refletem na
tipicidade da infração, podendo ser obrigatórias ou facultativas:
• Questão prejudicial heterogênea obrigatória: versa sobre o estado civil das pessoas; nesse caso o
processo e o prazo prescricional devem ser suspensos por prazo indeterminado até a resolução da questão no juízo cível.
• Questão prejudicial heterogênea facultativa: versa sobre matéria distinta do estado civil das pessoas;
aqui o juiz só suspende o processo criminal se quiser e apenas se já houver sido instaurada a ação cível respectiva; se houver
a suspensão, esta se dará por prazo determinado pelo juiz.
Portanto, as questões prejudiciais que necessariamente suspendem o processo são as questões
heterogêneas obrigatórias (ou devolutivas absolutas), relativas ao estado civil das pessoas.

5. Com relação a objeto apreendido de propriedade duvidosa, como se dá a sua restituição? Nesse pedido
judicial o magistrado diz que a propriedade é duvidosa, o CPP prevê alguma coisa a respeito?
Quando não mais interessar para a persecução penal, o objeto apreendido poderá ser restituído pela
autoridade policial ou pelo juiz.
Caso haja dúvidas sobre o direito de restituição, apenas o juiz poderá efetivar a restituição, havendo a
previsão de instauração de um processo incidente, podendo o interessado produzir provas.
Entretanto, em caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro dono, o juiz remeterá as partes para o juízo
cível, ordenando o depósito das coisas em mãos de depositário ou do próprio terceiro que as detinha, se for
pessoa idônea.

Grupo Temático III

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus de Oliveira Filho
Ponto: Sucessão

1. Diferencie sucessão legítima e testamentária. A observância do testamento é um...?


A sucessão causa mortis é a transmissão da herança aos herdeiros, após a morte do de cujus.
A sucessão legítima é a disciplinada pela lei. Para que ocorra essa modalidade de sucessão é preciso
que se observe a ordem de avocação hereditária, ou seja, existe uma preferência em relação a determinadas
pessoas. Entende-se que o legislador adota a proximidade e a remoticidade do parentesco.
A sucessão testamentária é a que existe por expressa disposição de vontade do testador, que poderá
dispor dos seus bens, sem diminuir o patrimônio da legítima (essa quota é reservada). Todo aquele que possuir
capacidade para testar, poderá dispor dos seus bens em testamento, desde que, os bens (patrimônio, herança) a
serem testados não digam respeito aos que por lei fazem parte da legítima.

2. Em que hipótese o descendente em grau mais próximo não exclui aquele de grau mais remoto?
De acordo com o artigo 1833, CC: "Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais
remotos, salvo o direito de representação." Assim, como regra, há prioridade dos herdeiros, mas próximos sobre
os mais remotos, devendo-se observar o número de gerações que separa o autor da herança e seus herdeiros.
Portanto, se o de cujus deixou filhos, netos e bisnetos, apenas os primeiros devem ser chamados a sucedê-lo.
Entretanto, ressalva o artigo o direito de representação, que ocorre, por exemplo, quando netos do de cujus
representam um filho pré-morto; o herdeiro excluído por indignidade também será representado, uma vez que os
efeitos da exclusão são pessoais e, para os efeitos de sucessão, o indigno é considerado como se morto fosse
antes da abertura da sucessão.

3. Quais são os herdeiros necessários?


São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

4. Quais são os testamentos ordinários? São três.


São testamentos ordinários:
• Testamento público = deve ser escrito por tabelião e registrado no livro de notas (seu conteúdo é de
conhecimento público). Após ser escrito, deve ser lido em voz alta ao testador e mais duas testemunhas, sendo assinado por
todos (testador, testemunhas e tabelião). Pode ser feito por qualquer pessoa capaz de testar e é a única forma de testamento
permitido ao deficiente visual (nesse caso, além de o testamento ser público, exige-se a realização de duas leituras do
testamento e que o tabelião declare expressamente que o testador é cego).
Ressalte-se que o STJ recentemente (agosto/2017, info 610) admitiu a validade de testamento feito por
cego, mesmo que tenha sido realizada apenas uma leitura e que não tenha sido feito o registro da condição de
cego no instrumento, privilegiando, portanto, a vontade do testador. Entendeu-se que no caso concreto o testador
era capaz, houve respeito aos limites do que ele poderia dispor e houve lídima declaração de vontade,
pressupostos básicos que servem para afastar eventual nulidade.
• Testamento cerrado = é escrito pelo próprio testador ou por alguém, a seu pedido, e que somente é de
conhecimento do testador. O testamento cerrado é entregue ao tabelião na presença de duas testemunhas, declarando o
testador que aquele é seu testamento e que o quer aprovado. O tabelião então, sem ler o testamento, fará um ato de
aprovação, na presença de 2 testemunhas e o lerá ao testador e às testemunhas.
O tabelião não fica com cópia do testamento, que é devolvido fechado ao testador, sendo apenas
lançado no livro de notas a data em que foi aprovado e entregue. O analfabeto e o cego não podem fazer
testamento cerrado; pode ser redigido em língua estrangeira; pode ser feito pelo surdo-mudo. O testamento
cerrado é aberto apenas pelo juiz após a morte do testador, sendo necessária a busca e apreensão do
documento.
• Testamento particular = é escrito e assinado pelo próprio testador, lido em voz alta por ele mesmo a, pelo
menos, 3 testemunhas (não é necessário registro público). Pode ser escrito em língua estrangeira, desde que as testemunhas
entendam. Para que o testamento seja válido, é necessário que as testemunhas confirmem suas assinaturas após sua
abertura (se alguma testemunha falecer, o próprio juiz aferirá sua veracidade). Não pode ser feito por analfabetos e cegos.

5. Qual o efeito da comoriência na sucessão?


Verifica-se a comoriência quando duas ou mais pessoas, reciprocamente herdeiras, morrem na mesma
situação fática, não sendo possível precisar a ordem cronológica em que cada um morreu. Nesse caso, presume-
se que todos morreram no mesmo instante.
Como todos morreram no mesmo momento, verifica-se que não há sucessão entre eles.

6. Quando o MP é chamado a participar da sucessão? Em caso de exposição de última vontade, o MP tem


alguma participação? No caso do testamento. Apresentado o testamento público, o juiz requer a presença
do MP?

O Ministério Público atua no processo de inventário, quando houver herdeiro incapaz ou ausente. Nesse
procedimento, além da legitimidade ativa concorrente (art. 616, inciso VII, CPC) para requerer a abertura do
inventário, quando não for o requerente, o Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica para tutelar os
interesses do herdeiro incapaz ou ausente (art. 626, CPC).
O Ministério Público também tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário por
indignidade, na hipótese em que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso
(consumado ou tentado), contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente (lei 13.532/2017).
No tocante aos testamentos público ou particular e codicilos, a intervenção do Ministério Público como
fiscal da ordem jurídica decorre da necessidade de verificação atenta da autenticidade da declaração de última
vontade. O interesse público que justifica a intervenção, a rigor, está na verificação da veracidade, autenticidade
do testamento e capacidade do testador por ocasião do ato.
O artigo 735, § 2o, CPC, prevê que o Ministério Público intervirá, como fiscal da ordem jurídica, no
procedimento de abertura de testamento cerrado. Nada obstante, o artigo 736 do CPC determina, no que couber,
a aplicação desse parágrafo também no processo de cumprimento de testamento público. Nada obsta, portanto,
que o juiz solicite a presença do Ministério Público, cuja intervenção no caso concreto, no entanto, é condicionada
à presença de interesse publico, social ou de incapaz.

Processo Civil
Examinador: Adriano Cardoso da Silva
Ponto: Embargos do devedor e seus efeitos

1. Há contraditório na execução? Qual a natureza da citação na execução de título extrajudicial? O


devedor é citado para pagar ou apresentar defesa? Havendo contraditório, como ele se apresenta?
Quando se fala em discussão ampla, você acredita que engloba inclusive matérias que poderiam ter sido
discutidas no processo de conhecimento? Qual o prazo para a apresentação dos embargos. Quando se
inicia a sua contagem? (Juntada do mandado de citação). Havendo litisconsórcio o prazo é contado em
dobro, havendo advogados diferentes para cada uma das partes? Se a parte tiver direito material e não
oferecer embargos, passado o prazo, ela pode se opor por outro meio que não os embargos?
Pressupondo-se que é uma ação autônoma, um processo de conhecimento.
• Há contraditório na execução?
Sim, pode haver contraditório na execução, manifestado através dos embargos do executado. Esse
embargo é uma ação autônoma vinculada à execução, destinada a permitir que o executado apresente as
defesas que tiver. Embora sejam ação autônoma e constituam processo autônomo, estão estreitamente
vinculados à execução, não sendo possível opô-los, senão para permitir ao executado defender-se.
Os embargos têm natureza de ação de conhecimento, pois sua finalidade é permitir que o juiz, ouvindo
as defesas do devedor e as alegações do credor, possa formar a sua convicção a respeito da pertinência daquilo
que foi alegado.

• Qual a natureza da citação na execução de título extrajudicial?


A citação tem natureza de condição de eficácia do processo em relação ao réu. Somente com a citação o
réu passa a ser parte do processo e integrar a relação processual, seja no processo de conhecimento ou no
processo de execução.

• O devedor é citado para pagar ou apresentar defesa? Qual o prazo para a apresentação dos
embargos. Quando se inicia a sua contagem? (Juntada do mandado de citação).
O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação (art. 829).
Nada obstante, nos termos do artigo 915, os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contados
na forma do artigo 231 (juntada aos autos do comprovante de citação).

• Havendo litisconsórcio o prazo é contado em dobro, havendo advogados diferentes para cada
uma das partes?
Conforme artigo 915, §3º, em relação ao prazo para oferecimento dos embargos à execução, não se
aplica o disposto no art. 229, assim os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de
advocacia distintos, NÃO terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações.

• Havendo contraditório, como ele se apresenta? Quando se fala em discussão ampla, você
acredita que engloba inclusive matérias que poderiam ter sido discutidas no processo de conhecimento?
Nos embargos, o contraditório é pleno, e o devedor pode alegar o que quiser em sua defesa. Todos os
meios lícitos de prova poderão ser produzidos, e, ao final, o juiz prolatará uma sentença, acolhendo ou rejeitando
a pretensão do embargante.
Aquilo que for decidido nos embargos poderá repercutir diretamente na execução, determinando o seu
prosseguimento, sua eventual extinção ou a modificação de atos que nela tenham sido praticados.

• Se a parte tiver direito material e não oferecer embargos, passado o prazo, ela pode se opor por
outro meio que não os embargos? Pressupondo-se que é uma ação autônoma, um processo de conhecimento
Caso a parte não apresente embargos de execução, pode o devedor apresentar ações de conhecimento
autônomas, como, por exemplo, ação declaratória de inexigibilidade de uma duplicata.

2. Os embargos têm efeito suspensivo? Quais os requisitos para a concessão do efeito suspensivo? O
juízo deve estar garantido?
Como regra, não (ou seja, a execução pode prosseguir em seus ulteriores tramites).
Excepcionalmente, o juiz pode conceder o efeito suspensivo se:
a) houver requerimento do embargante (o juiz não pode conceder de ofício);
b) estiverem preenchidos os requisitos para a concessão da tutela provisória;
c) a execução estiver garantida por penhora, depósito ou caução suficientes (a prévia penhora, depósito
ou caução não são requisitos para que os embargos sejam recebidos, mas para que lhes seja outorgado efeito
suspensivo).
3. Com relação aos embargos do devedor, são devidos honorários advocatícios? Lembrando que já foram
dados embargos no momento em que o devedor é citado.
Sim, pois o embargo é uma ação autônoma vinculada à execução, o que impõe que o patrono da causa
seja remunerado pelos esforços despendidos para o sucesso da causa (REsp 1.212.563).

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito material coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Ponto: Direitos Coletivos: vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental

1. Defina as vigilâncias sanitária, epidemiológica e ambiental.


No campo da saúde, a vigilância está relacionada às práticas de atenção e promoção da saúde dos
cidadãos e aos mecanismos adotados para prevenção de doenças. Distribui-se entre: epidemiológica, ambiental,
sanitária e saúde do trabalhador.
A vigilância epidemiológica reconhece as principais doenças de notificação compulsória e investiga
epidemias que ocorrem em territórios específicos. Além disso, age no controle dessas doenças específicas.
A vigilância ambiental se dedica às interferências dos ambientes físico, psicológico e social na saúde. As
ações neste contexto têm privilegiado, por exemplo, o controle da água de consumo humano, o controle de
resíduos e o controle de vetores de transmissão de doenças – especialmente insetos e roedores.
As ações de vigilância sanitária dirigem-se, geralmente, ao controle de bens, produtos e serviços que
oferecem riscos à saúde da população, como alimentos, produtos de limpeza, cosméticos e medicamentos.
Realizam também a fiscalização de serviços de interesse da saúde, como escolas, hospitais, clubes, academias,
parques e centros comerciais, e ainda inspecionam os processos produtivos que podem pôr em riscos e causar
danos ao trabalhador e ao meio ambiente.
Já a área de saúde do trabalhador realiza estudos, ações de prevenção, assistência e vigilância aos
agravos à saúde relacionados ao trabalho.

2. Qual é a função da vigilância epidemiológica?


O objetivo principal é fornecer orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, que têm a
responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis,
para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que
a condicionam, numa área geográfica ou população definida.
E ainda, constitui-se importante instrumento para o planejamento, a organização e a operacionalização
dos serviços de saúde, como também para a normatização de atividades técnicas afins.

3. Na constituição, aonde se encontra o fundamento para a tutela da saúde, para as ações de vigilância?
No art. 196 da CRFB, que trata da saúde, o que aparece primeiro? As ações curativas ou as preventivas?
No artigo 196 da CF, que afirma que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Verifica-se que as ações preventivas têm preferência, mediante o incentivo à redução do risco de doença.
4. Numa promotoria, no âmbito dos direitos coletivos, há uma preocupação maior com a prevenção. Como
a promotoria deve se relacionar com essas vigilâncias de modo a promover uma maior prevenção de
danos?
Deve haver uma interlocução permanente com os órgãos de vigilância, notadamente quanto a situações
que corriqueiramente ocorrem em determinadas épocas do ano com maior incidência e que produzem graves
consequências na sociedade, como é o caso da dengue.
• Nesse sentido, deve-se verificar se o município tem um plano municipal de vigilância e controle de
doenças, bem como se realizada ações de comunicação, imprescindíveis para fomentar o processo de mobilização social.
• Fiscalizações locais feitas nas clínicas médicas e e hospitais públicos pelo membro do MP.
• Nas fiscalizações feitas em conjunto com a Secretaria de Vigilância Sanitária em locais onde se verificar
a prática de irregularidades, bem como a inobservância das normas sanitárias legais, como clínicas odontológicas,
laboratórios de exames, farmácias, objetivando que os usuários dos serviços de saúde no Distrito Federal tenham uma boa
assistência médico-hospitalar;
• No acompanhamento de ações para que não faltem medicamentos nos Hospitais Regionais para
tratamento de determinadas doenças tais como câncer, tuberculose.

5. Um cidadão vem em busca do MP para dizer que a água servida em determinados bairros está com uma
aparência/odor estranhos. Nesse caso, quais seriam as providências numa investigação, quais os
procedimentos para se averiguar o caso, e qual o fundamento para tanto?
Nesse caso, o MP poderia instaurar um Inquérito Civil Público, amparado nos artigos 127 e 129, III, da
Constituição Federal, podendo requisitar documentos, informações e perícias para verificar a qualidade da água.

Direito processual coletivo - Carlos Alberto Valera


Ponto: Instrumentos extrajudiciais de solução de conflitos

1. Disserte sobre as três ondas de acesso à justiça.


Mauro Cappelletti e Bryant Garth - na célebre obra “Acesso à justiça”, dividiram em três ondas os
principais movimentos renovatórios do acesso à justiça.
Primeira onda - diz respeito à assistência judiciária aos pobres e está relacionada ao obstáculo
econômico do acesso à justiça.
Segunda onda - refere-se à representação dos interesses difusos em juízo e visa contornar o obstáculo
organizacional do acesso à justiça.
Terceira onda- denominada de “o enfoque do acesso à justiça”, detém a concepção mais ampla de
acesso à justiça e tem como escopo instituir técnicas processuais adequadas e melhor preparar estudantes e
aplicadores do direito.

2. Disserte sobre demandismo, resolutividade e independência funcional.


O Ministério Público, por própria disposição constitucional, é uma instituição com perfil resolutivo e
também demandista.
• Demandista: O MP demandista atua perante o Poder Judiciário, como agentes processuais, seja na área
criminal, cível ou dos direitos difusos e coletivos.
• Resolutivo: o MP resolutivo é o que atua na solução de conflitos sociais, no âmbito da própria Instituição
e em parceria com a sociedade, sem a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário, já́ tão assoberbado. Sua atuação é
direcionada para o plano extrajudicial, superando-se o perfil demandista. Nessa fase evolutiva, o Ministério Público busca
formas alternativas de resolução de conflitos, bem como a racionalização de suas atribuições, visando conferir maior impacto
social e efetividade e nas suas ações. Assim, o MP demandista leva às ultimas consequências o princípio da independência
funcional, esgotando as possibilidades políticas e/ou administrativas para solucionar os problemas, sempre voltado a afirmar
os valores da democracia.

3. Seria possível a administração superior do MP impor essa visão aos seus membros? Aa candidata falou
em independência funcional e foi questionada se a independência funcional é um valor em si mesmo?
São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência
funcional.
Assim, com base na independência funcional, a Administração Superior do MP não pode impor
interpretações ou manifestações a serem aplicadas na atividade executiva do Promotor de Justiça, que deve agir
de acordo com sua consciência jurídica (em respeito às leis e à Constituição Federal).
O princípio não é um valor em si mesmo, pois possui um escopo maior de proteção da livre manifestação
do Promotor de Justiça e da liberdade de atuação do Ministério Público.
Nada obstante não estar o membro do Ministério Público sujeito a ordens ou injunções superiores
internas ou externas, remanesce espaço ao princípio hierárquico aos aspectos administrativos relativos ao
exercício da função e, limitadamente, a determinadas questões funcionais (controle do arquivamento do IC ou IP;
solução de conflitos de atribuição). Outrossim, os planos de atuação funcional, instituídos pela administração
superior do Ministério Público, são instrumentos para a eleição de prioridades de atuação, de modo que a
inclusão de meta prioritária no plano de atuação tem caráter vinculante ao membro do Ministério Público,
obrigando-o a tomar medidas para o conhecimento e solução dos problemas identificados, sem, contudo, vincular
a forma e convicção pessoal que orientam a sua atuação.

4. Conceitue arbitragem, mediação, negociação e conciliação.


São todas formas alternativas de solução de conflitos.
a) Arbitragem é o acordo de vontades entre pessoas maiores e capazes ou mesmo pessoas jurídicas
(incapaz não pode, mesmo que assistido ou representado) que, preferindo não se submeter a decisão judicial,
confiam a árbitros a solução de litígios, desde que relativos a direitos patrimoniais disponíveis (não pode para
questões envolvendo o estado ou a capacidade das pessoas, direitos da personalidade, alimentos, falência e
registros públicos). A arbitragem aparece como uma forma alternativa de solução de conflitos de interesses, que
dispensa a intervenção do Judiciário.
b) na mediação, as partes elegem um terceiro, o mediador, para auxiliar os interessados (que já tinham
vínculo anterior ao conflito) a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam,
pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios
mútuos (seu papel não é formular sugestões ou propostas).
c) na conciliação, o conciliador atuará preferencialmente em casos em que não haja vínculo anterior entre
as partes, e, portanto, poderá sugerir soluções para o litígio (sem que haja intimidação ou constrangimento).
d) A negociação é um processo ético de diálogo entre partes em conflito, através do qual, após a geração
conjunta de opções e sua avaliação, elas tentam chegar à solução auto compositiva que melhor atenda aos
interesses de todos.

O acesso à justiça deve ser interpretado como a garantia, dada às pessoas, da solução efetiva do
conflito. Sendo assim, a referida garantia constitucional não mais se confunde com a garantia de acesso ao
Judiciário e deve ser interpretada como garantia à justiça substancial, através de meios judiciais e extrajudiciais.
O Ministério Público, a fim de cumprir sua missão de servir à sociedade e defender seus direitos mais
importantes, deve ampliar o leque de opções que tem à disposição para efetivamente defender tais direitos,
deixando de depender da solução judicial dos conflitos, quando estes puderem ser resolvidos por meios auto
compositivos. A negociação e a mediação, dois meios auto compositivos de resolução de conflitos, podem ser
legitimamente utilizados pelo Ministério Público para a solução de alguns conflitos em que é parte (como nos
conflitos ambientais, por exemplo) – negociação – ou de conflitos em que seria chamado a atuar em juízo, como
custos legis – mediação.

OBS: último trecho retirado do site do MPMG (link: https://www.mpmg.mp.br/conheca-o-mpmg/escola-


institucional/negociacao-e-mediacao/)

5. Quais são os requisitos do TAC? Qual a sua natureza jurídica? O TAC é um contrato? Com relação à
necessidade ou não de testemunhas, o Mp não deve evitar problemas e agir com cautela? (O examinador
deixou claro que considera que é melhor se acautelar e colher as assinaturas de testemunhas para evitar
problemas.)
O termo de ajustamento de conduta é instrumento formal, podendo ser celebrado nos autos do inquérito
civil ou do procedimento preparatório, para adequação da conduta dos interessados às exigências legais,
mediante cominações, com eficácia de título executivo extrajudicial, nos termos da legislação específica.
A natureza jurídica do TAC é controversa. Carvalho Filho entende tratar-se de ato jurídico unilateral; Hugo
Nigro Mazzili entende ser ato administrativo negocial; Emerson Garcia posiciona-se no sentido de que possui o
instituto natureza jurídica híbrida; Geisa de Assis Rodrigues entende tratar-se de negócio jurídico bilateral; ainda,
há quem entenda ser o TAC transação ou mesmo reconhecimento jurídico do pedido.
A Resolução nº 179/2017 – CNMP afirma que é facultado ao órgão do Ministério Público colher
assinatura, como testemunhas, das pessoas que tenham acompanhado a negociação ou de terceiros
interessados.
Assim, verifica-se que a ausência de testemunhas não implicará em nulidade do ato, porém poderá dar
maior segurança jurídica ao acordo negociado.

6. Cabe arbitragem em relação aos danos ambientais? Não caberia apenas porque são direitos
indisponíveis?
A Lei de Arbitragem menciona no seu artigo 1° a exclusividade da aplicação da via arbitral aos direitos
disponíveis e patrimoniais. A indisponibilidade dos direitos difusos leva muitos juristas a considerarem que uma
relação jurídica de conteúdo ambiental não possa ser submetida à arbitragem.
No entanto, o fato do bem jurídico ambiental, qualificado como uso comum do povo, ter natureza difusa,
não exclui a possibilidade de a proteção ambiental ser submetida ao regime jurídico de direito privado.
O ponto de partida para estabelecer as condições de utilização da arbitragem na tutela ambiental é a
verificação da natureza jurídica do bem ambiental. A disponibilidade do objeto da lide e, por conseguinte, a
submissão de conflitos ambientais ao juízo arbitral, ocorre quando as matérias ambientais presentes no conflito
envolverem relações patrimoniais.
Com efeito, o meio ambiente (macrobem) é constituído de microbens que podem integrar o rol tanto dos
direitos disponíveis quanto dos direitos indisponíveis.
Pensemos nos danos (i) à propriedade privada decorrentes da poluição atmosférica (paredes e janelas
enegrecidas de uma habitação), ou da (ii) falta de água pura (diminuição da produção de uma empresa) ”. Essas
hipóteses configuram danos patrimoniais disponíveis, portanto, o litígio poderia ser arbitrável.
Neste sentido, as facetas privadas do dano em matéria ambiental podem ser submetidas à arbitragem
sem burlar a limitação de mérito imposta pelo artigo 1° da Lei da Arbitragem. A solução arbitral seria uma opção
célere e eficaz de dirimir os litígios ambientais e de promover a proteção do meio ambiente, sem significar a
substituição do papel do Poder Judiciário nas demandas que envolverem o bem ambiental de natureza difusa.
Um precedente que merece ser destacado é o caso ocorrido em MINAS GERAIS na qual figuraram o
Ministério Público Estadual, a empresa FIAT AUTOMÓVEIS e a SEMA/SP. Foi levada ao conhecimento do MP
a fabricação de veículos em desacordo com as normas relativas à emissão de poluentes. A solução obtida, por
meio da arbitragem, foi levada pelo Ministério Público Estadual ao Conselho do Ministério Público local e ao
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) para ser referendada.

Fonte da resposta: http://direitoambiental.com/arbitragem-como-mecanismo-de-solucao-dos-conflitos-


decorrentes-dos-danos-ambientais-individuais/#_ftn22

Dia 04 – Ponto 02 – Augusto e Andre Tanure

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional - Elaine Parisi


Ponto: Município

1. Qual a posição do município na estrutura federativa?


O município é integrante da República Federativa do Brasil, com atribuições próprias, que refletem,
sobretudo, o interesse local.

2. O município é autônomo?
Sim. Somente a União é soberana. Os demais integrantes da federação, dentre os quais os municípios,
são dotados de autonomia. É autônomo do ponto de vista político, administrativo e financeiro. A autonomia
municipal revela-se enquanto autoadministração (serviços próprios), autogoverno (eleição de representantes),
auto-organização (lei orgânica própria) e autolegislação (Legislativo próprio, capacidade de editar diplomas).
(Obs: não possui Judiciário desde 1828).

3. Como se dá a fixação dos subsídios dos prefeitos, dos vice-prefeitos e dos vereadores? Há algum
prazo para a fixação desses subsídios? Se a câmara não fixar os subsídios, deixar de exercer a
competência constitucionalmente prevista, como se resolve essa questão? Isso está previsto aonde? Na
constituição estadual? Federal? A Constituição Federal prevê isso acerca das câmaras municipais? A
constituição prevê algum limite de gasto para a câmara municipal? Qual é esse limite?
A fixação dos subsídios de prefeitos, vice-prefeitos e secretários depende da edição de lei ordinária, de
iniciativa da Câmara Municipal. A fixação dos subsídios dos vereadores pode ocorrer por qualquer meio (lei,
resolução, decreto). Só há prazo para a fixação do subsídio dos vereadores, que deve ocorrer em uma legislatura
para valer durante a subsequente (art. 29, V da CF). Total de despesas com a remuneração dos vereadores não
pode ultrapassar 5% da receita do município (art. 29, VII da CF). Se não houver modificação, permanece válida a
remuneração vigente, em sintonia com as disposições orçamentárias.
Para aprofundar: os TCEs entendem que a remuneração dos vereadores pode ser fixada por resolução,
se não houver forma específica na lei orgânica. Além disso, é possível a recomposição (inflação) no curso da
legislatura, observado o interstício mínimo de 12 meses; é o aumento real que só pode incidir para a
subsequente. Além disso, embora a CF não seja expressa, entende-se que a fixação deva ocorrer até a véspera
do primeiro turno das eleições, de modo a não vulnerar a impessoalidade, a depender de quem ganhou.
4. Quais são as hipóteses de intervenção no município? Quais são os legitimados para propor a
intervenção?
Hipóteses são as do art. 35 da CRFB:

I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e
nas ações e serviços públicos de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados
na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

Legitimados: Governador, privativamente. A representação pode ser promovida pelo Procurador-Geral de


Justiça perante o Tribunal de Justiça.

5. Como se dá a designação do promotor de justiça para atuar perante a justiça eleitoral? O promotor de
justiça tem que residir na comarca?
Resolução nº 30/2008 CNMP. Ato do Procurador Regional Eleitoral designa promotor, com base em
indicação do Procurador-Geral de Justiça, que recai sobre membro lotado em localidade integrante da zona
eleitoral que por último houver exercido a função eleitoral. As designações subsequentes obedecem a ordem
decrescente de antiguidade. Designação pelo prazo ininterrupto de 2 anos, nele incluídos férias e afastamentos.
Promotor terá sua autorização para residir fora da zona suspensa durante o período.
Para aprofundar: a resolução é curta, recomendo a leitura.

6. O município pode contratar provisoriamente? Quais são as hipóteses?


Sim, nos termos do art. 37, IX da CF, para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público. O STF tem jurisprudência no sentido de que o cargo pode ser regular, um que já exista no quadro do
órgão; é a necessidade reforçada que deve ser transitória para justificar a contratação.

7. Como se dão as contratações para cargos em comissão no município? (a examinadora perguntou “o


que você entende em relação aos cargos em comissão no município?”)
A contratação para cargo em comissão no município obedece ao art. 37 da CF, no sentido de que é
necessária criação por lei, provimento e exoneração livres, sem exigência de concurso público, e restrição a
direção, chefia ou assessoramento.

8. Qual a composição do TSE?

No mínimo 7 membros, eleitos por voto secreto. Elegem-se suplentes para cada um.
3 Ministros do STF = dentre os quais se escolhe o Presidente e o Vice-Presidente do TSE
2 Ministros do STJ = dentre os quais se escolhe o Corregedor Eleitoral
2 advogados escolhidos em lista sêxtupla pelo STF e o Presidente da República nomeia

Eleitoral
1. Qual o órgão competente da Justiça Eleitoral para expedir os diplomas no município?
É a junta eleitoral (art. 215 do Código Eleitoral).
2. A seção eleitoral é um órgão da Justiça Eleitoral?
Não. O rol do art. 12 do Código Eleitoral não inclui a seção eleitoral. A menor unidade é a junta eleitoral.

3. A intimação do promotor de justiça em processos eleitorais é pessoal?


Sim, não há alteração dessa prerrogativa no âmbito eleitoral (pesquisa de jurisprudência do TSE).

Administrativo
Examinador: Marco Paulo Starling
Ponto: Regimes das concessões e permissões em serviço público. Concessão

1. Qual o fundamento constitucional da concessão?


Art. 175 da CF: Incumbe ao Poder Público, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

2. Como o Estado torna efetiva a concessão? Através de qual mecanismo? Pode ser feito apenas convite
para formalizar uma concessão?
Através de licitação, na modalidade concorrência. Não é possível o convite. Art. 2º da Lei nº 8.987/1995.

3. Dentre os poderes da administração pública quando se apresenta como delegante, qual ela exerce
quando ela promove uma concessão?
Os poderes disciplinar (pois pode punir a concessionária em processo administrativo regular) e de polícia
(pois deve fiscalizar o objeto da concessão).

4. Pode haver cláusula exorbitante num contrato de concessão? Só a Supremacia?


Sim. A possibilidade de anulação já pode ser considerada uma cláusula exorbitante, pois decorre do jus
imperium do concedente (art. 35, V da Lei nº 8.987/1995).

5. Quais são as distinções entre o contrato de concessão e o de prestação de serviços? Cite três.
Possibilidade de contratação de atividades acessórias pela concessionária com terceiros, possibilidade
de subconcessão, obrigatoriedade e periodicidade da prestação de contas da concessionária (arts. 23 ss. da Lei
nº 8.987/1995). O prazo também difere (previsões específicas da Lei n 9.074, PPP entre 5 e 35 anos na Lei nº
11.079/2004 etc.).

6. Pode haver no contrato a substituição/ transferência de responsabilidade do contratante para a


administração pública? Existe hipótese em que é possível.
Nos contratos de concessão, o Poder Público responde subsidiariamente somente em relação à
prestação do serviço público em si (jurisprudência).

7. A permissão para prestação de serviço público exige autorização legislativa?


Sim (art. 2º da Lei 9.074/1995).
Para aprofundar: artigo de Gregório Assagra sobre o assunto.
https://aplicacao.mpmg.mp.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/154/Necessidade%20aoutoriza%C3%A7ao
%20legislativa_Almeida.pdf?sequence=1 .
GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro

1. A Lei Maria da Penha se aplica a casais homossexuais? E se for um casal que não conviva sob o
mesmo teto e se encontre apenas esporadicamente?
Sim, aplica-se a casais homossexuais, pois independe da orientação sexual. O que a lei busca evitar é a
violência contra a mulher, a condicionante é o sujeito passivo da infração, não importa quem a pratique. O sujeito
ativo pode ser quem conviva ou tenha convivido com a vítima, e para tanto não se exige coabitação atual ou
pretérita (art. 5º).

2. O art. 61, CP, “f”, fala da agravante em caso de prática de violência contra a mulher, conforme lei
específica, você poderia me dizer que tipo de violência seria essa? Existe algum crime contra a mulher em
que não incida a agravante?
O artigo do Código Penal remete à lei específica, que é a Lei Maria da Penha. Portanto, qualquer
violência configura a agravante (física, moral, psicológica, sexual, patrimonial, art 7º).
Não incidirá quando já for elementar do tipo, como no feminicídio.

3. Uma pessoa condenada sucessivamente por dois crimes, pode cumprir simultaneamente dois SURSIS?
É possível, pois há vedação em função da reincidência, que pode não ter se verificado.

4. Tem um cidadão cumprindo sursis, no curso do cumprimento ele é condenado pela pratica de crime
culposo e o juiz concede novo sursis. A senhora, na condição de promotora, agiria de que maneira?
A prática de crime culposo não é causa de revogação obrigatória, mas facultativa (art. 81, §1º do CP). A
revogação pode ser requerida, mas não há vinculação.

5. Um cidadão, no cumprimento de uma pena de 1 ano e meio, cumpre 6 meses (1/3 da pena), que não
tinha antecedentes até a condenação, não se tratando de crime hediondo, postula pelo livramento
condicional. Qual seria a sua postura nesse caso? Você não acha que é injusto não ser aplicável para
penas menores? Acha que é proporcional? E se fosse um roubo simples tentado, com a mesma pena?
A pena mínima para o livramento condicional é de 2 anos, sendo impossível a concessão, conforme art.
83 do CP. Quanto ao restante, são respostas pessoais. A meu ver, não há injustiça ou falta de proporcionalidade,
há outros benefícios acessíveis (progressão de regime, indulto, comutação).

Processo Penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Ponto: Inquérito policial e investigação criminal

1. Dentro dos ditames constitucionais e legais, abordando os aspectos favoráveis e desfavoráveis,


disserte sobre a Investigação Criminal pelo MP. Não é necessário trazer número de artigo de lei. Cite 3
ditames normativos legais em que a investigação pelo MP pode ser inferida.
Art. 127 da CF: defesa do regime democrático, da ordem jurídica e dos direitos sociais e individuais
indisponíveis
Art. 129 da CF: promover a ação penal pública
Art. 8º da LC 75/1993: notificar testemunhas e requisitar condução coercitiva, realizar inspeções e
diligências investigatórias, expedir notificações e intimações
Art. 26 da 8.625/1993: promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e
entidades da administração pública; praticar atos administrativos executórios, de caráter preparatório; requisitar
diligências investigatórias
Fundamento é a teoria dos poderes implícitos.

2. O Inquérito Policial produz prova para a ação penal ou apenas indícios? E a prova pericial irrepetível?
O principal objetivo do inquérito policial é produzir elementos de informação, mas pode produzir prova.
Prova é o conteúdo levado a contraditório judicial. Durante o inquérito podem ser produzidas provas periciais,
além de elementos que só se sujeitarão ao contraditório diferido, como as provas não repetíveis.

3. A prova pericial do inquérito admite algum contraditório?


Embora haja alguma divergência, a jurisprudência majoritária admite que o contraditório seja diferido, isto
é, no decorrer da instrução processual penal. Como não há prova tarifada, outros elementos podem ser trazidos
de modo a infirmar suas conclusões, inclusive a oitiva dos peritos e a formulação de quesitos suplementares (art.
159 CPP). Ademais, é dever da autoridade policial determinar sua realização imediatamente (art. 6º CPP).

4. A elaboração do relatório pela autoridade policial e o despacho de indiciamento tem alguma relação
com a atuação do MP?
São meras indicações, pois não vinculam a opinio delicti ministerial, mas podem gerar a necessidade de
promoção de arquivamento do inquérito em relação a agentes que o membro do MP entenda estarem excluídos
da prática delitiva, por não ser admitido o arquivamento implícito.

GRUPO TEMÁTICO III

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus de Oliveira Filho
Ponto: Personalidade Civil

1. Conceitue personalidade civil.


Tradicionalmente, é definida como a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações. Para
Cristiano Chaves, conceito deve ser revisto á luz do direito civil constitucionalizado. Nessa linha, poderia ser
conceituado como a aptidão genérica para titularizar relações jurídicas, para reclamar o exercício da cidadania e
da garantia de proteção jurídica mínima, destacando-se os direitos de personalidade.

1.1 Qual o início e qual o fim dela?


Fim ocorre com a morte, seja real ou presumida. Quanto ao início, há distintas correntes. CC diz que
começa com o nascimento com vida, embora a lei coloque a salvo os direitos do nascituro. Sobre o tema, foram
criadas as seguintes teorias: Teoria natalista; concepcionista; da personalidade condicional (Maria Helena Diniz).

1.2 A morte presumida extingue a personalidade civil?


A personalidade se extingue com a morte, seja real ou presumida.
2. O que são direitos da personalidade? Cite alguns direitos da personalidade. Direitos de personalidade
são aqueles considerados intrínsecos à qualquer pessoa humana, protegendo sua dignidade. Decorrem da
dignidade da pessoa humana, protegendo a dignidade e a integridade humana. Exemplos: Direito à vida e a
integridade física. Direito à integridade moral: intimidade, privacidade, imagem (retrato e reputação), voz. Direito à
identidade (nome e conhecer ascendência genética). Integridade intelectual.

3. Dizem que os direitos da personalidade são absolutos. Por quê?


São absolutos no sentido de que são oponíveis "erga omnes". A coletividade tem o dever de respeitá-los.

4. Dizem também que são extrapatrimoniais. Por quê?


Direitos são extensão da natureza da pessoa. Não tem conteúdo patrimonial apriorístico. Contudo,
havendo lesão, é possível mensuração econômica para reparação.

5. Cite algumas características dos direitos da personalidade?


Irrenunciáveis, no sentido de que o titular não pode abrir mão dos seus direitos. São intransmissíveis.
Absolutos. Imprescritíveis. Extrapatrimoniais. Vitalícios.

6. A diferença entre nascituro e prole eventual?


Nascituro é aquele que já foi concebido (houve fecundação e nidação). De forma simples, é aquele que
se encontra na barriga da mãe. Segundo a teoria da personalidade condicional (M.H.D.), possui personalidade
formal, o que lhe garante proteção aos direitos de personalidade. A prole eventual, por sua vez, se refere aos
possíveis e futuros filhos de determinada pessoa (ou casal). Ainda não houve concepção.

Processo Civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Ponto: Tutela Antecipada

1. Diferencie tutela antecipada de sentença liminar.


Tutela antecipada é espécie de tutela provisória de urgência. Nela, quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, o juiz adianta o
resultado do julgamento final de mérito. Sentença liminar é aquela que decide pela improcedência liminar do
pedido (art. 332, CPC).
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu,
julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a
ocorrência de decadência ou de prescrição.

2. Quais são os requisitos específicos para a concessão da tutela antecipada? Como toda tutela de
urgência, é preciso "probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo".
Especificamente para a tutela antecipada, é preciso comprovar a ausência de " perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão" (art. 300, §3º, CPC).

3. Qual a diferença entre a tutela antecipada e a tutela de evidência?


A tutela antecipada é espécie de tutela provisória de urgência. Fundamenta-se na probabilidade do
direito e no perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. A tutela de evidência é espécie de tutela
provisória. Não se baseia na urgência, mas apenas na "probabilidade do direito". É cabível quando:"I - ficar
caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte; II - as alegações de fato
puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos
ou em súmula vinculante; III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do
contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de
multa; IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do
autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável." (art. 311, CPC).

4. O juiz pode antecipar os efeitos da tutela sem o requerimento da parte? Se sim, em quais hipóteses?
Relativamente divergente. Majoritariamente, entende-se que é imprescindível o requerimento da parte,
salvo em situações prevista em lei. Nesse sentido defende Didier, sob o argumento de que “a efetivação da tutela
provisória dá-se sob responsabilidade objetiva do beneficiário da tutela, que deverá arcar com os prejuízos
causados ao adversário, se for cassada ou reformada a decisão.” (DIDIER JUNIOR, 2015, p. 594). Para
Gonçalves, “se o processo versar sobre interesses disponíveis, não haverá como conceder, de ofício, a
antecipação da tutela, ficando o requerimento ao alvedrio do autor. Mas se versar sobre interesse indisponível, e
houver risco de prejuízo irreparável ou de difícil reparação, o juiz poderá, excepcionalmente, concedê-la”.
(GONÇALVES, 2016, p. 364).
Para Daniel Neves, seria possível fundamentar a tutela provisório ex officio com base no poder geral de
cautela do juiz [“Entendo que mesmo diante do eloquente silêncio da lei, é provável que o tradicional poder geral
de cautela se transforme num poder geral de tutela de urgência, sendo admitido, ainda que em caráter
excepcional, a concessão de uma tutela cautelar ou antecipada de ofício.” (NEVES, 2016, p. 528, e-book)]

Cópia trechos de artigo para aprofundamento:

"Como não poderia deixar de ser, o respectivo tema é abraçado pela maioria dos doutrinadores
brasileiros no sentido contrário de que não é possível a concessão da tutela provisória de ofício pelo magistrado,
se justificando no fato de que, “a efetivação da tutela provisória dá-se sob responsabilidade objetiva do
beneficiário da tutela, que deverá arcar com os prejuízos causados ao adversário, se for cassada ou reformada a
decisão.” (DIDIER JUNIOR, 2015, p. 594)
No mesmo sentido, defende Luiz Guilherme Marinoni, Sergio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, no Curso do
Processo Civil que:

“Na dogmática que presidiu o Código Buzaid, admitia-se a prestação de tutela cautelar de ofício pelo juiz
sob o equivocado argumento de que o juiz não estaria protegendo o direito da parte com a sua
concessão, mas apenas o próprio processo. Compreendida a tutela cautelar como uma tutela do direito
da parte, no entanto seu pedido submete-se à regra geral que exige requerimento, Nessa perspectiva,
não pode o juiz conceder tutela cautelar de ofício”. (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2015, p. 205)
Paralelamente de acordo com Humberto Theodoro Junior (2016), para a concessão da tutela provisória
de urgência, há de existir o requerimento formal da parte que necessita do direito pleiteado, entretanto,
consecutivamente, afirma também que em casos de vulnerabilidade da parte e risco e evidente comprometimento
da efetividade da tutela requerida, o magistrado poderá conceder a tutela de ofício, caso tenha os pressupostos
passiveis de tal concessão.

Ora, por mais que a doutrina tenha fortes argumentos contrários à concessão da tutela provisória de
ofício, há de ser notar do mesmo modo, que, estes citam situações no sentido que existem casos excepcionais
em que o Juiz poderá conceder a tutela provisória sem o consentimento da parte, casos estes até elencados nos
tópicos anteriores.

E a respeito do referido assunto, também se pronunciou o doutrinador Fredie Didier Junior (2015, p. 593)
quando concluiu que “não consideramos possível a concessão ex officio da tutela provisória, ressalvadas as
hipóteses expressamente previstas em lei. É o que se extrai de uma interpretação sistemática da legislação
processual, que se estrutura na regra da congruência.”

Nesse diapasão, manifesta de igual modo, o doutrinador Marcus Vinicius Gonçalves, que lecionada da
seguinte forma o respectivo assunto:

“Parece-nos que o sistema atual permite chegarmos à mesma conclusão a que já havíamos chegado ao
CPC anterior: se o processo versar sobre interesses disponíveis, não haverá como conceder, de ofício, a
antecipação da tutela, ficando o requerimento ao alvedrio do autor. Mas se versar sobre interesse
indisponível, e houver risco de prejuízo irreparável ou de difícil reparação, o juiz poderá,
excepcionalmente, concedê-la”. (GONÇALVES, 2016, p. 364)

Naturalmente, mesmo tendo uma gama de processualistas, doutrinadores, magistrados e professores


que defendem a não concessão de ofício da tutela provisória, há também quem vai contrário a esse
posicionamento, afirmado ser possível a concessão e o provisionamento da tutela provisória de ofício. É o caso
do doutrinador Daniel Amorim Assumpção Neves que retrata o tema da seguinte forma:

“Entendo que mesmo diante do eloquente silêncio da lei, é provável que o tradicional poder geral de
cautela se transforme num poder geral de tutela de urgência, sendo admitido, ainda que em caráter
excepcional, a concessão de uma tutela cautelar ou antecipada de ofício.” (NEVES, 2016, p. 528, e-book)

Pois bem, por mais que existam entendimentos diversos sobre o referido assunto, há de salientar que, a
tutela provisória a ser concedida pelo magistrado, exige que, antes de tudo, exista um processo em andamento,
visto que não é facultado ao Juiz dar início de ofício a qualquer processo, independentemente de sua natureza,
mesmo que seja uma tutela de urgência.

E a esse respeito, há de ficar evidenciado que, por mais que o novo Código de Processo Civil tenha
unificado em um único livro o tema da tutela provisória, salienta-se que não há sequer previsão que o pedido da
tutela, seja ela de urgência ou evidência, seja expressamente realizado pela parte que irá se beneficiar com a
concessão, ou até mesmo o pedido realizado por terceiros interessados, afastando assim a tradição composta no
artigo 273 do antigo Código de Processo Civil.
Ademais, por mais que existem divergências doutrinárias sobre o tema da concessão de ofício da tutela
provisória, está claro, pela leitura do respectivo livro que rege o tema, que não há promulga permissão
processual, da concessão ou não da tutela de ofício pelo magistrado, ao contrário do que havia no Código
processual revogado, abrindo assim, margens para discussão sobre o referido assunto."
(http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura HYPERLINK "http://ambito-juridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=19583)"& HYPERLINK "http://ambito-juridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=19583)"artigo_id=19583)

5. Em uma demanda em que atua apenas como fiscal da lei, o MP poderia pedir uma tutela antecipada em
nome do autor? (O examinador entende que sim)
Quando atuando como fiscal da ordem jurídica, o CPC garante ao MP o poder de "produzir provas,
requerer as medidas processuais pertinentes e recorrer" (art. 179, II, CPC). Majoritariamente, entende-se que o
pedido de tutela provisória insere-se dentre as "medias processuais pertinentes". Pode-se argumentar também
que o MP, como fiscal, pode recorrer e pedir o reconhecimento da incompetência relativa, razão pela qual não
seria lógico restringir seu poder de pedir tutelas provisórias.

6. É possível a antecipação dos efeitos da tutela contra a fazenda pública? Se sim, quais são as
hipóteses? Essa permissão, contra a fazenda pública, é legal, doutrinária ou jurisprudencial?
( Examinador falou da Lei 9484/1997, STJ se manifestou que é constitucional)

Legislação esparsa prevê hipóteses nas quais não é possível a antecipação dos efeitos da tutela contra a
Fazenda Pública ( Lei 8437/92, os arts. 1º e 2º-B da Lei 9494/97, o art. 7º, §§2º e 5º da Lei 12016/2009 e o art.
29-B da Lei 8036/90). Previsões que foram ratificadas pelo art. 1039, CPC.
STF declarou a constitucionalidade do art. 1º da Lei 9494/97 na ADC nº 04, consolidando o entendimento
de que tais restrições são constitucionais, mas devem ser interpretadas estritamente, sendo possível a concessão
de tutela de urgência nas hipóteses não tipificadas nos artigos supracitados.

(...). Não há inconstitucionalidade na vedação. Nas hipóteses previstas em lei, não é possível, em
princípio, haver a tutela de urgência contra a Fazenda Pública. Pode, porém, o juiz, demonstrando
fundamentadamente, que a hipótese reclama uma regra de exceção, afastar a norma e conceder
medida. O certo, e enfim, é que tais restrições reclamam exegese restritiva, somente sendo vedada a
concessão da tutela de urgência nos casos expressamente indicados no dispositivo legal (CUNHA,
Leonardo Carneiro da. A fazenda Pública em juízo. 13ª ed. totalmente reformulada. Rio de Janeiro:
Forense, 2016, p.306).

Quando não incorrer nas vedações legais, é possível a antecipação dos efeitos da tutela. Mesmo quando
incorrer nas vedações legais, a jurisprudência reconhece que o juiz pode, no caso concreto, afastar a regra a
conceder e tutela provisória. Não é pacífico qual seria o fundamento: pode-se dizer que haveria uma
inconstitucionalidade (controle difuso) naquele caso em concreto, considerando os direitos postos em análise
(ponderação); pode-se utilizar a teoria da derrotabilidade.
Para maior leitura: https://jus.com.br/artigos/55427/tutela-provisoria-em-face-da-fazenda-publica-analise-
doutrinaria-e-jurisprudencial-a-luz-do-novo-cpc

7. Em caráter de tutela antecipada o juiz fixa multa diária para o cumprimento de uma obrigação, que é
descumprida. A execução dessa multa deve se dar em que momento? Antes da sentença, depois...
Art. 537
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo,
permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito material coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Ponto: Tutela coletiva para o hipossuficiente

1. Qual a sua visão sobre o conceito de Justiça? Numa perspectiva distributiva, tendo em vista a atuação
do MP que é, na maior parte das vezes, em favor de um vulnerável.
Pelo comentário após a pergunta, percebe-se que o examinador queria que fosse explicado o conceito
de justiça distributiva. Conceito de justiça distributiva mais difundido atualmente é o de John Ralws.

“No que interessa ao presente debate, a aplicação do princípio da igualdade, sob a ótica justiça
distributiva, considera a posição relativa dos grupos sociais entre si. Mas, convém registrar, ao levar em
conta a inelutável realidade da estratificação social, não se restringe a focar a categoria dos brancos,
negros e pardos. Ela consiste em uma técnica de distribuição de justiça, que, em última análise,
objetiva promover a inclusão social de grupos excluídos ou marginalizados, especialmente
daqueles que, historicamente, foram compelidos a viver na periferia da sociedade” (Extraído do
Voto do Relator Ricardo Lewandowski, STF, ADPF 186, p. 8.)
http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura HYPERLINK "http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15774"& HYPERLINK "http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15774"artigo_id=15774

Importante fazer um paralelo com o princípio da dignidade da pessoa humana, epicentro do nosso
ordenamento, o qual fundamenta garantias mínimas a todas as pessoas.

2. No contexto da proteção da infância e da juventude, o que seria a doutrina da Proteção integral, e o que
existia antes no Código de menores, em que essa doutrina difere da legislação anterior?
Legislação anterior à CF/88 consagrava a doutrina da "situação irregular". Tratava menor como objeto de
proteção. No Código de Menores, a restrição da liberdade era a regra (no caso de ato infracional); a retirada da
família era prática comum; a opinião do menor não era considerada pelo juiz (Fonte: Revisão Final MPMG
Juspodivm - pg. 990).
"Doutrina da Situação Irregular: para essa doutrina, os menores [nota 1] apenas são sujeitos de direito ou
merecem a consideração judicial quando se encontrarem em uma determinada situação, caracterizada
como "irregular", e assim definida em lei. Havia uma discriminação legal quanto à situação do menor,
somente recebendo respaldo jurídico aquele que se encontrava em situação irregular; os demais, não
eram sujeitos ao tratamento legal." (http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-1222.html)

A CF/88 traz o princípio da proteção integral como novo paradigma, repetido no ECA. Criança e
adolescente passam a ser considerados sujeitos de direitos. Restrição a liberdade passou a ser exceção.
Retirada da família natural também como medida excepcional. Vontade da criança e do adolescente passou a ter
relevância.
"Basicamente, a doutrina jurídica da proteção integral adotada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
assenta-se em três princípios, a saber:
• Criança e adolescente como sujeitos de direito - deixam de ser objetos passivos para se tornarem
titulares de direitos.
• Destinatários de absoluta prioridade.
• Respeitando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Com a nova doutrina as crianças e os adolescentes ganham um novo "status", como sujeitos de direitos e
não mais como menores objetos de compaixão e repressão, em situação irregular, abandonados ou
delinqüentes. Para essa doutrina, pontua Amaral e Silva (apud PEREIRA, T. da S. Direito da criança e do
adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p. 27), "o direito especializado
não deve dirigir-se, apenas, a um tipo de jovem, mas sim, a toda a juventude e a toda a infância, e suas
medidas de caráter geral devem ser aplicáveis a todos"." (http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-
1222.html)

3. Com relação aos idosos, a senhora conhece a atuação do MP na tutela coletiva dos idosos? Mesmo que
não conheça, que tipo de ações pode o MP fazer com base no Estatuto do Idoso, para promoção desses
direitos, do ponto de vista coletivo?
Estatuto do Idoso prevê, de forma específica, diversos direitos fundamentais dos idosos. Do ponto de
vista coletivo, cabe ao MP zelar pela proteção de direitos coletivos dos idosos. Em exemplos, é possível: (1)
inspecionar entidades públicas e privadas de atendimento e os programas de que trata o Estatuto do Idoso; (2)
propositura de ação coletiva contra Planos de Saúde em razão de aumento desarrazoado de mensalidades; (3)
propositura de ação coletiva contra empresas de transporte coletivo urbano e semi-urbano para garantir a
gratuidade do serviço aos maiores de 65 anos; (3) ação coletiva para assegurar a reserva de vagas em
estacionamentos.
Importante fazer breve explicação sobre a atuação resolutiva do MP, de modo que a atuação do Promotor
não deverá se restringir à propositura de ações coletivas.

4. Como promotora em uma comarca, você cobra uma atuação mais eficiente do Conselho tutelar, e o CT
contesta dizendo que não possui meios (falta um carro, local adequado para receber as famílias, dentre
outros). Qual seria a sua postura nessa situação?
A CF assegura, com absoluta prioridade, os direitos fundamentais da criança e do adolescente. O
Conselho Tutelar é um órgão permanente encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e
adolescentes. É serviço público relevante que deve ser tratado como prioridade do Estado. Dessa forma, caberia
atuação junto ao Município para garantir a previsão de recursos orçamentários suficientes para o
desenvolvimento dessa relevante função. O STJ, inclusive, possui vários julgados reconhecendo a possibilidade
de o Judiciário fazer isso, garantindo um mínimo intangível para realização de determinadas políticas públicas. A
atuação do MP deve ser resolutiva. Primeiramente, é melhor tentar uma solução consensual junto à
Administração municipal. Possibilidade de firmar TAC. Caso não seja suficiente, é cabível ingressar com ACP.

5. Qual seria o conteúdo do princípio da vulnerabilidade, no âmbito do CDC?


O princípio da vulnerabilidade é o fundamento de validade do direito do consumidor. O CDC traz previsão
expressa no sentido de que todo consumidor é vulnerável com relação ao fornecedor de produtos ou de serviços.
Trata-se de presunção absoluta da lei. Doutrina divide em vulnerabilidade técnica (ausência de conhecimento
específico sobre o produto ou serviço), jurídica (ausência de conhecimento de direitos e deveres inerentes à
relação de consumo) e fática/econômica (fragilidade do consumidor frente ao fornecedor).

Direito processual coletivo


Examinador: Dr. Carlos Alberto Valera
Ponto: Condições da ACP Ambiental

1. Disserte sobre a natureza jurídica do bem ambiental? Cite algumas características desse bem?
Há diferentes teorias para explicar a natureza jurídica do bem ambiental.
1) Bem de interesse público (Meio ambiente é um macro-bem, que é de interesse público e indisponível;
esse macro-bem é distinto do micro-bem, que seriam as propriedades públicas ou privadas)
2) Natureza de patrimônio público (bem de uso comum do povo; bem do Estado, de interesse público)
3) Natureza de patrimônio coletivo (interesse coletivo; titularidade coletiva; bem da sociedade, e não do
Estado; titulares determinados)
4) Natureza de bem difuso (titularidade difusa, plural, indeterminada; supera a dicotomia entre bem
público e privado; o bem ambiental não é público nem privado, é bem difuso; é bem de todos, cabendo ao Estado
e à sociedade protegê-lo).
Prevalece a última teoria.
(https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rvmd/article/view/5488/4431)
Algumas características do bem ambiental: por ser bem difuso, é de titularidade indeterminada,
pertencendo a todas as pessoas, presentes e futuras; por ser difuso, é indivisível; é direito fundamental garantido
constitucionalmente; é reconhecido em diversos tratados de direitos humanos; indisponibilidade.

2. Discorra sobre as condições da ACP Ambiental? Conceitue legitimação ordinária e extraordinária?


(dentro da pergunta, ele pediu a conceituação). Repita o que a senhora disse sobre o interesse de agir.
Como é que chama essa teoria? (teoria eclética) O examinador também citou a teoria imanentista, falando
de uma questão ambiental em que uma empresa comete um crime/infração ambiental.
(Percebe-se que algumas perguntas secundárias foram feitas com base na resposta que a candidato
estava dando)
Para a teoria eclética, de Liebman, condições da ação são requisitos para que o Judiciário apresente
uma decisão de mérito para o caso. A teoria reconhece a autonomia entre o direito de ação e o direito material,
mas determina que a ação precisa de algumas condições para poder ter seu mérito decidido pelo judiciário.
São condições da ação: legitimidade e interesse de agir. (Inicialmente, era também considerada condição
da ação a "possibilidade jurídica do pedido" - próprio Liebman, posteriormente, excluiu essa condição; Código de
73 manteve essa condição da ação, mas o CPC/15 o excluiu). Possível citar de forma rápida a divergência sobre
a manutenção dessa categoria "condições da ação" no CPC 15.
Na ACP ambiental, a legitimidade será uma "legitimidade extraordinária". Reconhecendo-se o caráter
difuso do "bem ambiental", haverá legitimidade extraordinária, haja vista que o legitimado ativo estará defendendo
em juízo um direito cuja titularidade é de todos.
Com relação às associações, jurisprudência reconhece a possibilidade de fazer um controle judicial da
legitimidade, tendo como parâmetro a pertinência temática.
Interesse processual se divide no trinômio "necessidade-utilidade-adequação". Em razão da natureza do
direito e do princípio da "reparação integral", o interesse de agir torna-se presumido quando se alega qualquer
tipo de degradação ou desrespeito às normas ambientais. (Colegas, confesso que fiquei na dúvida em como
responder essa aqui).

3. Com relação ao art. 3º da LACP, é possível no pedido da ACP ambiental pleitear-se lucro ilícito e “lucros
cessantes ambientais”. Posição pacificada no Enunciado nº 50 do Conselho Superior do MPMG
Em se tratando de dano ambiental, é reconhecido pela lei e pela jurisprudência o dever de "reparação
integral do dano".
Dentro dessa premissa, a jurisprudência do STJ reconhece as figuras do "lucro ilícito" e dos "lucros cessantes
ambientais" (ou danos emergentes).

Lucro ilícito: "Essa, inclusive, é a orientação firmada pelo Superior Tribunal de Justiça, em expressivo
julgado da lavra do ministro Herman Benjamin, que, inclusive, foi ainda mais longe, ao decidir que a
reparação integral do dano ambiental compreende, igualmente, a restituição ao patrimônio público
do proveito econômico do agente com a atividade ou empreendimento degradador, a mais-valia
ecológica que o empreendedor indevidamente auferiu com o exercício da atividade degradadora
(como, por exemplo, a madeira ou o minério retirados ao arrepio da lei do imóvel degradado ou,
ainda, o benefício com o uso ilícito da área para fim agrossilvopastoril, turístico ou comercial)[7]."
(https://www.conjur.com.br/2016-out-29/ambiente-juridico-responsabilidade-civil-ambiental-reparacao-
integral-dano)

Lucro cessante:

Recomendo leitura:
(https://aplicacao.mpmg.mp.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1004/Valora%C3%A7%C3%A3o%20do
%20dano%20ambiental_Freitas.pdf?sequence=1)

Dia 05 – Ponto 18 – Paula e Natália

GRUPO TEMÁTICO I

Examinador: Elaine Parisi


Ponto: Tribunal de Contas

1. O Tribunal de Contas está subordinado ao Poder Legislativo?


NÃO.
O TCU ostenta a condição de órgão independente na estrutura do Estado brasileiro, cujas funções estão
elencadas nos incisos do art. 71 da CF/88. Seus membros possuem as mesmas prerrogativas que as
asseguradas aos magistrados (art. 73, § 3º da CF/88), tendo suas decisões a natureza jurídica de atos
administrativos passíveis de controle jurisdicional. Trata-se de um tribunal de índole técnica e política, criado para
fiscalizar o correto emprego dos recursos públicos.
Os Tribunais de Contas realizam controle de legitimidade, economicidade e de eficiência, verificando se
os atos praticados pelos entes controlados estão de acordo com a moralidade, eficiência, proporcionalidade.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787)
“Embora auxilie o Poder Legislativo, ele [o TCU] não integra o Poder Legislativo nem mesmo é
subordinado a ele” [...] “relação de cooperação e não de subordinação”. (B. Gonçalves, p. 975, 2017)

2. As decisões dos tribunais de contas fazem coisa julgada formal e material? Explique.
NÃO.
“O mister desempenhado pelos Tribunais de Contas, no sentido de auxiliar os respectivos Poderes
Legislativos em fiscalizar, encerra decisões de cunho técnico-administrativo e suas decisões não fazem coisa
julgada, justamente por não praticarem atividade judicante. Logo, sua atuação não vincula o funcionamento do
Poder Judiciário, o qual pode, inclusive, revisar as suas decisões por força Princípio Constitucional da
Inafastabilidade do Controle Jurisdicional (art. 5º, XXXV, da Constituição). (REsp 1032732/CE, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 08/09/2015)

3. Os tribunais de contas têm poder de cautela?


SIM.
“Poder geral de cautela reconhecido ao TCU como decorrência de suas atribuições constitucionais” (STF,
MS 33092/DF)
O TCU possui competência para decretar, no início ou no curso de qualquer procedimento de apuração
que lá tramite, a indisponibilidade dos bens do responsável por prazo não superior a 1 ano (art. 44, § 2º da Lei
8.443/92).
O STF entende que essa previsão é constitucional, de forma que se admite, ainda que de forma
excepcional, a concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares, por deliberação
fundamentada do Tribunal de Contas, sempre que necessárias à neutralização imediata de situações que possam
causar lesão ao interesse público ou ainda para garantir a utilidade prática do processo que tramita no TCU.
Isso não viola, por si só, o devido processo legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o
contraditório ou a ampla defesa.
STF. 2ª Turma. MS 33092/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779)

4. Os membros dos tribunais de contas podem determinar a quebra do sigilo bancário de forma direta?
NÃO.
O TCU não detém legitimidade para requisitar diretamente informações que importem quebra de sigilo
bancário. Por mais relevantes que sejam as suas funções institucionais, o TCU não está incluído no rol dos
legitimados a ordenar a quebra de sigilo bancário previsto na Lei Complementar nº 105/2001.
Assim, o TCU não pode determinar que o banco apresente informações bancárias resguardadas pelo
sigilo. Foi o que decidiu o STF no MS 22934/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 17/4/2012.
Contudo, é necessário conhecer o que decidiu o STF no Informativo 787:
“Segundo o STF, o envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de recursos
públicos não é coberto pelo sigilo bancário. Nesses termos, conforme o MS 33.340/DF, julgado pela 1ª Turma em
26.05.2015, o acesso a tais dados é imprescindível à atuação do TCU na fiscalização das atividades do BNDES.
Aqui, registra-se, que o STF não está permitindo que o TCU quebre sigilo bancário, mas está afirmando que no
caso se trata de informações do próprio BNDES em um procedimento de controle legislativo financeiro de
entidades federais por iniciativa do Parlamento. Portanto, o STF está apenas reforçando a aplicação do art. 71 da
CR/88” (B. Gonçalves, p. 982, 2017)

5. Como se dá a atuação do MP junto aos tribunais de contas? É o MP estadual que atua?


“A CF/88 consagrou um MP específico com atuação junto ao Tribunal de Contas, aplicando aos seus
membros os mesmos direitos, vedações e forma de investidura dos demais (art. 130). Não obstante expressivas
garantias de ordem subjetiva concedidas aos seus membros, este órgão não pertence à organização institucional
do Ministério Público. Vincula-se administrativamente e se encontra consolidado na “intimidade estrutural” da
Corte de Contas.”
“Não se admite, ainda, a transmigração de membros de outras carreiras para o MP especial”.
(ambas de NOVELINO, p. 953 e 954, 2013; corroborada em B. Gonçalves p. 1225, 2017)

6. Um ministro do TCU possui independência funcional?


SIM.
CF/88, art. 73, § 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias*,
prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-
se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
Onde está prevista independência do MM.?
CNJ reconhece a existência de independência funcional do magistrado: “em face da independência
funcional, pode o magistrado decidir segundo sua interpretação do sistema jurídico, livre de pressões externas e
ingerências, discordando das partes e até mesmo do Ministério Público, sem que seja por isso punido
disciplinarmente. Para a hipótese de insurgência contra atos judiciais, dispõe as partes dos meios de impugnação
adequados às peculiaridades de cada situação”.
(VIDE: https://ajufe.jusbrasil.com.br/noticias/226654502/conselho-nacional-de-justica-reafirma-independencia-
funcional-dos-magistrados )
Por inferência, conclui-se ser possível a independência do Ministro do TCU.

7. O poder judiciário exerce funções típicas e atípicas. Explique.


Função precípua (típica) – prestação da tutela jurisdicional (aplicação do direito ao caso concreto, de
forma definitiva e em substituição à vontade dos envolvidos, a fim de solucionar conflitos sociais). Destaque para
o caráter de definitividade do provimento.
Funções atípicas: administrativa e legislativa.
Administrativa: prerrogativa de autoadministração e controle administrativo reconhecida aos tribunais e a
órgãos específicos de controle administrativo (CJF, CNJ). Atos administrativos comuns, ex. concursos, licitações,
concessão de férias. Também presente nos casos excepcionais em que o Presidente do STF, os Presidentes dos
TJs e o Juiz de Direito Diretor do Foro poderão ser chamados a exercer a substituição eventual da Chefia do
Executivo.
Legislativa: competência para emitir atos materialmente legislativos, tais como regimentos internos,
regulamentos, resoluções administrativas e, no caso do STF, súmulas vinculantes.
SINOPSE 17 – Dir. Constitucional – Tomo II – 2018, p. 599/602.

8. Quais as atribuições conferidas pela CRFB à Advocacia Pública?


AGU – representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe atividades de consultoria e
assessoramento jurídico do Poder Executivo (art. 131, caput, CF/88). Exceto na execução da dívida ativa de
natureza tributária, eis que essa cabe à PFN.
PROCURADORES dos Estados e do DF – exercem representação judicial e consultoria jurídica das
respectivas unidades federadas (art. 132, CF/88)

9. O advogado público goza de independência funcional?


NÃO, o advogado público não goza de independência funcional.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. NORMAS DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO


DO MATO GROSSO. [...] PRERROGATIVAS AOS PROCURADORES DO ESTADO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
NORMAS DE REPRODUÇÃO OBRIGATÓRIA. AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. [...]
É inconstitucional norma que atribui à Procuradoria-Geral do Estado autonomia funcional e administrativa, dado o
princípio da hierarquia que informa a atuação dos servidores da Administração Pública. [...] A garantia da
inamovibilidade é conferida pela Constituição Federal apenas aos Magistrados, aos membros do Ministério
Público e aos membros da Defensoria Pública, não podendo ser estendida aos Procuradores do Estado. Em
síntese, a autonomia conferida aos Estados pelo art. 25, caput da Constituição Federal não tem o condão de
afastar as normas constitucionais de observância obrigatória. Precedentes. Ação direta julgada parcialmente
procedente.
(ADI 291, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 07/04/2010, DJe-168
DIVULG 09-09-2010 PUBLIC 10-09-2010 EMENT VOL-02414-01 PP-00001)
(ADI 470/AM no mesmo sentido)

10. O presidente do CNJ tem direito a voto?


Segundo o regimento interno do CNJ o presidente vota (art. 119, V). Antigamente seu voto era apenas
para a finalidade de desempate, mas pela redação atual do dispositivo ele vota normalmente, se houver empate,
o seu voto prevalece.

Art. 5º O CNJ será presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, que votará em caso de empate.
Art. 5º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e
impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. (Redação dada pela Emenda Regimental nº
01/2010)

Art. 23 - Parágrafo único. Os processos sob relatoria de Conselheiro que eventualmente esteja substituindo o
Presidente não deverão ser apregoados enquanto perdurar a situação, restringindo-se o Presidente em exercício
a proferir votos de desempate.(Excluído pela Emenda Regimental nº 01/10)

Art. 119. São atribuições da Presidência nas sessões plenárias:


V - proferir voto em caso de empate.
V - proferir voto, o qual prevalecerá em caso de empate. (Redação dada pela Emenda Regimental nº 01/10)

11. É possível a criação de Defensoria Pública Municipal?


NÃO É POSSÍVEL. Em que pese não haver solução definitiva pelo STF na ADPF nº 279, é possível
argumentar contrariamente à criação de Defensoria Pública Municipal.
Primeiro, a CF/88 prevê que a assistência jurídica, integral e gratuita, será prestada pelo Estado, por
meio das Defensorias Públicas (art. 134 c/c art. 5º, LXXIV, CF/88). Segundo, a competência para legislar sobre
Defensoria Pública é concorrente entre a União (normas gerais) e os Estados e DF (competência suplementar),
art. 24, XIII, CF/88, não há menção aos Municípios. Terceiro, não há Estado-juiz ou Estado-acusação municipais,
não seria razoável haver Estado-defesa municipal.

Eleitoral
Ponto: Ação de captação ou gasto ilícito de recursos para fins eleitorais

FONTES: SINOPSE JUSPODIVM e


https://www.mprs.mp.br/media/areas/eleitoral/arquivos/cartilha_eleitoral-acoes_civeis_eleitorais.pdf

1. Qual o bem jurídico protegido por essa ação?


Prevista no art. 30-A da lei das eleições (Lei 9.504/97), contempla duas hipóteses de cabimento:
captação ilícita de recursos e gastos ilícitos de recursos, ambos com finalidade eleitoral.
BEM JURÍDICO: Visa a preservar a higidez das normas relativas à arrecadação e gastos eleitorais. Para
o TSE, o bem jurídico tutelado é a “moralidade das eleições”, sendo que para a procedência “é necessária prova
da proporcionalidade (relevância jurídica) do ilícito praticado pelo candidato, e não da potencialidade do dano [...]
A sanção – negativa do diploma ou cassação – deve ser proporcional à gravidade da conduta e à lesão
perpetrada ao bem jurídico tutelado”. Ac.-TSE no RO nº 1.540/2009 – Rel. Felix Fischer.

2. Há um princípio constitucional tutelado por essa ação?


Segundo o TSE tutela a moralidade das eleições. É possível citar também a garantia da igualdade de
oportunidades e forças entre os pleiteantes a cargos eletivos, de forma a preservar a normalidade das eleições e
a legitimidade da soberania popular.

3. Qual o procedimento dessa ação?


O procedimento a ser aplicado na presente representação, conforme dispõe o §1º, do art. 30-A, da Lei
das Eleições é o procedimento previsto no art. 22 da LC 64/90 (ler artigo).
No entendimento do TSE haverá competência dos juízes auxiliares para processamento e julgamento
das ações propostas com base nesse dispositivo, durante o período eleitoral.

4. Quem figura nos polos ativo e passivo dessa ação?


POLO ATIVO: há que se fazer uma leitura sistemática da lei.
Pela estrita redação do art. 30-A, apenas partidos políticos e coligações podem representar à Justiça
Eleitoral para abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas da lei das
eleições, relativas à arrecadação e gastos de recursos.
Pela leitura sistemática o TSE ampliou a legitimidade ativa ao MP, até porque a minirreforma de 2015
incluiu o artigo 96-B na lei das eleições e ele informa que o MP tem legitimidade para ajuizar ação eleitoral
independentemente do ajuizamento por partido ou candidato.
Por fim, os candidatos estão excluídos da prerrogativa de ajuizarem esta ação.

POLO PASSIVO: A legitimidade passiva é do candidato, inclusive o suplente. Na eleição majoritária, o


vice é litisconsorte passivo necessário; o partido político intervém como assistente simples.
5. Nas eleições proporcionais o suplente também deve configurar no polo passivo?
SIM, o suplente deve figurar, ao lado do candidato, no polo passivo da ação.

6. Qual o termo final para a propositura dessa ação?


O termo final para a propositura da representação é o de 15 dias após a diplomação.
O recurso contra as decisões proferidas em representações propostas é de 3 dias, a contar da data da
publicação do julgamento no Diário Oficial.
O recurso interposto contra sentença do Juiz Eleitoral será recebido com efeito suspensivo automático
(art. 257, § 2º, do Código Eleitoral).

Administrativo
Examinador: Marco Paulo Starling

1. Qual teoria prevalece em nosso ordenamento jurídico no que tange à responsabilidade civil do Estado?
Prevalece, como regra, a teoria da responsabilidade objetiva das pessoas de direito público e das
pessoas de direito privado prestadoras de serviços públicos, bem como a responsabilidade pessoal e subjetiva
dos agentes públicos, que poderão ser acionados em regresso.

#LINK1: evolução das teorias: irresponsabilidade; responsabilidade subjetiva pela culpa individual;
responsabilidade subjetiva pela culpa do serviço; por fim, responsabilidade objetiva.

#LINK2: na responsabilidade objetiva: teoria do risco administrativo e teoria do risco integral.

#LINK3: divergência jurisprudencial quanto à responsabilidade por omissão.

2. Quais são as principais diferenças das teorias Objetiva e Subjetiva com relação à responsabilidade
civil? Aponte 3.

Responsabilidade Subjetiva: (a) só incide sobre condutas ilícitas; (b) a vítima deve demonstrar conduta,
dano, nexo causal e dolo ou culpa – a princípio de um agente específico (responsabilidade subjetiva pela culpa
individual e depois pela falta do serviço; (c) para excluir a responsabilidade, basta afastar um dos quatro
elementos.
Responsabilidade Objetiva: (a) existe em condutas lícitas ou ilícitas; (b) elementos: conduta, dano e nexo
causal; (c) para aferir a possibilidade de excluir a responsabilidade, devem ser analisadas as teorias do risco
integral ou do risco administrativo – aquela não admite excludente do nexo de causalidade, esta admite, por fato
exclusivo da vítima, fato de terceiro e caso fortuito ou força maior.

3. Dê um exemplo de culpa na prestação do serviço, na teoria subjetiva.

Segundo a teoria da responsabilidade civil pela culpa do serviço, não mais era necessária prova da culpa
subjetiva do agente, mas bastaria que a vítima provasse a culpa do Estado pela chamada falta do serviço, ou
seja, deveria provar que o serviço não foi prestado, foi prestado de forma ineficiente ou foi prestado de forma
atrasada.
Ex. em caso de enchente, basta que a vítima comprove o entupimento dos bueiros de águas pluviais,
sem a necessidade de identificar o agente público omisso.
4. É possível que o órgão de execução do MP seja sujeito passivo na ação de responsabilidade civil
quando na função de custus legis? (Como a senhora iria auferir essa independência funcional? Qual, para a
senhora, seria mais importante, a autonomia funcional ou o princípio da unidade ministerial? – ESSA PARTE EU
ENTENDI QUE FOI UM DESDOBRAMENTO DO QUE A CANDIDATA RESPONDEU)

O art. 41, V, da LONMP prevê a prerrogativa do membro do MP, no exercício de sua função, de “gozar de
inviolabilidade pelas opiniões que externar, ou pelo teor de suas manifestações processuais ou procedimentais,
nos limites de sua independência funcional”.
A doutrina entende que se trata de IMUNIDADE FUNCIONAL, e alberga o exercício da atividade fim,
assim como é a função de custus iuris.
Para responsabilização civil do membro do MP no exercício de suas funções, ele deve ter agido com dolo
ou fraude (art. 181, do CPC/15).
A doutrina majoritária entende que ações de indenização em razão de atos praticados pelo membro do
MP no exercício da função NÃO PODEM ser ajuizadas diretamente em face do membro ou mesmo em face da
Instituição, mas sim em face do ente federativo ao qual está vinculado (União ou Estado), que, por sua vez,
apenas em casos de reconhecimento de dolo ou fraude, terá direito de regresso contra o agente ministerial.
(Coleção Leis Especiais para concursos – Ministério Público Lei 8.625/93 – Leonardo Barreto Moreira
Alves e Marcelo Zenkener)
(Rafael Oliveira – Curso de Direito Administrativo, 2018, p. 782)

GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Dr. Luis Gustavo Gonçalves Ribeiro
Ponto: Execução penal e LEP

1. O que pode ser feito se uma PJ não cumprir uma pena de interdição temporária de direitos a ela
aplicada? O que pode ser feito para coagi-la ao cumprimento? Mas isso não seria mexer com a coisa
julgada? Se aplicadas sucessivas e cumuladas penas, já havendo trânsito em julgado, não seria uma
ofensa à coisa julgada?
Não encontrei resposta fechada, então segue o raciocínio:
A par de toda a divergência doutrinária existente, STF e STJ pacificaram o entendimento de que é
possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Assim, jurisprudência não mais adota a
chamada teoria da "dupla imputação".
A Lei de Crimes Ambientais prevê em seu art. 21 as penas restritivas de direito aplicáveis às pessoas
jurídicas, isolada, cumulativa ou alternativamente: multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à
comunidade. As penas restritivas de direitos, por sua vez, englobam: suspensão parcial ou total de atividades;
interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; e proibição de contratar com o Poder Público, bem
como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
Segundo Gabriel Habib, as penas restritivas de direitos impostas à pessoa jurídica não são autônomas,
mas sim substitutivas da pena privativa de liberdade. Assim, o juiz fixa inicialmente a pena privativa de liberdade e
depois a substitui por uma das penas restritivas de direito, compatíveis com a natureza da pessoa jurídica. Caso
haja o descumprimento da pena restritiva de direito – a exemplo da interdição temporária de direitos –, não há
como se aplicar literalmente a regra geral de conversão da sanção em pena privativa de liberdade. Deve-se,
todavia, aplicar o comando contido no art. 181, §3º da LEP de forma analógica, para converter a interdição
temporária de direito em outra espécie de pena restritiva de direito aplicável à pessoa jurídica nos termos da Lei
de Crimes Ambientais. A pena mais adequada para a substituição deve ser verificada à luz das peculiaridades do
caso concreto, desde que devidamente prevista na Lei n.º 9.605/98 (multa, prestação de serviços à comunidade,
proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações). Assim
como ocorre na conversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade, não há se falar em ofensa
à coisa julgada.

2. A senhora é promotora de justiça na Comarca de Extrema, e se depara com a seguinte situação: um


cidadão cumpre uma prisão provisória de 6 meses, e é condenado, por furto privilegiado, à pena de multa.
Ele requer a detração da pena. Como a senhora responderia a isso?
Não encontrei resposta fechada, então segue o raciocínio:
Como se sabe, por força do art. 42 do CP, computa-se, na pena privativa de liberdade e na medida de
segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no exterior, e o de internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico. A detração consiste, portanto, no desconto, da pena final aplicada, do tempo em que o
acusado ficou preso cautelarmente.
Nada disse a lei quanto à possibilidade de detração no caso de aplicação de medidas cautelares diversas
da prisão, ou seja, se o tempo de cumprimento das medidas cautelares diversas da prisão durante o curso da
persecução penal deve (ou não) ser descontado do quantum de pena aplicado ao final do processo. Também não
se ocupou o CP da hipótese inversa: em que o tempo da prisão cautelar poderia ser descontado da pena
definitiva que não seja privativa de liberdade.
Segundo Renato Brasileiro, “havendo semelhança e homogeneidade entre a medida cautelar aplicada no
curso do processo e a pena imposta ao acusado na sentença condenatória irrecorrível, é plenamente possível a
detração. A título de exemplo, supondo que tenha sido imposta ao acusado a medida cautelar de recolhimento
domiciliar no período noturno, se acaso for condenado ao cumprimento da pena restritiva de direitos de limitação
de final de semana, não temos dúvida quanto à possibilidade de detração, já que a cautelar guarda certa
similitude com a pena definitiva”.
Problema maior ocorre quando não há semelhança ou homogeneidade entre a medida cautelar e a pena
imposta, a exemplo do caso narrado, em que a medida cautelar consistiu em prisão e a pena definitiva em multa.
Aplicando-se o raciocínio desenvolvido por Renato Brasileiro, “nas hipóteses em que o acusado se sujeitar à
imposição de medidas cautelares extremamente gravosas”, “não se afigura razoável não se conceder nenhum
benefício àquele que cumpriu a medida cautelar por um longo período, até mesmo como forma de compensação
decorrente dos gravames inerentes a esse castigo antecipado”. Caso o tempo de cumprimento da medida
cautelar não fosse considerado para fins de detração “criar-se-ia situação de absoluta desigualdade em relação
àquele que não cumpriu nenhuma medida cautelar durante o curso da persecução penal”.
No caso concreto, a situação é agravada pelo fato de que não caberia sequer prisão preventiva, diante da
pena cominada ao delito de furto.
Nesse sentido, vale pontuar o julgado em que o STJ reconhece a intitulada detração penal analógica
virtual:

Situação concreta: João foi preso em flagrante por tráfico de drogas (art. 33 da LD). Após 6 meses preso
cautelarmente, ele foi julgado. O juiz proferiu sentença desclassificando o delito de tráfico para o art. 28 da LD. Na
própria sentença, o magistrado declarou a extinção da punibilidade do réu alegando que o art. 28 não prevê pena
privativa de liberdade e que o condenado já ficou 6 meses preso. Logo, na visão do juiz, deve ser aplicada a
detração penal analógica virtual, pois qualquer pena que seria aplicável ao caso em tela estaria fatalmente
cumprida, nem havendo justa causa ou interesse processual para o prosseguimento do feito. Essa sentença não
vale para fins de reincidência. Isso significa que, se João cometer um segundo delito, esse primeiro processo não
poderá ser considerado para caracterização de reincidência. STJ. 6ª Turma. HC 390038-SP, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 06/02/2018 (Info 619).
Fonte: Dizer o Direito.

3. O art. 128 da LEP fala que o tempo de remição é tempo de pena cumprido para todos os efeitos legais,
mas a própria lei diz que se o cidadão cometer falta grave, o juiz pode revogar os dias remidos em até um
1/3. O que a senhora tem a dizer sobre isso?
Muito embora o art. 128 da LEP estabeleça que “o tempo remido será computado como pena cumprida,
para todos os efeitos”, a jurisprudência tem atenuado o rigor legal, afirmando que a remição é um benefício
submetido à cláusula rebus sic stantibus. É dizer: a remição é um benefício que só vale se as coisas
permanecerem do jeito que estão. Isso porque o condenado poderá perder o direito de remir parte dos dias
trabalhados caso pratique falta grave, conforme previsto no art. 127 da LEP. Assim, diz-se que o reeducando
possui apenas a expectativa do direito de abater os dias trabalhados do restante da pena a cumprir, desde que
não venha a ser punido com falta grave.
O STJ entende, inclusive, que muito embora o art. 127 preveja que “em caso de falta grave, o juiz poderá
revogar até 1/3 do tempo remido”, a expressão deve ser interpretada como poder-dever do magistrado, ficando no
juízo de discricionariedade do julgador apenas a fração da perda, que terá como limite máximo 1/3 dos dias
remidos (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1430097-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 19/3/2015 (Info 559). Há
ainda Súmula Vinculante com o seguinte teor: “O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução
Penal) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do
artigo 58” (SV 9).
Fonte: Dizer o Direito.

4. Dê dois exemplos de falta grave previstos na LEP.


As faltas disciplinares no âmbito da execução penal se dividem, de acordo com sua gravidade, em leves,
médias e graves. A LEP, contudo, só previu as faltas classificadas como graves, em rol taxativo, deixando a cargo
da legislação local a definição e a cominação de sanções às infrações leves e médias (art. 49, LEP). São
exemplos de faltas graves previstas pela LEP: a incitação ou participação em movimento que subverta a ordem e
a disciplina e a fuga.

Aprofundamento:
Não confundir: Para o STJ:
• Apenado que rompe a tornozeleira eletrônica ou mantém a bateria sem carga suficiente: falta
grave (art. 50, VI c/c art. 39, V, da LEP).
• Apenado que descumpre o perímetro estabelecido para tornozeleira eletrônica: não configura a
prática de falta grave.
Fonte: Dizer o Direito.

Processo penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Ponto: Nulidades processuais
1. Faça uma digressão acerca da posição do tratamento do ato jurídico inexistente dentro da Teoria das
Nulidades no Processo Penal. Ato jurídico inexistente se compara a um ato nulo ou anulável?
Atos nulos são aqueles que, diante da inobservância do modelo típico ou a ausência de requisito
indispensável para a prática do ato processual, são passíveis de decretação de ineficácia, reconhecendo sua
nulidade absoluta ou relativa. Apesar de estarem sujeitos ao reconhecimento de sua inaptidão para produzir
efeitos regulares, tais atos são juridicamente existentes e produzem seus efeitos regulares enquanto não
declarada sua nulidade. A título de exemplo, proferida sentença condenatória desprovida de fundamentação,
temos que tal decisão será nula, haja vista que a Constituição Federal estabelece a obrigatoriedade de motivação
das decisões judiciais (art. 93, IX). Todavia, a despeito da nulidade absoluta, enquanto este vício não for
expressamente reconhecido pelo Tribunal competente, esta decisão terá aptidão para produzir seus efeitos
regulares.
Noutro giro, os atos inexistentes são aqueles que, diante da tamanha gravidade do vício que os inquina,
sequer podem ser tidos como atos processuais, sendo considerados pela doutrina como “não atos”. É o caso, por
exemplo, de sentença sem dispositivo. Nesse caso, não se cogita de invalidação, visto que a inexistência
representa um defeito que antecede qualquer consideração sobre a validade do ato processual. Por mais que
parte da doutrina sustente a desnecessidade de decretação da inexistência do ato, é possível imaginar hipóteses
em que o ato inexistente gere efeitos como se válido fosse, somente cessando tal eficácia quando do
reconhecimento judicial da inexistência (como, por exemplo, no caso de sentença prolatada por juiz não já
investido de jurisdição no momento de sua prolação).
Ao contrário das nulidades relativas e absolutas, o vício que gera a inexistência do ato não se convalida
jamais, nem mesmo com o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória ou absolutória, podendo ser
reconhecido na constância do processo e após o seu encerramento, independentemente de prazo.
Fonte: Renato Brasileiro

2. Eventuais ilicitudes cometidas no inquérito policial podem causar nulidade da ação penal? E se o
investigado estiver preso, tem alguma repercussão dessa ilegalidade produzida no Inquérito?

Como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais vícios dele constantes não têm o condão de
contaminar o processo penal a que der origem. Havendo, assim, eventual irregularidade em ato praticado no
curso do inquérito, mostra-se inviável a anulação do processo penal subseqüente. Afinal, as nulidades
processuais concernem, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados ao longo do
processo penal condenatório.
A título de exemplo, se, por ocasião da prisão em flagrante, o delegado deixar de proceder à remessa do
auto de prisão em flagrante delito à defensoria pública, apesar de o autuado não informar o nome de seu
advogado, não há falar em nulidade propriamente dita, porquanto não se trata de ato de natureza processual.
Isso, no entanto, não significa dizer que a inobservância do art. 306, § 1º, do CPP, é inócua. Na verdade, face à
ilegalidade da conduta da autoridade policial, a prisão em flagrante deve ser objeto de relaxamento, nos termos
do art. 5º, LXV, da Constituição Federal.
Logicamente, caso uma determinada prova tenha sido produzida com violação a normas de direito
material, há de ser reconhecida sua ilicitude (CF, art. 5º, LVI), com o consequente desentranhamento dos autos,
bem como de todas as demais provas que com ela guardem certo nexo causal (teoria dos frutos da árvore
envenenada). Isso, todavia, não significa dizer que todo o inquérito será considerado nulo. Afinal, é possível que
constem da investigação policial elementos de informação que não foram contaminados pela ilicitude originária
(teoria da fonte independente).
Fonte: Renato Brasileiro
3. Gostaria que a senhora trabalhasse dois princípios: a instrumentalidade das formas e a regra do
interesse na alegação da nulidade.

O princípio da instrumentalidade das formas parte da compreensão de que a existência do modelo típico
dos atos processuais não é um fim em si mesmo. Na verdade, a forma prescrita em lei visa proteger algum
interesse ou atingir determinada finalidade. Por isso, antes de ser decretada a ineficácia do ato processual
praticado em desacordo com o modelo típico, há de se verificar se o interesse foi protegido ou se a finalidade do
ato processual foi atingida. Em caso afirmativo, não há motivo para se decretar a nulidade do ato processual
(princípio do pas de nullitè sans grief). O princípio da instrumentalidade das formas, também conhecido como
princípio da finalidade, pode ser extraído de alguns dispositivos legais, a saber: a) as nulidades previstas no art.
564, III, “d” e “e”, segunda parte, “g” e “h”, e IV, do CPP, considerar-se-ão sanadas se, praticado por outra forma, o
ato tiver atingido seu fim (CPP, art. 572, II); b) quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de
nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade (art. 244, CPC –
art. 277 do novo CPC). Talvez o melhor exemplo de aplicação do princípio da instrumentalidade das formas seja
aquele pertinente à citação defeituosa, cujo vício pode sanado pelo comparecimento pessoal do acusado (art. 570
do CPP).
Por sua vez, o princípio do interesse preceitua que nenhuma das partes pode argüir nulidade relativa
referente à formalidade cuja observância só interesse à parte contrária (CPP, art. 565, in fine). Esse princípio
também pode ser extraído do art. 572, III, do CPP, que prevê que as nulidades previstas no art. 564, III, “d” e “e”,
segunda parte, “g” e “h”, e IV, do CPP, considerar-se-ão sanadas se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os
seus efeitos. Esse princípio é aplicável apenas às nulidades relativas, já que em se tratando de nulidade absoluta,
como há, em regra, violação de norma protetiva de interesse público com status constitucional, qualquer parte
pode fazer a arguição. O princípio do interesse também não se aplica ao Ministério Público. Isso porque, por força
do art. 127 da CF, ao Parquet incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis. Ora, se ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica, aí incluída a
observância da tipicidade dos atos processuais, assim como a tutela dos interesses individuais indisponíveis,
destacando-se, dentre eles, a liberdade de locomoção, daí por que pode inclusive pugnar pela absolvição do
acusado (CPP, art. 385), é evidente que o Parquet tem interesse presumido para pleitear o reconhecimento de
nulidade relativa em favor da defesa, seja quando atua como parte (ação penal pública), seja quando atua como
fiscal da lei (ação penal privada). Ótimo exemplo de aplicação desse princípio diz respeito à ausência do órgão
ministerial durante a realização do interrogatório judicial. Se a ausência do defensor ao interrogatório é causa de
nulidade absoluta, o mesmo não se dá quando ausente o Ministério Público, hipótese de nulidade relativa.
Portanto, falta legitimidade ao acusado para argüir nulidade referente à formalidade processual cuja observância
só à parte contrária interessa.

4. A defesa tem sob a sua análise uma nulidade absoluta. Ela guarda aquela alegação para momento
posterior. No primeiro ato que é intimada não o suscita. Suscita a nulidade absoluta apenas em um
eventual recurso. Isso ofende o princípio do interesse na alegação da nulidade?
Ao contrário das nulidades relativas, que estão sujeitas à preclusão temporal, a nulidade absoluta pode
ser arguida a qualquer momento, pelo menos enquanto não houver o trânsito em julgado da decisão. Destarte,
pelo menos em regra, a mácula do ato absolutamente nulo não pode ser saneada ou convalidada, seja pelo
decurso do tempo (preclusão temporal), seja pelo fato de a parte, ainda que tacitamente, ter aceitado seus efeitos
(preclusão lógica). De fato, o único limite ao reconhecimento da nulidade absoluta refere-se à coisa julgada pro
reo, diante da vedação constitucional da reformatio pro societate (revisão da sentença absolutória por iniciativa do
Estado).
Outro aspecto importante acerca das nulidades absolutas é que, aos olhos dos Tribunais Superiores, seu
reconhecimento está limitado temporalmente, pelo menos em regra, às instâncias recursais ordinárias. Em outras
palavras, em sede de recurso extraordinário e especial, os tribunais superiores só poderão se manifestar sobre
uma nulidade absoluta se a mesma tiver sido objeto de prequestionamento, tal qual disposto nas súmulas 356 do
STF (“O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto
de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”) e 320 do STJ (“A questão federal somente
ventilada no voto vencido não atende ao requisito do prequestionamento”). Isso, no entanto, não impede a
concessão de ordem de habeas corpus de ofício pelos Tribunais Superiores em favor do acusado, mas desde que
não haja supressão de instância.
Considerando que o princípio do interesse não se aplica às nulidades absolutas, nem tampouco ao
Ministério Público, conclui-se que, na verdade, referido princípio tem aplicação restrita às nulidades relativas,
impedindo que a defesa se insurja contra ato processual defeituoso cuja observância interesse apenas à
acusação. Assim, a situação proposta na questão não viola o princípio do interesse.

GRUPO TEMÁTICO III

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Ponto: Sucessão

1. Em quais situações o cônjuge é chamado à sucessão?


O CC/02 introduziu o sistema de concorrência sucessória envolvendo o cônjuge e o companheiro em relação
aos descendentes, ascendentes e colaterais, estabelecendo, a princípio, regimes sucessórios distintos para cada
um deles (art. 1.829 e 1.790, CC). Considerando que o STF considerou inconstitucional essa distinção, aplica-se,
atualmente, o seguinte regime sucessório para ambos.
Os descendentes e o cônjuge/companheiro são herdeiros de primeira classe, em um sistema de concorrência
condicionado ao regime de bens adotado no casamento com o falecido. O cônjuge não herda em concorrência
com os descendentes quando casado com o de cujus no regime da comunhão universal, da separação legal ou
obrigatória de bens e da comunhão parcial de bens, desde que não haja bens particulares do falecido. Por outro
lado, o cônjuge figura como herdeiro ao lado dos descendentes quando o casamento se deu sob o regime de
participação final nos aquestos e da separação convencional de bens, assim como na comunhão parcial de bens,
em havendo bens particulares do falecido. Como se nota, o objetivo do legislador foi claramente o de separar a
meação da herança. Assim, pelo sistema instituído, quando o cônjuge é meeiro não é herdeiro, e quando é
herdeiro não é meeiro. Por fim, cumpre destacar que, à par da divergência doutrinária e jurisprudencial até então
existente, a 2ª Seção do STJ pacificou, em 2015, o entendimento pela concorrência sucessória no regime da
separação convencional de bens (Informativo 562).
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes (herdeiros de segunda classe), do
mesmo modo em concorrência com o cônjuge. Faltando descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão
por inteiro e isoladamente ao cônjuge sobrevivente, que está na terceira classe de herdeiros (arts. 1.829, III, e
1.838 do CC). Aqui também o regime de bens é irrelevante.

Aprofundamento:
Meação e herança não se confundem. Meação é um instituto de Direito de Família, independente
do regime de bens adotado. Herança é instituto de Direito das Sucessões, que decorre da morte do
falecido.
Jurisprudência em Teses STJ: “Os princípios legais que regem a sucessão e a partilha não se
confundem: a sucessão é disciplinada pela lei em vigor na data do óbito; a partilha deve observar o
regime de bens e o ordenamento jurídico vigente ao tempo da aquisição de cada bem a partilhar”.
No que toca à sucessão do cônjuge casado sob o regime da comunhão parcial de bens, havia
divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à abrangência da sucessão: (i) a primeira, baseada
no Enunciado n. 270 das Jornadas de Direito Civil, estabelecia que a sucessão do cônjuge, pela
comunhão parcial, somente se dá na hipótese em que o falecido tenha deixado bens particulares,
incidindo apenas sobre esses bens; (ii) a segunda, capitaneada por parte da doutrina, defende que
a sucessão na comunhão parcial também ocorre apenas se o ‘de cujus’ tiver deixado bens
particulares, mas incide sobre todo o patrimônio, sem distinção; (iii) a terceira defende que a
sucessão do cônjuge, na comunhão parcial, só ocorre se o falecido não tiver deixado bens
particulares. A questão foi pacificada pela 2ª Seção do STJ em 2015, quando prevaleceu a corrente
doutrinária majoritária, no sentido de que a concorrência do cônjuge no regime da comunhão
parcial de bens diz respeito tão somente aos bens particulares, que não integram a meação.
Fonte: Flávio Tartuce.

2. Na separação de fato a lei interpõe duas exigências, quais são elas? Qual o lapso temporal? (2 anos).
O art. 1830 do CC dispõe que “somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao
tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos,
salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente”. Logo, são
exigências para que o cônjuge separado de fato tenha direitos sucessórios: que não esteja separado há mais de 2
anos ou, caso esteja, se comprovar que o fim do casamento não se deu por sua culpa sua. É de se ressaltar que
a menção à culpa é amplamente criticada pelos doutrinadores brasileiros, sendo que Rolf Madaleno aponta e
critica a existência de uma culpa mortuária, a conduzir a uma prova diabólica.

No que tange à culpa, há divergência doutrinária:


Para um primeiro entendimento, a culpa não pode ser mais debatida para fins de dissolução do
casamento desde a entrada em vigor da Emenda do Divórcio (EC 66/2010). Sendo assim, também
não pode ser discutida para fins sucessórios.
Para um segundo entendimento, o art. 1.830 do CC permanece incólume, tendo ampla aplicação,
pois em vigor, devendo a citada culpa mortuária ou funerária ser investigada. O STJ adotou esse
posicionamento em julgado datado de 2015 (REsp 1.513.252/SP)

3. O que é a legítima?
A sucessão pode se dar por disposição de última vontade, ou seja, por sucessão testamentária, ou por
sucessão legítima, regulamentada pela lei, que estabelece quais são os herdeiros e qual será a ordem em que
ocorrerá a partilha dos bens. No âmbito da sucessão legítima, a lei estabelece como herdeiros necessários os
descendentes, os ascendentes e o cônjuge. A eles pertence, de pleno direito, a metade dos bens da herança,
constituindo a chamada legítima. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da
sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a
colação (arts. 1.845 a 1.847, CC).

4. O que é direito de representação?


Conforme define a própria lei, dá-se o direito de representação quando a lei chama certos parentes do
falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse (art. 1.851 do CC). Em suma, pelo
direito de representação um herdeiro substitui outro por força de convocação da lei, mitigando a regra segundo a
qual o parente mais próximo exclui o mais remoto. Em duas situações específicas a norma jurídica consagra o
direito de representação:
• Na linha reta descendente (art. 1.852, CC). Ex: se o de cujus deixa 3 filhos e 2 netos, filhos do quarto
filho pré-morto, os netos terão direito de representação. Não há direito de representação na linha reta ascendente e
nem entre cônjuges e companheiros (que sequer são parentes entre si);
• Na linha reta colateral ou transversal (art. 1.853, CC): Nesse caso, existe apenas em favor dos filhos de
irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem. STJ: já entendeu que não se entende a sobrinhos-netos.

Em todas as hipóteses, os representantes só podem herdar, como tais, o que herdaria o representado, se vivo
fosse (art. 1.854 do CC). Desse modo, fica clara a existência de uma substituição sucessória nos mesmos
direitos.
Fonte: Flávio Tartuce.

Aprofundamento
O Enunciado n.º 610 da VII Jornada de Direito Civil (2015) assegura o direito de representação aos
descendentes e aos filhos dos irmãos nos casos de comoriência entre ascendente ou descendente
ou entre irmãos.

5. Dizem que o testamento é um ato personalíssimo. Por quê? Existe uma idade mínima para testar?
O testamento pode ser conceituado como um negócio jurídico unilateral, personalíssimo e revogável pelo
qual o testador faz disposições de caráter patrimonial ou extrapatrimonial, para depois de sua morte. Trata-se do
ato sucessório de exercício da autonomia privada por excelência. Diz-se que o testamento é ato personalíssimo
por excelência, porque ninguém poderá testar por procuração ou conjuntamente em um mesmo instrumento
(proibição expressa do testamento conjuntivo - art. 1.863 do CC).
A idade mínima para testar é 16 anos (art. 1.860, CC), sendo que os menores púberes não precisam de
assistência para o ato.

Aprofundamento: No que tange à capacidade, o art. 1.857 do CC dispõe que “toda pessoa capaz
pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua
morte”. O art. 1.860 prossegue no sentido de que, “além dos incapazes, não podem testar os que,
no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento”, ressalvando, todavia a capacidade
testamentária ativa dos maiores de 16 anos, sendo essa, portanto, a idade mínima para testar.
Segundo Flávio Tartuce, as mudanças promovidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência no
estatuto das capacidades demandam a reinterpretação do art. 1.860, de modo que somente devem
ser considerados como absolutamente incapazes para o testamento os menores de 16 anos.
Fonte: Flávio Tartuce.

6. O testador elaborou seu ato e depois se tornou incapaz, esse testamento é invalidado?
“A incapacidade superveniente do testador, manifestada após a sua elaboração, não invalida o
testamento (art. 1.861 do CC). Isso porque, quanto ao plano da validade, deve ser analisada a realidade existente
quando da constituição do negócio. Além disso, pelo mesmo comando, o testamento do incapaz não se valida
com a superveniência da capacidade. Nesse último caso, será necessário fazer outro testamento”.
Fonte: Flávio Tartuce.

Processo Civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso
Ponto: Competência Processual do MP

1. Quando o MP não foi parte na ação principal, ele tem legitimidade para propor a ação rescisória?
Apenas a hipótese de conluio entre as partes?
O art. 967, III do CPC trata especificamente da legitimidade do MP para o ajuizamento de ação rescisória
quando não tiver figurado como parte no processo originário, assegurando-a nos seguintes casos: “a) se não foi
ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção; b) quando a decisão rescindenda é o efeito de
simulação ou de colusão das partes, a fim de fraudar a lei; e c) em outros casos em que se imponha sua
atuação”. Muito embora a legitimidade ativa do MP para o ajuizamento de ação rescisória se restringisse, no
CPC/73, às duas primeiras hipóteses, a jurisprudência já se orientava no sentido que as alíneas a e b do art. 487,
III do CPC/73 traduziam hipóteses meramente exemplificativas, admitindo a proposição de rescisória pelo MP
sempre que presente o interesse público. Esse entendimento foi consagrado pelo NCPC, que previu
expressamente a legitimidade do MP em outros casos que imponham sua atuação.
Fonte: Daniel Amorim Assumpção Neves.

2. O MP estadual tem legitimidade para atuar nos tribunais superiores STJ e STF?
Durante vários anos, prevaleceu a tese de que somente o MPF poderia atuar no STJ. Argumentava-se
que o MP é uma instituição una, cabendo ao seu chefe – o PGR – representá-lo junto aos Tribunais Superiores,
tanto na condição de parte como na de custos juris. O primeiro passo para a mudança desse entendimento se
deu em 2011, quando o STF reconheceu a legitimidade do MPE para apresentar reclamação diante daquela
Corte (Rcl 7358/SP, rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 24/2/2011). O STJ seguiu o mesmo caminho e decidiu que
o MPE tem legitimidade recursal para atuar também no STJ.
Hoje, prevalece que o MPE tem legitimidade para atuar como parte no âmbito dos tribunais superiores de
forma autônoma. Para tanto, são elencados pela jurisprudência os seguintes argumentos:
• Inexistência de hierarquia entre MPU e MPE (o chefe do MPU é o PGR, mas o chefe do MPE é o PGJ);
• Princípio federativo seria violado ao não se admitir a atuação do MPE, pois haveria diferença de
tratamento em relação ao MPF, mitigando sua autonomia funcional;
• Autonomia do MPE;
• MPU e MPE não são unos entre si (a unidade institucional é princípio aplicável apenas no âmbito de
cada Ministério Público);
• Os interesses defendidos pelo MPE podem, eventualmente, ser conflitantes com os do MPU, obstando o
acesso do Parquet estadual aos Tribunais Superiores; e
• Afronta ao princípio da paridade de armas.
Fonte: Dizer o Direito.

Aprofundamento:
A atuação do MP como custos juris nos Tribunais Superiores continua a cargo do MPF.
Nos casos de ação penal de competência originária do STF e do STJ, a atribuição continua sendo
do MPF.
O MPT não pode atua diretamente no STF e no STJ, pois integra o MPU, cuja atuação junto aos
Tribunais Superiores é privativa do PGR (arts. 46 e 47 da LC 75/93).

3. Como se daria na prática essa representação, o promotor pode sair de sua comarca de origem e ir fazer
sustentação oral.
Diante da prevalência do entendimento de que o MPE possui legitimidade para atuar no STF e no STJ de
forma autônoma, tem-se que essa atuação pode se dar por meio de seu Procurador-Geral de Justiça ou alguém
por ele designado (até mesmo um Promotor de Justiça).
Fonte: Dizer o Direito.

4. Em quais processos o MP tem obrigação legal de intervir? E em quais ações a Resolução nº 16 do


CNMP recomenda que o MP não participe? Essa recomendação é vinculativa/obrigatória?
A intervenção do MP na condição de custos juris é obrigatória nos casos previstos na Constituição (art.
129) e na lei, a exemplo do CPC (art. 178) e do microssistema de processo coletivo. Todavia, essa intervenção
ministerial “precisa ser racionalizada. Os recursos são finitos e as funções do MP, muito amplas. Deve haver,
portanto, uma priorização das funções constitucionais, na tutela dos direitos de interesse público e social, de
forma a tornar a instituição mais efetiva em seu compromisso de reforma da sociedade brasileira à luz dos direitos
fundamentais, pelo bem da tutela dos direitos e da coletividade. Isso implica reconhecer um poder de agência ou
agenda, que permite, reconhecida a existência de graus de indisponibilidade, uma atuação focada na
maximização dos resultados pelo Ministério Público. A função do planejamento estratégico da instituição é
justamente dar suporte a uma atuação mais consciente dos objetivos possíveis”. (Fonte: O MP e o novo Processo
Civil; Hermes Zannetti).
Nesse contexto, a Recomendação n.º 34/2016 do CNMP, que não possui caráter vinculante aos membros
do Ministério Público (conforme previsão expressa em seu art. 6º), estabelece como prioridade institucional a
limitação da sua atuação em casos sem relevância social para direcioná-la na defesa dos interesses da
sociedade. Vale mencionar que, segundo o art. 2º, “a identificação do interesse público no processo é juízo
exclusivo do membro do Ministério Público, sendo necessária a remessa e indevida a renúncia de vista dos
autos”. Os arts. 3º e 4º, por sua vez, preveem a prescindibilidade: da a manifestação, em primeiro grau, acerca da
admissibilidade de recurso, ressalvada disposição legal em contrário; e da atuação simultânea de mais de um
órgão do Ministério Público em ações individuais ou coletivas, propostas ou não por membro da Instituição.

Aprofundamento: O art. 5º da Resolução prevê ações de destacada relevância social.

Obs.: A Resolução n.º 16/2007 do CNMP trata do exercício da advocacia por parte de membros do MPU que
ingressaram antes da CF. Logo, deve ter havido um equívoco na transcrição da pergunta.

5. Com relação à nulidade do art. 276 do CPC, que diz respeito a não atuação do MP, ela se dará quando
ele não intervier ou quando não for intimado? O examinador questionou após a resposta da candidata:
Em síntese, apenas se houver um prejuízo é que ele deve participar?
A intimação do MP é obrigatória nos casos previstos na lei e na CF. Ocorre que ser intimado não significa
necessariamente se manifestar. O MP pode decidir pela não intervenção, caso entenda não estarem presentes os
pressupostos constitucionais e legais de sua atuação (art. 127, CF e 178, CPC). Assim, só haverá nulidade caso,
em hipótese de intervenção obrigatória, o MP não seja intimado para intervir. Ainda assim, caso se verifique tal
situação no caso concreto, o membro do MP deve ser intimado para se manifestar quanto à existência de prejuízo
advindo de sua não intervenção no momento adequado. Havendo prejuízo, o juiz invalidará os atos praticados
processuais a partir do momento em que o MP deveria ter sido intimado (art. 279, CPC).

6. O MP pode se recusar a dar um parecer quando for ordenado pelo juiz?


O órgão do Ministério Público tem autonomia para reconhecer, mediante remessa dos autos efetuada
pelo juiz, se efetivamente a ação em andamento configura hipótese de intervenção ministerial, podendo se
recusar a exarar seu parecer. Corroborando tal assertiva, o CPC prevê que “findo o prazo para a manifestação do
Ministério Público sem o oferecimento de parecer, o juiz requisitará os autos e dará andamento ao processo” (art.
180, §1º).

7. O MP tem legitimidade para pedir a execução da multa arbitrada pelos TCEs, em suas duas naturezas,
tanto a ressarcitória quanto a de caráter punitivo?
A execução de título executivo extrajudicial decorrente de condenação patrimonial proferida por tribunal
de contas somente pode ser proposta pelo ente público beneficiário da condenação, não possuindo o Ministério
Público legitimidade ativa para tanto. De fato, a Primeira Seção do STJ pacificou o entendimento no sentido de
que o Ministério Público teria legitimidade, ainda que em caráter excepcional, para promover execução de título
executivo extrajudicial decorrente de decisão de tribunal de contas, nas hipóteses de falha do sistema de
legitimação ordinária de defesa do erário (REsp 1.119.377-SP, DJe 4/9/2009).
Entretanto, o Pleno do STF, em julgamento de recurso submetido ao rito de repercussão geral,
estabeleceu que a execução de título executivo extrajudicial decorrente de decisão de condenação patrimonial
proferida por tribunal de contas pode ser proposta apenas pelo ente público beneficiário da condenação, bem
como expressamente afastou a legitimidade ativa do Ministério Público para a referida execução (ARE 823.347-
MA, DJe 28/10/2014). Além disso, a Primeira Turma do STJ também já se manifestou neste último sentido (REsp
1.194.670-MA, DJe 2/8/2013). Precedentes citados do STF: RE 791.575-MA AgR, Primeira Turma, DJe
27/6/2014; e ARE 791.577-MA AgR, Segunda Turma, DJe 21/8/2014. REsp 1.464.226-MA, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 20/11/2014.
Fonte: Informativo 522.

Obs: não encontrei nenhuma ressalva com relação à natureza da multa. Os julgados são peremptórios quanto à
ilegitimidade do MP.

Aprofundamento: As decisões do Tribunal de Contas que determinem a imputação de débito


(ressarcimento ao erário) ou apliquem multa terão eficácia de título executivo extrajudicial, nos
termos do § 3º do art. 71 da CF/88, de modo que não há necessidade de esse débito ser inscrito
em dívida ativa.

GRUPO TEMÁTICO IV
Direito material coletivo
Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Ponto: Direitos Humanos: processos de luta, avanços retrocessos, reconhecimento

1. Disserte acerca do significado, da evolução e das controvérsias acerca da universalidade.


a) Significado:
A universalidade dos direitos humanos consiste na atribuição desses direitos a todos os seres humanos,
não importando nenhuma outra qualidade adicional, como nacionalidade, opção política, orientação sexual, credo,
entre outras.

b) Evolução:
Possui vínculo indissociável com o processo de internacionalização dos direitos humanos. Pois antes
disso, os direitos dependiam da positivação e proteção do Estado Nacional (eram direitos locais).
A barbárie do totalitarismo nazista gerou a ruptura do paradigma da proteção nacional dos direitos
humanos, graças a negação do valor do ser humano como fonte essencial do Direito.
Marco da universalidade: Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948.

c) Controvérsias:
Críticas quanto ao “universalismo de partida”, pois os direitos são preestabelecidos pela cultura ocidental
e desconsideram questões importantes como diversidade cultural, distribuição de poder e fatores de influência do
contexto real dos fatos. O autor HERRERA FLORES propõe o “universalismo de chegada”, segundo o qual os
indivíduos buscam chegar até uma concepção universalista dos direitos humanos por meio da convivência e
diálogos interculturais, proporcionando cruzamento e misturas entre os indivíduos sem a pretensão de excluir
nenhum ser humano na luta por dignidade.
Há também a proposta de Boaventura de Souza Santos de uma concepção MULTICULTURAL dos
direitos humanos, pautada no diálogo entre as culturas com o objetivo de alcançar uma universalidade construída
por diversas concepções culturais, sem, no entanto, a imposição de valores ocidentais. Para alcançar esse
objetivo Boaventura propõe a HERMENÊUTICA DIATÓPICA que consiste na compreensão mútua dos distintos
universos de sentidos das culturas envolvidas no diálogo.

(André de Carvalho Ramos – Curso de Direitos Humanos – 2017, p. 92/93)


(Caio Paiva e Thimotie – Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos – 2017, p. 119/123)

2. Disserta sobre a origem e a evolução dos direitos humanos, nos últimos 50, 60 anos, e a divisão entre
direitos econômicos e sociais e civis e políticos, como isso acontece e quais as consequências?
a) A ORIGEM
A construção do conceito de Direitos Humanos foi iniciada há cerca de 250 anos, resultante do
Iluminismo. Lutou-se para estabelecer um sistema de valores universais, sendo que em seu centro encontra-se a
dignidade da pessoa humana. Cabe destacar que antes de ser internacionalmente discutidos, foram debatidos
internamente dentro dos países.

b) A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS A PARTIR DE 1945


- efetiva internacionalização dos direitos humanos – extremamente recente na história, ligado ao segundo
pós-guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo.
- era Hitler marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana (ruptura com os
direitos humanos);
- Pós-Guerra sua reconstrução.
- 1948: aprovada a DUDH, marco do processo de reconstrução dos direitos humanos. Introduz a sua
concepção contemporânea, caracterizada pela universalidade e indivisibilidade.
- duas importantes consequências:
1ª) revisão da noção tradicional de soberania absoluta do Estado (processo de relativização em que são
admitidas intervenções no plano nacional em prol da proteção dos direitos humanos; permitem-se monitoramento
e responsabilização internacional, quando os direitos humanos forem violados).
2ª) cristalização da ideia de que o indivíduo deve ter direitos protegidos na esfera internacional, na
condição de sujeito de Direito.
- Após os massacres da guerra, a dignidade da pessoa humana – entendida como o atributo imanente ao
ser humano para exercício da liberdade e de direitos como garantia de uma existência plena e saudável – passou
a ter amparo como um objetivo e uma necessidade de toda humanidade, vinculando governos, instituições e
indivíduos.
- Nesse momento da história, o valor fundante da dignidade da pessoa humana se irradiou para as novas
Constituições do mundo pós-guerra, permitindo-lhes inaugurar novas ordens jurídicas professando a dignidade
humana como fim a ser atingido, verdadeiro substrato de valor de todo o ordenamento jurídico.

c) QUANTO A DIVISÃO ENTRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS E SOCIAIS, CULTURAIS E


ECONÔMICOS:
Inicialmente o debate na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas previa a edição de um
pacto que reunisse todos os direitos da pessoa humana. Esse projeto foi submetido ao Conselho Econômico e
Social para que esses direitos constassem no documento.
Desse debate, dois modelos foram propostos: um que abarcasse todos os direitos; e, outro que fizesse
uma separação. De um lado os Civis e Políticos, e do outro os Econômicos, Sociais e Culturais.
O grande ponto discutido era sobre a autoaplicabilidade dessas duas categorias de direitos. As teses
antagônicas eram defendidas pelos países ocidentais (capitalistas) e pelo bloco socialista. Enquanto o primeiro
acreditava na autoaplicabilidade apenas dos Direitos Civis e Políticos, aplicando-se de forma programática os
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o segundo defendia a autoaplicabilidade de todos os direitos
reconhecidos.
Dessa discussão surgiu a edição de Pactos distintos.
Hoje se reconhece a integração desses direitos, uns não podem ser exercidos sem que sejam garantidos
os outros.

3. Em relação especificamente ao direito à saúde temos nos textos constitucionais uma definição do
conceito de direito à saúde, mas esse conceito vem evoluindo e sendo modificado. Como isso tem
acontecido, e como isso se dá no plano coletivo? Existe uma tutela coletiva da saúde?
Direito à saúde assegura a promoção do bem-estar físico, mental e social de um indivíduo. Possui a
faceta individual e difusa. Pois, há o direito difuso de todos de viver em um ambiente sadio, sem o risco de
epidemias ou outros malefícios à saúde.
A tutela coletiva da saúde é possível e deve visar, em primeiro plano, o âmbito da proteção e prevenção à
saúde, sem prejuízo da repressão por danos já causados.
(André de Carvalho Ramos – Curso de Direitos Humanos – 2017, p. 768)

4. Em uma situação hipotética, a senhora é promotora de uma comarca e ali existem alguns problemas de
moradia. A senhora é da promotoria de direitos humanos e é procurada por um grupo de uma ocupação,
em que vivem há muitos anos, e estão preocupados com a iminência de serem obrigados a desocupar a
área, em virtude da execução do projeto minha casa minha vida. Como a senhora agiria nesse caso?
(Essa pergunta tem abertura para algumas propostas. Colocarei aqui as minhas, com margem de sugestão pelos
colegas)
Pensando na atuação do MP no âmbito da Reub (Lei 13.465/17), é possível iniciar com a provocação do
MUNICÍPIO, para que realize o procedimento de DEMARCAÇÃO URBANÍSTICA a fim de identificar a quem
pertence a área da ocupação, se pública ou privada, quem são os confrontantes, se existe ações judiciais sobre
a área. Fazer a identificação da população ocupante para fins de definição de pertencimento a núcleo urbano
informal, predominantemente de baixa renda (Reurb-S) ou não (Reurb-E), assim declarado em ato do poder
executivo (ex. decreto). E também do tempo de ocupação.
(A demarcação urbanística não é obrigatória à Reurb, já que é possível definir a qualidade da área e a
especificação da modalidade durante o procedimento).
(Optando pela demarcação urbanística, dispensa-se a fase de notificação descrita a seguir)
O MP poderá fazer o requerimento da Reurb junto ao ente público municipal. Este irá proceder às buscas
necessárias para determinar a titularidade do domínio do imóvel onde situado o núcleo urbano informal;
NOTIFICAR os titulares do domínio, os responsáveis pela implantação do núcleo; os confinantes e terceiros
eventualmente interessados, para impugnação em 30 dias (ausência de manifestação significa concordância).
Após as manifestações, inicia-se o procedimento extrajudicial de composição de conflitos.
Nesse caso, é interessante a utilização dos instrumentos da Reurb, até porque o requerimento de
instauração da Reurb por parte de qualquer dos legitimados, garante, perante o poder público, aos ocupantes dos
núcleos urbanos informais situados em áreas públicas a serem regularizados, a permanência em suas
respectivas unidades imobiliárias, preservando-se as situações de fato já existentes, até o eventual
arquivamento definitivo do procedimento.
Como instrumentos da Reurb passíveis de serem utilizados para solucionar o caso, listo: legitimação de
posse (no caso de área privada); legitimação fundiária (área pública ou privada); usucapião (art. 1.238 a 1.244, do
CC/02 ou 9º a 14 do Estatuto da Cidade). A serem definidos conforme se esclareçam as características
específicas da área, da população ocupante e do tempo de ocupação.
FONTE: https://www.sinoreg-es.org.br/__Documentos/Upload_Conteudo/arquivos/
CARTILHA_REGULARIZACAO_FUNDIARIA_URBANA_2017.pdf

5. Em um caso que já chegou aos tribunais, a procuradoria de justiça que intervém pode fazer a mediação,
fazer um TAC, ou isso fere o principio do promotor natural? Só o promotor poderia ou a procuradoria
também poderia?
Pelo princípio do Promotor Natural é vedado a qualquer autoridade ou Poder escolher o Promotor ou
Procurador específico para atuar no caso, ou seja, são vedadas designações casuísticas. É uma garantia, um
direito subjetivo do cidadão ao promotor (em sentido lato) legalmente legitimado no processo. O cidadão fica
resguardado da figura do “acusador de exceção”.
Se o Promotor Natural é aquele com atribuições legais para atuar em determinada causa, no caso
concreto não houve violação ao princípio. Explico, com o recurso, o caso chegou à segunda instância, logo, está
encerrada a atribuição do Promotor de Justiça (art. 32, LONMP) e aberta a atribuição do Procurador de Justiça,
órgão de execução, ao qual cabe exercer atribuições junto aos Tribunais, desde que não cometidas ao PGJ (art.
31, LONMP).
Internamente, o princípio do promotor natural visa resguardar a atuação do membro no processo, assegurando
que este seja livre e independente. Portanto, é possível a celebração de acordo ou de TAC em segunda instância
oferecida pelo Procurador de Justiça.

Direito processual coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Ponto: Sistema Recursal do ECA

1. A senhora considera que há um sistema recursal no ECA? Como a senhora vê isso?


SIM. O ECA tem sistemática recursal própria, ainda que a disciplina do assunto seja bastante curta
(artigos 198 a 199-E).
Características do ECA que conduzem à conclusão exposta: garantias processuais constitucionais e do
próprio ECA (art. 110 e 111); delimitação das matérias de competência da Vara da Infância e Juventude (art. 148 e
149); expressa previsão do art. 152, do ECA de que as legislações processuais pertinentes poderão ser aplicadas
subsidiariamente aos procedimentos regulados pelo ECA; e, quanto ao sistema recursal, o art. 198, ECA, prevê
expressamente que será adotado o sistema do CPC, com algumas adaptações destacadas no dispositivo (lê-lo).

2. Nesse art. 198 do ECA, que trata dessas minúcias do sistema recursal, essa lógica serve tanto para
recursos de natureza cível e também nos casos de apuração de atos de natureza infracional ou há alguma
diferença? (Então a senhora acha que nesses casos não é possível a utilização do CPP, apresentando as razões
e posteriormente os seus fundamentos? – ESSA PARTE EU ENTENDI QUE FOI UM DESDOBRAMENTO DO
QUE A CANDIDATA RESPONDEU)

“No âmbito recursal, ainda que se trate de processo de apuração de ato infracional, não é aplicável o
Código de Processo Penal” (Sinopse de ECA da Juspodivm)
Não há falar em cisão da apresentação do recurso e das razões recursais.

No caso de apuração de ato infracional, aplica-se subsidiariamente o CPP ou o CPC?


Depende. Aplica-se:
• - o CPP para o processo de conhecimento (representação, produção de provas, memoriais, sentença);
• - o CPC para as regras do sistema recursal (art. 198 do ECA).

Resumindo: 1ª opção: normas do ECA.

Na falta de normas específicas:


• CPP: para regular o processo de conhecimento.
• CPC: para regular o sistema recursal.

(Dizer o Direito: https://www.dizerodireito.com.br/2016/07/adolescente-infrator-que-receber-medida.html)

3. Numa apelação em sede de ACP na área de infância e juventude, em que a ACP é julgada procedente, e
confirmada a antecipação de tutela, quais serão os efeitos?
Em regra, a apelação no processo coletivo não tem efeito suspensivo, esse precisa ser requerido ao juiz
para evitar dano irreparável à parte. Interpretação sistemática dos art. 215, do ECA e art. 14, da LACP.
Sendo uma sentença que confirma tutela provisória, há o reforço a essa tese, eis que o art. 1.012, §1º, V,
do CPC/15, prevê que a apelação contra essa sentença não tem efeito suspensivo.
Logo, subsiste apenas o efeito devolutivo (Art. 1.013, CPC/15).
Dia 06 – Ponto 04 – Lucas Estrela e Guilherme

GRUPO TEMÁTICO I
Constitucional
Examinador: Elaine Parisi
Ponto: Processo legislativo e Ação de Investigação Judicial por abuso de poder

1. Como você pode definir processo legislativo ordinário e quais são as suas fases?
Processo legislativo consiste no conjunto encadeado de atos necessários para a elaboração de atos
normativos primários, ou seja, aqueles que retiram diretamente do texto constitucional seu fundamento de
validade. Tais espécies de comando são arroladas ao art. 59 da CF/88, sendo que a elaboração, redação,
alteração e consolidação das leis é mais minudentemente regulada pela LC 95/98.
Desdobra-se o processo legislativo em ordinário, sumário e especial, sendo que o primeiro é a regra
geral, tendo incidência residual caso não sejam previstas particularidades para a elaboração do ato normativo
primário em questão.
Possui como fases a de iniciativa, a fase constitutiva e a fase complementar.
A fase constitutiva, por seu turno, desdobra-se em discussão, votação, aprovação e sanção ou veto,
sendo que a primeira, via de regra, ocorre nas comissões temáticas e CCJ, sendo a matéria posteriormente
remetida ao plenário. A segunda, por sua vez, em regra ocorre no plenário, todavia existindo hipóteses
regimentais de delegação para que as votações ocorram nas comissões, conforme dispõe o art. 58, §2º, inc. I da
CF/88. O quórum de aprovação, é de maioria relativa nas leis ordinárias e de maioria absoluta nas leis
complementares. Por fim, em regra o projeto deve ser submetido à deliberação executiva, sendo passível de
sanção ou veto.
A fase complementar é composta pela promulgação, ato no qual se atesta a existência da lei ou da
emenda, conferindo-lhe executoriedade, e pela publicação, instrumento que informa a promulgação da lei aos
seus destinatários.

2. Qual lei rege o município?


Nos termos do artigo 29 da CF/88, o município será regido pela sua lei orgânica. Tal ato normativo
demanda votação em dois turnos, observado o interstício mínimo de dez dias e o quórum de aprovação de dois
terços dos membros da Câmara Municipal, órgão responsável por sua promulgação.
Muito embora para a doutrina amplamente majoritária o município seja ente federativo, é igualmente
dominante o posicionamento de que a lei orgânica não é parâmetro para controle de constitucionalidade, não
obstante seja o diploma que concretiza a auto-organização desse ente, afastando de sobremaneira essa espécie
normativa daqueles diplomas que organizam os demais entes, a exemplo das constituições estaduais e lei
orgânica do Distrito Federal.

3. Quais princípios a lei orgânica municipal deve, obrigatoriamente, observar? Esses princípios tem um
nome, o senhor sabe?
Nota: consultei várias doutrinas e não localizei um nome específico para se referir aos princípios
arrolados no art. 29 da CF, de observância obrigatória pelas leis orgânicas daqueles entes. Encontrei, contudo,
referência a diversos princípios constitucionais.

Resposta: Ainda nos termos do art. 29 da CF/88, a lei orgânica municipal deve observar os princípios
estabelecidos na própria Constituição da República, na Constituição do Estado ao qual vinculado o município e
uma série de preceitos atinentes à eleição e mandato dos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, seus subsídios, e
organização das funções legislativas e fiscalizadoras da câmara municipal.
Tais princípios confirmam os princípios reitores da subsidiariedade e simetria das leis orgânicas, na
medida em que devem trazer regras que melhor se amoldam à realidade local da menor unidade federativa
existente, bem como devem reproduzir os ditames aplicáveis a tais entes federativos como um todo.

Quanto ao princípio da subsidiariedade:

Desta forma é que, apesar do entendimento do princípio da subsidariedade (BARACHO, José Alfredo de
Oliveira, O Princípio da Subsidiariedade, pp. 49), onde pontifica a ideia de que “se deve dar preferência à unidade
social menor, em lugar da maior”, como element o fortalecedor do pacto federativo, a questão da competência
municipal, como no caso da suplementação da legislação federal e estadual no que couber (art. 30, II da
Constituição Federal), permanece indefinida [...] Incluirá a lei orgânica de qualquer dos Municípios brasileiros
regras para cooperação com associações para planejamento municipal. Tem-se aqui a confirmação do princípio
da subsidiariedade, uma vez que a proximidade da unidade menor não tem como deixar de fora a palavra e
pensamento dos que nela habitam

Quanto ao princípio da simetria:

Portanto, afirmar que o Município dar-se-á uma lei orgânica equivale a dizer que o Município brasileiro é
dotado de uma verdadeira constituição municipal, uma vez que, para além do conteúdo democrático destas leis
orgânicas, decorrente da natureza democrática da Constituição Federal de 1988, serão elas produto do processo
democrático de votação e aprovação pelos representantes do povo, a exemplo do que se deu com a própria
Constituição Federal e com as Constituições Estaduais de 1989. Por esta razão é que devem guardar, as
Constituições Municipais, a simetria com as Constituições Federal e Estaduais, onde for a simetria possível, a
partir do que se observa nos textos constitucionais federal e estaduais. [...] À eleição direta de Prefeito e Vice-
Prefeito corresponde, sem dúvida, aquela de Presidente e Vice-Presidente da República e de idêntica forma: em
dois turnos, para o caso de grandes Municípios, isto é, com mais de duzentos mil eleitores. Aqui, tem-se o caso
de uma patente simetria constitucional, originada na natureza do sistema presidencialista brasileiro.
(Mont’Alverne Barreto Lima, Martonio. Comentário ao artigo 29.In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES,
Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São
Paulo:Saraiva/Almedina, 2013. p. 1653-1665.)

Ainda, tais princípios confirmam a capacidade de auto organização e autonomia municipal:


Capacidade de auto-organização - resulta na autonomia organizatória, que é o poder de criar lei orgânica
própria, observado o modelo federal, insculpido na Carta Magna. A autonomia organizatória é uma autonomia
normativa. Sem embargo, a grande mensagem que a autonomia organizatória incute em nossa mente é a
seguinte: os Estados-membros, ao contrário do regime passado, não têm ingerência sobre os Municípios. Eles
podem organizar, estabelecer competências ou ditar suas estruturas, sem a chancela dos governos estaduais.
Trata-se, pois, do reflexo da capacidade organizatória do Município. Ela limitou a ação estadual, que só
pode influir em assuntos estritamente específicos, como nas hipóteses de criação, incorporação, fusão e
desmembramento de Municípios (CF, art. 1 8, § 􀐍) e intervenção (CF, arts. 35 e 36). Note-se que em ambos os
exemplos há preceitos taxativos para autorizar a ingerência, do contrário seriam inaceitáveis. É que a autonomia
organizatória pôs fim à velha prática de se remeter aos Estados a missão de criar e organizar os seus Municípios,
conferindo-lhes, apenas, as capacidades de autogoverno, autoadministração e autolegislação, sem dar-lhes, no
entanto, o poder de organizarem-se por si próprios.

(Bulos, Uadi LammêgoCurso de direito constitucional. - 8. cd. rcv. e atrn.11. de acordo com a Emenda
Constitucional n. 76/2013 - Seio Paulo: Saraiva, 2014 p 942.)

4. O que são princípios constitucionais extensíveis?


Nota: Embora usualmente os autores descrevam tais princípios de forma semelhante, a grande confusão
envolvendo o tema é perceptível na exemplificação, sendo que cada um arrola dispositivos distintos para
demonstrar cada instituto, muitas vezes atribuindo naturezas conflitantes a cada um deles. Por exemplo:

Bernardo, citando Alexandre de Moraes (P. 147):


• Princípios federais extensíveis: (art. 1°, 1 a V; art. 3°, 1 a IV; art. 4°, 1 a X; art. 5°; art. 6° a n; art. 14).
• Princípios constitucionais estabelecidos: art. 21; art. 22; art. 23 a 25; art. 27, § 3°; art. 30; art. 75; art. 96, 1, a-f, li,
a-d, Ili; art. 98, 1 e li; art. 125, § 4°; art. 144, § 4º a 6°; art. 145, 1 a Ili; art.
155, 1, a-c, 1; art. 27 e 28; art. 37, 1 a XXI,§§ lº a 6°; art. 39 a 41; art. 42, §§ lº a n; art. 75; art. 95, 1 a Ili,
parágrafo único; art. 235, 1 a Xl).
Novelino (P. 73):

Princípios constitucionais extensíveis por previsão constitucional expressa (CF, arts. 28 e 75) ou implícita
(CF, art. 58, § 3.; arts. 59 e ss.)
Princípios constitucionais estabelecidos restringem a capacidade organizatória dos Estados federados
por meio de Limitações expressas (CF, art. 37) ou implícitas (CF, art. 21).
Bulos (P. 433):
Princípios constitucionais extensíveis: forma de investidura em cargos eletivos (art. 77), processo
legislativo (arts. 59 e s.) ,orçamentos (arts. 1 65 e s.), provisões constitucionais da Administração Pública (arts. 37
e s.)
Princípios constitucionais estabelecidos: Exemplos: arts. 1 8 , § 42, 2 9 , 3 1 , § 1 2, 3 7 a 42, 9 2 a 9 6 , 9
8 , 99, 1 2 5 , § 22, 1 27 a 1 30, 1 32, 1 34, 1 35 e 1 44,
IV e V, §§ 42 a 72 (explícitos) e a organização tributária federal (arts. 1 45 e 1 5 5), a separação de Poderes (art.
2Q) , o respeito à Assembleia Legislativa e ao Governador do Estado (ares. 27, 28, 92, VII, e 1 25), a estrutura
unicameral do Poder Legislativo Estadual e do Executivo unipessoal (arts. 27 e 28) (implícitos).

Resposta: Preliminarmente, insta salientar que a doutrina brasileira há tempos se esforça para classificar
as diversas imposições da Constituição Federal ao poder constituinte decorrente, limitando o poder de auto
organização dos estados membros. Nesse sentido, destaca-se a notória sistematização proposta por José Afonso
da Silva, distinguindo os denominados princípios constitucionais sensíveis, extensíveis e estabelecidos.
Ainda, destaca-se que a inexistência de expressa previsão constitucional descrevendo quais seriam tais
limitações, motivo pelo qual a identificação e classificação de cada uma delas frequentemente é motivo de
controvérsia doutrinária e jurisprudencial.
Nesse sentido, aduz Marcelo Novelino:
As denominadas normas de observância obrigatória (normas centrais ou normas de reprodução) impõem
Limitações condicionantes ao poder de organização dos Estados- membros e estabelecem paradigmas para a
elaboração de normas das constituições estaduais, conferindo-Lhes homogeneidade. A difusão dessa espécie
normativa afeta a Liberdade criadora do Poder Constituinte Decorrente que, não raro, Limita-se a reproduzir
normas da Constituição Federal (HORTA, 1999). Diversamente da Carta anterior, que as relacionava
expressamente (CF/1967-1969, art. 13, I, III e IX), na Constituição de 1988 as normas de observância obrigatória
não foram elencadas de forma textual. Adotou-se uma formulação genérica que, embora teoricamente confira
maior Liberdade de auto-organização aos Estados-membros, cria o risco de possibilitar interpretações
excessivamente amplas na identificação de tais normas. [...] As normas de observância obrigatória são
diferenciadas em três espécies. Os princípios constitucionais sensíveis[...] Os princípios constitucionais
extensíveis [...] Os princípios constitucionais estabelecidos.
Nesse sentido, princípios constitucionais extensíveis são limitadores do poder constituinte decorrente, consistindo
nas regras de organização que a Constituição estendeu aos Estados-membros, ou seja, normas que regem a
organização da União e se estendem aos Estados, por previsão constitucional expressa ou implícita.

5. O que são os princípios constitucionais estabelecidos?


Princípios constitucionais estabelecidos ou “organizatórios” para Uadi Lammago Bulos, também possuem
o escopo de limitação ao poder constituinte decorrente, restando esparsos pela Constituição Federal e devendo
ser respeitados pelos Estados na elaboração e reforma das Constituições estaduais. Tratam-se, portanto, de
ditames que restringem a liberdade de auto organização dos estados.
Como aduz Bulos:
Os princípios constitucionais organizatórios ou estabelecidos consagram limites autônomos, vedando ou
proibindo o exercício indiscriminado do poder constituinte decorrente inicial e reformador. Funcionam como
balizas reguladoras da capacidade de auto-organização dos Estados. [...] Exemplos: conjunto de normas centrais,
dispersas no Texto de 1988, que tratam da repartição de competências, do sistema tributário nacional, da
organização dos Poderes, dos direitos políticos, da nacionalidade, dos direitos e garantias individuais, dos direitos
sociais, da ordem econômica, da educação, da saúde, do desporto, da família, da cultura etc.
As limitações do poder decorrente, oriundas dos princípios organizatários, esparramam-se ao longo do
articulado constitucional, exigindo pesquisa para serem identificadas. [...] O conteúdo dos princípios
constitucionais organizatórios engendra matérias ligadas à organização política, social e econômica dos Estados-
membros. É formado por um grupo de normas centrais.

6. A quem incumbe a iniciativa para fixar a remuneração dos servidores da câmara municipal?
Tal iniciativa recai sobre o próprio poder legislativo municipal.
Primeiramente, destaca-se que a iniciativa para a fixação de remuneração é privativa, nos termos do art.
37 da CF/88, que dispõe: “X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39
somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso,
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices”.
No caso do poder legislativo, nota-se que, em âmbito federal, tal competência é assegurada ao próprio
órgão, como se depreende dos artigos 51 (“Compete privativamente à Câmara dos Deputados: [...] IV - dispor
sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e
funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;”) e 52 ( “Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: XIII
- dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos
e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os
parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;”) da CF/88.
Ainda prevê o art. 39, § 5º, que: “Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderá
estabelecer a relação entre a maior e a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer
caso, o disposto no art. 37, XI”.
E que não se diga tratar-se de matéria de iniciativa privativa do chefe do executivo, pois dispõe o art. 61,
§ 1º, II, a, da Constituição Federal (“§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: [...] II -
disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou
aumento de sua remuneração), uma vez que se trata de hipótese distinta.
Nesse sentido, é a jurisprudência do STF:
“Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Leis federais n. 11.169/2005 e 11.170/2005, que alteram a
remuneração dos servidores públicos integrantes dos Quadros de Pessoal da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal. 3. Alegações de vício de iniciativa legislativa (arts. 2º 37, X, e 61, § 1º, II, a, da Constituição
Federal); desrespeito ao princípio da isonomia (art. 5º, caput, da Carta Magna); e inobservância da exigência de
prévia dotação orçamentária (art. 169, § 1º, da CF). 4. Não configurada a alegada usurpação de iniciativa privativa
do Presidente da República, tendo em vista que as normas impugnadas não pretenderam a revisão geral anual
de remuneração dos servidores públicos. 5. Distinção entre reajuste setorial de servidores públicos e revisão geral
anual da remuneração dos servidores públicos: necessidade de lei específica para ambas as situações. 6.
Ausência de violação ao princípio da isonomia, porquanto normas que concedem aumentos para determinados
grupos, desde que tais reajustes sejam devidamente compensados, se for o caso, não afrontam o princípio da
isonomia. 7. A ausência de dotação orçamentária prévia em legislação específica não autoriza a declaração de
inconstitucionalidade da lei, impedindo tão-somente a sua aplicação naquele exercício financeiro. 8. Ação direta
não conhecida pelo argumento da violação do art. 169, § 1º, da Carta Magna. Precedentes: ADI 1585-DF, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, unânime, DJ 3.4.98; ADI 2339-SC, Rel. Min. Ilmar Galvão, unânime, DJ 1.6.2001; ADI
2343-SC, Rel. Min. Nelson Jobim, maioria, DJ 13.6.2003. 9. Ação direta de inconstitucionalidade parcialmente
conhecida e, na parte conhecida, julgada improcedente” (ADI 3.599, Relator o Ministro Gilmar Mendes, Plenário,
DJe 14.9.2007, grifos nossos).

Confira-se excerto do voto do Ministro Gilmar Mendes:


“A Constituição Federal, em seu art. 37, X, na redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional n.
19/1998, estabeleceu expressamente que a remuneração dos servidores públicos somente poderá ser fixada ou
alterada por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso . Esta situação distingue-se daquela
situação que, já prevista na redação original da Constituição, estabelecia revisão geral anual, sempre na mesma
data, e sem distinção de índices, para todos os servidores públicos. Note-se que, na fórmula constitucional
anterior à Emenda n. 19/1998, o texto constitucional afirmava que ‘a revisão geral da remuneração dos servidores
públicos, sem distinção de índices entre servidores públicos civis e militares, far-se-á na mesma data’ (art. 37, X,
CF/88). Não havia qualquer referência à necessidade de lei específica, nem menção à iniciativa privativa em cada
caso para alteração remuneratória. Assim, não há ofensa ao referido dispositivo, nem mácula ao art. 61, §1º, II, a,
da Constituição pelo fato de as normas impugnadas serem de iniciativa das respectivas Casas Legislativas. É a
própria Constituição, também após as alterações supramencionadas, advindas da Emenda Constitucional n.
19/1998, que lhes dá tal prerrogativa:

7. Uma lei de iniciativa parlamentar (da assembleia legislativa) pode modificar a estrutura organizacional
do quadro de pessoal da secretaria de segurança pública?
Não, uma vez que se trata de matéria cuja iniciativa é privativa do chefe do Poder Executivo, nos termos
do art. 61, § 1º, II, a e c, da CF/88, como se lê:
“a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de
sua remuneração;
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria”
Destaca-se que a reserva de iniciativa constitucionalmente prevista para o presidente da república é
plenamente aplicável no âmbito do executivo estadual, conforme reconhece a jurisprudência do STF:
É da iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo lei de criação de cargos, funções ou empregos
públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração, bem como que disponha sobre
regime jurídico e provimento de cargos dos servidores públicos. Afronta, na espécie, ao disposto no art. 61, § 1º,
II, a e c, da Constituição de 1988, o qual se aplica aos Estados-membros, em razão do princípio da simetria.
[ADI 2.192, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 4-6-2008, P, DJE de 20-6-2008.]
Lei estadual que dispõe sobre a situação funcional de servidores públicos: iniciativa do chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, II, a e c, CR/1988). Princípio da simetria.
[ADI 2.029, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 4-6-2007, P, DJ de 24-8-2007.]
= ADI 3.791, rel. min. Ayres Britto, j. 16-6-2010, P, DJE de 27-8-2010

8. Há prazo para que o poder legislativo delibere sobre projeto de lei?


Em regra não, considerando as disposições atinentes ao processo legislativo ordinário. Todavia, prevê o
texto constitucional hipóteses específicas nas quais resta fixado período máximo, como no processo legislativo
sumário e na apreciação de medidas provisórias.
Quanto ao processo legislativo sumário:
Art. 64: “§ 1º - O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua
iniciativa.
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a
proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais
deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até
que se ultime a votação”.
Quanto à análise de medidas provisórias:
Art. 62, § 6º: Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua
publicação, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional,
ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que
estiver tramitando.

9. O MP pode deflagrar processo legislativo?


Sim, o Ministério Público possui legitimidade para a iniciativa de leis, recaindo tal atribuição sobre o
Procurador Geral da República, nos termos do art. 61 da CF/88:
“Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos
casos previstos nesta Constituição.”
Especificamente quanto ao estabelecimento da organização, atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, via lei complementar, tem-se que a iniciativa é expressamente facultada aos respectivos Procuradores-
gerais, nos termos do art. 128, § 5º:
“Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-
Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas,
relativamente a seus membros”

10. Há possibilidade de iniciativa popular no âmbito municipal para apresentação de projeto de lei?
Sim, tal manifestação da soberania popular no âmbito municipal é preceito constitucionalmente previsto
para as leis orgânicas que organizam tais entes, exigindo-se, nos termos do art. 29, inciso XIII: “iniciativa popular
de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo
menos, cinco por cento do eleitorado;”

Eleitoral

1. Na Ação de Investigação Judicial por abuso de poder, qual a causa de pedir? (Trata-se de ação eleitoral)
Qualquer evento pode dar causa a essa ação?
Em que pese aludir o título do instituto à ideia de investigação, a AIJE é efetiva ação de conhecimento, e
não procedimento preparatório de cunho inquisitorial. Logo,a petição inicial deve vir acompanhada das alegações
e respectivas provas, sendo a causa de pedir a ocorrência dos ilícitos cuja persecução é por ela abarcada.
Nesse sentido, ensina Gilberto Clóvis Farias Matos:
A causa de pedir dessas ações é o abuso de poder, que pode assumir diversas modalidades e ser
direcionado a várias finalidades, o que poderá ser enfrentado a partir do caso concreto. A se considerar o objeto,
verifica-se que em todas se persegue a cassação do registro ou a perda do diploma, sendo a inelegibilidade
somente objeto direto da AIJE por abuso de poder.

(Breves Comentários sobre a Ação de Investigação Judicial Eleitoral, disponível em


http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/7/
seminariodedireitoeleitoral_123.pdf)

Nos termos do art. 22 da LC 64/90, a AIJE é voltada para a apuração de “uso indevido, desvio ou abuso
do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação
social”. Trata-se, portanto, de rol taxativo de eventos que autorizam a deflagração de tal ação.

2. Quem tem legitimidade para essa ação? E o eleitor, tem legitimidade?


Ainda valendo-se da redação legal, dispõe o art. 22 da Lc 64/90 serem legitimados para a propositura de
AIJE “Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral”. Logo, não há o que se dizer
da legitimidade do eleitor, muito embora esse possa comunicar os ilícitos de que tenha conhecimento ao MP, por
exemplo.
Também quanto à legitimidade, destaca-se que igualmente não poderão ajuizar a AIJE, conforme
entendimento do TSE, o partido político coligado em ação individualmente proposta e o diretório de partido
político.

3. Qual é o prazo para propositura dessa ação?


Embora a lei não preveja expressamente prazo próprio para a AIJE, a doutrina majoritária adota como
marco inicial o previsto para a AIRC, ou seja, a partir do registro da candidatura, inclusive porque em momento
pretérito apenas é cabível falar em pré candidatura. Isso não impede, todavia, que se aleguem fatos pretéritos, ou
seja, atos lesivos anteriores ao início do processo eleitoral.
Outrossim, a AIJE poderá ser proposta até o final do processo eleitoral, lapso encerrado com a
diplomação.
Entretanto, destacam-se julgados do TSE admitindo a propositura de AIJE a qualquer tempo, desde que
o apontado abuso do poder econômico possa influenciar negativamente as eleições vindouras. Também existe
precedente autorizando a AIJE até mesmo antes de iniciado o processo eleitoral, pois no RO nº 1.530 foi levada
em conta a potencialidade de abuso do poder pelo uso indevido dos meios de comunicação e abuso do poder
econômico, considerando a tiragem de um veículo de comunicação distribuído gratuitamente.

4. Proposta essa ação contra o candidato a prefeito, o candidato à vice da chapa deve ser citado?
A AIJE tem como legitimados passivos os pré candidatos, que buscam o registro da candidatura, ou os
candidatos, caso tal registro tenha sido deferido. Entende o TSE que existe litisconsórcio passivo necessário entre
os candidatos aos cargos titulares e seus vices, sendo os requisitos analisados conjuntamente.
Por oportuno, destaca-se que o mesmo entendimento quanto a necessidade de inclusão de ambos no
polo passivo, estende-se ao Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED), Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo (AIME) e representações, nos termos da súmula 38 do TSE, somente não atingindo a AIRC, conforme
dispõe o enunciado 39.
Transcreve-se:
Súmula-TSE nº 38
Nas ações que visem à cassação de registro, diploma ou mandato, há litisconsórcio passivo necessário
entre o titular e o respectivo vice da chapa majoritária.
Súmula-TSE nº 39
Não há formação de litisconsórcio necessário em processos de registro de candidatura.

Administrativo
Examinador: Marco Paulo Starling
Ponto: Atos administrativos

1. Como podem ser os atos da administração? A administração possui uma peculiaridade. Há dois atos
além dos atos administrativos propriamente ditos.
A terminologia “atos da administração” costuma ser utilizada pela doutrina para cognominar os atos que a
administração pública pratica quando despida de prerrogativas públicas, atuando em igualdade jurídica com os
particulares, sendo regidos predominantemente pelo direito privado.
Todavia, considerando a formulação da questão, aparentemente o examinador referiu-se aos “atos da
administração” em sentido genérico, como espécie do gênero “atos jurídicos”, especificamente referindo-se às
manifestações ou declarações de vontade da administração pública.
Nessa senda, os atos da administração tradicionalmente são divididos pela doutrina em ato
administrativo, ato político e ato de gestão.
Os atos administrativos são manifestações unilaterais de vontade do Estado ou de quem lhe faça as
vezes, complementares e inferiores à lei, submetidos ao regime jurídico de direito público, voltados à satisfação
do interesse público e passíveis de controle pelo Poder Judiciário.
Os atos políticos são aqueles fundamentados diretamente na Constituição, sendo exarados com alto
grau de discricionariedade, no exercício do comando da alta administração pública da nação, frequentemente
imbuídos de orientação ideológicas, a exemplo do veto de uma lei.
Por fim, atos de gestão consistem naqueles praticados pela Administração em posição de igualdade com
os particulares, despidos do poder de império e da supremacia, atuando o Estado como se pessoa privada fosse.
Como exemplo, cita-se a alienação de um imóvel público inservível, ou o aluguel de imóvel de propriedade de
uma autarquia.

2. Qual a diferença entre ato administrativo discricionário e autonomia funcional, no âmbito do MP. O
senhor acha que existe diferença entre o ato discricionário do promotor de justiça e o ato discricionário
se confundem? No âmbito administrativo o promotor possui autonomia funcional, essa autonomia pode
ser considerada como atividade discricionária? ( O examinador disse que não há resposta correta) Qual o
nome específico dessa discricionariedade?
Nota: não achei doutrinador que abordasse esse paralelo, então trabalhei os conceitos e a partir deles
tentei chegar a alguma conclusão.

Resposta: Primeiramente, destaca-se que atos discricionários são aqueles sobre os quais é permitida à
Administração praticá-los com certa margem de liberdade, podendo elaborar juízo de mérito, sobre a
conveniência e oportunidade, quanto aos motivos e objeto de tal manifestação de vontade, desde que respeitadas
as balizas legais e observada a vinculação dos demais elementos do ato administrativo (competência, forma e
finalidade). Por oportuno, destaca-se que para a doutrina tradicional somente incide discricionariedade por
expressa determinação legal. Todavia, para correntes mais recentes, seria igualmente possível reconhecer tal
mitigação na vinculação prévia dos requisitos quando a lei se vale de conceitos jurídicos indeterminados para a
descrição dos motivos que ensejam a prática do ato, a exemplo de “moralidade pública” ou “boa-fé”.
A autonomia funcional, por seu turno, expressamente prevista ao art. 127, § 2º, da CF/88, é uma
prerrogativa da instituição como um todo, e não de seu presentante, referindo-se à liberdade do Ministério Público
frente aos demais poderes e entes estatais, e assegurada mediante o poder de propor diretamente ao Poder
Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provê-los por concurso público e propor sua
própria política remuneratória e os planos de carreira. Evita-se, portanto, que outros poderes de Estado
promovam o desmanche administrativo e financeiro do parquet enquanto entidade.
Nessa toada, nota-se que o ditame refere-se precipuamente à atividade administrativa do Ministério
Público, motivo pelo qual a discricionariedade dos atos praticados deverá se submeter ao regime jurídico de
direito público específico. É dizer, os atos praticados em observância à independência funcional poderão ser
discricionários ou vinculados, a depender do dispositivo de regência.
Por outro lado, o princípio institucional da independência funcional, previsto ao art. 127, § 1º, da CF/88,
refere-se ao membro do parquet que, no exercício da atividade finalística do ente, é subordinado apenas à lei e à
sua consciência, não devendo obediência hierárquica ao entendimento jurídico dos órgãos da administração
superior. Nesse sentido, nota-se que a margem de discricionariedade é ampla, não restando o agente político
adstrito à ditames administrativos vinculantes.
Por fim, importante repisar que a ampla discricionariedade inerente à independência funcional do
presentante ministerial refere-se tão somente à atividade fim do órgão, não se traduzindo em absoluta liberdade
dentro da instituição. Isso porque, sob o prisma administrativo, o Ministério Público possui regras organizacionais
próprias às quais os membros estão submetidos, inclusive de cunho disciplinar e correcional, e indispensáveis ao
funcionamento da instituição e consecução de seu fim social.

3. O que seria silêncio administrativo, em sede de conduta administrativa? Quais são as implicações em
relação ao administrado? Existem várias consequências, mas há 3 principais. Há duas correntes, uma
considera que existe anuência tácita e outra que considera que não existe. Se não existe, por quê?
Em regra, o silêncio administrativo é o nada jurídico, ressalvados os casos em que a lei expressamente
determina algum efeito.
Logo, diante de tal abstenção, é possível notar algumas implicações em relação ao administrado.
Primeiramente, se entende que, caso o silêncio possua consequência prevista em lei, tratando-se de negação, o
administrado pode postular sua invalidação por eventual vício. Por outro lado, caso o silêncio implique em
anuência, pode o administrado valer-se de tal deferimento. Por fim, caso o silêncio não possua consequência
legalmente prevista, pode o administrado, forte no direito de petição, requerer o pronunciamento da
administração, inclusive provocando o poder judiciário. Ainda quanto à última corrente, destaca-se que, consoante
o entendimento majoritário, deverá o poder Judiciário cingir-se a estabelecer medida de coerção, todavia não
podendo substituir a vontade do administrador e resolver o mérito da questão.
Por fim, registra-se a existência de setores doutrinários que entendem que, por carecer a abstenção até
mesmo de manifestação de vontade, não pode ser considerada ato jurídico, sendo inviável dela depreender
concordância tácita em hipótese alguma.

4. O silêncio administrativo corresponde a ato administrativo? (O examinador considera que não é, pois
não há manifestação de vontade.)
Em que pese a divergência doutrinária, majoritariamente considera-se que o silêncio administrativo
desacompanhado de previsão legal que lhe confira significado, por se tratar de um nada jurídico, não é um ato
jurídico e, consequentemente, tampouco é ato administrativo, carecendo de manifestação de vontade. Para tal
corrente, trata-se, quando muito, de fato administrativo.
Nesse sentido, Rafael carvalho Rezende Oliveira:
A manifestação unilateral de vontade da Administração Pública normalmente é materializada de forma
expressa, por meio de atos administrativos. Discute-se, no entanto, a viabilidade de o silêncio administrativo
(omissão administrativa ou “não ato”) configurar forma legítima de manifestação de vontade administrativa. A
omissão, no caso, não é um ato administrativo, pois inexiste manifestação formal da vontade da Administração,
razão pela qual deve ser configurada como fato administrativo. (p. 347)

5. Para que o ato administrativo seja válido são necessários 3 requisitos fundamentais. Aponte-os.
Nota: Não localizei em nenhuma doutrina que classificasse os requisitos em apenas 03. O mais próximo
disso é o CABM.

Resposta: Para a doutrina majoritária, e com base na lei da ação popular, o ato administrativo possui 05
requisitos de validade ou elementos, quais sejam, Competência, Finalidade, Forma, Motivo e Objeto .
Registra-se, ainda, o posicionamento de Celso Antônio Bandeira de Mello, que distingue tais requisitos
em elementos e pressupostos, dividindo a segunda categoria em em pressupostos de existência e pressupostos
de validade.
Logo, é possível elencar 03 categorias distintas. A primeira corresponde aos elementos do ato (conteúdo
e forma), a segunda aos pressupostos de existência (objeto e pertinência da função administrativa) e a terceira
aos pressupostos de validade (sujeito, motivo, requisitos procedimentais, finalidade, causa e formalização).

GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
Ponto: Teoria da norma

1. O senhor conhece a teoria da derrotabilidade da regra penal? ( o examinador transformou a pergunta) O


senhor como promotor de justiça na comarca de Leopoldina, no exercício da sua atividade, pode requerer
o afastamento da normal penal/manifestar-se contra a regra penal/ deixar de aplicá-la? Além da
inconstitucionalidade e da não receptividade o senhor vê algum outro caso de afastamento da regra?
O conceito doutrinário de derrotabilidade das regras caracteriza-se como o fenômeno de não incidência
de uma norma que, embora existente, válida e eficaz, resta afastada especifica e episodicamente em determinado
caso concreto, em favor de solução que parece mais justa ou adequada para aquela situação.
Nesse ponto, aliás, imperioso destacar a nítida diferença com o controle de constitucionalidade, uma vez
que não se adentra ao juízo de compatibilidade entre o comando legal e a carta constitucional, eventualmente
reputando-se nula a disposição inconstitucional e extirpando-a do ordenamento. Pelo contrário, a validade do
ditame afastado permanece intacta.
Tal instituto se fundamenta na ideia de que, sendo impossível ao legislador prever toda e qualquer
situação prática que justificaria uma exceção à regra, uma vez que não é dotado de dons premonitórios,
eventualmente é possível que a norma específica seja desconsiderada, até mesmo para a assegurar os fins que a
norma se propõe a resguardar.
Nesse sentido, Juliano Taveira Bernardes assevera que “dessa incapacidade de antecipação normativa
derivam exceções implícitas em número diretamente proporcional ao das múltiplas variáveis presentes nos
diversos tipos de conduta que se pretende regular” (Aborto de Feto Anencefálico e Derrotabilidade. Suplemento
Direito e Justiça, Jornal Correio Braziliense, 07.03.2005), bem como Carsten Bäcker afirma que: “derrotabilidade
deve ser entendida como a capacidade de acomodar exceções” (Regras, Princípios e Derrotabilidade. Revista
Brasileira de Estudos Políticos. Belo Horizonte, n.º 102, p. 60, jan./jun. 2011).
A autoria da teoria da derrotabilidade é atribuída a Hart, em seu ensaio The Ascription of Responsability
and Rights (1948), no qual refere-se ao fenômeno da “defeasibility”.
No Brasil, é uma teoria pouco utilizada, notadamente por ser claramente contra legem, todavia possui
inegável respaldo de setores doutrinários. Nesse sentido, Cristiano Chaves de Farias aduz: “Sem dúvida, a
admissibilidade da derrotabilidade das regras, ainda que em caráter excepcional, autoriza a prolação de uma
decisão contra legem – sem eufemismo ou puritanismo” (Derrotabilidade das Normas-Regras (legal defeseability)
no Direito das Famílias: Alvitrando Soluções para os Extreme Cases (Casos Extremos). Revista do Ministério
Público do Rio de Janeiro: MPRJ, n. 53, jul./set. 2014, p.45).
No âmbito jurisprudencial, é possível identificar sua aplicação, ainda que rara e identificada apenas
superficialmente. Nesse sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. TRANSFERÊNCIA DE ESTUDANTE DEPENDENTE DE


EMPREGADO DE SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. INEXISTÊNCIA, NO LOCAL DE DESTINO, DE
INSTITUIÇÃO CONGÊNERE. “DERROTABILIDADE” DA VEDAÇÃO CONTIDA NO ARTIGO 99 DA LEI 8.112/90.
APLICAÇÃO DA PARTE FINAL DA SÚMULA 43 DESTA CORTE. (Tribunal Regional Federal da 1a Região
EDAMS 00055488020014013500, Juiz Federal Leão Aparecido Alves (CONV.), DJe 18/04/2005)

Diante dos exemplos acima arrolados, nota-se que a discussão sobre o cabimento ou não da teoria não
atingiu a seara penal, notadamente em consideração ao princípio da estrita legalidade, inerente ao direito
criminal. Logo, e considerando que o questionamento abarca também o entendimento pessoal, não seria o caso
de adoção da teoria da derrotabilidade da regra penal.
Por derradeiro, além da inconstitucionalidade e da não receptividade, seria possível aventar do
afastamento da regra em razão de controle de convencionalidade, consoante entendimento esposado
brevemente pelo STJ, muito embora já superado.

2. O senhor lembra do doutrinador Bingli ( desconheço a grafia) e qual a diferenciação que ele faz entre
lei e norma? Em cima desse raciocínio é possível falar em norma penal em branco? O que pode ser em
branco, se a norma não pode ser? (norma como conteúdo proibitivo)
O teórico do direito penal Karl Binding, para além de cunhar o método da proibição indireta, adotado para
a redação de tipos penais até hoje, acabou por estabelecer efetiva distinção entre lei e norma penal.
Para ele, a lei penal continha a positivação da conduta vedada, descrita no preceito primário do tipo, e da
pena correspondente, inscrita no preceito secundário (lei possui, apenas, mero caráter descritivo). Por outro lado,
a norma penal fundamentava-se em um imperativo de fazer ou não fazer, determinando uma conduta comissiva
ou omissiva (norma contém caráter mandamental proibitivo). Por exemplo, ao passo que a lei penal, no caso do
homicídio, veda o ato de “matar alguém”, a norma penal comanda “não matarás”.
Nessa toada, é tecnicamente inviável falar-se em norma penal em branco, afinal, trata-se do comando
direcionado aos indivíduos e, portanto, demanda concretude apta a torna-lo passível de obediência. Por outro
lado, é adequado falar-se em lei penal em branco, uma vez que tão somente afetaria-se a técnica de redação
legislativa, em mitigação tolerável do princípio da legalidade e taxatividade, reconhecem os tribunais pátrios.

3. Utilizando-se a terminologia “vulgar”, o que são norma penal em branco às avessas e norma penal em
branco ao quadrado? O senhor poderia me dar um exemplo?
Na cognominada norma penal em branco às avessas o preceito secundário é norma de reenvio, ou seja,
o complemento normativo diz respeito à sanção, não ao conteúdo da proibição. Nessa toada, a lei penal
incriminadora, ao descrever a pena, fará a remessa à punição prevista em outro tipo penal.
Destaca-se, portanto, que ao contrário da lei penal em branco propriamente dita, a figura em tela
somente autoriza complementação por lei em sentido estrito, emanada do legislador competente, sendo inviável
dizer de complementação por regulamento administrativo, uma vez que não pode o administrador cominar
reprimendas de cunho penal.
A Lei 2.889 /56, que cuida do genocídio, constitui claro exemplo de lei penal em branco ao revés ou
invertida
Por sua vez, na norma penal em branco ao quadrado o próprio conceito remetido demanda
complementação. É dizer, o complemento exigido pelo tipo penal para sua compreensão também refere-se, ele
próprio, a outra norma. Como exemplo, cita-se o art. 38 da Lei 9.605/98, uma vez que o conceito de floresta de
preservação permanente é previsto no Código Florestal, que, por sua vez, estabelece hipótese em que a área de
preservação permanente decorrerá de declaração de interesse social pelo Chefe do Poder Executivo

4. Ainda na Comarca de Leopoldina, um cidadão esta sendo processado e no curso desse processo, a lei
é modificada e esse crime passa a viger com penas corporais mínimas e máximas menores que a anterior,
e pena de multa muito maior que a anterior. Qual lei deve ser aplicada? Poderia haver a combinação das
leis?
A combinação de leis penais, dando azo à figura doutrinária da lei híbrida ou “lex tertia”, é figura
tradicionalmente repudiada no ordenamento jurídico pátrio, uma vez que acarretaria violação à separação dos
poderes. Trata-se da posição histórica do STF, com respaldo doutrinário de nomes como Nelson Hungria.
Ainda sobre a matéria, destaca-se a distinção formulada por Américo Taipa de Carvalho entre a Teoria da
ponderação unitária ou global, preferível por vedar a combinação de leis, e a teoria da ponderação diferenciada,
que acabaria por admitir a combinação de leis penais.
Nesse sentido, reiterando sua posição história, entendeu a suprema corte pela impossibilidade de
combinação da antiga e atual leis de drogas, ao que editou o Superior Tribunal de Justiça o enunciado 501 de sua
súmula: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas
disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo
vedada a combinação de leis”.
Afastada a possibilidade de combinação de leis, destaca-se que, no caso em tela, resta apenas decidir
qual lei a ser adotada em sua integralidade, em hipótese de sucessão de leis penais. Logo, considerando que,
sob o prisma da ponderação concreta, a nova lei é mais benéfica, impondo menor pena corporal, ainda que
elevada a pena de multa, deve ser aplicada a redação legal após a modificação, ressalvadas correntes
doutrinárias que entendem recair tal escolha sobre o réu..

Processo Penal
Examinador: Adilson de Oliveira Nascimento
Ponto: Ação Penal

1. Gostaria que o senhor comentasse as principais características da ação penal privada subsidiária da
pública.
A ação penal privada subsidiária da pública está expressamente contemplada no texto constitucional
como cláusula pétrea, autorizando que o ofendido ingresse ele próprio com a ação penal ante a inércia do MP em
observar os prazos estabelecidos em lei. Tem por base normativa o art. 5º, LIX da CF/88; art.29 do CPP e art.100,
§3º, do CP. Também é chamada de ação penal acidental privada ou supletiva. Sujeita-se a prazo decadencial de
seis meses, a contar do dia em que se esgotou o prazo para MP, sendo lapso de natureza penal.
Ainda quanto ao requisito subjetivo, destaca-se que a legitimidade recairá sobre a vítima definida pela
circunstância fática ou por imperativo legal. Quando o ofendido é a coletividade não caberá ação privada
subsidiária, pois não tem quem a exerça.
Ademais, existem hipóteses de legitimidade extraordinária para a ação privada subsidiária por órgãos ou
entidades que atuam na defesa do consumidor (Art. 80 e 82, III e IV, CDC) e por credores habilitados e
administradores judiciais (Art. 184, parágrafo único, da lei de Falências).
Por derradeiro, destaca-se que, caso o ofendido aja com desídia, será afastado do pólo ativo e o
presentante ministerial retomará a ação como parte principal, em fenômeno jurídico conhecido como ação penal
indireta, ao que se percebe a inexistência de perdão ou perempção na ação privada subsidiária.

2. Houve a perda do prazo na ação penal publica e o ofendido interpõe a privada; o juiz lhe dá vista dessa
queixa crime, qual seria o teor da sua manifestação?
A natureza jurídica da atuação do Ministério Público na ação privada é debatida na doutrina, defendendo
Tourinho Filho tratar-se de interveniente adesivo obrigatório e Nucci de assistente litisconsorcial. De todo modo,
deve o parquet intervir em todos os termos da persecução penal, sob pena de nulidade do processo (art. 564, III,
“d” do CPP).
Dentre os poderes do MP, nos termos do art. 29 do CPP, destaca-se a possibilidade de aditar a queixa
crime, inclusive para incluir corréus, no prazo de três dias. Diferencia-se das demais ações privadas, pois
naquelas somente é possível ao MP aditar para corrigir erros formais. Igualmente salienta-se a prerrogativa de
repudiar fundamentadamente a queixa crime, por entender que não houve desídia ou que a petição da vítima é
inepta. Após o repúdio, cabe ao promotor oferecer denúncia substitutiva. Por fim, caso o presentante ministerial
entenda pela ausência dos requisitos de admissibilidade, deve manifestar-se pela rejeição da queixa com base no
art. 395 do CPP.
Logo, a depender do caso concreto, seria possível aditar a queixa, repudiá-la ou até mesmo oferecer
manifestação pela sua rejeição ou não recebimento.

3. Com a lei 2.015/2009 que modificou os crimes contra a dignidade sexual, no crime de estupro a ação
penal é pública condicionada, sendo incondicionada apenas em alguns casos(menor de 18 anos ou
vulnerável). Havendo a qualificadora lesão corporal ou morte, qual seria a ação penal adequada? Os que
defendem que a ação é pública incondicionada citam um artigo do CP como argumento. O senhor saberia
dizer qual é esse argumento?
Nota: Trata-se de questão “superada”.

A matéria já havia sido sensivelmente alterada por recente inflexão jurisprudencial, uma vez que o STJ
asseverou que:
“A Súmula 608 do STF permanece válida mesmo após o advento da Lei nº 12.015/2009.
Assim, em caso de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada.
STF. 1ª Turma. HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/2/2018 (Info 892).”
Consequentemente, na hipótese do estupro que resulta lesão corporal grave ou morte (art. 213, §§ 1º e
2º) a tendência também seria reputar cabível a ação penal pública incondicionada. Nesse sentido, existia até
mesmo a pendência da ADI 4301, ajuizada pela PGR, e com base no artigo 101 do Código Penal e artigo 24 do
Código de Processo Penal, uma vez que os graves resultados da agressão sexual, eles próprios crimes
autônomos, tornariam a ação penal complexa.
Entretanto, antes que tal guinada jurisprudencial fosse efetivada, a alteração promovida pela Lei nº
13.718, de 2018 resolveu definitivamente a questão, asseverando tratar-se de hipótese de ação penal pública
incondicionada: “Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada.”

4. Quais são os requisitos da ação pública condicionada e da queixa crime? Nesse tema, é possível a
representação tácita? P.ex. a vítima chama a polícia e registra a ocorrência em B.O., há nesse caso
representação tácita?
A queixa crime é requisito para a deflagração da ação penal privada, tratando-se da peça inicial
acusatória. Trata-se do processo titularizado pela vítima ou por quem a represente, na condição de substituição
processual. Consoante doutrina majoritária, atua em nome próprio pleiteando a punição que pertence ao Estado
(jus puniendi).
A representação, requisito da ação penal pública a ela condicionada, caracteriza-se simultaneamente
como o pedido e a autorização que autoriza o início da persecução penal, nas hipóteses legalmente exigidas.
Sem a representação não haverá ação, inquérito e nem mesmo lavratura de ato de flagrante. Possui natureza
jurídica de condição de procedibilidade (condição especial da ação).
Quanto ao rigor formal, destaca-se que para o STF e o STJ, em posição pacificada na doutrina, a
representação tem forma livre, podendo ser apresentada oralmente ou por escrito a qualquer dos destinatários,
dentre os quais se inclui a autoridade policial.
Especificamente quanto ao boletim de ocorrência, já decidiu o STJ:

HABEAS CORPUS . VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LESÕES CORPORAIS LEVES. LEI MARIA DA PENHA.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA. REPRESENTAÇÃO. PRESCINDIBILIDADE DE RIGOR FORMAL.
ORDEM DENEGADA.
1. Esta Corte de Justiça firmou entendimento no sentido de que a representação é um ato que dispensa
formalidades, não sendo exigidos requisitos específicos para sua validade, mas apenas a clara manifestação de
vontade da vítima de que deseja ver apurado o fato contra ela praticado. [...] 4. Ordem denegada, em
consonância com o parecer ministerial. HABEAS CORPUS Nº 101.742 - DF (2008/0052679-0)RELATORA :
MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA Brasília, 22 de agosto de 2011(Data do Julgamento).
Do teor do julgado, se depreende que:
Na hipótese vertente, verifica-se que a Corte estadual destacou que "houve clara vontade da ofendida de
ver o recorrido responder pelo crime praticado, conforme demonstram a Comunicação de Ocorrência Policial (fls.
25/27), de que resultou na prisão em flagrante do recorrido, e o Termo de Requerimento por Medidas Protetivas
juntado às fls. 29/30" (fl. 22)
Assim, conforme visto no acórdão atacado, tem-se como inequivocamente comprovada a manifestação
da ofendida no sentido de ver apurado o fato contra ela praticado, ainda que perante a autoridade policial.
Em igual sentido se orienta a doutrina, a exemplo de Renato Brasileiro de Lima:
Ao longo dos anos, a jurisprudência tem proclamado, reiteradamente, que não há necessidade de
maiores formalidades no tocante à representação. Prescinde-se, portanto, de que haja uma peça escrita com
nomen iuris de representação nos autos do inquérito policial ou do processo criminal. Basta que haja a
manifestação da vontade da vítima ou de seu representante legal, evidenciando a intenção de que o autor do fato
delituoso seja processado criminalmente. Não por outro motivo, já se considerou como representação um mero
boletim de ocorrência, declarações prestadas na polícia, etc. (p. 306)
Em orientação similar, aduz Norberto Avena (p. 318):
A representação da vítima ou de seu representante legal pode constituir-se em registro de ocorrência
policial? Embora a questão não seja pacífica, entendemos que nada impede esteja a representação incorporada à
comunicação de ocorrência policial, desde que dela se possa extrair a vontade efetiva na apuração da infração
penal. “A representação nos crimes de ação penal pública condicionada prescinde de qualquer formalidade,
sendo necessária apenas a vontade inequívoca da vítima ou de seu representante legal, mesmo que realizada na
fase policial” (HC 46.455/RJ). Evidentemente, em casos tais, não bastará o simples relato da vítima quanto ao
crime, impondo-se que contenha o registro de ocorrência, expressamente, a manifestação de vontade de que a
investigação seja realizada, apurando-se a responsabilidade penal do infrator.
Ante todo o exposto, destaca-se que a representação é ato nitidamente informal, motivo pelo qual pode
ser realizada por meio de boletim de ocorrência, sem maiores implicações. Todavia, é igualmente imperioso que
reste inequívoca a vontade da vítima em ver deflagrada a persecução penal em face do autor, motivo pelo qual
não é possível atribuir caráter tácito à manifestação de vontade.

5. A Ação Penal Privada tem causas de extinção da punibilidade específicas, quais delas se estendem a
todos os corréus?
A extensão das hipóteses específicas de extinção da punibilidade da ação penal privada a todos os
corréus é corolário direto do princípio da indivisibilidade deste tipo de processo, sendo possível depreende-lo dos
seguintes dispositivos do CPP:
“Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério
Público velará pela sua indivisibilidade.
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se
estenderá.
Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito
em relação ao que o recusar.”
Logo, destaca-se que a renúncia ao direito de queixa, ato unilateral expresso ou tácito, e a concessão de
perdão pelo ofendido, ato bilateral expresso ou tácito que demanda aceitação pelo querelado, devem beneficiar
todos os corréus, indistintamente, ressalvada a hipótese na qual algum dos ocupantes do polo passivo recuse a
benevolência do querelante.
GRUPO TEMÁTICO III

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Ponto: Ato ilícito e responsabilidade civil

1. Conceitue ato ilícito. Essa contrariedade ao dever legal pode ser contratual? Qual a consequência
desse comportamento lesivo? Fica obrigado a reparar o ato ilícito? (não, o dano).
O ato ilícito é um fato jurídico em sentido amplo, uma vez que os seus efeitos jurídicos não são
desejados pelo agente; decorrem da lei. Pode ser conceituao como um ato praticado em desacordo com a ordem
jurídica, violando direitos e causando prejuízos a outrem. Cria a norma jurídica um dever de reparar o dano. É, em
suma, a conduta humana que fere direitos subjetivos privados, estando em desacordo com a ordem jurídica e
causando dano a outrem. (Tartuce).
A consequência do ato ilícito é o dever de indenizar, de reparar o dano, a teor do art. 927, do CC.
Cumpre asseverar que aquele que é titular de um direito e excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé ou pelos costumes (abuso de direito), pratica ato ilícito conforme art.
187 do CC.
A contrariedade ao dever legal pode ser contratual, não se resumindo à responsabiidade aquiliana.
Diante dessa ofensa, o agente poderá responder tanto por danos materiais, quanto por danos estéticos
e morais, sem embargo das consequências jurídicas avençadas pelas partes no contrato. De se salientar que, em
regra, o descumprimento de negócio jurídico contratual não enseja dano moral. Este deverá ser comprovado pelo
ofendido.

2. O dano exclusivamente moral gera obrigação de reparar?


Conforme disposto no art. 186, do CC, o dano exclusivamente moral enseja a obrigação de reparar.

3. Conceitue dano moral.


Dano moral representa a violação a direitos da personalidade, direitos estes hauridos do princípio da
dignidade da pessoa humana, conforme doutrina majoritária. O dano moral caracteriza-se por uma ofensa, sendo
prescindível a dor, o padecimento da vítima.

4. O que é abuso de direito? Esse abuso transpõe quais limites impostos?


Consoante preconiza o art. 187, do CC, também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes. O abuso direito possui íntima ligação com o princípio da socialidade e eticidade.
A doutrina de Rubens Limongi França define o abuso de direito como um ato jurídico de objeto lícito, mas
cujo exercício, levado a efeito sem a devida regularidade, acarreta um resultado que se considera lícito. Tartuce
dispõe que o abuso de direito é um ato lícito pelo conteúdo, ilícito pelas consequências.
Segundo entendimento majoritário, presente o abuso de direito, a responsabilidade é objetiva.

5. O senhor pode me dizer quais são os elementos estruturantes do ato ilícito? São 3.
Os elementos estruturantes do ato ilícito são a conduta voluntária, o nexo causal e o dano.

6. Dê o conceito de dano. (“dê um conceitozinho de dano”)


Dano (do latim damnum) é o mal, prejuízo, ofensa material ou moral causada por alguém a outrem,
detentor de um bem juridicamente protegido. O dano ocorre quando esse bem é diminuído, inutilizado ou
deteriorado, por ato nocivo e prejudicial, produzido pelo delito civil ou penal.

Processo civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Ponto: Teoria geral das cautelares

1. Discorra sobre as diferenças e as semelhanças entre as medidas cautelares e a tutela antecipada.


Ambas as medidas detêm natureza de tutela de urgência; são decididas pelo juiz, em regra, sob
cognição sumária; possuem como pressupostos o fumus boni iuris e o periculum in mora (art. 300, do CPC); para
a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la; a tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou
após justificação prévia; podem ser aviadas em caráter antecedente ou incidental ao processo; em ambas, a parte
responderá objetivamente pelos danos que causar à parte contrária cumpridos os pressupostos do art. 302,
incisos.
As medidas cautelares são instrumentais, visam a salvaguardar o resultado útil do processo. Propiciam
condições para que o bem da vida possa ser atribuído a quem de direito ao final da demanda. Vale dizer, a tutela
cautelar pode ser definida como uma tutela definitiva não satisfativa com efeitos antecipáveis. A tutela antecipada
é caracterizada por dar eficácia imediata à tutela definitiva. Ela tem como objetivo, portanto, preservar os efeitos
úteis da tutela definitiva satisfativa; a tutela antecipada permite ao beneficiário a fruição da pretensão requerida
em juízo antes do trânsito em julgado. É uma tutela de natureza satisfativa; a tutela de urgência antecipada não
pode ser concedida em caso de irreversibilidade da medida (em regra, porquanto notadamente em pretensões
que requestam alimentos, o seu deferimento resulta em irrepetibilidade); a tutela antecipada concedida em caráter
antecedente pode se tornar estável, ao passo que não há previsão nesse sentido quanto à tutela cautelar, seja
antecedente, seja incidental.

2. Quais são os motivos que podem cessar a eficácia da medida liminar, uma vez concedida? (modificou
para cautelares pra facilitar). Quais são os requisitos que devem ser cumpridos na cautelar? Um deles
faria cessar a medida.
A concessão de uma medida liminar, seja ela cautelar ou antecipada, sujeita-se aos requisitos de perigo
da demora (perigo de dano ou ao resultado útil do processo) e fumaça do bom direito, plasmado na probabilidade
efetiva do direito requestado.
Caso um dos pressupostos aludidos venha a desaparecer, a cessação da liminar pelo magistrado é
medida que se impõe.
Ademais, é de rigor que o juiz, quando da prolação da sentença, confirme ou revogue a tutela concedida
no curso do processo. Caso a demanda seja julgada improcedente, a liminar anteriormente concedida haverá de
ser revogada.
No caso de tutela cautelar antecedente, cessará a sua eficácia se o autor não deduzir o pedido principal
no prazo legal; se não for efetivada dentro de 30 dias; e o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado
pelo autor ou extinguir o processo sem resolução de mérito. (art. 309, do CPC).

3. Em quais hipóteses (se houver mais de uma), na ação cautelar,o requerente está autorizado a não
ajuizar a ação principal nos 30 dias subsequentes à satisfação ? (o examinador fez mais perguntas, mas
foi muito baixo). O argumento que autoriza o não ajuizamento da ação principal é doutrinário, legislativo
ou jurisprudencial?
Conforme orienta o Enunciado 504 do FPPC, “cessa a eficácia da tutela cautelar concedida em caráter
antecedente, se a sentença for de procedência do pedido principal, e o direito objeto do pedido foi definitivamente
efetivado e satisfeito.”
Nessa senda, o argumento que autoriza o não ajuizamento da ação principal é doutrinário.

4. Como se trabalha o valor da causa nas cautelares? Como se preenche esse requisito nas ações
cautelares?
Consoante preleciona Daniel Neves, não existe norma específica no novo diploma legal que exija do
autor do pedido ora analisado a indicação do valor da causa, mas tratando-se de petição inicial deve ser aplicado
o art. 291 do CPC. Assevera a doutrina que não existe uma vinculação necessária entre o valor da causa do
pedido cautelar e do pedido principal. O bem da vida que se pretende obter com a tutela cautelar é a garantia de
eficácia do resultado final do processo, não se confundindo com eventual bem da vida que será objeto da
pretensão no processo principal. Não teria sentido exigir que o valor da causa nesse caso seja o mesmo nas duas
ações, porque os bens da vida pretendidos são distintos. A distinção de valor da causa no processo cautelar e
principal é reconhecida, inclusive, pelo STJ.

5. Qual o juiz competente para conhecer e julgar as ações cautelares? Gostaria que o senhor dividisse em
ação cautelar preparatória e ação cautelar incidental.
O art. 299 do CPC é o responsável pela determinação da regra de competência para o requerimento da
tutela provisória. Segundo Daniel Neves, a regra será sempre a mesma, seja o pedido antecedente ou incidental.
Assim sendo, será competente para decidir o pedido da tutela provisória o juízo competente para conhecer do
pedido principal, independentemente deste já ter sido feito ou estar por vir.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito material coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Ponto: Atuação do MP na tutela coletiva da saúde

1.Quais são os princípios do SUS? O que seria a universalidade?


São 3 os princípios doutrinários que conferem legitimidade ao SUS: a universalidade, a integralidade e a
equidade. A universalidade está ligada à garantia do direito à saúde por todos os brasileiros, sem acepção ou
discriminação, de acesso aos serviços de saúde oferecidos pelo SUS. O significado deste princípio é
extremamente relevante para a consolidação da democracia, pois, partir de então, não apenas as pessoas com
carteira assinada (ligadas à previdência) poderiam contar com tais serviços, mas toda a população.

2. A lei 8080 discrimina o que são as determinantes e as condicionantes na saúde. Disserte sobre elas.
O SUS, na forma como está definido em lei, segue em todo país os mesmos princípios organizativos,
prevendo atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. No artigo 3º da lei 8080/90, consta que: A
saúde tem como fatores “determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento
básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos
bens e serviços essenciais”
Determinantes Sociais de Saúde (DSS) são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham
ou “as características sociais dentro das quais a vida transcorre” (Tarlov,1996). Ao atuarmos sobre as causas das
desigualdades de saúde e doença, temos a oportunidade de melhorar a saúde nas regiões mais vulneráveis da
cidade. Uma das causas mais importantes são as condições sociais nas quais as pessoas vivem e trabalham
(determinantes sociais de saúde).

3. O MPMG foi um dos primeiros a organizar uma promotoria da saúde e em sua primeira resolução sobre
o assunto, há uma orientação para atenção a 3 institutos: Plano Municipal de Saúde, Fundo Municipal de
Saúde e Conselho Municipal de Saúde. Disserte acerca desses institutos.
O Plano Municipal de Saúde é um guia que descreve as prioridades e o planejamento de saúde nos
Municípios para um período de quatro anos. Sempre que uma nova prefeitura é eleita, a Secretaria Municipal de
Saúde precisa elaborar um plano no primeiro ano de gestão.
O Plano Municipal de Saúde (PMS) é um documento que reúne e organiza as propostas de ação do
governo municipal para a área da saúde, oferecendo soluções relacionadas às necessidades e aos problemas da
população local. O Plano, deste modo, considera as diretrizes gerais definidas para a política da saúde nas
esferas nacional e estadual.
O PMS é uma exigência legal e configura-se como um instrumento para relacionar as metas e resultados
a serem alcançados pelo SUS em um período de quatro anos. Sua elaboração, que envolve questões técnicas,
políticas e econômicas, deve abranger o levantamento e a análise das informações sobre a situação da saúde no
município.
A Lei Federal 8.080/90, art. 33, parágrafo 1° cria o Fundo Nacional de Saúde e a Lei Federal 8.142/90,
art. 4°, estabelece que para receber recursos do Governo Federal, Estados e Municípios devem ter Fundo de
Saúde. A existência de um Fundo possibilita ver com clareza: as fontes de receita , seus valores e data de
ingresso; as despesas realizadas; os rendimentos das aplicações financeiras. E, além disso, facilita o controle
social e permite a autonomia na aplicação dos recursos, com a garantia de sua aplicação exclusivamente na
saúde.
O Conselho é um órgão deliberativo na formulação e execução da política municipal de saúde. Inclusive
nos aspectos econômicos e financeiros, nas estratégias e na promoção e controle social.
O funcionamento do CMS prevê reuniões plenárias mensais e extraordinárias, comissão executiva,
comissões permanentes e temáticas. Sua composição é sempre paritária.

4. Situação hipotética, o senhor é promotor em Leopoldina, e é informado por um cidadão acerca da sua
necessidade e urgência da realização de um transplante. O senhor recebe informações sobre a situação
da fila de pessoas à espera daquele mesmo procedimento. Qual seria a sua resposta, e quais os
fundamentos.
A Constituição Federal prevê a saúde como direito fundamental de segunda dimensão (art 6 e 196 e
seguintes).
Nesse sentido, “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”
Não obstante, a situação posta ilustra uma situação em que o Estado não detém ferramentas para
salvaguardar a saúde de todos, uma vez que o transplante de órgãos imprescinde da efetiva existência de órgãos
para fins de transplante daqueles que deles necessitam.
Em vista disso, existe uma “fila” de espera para recebimento de órgão. Cada órgão tem uma fila de
espera específica, baseadas na Lei nº 9.434/1997, no Decreto nº 2.268/1997 e na Portaria GM/MS nº 2.600/2009.
As relações de pacientes são administradas pela Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Transplantes
(SNT), do Ministério da Saúde, por meio de sistema informatizado.
A principal característica das listas é que elas não funcionam por ordem de chegada, em que o primeiro a
se inscrever receberá o órgão antes do segundo e assim consecutivamente. Em vez disso, os critérios obedecem
a condições médicas. São três fatores determinantes: compatibilidade dos grupos sanguíneos, tempo de espera e
gravidade da doença.
Por isso, não compete ao órgão de execução dar preferência a determinado indivíduo pelo simples fato
de haver buscado auxílio junto ao órgão. A forma mais justa, imparcial e equânime de distribuição de órgãos
consubstancia-se nas normas gerais e abstratas supra elencadas.

5. O que seria equidade em saúde? Para organizar uma fila com base na equidade, como seria?

Equidade é um dos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS) e tem relação direta com os
conceitos de igualdade e de justiça. No âmbito do sistema nacional de saúde, se evidencia, por exemplo, no
atendimento aos indivíduos de acordo com suas necessidades, oferecendo mais a quem mais precisa e menos a
quem requer menos cuidados. Busca-se, com este princípio, reconhecer as diferenças nas condições de vida e
saúde e nas necessidades das pessoas, considerando que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e
deve atender a diversidade.
Exemplos práticos de equidade ocorrem frequentemente nos hospitais, especialmente naqueles nos
quais se implantou a classificação de risco, onde a prioridade no atendimento é definida por critérios combinados
de ordem de chegada, urgência e gravidade. Por esse princípio, uma vítima de acidente grave passará na frente
de quem necessita de um atendimento menos urgente, mesmo que esta pessoa tenha chegado mais cedo ao
hospital.

Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas


Ponto: Reparação pecuniária do dano ao meio ambiente

1. Qual a natureza jurídica da reparação pecuniária do dano ao meio ambiente? Numa lógica de
responsabilidade civil qual seria essa natureza? Dentro dessa lógica, há necessidade de se comprovar
uma ilicitude para a reparação pecuniária? Nessa lógica, podemos dizer que se sustenta sobre dois
princípios básicos a lesão ao meio ambiente, quais são eles?
A compensação ambiental tem natureza jurídica de obrigação econômica de reparação pelo uso do meio
ambiente, entendido esse como um direito intangível de todos a determinada qualidade de vida, à preservação do
meio ambiente ecologicamente equilibrado. Isso está expresso no caput do art. 225 da Constituição Federal, que
prevê que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
A responsabilidade civil oriunda do dano ambiental prescinde de culpa; vale dizer, a responsabilidade
possui natureza objetiva. Dessarte, não há falar em necessidade de se comprovar uma ilicitude para a reparação
pecuniária.
A reparação pecuniária se assenta basicamente nos princípios da precaução e da prevenção, não se
havendo de descurar, ademais, dos princípios do usuário-pagador e do poluidor-pagador.

2. É possível falar em um equivalente pecuniário em relação ao meio ambiente? Como é que vamos
decidir por essa reparação pecuniária. A Indenização se refere a um valor pecuniário, qual seria o valor
pecuniário do meio ambiente? O senhor sabe dizer onde o legislador brasileiro fez a opção acerca da
reparação? Onde podemos encontrar, na legislação brasileira, elementos para determinar a reparação
pecuniária? ( o legislador brasileiro optou por uma obrigatoriedade de se exigir uma contraprestação
pecuniária.) Qual instrumento o senhor usaria para buscar essa reparação pecuniária, ou mesmo a
reparação ambiental? (art. 3º e 13 da LACP)
As respostas a essas perguntas podem ser encontradas em
https://www.conjur.com.br/2016-out-29/ambiente-juridico-responsabilidade-civil-ambiental-reparacao-
integral-dano

3. O art. 3º da LACP diz que a ACP pode ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento da
obrigação de fazer ou não fazer, é possível essa cumulação? A possibilidade de cumulação justifica-se
apenas pela LACP?
Em que pese a locução “ou”, doutrina e jurisprudência possuem entendimento pacificado no sentido de
poder-se cumular a condenação em dinheiro com o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
O artigo 84 do CDC, integrante do microssistema dos direitos coletivos, traz dispositivo similar ao acima
indicado.
De se salientar que o art. 225, da CF, norma elementar da proteção ao meio ambiente, preconiza que
impõe-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defender o meio ambiente e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações. Nesse sentido, os mecanismos legais de defesa devem ser interpretados à luz da
Constituição, de forma ampliar-se ao máximo a salvaguarda deste bem difuso.

4. Cabe a reparação por danos morais em relação ao meio ambiente? Há um julgado do Ministro Teori
Zawascki. O examinador afirma que é um direito de personalidade, qual é o fundamento para tanto?
Assim, o dano ambiental implica a agressão ao meio ambiente, entendido como o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas (artigo 3º, I, da Lei 6.938/1981), bem incorpóreo e imaterial unitária e globalmente
considerado, e, também, a diminuição, subtração ou destruição dos bens ambientais e seus elementos corpóreos
e incorpóreos — os solos, as águas, o ar, as espécies da fauna e da flora e seus exemplares, os recursos
genéticos, os ecossistemas, os processos ecológicos, as paisagens e os bens e valores culturais — que integram
o meio ambiente global, bem coletivo indivisível cuja preservação é assegurada como direito de todos.
Nesse sentido, ainda que se manifeste, em um primeiro plano, a partir de atentados aos bens
ambientais e seus elementos, o dano ambiental, na realidade, é bem mais amplo, pois atinge o conjunto de
relações e interdependências que permite e condiciona a vida em todas as suas formas, ou, se se preferir, o
equilíbrio ecológico e ambiental como bem incorpóreo global.
Esse é, em linhas gerais, em toda a sua extensão, o dano ambiental reparável no Direito brasileiro,
como dano coletivo ou difuso, que o Superior Tribunal de Justiça trata, muitas vezes, como dano ambiental
público
Na evolução dos estudos sobre a matéria, passou-se a discutir, ainda, sobre a reparabilidade do
denominado dano moral ambiental, como dano moral coletivo.
Tal possibilidade, admitida inicialmente pela doutrina, acabou por ser consagrada no Direito brasileiro,
no artigo 1º, caput, e inciso I, da Lei 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública), com a redação dada pela Lei
8.884/1994. Dessa forma, a partir de 1994, o que já se admitia em doutrina passou a ser positivado como norma
legal no Brasil.
Interessante observar, no ponto, que, apesar da expressa previsão legal, o Superior Tribunal de Justiça
mostrou-se, em um primeiro momento, reticente no que se refere à reparabilidade dessa modalidade de dano
coletivo. Segundo o entendimento inicialmente adotado pela corte, o caráter transindividual do dano ambiental
seria incompatível com a configuração do dano moral, essencialmente individual. Daí a impossibilidade de
caracterização e consequente reparação do dano moral ambiental.
Na sequência, porém, o próprio STJ modificou a sua orientação inicial, passando a admitir, de forma
tranquila, como passível de reparação, o dano moral ambiental, em sua vertente supraindividual, ou seja, como
dano moral experimentado pela coletividade como um todo, em decorrência da agressão a bens e valores
ambientais. Com isso, reconheceu-se a viabilidade da configuração de um dano moral coletivo reflexo, sofrido
pela sociedade em virtude da degradação dos bens ambientais e seus elementos corpóreos e incorpóreos.
Dia 07 – Ponto 10 – André Valadares e Thaiza Machado

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional
Examinador: Fabiano Ferreira Furlan

1. Esclareça quais as características básicas do Estado federal.


A federação é espécie de Estado Composto, formada pela união indissolúvel dos entes federativos que a
integram. Nesse sentido, o Estado Federal possui as seguintes características basilares:
a) Descentralização político-administrativa - todos os entes da federação brasileira possuem autonomia
política (capacidade para inovar a ordem jurídica em determinada matéria) e autonomia administrativa
(capacidade para executar o estabelecido por um núcleo central).
b) Participação das vontades parciais na vontade geral - a participação dos Estados-membros na
vontade nacional se manifesta por meio do Senado Federal, responsável pela manutenção do equilíbrio
federativo.
c) Auto-organização dos Estados-membros - é a capacidade de auto-organização por meio de
Constituições próprias. Os Estados federados possuem órgãos próprios para o exercício de suas funções
legislativa, executiva e jurisdicional.

(Fonte: NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional . São Paulo: Editora Método, 2009, 3ª ed. p. 530/531.
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2469735/quais-as-caracteristicas-essenciais-da-federacao-brasileira-denise-cristina-
mantovani-cera)

2. O que são princípios constitucionais sensíveis? Dê alguns exemplos.


Os princípios constitucionais sensíveis, segundo a doutrina, são aqueles elencados do art. 34 VII, da
Constituição Federal, e recebem essa designação pelo fato de que a sua violação pode ensejar Ação de
Representação Interventiva, visando à intervenção da União no Estado-Membro. São eles: forma republicana de
governo, sistema representativo, regime democrático, direitos da pessoa humana, autonomia municipal prestação
de contas da administração pública direta e indireta e aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino
e nas ações e serviços de saúde. Cumpre destacar que as Constituições Estaduais também podem estabelecer
seus princípios constitucionais sensíveis, em consonância com o modelo federal (princípio da simetria), de modo
que sua inobservância pode gerar intervenção do Estado-Membro em seus Municípios.
Fonte: Constituição da República

3. O que é dívida fundada?


Esse termo é utilizado para designar as dívidas de longo prazo, obrigações de exigibilidade superior a 12
(doze) meses, contraídas para atender a desequilíbrio orçamentário ou financiamento de obras e serviços
públicos. Não se confunde com a dívida flutuante, dívidas de curto prazo, também conhecida como débito de
tesouraria. A dívida flutuante compreende os restos a pagar, parcelas de amortização e de juros da dívida
fundada, depósitos.
Fonte: https://tudodireito.wordpress.com/2013/07/30/divida-fundada-e-divida-flutuante/
4. Esclareça quais são as competências legislativas do Estado-membro. Tem matéria de competência
delegada?
A Constituição Federal utilizou o critério residual para definir as competências privativas do Estado-
Membro, conforme se infere do seu artigo 25, §1º, in verbis “São reservadas aos Estados as competências que
não lhes sejam vedadas por esta Constituição”. Afora essa hipótese, o Estado-Membro possui competência
legislativa concorrente com a União para as matérias descritas no art. 24 da CRFB (tais como direito urbanístico,
defesa da saúde, proteção do patrimônio histórico e cultural, entre outros), de modo que a União editará normas
gerais, cabendo os Estados suplementar a legislação de acordo com as suas peculiaridades. Importante frisar
que, no caso de competência concorrente, os Estados exercem a competência legislativa por direito próprio e não
por delegação da União. Diversamente, na hipótese trazida pelo parágrafo único do art. 22 da CRFB os Estados-
Membros podem exercer competência legislativa delegada, caso a União os autorize, mediante Lei
Complementar, a legislarem sobre questões específicas atinentes a matéria de sua competência privativa. Nos
dizeres da doutrina: Trata-se de mera faculdade aberta ao legislador complementar federal. Se for utilizada, a lei
complementar não poderá transferir a regulação integral de toda uma matéria da competência privativa da União,
já que a delegação haverá de referir-se a questões específicas. (...) Nada impede que a União retome a sua
competência, legislando sobre o mesmo assunto a qualquer momento, uma vez que a delegação não se equipara
à abdicação de competência.
Fonte: Texto Constitucional e http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-divisao-da-competencia-legislativa-entre-os-
entes-federados,48447.html)

5. O município pode ser desmembrado?


O município pode ser desmembrado, no entanto, é necessário se observar os requisitos impostos pelo
art. 18, §4º, da CRFB, quais sejam: a) divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e
publicados na forma da lei (federal); b) consulta prévia, mediante plebiscito, à população diretamente interessada
(população dos municípios envolvidos); c) lei complementar federal determinando o período do desmembramento;
e d) lei estadual de desmembramento do município.
Fonte: CRFB

6. A União pode intervir em município? E tem fundamento pra isso?


A União somente pode intervir no Distrito Federal ou no Estado-Membro e este somente pode intervir em
seus respectivos municípios. Logo, em regra, a União não pode intervir em Município. Não obstante, o texto
constitucional autoriza que a União intervenha em município localizado em território federal, nos mesmos moldes
que os Estados-Membros podem intervir nos municípios localizados em seu território. Importante notar que, nesse
caso, a intervenção não seguirá os pressupostos do art. 34, mas, sim aqueles previstos no art. 35 da CRFB.
Fonte: CRFB

7. O município é entidade federada? E território?


O Município é entidade federada, conforme previsto no art. 18, caput, da CRFB. Em razão disso,
inclusive, parte da doutrina aponta que o Estado brasileiro teria adotado o Federalismo Assimétrico. Lado outro, o
território não é ente federado, sendo classificado pela doutrina como espécie de autarquia (autarquia territorial),
muito embora o texto constitucional contemple expressamente a possibilidade de haver municípios localizados em
Território Federal (art. 35). Trata-se de hipótese sui generis em que um ente político estaria inserido em ente da
administração indireta.
Fonte: CRFB
8. E Brasília? Qual a situação de Brasília? Brasília é dividida em municípios? Brasília tem governador?
Brasília é capital do Estado
Brasília é a capital da República Federativa do Brasil e a capital do Distrito Federal. Este, por sua vez, é
entidade federativa autônoma e singular, que acumula competências municipais e estaduais. A CRFB optou por
esse modelo porque, numa Federação, a sede do Governo Federal não deve estar sob a jurisdição de qualquer
dos Estados que a compõem. Demais a isso, segundo o art. 32, caput, da CRFB, o Distrito Federal não pode se
subdividir em Municípios, de modo que Brasília e as cidades satélites são, em verdade, regiões administrativas
geridas por agentes indicados pelo Governador do Distrito Federal.
Fonte: https://www.migalhas.com.br/FederalismoaBrasileira/124,MI283454,71043-
A+natureza+juridica+do+Distrito+Federal+e+das+cidadessatelite

Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Ponto: Princípios da Administração Pública

1. A doutrina enumera princípios expressos e princípios implícitos. Enumere os princípios mais


importantes com relação à administração pública.

São princípios implícitos no ordenamento jurídico a Supremacia do Interesse Público e a


Indisponibilidade do Interesse Público, os quais constituem, nos dizeres de Celso Antônio Bandeira de Mello, as
pedras de toque do regime jurídico administrativo. Ainda, a CRFB elenca princípios norteadores da atividade
administrativa, aplicáveis a todos os Poderes e agentes públicos, nos termos do art. 37, caput: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Demais a isso, a legislação infraconstitucional, mormente a
Lei de Processo Administrativo no âmbito federal (Lei n. 9.784/99) enumera outros princípios que a administração
pública deve obedecer, quais sejam, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público.
Fonte: Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, Direito Administrativo Descomplicado, 24ª ed., pg. 208.

2. O que é princípio da motivação?


O princípio da motivação é decorrência do princípio da transparência (derivação do princípio da
publicidade) e consiste na exposição, por escrito, dos motivos que levaram a prática do ato administrativo. Os
atos administrativos devem ser fundamentados, permitindo-se o controle por parte do interessado. Há menção
expressa à motivação no texto constitucional (art. 93, X) no tocante à atuação administrativa dos tribunais do
Poder Judiciário.
Fonte: Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, Direito Administrativo Descomplicado, 24ª ed., pg. 227 e 530.

3. Em que hipótese o administrador não será penalizado pela ausência de motivação?


Existem atos que não estão sujeitos à regra geral de obrigatoriedade de motivação, a saber: a nomeação
para cargos em comissão e a sua respectiva exoneração. Nesses casos, o administrador não será penalizado
pela ausência de motivação.
Fonte: Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, Direito Administrativo Descomplicado, 24ª ed., pg. 531.

4. A ausência de motivação que implica em anuência tácita, o que seria?


A ausência de motivação está relacionada ao silêncio administrativo, que, em regra, não produz efeitos.
Nesse sentido, o silêncio administrativo sequer poderia ser considerado ato administrativo por ausência de
exteriorização da vontade administrativa e, ainda que se considere o silêncio como ato, ele seria nulo por vício de
forma, mais precisamente quanto à motivação. Não obstante, o silêncio administrativo terá relevância jurídica
quando a lei assim estipular – caso em que pode ser considerado um fato jurídico administrativo, segundo as
lições de Celso Antônio Bandeira de Mello. Nesse sentido, é possível que a lei atribua à ausência de
manifestação da administração duas consequências distintas: de anuência tácita (manifestação positiva do
silêncio) ou mesmo de denegação do pedido do administrado. Por exemplo, o art. 12, § 1º, II, da Lei nº
10.522/2000, descreve que o pedido de parcelamento de dívida junto à Receita Federal do Brasil (RFB) será
“considerado automaticamente deferido quando decorrido o prazo de 90 (noventa) dias, contado da data do
pedido de parcelamento sem que a Fazenda Nacional tenha se pronunciado”. Nesse caso, temos uma anuência
tácita, ou seja, um efeito positivo do silêncio administrativo. Outro exemplo consta no art. 8º, parágrafo único, da
Lei nº 9.507/1997 (Lei do Habeas Data), que apresenta hipóteses em que o mero decurso do prazo, sem
pertinente decisão da Administração Pública, implica o indeferimento do pedido. Aqui, temos um exemplo de
efeito negativo do silêncio, isto é, uma manifestação denegatória.
Fonte: Caderno Estratégia Concursos – Noções de Direito Administrativo para TRF1; pg. 15.

5. Existem 3 hipóteses de restrições excepcionais ao princípio da legalidade, quais são elas? Elas
temperam o princípio da legalidade, não o afastam. Estão previstas na Constituição. Trata-se de um
abrandamento do princípio da legalidade, pois não há um procedimento para tanto. (estado de defesa,
estado de sítio e medida provisória)
A doutrina aponta três mitigações ao princípio da legalidade: medidas provisórias, Estado de Sítio e
Estado de Defesa. As medidas provisórias são atos com força de lei, que obrigam o administrado desde que
editadas dentro dos parâmetros constitucionais, ou seja, se presentes os requisitos da relevância e da urgência.
O estado de sítio e o estado de defesa, por seu turno, são decretados em momentos de anormalidade
institucional. Representam restrições ao princípio da legalidade porque são instituídos por decreto presidencial
que poderá obrigar o administrado, mesmo não sendo lei.
Fonte: https://www.ebah.com.br/content/ABAAAAKmAAK/resumo-direito-administrativo-1

6. Disserte acerca da autonomia administrativa do membro do MP e a sua autonomia funcional. Elas


coexistem ou uma deve preponderar sobre a outra?
(O examinador Marco Paulo elogiou o candidato em virtude da sua objetividade e disse que é isso que
eles querem dos candidatos. Que não fiquem enrolando muito. E que a resposta objetiva é melhor pra
pontuar).
A autonomia administrativa e funcional do MP enquanto instituição não se confunde com a independência
funcional e autonomia administrativa do membro do MP. A autônoma administrativa do MP está relacionada com a
prerrogativa de autogestão da instituição e sua autonomia funcional estabelece a não subordinação do órgão a
nenhum outro poder ou instituição. Lado outro, pelo princípio da independência funcional, membros do Ministério
Público possuem a garantia atuar livremente, somente rendendo obediência à sua consciência e à lei, não
estando vinculados às recomendações expedidas pelos órgãos superiores da Instituição em matéria relacionada
ao exercício de suas atribuições institucionais; Já, a autonomia administrativa dos membros do parquet é mais
restrita, uma vez que devem se submeter às decisões da cúpula da administração superior do órgão, ou seja, as
deliberações prolatadas pelo Procurador-Geral devem ser respeitadas, não havendo que se falar em da quebra
ou mitigação da independência funcional, pois relacionada com a atividade-meio do Órgão Ministerial.
Fonte: https://jus.com.br/artigos/31702/autonomia-do-ministerio-publico-especial/2

GRUPO TEMÁTICO II
Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
1. Em Morada Nova de Minas, um cidadão foi denunciado por possuir, em casa, uma arma de fogo com
registro vencido. No período até que o juiz recebesse a denúncia, o cidadão regularizou a situação da
arma. O promotor foi procurado pelo juiz que ponderou, dizendo que o registro havia sido regularizado,
questionando ao promotor se haveria algo a ser feito. O senhor acha que há algo que possa ser feito?
Esse exemplo pode ser considerado um exemplo de destipificação da conduta? O candidato falou em
crime de efeitos permanentes, e o examinador questionou: Por que efeitos permanentes?
Não há que se falar em destipificação no caso narrado, uma vez que o delito descrito no art. 12 da Lei n.
10.826/03 é crime de mera conduta, isto é, o fato de agente possuir a arma de fogo em desacordo com as
determinações legais já configura o delito, inexistindo resultado naturalístico. Nesse sentido, a regularização da
posse antes do recebimento da denúncia não tem o condão de afastar o crime. De todo modo, importante
destacar que, atualmente, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento consolidado no sentido de que “não
configura o crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003) a conduta do agente que
mantém sob guarda, no interior de sua residência, arma de fogo de uso permitido com registro vencido. Se o
agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do prazo é mera irregularidade administrativa que autoriza a
apreensão do artefato e aplicação de multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal” (INFO 572).
Fonte: Dizer o Direito

2. É possível falar em tentativa em crimes de mera conduta? Mas e se eu arrombar a porta de uma casa
para invadi-la e a polícia chegar? E se eu estiver com o dinheiro pra comprar a droga, tenho a intenção de
comprar a droga, abordo quem vende a droga, peço um desconto, que não é dado, e eu desisto de
comprar a droga. Nesse caso, configura-se a tentativa? Existe desistência voluntária em crime de mera
conduta? Arrependimento eficaz é cabível em crime de mera conduta?
Não cabe tentativa nos crimes unisubsistentes, isto é, aqueles em que não se pode fracionar a conduta.
Nesse sentido, será cabível a tentativa em crime de mera conduta desde que se trate de crime plurissubsistente,
como é o caso do crime de violação de domicílio (art. 150, CP). No caso da desistência em adquirir a droga, a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se consolidou no seguinte sentido: para que configure a conduta de
"adquirir", prevista no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, não é necessária a tradição do entorpecente e o pagamento
do preço, bastando que tenha havido o ajuste. Desse modo, é dispensável que a droga tenha sido entregue ao
comprador e o dinheiro pago ao vendedor, bastando que tenha havido a combinação da venda (INFO 569).
Todavia, o individuo desistiu da compra do entorpecente antes de se efetivar o ajuste, de modo que não houve
consumação do delito por voluntariedade do agente. Logo, incide, na hipótese, o benefício da desistência
voluntária, o qual afasta a tipicidade da tentativa. Nesse sentido, é possível desistência voluntária em crimes de
mera conduta, quando plurissubsistentes. Noutro giro, não é cabível a arrependimento eficaz em crimes de mera
conduta, uma vez que, encerrada a execução, o crime já está consumado, não havendo resultado naturalístico a
ser evitado (CAPEZ, 2007, P. 249).

3. Qual a consequência penal do erro determinado por terceiro? E se ele agir sem dolo? E a pessoa que
foi induzida a erro? Mas e se ela agir com dolo? (É levada a equívoco e age com dolo na conduta)
No erro determinado por terceiro, previsto no artigo 20, §2º, do Código Penal, temos um erro induzido,
figurando dois personagens: o agente provocador e o agente provocado. Trata-se de erro não espontâneo que
leva o provocado à prática do delito. É hipótese de autoria mediata, em que o autor mediato (agente provocador)
responde pelo crime, enquanto o autor imediato (provocado) fica isento de pena, caso seja o erro desculpável.
Sendo o equívoco inescusável, o seu autor imediato responderá por culpa. A ausência de dolo por parte do
terceiro que determina o erro exclui o crime, a não ser que ele (agente provocador – terceiro) tenha agido
culposamente, por imprudência, negligência ou imperícia, hipótese em que lhe será imputado o delito culposo
praticado pelo indivíduo provocado. Nesse caso, se ficar comprovado que o equívoco era inescusável, o seu autor
imediato responderá também por culpa. Quanto à última indagação, se o autor imediato, ao perceber a manobra
criminosa engendrada pelo agente provocador, querer ou aceitar o resultado, levando a cabo a conduta,
responderá pelo crime na forma dolosa.
Fonte: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/07/13/o-que-e-erro-determinado-por-terceiro/ e
https://jus.com.br/artigos/58883/o-estudo-da-teoria-do-erro-no-direito-penal/3

Processo Penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Ponto: Prisão processual e liberdade provisória

1. A decretação da prisão temporária é possível para todos os crimes? Quais as hipóteses de cabimento?
(Há 3 incisos) Qual a justificativa doutrinária para a restrição aos crimes previstos em legislação
específica?
A prisão temporária é espécie e prisão cautelar cabível na fase de investigação do inquérito policial,
cabível em hipóteses específicas delineadas em lei. Segundo a Lei n. 7.960/89, a prisão temporária é cabível: (i)
quando for imprescindível para as investigações do inquérito policial; (ii) quando o indicado não tiver residência
fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; (iii) quando houver fundadas
razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos
crimes de homicídio, sequestro, roubo, estupro, tráfico de drogas, crimes contra o sistema financeiro, entre outros.
Se interpretarmos a lei de maneira literal e exigirmos a presença dos três incisos, a decretação da prisão
temporária fica quase impossível. Por outro lado, se exigirmos a presença de apenas um dos incisos, a prisão
temporária fica banalizada. A solução encontrada pela doutrina e pela jurisprudência adota duas combinações
possíveis para autorizar a prisão preventiva. Nessa linha, devem ser combinados os incisos I e III ou os incisos II
e III. Por envolver uma situação que afeta o estado de liberdade das pessoas, o rol dos crimes que admitem
prisão temporária é taxativo e demanda uma interpretação restritiva. No entanto, os crimes passíveis de prisão
temporária não se restringem ao inciso III da Lei n. 7.960/89, uma vez que a dos Crimes Hediondos (8.072/90),
também possui um rol de delitos, os quais se submetem à prisão temporária, inclusive com prazo mais elastecido,
de 30 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade, como, por exemplo, os
crimes de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º, CP), falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, CP) e posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei n. 10.826/03).
Fonte: https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/geral/prisao-temporaria-como-funciona-e-quando-pode-ser-
decretada

2. Uma legislação recente alterou a questão da prisão preventiva. Argumente sobre o cabimento e os
requisitos para a sua decretação.
A decretação da prisão preventiva deve atender aos pressupostos do fumus comissi delicti (prova da
materialidade e indícios de autoria da prática de infração penal) e do periculum libertatis, fundamentado em uma
hipóteses do art. 312 do CPP, quais sejam, garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica,
conveniência da instrução criminal e descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras
medidas cautelares. No mais, a privação da liberdade do indivíduo por meio da prisão preventiva exige que os
referidos pressupostos sejam conjugados com as hipóteses de admissibilidade previstas no art. 313 do CPP:
crimes dolosos punidos com pena máxima superior a 4 anos OU na hipótese de o acusado ser reincidente OU
quando o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência OU, por fim, quando houver
dúvida sobre a identidade civil da pessoa.
Fonte: CPP e Renato Brasileiro

3. Diferencie flagrante preparado, flagrante esperado e flagrante diferido. O flagrante diferido é previsto
para qual tipo de delito?
No flagrante preparado, o autor é induzido à prática do delito por obra de um agente provocador. Trata-se
de hipótese ilegal, identificada pela jurisprudência como crime impossível, devido à ineficácia absoluta do meio,
nos termos da Súmula n. 145 do Supremo Tribunal Federal. O flagrante esperado, por sua vez, é possível, pois
nele a autoridade policial apenas se limita a aguardar o momento da prática do delito. Diversamente, o flagrante
diferido ou prorrogado, também denominado de ação controlada na Lei de Organizações Criminosas (Lei
12.850/13), consiste no retardamento da intervenção policial, a qual deve se dar no momento mais oportuno sob o
ponto de vista da colheita de provas. Esse tipo de flagrante encontra previsão expressa para os crimes tráfico de
drogas (art.53, II, da Lei n. 11.343/06) e lavagem de capitais (art. 4º-B da Lei n. 9.613).
Fonte: http://ww3.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20100824200321455&mode=print

4. O CPP fala em liberdade provisória, com fiança e sem fiança. Quais as possibilidades para a liberdade
provisória sem fiança? Ela tem alguma vinculação ou é concedida pura e simplesmente? O CPP prevê a
concessão de liberdade provisória pura e simples?
De acordo com a sistemática introduzida pela Lei n. 12.403/11, a liberdade provisória pode assumir
natureza de medida de contracautela, substituindo a prisão cautelar, ou pode ter natureza de medida cautelar
autônoma, aplicada mediante imposição de uma ou mais medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do
CPP). A liberdade provisória pode ser concedida sem fiança, por exemplo, quando o preso possuir situação
econômica desfavorável. Nesse caso, o art. 350 do CPP estabelece que, nas hipóteses em que couber fiança, o
juiz poderá conceder ao preso em situação de pobreza a liberdade provisória sem fiança, sujeitando-o às
obrigações do art. 327 e 328 do CPP, além de outras medidas cautelares, se for o caso. Outra hipótese de
liberdade provisória sem fiança está descrita no art. 310, parágrafo único, do CPP e deve ser concedida pelo juiz
quando verificar que o agente praticou o fato acobertado por excludente de ilicitude. Nesse caso, a liberdade
provisória é cabível tanto em relação aos crimes afiançáveis quanto no tocante aos inafiançáveis, porém, é
condicionada ao comparecimento do acusado a todos os atos do processo, sob pena de revogação. No entanto,
segundo o art. 314 do Diploma Processual Penal, em nenhum caso será decretada a prisão preventiva se o juiz
verificar ter o agente praticado o fato ao abrigo de uma causa excludente da ilicitude. Assim, forçoso concluir que,
mesmo que o agente deixe de comparecer a determinado ato do processo, a liberdade provisória concedida com
fundamento no art. 310, parágrafo único, do CPP, não poderá ser revogada, pois incabível a prisão preventiva.
Essa seria, portanto, uma hipótese de concessão de liberdade provisória pura e simples.
Fonte: Renato Brasileiro, 2ª Ed., 2014, pg. 993-998.

GRUPO TEMÁTICO III

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Ponto: Alimentos

1. O art. 1700, CC prevê que a obrigação de prestar alimentos transmite-se ao sucessor na forma do art.
1690. O que o senhor acha dessa transmissibilidade? Você acha que haveria uma intransmissibilidade?
Quando o senhor diz que transmite a obrigação, seria a obrigação em si ou uma dívida? O senhor entende
que mesmo quanto a essa afirmação existe uma controvérsia, né?
Inicialmente, é preciso reconhecer que há forte crítica doutrinária quanto à transmissibilidade da
obrigação de prestar alimentos aos herdeiros do devedor, posto que essa seria uma obrigação personalíssima.
Entretanto, pela literalidade do art. 1.700 do CC, a obrigação seria transmissível.
Seguindo a linha adotada pelo legislador - a da transmissibilidade da obrigação alimentar -, buscou a
doutrina a compatibilização entre essa transmissibilidade a característica de ser a obrigação alimentar
personalíssima, chegando à conclusão de que “a transmissibilidade da obrigação alimentar é limitada às forças da
herança.” (Enunciado n. 343 do CJF)

2. Que vínculos jurídicos autorizam a obrigação alimentar? Dentro do direito de família exclusivamente.
(Vínculo de casamento e união estável, parentesco(ascendentes e descentes) e dever de sustento –
resposta do examinador)

3. Diferencie alimentos provisórios, provisionais e definitivos. O senhor saberia indicar a distinção em


termos de composição de elementos (não é distinção processual), entre alimentos xxxxx. O que são
alimentos ad lidem, eles são alimentos provisórios ou provisionais? (Não consegui entender, o
examinador falou fora do microfone e não repetiu na vez do segundo candidato)
Alimentos provisórios: fixados antes da sentença na ação de alimentos que segue o rito especial previsto
na Lei n. 5.478/1968. Exigem prova pré-constituída do parentesco (certidão de nascimento) ou do casamento
(certidão de casamento). Têm natureza de antecipação dos efeitos da tutela (tutela de urgência satisfativa).
Pontue-se que a citada lei especial ainda tem aplicação em alguns de seus preceitos, tendo sido revogados pelo
NCPC apenas os seus arts. 16 a 18. Sendo assim, a presente classificação ainda tem repercussão prática.
Alimentos provisionais: estipulados em outras ações que não seguem o rito especial mencionado,
visando manter a parte que os pleiteia no curso da lide (ad litem). São fixados por meio de antecipação de tutela
ou em liminar concedida em medida cautelar de separação de corpos em ações em que não há a mencionada
prova pré-constituída, caso da ação de investigação de paternidade ou de reconhecimento e dissolução de união
estável. Dispõe o art. 1.706, CC, que “os alimentos provisionais serão fixados pelo juiz, nos termos da lei
processual”. Também têm natureza satisfativa, antecipando os efeitos da sentença definitiva.
Alimentos definitivos: fixados definitivamente, por meio de acordo de vontades ou de sentença judicial já
transitada em julgado. A Lei n. 11.441/2007 possibilitou que esses alimentos sejam fixados por escritura pública,
quando da separação ou do divórcio extrajudiciais, o que foi mantido pelo NCPC. Apesar da denominação
“definitivos”, podem ser revistos se ocorrer alteração substancial no binômio ou trinômio alimentar, cabendo
majoração, diminuição ou exoneração do encargo (art. 1.699, CC).

4. São cabíveis alimentos temporários? São devidos apenas entre cônjuges?


Sim, são cabíveis. Os alimentos temporários são aqueles fixados por determinado período de tempo,
fixando-se previamente o seu termo final, e abrange não apenas o ex-cônjuge, mas também o ex-companheiro.

5. Quais são as 2 sanções pelo inadimplemento da obrigação alimentar? Se caracteriza crime, qual é o
crime? ( crime de abandono material)
Incorrendo o alimentante em inadimplemento da obrigação alimentar, o Juiz poderá mandar protestar o
pronunciamento judicial, bem como decretar sua prisão pelo prazo de 1 a 3 meses, a teor do que dispõe o art.
528 do CPC.
Além disso, o inadimplemento alimentar poderá configurar o crime de abandono material.

Processo Civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva

1. No seu entendimento existe foro privilegiado por prerrogativa de função para processar e julgar as
ações de improbidade?
Entendo que não há que se falar em foro por prerrogativa de função para processar e julgar ações de
improbidade.
Inicialmente, é preciso lembrar que a competência por prerrogativa de função é estabelecida pela
Constituição Federal de forma taxativa e, quanto às Constituições Estaduais, só é possível que se estabeleça foro
privilegiado em situações simétricas às previstas na órbita federal. Assim, tendo em conta a natureza cível da
ação de improbidade administrativa, bem como a ausência de dispositivo constitucional quanto ao foro por
prerrogativa nas ações dessa natureza, não há como se sustentar o foro privilegiado nesses casos.
Ademais, é preciso salientar que o foro por prerrogativa de função é uma exceção ao princípio da
igualdade e, portanto, deve ser interpretado de maneira restritiva.

2. Quais os requisitos específicos da petição inicial na ação de improbidade?


Conforme o art.17, §6º da LIA, a inicial da ação de improbidade deverá ser instruída com documentos ou
justificação que contenham indícios suficientes da existência do ato de improbidade ou com razões
fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas.

3. Como se dá o contraditório no âmbito da lei de improbidade administrativa? O senhor conhece


jurisprudência de uma eventual não oportunidade de que o réu não apresente defesa previa? Trata-se de
nulidade absoluta?
O contraditório deve ser respeitado no âmbito da Lei de Improbidade Administrativa e, inicialmente, se dá
anteriormente ao recebimento da inicial pelo Juízo, oportunidade em que o requerido poderá se manifestar e
oferecer documentos e justificação, visando o não prosseguimento do feito.
Posteriormente, com o recebimento da inicial, deve o requerido ser citado para apresentação de sua defesa.
No caso de inobservância da defesa preliminar do requerido na ação de improbidade administrativa, há
entendimento do STJ no sentido de que tal nulidade é de natureza relativa, dependendo, pois, da prova do
prejuízo e de alegação em momento oportuno.

4. Quais são os legitimados ativos e passivos para a ação de improbidade administrativa? Particular pode
ser tanto autor quanto réu na ação de improbidade?
São legitimados ativos para a ação de improbidade administrativa, conforme dispõe o art. 17 da LIA, o
Ministério Público e a pessoa jurídica interessada (a própria pessoa jurídica lesada pelo ato ímprobo).
Os legitimados passivos, por seu turno, são o agente público responsável pela prática do ato ímprobo, a
pessoa jurídica a quem esse ato lesa e eventual terceiro particular envolvido.

5. Acerca das medidas acautelatórias, quais são essas medidas que podem ser feitas no bojo dessa lei, e,
mais especificamente, o que deve constar do pedido dessas medidas?
As medidas cautelares previstas na LIA são o sequestro dos bens do agente ou terceiro particular, bem
como a indisponibilidade de seus bens.
Requisitos. De acordo com o art. 294 novo CPC, a tutela provisória cautelar pode fundamentar-se em
urgência ou evidência. A tutela cautelar de urgência, nos termos do art. 300413 do novo CPC, tem como
requisitos: a) o fumus boni iuris e b) o periculum in mora. Já a tutela cautelar de evidência dispensa a
demonstração do periculum in mora, sendo cabível nas hipóteses elencadas no art. 311414 do novo CPC. A
semelhança da medida de indisponibilidade de bens, o sequestro decorre do poder geral de tutela provisória,
exigindo a presença dos requisitos comuns a todas as medidas cautelares.
O fumus boni iuris estará atendido quando demonstrada, por qualquer meio idôneo, a verossimilhança da
alegação da prática de ato de improbidade administrativa.
Há controvérsia sobre a necessidade de demonstração do periculum in mora para a decretação de
medida cautelar de sequestro. Como visto, na medida de indisponibilidade de bens, prevalece o entendimento de
que o periculum in mora estaria ínsito ao comando normativo do art. 7º da Lei nº 8.429/92. Em face disso, fala-se
que a indisponibilidade de bens na ação de improbidade administrativa não configura uma típica tutela de
urgência, mas sim de uma tutela de evidência, uma vez que bastaria a demonstração da verossimilhança da
alegação da prática de ato de improbidade administrativa. Dispensa-se, assim, a prova, no caso concreto, do
pericu/um in mora, sendo desnecessário, portanto, que o autor demonstre que o réu está pretendendo desfazer-
se ou efetivamente está se desfazendo de seus bens. (Coleção leis especiais para concursos: Improbidade
administrativa).

6. Um presidente de uma comissão de licitação, em que um inquérito aponta irregularidades, pode ser
afastado apenas em relação a essa função na comissão? Esse entendimento decorre da lei ou é uma
jurisprudência acerca desse tema?
Sim, isso é possível. Conforme o parágrafo único do art. 20 da LIA, “a autoridade judicial ou
administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou
função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.”
Assim, a lei é expressa em permitir o afastamento do agente de determinada função apenas. Ademais, é
de se ter em conta que a determinação de afastamento do cargo é tida pela Jurisprudência como excepcional,
sendo possível a sua incidência somente nos casos em que se revele necessária para apuração dos fatos.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito material coletivo


Examinador: Dr. Carlos Alberto Valera
Ponto: Acesso a educação, saúde, consumo - direitos e garantias

1. Identifique no texto constitucional institutos que dão concretude ao princípio da igualdade sob a
perspectiva do acesso à saúde e à educação.
Art. 206, CF. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições
para o acesso e permanência na escola;
Art. 196, CF. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
O art. 206, I, CF, garante a todos a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
O art. 196, CF, assegura o acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção da saúde.
2. Há prestações de assistência estatal submetidas ao RGPS (regime geral de prev. Social) e outras que se
submetem a princípios específicos. Quais as diferenças entre elas? Lembrar da LOAS para conseguir
pontuar a diferença. (no RGPS há seletividade e distributividade e no outro universalidade).
O regime geral de previdência social, conforme dispõe o art. 201 da CF, possui caráter contributivo; ao
passo que a assistência social, a teor do art. 203, CF, independe de contribuição.
Além disso, enquanto nos benefícios de assistência social vige o princípio da universalidade (art. 1º, a,
Lei n. 8.212/91), no sistema previdenciário só é possível a sua concessão para os contribuintes.

3. A responsabilidade pela assistência à saúde nos casos de tratamento oncológico é exclusiva da União.
Se um grupo procura você, como promotor, em busca um medicamento não fornecido pelo hospital, o
que o senhor faria para debelar esse problema? (o candidato falou em ACP e foi questionado: ACP? Qual
juízo?)
Nesse caso, seria possível o ingresso com ACP visando o fornecimento do medicamento pelo Estado.
Inicialmente, é preciso lembrar que o direito à saúde é um direito humano, de relevância pública e social,
sendo dever do Estado promovê-lo.
Assim, há uma atribuição direta, clara e específica que confere ao Ministério Público a função de zelar
pelo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição,
promovendo as medidas necessárias à sua garantia, o que abrange o direito à saúde.
Por fim, saliente-se que o STF, em sede de repercussão geral, firmou orientação no sentido de que o MP
é parte legítima para propor ação civil pública na defesa de interesses individuais indisponíveis de pessoa
individualmente considerada, como ocorre com o direito à saúde (RE 605533/MG).

4. Acesso à educação, saúde e moradia versus reserva do possível. Como se resolve isso no aspecto
prático? (O examinador disse que falou falar da dignidade da pessoa humana)
O acesso à educação, a saúde e o direito à moradia são garantidos constitucionalmente e se
caracterizam por demandarem do Estado gastos de ordem financeira para sua concretização. Assim, não raras
vezes o gestor público alega, em face da violação dos mencionados direitos, a reserva do possível.
De acordo com a noção de reserva do possível, a efetividade dos direitos sociais a prestações materiais
estaria sob a reserva das capacidades financeiras do Estado, uma vez que seriam direitos fundamentais
dependentes de prestações financiadas pelos cofres públicos.
Entretanto, em se tratando de direitos básicos e que se ligam ao núcleo da própria noção de dignidade
da pessoa humana e de mínimo existencial, não há como o administrador se valer da mencionada alegação, sob
pena de se lesar as condições mínimas de existência e de dignidade da pessoa humana.

Direito processual coletivo


Examinador: Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Ponto: Ação popular(AP) em defesa de interesses metaindividuais

1. Qual o objeto específico da Ação Popular? Há uma questão primordial – anular o ato lesivo.
Nos termos do art. 1º da Lei n. 4.717/65 e do art. 5º, LXIII da CF, o objeto específico da ação popular é a
anulação ou declaração de nulidade ao ato lesivo ao patrimônio público.

2. Na Lei de AP, os arts. 2º e 3º falam que são nulos os atos lesivos, já o 4º traz outros atos nulos sem
dizer que são lesivos. Dentro de ônus da prova, como resolver a questão? Nos casos dos 3 artigos há
necessidade de demonstração da lesividade pelo autor? (Segundo o examinador, no caso existe uma
presunção iuris tantum de lesividade no art. 4º) É possível que o réu produza uma prova de não
lesividade?
O art. 2º da LAP elenca uma série de vícios dos atos administrativos que, quando ocorrem, acabam por
acarretar a nulidade dos atos praticados. Essa nulidade, todavia, depende que se demonstre a lesividade do ato,
exatamente nos termos do próprio art. 2º (“São nulos os atos lesivos…”).
O art. 3º da LAP, por sua vez, trata dos vícios que tornam os atos administrativos anuláveis e, conforme
dicção do mencionado dispositivo legal, nesse caso também há que se comprovar a lesividade do ato inquinado
(“Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou privado…).
O art. 4º, por fim, elenca uma série de atos administrativos nulos que, por força de lei tem sua lesividade
presumida. Portanto, a disciplina aqui é distinta daquela do art. 2.º, em que, além de demonstrar que o ato contém
um dos vícios apontados na lei, deve-se esclarecer qual é a sua lesividade, ou seja, apontar qual o dano por ele
já causado, ou explicar por que razão, em sendo ele mantido, há sério risco de que um dano seja gerado.

3. Na AP, quem detém a legitimidade ativa e como isso se comprova? E o MP como atua nessa ação?
A legitimidade ativa para a propositura da Ação Popular é do cidadão, sendo que a prova da cidadania
será feita pelo título de eleitor ou outro documento que a ele corresponda.
Nessa ação, a atuação ministerial se dará como fiscal do ordenamento jurídico. Entretanto, em caso de
desistência da ação pelo autor ou caso ele dê motivo a absolvição de instância, caberá ao Ministério Público
prosseguir com a ação.

4. Com relação ao que diz o art. 6º, § 4º, da Lei da AP, o Mp não pode se manifestar pela improcedência da
ação?
A parte final do art. 6º, § 4º, LAP, afirma ser vedado ao Ministério Público, “em qualquer hipótese, assumir
a defesa do ato impugnado ou dos seus autores”. Esse dispositivo deve ser interpretado com cautela.
Primeiramente, atente-se que a norma proíbe que o Ministério Público sustente, no mérito, a validade do
ato impugnado, ou a ausência de responsabilidade dos seus autores. Não impede, porém, que ele aponte a
presença de uma questão processual de ordem pública contrária aos interesses do autor, como, por exemplo, a
ausência de uma condição da ação, ou de um pressuposto processual.
De outro lado, mesmo no tocante ao mérito, diante do atual perfil do Ministério Público na Constituição de
1988, não é possível impedi-lo de posicionar-se pela improcedência da ação.
Afinal, a Lei Maior incumbiu-lhe da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput), de modo que tais deveres constitucionais sobrepõem-se à
vedação legal. Ademais, a Constituição ainda proclamou ser princípio institucional do Ministério Público a
independência funcional (art. 127, parágrafo único), não estando adstrito, portanto, ao entendimento do autor
popular.
Frise-se, aliás, não ser raro o ajuizamento de ações populares contrárias à ordem jurídica e ao interesse
social, movidas não por interesses altruísticos, mas político-partidários. Em casos que tais, seria flagrantemente
contrário à Constituição forçar o Ministério Público a alinhar-se ao autor, em contrariedade aos interesses que
cumpre à instituição defender.

5. Qual a natureza da sentença de procedência da ação? (condenatória, ressarcitória e desconstitutiva –


segundo o examinador)
Conforme art. 11 da LAP, “a sentença que, julgando procedente a ação popular, decretar a invalidade do
ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua prática e os beneficiários
dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de dano, quando incorrerem em culpa.”
Desse modo, além de constitutiva negativa (desconstitutiva), a sentença possui claro teor
condenatório/ressarcitório.
Dia 08 - Ponto 14 – Ana Watanabe e Jorge

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional
Examinador: Dr. Fabiano Ferreira Furlan
Ponto: Preâmbulo da CRFB, defesa do estado e das instituições democráticas e prestação de contas de
campanhas eleitorais.

1) Posso dizer que uma lei é inconstitucional por ser contrária ao preâmbulo? Ele seria parâmetro pra
quê? Ele não tem valor jurídico?
Conforme Jorge Miranda (citado pelo STF na ADI 2076), existem três correntes doutrinárias sobre a
relevância jurídica do preâmbulo: (i) Tese da irrelevância jurídica: o preâmbulo não se situa no domínio do Direito,
situa-se no domínio da política; (ii) Tese da plena eficácia: o preâmbulo também é um conjunto de normas
jurídicas, ainda que sob forma não articulada, encontrando-se em pé de igualdade com as demais disposições
constitucionais; e (iii) tese da relevância jurídica indireta: tese intermediária, entende que embora o preâmbulo
“participe das características jurídicas da Constituição”, não deve ser confundido com os preceitos normativos.
O STF (ADI 2076, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2002)
entendeu que “o preâmbulo (...) não se situa no âmbito do Direito, mas no domínio da política, refletindo posição
ideológica do constituinte. (...) Não contém o preâmbulo, portanto, relevância jurídica. O preâmbulo não constitui
norma central da Constituição, de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro. O que acontece é
que o preâmbulo contém, de regra, proclamação ou exortação no sentido dos princípios inscritos na Carta:
princípio do Estado Democrático de Direito, princípio republicano, princípio dos direitos e garantias, etc. Esses
princípios, sim, inscritos na Constituição, constituem normas centrais de reprodução obrigatória”.
Não há, assim, inconstitucionalidade por violação ao parâmetro em si mesmo, mas pode haver
“inconstitucionalidade por desconcerto com princípio mencionado pelo Preâmbulo e positivado no corpo da
Constituição” (Curso de Direito Constitucional”, Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco, 12ª ed., São
Paulo: Saraiva, 2017, p. 77). É certo, porém, que o preâmbulo tem relevante papel no âmbito da interpretação e
aplicação do direito constitucional, já que revela as linhas estruturantes da Constituição e os objetivos que movem
a sua concepção, além de servir como reforço argumentativo em decisões de adjudicação de direitos.

2.1) Quem pode decretar o Estado de Sítio? Em quais situações?


Quem decreta o Estado de Sítio é o Presidente da República, após ouvir o Conselho da República e o
Conselho de Defesa Nacional, e mediante autorização do Congresso Nacional.
Pode ser decretado em caso de: (i) comoção grave de repercussão nacional; (ii) ocorrência de fatos que
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; (iii) declaração de estado de guerra ou
resposta a agressão armada estrangeira.

2.2) E se fosse um movimento armado interno?


Conforme Walter Claudius Rotheburg, “somente a agressão (potencial ou efetiva) à ordem constitucional,
e de modo grave, ou seja, com fortíssima intensidade, é que autoriza a decretação dos estados de defesa ou de
sítio. Violações pontuais e de gravidade relativa devem encontrar resposta adequada nos mecanismos ordinários
de proteção da Constituição, do Estado e das instituições democráticas (controle de constitucionalidade,
intervenção, emprego das forças armadas ou dos órgãos de segurança pública etc.). Há uma nota de
subsidiariedade: os estados de exceção somente podem ser sacados quando os meios coercitivos normais não
derem conta da situação.” (“Comentários à Constituição do Brasil”/J. J. Gomes Canotilho [et al.], Outros autores e
coordenadores: Ingo Wolfgang Sarlet, Lenio Luiz Streck, Gilmar Ferreira Mendes, São Paulo: Saraiva, 2013, p.
3343)
Assim, no caso do movimento armado interno, poderá se cogitar a decretação do estado de defesa ou de
sítio, caso outros mecanismos previstos na Constituição não sejam suficientes para superar a situação. Neste
ponto, a depender do caso concreto, menciona-se a possibilidade de eventual decreto de intervenção federal com
fulcro no art. 34, I (“manter a integridade nacional”) e III (“por termo a grave comprometimento da ordem pública”).
Note-se também a possibilidade de um movimento armado interno permitir a decretação do estado de
defesa, cabível “para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública
ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional” (art. 136, caput, CF). Segundo o
mesmo autor, “nenhuma diferença essencial entre os estados de defesa e de sítio, visto que se trata de espécies
de um mesmo gênero, que diferem, basicamente, quanto à intensidade da crise, pelo que as medidas adotadas
no estado de sítio podem ser mais amplas e severas: diz-se do estado de defesa que seria um ‘estado de sítio
mitigado’”. Porém, ressalva-se que, como asseverado, o estado de sítio pode vir a ser decretado quando
ineficazes as medidas tomadas durante o estado de defesa.

2.3) Em razão das eleições falam em separação do Brasil. Seria uma possibilidade?
A possibilidade de separação do Brasil é hipótese em que se admite a decretação de intervenção federal
(art. 34, I, CF). Assim, seguindo o mesmo raciocínio exposto na questão 2.4, apenas se poderia cogitar em
decretação de estado de sítio ou de defesa, caso a medida da intervenção federal não se mostre suficiente para a
superação da crise.

3) As mulheres estão sujeitas à prestação de serviço militar? E em tempo de guerra?


Conforme art. 143, caput, da CRFB, o serviço militar é obrigatório nos termos da lei. Todavia, determina o
§2º que, em tempo de paz, as mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório, sujeitando-
se, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. A contrario sensu, em caso de guerra, sujeitam-se à
prestação de serviço militar obrigatório.

Eleitoral

4.1) Quem está sujeito à prestação de contas em razão das eleições?


Os candidatos e partidos políticos estão sujeitos à prestação de contas de campanha eleitoral, conforme
art. 48 da Res.-TSE nº 23.553/17:
“Art. 48. Devem prestar contas à Justiça Eleitoral:
I - o candidato;
II - os órgãos partidários, ainda que constituídos sob forma provisória:
a) nacionais;
b) estaduais;
c) distritais; e
d) municipais.”
Rodrigo Zílio ressalta que “a obrigação de prestar contas de campanha eleitoral é exigível ao partido
político individualmente, ainda que ele concorra coligado a uma dada circunscrição” (“Direito eleitoral, 6ª ed.,
Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2018, p. 554). De toda sorte, vale lembrar obrigação imposta aos candidatos,
partidos políticos e coligações pelo art. 28, §4º, da Lei de Eleições:
“Art. 28, § 4o Os partidos políticos, as coligações e os candidatos são obrigados, durante as campanhas
eleitorais, a divulgar em sítio criado pela Justiça Eleitoral para esse fim na rede mundial de computadores
(internet): (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)
I - os recursos em dinheiro recebidos para financiamento de sua campanha eleitoral, em até 72 (setenta
e duas) horas de seu recebimento; (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015)
II - no dia 15 de setembro, relatório discriminando as transferências do Fundo Partidário, os recursos em
dinheiro e os estimáveis em dinheiro recebidos, bem como os gastos realizados. (Incluído pela Lei nº 13.165,
de 2015)”

(A candidata falou em prestação de contas pelo candidato quando não há comitê econômico do partido, do que
decorreu a próxima pergunta)

4.2) O próprio candidato presta contas?


Com a reforma trazida pela Lei nº 13.165/15, passaram as prestações de contas dos candidatos às
eleições majoritárias e às eleições proporcionais a serem feitas pelos próprios candidatos, conforme art. 28, §§1º
e 2º, da Lei de Eleições, e não mais pelos comitês financeiros.
Ressalta-se, porém, que a administração financeira da campanha pode ser feita pelo candidato,
diretamente ou por intermédio de pessoa por ele designada (art. 20 da Lei de Eleições). O candidato é
solidariamente responsável com tal pessoa designada pela veracidade das informações financeiras e contábeis
da campanha, devendo ambos assinar a respectiva prestação de contas (art. 21 da Lei de Eleições).

4.3) E para quem são prestadas as contas?


As contas são prestadas à Justiça Eleitoral (art. 30 da Lei de Eleições).

4.4) O que ocorre com o candidato que não presta contas? Ele fica sem quitação eleitoral?
Conforme art. 30 da Lei de Eleições, a Justiça Eleitoral pode decidir pela aprovação das contas, pela
aprovação com ressalvas, pela desaprovação ou “pela não prestação, quando não apresentadas as contas após
a notificação emitida pela Justiça Eleitoral, na qual constará a obrigação expressa de prestar as suas contas, no
prazo de setenta e duas horas”.
A inobservância do prazo para encaminhamento das prestações de contas impede a diplomação dos
eleitos, enquanto perdurar (art. 29, §2º, Lei das Eleições).
Além disso, prevê o art. 83 da Res.-TSE nº 23.553/17 que, no caso de não prestação de contas, o
candidato fica impedido de obter a certidão de quitação eleitoral:
“Art. 83. A decisão que julgar as contas eleitorais como não prestadas acarreta:
I - ao candidato, o impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral até o final da legislatura, persistindo os
efeitos da restrição após esse período até a efetiva apresentação das contas;
II - ao partido político, a perda do direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário e a suspensão do registro
ou da anotação do órgão de direção estadual ou municipal.

4.5) Admite-se a prestação de contas parcial, antes da eleição? E como é feita a prestação de contas
parcial?
A prestação de contas parcial está prevista no art. 28, §4º, da Lei de Eleições, que estabelece a
obrigação de partidos, coligações e candidatos, durante as campanhas eleitorais, divulgarem em sítio criado pela
Justiça Eleitoral para esse fim: (i) os recursos em dinheiro recebidos para financiamento de sua campanha
eleitoral, em até 72 horas de seu recebimento; (ii) no dia 15 de setembro, relatório discriminando as transferências
do Fundo Partidário, os recursos em dinheiro e os estimáveis em dinheiro recebidos, bem como os gastos
realizados.
Para as eleições de 2018, o TSE acrescentou a necessidade de as transferências do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha (FEFC) serem discriminadas nesse relatório parcial (art. 50, II, da Res.-TSE nº
23.553/17).
Conforme art. 50, §1º, da mesma Resolução, a prestação de contas parcial deve ser feita em meio
eletrônico, por intermédio do programa SPCE (sistema de prestação de contas eleitorais), disponibilizado pela
Justiça Eleitoral em sua página na internet

4.6) Qual o instrumento utilizado para a formatação da prestação? A candidata respondeu que de maneira
contábil e o examinador questionou: Por livro?
Conforme arts. 57 e 58 da Res.-TSE nº 23.553/17, a elaboração da prestação de contas deve ser feita e
transmitida por meio do SPCE, disponibilizado na página da Justiça Eleitoral na internet, encaminhando-se à
Justiça Eleitoral por meio eletrônico.

5) A senhora atua numa comarca que tem mais de um município; você percebe que o candidato a prefeito
apresentou prestação de contas alegando ausência de movimentação financeira, um caso de fraude.
Como você agiria nesse caso? Só requisição de informação bancária?
O processo da prestação de contas está regulado nos arts. 59 e seguintes da Res.-TSE nº 23.553/17. É
possível a impugnação pelo Ministério Público, no prazo de 3 dias da apresentação das contas finais (art. 59,
caput).
Todavia, uma vez que há indício de fraude na prestação de contas em decorrência de falsa alegação de ausência
de movimentação financeira, pode-se cogitar a ocorrência de ilícito eleitoral que permite o ajuizamento da
representação pelo art. 30-A da Lei de Eleições, relativa à arrecadação e gastos de recursos. Neste sentido:
“ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
JUDICIAL ELEITORAL. ART. 30-A DA LEI 9.504/97. PREFEITO E VICE-PREFEITO ELEITOS. DECISÃO.
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. PROCEDÊNCIA.
1. O magistrado é o destinatário da prova, cumprindo-lhe valorar sua necessidade. Em regra, tal
procedimento não configura cerceamento de defesa, pois cumpre ao juiz, no exercício do seu poder-dever de
condução do processo, a determinação das provas necessárias à instrução deste e o indeferimento das
diligências inúteis ou meramente protelatórias.
2. Diante das premissas da decisão regional, que não podem ser revistas nesta instância especial
(Súmulas 279/STF e 7/STJ), revela-se não apenas a ausência de comprovação da origem dos recursos em
espécie que foram depositados na conta bancária de campanha - o que, por si só, e de acordo com a
proporcionalidade, poderia ser considerado -, mas também se infere a comprovação - admitida pelos agravantes -
de que os dados informados na prestação de contas (e nos recibos bancários e eleitorais) não correspondiam à
verdade.
3. A gravidade dos fatos que ensejaram o reconhecimento do ilícito do art. 30-A da Lei 9.504/97 não se
traduz apenas na não observância das regras que regem o financiamento das campanhas eleitorais, mas também
atinge a confiabilidade das informações prestadas pelo candidato à Justiça Eleitoral.
Agravo regimental a que se nega provimento.
Ação cautelar julgada prejudicada.”
(Recurso Especial Eleitoral nº 1720, Acórdão, Relator(a) Min. Maria Thereza de Assis Moura, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Volume , Tomo 216, Data 11/11/2016, Página 15/16)
Saliente-se que, apesar da omissão da lei, o TSE já reconheceu a legitimidade ativa do Ministério Público
para ajuizamento da representação do art. 30-A da Lei de Eleições (Recurso Ordinário nº 1.540, d.j. 28.04.2009).

6) A irregularidade da prestação de contas afeta o partido político?


Conforme art. 25 da Lei de Eleições, o partido que “descumprir as normas referentes à arrecadação e
aplicação de recursos fixadas nesta Lei perderá o direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário do ano
seguinte”. Ainda, “a sanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário, por desaprovação
total ou parcial da prestação de contas do candidato, deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável, pelo
período de 1 (um) mês a 12 (doze) meses, ou por meio do desconto, do valor a ser repassado, na importância
apontada como irregular” (parágrafo único).
Além disso, caso o partido político tenha suas contas julgadas como não prestadas, haverá a perda do
direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário e a suspensão do registro ou da anotação do órgão de
direção estadual ou municipal (art. 83, II, da Res.-TSE nº 23.553/17).

Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Prescrição e decadência
O examinador deixa claro que não há “pegadinha”, as questões são bem objetivas.

1) Existem regras para a prescrição das ações da administração pública contra o administrado?
Nas ações propostas pela Administração Pública para cobrança de créditos não tributários, o prazo
prescricional é de cinco anos, na forma do art. 206, § 5º, I, do CC, bem como pela aplicação analógica da
legislação administrativa que prevê o prazo quinquenal.
Quanto às ações propostas pelo Estado que objetivam o ressarcimento ao erário, decidiu o STF (RE
669069/MG) que é prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil
decorrente de acidente de trânsito (prazo de 3 anos, na forma do art. 206, §3º, V, do CC).
Em relação à improbidade administrativa, decidiu (RE 852475/SP) que são imprescritíveis as ações de
ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa.

2) Em que hipóteses pode ocorrer a suspensão do prazo prescricional? A senhora pode responder
exemplificando. Quais os institutos ou meios previstos em relação ao administrado, de que ele pode se
valer para buscar a suspensão do prazo prescricional? O recurso administrativo suspende? A reclamação
administrativa? E no Código Civil?
As hipóteses de suspensão do prazo prescricional previstas no Código Civil são:
“Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
Os recursos administrativos, entendidos como meio formal de impugnação de atos e comportamentos
administrativos (“Manual de Direito Administrativo”, José dos Santos Carvalho Filho, 32ª ed., São Paulo: Atlas,
2018, p. 1015), via de regra, têm efeito apenas devolutivo, salvo disposição legal expressa em sentido contrário.
Neste sentido, “se o recurso tem efeito meramente devolutivo, sua interposição não suspende nem interrompe o
prazo prescricional. (...) De outro lado, se o recurso tem efeito suspensivo, o ato impugnado fica com sua eficácia
suspensa até que a autoridade competente decida o recurso” (idem, p. 1021).
Conforme Carvalho Filho (p. 1019), no caso da reclamação administrativa, regulada no Dec. 20910/32,
sua interposição no prazo enseja a suspensão do prazo prescricional até a solução do pedido (art. 4º), mas a
suspensão só ocorre se a discussão versar sobre apuração de dívida da Fazenda.
Em relação ao pedido de reconsideração, não suspende nem interrompe a prescrição e também não
altera os prazos para a interposição de recursos hierárquicos (Súmula 430 do STF) (idem, p. 1020).
Ressalta-se que, em responsabilidade civil do Estado, “a prescrição da pretensão indenizatória não corre
quando a conduta ilícita supostamente perpetrada pela parte ré se originar de fato que, necessariamente, deva
ser apurado no juízo criminal” (AgInt no AREsp 971.779/PR).

3) A perda do direito de ação importará na perda do direito? Não, necessariamente ou não,


peremptoriamente? Dê um exemplo de hipótese em que a perda do direito não imporá a perda do direito
de ação? A pessoa que fez o pagamento sem saber que estava prescrita tem direito a repetição do
indébito? (a anotadora escreveu “não porque ela abriu mão do direito à prescrição”)
Tradicionalmente, identifica-se a perda do direito de ação como a prescrição (vide REsp 877.699/MT;
REsp 805.772/RS). Prescrição consiste na perda da pretensão, isto é, na perda da possibilidade de pleitear
aquele determinado direito.
Por isso, há parcela da doutrina que entende que a prescrição ataca a ação e, portanto, consiste
justamente na perda do direito de ação.
Contudo, para outra corrente doutrinária, seria incorreto dizer que a prescrição ataca a ação, porque o
direito de ação é garantido constitucionalmente.
Entendendo-se que a perda do direito de ação consiste em prescrição, a perda do direito de ação não
configura a perda do direito em si. A perda do direito consiste na decadência, instituto diverso. Logo, tem-se com
a prescrição apenas a perda da pretensão de cobrança judicial do direito subjetivo. Assim, caso o devedor pague
a dívida já prescrita, por exemplo, não poderá pleitear o respectivo ressarcimento, pois o credor ainda possuía o
direito de receber, apenas não poderia exigi-lo.
Na mesma linha, de que a perda do direito de ação não implica perda do direito, veja-se, por exemplo,
que as ações executivas cambiais prescrevem, em regra, no prazo de 3 anos (v.g., art. 70 do Decreto
57.663/1966 – “Lei Uniforme de Genebra”). Contudo, decorrido esse prazo, reconhece-se a possibilidade de o
credor ajuizar ação ordinária de cobrança. Portanto, a perda do direito de ação não implica perda do direito em si.
Ademais, hodiernamente entende-se que as partes possuem direitos, advindos do direito material, e que
podem ser exercidos judicialmente, mas que não dependem da existência de uma ação própria para que se
configurem. Prevalece, hoje, a separação entre as ideias de direito subjetivo e de direito de ação.
Por outro lado, sob a ótica de que o direito de ação é constitucionalmente garantido e sempre passível de
exercício, tem-se que jamais haverá a perda do direito de ação, ainda que a parte tenha perdido seu direito, pela
decadência, ou sua pretensão, pela prescrição. Nesse sentido, pode-se dizer que a perda do direito jamais imporá
a perda do direito de ação.
Ainda, convém ressaltar que determinados direitos potestativos, que requerem uma tutela jurisdicional
constitutiva para que se formem, dependem, necessariamente, do ajuizamento de ação própria (v.g., antiga ação
anulatória de casamento por defloramento anterior (artigo 178, §1º, do CC/16) e da ação de contestação de
paternidade (esta não sujeita, porém, a prazo decadencial, conforme jurisprudência e o CC/02)). Nesses casos,
pode-se dizer que a perda do direito de ação importaria a perda do direito em si.
Por fim, quanto à última pergunta, a parte que realiza o pagamento de dívida, sem saber que estava
prescrita, não tem direito à repetição do indébito. A dívida prescrita torna-se obrigação natural, o que impede que
o devedor pleiteie a devolução do que foi pago.

4) Apresente os pontos primordiais entre prescrição, preclusão e decadência. A preclusão poderia ser
uma perda da possibilidade processual? A senhora entende isso?
Prescrição é a perda da pretensão punitiva ou executória em razão do decurso do tempo. A pretensão, por sua
vez, consiste no poder de exigir de outrem, em juízo, uma prestação.
Decadência é a perda do direito potestativo, isto é, extingue-se o direito em razão do decurso do tempo.
Ressalta-se que, em decorrência da decadência administrativa, a Administração Pública tem o prazo decadencial
de cinco anos para anular seus atos administrativos, quando geradores de efeitos favoráveis para os
destinatários, salvo comprovada má-fé.
A preclusão é a perda de uma faculdade processual, tendo em vista a inércia do interessado (Poder
público ou particular) que deixa de praticar determinado ato dentro do prazo legal. Assim, pode ser entendida
como uma perda de possibilidade processual.

5) Sobre a ocorrência de má fé e a incidência ou transcurso do prazo prescricional. Ela suspende,


prejudica, redime? O que a senhora pensa sobre isso?
Segundo Tartuce: “Como bem salientam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, ‘a tese da actio
nata, reconhecida jurisprudencialmente, melhor orienta a questão. Efetivamente, o início da fluência do prazo
prescricional deve decorrer não da violação, em si, de um direito subjetivo, mas, sim, do conhecimento da
violação ou lesão ao direito subjetivo pelo respectivo titular. Com isso, a boa-fé é prestigiada de modo mais
vigoroso, obstando que o titular seja prejudicado por não ter tido conhecimento da lesão que lhe foi imposta. Até
porque, e isso não se põe em dúvida, é absolutamente possível afrontar o direito subjetivo de alguém sem que o
titular tenha imediato conhecimento.”
Assim, conforme tal linha de raciocínio, um indivíduo que esteja de boa-fé não poderá ser prejudicado
com o início do prazo prescricional caso não tenha tido conhecimento da lesão. A contrario sensu, estando de má
fé, não poderá se beneficiar de sua conduta, não se podendo falar em não transcurso do prazo prescricional.

GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro

1) Uma situação que aconteceu comigo como promotor criminal aqui em BH. Um cidadão está vendendo
medicamento falsificado na Praça Sete. Era uma imitação do viagra, comprada no Paraguai e a ANVISA já
tinha proibido a comercialização. O cidadão sabia que era proibida a comercialização, mas vivia disso, um
sujeito simplório de dar dó. Me deparei com a seguinte situação: pena mínima 10 anos (pena de 10 a 15
anos). Como a senhora agiria nessa situação? Gostaria que a senhora resolvesse o caso à luz do
funcionalismo. Quem pode mais pode menos, À luz do funcionalismo? A senhora poderia pedir uma pena
proporcional, que não fosse aquela mínima? Qual seria o parâmetro, uma pena de quanto? O sistema
funcionalista pode em um determinado sistema ferir um preceito constitucional?

Para o legislador, a conduta de quem comercializa um produto não necessariamente falsificado, mas nas
condições irregulares do § 1º-B, deve ser punida com uma pena de 10 a 15 anos de reclusão.
Todavia, a Corte Especial do STJ, ao apreciar um habeas corpus, decidiu que o preceito secundário do art. 273, §
1º-B, inciso V, do CP é inconstitucional por ofensa aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
Inicialmente, o STJ relembrou que é possível que o Poder Judiciário realize o controle de constitucionalidade de
leis penais, inclusive daquelas que estabeleçam penas.
Se for comparado com o crime de tráfico de drogas (notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a
saúde pública), percebe-se a total falta de razoabilidade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B, do CP. O
delito de tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/2006) possui pena de 5 a 15 anos de reclusão, sendo importante
lembrar que existe a possibilidade de aplicação do § 4º do mesmo artigo, que trata da figura do traficante
privilegiado, com a redução da pena em 1/6 a 2/3.
O STJ decidiu que é inconstitucional a pena (preceito secundário) do art. 273, § 1º-B, V, do CP (“reclusão, de 10
(dez) a 15 (quinze) anos, e multa”). Em substituição a ela, deve-se aplicar ao condenado a pena prevista no caput
do art. 33 da Lei n.° 11.343/2006 (Lei de Drogas), com possibilidade de incidência da causa de diminuição de
pena do respectivo § 4º.
Excelência, no funcionalismo de Roxin, o direito penal encontra limites nos princípios constitucionais, uma vez
que o referido doutrinador defende que o Direito Penal é MODERADO.

2) Os crimes omissivos admitem tentativa? Especificamente ao crime omissivo próprio, caberia tentativa?
Trabalhando com essa possibilidade de tentativa, em que momento, sendo possível a tentativa, se
configuraria essa tentativa? No primeiro momento em que poderia agir e não agiu; no último momento
que poderia e não agiu? Quando eu poderia dizer que ele começou um crime omissivo para dizer que foi
tentado? (O examinador cita uma obra de Juarez Tavares sobre o tema) E se o retardamento já gerar o
perigo concreto para o bem jurídico?

Quanto a tentativa, tem-se por possível nos crimes omissivos impróprios, mormente porque subsumem-se aos
tipos penais incriminadores que preveem uma conduta positiva. Outrossim, na tentativa a análise é feita sobre o
fracionamento do iter criminis. Havendo possibilidade de fracionamento, possível será a tentativa.
Na jurisprudência colhe-se algumas balizas que norteiam a identificação do início dos atos executivos por via de
omissão: a) prática de atos indicativos de omissão dolosa/culposa; b) deixar esvair a última oportunidade de
socorrer a vítima do perigo iminente e que é de conhecimento do agente.
Segundo Juarez Cirino dos Santos: “A moderna dogmática alemã identifica a tentativa de omissão a tentativa de
omissão de ação imprópria na criação ou ampliação de perigo para objeto protegido, consistente na perda da
primeira possibilidade para realizar a ação mandada, ou na perda do último momento para excluir o resultado,
que marca a independência do processo causal em relação ao crime.

3) A senhora concorda que o funcionalismo superou o finalismo? Seria então um aprimoramento? É


possível incorporar a função funcionalista na finalista? Elas podem coexistir?
Sim superou. Segundo Luis Greco o finalista pensa que a realidade é unívoca (primeiro engano), e que basta
conhecê-la para resolver os problemas jurídicos (segundo engano - falácia naturalista); o funcionalista admite
serem várias as interpretações possíveis da realidade, do modo que o problema jurídico só pode ser resolvido
através de considerações axiológicas – isto é, que digam respeito à eficácia e à legitimidade da atuação do direito
penal.

4) Discorra sobre as principais diferenças entre os sistemas causais. Só existe uma teoria causal? E o
neokantismo? (?)
O sistema causal, também chamado sistema clássico do delito, foi construído sob a influência do positivismo,
para o qual ciência é somente aquilo que se pode apreender através dos sentidos, o mensurável. Valores são
emoções, meramente subjetivos, inexistindo conhecimento científico de valores. O tipo é a descrição objetiva de
uma modificação no mundo exterior. A antijuridicidade é definida formalmente, como contrariedade da ação típica
a uma norma do direito, que se fundamenta simplesmente na ausência de causas de justificação. E a
culpabilidade é psicologicamente conceituada como a relação psíquica entre o agente o fato.
Posteriormente, surge o sistema neokantiano ou neoclássico do delito é fruto da superação do paradigma
positivista naturalista dentro do direito. Pretende-se retirar o Direito do mundo naturalista, marcado pelo "ser", e,
por conseguinte, situá-lo numa zona intermediária entre o "ser" e o dever ser".
O tipo é compreendido materialmente, deixando de ser a descrição de uma modificação no mundo exterior, para
tornar-se descrição de uma ação socialmente lesiva, portanto, antijurídica. A antijuridicidade deixa de ser formal,
contrariedade à norma, para tornar-se material: lesividade social. A culpabilidade passou a ser entendida como
reprovabilidade ou censurabilidade do agente pelo ato, sendo estruturada por elementos psicológicos e
normativos (teoria psicológico-normativa da culpabilidade.

Processo penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Ponto: Recursos

1) Disserte a respeito do principio da reformatio in pejus indireta. Qual o motivo/justificativa para que o
jurado possa decidir de forma diferente do julgamento anterior? São somente essas duas hipóteses na
indireta?(Grau recursal, júri)

Excelência, a doutrina divide a vedação da reformatio in pejus em direta e indireta. A direta incide perante o órgão
ad quem, quando da reforma do julgado.
Por outro lado, na indireta a vedação é imposta ao órgão a quo. Desse modo, se o Tribunal anular a sentença e
determinar o retorno dos autos ao juízo de origem, este não poderá agravar em relação à sentença anteriormente
proferida.
O fundamento para que o jurado possa decidir de forma diferente é a soberania dos veredictos.
Não excelência, parte da doutrina extrai ainda a vedação da reformatio in pejus indireta do disposto no art. 626,
caput, e parágrafo único, do CPP. Inserido no capítulo que trata da revisão criminal, o referido dispositivo
estabelece que, julgando procedente a revisão, o Tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o
réu, modificar a pena ou anular o processo. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela
decisão revista.

2) Disserte sobre o procedimento do REsp interposto pelo MP com base em Súmula do STJ que lhe
favorecesse. E se não houver retratação do TJ, o que pode ser feito? Lá no STJ, essa decisão é
monocrática? (examinador disse que quer saber o procedimento do recurso repetitivo)
Nesse caso, a deverá interpor recurso especial alegando que o acórdão do TJ, ao decidir daquele modo,
contrariou não a súmula, mas sim que a decisão violou determinado artigo de uma determinada Lei Federal, cuja
intepretação deu origem àquela súmula. Atentar-se para a SÚMULA 519-STJ: PARA FINS DO ART. 105, III, A,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NÃO É CABÍVEL RECURSO ESPECIAL FUNDADO EM ALEGADA
VIOLAÇÃO DE ENUNCIADO DE SÚMULA. STJ. CORTE ESPECIAL. APROVADA EM 26/02/2015.

3) Ainda existem previsões normativas de recursos de ofício? Pós Constituição de 88 as previsões


permanecem?

Há previsão legal de reexame necessário (recurso de ofício, recurso obrigatório, recurso necessário, recurso
anômalo) nas seguintes hipóteses:
a) da sentença que conceder habeas corpus (CPP, art. 574, I): parte minoritária da doutrina sustenta que essa
hipótese de cabimento do recurso de ofício estaria prejudicada em virtude da possibilidade de o Ministério Público
recorrer contra tal decisão, o que não era admitido à época em que o CPP entrou em vigor.

b) da decisão que conceder a reabilitação (CPP, art. 746): a Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) não revogou
o art. 746 do CPP, haja vista que os dispositivos referentes à reabilitação são plenamente compatíveis com a
LEP;

c) da absolvição de acusados em processos por crimes contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou
quando for determinado o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial (Lei nº 1.521/51, art. 7)

d) sentença que conceder o mandado de segurança: de acordo com o art. 14, § 1º, da Lei nº 12.016/09,
concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição.

Com a reforma processual de 2008, a doutrina tem entendido que não é mais cabível recurso de ofício contra a
absolvição sumária no procedimento do júri. Isso porque, ao tratar da absolvição sumária, o art. 415 do CPP nada
diz acerca da necessidade de reexame necessário. Destarte, conclui-se que o art. 574, II, do CPP, foi tacitamente
revogado pela Lei nº 11.689/08.

4) Se um recurso da defesa é considerado intempestivo, o Tribunal mesmo assim pode conhecer alguma
matéria desse recurso?

A observância do primeiro prazo para do recurso é do mais absoluto rigor, pois, não manejado o recurso, opera-se
a preclusão temporal, com o trânsito em julgado da sentença e consequências, portanto, fatais e peremptórias. Já
intempestividade do segundo prazo, ou seja, para apresentação das razões recursais, traduz em mera
irregularidade, sobretudo porque o art. 601 permite a subida dos autos à superior instância sem as respectivas
razões.

GRUPO TEMÁTICO III

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Perguntas: Curatela
1) Dê um conceito breve de curatela.
A curatela surge como o encargo imposto a uma pessoa natural para cuidar e proteger uma pessoa maior de
idade que não pode se autodeterminar patrimonialmente por conta de uma incapacidade. É, visivelmente, uma
forma de proteção a alguém que, embora maior de idade, não possui a plena capacidade jurídica.

2) O CC, traz as classes de pessoas sujeitas à curatela. A senhora se lembra de duas, pelo menos? O
artigo fala que estão sujeitos à curatela os ébrios habituais, se a senhora fosse promotora, como saberia
que se trata de um ébrio habitual? Sob pena de enquadrar metade da cidade. Como diferencial um ébrio
habitual? A senhora lembra qual a patologia? (toxicomania)
Com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência apenas os menores de 16 anos são considerados
absolutamente incapazes, sendo que a deficiência por si só não torna a pessoa incapaz. Tal observação é
importante para definir que estão sujeitos a curatela os relativamente incapazes previstos no artigo 4º do CC:
os ébrios habituais e os viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade; os pródigos.

Quanto ao inciso do referido artigo convém ressaltar que a doutrina de Nelson Rosenvald indica a possibilidade
dos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos se sujeitarem a curatela, senão vejamos:
Há, porém, uma excepcional possibilidade de nomeação de curador a um menor de 18 anos.
Trata-se da hipótese de um menor, relativamente incapaz (entre os 16 e os 18 anos de idade),
que sofre de alguma patologia psíquica.

Para a configuração da incapacidade relativa do ébrio habitual, ao nosso sentir, o critério mais seguro é a
possibilidade de dependência psíquica ou física, sob pena de enquadrar quase a metade da cidade.

3) A curatela exige uma prestação de contas? ( Por quem a exerce)


Sim. Deverá ser realizada de dois em dois anos, sempre que o Juiz determinar e/ou quando o curador deixar o
encargo. A prestação de contas deve observar a forma contábil (créditos e débitos), com apresentação dos
respectivos comprovantes, notas fiscais e recibos de despesas do interdito.

4) O que é curatela administrativa?


É uma curatela especial, realizada a pedido de enfermo ou portador de deficiência física, ou, na impossibilidade
destes, por seus parentes, cônjuge ou companheiro, limitada a cuidar de alguns de seus negócios e bens. Não se
confunde com a interdição, mas equivale a uma transferência de poderes, a fim de que o curador possa
administrar total ou parcialmente o patrimônio do curatelado.

5) O art. 1769 do CC, fala da legitimação do MP em relação à curatela. Essa legitimação do MP é ordinária,
extraordinária ou subsidiária?

Nas palavras de Tartuce, o que se percebe é que a legitimidade do MP é somente subsidiária e extraordinária,
funcionando como substituto processual, seja por uma ou por outra norma. De toda sorte, o texto alterado pelo
Estatuto da Pessoa com Deficiência é mais amplo, ao mencionar a sua legitimidade em caso de deficiência
mental ou intelectual, o que não consta do Novo CPC.
Assim, defende–se que a legitimidade do MP deve enlaçar todas as hipóteses de sujeição à curatela previstas no
artigo 1.767 do Código Civil, e não apenas os casos de doença mental grave abordados pelo NCPC.
Direito Processual Civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Perguntas: Repercussão Geral e Recursos Repetitivos

1) Quais são os requisitos para que o STF reconheça a Repercussão Geral sobre determinado tema? Cite
requisitos mais específicos. (social, econômica, repercussão jurídica, política)
Repercussão geral" é conceito aberto, a ser preenchido por norma infraconstitucional, que se valeu de outros
conceitos jurídicos indeterminados, para que se confira maior elasticidade na interpretação dessa exigência, que,
afinal, terá a sua exata dimensão delimitada pela interpretação constitucional que fizer o Supremo Tribunal
Federal.
O § 1° do art. 1.035 do CPC dispõe que "será considerada a existência ou não de questões relevantes do ponto
de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo.

Fredie Didier acrescenta ainda:

É possível pressupor, ainda, que, em causas coletivas que versam sobre temas constitucionais,
haverá a tal "repercussão geral" que se exige para o cabimento do recurso extraordinário'.
Já se reconheceu a repercussão geral de questão objeto de processo de controle concentrado
de constitucionalidade.
Também tem repercussão geral a questão que, em razão da sua magnitude constitucional, deve
ser examinada pelo STF em controle difuso da constitucionalidade, como a que diz respeito à
correta interpretação ou aplicação dos direitos fundamentais, que traduzem um conjunto de
valores básicos que servem de esteio a toda ordem jurídica - dimensão objetiva dos direitos
fundamentais.

2) É possível a intervenção de terceiros para reconhecimento da repercussão geral quando o processo já


se encontra no STF? De que maneira/utilizando-se de quais instrumentos que, uma vez aceito como
amicus curiae, poderá participar?

O §4° prevê a possibilidade de intervenção de amicus curiae. A regra justifica-se como uma forma de qualificar o
debate em torno da questão. Relaciona-se, portanto, com a formação de um precedente obrigatório. Por causa
disso, a norma se aplica apenas aos casos em que a repercussão geral será examinada pelo Plenário do STF, o
que nem sempre acontece.

3) Dentro desse tema de Rep. Geral e Rec. Repetitivos, o que a senhora entende por vinculação horizontal
e vinculação vertical? No caso da vertical, teriam os juízes que obedecer essa dita tendência da ata da
repercussão geral?
Luiz Guilherme Marinoni, em pioneira obra sobre o tema, sustentou que a decisão desta Corte nos casos de
repercussão geral “espraia-se para além do caso concreto, constituindo a sua ratio decidendi, motivo de
vinculação tanto para o próprio Supremo Tribunal Federal (vinculação horizontal) como, potencialmente, para os
demais órgãos jurisdicionais (vinculação vertical)” (MARINONI, Luiz Guilherme. Repercussão geral no recurso
extraordinário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 79).
4) No caso de recurso que por razões postas nele próprio, tenha sido reconhecido como de repercussão
geral, ou seja representativo do caso, o recorrente pode desistir desse recurso? Essa possibilidade feriria
o art. 501, que prevê a possibilidade de desistência do recurso?
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi reconhecida
continuará sendo analisada. Veja: Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido
ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de
questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos
extraordinários ou especiais repetitivos. STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/9/2015
(Info 797).

5) Quais são as consequências de ordem prática quando o STF reconhece a repercussão geral de
determinado tema?

6) Se houver, na minha opinião, um enquadramento equivocado do meu recurso, por não considerar que
ele se equipare ao paradigma, existe algum recurso que pode ser utilizado para evitar o sobrestamento do
pleito?

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Dr. Carlos Alberto Valera
Ponto: Acessibilidade, mobilidade urbana e transporte escolar

1) Aponte 3 categorias de municípios/cidades para a qual seja obrigatório o plano diretor. Indique mais 2.
Excelência, é obrigatório o plano direito nos municípios com mais de vinte mil habitantes; integrantes de regiões
metropolitanas e aglomerações urbanas; onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos
previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal; integrantes de áreas de especial interesse turístico;
inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional; incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos.
(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

2) Ainda no Estatuto das Cidades, quais as questões que devem ser objeto do estudo de impacto de
vizinhança?

I – adensamento populacional; II – equipamentos urbanos e comunitários; III – uso e ocupação do solo; IV –


valorização imobiliária; V – geração de tráfego e demanda por transporte público; VI – ventilação e iluminação; VII
– paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.

3) A Câmara Municipal de Uberaba, em um processo legislativo de revisão do Plano Diretor, após


audiência publica, aprovou projeto de lei e inseriu no Plano Diretor que empresas de pequeno porte de
quaisquer tipos de atividade podem se instalar em qualquer zona do município. Essa alteração é
inconstitucional? Quais as providencias, se inconstitucional, podem ser tomadas pelo órgão de execução
do MP do local? O examinador leu o Art 42-A do Estatuto das Cidades e abriu espaço para a candidata se
manifestar.(O examinador elogiou a visão sistêmica da candidata e disse que havia tb uma questão
principiológica.) O que a senhora faria? E não acolhida a recomendação? (a candidata foi citando novas ações e
o examinador questionando qual seria a próxima ação possível).
É constitucional a lei municipal que revoga e modifica a Lei de Uso e Ocupação do Solo, tendo por base as
diretrizes traçadas pelo Plano Diretor, cujo ato normativo foi elaborado mediante a participação de representantes
de diversos segmentos da comunidade local, aliado ao fato de não restar demonstrado, ao menos em potencial,
qualquer dano ambiental advindo da aprovação da Lei nº 3.107/2010, máxime quando se constata que a própria
Lei Orgânica do Município contém dispositivos legais impondo a observância da compatibilização do
desenvolvimento urbano com a preservação do meio ambiente. (TJMG - Ação Direta Inconst 1.0000.12.106107-
1/000, Relator(a): Des.(a) Edilson Fernandes , ÓRGÃO ESPECIAL, julgamento em 24/04/2013, publicação da
súmula em 03/05/2013).

4) O MP tem legitimidade para ajuizar ACP como objetivo de exigir transporte escolar para uma única
criança ou adolescente? Se a senhora achar possível, contra qual ente deveria ser ajuizada a ação? E se
for um adolescente do Ensino Médio? (Lei do PNAT – ação em face do estado e do município, no caso do
adolescente)

Sim. Os artigos 201 e 208 do Estatuto da Criança e do Adolescente atribuem ao Parquet legitimidade
ativa ad causam em defesa dos direitos individuais indisponíveis, ainda que não sejam homogêneos, daqueles
que, em razão da idade, encontram-se em situação de maior vulnerabilidade.
A Constituição da República de 1988, ao definir o Ministério Público, em seu artigo 127, como instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, atribui a ele "a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis
Ademais, é assegurado à criança e ao adolescente o direito à educação, prerrogativa constitucional fundamental
indisponível, e, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares, o material
didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

Segundo Edilson Vitorelli: “nos termos do artigo 211,§2º da Constituição da República, e do citado artigo 11, IV da
Lei 9.394/96, os Municípios devem atuar prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil, sendo
seu dever promover o transporte escolar dos alunos da rede municipal de ensino”.
Assim, conclui-se que, a priorização devida pelo ente municipal aos ensinos fundamental e infantil, e ao ente
estatal aos ensinos fundamental e médio, inegável que, na organização das redes municipal e estadual de ensino,
fique a cargo de cada um dos entes federados a manutenção também dos programas suplementares para
atendimento de seus alunos de sua rede, dentre eles, o transporte escolar.
Tratando-se de ensino fundamental podem ser acionado tanto o município como o Estado.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas

1) Quais os princípios constitucionais fundamentais aplicáveis ao direito processual coletivo?


O direito processual coletivo é um novo ramo do direito. Entretanto, ele não se afasta da teoria geral do processo,
pois está assentado nos princípios constitucionais-fundamentais processuais gerais, que ensejam estudos e tutela
processual gerais. São eles: princípio do devido processo legal, princípio do contraditório, princípio da ampla
defesa, princípio da inafastabilidade das decisões judiciais, princípio do juiz natural, princípio da publicidade dos
atos processuais, princípio da fundamentação das decisões judiciais, princípio da inadmissibilidade das provas
obtidas por meios ilícitos, princípio da igualdade ou isonomia processual, princípio da duração razoável do
processo ou da tempestividade da tutela jurisdicional.

2) Com relação aos princípios específicos do processo coletivo, quais a senhora diria que existem? Como
se desdobra o princípio da máxima efetividade? E onde nós temos infraconstitucionalmente uma norma
que afirma peremptoriamente que toda espécie de ação pode ser usado na defesa dos direitos coletivos
lato sensu? E o princípio da não taxatividade? E na LACP, quando isso foi introduzido? (isso é perfumaria,
não vai interferir no resultado)

1) Princípio da indisponibilidade (mitigada) da ação coletiva; 2) Princípio da indisponibilidade da execução


coletiva; 3) Princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito; 4) Princípio da prioridade da tramitação
da ação coletiva; 5) Princípio do máximo benefício da tutela coletiva; 6) Princípio da máxima efetividade da tutela
coletiva

O princípio da máxima efetividade do processo coletivo tem fulcro normativo implícito tanto no art. 5º, XXXV, da
CF, que garante o acesso à justiça, como no parágrafo primeiro do artigo referido (o qual determina a
aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos e garantis fundamentais) e na legislação
infraconstitucional art. 83, CDC, combinado com o art. 21, da LACP.

O disposto no artigo 83 do Código de Defesa do Consumidor, para a defesa dos direitos e interesses protegidos
por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela,
combinado com o artigo 21 da Lei de Ação Civil Pública, no artigo 212 do ECA, que preconizam que todos os
instrumentos processuais necessários e eficazes poderão ser utilizados na tutela jurisdicional coletiva

Pelo princípio da não-taxatividade da ação coletiva, não se pode limitar/as hipóteses de cabimento de ação
coletiva. Esse princípio está inserto no art. 129, lII, da CF "outros interesses difusos e coletivos", bem como nos /
arts. 52, XXXV, da CF "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito" e 12, IV, da
LACP "qualquer outro interesse \ difuso ou coletivo".

3) O que é o princípio da disponibilidade motivada? O que esse princípio gera?


Esse princípio permite a desistência da ação coletiva desde que não seja infundada.
Ressalta-se que o princípio impõe controle por parte de outros legitimados ativos e especialmente do Ministério
Público (art. 5º, §3º, da LACP), que deverá, quando infundada a desistência, assumir a titularidade da ação.
Em relação as consequências há três correntes:
- Para Gregório Assagra “Se a desistência for levada a efeito pelo órgão do Ministério Público, o juiz, dela
discordando, poderá aplicar analogicamente o disposto no artigo 28 do CPP, submetendo a desistência ou
abandono ao conhecimento e à apreciação do Chefe da respectiva instituição do Ministério Público.
Hermes Zaneti e Leonardo Garcia discordam dessa opinião, pois entendem que regra aplicável deve ser a do art.
9º, da LACP (remessa para o Conselho Superior), uma vez que, juntamente com o CDC, em aplicação integrada,
formam o microssistema processual coletivo.
Por fim, há uma terceira corrente advoga a extinção do processo sem resolução do mérito, utilizando-se do art.
267, III e VIII do CPC. Tal solução traz o benefício de evitar a formação da coisa julgada material, sem existir
prejuízo ou necessidade de controle da extinção do processo pelo Conselho Superior dos Ministérios Públicos
Estaduais ou pelas Câmaras de Coordenação e Revisão do MPF. Essa corrente é minoritária.
4) O que é o princípio da máxima prioridade jurisdicional dos processos coletivos?
Tem amparo no artigo 5º, §1º da CR/88 (princípio da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais),
pois decorre da própria natureza da tutela coletiva, alcança uma coletividade de pessoas e por isso, partindo da
premissa da existência do interesse social na tutela coletiva. Assim, o princípio da máxima prioridade da tutela
jurisdicional coletiva revela que se deve priorizar a apreciação da ação coletiva, tendo em vista que o alcance da
decisão reduz os conflitos sociais, evitando-se demandas repetitivas, homogeneizando as decisões e
implementando o princípio da economia processual.
Dia 09 – Ponto 05 – Andréa

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional
Examinadora: Dra. Elaine Parisi

1.Quais são as espécies normativas previstas na Constituição da República?


As espécies normativas que se originam do processo legislativo constitucionalmente previsto, ou seja, as
espécies normativas primárias, são aquelas previstas no art. 59, CF, quais sejam, emendas constitucionais, leis
complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções.
Não se pode olvidar, ainda, do disposto no art. 84, IV, parte final, e VI, também da CF, que trata dos
decretos da competência do Presidente da República, que também são espécies normativas. Salienta-se, no
entanto, que no que tange aqueles previstos no mencionado inciso IV, não se pode dizer que são normas
primárias, já que editados em função de uma lei, visando possibilitar a fiel execução desta mesma lei.

2. A nossa Constituição é rígida?


Constituição rígida é aquela que necessita de procedimentos especiais, mais difíceis, específicos, para
sua modificação. Estes procedimentos são definidos na própria constituição. Desta forma, pode-se dizer que a CF/88
é rígida, já que só pode ser alterada por meio de emenda constitucional, que possui processo legislativo mais
dificultoso, nos termos do art. 60.
Deve-se salientar, ainda, que há doutrina no sentido de que a CF/88 seria superrígida em razão do
disposto no art. 60, §4º, que veda emendas tendentes a abolir cláusulas pétreas.

3. Há limites para alteração da Constituição da República?


Nos termos do art. 60, CF, pode-se extrair que foram estabelecidos limites formais, circunstanciais e
materiais para a modificação da CF por meio de emendas constitucionais.
Primeiramente, quanto aos limites formais eles são classificados em subjetivos e objetivos. Os subjetivos
se referem à iniciativa de proposta para emendar a CF, e estão previstos no art. 60, caput. Apenas as pessoas
elencadas na norma podem propor a modificação da CF. Neste ponto salienta-se que a CF não prevê a iniciativa
popular de emenda. Apesar disto, José Afonso da Silva entende que o povo também teria legitimidade para proposta
de emenda. Os limites formais objetivos estão estabelecidos nos §§2º, 3º e 5º, art. 60.
Os limites circunstanciais estão previstos no §1º, art. 60. Estabelece a norma que a CF não pode ser
emendada na vigência de estado de defesa, de sítio e de intervenção federal.
Já os limites materiais podem ser explícitos e implícitos. Se referem às cláusulas pétreas, que são
matérias tratadas na CF que não podem ser abolidas da normatividade constitucional. Nos termos da doutrina de
Bernardo Gonçalves Fernandes, pág. 138, 10ª ed., é importante salientar que estas matérias podem sim ser objeto de
emenda constitucional, desde que venha sofisticar ou mesmo ampliar a normatividade que lhes é ínsita.
Os limites materiais explícitos estão estabelecidos no §4º. Já os implícitos são extraídos do sistema
constitucional e seu núcleo essencial. Pode-se citar como exemplos s impossibilidade de revogação dos limites
materiais explícitos, a impossibilidade de modificação dos titulares do poder constituinte derivado e do processo de
reforma da CF.
Por fim, deve-se ressaltar como espécie de alteração da CF a revisão, dotado de limites formais e
temporais, nos termos do art. 3º, ADCT. A revisão do texto constitucional já foi feita em 1994, com aprovação de
apenas seis emendas de revisão. Salientas-se que a par dos limites estabelecidos no ADCT, a revisão também teve
que respeitar o disposto no §4º, art. 60.

4. As leis complementares são hierarquicamente superiores às leis ordinárias.


Quanto ao ponto necessário destacar a existência de duas correntes, conforme leciona Bernardo
Gonçalves Fernandes, pág. 1151, 10ª, ed.
1ª corrente. Há hierarquia. Esta corrente trabalha com alguns fundamentos. O primeiro fundamento é o
topográfico (é bem verdade que nem todos os autores que advogam a hierarquia defendem esta posição). A lei
complementar está no inciso II, do art. 59 e a lei ordinária no inciso III e, nestes termos, a lei complementar teria uma
superioridade hierárquica sobre a lei ordinária. Esse argumento beira o ridículo (...).
O segundo fundamento (que é o trabalhado pela maioria dos autores que defendem a tese da hierarquia)
envolve o aspecto formal do quórum, pois a lei complementar requer um quórum de maioria absoluta, diferentemente
da lei ordinária, que trabalha com quórum de maioria simples. (...)
2ª corrente. Não há hierarquia entre estas disposições normativas primárias. Na verdade, o que existe
são campos materiais de competência diferenciados. Na doutrina, a corrente majoritária é a segunda corrente. Porém,
na doutrina trabalhista, existe a posição de alguns doutrinadores de que lei complementar é hierarquicamente
superior à lei ordinária.
E nos tribunais? O STJ, em algumas decisões esparsas, já se pronunciou, sobretudo em matéria
tributária, pela hierarquia entre lei complementar e lei ordinária. Já o STF, pelo seu entendimento majoritário, defende
que não há hierarquia. O supremo entende que existem campos materiais de competência distintos. Nestes termos, a
questão pode e deve ser enfrentada também pela lógica do fundamento de validade, ou seja, não há que se falar em
hierarquia, na medida em que a lei ordinária não retira seu fundamento de validade da lei complementar e vice-versa.
Ambas têm por fundamento de validade a Constituição.

5. Uma lei ordinária que destoa de uma lei complementar pode ser considerada inconstitucional?
Nos termos da corrente majoritária no sentido de que não há hierarquia entre lei ordinária e lei
complementar, atuando, cada uma delas, em campos materiais de competência distintos, e considerando que uma
não retira da outra seu fundamento de validade, não há que se falar, à primeira vista, em inconstitucionalidade quando
uma lei ordinária destoa de uma lei complementar. Na verdade, a meu sentir, se elas possuem âmbito de atuação
diversa, não há como uma contrariar a outra. E do ponto de vista formal, pensando em uma hipotética contrariedade
entre uma lei ordinária e a Lei Complementar 95, que dispõe sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação
das leis, o vício seria de ilegalidade, e não inconstitucionalidade.
A lei ordinária é inconstitucional quando contraria a CF, e não quando, hipoteticamente, em tese,
contrariar lei complementar.
Porém, deve-se salientar que em se tratando de competência concorrente, estabelecida no art. 24, CF, o
STF entende que há inconstitucionalidade quando a lei estadual contrariar a lei federal geral. Desta forma, nesta
hipótese, se a lei federal for lei complementar, pode-se dizer que haverá inconstitucionalidade quando a lei ordinária
estadual contrariar a lei complementar federal.

• COLEGAS, A RESPOSTA FOI FEITA CONFORME MEU ENTENDIMENTO. SE ALGUÉM TIVER OUTRA
RESPOSTA, FAVOR INFORMAR.

6. O que são leis delegadas? Quais são estas matérias? (cuja delegação é proibida)
Conforme Bernardo Gonçalves Fernandes lei delegada é espécie normativa primária elaborada pelo
Presidente da República em virtude de autorização do Poder Legislativo e nos limites postos pelo mesmo.
Conforme clássica digressão de Nelson de Souza Sampaio, corroborando com o conceito, temos que: a lei
delegada se caracteriza por ser uma delegação externa de função legiferante.
Nos termos do art. 68, §1º, não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do
Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria
reservada à Lei Complementar, nem a legislação sobre:
I.organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros
II.nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais
III.planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

7. Como se dá o controle da delegação? Como seria o controle posterior?


Nos termos do §2º, art. 68, CF, resolução do Congresso Nacional especificará o conteúdo e os termos da
delegação ao Presidente da República, sendo esta forma de controle prévio da delegação legiferante.
Há ainda possibilidade de ser feito controle posterior, nos termos do §3º, do mesmo artigo mencionado.
Neste caso fala-se em delegação atípica ou imprópria, na qual o projeto de lei elaborado pelo chefe do executivo
será submetido ao Congresso Nacional para a apreciação, em sessão conjunta, vedada apresentação de
emendas. O Congresso poderá rejeitar ou aprovar o projeto. Se aprovar, a lei é enviada para promulgação e
publicação pelo Presidente. (Colegas, no livro do Bernardo e nem no Pedro Lenza está escrito expressamente
que isto seria forma de controle da delegação. Porém, a meu sentir, não há como não tratar como forma de
controle).
Não se pode olvidar, ainda, do controle posterior previsto no art. 49, V, CF. De acordo com Bernardo
Gonçalves Fernandes, pág. 1155, a sustação prevista na citada norma opera efeitos ex nunc.

8.O que são direitos políticos?


Conforme Bernardo Gonçalves Fernandes, pág. 831, os direitos políticos são entendidos como um
conjunto de regras que disciplina o exercício da soberania popular. Neste sentido, é um grupo de normas que
envolvem a participação dos indivíduos (cidadãos) nos processos de poder, ou seja, nas tomadas de decisões
que envolvem a vida pública do Estado e da sociedade. Os direitos políticos fundamentam o princípio democrático
presente no parágrafo único do art. 1º, CR/88 e são desenvolvidos por meio de normas que dizem respeito à
escolha de representantes para o exercício do poder em nome do povo ou pela própria participação direta do
povo no exercício do poder.

9.Quais são as hipóteses de perda e suspensão dos direitos políticos?


Ao lado das inelegibilidades a perda ou suspensão dos direitos políticos fazem parte do que alguns
doutrinadores chamam de direitos políticos negativos. A diferença é que nas inelegibilidades perde-se apenas a
capacidade eleitoral passiva, na perda ou suspensão perde-se a capacidade eleitoral passiva e ativa.
O art. 15, CF, enumera as hipóteses de perda e suspensão.

A) PERDA
Incisos I, IV
Além destas hipóteses do art. 15 Bernardo ainda cita como hipóteses de perda: 1) art. 12,§ 4º, II; 2)
anulação de decisão judicial de procedimento de naturalização em virtude de algum vício, que irá fazer com que a
pessoa retorne ao status de estrangeiro, perdendo assim os direitos políticos.

B)SUSPENSÃO
Incisos III, II, V.
10. O que é direito de sufrágio e quais são as suas formas?
Conforme sinopse jus podivm de eleitoral, citando Paulo Bonavides, o sufrágio é o “poder que se
reconhece de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na gerência da vida pública.” Em uma
democracia participativa, como a brasileira, o poder de sufrágio é exercido através do voto, instrumento de
materialização do sufrágio manifestado nas eleições e nas consultas populares (plebiscitos e referendos), bem
como por outros meios de participação direta do povo na formação da vontade política do Estado, a exemplo da
iniciativa popular de lei. (pág. 31).

Formas de sufrágio:
1. sufrágio universal: independe de condições discriminatórias para o seu exercício;
2. sufrágio restrito: depende de condições para seu exercício. Pode ser:
. censitário: envolve condições econômicas
. capacitário: envolve condições intelectuais como grau de instrução
. racial: restringe exercício do poder de sufrágio em decorrência da etnia
. por gênero: leva em conta o sexo do cidadão
. religioso: leva em conta o credo
3. sufrágio plural: um mesmo indivíduo tem o poder de exercer, mais de uma vez, o direito ao voto em um
determinado processo eleitoral
4. sufrágio singular: prevalece a lógica de Rousseau, segundo a qual, na democracia, cada homem deve
corresponder a um único voto (um homem, um voto).
. sufrágio igual

Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling

1. Conceitue administração pública.


Administração pública em sentido amplo abrange os órgãos de governo – e as funções políticas que eles
exercem – e também os órgãos e pessoas jurídicas que desempenham funções meramente administrativas.
Administração pública em sentido estrito só inclui os órgãos e pessoas jurídicas administrativos e as
funções que eles desempenham, de natureza puramente administrativa – profissional, técnica, instrumental,
apartidária -, de execução dos programas de governo.
Administração pública em sentido formal, subjetivo, ou orgânico é o conjunto de órgãos, pessoas
jurídicas e agentes que o nosso ordenamento jurídico identifica como administração pública, não importa a
atividade que exerçam.
Administração pública em sentido material, objetivo, funcional representa o conjunto de atividades que
costumam ser consideradas próprias da função administrativa.

2. Quais são os elementos que compõem o Estado? O território é composto apenas pelo território
brasileiro ou há algum elemento físico que integra este território? As embaixadas também são
componentes do território? Se não território, como a embaixada se integra ao território?

O Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos elementos povo, território e governo
soberano. O território, por sua vez, é o espaço onde o Estado exerce sua soberania política.
O território brasileiro compreende: a) o espaço territorial delimitado pelas fronteiras, inclusive rios, lagos,
mares interiores e ilhas, bem como respectivo subsolo; b) o mar territorial, ou marginal; c) a plataforma
continental; d) o espaço aéreo, compreendido como a dimensão estatal da altitude; e) navios e aeronaves, de
natureza particular, em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente ao alto-mar; f) os navios e aeronaves, de
natureza pública, onde quer que se encontrem.
No que tange às embaixadas, apesar de haver doutrina no sentido de que seriam extensão do território
do Estado que representam, ao que parece, esta doutrina tem sido abandonada. De acordo com a Convenção de
Viena de 1961 as embaixadas não são extensão do território estrangeiro. Elas fazem parte do território nacional,
embora sejam invioláveis.

3. Quais são as principais fontes da administração pública? No direito pátrio, em nosso ordenamento
jurídico, os costumes são considerados fontes da administração pública?
Conforme leciona Marcelo Alexandrino, embora exista alguma divergência entre os autores de direito
administrativo (e muitos sequer tratem do tema), são usualmente apontadas como fontes deste ramo jurídico: a
lei, a jurisprudência, a doutrina e os costumes.
Quanto aos costumes afirma o autor mencionado: os costumes sociais – conjunto de regras não escritas,
porém observadas de modo uniforme pelo grupo social, que as considera obrigatórias – só têm importância como
fonte de direito administrativo quando de alguma forma influenciam a produção legislativa ou a jurisprudência, ou
seja, eles podem, no máximo, ser considerados uma fonte indireta. Um pouco diferente é a situação dos
costumes administrativos (praxe administrativa), isto é, as práticas reiteradamente observadas pelos agentes
administrativos diante de uma determinada situação. A praxe administrativa, nos casos de lacuna normativa,
funciona efetivamente como fonte secundária de direito administrativo, podendo mesmo gerar direitos para os
administrados, em razão dos princípios da lealdade, boa-fé, moralidade administrativa, entre outros. (pág. 6/7).

4. A administração possui alguma codificação, no que tange à administração pública lato sensu? O
Código Civil se presta a auxiliar a Administração Pública no seu mister? Existem hipóteses em que a
aplicação do CC não é subsidiária nem analógica, mas imediata? O CC se aplicaria em prol da
administração pública ou do administrado?
Conforme leciona Marcelo Alexandrino o direito administrativo no Brasil não se encontra codificado, isto
é, os textos administrativos não estão reunidos em um só corpo de lei, como ocorre com outros ramos do direito.
As normas encontram-se espraiadas no texto na Constituição, em diversas leis, ordinárias e complementares, e
ainda em muitos outros diplomas normativos, a exemplo de decretos-leis, medidas provisórias, regulamentos e
decretos do Poder Executivo (...). pág. 5.

Também nos termos da doutrina de Marcelo Alexandrino, também no âmbito dos ramos do direito
classificados como ramos de direito público, inúmeras relações jurídicas sujeitam-se à aplicação subsidiária do
direito privado, ou, até mesmo, são regidas predominantemente pelo direito privado.
O que não é possível é alguma atuação do Estado, em qualquer campo, ser regida exclusivamente pelo
direito privado, como total afastamento de normas de direito público.
O Estado pode integrar relações jurídicas regidas predominantemente pelo direito privado, o que se
verifica, por exemplo, quando atua no domínio econômico, como agente produtivo (Estado-empresário). (pág.
2/3). E neste caso, a meu sentir, e diante do disposto no art. 173, §1º a empresa pública e a sociedade de
economia mista que exploram atividade econômica se sujeitarão ao regime jurídico próprio das empresas
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários, o que significa a
possibilidade de aplicação direta, e não apenas subsidiária, do CC.
Pode-se ainda falar em aplicação direta do CC nas relações travadas pela Administração Pública no tema
relativo à responsabilidade civil (art. 43, CC). E no que concerne à responsabilidade civil por dano causado à
administração pública há recente julgado do STF determinando a incidência do prazo prescricional trienal previsto
no art. 206, §3º, V, CC.
Ainda quanto à aplicação direta do CC pode-se também falar na definição de bem público, prevista no
art. 98, do citado diploma legal.
Entendo que o CC poderia se aplicar em prol de qualquer dos sujeitos envolvidos, administração ou
administrado.

5. Qual a diferença entre órgãos e agentes públicos? A senhora como promotora de justiça se enquadraria
em qual categoria? O promotor representa o Estado ou é o próprio Estado no exercício das suas
atribuições?
Orgãos públicos são conjuntos de competências, plexos de atribuições sem personalidade jurídica; são
resultado da técnica de organização administrativa conhecida como desconcentração. Conforme leciona Celso
Antônio Bandeira de Melo, para que que tais atribuições se concretizem e ingressem no mundo natural é
necessário o concurso de seres físicos, prepostos à condição de agentes. O querer e o agir destes sujeitos é o
que são, pelo Direito, diretamente imputados ao Estado (manifestando-se por seus órgãos), de tal sorte que,
enquanto atuam nesta qualidade de agentes, seu querer e agir são recebidos como o querer e o agir dos órgãos
componentes do Estado; logo, do próprio Estado.
Desta forma, nos termos do que foi citado, vê-se que a adoção, pelo Direito Brasileiro da Teoria do
Órgão. E, assim sendo, o promotor de justiça, no exercício de suas atribuições é agente público, e a sua atuação
equivale à atuação do próprio Estado, não se falando em representação.

GRUPO TEMÁTICO II

Penal
Examinador: Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro

1.Cite dois casos de tipicidade formal mediata ou indireta.


Também conhecida como adequação típica de subordinação mediata, ampliada ou por extensão. Nesta,
a conduta humana não se enquadra prontamente na lei penal incriminadora, reclamando-se, para complementar
a tipicidade, a interposição de um dispositivo contido na parte geral do CP. É o que se dá na tentativa, na
participação e nos crimes omissivos impróprios.

2.Informe uma causa excludente da tipicidade formal mediata ou indireta. Mas os crimes de atentado
admitem tentativa?
Entendo como excludente da tipicidade formal indireta, por ex., quando há desistência voluntária, já que
é causa de atipicidade da tentativa pelo crime inicialmente pretendido, ou, ainda, a hipótese prevista no §2º, art.
29, e também quando em razão de má representação da situação fática, qualquer das pessoas elencadas no §2º,
art. 13, CP, erra quanto ao dever de agir.

PESSOAL, FIZ A RESPOSTA CONFORME MEU ENTENDIMENTO, PENSANDO QUANDO NÃO HAVERÁ
CARACTERIZAÇÃO DE TENTATIVA, PARTICIPAÇÃO OU IMPUTAÇÃO DO CRIME PELA OMISSÃO.
Crime de atentado é aquele em que a lei pune de forma idêntica o crime consumado e a forma tentada,
isto é, não há diminuição da pena em face da tentativa. Logo, neste caso, não há que se falar em tipicidade formal
mediata no que tange à tentativa. Fala-se, então, que nos crimes de atentado não há tentativa, não se pune a
tentativa.

3.No crime de omissão de notificação de doença, qual o objeto material deste crime? (art. 269).
Não há objeto material segundo o examinador.

4.Qual a importância, na prática, de diferenciar insignificância própria e imprópria? A senhora poderia me


dar um exemplo prático?
Na insignificância própria o fato já nasce irrelevante para o direito penal. O fato é atípico, o que possibilita
o arquivamento do inquérito policial, caso existente, e a não instauração da ação penal. Já na insignificância
imprópria o fato nasce relevante para o direito penal; apenas se reconhece que não há necessidade de aplicação
da pena. Mas para se chegar a este entendimento deve haver instauração da ação penal, decidindo o julgador, ao
final, pela não aplicação da pena.

5.A senhora, como promotora na comarca de Montalvânia, se depara com um processo de clonagem
terapêutica, e lhe é solicitada a sua intervenção na esfera penal. O que pode ser feito? Nesse caso há
atipicidade, há causa de justificação, a conduta é lícita, qual a situação?
O art. 26, Lei 11105/05 tipifica como crime a clonagem humana. Não prevê como excludente de crime ou
isenção de pena a clonagem destinada a fim terapêutico. Desta forma, como promotor, requisitaria a instauração
do inquérito policial, se necessário, com posterior propositura da ação penal, ou ajuizaria desde já a ação penal
caso já tivesse elementos informativos suficientes.
Cumpre ressaltar que nos termos do art. 5º, Lei de Biossegurança, a utilização de células-tronco
embrionárias só é autorizada quando obtidas de embriões produzidos por fertilização in vitro, não havendo
autorização de utilização de células-tronco produzidas por clonagem.

Processo Penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento

1.Qual é a natureza do interesse que é debatido no processo penal?


O interesse questionado pelo examinador, ao que parece, é o interesse de agir, que mesmo no processo
penal é também condição da ação, cuja ausência permite a rejeição da denúncia, nos termos do art. 395, II, CPP.
Ocorre que em se tratando de interesse de agir em matéria penal algumas particularidades devem ser apontadas.
O interesse de agir deve ser analisado em três aspectos: necessidade da tutela jurisdicional, adequação,
utilidade.
Quanto à necessidade, ela sempre estará presente no processo penal. A necessidade é implícita na ação
penal condenatória em razão do princípio nulla poena sine judicio. A ressalva se faz por conta da transação penal.
Por adequação se entende o ajustamento da providência judicial requerida à solução do conflito. Em se
tratando de ação penal condenatória tal aspecto não é relevante já que não há espécies distintas de ações penais
condenatórias. Em se tratando de ação penal não condenatória, todavia, é mais fácil visualizar a importância do
interesse-adequação.
A utilidade, por sua vez, consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do
autor. Só haverá utilidade se houver possibilidade de realização do jus puniendi estatal, com eventual aplicação
da sanção penal adequada.
2. A teoria unitária de processo é aplicada pela maioria da doutrina ao processo penal?
A teoria unitária de processo, liderada por Carnelutti entende que o direito objetivo não tem condições
para disciplinar todos os conflitos de interesses, sendo necessário o processo, muitas vezes para
complementação dos comandos da lei. Para quem assim pensa, não é tão nítida a cisão entre o direito material e
o processual, assim, o processo participa da criação de direitos subjetivos e obrigações, aos quais só nascem
efetivamente quando existe uma sentença.

Pessoal, realmente não sei qual a resposta. Não encontrei também se a maioria entende pela aplicação da teoria
unitária ao processo penal. Mas encontrei este trecho no Pacelli, fls. 104/105:
Se e enquanto houver um direito penal, se e enquanto a alguém se puder imputar e se pretender a
imposição de uma pena pública, para além dos desejos e das pretensões das vítimas, cumpre esclarecer que o
processo, mais que um instrumento, se impõe como espaço e ambiente deliberativo (democrático, nesse sentido),
no qual se permite a ampla participação dos atores designados em lei e na CF (...) na construção da decisão final.
(...)
Mas deve restar bem esclarecido que o processo penal não é só instrumento de aplicação do direito
penal, embora ele ocupe também tal missão. Deve-se assinalar que a configuração de uma teoria pura para o
processo penal haverá que contemplar algumas das questões mais essenciais da estrutura a que acabamos de
nos referir.

3. Há várias diferenças entre o processo civil e o processo penal; traga duas características/institutos
específicos que só existem no processo penal. Em relação à estrutura e não ao procedimento.
Legitimidade ativa do MP, como titular da ação penal, excepcionando-se na hipótese de ação penal
privada e justa causa.

4.Qual seria o conceito de justa causa como condição da ação? A senhora poderia dar um exemplo
prático de ausência de justa causa?
Conforme leciona Renato Brasileiro justa causa é o suporte probatório mínimo que deve lastrear toda e
qualquer acusação penal. Como ausência de justa causa pode-se dar o exemplo de denúncia que relata um
determinado fato sem que seja embasada em qualquer elemento informativo, ou indício, quanto à sua existência.

5.Qual o entendimento da senhora sobre a pena hipotética, prescrição virtual?


A prescrição virtual deve ser entendida como o reconhecimento antecipado da prescrição, em virtude da
constatação de que, no caso de possível condenação, eventual pena que venha a ser imposta ao acusado
inevitavelmente será fulminada pela prescrição da pretensão punitiva retroativa, tornando inútil a instauração do
processo penal. Tanto STJ quanto STF não admitem a prescrição virtual, havendo aquele primeiro tribunal
sumulado seu entendimento sobre o tema (súmula 438).

6.O MP é parte na ação penal? E quando o MP investiga um crime e propõe a ação penal, muda alguma
coisa?
Nos termos do art. 129, I, CF, o MP titular da ação penal. Assim, não há dúvida quanto à sua qualidade
de parte no feito criminal. E como parte acusadora incumbe ao MP fazer prova acerca da autoria e materialidade
do fato criminoso. Nestes termos, não há impedimento à investigação de fatos criminosos pelo MP, pelo contrário.
Neste sentido deve-se apresentar como embasamento a teoria dos poderes implícitos. Tal conduta encontra-se
conforme a sua condição de parte processual, não havendo conflito, conforme súmula 234, STJ.
Deve-se ressaltar que a investigação pelo MP é reconhecida como legítima também pelo STF, conforme
decisão plenária deste tribunal, no RE 593727.

GRUPO TEMÁTICO III

Civil
Dra. Sumaya Chamon Junqueira Morais

1. Na qualidade de promotora de justiça a senhora recebe um processo de falência em que o falido pagou
ao credor quirografário antes do vencimento do título visando beneficiá-lo. A senhora recebe o processo,
qual seria a sua conduta? Nesse caso o ato seria anulável e não indiferente?
A examinadora falou que do art. 129, lei de falências, e respondeu que caberia ao MP se manifestar para
que o administrador judicial propusesse ação revocatória, mas que o art. 129 considera que não é necessária
ação revocatória, apenas que seja conhecido o ato, pois esse ato é inexistente em relação ao processo de
falência.

2.Diferencie fraude à execução e fraude contra credores.


FRAUDE CONTRA CREDORES.
1.Tem como pressuposto objetivo a redução patrimonial que conduza à insolvência ou a agrave.
2.Tem como pressuposto subjetivo a ciência do terceiro do dano
3.Acarreta a anulação do negócio jurídico, havendo doutrina processual no sentido de que deveria ser
reconhecida apenas a ineficácia do negócio
4.Se relaciona com crédito pecuniário
5.Tem como remédio judicial a ação pauliana
6.Causa prejuízos para o credor

FRAUDE À EXECUÇÃO
1.Tem como pressuposto objetivo a pendência de ação real ou reipercussória sobre a coisa alienada ou
insolvência e litispendência ou litispendência executiva
2.Ciência pelo terceiro da litispendência – presumida em absoluto com averbação no registro competente
da ação real ou reipersecutória, do processo de execução de quantia ou cumprimento de sentença
3.Acarreta ineficácia do negócio
4.Se relaciona com crédito pecuniário e também com obrigação de entregar coisa
5.Tem como remédio judicial o reconhecimento incidental à execução ou em embargos de terceiro
6.Acarreta prejuízo para o credor e para a prestação jurisdicional

3.O que a senhora entende por Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica?


Conforme leciona André Santa Cruz Ramos, f. 491, a história das relações econômicas demonstrou que
o uso das pessoas jurídicas e a consagração do princípio da autonomia patrimonial podem dar ensejo a abusos.
Empresários maliciosos, não raro, utilizavam-se das mais variadas artimanhas para fraudar seus credores,
usando a personalidade jurídica e beneficiando-se da separação patrimonial como um verdadeiro escudo protetor
contra os ataques ao seu patrimônio pessoal.
Sendo assim, com a clara finalidade de salvaguardar o princípio da autonomia patrimonial, evitando o
seu uso abusivo e deturpado, formulou-se a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica. (...).
Tal doutrina é fruto de construção jurisprudencial, notadamente a jurisprudência inglesa e norte-
americana.
O que se firmou, diante dos precedentes ingleses e americanos foi a possibilidade de afastamento dos
efeitos da personalização da sociedade – autonomia e separação patrimonial – nos casos em que a
personalidade jurídica fosse utilizada de forma abusiva, em prejuízo aos interesses dos credores. Nesses casos,
poderia o juiz ou tribunal desconsiderar os efeitos da personalidade jurídica, permitindo-se, assim, a execução do
patrimônio pessoal dos sócios por dívidas da sociedade.
Tradicionalmente, esse abuso da personalidade jurídica que admite a sua desconsideração só se
caracterizava quando houvesse a prova efetiva da fraude, ou seja, da atuação dolosa, maliciosa, desonesta dos
sócios em detrimento dos credores da sociedade. Adotava-se, pois, uma concepção subjetivista da disregard
doctrine, que exigia prova da fraude como elemento imprescindível à sua aplicação.
Hodiernamente, todavia, tem-se tentado estabelecer critérios mais seguros para a aplicação da teoria da
desconsideração (...). Adota-se, pois, uma concepção objetivista, segundo a qual a caracterização do abuso da
personalidade pode ser verificada por meio da análise de dados estritamente objetivos, como o desvio de
finalidade e confusão patrimonial.
No Brasil tal teoria foi trazida por Rubens Requião. Em 1990 foi positivada no CDC, posteriormente na lei
8884/94 e na lei 9605/98. Porém, como leciona André Santa Cruz tais as normas previstas nestes diplomas
receberam várias críticas da doutrina, já que não condizem com as formulações doutrinárias que deram origem à
teoria da desconsideração. Nestes diplomas autoriza-se a desconsideração quando há demonstração de prejuízo
do credor. Bastando tal requisito, a doutrina afirma que nestes casos há aplicação da teoria menor da
desconsideração.
De acordo com André Santa Cruz, apenas com a edição do CC/02 a teoria da desconsideração recebeu
adequado tratamento legal no Brasil, já que a norma contida no art. 50 reflete os ideais originais da disregard
doctrine. Fala-se, então, em teoria maior da desconsideração.
Enfim, a teoria da desconsideração, que no Brasil, atualmente, se encontra positivada, não se falando
apenas em teoria, permite que em um determinado caso, ocorra a suspensão temporária dos efeitos da
personalização da sociedade, abrindo-se a possibilidade de execução de sócios que se beneficiaram do uso
abusivo da pessoa jurídica.
Não de pode olvidar, também, da hipótese de desconsideração inversa. Esta consiste na aplicação dos
fundamentos da disregard doctrine para permitir que a pessoa jurídica, eventualmente, responda por obrigações
pessoas de um ou mais de seus integrantes.

4. Especificamente na falência, verificando a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica,


seria possível estender os efeitos da falência à outra empresa, que não a falida?
Conferir julgado STJ abaixo (Resp. 1.455.636)

5. Da aplicação da desconsideração da pessoa jurídica para extensão dos efeitos da falência


A desconsideração da pessoa jurídica é instituto que foi paulatinamente construído pela doutrina e
jurisprudência como forma jurídica de enfrentar os problemas decorrentes do reconhecimento de ampla
autonomia às personalidades coletivas, especialmente quanto à confusão das esferas jurídicas, a
subcapitalização e os prejuízos sofridos por terceiros em virtude de utilização abusiva da personalidade jurídica.
Nesse sentido, é possível se compreender, sob o ponto de vista da técnica jurídica, as reiteradas manifestações
desta Corte Superior que utilizaram a via da desconsideração da personalidade jurídica como forma de se
estender os efeitos da falência para além dos sócios de responsabilidade solidária e ilimitada, conforme era
expressamente previsto no art. 5º do Decreto-Lei n. 7.661/1945. Vale enfatizar que, ainda hoje e com mais
veemência no antigo regime falimentar, o instituto da falência tinha conotação essencial de sanção legalmente
imposta ao empresário insolvente. Desse modo, a princípio, a extensão dos efeitos da falência indicaria uma
incidência restrita. Contudo, a necessidade de sancionar de forma equilibrada todos aqueles que agiam com
intuito fraudulento deu ensejo ao levantamento do véu da autonomia empresarial como forma de assegurar a
aplicação do regime falimentar aos que concorriam, de forma abusiva, para a lesão dos credores sujeitos ao
regime da execução coletiva.

Confira-se: FALÊNCIA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA. DUAS RAZÕES


SOCIAIS, MAS UMA SÓ PESSOA JURÍDICA. QUEBRA DECRETADA DE AMBAS. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA
AO ART. 460 Documento: 60881962 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 11 de 15 Superior Tribunal
de Justiça DO CPC. - O Juiz pode julgar ineficaz a personificação societária, sempre que for usada com abuso de
direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros. - Consideradas as duas sociedades como sendo uma só pessoa
jurídica, não se verifica a alegada contrariedade ao art. 460 do CPC. Recurso especial não conhecido. (REsp n.
63.652/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, DJ 21/8/2000, p. 134) Como evolução dessa aplicação
subjetiva da teoria da disregard doctrine, em que era imprescindível a evidência da utilização abusiva de forma
consciente, portanto, utilizada para coibir fraudes aos contratos ou à lei (CORDEIRO, António Menezes. O
levantamento da personalidade colectiva no direito civil e comercial. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. p. 125-
126), aos poucos o instituto ganhou certo grau de abstrativização. Viabilizou-se, assim, a incidência do instituto a
casos em que se verifica, de forma objetiva, uma desconformidade entre o privilégio da personificação jurídica e a
intenção normativa extraída de dispositivos legais, como é o caso da crescente utilização de grupos societários,
cujas pessoas jurídicas são apenas formalmente autônomas. Noutros termos, passa-se a reconhecer que, em
algumas situações específicas, autoriza-se a desconsideração como consequência normativa desprendida da
intenção fraudulenta dos partícipes.

Nesse sentido, também já concluiu esta Terceira Turma: PROCESSO CIVIL. FALÊNCIA. EXTENSÃO DE
EFEITOS. POSSIBILIDADE. PESSOAS FÍSICAS. ADMINISTRADORES NÃO-SÓCIOS. GRUPO ECONÔMICO.
DEMONSTRAÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. CITAÇÃO PRÉVIA.
DESNECESSIDADE. AÇÃO REVOCATÓRIA. DESNECESSIDADE. 1. Em situação na qual dois grupos
econômicos, unidos em torno de um propósito comum, promovem uma cadeia de negócios formalmente lícitos
mas com intuito substancial de desviar patrimônio de empresa em situação pré-falimentar, é necessário que o
Poder Judiciário também inove sua atuação, no intuito de encontrar meios eficazes de reverter as manobras
lesivas, punindo e responsabilizando os envolvidos. 2. É possível ao juízo antecipar a decisão de estender os
efeitos de sociedade falida a empresas coligadas na hipótese em que, verificando claro conluio para prejudicar
credores, há transferência de bens para desvio patrimonial. Inexiste nulidade no exercício diferido do direito de
defesa nessas hipóteses. 3. A extensão da falência a sociedades coligadas pode ser feita independentemente da
instauração de processo autônomo. A Documento: 60881962 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 12
de 15 Superior Tribunal de Justiça verificação da existência de coligação entre sociedades pode ser feita com
base em elementos fáticos que demonstrem a efetiva influência de um grupo societário nas decisões do outro,
independentemente de se constatar a existência de participação no capital social. 4. O contador que presta
serviços de administração à sociedade falida, assumindo a condição pessoal de administrador, pode ser
submetido ao decreto de extensão da quebra, independentemente de ostentar a qualidade de sócio, notadamente
nas hipóteses em que, estabelecido profissionalmente, presta tais serviços a diversas empresas, desenvolvendo
atividade intelectual com elemento de empresa. 5. Recurso especial conhecido, mas não provido. (REsp n.
1.266.666/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 25/8/2011)
Seja nas hipóteses de incidência da teoria subjetiva da desconsideração, seja nos casos de
reconhecimento de grupo empresarial e consequente aplicação da teoria objetiva, o resultado de sua aplicação
incidental em procedimentos falimentares era sempre a extensão dos efeitos da falência para aqueles que fossem
visualizados no exato momento do levantamento do véu da autonomia patrimonial. Nota-se, portanto, que a
aplicação da disregard doctrine, no âmbito do procedimento falimentar tal qual sua aplicação geral no direito civil,
tem por finalidade estender a responsabilidade para aqueles que estariam, por lei, a priori, excluídos da
responsabilização, mas que, no momento do levantamento em razão da autonomia do ente coletivo, são
identificados na fotografia da realidade empresarial.

6. A validade do ato requer objeto lícito, agente capaz, e forma prescrita ou não defesa em lei. Assim o ato
praticado pelo absolutamente incapaz sem a devida representação é nulo ou anulável?
Considerando que o absolutamente incapaz (art. 3º) não possui capacidade civil plena, já que ausente a
capacidade de fato ou de exercício, não pode exercer pessoalmente os atos da vida civil, devendo ser
representado. Se não obstante esta particularidade, o menor de dezesseis anos pratica ato jurídico em sentido
estrito ou negócio jurídico, sem estar devidamente representado, o ato/negócio é nulo, conforme expressamente
prevê ao art. 166, I, CC/02.

7. É correto afirmar que tanto na declaração da nulidade e a decretação de anulação do negócio jurídico
ocorre o retorno das partes à situação anterior?
Considerando que o negócio nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do
tempo, nos termos do art. 169, CC/02, conclui-se que ao se reconhecer a nulidade do ato está-se declarando,
reconhecendo, uma situação já existente, o que significa que esta declaração produz efeitos ex tunc.
No entanto, no que tange ao reconhecimento de hipóteses que geram a anulação do ato, trata-se de ato
constitutivo, já que, conforme art. 172, CC/02, o negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, e
convalesce-se pelo decurso do tempo. Assim sendo, seria o caso de se atribuir efeitos ex nunc à decisão que
decreta a anulação do negócio. No entanto, não obstante a particularidade apontada, o art. 182, CC/02 prevê que
mesmo no caso de anulação deverá haver retorno das partes ao estado anterior.

Processo Civil
Examinador: Adriano Cardoso da Silva
Ponto: Aspectos processuais da LACP.

1. Em relação a uma prova pericial, requerida pelo MP, a quem cabe pagar o ònus dessa perícia, se é que é
devido? Esse entendimento está em consonância com o entendimento do STJ? A senhora conhece o
entendimento do STJ sobre o tema?
A Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.253.844/SC (Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 17/10/2013), submetido ao rito do art. 543-C do CPC/73 (art. 1.036 do
CPC/2015), firmou entendimento no sentido de que, em sede de ação civil pública, promovida pelo Ministério
Público, o adiantamento dos honorários periciais ficará a cargo da Fazenda Pública a que está vinculado o
Parquet, pois não é razoável obrigar o perito a exercer seu ofício gratuitamente, tampouco transferir ao réu o
encargo de financiar ações contra ele movidas, aplicando-se, por analogia, a orientação da Súmula 232/STJ, in
verbis: "A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do depósito prévio dos honorários
do perito"
OBS: não se tratando de ACP, conferir §1º, art. 91, CPC/15
2.Quem são os legitimados a propor a ACP? Pode citar apenas os principais.
Vide art. 5º, LACP.

3.É possível ACP para tratar de impostos, contribuições previdenciárias, FGTS?


Nos termos do parágrafo único, art. 1º, Lei 7.347/85, em ACP, veicular pretensões referentes às
mencionadas matérias. Porém, deve-se tecer algumas considerações sobre o tema.
Leciona Didier, citando decisão do STJ, que seria possível propor ACP cuja causa de pedir envolva
matéria tributária. O que seria vedado pela norma é a dedução de pretensão tributária. Acrescenta ainda o autor
que em se tratando de mandado de segurança coletivo não há limitação quanto ao pedido em matéria tributária.
(f. 372)
Quanto ao FGTS leciona Didier que foram propostas várias ações individuais e coletivas para discussão
da matéria, tendo o STJ entendido que a matéria tem cunho eminentemente constitucional. A questão ainda não
foi definitivamente decidida.
STF reconheceu repercussão geral na matéria, no RE 643978, pendente de julgamento.

4.Com relação ao FGTS a senhora conhece o entendimento do STJ? Ainda que eventualmente os
beneficiados possam ser identificados no momento do cumprimento de sentença?
Vide resposta acima. Sinceramente não sei se tem alguma outra peculiaridade sobre o FGTS. Procurei
no site do STJ e buscador do dizer o direito e o que encontrei mais recente são dois julgados que apesar tratam
da execução individual de sentença coletiva relativa ao FGTS, embora tenha sido reconhecida a prescrição da
pretensão executória. EDcl no AREsp 1177654 e AREsp 1177654. SE ALGUÉM SOUBER ALGO MAIS FAVOR
INFORMAR.

5. Quais são as pessoas que podem provocar o MP a tomar a titularidade/propor uma ACP?
Nos termos dos arts. 6º e 7º, LACP qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a
atuação do MP. Juízes e Tribunais também deverão provar tal iniciativa.

6. Quanto ao servidor público, a lei dá a ele uma situação especial, quanto à provocação do MP para a
ACP?
Vide resposta acima

7. Seria possível a formulação de um TAC com relação às matérias que podem ser objeto de ACP?
Supondo-se possível, qual a natureza do título? A legislação específica trata como título executivo
extrajudicial? A LACP nega esta analogia do CPC?

Nos termos do §6º, art. 5º, LACP, os órgãos públicos legitimados podem celebrar termo de ajustamento
de conduta que terá eficácia de título executivo extrajudicial. Nada impede que o TAC seja levado à homologação
judicial, quando, então, terá natureza jurídica de título executivo judicial.
Leis específicas, tais, como ECA, Estatuto do Idoso, também preveem a pactuação do TAC. Também nestas leis o
TAC é considerado título executivo extrajudicial.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Carlos Alberto Varela
1. Defina direito de propriedade e aponte os limites definidos pela sua função social.
Direito de propriedade é direito real que possibilita ao seu titular o exercício de um feixe de atributos
consubstanciados nas faculdades de usar, gozar dispor e reivindicar a coisa que lhe serve de objeto. Propriedade
significa tanto um poder jurídico do indivíduo sobre a coisa (sentido subjetivo) quanto a coisa apropriada por ele
(sentido objetivo).
Os limites definidos pela função social da propriedade estão definidos no §1º, art. 1228, CC/02.

2. O que é a função social dentro do sistema jurídico? (a candidata falou sobre o direito do proprietário de
usar, dispor e reaver). Onde está em nosso ordenamento jurídico o anteparo para esse direito de suar,
dispor, reaver?

A função social deriva do princípio da solidariedade previsto no art. 3º, I, CF. Significa o reconhecimento
da utilidade social, da repercussão social, do exercício de direitos, da celebração de contratos, da realização de
atividades. Especificamente quanto ao direito de propriedade trata-se do reconhecimento de que, no mundo
moderno, o direito individual sobre as coisas impõe deveres em proveito da sociedade e até mesmo no interesse
de não proprietários.
Pode-se dizer que a função social, na contemporaneidade, se afastou da concepção de limites externos,
passando a integrar os próprios conteúdos da propriedade ou de qualquer direito sobre o qual ela recaia.

3. O que é segundo nossa legislação uma cidade sustentável? E qual o papel do MP nessa seara? O que,
na prática, o MP pode fazer? Ele tem instrumentos dos quais possa se valer? Quais são eles?
O art. 2º, I, Estatuto da Cidade, define o direito a cidades sustentáveis como o direito à terra urbana, à
moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e
ao lazer, para as presentes e futuras gerações. O respeito ao direito a cidades sustentáveis significa, então,
garantia de direitos sociais e outros direitos fundamentais aos habitantes de uma cidade. Significa garantia e
manutenção de uma cidade dotada de infraestrutura necessária para o bem estar de toda a população presente e
futura.
Desta forma, considerando que nos termos do art. 127, 129, III, CF, compete ao MP a defesa dos
interesses sociais, do meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos que integram o conceito de cidade
sustentável, o descumprimento do direito à cidade sustentável, em qualquer de suas manifestações, possibilita a
propositura de ação civil pública em face do Município, não se podendo olvidar, também, da utilização de
instrumentos extrajudiciais aptos a compelir o poder público a cumprir o dever de garantir o direito em questão,
tais como TAC, recomendações, fiscalização do orçamento municipal, etc.

4. PJ de direito público causa dano ambiental, especificamente derramamento de produto químico num
curso d’água. Quais são as consequências nas esferas administrativa, cível e criminal? Duas perguntas
de ordem prática: no cível, com relação à reparação do dano, quais os pedidos o MP deveria fazer, e no
criminal, como seria a denúncia?
O derramamento de produto químico em curso d’água causa poluição ambiental, situação de que
enquadra no art. 54, Lei 9605/98, bem como art. 61, Decreto 6514/08, o que possibilita responsabilização penal,
administrativa e também cível. Salienta-se, no entanto, que para haver responsabilidade penal e administrativa é
necessária a demonstração do elemento subjetivo, não se podendo falar em responsabilidade objetiva. Ainda
quanto à responsabilidade penal há entendimento tanto quanto à possibilidade de se imputar crime ambiental à
pessoa jurídica de direito público, quanto entendimento contrário.
No que tange à responsabilidade civil ela é objetiva e ilimitada. Sendo o Estado poluidor direto cabe à ele
realizar a reparação do dano. Mas deve-se registrar que em se tratando de dano ambiental, antes de se pleitear o
recebimento da indenização correspondente deve-se tentar obter a recuperação ambiental. Apenas quando a
reparação ou restauração em espécie não for possível é que se deverá buscar a compensação ambiental e, em
último caso, a indenização em pecúnia.

5. Quais as diferenças entre o constitucionalismo social e o constitucionalismo socioambiental?


Constitucionalismo social significa o reconhecimento no ordenamento interno de direitos sociais.
Incorporação ao texto constitucional de dispositivos normativos destinados a definir, reconhecer, direitos sociais,
culturais e econômicos. A Constituição mexicana de 1917 foi a primeira a incluir um catálogo de direitos sociais,
seguida pela Constituição de Weimar de 1919.
Considerando que não se pode falar em um catálogo fechado de direitos fundamentais, havendo
reconhecimento, com o passar do tempo, de novos direitos, pode-se falar, desta forma, em uma terceira
dimensão de direitos fundamentais, cujo marco axiológico é a solidariedade. Neste contexto verifica-se a
incorporação no texto constitucional de normas voltadas à garantia, à defesa, de direitos titularizados por todo o
grupo social. Entre estes direitos pode-se mencionar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Ressalta-se que o reconhecimento pelo ordenamento jurídico de direitos de terceira dimensão não
importa exclusão de direitos fundamentais já incorporados na ordem interna em momento anterior. Pelo contrário.
Diante do que foi dito, pode-se então falar em um constitucionalismo socioambiental.

PESSOAL, A RESPOSTA FOI REDIGIDA CONFORME TUDO QUE JÁ LEMOS SOBRE DIREITOS
FUNDAMENTAIS, E TEXTOS QUE LI NA INTERNET. NÃO ENCONTREI UMA DEFINIÇÃO EXPECÍFICA SOBRE
CONSTITUCIONALISMO SOCIOAMBIENTAL, MAS ACREDITO QUE A IDEIA É ESTA MESMA QUE COLOQUEI
NA RESPOSTA.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas

1. Qual seria o primeiro princípio constitucional do direito processual comum? (Inafastabilidade da tutela
jurisdicional)

2. Qual seria a norma referente ao interesse jurisdicional do mérito do direito coletivo? E de direito
material? Qual seria a norma do art. 5º que traria esta proeminência/procedência da tutela coletiva?
Atualmente o CPC/15, que acredito que não estava em vigor na época que a pergunta foi formulada,
prevê o princípio da primazia do conhecimento do mérito do processo no art. 4º, havendo outros dispositivos no
CPC dos quais também se pode extrair este princípio (ex: art. 6º, art. 76, art. 139, IX, etc). Tais normas aplicam-se
ao processo coletivo, conforme autorizado pelo art. 19, LACP.
Antes mesmo da vigência do CPC/15 podia-se extrair o princípio, no que tange ao processo coletivo, do
art. 103, CDC, art. 16, LACP, art. 18, LAP, conforme leciona Didier:
A existência desse princípio no microssistema da tutela coletiva é antiga e muito clara.
Uma disposição referente a esse princípio, no âmbito da tutela coletiva, pode ser encontrada na previsão
da coisa julgada secundum eventum probationis. Seguindo a premissa da legislação, não haverá coisa julgada no
caso de improcedência por falta de provas (art. 103, CDC; art. 16, da Lei 7.347/85; art. 18, da lei 4717/65). O que
se pretendeu foi garantir que o julgamento pela procedência ou improcedência fosse efetivamente de mérito, não
uma decisão que se limite a aplicar o ônus da prova como regra de julgamento.
O STJ, lastreado neste princípio, considera necessária a continuidade do processo, inclusive nos casos
em que seja detectado um vício de representação da associação que originariamente ajuizou a ação coletiva (...).
Além disso, percebe-se a aplicação deste princípio no entendimento segundo o qual a ilegitimidade ativa
no processo coletivo deve implicar sucessão processual, saindo a parte ilegítima e ingressando uma parte
legítima (...). (vol. 4, pág. 121).
Quanto à ultima pergunta o examinador informou que a norma seria o §1º, art. 5º, CF, que estabelece a
aplicação imediata das normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais.

3. Quem é a parte ativa numa ação coletiva? Seria possível dizer que existe um legitimado formal e um
legitimado material, nesse sentido, quanto à litispendência, ela é possível numa ação coletiva?
Entendo que em se tratando de ação coletiva o polo ativo deve ser ocupado por qualquer dos legitimados
previstos no art. 5º, LACP, substitutos processuais. Considerando que não são eles os titulares dos direitos cuja
tutela está sendo buscada na ACP, pode-se dizer, neste contexto, que eles seriam legitimados formais.
Pensando no caso de uma ACP tratar de matéria que poderia ser abordada em ação popular, nesta
hipótese, o cidadão, poderia intervir. Neste contexto poderia-se falar em legitimidade material do cidadão? Mas
conforme leciona Didier, pág. 245, apesar de ser possível esta intervenção, não pode o indivíduo propor demanda
coletiva senão a ação popular, daí que, se o ente coletivo desistir do feito, não poderá o cidadão nele prosseguir.
Neste mesmo sentido pode-se pensar no caso do indíviduo que intervém na ACP que versa sobre direito
individual homogêneo.
Desta forma, acredito que não se possa falar em legitimidade material. O titular do direito não tem
legitimidade ativa para o processo coletivo, apesar da possibilidade de intervenção nos casos apontados.
Quanto à litispendência, ela é possível no processo coletivo. Conforme leciona Didier, há litispendência
quando pendem processos com o mesmo conteúdo. A mesma situação jurídica controvertida é posta em
mais de um processo para ser resolvida. De acordo com o autor é possível haver litispendência, nos termos
mencionados, mesmo que não haja a tríplice identidade.
Assim, possível reconhecer a litispendência em processos coletivos, mesmo que se trate de ações
propostas por diferentes legitimados ativos.
Alerta Didier:
Normalmente costuma-se atribuir à litispendência o efeito de extinguir o segundo processo sem exame
de mérito.
Muito embora nossa legislação seja omissa a respeito, essa será a consequência quando houver
litispendência entre causas coletivas, com tríplice identidade dos elementos da demanda. (...).
Quando ocorrer litispendência com partes diversas, porém, a solução não poderá ser a extinção de um
dos processos, mas, sim, a reunião deles para processamento simultâneo. (...). (pág. 175/176)

4. Qual a diferença de ação coletiva para ACP?


O examinador considera que uma ação não se define pelo nome, mas pelo objeto, sendo as definições
menos importantes. E considera que são todas ações coletivas.
Acrescento, ainda, que há quem faça distinção dizendo que ACP seria a ação da qual seria titular o MP, e
coletiva quando proposta pelos demais legitimados ativos. Edilson Vitorelli, no curso de segunda etapa, registrou
que, talvez, diante dos julgados do STF sobre a atuação das associações, nos quais se falou que naqueles casos
se tratava de ação coletiva ordinária, e não ação regulada pela Lei 7347/85, poder-se-ia, então, pensar, que há
diferença entre ação coletiva e ACP.
5. Numa situação de transação judicial, o MP propõe um termo, homologado judicialmente, quais os
efeitos disso para fins de coisa julgada? Isso faz com que não seja possível que outros legitimados
proponham ação para defender os interesses relacionados no termo?
Conforme Didier, vol. 4, fls. 358/359:
A própria autocomposição em processos coletivos deve ser a mais bem informada possível. Acordos
muito precoces, sem as informações necessárias sobre os impactos, a extensão e as consequências do ilícito ou
do dano e sem condições de afirmar quais as medidas necessárias ou mais adequadas para sua mitigação e
reparação, tendem a ser prejudiciais à tutela dos direitos e devem ser controladas pelo juiz no momento da
homologação.
A coisa julgada, caso exista homologação de acordo nestes casos, será rebus sic stantibus: sobrevindo
circunstância de fato que altere a situação definida na sentença poderá ser reproposta nova ação. (...)
A decisão de homologação anterior pode ser revista, no caso de haver novas provas e novos fatos,
capazes de por si só, alterar os elementos do acordo homologado.

E QUANTO À SEGUNDA PERGUNTA:


Não. Além do anteriormente consignado, pode-se também dizer que na hipótese de o termo homologado
não possibilitar a tutela integral do direito é possível que outros legitimados proponham outra ACP ou, em se
tratando de órgão público, apresente até mesmo um TAC.

6. Quais os limites da coisa julgada na ação coletiva? A respeito da coisa julgada, o que a senhora
entende sobre os termos do art. 16 da LACP? A senhora considera essa norma constitucional?
Quanto aos limites objetivos a regra é submeter à coisa julgada o conteúdo da norma jurídica
individualizada, decorrente do dispositivo da decisão. Não se deve olvidar, também do disposto nos §§ 1º e 2º,
art. 503, CPC/15.
A peculiaridade da coisa julgada nos feitos coletivos se relaciona com os limites subjetivos e ao modo de
produção.
Quanto aos limites subjetivos, em se tratando de direitos difusos, fala-se em coisa julgada erga omnes.
Se o feito versar sobre direito coletivo, tem-se coisa julgada ultra partes, e se relativo a direito individual
homogêneo, também se fala em efeito erga omnes.
No que tange ao modo de produção da coisa julgada, fala-se coisa julgada pro et contra, secundum
eventum litis, e secundum eventum probationis.
Em se tratando de direitos difusos e coletivos, optou-se pelo regime da coisa julgada secundum eventum
probationis. Convém observar, ainda, que a decisão de procedência ou improcedência com esgotamento de
prova, está apta a tornar-se indiscutível no âmbito coletivo. Então, para Didier, não é correto, portanto, dizer que a
coisa julgada coletiva é estritamente secundum eventum litis; o que é segundo o resultado do litígio é a sua
extensão, apenas para beneficiar os titulares de direitos individuais.
No que concerne aos direitos individuais homogêneos, no que tange à possibilidade de propositura de
novo feito coletivo, ela é pro et contra. Independente do resultado não há possibilidade de se propor outro feito
coletivo, não se confundindo, isto, com a extensão do resultado do litígio, como acima apontado.
Dia 10 – Ponto 12 – Caio César Nascimento, Mariana Richter, Joaquim Úrsula Júnior, Murilo Monte

GRUPO TEMÁTICO I

Constitucional
Examinador: Dra. Elaine Parisi
Ponto: Poder Legislativo e Registro de candidatura

1. Em quais casos o parlamentar poderá perder o mandato?


Excelência, as hipóteses de perda do mandato do parlamentar encontram-se listadas no art. 55 da
Constituição Federal. Estará sujeito à perda do mandato, portanto, o parlamentar que infringir as
incompatibilidades e impedimentos do art. 54 da Constituição; cujo procedimento for declarado incompatível com
o decoro parlamentar; que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões
ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; que perder ou tiver suspensos
os direitos políticos; quando decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos na Constituição; que sofrer
condenação criminal em sentença transitada em julgado. Cumpre esclarecer que nas hipóteses de quebra de
decoro, infringência das incompatibilidades/impedimentos e condenação criminal, caberá à casa respectiva
decidir, por maioria absoluta e em votação ostensiva (EC nº 76/2013), sobre a perda do mandato. Já nos casos
de ausência injustificada à terça parte das sessões ordinárias, perda/suspensão de direitos políticos, e decisão da
Justiça Eleitoral, incumbirá à Mesa da Casa respectiva declarar a perda do mandato, assegurada a ampla defesa.
Daí a se dizer, seguindo as lições de José Afonso da Silva, que a Constituição Federal difere as hipóteses de
cassação e de extinção do mandato, uma vez que nos casos de cassação há uma decisão constitutiva, e nos
casos de extinção uma mera declaração, tudo conforme já explicitado. Fala-se aqui, naturalmente, de cassação
do mandato, e não de direitos políticos, hipótese vedada pela Constituição Federal (art. 15).
Há grande polêmica quanto à hipótese de perda do mandato no caso de condenação criminal transitada
em julgado, figurando três correntes sobre o tema. A primeira corrente mesmo o Deputado Federal ou o Senador
tendo sido condenado criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, ele somente perderá o
mandato se assim DECIDIR a maioria absoluta da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. É a posição
adotada pela 2ª Turma do STF. Para a segunda corrente, o § 2º do art. 55 da CF/88 não precisa ser aplicado em
todos os casos nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas
hipóteses em que a decisão condenatória não tenha decretado a perda do mandato parlamentar por não estarem
presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi proferida anteriormente à expedição do diploma, com o
trânsito em julgado em momento posterior. O STF já adotou esta corrente no julgamento do “Mensalão” (AP
470/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 10 e 13/12/2012) (Info 692).
Já a terceira corrente assevera que se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em
regime fechado: a perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste caso, caberá à Mesa da
Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder discordar da decisão do STF), nos termos
do art. 55, III e § 3º da CF/88. Se, porém, o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto
ou semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O Plenário da Câmara ou do
Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, se o condenado deverá ou não perder o mandato. É a posição
adotada pela 1ª Turma.

2. O art. 54 da CRFB prevê diversas incompatibilidades, a partir da posse, quais são elas?
O art. 54 da CRFB, ao prever impedimentos de Deputados Federais e Senadores da República, erige,
em conjunto com as prerrogativas enunciadas no art. 53, o Estatuto do Congressista. Enquanto o art. 53 elenca
prerrogativas e imunidades parlamentares, o art. 54 estabelece impedimentos, ou seja, limitações ao exercício da
função legislativa, de modo a impedir a confusão de interesses e patrimônios.
Dentro dessa perspectiva, os Deputados Federais e Senadores da República não podem, desde a
diplomação, firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a
cláusulas uniformes, e aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam
demissíveis ad nutum, nessas entidades. Igualmente, os membros do Congresso Nacional não podem, desde a
posse, ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com
pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; ocupar cargo ou função de que sejam
demissíveis ad nutum; patrocinar causa em que seja interessada pessoa jurídica de direito público, autarquia,
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público e ser titulares de
mais de um cargo ou mandato público eletivo.
Quanto ao tema o STF já decidiu que as restrições constitucionais inerentes ao exercício do mandato
parlamentar não se estendem ao suplente. [MS 21.266, rel. min. Célio Borja, j. 22-5-1991, 1ª T, DJ de 22-10-
1993.]

3. O STF pode reavaliar a motivação que levou a casa legislativa a cassar o mandato por falta de decoro
parlamentar?
Primeiramente, Excelência, cabe definir no que consiste a quebra de decoro parlamentar, que seria o
abuso das prerrogativas do membro do Congresso Nacional, bem como a percepção de vantagens indevidas e
outros casos definidos em regimentos internos. A doutrina esclarece que a hipótese enseja grande
discricionarismo político à Casa Legislativa a que pertence o parlamentar, de modo que o STF vem-se recusando
a reavaliar a motivação que levou a Casa Legislativa a cassar o parlamentar por falta de decoro, embora controle
a observância de garantias formais, como a da ampla defesa. Assim: “Ato da Câmara dos Deputados.
Constituição, art. 55, inciso II. Perda de mandato de Deputado Federal, por procedimento declarado incompatível
com o decoro parlamentar. (...) Inviável qualquer controle sobre o julgamento do mérito da acusação feita ao
impetrante, por procedimento incompatível com o decoro parlamentar...” (MS 21.861, rel. Min. Néri da
Silveira, DJ de 21-9-2001). No mesmo sentido, MS 23.388, rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 20-4-2001.
Deste modo, seguindo a jurisprudência do STF, não se admite o controle da cassação do mandato por
quebra de decoro parlamentar, tendo em vista que a hipótese se insere no domínio das questões interna corporis
das Casas Legislativas.

4. Discorra sobre a imunidade formal dos congressistas.


Com a finalidade de assegurar a liberdade do representante do povo ou do Estado-membro no
Congresso Nacional, e isso como garantia da independência do próprio parlamento e da sua existência, a
Constituição traça um conjunto de normas que instituem prerrogativas e proibições aos congressistas.
Algumas dessas prerrogativas ganham o nome de imunidade, por tornarem o congressista excluído da
incidência de certas normas gerais. A imunidade pode tornar o parlamentar insuscetível de ser punido por certos
fatos (imunidade material) ou livre de certos constrangimentos previstos no ordenamento processual penal
(imunidade formal).
Deste modo, a chamada imunidade formal (freedom from arrest) - também denominada de
incoercibilidade pessoal relativa - não exclui o crime, mas protege o parlamentar em relação à prisão e ao
processo penal (imunidade processual).
Consoante a Constituição Federal, a partir da expedição do diploma, os parlamentares não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos deverão ser remetidos dentro de vinte e
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (CF, art.
53, § 2.°). Importante dizer que existe controvérsia quanto a imunidade formal no caso da prisão civil decorrente
do inadimplemento de obrigação alimentar, sendo que Uadi Bulos admite a hipótese, o que por sua vez é refutado
por Gilmar Mendes.
Convém destacar que a votação dos congressistas não mais será secreta, conforme regra anterior à EC
n. 35/2001, e sim pelo voto aberto, implementando-se, por meio dessa nova sistemática, a transparência que
deve sempre imperar nesse tipo de votação. A aprovação pela Casa, dessa forma, é condição necessária para a
manutenção da prisão em flagrante delito de crime inafiançável (prisão processual ou cautelar) já realizada.
Portanto, se a Casa parlamentar decidir pela não manutenção do cárcere, a prisão deverá ser imediatamente
“relaxada” (trata-se de decisão política e discricionária do Parlamento, que poderá assim resolver mesmo na
hipótese de não se verificar qualquer ilegalidade, o que nos permite afirmar que a regra do art. 53, § 2.º, deve ser
tida como especial em relação à regra geral do art. 5.º, LXV, da CF/88, que exige o requisito da ilegalidade para o
relaxamento da prisão). (Consultar o caso do senador Delcídio do Amaral, info 809).
Quanto à prisão em razão da sentença judicial transitada em julgado o Supremo Tribunal Federal decidiu
por afastar a imunidade formal dos parlamentares, admitindo o cumprimento das penas impostas (Ação Penal
470, caso “Mensalão”).
Calha esclarecer, por fim, que a imunidade formal abrange, outrossim, a chamada imunidade formal para
o processo. As regras sobre a imunidade formal para o processo criminal dos parlamentares sofreram profundas
alterações pela EC n. 35/2001, mitigando a amplitude dessa “garantia”. Antes da aludida reforma, os
parlamentares não podiam ser processados sem a prévia licença da Casa, que, em muitos casos, não era
deferida, ocasionando situações de verdadeira impunidade. De acordo com a nova regra, então, oferecida a
denúncia, o STF poderá recebê-la sem a prévia licença da Casa Parlamentar. após o recebimento da denúncia
contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o STF dará ciência à Casa respectiva, que,
por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria absoluta (quorum qualificado) de seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.
O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do seu
recebimento pela Mesa Diretora, sendo que a sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o
mandato (cf. art. 53, §§ 3.º e 5.º).

5.Caso seja convocada sessão legislativa extraordinária, os parlamentares farão jus ao pagamento de
verba indenizatória?
Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará sobre a matéria para a
qual foi convocado, ressalvada a hipótese do § 8.º do art. 57, sendo vedado, ainda, o pagamento de parcela
indenizatória, em razão da convocação extraordinária (cf. art. 57, § 7.º).
Como se percebe, a EC n. 50/2006, também respondendo às críticas da sociedade que condenava, com
rigor, o pagamento de parcela indenizatória em valor não superior ao do subsídio mensal, em ato moralizador,
extinguiu o pagamento de qualquer valor extra em caso de convocação extraordinária.
A vedação contida no art. 57, § 7.º, deve ser entendida como de reprodução obrigatória para os
parlamentares dos Estados-Membros (art. 27, § 2.º, da CF/88) e do DF (art. 32, § 3.º, da CF/88) e, em nosso
entender, também de observância compulsória para os parlamentares municipais, tendo em vista o princípio da
moralidade da legislação e, acima de tudo, da simetria. Sobre a observância obrigatória o STF já decidiu: (ADI
4.587, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 22.05.2014, Plenário, DJE de 18.06.2014).

6. Os subsídios dos vereadores podem ser corrigidos durante a legislatura? Nem correção monetária?
Eles não podem corrigir de acordo com a inflação? Essa alteração anual pode ser vinculada à majoração
dos vencimentos dos servidores públicos municipais? Qual o instrumento normativo para fixar essa
majoração de subsídios dos vereadores?

De acordo com o art. 29, VI da Constituição Federal, com a redação da emenda constitucional nº 25, de
14.02.2000, o subsídio dos vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais, em cada legislatura
para a subsequente, ou seja, fica vedada tal prática na legislatura vigente. Isso porque, conforme já decidiu o
STF, a fixação de subsídios na mesma legislatura caracteriza “ato lesivo não só ao patrimônio material do Poder
Público, como à moralidade administrativa, patrimônio moral da sociedade” (STF, RE 172.212-6/SP, Rel. Min.
Maurício Corrêa, 2.ª Turma, DJ 1, de 27.03.1998, p. 19). Ressalte-se que na fixação dos subsídios deverão ser
observadas as regras da CF/88, da CE, bem como os critérios estabelecidos na respectiva lei orgânica (RE
494.253 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 22-2-2011, 2ª T, DJE de 15-3-2011).
Sugestão de resposta:
- quanto a correção monetária, tendo em vista que altera o valor nominal do vencimento, pensamos que
é necessária a edição de ato normativo municipal pela Câmara para que seja possível incidir;
- sobre o instrumento normativo cabível, o vencimento dos vereadores normalmente se dá por via de
resolução da Câmara Municipal, no entanto cogitamos a hipótese em que determinada Lei Orgânica dispõe a
exigência de lei municipal, de modo que poderia variar de acordo com o município. Não encontramos nenhuma
jurisprudência específica, assim como doutrina.
- Consoante sabido, a Constituição veda a vinculação ou equiparação de espécies remuneratórias para
efeito de remuneração do pessoal do serviço público.

7. A norma que veda a recondução dos membros das casas é de repetição obrigatória nos âmbitos
estadual e municipal? O senhor conhece jurisprudência sobre o assunto?
O STF possui entendimento em que estabelece que tal norma NÃO é princípio constitucional
estabelecido, de modo a limitar, vedar, ou proibir a ação do Poder Constituinte Decorrente. Assim, tal vedação
NÃO é norma de reprodução obrigatória. (ADI 2371 MC, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno,
julgado em 07/03/2001, DJ 07-02-2003 PP-00022 EMENT VOL-02097-03 PP-00471) (ADI 792, Relator(a): Min.
MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 26/05/1997, DJ 20-04-2001 PP-00104 EMENT VOL-02027-02 PP-
00248)

Eleitoral

1. Qual é o rito para o registro da candidatura? A vista do MP é pessoal? Em razão de qual princípio?
Os pedidos de registro de candidato devem ser entregues até às 19h do dia 15 de agosto do ano
eleitoral. Para candidatos a presidente e a vice-presidente da República, as solicitações serão feitas no TSE; para
senador, deputado federal, governador e vice-governador, deputado distrital e deputado estadual, nos TREs; e,
para vereador, prefeito e vice-prefeito, nos juízos eleitorais. Não será admitido registro de um mesmo candidato
para mais de um cargo eletivo.
Ora, consoante é sabido, exercício do direito de ser votado requer que o cidadão preencha algumas
condições, as de elegibilidade, não incorra em inelegibilidades, e cumpra ainda determinadas formalidades a
serem aferidas pela Justiça Eleitoral. Exatamente para possibilitar essa análise e viabilizar a organização do
processo eleitoral, procede-se ao pedido de registro de candidatura, dando início a um procedimento, que para
alguns doutrinadores tem natureza mista de processo administrativo, com possível desdobramento de natureza
jurisdicional.
Enquanto procedimento administrativo iniciado perante órgão da Justiça Eleitoral, e sendo essencial a
toda atividade administrativa o respeito à legalidade, caso o julgador constate, desde logo, que a candidatura não
atende aos requisitos exigidos pelo Ordenamento, pode, de ofício, indeferir o pedido de registro. Como se disse, é
também possível que outro candidato, partido político ou coligação e ainda o Ministério Público proponham ação
para impugnar o registro. Em qualquer caso, seja quando o pedido de registro de candidatura é indeferido de
ofício, ou quando venha a ser impugnado, é imprescindível assegurar a ampla defesa e o contraditório.
A depender da eleição será distinto o órgão para o qual deve ser formulado o pedido. Caso se trate de
eleições municipais, o pedido deve ser formulado ao juiz eleitoral (art. 35, XII, do Código Eleitoral). Na hipótese de
eleições gerais (Governador, Vice-Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual), o pedido é
dirigido ao Tribunal Regional Eleitoral (art. 29, I, a, do Código Eleitoral). Cuidando-se de eleições presidenciais, o
pedido deve ser encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (art. 22, I, a, do Código Eleitoral).
A lei não detalha a forma como deve ser realizado o pedido de registro de candidatura, sendo tal matéria
procedimental de concretização da lei geralmente disciplinada em Resolução do TSE editada a cada eleição.
Quanto ao pedido individual de candidatura, é importante ressaltar que este somente é admitido em
relação àquele escolhido em convenção. A Lei nº 9.504/1997 veda expressamente o registro de candidatura
avulsa.
A vista do MP no procedimento de registro de candidatura não precisa ser pessoal, conforme
entendimento do TSE, ante o princípio da celeridade aplicável ao processo eleitoral. Súmula TSE nº 49: “O prazo
de cinco dias, previsto no art. 3º da LC nº 64/90, para o Ministério Público impugnar o registro inicia-se com a
publicação do edital, caso em que é excepcionada a regra que determina a sua intimação pessoal.”
Ainda:
ELEIÇÕES 2012. RECURSO ESPECIAL. REGISTRO DE CANDIDATO A VEREADOR. PROVIMENTO
DO RECURSO ELEITORAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO INTERPOSTO QUASE UM ANO APÓS O
DEFERIMENTO DO REGISTRO PELO JUIZ ELEITORAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 11/TSE. QUEM NÃO
IMPUGNOU NÃO TEM LEGITIMIDADE PARA RECORRER. A EXIGÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO
PARQUET REFERE-SE À DECISÃO SOBRE O REGISTRO DA CANDIDATURA, E NÃO AO PEDIDO DE
REGISTRO. APLICAÇÃO DO ART. 3º DA LC Nº 64/90. RECURSO PROVIDO.
1. A orientação desta Corte firmada para as eleições de 2012 é de que incide ao Ministério Público o disposto na
Súmula nº 11/TSE, no sentido de que não tem legitimidade para recorrer da decisão que deferiu a candidatura
quem não
apresentou impugnação ao pedido de registro. Entendimento consentâneo com o decidido pelo STF no
julgamento do RE nº 728.188/RS.
2. O prazo de cinco dias, previsto no art. 3º da LC nº 64/90, para o Ministério Público impugnar o registro,
inicia-se com a publicação do edital, e não com a sua intimação pessoal. Precedentes.
3. A falta de intimação pessoal do Ministério Público da sentença que deferiu o registro do candidato não tem o
condão de afastar o óbice quanto ao disposto na Súmula nº 11/TSE.
4. Recurso provido para deferir o registro do candidato eleito.
(Recurso Especial Eleitoral nº 48423, Acórdão, Relator(a) Min. Dias Toffoli, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 113, Data 18/06/2014, Página 35)

2. Como são contados os prazos acerca do registro da candidatura?


A eleição é evento futuro e certo. Daí a forte influência do princípio da celeridade nesse processo, que
possui tempo determinado para ser finalizado. Com efeito, até 20 dias antes da data das eleições, todos os
pedidos de registro de candidatura, inclusive os impugnados, e os respectivos recursos nas instâncias ordinárias,
devem estar julgados, e publicadas as decisões a eles relativas (CE, art. 93, § 1º; LE, art. 16, § 1º). Por isso, o
processo de registro de candidatura tem prioridade sobre quaisquer outros.
Desde o encerramento do registro até a proclamação dos eleitos, os prazos processuais são contínuos e
peremptórios, correm em cartório ou secretaria, não se suspendendo aos sábados, domingos e feriados (LC nº
64/90, art. 16). Dada a especial finalidade dessa regra, não incide o disposto no artigo 219 do CPC, segundo o
qual: “Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.”
Em igual sentido é o disposto no artigo 7º, caput, da Res. TSE nº 23.478/2016, segundo o qual: “O disposto no
art. 219 do Novo Código de Processo Civil não se aplica aos feitos eleitorais”.
No cômputo dos prazos, incide o disposto no caput do artigo 224 do CPC, segundo o qual “os prazos
serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento”. Todavia, por força do aludido artigo
16 da LC nº 64/90 – no período eleitoral –, os parágrafos desse dispositivo não têm aplicação. Isso porque eles
determinam que o começo ou o vencimento do prazo sejam protraídos para o primeiro dia útil seguinte se
coincidirem com dia em que não houver expediente forense ou este “for encerrado antes ou iniciado depois da
hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica” (§ 1º), bem como que a contagem do prazo
somente “terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação” (§ 3º). A propósito, o artigo 7º, § 2º, da Res.
TSE nº 23.478/2016 esclarece que somente “fora do período definido no calendário eleitoral” serão os prazos
processuais computados na forma do artigo 224 do CPC, devendo-se, aqui, compreender que somente os
parágrafos desse dispositivo são inaplicáveis.
Não se aplicam as regras dos artigos 180, 183, 186 e 229 do diploma processual, que duplicam os
prazos respectivamente do Ministério Público, da Advocacia Pública, da Defensoria Pública e de litisconsortes
com diferentes procuradores de distintos escritórios.
No que concerne ao Ministério Público, é inaplicável o prazo de 30 dias previsto no artigo 178 do CPC,
para que ele intervenha no processo “como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na
Constituição Federal”.
Fonte: José Jairo Gomes, 2018.

Adminstrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Perguntas: Processo e procedimento administrativo

1. Quais os requisitos do procedimento administrativo? Quero saber a fonte inspiradora que ensejou
esses requisitos. Ex. autonomia
Sugestão de resposta: na doutrina não encontramos referência a “requisitos do procedimento
administrativo”, de forma que por requisitos compreendemos os princípios do procedimento administrativo. O
processo administrativo é regido por diversos princípios consagrados, expressa ou implicitamente, no texto
constitucional e na legislação ordinária. Não há um rol exaustivo no elenco dos princípios, conforme demonstra a
própria redação do art. 2.°, caput, da Lei 9.784/1999, que dispõe: “A Administração Pública obedecerá, dentre
outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência” (grifo nosso). Serão exemplificados,
abaixo, alguns dos princípios mais importantes aplicáveis aos processos administrativos.

2. O que seria o requisito da relação de causalidade?


3. Quais os objetivos do processo ou procedimento administrativo? O que eles visam a tutelar? (Sem
entrar na diferenciação entre eles)
4. Quais são as fases do processo ou do procedimento administrativo? (São 5 fases, algumas são
interligadas) (instauração – dispositiva - instrutória - controladora integrativa –)

Sugestão de resposta: A maioria parte da doutrina fala somente em 3 fases. O processo


administrativo divide-se em três fases:
a) fase introdutória ou inicial: o processo administrativo pode ser iniciado de ofício ou por provocação
do interessado;
b) fase preparatória ou instrutória: etapa da produção de provas, de apresentação da defesa e outras
alegações pelos interessados, elaboração de relatórios e outros atos necessários à formulação da decisão final; e
c) fase decisória ou de julgamento: a autoridade competente (unipessoal ou colegiado) emite a
decisão administrativa e os atos necessários à eficácia da decisão (publicação, notificação etc.).
Fonte: José Carvalho Rezende Oliveira, 2018.

5. Existem vários fundamentos que regem os princípios do processo administrativo, existem na doutrina
cerca de 20 princípios (sendo alguns subprincípios), gostaria que o senhor citasse 5 desses princípios.
Princípio do devido processo legal
O devido processo legal (due process of law), consagrado no art. 5.º, LIV, CRFB, possui dois sentidos:
a) sentido procedimental (procedural due process): a Administração deve respeitar os procedimentos
e as formalidades previstas na lei; e
b) sentido substantivo (substantive due process): a atuação administrativa deve ser pautada pela
razoabilidade, sem excessos.

Princípio do contraditório
O princípio do contraditório, previsto no art. 5.º, LV, CRFB, garante o direito de as partes serem ouvidas e
informadas sobre os fatos, argumentos e documentos relacionados ao processo administrativo, bem como impõe
o dever de motivação das decisões administrativas.

Princípio da ampla defesa


A ampla defesa, garantia consagrada no art. 5.º, LV, CRFB, reconhece o direito de a parte rebater
acusações ou interpretações com a finalidade de evitar ou minorar sanções, bem como preservar direitos e
interesses. Em regra, a ampla defesa deve ser oportunizada antes da formulação da decisão administrativa, salvo
situações excepcionais urgentes nas quais a defesa pode ser postergada para momento posterior (ex.: apreensão
de medicamentos com validade expirada, embargo de obra em área de risco etc.).7

Princípio da oficialidade
A Administração pode instaurar e impulsionar, de ofício, o processo administrativo até a decisão final,
independentemente de provocação de qualquer interessado (arts. 2.º, parágrafo único, XII, 5.º e 29 da Lei
9.784/1999). Trata-se de princípio que denota importante diferença entre o processo administrativo e o judicial,
pois, neste último caso, em razão da inércia da jurisdição, o processo somente pode ser instaurado por iniciativa
da parte (art. 2.º do CPC/2015 e art. 2.º do CPC/1973).

Princípio do formalismo moderado (ou informalismo)


Embora o processo administrativo seja formalizado por escrito e em obediência ao rito previsto na lei, não
são exigidas solenidades rígidas, salvo aquelas essenciais à garantia dos administrados (arts. 2.º, parágrafo
único, VIII e IX, e 22 da Lei 9.784/1999). O processo possui caráter instrumental (instrumentalidade das formas) e
não pode ser considerado um fim em si mesmo, admitindo-se, portanto, a superação de formalidades excessivas.

Princípio da verdade real ou material


A Administração Pública deve buscar a verdade real sobre os fatos subjacentes ao processo
administrativo, não se restringindo às versões e às provas apresentadas pelos interessados. Há uma forte ligação
entre a busca da verdade real e o princípio da oficialidade, uma vez que a Administração deve produzir, de ofício,
provas necessárias ao conhecimento dos fatos.

6. Qual o fundamento constitucional da Oficialidade em sede de processo administrativo?


A oficialidade, no âmbito do processo administrativo, expressa a ideia de que a Administração pode
instaurar e impulsionar o processo de ofício e independentemente da vontade do interessado.
Sugestão de resposta: José Carvalho Filho refere que o princípio da oficialidade decorreria da
“responsabilidade administrativa, pela qual aos administradores cabe atuar e decidir por si mesmos, não se
adstringindo, inclusive, às alegações das partes suscitadas no curso do processo.”
Talvez seja possível afirmar que a oficialidade encontra fundamento constitucional no princípio da
responsabilidade administrativa, mas pensamos que o mais adequado seria atrelá-lo ao princípio da legalidade,
uma vez que a Administração Pública deve fazer o que a lei comanda, e o agir de ofício tem sede legal.

Grupo Temático II

Penal (Fontes: Cleber Masson, Sinopse de Criminologia Juspodivm e Sinopse de Penal Geral Juspodvim)
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
Perguntas: Lei de abuso de autoridade e Lei de Preconceito Racial; Legitimação e deslegitimação do
sistema penal

1. Recentemente, houve um episódio em Porto Alegre, com o goleiro Aranha. Existe crime de preconceito
racial ali?

O episódio sob análise diz respeito a situação na qual durante uma partida de futebol determinada
torcedora passou a xingar o goleiro do time adversário, fazendo uso de palavras como ‘macaco’, etc.
No tocante à tipificação da conduta da torcedora, trata-se de injúria qualificada, prevista no art. 140, §3º
do Código Penal, usualmente também denominada de injúria racial, consistente em injuriar alguém fazendo uso
de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência.
Distingue-se o referido tipo penal do crime de racismo por ser a ofensa nesta primeira hipótese dirigida à
vítima individualizada, ao passo que nos crimes previstos na Lei 7.716/1989 as condutas evidenciam
manifestações preconceituosas generalizadas ou mesmo segregação racial.
Registre-se ainda que a injúria qualificada é delito afiançável, prescritível e de ação penal pública
condicionada à representação do ofendido (CP, art. 145, parágrafo único), enquanto o racismo, de ação penal
pública incondicionada, por mandamento constitucional expresso, constitui-se em crime inafiançável e
imprescritível (CF, art. 5.º, XLII).
2. Quais são as teorias deslegitimadoras do sistema penal? A respeito da Imersão do direito penal na
chamada sociedade de risco (citada pelo candidato), cite dois exemplos da intervenção dessa teoria do
risco, na produção legislativa, no direito penal, sob intervenção desse paradigma da sociedade de risco.
(O examinador deixou aberto ao candidato para falar em alterações dogmáticas ou legislativas)

As teorias deslegitimadoras da pena pregam que o sistema penal nos moldes atuais não cumpre seu
objetivo, o que se depreende dos crescentes índices de criminalidade, bem como da inexistência da
ressocialização do delinquente, sendo patente a crise do sistema penitenciário.

Dentre as teorias deslegitimadoras da pena destacam-se o abolicionismo penal e o minimalismo.

Os adeptos do abolicionismo pregam a eliminação do sistema penal, sob o argumento de que o mal
causado à sociedade pelo referido sistema é mais grave que o provocado pelos fatos que geram sua intervenção.

Defendem que o sistema penal reforça as desigualdades, pois pune mais severamente os integrantes
das camadas sociais mais desfavorecidas, além do que a sociedade efetivamente não sucumbe à prática de
infrações penais, mormente se forem consideradas aquelas que nem mesmo chegam ao conhecimento das
autoridades, as chamadas cifras negras da criminalidade, razão pela qual o sistema penal seria dispensável.
Se diz ainda que o sistema penal marginaliza a vítima, relegando-a a uma posição secundária no
processo.

O abolicionismo penal funda-se principalmente na descriminalização e na despenalização de


determinadas condutas, além da atenuação das sanções dirigidas às condutas ilícitas de maior gravidade.

O minimalismo, por sua vez, tem como pressupostos: a transformação social e institucional para o
desenvolvimento da igualdade e da democracia como estratégia de combate ao crime; o realinhamento
hierárquico dos bens jurídicos tutelados pelo Estado, com a consequente contração do sistema penal em
determinadas áreas e a maior expansão em outras e a defesa de um novo modelo de sistema penal assentado
em três postulados: caráter fragmentário do direito penal, intervenção punitiva como ultima ratio e reafirmação da
natureza acessória do direito penal.

No tocante à chamada sociedade de risco, a qual se caracteriza pelas profundas transformações sociais,
econômicas e tecnológicas, bem como pelo crescente reconhecimento de bens jurídicos de caráter
supraindividual, cumpre dizer que as estruturas e conceitos básicos do Direito Penal vêm passando por
relevantes adaptações, culminando em uma inegável expansão, inclusive com a criação de inúmeros crimes de
perigo abstrato, gerando um Direito Penal com uma forte característica de prevenção ao dano.

A título de exemplo dessa adaptação do Direito Penal é possível citar o fato de o legislador passa a atuar
criando figuras típicas que privilegiam a defesa dos bens jurídicos de caráter coletivo, como a ordem
socioeconômica e o meio ambiente, bem como o reconhecimento da importância de punir os chamados delitos de
acumulação, os quais tem sua existência justificada pela potencial lesividade da reiteração de determinadas
ações individuais que por si sós, a princípio, não seriam aptas a lesionar bens jurídicos.
3. Uma americana Britanny Mainah (?), de 29 anos, acometida de câncer terminal, cometeu suicídio
assistido. Essa prática é permitida no Brasil? Qual seria a diferença entre a Eutanásia e o suicídio
assistido? São iguais? Não haveria aí um auxílio a suicídio? Quando haveria um auxílio ao suicídio ou um
homicídio privilegiado então? Existe auxílio a homicídio por omissão?

O suicídio assistido, conhecido também como autoeutanásia, consiste na prática de dar fim à própria vida
contando com a participação de um terceiro que o faz disponibilizando meios para a concretização do ato, ou
seja, é uma forma de auxílio material ao suicídio. Tal prática é expressamente vedada pelo ordenamento pátrio,
visto que o Código Penal, no seu art. 122, parte final, pune a conduta daquele que auxilia alguém a suicidar-se.

O suicídio assistido não se confunde com a eutanásia porque na primeira hipótese um terceiro
disponibiliza meios para que determinada pessoa por si só venha a tirar a própria vida, respondendo assim pelo
crime do art. 122 do Código Penal, ao passo que na eutanásia há um comportamento comissivo do terceiro no
sentido de tirar a vida de alguém, ainda que atendendo a pedido deste, vindo o terceiro a responder por homicídio
doloso, pois o ordenamento estabelece a indisponibilidade do direito à vida, admitindo-se, no entanto, a aplicação
da forma privilegiada (art. 121, § 1º do Código Penal), visto que é inerente à eutanásia a prática do ato em
decorrência de relevante valor moral, por estar a vítima em forte sofrimento.

Em outras palavras, no suicídio assistido o terceiro não pratica diretamente o ato que leva à morte da
pessoa, tendo, portanto, seus atos punidos na forma do art. 122 do Código Penal, praticando assim auxílio ao
suicídio, ao passo que na eutanásia a morte decorre da ação direta do terceiro, que efetivamente pratica um
homicídio, ainda que na forma privilegiada, ou seja, na eutanásia, diferentemente do auxílio ao suicídio, a conduta
do terceiro é principal e não auxiliar.

No tocante à possibilidade de auxílio ao homicídio por omissão há divergência, mas prevalece que só
seria admissível nas hipóteses de omissão imprópria, onde se identifica o dever de agir, na forma do art. 13, § 2º
do Código Penal.

Processo Penal
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Perguntas:
Medidas cautelares

1. Lei 12.403 trouxe algumas modificações e há inúmeras polêmicas a respeito. A lei tem algumas medidas
cautelares que envolvem, de uma forma ou de outra, uma privação de liberdade. Eventualmente, se o réu
fosse condenado, caberia detração penal? Fiança também? O examinador leu item por item das medidas
cautelares e perguntou sobre a detração em cada uma delas.

Excelência, a Lei 12.403 foi conhecida por pôr fim ao sistema bipolar de cautelares do Processo Penal
brasileiro, uma vez que antes da alteração legislativa, somente era possível ao magistrado decidir pela prisão
cautelar ou liberdade provisória. Com a alteração legislativa, surgiu a duvida se era possível a detração do tempo
de cumprimento de tais medidas cautelares diversas, ou seja, o cômputo deste tempo na pena aplicada na
sentença condenatória. A lei é silente, mas por revelarem as medidas cautelares diversas, em maior ou menor
grau, em privação de liberdade do agente, parte da doutrina (Renato Brasileiro) vem defendendo a possibilidade
de aplicação analógica da regra da detração penal, desde que presente a homogeneidade e semelhança entre a
medida cautelar e a pena aplicada. Ex. Recolhimento domiciliar em período noturno e limitação de fim de semana.

Quando a pena aplicada é a de privação de liberdade, ausente estarão os requisitos da similitude e


homogeneidade, de forma que a doutrina só entende como compatível a internação provisória do inimputável.
Nas demais medidas cautelares diversas não há restrição absoluta do jus libertatis.

O STF já se manifestou, antes do advento da lei 12.403, entendendo que o tempo em liberdade
provisória com fiança não poderia ser considerado para fins de detração, ante a ausência de previsão legal.

Renato Brasileiro sugere ainda que para outras medidas cautelares diversas gravosas (ex.
Monitoramento eletrônico), há que se considerar a detração mesmo na ausência de homogeneidade, para fins de
evitar uma quebra de isonomia (ex.: aquele que cumpriu tempo em monitoramento eletrônico terá a mesma pena
daquele que não cumpriu nenhuma medida cautelar). Sugere ele, o critério de detração semelhante ao da
remição da LEP.

2. Disserte acerca da necessidade, da adequação e da proporcionalidade da medida cautelar. A legislação


possui algum requisito objetivo para essa fixação ou fica dentro da subjetividade do magistrado?

Em sede de processo penal, o Poder Público não pode agir imoderadamente, pois a atividade estatal
acha-se essencialmente condicionada pelo princípio da proporcionalidade. A medida cautelar, portanto, deve ser
adequada, apta a atingir o fim proposto; Deve ser necessária, que dentre várias medidas restritivas de direitos
fundamentais idôneas a atingir o fim, seja ela a menos gravosa; E deve ser proporcional em sentido estrito,
impondo um juízo de ponderação entre o ônus e o bônus advindo da interferência na esfera de direitos do
cidadão. Entre os valores em conflito, deve preponderar o de maior importância.

Assim, sob a óptica da proporcionalidade em sentido estrito, a medida cautelar somente se legitima
quando o sacrifício da liberdade de locomoção do acusado for proporcional à gravidade do crime e às respectivas
sanções a serem impostas.

O Art. 282, estampou justamente a proporcionalidade, ao prever a sua aplicação condicionada à


necessidade para a aplicação da lei penal, para a investigação e instrução criminal, e para evitar a prática de
infrações penais; e condicionada ainda a sua adequação à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do agente, revelando aqui a previsão, em verdade, da proporcionalidade em sentido estrito.

Além destes, a lei prevê como requisito para a sua decretação que se trate de infração penal que se
comine pena privativa de liberdade, ainda que alternativamente, demonstrando-se um elemento objetivo de
proporcionalidade a direcionar a atuação do juízo criminal.

3. Disserte acerca dos requisitos e o cabimento da fiança.

A fiança consiste numa caução real destinada a garantir o cumprimento das obrigações processuais do
réu. Pode ser ela concedida em qualquer momento enquanto não houver o trânsito em julgado, ressaltando-se,
entretanto, que em se tratando de APF, considerando a análise inicial do juízo acerca do cabimento de liberdade
provisória com ou sem fiança, a concessão da fiança será mais difícil após este momento.

O CPP não estabelece quais as infrações penais admitem fiança, estabelecendo, entretanto, as que não
admitem a contracautela, quais sejam: 1. Crime de racismo; 2. Crimes de Tortura, Tráfico Ilícito de Entorpecentes
e afins, Terrorismo e Crimes Hediondos; 3. Ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático; 4. Aos que tiverem, no mesmo processo, quebrado fiança anteriormente
concedida; 5. No caso de prisão civil ou militar; 6. Quando presentes requisitos que autorizam a prisão cautelar.

A fiança, como medida cautelar que é, terá seus requisitos. Será deferida, entretanto, pela Autoridade
Policial, se a infração penal não tiver pena privativa de liberdade superior a 4 anos. Já a Autoridade Judiciária é
competente para conceder a fiança independente da pena cominada.

4. Se o investigado/acusado não tiver condições econômicas para o pagamento da fiança, pode haver a
fixação de alguma medida substitutiva?

Sim, é possível que o juiz, verificada a situação econômica do réu, não só conceda a liberdade provisória
sem fiança, sujeitando-o a outras medidas cautelares, desde que adequadas e necessárias sob o ponto de vista
do caso concreto.

GRUPO TEMÁTICO III


(Fonte: Tartuce e Cristiano Chaves)

Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Perguntas: Casamento e União Estável

1. Conceitue casamento. O senhor considera que ainda hoje o casamento é a base da sociedade? (O
examinador considera que houve uma mudança de paradigma, com o surgimento das entidades
familiares, em que o casamento deixou de ser a base da sociedade, passando a família a ser essa base.)

Segundo Cristiano Chaves, o casamento é uma entidade familiar estabelecida entre pessoas humanas,
merecedora de especial proteção estatal, constituída, formal e solenemente, formando uma comunhão de afetos
(comunhão de vida) e produzindo diferentes efeitos no âmbito pessoal, social e patrimonial. Com a CF/88, a
família foi pluralizada, assumindo diferentes feições. O casamento perdeu a exclusividade, mas não a proteção.
Continua merecedor da especial proteção do Estado (art. 226, CF), com uma das formas possíveis de
constituição da entidade familiar, mas não possui a característica da exclusividade, convivendo com a união
estável e a família monoparental, por exemplo. Ademais, o casamento tem de servir às pessoas, sendo
instrumento através do qual as pessoas desenvolvem a sua personalidade e almejam a realização plena.

2. Conceitue o que é casamento inexistente.


É o que não possui elementos fáticos que a sua natureza supõe e exige como condição existencial,
conduzindo a sua falta à impossibilidade de sua formação. O casamento inexistente é um nada jurídico, não
produzindo qualquer efeito, jamais poderá ser reconhecido como putativo, mesmo que as partes estejam de boa-
fé. Ex.: caso de coação absoluta (física).

3. Me dê uma hipótese de casamento nulo. Essa nulidade pode ser declarada de ofício, se se tratar de
nulidade absoluta? Ex. irmão casa com a irmã, chegando ao conhecimento do juiz, ele pode decretar a
nulidade de ofício? (O examinador falou que o CC prevê que a nulidade do casamento não pode ser
decretada de ofício nem haver convalidação de ofício do casamento, havendo ação própria para tanto,
com participação do MP, inclusive)
Por violação de um dos impedimentos matrimoniais do art. 1521, CC. A decretação de nulidade pode ser
promovida mediante ação direta, por qualquer interessado ou mesmo pelo Ministério Público, igualmente por
envolver preceitos de ordem pública (art. 1.549 do CC). Na linha do que leciona a doutrina quase com
unanimidade, a nulidade absoluta não pode ser reconhecida de ofício, mas apenas o impedimento matrimonial,
de acordo com o art. 1.522 do CC. Eis aqui mais um exemplo de aplicação do princípio da não intervenção,
constante do art. 1.513 do CC. Não se olvide a existência de certa polêmica, uma vez que, como a matéria de
nulidade é de ordem pública, deveria ser conhecida de ofício pelo juiz, nos termos da regra do parágrafo único do
art. 168 do CC/2002. Em suma, o último dispositivo deveria prevalecer em relação ao princípio da não intervenção
(posição de Tartuce, contudo, como o doutrinador mesmo assevera, a posição majoritária diz que o juiz não
poderia reconhecer de ofício a nulidade absoluta).

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.

4. Conceitue casamento anulável.


Cuidando de vícios de natureza privada, logicamente, o casamento anulável admite confirmação, que
pode ser expressa ou tácita, resguardando-se, por óbvio, os direitos de terceiros. Produz efeitos regulares até que
lhes sobrevenha a decisão judicial. A anulabilidade, pois, é reconhecida por meio de ação anulatória, ajuizada
pelo interessado exclusivamente, cuja natureza é, induvidosamente, constitutiva negativa, produzindo efeitos ex-
tunc (retroativos). Ademais, somente o interessado poderá suscitá-la, não sendo possível ao juiz conhece-la de
ofício ou ao Parquet suscitá-la quando tiver que intervir no processo.
5. Conceitue casamento putativo.
O casamento nulo ou anulável pode gerar efeitos em relação à pessoa que o celebrou de boa-fé e aos
filhos, sendo denominado casamento putativo. Portanto, casamento putativo é o casamento que existe na
imaginação do contraente de boa-fé. O instituto está tratado no art. 1.561 do CC.
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o
casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória. § 1.º Se
um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos
aproveitarão. § 2.º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só
aos filhos aproveitarão.

6. Conceitue casamento nuncupativo. (em estremes?)


O casamento nuncupativo está tratado no art. 1.540 da codificação, nos termos seguintes: “Quando
algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba
presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que
com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau”. Essa forma especial
de casamento não poderá ser utilizada com o intuito de enriquecimento sem causa, o que pode motivar a
decretação da sua nulidade absoluta, por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC). Também não poderá
prevalecer se decorrer de simulação absoluta, o que de igual modo gera a sua nulidade (art. 167 do CC). Aqui,
portanto, temos casos excepcionais de invalidade, em que podem ser aplicadas as regras gerais da teoria das
nulidades previstas na Parte Geral do Código Civil.
Obs.: Casamento nuncupativo (em viva voz) ou in extremis vitae momentis ou in articulo mortis.
7. Quais são as formas de dissolução do casamento válido?
A morte e o divórcio. Na separação, os consortes apenas colocam fim aos deveres recíprocos conjugais
e ao regime de bens, sem que estejam libertos da relação jurídica formada pelo matrimônio, razão pelo qual não
podem contrair um novo casamento. No caso de invalidação do casamento, não se deseja a dissolução e sim a
desconstituição.
STJ: A Emenda à Constituição 66/2010, que suprimiu do texto constitucional o prazo como pré-requisito
para o divórcio, não eliminou do ordenamento jurídico o instituto da separação judicial, que continua sendo
instrumento hábil para pôr fim ao matrimônio. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi reafirmado
pela Terceira Turma ao julgar caso em que o Tribunal de Justiça de São Paulo, confirmando decisão do juízo de
primeiro grau, não converteu uma separação em divórcio porque uma das partes se opôs expressamente. O
cônjuge que pediu a conversão em divórcio alegou que o instituto da separação judicial havia sido extinto pela EC
66. De acordo com o ministro Villas Bôas Cueva, o texto constitucional original condicionava, como requisito para
o divórcio, a prévia separação judicial por mais de um ano ou a separação de fato por mais de dois anos. Com o
advento da emenda, o texto passou a ser: “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.” Entretanto,
conforme explicou o relator, tal emenda apenas excluiu os requisitos temporais para facilitar o divórcio, sem,
contudo, revogar o instituto da separação. O ministro afirmou que “a supressão dos requisitos para o divórcio pela
emenda constitucional não afasta categoricamente a existência de um procedimento judicial ou extrajudicial de
separação conjugal, que passou a ser opcional a partir da sua promulgação”. Segundo Villas Bôas Cueva, a
opção pela separação faculta às partes uma futura reconciliação, podendo a relação ser restabelecida a qualquer
momento. Já o divórcio dissolve definitivamente o casamento.

Distinções
O ministro disse que a dissolução da sociedade conjugal pela separação não se confunde com a
dissolução definitiva do casamento pelo divórcio, por serem institutos completamente distintos. Ele considera que
a emenda “apenas facilitou a obtenção do divórcio”, mas não excluiu outros institutos do direito de família. Villas
Bôas Cueva explicou que o atual sistema brasileiro se adapta ao sistema dualista opcional, que “não condiciona o
divórcio à prévia separação judicial ou de fato”. Assim, é possível concluir que a ruptura do casamento pode
ocorrer pela via judicial ou extrajudicial das seguintes formas: a partir da dissolução simultânea do vínculo
matrimonial e da sociedade conjugal pelo divórcio ou com a dissolução restrita à sociedade conjugal pela
separação legal. A turma negou provimento ao recurso, pois considerou que como uma das partes se opôs
expressamente à conversão da separação em divórcio, estava correta a sentença que deu prosseguimento ao
processo de separação.

8. ADPF 132, o que foi dito pelo STF sobre a União Estável, utilizando o paradigma do Código Civil? (O art.
1723 não poderia ser invocado para criar um obstáculo não previsto na CRFB).
STF: “(...) Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de
conferir “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do Código Civil. Atendimento das condições da
ação. (...) 6. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO CONFORME”). RECONHECIMENTO DA UNIÃO
HOMOAFETIVA COMO FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de interpretação em sentido
preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária
a utilização da técnica de “interpretação conforme à Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em causa
qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do
mesmo sexo como família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas
consequências da união estável heteroafetiva (...).”
9. Conceitue União estável.
Segundo o art. 1.723 do CC/2002 em vigor, “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família”. O dispositivo regulamenta o art. 226, § 3.º, da CF/1988. Como se nota, o conceito é o
mesmo que constava da Lei 9.278/1996. Como reconhece o próprio Professor Villaça, a lei não exige prazo
mínimo para a sua constituição, sendo certo que o aplicador do direito deve analisar as circunstâncias do caso
concreto para apontar a sua existência ou não. Os requisitos, nesse contexto, são que a união seja pública (no
sentido de notoriedade, não podendo ser oculta, clandestina), contínua (sem que haja interrupções, sem o famoso
“dar um tempo” que é tão comum no namoro) e duradoura, além do objetivo de os companheiros ou conviventes
de estabelecerem uma verdadeira família (animus familiae). Para a configuração dessa intenção de família,
entram em cena o tratamento dos companheiros (tractatus), bem como o reconhecimento social de seu estado
(reputatio). Nota-se, assim, a utilização dos clássicos critérios para a configuração da posse de estado de
casados também para a união estável. Em tom didático, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
apresentam elementos caracterizadores essenciais e elementos caracterizadores acidentais para a união estável.
Entre os primeiros estão a publicidade, a continuidade, a estabilidade e o
objetivo de constituição de família. Como elementos acidentais, destacam o tempo, a prole e a coabitação.
Obs.: Apesar com conceito legal de exigência de diversidade de sexos, O STF interpretação conforme a
CF do caput do art. 1723 do CC/02, para se admitir a caracterização de união estável entre pessoas de sexos
distintos ou do mesmo sexo, reconhecendo-lhes todos os efeitos (pessoais ou patrimoniais) decorrentes de uma
entidade familiar.

10. Como a União estável pode ser desfeita?


- O CC não traz as hipóteses de dissolução da união estável.
- A instituição familiar caracterizada como União Estável pode ser dissolvida por acordo entre as partes,
ou por decisão judicial que determina seu fim. Cumpre a Lei dispor a respeito da partilha dos bens comuns,
concedendo os alimentos a quem deles necessitar determinarem a guarda e alimentos dos filhos.
- De acordo com o ensinamento de Roberto Senise Lisboa, a união estável se extingue “com a morte de
um dos conviventes; pela vontade de uma ou de ambas as partes, por meio da resilição unilateral (denúncia) ou
da resilição bilateral (distrato); pela resolução, ante a quebra de um dos requisitos da união estável, referente aos
deveres dos conviventes.”
-Tartuce: “Código de Processo Civil traz regras a respeito da extinção consensual da união estável, mais
uma vez equiparada ao casamento para os cabíveis fins instrumentais. Nos termos do art. 731 do CPC/2015, a
homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em
petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão: a) as disposições relativas à descrição e à partilha
dos bens comuns; b) as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges; c) o acordo relativo à
guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e d) o valor da contribuição para criar e educar os filhos.
Eventualmente, se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois de homologado o
divórcio, na forma estabelecida nos arts. 647 a 658 do mesmo Codex. O art. 732 do CPC/2015 não deixa dúvidas
a respeito da incidência dessas regras para a ação fundada em união estável, enunciando que “As disposições
relativas ao processo de homologação judicial de divórcio ou de separação consensuais aplicam-se, no que
couber, ao processo de homologação da extinção consensual de união estável”. Ademais, está previsto no Novo
CPC que o divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável, não havendo
nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura pública, da
qual constarão as disposições de que trata o art. 731 da mesma lei. Essa última é a regra do art. 733 do
CPC/2015, que estabelece, ainda, que a escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil
para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras
(§ 1.º). Ademais, está previsto que o tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos
por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial (§ 2.º). A menção à
extinção da união estável por escritura pública é inovação no sistema processual emergente. Assim, em havendo
filhos incapazes ou nascituro, por expressa previsão legal, não é mais possível o uso da via judicial. Essa
imposição não existia na lei anterior, apesar de algumas normas de corregedorias dos Tribunais estenderem a
mesma regra prevista no antigo art. 1.124-A do CPC/1973 para a união estável. Agora não restam dúvidas, eis
que, se o casal tiver filhos incapazes, ou se a companheira estiver grávida, a extinção somente é possível pela via
judicial. Quanto à gravidez da mulher, cabe relembrar que a Resolução 35 do CNJ foi alterada em abril de 2016,
no sentido de afastar a via extrajudicial em casos tais. Aqui parece que a tão citada equiparação da união estável
ao casamento acabou por judicializar a dissolução da união estável, na contramão da própria tendência do Novo
CPC”
- Artigo no site Jusbrasil: “Se as partes tiverem registrado tal união em cartório, facilitar-se-á o processo
de sua dissolução (i. E, seu término) extrajudicialmente, entretanto, os cônjuges devem estar de comum acordo -
tanto a respeito do fim da convivência, quanto à partilha dos bens eventualmente adquiridos, se um esposo
necessita de alimentos do outro, e o mais importante, não podem haver filhos menores de idade (menores de 18
anos), ou maiores e incapazes. Destaca-se, a inexistência de prévio registro da união estável em cartório, não
impossibilita sua dissolução de forma extrajudicial, desde que preenchidos os pontos mencionados, como
determina o art. 7º do Provimento 37 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Preenchidos os requisitos e optada
a via extrajudicial, o casal ainda deve estar acompanhado de advogado de sua confiança para assinar e
formalizar o ato, como determina o art. 9º da Resolução 35 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Na
eventualidade de haverem filhos menores, a dissolução da união não poderá se dar por cartório, somente pela via
judicial, por envolver interesse de crianças e adolescentes, como guarda, visitação e pensão alimentícia. Não
obstante, caso haja discordância entre o casal sobre como terminar a união, seja em razão da partilha dos bens
ou de ocasional pensão alimentícia que um cônjuge requeira ao outro, a dissolução também não poderá ser em
cartório, e sim pela via judicial. Assim, a dissolução de uma união estável pode ser descomplicada, e ser feita
rapidamente em cartório, com auxílio de um advogado, desde que preenchidos os requisitos, em resumo:
inexistência de litígio e filhos menores, ou maiores incapazes.”

11. Qual é a idade núbil prevista no CC? Existe diferença entre homem e mulher?
A respeito da capacidade matrimonial, o homem e a mulher com dezesseis anos (idade núbil) podem
casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a
maioridade civil (18 anos) – art. 1.517 do CC. Havendo divergência entre os pais, a questão será levada ao juiz,
que decidirá de acordo com o caso concreto, sempre buscando a proteção integral do menor e da família, ambos
amparados constitucionalmente (art. 1.517, parágrafo único, do CC). Conforme esclarecedor enunciado
doutrinário aprovado na V Jornada de Direito Civil, “O artigo 1.517 do Código Civil, que exige autorização dos pais
ou responsáveis para casamento, enquanto não atingida a maioridade civil, não se aplica ao emancipado”
(Enunciado n. 512 do CJF/STJ).

12. A União Estável é regida pelo regime da comunhão parcial. Analogicamente, chegando um processo
em que foi juntado um pacto, por escritura pública, dispondo diversamente sobre regime de bens,
prevendo comunhão universal de bens, o senhor acha que seria possível?
Cristiano Chaves – É um negócio jurídico pelo qual se regulamenta o regime econômico do matrimônio,
definindo, pois, o seu regime de bens, apartando-se do regime lega supletivo. Em face de seu caráter acessório,
será ineficaz o pacto antenupcial se não lhe seguir o casamento. No entanto, não se pode esquecer a
possibilidade de ser estabelecida união estável entre eles. Nesses casos, se os nubentes não casam, mas
passam a conviver em união estável, o pacto antenupcial será admitido como contrato de convivência entre eles,
respeitando a autonomia privada.

STJ: “3. Independentemente do nomen iures atribuído ao negócio jurídico, as disposições


estabelecidas pelos conviventes visando disciplinar o regime de bens da união estável, ainda que
contidas em pacto antenupcial, devem ser observadas, especialmente porque atendida a forma escrita, o
único requisito exigido. Precedente do STJ (AgInt no REsp 1590811 / RJ – 27/02/2018).”

“3. Na hipótese, há peculiaridade aventada por um dos filhos, qual seja, a existência de um pacto
antenupcial - em que se estipulou o regime da separação total de bens - que era voltado ao futuro casamento
dos companheiros, mas que acabou por não se concretizar. Assim, a partir da celebração do pacto antenupcial,
em 4 de março de 1997 (fl. 910), a união estável deverá ser regida pelo regime da separação convencional de
bens (AgInt no REsp 1318249 / GO – 22/05/2018).”

Processo civil
Examinador: Dr Adriano Cardoso da Silva
Perguntas: Ação de ressarcimento ao erário

1. Qual o seu entendimento sobre o prazo prescricional relativo a essa ação?


Resposta detalhada nas questões 2 e 3.
O examinador pretendeu a análise acerca da parte final do §5º, do art. 37, da CF/88, cuja literalidade
ressalva a imprescritibilidade de ações de ressarcimento ao erário.

2. Você sabe qual o entendimento acerca da imprescritibilidade ou da prescrição, do STJ e do STF?


(existem em ambos, o STF reconheceu a repercussão geral sobre assunto, adotando 3 linhas
interpretativas, Teori Zawascki foi seguido por todos os seus pares. O examinador ia questionar quais as
3 linhas, mas o candidato não sabia)
No voto proferido no RE 669069 o Ministro Teori Zavasky trouxe as seguintes linhas de entendimento: (A)
imprescritibilidade da ação de ressarcimento independentemente da natureza do dano, por interpretação literal do
art. 37, §5º, CF/88; (B) imprescritibilidade apenas das ações de ressarcimento por atos de improbidade
administrativa e ilícitos penais, sendo prescritíveis as ações de ressarcimento decorrentes de outros ilícitos civis.

Trechos do voto detalham as linhas de entendimento:


A) “Uma das linhas de entendimento é fundada em interpretação literal e atribui à ressalva constitucional
a consequência de tornar imprescritível toda e qualquer ação de ressarcimento movida pelo erário, desde que o
dano reclamado decorra de algum ilícito, independentemente da natureza dessa ilicitude”. Problema – ilícito em
sentido amplo é tudo que a lei não permite (“toda e qualquer ação ressarcitória movida pelo Erário, mesmo as
fundadas em ilícitos civis que sequer decorrem de dolo ou culpa. A própria execução fiscal seria imprescritível”.)

B) “Se a prescritibilidade das ações e pretensões é a regra - pode-se até dizer, o princípio -, a
imprescritibilidade é a exceção, e, por isso mesmo, a norma que a contempla deve ser interpretada
restritivamente. Nessa linha de entendimento, merece interpretação restritiva a excepcional hipótese de
imprescritibilidade prevista no citado § 5º do art. 37 da Constituição Federal. O alcance desse dispositivo deve ser
buscado mediante a sua associação com o do parágrafo anterior, que trata das sanções por ato de improbidade
administrativa” (“Interpretação que não seja a estrita levaria a resultados incompatíveis com o sistema, como seria
o de considerar imprescritíveis ações de ressarcimento fundadas em danos causados por seus agentes por
simples atos culposos” (REsp 764.278, 1ª Turma, DJe de 25.5.2008).

Há na doutrina uma terceira linha (C) que presa pela PRESCRITIBILIDADE das pretensões ressarcitórias
por danos ao erário, albergada no princípio da segurança jurídica, que impede a imprescritibilidade.

Fonte: RE 669069, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2016, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-082 DIVULG 27-04-2016 PUBLIC 28-04-2016
Fonte: Masson; Interesses Difusos e Coletivos – esquematizado, 2017, p. 859/862

3. A Lei de Improbidade Administrativa, em seu art. 23, prevê que prescrevem em 5 anos as sanções
previstas naquela lei. Como você lidaria, como promotor, com essa dicotomia existente na lei, relativa ao
art. 37, no que tange à prescrição?
Há apenas uma aparente dicotomia.
Se já houve prescrição às sanções previstas na LIA é possível o manejo de ação de improbidade
administrativa atípica, com objetivo de anular os atos administrativos e obter o ressarcimento. Essa ação não usa
o rito especialíssimo previsto no art. 17 da LIA – reservado às ações típicas –, contudo o autor pode obter a
imposição de medidas cautelares, como a indisponibilidade de bens (art. 7º, LIA).
ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. CONCESSÃO IRREGULAR DE VANTAGENS A SERVIDORES
PÚBLICOS. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL, COM PEDIDO DE ANULAÇÃO DOS ATOS
CONCESSIVOS E DE RESSARCIMENTO DOS DANOS.
1. Não se pode confundir a típica ação de improbidade administrativa, de que trata o artigo 17 da Lei
8.429/92, com a ação de responsabilidade civil para anular atos administrativos e obter o ressarcimento
do dano correspondente. Aquela tem caráter repressivo, já que se destina, fundamentalmente, a aplicar
sanções político-civis de natureza pessoal aos responsáveis por atos de improbidade administrativa (art.
12). Esta, por sua vez, tem por objeto conseqüências de natureza civil comum, suscetíveis de obtenção
por outros meios processuais.
2. O especialíssimo procedimento estabelecido na Lei 8.429/92, que prevê um juízo de delibação para
recebimento da petição inicial (art. 17, §§ 8º e 9º), precedido de notificação do demandado (art. 17, § 7º),
somente é aplicável para ações de improbidade administrativa típicas.
3. Recurso especial improvido. Acórdão sujeito ao regime do art.
543-C do CPC.
(REsp 1163643/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/03/2010,
DJe 30/03/2010)

4. Você conhece a posição do STJ, em que uma ação de improbidade foi tomada como paradigma, o que
foi decidido acerca da aplicação do art. 23 em detrimento do art. 37? Foi consolidado entendimento para
um lado, é ou não prescritível?
Vide Idem 3

5. Qual é o juiz competente para processar e julgar a ação de ressarcimento ao erário que tem como
objeto desvios de verbas públicas federais, que tem como agente o prefeito? Há alguma súmula sobre o
assunto?
Polêmica doutrinária.
1ª) Aplica a súmula 208, STJ – competência da Justiça Federal, porque cabe ao TCU fiscalizar aplicação
de recursos repassados pela União. O dado preponderante é a obrigação de prestação de contas A órgão federal
e não se houve incorporação do dinheiro ao patrimônio municipal.
2ª) Aplica a Súmula 209, STJ – competência da Justiça Estadual, porque, uma vez repassada a verba,
eventual desvio não afetará o patrimônio da União. O dado preponderante é a incorporação da verba ao
patrimônio municipal.
3ª) Afasta a aplicação das mencionadas súmulas dado que os precedentes que as originaram foram
demandas penais. Faz a fixação da competência com base na análise das pessoas que figuram nos polos da
ação. Se presente algum ente mencionado no art. 109, I, CF/88, compete à Justiça Federal; do contrário, compete
à Justiça Estadual.

GRUPO TEMÁTICO IV

Obs. Em função de acidente sofrido pelo Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas, todas as perguntas do grupo
IV serão feitas pelo Dr. Antônio Joaquim
Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Perguntas: Proteção Jurídica do idoso, tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos

1. Quais são os princípios que orientam a proteção do idoso em nosso sistema?


O Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.7412003), na mesma linha já utilizada no Estatuto da Criança e do
Adolescente, incorporou em seu texto a doutrina da proteção integral, contemplando dispositivos que visam suprir
as deficiências sofridas pelos idosos no âmbito jurídico, político e social.
Embora o Estatuto não possua um rol expresso de princípios, podem ser extraídos, mediante
interpretação teleológica e sistemática (art. 2º), três principais, a saber, os princípios: 1) da proteção integral do
idoso; 2) da absoluta prioridade outorgada ao idoso; e 3) do melhor interesse do idoso.
Ainda, no plano internacional, o Brasil é signatário da Convenção Interamericana sobre a Proteção dos
Direitos Humanos dos Idosos que, por sua vez, possui rol expresso de princípios aplicáveis aos idosos, de forma
expressa e mais detalhada:
a) A promoção e defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais do idoso. b) A valorização do
idoso, seu papel na sociedade e sua contribuição ao desenvolvimento. c) A dignidade, independência,
protagonismo e autonomia do idoso. d) A igualdade e não discriminação. e) A participação, integração e inclusão
plena e efetiva na sociedade. f) O bem-estar e cuidado. g) A segurança física, econômica e social. h) A
autorrealização. i) A equidade e igualdade de gênero e enfoque do curso de vida. j) A solidariedade e o
fortalecimento da proteção familiar e comunitária. k) O bom tratamento e a atenção preferencial. l) O enfoque
diferencial para o gozo efetivo dos direitos do idoso. m) O respeito e a valorização da diversidade cultural. n) A
proteção judicial efetiva. o) A responsabilidade do Estado e a participação da família e da comunidade na
integração ativa, plena e produtiva do idoso dentro da sociedade, bem como em seu cuidado e atenção, de
acordo com a legislação interna.
Ainda, no plano interno, há os princípios que regem a Política Nacional do Idoso, expressamente
previstos pelo art. 3º da Lei Federal n.º 8.842/94, são eles: I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de
assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua
dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral,
devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer discriminação de
qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem
efetivadas através desta política; V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as
contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela
sociedade em geral, na aplicação desta lei.”
Por fim, segundo a ONU, os princípios dos idosos podem ser sintetizados em: 1) independência; 2)
participação; 3) assistência; 4) autorrealização; e 5) dignidade.

2. O Estatuto ao tratar do Direito ao envelhecimento, prevê que é direito personalíssimo e direito social,
qual seria a diferença? O que podemos entender acerca do direito ao envelhecimento, como direito
personalíssimo e como direito social?
O “envelhecimento” é o processo gradual que se desenvolve durante o curso de vida e que implica
alterações biológicas, fisiológicas, psicossociais e funcionais de várias consequências, as quais se associam com
interações dinâmicas e permanentes entre o sujeito e seu meio.
Segundo o art. 8º do Estatuto, o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito
social.
Direito personalíssimo é aquele intransferível, irrenunciável, indisponível, inalienável e absoluto, ou seja,
ele só pode ser exercido pelo seu titular, que no caso do é o idoso. Dessa forma, o direito ao envelhecimento é
um direito da personalidade, inerente à pessoa que se encontrar em idade avançada.
Já sob a perspectiva de direito social, embora não esteja expressamente previsto no art. 6º da CF, que é
exemplificativo, o direito ao envelhecimento deve ser promovido pelo Estado, de forma que lhe pode ser exigido o
cumprimento da obrigação, disposta no art. 9º do Estatuto, de que seja garantida à pessoa idosa a proteção à
vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em
condições de dignidade. Assim, podem ser exigidas prestações positivas do Estado, para que se assegure a
efetividade do direito ao envelhecimento.

3. Quais são as regras estabelecidas em relação ao direito ao transporte do idoso?


Em relação ao direito ao transporte do idoso, cabe ressaltar que há proteção constitucional que assegura
ao maior de 65 anos o direito ao transporte coletivo urbano gratuito (art. 230, § 2º).
Já o Estatuto do Idoso prevê, em seu art. 39, que aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos, fica
assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços
seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares.
Em relação aos idosos entre 60 e 65 anos, fica a critério da legislação local dispor sobre as condições
para exercício da gratuidade nos meios de transporte coletivos públicos urbanos e semiurbanos.
Salienta-se que para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal
que faça prova de sua idade.
Além disso, nos veículos de transporte coletivo urbanos e semiurbanos, serão reservados 10% dos
assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencialmente para idosos.
No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação específica: I – a
reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-
mínimos; II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos que
excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos.
Se comprovar que tem renda igual ou inferior a 2 salários mínimos, deve comparecer 3h antes para
comprar o bilhete e meia hora antes no terminal de embarque. [não inclui despesas com pedágio, utilização dos
terminais e despesas com alimentação].
Ainda, são asseguradas a prioridade e a segurança do idoso nos procedimentos de embarque e
desembarque dos veículos do sistema de transporte coletivo.
Por fim, cabe ressaltar que é assegurada a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5% (cinco
por cento) das vagas nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a
garantir a melhor comodidade ao idoso.

4. Quem fiscaliza as entidades de atendimento ao idoso?


Segundo o art. 52 do estatuto do Idoso “as entidades governamentais e não-governamentais de
atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e
outros previstos em lei.”

5. O senhor, promotor em uma comarca, tem atribuição da tutela dos idosos. De maneira proativa, de que
maneira o senhor procederia para conhecer a situação do idoso, naquela comarca, em relação à saúde?
Como promotor com atribuição para a tutela dos idosos, deve-se soerguer uma promotoria com atuação
extrajudicial forte preocupada com a democracia participativa, exercida, principalmente, por meio das
Conferências e Conselhos de Saúde e do Idoso, bem como das audiências públicas, e com boa aplicação dos
recursos depositados no Fundo Municipal de Saúde, garantida por meio da implementação das ações prioritárias
definidas no planejamento estatal.
A partir do efetivo diálogo com a população local, é possível identificar os problemas, bem como
aperfeiçoar o controle social sobre as políticas de saúde e de proteção ao idoso, além de proporcionar maior
legitimidade democrática na busca de soluções junto aos gestores locais.
Além da atuação dialogal e democrática, é preciso implementar de forma efetiva a fiscalização a ser
realizada pelo Promotor de Justiça.
Em Minas Gerais, a preocupação é antiga e está refletiva na Resolução n.º 11, de 10 de abril de 1997, do
PGJ, que disciplinou pioneiramente, “o exercício da função de fiscalização do SUS pela Promotoria de Justiça de
Defesa do Cidadão”. Cabe ao MP fiscalizar: 1) o cumprimento da Lei 8.080; 2) a existência e o funcionamento do
Conselho Municipal de Saúde e do Fundo Municipal de Saúde; 3) os recursos financeiros recebidos da União e
do Estado para a execução das políticas de saúde e os programas prioritários definidos no Plano Mineiro de
Desenvolvimento Integrado (PMDI), que na época eram o programa de saúde da família, a organização do
sistema de referência e contra referência e os consórcios intermunicipais de saúde.
Em suma, o Promotor deve enfatizar a cobrança de ações de saúde preventiva, conhecer e fiscalizar os
planos de saúde (principalmente os municipais), acompanhar a entrada e saída de recursos do Fundo Municipal
de Saúde, bem como o respeito aos percentuais mínimos de previsão e execução orçamentárias, zelar para que
o Secretário Municipal de Saúde seja o administrador responsável pela movimentação dos recursos de saúde e
trabalhar em harmonia com o Conselho Municipal de Saúde e do Idoso.

6. O que são os direitos individuais homogêneos e como eles se diferenciam dos difusos e coletivos? E
entre um interesse individual homogêneo e um direito subjetivo individual, qual é a diferença?
O art. 81, parágrafo único, inc. III, do CDC conceitua direitos individuais homogêneos como aqueles
decorrentes de origem comum. Em outras palavras, os direitos são nascidos em consequência da própria lesão,
em que a relação jurídica entre as partes é post factum (fato lesivo). Não é necessário, contudo, que o fato se dê
em um só lugar ou momento histórico, mas que dele decorra a homogeneidade entre os direitos dos diversos
titulares de pretensões individuais.
Segundo Cleber Masson, os direitos individuais homogêneos podem ser conceituados como “direitos
subjetivos individuais, objetivamente divisíveis, cuja defesa judicial é passível de ser feita coletivamente, cujos
titulares são determináveis e têm em comum a origem desses direitos, e cuja defesa judicial convém seja feita
coletivamente.”
Teori Albino Zavascki diferencia a tutela de direitos coletivos da tutela coletiva de direitos individuais.
Aquela se referiria à tutela dos direitos difusos e coletivos, e esta, à dos individuais homogêneos. O jurista não
admite que os direitos individuais homogêneos sejam espécie de direito coletivo lato sensu, gênero que, em sua
opinião, só engloba os direitos difusos e os direitos coletivos em sentido estrito. Para ele, os direitos coletivos lato
sensu caracterizam-se por serem transindividuais, assim entendidos os direitos que não possuem titulares
determinados (embora, no caso dos coletivos stricto sensu, sejam determináveis), e por serem materialmente
indivisíveis. Os individuais homogêneos, por sua vez, formariam outra categoria jurídica, por possuírem titulares
determinados e objeto divisível.
Dessa forma, os direitos individuais homogêneos seriam somente “acidentalmente” coletivos, ou seja, são
direito individuais, de titularidade determinada, tratados coletivamente, apenas pela relevância do interesse social
subjacente, que acabou por propiciar ao Ministério Público, por derivação, ser admitido como substituto
processual dos titulares individualizados, embora já tenha havido controvérsia sobre o tema.
O tratamento coletivo propicia como benefícios a economia processual, o acesso à justiça e a aplicação
voluntária e autoritativa do direito material, segundo Antônio Gidi.
Por fim, como dito, os direitos individuais homogêneos são espécie de direito subjetivo individual, por
serem divisíveis e pertencentes a titulares determinados, mas com um traço de identidade, de homogeneidade,
na sua origem, o torna conveniente serem tutelados coletivamente em juízo.

7. Quem são os legitimados para tutelar esses interesses individuais homogêneos?


Segundo o art. 82 do CDC, são legitimados extraordinários concorrentes: I - o Ministério Público, II - a
União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta
ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e
direitos protegidos por este código; IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que
incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear. Pode-se, ainda, acrescentar os legitimados para propor a ação civil pública (art. 5º),
somando-se a estes a Defensoria Pública, que pode defender os juridicamente necessitados (hipossuficientes ou
necessitados organizacionais, que são os hipervulneráveis, como os idosos, segundo o STJ, no EREsp
1.192.577).
Súmula pertinente 601, STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço
público.
Em relação à legitimidade do Ministério Público para tutelar direitos individuais homogêneos, tem
prevalecido no STJ, portanto, que existe essa possibilidade quando os direitos sejam indisponíveis ou que sejam
direitos disponíveis de interesse social.
Não obstante, existe corrente que defendem a legitimidade ampla do Ministério Público para tutelar
direitos individuais homogêneos, com base no art. 25, IV, “a”, LONMP; art. 6º, VII, “d”, LOMPU e sob a justificativa
de que a CR e a LACP não contêm tal previsão porque foram editadas previamente ao CDC que previu esta nova
categoria.
E também há corrente no sentido de que o Ministério Público não poderia tutelar direitos individuais
homogêneos, justamente por envolver interesses individuais, e não coletivos “stricto sensu”.

8. Com relação à responsabilidade civil no âmbito dos interesses individuais homogêneos, uma ação
visando a responsabilidade em relação a direitos individuais coletivos, que provas devem ser feitas no
processo de conhecimento, e para a liquidação da sentença?
Diferentemente do que ocorre no processo individual, a liquidação no processo coletivo não é só para
apurar o quanto devido (quantum debeatur), mas também o nexo de causalidade e o dano (an debeatur), razão
pela qual a doutrina (Dinamarco) considera que não há verdadeiramente liquidação, mas sim habilitação ou
“liquidação imprópria”, como prefere a LACP para diferenciá-la da liquidação própria, que avalia apenas o
quantum debeatur.
Nesse sentido, a liquidação é imprópria pois prova-se o dano individual, o nexo de causalidade e o
montante do dano.
Assim, apesar de ter que provar o débito, o lesado individual não precisa mais comprovar a ação culposa
(lato sensu) ou o ato ilícito do condenado, vez que isso é objeto de prova no processo de conhecimento da ação
coletiva, para o qual podem ser utilizadas todas as provas admitidas em direito, como pericial, documental,
testemunhal, dentre outras.

9. Se eu tenho danos coletivos e danos individuais homogêneos, digamos uma indústria farmacêutica,
colocou um produto no mercado que causou danos das duas espécies. O dano foi demonstrado, na
execução, algum desses créditos tem preferência aos outros? Se passado algum tempo, os titulares
desses direitos individuais homogêneos permanecem inertes, o que acontece?
Sim, há preferência dos danos individuais homogêneos sobre os coletivos.
No seu art. 99 , o CDC dispõe que “em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação
prevista na Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do
mesmo evento danoso, estas terão preferência no pagamento.” Já o seu parágrafo único prevê que a destinação
da importância recolhida ao fundo criado pela Lei n°7.347 de 24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto
pendentes de decisão de segundo grau as ações de indenização pelos danos individuais, salvo na hipótese de o
patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para responder pela integralidade das dívidas.
No informativo n. 499/2012, o STJ entendeu que, não obstante ser ampla a legitimação para impulsionar
a liquidação e a execução da sentença coletiva, admitindo-se que a promovam o próprio titular do direito material,
seus sucessores ou um dos legitimados do art. 82 do CDC, o art. 97 impõe uma gradação de preferência que
permite a legitimidade coletiva subsidiariamente, uma vez que, nessa fase, o ponto central é o dano pessoal
sofrido pelas vítimas.
Conforme previsto no art. 100 do CDC para a sentença genérica que veicula direitos individuais
homogêneos, passado o prazo de 1 ano sem habilitação de interessados (sem que requeiram a expedição do
título no juízo coletivo e promovam a liquidação em separado), poderão os legitimados coletivos fazer uma
estimativa de quanto seria a indenização devida individualmente, para cada um e executar.
A previsão legal do art. 100 do CDC diz respeito a instituto chamado de “fluid recovery”, utilizado na
execução coletiva das sentenças de direitos individuais homogêneos, que possui sua origem nas class actions
norte-americanas, e traduz a preocupação do legislador brasileiro, nos casos em que se apura a lesão a direitos
individuais, mas as vítimas acabam sendo omissas na procura de seu ressarcimento.
Esse dinheiro executado é enviado para o fundo a que alude a LACP (já que ninguém apareceu). Para
MAZZILLI, essa regra, prevista apenas para os direitos individuais homogêneos, também deve ser aplicada às
condenações que envolvam direitos coletivos em sentido estrito.
Dia 11 – Ponto 17 – Bruno Ville (grupo respondido por Bernardo Dumont Pires)

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinador: Dr. Fabiano Ferreira Furlan
Inconstitucionalidade por omissão, intervenção e garantias eleitorais.

1. Quais são os instrumentos jurídicos para o controle da inconstitucionalidade por omissão?


Há basicamente dois instrumentos jurídicos para o controle da omissão inconstitucional, defeito jurídico
que, na feliz expressão de LARENZ ocasiona a “erosão da consciência constitucional”. O primeiro deles é a ação
direta de inconstitucionalidade por omissão, ação que integra o rol de mecanismos aptos a acionarem o controle
concentrado abstrato de inconstitucionalidade (Art. 103, § 2º, da CR/88). O outro instrumento normalmente
lembrado é o mandado de injunção (art. 5º, inciso LXXI, da CR/88) instrumento vocacionado a viabilizar à parte
um direito cravado em norma constitucional de eficácia limitada (SILVA), mas não efetivado em razão da inércia
do legislador infraconstitucional.
Vale acrescentar que a recomendação também pode ser inserida nesse contexto, sendo viável que por
meio dela o Ministério Público exorte o responsável pela omissão inconstitucional a cumprir o seu mister.

2. Caberia a concessão de liminar na ação direta de inconstitucionalidade por omissão? Existe previsão
legal, constitucional, como é que funciona?
A resposta é positiva. Apesar de não haver menção expressa nesse sentido na Constituição, a legislação
que regulamentou a ação de inconstitucionalidade por omissão reconheceu o cabimento das decisões liminares
nessa via procedimental (art. 12-F da Lei 9.868). Conforme dispõe a lei, é possível que o colegiado, por maioria
absoluta (6 votos), em casos de excepcional urgência e relevância da matéria, determine a suspensão da
legislação em vigor (para os casos de omissão parcial) ou de processos, administrativos e judiciais. Ainda, é
possível que outras medidas (atípicas) sejam adotadas para conter a omissão.
A interpretação literal do dispositivo supracitado revela que a cautelar deverá ser precedida da oitiva da
autoridade inerte, que terá o prazo de 05 dias para se manifestar.

3. O tema da ADI por omissão se aproxima da constitucionalização simbólica, poderia me dizer como?
A constituição simbólica, fenômeno constato por NEVES, caracteriza-se pela falta de efetividade dos
preceitos constitucionais, não obstante a existência de leis e atos normativos editados sob a alegação (falaciosa)
de atender aos seus comandos. NEVES percebe que é comum que esses atos não tenham a intenção de regrar a
vida em sociedade e fazerem-se efetivos, sendo editados para cumprir uma função simbólica, de diferentes
ordens.
Exemplifica bem o fenômeno a técnica legislativa que regulamenta certo direito constitucional de forma
vaga, intencionalmente superficial, atendo-se a traçar diretrizes cuja consecução é relegada para um momento
desconhecido. Outra característica da simbologia denunciada reside na técnica da “legislação-álibi”, comum em
âmbito criminal, materializada na edição rápida de um ato normativo para atender o clamor popular em torno de
certo assunto, acalmando os ânimos dos irresignados, sem se preocupar com o real potencial de transformação
da medida adotada.
Fica nítido, portanto, a forte ligação entre Constituição Simbólica e inconstitucionalidade por omissão. De
fato, a constituição que é atendida por meio de atos despidos de eficácia e insuficientes aos fins propostos pela
Lei Maior está, em verdade, com seu conteúdo normativo esvaziado. Assim, os atores infraconstitucionais
incorrem em inconstitucionalidade por omissão, ainda que parcial, já que se utilizam de técnicas inidôneas a dar
efetividade aos ditames constitucionais.

4. Elenque as fases da intervenção.


A intervenção federal é um mecanismo vocacionado à manutenção do pacto federativo, por via do qual o
ente central interfere na autonomia dos entes periféricos em hipóteses constitucionalmente traçadas, com a
intenção de manter a unidade inerente à federação.
Em termos gerais, a intervenção federal pode ser fracionada nas seguintes fases. Em um primeiro
momento, surge uma hipótese fática com correspondência no rol constitucional, que legitimará a formulação de
um pedido ou de uma requisição de intervenção ao Presidente da República, ou mesmo permitirá a atuação de
ofício deste. Após, o Presidente da República ouvirá os Conselhos da Defesa Nacional e o da República (arts. 90
e 91 da CR) e decidirá a respeito do assunto. Firmado no sentido da intervenção, o Chefe do Executivo a
declarará, por meio de um decreto, submetendo o seu veredicto, em 24 horas, à análise do Congresso Nacional
(art. 36, § 1º, da CR), que poderá ratificar o ato ou negar-lhe validade (art. 49, IV).
Deve-se frisar que a segunda e a terceira fase não existirão nos casos em que a intervenção decorrer de
requisição do Judiciário, seja determinando o cumprimento de lei federal (‘ação de executoriedade de lei federal’),
ordem ou decisão judicial, ou para fazer valer princípios constitucionais sensíveis, tidos por violados ao final da
ação direta interventiva (Art. 36, § 3, da CR). Embora seja um contrassenso, a Constituição não dispensou a
participação do Congresso Nacional para as intervenções fundadas em requisições judiciais destinadas a fazer
cessar a coação exercida sobre o Judiciário, muito embora o ato interventivo, nessa hipótese, seja de caráter
vinculado.

5. O chefe do executivo é obrigado a decretar a intervenção nas hipóteses cabíveis a ele? E quando há
atuação do poder judiciário?
No caso das chamadas “intervenções espontâneas” (NOVELINO) – art. 34, I, II, III, e V, da CR -, cabe ao
presidente avaliar a conveniência da intervenção federal, que poderá ser ou não decretada. Cuida-se, assim, de
ato político, submetido ao crivo do Chefe do Executivo e incompassível de coerções por parte dos outros
Poderes.
Segundo a doutrina prevalente, a “intervenção solicitada” para garantir o livre exercício dos Poderes
Legislativo e Executivo regionais também é ato dotado de discricionariedade, cabendo ao Presidente da
República avaliar a sua conveniência e oportunidade.
A questão muda de figura quando o presidente é provocado pelo Poder Judiciário. Em todas as hipóteses
iniciadas por meio de requisição deste Poder, o Chefe do Executivo estará obrigado a decretar a intervenção, sem
tecer considerações sobre a oportunidade política de interferir no Estado responsável.

Direito Eleitoral

6. Na situação do candidato em véspera de eleição, ele poderia ser preso preventivamente? E a prisão do
eleitor? A doutrina aponta uma questão não tão pacífica, além do flagrante, a senhora saberia indicar?
Segundo o Código Eleitoral (Art. 236, § 1º), nos quinze dias que antecedem às eleições, o candidato a
cargo eletivo apenas poderá ser preso se se encontrar em situação de flagrância. Assim, a interpretação literal do
dispositivo torna incabível a prisão preventiva do postulante ao cargo eletivo dentro daquele marco. O eleitor, por
igual, apenas poderá ser preso, nos 5 dias anteriores às eleições e durante as 48 horas seguintes, em hipóteses
restritas6 (art. 236, caput, do CE), dentre as quais não figura a prisão preventiva.
Inúmeras são as polêmicas que circundam o assunto. A começar pela sua recepção pela Constituição
Federal de 1988. De fato, há substancioso pensamento pela ausência de fundamento para manter-se aplicável a
garantia do Código Eleitoral, que se justifica em um período institucional completamente diverso do vigente.
Nesse sentido, é a posição de Antonio Carlos da Ponte, em artigo veiculado pelo Ministério Público do Estado de
São Paulo (http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Eleitoral/Doutrina_Eleitoral/DOUTRINA%20%20PONTE.pdf).
Também se discute sobre o cabimento da prisão temporária (instituída em 1989, pela Lei 7.960) no
período eleitoral, mormente em função da sua inexistência ao tempo em que editado o Código Eleitoral (1965).
Sobre o tema, há posições antagônicas, a exemplo do contraste observado entre o escólio de José Jairo Gomes
(livro de 2018), desfavorável à prisão temporária, e a lição apontada acima, que aceita a medida cautelar restritiva
(até mesmo por considerar não recepcionado o artigo 236 do CE).
Advirta-se, em tempo, que a questão está longe de ser solvida e possui controvérsias que extrapolam o
contido nesta resposta.

Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling

Restrições do Estado sobre a propriedade privada

1. Conceitue o instituto da limitação administrativa, como faculdade ou dever da administração pública


quando restringe o particular.
A limitação administrativa é uma forma de intervenção restritiva da propriedade privada, instituída pelo
Estado por meio de atos gerais, destinado à todos os indivíduos que se adequem à situação hipotética elencada
pela Administração Pública, de modo a compatibilizar o uso do bem particular ao interesse público.
Não é simples fixar o caráter do ato estatal, usando o parâmetro escolhido pelo examinador. É certo que
o Estado exerce seu poder extroverso ao criar limitações genéricas aos direitos dos particulares, prerrogativa que
tem caráter instrumental e deve voltar-se ao atendimento do interesse público. Assim, todas as vezes que se fizer
necessária a criação dessa medida restritiva, é de rigor – cuida-se de um dever, portanto – a atuação do Poder
Público. Por outro lado, não se pode negar que o editor do ato administrativo gozará de boa margem de
conformação na expedição do ato, cabendo-lhe fixar o seu conteúdo sem parâmetros rígidos e sem prejuízo da
avaliação de outros meios igualmente aptos alcançar os fins visados com a limitação administrativa.
Portanto, tendo em vista que um dos deveres tradicionalmente imputados à Administração Pública é o de
agir (por todos, Dirley da Cunha), e considerando-se a natureza instrumental dos poderes administrativos, é
possível dizer que a limitação administrativa é um dever, desde que o agente conclua ser essa medida
imprescindível à realização do interesse público.

2. Dê uma hipótese de restrição da propriedade com caráter absoluto. E o caráter exclusivo? E o caráter
perpétuo? (Imagino que a pergunta correta é a seguinte: Qual intervenção afeta o caráter absoluto da
propriedade? E o caráter exclusivo? E o perpétuo?)
Em suma, a doutrina costuma caracterizar o direito de propriedade alegando tratar-se de um direito
absoluto, exclusivo e perpétuo.

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em razão de flagrante delito ou em virtude de sentença condenatória pela prática de crime inafiançável, ou, ainda,
em função de desrespeito a salvo-conduto.
A propriedade diz-se absoluta em razão do poder que cabe ao seu titular de utilizá-la de forma plena
(absoluta, ‘ilimitada’), podendo exercer todos os direitos que decorrem da coisa. Cuida-se, ademais, de um direito
exclusivo, sendo incompatível a existência de dois direitos iguais sobre a mesma coisa. Também sobreleva a sua
perpetuidade, já que a propriedade não desaparece pelo não uso do seu titular.
Assim, a doutrina aponta o tombamento e a limitação administrativa como limitadores do caráter absoluto
da propriedade; a servidão e a ocupação temporária como interferências em seu caráter exclusivo; e a
desapropriação como exceção à perpetuidade. Vale mencionar que a requisição administrativa afeta o caráter
exclusivo da propriedade (art. 5º, inciso XXV, da CR), mas pode vir a retirar-lhe a perpetuidade, já que a tomada
da coisa pode acontecer “sem possibilidade de devolução (principalmente quando o bem for fungível)” – CUNHA,
Curso de Direito Administrativo. 16ª edição. pg. 438)

3. Como se dá (o examinador pediu um raciocínio lato/amplo) o controle em sede de limitação da


propriedade e em que hipótese é possível? Como o administrado poderia fazer um controle quando a
administração impõe uma limitação à propriedade? O que a senhora entenderia nesse caso, como
práticas desproporcionais da administração em relação ao administrado? Qual a hipótese mais peculiar?
Os atos administrativos, como qualquer ato praticado em um Estado Constitucional de Direito, estão
condicionados pelos preceitos constitucionais e legais. Esse condicionamento é ainda mais rígido se se
considerar o significado que o princípio da legalidade (art. 37, caput, da CR) assume quando ligado à atuação da
Administração Pública. Assim, é mais do que viável que o administrado, descontente com a atuação estatal,
acione os mecanismos de controle de que dispõe.
Uma via possível para o questionamento do ato antijurídico é a que decorre da autotutela administrativa,
princípio que impõe ao Poder Público aferir, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos seus atos ou
mesmo a sua conveniência e oportunidade. Cuida-se de via adequada para o inconformismo do proprietário com
o ato de tombamento, por exemplo, que tem o seu trâmite administrativo disciplinado pelo Decreto-Lei 25/1937.
Por igual, a norma de regência das desapropriações também reserva um espaço apto a acomodar os interesses
contrapostos da entidade expropriante e do titular do objeto da ingerência pública, sendo viável o estabelecimento
de uma via de comunicação entre eles na fase executória do procedimento, ainda em âmbito administrativo, cujo
consenso evitará o ingresso da Administração em juízo.
Outro caminho de controle é o que leva a definição da controvérsia ao Poder Judiciário, calcado na
inafastabilidade da jurisdição (Art. 5º, inciso XXXV, da CR). Aqui, o juiz analisará a validade do ato questionado de
forma ampla, contrastando-o com regras e princípios, constitucionais ou não. Trata-se de meio interessante
quando se rechaça um ato de limitação administrativa, apto ao exercício de pretensões com fundamentos e
técnicas diversas. A título de exemplo, é possível que o particular faça uso do mandado de segurança (Art. 5º,
inciso LXIX, da CR), opondo-se à obrigação de não fazer imposta pelo Poder Público, se estiverem presentes os
requisitos da ação mandamental. Também é possível a impugnação da constitucionalidade de uma lei utilizada
para veicular as limitações administrativas, funcionando a arguição como causa de pedir da demanda. Por outro
lado, não se exclui a possibilidade de se questionar a limitação genérica pela técnica do processo administrativo,
sendo lídimo imaginar uma postulação ao ente público em que se alegue a ilegalidade do ato, a sua
inconstitucionalidade, ou mesmo a não correspondência da situação do particular com a traçada na lei.
Por fim, chama-se a atenção para o disposto nos artigos 9º, 20 e 35 do Decreto-Lei 3.365/41 que limita a
cognição a ser exercida pelo Poder Judiciário e a matéria alegável em favor do administrado, no âmbito da
desapropriação. Em termos gerais, a resistência do particular frente à intervenção em sua propriedade é
fortemente limitada. Creio ser esse conjunto de limitações a “hipótese mais peculiar” mencionada pelo
examinador”.
4. O tombamento tem caráter perpétuo ou transitório/provisório/temporário?
A finalidade do tombamento – proteção do patrimônio cultural brasileiro – e a especificidade do seu objeto
– bens que remontam à história do país, ou que possuem notável valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou
artístico – demonstram que a medida protetiva tem caráter não transitório (‘perpétuo’), como regra. A despeito
dessa sua vocação, é certo que o tombamento pode ser anulado, quando realizado sem os requisitos
procedimentais ou quando pender sobre coisa que não ostenta os atributos justificadores da medida.
Por outro lado, adotando-se outro parâmetro de classificação, o tombamento poderá ser provisório ou
definitivo, “conforme esteja o respectivo processo iniciado pela notificação ou concluído pela inscrição dos
referidos bens no competente Livro do Tombo” (art. 10 do Decreto-Lei 25/37).

GRUPO TEMÁTICO II

Direito Penal
Examinador: Dr. Calisto Oliveira Souza

1. No erro de pessoa para pessoa, como seria caso o CP tivesse adotado a teoria da concreção e não a da
equivalência? Como seria a tipificação, você poderia dar um exemplo? E quanto à outra vítima? E numa
hipótese em que o agente tenta atingir uma pessoa e atinge outra pessoa, como ficaria?
Caso adotada a teoria da concreção, o agente responderia pelo resultado efetivamente causado,
desconsiderando-se o pretendido, em especial no que tange às circunstâncias que influem na pena.
Erro quanto à pessoa (art. 20, § 3°, CP) é espécie de erro de tipo acidental, em que o agente queria
praticar a conduta contra certa pessoa, mas a confunde com outra e a atinge.
Exemplo: queria matar José, mas o confunde com João, seu irmão mais velho, que no entanto é idoso.
Pela teoria da concreção, incidiria a agravante genérica por crime praticado contra idoso (art. 60, II, “h”, CP). Pela
teoria da equivalência, adotada pelo CP, o agente responde como se tivesse acertado José, não incidindo a
agravante por não ser ele idoso. Caso José fosse também atingido, haveria concurso formal de crimes.
Quando o agente tenta atingir uma pessoa e acerta outra, o instituto é o erro de execução ou aberratio
ictus (art. 73, CP), que adota a mesma solução (teoria da equivalência). A diferença, contudo, é que o agente não
se engana quanto à identidade da pessoa, mas atinge outra por erro no uso dos meios executórios (ex.: erro de
pontaria).
No exemplo supracitado, a solução seria a mesma, mas o agente identificou corretamente José, tendo
atingido João por erro.

2. Em caso de Aberratio Delicti, para fins de caracterização do concurso formal de infrações ela pode ser
invocada no caso de erro de coisa para coisa? A título de culpa ou de dolo? Há alguma situação em que a
coisa pode ser considerada lesada/penalmente importante, em caso de culpa? Em alguma lei
extravagante?
Para que haja concurso formal, deve haver resultado duplo. No erro de coisa para coisa, é preciso que a
coisa atingida por erro seja bem jurídico diverso do pretendido.
Isso só será possível se a lesão ao outro bem jurídico for punível a título de culpa, pois havendo dolo,
não se está a falar em erro na execução, mas mesmo concurso formal impróprio, já que o agente atingiu ambas
as coisas intencionalmente (desígnios autônomos).
Exemplo no CP: agente quer causar dano na propriedade alheia (art. 163, CP), mas culposamente causa
também um incêndio, expondo a vida a perigo (art. 250, § 2°, CP).
Exemplo na legislação especial: 1- agente quer causar dano em propriedade alheia (art. 163, CP), mas
culposamente causa também um incêndio, danificando floresta adjacente (art. 41, § ún., lei 9.605/98); 2- agente
solta balão em área que confia ser segura (art. 42, lei 9.605/98), mas culposamente causa um incêndio,
danificando floresta (art. 41, § ún., lei 9.605/98) ou propriedade alheia (art. 250, § 2°, CP).

3. A Súm.714 do STF estabelece legitimidade concorrente do ofendido mediante queixa e do MP


condicionada a representação do ofendido em crime contra honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções. Poderíamos dizer que há uma ação penal concorrente?
Não, pois o STF entende que se o servidor público representar, ele renuncia ao seu direito de queixa. A
correta interpretação da súmula é a de que o servidor pode optar por promover a ação penal privada ou renunciar
a esta, representando para que o Ministério Público promova a ação penal pública, uma vez que o crime contra a
honra de servidor público em razão de suas funções tem como sujeito passivo secundário também a
administração pública.

4. O benefício do art. 33, § 4º, da Lei 11.343, é poder ou dever do juiz? A senhora acompanhou a discussão
acerca da constitucionalidade/inconstitucionalidade desse dispositivo?
É um dever do juiz, isto porque na ação penal o juiz se vincula à imputação de fatos, em tese criminosos,
contra o réu, e não à eventual capitulação jurídica atribuída pela acusação. Portanto, se os fatos descritos na
denúncia, ou mesmo aqueles referentes à pessoa do réu (que não precisam constar, como a primariedade),
estiverem comprovados e autorizarem a aplicação de causa de diminuição de pena, como é o caso do dispositivo
citado, o juiz deve aplicar.
No caso do privilégio do tráfico, os requisitos são: primariedade, bons antecedentes e não integrar
organização criminosa ou se dedicar a atividades criminosas. Todos estes requisitos dizem respeito a condições
da pessoa do réu e não do fato imputado, portanto não precisam estar descritos na denúncia para que o
magistrado reconheça em sentença a causa, aplicando a emendatio libelli (art. 383, CPP).
Quanto à constitucionalidade, o STF entendeu que é inconstitucional a vedação à substituição de pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos, portanto, se cabível no caso concreto, também deverá o
magistrado operar a substituição.
Recentemente, o STF alterou seu anterior entendimento, para excluir do rol dos crimes equiparados a
hediondos o tráfico privilegiado, o que fez com que o STJ seguisse o entendimento, cancelando a súmula 512 que
dispunha em sentido contrário.

Direito Processual Penal


Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento

1. Quais são os princípios que regem, especificamente, o JECrim?


Segundo o art. 62, são eles: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual, celeridade,
primazia da reparação dos danos sofridos pela vítima e primazia da aplicação de pena não privativa de liberdade.

2. A lei do JEsp Criminal traz uma visão de informalidade, celeridade, existe alguma limitação para
aplicação desses princípios no sentido da persecução penal? No processo em si, qual seria a limitação
desses princípios? (devido processo legal)
Sim. Qualquer que seja o processo penal, devem ser atendidos os princípios basilares como devido
processo legal, juiz natural, contraditório, ampla defesa, vedação de uso de provas ilícitas, etc.
Não se pode, por exemplo, afastar a obrigatoriedade de defesa técnica ou necessidade de citação em
nome da informalidade e celeridade. Igualmente não se pode afastar a redução a termo das peças essenciais
como a denúncia, resposta e sentença. Não se pode afastar a motivação da sentença, embora o relatório seja
dispensado.

3. A questão da efetividade da transação da pena foi construída não apenas na própria lei do JECrim, mas
também em entendimentos jurisprudenciais. Discorra sobre essas teorias.
A transação penal é um dos institutos despenalizadores da lei 9.099/95, que inaugura no Brasil a
jurisdição consensual para casos em que antes só era possível a jurisdição de conflito.
Neste instituto, em especial, há a aplicação de uma pena não privativa de liberdade, proposta pelo MP,
aceita pelo acusado e homologada pelo juiz, sem instauração de um processo penal. É típico instituto de direito
penal negocial, que segundo a teoria das velocidades do direito penal de Jesus Maria Silva Sanches, é
considerada segunda velocidade, porque afasta algumas garantias do direito penal liberal (primeira velocidade)
em nome da efetividade e celeridade, embora aplicando penas mais brandas.
Fala-se em mitigação de garantias porque o suspeito concorda com a aplicação de uma pena criminal
sem que tenha sido acusado, produzido provas e condenado. De outro lado, ele não será considerado culpado,
mantendo sua condição de primariedade, já que o instituto tem natureza de “nolo contendere”, que afasta o
processo (não há ofensa ao contraditório e ampla defesa porque a aceitação é faculdade do suspeito). Tem como
única consequência do fato de não poder utilizar nova transação dentro de 5 anos.
A súmula vinculante 35 consolida o entendimento de que a decisão homologatória condiciona a extinção
de punibilidade do agente ao cumprimento do acordo de transação, sob pena de rescisão e oferecimento de
denúncia pelo MP ou requisição de instauração de inquérito policial.

4. A senhora entende que seria possível o juiz não homologar a transação penal, aguardando o seu
cumprimento para só então fazê-lo?
Não é possível, pois a decisão homologatória atesta a legalidade do acordo, verificando o cumprimento
dos requisitos legais antes que o suspeito se submeta à pena alternativa proposta. A súmula vinculante 35 reforça
a ideia, deixando claro que a extinção de punibilidade só pode ocorrer com o cumprimento da avença, sendo o
descumprimento causa de rescisão, porquanto a decisão homologatória não faz coisa julgada.
A homologação judicial é uma garantia de que a proposta atende aos requisitos legais, podendo o
magistrado inclusive aplicar subsidiariamente o art. 28, CPP (princípio da devolução), caso discorde de seus
termos (ex.: penas desproporcionais).
O próprio art. 76, § 5°, lei 9.099/95, menciona que dessa decisão cabe apelação, o que permite ao
próprio suspeito contestar eventual não homologação ou homologação de proposta que considere inadequada,
mas que tenha optado por aceitar para não se submeter ao processo.

5. O magistrado pode alterar ou apresentar uma nova proposta de transação penal com suspensão do
processo em desconformidade com o MP?
Não. A oferta da proposta e de seus termos é de competência exclusiva do MP, que pode negociar com o
suspeito. Ao magistrado cabe aferir a legalidade, não podendo se substituir ao MP. Se discordar, deverá aplicar o
art. 28, CPP.

6. Traga considerações sobre as especificidades do processo recursal no JECrim. No que ele se


diferencia do processo penal em geral?
Como o procedimento sumaríssimo é concentrado, não há hipótese de recursos contra decisões
interlocutórias. Não é cabível recurso em sentido estrito, nem mesmo para a decisão que rejeita a denúncia (cabe
apelação, por expressa disposição legal).
A apelação tem prazo de 10 dias (não 5) e deve ser interposta já com as razões. A competência para
julgamento é da turma recursal, cujos membros são juízes de 1° grau. O prazo para contrarrazões também é o
mesmo e não há previsão de efeito suspensivo nos recursos (ao contrário da apelação do CPP – art. 597, salvo
exceções).
Os embargos de declaração (art. 83) são interpostos em 5 dias (não 2 como no CPP – art. 620),
interrompem o prazo para apelação. No JECrim também se autoriza expressamente a correção de erro material
de ofício (no CPP decorre de aplicação supletiva do CPC). Vale mencionar que o STF entende que o erro material
de cálculo de pena, se não impugnado pela acusação, não pode ser reconhecido de ofício pelo tribunal ( non
reformatio in pejus).

GRUPO TEMÁTICO III

Direito Civil
Examinadora: Dra. Sumaya

1. Juliana e Mateus as vésperas do casamento firmaram documento particular definindo regime de


separação de bens. Em 2000, Juliana pediu o divórcio, após 15 anos vivendo juntos.
O documento não tem validade para fins de casamento, porque o CC expressamente exige escritura
pública para pacto antenupcial no casamento (art. 1.653, CC).
Portanto, o regime que vigorou foi o da comunhão parcial de bens.
Vale mencionar que se fosse união estável o pacto seria válido, pois só se exige que seja escrito (art.
1.725, CC), apenas não podendo retroagir à data em que realizado, segundo o STJ (INFO 595, 3ª Turma. REsp
1.459.597-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 1/12/2016).

2. O divórcio rompe o vínculo de parentesco por afinidade na linha reta e colateral? Qual a razão pela qual
o legislador optou pelo não rompimento na linha reta? (Para questões de casamentos futuros, questão de
novela, questão sucessória)
O parentesco por afinidade em linha reta jamais se rompe (art. 1.595, § 2°, CC). Tal espécie de
parentesco civil tem como única consequência gerar impedimentos matrimoniais. O fundamento é moral, para
impedir que o Direito tutele relações de um dos cônjuges/companheiros com certos parentes do outro, gerando
sofrimento e desagregação nos núcleos familiares.
Assim, vínculos entre genro e sogra, padrasto e enteada, etc., são exemplos parentesco civil por linha
reta que nunca se rompe, ainda que findo o casamento ou união estável, para coibir que essas pessoas formem
entre si um núcleo familiar.
Já o parentesco por afinidade na linha colateral, ou cunhadio, se rompe com o fim do casamento ou
união estável. Embora uma relação amorosa entre estas pessoas possa também gerar sofrimento e
desagregação familiar, é situação menos grave que o legislador optou por não vedar.

3. A senhora entende que existe alguma hipótese em que o MP teria legitimidade para requerer o divórcio
de um casal?
Trata-se de direito potestativo e personalíssimo. O MP é parte legítima para propor ações individuais para
garantia de direitos de pessoas com deficiência (art. 3°, caput, lei 7.853/89), bem como de crianças e
adolescentes (art. 201, ECA).
Seria possível ajuizar ações como pedido de curatela e de medidas protetivas de urgência. Todavia,
entendo que não seria possível requerer o divórcio, ainda que como substituto processual (seria possível, por
exemplo, ação anulatória de casamento por violação de impedimentos).

4. Ajuizada separação judicial por um dos cônjuges, alegando culpa do outro, não sendo provada a culpa,
pode mesmo assim o juiz decretar a separação do casal?
Para fins de separação ou divórcio, a culpa é irrelevante, devendo o juiz decretar a separação neste
caso.
Desde a emenda constitucional que aboliu o requisito temporal para o divórcio, há divergência doutrinária
sobre o tema, mas vem prevalecendo no STJ que atualmente a discussão de culpa em direito de família ficou
restrita a apenas algumas hipóteses, por exemplo: natureza dos alimentos eventualmente devidos; indenização
por dano moral decorrente da quebra dos deveres conjugais; sucessão do cônjuge supérstite separado de fato há
mais de 2 anos não culpado (Informativo 572 STJ).

5. A cônjuge tomou conhecimento, logo após o casamento, de que seu marido era portador de doença
grave, transmissível e que poderia prejudicar a sua saúde e da descendência do casal. O que ela poderia
fazer? Caberia pedido de anulação do casamento?
Trata-se de hipótese de vício de vontade que gera anulabilidade do casamento por erro essencial quanto
à pessoa do outro cônjuge (art. 1.557, III, CC).
As possibilidades para o cônjuge que incorreu em erro são: manter o casamento, requerer
divórcio/separação, ou postular a anulação do casamento (prazo decadencial de 3 anos desde a celebração - art.
1.560, III, CC).
No caso de anulação, deve ser observada a boa-fé objetiva, isto é, a cessação da convivência e pedido
de anulação tão logo a cônjuge tome conhecimento da doença, não podendo manter o casamento tendo
conhecimento do vício para futuramente, arrependida, ajuizar a ação (vedação ao comportamento contraditório).

Direito Processual Civil


Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva

Provas

1. Qual é o conceito de prova emprestada? A senhora poderia usá-la se fosse trazida de outro processo
com as mesmas partes? A senhora conhece o posicionamento do STJ, se já se deparou com processo em
que as partes não eram as mesmas em processo anterior?
Prova emprestada é aquela que foi produzida em um processo, mediante contraditório e por qualquer
dos meios admitidos, que então é transportada para outro processo, agora sob a forma de documento (prova
documental). O CPC admite no art. 372.
Sendo as mesmas partes, não há qualquer óbice para o uso da prova emprestada, bastando que seja
juntada como documento aos autos do segundo processo.
Segundo o posicionamento do STJ, se as partes não forem as mesmas do processo anterior, a prova
será trazida como documento, submetida ao contraditório da outra parte e respeitado o convencimento motivado
do magistrado do segundo processo. O STJ tem entendimento de que se a prova vier de um processo criminal
para ser juntada em processo administrativo disciplinar, será necessário autorização judicial do juízo criminal
(súmula 591).

2. Quantas testemunhas cada parte pode arrolar? O juiz é obrigado a ouvir todas? A senhora se recorda
se a Lei fala até quantas, em tese, ele deveria ouvir sobre fato controverso?
O rol de testemunhas é apresentado na fase de saneamento e o número máximo é 10, sendo 3 para
cada fato (art. 357, § 6°, CPC). Na contradita de testemunha se permitem até 3 testemunhas para comprovar
incapacidade, o impedimento ou a suspeição de testemunha arrolada pela parte contrária (art. 457, § 1°, CPC).
No procedimento sumaríssimo são até 3 por parte (art. 34, lei 9.099/95).
O juiz é o destinatário da prova, podendo indeferir oitiva de testemunhas quando o fato já estiver
suficientemente provado, quando a lei exija outro meio de prova (arts. 443 e 444, CPC), bem como no caso de
prova protelatória (art. 370, § ún., CPC) ou inútil (art. 374: independem de prova os fatos notórios, confessados e
incontroversos).

3. Conceitue contradita e acareação. A senhora entende que a acareação pode ocorrer entre as partes ou
somente entre as testemunhas?
Contradita (art. 457, § 1°, CPC) é a alegação, pela parte contrária, que a testemunha de seu adversário é
incapaz, impedido ou suspeito (art. 447, §§ 1° a 3°).
Acareação é a contraposição entre as versões de testemunhas cujos depoimentos tenham sido em
sentido contrário quanto a fato determinado que possa influir na decisão da causa (art. 461, II), visando a busca
da verdade processual. É oportuno mencionar que a testemunha tem compromisso legal de dizer a verdade (art.
458, CPC).

4. Qual a ordem em que a prova testemunhal deve ser colhida na audiência de instrução e julgamento?
Essa ordem pode ser alterada? E se o juiz tiver invertido o ônus da prova, a ordem permanece a mesma
prevista no CPC?
São inquiridas as testemunhas separada e sucessivamente, primeiro as do autor e depois as do réu. A
ordem pode ser alterada pelo juiz, se as partes concordarem (art. 456). A razão é que o autor deve provar os fatos
que alega, e o réu deve provar fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do autor (art. 373, CPC),
portanto em contraposição à prova produzida pelo autor. É inerente ao contraditório a relação dialética entre ação
e reação, e não o contrário, já que a defesa precisa conhecer antes o teor da acusação, para só então organizar a
melhor reação para influir no convencimento do juiz.
Para o STJ, contudo, não há nulidade pela inversão se o réu não provar prejuízo.
Se o juiz inverter o ônus da prova, pela mesma razão deve inverter a ordem de inquirição, já que uma
parte produz a prova e outra se manifesta com base no que foi produzido.

5. Qual a diferença entre confissão e revelia, se é que existe diferença. Se a senhora achar que sim, diga
qual é.
Confissão é a admissão pela parte admite, como verdadeiro, fato contrário ao seu interesse e favorável
ao do adversário (art. 389, CPC).
Revelia é a inércia do réu validamente citado em contestar a ação proposta contra si.
Há sim diferença, pois confissão é meio de prova (art. 201, CC), portanto o fato confesso é dado por
verdadeiro, ressalvada a possibilidade de anulação por erro de fato ou de coação (art. 214, CC).
Já a revelia não é meio de prova, mas gera, em certas situações, uma presunção de veracidade dos
fatos alegados pelo autor, esta sim (presunção) é um meio de prova. Contudo, a revelia só gera presunção
quando o direito for disponível, as alegações do autor forem verossímeis, considerado o conjunto probatório
produzido, a lei não imponha certo meio de prova que deveria ter sido trazido com a inicial ou se um dos
litisconsortes passivos contestar (art. 345, CPC).
Nada impede também que o réu ingresse no processo antes do término da instrução e produza as provas
que ainda sejam possíveis, a depender do momento (ex.: documento a qualquer tempo, testemunhas se antes da
audiência de instrução, debates e julgamento).

6. O procurador/advogado da parte pode confessar em nome dela?


Sim, mas precisa de poderes especiais (art. 105, caput, CPC).

7. A revelia alcança qualquer direito? (a candidata já havia respondido anteriormente)


Não alcança direitos indisponíveis.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Tutela coletiva do consumidor

1. Acerca da responsabilidade pré-contratual, qual seria a diferença entre o sistema do CDC e o do CC?
Mais especificamente, qual seria a diferença do regime da oferta do CDC e da proposta do CC? Se não for
cumprida a oferta, qual a consequência?
Em ambos os sistemas as partes devem agir com probidade e boa-fé (art. 422, CC).
No CDC, a oferta, uma vez veiculada por qualquer meio e de forma suficientemente precisa (princípio da
transparência), integra o contrato e gera obrigação pré-contratual (princípio da força vinculante da oferta). É
irrevogável unilateralmente pelo fornecedor, mas pode ter prazo determinado.
No CC (arts. 427 a 435), a proposta só gera vínculo uma vez que seja aceita, mas o proponente é
obrigado a cumprir seus termos contanto que seja aceita. Poderá ser revogada unilateralmente pela mesma via
em que feita, bem como deixa de obrigar o proponente se não for aceita nos prazos que a lei fixa (entre presentes
no ato; entre ausentes no tempo razoável para que a resposta chegue ao proponente, ou durante o prazo de
vigência para expedição de resposta nela estipulado; ou se a retratação chegar antes ou simultaneamente com a
proposta ao policitante).
Se descumprida a oferta (art. 35, CDC), o consumidor tem direito de: exigir seu cumprimento forçado;
aceitar outro produto ou serviço equivalente; rescindir o contrato, sendo ressarcido do que tiver pago,
monetariamente corrigido, mais perdas e danos.

2. O que seria uma prática comercial abusiva, qual seria o conceito? A partir desse rol exemplificativo, a
doutrina classifica essas práticas, a senhora conhece essa classificação? E qual seria a sanção para uma
prática abusiva? Essa prática abusiva, numa perspectiva coletiva, com a senhora atuando com
promotora, que tipo de sanções aquela conduta pode gerar?
Prática abusiva é qualquer conduta desleal ou antiética inserida no mercado, com potencial de acarretar
prejuízo para o consumidor ou aos fornecedores concorrentes. A mera prática já caracteriza ilícito,
independentemente de resultado danoso, pois configura abuso de direito.
As práticas comerciais podem ser classificadas em 3 espécies, de acordo com sua situação no tempo: a)
pré- contratuais (ex.: publicidade e oferta); b) contratuais (o contrato propriamente dito, com suas mais
diversificadas cláusulas); c) pós-contratuais (ex.: garantia contratual e cobrança de dívidas).
As sanções podem ser de natureza civil (reparação patrimonial e extrapatrimonial), penal (arts. 63 a 74,
CDC) ou administrativa (ex.: multa, interdição de estabelecimento, cassação ou suspensão de alvará de
funcionamento, etc.).
Em perspectiva coletiva, além da atuação administrativa de entidades como os PROCONs, o MP tem
legitimidade para buscar a tutela dos consumidores atingidos, em primeiro lugar buscando a tutela inibitória
(cessação da conduta) para posteriormente assegurar a reparação. No perfil resolutivo, é possível evitar a
judicialização por instrumentos como a recomendação e o compromisso de ajustamento de conduta às exigências
legais, cujo descumprimento enseja multa e execução judicial.

3. No mês de setembro nos tivemos um evento, a revista Vogue Kids publicou um ensaio, com crianças
em poses sensuais, e isso gerou medidas judiciais. Qual seria o enquadramento jurídico desse caso, no
seu entendimento? E se não fossem crianças, fossem maiores, não tivessem aparência infantil, haveria
uma prática abusiva?
Havendo nos ensaios fotografias que ultrapassem os limites de razoabilidade, tendo por parâmetro que
se trata de uma revista de moda, a conduta pode ser tida como ilícita e violadora dos direitos das crianças,
inclusive no que tange ao seu sadio desenvolvimento psicológico. É preciso ter em mente que o trabalho das
crianças como modelo não é, em si, ilícito, havendo recente precedente do STF que indica que a competência
para expedição de alvará de autorização para o trabalho é da vara da infância e juventude, da justiça estadual.
Se no caso concreto houver violação de direitos, é possível requerer o recolhimento dos exemplares
distribuídos, retirada dos ensaios de endereços eletrônicos na internet, cominação de obrigação de não fazer,
consistente em não mais publicar ensaios que retratem crianças de forma sexualizada, além de compensação
extrapatrimonial cujo valor deverá ser revertido ao fundo de proteção de direitos de crianças e adolescentes (não
seria adequado destinar às crianças que atuaram como modelo, uma vez que o trabalho foi remunerado e a
primazia é de tutela da coletividade indeterminada de pessoas atingidas).
Não fossem crianças, a prática seria lícita.

(Obs.: Essa pergunta foi bastante aberta. Não tenho certeza sobre qual seria a resposta desejada pelo
examinador).

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Direitos Humanos

1. O que é Direitos Humanos para a senhora? E as questões da dignidade da pessoa humana que não
estão positivados, previstos na legislação, também fazem parte dos direitos humanos?
Conjunto de regras que visa proteger a liberdade, igualdade e a dignidade da pessoa humana. São
titulares todas as pessoas onde quer que estejam.
Sim, os direitos humanos têm dentre suas características a não exaustividade, mutabilidade e
historicidade. O art. 5°, § 2°, CF, dispõe expressamente que os direitos lá previstos não excluem outros que
decorram de seus princípios ou de tratados e convenções que o Brasil seja parte.

2. O que é dignidade da pessoa humana, o que preenche esse requisito?


Dignidade da pessoa humana é um metaprincípio que orienta todo o nosso ordenamento, irradiando
efeitos para todos os ramos. É fundamento da república. Trata-se de preceito jurídico indeterminado, sendo certo
que a opção pela expressão “dignidade da pessoa humana” ao invés de “dignidade humana” enfatiza de a
dignidade e é de cada um e de todos, o que impossibilita posturas utilitaristas de sacrifício de um em benefício
dos demais.
Dentre as acepções, pode se destacar que a dignidade da pessoa humana engloba todas as condições
materiais e morais mínimas que alguém precisa ter asseguradas para que se desenvolva em sua plenitude
enquanto indivíduo, englobando o mínimo essencial, como moradia, educação, liberdade, alimentação, e de
forma mais ampla, direitos individuais, sociais, políticos e de nacionalidade.

3. A senhora entende que a propriedade é um direito humano? E naquelas sociedades em que esse
direito não está positivado? P.ex. nas aldeias de índios que estão lá no meio do mato, como faz com essa
questão da propriedade? Mas não é inerente à condição humana? Mas não haveria aí um relativismo
cultural? Mas e a universalização do direito?
Sim. Em nossa CF é expressamente positivada, inclusive no caput do art. 5° e novamente em seus
incisos.
Mesmo em sociedades sem a positivação de tal direito, ele existe. O que varia em grande extensão é o
nível de amplitude, pois a propriedade pode ser extremamente limitada, como no caso de objetos e utensílios
pessoais, até a garantia da propriedade dos meios de produção. É possível pensar também que em algumas
sociedades a propriedade pode ser vista não como um direito individual, mas coletivo. É o caso da relação dos
índios com sua terra.

(Obs.: Sinceramente, não sei o que o examinador esperava como resposta ideal.)

4. A vida é um direito humano? Como fazemos então com os países que tem pena de morte, eles estão
descumprindo esse direito humano? Então os direitos humanos são produtos culturais? Seria difícil dizer
então que são inerentes a condição humana, universais?
Sim. A pena de morte é um exemplo de relatividade do direito à vida. Todo direito fundamental, segundo a
doutrina predominante, é relativo, podendo ser citada a teoria da convivência das liberdades públicas, de Ada
Pellegrini. Mesmo entre nós, o direito à vida tem alguns exemplos, como a pena de morte em caso de guerra, as
hipóteses de aborto legal, a legítima defesa e o estado de necessidade.
Sim, os direitos humanos são produtos culturais, daí sua característica de historicidade, pois o conteúdo
vai sendo revelado e modificada à medida que a cultura e a sociedade vão se modificando.
Excelência, são inerentes à condição humana e universais, todavia, seu conteúdo é mutável, sem
prejuízo de novos direitos serem revelados, o que vai ao encontro da ideia de gerações de direitos humanos.

5. Dentro dessa ótica, existe um sistema internacional de Direitos Humanos para dar uma base aos
diversos países? (o examinador falou antes sobre as diferenças dos conceitos de ocidente e oriente e de
alguns países para outros)
Na atualidade, existem 3 sistemas regionais de proteção (interamericano, europeu e africano) e um
sistema universal (Nações Unidas).

6. Até chegar a declaração dos direitos humanos em 1948, como foi a evolução desses direitos? Que
instrumento jurídico foi criado à época do início dessa evolução? (essa última parte, o examinador falou
muitas coisas que não fizeram muito sentido). O que a senhora acha que aconteceu para que se chegasse
a essa declaração de 1948? Quais as duas grandes forças/linhas de pensamento se contrapuseram na
declaração universal? (ele respondeu que entre os países vencedores da 2ªGM, baseado em liberdade,
igualdade e fraternidade, houve uma contraposição entre dois blocos: o primeiro com EUA e França que
privilegiava a liberdade e outro bloco, da URSS que privilegiava fraternidade e igualdade)
O início remonta às revoluções liberais que resultaram a superação do Antigo Regime. Num primeiro
momento, foram consagrados os direitos e liberdades individuais defendidos pela burguesia, sob a promessa de
promoção de liberdade, igualdade e fraternidade. Em algumas décadas, percebeu-se que tais direitos garantidos
a todos eram meramente formais, quando na realidade havia um grande abismo entre as pessoas. Surgem então
ideias de oposição, pautadas na promoção da igualdade substancial, como é o caso do comunismo marxista e
das diversas correntes socialistas, resultando em modelos de estado liberal e social.
A declaração de 1948 foi produto especialmente das 2 grandes guerras, período em que se percebeu
que a humanidade, mesmo após um próspero período de avanço científico, produzia miséria humana e
atrocidades. Com isso, se fez necessária uma união global para a garantia de condições e direitos mínimos para
todas as pessoas, de todas as nacionalidades.
As duas grandes forças foram o capitalismo americano e o comunismo soviético.

7. Quais as classes de direito previstas na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)? (Direitos
Civis, Políticos, Sociais, Econômicos e Culturais)
São eles: Direitos civis e políticos (1ª dimensão); Direitos sociais, econômicos e culturais (2ª dimensão).
Não há os de 3ª dimensão, pois revelados em momento histórico posterior.
Vale destacar que tais direitos foram enunciados em paridade hierárquica, sem relação de supremacia
entre uns e outros, consagrando a tese da unidade e indivisibilidade dos direitos humanos.

8. Quais os instrumentos existentes no sistema interamericano de direitos humanos? Quais são as duas
estruturas existentes? (Representação à corte e à comissão de DH)
I. Representação à Corte Interamericana de direitos humanos: somente os Estados-Partes e a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos podem submeter um caso a CIDH, não se conferindo legitimidade a
indivíduos e a entidades não governamentais.
É o principal órgão jurisdicional do Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Foi criada, após
proposição da Delegação do Brasil, por conferência internacional americana, realizada em Bogotá, em 1948.
Esse órgão jurisdicional é composto por 7 juízes, eleitos em Assembleia Geral da OEA, pelo voto maioria absoluta
dos Estados membros, para mandato de 6 anos, admitida uma recondução. Não é possível 2 ou mais juízes
naturais de um mesmo Estado Parte.

II. Representação à Comissão Interamericana de Direitos Humanos: indivíduos pessoa física têm
legitimidade para provocar, além dos próprios estados-parte.
A CIDH é composta por 7 membros, eleitos pela Assembleia Geral da OEA para um mandato de 4 anos,
admitida uma reeleição, podendo ser nacionais de qualquer estado integrante da organização. Não se admite 2
membros da mesma nacionalidade.
Dia 12 – Ponto 09 – Maurício Thurow e Narlla Coutinho

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinadora: Dra. Elaine Parisi

Princípios e direitos fundamentais, aplicabilidade e interpretação das normas constitucionais, abuso do poder
econômico em matéria eleitoral.

1. Quais são as fontes dos direitos fundamentais?


Os direitos fundamentais consistem no conjunto de direitos estabelecidos por determinada comunidade
política organizada, com objetivo de satisfazer ideais ligados à dignidade da pessoa humana, sobretudo a liberdade, a
igualdade e a fraternidade. A expressão “direitos humanos” costuma referir-se a direitos correspondentes ao gênero
humano, sem se importar com as peculiaridades e características das diversas comunidades existentes. Assim, a
questão dos direitos humanos é tratada de maneira supranacional, no âmbito do direito público internacional.
Os direitos fundamentais são aqueles previstos nos ordenamentos jurídicos de cada Estado (em sentido
formal), sejam textos constitucionais dotados de hierarquia normativa superior, seja em outros tipos de diploma
normativo. Dessa maneira, os direitos fundamentais são estabelecidos pelos Estados por vários mecanismos, tais
como em disposições do próprio texto constitucional, em declarações especificas (cartas de direitos), como a
Declaração do Homem e do Cidadão, por meio de enunciações feitas em preambulo constitucionais ou em disposições
em atos normativos infraconstitucionais.
Já no sentido material, os direitos fundamentais são encarados sob a metodologia jusnaturalista similar à que
caracteriza o estudo dos direitos humanos. Assim, os direitos fundamentais não seriam propriamente estabelecidos
pelas normas constitucionais. As normas internas, ao estabelecerem os direitos fundamentais, estão apenas a
“enunciar” direitos histórica e previamente conquistados pelas lutas sociais.

2. Como será exercida a soberania popular?


A soberania popular é exercida por sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos,
de acordo com o art. 1º da Lei nº. 9.709 /1998, bem como das normas constitucionais pertinentes, mediante: plebiscito,
referendo e iniciativa popular.

3. Um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é o pluralismo político, o que o senhor pode me
falar sobre ele?
O pluralismo político demonstra a preocupação do legislador constituinte em afirmar a ampla e livre
participação popular nos destinos políticos do país, garantido a liberdade de convicção filosófica e política e, também,
a possibilidade de organização e participação em partidos políticos.
O pluralismo político, como base do Estado democrático de direito, aponta o reconhecimento de que a
sociedade é formada por vários grupos, portanto composta pela multiplicidade de vários centros de poder em
diferentes setores.
Não deve ser confundida a expressão pluralismo político com a ideia de vários partidos políticos, pois a esta
matéria atribui-se a denominação pluripartidarismo ou multipartidarismo, que é uma das consequências do pluralismo
político.

4. O Brasil reconhece a possibilidade de transferência de parcela de soberania a entes supranacionais?


Modernamente, não há como se admitir a soberania Estatal como sendo absoluta e ilimitada, na medida em
que as relações entre Estados, integrantes ou não de um mesmo bloco econômico, originam relações jurídicas
complexas, as quais, não raramente, acabam por gerar conflitos de interesse de ambos os Estados-Partes.
Havendo conflito de interesses surge a necessidade de solucionarem tais conflitos. Embora se constate tal
necessidade, somente um órgão com jurisdição sobre ambos os Estados estaria legitimado a ofertar soluções a tais
controvérsias. Esta necessidade de submeter-se à decisão de um organismo com jurisdição sobre o próprio Estado fez
com que surgisse o conceito de supranacionalidade.
Esta foi a forma que os Estados europeus encontraram para a solução das controvérsias surgidas a partir das
relações decorrentes do processo de integração. Formou-se uma Comunidade de Estados, em prol da qual os Estados
renunciaram a sua competência sobre determinadas matérias, que passaram a ser reguladas pelo órgão comum.
Entendem alguns que se trataria de soberania divisível, na medida em que os Estados transfeririam parcelas
de sua soberania a entes supranacionais. Outros defendem a tese da delegação de soberania.
A União Europeia, por exemplo, exerce poderes inerentes à soberania antes exclusiva de cada um dos
Estados-Membros legitimada pelos vários tratados que a originaram e cujos Estados são signatários, sendo eles:
Tratado de Paris, 1951; Tratados de Roma, 1957 e Tratado da União Européia, com vigência a partir de Novembro de
1993.
No entanto, o entendimento dominante é que os Estados-Membros, para participarem de um processo de
integração, não precisam renunciar à soberania ou a parte dela. De forma conjunta, conferem poderes a órgãos com
jurisdição comum a estes Estados, segundo as conveniências de seus interesses.
Obtido o consenso, os Estados atribuem as competências necessárias à Comunidade, cujos órgãos passarão
a gerir aqueles assuntos. Como a Comunidade é um espaço comum entre os Estados, do qual todos participam, pode-
se dizer que eles passam a exercer suas soberanias nestes domínios, de forma compartilhada com os outros Estados

5. O que é o princípio da separação de poderes e como ele pode ser compatibilizado, se é que é possível, com
a fiscalização realizada pelo poder legislativo em relação ao poder executivo?
A teoria da separação dos poderes teve seus primeiros esboços já na antiguidade grega, com ARISTÓTELES,
em sua obra A Política (Século IV a.C.). Já no Século XVIII d.C., a teoria foi aprimorada por MONTESQUIEU, em sua
obra O Espírito das Leis, em que defendia que as funções editar a lei, aplicá-las ao caso concreto e resolver os litígios,
devem ser exercidas por três órgãos distintos, autônomos e independentes entre si. A teoria da separação dos poderes
foi desenvolvida em um contexto histórico reacionário, em um Estado Liberal que se contrapôs ao absolutismo, no qual
todos os poderes e funções do Estado eram concentrados na figura do Rei.
Em nosso sistema, a separação dos poderes alcança status de princípio fundamental tão importante que fora
eleito como cláusula pétrea, insuscetível de modificação ou abolição mediante emenda constitucional (art. 60, §4º, III,
da CF/88).
A doutrina clássica chama de separação dos poderes o que o constitucionalismo moderno identifica como
“divisão de tarefas estatais” ou “atividades entre distintos órgãos autônomos”.
Na verdade, a expressão “separação de poderes” não primaria pela boa técnica jurídica, pois o poder é uno,
indivisível e indelegável. O poder não se triparte, é um só e manifesta-se por meio de órgãos que exercem funções.
O Direito Constitucional contemporâneo, embora permaneça na tradicional linha da tripartição dos poderes, já
entende que esta fórmula não deve ser interpretada com rigidez, sob pena de se tornar inadequada a um Estado que
assumiu a missão de dar ao seu povo o bem-estar. Separou as funções estatais dentro de um mecanismo de controle
recíproco, surgindo assim o que se denominou de TEORIA DOS FREIOS E CONTRAPESOS (“checks and balances”).
Da independência e harmonia entre os Poderes decorre o sistema de freios e contrapesos, que consiste na
contenção do poder pelo poder, ou seja, cada poder deve ser autônomo e exercer determinada função, porém o
exercício desta função deve ser controlado pelos outros poderes. Verifica-se que o Legislativo emite atos gerais, que
podem ser concretizados por atos do Executivo, mas limitados pelos atos do Legislativo, podendo qualquer dos
poderes sofrer ação fiscalizadora do poder judiciário quando houver exorbitância.

6. Em que consiste o método concretista de interpretação das normas constitucionais?


Para tal método, o teor literal da norma é a apenas a ponta do iceberg do problema interpretativo. Além desse
programa normativo, a partir do qual se obtém da interpretação dos enunciados linguísticos, o intérprete deve ainda
precisar o âmbito da norma a ser concretizada, ou seja, “o recorte da realidade social na sua estrutura básica, que o
programa da norma ‘escolheu’ para si ou em parte criou como seu âmbito de regulamentação”. Logo, a norma jurídica
não é um juízo hipotético que se isola de seu âmbito de regulamentação, mas uma interferência classificadora e
ordenadora a partir da estrutura material do próprio âmbito social regulamentado.

7. Como funciona o método do tópico problemático da interpretação constitucional?


Caracteriza-se por ensejar interpretação baseada em considerações práticas a partir do problema concreto a
ser resolvido. Nesse sentido, mediante técnicas de argumentação, o intérprete avalia os vários pontos de vista (topoi) a
respeito do mesmo problema, para só então chegar à solução normativa do caso.
Enquanto os demais métodos hermenêuticos adotam o modelo dedutivo, partindo da norma em direção ao
problema, o pensamento tópico-problemático trilha em sentido oposto, ou seja, do particular (problema) para o geral
(norma), adotando o modelo indutivo

8. A interpretação autêntica é admitida no Brasil?


A interpretação autêntica é aquela desenvolvida pelo mesmo órgão responsável pela edição do ato normativo
interpretado, mediante ato interpretativo posterior. Cuida-se de interpretação em abstrato, que se faz, geralmente, com
a intenção de corrigir interpretações judiciais com as quais aquele órgão não concorda.
Uma interpretação pode ser considerada autêntica, conforme ensina Guastini de quatro formas distintas:
1) quando realizada pelo mesmo órgão que aprovou o documento interpretativo;
2) quando feita por documento dotado do mesmo nomen iuris do documento interpretado;
3) quando efetivada mediante documento dotado da mesma força jurídica do documento interpretado; e
4) quando desenvolvida por órgão que tenha o monopólio da última palavra sobre a matéria, desde que seus
pronunciamentos não possam ser contraditados nem desobedecidos por ninguém.
No regime constitucional brasileiro, afastam-se a priori as interpretações autênticas das espécies (1) e (2), seja
porque o “órgão” que elaborou a Constituição de 1988 já se desfez, seja porque uma constituição sucessiva não seria
entendida como mera reinterpretação da anterior, senão como nova constituição.
Em relação à interpretação do tipo 3 (quando efetivada mediante documento dotado da mesma força jurídica
do documento interpretado), a doutrina majoritária não admite quaisquer formas de interpretação constitucional feitas
pelo legislador comum. Porém, aceita como “autêntica” a interpretação realizada por intermédio de EC.
Já em relação à interpretação do tipo 4 (quando desenvolvida por órgão que tenha o monopólio da última
palavra sobre a matéria, desde que seus pronunciamentos não possam ser contraditados nem desobedecidos por
ninguém), ao tempo da Constituição anterior, o STF recusou o posto de “intérprete autêntico” das normas
constitucionais. Naquela oportunidade, decidiu que não poderia dar efeito erga omnes à interpretação que fizesse de
dispositivos constitucionais, pois, segundo o raciocínio do vencedor do Min. Moreira Alves, as “Constituições visam a
perdurar o mais possível, e isso só é alcançável graças à flexibilidade de seus textos a essa intepretação evolutiva,
impossível de conviver com a interpretação autêntica”.
Atualmente, certos posicionamentos do STF tornam nítidas as tentativas de implantar mecanismos judiciais de
interpretação autêntica da Constituição Federal, tais como (a) a atribuição de efeito vinculante aos “motivos
determinantes” das decisões em controle abstrato (raciocino de vingou durante anos até ser superado); (b) certos
votos e decisões monocráticas tendentes a instituir efeitos erga omnes e vinculantes às decisões tomadas no controle
concreto de constitucionalidade; (c) algumas súmulas vinculantes, nas quais a interpretação da Constituição Federal
em vez de parâmetro à resolução de questões referentes à validade, à interpretação ou à eficácia de normas
constitucionais, passou a ser utilizada como objeto da produção normativa realizada pelo STF.
O próprio legislador vem municiando essa tendência, tal como se vê no art. 10 da Lei 9.882/99 pelo qual se
outorgou ao STF o papel de interpretar, de forma vinculante, os preceitos fundamentais da Constituição Federal.

Direito Eleitoral

9. Quais as formas de apuração do abuso de poder econômico em matéria eleitoral? Quais são as sanções
cabíveis?
AIJE = Ação de Investigação Judicial Eleitoral
Base Legal: art. 22 da LC 64/90;
AIME = AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO
Base: art. 14, §§ 10 e 11, da Constituição;

Via AIME, invalidação (cassação) do diploma do candidato e segundo LC 64:

“Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá
representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando
provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou
abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de
comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito: (Vide Lei
nº 9.504, de 1997)
XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal
declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-
lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em
que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela
interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de
comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de
processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie
comportar; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)

Art. 1º São inelegíveis:


I - para qualquer cargo:
d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em
decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder
econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que
se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)”

10. Para aprovação da cassação há necessidade de provar o envolvimento ou a responsabilidade do candidato


beneficiado?
Segundo Emerson Garcia (2006, p.181), para a invalidação do diploma, o candidato deve ter praticado abuso
do poder econômico, corrupção ou fraude durante o procedimento eletivo.
Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling

Administração indireta

1. Quais são as 3 principais características gerais das PJs da Adm. Indireta?


Elas são supervisionadas por órgãos da administração direta, são criadas (autarquias) ou autorizada a criação
(fundação, empresa pública e sociedade de economia mista) por lei específica, possuem personalidade jurídica distinta
da entidade política instituidora e patrimônio próprio.

2. Qual a forma de criação dos entes jurídicos oriundos da administração? Esses entes pode ter fins
lucrativos, podem auferir lucro, via de regra?
As entidades da Administração Pública Indireta, são, necessariamente, criadas por legislação especifica.
Caracterizam-se por terem origem na vontade do Estado, não possuem fins lucrativos e sim finalidade de interesse
coletivo. Há que conciliar, portanto, o interesse público, que orienta a ação do estado, com a proteção dos direitos
patrimoniais dos acionistas privados.
A corrente publicista alega que o lucro seria legítimo apenas se fosse uma consequência no desenvolvimento
das atividades de interesse público. Em contraponto, há parte da doutrina que admite o lucro, pois esse seria inerente
às sociedades que têm investimentos provenientes do capital privado. Caso as sociedades de economia mista
tivessem por premissa a inviabilidade de lucro, essas seriam inviáveis, pois não atrairiam investidores.
Importante destacar que as sociedades de economia mista podem tanto prestar serviços público, como
explorar atividades econômicas. A ressalva quanto ao lucro pode ser cabível quando contraposta às atividades que
visam o interesse da coletividade, contudo, uma vez exploradas atividades econômicas, são pressupostos que haja
uma contraprestação aos investimentos realizados.

3. O que seriam autarquias, dê a conceituação específica? Presta serviço típico ou atípico? São subordinadas
a algum órgão superior?
São pessoas jurídicas de direito público de capacidade exclusivamente administrativa, criadas por lei, com
personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios.
Não é possível afirmar que toda autarquia presta serviço público típico de Estado, como ocorre com as
universidades públicas que, apesar de serem autarquias, prestam serviço que também é ofertado por entidades
privadas.
Gozam de liberdade administrativa nos limites da lei que as criou e não são subordinadas a órgão algum do
Estado, mas apenas controladas. Tal controle é designado, conforme Decreto-lei 200, “supervisão ministerial”. Todas
as entidades da Administração indireta encontram-se sujeitas ou à supervisão do Ministro a cuja Pasta estejam
vinculadas – que a exercerá auxiliado pelos órgãos superiores do Ministério – ou da Presidência da República,
tratando-se de autarquia diretamente vinculada a ela. São objetivos deste controle assegurar o cumprimento dos
objetivos fixados em seu ato de criação; harmonizar sua atuação com a política e programação do Governo no
correspondente setor de atividade; zelar pela obtenção de eficiência administrativa, operacional e financeira.

4. É correto afirmar que as fundações públicas são de regime privado? No Brasil, como elas são criadas? E
por que no Brasil elas são, em sua maioria, de regime público? A prestação do serviço público decorre de
que? Quem presta serviço público detém o que?
As fundações públicas podem possuir personalidade jurídica de direito público ou de direito privado, conforme
definido em lei instituidora. Significa que o legislador pode optar por editar uma lei criando ou autorizando a criação de
uma fundação pública. Caso o seu nascimento emane diretamente da lei, teremos fundação publica com
personalidade jurídica de direito público, caso a lei simplesmente autorize a sua criação, os seus atos constitutivos
deverão ser inscritos no registro civil das pessoas jurídicas e, a partir de então, nascerá uma fundação publica com
personalidade jurídica de direito privado.
O Estado pode transferir para terceiro a execução da titularidade da prestação dos serviços, que pode se dar
por delegação legal (outorga) ou delegação negocial. Por meio da delegação legal, o Estado transfere, por lei, a
titularidade da prestação para entidades de sua administração direta. Com a delegação negocial, o Estado transfere,
através de contrato ou ato administrativo, a titularidade da prestação do serviço para outras pessoas jurídicas.
E por que no Brasil elas são, em sua maioria, de regime público? Penso que em razão das prerrogativas de
que goza a Fazendo Pública.
Essas perguntas parecem fazer link com algo respondido pelo candidato: A prestação do serviço público
decorre de que? Quem presta serviço público detém o que? Penso que a resposta passaria pela exposição do
fenômeno da descentralização e das prerrogativas que o regime de direito público confere, como,
exemplificativamente, a sistemática dos precatórios.

GRUPO TEMÁTICO II

Direito penal
Examinador: Dr. Calisto Oliveira Souza

Extinção de punibilidade e Lei 9.605

1. A detração penal interfere na aplicação do prazo prescricional?


A questão é controvertida. Há quem entenda que se aplica, por analogia, o art. 113 do CP 7, de modo que
a prescrição retroativa deveria considerar a pena concreta (imposta na sentença), mas com o cômputo da
detração, ou seja, realizando a detração do período em que o réu permaneceu preso cautelarmente ou internado.
Consequentemente, a prescrição retroativa seria calculada com base no restante da pena, isto é, pelo tempo
ainda não cumprido.
Todavia, o STF e o STJ entendem que o art. 113 do CP deve ser interpretado restritivamente, de maneira
que o tempo de prisão provisória não pode ser computado para fins de prescrição8.
Saliente-se, ainda, que, segundo a jurisprudência do STJ, o tempo de prisão provisória não deve ser
considerado para fins de cálculo da prescrição da pretensão executória. O cálculo da prescrição com base na
pena remanescente somente é possível nas hipóteses taxativamente previstas no art. 113 do CP (evasão do
condenado e revogação do livramento condicional), cuja interpretação deve ser restritiva (HC 400462/RS).

Fonte:
http://evinistalon.com/a-prescricao-retroativa-e-a-detracao-penal/
https://professormadeira.com/2017/03/21/computo-do-tempo-de-prisao-provisoria-e-reconhecimento-da-
prescricao-da-pretensao-executoria/

2. E no caso de Medida de Segurança, regularmente aplicada, existe a previsão de prescrição?


O art. 96, parágrafo único, do CP preceitua que não se aplica medida de segurança ou não subsiste
aquela que tenha sido imposta quando a punibilidade tiver sido extinta. Nos termos do art. 107, IV, também do CP,
7
“No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo
que resta da pena.”
8
STF, Segunda Turma, ARE 938056 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 08/03/2016.
a punibilidade se extingue pela prescrição. Com base nisso, entende-se que a medida de segurança está
perfeitamente sujeita à prescrição da pretensão punitiva, seja para o imputável, seja para o semi-imputável.
No entanto, quanto à possibilidade de aplicação da prescrição da pretensão executória, a doutrina não é
pacífica, existindo pelo menos três posições a respeito. A primeira corrente defende que só se aplica a prescrição
da pretensão punitiva, porque para a executória exige-se a fixação da pena, o que não acontece nos casos de
medida de segurança.
Uma segunda corrente defende que se aplicam ambas as prescrições, pretensão punitiva e pretensão
executória. Nesta, o cálculo da prescrição é feito pela pena máxima em abstrato fixada para o crime. Há
precedente do STF nesse sentido (STF- Primeira Turma- RHC 100383).
Por fim, uma terceira corrente, capitaneada pela segunda turma do STF, defende que a prescrição da
pretensão executória é regulada pela duração máxima da medida de segurança, qual seja, 30

FONTE: Livro Rogério Sanches, 2015, páginas 513/514.

3. Há distinção da prescrição entre os semi-imputáveis e os inimputáveis?


Sim. Isso porque para os inimputáveis não há aplicação de pena, mas sim absolvição imprópria com a
previsão de duração mínima da medida de segurança. Consequentemente, surge a discussão acerca da
aplicação ou não da prescrição da pretensão executória aos inimputáveis.
Já para o semi-imputáveis, há aplicação de pena. A partir disso, defende-se que, nessa hipótese, a
prescrição da pretensão executória, ainda que se escolha aplicar medida de segurança, é regulada pela pena
fixada na decisão condenatória.

4. No caso da suspensão condicional do processo, na Lei 9605, suponhamos que ocorra uma
prorrogação nesse prazo porque um maior prazo para a medida reparatória é necessário. Essa nova
suspensão também suspenderia a prescrição?
Sim. O art. 28, II, da Lei 9605 é expresso nesse sentido:

“Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos
crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput,
dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a
impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo;
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo
de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no
caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição;
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do
artigo mencionado no caput;
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de
reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o
período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no
inciso III;
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade
dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências
necessárias à reparação integral do dano”.
5. Ocorreu um caso recentemente em Itabirito, em que 3 empregados morreram em uma mineradora, a
empresa já tinha sido multada antes. Nesse caso pode haver a responsabilidade penal da empresa pela
morte dos empregados?
Segundo a doutrina majoritária, a responsabilidade penal da pessoa jurídica se restringe aos crimes
ambientais, nos termos do art. 225, § 3º, da CR/88, e art. 3º da Lei 9605.
Há doutrina que defende a possibilidade de o homicídio ser enquadrado como crime ambiental. Sustenta-
se que o homem, como parte integrante do meio ambiente, pode ter sua vida protegida, no contexto do ambiente,
inclusive contra agressões de pessoas jurídicas, desde que haja desequilíbrio ambiental. Nesse caso e uma vez
ocorrida a morte do homem, o homicídio deverá ser tratado também como crime ambiental 9. A análise desse
desequilíbrio ambiental seria feita casuisticamente e demandaria a ocorrência da morte de várias pessoas, da
destruição de comunidades, etc.
Em artigo sobre o caso de Itabirito, Luiz Gustavo Gonçalves Ribeiro e Elcio Nacur Rezende defendem
que as três mortes ocorridas não acarretaram um desequilíbrio ambiental, mas sim a destruição da fauna e da
flora de modo geral. Logo, o homicídio, na hipótese, não poderia ser considerado crime ambiental.
Ante o exposto, resta considerar que, no caso concreto do rompimento da barragem, não obstante a
morte das vítimas provocadas imediatamente pelo soterramento em grande quantidade de terra, o desequilíbrio
ambiental restou configurado em face das conclusões periciais, pela enorme agressão à fauna e à flora, mas não
pela morte das vítimas, três trabalhadores da empresa mineradora. Em assim sendo, em que pese a natureza
ambiental que o crime de homicídio pode alcançar em alguns casos, na situação em exame restou limitado,
apenas, ao atentado contra a vida.

6. O CP não prevê penas superiores a 30 anos, mas, na lei 9.605, há alguma hipótese, situação, em que a
pena supere 30 anos?
Sim, no caso da pena de liquidação forçada.
“Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de
permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua
liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional”.

7. O diretor de uma empresa determina a um funcionário que transporte carvão de forma irregular, para
utilização em propriedade particular do diretor. É possível nesse caso responsabilizar a PJ?
Não. Em que pese a decisão ter sido determinada pelo diretor da sociedade empresária, a infração não
foi cometida no interesse ou em beneficio da entidade, como exige o art. 3º da Lei 9605.
“Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão
de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade”.

8. É possível a concessão de indulto a preso provisório? E se a pena dele vier a ser aumentada?
Indulto é uma forma de renúncia do Estado ao poder de punir. Trata-se de um benefício coletivo
concedido pelo Chefe do Poder Executivo Federal (podendo essa atribuição ser delegada ao Procurador Geral da
República, ao Advogado Geral da União ou a Ministros de Estado.) que extingue a punibilidade (art. 107, II, do
CP) ou acarreta a diminuição ou comutação da pena. Não depende de provocação do interessado e pode ser
chamado de “graça coletiva”.

9
http://ucs.br/etc/revistas/index.php/direitoambiental/article/viewFile/3420/2310
É possível defender a aplicação do indulto ao preso provisório, com base na aplicação analógica das
súmulas 716 e 717 do STF, as quais permitem a aplicação de benefícios da execução aos presos provisórios.
O decreto presidencial que concedeu o indulto natalino de 2017 trouxe previsão no sentido de sua
aplicação ainda que não haja ocorrido o trânsito em julgado para a acusação, desde que o recurso já tenha sido
apreciado em segunda instância10.
Contra esse decreto foi ajuizada a ADI 5874. Em seu voto, o Ministro Relator Roberto Barroso entendeu
pela inconstitucionalidade da concessão de indulto para réus que podem ter a condenação agravada.
Especificamente em relação ao artigo 11 do Decreto nº 9.246/2017, a decisão monocrática manteve a suspensão
exclusivamente da hipótese prevista pelo inciso II, taxando de inconstitucional a pretensão de concessão do
indulto “na pendência de recurso da acusação e antes, portanto, da fixação final da pena, em violação do princípio
da razoabilidade e da separação dos Poderes”11. Com base nesses fundamentos, pode-se concluir pela não
possibilidade de concessão do indulto na hipótese de a pena poder ser aumentada.

Direito Processual Penal


Examinador: Dr. Adilson Nascimento
Sistemas processuais

1. Disserte a respeito do seu entendimento no tocante a qual sistema processual se filia o processo penal
brasileiro.
Sistema processual penal é uma faceta do sistema jurídico. É aquele sistema que rege a persecução
penal e está delimitado pelas normas constitucionais.
Existem, basicamente, três espécies de sistemas processuais: o inquisitório, o acusatório e o sistema
misto ou acusatório formal. O primeiro é caracterizado pela dispensabilidade da figura acusadora, pelo uso da
tortura, pela predominância do sigilo, pela ausência de contraditório e paridade processual e pela concentração
das atividades de acusação, julgamento e defesa nas mãos de uma só pessoa.
O sistema acusatório, por sua vez, prima pela equivalência dos direitos e deveres das partes dentro do
processo, como forma de propiciar a efetivação do contraditório. Não se confere ao juiz a prerrogativa de agir de
ofício e as atribuições de acusar, defender e julgar são bem delineadas, cabendo a pessoas distintas.
Por fim, o sistema misto resulta da apropriação do que se considerou melhor dos sistemas inquisitivo e
acusatório. É caracterizado pela divisão do processo em duas fases: a primeira, consubstanciada na investigação
criminal, assemelhar-se-ia aos ditames do sistema inquisitivo. Já a segunda fase é regida pelos ditames do
sistema acusatório.
O ordenamento pátrio não menciona, expressamente, qual seria o sistema processual adotado. A
doutrina diverge quanto ao tema. Há quem defenda ter sido adotado o sistema acusatório puro, outros sustentam
a adesão ao sistema acusatório mitigado e há quem entenda ter sido adotado o sistema misto, na medida em que
o inquérito policial mitigaria a configuração do sistema acusatório, por ser marcado pelas características típicas do
sistema inquisitivo.
Todavia, há quem sustente, ainda, que o inquérito policial, procedimento estritamente administrativo, não
faz parte da fase judiciária do processo e, por conseguinte, não interfere na caracterização do sistema. Tal
corrente defende que o sistema adotado no Brasil é o acusatório, por força da observância aos postulados da
CR/88 e pelas características que definem o modelo processual pátrio. Saliente-se, também, que os adeptos
10
Art. 11. O indulto natalino e a comutação de pena de que trata este Decreto são cabíveis, ainda que I - a sentença
tenha transitado em julgado para a acusação, sem prejuízo do julgamento de recurso da defesa em instância
superior; II - haja recurso da acusação de qualquer natureza após a apreciação em segunda instância; III - a pessoa
condenada responda a outro processo criminal sem decisão condenatória em segunda instância, mesmo que tenha
por objeto os crimes a que se refere o art. 3º; ou IV - a guia de recolhimento não tenha sido expedida.
11
http://www.criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/Nota_Explicativa_sobre_o_Indulto_Natalino_2017.pdf
desse entendimento têm ciência da existência de elementos inquisitórios remanescentes no ordenamento.
Contudo, destacam que esses elementos são apenas resquícios do período político ditatorial já superado e
deverão ser extirpados a partir de uma reforma na legislação processual penal. Nesse sentido, Rogério
Filippetto12.

2. Analisando os preceitos constitucionais, seria possível a construção de um modelo acusatório puro? O


que seria o sistema acusatório adversarial?
Acredito que sim. As normas constitucionais, pautada no modelo democrático, definem um sistema
acusatório puro. A inconsistência do modelo brasileiro provém das normas do CPP, que é de matriz autoritária.
Ademais, as características inquisitoriais do inquérito policial não devem afetar a configuração do sistema
processual adotado no Brasil, já que se trata de procedimento administrativo pré-processual.
O sistema adversarial tem matriz na common law e é caracterizado pela atuação do juiz como uma
espécie de moderador da controvérsia entre os contendores. As partes conduzem o processo, restringindo-se o
juiz a assegurar a justiça do procedimento, sem iniciativa de produção probatória. A intervenção judicial, nesse
contexto, deve limitar-se ao estritamente necessário13.

3. O senhor conhece a origem do sistema misto e quais seriam as suas características? Como fica a
questão das partes dentro do sistema misto?
O sistema misto tem origem francesa, tendo surgido com as modificações napoleônicas no sistema
inquisitorial e com o Código Processual Penal francês de 1808. Por tal motivo é chamado, também, de sistema
francês.
É chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas fases distintas: a primeira
Fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, por isso, sem
contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter
acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a
publicidade e a oralidade. Percebe-se, pois, que dentro do processo as partes têm suas atribuições definidas, não
havendo papéis distintos desempenhados por uma mesma pessoa.

4. No Brasil, o sistema misto tem uma outra conotação também, segundo alguns autores, o senhor
poderia trazer pra nós?
Alguns doutrinadores como Aury Lopes Jr. afirmam que todos os sistemas processuais penais da
atualidade são mistos, pois consideram que os sistemas puros são modelos históricos, não guardando relação
com os contemporâneos.

GRUPO TEMÁTICO III


Direito Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Separação judicial e divórcio

1. Diferencie os dois institutos. (considerando a corrente que considera que ainda existe separação
judicial).

12
Fonte: Colaboração Premiada: contornos segundo o sistema acusatório. Rogério Filippetto e Luísa Carolina
Vasconcelos Chagas Rocha, páginas 35 a 55.
13
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/
bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.249.20.PDF
A separação judicial é o instituto jurídico que dissolve tão somente a sociedade conjugal, sem, contudo,
dissolver o vínculo conjugal, ou seja, o status de casado. A partir dela, os deveres de coabitação e fidelidade
recíproca não são mais exigíveis, bem como põe-se termo ao regime de bens (art. 1576 do CC/02). A separação
permite o reestabelecimento da sociedade conjugal a qualquer tempo.
Por outro lado, o divórcio é a causa dissolutiva do vínculo conjugal decorrente da vontade de um ou de
ambos os cônjuges. Com a EC 66/2010, o divórcio passou a ser direto, podendo ser realizado
independentemente do transcurso de qualquer prazo. O divórcio não permite o reestabelecimento do vínculo
matrimonial, sendo necessária a realização de novo casamento.
Vale destacar que, recentemente, o STJ entendeu que a separação judicial continua a existir, mesmo
após a EC 66/2010 (Inf. 610/STJ).

2. Cite duas causas de separação litigiosa previstas na legislação.


Segundo o art. 1572 do CC/02, a ação de separação judicial pode ser proposta por qualquer dos
cônjuges, imputando ao outro ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a
vida em comum. Nos termos do art. 1573 do mesmo diploma legal, podem caracterizar impossibilidade da
comunhão de vida a ocorrência de adultério, tentativa de morte, sevícia ou injúria grave, abandono voluntário do
lar conjugal durante um ano contínuo, condenação por crime infamante e conduta desonrosa.

3. O que é conduta desonrosa?


É uma das hipóteses que permite a caracterização da impossibilidade da comunhão de vida, a ensejar o
ajuizamento de ação de separação judicial. Trata-se de um conceito jurídico indeterminado, ou seja, o legislador
trouxe a consequência dele advinda (possibilidade de separação judicial), mas não o delimitou, de modo que cabe
ao intérprete fazê-lo.
Para Darcy Arruda Miranda, conduta desonrosa "é o comportamento repreensível, desabonador, que
possa lesar a respeitabilidade matrimonial, e ofensivo dos bons costumes e da honra subjetiva ou objetiva do
outro cônjuge". Caio Mário da Silva Pereira diz se considerar "todo comportamento de um dos cônjuges, que
implique granjear menosprezo no ambiente familiar ou no meio-social em que vive o casal", enquanto para Yussef
Said Cahali, configura-se a conduta desonrosa "no ato ou comportamento imoral, ilícito ou antissocial de um dos
cônjuges que, infringindo os deveres implícitos do matrimônio, provoca no outro cônjuge um estado ou situação
de constrangimento, humilhação, desprestígio moral ou social, desconsideração no ambiente da família, do grupo
ou da sociedade".
Em resumo, é o comportamento indigno, reprovável e moralmente inqualificado, de um cônjuge em
relação ao outro, e que torna a vida em comum insuportável14.

4. Uma pessoa (o marido ou a esposa) é surpreendida pelo outro beijando de forma lasciva um terceiro,
como você caracterizaria essa infração ao dever de fidelidade, seria adultério ou não? Se não for adultério
o que seria? (o examinador considera que não há adultério, porque não há conjunção carnal)
Não seria adultério, pois este, tecnicamente, pressupõe a conjunção carnal com terceiro. O caso tratado
pode ser considerado como violação ao dever de respeito e considerações mútuos (art. 1566 do CC).

5. Em caso de separação consensual o juiz pode homologar? Em que hipótese o juiz pode se recusar a
homologar a separação judicial? O MP tem legitimidade para requerer ou se manifestar no sentido da não
homologação da separação?

14
https://bdjur.tjdft.jus.br/xmlui/bitstream/handle/tjdft/34875/a%20conduta%20desonrosa%20como%20causa%20da
%20separa%C3%A7ao%20judicial.pdf?sequence=1
Sim, o juiz pode homologar separação consensual, nos termos do art. 1574 do CC/02. É possível a
separação judicial por mútuo consentimento dos cônjuges, a ser homologada pelo juiz, desde que aqueles
estejam casados por mais de um ano.
O juiz pode recursar a homologação se apurar que o acordo não preserva suficientemente os interesses
dos filhos ou de um dos cônjuges (art. 1574, parágrafo único, do CC/02).
O MP tem legitimidade para se manifestar contra a homologação nos casos que envolvam interesses de
incapazes (art. 178, II, e art. 698, ambos do CPC/15).

6. O juiz pode, não vislumbrando adultério, não havendo quebra da fidelidade, ele pode, no entanto, se
manifestar pela falência daquele casamento, decretar a separação sem culpa?
Nos termos do art. 1573, parágrafo único, do CC/02, o juiz pode considerar outros fatos que tornem
evidente a impossibilidade da vida em comum.

Direito Processual Civil


Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Teoria Geral dos Recursos

1. O que é um recurso de fundamentação livre e um recurso de fundamentação vinculada? Cite exemplos.


Recurso de fundamentação livre é aquele que permite a impugnação da decisão por qualquer razão,
podendo o recorrente apontar qualquer tipo de problema contra a decisão. É o que acontece, por exemplo, com a
apelação e com o agravo de instrumento.
Já o recurso de fundamentação vinculada é aquele no qual só se pode alegar um determinado tipo de
vício na decisão. Nesse caso, deve o recorrente expor, em suas razões, uma das hipóteses típicas, sob pena de o
recurso não ser sequer conhecido. Ex. embargos de declaração, RE, RESP.

2. O que são o efeito translativo e o efeito expansivo?


Efeito translativo é o efeito devolutivo em profundidade ou em sua dimensão vertical. Ele determina quais
as questões devem ser examinadas pelo órgão ad quem para decidir o objeto litigioso do recurso 15. Segundo
Daniel Assumpção, essa dimensão estabelece a devolução automática ao órgão ad quem, dentro dos limites
fixados pela extensão, de todas as alegações, fundamentos e questões referentes à matéria devolvida. A
profundidade seria consequência natural da extensão, independendo de manifestação do recorrente. Tem
previsão no art. 1013, §1º, CPC/15.
Já o efeito expansivo é aquele que permite a extensão dos efeitos do recurso para além da parte
recorrente. Ou seja, trata-se de uma expansão subjetiva dos efeitos da decisão. Em regra, a interposição do
recurso produz efeitos apenas para o recorrente (princípio da personalidade do recurso). Há casos, porém, em
que o recurso interposto por uma parte produz efeitos em relação a outra. São eles:
a) O recurso interposto por assistente simples é eficaz em relação ao assistido (art. 121, par. Uri.,
CPC).
b) O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os
seus interesses (art. 1.005, CPC). A regra somente se aplica ao litisconsórcio unitário; no caso de
litisconsórcio simples, não há a extensão desse efeito.
c) Convém lembrar, porém, que, por opção legislativa, o recurso interposto por um devedor solidário
estende os seus efeitos aos demais, quando tratar de defesa comum (art. 1.005, par. único., CPC).
Isso ocorrerá mesmo não sendo unitário o litisconsórcio, pois a solidariedade pode implicar

15
Didier, vol. 3, p. 143.
litisconsórcio unitário ou simples, a depender da divisibilidade ou não do bem jurídico envolvido
(arts. 257 a 263, Código Civil).
d) Os embargos de declaração interpostos por uma das partes interrompem o prazo para a
interposição de outro recurso para ambas as partes, e não apenas para aquela que embargou (art.
1.026, caput, CPC).
e) A interposição de embargos de divergência no STJ interrompe, para ambas as partes, o prazo
para a interposição de recurso extraordinário (art. 1.044, §1º CPC)16.

3. Em um processo, o juiz nega a um dos litisconsortes a antecipação da tutela, quanto ao segundo, julga
improcedente em razão da prescrição. Qual o recurso adequado para cada um deles? E o princípio da
unirecorribilidade não seria violado nesse caso?
A princípio, o recurso cabível para cada uma dessas decisões, isoladamente, seria o agravo de
instrumento, com base no art. 1015, I, do CPC/15, e apelação, com fundamento nos art. 332, § 1º e 1009, ambos
do CPC/15. Todavia, considerando que a decisão, na hipótese, é complexa, diz respeito a questões distintas e
não encerra o processo, acredito que nos dois casos caberia agravo de instrumento, com fundamento no art.
1015, I (tutela provisória) e II (mérito do processo).

4. Diferencie erro in judicando e erro in procedendo, e quais seriam suas consequências no recurso?
Os vícios de atividade, igualmente denominados de errores in procedendo, ocorrem quando o juiz
desrespeita norma de procedimento provocando prejuízo ao recorrente. Assim, por exemplo, o juiz designa
perícia, e não determina a intimação das partes para indicar assistentes técnicos e formular quesitos, ou diante da
juntada de um documento fundamental ao julgamento, não ordena a intimação da parte contrária para sobre ele
manifestar-se, ou, ainda, pronuncia-se a respeito de uma questão alcançada pela preclusão, ou, finalmente, não
fundamenta sua decisão. São todos casos de vício de atividade ou error in procedendo; erros que dizem respeito
à condução do procedimento, à forma dos atos processuais, não concernindo ao conteúdo do ato em si.
Por sua vez, os erros de julgamento (errores in judicando) relacionam-se com a substância ou com o
conteúdo da decisão. Neste caso, o juiz cometeu uma injustiça ou julgou equivocadamente, não aplicou a norma
correta ao caso (seja ela processual ou material), interpretou de maneira desconforme com as regras de
hermenêutica ou não valorou corretamente a prova; enfim, quando ocorre error in iudicando significa que o juiz
errou no julgamento17.
Os erros in judicando ensejam a invalidação da decisão e os erros in procedendo, a reforma.

5. O art. 501 do CPC (= 998, CPC/15) prevê que o recorrente pode desistir a qualquer momento do recurso.
Essa interpretação é absoluta ou há hipótese em que o recorrente não pode desistir?
Segundo Didier, sim. Para o referido autor, a desistência do recurso não se pede. A parte simplesmente
desiste do recurso. Desistir de um recurso é revogá-lo. Uma vez formulada a desistência, seus efeitos são
imediatamente produzidos, nos termos do art. 200 do CPC. Somente a desistência da ação é que depende de
homologação judicial (art. 200, parágrafo único, CPC), mas a do recurso opera efeitos imediatos. Se não há
pedido, não há como ser acolhido ou rejeitado. Quando a parte desiste de seu recurso, este deixa de existir, pois
foi revogado.
Cumpre ressaltar, todavia, que a desistência do recurso não impede análise da repercussão geral ou da
tese a ser fixada no julgamento dos recursos repetitivos (art. 998, par. ún., CPC). Do mesmo modo, a desistência

16
Didier, vol. 3, p. 147/148.
17
Didier, vol. 3, p. 136.
do recurso afetado no incidente de resolução de demandas repetitivas não impede o julgamento do incidente (art.
976, §r, CPC).

6. Quais são os legitimados a interpor recurso?


Conforme art. 996 do CPC/15, o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado
e pelo MP, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.

7. Quais são as decisões recorríveis?


As sentenças, os acórdãos e as decisões interlocutórias.

8. Os recursos interpostos por um dos litisconsortes ao outro aproveitam? E se forem opostos os


interesses?
Conforme dispõe o art. 1.005 do CPC/15, o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos
aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses.

9. Na sua opinião, os embargos declaratórios têm efeito suspensivo? Sim ou não, justifique.
De acordo com o art. 1026 do CPC/15, os embargos não possuem efeito suspensivo ope legis. Contudo,
nos termos do § 1º do mencionado dispositivo legal, o efeito suspensivo poderá ser concedido pelo juiz ou pelo
relator se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo relevante a fundamentação, houver
risco de dano grave ou de difícil reparação.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim

1. O que é a reforma psiquiátrica e qual o papel do MP?


A reforma psiquiátrica pretende modificar o sistema de tratamento da doença mental, eliminando de forma
gradual a internação como forma de exclusão social. Tal modelo seria substituído por serviços de atenção psicossocial,
visando à integração da pessoal que sofre de transtornos mentais à comunidade. A rede de serviços inclui centros de
atenção psicossocial (CAPS), centro de convivência e cultural, cooperativas de trabalho, oficinas de geração de renda,
em substituição dos manicômios. A proposta da reforma é desativação gradual dos manicômios para que aqueles que
sofrem de transtornos mentais possam conviver em sociedade.
No Brasil, a lei 10.216/2001, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica ou Lei Paulo Delgado, inspirada em
Franco Basaglia (promoveu uma importante reforma no sistema de saúde italiano), instituiu um novo modelo de
tratamento aos transtornos mentais e definiu que o internamento em hospital psiquiátrico seria situação extrema e
excepcional, só admissível naqueles casos em que os demais serviços da rede ambulatorial, não se mostrassem
efetivos.
O Ministério Público, enquanto órgão fiscalizador dos serviços de relevância pública e defensor dos interesses
da sociedade, deve cobrar dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública o efetivo respeito aos direitos do
cidadão (CF, art. 129, II), e sendo as ações e serviços de saúde, públicas ou privadas, serviços de relevância publica
(CF, art. 197).
Incumbe ao Ministério Público relevante papel, fiscalizando nas internações compulsórias, isto é, medidas de
segurança, a legalidade e dignidade das instalações, promover todas as modalidades de garantia aos direitos dos
internados em geral, participando da formulação de políticas públicas e de instituições voltadas para a reabilitação
psicossocial, fomentando a criação de serviços substitutivos ao manicômio.
Ex: Sugere-se que o Promotor de Justiça requisite que a equipe se desloque até onde o paciente se encontra
e, proceda a avaliação e, correspondente diagnóstico do mesmo. Nos locais onde não houver esse serviço específico
de atenção primária de saúde mental, sugerimos que o mesmo seja requisitado para que a Secretaria Municipal de
Saúde mande deslocar qualquer uma das Equipes da Estratégia Saúde da Família.
Diante da inação do Poder Público, cabe ao Parquet oficiar ao gestor de saúde, para que disponibilize o
serviço de saúde de que necessita aquele enfermo mas, se ainda assim perdurar a situação de desassistência, não
restará outro caminho ao agente ministerial ou, defensor público, senão demandar em busca de uma tutela
jurisdicional, sendo que devemos ter claro que tal pedido, não será de internação compulsória e sim, de mera ação de
obrigação de fazer, a internação segue a ser involuntária. Veja-se que na internação compulsória, a demanda é movida
contra o enfermo, na ação a ser intentada neste caso, a demanda é movida contra o gestor de saúde omisso.

- OBS 1: O Brasil foi processado e condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização
dos Estados Americanos (OEA), pela morte de Damião Ximenes Lopes na Casa de Repouso Guararapes,
em Sobral, Ceará, em 1999. Foi acusado de violar quatro artigos da Convenção Americana: os direitos à vida, à
integridade física, às garantias judiciais e à proteção judicial.
-
OBS 2: O processo de desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação psiquiátrica
avançou significativamente, sobretudo através da instituição pelo Ministério da Saúde de mecanismos seguros para a
redução de leitos no país e a expansão de serviços substitutivos aos hospital psiquiátrico. Programas tais como o
Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (PNASH/Psiquiatria), o Programa Anual de
Reestruturação da Assistência Hospitalar Psiquiátrica no SUS (PRH), assim como a instituição do Programa de Volta
para Casa e a expansão de serviços como os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas, vem
permitindo a redução de milhares de leitos psiquiátricos no país e o fechamento de vários hospitais psiquiátricos. As
variáveis que atuam sobre o processo são diversas, o que leva a haver ritmos diferenciados para a redução do número
de leitos psiquiátricos dentre os diversos estados brasileiros, sendo muitas vezes este processo o desencadeador do
processo de Reforma.
Toda internação involuntária (e posterior alta) deve ser comunicada ao Ministério Público

2. Diferencie a internação involuntária e a internação compulsória.


- Internação involuntária: prevista na lei 10.216/01, art. 6º, II (“internação involuntária: aquela que se dá sem
o consentimento do usuário e a pedido de terceiro”).
“§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser
comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no
qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva
alta.
§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou
responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento”.

- Requisitos:
(i) existência de laudo médico fundamentado;
(ii) existência de concordância do responsável pelo paciente;
(iii) não aceitação pelo paciente, do tratamento ou, impossibilidade de concordar expressamente com o
mesmo;
(iii) disponibilização de vaga pelo Gestor de Saúde, com responsabilidade sanitária sobre os serviços de leitos
hospitalares.

- Internação voluntária: prevista na lei 10.216/01, art. 6º, I (“aquela que se dá com o consentimento do
usuário”).
“Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve
assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de
tratamento.
Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do
paciente ou por determinação do médico assistente.
Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico
devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize
o estabelecimento”.

3. Quais são os direitos da pessoa portadora de transtornos mentais?


Lei nº 10.216/2001 - Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a
pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos
enumerados no parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas
necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde,
visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não
de sua hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

4. O que são os CAPs (centros de atenção psicossocial), e qual a sua importância? Como funcionam?
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são instituições brasileiras que visam à substituição dos
hospitais psiquiátricos - antigos hospícios ou manicômios - e de seus métodos para cuidar de afecções psiquiátricas.
Os CAPS, instituídos juntamente com os Núcleos de Assistência Psicossocial (NAPS), através da
Portaria/SNAS nº 224 - 29 de Janeiro de 1992, atualizada pela Portaria nº 336 - 19 de Fevereiro de 2002, são unidades
de saúde locais/regionalizadas que contam com uma população adscrita definida pelo nível local e que oferecem
atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar.
- Funções dos CAPS

 Prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais


psiquiátricos;
4) Acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e
fortalecer os laços sociais do usuário em seu território;
5) Promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais;
6) Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação;
7) Dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica;
8) Organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios;
9) Articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental numa determinada área de abrangência;
10) Promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários

Modalidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

 CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes,
inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil habitantes.
15) CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo
uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
16) CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo
uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
17) CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias, especializado em transtornos pelo uso de álcool
e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
18) CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação; todas faixas etárias;
transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou
regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
19) CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e observação;
funcionamento 24h; todas faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou
regiões com pelo menos 150 mil habitantes.

OBS relacionadas (Fonte - Ministério da Saúde):

Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT)


São moradias ou casas destinadas a cuidar de pacientes com transtornos mentais, egressos de internações
psiquiátricas de longa permanência e que não possuam suporte social e laços familiares. Além disso, os Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRTs) também podem acolher pacientes com transtornos mentais que estejam em situação
de vulnerabilidade pessoal e social, como, por exemplo, moradores de rua.

Unidades de Acolhimento (UA)


Oferece cuidados contínuos de saúde, com funcionamento 24h/dia, em ambiente residencial, para pessoas
com necessidade decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, de ambos os sexos, que apresentem acentuada
vulnerabilidade social e/ou familiar e demandem acompanhamento terapêutico e protetivo de caráter transitório. O
tempo de permanência nessas unidades é de até seis meses.

Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental


Os Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental são serviços compostos por médico psiquiatra, psicólogo,
assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, enfermeiro e outros profissionais que atuam no tratamento de
pacientes que apresentam transtornos mentais. Esses serviços devem prestar atendimento integrado e
multiprofissional, por meio de consultas.
Funcionam em ambulatórios gerais e especializados, policlínicas e/ou em ambulatórios de hospitais,
ampliando o acesso à assistência em saúde mental para pessoas de todas as faixas etárias com transtornos mentais
mais prevalentes, mas de gravidade moderada, como transtornos de humor, dependência química e transtornos de
ansiedade, atendendo às necessidades de complexidade intermediária entre a atenção básica e os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS).

Comunidades Terapêuticas
São serviços destinados a oferecer cuidados contínuos de saúde, de caráter residencial transitório para
pacientes, com necessidades clínicas estáveis, decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.

Enfermarias Especializadas em Hospital Geral


São serviços destinados ao tratamento adequado e manejo de pacientes com quadros clínicos agudizados,
em ambiente protegido e com suporte e atendimento 24 horas por dia. Apresentam indicação para tratamento nesses
Serviços pacientes com as seguintes características: incapacidade grave de autocuidados; risco de vida ou de
prejuízos graves à saúde; risco de autoagressão ou de heteroagressão; risco de prejuízo moral ou patrimonial; risco de
agresão à ordem pública. Assim, as internações hospitalares devem ocorrer em casos de pacientes com quadros
clínicos agudos, em internações breves, humanizadas e com vistas ao seu retorno para serviços de base aberta.

Hospital-Dia
É a assistência intermediária entre a internação e o atendimento ambulatorial, para realização de
procedimentos clínicos, cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, que requeiram a permanência do paciente na Unidade
por um período máximo de 12 horas.

O que é Reabilitação Psicossocial?


A reabilitação psicossocial é compreendida como um conjunto de ações que buscam o fortalecimento, a
inclusão e o exercício de direitos de cidadania de pacientes e familiares, mediante a criação e o desenvolvimento de
iniciativas articuladas com os recursos do território nos campos do trabalho, habitação, educação, cultura, segurança e
direitos humanos.

Programa de Volta para Casa


O Programa de Volta para Casa é um dos instrumentos mais efetivos para a reintegração social das pessoas
com longo histórico de hospitalização. Trata-se de uma das estratégias mais potencializadoras da emancipação de
pessoas com transtornos mentais e dos processos de desinstitucionalização e redução de leitos nos estados e
municípios. Criado por lei federal, o Programa é a concretização de uma reivindicação histórica do movimento da
Reforma Psiquiátrica Brasileira.
O objetivo é contribuir efetivamente para o processo de inserção social das pessoas com longa história de
internações em hospitais psiquiátricos, por meio do pagamento mensal
de um auxílio-reabilitação aos beneficiários. Para receber o auxílio-reabilitação do Programa De Volta para Casa, a
pessoa deve ser egressa de Hospital Psiquiátrico ou de Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, e ter indicação
para inclusão em programa municipal de reintegração social.
O Programa possibilita a ampliação da rede de relações dos usuários, assegura o bem estar global da pessoa
e estimula o exercício pleno dos direitos civis, políticos e de cidadania, uma vez que prevê o pagamento do auxílio-
reabilitação diretamente ao beneficiário, por meio de convênio entre o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica
Federal.

5. O senhor é promotor e tem um caso de uma pessoa portadora de transtorno e cometeu, em tese, uma
tentativa de homicídio, e recebeu uma medida de segurança. O laudo do PAI PJ diz que o quadro daquela
pessoa não demanda a internação e que é possível um tratamento ambulatorial no CAPs. O que você faria?
O processo de desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação psiquiátrica avançou
significativamente, sobretudo através da instituição pelo Ministério da Saúde de mecanismos seguros para a redução
de leitos no país e a expansão de serviços substitutivos aos hospital psiquiátrico. Programas tais como o Programa
Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (PNASH/Psiquiatria), o Programa Anual de Reestruturação da
Assistência Hospitalar Psiquiátrica no SUS (PRH), assim como a instituição do Programa de Volta para Casa e a
expansão de serviços como os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas, vem permitindo a
redução de milhares de leitos psiquiátricos no país e o fechamento de vários hospitais psiquiátricos. As variáveis que
atuam sobre o processo são diversas, o que leva a haver ritmos diferenciados para a redução do número de leitos
psiquiátricos dentre os diversos estados brasileiros, sendo muitas vezes este processo o desencadeador do processo
de Reforma. Em síntese, diante do laudo favorável e do processo de desinstitucionalização, atento ainda aos fins da
medida de segurança, seria possível pleitear a substituição da medida de segurança de internação pela de tratamento
ambulatorial (art. 96, II, do CP).

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Inquérito Civil

1. O que é o inquérito civil? E se se concluir que não houve irregularidade ou for finalizado um TAC e o
investigado cumprir as medidas necessárias, o que pode ser feito?
Trata-se de instrumento de investigação administrativa prévia, instaurado, presidido e arquivado pelo MP,
destinado a apurar a autoria e a materialidade de fatos que possam ensejar uma atuação a cargo da instituição.
Destina-se a colher elementos de convicção para atuação ministerial. É dispensável, podendo a ACP ser promovida
com base em outros elementos de convicção (processo administrativo, cópia dos autos dos tribunais de contas ou
outras peças de informações).
Processo ou procedimento? É procedimento, pois nele não se julgam interesses nem se impõem punições.
Destinam-se apenas a instruir o membro do MP a tomar decisão sobre e promove ou não uma das medidas a seu
cargo.
Não sendo processo, nem nele havendo acusações ou decisões que vinculem terceiros, não está sujeito ao
princípio da ampla defesa e do contraditório.

- Resolução nº 23/2007 CNMP:


Art. 2º O inquérito civil poderá ser instaurado:
I – de ofício;
II – em face de requerimento ou representação formulada por qualquer pessoa ou
comunicação de outro órgão do Ministério Público, ou qualquer autoridade, desde que
forneça, por qualquer meio legalmente permitido, informações sobre o fato e seu provável
autor, bem como a qualificação mínima que permita sua identificação e localização;
III – por designação do Procurador-Geral de Justiça, do Conselho Superior do Ministério
Público, Câmaras de Coordenação e Revisão e demais órgãos superiores da Instituição, nos
casos cabíveis.
Art. 10. Esgotadas todas as possibilidades de diligências, o membro do Ministério
Público, caso se convença da inexistência de fundamento para a propositura de ação
civil pública, promoverá, fundamentadamente, o arquivamento do inquérito civil ou do
procedimento preparatório.
§1º Os autos do inquérito civil ou do procedimento preparatório, juntamente com a
promoção de arquivamento, deverão ser remetidos ao órgão de revisão competente,
no prazo de três dias, contado da comprovação da efetiva cientificação pessoal dos
interessados, através de publicação na imprensa oficial ou da lavratura de termo de
afixação de aviso no órgão do Ministério Público, quando não localizados os que
devem ser cientificados.
§2º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do órgão de
revisão competente, na forma do seu Regimento Interno
Art. 12. O desarquivamento do inquérito civil, diante de novas provas ou para investigar fato
novo relevante, poderá ocorrer no prazo máximo de seis meses após o arquivamento.
Transcorrido esse lapso, será instaurado novo inquérito civil, sem prejuízo das provas já
colhidas.

2. Arquivado o inquérito civil originado das representações, quais providências devem ser tomadas? Além da
LACP, onde mais está previsto o Inquérito Civil?
Os autos do inquérito civil ou do procedimento preparatório, juntamente com a promoção de arquivamento,
deverão ser remetidos ao órgão de revisão competente, no prazo de três dias, contado da comprovação da efetiva
cientificação pessoal dos interessados, através de publicação na imprensa oficial ou da lavratura de termo de afixação
de aviso no órgão do Ministério Público, quando não localizados os que devem ser cientificados.
A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do órgão de revisão competente, na
forma do seu Regimento Interno.
Até a sessão do Conselho Superior do Ministério Público ou da Câmara de Coordenação e Revisão
respectiva, para que seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as pessoas co-legitimadas
apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou do procedimento
preparatório.
Deixando o órgão de revisão competente de homologar a promoção de arquivamento, tomará uma das
seguintes providências:
I – converterá o julgamento em diligência para a realização de atos imprescindíveis à
sua decisão, especificando-os e remetendo os autos ao membro do Ministério Público que
determinou seu arquivamento, e, no caso de recusa fundamentada, ao órgão competente
para designar o membro que irá atuar; (Redação dada pela Resolução nº 143, de 14 de junho
de 2016)
II – deliberará pelo prosseguimento do inquérito civil ou do procedimento
preparatório, indicando os fundamentos de fato e de direito de sua decisão, adotando as
providências relativas à designação, em qualquer hipótese, de outro membro do Ministério
Público para atuação.
Também está previsto na Constituição Federal, na LC 75/93, na Lei nº 8.625/93, no Estatuto do Idoso, no
ECA.

3. São aplicáveis ao inquérito civil os princípios do contraditório e da ampla defesa?


Não sendo processo, nem nele havendo acusações ou decisões que vinculem terceiros, não está sujeito ao
princípio da ampla defesa e do contraditório.
O Supremo Tribunal Federal assentou que as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório não
são aplicáveis na fase do inquérito civil, de natureza administrativa, caráter pré-processual e que somente se destina à
colheita de informações para propositura da ação civil pública.
OBS: Resolução 23/2007:
O defensor constituído nos autos poderá assistir o investigado durante
a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do seu depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele
decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso
da respectiva apuração, apresentar razões e quesitos. (Acrescido pela
Resolução nº 161, de 21 de fevereiro de 2017)

4. Qual o objetivo do inquérito civil? Ele é obrigatório? Há necessidade de publicidade dele? O candidato falou
da possibilidade de decretação de sigilo e foi questionado: Em que casos poderia ser decretado o sigilo?

OBJETIVO:
Destinado a apurar a autoria e a materialidade de fatos que possam ensejar uma atuação a cargo da
instituição. Destina-se a colher elementos de convicção para atuação ministerial. É dispensável, podendo a ACP ser
promovida com base em outros elementos de convicção (processo administrativo, cópia dos autos dos tribunais de
contas ou outras peças de informações).
- Objeto principal: coleta de elementos de convicção para embasar uma ação civil pública a cargo do MP.
- Objetos paralelos: coleta de elementos para tomada de compromisso de ajustamento, coleta de elementos
para realização de audiências públicas ou expedição de recomendações.

PUBLICIDADE:
Por força do princípio da Administração (art. 37 da CF), em regra, o inquérito civil está sujeito à publicidade.
A doutrina, seguida pelos Regimentos de Conselhos Superiores do Ministério Público, recomendam a
publicidade do inquérito civil, inclusive em sua fase de arquivamento, tendo como suficiente a realizada através dos
Diários Oficiais e publicações dos Centros de Apoio Operacionais. Assim dispõe a Resolução 23/2007:
Art. 4º O inquérito civil será instaurado por portaria, numerada em ordem crescente, renovada
anualmente, devidamente registrada em livro próprio e autuada, contendo:
I – o fundamento legal que autoriza a ação do Ministério Público e a descrição do fato objeto
do inquérito civil;
II – o nome e a qualificação possível da pessoa jurídica e/ou física a quem o fato é atribuído;
III – o nome e a qualificação possível do autor da representação, se for o caso;
IV – a data e o local da instauração e a determinação de diligências iniciais;
V – a designação do secretário, mediante termo de compromisso, quando couber;
VI - a determinação de afixação da portaria no local de costume, bem como a de remessa de
cópia para publicação.
Parágrafo único. Se, no curso do inquérito civil, novos fatos indicarem necessidade de
investigação de objeto diverso do que estiver sendo investigado, o membro do Ministério
Público poderá aditar a portaria inicial ou determinar a extração de peças para instauração de
outro inquérito civil, respeitadas as normas incidentes quanto à divisão de atribuições.

Porém, a regra geral pode ser excepcionada em duas situações:


- em caso de sigilo legal (hipóteses em que a própria lei impõe o sigilo, como em matéria de família, segurança
nacional, etc.
- em caso de conveniência da instrução (analogamente ao art. 20 do CPP).
O sigilo pode ser considerado sob dois aspectos: objetivo (em razão da matéria) e subjetivo (em razão da
proteção de uma pessoa).

5. Qual o valor probatório do inquérito civil?


O valor do inquérito civil é o mesmo que se atribui à prova indiciária. Serve para embasar pedidos de
cautelares ou deferimento de liminares. Possui peso subsidiário em juízo (desde que os elementos de convicção
colhidos no inquérito sejam harmônicos com a prova judicial). Nesse sentido decidiu o STJ.

6. Pode o inquérito civil servir como base para o processo criminal? E nos casos dos réus que tem
prerrogativa de foro? Mas e se foi produzido pelo promotor de justiça, a partir da investigação remete ao
procurador geral de justiça ou o procurador geral de justiça remete ao procurador geral da república, caso a
pessoa tenha prerrogativa de foro, pode utilizar isso?

A finalidade mais comum do inquérito civil consiste em colher subsídios para atuação da instituição na área
civil. Não raro, os ilícitos civis investigados também são ilícitos penais. Nesse caso, os elementos de convicção
colhidos pelo MP poderão ser usados para embasar eventual denúncia penal, pois o inquérito policial não é
pressuposto para o oferecimento da ação penal. Quanto à prerrogativa de foro, se os elementos foram colhidos
acidentalmente sem que se estivesse investigando diretamente a autoridade (serendipidade), o STJ entende válidos os
elementos. A partir da constatação de que há envolvimento de autoridade com prerrogativa de foro, impõe-se a
remessa ao órgão ministerial com atribuição.
Dia 13 – Ponto 06 – Edon Rodarte

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinadora: Dra. Elaine Parisi
Direitos e garantias fundamentais e ajustamento eleitoral

1. O que são direitos fundamentais?


Wolfgang e Mitidiero:
O termo “direitos fundamentais” se aplica àqueles direitos (em geral atribuídos à pessoa
humana) reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado
Estado, ao passo que a expressão “direitos humanos” guarda relação com os documentos de
direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano
como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que,
portanto, aspiram à validade universal, para todos os povos e em todos os lugares, de tal sorte
que revelam um caráter supranacional (internacional) e universal.
O termo “direitos humanos” acabou tendo contornos mais amplos e imprecisos que a
noção de direitos fundamentais, de tal sorte que estes possuem sentido mais preciso e restrito,
na medida em que constituem o conjunto de direitos e liberdades institucionalmente
reconhecidos e garantidos pelo direito positivo de determinado Estado, tratando-se, portanto, de
direitos delimitados espacial e temporalmente, cuja denominação se deve ao seu caráter básico
e fundamentador do sistema jurídico do Estado de Direito.

Novelino:
A expressão direitos fundamentais surgiu na França durante o movimento político e
cultural que originou a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.
Apesar da inexistência de um consenso acerca da diferença em relação aos direitos humanos, a
distinção mais usual na doutrina brasileira é no sentido de que ambos, com o objetivo de
proteger e promover a dignidade da pessoa humana, abrangem direitos relacionados à liberdade
e à igualdade, mas positivados em planos distintos. Enquanto os direitos humanos se encontram
consagrados nos tratados e convenções internacionais (plano internacional), os direitos
fundamentais são os direitos humanos consagrados e positivados na Constituição de cada país
(plano interno), podendo o seu conteúdo e conformação variar de acordo com cada Estado.

2. Os direitos humanos previstos no Pacto de San José são cláusulas pétreas? O senhor sabe se o
entendimento do Supremo é esse?
A Convenção Interamericana de Diretos Humanos não foi internalizada pelo procedimento referente às
emendas constitucionais. Assim, não possui a posição de norma equiparada às emendas. Conforme atual
entendimento do STF, por se tratar de convenção com conteúdo de direitos humanos, o status é de norma
supralegal, porém infraconstitucional.

3. É possível EC visando a extinção de licença maternidade?


A licença à gestante é positivada na CF como direito fundamental social em seu art. 7º, XVIII. É direito
fundamental de segunda dimensão e compõe o patrimônio jurídico da cidadã. Assim, em compasso com o
posicionamento doutrinário predominante, as cláusulas pétreas tutelam todos os direitos fundamentais,
independentemente de sua topologia constitucional – isto é, não se restringe a “petrificação” ao rol do art. 5º,
sobretudo em razão do que consta no § 2º desse dispositivo (os direitos e garantias expressos nesta Constituição
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte). EC, portanto, não pode extinguir a licença maternidade.

4. Discorra sobre o direito à reunião e se existe algum limite a esse direito. Se existir, diga quais são
esses limites. As reuniões devem ser previamente comunicadas?

Gilmar Mendes:
O direito de associação e o direito de reunião ligam-se intimamente à liberdade
de expressão e ao sistema democrático de governo. A livre opinião pública é
fundamental para o controle do exercício do poder e é tributária da garantia da liberdade
de expressão e também do direito de reunião, pelo qual se assegura às pessoas a
possibilidade de ingressarem na vida pública e interferirem ativamente nas deliberações
políticas, pressionando por uma variante de ação estatal. A liberdade de reunião pode
ser vista como “instrumento da livre manifestação de pensamento, aí incluído o direito
de protestar”. Trata-se de “um direito à liberdade de expressão exercido de forma
coletiva”. Junto com a liberdade de expressão e o direito de voto, forma o conjunto das
bases estruturantes da democracia.

Os direitos fundamentais podem sofrer limitações internas ou externas. São exemplos de limitações ao
direito de reunião a necessidade de ser pacífica e sem armas; a temporariedade, já que, se constante, tornar-se-á
uma associação; exigência de que o encontro não frustre outro, anteriormente convocado para o mesmo local;
imposição de prévio aviso à autoridade competente; e a suspensão do direito de reunião durante o estado de sítio
(possibilidade – não necessariamente ocorrerá a suspensão).

5. Existe distinção entre princípio da intimidade e da privacidade?

Gilmar Mendes:
Embora a jurisprudência e vários autores não distingam, ordinariamente, entre ambas as
postulações — de privacidade e de intimidade —, há os que dizem que o direito à
intimidade faria parte do direito à privacidade, que seria mais amplo. O direito à
privacidade teria por objeto os comportamentos e acontecimentos atinentes aos
relacionamentos pessoais em geral, às relações comerciais e profissionais que o
indivíduo não deseja que se espalhem ao conhecimento público. O objeto do direito à
intimidade seriam as conversações e os episódios ainda mais íntimos, envolvendo
relações familiares e amizades mais próximas.

6. A guisa de se implementar uma campanha de conscientização para diminuir a violência em estádios de


futebol, está em vigor uma lei municipal que determina que serão expostas, nos placares eletrônicos,
fotos de torcedores mortos em conflitos em estádios. No seu entendimento, essa lei é constitucional?
Sob o aspecto subjetivo, é possível sustentar a inconstitucionalidade da norma, já que torcedores podem
ser considerados consumidores de serviços e a matéria possui relevância regional e nacional, e não apenas local
ou relativa a peculiaridades dos municípios, de modo que é reservada aos Estados/DF e à União (art. 24, V, da
CF). Já quanto ao viés material, deve ser feito prudente juízo de proporcionalidade, a fim de se verificar se a
campanha é excessivamente rigorosa e se fere, desarrazoadamente, a dignidade tanto das pessoas que são
retratadas nos placares quanto dos próprios torcedores que tem acesso às imagens durante seu momento de
lazer.
Ademais, é de se verificar se foram implementadas outras alternativas menos incisivas para a
conscientização dos torcedores e se a campanha efetivamente seria hígida à diminuição da violência nos
estádios (confiabilidade das premissas empíricas – Daniel Sarmento). Me posicionaria pela constitucionalidade no
aspecto material, desde que superados esses juízos, à semelhança do que ocorre nas embalagens de cigarro e
em algumas rodovias.

Direito Eleitoral

7. O que é alistamento eleitoral? Se o alistamento for indeferido cabe algum recurso? Quem tem
legitimidade pra esse recurso? Apenas do interessado?
O alistamento eleitoral, considerado a primeira etapa do processo eleitoral, é o ato pelo qual o indivíduo
se habilita, perante a Justiça Eleitoral, como eleitor e sujeito de direitos políticos, conquistando a capacidade
eleitoral ativa. O alistamento eleitoral, segundo o artigo 42 do Código Eleitoral, se faz mediante a qualificação e a
inscrição do eleitor. A qualificação é o ato através do qual o indivíduo faz prova que satisfaz as exigências legais
para se tornar eleitor.
Dando-se que decisão venha a indeferir o pedido de alistamento, caberá ao alistando interpor recurso no
prazo de 5 dias, conforme assegura o § 1º do art. 17, da Resolução TSE nº 21.538/2003.

Fontes: sinopse JusPodivm e site jus.com.

8. O alistamento eleitoral pode ser obrigatório ou facultativo. Qual a situação do brasileiro naturalizado?
O Artigo 14, § 2º da Constituição Federal veda o alistamento eleitoral de estrangeiros e, durante o
período de serviço militar obrigatório, dos conscritos.
De fato, a Constituição não permite o voto do estrangeiro, porém não podemos perder de vista que é
possível ao estrangeiro tornar-se brasileiro, e então votar. Como isso funciona? Desde que requeira, o estrangeiro
residente na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal pode
naturalizar-se brasileiro. Caso o estrangeiro seja originário de país de língua portuguesa, para sua naturalização,
será exigida apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral.
Firmado o entendimento de que o estrangeiro não pode votar, devemos observar que existe uma
exceção a essa regra. O Artigo 12, § 1º da Carta da República, estabelece que aos portugueses com residência
permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos na própria Constituição.
Desta forma o cidadão Português, com residência habitual no Brasil, que deseja adquirir igualdade de
direitos e deveres como o brasileiro, pode requerer ao Ministério da Justiça, o qual a reconhecerá por decisão do
Ministro da Justiça, mediante Portaria.
Ressalte-se que, neste caso, não se trata de processo de naturalização, porque adquirida a
igualdade/gozo de direitos, o cidadão português mantém a nacionalidade portuguesa.
Para o alistamento eleitoral, o português que adquiriu a igualdade de direitos políticos deverá comparecer
ao Cartório Eleitoral mais próximo portando a Portaria do Ministério da Justiça e documento de identidade,
expedido no Brasil, onde há a menção da nacionalidade portuguesa do portador e referência ao Estatuto da
Igualdade.
PS.: O alistamento eleitoral é facultativo aos: a) analfabetos; b) maiores de 70 (setenta) anos; c)
maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos.

Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling

1. O instrumento/instituto da repercussão geral pode ser considerado fonte do direito administrativo? O


direito administrativo se vale dele como uma fonte primária da legalidade ou da jurisprudência?
O ordenamento jurídico brasileiro, notadamente após o CPC/2015, adotou fortes marcas do sistema da
common law, com reforço da importância dos precedentes judiciais para a construção de um direito dotado de
completude. Assim, é possível compreender a resolução de demandas levadas ao STF por meio de recurso
extraordinário, com repercussão geral reconhecida, como fonte do direito administrativo.
Divisa-se, por exemplo, a fundamentação de atos administrativos com base no que fora estabelecido em
sede de repercussão geral no caso do art. 985, § 2°, do CPC:

“se o incidente (de resolução de demandas repetitivas) tiver por objeto questão
relativa a prestação de serviço concedido, permitido ou autorizado, o resultado do
julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente
para fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese
adotada”.

Pelo exposto, verifica-se que a repercussão geral é fonte jurisprudencial, aplicável às condutas
administrativas, como mecanismo de uniformidade na aplicação do direito.

2. Por que os costumes foram erigidos como fonte do direito administrativo? Existe uma questão
principal.
Resposta já contida no material original: porque não há codificação.
Complemento: Sendo o Direito Administrativo, em suas origens, de elaboração pretoriana e não
codificado, os princípios sempre representaram papel relevante nesse ramo do direito, permitindo à Administração
e ao Judiciário estabelecer o necessário equilíbrio entre os direitos dos administrados e as prerrogativas da
Administração. Os dois princípios fundamentais e que decorrem da assinalada bipolaridade do Direito
Administrativo -liberdade do indivíduo e autoridade da Administração - são os princípios da legalidade e da
supremacia do interesse público sobre o particular, que não são específicos do Direito Administrativo porque
informam todos os ramos do direito público; no entanto, são essenciais, porque, a partir deles, constroem-se
todos os demais.
Fonte: Maria Sylvia.

3. Os princípios gerais do direito podem ser comparados aos costumes como fontes do direito
administrativo? Eles são comparados em determinado momento, por quê? Um se apoia no outro em
função de um elemento.
Resposta já contida no material original: Os princípios gerais do direito alicerçam os costumes para a
aplicação do direito administrativo.

4. É correto reconhecer que as fontes do direito administrativo provêm de condições autoritárias?


Fundamente.
São muitas as classificações das fontes do direito adotadas pela doutrina nacional e estrangeira.
Levaremos em conta, nesta obra, a classificação das fontes do Direito Administrativo adotada pelo jurista
argentino, Agustín Gordillo (1998:capítulo VI). Ele classifica as fontes em supranacionais e nacionais. As primeiras
compreendem os tratados e as convenções (como a Convenção Americana dos Direitos Humanos e a
Convenção Interarnericana contra a Corrupção) e os princípios jurídicos supranacionais (como o da defesa em
juízo, o da razoabilidade, o do devido processo legal nos sentidos objetivo e subjetivo, como controle das demais
fontes). As fontes nacionais são a Constituição, a lei, os regulamentos, a jurisprudência, o costume e a doutrina,
as três últimas como fontes formais.
Fonte: Maria Sylvia.
Assim, verifica-se que não há, dentre as fontes do Direito Administrativo, consensualidade, dialeticidade;
permite-se, portanto, sob certo aspecto, a conclusão no sentido de que a Administração Pública não legitima suas
condutas com base em uma abertura dialógica, isto é, possui resquícios de autoritarismo, próprios do Estado
Absolutista, nos fundamentos de sua atuação.
(A pergunta é peculiar, filosófica. A conclusão é minha e não foi fundamentada, especificamente, em
nenhuma doutrina).

GRUPO TEMÁTICO II

Direito Processual Penal


Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Procedimento do Tribunal do Júri

1. Uma crítica do sistema Brasileiro, em que o jurado não precisa fundamentar a sua decisão. Disserte
sobre a compatibilidade constitucional do tribunal do júri com o sistema acusatório adotado no Brasil, no
qual a fundamentação seria uma premissa.
É mandamento constitucional a fundamentação das decisões judiciais. Por outro lado, a mesma Carta
Magna impõe o sigilo das votações e viabiliza o sistema de julgamento de acordo com a íntima convicção dos
jurados. Assim é que a legislação infraconstitucional permite que os jurados votem em compasso com suas
próprias consciências, sem a necessidade de externar as razões por que decidiram em tal ou qual posição. É
bem verdade, porém, que há vozes doutrinárias no sentido da violação à ampla defesa e ao devido processo
legal nesse sistema de decisão não fundamentada, já que impossibilitaria o conhecimento, tanto por parte da
acusação quanto por parte do réu, das razões que animaram os jurados. É fato, porém, que se defende esse
modelo à luz da necessidade de preservação do sigilo dos veredictos. Constitui, portanto, exceção à imposição
constitucional de sigilo das decisões judiciais.

2. Dentro dessa concepção o legislador do CPP estabelece certos princípios de proteção da soberania
dos veredictos. Gostaria que o senhor me dissesse como o legislador infraconstitucional impede uma
maior interferência judicial que venha a interferir na soberania dos veredictos. O candidato falou que o
julgador não poderia se imiscuir e foi questionado: e na apelação em que se alega que o resultado foi
manifestamente contrário à prova dos autos, não haveria uma incongruência?
A legislação adjetiva penal estabelece mecanismos de preservação da ampla (ou plena) defesa, com os
recursos a ela inerentes, e da soberania dos veredictos, com a ponderação legal desses valores. Prioriza-se a
harmonização, portanto. É o exemplo da apelação em face da decisão dos jurados que conflita com a prova dos
autos: embora se possa impugnar esse veredicto, ao órgão “ad quem” é vedado imiscuir-se no mérito da lide
penal; tão somente poderá anular o veredicto e determinar novo julgamento, para que a causa seja devolvida ao
juízo constitucional natural – o Tribunal do Júri. E, mesmo nesse caso, não se aceitará nova apelação pelo
mesmo motivo.

3. O que o senhor poderia nos falar sobre as hipóteses de desaforamento?


Instituto previsto nos artigos 427 e 428 do Código de Processo Penal e com aplicação estrita no
procedimento do Tribunal do Júri, o desaforamento é uma decisão jurisdicional (e não administrativa) que consiste
no deslocamento da competência do julgamento final em plenário do júri de uma comarca para outra, alterando-
se assim a competência inicialmente fixada pelos critérios constantes do artigo 69 do Código de Processo Penal.
Tem por escopo principal manter distante qualquer fato que possa prejudicar a imparcialidade dos jurados
Como medida excepcional que é, e sendo a possibilidade de afastar o julgamento do seu foro natural e
remetê-lo para outra comarca, os motivos que ensejam o desaforamento são: interesse da ordem pública, dúvida
sobre a imparcialidade do júri ou sobre a segurança pessoal do réu e, por fim, quando o julgamento não tiver sido
realizado no prazo de 06 meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia, desde que a demora
não seja imputada à própria defesa.

4. Como é que se dá a separação de julgamentos no tribunal do júri, se forem dois ou mais acusados?
(com advogados distintos)
Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas poderão ser feitas por um
só defensor.
§ 1o A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recusas, não for
obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.
§ 2o Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em primeiro lugar o
acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou, em caso de coautoria, aplicar-se-á o
critério de preferência disposto no art. 429 deste Código.

Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos,
terão preferência:
I – os acusados presos;
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.
§ 1o Antes do dia designado para o primeiro julgamento da reunião periódica, será
afixada na porta do edifício do Tribunal do Júri a lista dos processos a serem julgados,
obedecida a ordem prevista no caput deste artigo.
§ 2o O juiz presidente reservará datas na mesma reunião periódica para a inclusão de
processo que tiver o julgamento adiado.

Direito Penal
Examinador: Dr. Calisto
Crime impossível, lei 9613/98, lei 9807/99 e decreto lei 201/67.

1. Existe alguma impropriedade quanto à terminologia “crime impossível”? Então você está dizendo que
no crime impossível nunca há início da execução de um crime?
Pesquisei em várias doutrinas (Rogerio Greco, Rogerio Sanches, Cezar Roberto Bitencourt e Capez) e
na internet e não achei o ponto central da pergunta do examinador. Vou responder sem uma referência direta a
ensinamento doutrinário, ok?
A terminologia “crime impossível” pode levar a equívocos, já que o início da execução de um crime que,
por inidoneidade absoluta do meio ou do objeto, teria a consumação impossibilitada, pode implicar a
perfectibilização de outro crime com resultado naturalístico possível. Exemplifique-se com o arremesso de uma
pedra de reduzidíssimo potencial lesivo em um fisiculturista, em região não vital, com a intenção do matá-lo: aqui,
embora a inidoneidade para a morte seja patente, poderá gerar lesão corporal punível.

2. O senhor consegue imaginar uma situação de crime impossível num crime culposo?
É possível na culpa imprópria, que tem estrutura de tipo doloso, mas punido a título culposo. Exemplifica-
se com as descriminantes putativas por erro de tipo, na qual o agente valora equivocadamente os pressupostos
fáticos, mas atua com meio absolutamente inidôneo.

3. Contravenção penal pode anteceder o crime de lavagem de dinheiro?


Sim, já que a nossa legislação é de 3ª geração e admite qualquer infração penal como antecedente ao
branqueamento.

4. Classifique o crime de lavagem de dinheiro quanto à exigência do resultado naturalístico. Entende que
ele é material? E os efeitos da anistia e da abolitio criminis no crime de lavagem de dinheiro?
O crime é formal. Exige-se apenas a prática da conduta (ocultar, dissimular); o resultado afigura-se como
mero exaurimento (reintrodução no mercado lícito de capitais ilícitos).
A abolitio e a anistia excluem infração penal anterior e, consequentemente, a lavagem. Referem-se a
fatos, e não a pessoas.

5. Qual o bem jurídico tutelado no crime de lavagem de dinheiro?


Ao menos três bens jurídicos são apontados pela doutrina como sendo objeto de proteção pela Lei n.º
9.613 de 1998, quais sejam: 1) o bem jurídico lesado no crime antecedente; 2) a ordem econômica; e 3) a
administração da Justiça. Prevalece que é a administração da justiça.

6. A delação premiada do art. 13, da lei 9807/99, pode ser aplicada a todos os tipos de crimes? O senhor
poderia mencionar a jurisprudência?
Após a edição da Lei 9.807/99, que regula o sistema de Proteção a vítimas e testemunhas, a
colaboração premiada era aplicável somente aos tipos penais descritos nas leis especiais que previam tal
instituto. Porém, com o advento da referida norma, esse benefício foi estendido a todos os tipos penais, pois
neste diploma não foi ressalvada a aplicação do instituto a nenhum crime específico.
O STJ aplica o instituto da colaboração prevista na mencionada lei às mais variadas infrações penais.
Exige-se, apenas, o preenchimento dos requisitos legais. Nesse sentido:
O reconhecimento da delação premiada exige o preenchimento cumulativo dos
requisitos legais (arts. 13 e 14 da Lei 9.807/99). In casu, as instâncias ordinárias
consignaram que o depoimento do agravante não contribuiu de forma eficaz para o
deslinde do caso. Agravo regimental desprovido (STJ - HABEAS CORPUS : HC 449890
SP 2018/0112628-6).

7. Um particular que, em concurso de pessoas com o prefeito, desvia, em proveito próprio, dinheiro do
município, comete algum delito?
Praticará o tipo previsto no DL 207/67, como incurso no art. 1º, inciso I, em coautoria, já que se trata de
crime próprio, e não de mão própria, de modo a se comunicar a elementar pertinente à condição funcional do
prefeito.

GRUPO TEMÁTICO III

Direito Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Prescrição e Decadência

1. Promova uma distinção entre os dois institutos. A perda da pretensão e a perda do direito se dão em
função de que? O que acontece para que ocorra essa perda?

Tartuce:
O Código Civil em vigor traz um tratamento diferenciado quanto a tais conceitos: a
prescrição consta dos seus arts. 189 a 206, a decadência, dos arts. 207 a 211. Aliás, os prazos
de prescrição estão concentrados em dois artigos do Código Civil: arts. 205 e 206.
Os demais prazos, encontrados em outros dispositivos da atual codificação, são, pelo
menos em regra, todos decadenciais. Além disso, nota-se que os prazos de prescrição são todos
em anos. Por outra via, os prazos de decadência podem ser em dias, meses, ano e dia ou
também em anos.
Em suma, se surgiu um prazo que não seja em anos, com certeza, será decadencial.
Mas não é só. Como a matéria era demais confusa na vigência do Código Civil de 1916, visando
esclarecer o assunto, Agnelo Amorim Filho concebeu um artigo histórico, em que associou os
prazos prescricionais e decadenciais a ações correspondentes, buscando também quais seriam
as ações imprescritíveis.
Há doutrina clássica que associou a prescrição às ações condenatórias, ou seja,
àquelas ações relacionadas com direitos subjetivos, próprio das pretensões pessoais.
Desse modo, a prescrição mantém relação com deveres, obrigações e com a
responsabilidade decorrente da inobservância das regras ditadas pelas partes ou pela ordem
jurídica. Por outro lado, a decadência está associada a direitos potestativos e às ações
constitutivas, sejam elas positivas ou negativas. As ações anulatórias de atos e negócios
jurídicos, logicamente, têm essa última natureza.
A decadência, portanto, tem relação com um estado de sujeição, próprio dos direitos
potestativos. Didaticamente, é certo que o direito potestativo, por se contrapor a um estado de
sujeição, é aquele que encurrala a outra parte, que não tem saída.
Por fim, as ações meramente declaratórias, como aquelas que buscam a nulidade
absoluta de um negócio, são imprescritíveis, ou melhor tecnicamente, não estão sujeitas à
prescrição ou a decadência. A imprescritibilidade dessa ação específica está também justificada
porque a nulidade absoluta envolve ordem pública, não convalescendo pelo decurso do tempo.

A prescrição não corre contra determinadas pessoas 18, ao passo que a decadência apenas não corre
contra absolutamente incapazes (menores de 16 anos).
Ademais, os prazos prescricionais se submetem a impedimento, suspensão ou interrupção. Já a
decadência não pode ser suspensa e nem interrompida.

2. Faça uma distinção entre a fluência dos prazos decadenciais e dos prazos prescricionais. Quando é
que eles se iniciam, respectivamente.
De acordo com o art. 189 do CC, violado um direito, nasce para o seu titular uma pretensão, que pode
ser extinta pela prescrição, nos termos dos seus arts. 205 e 206. A respeito da contagem do prazo prescricional, é
o teor do Enunciado n. 14 CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil, realizada em setembro de 2002:
“Art. 189: 1) o início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da
pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz respeito a
casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou
da obrigação de não fazer”.

Todavia, esses parâmetros de início da contagem do prazo prescricional – a partir da violação do direito
subjetivo – vêm sendo contestados jurisprudencialmente. Isso porque cresce na jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça a adoção à teoria da actio nata, pela qual o prazo deve ter início a partir do conhecimento da
violação ou lesão ao direito subjetivo. Realmente, a tese é mais justa, diante do princípio da boa-fé. Em sede
jurisprudencial a teoria da actio nata pode ser retirada do teor da Súmula 278 do mesmo STJ, que enuncia: “O
termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca
da incapacidade laboral”.
Já o início do prazo decadencial será casuístico, a depender de eventos predeterminados em lei. Cite-se
o art. 178 do CC:
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação
do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

18
Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da
respectiva sentença definitiva.
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for
indivisível.
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia
em que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

3. Comente a afirmação: “O juiz não pode suprir de ofício a alegação de prescrição, salvo quando
beneficiar o absolutamente incapaz.” (o dispositivo foi revogado)
O dispositivo conglobava a autonomia das partes, ao vedar ao juiz o reconhecimento oficioso da
prescrição, sem prejuízo da proteção ao absolutamente incapaz, que poderia ter a sua vontade suprida pelo juiz,
em seu benefício. Atualmente, o juiz pode reconhecer de ofício a prescrição, salvo se renunciada pela parte que
dela se beneficia.

4. Faça uma nova distinção entre os institutos (prescrição e decadência) quanto à suspensão dos prazos.
Vide perguntas 1 e 2.

5. Qual dos dois institutos admite a renúncia? O candidato respondeu que a renúncia convencional e foi
questionado se: A decadência legal admite a renúncia? E a prescrição? Em que momento?
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá,
sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar;
tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis
com a prescrição.

Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

A decadência convencional pode ser renunciada.

Direito Processual Civil


Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Procedimentos especiais: possessórias e usucapião

1. O senhor considera possível a liminar possessória em posse velha? Seu entendimento é baseado em
doutrina, jurisprudência, jurisprudência de Minas, dos tribunais superiores? O senhor conhece o
entendimento do STJ?
Os tribunais superiores compreendem pela possibilidade de concessão da liminar possessória, ainda que
a posse seja velha (mais de ano e dia), desde que preenchidos os requisitos da tutela antecipada de urgência
(CPC, art. 300). A liminar possessória típica é afeta à posse nova e se submete a regime jurídico próprio, sem se
cogitar o periculum in mora.

STJ:
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DEFERIMENTO DO PEDIDO LIMINAR. POSSE
VELHA. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. CABIMENTO. PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Não configura ofensa ao art. 1.022 , I e II ,
do Código de Processo Civil de 2015 o fato de o Tribunal de origem, embora sem examinar
individualmente cada um dos argumentos suscitados, adotar fundamentação contrária à
pretensão da parte recorrente, suficiente para decidir integralmente a controvérsia. 2. Inexiste
afronta ao art. 489 , § 1º , IV , do CPC/2015 quando o órgão julgador se pronuncia de forma
clara e suficiente acerca das questões suscitadas nos autos, não havendo necessidade de se
construir textos longos e individualizados para rebater uma a uma cada argumentação, quando é
possível aferir, sem esforço, que a fundamentação não é genérica. 3. Não há falar em erro de
julgamento se a decisão de primeiro grau aplica indevidamente o art. 927 do CPC /73, e o
Tribunal de origem enquadra o fato em dispositivo legal diverso, confirmando a liminar de
reintegração de posse, porque preenchidos os requisitos do art. 273 do CPC /73. 4. O Superior
Tribunal de Justiça tem entendimento de que é possível a concessão de tutela antecipada em
ação possessória de força velha, desde que preenchidos os requisitos do art. 273 do CPC /73, a
serem aferidos pela instância de origem. 5. Segundo o acórdão recorrido, os documentos
carreados aos autos mostraram-se suficientes para comprovar a existência da posse sobre o
imóvel e o esbulho praticado. Incidência da Súmula 7/STJ. 6. Agravo interno não provido. Data
de publicação: 16/02/2018

2. Quais são os pedidos que podem ser cumulados na possessória?


É possível a cumulação objetiva de pedido possessório (reintegração, manutenção da posse ou interdito
proibitório) e a postulação de perdas e danos e indenização dos frutos. Pode o autor requerer, ainda, imposição
de medida necessária e adequada para: evitar nova turbação ou esbulho; ou cumprir-se a tutela provisória ou
final.

3. Na pendência de processo em que se discute questão de natureza possessória, uma das partes pode
propor outra ação em relação ao domínio?

Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu,
propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face
de terceira pessoa.

4. O que é uma ação publiciana?


De forma clara, pode ingressar com a ação publiciana o possuidor que já preencheu os requisitos da
usucapião, mas ainda não requereu judicialmente a declaração desta e foi esbulhado em sua posse. É uma
espécie de reivindicatória sem título que visa reaver a posse perdida e garantir a usucapião, sendo uma ação de
natureza declaratória e com efeitos inter partes. A sentença não serve de título para registrar o bem no Cartório
de Registro de Imóveis, sendo necessária a ação de usucapião.

5. Qual a natureza da sentença de usucapião?


Convenciona a doutrina que a natureza jurídica é de sentença declaratória, pois se limita ao
reconhecimento de situação fática tutelável juridicamente já ocorrida. Não é, assim, constitutiva. Sua eficácia é
retroativa ao momento de aperfeiçoamento dos requisitos da usucapião.
STJ:
Outrossim, a sentença proferida no processo de usucapião (art. 941 do CPC)
ostenta índole meramente declaratória (e não constitutiva), pois apenas reconhece, com
oponibilidade erga omnes, um direito já existente com a posse ad usucapionem,
exalando, por isso mesmo, efeitos ex tunc.
6. O MP é obrigado a participar das ações de usucapião? Há disposição legal obrigando a isso?
Não há dispositivo que imponha a intervenção ministerial no caso de usucapião. A qualidade da parte ou
o objeto da lide pode deflagrar a atuação do MP, com a condição de incapaz do autor ou réu ou a pretensão de
usucapir área de relevante interesse social por razões ambientais.

7. Qual o documento que a lei considera obrigatório para a propositura da Usucapião?


Penso que está no art. 942 do CPC/73:
O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta
do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel
usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos
eventuais interessados, observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232.

8. Diferencie ação de nunciação de obra nova e ação demolitória.

I. Ação de nunciação de obra nova: A ação de nunciação de obra nova é aquela, de rito especial,
prevista nos artigos 930 a 940 do Código de Processo Civil. É remédio processual utilizado pelo proprietário ou
possuidor de determinado imóvel para impedir que a realização de obra nova em imóvel vizinho lhe cause
prejuízo a sua propriedade, aos fins a que é destinada ou as suas servidões. Há entendimentos jurisprudenciais
no sentido de haver possibilidade de conversão da ação de nunciação de obra nova em ação demolitória nos
casos em que a edificação seja concluída no curso da ação preventiva. Finalmente, trata a ação de nunciação de
obra nova de meio processual utilizado no exercício dos direitos da vizinhança, no sentido de evitar que nova
edificação venha a causar dano a propriedade alheia ou que lhe diminua o valor por desrespeitar as normas
legais, fazendo com que cesse a obra antes que diminua o valor ou prejudique propriedade alheia. Enfim, é ação
afeta ao direito de vizinhança com forte viés inibitório.

II. Ação demolitória: a ação demolitória é medida extrema, de caráter punitivo, que contempla os direitos
da vizinhança, cuja finalidade é a demolição de obra em propriedade vizinha que não se adéqua a legislação e
cujos vícios são insanáveis, de forma que a sua manutenção prejudicaria edifícios alheios. A medida demolitória,
tendo em vista o seu caráter excepcional, só é possível nos casos em que a construção em vizinho traz sérios
prejuízos a outras propriedades.

9. É possível arguir usucapião em defesa nas ações possessórias?

Súmula 237 do STF: o usucapião pode ser arguido em defesa, inclusive em


ações possessórias.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Responsabilidade por danos aos bens coletivos e interesses de grupo: prevenção e reparação.

1. Disserte acerca dos elementos da responsabilidade civil coletiva. Quais são os seus legitimados?
Os elementos da responsabilidade civil são: conduta, resultado, nexo causal e, em certas hipóteses,
elemento subjetivo.
Destaque-se que o aspecto coletivo da responsabilidade civil pode se manifestar por meio da qualidade
da parte (difusão de dano ou ameaça de dano a uma coletividade de pessoas) ou da natureza do litígio (em regra,
sua relevância social).
Na mesma seara, a responsabilidade coletiva pode ser iluminada pela forma subjetiva ou objetiva. Os
danos ambientais prescindem de perquirição de culpa, na forma do risco integral, conforme prevalece. Assim
também em relação aos danos aos consumidores. Por outro lado, a tutela coletiva implicará comprovação da
culpa em certas modalidades de litígios, como é o caso da improbidade administrativa, direito difuso que é, que
atrai a responsabilidade na forma subjetiva.
O dano é outro elemento desenvolvido à efetiva tutela coletiva. Ressaem os danos morais coletivos e
sociais como pedidos possíveis ao atendimento do princípio da reparação integral.
A legislação aplicável à tutela coletiva institui um sistema taxativo de legitimados ativos à demanda
coletiva. Estão previstos nas legislações atinentes à matéria, como é o caso do cidadão às ações populares e do
MP à ACP. Legitimados passivos são os autores do dano ou ameaça de dano com viés coletivo, atendidas certas
peculiaridades, tal qual a pessoa jurídica para os fins da Lei Anticorrupção (que veicula o interesse difuso da boa
administração pública).

2. Disserte sobre o princípio da precaução, e sua aplicação nas áreas da saúde e do meio ambiente?
Gostaria de uma questão mais concreta, uma ação a partir da perspectiva do MP.
O princípio da precaução, que possui matriz bioética, foi formulado pelos gregos e significa ter cuidado e
estar ciente. Precaução relaciona-se com a associação respeitosa e funcional do homem com a natureza. Trata
das ações antecipatórias para proteger a saúde das pessoas e dos ecossistemas. Precaução é um dos princípios
que guia as atividades humanas e incorpora parte de outros conceitos como justiça, equidade, respeito, senso
comum e prevenção.
Na era moderna, o Princípio da Precaução foi primeiramente desenvolvido e consolidado na Alemanha,
nos anos 70, conhecido como Vorsorge Prinzip. Pouco mais de 20 anos depois, o Princípio da Precaução estava
estabelecido em todos os países europeus. Embora inicialmente tenha sido a resposta à poluição industrial, que
causava a chuva ácida e dermatites entre outros problemas, o referido princípio vem sendo aplicado em todos os
setores da economia que podem, de alguma forma, causar efeitos adversos à saúde humana e ao meio
ambiente.
Uma outra forma de interpretação do Principio da Precaução foi feita durante a Bergen Conference
realizada em 1990 nos Estados Unidos: "É melhor ser grosseiramente certo no tempo devido, tendo em mente as
consequências de estar sendo errado do que ser completamente errado muito tarde".
O Princípio 15 - Princípio da Precaução - da Declaração do Rio/92 sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável foi proposto na Conferência no Rio de Janeiro, em junho de 1992, que o definiu
como "a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser
ainda identificados".
De forma específica assim diz o Princípio 15:
"Para que o ambiente seja protegido, serão aplicadas pelos Estados,
de acordo com as suas capacidades, medidas preventivas. Onde existam
ameaças de riscos sérios ou irreversíveis, não será utilizada a falta de certeza
científica total como razão para o adiamento de medidas eficazes, em termos
de custo, para evitar a degradação ambiental".
Na saúde, pode-se verificar a incidência do princípio da precaução no manejo do registro de
medicamentos por parte da ANVISA. O potencial danoso dos medicamentos deve ser aferido com extrema
cautela, sem descurar da abertura ao avanço científico. O princípio da precaução se afigura como instrumento de
peculiar relevância ao indeferimento de registro de medicamento ou insumo terapêutico com forte discussão
acerca de sua efetividade ou lesividade, de modo a não vencer a análise de custo benefício entre seus aspectos
positivos e negativos.
Já na tutela ao meio ambiente o princípio da precaução é utilizado como regra-matriz de inversão do
ônus da prova em demandas com essa natureza. Ainda, no procedimento para a expedição de licença ambiental,
a metanorma possui a função de obstar empreendimentos que possa causar relevante dano ambiental, ainda que
não haja a certeza científica desse dado nocivo. A simples verificação empírica acerca do potencial danoso da
atividade permite o seu óbice, à luz do dever de precaução.

3. Em matéria de proteção do consumidor, no que diz respeito ao legitimado passivo, em relação a danos
coletivos. Quem seriam os legitimados passivos na ação que visa a responsabilização por vícios de
produtos; vícios de fato de produto; vícios de qualidade por insegurança e vícios de qualidade por
inadequação? Qual a diferença dessa responsabilidade para a responsabilidade comum?
Os vícios dos produtos ou serviços atingem a incolumidade patrimonial do consumidor e se regem pela
teoria da qualidade.
Prevê o CDC que os fornecedores são objetivamente responsáveis, na modalidade solidária, pela
qualidade dos produtos ou serviços. Isto é, a responsabilidade atinge todos os integrantes da cadeia de consumo:
toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
Eventual direito de regresso pode ser levado a efeito na mesma lide, vedada a denunciação ou o
chamamento, conforme doutrina majoritária, em primazia à efetividade do processo coletivo.
Já o fato do produto ou serviço se refere ao acidente de consumo. Atinge, em regra, a incolumidade física
do consumidor, em suas diversas modalidades. Prevê o CDC que será responsável pelo acidente de consumo o
fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador, que responderão, independentemente
da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de
projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus
produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
O grande alcance da reparação por vício ou fato de produtos ou serviços e o caráter objetivo da
responsabilidade diferenciam-na da regra geral.

4. Imagine uma situação com medicamentos falsificados, sem princípio ativo, causando dano numa
quantidade grande de pessoas, o senhor conduz uma investigação e tem em mente a propositura de uma
ação. Quais seriam os pedidos visando à tutela de interesses transindividuais e de individuais
homogêneos?
É possível a veiculação de demanda com cumulação objetiva de naturezas difusa e individual
homogênea. A imediata retirada do produto do mercado de consumo e o impedimento de nova comercialização
atende a interesse difuso, na forma da tutela inibitória e de remoção do ilícito.
Noutro giro, os danos individualmente sofridos serão reparados por meio da tutela a direitos individuais
homogêneos de relevância social (afeta à saúde e à proteção ao consumidor) – tutela eminentemente
ressarcitória. Há, ainda, os danos morais coletivos ou sociais, com aspecto difuso.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Desobediência civil no direito de resistência.

1. O senhor saberia me dizer o que são esses institutos? (O examinador considera que a desobediência
civil encontra-se dentro do direito de resistência.) O senhor sabe onde, pela primeira vez, se colocou
normativamente esse direito de resistência? (Revolução Francesa – 4 pernas: liberdade, igualdade,
fraternidade e direito de resistência). A Revolução Francesa não foi uma desobediência civil propriamente
dita. O senhor saberia me dizer quem são os principais teóricos da desobediência civil. (Harry/Henry
Durreau ou algo assim/ Maria Garcia)
O direito de resistência se relaciona com o direito constitucional, já que é ele que dispõe sobre os limites
do poder político e os direitos e garantias fundamentais do cidadão. O problema constitucional do direito de
resistência está na garantia da autodefesa da sociedade, na garantia dos direitos fundamentais e no controle dos
atos públicos, bem como na manutenção do pacto constitucional por parte do governante.
Os elementos fundamentais que indicam a presença do direito de resistência no Direito Constitucional se
referem necessariamente aos valores da dignidade humana e ao regime democrático. Os valores constitucionais
compõem um contexto axiológico para a interpretação de todo o ordenamento jurídico, para orientar a
hermenêutica constitucional e o critério de medir a legitimidade das diversas manifestações do sistema de
legalidade.
O reconhecimento do direito de resistência operou-se pela via explícita em apenas algumas espécies:
objeção de consciência (art. 5°, VIII c/c art. 143, § 1°, CF); greve "política" (art. 9°, CF); princípio da
autodeterminação dos povos (art. 4°, III, CF).
De outro lado, a construção constitucional elucida, de forma implícita, a materialidade da resistência. A
materialidade se combina com os elementos constitucionais formais, como: os princípios da dignidade da pessoa
humana e do pluralismo político, erguidos como fundamentos do Estado Democrático (art. 1°, III, V, CF); a
abertura e a integração para dentro do ordenamento constitucional de outros direitos e garantias decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados.
A resistência constitucional apresenta-se como fato empírico e, desse modo, protege os fatos sociais,
como os movimentos sociais organizados que praticam a desobediência civil.
O direito de resistência constitucional manifesta-se, dentre outros, pela: 1) objeção de consciência; 2)
greve política; 3) desobediência civil; 4) direito à revolução; 5) princípio da autodeterminação dos povos.
A desobediência civil deve ser entendida como um mecanismo indireto de participação da sociedade, já
que tem um conteúdo simbólico que geralmente se orienta para a deslegitimação da autoridade pública ou de
uma lei, como a perturbação do funcionamento de uma instituição, a fim de atingir as pessoas situadas em seus
centros de decisão.
A desobediência civil apresenta-se como: a) é uma forma particularizada de resistência e qualifica-se na
ação pública, simbólica e ético-normativa; b) manifesta-se de forma coletiva e pela ação "não-violenta"; c) quer
demonstrar a injustiça da lei ou do ato governamental mediante ações de grupos de pressão junto aos órgãos de
decisão do Estado; d) visa à reforma jurídica e política do Estado, não sendo mais do que uma contribuição ao
sistema político ou uma proposta para o aperfeiçoamento jurídico. Propõe apenas a negação de uma parte da
ordem jurídica, ao pedir a reforma ou a revogação de um ato oficial mediante ações de mobilização pública dos
grupos de pressão junto aos órgãos de decisão do Estado.
A desobediência civil na perspectiva constitucional brasileira decorre da cláusula constitucional aberta,
que admite outros direitos e garantias, e dos princípios do regime adotado (art. 5°, § 2°, CF) e liga-se
especialmente aos princípios da proporcionalidade e da solidariedade, que permitem protestos contra atos que
violem esses princípios da ordem política. Assim, a desobediência volta-se, primacialmente, à tutela dos direitos
fundamentais.

2. Quais são as características da desobediência civil que normalmente se aceita?


Vide resposta acima.

3. No ordenamento jurídico brasileiro há base para a desobediência civil?


Vide resposta acima. A concepção material dos direitos fundamentais (art. 5º, § 2º, da CF) permite,
inclusive, que a desobediência civil seja dotada de fundamentalidade.

4. Basta entender que o ato é injusto ou que a lei é injusta pra se opor a ele(a), ou tem que ter por baixo
algum tipo de direito?
A resistência constitucional, manifestada pela desobediência civil, deve ter por fato gerador uma conduta,
em regra atribuída ao Poder Público, que viole direitos fundamentais. A injustiça, por si só, pode não ser suficiente
para deflagrar esses movimentos. Há a necessidade de conjugação entre o injusto e a relevância social de seus
efeitos deletérios, ainda que restritos a um determinado estamento. A injusta violação a direitos fundamentais,
portanto, desafiam a resistência e permitem a desobediência, respeitadas as suas balizas.
Dia 14 – Ponto 15 – Daniel Costa

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinadora: Dra. Elaine Parisi
ADCT, ordem social e recursos em matéria eleitoral.

1. Qual o papel das disposições constitucionais transitórias?


As disposições constitucionais transitórias têm como papel precípuo a intermediação entre a antiga e a
nova ordem constitucional, realizando a integração entre elas. As disposições transitórias regulam uma série de
questões de cunho temporal à luz da dinâmica constitucional, que envolve a relação entre o passado, o presente
e o futuro da nova Constituição e de suas normas vinculantes em relação ao ordenamento jurídico antecedente,
bem como ao novo ordenamento, que ela mesmo, a Constituição, está desenvolvendo.

2. Cabe EC ao ADCT?
As disposições constitucionais transitórias integram a Constituição e suas normas possuem a mesma
validade e eficácia das normas que se encontram na parte dogmática (arts. 1º a 250 da CRFB). Desse modo, só
podem ser alteradas por meio de Emenda Constitucional (Poder Constituinte Derivado de Reforma), desde que
observadas as limitações procedimentais ou formais (art. 60, caput e §§ 2º, 3º e 5º da CRFB – processo
legislativo constitucional específico para EC), circunstanciais (art. 60, §1º, da CRFB – proibição de EC na vigência
de intervenção federal, de estado de defesa e de estado de sítio) e materiais (art. 60, §4º, CRFB – cláusulas
pétreas). Para exemplificar é possível citar a Emenda Constitucional nº 99, de 15 de dezembro de 2017, que
instituiu um novo regime especial de pagamento de precatórios, alterando diversos artigos do ADCT da CFRB/88.
Obs.: Nos moldes do artigo 3º do ADCT, a CRFB/88 previu a possibilidade de exercício do Poder
Constituinte Derivado de Revisão, dotado de limites formais e de um limite temporal. Nesse sentido, reza na
Constituição de 1988 que a revisão seria realizada após o decurso de cinco anos de sua promulgação (limite
temporal) em sessão unicameral e com o quórum de maioria absoluta para aprovação das chamadas “emendas
de revisão” (limites formais em relação è forma de tramitação e ao quórum de aprovação). Como se vê, no
exercício desse poder revisor, houve a possibilidade de alteração da parte dogmática e do ADCT por
procedimento menos rigoroso do que o previsto para a EC.

3. Em relação à ordem social, gostaria de perguntar se, em seu entendimento, o meio ambiente é
patrimônio público?
Inicialmente, imperioso destacar que a expressão meio ambiente deve ser considerada em seu sentido
amplo, devido à conexão dos diversos valores que dela emanam, quais sejam: meio ambiente natural (ou físico),
formado pelo solo, água, ar atmosférico, energia, flora, fauna (art. 225 da CRFB/88); meio ambiente cultural (arts.
215 e 216 da CRFB/88), que se liga à forma e cultura de um povo, revelando suas raízes e identidades (na forma
de patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico); meio ambiente artificial (ou humano), que
é o espaço urbano constituído pelo homem (edificações, ruas, parques, área verdes, praças etc); e meio
ambiente do trabalho, como espécie de meio ambiente artificial, mas que se destaca pela autonomia , sendo o
local no qual o trabalhador exerce sua atividade (art. 196 e ss. Da CRFB/88).
Assim, estando o meio ambiente em todas as suas acepções ligado à ideia de função e de bens
destinados à coletividade, conforme expressamente previsto no Título destinado à Ordem Social, não há dúvida
de que possa ser considerado patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido.

4. O cidadão tem a sua disposição algum instrumento jurídico para a defesa do meio ambiente?
O cidadão, pessoa natural com nacionalidade brasileira originária (nato) ou adquirida (naturalizado), que
esteja em pleno gozo dos direitos políticos, dispõe da ação popular para a proteção do meio ambiente. Referida
ação é considerada um instrumento jurídico de democracia participativa (art. 1º, parágrafo único, da CRFB/88),
por meio do qual o cidadão pode atuar judicialmente em defesa do meio ambiente, tanto em seus aspectos
naturais (meio ambiente ecologicamente equilibrado), quanto em seus aspectos artificiais ou culturais (patrimônio
histórico e cultural).

5. O município pode legislar sobre meio ambiente?


Na área ambiental, em face do interesse comum na preservação dos recursos ambientais e de seu uso
sustentável, a regra é que todos os entes políticos têm competência para legislar, cabendo à União editar normas
gerais, a serem especificadas pelos Estados e pelo Distrito Federal (competência concorrente, art. 24 da
CRFB/88).
A competência dos Municípios para legislar sobre meio ambiente, por sua vez, decorre do artigo 30, I e II,
da CRFB/88, cabendo a eles disporem sobre assuntos de interesse local e suplementar à legislação estadual e
federal, no que couber (competência suplementar).
Importante destacar que o Supremo Tribunal Federal (STF) possui precedentes no sentido de que o meio
ambiente do trabalho está fora da competência legislativa concorrente dos Estados e do Distrito Federal, assim
como da competência suplementar dos Municípios, uma vez que a competência para legislar sobre matérias
afetas ao Direito do Trabalho é privativa da União (art. 22, I, da CRFB/88).
6. O que significa o direito à integridade do meio ambiente?
O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui prerrogativa
jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão
significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido
verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social.
Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades
clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos
econômicos, sociais e culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam
o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva
atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um
momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos,
caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.

7. A quem incumbe o dever de prestar o serviço de saúde pública?


O direito à saúde se insere na órbita dos direitos sociais constitucionalmente garantidos. Trata-se de um
direito público subjetivo, uma prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas,
competindo ao Estado (em sentido amplo) prestá-lo mediante acesso universal e igualitário (art. 196 da CRFB/88
e art. 2º da Lei 8.080/90). Desse modo, o dever de prestar serviço público compete à União, aos Estados, ao DF
e aos Municípios, de forma solidária.

8. O município de BH, p.ex., pode deixar de atender um cidadão residente em Nova Lima, que fica aqui na
região metropolitana? (o candidato citou o estrangeiro e a examinadora disse que seria a próxima
questão) E se o estrangeiro estiver clandestinamente no Brasil, ele também tem direito ao acesso à
saúde?
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada que constitui um
sistema único – regulamentado pela Lei 8.080/90, Lei do SUS. Além disso, a CRFB/88 prevê o acesso universal e
igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Desse modo, em virtude do
princípio da universalidade, o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas,
independentemente de sexo, raça, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais, não podendo o
município de BH, portanto, deixar de atender um cidadão sob o argumento de que este reside em Nova Lima.
Não se pode deixar de registrar, ainda, que ao tratar dos direitos à vida e à igualdade, a Constituição, em
seu art. 5ª, caput, não faz distinção entre brasileiros e estrangeiros. Logo, também com base no princípio da
universalidade, o estrangeiro que permanece clandestinamente no Brasil também tem direito ao acesso à saúde.

9. O que significa educação inclusiva?


A educação inclusiva é o processo de inclusão dos portadores de necessidades especiais ou de
distúrbios de aprendizagem na rede regular de ensino. Dessarte, a Constituição Federal (art. 208, III) e a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96, art. 58), preveem a modalidade de educação escolar oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino para educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

Direito Eleitoral
10. Os recursos eleitorais têm efeito suspensivo?
Via de regra, os recursos eleitorais não têm efeito suspensivo, conforme expressamente previsto no art.
257 do Código Eleitoral. No entanto, importante destacar que essa regra não alcança o Recurso contra a
Expedição de Diploma, que tem natureza jurídica de ação (art. 216 do CE), a decretação de inelegibilidade (art.
15 da LC 64/90), que só produz efeito após o trânsito em julgado da sentença, o que, dessa forma, determina o
efeito suspensivo dos recursos interpostos contra decisões que acarretem tal sanção, e o recurso ordinário
interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por TRE que resulte em cassação de registro, afastamento
do titular ou perda do mandato eletivo (art. 257, §2º, do CE).

11. É correto afirmar que as decisões do TSE são irrecorríveis?


Em regra, as decisões do TSE são irrecorríveis, ressalvadas as que declararem a invalidade de lei ou ato
contrário à Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança, das quais
caberá recurso ordinário para o STF, interposto no prazo de 3 (três) dias (art. 281 do CE).
Além disso, em conformidade com o disposto no artigo 121, §3º, da CRFB/88, caberá recurso
extraordinário de decisão do TSE que contrariar as normas da Constituição.

12. Cabe recurso das decisões proferidas pelos TREs?


Das decisões proferidas pelos TREs são cabíveis seis espécies de recursos, quais sejam: a) recurso
parcial, contra as decisões de impugnações proferidas em eleição de sua competência (eleições estadual e
federal); b) embargos de declaração, para esclarecer obscuridade ou eliminar contradição, suprir omissão de
ponto ou questão sobre o qual o juiz devia se pronunciar de ofício ou a requerimento e corrigir erro material (art.
275 do CE); c) recurso ordinário para o TSE nas hipóteses de decisões que versarem sobre inelegibilidades ou
expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais, anulação de diploma ou decretação de perda de
mandatos eletivos federais ou estaduais e decisões denegatórias de HC, MS, HD e MI (art. 276, II, do CE); d)
recurso especial em face de decisões proferidas contra expressa disposição legal ou quando ocorrer divergência
na interpretação de lei entre dois ou mais TREs (art. 276, I, do CE); e) agravo de instrumento eleitoral, dirigido
ao TSE, quando não for recebido o recurso especial, objetivando a sua subida; e f) agravo regimental para o
pleno do TRE para atacar atos, resoluções ou despachos proferidos pelo presidente do Tribunal.

13. Da decisão de mérito proferida em uma ação de investigação judicial eleitoral por abuso de poder
econômico, num pleito municipal, cabe recurso?
Sim. Em todas as ações eleitorais que tramitam em primeira entrância caberá a interposição de recurso
inominado em face de decisão do juiz eleitoral, através de petição fundamentada, nos termos dos artigos 266 e
267 do CE.
Procedimento: recebida a petição, o juiz determina a intimação do recorrido para oferecimento de
contrarrazões e apresentação de documentos, em prazo igual ao previsto para a interposição do recurso; se o
recorrido apresentar novos documentos, o recorrente terá vista dos autos para manifestar-se no prazo de 48
horas; se o juiz reformar a decisão recorrida (juízo de retratação), poderá o recorrido, dentro de 3 dias, requerer a
subida do recurso como se por ele interposto; se não reformar a decisão, o Juiz Eleitoral fará, no prazo de 48
horas, subir os autos ao TRE.

Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Licitação: pressupostos gerais
1. Quem detém a competência para legislar sobre licitação? O que o senhor quer dizer com competência
para produzir normas gerais?
Consoante disposto no artigo 22, XXVII, a União possui competência privativa para legislar sobre normas
gerais de licitação (e contratação). Com efeito, o tema é estritamente de Direito Administrativo, possibilitando,
pois, que os Estados, o DF e os Municípios legislem sobre normas específicas, a depender da abrangência
estadual e do interesse local, conforme o caso (competência suplementar que tem por base o poder
regulamentar). Na órbita federal a matéria é regida pela Lei 8.666/93, que também é a veiculadora das normas
gerais obrigatórias em todo o país.

2. Em relação ao município, o senhor, trabalhando numa comarca no interior de Minas, se depara com
uma licitação que trata de uma peculiaridade que é própria do município (ex. relativa à seca no norte do
estado) e que extrapolam/colidem (não necessariamente vai contra) com a legislação federal, qual a
solução o senhor encontraria?
Nos termos do artigo 22, inciso XXVII da Constituição Federal, é de competência privativa da União
legislar sobre normas gerais de licitação. No entanto, e edição da Lei 8.666/93, que trata sobre normas gerais de
licitação e contratação, não impede que o Município possa atuar de forma suplementar, a fim de atender
interesses locais, como na situação apresentada, com amparo no artigo 30, II, da CF.
Ademais, se a é dada ao Município a competência suplementar, também lhe será possível complementar
as normas gerais de licitação para atender situações de interesse local, como as peculiaridades relativas à seca
no Norte do Estado, até porque o conceito de suplementação é amplo, mais abrangente do que o conceito de
complementação, de tal modo que aquele que pode suprir a falta, há de poder, por mais forte razão, completar os
vazios da legislação normativa geral, prevendo situações específicas.
Desse modo, na hipótese de o objeto da licitação, peculiar ao interesse local, ter sido previsto em lei
municipal suplementar, não haveria qualquer ilegalidade.

3. Quais os princípios básicos/fundamentais do procedimento licitatório? (o examinador disse que anotou


5)
Consoante o escólio de José dos Santos Carvalho Filho, consideram-se básicos os princípios
norteadores fundamentais do procedimento de licitação expressos no artigo 3º da Lei 8.666/93, quais sejam:
a) Princípio da Legalidade: é o princípio basilar de toda a atividade administrativa. Significa que o
administrador não pode fazer prevalecer a sua vontade pessoal, devendo sua atuação limitar-se ao que a lei
impõe, protegendo os administrados de abusos de conduta e de desvios de objetivos. No campo das licitações,
este princípio impõe, principalmente, que o administrador observe as regras que a lei traçou para o procedimento.
b) Princípios da Moralidade e da Impessoalidade: o princípio da moralidade exige que o administrador
se paute por conceitos éticos. O da impessoalidade indica que a Administração deve dispensar o mesmo
tratamento a todos os administrados que estejam na mesma situação jurídica.
c) Princípio da Igualdade ou da Isonomia: tem sua origem no art. 5º da CRFB/88, como direito
fundamental. Ao tratar da obrigatoriedade da licitação, a Constituição, de forma expressa, assegurou no art. 37,
XXI, que o procedimento deve assegurar “igualdade de condições a todos os concorrentes”, estando intimamente
ligado ao princípio da impessoalidade.
d) Princípio da Publicidade: informa que a licitação deve ser amplamente divulgada, de modo a
possibilitar o reconhecimento de suas regras a um maior número possível de pessoas.
e) Princípio da Probidade Administrativa: este princípio exige que o administrador atue com
honestidade para com os licitantes, e sobretudo para com a própria Administração, e, evidentemente, concorra
para que sua atividade esteja de fato voltada para o interesse administrativo, que é o de promover a seleção mais
acertada possível.
f) Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório: a vinculação ao instrumento convocatório é
uma garantia do administrador e do administrado. Significa que as regras traçadas para o procedimento licitatório
devem ser fielmente observadas.
Obs: Embora não seja objeto do questionamento do examinador, achei relevante, como forma de
enriquecimento, especificar os princípios que José dos Santos Carvalho Filho considera como correlatos aos
princípios básicos ou fundamentais:
a) Princípio da competitividade (correlato ao da igualdade): a Administração não pode adotar
medidas ou criar regras que comprometam, restrinjam ou frustrem o caráter competitivo da licitação.
b) Princípio da Distinção (correlato ao da igualdade): é vedado ao administrador criar preferências ou
distinções relativas à naturalidade, à sede ou ao domicílio dos licitantes, ressalvadas algumas exceções (art. 3º,
§1º, I, da Lei 8.666/93).
c) Princípio da Inalterabilidade do Edital (correlato aos da publicidade e da vinculação ao
instrumento convocatório): a Administração está vinculada às regras que foram por ela própria divulgadas (art.
41 da Lei 8.666/93).
d) Princípio do Sigilo das Propostas (correlato aos da probidade e da igualdade)
e) Princípio do Formalismo Procedimental (correlato do da legalidade): as regras adotadas no
procedimento devem seguir os parâmetros estabelecidos na lei, não sendo lícito aos administradores subvertê-los
a seu juízo.
f) Princípio da Vedação à Oferta de Vantagens (correlato ao do julgamento objetivo): as regras de
seleção devem ser adstritas aos critérios fixados no edital, não se podendo admitir que, além disso, intervenham
fatores outros, como o de algum licitante ofertar vantagem própria ou baseada na oferta de outro licitante.
Referido princípio não impede que a própria lei preveja de forma objetiva critérios ou margens de preferência.
g) Princípio da Obrigatoriedade: deve considerar-se obrigatória a realização do certame para compras,
obras, serviços, alienações e locações, ressalvados apenas os casos mencionados na lei.

4. Quem pode impugnar o edital da licitação? Além dos participantes. Com relação ao cidadão, ele pode
impugnar o edital como um todo ou apenas partes?
Se o edital tiver alguma irregularidade, além dos participantes, é assegurado a qualquer cidadão
impugná-lo, protocolando o pedido até 5 (cinco) dias antes da data designada para a abertura dos envelopes de
habilitação. Oferecida a impugnação, cabe à Administração decidi-la no prazo de 3 (três) dias (art. 41, §1º).

5. O que seria contratação direta? Ela é chamada também de que? Pode ser tida como um processo
informal? Quando se dá a hipótese, a administração utiliza um instrumento específico para promover a
contratação indireta. Qual o instrumento que ela utiliza? A lei prevê especificamente um termo, qual seria
esse?
As aquisições e contratações públicas seguem, em regra, o princípio do dever de licitar, previsto no artigo
37, inciso XXI da Constituição. Porém, o comando constitucional já enuncia que a lei poderá estabelecer
exceções à regra geral, com a expressão “ressalvados os casos especificados na legislação”.
Portanto, a lei poderá criar hipóteses em que a contratação será feita de forma direta. Com efeito, o
regulamento geral das licitações, a Lei n.º 8.666/93, prevê os casos em que se admite a contratação direta do
interessado pela Administração Pública, podendo a licitação ser dispensada, nas hipóteses taxativas do art. 17,
dispensável, nas hipóteses taxativas do art. 24, ou inexigível, nas hipóteses exemplificativas do art. 25.
Importante ressaltar que contratação direta, sem licitação, não é sinônimo de contratação informal, não
podendo o administrador contratar com quem bem entender, devendo seguir o procedimento formal exigido, qual
seja, o chamado procedimento de justificação, previsto no art. 26 da Lei 8.666/93.
Obs.: Em leitura à Lei 8.666/93 e em pesquisa à doutrina e jurisprudência não localizei uma resposta
segura acerca do “termo específico” solicitado pelo examinador. Pelo que li, extrai que seria um termo de
justificação, ato administrativo por meio do qual o agente demonstra que a situação específica enquadra-se a
uma das hipóteses de dispensa ou inexigibilidade e solicita a contratação direta, dando início ao procedimento de
justificação.

6. Quais as hipóteses em que a licitação pode ser dispensada? De forma genérica. A ausência de
potencialidade do benefício, se encaixaria em qual parte da classificação? (dispensada, dispensável,
inexigível).
A licitação é dispensada quando há viabilidade competitiva entre licitantes, mas o Administrador Público
não pode realizar o procedimento licitatório. Em outras palavras, a Administração Pública é obrigada a contratar
diretamente, sem licitação. As hipóteses de licitação dispensada formam um rol taxativo previsto no art. 17, I e II,
da Lei 8.666/93.
Basicamente, a licitação será dispensada nas seguintes hipóteses:
a) quando se tratar de imóvel: nos casos de dação em pagamento; doação a outro órgão ou entidade
da Administração Pública; permuta com outro imóvel que atenda às necessidades da administração; investidura;
venda a outro órgão da administração pública; alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito
real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente
utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos
por órgãos ou entidades da administração pública; procedimento de legitimação de posse; alienação gratuita ou
onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de uso
comercial de âmbito local com área de até 250 m²) e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária
de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; e alienação e concessão de
direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União e do Incra, para fins de regularização
fundiária; e
b) quando se tratar de bem móvel: nos casos de doação para fins e uso de interesse social; permuta
entre órgão ou entidades da Administração Pública; venda de ações que poderão ser negociadas em bolsa;
venda de títulos; venda de bens produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da Administração
Pública; e venda de materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da Administração Pública.
Conforme o ensinamento de Marçal Justen Filho, a ausência de potencialidade de benefício é hipótese
de dispensa de licitação e enquadra-se nas especificações do artigo 24, incisos V (quando não acudirem
interessados à licitação anterior e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem prejuízo para a
Administração, mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas), VII (quando as propostas
apresentadas consignarem preços manifestamente superiores aos praticados no mercado nacional, ou forem
incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais competentes, casos em que, observado o parágrafo único do
art. 48 desta Lei e, persistindo a situação, será admitida a adjudicação direta dos bens ou serviços, por valor não
superior ao constante do registro de preços, ou dos serviços), VIII ( para a aquisição, por pessoa jurídica de
direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a
Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta Lei,
desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado), XI (na contratação de remanescente
de obra, serviço ou fornecimento, em consequência de rescisão contratual, desde que atendida a ordem de
classificação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive
quanto ao preço, devidamente corrigido), XIV (para a aquisição de bens ou serviços nos termos de acordo
internacional específico aprovado pelo Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem
manifestamente vantajosas para o Poder Público), XXIII (na contratação realizada por empresa pública ou
sociedade de economia mista com suas subsidiárias e controladas, para a aquisição ou alienação de bens,
prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado) e
XXVI (na celebração de contrato de programa com ente da Federação ou com entidade de sua administração
indireta, para a prestação de serviços públicos de forma associada nos termos do autorizado em contrato de
consórcio público ou em convênio de cooperação), da Lei 8.666/93.
Como se vê, em todas as hipóteses elencadas inexiste potencialidade de benefício em decorrência da
licitação.

GRUPO TEMÁTICO II

Direito Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro

1. O senhor é promotor da comarca de Perdizes, e de repente o senhor como “clínico geral” (promotor
que faz tudo), chega uma denúncia (no sentido atécnico, na verdade notícia crime) de que um
comerciante faz vendas sem nota fiscal. O senhor instaura um procedimento e a defesa do comerciante é
de que os clientes não exigem/não pedem a nota fiscal. O mero ato de não fornecer (ele não se recusa) se
enquadra no tipo?
O delito do art. 1º, inciso V, da Lei n. 8.137/90 é formal e prescinde do processo administrativo-fiscal para
o desencadeamento da persecução penal, não se sujeitando aos termos da súmula vinculante n. 24 do STF.
A súmula vinculante 24, faz menção expressa aos incisos I a IV do art. 1º da Lei 8.137/90. Com efeito, na
hipótese do inciso V, o agente efetua vendas ou presta serviços e não emite as notas fiscais correspondentes, a
fim de que a receita dessas transações comerciais não seja escriturada e, em decorrência, gere um valor menor
de tributos a pagar.
O fato de as condutas típicas consistirem em reduzir e suprimir tributo (e não em simplesmente deixar de
emitir ou emitir irregularmente nota fiscal) nos indica que o delito se caracteriza pela ocorrência de resultado
naturalístico – prejuízo ao fisco –, o que nos levaria à conclusão de que se trata de crime material. E, com efeito,
é difícil imaginar como se daria a supressão ou a redução de tributo sem a ocorrência de dano.
Convencionou-se, todavia, que, ao contrário das demais figuras do mesmo artigo, esta tem natureza
formal, ou seja, caracteriza-se pelo simples ato de não emitir a nota fiscal. Aqui não importa a apuração
administrativa sobre se o tributo é devido, razão pela qual não há espaço para se exigir a constituição definitiva.
Desta forma, no caso apresentado, é possível a imediata deflagração da ação penal. Além disso, o prazo
prescricional começa a correr no momento da conduta, ao contrário das demais figuras do art. 1º, cuja tipicidade
é diferida.

2. Existe alguma previsão no CDC que preveja que a pena restritiva de direitos não é substitutiva da pena
privativa de liberdade. É possível o julgador aplicar uma pena privativa de liberdade e também uma pena
restritiva de direitos? E qual seria essa pena restritiva de direitos que poderia ser aplicada
cumulativamente?
O art. 78 do CDC indica que as penas restritivas de direitos que prevê podem ser aplicadas cumulativa
ou alternativamente às penas privativa de liberdade e de multa. Desse modo, é possível que o julgador aplique
uma pena privativa de liberdade cumulada com uma ou mais das seguintes penas restritivas de direitos: a) a
interdição temporária de direitos; b) a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência,
às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação; e c) a prestação de serviços à
comunidade. Menciona-se que para a aplicação das penas restritivas de forma cumulada, o julgador deve
observar o disposto nos artigos 44 a 47 do Código Penal.

3. O crime de associação criminosa é material ou formal? De perigo concreto ou abstrato? Por quê?
Quando é que se consuma esse crime? É possível a tentativa nesse crime?
O crime de associação criminosa é de natureza formal, ou seja, não exige resultado naturalístico. Assim,
referido delito se consuma no momento em que ocorre a integração do terceiro elemento ao grupo, não havendo
a necessidade de ser praticado qualquer crime em virtude do qual a associação foi formada.
Trata-se de delito de perigo abstrato, bastando a sua consumação – o momento associativo – para
apresentar um perigo suficientemente grave e alarmar o público ou conturbar a paz ou tranquilidade de ânimo da
convivência civil.
A tentativa não é possível em razão da necessária estabilidade e permanência da associação. Assim,
presentes a referida estabilidade e permanência, o crime estará consumado.

4. Em relação aos efeitos da condenação. Quais são os efeitos genéricos da condenação? Em relação à
perda dos produtos e proveitos, é possível que o condenado venha a perder bens lícitos por conta da
condenação? O CP não prevê isso não?
O artigo 91 do Código Penal prevê que são efeitos genéricos da condenação: a) tornar certa a obrigação
de indenizar o dano causado pelo crime; e b) a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de
terceiro de boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte
ou detenção constitua fato ilícito, e do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito
auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.
Pode ocorrer a hipótese em que o agente tenha se desfeito ou mesmo escondido o produto ou proveito
do crime. Nesses casos, mesmo não sendo encontrados, o julgador pode aplicar o disposto no §1º do artigo 91
do Código Penal e decretar a perda de bens e valores lícitos que são equivalentes ao produto ou proveito do
crime, impedindo, assim, que o condenado continue auferindo lucro derivado de seu comportamento criminoso.

Direito Processual Penal


Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Procedimento comum ordinário e sumário

1. Em uma visão sistêmica da ideia dos procedimentos, qual seria a crítica objetada ao critério normativo
brasileiro de fixação de procedimento pela quantidade de pena?
Nos termos do artigo 394 do Código de Processo Penal, o procedimento poderá ser comum ou especial.
O procedimento comum, por sua vez, divide-se em ordinário, sumário ou sumaríssimo, sendo o único critério de
distinção entre eles a quantidade de pena máxima abstratamente cominada ao delito.
No entanto, este critério objetivo para fixação do procedimento é criticado por parcela da doutrina, pois ao
prever o procedimento sumário condicionou-o apenas aos crimes cuja pena máxima seja inferior a 4 (quatro)
anos, sem fazer qualquer menção aos crimes considerados complexos.
Com efeito, não se pode cogitar que todos os crimes com pena inferior a 4 anos sejam de simples
resolução, pois alguns deles podem apresentar, por exemplo, um número considerável de acusados e uma
produção probatória trabalhosa, o que se torna, de certa maneira, incompatível com o reduzido número de
testemunhas, a concentração de atos em audiência e a impossibilidade de apresentação de alegações finais
escritas.

2. Sobre as reformas de 2008, acerca do momento adequado de recebimento da denúncia, temos 3


fundamentos doutrinários. Gostaria que o senhor externasse os fundamentos e explicitasse o seu
entendimento.
Com a entrada em vigor da Lei 11.719/08, surgiu certa polêmica quanto ao momento do juízo de
admissibilidade da peça acusatória. Isso porque o CPP passou a se referir ao recebimento da denúncia ou da
queixa crime em dois momentos distintos: art. 396, que prevê o recebimento da exordial imputatória logo que
apresentada, com posterior citação do réu para apresentar defesa escrita; e art. 399, que prevê o recebimento
após a apresentação de defesa preliminar pelo acusado. Diante do disposto nos referidos artigos, a doutrina
passou a divergir acerca do correto momento para a admissão da denúncia ou queixa, surgindo, ainda, uma
terceira corrente no sentido de que o recebimento dar-se-ia antes da citação do réu, sem prejuízo de nova
avaliação após a apresentação da defesa, oportunidade em que o julgador, diante dos fundamentos externados
pelo acusado, poderia ratificar o recebimento ou mesmo rejeitar a peça acusatória antes recebida.

3. É possível o magistrado modificar a imputação da exordial na nova fase chamada de absolvição


sumária, no procedimento comum ordinário? Qual o fundamento?
Embora não se trate de matéria pacífica, considerável parcela da doutrina admite a possibilidade de
aplicação do instituto da mutatio libelli na fase chamada de absolvição sumária, ou seja, logo após a
apresentação de defesa escrita pelo réu (art. 397 do CPP). Com efeito, os defensores desse entendimento
afirmam que, assim procedendo, o juiz poderá verificar, desde logo, eventual modificação de competência, como
por exemplo, a do Juizado Especial Criminal, a possibilidade de aplicação de medidas despenalizadoras
(transação penal ou suspensão condicional do processo) e poderá garantir o pleno exercício dos direitos
constitucionais de ampla defesa e contraditório ao acusado, em seus aspectos formal e substancial.

4. Diferencie a decisão interlocutória simples, decisão interlocutória mista, decisão com força definitiva e
sentença.
a) Decisão interlocutória simples é aquela que resolve questões processuais controvertidas no curso da
ação penal, sem acarretar a sua extinção. Resolvem incidentes processuais ou questões atinentes à regularidade
formal do processo, sem extinguir o procedimento ou uma de suas etapas. Ex: rejeita exceção de coisa julgada.
b) Decisão interlocutória mista é aquela que extingue o processo, sem julgamento de mérito, a que
determina o fim de uma etapa do procedimento, tangenciando o mérito do direito de punir, ou a que resolvem
procedimentos incidentais de maneira definitiva. Subdivide-se em:
b.1) Decisão interlocutória mista terminativa (ou decisão com força de definitiva): aquela que extingue o
processo, sem julgamento do mérito, bem como aquelas que resolvem um procedimento incidental de maneira
definitiva, sem possibilidade de reexame no mesmo grau. Ex. rejeição da denúncia e impronúncia.
b.2) Decisão interlocutória mista não terminativa: aquela que põe fim a uma etapa do procedimento,
tangenciando o mérito, porém sem causar a extinção do processo. Ex. pronúncia.
c) Sentença: aquela que julga o mérito, acarretando a extinção do processo ou do procedimento por meio
de julgamento de procedência ou improcedência do pedido de condenação do acusado.
GRUPO TEMÁTICO III

Direito Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus

1. O senhor poderia citar o que que entende por alimentos gravídicos? Eles se destinam juridicamente a
quem? (o examinador disse que são apenas percebidos pela gestante, mas em benefício do nascituro)
Esses alimentos visam proteger o que? Para o deferimento desses alimentos, de que o juiz precisa?
Alimentos gravídicos são aqueles destinados à mulher gestante para custear as despesas da gestação,
desde a concepção ao parto, inclusive as referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica,
exames complementares, internações, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas
indispensáveis, a juízo do médico, além de outras a que o juiz considere pertinentes. Juridicamente eles se
destinam à gestante, conforme disposto no art. 1º da Lei 11.804/08.
Os alimentos gravídicos visam garantir uma gestação saudável, mas que, de verta foram, também
privilegiam a proteção ao nascituro e a paternidade responsável.
Para deferimento dos alimentos gravídicos bastam indícios da paternidade, não precisando existir casamento,
união estável ou sequer um relacionamento duradouro entre as partes.

2. Os alimentos em nível colateral vão até que grau, então sobrinhos não teriam direito?
Conforme entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), os alimentos em nível
colateral vão até o segundo grau, com fundamento no art. 1.697 do Código Civil. Desse modo, os sobrinhos,
parentes colaterais de 3º grau, não teriam direito de pleitear alimentos dos tios.

3. Qual a causa jurídica para a implementação de alimentos advindos do poder familiar? (seria na verdade
o dever de sustento)
A causa jurídica para a implementação de alimentos advindos do poder familiar é o dever de sustento. O
dever de sustento recai somente sobre os pais (CC, art. 1.566, IV), pois, como já dito, tem sua causa no poder
familiar, não se estendendo aos outros ascendentes.

4. Diferencie alimentos provisórios, provisionais e definitivos.


Alimentos provisórios são os arbitrados liminarmente pelo juiz, sem ouvir o réu, no despacho inicial da
ação de alimentos (Lei 5.478/68). Só é possível quando houver prova pré-constituída do parentesco, casamento
ou união estável.
Já os alimentos provisionais são arbitrados por meio do deferimento de tutela provisória de urgência em
ação de separação judicial, divórcio, nulidade ou anulabilidade de casamento ou de alimentos, dependendo da
comprovação dos requisitos probabilidade do direito e do perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Os provisionais destinam-se a manter o suplicante e a prole durante a tramitação da lide principal.
Por fim, os alimentos definitivos são aqueles fixados por sentença ou por acordo entre as partes, após a
sua homologação.

5. A maioridade, por si, faz cessar obrigação alimentar fundada no dever de sustento? (o examinador já
disse desde antes da resposta que o dever de sustento continua na maioridade) Nessa súmula que o
senhor se refere não é possível a discussão nos próprios autos?
O STJ já proclamou que o advento da maioridade extingue o poder familiar, mas não revoga,
automaticamente, o dever de prestar alimentos, que passam a ser devidos por efeito da relação de parentesco.
Neste sentido temos o teor da Súmula nº 358: “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a
maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos”.

Direito Processual Civil


Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Nulidades no processo civil

1. Qual o principal princípio em que a nulidade se assenta? O candidato respondeu e o examinador disse
que não havia pensado naquele, e pediu outro (o examinador queria instrumentalidade)
No processo civil, a nulidade se assenta no princípio da instrumentalidade das formas, insculpido nos
artigos 188 e 277 do CPC/15, segundo o qual o ato processual, ainda que seja praticado de modo diverso
daquele predeterminado pela lei, será convalidado pelo juiz caso atinja sua finalidade essencial e não cause
prejuízo as partes.
Importante registrar, ainda, que o NCPC encampou as normas fundamentais da primazia do julgamento
do mérito e do máximo aproveitamento processual, que estão intimamente ligadas à instrumentalidade das
formas.

2. A nulidade do Art. 246 em face da não participação do MP se dá apenas pela não participação? No caso
não é preciso auferir se houve de fato prejuízo à parte que o MP deveria assistir?
(Obs.: Embora o questionamento trate do art. 246 do CPC, o contexto da pergunta demonstra que o
correto seria o art. 279).
A nulidade prevista no artigo 279 do CPC não se justifica pelo simples fato de ausência de intervenção
ministerial, pois aqui também se aplica o princípio da instrumentalidade das formas. Desse modo, somente após a
manifestação do Ministério Público sobre a existência ou a inexistência de prejuízo é que o juiz estará autorizado
a apreciar a nulidade.

3. O que é “venire contra factum proprium”? Concatene, por favor, com a nulidade.
O venire contra factum proprium consiste na proibição dos comportamentos contraditórios, ou seja, na
vedação de que uma parte adote um comportamento diverso daquele adotado anteriormente, em verdadeira
surpresa à outra parte.
Trata-se de um princípio cada vez mais enraizado em nosso ordenamento jurídico e, atualmente, tem
uma aplicação quase que pacífica nos tribunais, notadamente ao se considerar que está relacionado com o
princípio da segurança jurídica e é classificado como uma das variantes da boa-fé objetiva.
Ademais, pode-se afirmar que aquele que se comporta de modo contraditório, não pode alegar eventual
nulidade do ato decorrente de seu comportamento, aplicando-se, in casu, o disposto no artigo 276 do NCPC
(“Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida
pela parte que lhe deu causa”), que traz a ideia de que a parte que deu causa à nulidade não poderá alegá-la.
Assim, não se admite que as regras processuais favoreçam quem agiu com torpeza ou desatenção, em
desrespeito aos princípios da boa-fé e lealdade processual.

4. O que é invalidade processual?


A invalidade do ato processual ocorre quando o ato processualmente defeituoso não pode ser
aproveitado. No entanto, o ato defeituoso produz seus efeitos até que sua invalidade seja decretada pelo juiz, de
ofício (apenas no caso de nulidade absoluta) ou por provocação das partes.
Para que o ato seja considerado inválido, este deve concomitantemente ser defeituoso (eivado de uma
nulidade) e resultar prejuízo. Entende-se por prejuízo a capacidade do defeito de impedir que a finalidade do ato
seja atingida, tradicionalmente denominado na doutrina como o princípio da “pas de nullité sans grief”, isto é,
princípio de que “não há nulidade processual sem prejuízo."

5. O que é uma invalidade decorrente?


Em regra, os atos processuais praticados antes da decretação da invalidade de determinado ato não são
afetados. Por outro lado, com base na “invalidade decorrente” ou “invalidade derivada”, todos os atos
subsequentes que dependam do ato invalidado também serão anulados, salvo se a nulidade de uma parte do ato
não prejudicar as outras que dela sejam independentes, conforme previsto no artigo 281, que consagra o
princípio da causalidade (também denominado efeito expansivo da nulidade por alguns doutrinadores) e a
interdependência dos atos processuais.

6. Diferencie ato inexistente, nulo, absolutamente nulo e anulável.


Ato inexistente é aquele que não reúne os elementos necessários à sua formação. Ele não produz
qualquer consequência jurídica, como, por exemplo, a sentença judicial não assinada pelo juiz. A inexistência do
ato não se convalida jamais, podendo ser reconhecia na constância da demanda e após o seu encerramento,
independentemente de prazo, por meio de mera ação declaratória de inexistência de ato jurídico.
Ato nulo (nulidade absoluta) é o ato que, embora reúna os elementos necessários à sua existência, é
praticado com violação da lei, dos bons costumes ou com inobservância da forma legal ligadas a matérias de
ordem pública (que ultrapassa o simples interesse das partes). O ato nulo precisa de decisão judicial para a
retirada da sua eficácia (de ofício ou a requerimento das partes a qualquer tempo, até o trânsito em julgado da
sentença proferida no processo) e, conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial prevalente, pode ser
saneado. A nulidade absoluta se convalida com o trânsito em julgado, que é considerado como sanatória geral
das nulidades, transformando-se após este momento em vício de rescindibilidade, passível a ajuizamento de
ação rescisória.
Ato absolutamente nulo é aquele que, além ofender matérias de ordem pública, não é passível de
convalidação, nem mesmo com o trânsito em julgado da sentença, como, por exemplo, a citação nula, que pode
ser arguida mesmo após o trânsito em julgado de eventual sentença ou decurso do prazo de 2 anos para o
ajuizamento de ação rescisória, por meio de ação de querella nulitatis, haja vista tratar-se de vício transrescisório.
Ato anulável (ou ato relativamente nulo) é o que tem defeito de menor gravidade, emana de ofensa a
uma norma dispositiva, isto é, se origina da afronta a uma norma que tutela um interesse disponível da parte. Tal
nulidade depende de arguição da parte interessada na primeira oportunidade que tiver para se manifestar no
processo, não sendo possível a sua decretação de ofício.

7. Quais os efeitos da decretação da nulidade? Se por ventura for decretada a nulidade da citação e já
tiver havido oitiva de testemunhas, essa oitiva será nula?
Ao decretar uma nulidade, o juiz deve declarar quais os atos foram atingidos por sua decisão e ordenará
as providências para que o vício reconhecido seja sanado. Desse modo, o ato declarado nulo não surtirá qualquer
efeito no processo, podendo, diante de sua imprescindibilidade, ser repetido sem o vício que o inquinava
(saneamento) ou, se possível, ratificado pelas partes.
Na hipótese apresentada, a nulidade de citação seria inerente (originária), enquanto a oitiva de
testemunhas seria caso de nulidade decorrente. Assim, em regra, a nulidade de citação enseja a nulidade de
todos os atos posteriores. No entanto, no caso em apreço, a oitiva de testemunhas poderá não ser considerada
nula, desde que o demandado tenha participado efetivamente da produção da prova oral, em homenagem aos
constitucionais princípios do contraditório e ampla defesa, e, após a sua citação válida, ratifique sua peça
contestatória e os atos da fase instrutória.
Ademais, o artigo 282, §§ 1º e 2º, do CPC, prevê que “o ato não será repetido nem sua falta será suprida
quando não prejudicar a parte” e “quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação
da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta”.

8. Na sua opinião, a não observância da citação do advogado da parte que requereu que fosse
expressamente feita em seu nome, pode acarretar nulidade?
(Obs: não consegui extrair uma resposta para esse questionamento nas doutrinas que tenho acesso.
Também não localizei nenhuma referência na jurisprudência. Portanto, consignei a minha opinião pessoal,
conforme solicitado pelo examinador).
A citação pode ser realizada de forma direta ou indireta. Nos termos do artigo 242 do CPC, a regra é de
que a citação seja direta, ou seja, feita na pessoa do réu ou de seu representante legal. Assim, a citação indireta
é exceção, podendo ocorrer, por exemplo, nas hipóteses em que constituído procurador com poderes específicos,
em que o citando resida em condomínio edilício com controle de acesso e em que o locador se ausente do Brasil
sem cientificar o locatário de que deixou, na localidade onde estiver situado o imóvel, procurador com poderes
para receber citação.
Desse modo, sendo a citação direta a regra, entendo não ser possível o reconhecimento da nulidade pela
inobservância da citação do advogado da parte que requereu expressamente que o citatório fosse realizado na
pessoa de seu procurador, haja vista que, sendo a citação indireta a exceção, não pode excluir a regra geral.
Ademais, com fundamento no princípio da instrumentalidade das formas, tem-se que a citação pessoal do
requerido, além de conferir segurança jurídica à integração da lide, uma vez que se trata de pressuposto
processual de eficácia, não lhe trará qualquer prejuízo, bastando simples contato com seu procurador.

9. A inobservância do rito pode gerar nulidade? Ex. se o autor deveria ter proposto no rito sumário e
propôs no ordinário, pode haver nulidade. O candidato começou a responder sobre o caso específico e o
examinador pediu que invertesse então, tinha que ser ordinário e propôs no sumário.
Ab initio, imperioso registrar que o Código de Processo Civil de 2015 suprimiu os procedimentos ordinário
e sumário, passando a prever um único procedimento comum. Ocorre, entretanto, que, nos termos do artigo
1.046, §1º do NCPC, os processos ajuizados antes de sua vigência sob o rito sumário continuarão a tramitar por
esse rito até a sua extinção, aplicando-se a eles as normas do CPC/1973.
Assim, caso o processo tenha sido manejado sob o rito sumário, na hipótese de cabimento do rito
ordinário, o juiz, por se tratar de matéria de ordem pública, podia reconhecer a nulidade por inobservância do rito.
No entanto, em três hipóteses específicas, o magistrado podia converter de ofício o rito sumário em ordinário,
quais sejam: a) o valor da causa é superior a 60 salários mínimos; b) ações de estado ou capacidade da pessoa;
e c) prova pericial complexa.
Destaca-se ainda que, consoante entendimento pacífico no STJ, a respeito do tema no CPC/1973, não
se deve decretar nulidade se o autor adotou o procedimento ordinário em vez do sumário, uma vez que no
procedimento ordinário a dilação probatória é mais ampla, sendo garantido de forma evidente e exauriente o
direito de exercício da ampla defesa do interesse.
GRUPO TEMÁTICO IV
Direito Material Coletivo
Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Violência doméstica e familiar contra a mulher

1. Num plano mais abstrato, o que é o patriarcalismo e como ele se manifesta no direito? O senhor
colocou como um fenômeno, qual seria a natureza: é cultural, sociológico?
Patriarcalismo consiste em autoridade imposta institucionalmente ao homem sobre as mulheres e filhos,
no ambiente familiar, traduzindo-se em um sistema de dominação-exploração que se espraia para a organização
da sociedade, ao mercado de trabalho, à política, legislação e cultura. O patriarcado, pois, é um modo de
organização social (fenômeno sociológico) ou de dominação e opressão contra a mulher (fenômeno cultural),
baseado na sua capacidade reprodutiva e aspectos fisiológicos, que gera um nefasto desequilíbrio social com
base no gênero.

2. O senhor poderia citar algumas ações afirmativas contra o patriarcalismo?


Podem ser citados como exemplos de ações afirmativas contra o patriarcalismo a lei de cotas políticas
(artigo 10, §3º, da Lei de Eleições), que prevê que cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta
por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo, bem como a Lei Maria da
Penha (Lei nº 11.340/06), que constitui um critério de equiparação desigual igualitário e representa uma das
medidas apresentadas pelo Estado para permitir que ocorra o aceleramento da igualdade de fato entre o homem
e a mulher, circunscrita aos casos de violência doméstica e familiar.

3. Especificamente sobre a lei Maria da Penha, qual é o campo de aplicação dessa lei?
Após um período de divergência acerca da natureza das medidas protetivas previstas na Lei Maria da
Penha, o STJ fixou de que estas são tutelas de urgência autônomas, de natureza cível e de caráter satisfativo e
devem permanecer enquanto forem necessárias para garantir a integridade física, psicológica, moral, sexual e
patrimonial da vítima, portanto, estão desvinculadas de inquéritos policiais e de eventuais processos cíveis ou
criminais. Elas visam proteger pessoas e não processos e se assemelham aos writs constitucionais, como o
mandado de segurança e o habeas corpus.
Por outro lado, a Lei Maria da Penha também traz disposições especiais de natureza processual penal,
como, por exemplo, a exigência de que eventual retratação ao direito de representação nas ações penais
públicas condicionadas se dê perante o juiz. Além disso, não se pode deixar de registrar que a Lei nº 13.641/18
inseriu na lei o artigo 24-A, que prevê pena privativa de liberdade em virtude do descumprimento de decisão que
defere medidas protetivas de urgência. Assim, é possível afirmar que a Lei Maria da Penha tem campo de
aplicação nas esferas cível, nos âmbitos individual e coletivo, e criminal.

4. Quais são os instrumentos coletivos utilizados para a defesa da mulher? Especificamente na lei Maria
da penha existe uma previsão.
A Lei Maria da Penha prevê em seu artigo 37 a possibilidade de a defesa dos interesses e direitos
transindividuais das mulheres ser exercida, concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação de
atuação na área, regularmente constituída há pelo menos um ano, nos termos da legislação civil. Ademais,
também dispõe acerca de o requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que
não há outra entidade com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda coletiva.
Assim, considerando que a Lei Maria da Penha é um dos diplomas legais que integram o microssistema
de tutela coletiva, é possível o manejo de qualquer um dos instrumentos coletivos para a defesa das mulheres, na
hipótese de violação de seus direitos, como, por exemplo, o ajuizamento de ação civil pública, ação popular,
mandado de segurança coletiva, ...

5. Não tem resposta certa ou errada. Sendo promotor em uma cidade pequena, com uma cultura bastante
patriarcal e o senhor tem notícia de muitos casos de violência contra a mulher. Qual seria a sua estratégia
para poder enfrentar esse problema, do ponto de vista coletivo?
(Obs.: por se tratar de um questionamento subjetivo, consignei meu entendimento pessoal).
Na situação hipotética apresentada, diante da cultura patriarcal arraigada e do elevado número de casos de
violência contra mulheres, seria viável a instauração de um PROPS (procedimento para a instauração, promoção
e implementação de projetos sociais), regulamentado no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas pela
Resolução Conjunta PGJ CGMP nº 2, de 11 de julho de 2013, por meio do qual seria estruturado um Projeto
Social para desenvolver um conjunto integrado de atividades e articulação interinstitucional junto aos demais
órgãos públicos (Polícias Civil e Militar, Poder Judiciário, Defensoria Pública, Secretarias Municipais de Educação,
de Desenvolvimento Social, de Saúde e de Direitos Humanos), às entidades de proteção às mulheres e à família
(associações, fundações, pastorais sociais, ...) e à sociedade civil, para o cumprimento de ações e metas
específicas.
Assim, considerando que o Promotor de Justiça deve atuar como um transformador social, o Projeto
Social contemplaria: a) palestras na rede de ensino, objetivando a conscientização dos estudantes, em virtude da
personalidade ainda em formação e da possibilidade de disseminação das informações no âmbito dos grupos
familiares; b) campanhas educativas e de conscientização social por meio de mensagens no rádio e material
impresso com informações acessíveis e relevantes; c) cursos educativos e de conscientização destinado aos
autores e vítimas de crimes contra a mulher; d) estruturação da Delegacia da Mulher; e) estruturação da rede de
atendimento municipal para o acompanhamento psicossocial das vítimas, para promoção pessoal, familiar e
social; e f) outras ações afirmativas que se fizerem necessárias.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Carlos Alberto Valera
Microssistema de tutela coletiva e o recurso de ofício nas ACPs.

1. O microssistema de tutela coletiva existe? Se existe, no que consiste? De qual principio ele decorre?
(princípio da comunicação das fontes/diálogo das fontes) Qual ou quais diplomas legais o compõem?
Consoante o escólio de Gregório Assagra de Almeida, a Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor), ao inserir o artigo 21 na Lei de Ação Civil Pública, criou um microssistema de tutela jurisdicional
coletiva, o qual decorre da completa interação entre a parte processual do CDC (arts. 81 a 104) e a LACP.
Essa integração estabelece um microssistema processual coletivo, que tem por base o Título III do CDC
(“Da defesa do consumidor em juízo”) e, com fundamento no princípio da comunicação das fontes ou do diálogo
das fontes, é aplicável, no que for compatível, às normas que o compõem, quais sejam, a lei de ação civil pública,
a lei de ação popular, a lei de improbidade administrativa, a lei que disciplina o mandado de segurança coletivo, a
lei que trata do mandado de injunção coletivo, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso e
outras normas aptas a tutelar os interesses transindividuais.
2. Considerando a sua resposta de que existe o microssistema, de que forma as suas normas se aplicam?
De que forma eu aplico essas normas?
Como o microssistema é integrado por todos os diplomas legais que tratam dos direitos coletivos
materiais, suas regras processuais se interpenetram e se subsidiam. Desse modo, pensando na aplicabilidade e
operabilidade dessas normas, Fredie Didier Júnior e Hermes Zaneti Júnior indicam as seguintes diretrizes: a)
aplicar as normas do diploma específico (ex. procedimento especial da Lei de Improbidade Administrativa); b)
caso a norma específica não seja suficiente ou satisfatória, aplicar as normas do microssistema processual
coletivo, especialmente as disposições do CDC e LACP; c) e, em último caso, aplicar as normas processuais dos
demais diplomas legais que integram o microssistema.

3. As normas do microssistema também são subsidiárias? (o candidato havia dito que o código é
subsidiário). O senhor conhece a expressão superdireito processual coletivo? A aplicação do código civil
é subsidiária por quê? Como se aplica o CC ao microssistema?
As normas do microssistema não são subsidiárias, é sim integradas, conforme se depreende do art. 90
do CDC e do art. 21 da LACP. Segundo Gregório Assagra de Almeida, essa integração, composta por normas de
envio, forma um microssistema de tutela jurisdicional coletiva comum composto por normas de superdireito
processual coletivo, regras gerais do sistema jurídico coletivo brasileiro.
Por outro lado, por possuir normas voltadas para a resolução de conflitos interindividuais, a sua
aplicabilidade ao microssistema de tutela jurisdicional coletiva é subsidiária e limitada, dependendo de dupla
compatibilidade: formal e teleológica. Formal, no sentido de que somente tem aplicabilidade na hipótese de
inexistência de normas específicas no microssistema. Teleológica, no sentido de que somente tem aplicabilidade
se não colocar em risco ou impedir a proteção dos interesses e direitos coletivos em sentido amplo.

4. Uma ACP por dano ambiental, proposta pelo MPMG, teve os pedidos iniciais julgados improcedentes
por falta de nexo de causalidade. O MP não recorreu. Um terceiro interessado, após findo o prazo do
MPMG, atravessou petição recorrendo. O magistrado não aceitou o recurso, mas de ofício recorreu contra
a decisão. O terceiro interessado pode atravessar recurso? O magistrado agiu corretamente? E a questão
da legitimidade? É uma ACP ambiental.
Na hipótese apresentada, por se tratar de causa que versa sobre direitos difusos (proteção ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado), o terceiro interessado não pode recorrer da sentença de improcedência,
em razão da ausência de legitimidade, já que não é um dos legitimados para a tutela coletiva, e da absoluta falta
de interesse, uma vez que a coisa julgada coletiva só é transportada para a esfera particular in utilibus, ou seja, a
improcedência não prejudica o indivíduo, que poderá ajuizar ação própria, mas a procedência o beneficia. Desse
modo, a improcedência da ação não impede, pois, que o terceiro interessado maneje, por exemplo, uma ação
popular relativa ao fato em tela.
Registra-se, ainda, que a situação hipotética apresentada não configura, em tese, abandono da ação
pelo Ministério Público, e sim conformação com a prova que ensejou o reconhecimento de ausência de nexo de
causalidade, restando obstada, inclusive, a assunção de um colegitimado ao polo ativo.
Ademais, in casu, o magistrado agiu corretamente ao determinar a remessa necessária, uma vez que o
STJ pacificou seu entendimento no sentido de que é cabível a aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da
Lei nº 4.717/65 (Lei de Ação Popular) às sentenças de improcedência de ação civil pública. No entanto, cumpre
destacar que, conforme o Tribunal da Cidadania, o reexame necessário não se aplica às ações civis públicas que
versem sobre direitos individuais homogêneos.
Dia 15 – Ponto 13 – Rômulo Pereira

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinadora: Dra. Elaine Parisi
CPI, Processo Penal Eleitoral

1. Quais são os poderes da CPI?


A CF atribui poderes de “investigação” (instrução) próprios das autoridades judiciais às Comissões
Parlamentares de Inquérito, mas não lhes estende os poderes de julgamento.
Tanto assim que as conclusões da CPI devem ser “encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil e criminal dos infratores”. Cabe, assim, ao Ministério Público formular acusações
penais em virtude de fatos dados a conhecer no curso da CPI e ajuizar ações civis públicas ou ações de
improbidade.
(…) Enfatiza-se que, qualquer que seja o resultado de suas investigações, as CPIs não podem anular
atos do Executivo. Tal tarefa é cometida ao Judiciário, por provocação, sobretudo, do Ministério Público, sem que,
obviamente, essa atribuição do Parquet obste o uso da ação popular por qualquer cidadão (...).
CPI não pode determinar a prática de atos com reserva de jurisdição. Mesmo uma busca e apreensão
irregular pode ser controlado por meio de pronunciamento judicial.
A CPI não tem poder geral de cautela. Os poderes são os seguintes: 1º poder: notificar testemunhas e
determinar sua condução coercitiva; 2º poder: prender em flagrante (tem poder de polícia, mas não pode expedir
mandado de prisão); 3º poder: requisitar perícias, exames, vistorias, documentos (poder de requisição); 4º poder:
afastar sigilo bancário, fiscal e telefônico (dados), sem necessidade de autorização judicial.
CPI municipal não pode afastar os sigilos. A CPI tem poder instrutório do juiz correspondente, e como no
município não existe poder judiciário, a CPI não tem esse poder.

2. No momento de sua criação, a quais requisitos a CPI deve atender?


Os requisitos são os seguintes:
1º requisito: requerimento de 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou senadores; STF: o
requerimento de 1/3 é o requisito exigido no momento da instauração da CPI, não dependendo de ratificação.
Conseguindo o 1/3 das assinaturas, ela prossegue até o final, ou seja, os parlamentares não poderão desistir
depois de assinar o documento.
2º requisito: fato determinado;
3º requisito: prazo certo de duração; O prazo da CPI pode ser prorrogado, mas somente dentro da
mesma legislatura.
4º requisito: representação proporcional dos partidos E blocos.

Segundo decisões do STF, as CE´s não podem prever requisitos que dificultem em demasia sua criação.
Tratando-se de típico direito público subjetivo das minorias parlamentares, não se admite, por exemplo, que sua
criação esteja vinculada a uma decisão do plenário da Assembleia Legislativa. Somente a CF pode estabelecer
requisitos, sendo estes normas de reprodução obrigatória nos estados.
Obs: (…) o Supremo Tribunal Federal entendeu ser possível que os regimentos internos das Casas
Legislativas fixem certo número máximo de CPIs simultâneas, por caber ao regimento disciplinar o funcionamento
da Casa parlamentar (…) - este seria um limite legítimo.

3. Uma CPI pode convocar promotor de justiça para depor a respeito de inquérito civil por ele promovido?
Membro do MP pode ser ouvido em CPI, inclusive incidindo o prévio ajuste de data/hora quando ouvido
como testemunha. No entanto não está obrigado a responder perguntas a respeito de suas manifestações no
exercício funcional. Ex: Não precisa explicar porque denunciou ou não denunciou determinada pessoa, pois atuou
no exercício de suas atribuições constitucionais.
Com o juiz ocorre a mesma coisa: não é obrigado a justificar seu exercício funcional.

4. A CPI pode determinar busca e apreensão domiciliar? E o que significa reserva de jurisdição?
Não. CPI não pode determinar a prática de atos com reserva de jurisdição. Mesmo uma busca e
apreensão irregular pode ser controlado por meio de pronunciamento judicial. O postulado de reserva
constitucional de jurisdição importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática de
determinados atos cuja realização, por efeito de explicita determinação constante do próprio texto da Carta
Política, somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a quem haja eventualmente
atribuído o exercício de poderes de investigação próprios das autoridades judiciais".
Através desse julgado conclui-se que o postulado da reserva tem como objetivo delimitar, principalmente,
os poderes instrutórios e de investigação das CPI's, significando que a CPI não poderá praticar os atos
propriamente jurisdicionais, que são atribuídos com exclusividade aos membros do Poder judiciário em respeito
ao princípio constitucional da reserva de jurisdição.

5. É possível no âmbito da CPI a quebra do sigilo bancário?


SIM, pois não se trata de garantia com “reserva de jurisdição”. Tem-se entendido que as CPIs podem
decretar a quebra do sigilo bancário de pessoas por ela investigadas. O STF adere ao pressuposto de que não há
direitos ou garantias de caráter absoluto; por isso, certas garantias, como a do sigilo bancário, em casos
concretos, cedem a valores constitucionais concorrentes.
Nessa mesma linha, o STF reconhece a prerrogativa de a CPI quebrar sigilo fiscal dos seus investigados,
bem assim o sigilo telefônico (apenas dos “dados”, NÃO se confundindo com a “interceptação”).
Tal poder de quebrar sigilo bancário não se restringe às CPIs abertas no Congresso Nacional; estende-se
também aos inquéritos legislativos instaurados nas Assembleias Legislativas estaduais, não sendo legítimo
que o Banco Central se recuse a fornecer-lhes os dados que lhe são requeridos. (prevalece que CPI municipal
não detém tais poderes - A CPI tem poder instrutório do juiz correspondente, e como no município não existe
poder judiciário, a CPI não teria esse poder, pois isto seria atribuir ao município uma competência que não lhe foi
dada pela constituição)

6. Os atos praticados pela CPI se sujeitam ao controle jurisdicional?


Sim. A Comissão está vinculada à Casa Legislativa em que surge, e os seus atos são imputáveis a essa mesma
Casa. Assim, uma CPI no âmbito do Congresso Nacional sujeita-se ao controle judicial, por meio de habeas
corpus ou de mandado de segurança, diretamente pelo STF. Consequentemente, na esfera estadual tal controle
se dá perante o TJ.
Direito eleitoral

7. “Os crimes eleitorais definidos no Código Eleitoral são julgados e processados unicamente pela justiça
eleitoral.” Essa justificativa está correta?
Não. Entende-se que o TSE não detém mais competência originária para processar e julgar crimes
eleitorais. O art. 22, I, “d” do CE não foi recepcionado pela CF. Trata-se de competência do STF para processar e
julgar, nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os membros de Tribunais Superiores,
incluindo os Ministros do TSE. Na mesma linha, será competência do STJ processar e julgar, nos crimes comuns
e nos de responsabilidade, os membros dos Tribunais Regionais Eleitorais. (entende-se que não foi recepcionado
pela CF). As demais autoridades que cometem infrações penais ou tem foro no STF (art. 102, b e c) ou no STJ
(art. 105, I, a). Para este efeito, a jurisprudência entende que os crimes eleitorais são infrações penais comuns
porque não são infrações políticas.

8. No exercício de suas funções, o senhor recebe um cidadão que afirma que o prefeito praticou dois
crimes, um comum e um eleitoral, como o senhor agiria? De quem é a atribuição para oferecer essas
denúncias?
Primeiramente, tem de se considerar o panorama atual. O foro por prerrogativa de função aplica-se
apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF.
Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.
De forma que, se não preenchidos estes requisitos, o Promotor Eleitoral promoveria a denúncia perante a
Justiça Eleitoral pelos dois delitos se houvesse conexão entre eles, com base no art. 35, II do CE – compete ao
juiz eleitoral processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada a
competência originária do Tribunal Superior e dos tribunais regionais; (Ac.-STF, de 27.3.2018, na Pet nº 7.319: a
existência de crimes conexos de competência da Justiça Comum não afasta a competência da Justiça Eleitoral
por força deste inciso e do art. 78, IV, do Código de Processo Penal). Se não houvesse conexão, cada um dos
delitos seria processado na esfera correspondente.
Tendo sido os crimes cometidos durante o exercício do cargo e em razão das funções desempenhadas,
havendo conexão entre eles, cabe ao TRE respectivo o julgamento de ambos os delitos. Essa é a interpretação
do Art. 29, X da CF e S. 702 do STF.

9. Se o mesário faltar no dia da eleição, sem justa causa, ele estará sujeito a sanções?

Art. 124. O membro da mesa receptora que não comparecer no local, em dia e hora
determinados para a realização de eleição, sem justa causa apresentada ao juiz eleitoral
até 30 (trinta) dias após, incorrerá na multa de 50% (cinqüenta por cento) a 1 (um)
salário-mínimo vigente na zona eleitoral cobrada mediante sêlo federal inutilizado no
requerimento em que fôr solicitado o arbitramento ou através de executivo fiscal.
§ 1º Se o arbitramento e pagamento da multa não fôr requerido pelo mesário
faltoso, a multa será arbitrada e cobrada na forma prevista no artigo 367.
§ 2º Se o faltoso fôr servidor público ou autárquico, a pena será de suspensão até
15 (quinze) dias.
§ 3º As penas previstas neste artigo serão aplicadas em dôbro se a mesa receptora
deixar de funcionar por culpa dos faltosos.
§ 4º Será também aplicada em dôbro observado o disposto nos §§ 1º e 2º, a pena
ao membro da mesa que abandonar os trabalhos no decurso da votação sem justa
causa apresentada ao juiz até 3 (três) dias após a ocorrência.

10. O suplente de deputado federal goza de foro por prerrogativa de função?

Não. STF. AP 665-MT:

SUPLENTE DE DEPUTADO FEDERAL. DIREITOS INERENTES À SUPLÊNCIA.


INEXTENSIBILIDADE, AO MERO SUPLENTE DE MEMBRO DO CONGRESSO NACIONAL,
DAS PRERROGATIVAS CONSTITUCIONAIS PERTINENTES AO TITULAR DO MANDATO
PARLAMENTAR. CONSEQÜENTE INAPLICABILIDADE, AO SUPLENTE DE DEPUTADO
FEDERAL/SENADOR DA REPÚBLICA, ENQUANTO OSTENTAR TAL CONDIÇÃO, DA
PRERROGATIVA DE FORO, PERANTE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NAS INFRAÇÕES
PENAIS. RECONHECIMENTO, NO CASO, DA FALTA DE COMPETÊNCIA PENAL ORIGINÁRIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, POR SE TRATAR DE MERO SUPLENTE DE
CONGRESSISTA. REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM.

Os suplentes de Deputado ou de Senador não gozam de imunidades, salvo quando convocados


legalmente e para integrar a Câmara para a qual foram eleitos. Nesta situação, desempenhando,
em sua plenitude, a função legislativa, entram a fruir de todos os direitos, vantagens e
prerrogativas dos demais companheiros da Câmara a que forem chamados. Aberta a vaga (...),
as imunidades passam a amparar os suplentes.”(HC 34.467/SE, Rel. Min. SAMPAIO COSTA,
Pleno.

11. Em matéria eleitoral admite-se ação penal privada subsidiária da pública?


No processo eleitoral a ação penal é sempre pública incondicionada, mesmo nos crimes contra a honra, nos
termos do art. 355 do CE.
Cabe, contudo, ação penal privada subsidiária da pública no caso de inércia do MP ( art. 5o, inc. LIX, da
CF/88 – fundamento constitucional) – se a inércia for dolosa, juiz poderá representar o membro perante o órgão
responsável.

12. No dia da realização de plebiscito pode haver transporte de eleitores (trata-se de crime no dia da
eleição)?
Sim. Primeiro porque a Lei 6091 se refere apenas à eleição, não mencionando plebiscito ou referendo.
Segundo, porque mesmo tal lei não veda em absoluto o transporte de eleitores - vide as exceções do art. 5º. Por
fim, o TSE entendeu no HC 70543 que o tipo do artigo 302 do Código Eleitoral não alcança o transporte de
cidadãos no dia da realização de plebiscito.

Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Intervenção do Estado no âmbito econômico e social

1. Quais são os princípios constitucionais da Ordem Econômica?


Soberania nacional. Propriedade privada. Função social da propriedade. Livre concorrência. Defesa
Consumidor. Meio ambiente. Redução desigualdades sociais. Busca pleno emprego. Tratamento favorecido
empresas pequeno porte.

2. Que tipo de propriedade é tutelada nesse artigo da Constituição? (que trata dos princípios da ordem
econômica)
Propriedade privada, urbana ou rural, que cumpre sua função social de acordo com os preceitos da
própria CF que tratam da política urbana e rural.

3. No que tange a infrações da ordem econômica, o que seria acordo de leniência? ( O examinador disse
que não há afastamento/remissão/exclusão da punição, há a suspensão da ação punitiva, a inspiração é a
mesma da delação premiada.)
Regulamentando pelo art. 86 da Lei 12529, a acordo de leniência pode ser definido como o ato
administrativo consensual por meio do qual a Administração processante concede isenções ou atenuações de
sanções administrativas imputáveis a determinado infrator em troca de uma efetiva colaboração processual,
consistente na apresentação de informações relevantes e provas diretas relacionadas à prática de ilícitos
administrativos, que permitam inferir, de forma substancial, a existência de elementos notórios de autoria e
materialidade.
A leniência desponta como um acordo administrativo firmado no curso do processo acusatório, tendo por
objeto a mais ampla apuração de ilícitos administrativos e o exercício eficaz da pretensão punitiva estatal,
especialmente nas situações de discrepância entre o poder investigativo da Administração e o imponente poder
econômico e fático de grandes corporações.

4. O estado detém atividades monopolistas? Quais, p.ex.?


Sim.
Art. 177. Constituem monopólio da União:
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos
fluidos;
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das
atividades previstas nos incisos anteriores;
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de
petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo
bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem;
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos
radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob
regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta
Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

5. Esse tipo de atividade monopolista pode ser tida como serviço público?

4 categorias de serviço público:


- o Estado tem a obrigação de promover, mas o Estado não pode ter monopólio; ex: rádio e tv
- o Estado tem a obrigação de prestar, mas que o particular também pode fazê-lo, mas não por transferência, e
sim por titularidade da própria Constituição. Ex: ensino e saúde
-o Estado tem obrigação de prestar, mas vai fazer de forma exclusiva. Serviços que não pode transferir.
Segurança pública, segurança nacional, correios
- o Estado tem obrigação de promover, mas sua prestação será de forma facultativa, de forma direta ou de forma
indireta. Transporte coletivo, telefonia

A previsão do art. 177 claramente trata de exploração estatal de atividade econômica fundamentada no
art. 173 da CF e não no art. 175, que trata dos serviços públicos. Entretanto, o serviço postal, de caráter exclusivo
da União, sim, tem caráter de serviço público.
O serviço postal – conjunto de atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto
postal, de um remetente para endereço final e determinado – não consubstancia atividade econômica em
sentido estrito. Serviço postal é serviço público. A atividade econômica em sentido amplo é gênero que
compreende duas espécies, o serviço público e a atividade econômica em sentido estrito. Monopólio é de
atividade econômica em sentido estrito, empreendida por agentes econômicos privados. A exclusividade da
prestação dos serviços públicos é expressão de uma situação de privilégio. Monopólio e privilégio são
distintos entre si; não se os deve confundir no âmbito da linguagem jurídica, qual ocorre no vocabulário vulgar. A
Constituição do Brasil confere à União, em caráter exclusivo, a exploração do serviço postal e o correio aéreo
nacional [art. 21, X].
O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, empresa pública,
entidade da Administração Indireta da União, criada pelo Decreto-Lei 509, de 10 de março de 1969. É
imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestação dos serviços públicos, do regime de
monopólio sob o qual, algumas vezes, a exploração de atividade econômica em sentido estrito é empreendida
pelo Estado. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de exclusividade na prestação
dos serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal. Os regimes jurídicos sob os quais
em regra são prestados os serviços públicos importam em que essa atividade seja desenvolvida sob privilégio,
inclusive, em regra, o da exclusividade. Argüição de descumprimento de preceito fundamental julgada
improcedente por maioria. O Tribunal deu interpretação conforme à Constituição ao art. 42 da Lei 6.538 para
restringir a sua aplicação às atividades postais descritas no art. 9º desse ato normativo. [ADPF 46, rel. p/ o ac.
min. Eros Grau, j. 5-8-2009, P, DJE de 26-2-2010.]

6. O que é política pública inválida? O MP detém legitimidade para invalidar/nulificar os efeitos da política
pública inválida? Se reconhecida a legitimidade, qual seria o instrumento cabível? Até que ponto essa
política pública inválida pode ser combatida pelo MP? Há limites para essa atuação, quais são eles? Até
que ponto o MP pode combater a discricionariedade da administração nesses casos?
Política pública inválida não se limita a incompatibilidade com a lei, mas também quando as escolhas do
administrador não se coadunam com as efetivas necessidades do caso concreto. A escolha discricionária que
foge dos limites da legalidade, proporcionalidade e razoabilidade também pode ser combatida. O MP deverá atuar
quando a inércia da Administração ou o mau funcionamento do serviço público estiverem impedindo a
concretização do próprio direito constitucional. Todavia, a sua fiscalização não está limitada ao exame da
legalidade, como nos casos em que é possível identificar de plano o desvio de finalidade do Poder Público, de
verbas, ou outro vício que torne o ato nulo, mas abrange também a análise da própria pertinência ou a adequação
da política ou programa governamental aos fins a que se propõe.
Com efeito, há muito já foi superada a ideia de que as políticas públicas estariam imunes a controles
externos, seja exercido pelo Poder Judiciário, seja exercido por outros poderes autônomos como o Ministério
Público. Ainda que se enquadrem as ações do Estado visando à satisfação dos interesses da coletividade na
categoria de atos políticos e de gestão, elas não estão excluídas do controle externo exercido sobre os atos
administrativos em geral.
Para exercer o controle sobre políticas públicas, antes de ingressar judicialmente, o Ministério Público
poderá utilizar-se dos meios extrajudiciais de que dispõe, quais sejam, instauração de procedimentos
administrativos e inquéritos civis, expedição de recomendação, celebração de termo de ajustamento de conduta e
promoção de audiências públicas. É óbvio que não existe regra preestabelecida ou gradação entre as medidas
que devem ser adotadas. Somente o exame do membro oficiante no caso concreto poderá indicar qual medida se
mostrará mais eficaz para tornar efetiva ou aprimorar a política pública questionada.
Comumente, a via judicial é resguardada para as hipóteses em que as medidas extrajudiciais se
mostrarem infrutíferas para garantir o efetivo exercício do direito social obstado. Isso porque a perspectiva de
ajuizamento da ACP representa um instrumento de pressão sobre o ente público em débito com o seus deveres
constitucionais, por isso interessante que seja reservada para um momento posterior. Todavia, ponderamos que
determinadas hipóteses exigem a judicialização de forma imediata. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando as
tratativas para um consenso ou ajuste com o Poder Público comecem ou se tornem desgastadas em razão do
longo período de violação do direito, ou de sucessivos compromissos descumpridos perante os órgãos de defesa
da cidadania e da própria população.
A intervenção judicial para controle de políticas públicas, em suma, estará autorizada sempre que a
conduta do administrador for considerada desarrazoada por não estar em conformidade com os interesses da
coletividade ditados pela Constituição, cuja análise na situação concreta demandará a utilização de regras de
proporcionalidade.
Os limites devem estar evidenciados pelo caso concreto, haja vista que o membro do MP não pode
pretender substituir o próprio Chefe do Poder executivo, sob pena de violar o princípio da separação de Poderes.

GRUPO TEMÁTICO II

Direito Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
Lei 8.069, crimes contra a dignidade sexual.

1. O senhor já ouviu falar da teoria americana da cultural defense?


A cultural defense é uma tese defensiva que busca a absolvição ou atenuação da pena daquele que
praticou um crime culturalmente motivado.
Crimes culturalmente motivados são resultado de um conflito de valores entre uma cultura minoritária e
uma cultura dominante.
A grande questão relativa ao tema “crimes culturalmente motivados” (ou crimes culturalmente
condicionados) é se é legítima a punição a indígenas ou imigrantes, por exemplo, por praticarem condutas que,
embora permitidas ou incentivadas por seus costumes, sejam consideradas crime na cultura dominante em que
estão inseridos.
Entra aí a figura da “defesa cultural” (cultural defense), que é a possibilidade teórica de o crime não ser
imputado ao réu por se tratar de conduta permitida ou incentivada por sua cultura.
Portanto deve-se discutir o seguinte: a pratica de um crime culturamente motivado deve ser apenada
conforme o ordenamento jurídico vigente ou a interposição de uma “defesa cultural” é apta para, de algum modo,
afastar ou, no mínimo, mitigar a pena?
Esse tema ganha relevância atualmente em face do aumento do fluxo imigratório experimentado pelo
ocidente nos últimos anos, que tem levado à existência de diversas culturas distintas em uma mesma base
territorial, fenômeno conhecido por multiculturalismo.
O multiculturalismo é um terreno fértil para o surgimento de crimes culturalmente motivados, em especial,
se o multiculturalismo desenvolve-se sem o concomitante desenvolvimento do interculturalismo (processo de
compreensão entre culturas distintas que busca o respeito à diferença, o combate à discriminação e o tratamento
igualitário entre as culturas).

Acessado em: http://www.direitopenalemcontexto.com.br/crimes-culturalmente-condicionados/

2. Eu estou com um caso que aconteceu lá em Passo Fundo, no RS, em que um cacique de uma tribo
indígena amarrou um membro da tribo como forma de castigo. Suponhamos que aqui em Minas um
cacique faça isso, e você receba noticia crime de crime de tortura, ou constrangimento (em caso de
menor). Gostaria que o senhor fizesse um cotejar entre essa cultura com a dogmática penal. E se provado
que ele soubesse que aquilo era proibido na nossa cultura? Não poderia haver uma sobreposição da
cultura indígena sobre a nossa para fins de exclusão da culpabilidade? Que hipótese seria essa?

Resposta integralmente obtida no site http://www.direitopenalemcontexto.com.br/crimes-culturalmente-


condicionados/

Alison Dundes Renteln aponta 3 perguntas a serem respondidas nesses casos


O réu é membro de algum grupo étnico?
O referido grupo étnico segue a tradição supostamente motivadora do crime em questão?
O réu fui influenciado pela referida tradição quando da prática do crime?

A partir daí, comprovado que determinada conduta é um crime culturalmente motivado, deve-se discutir qual
a solução processual penal a ser dada para esse caso.
Augusto Silva Dias, em artigo onde discute a mutilação genital feminina (veja aqui), aponta que a questão,
objetivamente, consiste na relevância penal do costume contra legem. Isto é, poderia o costume contra legem ser
válido diante do ordenamento jurídico penal?
Quanto a isso, a dogmática penal é unânime: o costume contra legem não tem validade diante da lei penal e
não há que se cogitar de revogação de lei penal por costume contrário a ela.
Posto isso, Augusto Silva Dias, no artigo citado, aponta que, embora o costume subjacente aos crimes
culturalmente condicionados não revogue a lei penal, ele tem profundos reflexos na culpabilidade. Para o autor, o
problema do crime culturalmente motivado não é de fonte do Direito (isto é,costume versus lei), mas sim de
conceito analítico de crime.
Ou seja, deve-se discutir os reflexos de condutas desse tipo na tipicidade, antijuridicidade e na culpabilidade.
Quanto à tipicidade, o autor português deixa claro que tais condutas são típicas e que não há que se cogitar
de atipicidade material por incidência do princípio da adequação social. Segundo ele, entre outros argumentos,
“não pode ser valorada como socialmente útil ou adequada uma acção que se traduz numa grave lesão da
integridade física”. Embora o autor se refira à excisão clitoridiana, observe que tal conclusão se estende para para
boa parte do que é considerado crime culturalmente motivado (como o Oyako-shinju dos japoneses, por
exemplo).
Quanto à antijuridicidade, Augusto Silva Dias, novamente comentando em relação à mutilação genital,
menciona que, como tal ato acomete crianças, não incide a causa supralegal de exclusão por consentimento do
ofendido. Ao lado da capacidade para consentir, o consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão
da antijuridicidade também não incide naqueles casos em que o bem jurídico é indisponível (no caso da
integridade física, a disponibilidade ocorre apenas para lesões leves – tatuagem, por exemplo).
Ainda no que tange à antijuridicidade, Augusto Silva Dias descarta também o exercício regular do direito
(direito de manifestação das culturas populares) como excludente de ilicitude nos crimes culturalmente motivados.
Para o autor, “o direito à própria cultura não é um direito absoluto que lhe confira prevalência sobre todos os
direitos que com ele colidam”, devendo ceder, por exemplo, diante do direito à integridade física e à livre
sexualidade (esta última relevante no caso da ablação do clitóris).
Portanto, Augusto Silva Dias exclui a relevância da cultural defense do plano da exclusão da tipicidade e da
exclusão da ilicitude e aponta a relevância no plano da culpabilidade.
Dentro da culpabilidade, o autor português, analisando a excisão clitoridiana, aponta que, na maior parte dos
casos, se trata de erro de proibição (por exemplo, no caso de recém chegados a determinado país e que não
tiveram ainda oportunidade de conhecer a cultura e leis locais).
Quanto a isso, Augusto Silva Dias destaca que o erro de proibição não é meramente o desconhecimento
conhecimento do caráter proibido do fato, mas sim a compreensão do seu significado desvalioso.
O erro de proibição, segundo o direito penal brasileiro, se evitável, poderá diminuir a pena de 1/6 a 1/3.
Contudo, se o erro de proibição é inevitável, tem-se ausência da potencial consciência da ilicitude e o Código
Penal (CP) isenta o agente de pena de pena nesse caso por não haver culpabilidade.
Veja a redação do art. 21 do CP que dispõe sobre o tema.

CP
Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do
fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a
um terço.
Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem
a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias,
ter ou atingir essa consciência.

Aqui entra o conceito de “erro culturalmente condicionado” cunhado por Eugenio Raul Zaffaroni. “Erro
culturalmente condicionado” é uma espécie do gênero erro de proibição em que o agente, mesmo conhecendo a
ilicitude de determinada conduta, por questões culturais é incapaz de compreendê-la e, por consequência, de
internalizá-la e de pautar seu comportamento de acordo com a norma.
O autor português Augusto Silva Dias explica que a consciência da ilicitude é maior ou menor na medida
do nível de integração dos autores na cultura cívica da sociedade de acolhimento.
A partir disso, tem-se a seguinte questão: para fins de se excluir ou não a culpabilidade em um cenário de crime
culturalmente motivado, como avaliar se o indivíduo está ou não integrado na sociedade que o acolheu?
Para responder a essa pergunta, segundo Augusto Silva Dias, deve-se lançar mão da “valoração paralela
na esfera do profano (ou do leigo)”. A valoração paralela na esfera do leigo é um critério hermenêutico,
desenvolvido por Edmund Mezger, que tem a finalidade de aferir, no caso concreto, se há ou não erro de
proibição.
De acordo com a “valoração paralela na esfera do leigo”, o juiz deve, dentro do universo cultural do
agente, verificar se o agente é capaz ou não de conhecer e compreender a ilicitude de determinadas condutas
previstas no ordenamento jurídico.
Considerando-se isso, um potencial crime culturalmente condicionado será culpável, segundo Augusto
Silva Dias, quando “tendo em conta os factores descritos, se concluir que os autores podiam aceder ao problema
da ilicitude penal através de um esforço de reflexão ou de compreensão exigível no caso concreto a uma ‘pessoa
razoável da sua comunidade’ ”.

3. O senhor já ouviu falar de estupro bilateral?


Ocorre o estupro bilateral quando duas pessoas menores de catorze anos praticam atos libidinosos, o
que, tecnicamente, tipifica ato infracional perpetrado por ambos, por conduta análoga à descrita no art. 217-A do
Código Penal.
Como relativizar a vulnerabilidade etária, prevenindo que o estupro bilateral seja punido? Por meio da
exceção de Romeu e Julieta.
Tal teoria preconiza que, em que pese a literalidade do Código Penal, não se deve considerar estupro de
vulnerável quando a relação sexual ocorre com uma pessoa com diferença etária de até cinco anos, pois ambas
as partes se encontram na mesma etapa de desenvolvimento sexual. Nesse cenário, não seria razoável
considerar estupro a relação consentida entre namorados (por exemplo: “A”, com 13 anos, e seu namorado(a),
com 18 anos).
Essa exceção não encontra amparo em nosso ordenamento jurídico, contrapondo-se à jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça.

4. O senhor é promotor da infância e da juventude no Vale do Mucuri e chega ao seu conhecimento com a
formalização, de que duas pessoas de 13 anos faziam sexo, mantiveram conjunção carnal. O que o
senhor faria? (isso é o estupro bilateral) O candidato disse que deveria ser aplicada uma medida de
proteção e o examinador questionou por quê. Questionou ainda se ele pensaria da mesma forma se fosse
um caso de homicídio?
Resposta de caráter pessoal. Entretanto, em razão da exceção de romeu e julieta não ser aceita em
nosso ordenamento, caberia a imputação de ato infracional, em tese, aos adolescentes com o fim de aplicar
medida socioeducativa, já que maiores de 12 anos.

5. No caso de estupro de vulnerável tentado, seria possível a substituição da pena privativa de liberdade
pela restritiva de direitos? A violência presumida tem o condão de afastar a possibilidade?
Não. O crime cometido com violência presumida obstaculiza o benefício da substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos. Esse o entendimento da 2ª Turma, ao indeferir habeas corpus impetrado em
favor de condenado a 3 anos de reclusão em regime semi-aberto pela prática do crime então descrito no art. 213,
c/c art. 224, a, do CP . A impetração sustentava que a violência a impedir o benefício da substituição da pena (CP,
art. 44, I) seria a violência real, e não a presumida (CP, art. 224). Asseverou-se que, embora a reprimenda
aplicada fosse inferior a 4 anos, o crime teria sido cometido com violência à pessoa, motivo suficiente para
obstaculizar o benefício requerido. Entendeu-se que a vedação da substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos não alcançaria somente a violência física, real, mas também a presumida.
HC 99828/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.5.2011. (HC-99828)
Essa também é a tese 446 do MPSP:
CRIME CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL – ESTUPRO DE VULNERÁVEL –
VIOLÊNCIA PRESUMIDA – SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
POR RESTRITIVA DE DIREITOS – IMPOSSIBILIDADE.
A vulnerabilidade da vítima, em crime contra a dignidade sexual cometidos contra menor
de 14 anos, obsta a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Tese-446

6. É possível a configuração de crime de estupro quando a violência é empregada contra terceiro que não
aquela vítima do ato sexual? E se essa violência foi praticada contra coisa? Essa coisa não pode ser o
móvel de uma grave ameaça?
A violência pode ser produzida pela própria energia corporal do ofensor (ex.: com as mãos, inviabiliza a
resistência da vítima, segurando-a) ou por outros meios (armas, fogo, gases etc.). A violência pode ser imediata,
quando empregada contra o ofendido, ou mediata, quando aplicada contra terceiro a quem a vítima esteja
emocionalmente ligada (ex.: filhos). Trata-se da intitulada “vis absoluta”, que não precisa ser irresistível. Basta
que seja suficiente para coagir a vítima. Portanto, há possibilidade de violência contra terceiro.
Nucci: Violência exercida contra pessoa diversa da vítima: é viável para configurar o crime,
dependendo das circunstâncias do caso concreto. Acolhemos o magistério de JOÃO MESTIERI, no sentido de
que “essa espécie de violência, exercitada sobre terceira pessoa com o fim de obrigar a vítima à conjunção
carnal[ou outro ato libidinoso], seja válida e eficaz, e assim deva ser considerada como elemento do estupro. É
inegável constituir a ameaça de dano, físico ou moral, a pessoas especialmente caras, terrível arma de
constrangimento” (Do delito de estupro, p. 74).
Vide exemplo relacionado ao estupro virtual. Ex: Uma pessoa, via web cam, mostra a outra que sua mãe
está em seu poder e, ameaçando matá-la com uma arma apontada para sua cabeça, pede para que tire sua
roupa (do outro lado da tela) com o intuito de satisfazer sua lascívia (desejo sexual), masturbando-se;
grave ameaça: é a violência moral, a “vis compulsiva”. Perceba, de antemão, que a ameaça deve ser
grave, ou seja, deve ser realmente relevante (a gravidade diz respeito ao resultado do mal, se concretizado).
Ademais, o mal prometido deve ser: a) determinado (ex.: “se não fizer sexo, morrerá!”); b) verossímil: a vítima
deve acreditar que o mal poderá se concretizar; c) iminente: o mal deve ser algo que possa ocorrer enquanto a
vítima está sob o domínio do ofensor, sem qualquer chance de evitá-lo; d) inevitável: caso contrário, a ameaça
não surtirá efeito. Isso não significa, no entanto, que a vítima deva praticar ato heroico para evitá-la (ex: lutar
contra o ofensor armado). Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade devem nortear a avaliação da
inevitabilidade; e) dependente de ato do agente: ou seja, o mal não deve ser referente a algo que dependa de
terceiro para se concretizar, mas somente da vontade de quem profere a ameaça. A ameaça pode se dar por
escrito ou oralmente, ou, até mesmo, por gestos.
Nucci: Violência exercida contra coisa: em tese, é possível que a situação possa configurar-se como
grave ameaça. Imagine-se que o agente do estupro intimide a vítima, para que ceda à relação sexual,
ameaçando destruir coisa que lhe é extremamente cara e relevante. Naturalmente, dependendo da análise
particularizada da situação, pode-se chegar à conclusão de ter havido violência moral, logo, constrangimento
ilegal. Não se trata de tutela da coisa destruída, mas de elemento constrangedor à pessoa (cf. JOÃO MESTIERI,
Do delito de estupro, p. 75).
Direito Processual Civil
Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Jurisdição e competência

1. Diferencie conexão e continência.


Conexão é a interligação entre duas ou mais infrações, em prol da celeridade do feito e para evitar
decisões contraditórias. Continência é o vínculo que une vários infratores a uma única infração (CONTINÊNCIA
POR CUMUAÇÃO SUBJETIVA), ou ligação de várias infrações decorrentes de conduta única (concurso formal de
crimes – CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO OBJETIVA).

2. Havendo concurso entre jurisdições, decorrente de conexão ou continência, o senhor se lembra das
regras de resolução? Além de prevenção, quais são as outras hipóteses de atração?

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as


seguintes regras:
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá
a competência do júri;
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as
respectivas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

3. Sobre a competência pelo domicílio do réu, quais são as regras, como é fixada?
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu.
§ 1o Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.
§ 2o Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz
que primeiro tomar conhecimento do fato.
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio
ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

4. Sobre a atração do Tribunal do Júri, suponhamos que determinada autoridade com prerrogativa de
foro, esteja sujeita a um processo de competência do Tribunal do Júri, como se compatibiliza esse
conflito?
Se a regra de foro tem fundamento na CF, em razão da especialidade, prevalece o foro. EX: art. 96, III da
CF. No entanto, a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de
função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual. (SV 45 STF).
Atenção: STF (Informativo 900): O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. AP 937 QO/RJ,
PLENÁRIO, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 2 e 3.5.2018.
STJ: A manutenção da prerrogativa de foro, estabelecida no inciso I do artigo 105 da Constituição
Federal, será aplicada sempre que um desembargador acusado da prática de crime sem relação com o exercício
do cargo vier a ser julgado por juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal que ele, pois a prerrogativa de
foro visa, também, proteger a independência no exercício da função judicante. Crimes comuns e de
responsabilidade cometidos por desembargadores, mesmo que não tenham sido praticados em razão do cargo,
poderão ser julgados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A decisão, por maioria, é da Corte Especial, que
seguiu o voto do relator, ministro Benedito Gonçalves, para quem o foro especial tem por finalidade também
resguardar a imparcialidade necessária ao julgamento, uma vez que evita o conflito de interesses entre
magistrados vinculados ao mesmo tribunal. ApN 878.

GRUPO TEMÁTICO III


Direito Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Capacidade

1. Defina o que é capacidade.


Excelência, a capacidade é uma aptidão geral reconhecida em lei para atuar na vida jurídica.
Tradicionalmente, subdivide-se em capacidade de direito/gozo e capacidade de fato/de exercício.
A capacidade de direito é a aptidão para titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, de
modo que toda pessoa (por ter personalidade jurídica) tem capacidade de direito.
Se a pessoa tiver capacidade para praticar pessoalmente os atos da vida civil, terá também a capacidade
de fato, possuindo capacidade plena.

2. Todos possuem a capacidade de direito?


Sim, Excelência. Todos possuem capacidade de direito. Não há, na ordem jurídica brasileira,
incapacidade de direito. Todos aqueles que nascem com vida são pessoas, dotadas, portanto, de direito.
O que as pessoas incapazes não possuem é a capacidade de fato.
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

3. O que é a capacidade de fato?


É a aptidão para praticar pessoalmente atos da vida civil. Ela é atribuída paulatinamente à pessoa, sendo
alcançada quando se atinge a maioridade civil ou quando ocorre a emancipação.

4. Quando não há a capacidade plena por defeito de idade, existem dois institutos. O senhor se lembra
dos dois? Poderia distinguir?
Para os absolutamente incapazes, pessoas menores de 16 anos, o sistema civil cria uma máxima rede
de proteção, determinando que a incapacidade deve ser suprida através do instituto da representação. O
representante realiza o ato no lugar do representado. O ato realizado pelo absolutamente incapaz sem a
representação é nulo, não podendo produzir efeitos.
Por sua vez, para os relativamente incapazes, os maiores de 16 anos e menores de 18 anos, é previsto o
instituto da assistência. O assistente pratica o negócio jurídico juntamente com a pessoa relativamente incapaz,
sob pena de anulabilidade do negócio celebrado.
5. O senhor recebe um representante de um incapaz que ingressou com ação de investigação de
paternidade e a representante diz que gostaria de desistir da ação. Como o senhor agiria?
Inicialmente, cumpre esclarecer que o Ministério Público atua nessa demanda na qualidade de fiscal da
ordem jurídica, com fundamento no artigo 178, inciso II, CPC/15.
Nessa senda, por vislumbrar manifesta ofensa a direito indisponível de pessoa absolutamente incapaz,
eis que o direito de reconhecimento do estado de filiação é personalíssimo, indisponível e imprescritível,
conforme enuncia o artigo 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), manifestaria pela
improcedência do pedido de desistência.
Noutro passo, considerando que tal posicionamento denota a configuração de um conflito de interesses
entre o representado e seu representante legal, suscitaria a nomeação de curador especial à demandante.
6. O senhor pode me dar dois exemplos de absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil?
Excelência, com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com Deficiência a única hipótese de
incapacidade civil absoluta é a do menor impúbere, ou seja, do menor de 16 anos.
Ocorre que, há vozes na doutrina que assinalam que apesar de elencados como relativamente incapazes
pela lei, as pessoas que por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade devem ser
consideradas absolutamente incapazes.

7. Dê dois exemplos de relativamente incapazes.


Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos [menores púberes];
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)

8. A legislação coloca como relativamente incapazes os ébrios habituais, como você define essa
categoria? Quem seriam os ébrios habituais?
Os ébrios habituais são pessoas viciadas na ingestão de bebida alcoólica, é dizer, são pessoas que
consomem constantemente bebida alcóolica, o que denota dependência, e, em razão dessa dependência,
possuem um discernimento reduzido.
Assim, a embriaguez preordenada, ou seja, a ingestão episódica, mas excessiva com objetivo de “tomar
coragem”, não se enquadra nessa espécie de incapacidade relativa. É necessário que a bebida faça parte da
existência do sujeito, do seu dia a dia, e altere sua capacidade de compreensão, sendo visto por vezes como um
ser esvaziado.

9. Com relação aos incapazes por defeito de idade, o que vem a ser o poder familiar?
Excelência, o poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e
aos bens dos seus filhos menores. Noutros termos, é o dever-poder imposto aos genitores de criar, educar, e
orientar seus filhos menores de 18 anos, não emancipados.
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: (Redação
dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; (Redação
dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;(Redação dada pela Lei
nº 13.058, de 2014)
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; (Redação
dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência
permanente para outro Município; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não
lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; (Redação dada pela
Lei nº 13.058, de 2014)
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da
vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento;(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; (Incluído pela Lei nº 13.058, de
2014)
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição.

10. E a tutela? Seria só os absolutamente ou os relativamente também?


No âmbito do Código Civil, a tutela objetiva a representação e a administração da criança ou do
adolescente não emancipado e seus bens, por força de extinção ou suspensão da autoridade parental. De fato,
sob a ótica da proteção integral da criança e do adolescente, a tutela é uma medida assistencial, tendente a
substituir a autoridade parental, com o escopo de proteger a criança ou adolescente, obstando que a ausência de
uma pessoa para exercer o poder familiar possa prejudica-lo.
Referido instituto abrange tanto o absolutamente quanto o relativamente incapaz por questões etárias.
Tal se comprova pelo que dispõe o artigo 1.747 do CC ao elencar como atribuição do tutor representar o
menor, até os 16 anos, e assisti-lo após essa idade.
Art. 1.747. Compete mais ao tutor:
I - representar o menor, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após
essa idade, nos atos em que for parte;

11. A tutela pressupõe o afastamento do poder familiar19. Em que hipótese isso ocorre?
O poder familiar pode ser suspenso (como medida de proteção aos filhos) ou pode se extinguir, seja por
acontecimento natural (morte e maioridade) ou jurídico (adoção, emancipação ou sentença de perda do poder
familiar).
Hipóteses de suspensão

19
Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:
I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou
o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe
condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos
de prisão.
Hipóteses de perda

Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:


I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que: (Incluído pela
Lei nº 13.715, de 2018)
I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: (Incluído pela Lei nº
13.715, de 2018)
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se
tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou
discriminação à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão; (Incluído pela
Lei nº 13.715, de 2018)
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se
tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou
discriminação à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018)
b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão.

12. E para aqueles incapazes com déficit cognitivo, qual seria o tipo de proteção que ele teria?
Excelência, as incapacidades no CC podem decorrer de um critério objetivo (critério etário) ou de um
critério subjetivo (psicológico).
Para essa segunda modalidade de incapacidade, o Código prevê como instituto de proteção a curatela, a
qual consiste no encargo imposto a uma pessoa natural para cuidar e proteger uma pessoa que não pode se
autodeterminar patrimonialmente.
Com efeito, de acordo com o CC estão sujeitos a curatela:
Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
II - (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)
IV - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)(Vigência)
V - os pródigos.
EPD, Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício
de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela,
conforme a lei.
Importante pontuar que para a curatela é instituída pelo procedimento de
jurisdição voluntária, o processo de interdição, no qual há atuação do Ministério
Público.
Por fim, Excelência, não se deve confundir a pessoa incapaz, para qual o ordenamento prevê a curatela,
com a pessoa que possui alguma deficiência, mas que pode exprimir sua vontade, a qual, portanto, é uma pessoa
absolutamente capaz. Para estas a Lei 13.146 trouxe o instituto da tomada de decisão apoiada.

13. O senhor acredita que é possível a curatela para o absolutamente incapaz? Mas a tutela não seria
suficiente?
Não, Excelência, acredito que não é possível a curatela para o absolutamente incapaz.
A tutela é vocacionada à proteção integral de uma criança ou adolescente que está fora do poder
familiar. Já a curatela é mecanismo de proteção de uma pessoa maior, mas, também, reputada incapaz.
O que o Código prevê é a concomitância entre a tutela e a curadoria, mas esta não se confunde com a
curatela.
As curadorias dizem respeito à designação de alguém para representar o interesse de outrem em
algumas situações específicas, possuem uma finalidade específica, que, uma vez exaurida, leva ao esgotamento
da função do curador.
Nessa senda, o artigo 1733, §2º do CC prevê a curadoria de bens deixados em favor de um menor, já o
CPC determina a nomeação de curador para o incapaz no caso de colisão de de seus interesses com o de seu
representante, (art. 72, inciso I, CPC/15).

Direito Processual Civil


Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Processo Eletrônico

1. Qualquer ato processual pode ser realizado por meios eletrônicos sob a égide da Lei 11.419?
Não, Excelência. A Lei 11.419 excetua expressamente o ato de citação atinente aos Direitos Processuais
criminal e infracional.
Ademais, há casos que, apesar de ser admitida a prática do ato por meio eletrônico, por algum motivo
técnico resta impossibilitada a prática por meio eletrônico, devendo ser praticados segundo as regras ordinárias,
e, posteriormente, digitaliza-se o documento físico.
Art. 6º Observadas as formas e as cautelas do art. 5o desta Lei, as citações,
inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e
Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja
acessível ao citando.
Art. 9º No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive da
Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico, na forma desta Lei.
(...)
§ 2º Quando, por motivo técnico, for inviável o uso do meio eletrônico para a
realização de citação, intimação ou notificação, esses atos processuais poderão
ser praticados segundo as regras ordinárias, digitalizando-se o documento físico,
que deverá ser posteriormente destruído.

2. É possível que um processo possa ser parcialmente físico e parcialmente pelo meio eletrônico?
Sim, Excelência, seja em virtude de parte dos documentos necessários restarem inelegíveis ao serem
digitalizados, ou, pelo fato de uma das instâncias ou juízo não dispor de sistema eletrônico.
Na primeira hipótese, a Lei prevê que os documentos deverão ser apresentados ao cartório ou secretaria
no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de petição eletrônica comunicando o fato, os quais serão devolvidos
à parte após o trânsito em julgado.
Já na segunda hipótese, a lei estatui que: “os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser
remetidos a outro juízo ou instância superior que não disponham de sistema compatível deverão ser impressos
em papel, autuados na forma dos arts. 166 a 168 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil, ainda que de natureza criminal ou trabalhista, ou pertinentes a juizado especial.”

Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos


eletrônicos com garantia da origem e de seu signatário, na forma estabelecida nesta Lei,
serão considerados originais para todos os efeitos legais.
(...)
§ 5º Os documentos cuja digitalização seja tecnicamente inviável devido ao grande
volume ou por motivo de ilegibilidade deverão ser apresentados ao cartório ou secretaria
no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de petição eletrônica comunicando o fato,
os quais serão devolvidos à parte após o trânsito em julgado.
Art. 12. A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada total ou
parcialmente por meio eletrônico.
§ 1º Os autos dos processos eletrônicos deverão ser protegidos por meio de sistemas
de segurança de acesso e armazenados em meio que garanta a preservação e
integridade dos dados, sendo dispensada a formação de autos suplementares.
§ 2º Os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser remetidos a outro juízo
ou instância superior que não disponham de sistema compatível deverão ser
impressos em papel, autuados na forma dos arts. 166 a 168 da Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, ainda que de natureza criminal ou
trabalhista, ou pertinentes a juizado especial.
§ 3º No caso do § 2º deste artigo, o escrivão ou o chefe de secretaria certificará os
autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos, acrescentando, ressalvada
a hipótese de existir segredo de justiça, a forma pela qual o banco de dados poderá ser
acessado para aferir a autenticidade das peças e das respectivas assinaturas digitais.
§ 4º Feita a autuação na forma estabelecida no § 2º deste artigo, o processo
seguirá a tramitação legalmente estabelecida para os processos físicos.

3. No processo eletrônico como se dará a distribuição da ação, juntada de documentos, juntada de


recursos e demais procedimentos? Pelo meio eletrônico ele pode peticionar por meios eletrônicos?
Art. 10. A distribuição da petição inicial e a juntada da contestação, dos recursos e das
petições em geral, todos em formato digital, nos autos de processo eletrônico, podem
ser feitas diretamente pelos advogados públicos e privados, sem necessidade da
intervenção do cartório ou secretaria judicial, situação em que a autuação deverá se dar
de forma automática, fornecendo-se recibo eletrônico de protocolo.

4. Com relação aos prazos processuais no meio eletrônico, até que horas o ato pode ser praticado?
Art. 10, § 1º Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado prazo, por
meio de petição eletrônica, serão considerados tempestivos os efetivados até as 24
(vinte e quatro) horas do último dia.
5. O senhor sabe qual é a autoridade pública brasileira que certifica a assinatura digital das partes, dos
juízes, membros do MP ?
A Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras foi instituído pela MEDIDA PROVISÓRIA nº 2.200-2, DE
24 DE AGOSTO DE 2001. É uma cadeia hierárquica de confiança que viabiliza a emissão de certificados digitais
para identificação virtual do cidadão.
Art. 2º A ICP-Brasil, cuja organização será definida em regulamento, será
composta por uma autoridade gestora de políticas e pela cadeia de autoridades
certificadoras composta pela Autoridade Certificadora Raiz - AC Raiz, pelas Autoridades
Certificadoras - AC e pelas Autoridades de Registro - AR.
Art. 3º A função de autoridade gestora de políticas será exercida pelo Comitê
Gestor da ICP-Brasil, vinculado à Casa Civil da Presidência da República e composto
por cinco representantes da sociedade civil, integrantes de setores interessados,
designados pelo Presidente da República, e um representante de cada um dos
seguintes órgãos, indicados por seus titulares:
Art. 5º À AC Raiz, primeira autoridade da cadeia de certificação, executora das
Políticas de Certificados e normas técnicas e operacionais aprovadas pelo Comitê
Gestor da ICP-Brasil, compete emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os
certificados das AC de nível imediatamente subseqüente ao seu, gerenciar a lista de
certificados emitidos, revogados e vencidos, e executar atividades de fiscalização e
auditoria das AC e das AR e dos prestadores de serviço habilitados na ICP, em
conformidade com as diretrizes e normas técnicas estabelecidas pelo Comitê Gestor da
ICP-Brasil, e exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pela autoridade gestora
de políticas.
Art. 13. O ITI é a Autoridade Certificadora Raiz da Infra-Estrutura de Chaves
Públicas Brasileira.
Observa-se que o modelo adotado pelo Brasil foi o de certificação com raiz única, sendo
que o ITI, além de desempenhar o papel de Autoridade Certificadora Raiz – AC-Raiz,
também tem o papel de credenciar e descredenciar os demais participantes da cadeia,
supervisionar e fazer auditoria dos processos.

6. Quais os processos que podem ser processados eletronicamente?


Art. 1º, §1º Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e
trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.

7. Quando por algum motivo técnico o processo eletrônico não puder ser observado, se já iniciado nesse
meio, como garantir às partes o direito de ação?
Art. 10, § 2º No caso do § 1o deste artigo, se o Sistema do Poder Judiciário se tornar
indisponível por motivo técnico, o prazo fica automaticamente prorrogado para o
primeiro dia útil seguinte à resolução do problema.

8. Quais são os pilares principiológicos da Lei 11.419 (processo eletrônico)?

9. Em que momento a intimação, feita pelo meio eletrônico, será considerada realizada?
Art. 5, § 1º Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a
consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não
útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte.
§ 3º A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias
corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação
automaticamente realizada na data do término desse prazo.

10. O senhor tem conhecimento se a lei prevê a substituição do diário oficial no meio físico pelo diário
oficial no meio eletrônico? Publicar os atos apenas no meio eletrônico?
Art. 4º Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da
rede mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos
próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral.
§ 1o O sítio e o conteúdo das publicações de que trata este artigo deverão ser
assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora
credenciada na forma da lei específica.
§ 2º A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e
publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei,
exigem intimação ou vista pessoal.
(...)
§ 5º A criação do Diário da Justiça eletrônico deverá ser acompanhada de ampla
divulgação, e o ato administrativo correspondente será publicado durante 30
(trinta) dias no diário oficial em uso.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Espaços ambientalmente protegidos

1. O que são as APPs no nosso Código Ambiental?


II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;
A doutrina esclarece que as APP são uma espécie de espaço territorial especialmente protegido (ETEP).
Com efeito, os ETEP constituem gênero que abriga as unidades de conservação, os espaços de
proteção específica (no qual está inserida a APP) e as áreas protegidas, previstas no Decreto 5.758/06.

2. Qual é o regime político aplicável às APPs? A cobertura vegetal pode ser suprimida? Em nenhuma
hipótese? Havendo supressão, existe alguma obrigação de recompor?
O regime jurídico de proteção das APP está previsto nos artigos 7º a 9º da Lei 12.651/12, prevendo a
regra geral de proibição de supressão, exploração ou qualquer utilização desses espaços para atividade,
empreendimento, o dever de sua proteção e manutenção da vegetação ou floresta e, em caso de inexistência
destas, a sua recuperação.
Excelência, o artigo 8º prescreve hipóteses excepcionais de utilidade pública, interesse social e baixo
impacto ambiental em que se faz possível a intervenção ou supressão de vegetação nas APP. Para tanto é
imprescindível a instauração de um procedimento administrativo no âmbito do licenciamento ambiental.
Por fim, dispõe o §1º do artigo 7º do Código Florestal que nos casos em que não é permitida a supressão
de vegetação situada em APP, o proprietário, o possuidor ou ocupante é obrigado a promover a recomposição da
vegetação.
Art. 7º A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida
pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado.
§ 1º Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação
Permanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado
a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados previstos
nesta Lei.
§ 2º A obrigação prevista no § 1o tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso
de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou
de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas
somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.
§ 2º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 4o poderá ser autorizada,
excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal esteja
comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas em
projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolidadas
ocupadas por população de baixa renda. (Vide ADC Nº 42) (Vide ADIN Nº 4.903)
§ 3º É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em
caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa
civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.
§ 4º Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras intervenções
ou supressões de vegetação nativa, além das previstas nesta Lei.
Art. 9º É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação
Permanente para obtenção de água e para realização de atividades de baixo impacto
ambiental.

3. Quais são os critérios que a lei estabelece para a localização da Reserva Legal?
O candidato falou que, p.ex. deve ficar próxima aos corredores ecológicos e foi questionado se isso seria
uma regra.
Art. 14. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em
consideração os seguintes estudos e critérios:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o Zoneamento Ecológico-Econômico
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de
Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente
protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
§ 1º O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele habilitada deverá
aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no CAR, conforme o
art. 29 desta Lei.
§ 2º Protocolada a documentação exigida para a análise da localização da área de
Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção
administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão ambiental competente
integrante do Sisnama, em razão da não formalização da área de Reserva Legal.

4. Uma lei municipal transforma uma área rural em área urbana e essa área já tem lá demarcada a sua
reserva legal. Essa mudança tem impacto na Reserva Legal instituída? O impacto seria imediato?
Art. 19. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal
não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que
só será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins
urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano
diretor de que trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal.

5. As Unidades de Conservação possuem planos de manejo, o que seriam esses planos? Quem aprova?
E, não havendo plano de manejo, o que o senhor como promotor pode fazer para proteger a Unidade de
Conservação?
CONCEITO:
Art. XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos
objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as
normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a
implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade;
Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo.
(Regulamento)
§ 1º O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de
amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover
sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
§ 2º Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas
Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção
Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante
Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente.
§ 3º O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo
de cinco anos a partir da data de sua criação.
Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades
ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de
Manejo e seus regulamentos.
Parágrafo único. Até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras
desenvolvidas nas unidades de conservação de proteção integral devem se limitar
àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva
proteger, assegurando-se às populações tradicionais porventura residentes na área as
condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades materiais,
sociais e culturais.
Após ser instaurado inquérito civil público para averiguar a situação da UC e sendo constatada a
ausência de plano de manejo, contrariando determinação constante na Lei nº 9.985/2000, inicialmente faria uma
recomendação esclarecendo a obrigatoriedade da edição desse instrumento.
Transcorrido o prazo de informações e mantendo-se o órgão responsável pela elaboração inerte,
ingressaria com ação civil pública pleiteando a determinação da edição do plano de manejo.
Isso porque a elaboração do plano de manejo é essencial para a preservação da Unidade de
Conservação, pois é nele que se estabelecem as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos
recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade (art. 2º, XVII, da
Lei n. 9.985/2000).
Com efeito, a omissão do Poder Público na elaboração do plano de manejo e gestão coloca em risco a
própria integridade da unidade de conservação, e constitui-se em violação do dever fundamental de proteção do
meio ambiente.
Ademais, em liminar, pugnaria para que fosse respeitado o que dispõe o artigo 28 da Lei do SNUC,
enquanto não for implementado o plano de manejo, de sorte que toda atividade que não se limite àquelas
destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, devem ser embargadas.
E também verificaria se estão sendo adotadas as medidas que garantam às populações tradicionais
porventura residentes na área as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades
materiais, sociais e culturais. Em caso negativo, pleitearia a medida adequada.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Carlos Alberto Valera
Judicialização do Direito à Saúde
1. Dê o conceito de Saúde. (o examinador disse para o candidato se lembrar da OMS, para completar o conceito
dado)
A CF alinhou-se a concepção preconizada pela Organização Mundial da Saúde que aproxima o conceito
de saúde ao conceito de qualidade de vida e não mera ausência de doença.
Por saúde entende-se o completo estado de bem-estar físico, mental e social.
Reconheceu-se que o direito a saúde liga-se a fatores condicionantes, nesse sentido, dispõe o artigo 3º da
Lei 8080:
Art. 3º Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo
a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia,
o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade
física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto
no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-
estar físico, mental e social.

Do ponto de vista jurídico, a saúde é um direito fundamental do ser humano. Como direito fundamental
que é, possui dupla dimensão:
Dimensão Subjetiva: Enuncia que é um direito subjetivo que enseja diversas posições jurídico-subjetiva.
Isso visto dentro de uma classificação multifuncional dos Direitos Fundamentais, ou seja, pode lastrear típicos
pleitos de direito de defesa (direito de não ingerência na esfera particular) e de direitos a prestações.
Dimensão Objetiva: Trata de efeitos jurídicos diversos, que não se confundem nem se reduzem ao
direitos subjetivos, configurando em muitos casos, embora não exclusivamente, deveres fundamentais.
CF, Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Lei 8.080/90, Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

2. Cite alguns princípios e diretrizes aplicados em relação ao Direito à Saúde. São 13, por favor cite 5.

Lei 8.080, Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados


contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são
desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição
Federal20, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência;

20
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único,
organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade.


II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e
moral;
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer
espécie;
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua
utilização pelo usuário;
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de
recursos e a orientação programática;
VIII - participação da comunidade;
IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de
governo:
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;
X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento
básico;
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de
assistência à saúde da população;
XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins
idênticos.
XIV – organização de atendimento público específico e especializado para
mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros,
atendimento, acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em
conformidade com a Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013. (Redação dada
pela Lei nº 13.427, de 2017) NOVIDADE LEGISLATIVA!

3. Qual ou quais instrumentos o membro do MP pode se valer para garantir a entrega de remédios lato
sensu? (O examinador questionou se não haveria algum instrumento prévio, pois o candidato citou apenas
instrumentos posteriores à não entrega. Mesmo dentro do Inquérito Civil fazer uma questão preliminar).
Excelência, de proêmio cumpre pontuar que a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador
constituinte qualificasse, como prestações de relevância pública, as ações e serviços de saúde (CF, art. 197) em
ordem a legitimar a atuação do Ministério Público nas hipóteses em que os órgãos estatais, anomalamente,
deixam de respeitar o mandamento constitucional, frustrando, arbitrariamente, a eficácia jurídico-social desse
direito.
Lado outro, o membro do ministério público no desempenho do seu mister deve se valer de todos os
meios conferidos para garantir a fruição desse direito fundamental. Para tanto, entendo adequado num primeiro
momento, ainda num enfoque de prevenção, após a instauração de um inquérito civil ou mesmo procedimento
preparatório, a expedição de Recomendação ao Ente Municipal, para que, por intermédio da Secretaria Municipal
de Saúde, regularize o fornecimento de medicamentos lato sensu, devendo para tanto deflagrar procedimento
licitatório (caso ainda não tenha sido deflagrado) para aquisição desses medicamentos em quantidade compatível
com a demanda existente, bem como alertaria sobre a necessidade de se promover medidas preventivas de
controle de estoque e aquisição contínua de medicamentos para evitar a interrupção do fornecimento, sempre
que identificado baixo número de determinado medicamento.
Não obtido êxito com o referido meio extrajudicial e ocorrendo a falha na prestação desse serviço público
essencial, desde que vislumbrado o interesse por parte do gestor municipal, poderia celebrar acordo de
ajustamento de conduta, com a fixação expressa de multa cominatória.
Apesar de todos os esforços no âmbito extrajudicial, caso não seja logrado êxito, restaria entrar com
ação de execução do TAC, ou ação civil pública com obrigação de fazer e tutela antecipada para os casos
individuais urgentes.
Além dos pedidos mencionados achei interessante o teor do acordo noticiado no site do MP MG firmado
com o Município de Araguari:
Inserir as atas das reuniões do Conselho Municipal de Saúde no Diário Oficial do Município; publicar, no
portal da transparência, relação de medicamentos disponíveis e faltantes; publicar a relação municipal de
medicamentos no portal da prefeitura; e disponibilizar, na internet, escala médica e demais informações
relevantes de cada unidade de saúde, bem como de listas de espera, em ordem cronológica, de procedimentos
médicos eletivos. Todas essas reivindicações da população de Araguari, no Triângulo Mineiro, foram
contempladas em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelo município com o Ministério Público
de Minas Gerais (MPMG).

https://www.mpmg.mp.br/areas-de-atuacao/defesa-do-cidadao/saude/noticias/mpmg-e-11-municipios-mineiros-
assinam-acordo-em-prol-de-servicos-de-saude-a-populacao.htm
Por fim, a notícia acima versa sobre a importância da mediação sanitária.

4. O senhor está lá no seu gabinete, em Nova Ponte, entra um cidadão e diz que precisa fazer um
transplante de rim. Quais as providências que o senhor tomaria? É o senhor que vai dizer se é de extrema
necessidade a cirurgia? (Direito à saúde e equidade é o ponto que o examinador quer que se atinja).
(O examinador leu um trecho de um artigo da London School, publicado pela FGV, que trata do ponto da
equidade e falou sobre os dilemas atuais da saúde, sobre p.ex. o judiciário estar obrigando a administração a
fornecer drogas caras sem uma avaliação do custo-efetividade. Considera que todos da fila tem direito à saúde,
mas uma resolução é necessária). Qual o critério que o membro do MP deve utilizar, sugerido pela doutrina
e pela jurisprudência, para “pular” a ordem? Como é que eu elejo o discriminem? Essa justa causa é
aferida como, na doutrina do direito? O candidato falou em proporcionalidade e o examinador questionou qual
seria o princípio mais importante para se considerar na decisão? A dignidade da pessoa humana.
Dia 16 – Ponto 08 – Carolina Gruber

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinadora: Dra. Elaine Parisi
Controle de constitucionalidade

1. O STF desempenha a fiscalização concreta da constitucionalidade nos Recursos Extraordinários que


aportam àquela corte. A EC 45 produziu um parágrafo único no art. 102, instituindo a repercussão geral
como requisito para a admissão do RE. Explique o que a repercussão geral.
Repercussão geral é um requisito de admissibilidade do recurso extraordinário, cuja existência deve ser
demonstrada em preliminar das razões recursais e de apreciação exclusiva pelo STF. Considerando que o STF é
um órgão de superposição, não se admite que sirva, apenas, como revisão das decisões proferidas pelos
tribunais inferiores. Assim, embora o recurso extraordinário diga respeito a determinada controvérsia em concreto,
passou a exigir a Constituição que referida controvérsia extrapole os limites estritamente subjetivos da parte.
Sobre o tema, o CPC considera existente a repercussão geral quando existirem questões relevantes do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo.
Ademais, será ela presumida sempre que o recurso impugnar acórdão que a) contrarie súmula ou jurisprudência
dominante do Supremo Tribunal Federal; b) tenha sido proferido em julgamento de casos repetitivos; c) tenha
reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal.

2. Quais são os órgãos jurisdicionais encarregados pelo controle de constitucionalidade difuso e pelo
concentrado?
O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema misto de controle de constitucionalidade, pelo qual o
exame da compatibilidade dos atos normativos em face da Constituição Federal pode ser feito tanto pelos juízes
em geral, no bojo de uma demanda concreta submetida a sua apreciação (controle difuso e incidental), quanto
pelo STF (controle concentrado e em abstrato, tendo como parâmetro dispositivos da Constituição Federal) ou
Tribunais de Justiça (tendo como parâmetro dispositivos da Constituição Estadual).
Quando se tratar de controle difuso e incidental, exige a Constituição Federal, ainda, o cumprimento da
chamada “cláusula de reserva de plenário”, pela qual o exame da questão constitucional é de competência do
plenário ou órgão especial do Tribunal respectivo. Há, nesses casos, uma cisão do julgamento do feito, cabendo a
análise da (in)constitucionalidade ao pleno ou órgão especial e a da controvérsia concreta ao órgão fracionário.
No âmbito do STF, há intensa controvérsia acerca da submissão de referida Corte à cláusula de reserva
de plenário, prevalecendo a posição segundo a qual as Turmas teriam competência para exame da
constitucionalidade.

3. Explique como se resolve a inconstitucionalidade quando decidida de forma incidental. O MP é ouvido


nessa fase, no tribunal? Se no 1º grau surgir uma questão incidental o MP será ouvido?
O Ministério Público será necessariamente ouvido no incidente de arguição de inconstitucionalidade
(artigo 948, CPC). A intervenção do MP, nesses casos, segue o padrão do microssistema de formação de
precedentes obrigatórios.
Além disso, o reconhecimento da inconstitucionalidade de uma lei quebra a presunção de
constitucionalidade, que reveste as normas legais. Portanto, trata-se de um abalo na segurança jurídica, direito
difuso, a impor a oitiva ministerial, inclusive em 1º grau de jurisdição.

4. Quais são os efeitos da declaração de inconstitucionalidade no incidente?


O incidente de arguição de inconstitucionalidade, suscitado perante o Tribunal de Justiça, apesar de ser
decidido pelo plenário ou órgão especial é, ainda, controle difuso de constitucionalidade e, assim, seus efeitos
são inter partes e ex tunc. Não cabe ao Tribunal de Justiça a função de conferir ao ato normativo a interpretação
final – sendo tal competência do STF. No âmbito do STF, contudo, em recente alteração jurisprudencial (mutação
do artigo 52, X, CF), passou-se a admitir a teoria da abstrativização do controle difuso, conferindo à Resolução do
SF apenas a função de tornar público o julgamento da Corte, de modo que a decisão já teria efeito vinculante e
erga omnes. Os fundamentos são evitar anomias e fragmentação da unidade.
No âmbito do TJ, de outro lado – a menos que o objeto do controle seja norma estadual ou municipal -,
não se vislumbra a possibilidade de a Corte conferir outros efeitos à decisão em controle difuso, senão o ordinário
inter partes, sob pena de usurpação da competência do STF.

5. Admite-se a modulação temporal dos efeitos da decisão que declara a inconstitucionalidade?


Em regra, adotou-se no Brasil a teoria da nulidade do ato normativo institucional – de origem norte-
americana -, de modo que o ato inconstitucional é extirpado, desde sua origem, do ordenamento jurídico.
A técnica de modulação dos efeitos, de outro lado, é uma mitigação da doutrina da ineficácia ab initio da
lei inconstitucional, por meio da qual pode o Tribunal fixar a partir de quando a decisão passaria a surtir efeitos
(ex nunc ou pro futuro). São justificativas: razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social. A
técnica de modulação dos efeitos é aplicável tanto para o controle concentrado, quanto para o difuso (caso
emblemático: vereadores de Mira Estrela/SP).
Com relação ao controle difuso, o STF, à luz do princípio da segurança jurídica, do princípio da confiança,
da ética jurídica, da boa-fé, todos constitucionalizados, em verdadeira ponderação de valores, vem,
casuisticamente, mitigando os efeitos da decisão que reconhece a inconstitucionalidade das leis, preservando-se
situações pretéritas consolidadas com base na lei objeto do controle.

6. O que significa inconstitucionalidade progressiva?


A inconstitucionalidade progressiva reflete situações intermediárias entre a inconstitucionalidade absoluta
e a constitucionalidade plena, nas quais as circunstâncias fáticas justificam a manutenção da norma durante um
determinado período de tempo. A norma fica numa ”zona cinzenta”. Como exemplo, tem-se a legitimidade ativa
do MP para o ajuizamento de ação civil ex delicto. Entende-se que, desde a promulgação da CF/88, tal atribuição
passou a ser exclusivamente da Defensoria Pública. Entretanto, não se pode olvidar que, na maioria dos
municípios brasileiros, a Defensoria Pública ainda não se encontra devidamente instalada.
Entendeu, então, o STF que o dispositivo legal que confere a legitimidade ao MP está em trânsito para a
inconstitucionalidade, atingindo sua inconstitucionalidade plena quando a DP estiver instalada adequadamente.

7. O poder judiciário pode de alguma forma exercer o controle preventivo de inconstitucionalidade?


A regra, no ordenamento jurídico brasileiro é o controle repressivo de inconstitucionalidade. A CF atribuiu
ao CN a incumbência de servir como espaço público de vocalização de ideias, opiniões e interesses de todos os
segmentos da sociedade. Somente por exceção extrema se deve obstar a discussão de um assunto de interesse
público. Tal como compreendido atualmente, o ideal de governo democrático é o deliberativo, em que a ênfase
recai sobre a capacidade dos cidadãos, livres e iguais, decidirem seu futuro em um processo argumentativo
honesto, em que prevaleça a força das melhores razões.
Apesar disso, admite-se ao Poder Judiciário – e também ao Legislativo (CCJ e exame de MP) e ao
Executivo (veto jurídico presidencial) – obstar a tramitação de a) PEC manifestamente ofensiva a cláusula pétrea;
b) projeto de lei ou PEC em cuja tramitação se verifique manifesta ofensa à cláusula constitucional que
disciplinasse o correspondente processo legislativo.
Tal controle se dá por meio de mandado de segurança, cujo legitimado exclusivo é o parlamentar, tendo
como fundamento a violação a direito líquido e certo de participar de m processo legislativo hígido. A perda
superveniente de titularidade do mandato legislativo desqualifica a legitimação ativa do congressista. Impende,
ainda, destacar que o controle não atinge aspectos discricionários concernentes às questões políticas e aos atos
interna corporis, vedando-se, em princípio, interpretações de normas regimentais.

Direito Eleitoral
Abuso de Poder Econômico em matéria eleitoral

8. Em que consiste o abuso do poder econômico em matéria eleitoral? Como ele se caracteriza?
O abuso do poder econômico verifica-se quando o candidato utiliza-se de recursos financeiros vedados,
ou acima dos limites permitidos pela legislação, de forma a provocar desequilíbrio no pleito. A Constituição
Federal, importante ressaltar, não condena a influência do poder econômico no pleito eleitoral. O exercício do
poder é lícito, tanto que regulado. É a má influência, a excessiva intervenção do poder econômico que deve ser
coibida: recusa-se a influência na normalidade e legitimidade.
Como formas mais habituais de práticas de abuso de poder econômico encontram-se a utilização
indevida de transportes nas eleições; o recebimento e utilização de recursos vedados ou superiores ao permitido
por lei; a realização de gastos eleitorais em montante superior ao declarado; e a utilização de numerário e
serviços, a exemplo dos serviços gráficos, do próprio candidato, sem incluí-los no montante dos gastos eleitorais.
Além disso, a captação ilícita de sufrágio também pode ser acrescentada ao rol.

9. Existe diferença entre abuso do poder econômico e captação ilícita do sufrágio?


A captação ilícita do sufrágio é apenas uma das formas de abuso do poder econômica. Há relação de
gênero e espécie. Constitui captação ilícita de sufrágio o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao
eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou
função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição. É desnecessário o pedido explícito de votos,
bastando a evidência do dolo.

10. Quais são as sanções cabíveis na hipótese de abuso do poder econômico?


São cabíveis a multa e a cassação do registro ou diploma. Além disso, a suspensão imediata da conduta
lesiva.

Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Servidores Públicos

1. Em relação aos agentes políticos, com a tramitação ou alteração do regime jurídico que rege
determinados agentes políticos, o que se resguarda/o que se preserva em relação a esses agentes em
relação à legislação anterior? ( a candidata respondeu que os direitos adquiridos) Quais seriam os
direitos adquiridos?
A relação que rege os agentes públicos é estatutária (estatuto próprio e especial), regulada por lei e pode
ser alterada unilateralmente, consoante entendimento consolidado do STF (não há direito adquirido a regime
jurídico). Como exemplo, o próprio STF já considerou constitucionais a instituição de contribuição previdenciária
para os agentes inativos, assim como a alteração da forma de cálculo dos vencimentos/subsídios. O mesmo
regramento aplicável, neste ponto, aos agentes públicos em geral aplica-se aos agentes políticos – que nada
mais são do que espécies de agentes públicos, mas caracterizados por titularizarem cargos estruturais à
organização política do país.
A ressalva se situa na impossibilidade de se violarem os direitos adquiridos do agente – resguardados
pela CF – e que são, na dicção da LINDB, os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, assim
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio
de outrem.
A título de exemplo, aquele agente que já preencheu todos os requisitos previstos na lei então vigente
para a aquisição da aposentadoria – mas ainda não formulou o respectivo pedido administrativo – continua tendo
o direito de se aposentar, pelas mesmas regras então vigentes, ainda que sejam elas alteradas posteriormente.
De todo modo, não se deve perder de vista, em qualquer caso, a obediência aos princípios da proteção
da confiança, segurança jurídica, boa-fé e estabilidade das relações/situações jurídicas consolidadas, sob pena
de atuação ilícita da Administração Pública.

2. O servidor agente político que adquiriu o direito a aposentação integral e posteriormente se submete a
novo concurso público e ingressa novamente. Os direitos que ele adquiriu na vigência do regime anterior
são transplantados, garantidos na nova carreira? Quanto a servidores admitidos antes da EC 41 em
outras esferas de governo sem ser a federal?
Somente é preservado o tempo de contribuição no antigo cargo. A partir do momento em que se ingressa
em novo cargo, por meio de concurso público, rompe-se o vínculo com o cargo anterior, de modo que não são
transplantados – à exceção, como dito, do tempo de contribuição – os direitos relativos ao regime precedente.
Como agente político, não é permitida, consoante expressa disposição constitucional, a percepção de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, razão pela qual
não haveria que se falar em direito adquirido a referidas verbas.

3. O que a senhora entende por servidores estatais? Não seriam servidores públicos stricto sensu. Só na
indireta? Não poderia na direta também?
Servidores públicos, em sentido amplo, são as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às
entidades da Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres
públicos. Já em sentido estrito, são os titulares de cargo público efetivo e em comissão, com regime jurídico
estatutário geral ou peculiar definidos em lei, integrantes da Administração Direta, autarquias e fundações
públicas com personalidade jurídica de Direito Público.

4. Qual o regime jurídico dos servidores titulares de emprego público?


A expressão “empregado público” designa os agentes públicos que, sob o regime contratual trabalhista
(celetista), mantêm vínculo funcional permanente com a administração pública. São os ocupantes de empregos
públicos, sujeitos, predominantemente, a regime jurídico de direito privado.
5. Servidor público pode ser regido pela CLT?
No sentido estrito, o servidor público sempre está sujeito a regime jurídico de direito público. Isso porque
o servidor público, nessa acepção, mantém relação funcional com o Estado, em regime estatutário (legal). Em
sentido amplo, todavia, seria possível a regência do vínculo com a Administração, pela CLT.

6. É possível o regime jurídico múltiplo, na administração pública indireta, havendo coexistência de


regime celetista e estatutário?
Enquanto vigeu a redação do art. 39, caput – dada pela EC 19/98 -, que extinguiu a exigência de adoção
do regime jurídico único, foi possível a contratação, concomitante, de servidores públicos e de empregados
públicos por autarquias e fundações públicas de qualquer ente federado (integrantes, portanto, da Administração
Indireta).

7. O que seria agente público voluntário? Na atividade pública que ele exerce ele perde a qualidade de
particular, no quesito da responsabilização?
A lei 9608 regulamenta o serviço voluntário e estabelece que “considera-se serviço voluntário, para os
fins desta Lei, a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou
a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos,
recreativos ou de assistência à pessoa." O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de
natureza trabalhista ou previdenciária.
Quanto à responsabilização penal, o CP o equipara a “funcionário público” e, portanto, responde assim
como qualquer outro agente público.
No que se refere à responsabilização civil, o agente voluntário perde a qualidade de particular, de modo
que cabe à Administração Pública responsabilizar-se por seus atos, objetivamente, nos termos do artigo 37, §6º,
CF/88 – cabendo ação regressiva, no caso de dolo ou culpa.
Responde, também, por ato de improbidade administrativa, uma vez que a Lei 8429 não exige que o
agente seja remunerado. Ao contrário, contempla especificamente a hipótese de sua atuação não remunerada.

8. Sobre a LC100 de Minas Gerais, declarada inconstitucional pelo STF. Um candidato foi aprovado
regularmente em concurso público, e em virtude da LC100, entrou com MS para entrar no lugar de
servidora. Não foi aprovado no número de vagas, mas como excedente. Ele detém direito de ser
nomeado?
A LC100/07 “efetivou” diversos agentes públicos que, na data indicada no respectivo ato normativo,
estivessem em efetivo exercício, independentemente de aprovação em concurso público – o que atingiu cerca de
cem mil servidores em todo o estado. Referida lei foi, posteriormente, declarada inconstitucional, em controle
concentrado, pelo STF, por violação ao princípio do concurso público.
No caso exposto no enunciado, não há direito líquido e certo à imediata nomeação, uma vez que nem
todas as pessoas que foram “efetivadas” estavam ocupando cargo público. Além disso, o candidato aprovado em
concurso público além do número de vagas oferecidas no edital respectivo, consoante entendimento do STF, tem
apenas expectativa de direito à nomeação – e não direito subjetivo. Para que a expectativa seja convertida em
direito subjetivo, indispensável a comprovação a) da preterição na nomeação; b) da existência de vagas, desde
que prevista no edital a possibilidade de nomeação de candidatos excedentes no caso de surgimento de novas
vagas.
9. E em relação à responsabilização fiscal? Como a administração vai pagar? Designado ocupa vaga
pública? (o examinador considera que não designado não ocupa vaga, e por isso não poderia o candidato
aprovado fora do número de vagas ser nomeado)
A jurisprudência tem se inclinado no sentido de que os designados que haviam sido “efetivados” não têm
direito à indenização, mas apenas ao pagamento dos vencimentos e eventuais férias/gratificação
natalina/adicionais por tempo de serviço. Referido entendimento encontra-se em consonância com a
irresponsabilidade do Poder Público por atos legislativos. Como já consignado na resposta à questão anterior, o
designado, nem sempre, ocupa cargo vago.

GRUPO TEMÁTICO II

Direito Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
Causas de justificação

1. É possível exercer legítima defesa por omissão?


A omissão da conduta poderá ser o meio da defesa, pelo omitente, de agressão injusta a direito seu ou
de outrem. Como exemplo, tem-se o seguinte: duas pessoas estão em um iate, em alto mar. Adão, fraco e magro,
é injustamente agredido, com violência, por José, seu companheiro de viagem, forte e musculoso. Começam a
lutar - Adão para proteger-se e José para consumar o mal pretendido. José acaba desequilibrando-se e caindo
d'água. Adão não o salva, porque, se o fizesse, correria o risco de ser novamente agredido.

2. Se o carcereiro, p.ex., sabe que recebeu promessa de morte de um determinado preso e, diante de um
alvará de soltura, deixa de soltar o preso em virtude da ameaça de morte. O preso tem um alvará de
soltura e o carcereiro. Mesmo diante do risco de morte ele deve ser punido?
No caso exposto, deve-se apurar se o único meio de o carcereiro se defender da agressão iminente e
injusta era não cumprir o alvará de soltura. De todo modo, o descumprimento do alvará deve durar apenas o
período necessário para a comunicação às autoridades competentes para apurar a ameaça, sob pena de
configurar o crime previsto no artigo 4º, i, Lei do Abuso de Autoridade.

3. E legítima defesa de ato de PJ, é possível?


É perfeitamente possível, uma vez que a pessoa jurídica exterioriza suas vontades através de
representantes, humanos, que podem praticar agressões injustas.

4. Quais são os requisitos para o consentimento do ofendido, para que se aceite o consentimento do
ofendido como causa de justificação?
O consentimento do ofendido é considerado causa supralegal de exclusão da ilicitude – podendo, quando
o consentimento integra o próprio tipo, configurar causa de exclusão da tipicidade. A teoria prevalecente que
busca fundamentar o concentimento do ofendido é a a ponderação de valores: o Direito concede prioridade ao
valor da liberdade de atuação da vontade frente ao desvalor da conduta e do resultado causado pelo delito que
atinge bem jurídico disponível. São requisitos os seguintes: a) o único titular do bem ou interesse juridicamente
protegido é a pessoa que aquiesce e pode livremente dele dispor; b) cabível unicamente em relação a bens
jurídicos disponíveis. Se indisponíveis, o Estado tem interesse privativo; c) deve ser expresso; d) livre; e) respeitar
a moral e os bons costumes; f) ser manifestado previamente à consumação da infração; g) ofendido plenamente
capaz.

5. Dentro da capacidade, uma pessoa de 13 anos tem capacidade para consentir? Mas e se essa pessoa
pedir, encarecidamente, para ficar trancada num quarto por um dia inteiro, tem crime aí? Mas aí não
haveria um explícito consentimento? E se essa pessoa tiver 17 anos, estudando para o vestibular?
Um dos requisitos para a configuração do consentimento do ofendido é a plena capacidade do sujeito
que consente e aquiesce com a conduta. A pessoa menor de 14 anos é considerada, no âmbito penal, vulnerável,
sendo completamente irrelevante o seu consentimento, que não tem valor jurídico. Pouco importa se se trata de
manifestação explícita ou implícita de vontade. Com relação à pessoa que possua 17 anos, deve ser analisada a
situação em concreto, a fim de que se apure se referido consentimento foi consciente e se essa pessoa tem
capacidade para dispôr de bem jurídico de que seja titular. Apesar disso, prevalece no âmbito doutrinário que a
capacidade para consentir leva em consideração a capacidade civil.

6. O medo pode ser uma causa de exculpação no direito Brasileiro?


É possível que o medo configure causa de exclusão da culpabilidade, pela inexigibilidade de conduta
diversa, nos casos de excesso. É chamado de excesso exculpante e decorre da profunda alteração de ânimo do
agente, isto é, medo ou susto provocado pela situação em que se encontra. Não há previsão legal no CPB e, por
ser insergura, os seus críticos argumentam que sua aplicação levaria muitas vezes à impunidade. Apesar disso,
impende destacar que o CPM adotou expressamente admite o chamado excesso exculpante.

Direito Processual Penal


Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Sujeitos processuais

1. Gostaria de ouvir sobre o assistente a acusação, quais são os seus direitos, como ele atua?
Consoante expressa disposição legal, ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer
perguntas à testemunha, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo MP – ou por ele
próprio. Tem-se entendido, majoritariamente, que a atuação do assistente da acusação no processo penal não
visa, exclusivamente, à obtenção de uma sentença condenatória com trânsito em julgado para satisfação de
meros interesses patrimoniais. Na verdade, o assistente também tem interesse em uma condenação que seja
justa e proporcional ao fato perpetrado. Daí porque, sempre que se vislumbre o objetivo de atingir “justiça”, seria
permitido ao assistente atuar – ainda que não haja disposição legal expressa autorizando-o, ressalvadas as
hipóteses em que a intenção do legislador tenha sido, efetivamente, excluir essa possibilidade.

2. O assistente pode aditar a denúncia, acrescentar testemunhas? Sobre o entendimento de que não
haveria só um interesse material, esse entendimento é majoritário no sentido de o assistente poder
recorrer para aumentar a pena?
Não é possível ao assistente aditar a denúncia, ainda que seja apenas com o objetivo de acrescentar
testemunhas, sob pena de usurpação das atribuições do titular da ação penal. É-lhe possível, apenas, formular
perguntas à testemunha, depois do Ministério Público. Se o assistente de acusação constatar que haveria alguma
testemunha relevante, que não foi arrolada, pode sugerir sua oitiva ao Juiz, como testemunha do Juízo.
3. Você poderia falar um pouco sobre as novidades normativas a respeitos da participação da vítima no
processo penal?
As alterações no CPP, produzidas pelas Leis 11.689/08, 11.690/08 e 12.403/11 confirmam a importância
crescente do papel do assistente de acusação no processo penal, visto que todas elas outorgaram a ele mais
atribuições. A título de exemplo, o assistente passou a ter legitimidade para requerer o desaforamento no âmbito
do Júri e para requerer a decretação da prisão preventiva. Além disso, o art. 201, §2º, CPP passou a prever que o
ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à
designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou a modifiquem.

4. Qual seria o procedimento para arguição e deferimento da suspeição por foro íntimo do magistrado? O
tribunal pode inadmitir aquele motivo?
Em regra, as causas de suspeição são circunstâncias subjetivas relacionadas a fatos externos ao
processo capazes de prejudicar a imparcialidade do magistrado. Grosso modo, o juiz é suspeito quando se
interessa por qualquer das partes. Exatamente por isso, o rol de suspeição é meramente exemplificativo,
admitindo que o juiz se declare suspeito “por motivo de foro íntimo”. Considerando a natureza exemplificativa do
rol, é possível à parte apresentar exceção de suspeição, alegando motivo que não conste expressamente do
CPP, mas que afete a imparcialidade do julgador – e que deveria/poderia ter sido por ele reconhecido como
“motivo de foro íntimo”. Não é possível, contudo, que a parte apresente exceção de suspeição, sem indicar o
motivo, obviamente.
O CNJ havia editado a Resolução n. 82, exigindo que o juiz declarasse, em ofícios reservados remetidos
às respectivas Corregedorias, as razões de foro íntimo de suas declarações de suspeição. Referida exigência,
contudo, teve sua eficácia suspensa, pelo STF.
Não é possível, assim, ao Tribunal – que nem sempre conhecerá das razões da suspeição, rejeita-la. Isso
por uma razão óbvia: se o juiz se declarou suspeito, significa dizer que o próprio magistrado entende que
determinado motivo – ainda que não declarado – estaria por prejudicar sua atuação imparcial no feito. Logo, seria
de todo inviável que o Tribunal pudesse obrigá-lo a proceder ao julgamento do respectivo processo.

5. O MP pode recorrer a favor do querelante em ação penal privada?


Nas ações penais exclusivamente privadas, o órgão do MP pode recorrer contra uma sentença
condenatória, podendo fazê-lo em favor ou em desfavor do acusado, inclusive visando ao aumento da pena
fixada. Todavia, não se admite que o MP recorra contra uma sentença absolutória, se o querelante não o fizer, em
razão do princípio da disponibilidade da ação exclusivamente privada ou personalíssima. Afinal, se o querelante
pode dispor da ação penal, dela desistindo, perdoando o querelado e ainda abrindo mão do direito de recorrer, a
não interposição de apelação pelo querelante contra sentença absolutória importa em evidente desistência da
ação, motivo pelo qual não se admite que o MP dê prosseguimento ao feito com a interposição de apelação.
GRUPO TEMÁTICO III

Direito Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Capacidade civil

1. Disserte sobre o que é capacidade. Existe alguma divisão da capacidade?


O art. 1º CC/02 prevê que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Isso quer dizer que
qualquer ser humano, sem distinção, tem total possibilidade de adquirir direitos ou obrigações. Trata-se da
capacidade de aquisição de direitos.
A capacidade para o exercício dos direitos (capacidade de fato), de outro lado, envolve, para muito além
da mera personalidade (ou capacidade de direito), o preenchimento de requisitos legais para que o sujeito de
direitos possa, além de adquirir direitos, exercê-los plenamente. Esses requisitos são firmados pela lei civil com a
intenção de proteger a situação de determinadas pessoas que, por imaturidade ou outra condição especial,
podem adquirir direitos mas não podem exercê-los, senão através de representante ou assistente, conforme o
caso.

2. Na capacidade existem dois institutos quando se trata de defeito de idade, quais são eles?
(representação e assistência)
Trata-se da representação, para os absolutamente incapazes e da assistência, para os relativamente
incapazes. Reside a diferença da incapacidade relativa da absoluta justamente no fato de que os absolutamente
incapazes não podem praticar o ato diretamente, porque sempre serão representados para a defesa de seus
interesses; já o relativamente incapaz pratica o ato em pessoa, sendo apenas assistido por quem de direito nessa
prática.

3. A idade núbil é 16 anos no CC, o maior de 16 não será assistido para o casamento?
A idade mínima para casar, também chamada de idade núbil, é de 16 anos, o que significa que as
pessoas menores de 16 anos não poderão casar – ainda que sejam autorizados por seus representantes legais,
ressalvados os casos de gravidez.
Quanto ao jovem entre 16 e 18 anos, será imprescindível que obtenha a autorização dos responsáveis
legais – autorização que pode ser revogada até o momento da celebração. Caso não justifiquem a revogação, a
autorização será suprida por decisão judicial.

4. O que é a capacidade civil plena?


Capacidade plena é quando uma pessoa é totalmente responsável por seus atos, ou seja, quando é apta
a tomar suas próprias decisões (mais de 18 anos e não possui problemas mentais). A capacidade limitada ou
relativa é concedida a pessoas entre 16 e 18 anos, usuários de drogas ou usuários de bebida alcoólica. Nesse
caso, a pessoa é relativamente capaz de tomar decisões, ou seja, ela pode exercer seus direitos de cidadão, mas
deve ser auxiliada por alguém plenamente capaz.

5. O art. 33 do ECA fala sobre a guarda. A guarda por terceiro, p.ex., o avô exerce a guarda do neto,
guarda judicial, essa guarda é compatível com o poder familiar dos pais, para fins de representação?
A guarda a que se refere o ECA não é a mesma do direito de família, que surge quando os pais se
separam. A guarda do ECA é concedida a terceiro, como uma das modalidades de colocação em família
substituta, que poderá inclusive opor-se à vontade dos pais. Dentre os atributos inerentes à guarda, não está a
representação, que deve ser conferida expressamente pelo juiz para determinados atos. Guarda e poder familiar
não são institutos excludentes e podem subsistir numa mesma situação (caso do enunciado, por exemplo).
Nesses casos, a guarda não opera mudanças substanciais na autoridade exercida pelos genitores, apenas
destacando o encargo da guarda e responsabilidade ao detentor de fato da criança ou adolescente (avô, no
caso).
6. A incapacidade por enfermidade ou deficiência mental pode, em regra, ser presumida?
A incapacidade por enfermidade ou deficiência legal deve ser declarada judicialmente, não podendo ser
presumida.

7. O negócio jurídico pode ser invalidado sem o pressuposto da interdição?


A doutrina moderna tem entendido que, embora a incapacidade não tenha sido declarada, é possível o
reconhecimento da anulabilidade do ato jurídico praticado por relativamente incapaz por enfermidade e
deficiência mental (lembrar que, com o advento da Lei 13.146/15, apenas são absolutamente incapazes os
menores de dezesseis anos. Todos os outros passam a ser relativamente incapazes).
Entretanto, enquanto não houver sentença de interdição, o ato por ele praticado é inválido, mas essa
invalidade dependerá da inexistência de boa-fé do terceiro contratante e da existência de prova inequívoca da
anomalia.

Direito Processual Civil


Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Recursos em espécie

1. Existe alguma previsão legal de interposição de qualquer um dos recursos cíveis pela forma oral?
Em regra, no processo civil, o recorrente deve, sob pena de inadmissibilidade de seu recurso, respeitar a
forma escrita para a interposição (à exceção dos embargos declaratórios em Juizados Especiais Cíveis – art. 49 -,
que podem ser interpostos oralmente).

2. Quais as hipóteses legais do cabimento do agravo de instrumento?


Consoante expressa previsão legal, cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: i- tutelas provisórias; ii- mérito do processo; iii- rejeição da alegação de convenção de
arbitragem; iv- incidente de desconsideração da personalidade jurídica; v- rejeição do pedido de gratuidade da
justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; vi- exibição ou posse de documento ou coisa; vii- exclusão
de litisconsorte; viii- rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; ix- admissão ou inadmissão de intervenção
de terceiros; x- concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; xi-
redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1o; xii- interlocutórias proferidas na fase de liquidação
de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

3. Num agravo de instrumento em que não tenha sido formada a relação processual no processo de
conhecimento. É necessário intimar o agravado para apresentar contraminuta? O examinador deixou
claro que não era conhecido o resultado do agravo, se seria ou não provido. E se o tribunal tiver uma
tendência a dar provimento?
Independentemente da formação da relação processual no processo de conhecimento, afigura-se
imprescindível que se dê ciência da interposição do recurso ao agravado. Caso já tenha constituído advogado,
referida intimação dar-se-á por publicação. De outro lado, se ainda não houver procurador constituído, o agravado
será pessoalmente intimado por carta com aviso de recebimento.

4. No julgamento de uma apelação de uma sentença terminativa, em que hipótese é possível que o
tribunal julgue o mérito daquela ação?
O CPC prevê quatro casos de aplicação da regra que permite o julgamento imediato do mérito pelo
Tribunal: a) sentença de conteúdo processual (sentença terminativa, portanto); b) sentença que violou a regra da
congruência; c) sentença que não examinou o pedido e d) sentença sem fundamentação.
Afigura-se imprescindível, para aplicação da “teoria da causa madura”, que a apelação seja provida e que
o processo esteja em condições de imediato julgamento. Isso significa que o processo tem de estar pronto: réu
citado e provas produzidas. Alguns autores exigem, ainda, a formulação de requerimento do recorrente para o
julgamento do mérito, “tendo em vista que a delimitação ‘daquilo-que-tem-de-ser-decidido’ pelo órgão jurisdicional
é, no ordenamento jurídico brasileiro, matéria adstrita ao princípio dispositivo e, pois, à provocação da parte
interessada” (Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, v. 3, pg. 232).

5. O que estaria estar pronto pra julgamento? O que é uma matéria pronta para julgamento?
Como já consignado na questão anterior, “pronto para julgamento” é réu validamente citado e provas
produzidas.

6. Em quais hipóteses legais o juiz está autorizado a retratar-se de sua sentença?


O efeito regressivo ou efeito de retratação é que autoriza o órgão a quo a rever a decisão recorrida. É o
que acontece com: a) apelação contra sentença que indefere a petição inicial; b) apelação contra sentença que
extingue o processo sem exame do mérito; c) apelação contra sentença de improcedência liminar do pedido; d)
apelação no ECA; e) agravo de instrumento; f) agravo interno; g) recursos especial e extraordinário repetitivos.

7. Quais recursos que expressamente a lei não prevê efeito suspensivo? Aqueles em que a lei diz
expressamente que não cabe.
No caso de agravo de instrumento, a lei expressamente afirma que, nos casos lá explicitados, o relator
“poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso” - do que se infere que não o possui ordinariamente (mesmo caso
dos recursos extraordinário e especial – art. 1029, §5º). O art. 1026 expressamente afirma que os “embargos de
declaração não possuem efeito suspensivo”.

8. É possível falar em efeito suspensivo nos embargos declaratórios? Com relação a jurisprudência do
STJ sobre o tema, a senhora conhece?
Os embargos de declaração, em regra, não possuem efeito suspensivo (por expressa previsão legal) e
são cabíveis contra toda e qualquer decisão judicial. O efeito suspensivo automático – dos recursos que o
possuem (apelação, por exemplo) -, de outro lado, resulta da mera recorribilidade do ato (publicação da sentença,
por exemplo). Nesses casos – quando o recurso possuir efeito suspensivo -, não há como permitir que a decisão
produza efeitos. A simples oposição de embargos declaratórios não tem o condão de afastar o efeito suspensivo
automático estabelecido por lei. Assim, seria possível falar em efeito suspensivo dos embargos declaratórios.
(não achei jurisprudência do STJ).

9. Diferencie recurso em espécie de reenvio necessário.


O entendimento majoritário é aquele segundo o qual, para que seja considerado recurso, deve haver a
impugnação voluntária da decisão judicial, ou seja, exige-se a iniciativa da parte. No caso de reexame necessário,
de outro lado, a própria lei obriga que o juiz remeta os autos à instância superior, quando preenchidos os
requisitos legais. Dispensa-se, portanto, qualquer iniciativa da parte, podendo o Tribunal, inclusive, avocar o
processo que não tenha sido enviado. Ademais, não se opera o trânsito em julgado enquanto não apreciada a
decisão judicial pelo tribunal, ainda que decorrido o prazo in albis para a interposição de recursos pelas partes.
10. No seu entendimento o MP tem prazo em dobro para contrarrazões ou contraminuta em recursos?
O CPC é expresso quanto à previsão de que todos os prazos processuais (aí incluídos os prazos para
apresentação de contrarrazões ou contraminuta) do MP devem ser contados em dobro – à exceção dos casos em
que haja previsão específica do prazo para o MP (manifestação em mandado de segurança, por exemplo).

11. Cabe REsp contra acórdão que julgou agravo de instrumento?


Apesar de haver entendimento doutrinário em sentido contrário, prevalece o entendimento – inclusive no
âmbito do próprio STJ -, segundo o qual é possível a interposição de recurso especial contra acórdão proferido no
julgamento de agravo de instrumento (súmula n. 86). Assentou-se o entendimento de que o termo causa –
previsto na CF/88 – abrange não somente o julgamento final da demanda, como também a resolução de qualquer
incidente no processo.
Com relação ao agravo decorrente de tutela provisória de urgência, de outro lado, os tribunais superiores
não têm admitido recursos extraordinários lato sensu, com dois argumentos: primeiro, pela natureza precária da
decisão e, segundo, pela impossibilidade de reexame de prova.

GRUPO TEMÁTICO IV
Direito Material Coletivo
Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Política Urbana

1. Sobre parcelamento do solo, quais são as formas de parcelamento do solo urbano? Como é que cada
uma é caracterizada?
O parcelamento do solo urbano é instituto de Direito Urbanístico que tem por finalidade precípua ordenar
o espaço urbano destinado à habitação, comércio ou indústria. O termo parcelamento de solo urbano é gênero,
do qual são espécies o loteamento e o desmembramento.
Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas
vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes.
Considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com
aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros
públicos, nem no prolongamento, modificação ou amplificação dos já existentes.

2. Havendo o loteamento de um imóvel, os moradores podem obstruir o tráfego de pessoas, p.ex.,


colocando uma cancela? A senhora conhece a jurisprudência do TJMG sobre isso?
Até o advento da Lei nº 13.465/2017, ao ser realizado o parcelamento do solo, não poderia haver a
criação de áreas de propriedade comum dos proprietários dos lotes, ao contrário do que sucede quando se tem
um condomínio edilício. Daí decorre que, em princípio, se não houvesse consentimento municipal, as ruas não
poderiam ser bloqueadas a terceiros.
A realidade, porém, caminhou no sentido da multiplicação de “loteamentos fechados” Esse “loteamento
fechado” seria legal se houvesse um ato administrativo concedendo o uso dos bens públicos (ruas, praças etc.) à
associação de moradores, mas, na maior parte dos casos concretos, não há essa autorização. Sempre foi comum
os “loteadores” tentarem conseguir instalar um “loteamento fechado” invocando a figura do condomínio vertical (o
de casas), previsto no art. 8º da Lei nº 4.591/64. O argumento deles é o de que, sob essa formatação jurídica, as
ruas, praças e demais áreas de uso comum não seriam transferidas à propriedade do Município – como sucede
no loteamento tradicional –, mas seriam propriedade comum dos titulares das unidades privativas.
Lei nº 13.465/2017 criou uma nova espécie de condomínio, batizado de “condomínio de lotes” - que nada
mais é do um desdobramento do condomínio edilício vertical de que tratava o art. 8º da Lei nº 4.591/2017. Agora,
o novo art. 1.358-A do CC passa a permitir a criação de um condomínio que será composto por lotes, os quais
estarão necessariamente vinculados a uma fração ideal das áreas comuns em proporção a ser definida no ato de
instituição. Isso significa que, nesse arranjo espacial, as ruas, as praças e as demais áreas de uso comum não
são transferidas à propriedade do Município, mas continuam sendo propriedade privada, pertencente aos titulares
do lote de acordo com a respectiva fração ideal.
Portanto, pelo regulamento legislativo atual, seria possível a instalação de cancelas.
(Com relação à jurisprudência do TJMG, acho que perdeu o sentido, diante da alteração da legislação).

3. Existem mecanismos de controle social, de participação, em relação ao Plano Diretor? Isso é na fase de
elaboração e aprovação, e na fase de execução do Plano Diretor?
No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes
Legislativo e Executivo municipais garantirão a promoção de audiências públicas e debates com a participação da
população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; a publicidade quanto aos
documentos e informações produzidos; o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações
produzidos.
Não só o processo de elaboração, como também o de implementação e execução do Plano diretor deve
ser participativo, nos termos do art. 40, § 4o e do art. 43 do Estatuto da Cidade. A coordenação do processo
participativo de elaboração do Plano Diretor deve ser compartilhada, por meio da efetiva participação de poder
público e da sociedade civil, em todas as etapas do processo, desde a elaboração até a definição dos
mecanismos para a tomada de decisões.

4. Sobre o Estudo de Impacto de Vizinhança, qual é o objeto, qual o fator que se observa?
O objeto são empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana, com a finalidade de
apurar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população
residente na área e suas proximidades.

5. Em uma situação hipotética, chega a suas mãos um pedido de Usucapião Coletivo, trata-se de uma
ocupação, com várias famílias. A senhora constata uma informação nos autos, de que uma parcela, 30%
da área ocupada, é área de preservação ambiental. Nesse mesmo caso, a senhora recebeu a notícia do
dano à área de preservação permanente. Alguma outra providência a ser tomada?
A Lei Federal nº 11.977/2009 prevê a possibilidade de se promover, por decisão fundamentada,
regularização fundiária em áreas de preservação permanente. Essa possibilidade é restrita à regularização
fundiária de interesse social e somente pode ser admitida nos casos em que: a) a ocupação da APP for anterior a
31 de dezembro de 2007; b) o assentamento estiver inserido em área urbana consolidada; c) estudo técnico
comprovar que a intervenção programada implicará melhoria das condições ambientais relativamente à situação
de ocupação irregular anterior.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Patrimônio Cultural
1. O que é o patrimônio cultural? Dentro dos direitos difusos, onde ele se localiza? ( o examinador disse
que a maioria das pessoas não faz essa divisão, mas que o patrimônio cultural faz parte do meio ambiente, é o
meio ambiente cultural.
Constituem o patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diversos grupos
formadores da sociedade brasileira. Integram o meio ambiente.

2. A senhora tem notícia de algum bem imaterial que seja patrimônio do estado de Minas Gerais?
Queijo do serro.

3. Que tipo de bens que se incluem entre os bens culturais?


Incluem-se entre bens culturais as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações
científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Um exemplo específico de bem reconhecido por lei como integrante do patrimônio cultural brasileiro é o
conhecimento tradicional das comunidades indígenas e das comunidades locais, associado ao patrimônio
genético.

4. O bem cultural precisa ter uma representatividade grande pra ser protegido? O Critério utilizado
quando se criou o serviço de patrimônio histórico nacional (SEPHAN), hoje IPHAN, tem que ser algo
maior, como a cidade de Ouro Preto, ou pode ser algo menor, p.ex., uma praça lá de São João da Ponte.
O examinador considera que não é necessária a fundamentalidade, deve haver um sentimento de
pertencer.

5. Tem algum instrumento específico de proteção que não está no âmbito do Executivo? Existe um que o
MP tem se utilizado muito dele, para a proteção do patrimônio cultural, que instrumento seria esse? O que
ele pede nessa ACP? Sobre a natureza da sentença.
O examinador considerou possível o ajuizamento de ACP objetivando a declaração do valor cultural –
Ação Civil Pública Declaratória do Valor Cultural. Isso tem fundamento constitucional que não está no art. 129,
está no §1º do art. 216.

6. Pode um bem cultural sair do país? Onde está essa autorização normativamente, sem ser na CRFB.
Decreto-lei 25/1937(?)
As coisas móveis tombadas não poderão sair do Brasil, salvo a curto prazo, se autorizado, sob pena de
sequestro. Previsão no Decreto-lei 25/1937.

7. Regulamentação quanto à reforma dos bens, como isso pode se dar, quando está se deteriorando um
bem material, quem tem responsabilidade para a reforma? Este ente, no caso IPHAN, IEFA ou órgão
especifico municipal, depende de notificação do proprietário?
As coisas tombadas não poderão, em nenhum caso, ser destruídas, demolidas ou mutiladas. No caso de
restauração ou pintura, deve o proprietário pedir autorização (ato administrativo precário e discricionário) prévia
ao órgão ambiental cultural que tombou o bem.
Dia 17 – Ponto 01 – Fernanda Saratt

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinador: Dr. Fabiano Furlan
Princípios e garantias fundamentais na CRFB

1. Existem princípios não expressos na CRFB sobre direitos humanos? Você saberia me dar um exemplo?

Primeiramente, vale ressaltar que a especificação dos direitos e garantias expressas na Constituição
Federal não exclui outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios que ela adota, conforme art.
5º, §2º.
O princípio do não retrocesso social não é expresso no texto constitucional desta forma, necessário
que se coloque a premissa necessária para o seu reconhecimento no ordenamento jurídico brasileiro, como
verdadeiro direito que recebeu a garantia de fundamentalidade, qual seja, a segurança jurídica. A
Segurança Jurídica, deve ser tomada como verdadeiro princípio constitucional norteador, ao lado da Máxima
Efetividade das Normas Constitucionais, para que se sustente o princípio do não retrocesso social mesmo que
não positivados, mais de importância inarredável para a realização da dignidade da pessoa humana, que
somente pode se concretizar através da proteção dos direitos fundamentais, e o impedimento de medida
retrocessivas, denominado por Canotilho como proibição de contra-revolução social ou revolução reaccionária.
Para o constitucionalista de Coimbra, na medida em que os direitos sociais atinjam um determinado grau de
realização observa-se uma dupla face, ou seja, além de dotados de garantia institucional passam a constituir um
direito subjetivo, sendo que medidas retrocessivas justificam a sanção da inconstitucionalidade, pois, são
contrárias à Justiça Social.
O princípio do duplo grau de jurisdição não é garantido expressamente na Constituição Federal, mas
a própria Constituição incumbe-se de atribuir competência recursal a vários órgãos da jurisdição (artigos 102, III,
105, II, e 108 II), prevendo expressamente, sob a denominação de tribunais, órgãos judiciários de segundo grau
(art. 93, II, da CF/88∕88). O Código de Processo Penal, o Código de Processo Civil, a Consolidação das Leis do
Trabalho, leis extravagantes e as leis de organização judiciária prevêem e disciplinam o duplo grau de jurisdição
(CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, 2006, p. 81
O princípio da proporcionalidade consiste na aferição da idoneidade, necessidade e equilíbrio da
intervenção estatal em determinado direito fundamental. Não há menção expressa ao princípio da
proporcionalidade na Constituição Federal de 1988, seu fundamento decorre do Estado Democrático de Direito,
do devido processo legal (substancial), da dignidade da pessoa humana e do princípio da isonomia.

2. Existe um princípio muitas vezes invocado, o princípio da proporcionalidade, você saberia me dizer
qual o conteúdo desse princípio? Qual a principal crítica referente a esse princípio? É uma vertente
habessmasiana, mas não necessariamente dele, vários doutrinadores tocam nesse ponto. O examinador
disse que era uma homenagem ao Dr. Fernando.
As sub-regras do mecanismo de proporcionalidade que são estruturadas de maneira a funcionarem
sucessiva e subsidiariamente, mas nunca aleatoriamente. Por isso, nem sempre será necessária uma análise de
todas as três sub-regras.
O adequado não é somente o meio com cuja utilização um objetivo é alcançado, mas também o meio
com cuja utilização a realização de um objetivo é fomentada, promovida, ainda que o objetivo não seja
completamente realizado. Uma medida estatal é adequada quando o seu emprego faz com que o 'objeto legítimo
pretendido seja alcançado ou pelo menos fomentado'. Dessa forma, uma medida somente pode ser considerada
inadequada se sua utilização não contribuir em nada para fomentar a realização do objetivo pretendido.
Por necessidade entende-se uma imposição que é posta ao Poder Público para que adote sempre a
medida menos gravosa possível (de menor ingerência possível) para atingir um determinado objetivo. Aqui, um
ato que limita um direito fundamental só será considerado necessário se para realizar seu objetivo pretendido não
houver outra medida ou ato que limite em menos intensidade (menos gravidade), o direito fundamental a ser
atingido.
Podemos, assim, concluir que enquanto a adequação exige um exame absoluto do ato, a necessidade
demanda um exame comparativo dos atos.
A proporcionalidade em sentido estrito, apenas acontecerá depois de verificado que o ato é adequado e
necessário. A proporcionalidade em sentido estrito, então, é um raciocínio de sopesamento (balanceamento) que
se dá entre a intensidade da restrição que o direito fundamental irá sofrer e a importância da realização do outro
direito fundamental que lhe é colidente e que, por isso, parece fundamentar a adoção da medida restritiva.
Segundo Daniel Sarmento, há aqui um raciocínio baseado na relação custo-benefício da norma avaliada,
isto é, o ônus imposto pela norma deve ser inferior ao benefício (bônus) que pretende gerar. A constatação
negativa deve ser tomada, portanto, como um juízo pela desproporcionalidade do ato. Todavia, para que uma
medida seja reprovada no teste da proporcionalidade em sentido estrito, não é necessário que ela implique a não-
realização de um direito fundamental. Também não é necessário que a medida atinja o chamado núcleo essencial
de algum direito fundamental. Para que ela seja considerada desproporcional em sentido estrito, basta que os
motivos que fundamentam a adoção da medida não tenham peso suficiente para justificar a restrição ao direito
fundamental atingido. É possível, por exemplo, que essa restrição seja pequena, bem distante de implicar a não-
realização de algum direito ou de atingir o seu núcleo essencial. Se a importância da realização do direito
fundamental, no qual a limitação se baseia, não for suficiente para justificá-la, será ela desproporcional.
Ou seja, para que possa fazer uma avaliação sobre qual direito fundamental deverá ter prevalência em
caso de conflito, o aplicador do direito deverá fazer uma avaliação equacionada da situação (do caso concreto),
objetivando verificar se de fato a medida original a ser adotada apresenta uma leitura que considera o direito
fundamental preservado mais importante do que o seu rival, uma vez que traria um benefício superior para a
comunidade do que se adotasse uma interpretação que se voltasse para a maior proteção do outro direito
fundamental.
Com isso, à luz da tese Alexyana, se desenvolve a "crença" de que usando desse método ora analisado
(critério da proporcionalidade) seríamos capazes de assegurar decisões dotadas de racionalidade, evitando-se,
assim, o decisionismo, bem como a incerteza e a insegurança.
Porém, várias críticas já foram e ainda são desenvolvidas à prática da ponderação baseada no "princípio
(em nosso entendimento regra, ou para alguns, máxima ou mesmo postulado) da proporcionalidade", entre elas:
a) desnaturação do princípio da separação dos poderes;
b) limitação da supremacia constitucional pela transformação dos Tribunais Constitucionais em verdadeiras
Assembleias Constituintes (poder constituinte originário permanente);
c) desnaturação dos direitos fundamentais e da unidade normativa da Constituição;
d) politização do judiciário, por meio de decisões utilitárias de custo/benefício sociais;
e) abertura para decisões dotadas de puro arbítrio;
f) abertura para decisões dotadas de preferências pessoais dos juízes (com a diluição da positividade-juridicidade
da Constituição);
g) irracionalidade metodológica;
h) transformação da Constituição em uma ordem concreta de valores que seriam explicitados pelo Poder
Judiciário (guardião e tradutor de uma " pretensa" virtude cívica).
Em especial, Habermas critica que o modelo ponderativo recai sobre a tomada da força normativa dos
direitos fundamentais, que seriam reduzidos ao plano de objetivos, programas e valores. Ademais, a crítica
habermasiana refere-se a um problema conceitual, de que com a construção da ponderação, o direito seria
sacado no âmbito do válido e inválido e por critérios de discricionariedade.

3. Lei municipal que diz que o prefeito deve prestar em 20 dias úteis, informações solicitadas pela Câmara
Municipal viola a separação dos poderes?
A previsão de convocação do Prefeito ou do Vice-Prefeito Municipal é inconstitucional. Isso porque não
há precedente constitucional que autorize a convocação do Presidente ou do Vice-Presidente da República e do
Governador ou do Vice-Governador do Estado, o que ensejaria, por simetria, a convocação no âmbito local. E
nem poderia ser diferente, sob pena de se estabelecer uma intolerável situação de subordinação do Executivo ao
Legislativo, em afronta ao princípio da independência entre os Poderes, o qual encontra previsão no art. 2º da
Constituição Federal. Consagra-se, pois, a separação dos Poderes assentada na independência e harmonia entre
eles, o que resulta na ausência de relação de subordinação no exercício de suas funções e, ao mesmo tempo, no
estabelecimento de um mecanismo de controle mútuo entre os três Poderes.
No caso, cabe fazer a distinção entre solicitar (que é o mesmo que pedir) e convocar (que tem a
conotação de determinar). Há diferença sensível nessas expressões, com consequências relevantes, pois a
solicitação não tem caráter cogente, ao passo que a convocação significa ordem, cuja desobediência importa
sanção. E, no caso em tela, a lei refere convocação.
O Supremo Tribunal Federal, reconhecendo flagrante violação ao principio da separação dos Poderes,
declarou a inconstitucionalidade de dispositivo da Constituição do Estado da Bahia que estabelecia a
possibilidade de convocação, pela Assembleia Legislativa, do Governador do Estado, para prestar informações. A
decisão foi assim ementada:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Medida Cautelar. Dispositivo da
Constituição do Estado da Bahia que prevê a convocação, pela Assembléia Legislativa,
do Governador do Estado, para prestar pessoalmente informações sobre assunto
determinado, importando em crime de responsabilidade a ausência sem justificação
adequada. ‘Fumus boni iuris’ que se demostra com a afronta ao princípio de separação
e harmonia dos poderes, consagrado na Constituição Federal. ‘Periculum in mora’
evidenciado no justo receio do conflito entre poderes, me face de injunções políticas.
MEDIDA CAUTELAR CONCEDIDA. (STF, Tribunal Pleno, ADI-MC 111/BA, rel. Min.
Carlos Madeira, j. 25.10.1989)

E, seguindo a mesma linha de raciocínio, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de


dispositivo da Constituição do Estado do Espírito Santo que contemplava a possibilidade de a Assembleia
Legislativa convocar o Presidente do Tribunal de Justiça para prestar informações:
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO
DA EXPRESSÃO "PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA", CONTIDA NOS §§ 1º E
2º DO ART. 57 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Os
dispositivos impugnados contemplam a possibilidade de a Assembléia Legislativa
capixaba convocar o Presidente do Tribunal de Justiça para prestar, pessoalmente,
informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de
responsabilidade a ausência injustificada desse Chefe de Poder. Ao fazê-lo, porém, o
art. 57 da Constituição capixaba não seguiu o paradigma da Constituição Federal,
extrapolando as fronteiras do esquema de freios e contrapesos -- cuja aplicabilidade é
sempre estrita ou materialmente inelástica -- e maculando o Princípio da Separação de
Poderes. Ação julgada parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade da
expressão "Presidente do Tribunal de Justiça", inserta no § 2º e no caput do art. 57 da
Constituição do Estado do Espírito Santo. (STF, Tribunal Pleno, ADI 2111/ES, rel. Min.
Carlos Britto, j. 10.08.2006, DJ 02.02.2007, p. 71)

4. O que são ações afirmativas? A candidata falou sobre cotas e foi questionada: Há
inconstitucionalidade? Viola o princípio da igualdade?
Ações afirmativas são medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a proteção
de certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos do
homem e das liberdades fundamentais.
Segundo o Min. Lewandowski, ao contrário do que se costuma pensar, as políticas de ações afirmativas
não são uma criação norte-americana. Elas, em verdade, têm origem na Índia, país marcado, há séculos, por
uma profunda diversidade cultural e étnico-racial, como também por uma conspícua (séria, grave) desigualdade
entre as pessoas, decorrente de uma rígida estratificação social. Com o intuito de reverter esse quadro, que se
notabilizou pela existência de uma casta de “párias” ou “intocáveis”, importantes lideranças políticas indianas do
século passado, entre as quais o patrono da independência do país, Mahatma Gandhi, conseguiram aprovar, em
1935, o conhecido Government of India Act, que seria uma espécie de primórdio das ações afirmativas.
Modalidades ou exemplos de ações afirmativas empregadas em vários países:
a) Levar em consideração critérios como a raça, o gênero ou outros aspectos que caracterizem grupos
minoritários para promover sua integração social;
b) Afastar requisitos de antiguidade para a permanência ou promoção de membros de categorias socialmente
dominantes em determinados ambientes profissionais;
c) Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes distritos eleitorais; e
d) Estabelecer cotas ou reserva de vagas para integrantes de setores marginalizados.
É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas. STF. Plenário.
RE 597285/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/5/2012 (repercussão geral) (Info 665).
No mesmo sentido, o STF julgou que o sistema de cotas da UFRGS é constitucional. O sistema de cotas
em universidades, com base em critério étnico-racial, é CONSTITUCIONAL. É também constitucional fixar cotas
para alunos que sejam egressos de escolas públicas. STF. Plenário. RE 597285/RS, rel. Min. Ricardo
Lewandowski, 9/5/2012.
O princípio constitucional da igualdade possui duplo aspecto: formal e material. A igualdade formal
(também chamada de igualdade perante a lei, civil ou jurídica) consagra que todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza. A igualdade material (também denominada de igualdade perante os bens da vida,
substancial, real ou fática) preconiza que as desigualdades fáticas existentes entre as pessoas devem ser
reduzidas por meio da promoção de políticas públicas e privadas.
De acordo com o art. 5º, caput, da Constituição, "todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza". Entretanto, o legislador constituinte não se restringira apenas a proclamar solenemente a
igualdade de todos diante da lei (igualdade formal). Ele teria buscado emprestar a máxima concreção a esse
importante postulado, para assegurar a igualdade material a todos os brasileiros e estrangeiros que viveriam no
país, consideradas as diferenças existentes por motivos naturais, culturais, econômicos, sociais ou até mesmo
acidentais.
Para efetivar a igualdade material, o Estado pode lançar mão de dois instrumentos: políticas de cunho
universalista, destinadas a número indeterminado de indivíduos (ex. melhoria no ensino gratuito de ensino) e
políticas de ações afirmativas (destinadas a atingir grupos sociais determinados, por meio da atribuição de certas
vantagens, por tempo limitado, para permitir suplantação de desigualdades ocasionadas por situações históricas
particulares).
A adoção de tais políticas, que levam à superação de uma perspectiva meramente formal do princípio da
isonomia, integra o próprio conceito de democracia.

5. O princípio da igualdade muitas vezes é objetivado, pela doutrina brasileira, como já foi feito com o
princípio da proporcionalidade, estabelecendo três requisitos de origem. O que a senhora poderia dizer
sobre isso?
A Constituição adotou a teoria da desigualdade justificada, cujos requisitos, baseados na lição de
Bandeira de Mello são os seguintes:
1) existência de vínculo de pertinência lógica entre o elemento de diferenciação escolhido pela lei e a situação
objetiva analisada.
2) a diferenciação atende aos objetivos do Estado Democrático de Direito (consonância da discriminação com os
valores protegidos pela Constituição e tratados internacionais de direitos humanos); e
3) a diferenciação realizada pela lei atende ao princípio da proporcionalidade.

6. O Brasil reconhece a possibilidade de transferência de parcela de soberania a entes supranacionais?


Embora não se possa chegar a conceito unânime de soberania, resta pacífico que mudanças vêm
ocorrendo no que diz respeito às características desta no mundo fático.
Uma mudança que pode ser observada diz com os limites da soberania. Esta alteração aponta no
seguinte da interdependência, especialmente econômica, ao passo que anteriormente havia sustentações no
sentido que de que esta seria ilimitada.
Além das questões econômicas, mais facilmente percebidas, vemos que nas questões envolvendo
Direito Humanos e Direitos Ambientais a tendência é a superação do dogmatismo no trato do tema.
No sentido percorrido, parece-nos que a Soberania perde uma parcela de suas características, na
perspectiva descritiva, e se mostra mais forte na perspectiva valorativa. Soberania deve ser instrumento de
realização do bem-comum e da Dignidade da Pessoa Humana.
A perda de parte da soberania, tal como consagrada na doutrina clássica, é um dado da
contemporaneidade. É um fato que se consubstancia independente dos chamados blocos, como o Mercosul. Isto
ocorre em razão do fortalecimento de alguns mecanismos internacionais, em especial os bancos de fomento, e
das próprias empresas que, muitas vezes, possuem faturamentos superiores a de alguns países.

Direito Eleitoral
Elegibilidade e inelegibilidade

1. Quais são as condições de elegibilidade de uma pessoa?


De acordo com o artigo 14, 3º, da CF/88 são requisitos para a elegibilidade:
Art. 14, 3º - São condições de elegibilidade , na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,
Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

2. “Poderia haver candidatura independente como nos EUA?”


Não há possibilidade de candidaturas avulsas. Apenas pessoas filiadas a partidos políticos podem
disputar as eleições (previsão expressa a partir de 2017 – art. 11, par. 14, da Lei 9504: É vedado o registro de
candidatura avulsa, ainda que o requerente tenha filiação partidária.).

3. Estrangeiro detém capacidade eleitoral passiva?


A capacidade eleitoral passiva está relacionada ao direito de ser votado. Não basta o alistamento.
Precisa preencher as condições de elegibilidade, e não incorrer em condição de inelegibilidade. Logo, estrangeiro
não detem capacidade eleitoral passiva, conforme art. 14, §3º, inciso I, da CF.

4. Para concorrer às eleições, há prazo mínimo para filiação partidária?

O prazo mínimo de filiação partidária para concorrer a cargo eletivo é de seis meses antes das eleições
(data do primeiro turno), mas os partidos podem, em seus estatutos, estabelecerem prazos maiores.)

5. Me dê exemplos de inelegibilidade. Absoluta, relativa.


As inelegibilidades são impedimentos que obstam o exercício da capacidade eleitoral passiva pelo
cidadão brasileiro.
As inelegibilidade absolutas valem para qualquer cargo. Ex. analfabetos. Já as relativas só valem para
determinados cargos. Ex.: decorrente de parentesco ou originadas de movos funcionais.

6. O membro do MP pode concorrer a cargos eletivos? O examinador disse que recentemente tivemos um
caso de um membro do MPF que se tornou governador do Mato Grosso, mas acha que ele entrou antes de 88.
(Acho que o comentário não foi relevante)
Até 2004 não havia dúvidas da possibilidade de participação do MP no processo eleitoral. Ele tinha
direito de exercer a capacidade política passiva; podia ser candidato sem se exonerar do cargo. Bastava que ele
se desincompatibilizasse por meio de licença.
Com a EC 45/2004, que alterou o art. 128, II, passou-se a perceber três situações:
a) Membro que entraram na instituição até 1988: podem se filiar a partido político até 6 meses antes das
eleições e podem se candidatar desde que peçam licença do cargo para a desincompatibilização. Após o
mandato, o MP pode voltar ao cargo;
b) Membro que entraram na instituição entre 1988 até 2004: divergência.
- Podem se candidatar sem a necessidade de exoneração, seguindo a regra acima. Expoentes:
Alexandre de Moraes, Res. do CNMP.
- STF e TSE, respondendo a consulta, entendem que deve se exonerar para candidatar-se a cargo
eletivo.
c) Membro que entrou após 2004: deve se exonerar para a desincompatibilização.

Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Improbidade Administrativa

1. A indisponibilidade de bens prevista no art. 7o da Lei de Improbidade é uma sanção?


A indisponibilidade de bens não constitui propriamente uma sanção, mas medida de garantia destinada a
assegurar o ressarcimento ao erário.

2. Mero ajuizamento da ação civil por ato de improbidade é suficiente para decretação de
indisponibilidade de bens? Quais seriam as provas necessárias, já que tem escopo acautelatório
preventivo?
Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido (implícito). Assim, é
desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam dilapidando seu
patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em
fundados indícios da prática de atos de improbidade.
A medida cautelar de indisponibilidade de bens, prevista na LIA, consiste em uma tutela de evidência, de
forma que basta a comprovação da verossimilhança das alegações, pois, pela própria natureza do bem protegido,
o legislador dispensou o requisito do perigo da demora.
Conforme explica o Ministro Mauro Campbell Marques, em trechos de seu voto: “as medidas cautelares,
em regra, como tutelas emergenciais, exigem, para a sua concessão, o cumprimento de dois requisitos: o fumus
boni juris (plausibilidade do direito alegado) e o periculum in mora (fundado receio de que a outra parte, antes do
julgamento da lide, cause ao seu direito lesão grave ou de difícil reparação). (...)
No entanto, no caso da medida cautelar de indisponibilidade, prevista no art. 7º da LIA, não se vislumbra
uma típica tutela de urgência, como descrito acima, mas sim uma tutela de evidência, uma vez que o periculum in
mora não é oriundo da intenção do agente dilapidar seu patrimônio, e sim da gravidade dos fatos e do montante
do prejuízo causado ao erário, o que atinge toda a coletividade. O próprio legislador dispensa a demonstração do
perigo de dano, em vista da redação imperativa da Constituição Federal (art. 37, §4º) e da própria Lei de
Improbidade (art. 7º). (...)
O periculum in mora, em verdade, milita em favor da sociedade, representada pelo requerente da medida
de bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior já apontou pelo entendimento segundo o qual, em casos de
indisponibilidade patrimonial por imputação de conduta ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao
comando normativo do art. 7º da Lei n. 8.429/92. (...)
A Lei de Improbidade Administrativa, diante dos velozes tráfegos, ocultamento ou dilapidação
patrimoniais, possibilitados por instrumentos tecnológicos de comunicação de dados que tornaria irreversível o
ressarcimento ao erário e devolução do produto do enriquecimento ilícito por prática de ato ímprobo, buscou dar
efetividade à norma, afastando o requisito da demonstração do periculum in mora (art. 823 do CPC), este,
intrínseco a toda medida cautelar sumária (art.789 do CPC), admitindo que tal requisito seja presumido à
preambular garantia de recuperação do patrimônio do público, da coletividade, bem assim do acréscimo
patrimonial ilegalmente auferido (REsp 1319515/ES, Rel. p/ Acórdão Min. Mauro Campbell Marques, 1ª Seção,
julgado em 22/08/2012).

3. Na corrente do STJ, que entende que há presunção de periculum in mora em improbidade, o que o STJ
considera indispensável para a decretação da indisponibilidade de bens, não é o risco de dilapidação, é
outro fundamento. Qual é ele? ( basta a evidencia)
Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido (implícito). Assim, é
desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam dilapidando seu
patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em
fundados indícios da prática de atos de improbidade.

4. Quando a medida de indisponibilidade antecede o recebimento da ação de improbidade, a medida


cautelar de indisponibilidade se transmuda de que pra que? Qual a característica que ela passa a ser? Se
trasmuda de evidencia para que? (Perigo)
A tutela diferenciada de indisponibilidade de bens, inserta no art. 7º da Lei 8.429/92, não necessita de
demonstração do perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, por se tratar de tutela de evidencia. Não
obstante, quando a medida de indisponibilidade antecede o recebimento da ação de improbidade, em que o juiz,
após a oitiva dos requeridos, examina a viabilidade da ação, seja sobre a existência de indícios justificáveis da
improbidade, bem como da autoria, a medida cautelar se transmuda de evidencia para de urgência, de modo que
seu deferimento está condicionado à existência de atos a demonstrar o perigo de demora em face da iminência
de dilapidação do patrimônio, a justificar a tutela diferenciada. A decretação de indisponibilidade de bens, por ser
medida de caráter grave e excepcional, deve se restringir à extensão dos danos causados, de modo que a
contrição judicial não ultrapasse a quantia necessária à reparação dos prejuízos alegados.

GRUPO TEMÁTICO II

Direito Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
Pena, concurso de pessoas

1. A Lei 9.605 fala da pena restritiva de direitos para a PJ, até porque não tem como impor pena privativa
de liberdade para a PJ. Mas lá não fala de limite de pena. A senhora poderia me dizer se há limite de pena
para a PJ? Existe um valor mínimo dessa pena? Porque lá também não prevê. Isso não diz respeito ao
cumprimento da função da pena não? Essa função da pena confunde-se com a função do Direito Penal?
Qual a diferença?
O art. 22 da Lei 9.605 estabelece as penas restritivas de direito de pessoa jurídica: suspensão parcial ou
total de atividade; interdição temporário de estabelecimento, obra ou atividade; proibição de contratar com o
Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. São penas substitutivas da pena
privativa de liberdade. Assim, deverá ter o mesmo prazo de duração da pena privativa de liberdade aplicada. No
que se refere a pena de proibição de contratar com o Poder Público, o tempo de duração dessa pena é o mesmo
tempo da pena privativa de liberdade aplicada, que foi objeto de substituição, mas limitada a dez ano, conforme
previsão no §3º do artigo em questão.

2. É possível que haja um quantitativo zero de pena? É possível num critério trifásico o juiz pode chegar a
uma pena igual a zero? E se tiverem causas de diminuição de pena? Mas não existe nada no direito para
que o cidadão que pratica ato típico, ilícito e culpável deixe de cumprir pena?
O tema é bastante polêmico e, não obstante já ter sido objeto de manifestação jurisprudencial, continua
gerando inquietação e controvérsia, levando o STJ a editar a Súmula 231, no que se refere a impossibilidade da
incidência da circunstancia atenuante abaixo do mínimo legal. Isso porque, poder-se-ia chegar na pena igual a
zero o que seria uma contradição do próprio sistema.
Em relação às causas de diminuição que, a seu turno, possibilitam que a pena-base seja reduzida fora
dos parâmetros fixados no preceito secundário da norma penal incriminadora. Neste caso, a doutrina e a
jurisprudência tem posicionamento sedimentado de que tais circunstancias têm incidência cumulativa, ou seja,
incidem sobre a pena-base já aumentada ou diminuída em virtude da causa de aumento ou de diminuição
anterior, impedindo, assim, a possibilidade de uma pena igual a zero, isto é, inexistente.
Igualmente o art. 68 do Código Penal determina que, na hipótese de pluralidade de causas de aumento
ou diminuição, pode o magistrado limitar-se a um só aumento ou uma só diminuição, aplicando, todavia, a causa
que mais aumente ou diminua, o que também contribui para impossibilidade da pena equivalente a zero.
Sim, pode ocorrer as causas de extinção da punibilidade, conforme rol exemplificativo do art. 107 do
Código Penal. Isto porque, praticado um crime ou uma contravenção penal, nasce automaticamente a
punibilidade, compreendida como a possibilidade jurídica de o Estado impor uma sanção penal ao responsável
pela infração penal. A punibilidade consiste, pois, em consequência da infração penal. não é seu elemento, razão
pela qual o crime e a contravenção penal permanecem íntegros com a superveniência de causa extintiva da
punibilidade. Desaparece do mundo jurídico somente o poder punitivo estatal.

3. É possível a autoria colateral em crime culposo? Me dá um exemplo? (culpa concorrente)


Autoria colateral ocorre quando 2 ou mais pessoas querem cometer o mesmo crime e agem ao mesmo
tempo, sem que uma saiba da intenção uma da outra. Ou seja, se não há liame subjetivo – não há concurso de
pessoas. Nesse caso, enquanto um deles responde por crime consumado, o outro será enquadrado na tentativa
(apenas temos autoria colateral propriamente dita quando se consegue apurar quem foi o causador do resultado).
Por força do instituto da autoria colateral, cada qual que contribui para um determinado resultado
responde pela sua parcela de responsabilidade. Todos que concorrem com culpa para um determinado resultado
respondem individualmente de acordo com sua parcela de culpa. O instituto da autoria colateral, no âmbito dos
crimes culposos, coincide com o que a doutrina chama de "concorrência de culpas".
Ocorre "concorrência de culpas" quando duas ou mais pessoas contribuem para a prática de crimes
culposos paralelos, recíprocos ou sucessivos. Concorrência de culpas não se confunde com compensação de
culpas: nesta o que se indaga é se a culpa da vítima afasta (elide) a culpa do réu; naquela temos várias pessoas
concorrendo (como rés) para a prática de vários crimes culposos. Na concorrência de culpas os vários agentes
criam, cada qual, sua situação de risco, que se resolve na produção de um ou vários resultados jurídicos.

4. Me fale uma situação em que há concurso de pessoas mas a Teoria Monista é excepcionada. Por que
alguns autores consideram que adotamos a Teoria Monista temperada?
O Código Penal Brasileiro adotou a teoria monista ou unitária que, para o professor Luiz Regis Prado seria
uma teoria monista de forma “matizada ou temperada”. De acordo com o professor Damásio, entretanto, apesar
de o nosso Código Penal ter adotado a teoria monista ou unitária, existem exceções pluralísticas a essa regra. É
o caso, por exemplo, do crime de corrupção ativa (art. 333 do CP) e passiva (art. 317 do CP); do falso
testemunho (art. 342 do CP) e corrupção de testemunha (art. 343 do CP); o crime de aborto cometido pela
gestante (art. 124 do CP) e aquele cometido por terceiro com o consentimento da gestante (art. 126 do CP);
dentre outros. Assim, embora o CP tenha adotado a teoria monista ou unitária em seu artigo 29, os parágrafos
desse artigo, ao punirem de forma diferente a participação em determinadas situações, deixou clara a
aproximação também da teoria dualista. Por isso, alguns autores dizem que o Brasil adotou a teoria monista
“mitigada, temperada ou matizada”.

Direito Processual Penal


Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Processo Penal Constitucional

1. A senhora consegue diferenciar o devido processo formal do devido processo substancial? Mas o
devido processo pode ser fracionado? Devido processo nessa forma fracionada, é devido processo?
O princípio do devido processo legal descreve que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal.
Trata-se de princípio que fundamenta a VISÃO GARANTISTA, entendido como instrumento de
efetivação dos direitos fundamentais do réu em face da força inexorável do Estado.
Divide-se em dois aspectos:
Aspecto PROCESSUAL (procedimental): liga-se ao procedimento, ao sistema acusatório.
Aspecto SUBSTANCIAL (material): coincide com o a razoabilidade ou proporcionalidade.
Em sede processual, o Poder Público não pode agir imoderadamente, pois a atividade estatal acha-se
essencialmente condicionada a razoabilidade. A fim de conferir segurança e consistência à aplicação do referido
princípio, a doutrina e jurisprudência conceberam pressupostos e requisitos a serem atendidos para que o
princípio pudesse ser aplicado de maneira coerente. Os pressupostos são os princípios da legalidade
(pressuposto formal) e da justificação teleológica (pressuposto material). No que tange aos requisitos, temos os
extrínsecos (judicialidade e da motivação) e intrínsecos (subregras da adequação, necessidade e a
proporcionalidade em sentido estrito).

2. No tocante ao princípio do contraditório, o réu é obrigado a contraditar, a participar da dinâmica


processual? Dentro dessa premissa, é possível a condução coercitiva do réu?
O acusado tem direito constitucional de ficar em silêncio, assegurado no artigo 5º, inciso LXII, da Magna
Carta.
Ademais, possui o direito de não produzir prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere) trata-se de
princípio implícito que decorre das seguintes previsões expressamente previstas na CF:
1. Presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF);
2. Ampla defesa (art. 5º, LV, CF);
3. E especialmente diante do direito ao silêncio (art. 5º, LXIII, CF).
Não obstante, é princípio que se encontra expressamente previsto no art. 8º do Pacto de São José da
Costa Rica (Convenção Americana), incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto nº 678, de 6 de
novembro de 1992, e que tem status supralegal, conforme entendimento do STF.
Considera-se que o Estado é infinitamente superior ao réu no Processo, não necessitando, portanto, de
sua ajuda na atividade persecutória.
Por força deste princípio se dobra TRÊS direitos do réu:
1) Direito ao silêncio,
2) Direito de não praticar qualquer comportamento ATIVO que possa incriminá-lo e
3) Direito de não produzir nenhuma prova INVASIVA (que envolva o corpo humano).
Pelo texto do art. 260 do CPP seria possível a condução coercitiva do réu. Contudo, é importante
observar que o acusado tem direito ao silêncio. Por isso, a doutrina e os tribunais entendem que não é possível.
Vale ressaltar, por outro lado, que a condução coercitiva pode ser determinada para a realização de um ato
processual não protegido pelo nemu tenetur se detegere (direito de não autoincriminação). Pode, por exemplo,
ser feita para o reconhecimento de pessoas (o ato não demanda nenhum comportamento do acusado).

3. A senhora conhece a teoria do professor Elio Fazzalari teoria do Processo como procedimento em
contraditório. A senhora poderia nos trazer qual seria o avanço do processo penal se adotássemos essa
visão teórica?
A análise e apreensão da teoria processualista de Elio Fazzalari revela imensa importância para a
compreensão garantista do processo, na medida em que o autor destaca o contraditório como elemento central
do conceito de processo.
O contraditório, em termos fazzalarianos, é verificado na equiparação de poderes entre os interessados
processuais, de modo que, o provimento final expedido pelo Estado-juíz será válido somente se o conjunto
normativo processual estiver regular com a garantia fundamental.
Nessa senda, para que haja processo penal é fundamental a participação efetiva dos destinatários da
decisão em contraditório paritário, ou seja, além da mera participação dos sujeitos processuais, além do dizer e
contradizer, o contraditório é a igualdade de oportunidade no processo, é a igual oportunidade de tratamento, que
se funda na liberdade de todos perante a lei.

4. No tocante ao princípio da paridade de armas, da igualdade, ele é mitigado no processo penal


brasileiro? Em relação a alguma das partes.
O princípio da igualdade de armas consiste em fornecer tanto à acusação como à defesa igualdade de
condições para atuarem no processo. Sua aplicação revela-se tanto no âmbito legislativo (prazos processuais,
meios de impugnação oferecidos a ambas as partes) como no judicial (tratamento dado pelo juiz aos sujeitos do
processo e interpretação das normas processuais). O processo penal brasileiro é informado/conduzido por este
princípio, o qual, pelo simples fato de ser um princípio (cf. o modelo de regras e princípios defendido por Robert
Alexy), não tem, portanto, aplicação absoluta. A paridade de armas no processo penal é mitigada por outros
princípios que também orientam a persecução penal, principalmente o da oficialidade (condução das
investigações, da acusação e do julgamento por órgãos estatais, respectivamente, polícia investigativa, Ministério
Público e Judiciário). A defesa possui uma capacidade de produção e colheita de informações muito menor do
que o Estado. Todavia, esta desigualdade material é compensada pelas garantias processuais fornecidas ao réu
no processo, tal como direito à não autoincriminação – incluído o direito ao silencio -, à proibição da revisão
criminal em seu desfavor e à absolvição em caso de dúvida fundada quanto à existência de circunstancias que
excluam o crime ou isentem o réu da pena (art. 386, VI, CPP). A utilização do habeas corpus como instrumento
destinado exclusivamente à proteção da liberdade de locomoção, proibindo sua utilização como mecanismo de
pretensão acusatória é outro exemplo indiscutível de mitigação do referido princípio. Contraditórias são a ciência
bilateral dos atos e termos do processo e a possibilidade de contrariá-los, demonstrando, assim, a credibilidade
de sua versão ao juiz da causa.
A igualdade de armas não se confunde com o princípio do contraditório, embora o direito de se
manifestar e produzir provas para convencer o magistrado tenha íntima relação com a paridade entre as partes
no processo penal, pois de nada adiantaria garantir o direito de contestar a pretensão acusatória sem munir a
parte de meios idôneos para o convencimento do magistrado. A igualdade de armas refere-se à possibilidade de
se opor à pretensão da outra parte com a igualdade de tratamento, fornecendo às partes o direito de influir no
livre convencimento do magistrado, sendo assim, considerada medula do devido processo legal. Na ação penal
pública, promovida privativamente pelo Ministério Público, é bastante evidente a limitação à igualdade de armas
entre acusação e defesa. Primeiro porque é o próprio Estado que investiga (em regra, autoridade policial) e
formaliza a acusação (representante ministerial) dirigida a um órgão do Poder Judiciário, enquanto a defesa será
exercida por réu que muita das vezes não participa ativamente da persecução penal pré-processual nem tem a
mesma capacidade de colheita de informações e produção de provas que os agentes estatais, mostrando, assim,
a desigualdade de forças entre acusação e defesa. Todavia, esta mitigação à paridade de armas decorrente do
princípio da oficialidade é compensada pelas garantias processuais fornecidas ao réu.

5. O Inquérito Policial admite devido processo? Admitindo-se que é possível, esse contraditório e ampla
defesa seriam plenos?
Apesar da jurisprudência considerar o Inquérito Policial um procedimento administrativo informativo
prévio a ação penal, de “natureza inquisitorial (não contraditória) por não ser processo (em sentido estrito), já que
não destinado a decidir litígio algum”, é inegável que neste incide plenamente a garantia do devido processo
legal, ainda mais se for considerado o fato deste comportar diversas medidas que cerceiam direitos individuais.
Desta forma, a investigação criminal deve ser realizada de acordo com as regras constitucionais e legais pré-
estabelecidas.
Grinover (2007, p.323) traz a lume que:
“Se é verdade que as garantias do contraditório e da ampla defesa (integrantes do
devido processo legal) aplicam-se a todas as formas de exercício de poder, da qual
possam resultar decisões passíveis de interferir na esfera jurídica ou patrimonial de
determinadas pessoas, então é certo que o impedimento a que se aludiu no item
imediatamente precedente não deve se limitar à prova ilicitamente produzida no âmbito
judicial. Vale dizer: no exercício de poder - no âmbito estatal e no dos demais pólos
existentes na sociedade – há que se exigir, se não imparcialidade, quando menos o
atributo da impessoalidade, para que o resultado da atividade estatal não acabe
resultando em desvio de poder e de finalidade.”
Diante do conceito de Fazzalari (2006, p. 118), também se torna cristalino o entendimento da
investigação preliminar como processo, já que o mesmo possui procedimento próprio, participantes cujos efeitos
do ato final recaem diretamente sobre eles, ou seja, quando indiciados poderão sofrer uma demanda de natureza
penal, capaz de destruir seu patrimônio moral, além do contraditório, que pode ser evidenciado, v.g., na
reconstituição do crime, onde o indiciado terá oportunidade de dizer os fatos que realmente ocorreram e o modo
como foram praticados. Assim conceitua, o referido autor: “O processo é um procedimento do qual participam
(são habilitados a participar) aqueles em cuja esfera jurídica o ato final é destinado a desenvolver efeitos: em
contraditório, e de modo que o autor do ato não possa obliterar as suas atividades.”
Existe divergência na doutrina acerca da garantia do contraditório e da ampla defesa. Todavia, resta claro
que o fato de o inquérito ser inquisitorial não significa que ele é arbitrário ou que todos os direitos do investigado
devam ser negados. A doutrina e a jurisprudência afirmam que o inquérito policial, apesar de não possuir ampla
defesa e contraditório amplas, garante ao investigado determinados direitos fundamentais, dentre eles o direito ao
silêncio, o direito à integridade física, o direito à assistência de advogado, entre outros.

GRUPO TEMÁTICO III

Direito Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Casamento e União Estável

1. O que seria casamento inexistente, nulo, anulável, putativo e nuncupativo. Essa nulidade de um
casamento pode ser declarada de ofício pelo juízo? P.ex., um irmão casou com uma irmã, o juiz pode
declarar nulo de ofício o casamento? Será por meio de ação própria?
Casamento inexistente: ocorre quando há ausência de consentimento, bem como, de autoridade
competente para sua celebração. Não representa nada na esfera jurídica, assim também, não gera efeito algum.
É o que ocorre, por exemplo, com casamento celebrado, hipoteticamente, por delegado ou prefeito. Ainda,
conforme asseste Pontes de Miranda, não ocorre qualquer prescrição ou prazo preclusivo contra o casamento
inexistente. Podendo, tal inexistência ser alegada por qualquer pessoa, e também pode o juiz decretá-la
oficiosamente.
Casamento nulo: observando a redação do art. 1.548, II, do Código Civil, será nulo o casamento que se
realizar infringindo os impedimentos elencados no art. 1.521 do código supracitado. Respectivamente:
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil;
II - por infringência de impedimento.
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do
adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio
contra o seu consorte.
Em conformidade com o art. 1.549 do Código Civil, a declaração de nulidade pode ser arguida por
qualquer interessado capaz, estes que devem possuir interesse moral, bem como, econômico (o próprio cônjuge,
herdeiro necessário, tutor, curador, credores do cônjuge, etc.) ou pelo MP, o qual representa o interesse social.
Um exemplo de casamento considerado nulo é o caso de alguém que já casado, declara- se solteiro, contraindo
outro casamento, caracterizando bigamia. A sentença de nulidade de casamento tem efeito declaratório, pois
reconhece o fato que o invalida, e seu efeito é ex tunc, ou seja, retroage à data de celebração. A ação de nulidade
de casamento é imprescritível, por tratar- se de preceito de ordem pública.
Casamento anulável: quando contraído com desatenção a preceitos legais, com vícios de vontade ou,
ainda, quando deixou de atender certas formalidades necessárias à sua validade, que lhe retiram a eficácia. O
casamento anulável está disposto no artigo 1.550 do Código Civil com a seguinte redação:
Art. 1.550. É anulável o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar;
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.
Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente
decretada.
Ao contrário da ação da nulidade que é imprescritível, a ação de anulação prescreve conforme os prazos
estabelecidos no art. 1.560, do código outrora mencionado.
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da
data da celebração, é de:
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550;
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;
IV - quatro anos, se houver coação.
§ 1º Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores
de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e
da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes.
§ 2º Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do casamento é de
cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da
celebração.
Conforme o art. 1.556: O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um
dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.
Expressamente neste artigo, o erro essencial quanto à pessoa do outro nubente constitui “vício da
vontade” do contraente que incidiu em erro. O erro essencial ocorre quando um dos contraentes desconhece a
existência desse erro no outro, pois, do contrário, jamais teria consentido e se casado. O erro pode ser físico ou
civil: em ambas as hipóteses, o erro deve ser tal que inviabilize a continuação da vida em comum, tornando- a
insuportável. Os fatos que constituem erro essencial quanto à pessoa do outro, estão elencados no art. 1.557,
quais sejam: erro quanto a identidade, (por exemplo, se o cônjuge estava usando falsa identidade, se era foragido
da polícia etc.), honra e a boa fama, ignorância do crime, defeito físico irremediável (impotência pode se encaixar
nessa categoria, desde que seja um problema permanente, e não uma condição temporária) ou moléstia grave.
Doença mental. O prazo para anulação é de três anos.
Conforme o ar. 1558, a anulação do casamento também é possível na hipótese de um dos contraentes
estar sob coação ao consentir. A coação, como vício de declaração de vontade, deve ser de tal ordem que
acarrete à vítima fundado temor do iminente à sua esposa, à sua esposa, à sua família ou a seus bens, segundo
o disposto no art.151. No caso específico do casamento, é necessário que o mal prometido seja direcionado à
vida, à saúde ou a honra do coacto e seus familiares. A coabitação posterior do cônjuge que sofreu coação valida
o ato.
Casamento putativo: é o casamento que existiu apenas na cabeça de um ou de ambos os cônjuges. É
nulo ou anulável, e gerará efeitos ao cônjuge que estava de boa-fé, nos seguintes casos: a) Se houver boa-fé de
ambos os cônjuges, o casamento gerará efeitos para ambos e para os filhos, até o trânsito em julgado da
sentença que declara nulidade ou decreta anulação. Eventuais bens adquiridos no período serão compartilhados
conforme o regime de bens. b) Se apenas um dos cônjuges estiver de boa-fé, o casamento gerará efeitos
somente a ele e aos filhos do casal. Só esse cônjuge poderá pleitear alimentos, usar o nome, etc. c) Se os dois
estiverem de má-fé, o casamento somente gerará efeitos para os filhos. Os bens do casamento serão divididos,
mas não com fundamento no regime de bens estipulado, mas sim pela vedação ao enriquecimento sem causa. É
a mesma regra da sociedade de fato.
Casamento nuncupativo: Casamento in articulo mortis ou à beira da morte. Não sendo possível a
presença da autoridade competente, poderá ser celebrado na presença de 6 testemunhas, que não tenham
parentesco em linha reta ou colateral com os nubentes. Tais testemunhas deverão comparecer perante a
autoridade judicial no prazo de 10 dias da celebração, pedindo que a autoridade tome por termo suas
declarações, confirmando que o enfermo estava realmente em perigo de vida, mas estava em seu juízo, e que
declararam os contraentes, livre e espontaneamente receber-se marido e mulher. Verificada a idoneidade dos
cônjuges, o casamento será tido como válido. Tais formalidades serão dispensadas se o enfermo convalescer e
puder ratificar o casamento na presença do juiz e da autoridade competente (juiz de paz eventualmente, e o
oficial de registro).

2. Como o casamento válido pode ser dissolvido?


A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”), alterou a redação do art. 226, § 6o da CF/88,
suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de dois anos de separação de fato no divórcio.
Apesar de a CF/88 ter expurgado de seu texto o termo “separação judicial”, o art. 1.571, III, do CC (que
menciona a existência de separação judicial) não foi formalmente revogado. Em outras palavras, o constituinte
reformador tirou da Constituição a separação, mas ela ainda continua presente no Código Civil. STJ
Causas do fim do vínculo conjugal (fim do casamento) e da sociedade conjugal:
2) Morte – gera o fim do vínculo conjugal. Inclusive, a declaração de morte presumida na ausência
dissolve o casamento.
3) Nulidade ou anulação do casamento – gera o fim do casamento.
4) Divórcio – gera o fim do casamento e, por fim obliqua, o fim da sociedade conjugal.
Só dissolve a sociedade conjugal:
 Separação judicial – coloca fim somente à sociedade conjugal, mantendo-se o casamento.

3. A União Estável pressupõe a diversidade de sexos? Mas e o art. 1.723? A senhora se lembra o que o
STF disse sobre o art 1.723 na ADPF xx? Qual o grande argumento do Ayres Britto?
Hoje, o entendimento pacífico é de que a união homoafetiva é uma entidade familiar, sendo
equiparada à união estável, tendo os mesmos efeitos. O argumento é de que o rol constitucional que prevê as
famílias é exemplificativo. Isso porque a CF tem um caráter pluralista, consagrando uma cláusula de inclusão, e
não de exclusão. Além disso, o direito à sexualidade é um direito fundamental, não podendo ser privado do
indivíduo. Essa segunda corrente é a adotada pelo STJ e pelo STF. Não é demais lembrar que o Supremo
entendeu pela aplicação de todas as regras da união heteroafetiva à união homoafetiva.
A equiparação é no sentido de que:
- A união estável homoafetiva será reconhecida quando houver uma união pública, duradoura, contínua e
estabelecida com o objetivo de constituir família. São os mesmos requisitos, não exigindo apenas a distinção de
sexo.
- Os deveres daqueles que vivem em união homoafetiva são os mesmos que vivem em união
heteroafetiva. Veja, se há o dever de guarda, sustento e educação dos filhos, significa que é possível a adoção
pelo casal homoafetivo.
- É possível ainda que se converta a união homoafetiva em casamento. Se é possível converter em
casamento, também deve ser possível a celebração direta do casamento. A partir dessa equiparação
constitucional, chega-se a conclusão de que é possível o casamento

4. É correto afirmar que o maior de 16 anos pode contrair casamento devidamente assistido pelos seus
representantes legais? Seria o instituto da assistência ou seria outro?
O homem e a mulher em idade núbil (16 anos completos) podem ser casar.Se forem menores de 18
anos, será necessária autorização de ambos os pais ou representantes legais, enquanto não for atingida a
maioridade civil.Havendo divergência entre os pais, quem resolverá será o juiz. Portanto, é possível o suprimento
judicial (art. 1.517, parágrafo único, CC).A necessidade de autorização, não se aplica ao emancipado, pois este já
tem plena capacidade, dispensando essa autorização dos pais para fins de casamento.O art. 1.518 diz que até o
momento da celebração do casamento, os pais ou tutores podem revogar essa autorização. Após a celebração,
não mais poderão revogar.
No direito brasileiro, muito embora a capacidade civil plena seja adquirida aos 18 anos completos, o
legislador admite que o casamento seja realizado aos 16 anos, mediante prévia autorização dos responsáveis, na
forma do art. 1517 do cc/02. Como os futuros cônjuges não possuem capacidade plena, necessário se faz a
autorização dos pais. Tal autorização se distancia da assistência, uma vez que nesta última o ato ou negócio
jurídico é praticado em conjunto, ao passo que na autorização o ato é praticado exclusivamente pelo incapaz,
mediante prévio consentimento de seus representantes.
A autorização possui natureza administrativa, sendo conferida junto ao cartório do RCPN (procedimento
administrativo de habilitação para o casamento), prescindindo de autorização judicial. A autorização é inerente ao
exercício do poder familiar, assim, o menor não possui o direito de exigir a emancipação. Muito embora o menor
não possua direito subjetivo a ter tal autorização, os pais não podem abusar do direito de exercer o poder familiar,
considerando que caso isso ocorra o filho que insistir no casamento poderá tentar obter a autorização pela via
judicial.

5. Para requerer a anulação do casamento, o menor precisa da anuência do representante?


Com o casamento cessa a incapacidade dos menores (CC 5.º parágrafo único II), não mais dispondo os
genitores da qualidade de seus representantes.
O prazo da ação de desconstituição intentada pelo próprio cônjuge começa a fluir da data em que deixa
de ser incapaz. Como a incapacidade cessa com o casamento (CC 5.º parágrafo único II), o prazo contaria a
partir da data do matrimônio. Certamente não foi isso que quis dizer o legislador, mas foi o que disse. Claro que a
intenção da lei é proteger quem casa ainda muito jovem e não conta com a expressa concordância dos genitores.
No entanto, seria necessário que a lei estabelecesse uma ressalva ao fim da incapacidade: que a maioridade só
ocorre se o casamento for hígido. Na inexistência de tal ressalva, mesmo que o casamento seja anulável, ou ao
menos até que ocorra sua desconstituição, não se pode falar em menoridade.

6. É possível a anulação do casamento por incapacidade de gerar filhos do cônjuge, desconhecida pelo
outro no momento do casamento? O que seria então esse defeito físico irremediável do art. 1557, III?
A impotência concipiendi ou generandi (para ter filhos) não anula o casamento.
O erro essencial quanto à pessoa deve ser de conhecimento POSTERIOR e que deve tornar insuportável
a vida em comum, vejamos:
1. Erro que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama (ex.: casa com irmão gêmeo,
homossexual e outros).
2. Ignorância de crime anterior ao casamento.
3. Ignorância de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou moléstia grave
transmissível, pelo contágio ou pela herança (ex.: sífilis, AIDS, deformações genitais e impotência coeundi -
instrumental).
4. Ignorância, anterior ao casamento, de doença MENTAL grave que, por sua natureza, torne
insuportável a vida em comum.
FOI REVOGADO o antigo inciso IV do art. 1.557 do CC/2002 que possibilitava a anulação do casamento
em caso de desconhecimento de doença mental grave, o que era tido como ato distante da solidariedade.
Por ser uma previsão discriminatória foi retirada pelo Estatuto de Deficiente.

7. Chega até você um processo em que as partes estão requerendo a mudança do regime de bens,
conforme prevê o código atual, mas o casamento é anterior ao CC2002, o que a senhora faria?
É possível alterar regime de bens de casamento celebrado na vigência do CC/16, por aplicação do artigo
2.035, caput, do CC, estando o regime de bens no plano da eficácia (efeitos do negócio jurídico).
Nesse sentido: enunciado 260 (a alteração do regime de bens prevista no § 2o do art. 1.639 do Código
Civil também é permitida nos casamentos realizados na vigência da legislação anterior).

Direito Processual Civil


Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva
Cumprimento de sentença com ênfase no cumprimento de sentença provisório.

1. Quais são os requisitos para iniciar um cumprimento provisório de sentença? Imaginemos que o título
é judicial, mas não posso executar por um motivo processual (ex. recurso contra a sentença).
Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao
juízo competente.
Parágrafo único. Não sendo eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de
cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade poderá ser certificada pelo
próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal:
I - decisão exequenda;
II - certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo;
III - procurações outorgadas pelas partes;
IV - decisão de habilitação, se for o caso;
V - facultativamente, outras peças processuais consideradas necessárias para
demonstrar a existência do crédito.

2. Quais decisões judiciais são passíveis de cumprimento provisório, caso existam os requisitos acima?
Sentença qualquer que seja ela?

Art. 520. § 5o Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer,


de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, o disposto neste Capítulo.

3. Qual a defesa possível pra o executado no cumprimento de sentença e qual o prazo para o seu
exercício? É preciso garantir o juízo para impugnar?
A defesa é impugnação, no prazo de 15 dias após transcorrido o prazo de 15 dias sem pagamento
voluntário. Independe de penhora ou nova intimação.
Pelo art. 525, transcorrido o prazo previsto no art. 523, de 15 (quinze) dias sem o pagamento voluntário,
inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação,
apresente, nos próprios autos, sua impugnação, alegando: falta ou nulidade de citação se, na fase de
conhecimento, o processo correu à revelia; ilegitimidade de parte; inexequibilidade do título ou inexigibilidade da
obrigação; penhora incorreta ou avaliação errônea; excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação,
transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença.
Pelo § 6º do art. 525, a apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive
os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido o juízo com a penhora,
caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o
prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou
incerta reparação. Entretanto e pelo § 8º do art. 525, quando o efeito suspensivo atribuído à impugnação disser
respeito apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte restante.

4. Em qual circunstância o executado pode requerer ao juiz que seja exigida a caução do exequente na
execução provisória?

Art. 520. IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem


transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos
quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução suficiente e
idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.

5. O que seria a teoria do risco proveito no cumprimento provisório de sentença?


Art. 520. Por conta e risco do exequente.
Teoria do risco-proveito: A execução provisória é uma opção benéfica ao exequente, mas este estará
obrigado a ressarcir o executado por todos os danos dela advindos na hipótese de reforma ou anulação da
decisão pendente de recurso.
Responsabilidade objetiva: O elemento culpa é irrelevante, bastando ao executado prova a efetiva
ocorrência de danos em razão da execução provisória.

6. O que pode ser definido como sentença auto suficiente e sentença não auto suficiente?
Decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de uma obrigação de fazer ou não
fazer (mandamental), pagar quantia (condenatório), ou entregar coisa (executivo lato senso). Ou seja, estas
decisões são NÃO autossuficientes - não se produz a tutela do direito concomitantemente à tutela executiva.
Diferente das decisões declaratórias (elimina estado de dúvida de uma relação jurídica; toda a sentença
improcedente é declaratória) e das (des)constitutivas (celebração de casamento ou decreto de divórcio), que
independem de alteração material (o efeito se produz essencialmente na esfera jurídica).

7. No caso de uma antecipação de tutela que impõe uma multa coercitiva ao réu e o juiz julga procedente
e confirma a multa. Esse recurso não será recebido no efeito suspensivo. Há algum requisito para que o
autor possa pedir o cumprimento provisório dessa multa? O STJ prevê um requisito. (intimação pessoal
do devedor)
Descumprida a determinação judicial com o transcurso do lapso temporal estabelecido na decisão
judicial, a multa incidirá e o seu beneficiário poderá desde logo executá-la. O termo a quo para incidência da
multa, portanto, é a data em que foi finalizado o prazo judicial para cumprimento da ordem judicial. Deste modo,
se o Juiz fixou dez dias para cumprimento da ordem judicial, sob pena de multa diária de quinhentos reais, a partir
do décimo primeiro dia haverá possibilidade de cobrança da multa.
A propósito da matéria, a doutrina de qualidade afirma que “o legislador, aparentemente, encontrou uma
solução que prestigia a efetividade e a segurança jurídica. A executividade imediata reforça o caráter de pressão
psicológica da multa porque o devedor sabe que, descumprida a decisão em tempo breve, poderá sofre desfalque
patrimonial. Por outro lado, ao exigir para o levantamento de valores em favor do exequente, o trânsito em
julgado, o legislador prestigia a segurança jurídica”6.

8. Se na sentença existe parte líquida e parte ilíquida, como deve proceder o credor para pedir o
cumprimento dessa sentença. Em autos apartados, nos mesmos autos? (a parte ilíquida apartada)
Se apenas parte da sentença for ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução da
parte líquida e, em autos apartados, a liquidação da parte ilíquida. Também será processada em autos
apartados, no juízo de origem, quando realizada na pendência de recurso (art. 512).

9. O que seria uma sentença de liquidação zero?


A liquidação com dano zero ou sem resultado positivo é aquela em que se conclui que o liquidante não
sofreu dano algum, isto é, o quantum debeatur é zero, o que torna inexistente o próprio na debeatur. É
considerada situação patológica, anomalia jurídica. O resultado será o julgamento de improcedência da liquidação
(STJ;; Didier).

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Gestão democrática

1. O que são os conselhos de política? Votam projetos de lei? A senhora está acompanhando o Decreto
do Executivo 8243? Um conselho antigo que é conhecido são os conselhos de saúde. Como é composto
um conselho municipal de saúde?
Os Conselhos Gestores de Políticas Publicas são canais institucionais, plurais, permanentes, autônomos,
formados por representantes da sociedade civil e poder público, cuja atribuição é a de propor diretrizes das
políticas públicas, fiscalizá-las, controlá-las e deliberar sobre elas, sendo órgãos de gestão pública vinculados à
estrutura do Poder Executivo, ao qual cabe garantir a sua permanência [nota 1].
Os conselhos gestores se instauram enquanto instâncias deliberativas e de controle social, a partir da
Constituição Federal de 1988, no bojo de um processo de descentralização administrativa e de ampliação da
participação popular e surgem como instâncias para promover uma mudança na gestão das políticas públicas a
partir de "um novo padrão de relação entre Estado e sociedade, criando novas formas de contrato social, por
meio da ampliação da esfera social pública" [nota 2].
São espaços públicos que fazem parte da gestão pública, sendo permanentes. É importante assinalar
que, embora ligados à estrutura do Poder Executivo, não são, no entanto, subordinados a ele. Isto é, são
autônomos nas suas decisões.
Os conselhos são constituídos por representantes da sociedade civil e do Estado não pertencendo a
nenhum desses segmentos, isto é, tanto os representantes da sociedade civil quanto do Estado, são
coresponsáveis pelas decisões tomadas.
Os Conselhos Políticos possuem função administrativa, podem ser consultados em projetos de lei, mas
não votam.
O Decreto 8243 tratar-se de uma nova política pública, “a Política Nacional de Participação Social”, que
possui “o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação
conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil”a partir de agora, todos os “os órgãos e
entidades da administração pública federal direta e indireta” (ou seja, tudo o que se relaciona com o governo
federal: gabinete da Presidência, ministérios, universidades públicas…) deverão formular seus programas em
atenção ao que os tais “mecanismos de participação social” demandarem.
Na prática, o Decreto obriga órgãos da administração direta e indireta a ter a participação desses
“mecanismos”. Uma decisão de qualquer um deles só se torna legítima quando houver essa consulta – do
contrário, será juridicamente inválida. E, como informam os parágrafos do art. 5º, essa participação deverá ser
constantemente controlada, a partir de “relatórios” e “avaliações”.
Os “mecanismos de participação social” são apresentados no art. 2º e no art. 6º, que fornecem uma lista
com nove exemplos: conselhos e comissões de políticas públicas, conferências nacionais, ouvidorias federais,
mesas de diálogo, fóruns interconselhos, audiências e consultas públicas e “ambientes virtuais de participação
social”
Enfim, para resumir tudo o que foi dito até aqui: com o Decreto 8.243/2014, (i) os “movimentos sociais”
passam a controlar determinados “mecanismos de participação social”; (ii) toda a Administração Pública
passa a ser obrigada a considerar tais “mecanismos” na formulação de suas políticas. Isto é: o MST passa
a dever ser ouvido na formulação de políticas agrárias; o MPL, na de transporte; aquele sindicato que tinge a
cidade de vermelho de quando em quando passa a opinar sobre leis trabalhistas. “Coletivos, movimentos sociais,
suas redes e suas organizações” se inserem no sistema político, tornando-se órgãos de consulta: na prática, uma
extensão do Legislativo.
A composição do conselho de saúde municipal deve ser paritária: 50% Usuários;
50% Representantes do governo, Trabalhadores de saúde e Prestadores de saúde.

2. A LRF traz alguns institutos ligados à gestão democrática. O que a senhora vê nessa lei, mecanismos
de controle social, participação.
Art. 48. I – incentivo à participação popular e realização de audiências
públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes
orçamentárias e orçamentos;

Art. 67. III - adoção de normas de consolidação das contas públicas, padronização
das prestações de contas e dos relatórios e demonstrativos de gestão fiscal de que trata
esta Lei Complementar, normas e padrões mais simples para os pequenos Municípios,
bem como outros, necessários ao controle social;

3. A respeito de conferências, que são muitas, em muitas áreas, gostaria de ouvi-la sobre qualquer
conferência que a senhora tenha notícia e da participação do MP nessas conferencias, como se dá essa
participação.
São espaços amplos e democráticos de discussão e articulação coletivas entrono de propostas e
estratégias de organização. Sua principal característica é reunir governo e sociedade civil organizada para
debater e decidir as prioridades nas Políticas Públicas nos próximos anos.
Na medida em que os diversos segmentos envolvidos com o assunto em questão participam do debate
promovido na realização de uma Conferência, pode-se estabelecer um pacto para alcançar determinadas metas e
prioridades, além de abrir um espaço importante de troca de experiências.
Podem ser realizadas Conferências em âmbito municipal, estadual e federal. A realização de uma
Conferência não é algo isolado, mas é parte de um processo amplo de diálogo e democratização da gestão
pública.
A Conferência Estadual de Saúde, que contará com a representação de vários grupos sociais
interessados nas questões de saúde, promoverá a avaliação e a discussão da realidade sanitária e proporá as
diretrizes para a política de saúde no Estado.
A representação dos usuários na Conferência Estadual de Saúde será paritária em relação ao conjunto
dos representantes do Governo, dos prestadores de serviço e dos profissionais de saúde.
A Conferência Estadual de Saúde reunir-se-á́ , ordinariamente, no mínimo a cada 4 (quatro) anos,
convocada pelo Secretário de Estado da Saúde e, extraordinariamente, quando convocada pelo Governador do
Estado ou pelo Conselho Estadual de Saúde.
A Conferência Nacional de Assistência Social ordinariamente, de quatro em quatro anos, ou
extraordinariamente. Ela tem o objetivo de avaliar a situação da assistência social no Brasil e propor diretrizes
para o aperfeiçoamento do sistema.

4. Diante de uma questão complexa, há a demanda da sua observação e eventual intervenção, p.ex. a
construção de uma estrada que afeta muitos coletivos e chegam demandas varias e há interesses
contrapostos, cada um possui o seu interesse. Como seria a condução desse caso a título de
investigação e utilização de instrumentos disponíveis?
Reunião com todos os atingidos, audiências públicas, inquérito civil.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Direito a moradia e função social da propriedade.

1. Que tipo de direito é o direito a moradia? Está vinculado a um princípio vetor da CRFB, qual é?
(dignidade da pessoa humana)
O direito à moradia é tratado como um direito social pela Lei Maior, sendo encontrado no rol dos direitos
e garantias fundamentais. Desta maneira, é evidente que para o mesmo ser concretizado, é imprescindível uma
atuação positiva do Estado, por meio de políticas públicas, onde devem ser adotados programas eficientes e
grandes esforços políticos que visem sua efetivação, principalmente em respeito aos cidadãos menos
favorecidos.
Vale, ainda, dizer que o direito à moradia digna constitui parte do que se ajustou chamar direito à cidade,
ou seja, direito ao saneamento básico, à educação, à saúde, à cultura, ao lazer, ao trabalho, etc., quando
efetivamente assegurado, é importante fator de inclusão social.
A habitação satisfatória consiste em pressuposto para a dignidade da pessoa humana, um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil esculpido no artigo 1º, inciso III.

2. A senhora sabe me dizer onde foi previsto pela primeira vez esse princípio fundamental? Está ligado a
que área do direito? (direitos humanos)
O direito à moradia encontra-se consagrado no Texto Constitucional, artigo 6º, caput. O referido direito foi
introduzido na Nossa Lei Maior por força do disposto na Emenda Constitucional de nº 26, de 14 de fevereiro de
2000.

3. Esse direito hoje é autoaplicável?


Considerando que os direitos sociais estão na esteira dos direitos fundamentais do ser humano, tem-se,
como decorrência, que eles subordinam-se à regra da auto-aplicabilidade, ou seja, aplicação imediata conforme
preceitua o artigo 5º, § 1º da Constituição Federal.
Todavia, são aplicáveis até onde possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu
atendimento. Ademais, o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta nelas garantida,
não pode deixar de aplicá-las, conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições existentes.
Nesse sentido, diante de omissão de medida, cabem ADO e o mandado de injunção.

4. Qual seria o caminho para se buscar a aplicabilidade desse direito? A quem poderia se exigir?
Ao Poder Judiciário poderá ser invocado a propósito de uma situação concreta nelas garantida, não pode
deixar de aplicá-las, conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições existentes. Nesse
sentido, diante de omissão de medida, cabem ADO e o mandado de injunção.

5. Mas o executivo e o legislativo estão sujeitos ao princípio da legalidade, como exigir deles, há alguma
previsão para que eles tomem essa iniciativa? Onde está essa obrigatoriedade dos entes federativos?
Encontra-se no art. 5. §1º da CF/88.

6. Qualquer tipo de moradia cumpriria esse direito social?


Não. Deve atender a função social da propriedade e requisitos mínimos de padrão que garantam a
dignidade da pessoa humana.

7. Quanto à função social da propriedade. Quando a propriedade urbana cumpre a sua função social?
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

8. Quais mecanismos/instrumentos possui o município para que o imóvel não edificado, subutilizado ou
mal utilizado possa cumprir a sua função social?
Art. 5o Lei municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a
edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar
as condições e os prazos para implementação da referida obrigação. – g.n. Estatuto da Cidade.
Não havendo cumprimento das obrigações e prazos do parcelamento, edificação ou utilização
compulsórios, passa-se à imputação do IPTU progressivo no tempo, com majoração de alíquota pelo prazo de 5
anos consecutivos.
O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado em lei específica e não excederá a duas vezes
o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota máxima de 15% (quinze por cento).
Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a
obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel,
com pagamento em títulos da dívida pública.

9. Em relação à função social da propriedade rural, quando é cumprida? Quais instrumentos da CRFB
podem ser utilizados?
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critério e
graus de exigências estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos(CF, art.186): aproveitamento racional e
adequado; a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância
das disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores".

10. Má utilização para produção de bem ilícito. O que é?


Desapropriação confiscatória”. Ela está prevista no art. 243 da Constituição. Originariamente, esse artigo
somente determinava a desapropriação confiscatória motivada por plantação e por tráfico de drogas ilícitas. Com
a EC 81/2014, a “exploração de trabalho escravo” passou a ensejá-la, também.
Dia 18 – Ponto 07 - Caio

GRUPO TEMÁTICO I

Direito Constitucional
Examinador: Dra. Elaine Parisi
Controle de Constitucionalidade e Ação de Impugnação de Registro de Candidatura

1. A EC 03 criou uma ação de controle de constitucionalidade. Gostaria que o senhor me dissesse qual é
essa ação, qual o seu objeto e quais as suas hipóteses. (ADC)
Trata-se da Ação Declaratória de Constitucionalidade. Referida ação tem como finalidade ratificar a
constitucionalidade de determinada norma que, em tese, possa estar causando discussão acerca da sua
(in)constitucionalidade, gerando, com isso, uma certa insegurança jurídica. Para tanto, o STF entende que, na
petição inicial, deve ser demonstrada a existência de uma controvérsia judicial relevante, de modo que tal requisito é
exigido a fim de evitar que o STF se torne um mero órgão de consulta. O Objeto da ADC é lei ou ato normativo
federal (CF, art. 102, “a”). Segundo o STF, essa lei ou ato normativo tem que estar vigente, eficaz e que viole
diretamente a CF. E, ainda, quando o art. 102, “a”, da CF fala em lei pode ser objeto de controle tanto a lei de efeitos
concretos ou não.

2. Quando o PGR não for autor, ele intervirá nessa ação?


Sim. O PGR é considerado legitimado universal à propositura da ADI e ADC (CF, art. 103), além disso,
deverá ser ouvido em todas as ações que tramitam perante o STF, oportunizando, assim, o conhecimento, por parte
do PGR, de todas as questões que estão sendo discutidas na Suprema Corte, permitindo que ele desempenhe sua
tarefa de guardião da Constituição (custus constitucionais). Ademais, sua participação deverá ser imparcial na defesa
da CF, podendo se manifestar tanto pela constitucionalidade, quanto pela inconstitucionalidade da norma, a
depender das circunstâncias do caso. Por fim, o parecer do PGR é meramente opinativo, isto é, não vincula os
Ministros do STF.

3. E o AGU?
O §3º do art. 103 da CF aduz que o AGU será citado e vai defender o ato ou texto impugnado, quando o
STF apreciar a inconstitucionalidade, em tese, da normal legal ou ato normativo, desempenhado, pois, o papel de
curador da presunção de constitucionalidade da norma, ou seja, de defensor legis. No exercício dessa tareda,
defenderá tanto as leis (e os demais atos normativos) federais, quanto os estaduais. O AGU será ouvido logo após o
término do prazo das informações que serão prestadas pelos órgãos ou autoridades das quais emanou o comando
normativo, sendo seu prazo de manifestação de 15 dias (art. 8º da Lei 9.868/99). Ocorre que, em que pese norma
expressamente prevista na CF, o STF, visando maior celeridade no julgamento das ações judiciais e economia
processual, tem mudado o entendimento quanto ao poder-dever de atuação do AGU nas ADI, passando a dispensar
sua atuação, caso já tenha fixado entendimento pela inconstitucionalidade de determinada norma, ou se esta ofender
interesses da União.
4. No âmbito do estado de Minas Gerais há previsão dessa ação?
Sim. A CEMG em quatro oportunidades faz menção à ação declaratória de constitucionalidade. São elas:
Art. 106 – Compete ao Tribunal de Justiça, além das atribuições previstas nesta
Constituição:
h) ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal em
face desta Constituição e ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo
estadual em face desta Constituição; (...)
Art. 118 – São partes legítimas para propor ação direta de inconstitucionalidade e ação
declaratória de constitucionalidade: (...); (...)
§ 6º – Somente pelo voto da maioria de seus membros ou de seu órgão especial poderá o
Tribunal de Justiça declarar inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou
municipal, incidentalmente ou como objeto de ação direta, ou declarar a constitucionalidade
de lei ou ato normativo estadual ou municipal que seja objeto de ação declaratória de
constitucionalidade. (...)
§ 9º – Na hipótese de processamento simultâneo de ação direta de inconstitucionalidade e
de ação declaratória de constitucionalidade que tenham identidade de objeto, o Tribunal de
Justiça adotará as medidas necessárias à efetivação do princípio da economia processual,
ouvindo-se todos os envolvidos nesses processos a fim de assegurar o princípio do
contraditório e da ampla defesa.

5. Da decisão que julga a ADC, cabe recurso? Nem embargos de declaração?


Não cabe recurso, mas é possível a oposição de embargos de declaração. Nos termos do art. 26 da Lei
9.868/99 “A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação
direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo,
igualmente, ser objeto de ação rescisória”.

6. Essa decisão pode ser objeto de ação rescisória? Por quê?


Nos termos do art. 26 da Lei 9.868/99, essa decisão proferida em ADC não pode ser objeto de ação
rescisória. Isso porque a ADC não se encaixa nos processos subjetivos (com partes) que possibilitariam qualquer
das hipóteses do art. 966 do CPC (ação rescisória), bem como a ADC não tem causa de pedir vinculada, isto é, o
STF ao analisar a ação não ficará restrito a causa de pedir sustentada na inicial, tendo vasto campo de investigação
para julgar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. E, ainda, destaca-se que
possibilitar a ação rescisória geraria insegurança jurídica, uma vez que o STF é um tribunal constitucional que deve
prestar a jurisdição de forma última e correta.

7. Declarada a constitucionalidade de uma lei, essa ação pode ser objeto de ADI?
Sim. Nada impede que uma lei reconhecida constitucional seja, posteriormente, declarada inconstitucional.
Para tanto, deverá ocorrer uma mudança no cenário fático, político ou jurídico que justifique tal procedimento.
8. Em relação à ADPF, os estados podem prever essa ação?
Segundo a doutrina de Dirley da Cunha Júnior, há questionamentos acerca da possibilidade de as
Constituições estaduais preverem o instituto da arguição para a defesa de seus preceitos fundamentais. Referido
autor, entende ser perfeitamente possível tal previsão com base no critério da simetria, de modo que as Cartas
estaduais podem introduzir em seus sistemas de defesa da supremacia de suas normas a ADPF, para a proteção
específica dos preceitos fundamentais que consagra. Nesse caso, a competência para julgá-la certamente caberá,
com exclusividade, ao TJ. Note-se que algumas Constituições estaduais acolheram o instituto da arguição nos
moldes acima mencionados, como, por exemplo, é o que ocorre com a Constituição do Estado de Alagoas (art. 133,
IX, r).

9. A ADPF, segundo a doutrina, possui caráter subsidiário. O que o senhor tem a me dizer sobre isso?
Nos termos do art. 4º, §1º, da Lei 9.882/99, “não será admitida arguição de descumprimento de preceito
fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade”. Tal disposição consagra o caráter
subsidiário da APDF, de modo que tal arguição só pode ser admitida na hipótese de inexistir, no ordenamento
jurídico, outro meio eficaz e célere capaz de sanar, completa, eficaz e definitivamente, a lesão a preceito
constitucional fundamental. Sobre esse caráter subsidiário da APDF esclarece Gilmar Mendes: “(...) tendo em vista o
caráter acentuadamente objetivo da arguição de descumprimento, o juízo de subsidiariedade há de ter em vista,
especialmente, os demais processos objetivos já consolidados no sistema constitucional. Nesse caso, cabível a ação
direta de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, ou, ainda, a ação direta por omissão, não será admissível a
arguição de descumprimento. Em sentido contrário, não sendo admitida a utilização de ações diretas de
constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, isto é, não se verificando a existência de meio apto para solver a
controvérsia constitucional relevante de forma ampla e geral e imediata, há de ser entender possível a utilização da
ADPF”. O STF possui entendimento de que a ADPF está gravada com a cláusula da subsidiariedade que o legislador
ordinário lhe destinou, de tal sorte que não se admitirá a arguição quando for cabível outra ação ou recurso capaz de
sanar a lesão a preceito fundamental. Contudo, segundo o próprio STF, a mera possibilidade de utilização de outros
meios processuais, não basta, por si só, para justificar a invocação da subsidiariedade, pois, para que essa cláusula
possa legitimamente incidir – impedindo, desse modo, o acesso imediato à ADPF – revela-se essencial que os
instrumentos disponíveis mostrem-se capazes de neutralizar, de maneira eficaz, a situação de lesividade que se
busca obstar com o ajuizamento desse writ constitucional.

Direito Eleitoral

10. Qual a finalidade da Ação de Impugnação de Registro de Candidatura?


A ação de impugnação de registro de candidatura (AIRC) é o instrumento pelo qual se busca atacar o
registro de candidatura de certo indivíduo que apresenta limitações no que toca a seus direitos políticos. Referido
instrumento faz parte do gênero ação eleitoral, denominada ação de arguição de inelegibilidade, uma vez que
combate um déficit na capacidade eleitoral ativa, valendo-se da ausência de condição de elegibilidade ou
registrabilidade bem como a incidência de uma causa de inelegibilidade.
11. Quais são os legitimados ativos pra essa ação?
Os legitimados estão previstos na LC 64/90 (art. 3º):
Art. 3° Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou ao Ministério Público,
no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato,
impugná-lo em petição fundamentada.
§ 1° A impugnação, por parte do candidato, partido político ou coligação, não impede a
ação do Ministério Público no mesmo sentido.
§2° Não poderá impugnar o registro de candidato o representante do Ministério Público
que, nos 4 (quatro) anos anteriores, tenha disputado cargo eletivo, integrado diretório de
partido ou exercido atividade político-partidária.
§ 3° O impugnante especificará, desde logo, os meios de prova com que pretende
demonstrar a veracidade do alegado, arrolando testemunhas, se for o caso, no máximo de
6 (seis).

12. O candidato pode subscrever a ação? Essa questão é pacífica?


A jurisprudência majoritária tem reconhecido que não há necessidade de capacidade postulatória para o
ajuizamento da AIRC, reconhecendo o c. TSE a necessidade de advogado apenas na fase recursal. Tal
posicionamento é criticado por doutrinadores como Joel J. Cândido, por entender que tal entendimento viola as
disposições contidas no Código de Processo Civil e no Estatuto da Advocacia e da OAB, máxime porque se trata de
processo de jurisdição contenciosa onde há coisa julgada, assim como Adriano Soares da Costa, Pedro Henrique
Távora Niess e Tito Costa.

13. O juiz, de ofício, pode conhecer o fato objeto da ação e negar o registro pleiteado?
Sim. Sobre o assunto: [...] Nos processos de registro de candidatura, o Juiz Eleitoral pode conhecer de ofício
vícios que acarretam o indeferimento do registro, sejam eles decorrentes da ausência de condição de elegibilidade
ou da existência de causa de inelegibilidade (art. 46 da Resolução-TSE nº 22.717/2008). [...]” (Ac. de 26.11.2008 no
AgR-REspe nº 34.007, rel. Min. Felix Fischer;no mesmo sentido o Ac. nº 805, de 17.8.2004, rel. Min. Peçanha Martins.)

14. O diretório municipal tem legitimidade para impugnar um pedido de eleição estadual?
Não. Sobre o assunto: “Direito Eleitoral. Registro de candidatura. Agravo. Recurso especial. Ilegitimidade de
diretório municipal para impugnar pedido de registro em eleição estadual e federal. Inelegibilidade prevista no art. 1º,
I, d, LC nº 64/90 requer representação julgada procedente. Precedentes. Negado provimento”. (Ac. nº 20.451, de
3.10.2002, rel. Min. Sálvio de Figueiredo;no mesmo sentido o Ac. de 20.9.2006 no ARESPE nº 26.861, rel. Min. Gerardo
Grossi.)

Direito Administrativo
Examinador: Dr. Marco Paulo Starling
Parcerias Público Privadas.
1. Faça uma análise crítica do instituto das PPPs. Quero uma posição pessoal, e não uma análise de
cursinho, o senhor não sabe nem vai ficar sabendo o que eu penso sobre o assunto. O examinador leu um
excerto sobre o que a doutrina que critica as PPPs diz: “A fé do governo no investidor privado é de valor
duvidoso.”
Aqueles que se opõem às Parcerias Público-Privadas normalmente se baseiam no argumento da perda de
controle por parte do poder público quando uma empresa privada se envolve no financiamento, construção ou
entrega de serviços públicos. Segmentos vinculados aos prestadores de serviço envolvidos eventualmente podem
criticar as parcerias público-privadas como fontes de desemprego ou perda de qualidade na prestação dos serviços.
Outras críticas se referem aos riscos fiscais vinculados às parcerias público-privadas. Essas objeções não refletem
as evidências encontradas pelas pesquisas feitas nessa área, as quais suportam a conclusão de serem as parcerias
público-privadas bem elaboradas instrumentos eficientes para a promoção do interesse público e para a melhoria
dos serviços prestados à população. Não há evidência que sugira serem as parcerias público-privadas fontes de
desemprego ou precarização da qualidade dos postos de trabalho, ao contrário: os padrões de serviço determinados
nos contratos de PPP normalmente exigem maior qualificação técnica dos trabalhadores envolvidos e,
consequentemente, investimentos em treinamento e formação de pessoal.
Em relação aos riscos fiscais das parcerias público-privadas as críticas em sua maioria, se não todas, não
se aplicam à realidade brasileira da forma em que são colocadas. A Lei 11.079/2004 se beneficiou da experiência
internacional e impõe à Administração Pública diversos limites orçamentários, contábeis e financeiros à contratação
de parcerias público-privadas. Esses limites existentes no Brasil não eram estabelecidos em muitos países europeus
até recentemente, podendo se dizer que o Brasil é um dos precursores no atual movimento de responsabilidade
fiscal nas PPPs.
No Brasil as parcerias público-privadas não oferecem riscos fiscais superiores às demais modalidades de
contratação pública, ao contrário: exigem-se diversos estudos sobre a viabilidade econômico-financeira dos projetos
que não são exigidos nas demais formas de contratação.

Texto tirado do site http://www.planejamento.gov.br/assuntos/desenvolvimento/parcerias-publico-privadas/


referencias/copy_of_perguntas-frequentes

2. Dizem que as PPPs são extremamente flexíveis com o setor privado. Onde o senhor identifica essa
flexibilidade? Há uma característica que mais desmoraliza o instituto no Brasil. Qual o fator mais pernicioso
para o erário, em que as PPPs garantem para o setor privado.
Um dos principais instrumentos que permitem essa flexibilização das PPPs com o setor privado que pode
ser mencionado é a possibilidade de realização da arbitragem para a resolução de eventuais conflitos. Nesse
sentido: “Causa polêmica, ainda, a previsão inserta na lei 11.079/04 no sentido de que “particulares, árbitros, como
suposto no art. 11, III, possam solver contendas nas quais estejam em causa interesses concernentes a serviços
públicos, os quais não se constituem em bens disponíveis, mas indisponíveis, coisas extra commercium (MELLO,
2007, p. 759). Para o citado autor o assunto “envolve interesses de elevada estatura, pertinentes à Sociedade como
um todo; e, bem por isto, quando suscitar algum quadro conflitivo entre partes, só pode ser soluto pelo Poder
Judiciário”, e acrescenta: ‘permitir que simples árbitros disponham sobre matéria litigiosa que circunde um serviço
público e que esteja, dessarte, com ele imbricada ofenderia o papel constitucional do serviço público e a própria
dignidade que o envolve.’”

3. O examinador leu o art. 4 da lei das PPPs. O que significa no caso de inexecução ou suspensão da obra? E
como a PPP prevê isso através do Estado? O que o Estado faz? E se o Estado não assumir a obra o que
acontece? A saída da empresa da PPP, porque a obra está ficando muito cara, permite que o Estado faça o
que? (O estado injeta mais dinheiro).
Consta no art. 4º da Lei das PPP: “Art. 4o Na contratação de parceria público-privada serão observadas as
seguintes diretrizes: I – eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos recursos da sociedade;
II – respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes privados incumbidos da sua
execução; III – indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia e de outras
atividades exclusivas do Estado; IV – responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias; V –
transparência dos procedimentos e das decisões; VI – repartição objetiva de riscos entre as partes; VII –
sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos projetos de parceria”.
Na PPP, O contrato deve trazer uma repartição objetiva dos riscos entre as partes, inclusive com a previsão
de quem assume os referentes a caso fortuito, força maior, fato do príncipe e álea econômica extraordinária. (inciso
VI do art. 4º e inciso III do art. 5º da Lei n.º 11.079, de 2004).

4. Em relação às PPPs, comente o seguinte excerto: “A intervenção estatal na vida econômica significa de
fato, em sentido amplo uma xxxxx
Convém consignar que uma das principais características acerca das PPPs é no sentido de que houve, com
o seu advento, uma flexibilização da intervenção estatal na vida econômica da sociedade. Porém, não é certo afirmar
que o as PPPs são uma privatização. O termo "privatização" pode ser usado nos casos de transferência integral ou
definitiva de uma função, ativo ou atividade específica para o setor privado, reservando-se ao poder público apenas o
papel de regulador. Nas parcerias público-privadas a operação e manutenção de bens públicos podem ser
transferidos ao parceiro privado durante a vigência do contrato, porém não ocorre a sua alienação e a propriedade
do bem se mantém pública. A destinação do bem público concedido em parceria público-privada fica restrita àquela
determinada no contrato, não podendo o parceiro privado exercer direitos típicos do domínio sobre o bem público.
Enfim, a gestão privada do bem público se encerra após a extinção do contrato de parceria público-privada, não
estando presentes quaisquer dos elementos que caracterizam a privatização.

GRUPO TEMÁTICO II

Direito Penal
Examinador: Dr. Luís Gustavo Gonçalves Ribeiro
Aplicação de Pena e 2 Leis recentes sobre Organizações Criminosas
1. Tivemos agora o caso do doleiro. Gostaria de saber se o líder da organização criminosa pode se beneficiar
da colaboração premiada?
A Lei 12.850/13, prevê, em seu art. 4º, o instituto da colaboração premiada. Analisando aludido dispositivo,
infere-se que não há vedação legal que impeça o líder da organização criminosa de ser beneficiado com a
colaboração premiada. No entanto, o que é vedado, ao líder da organização criminosa, é a concessão da benesse
consistente na possibilidade de o Ministério Público deixar de oferecer denúncia (art. 4º, §4º, I).

2. E esse réu colaborador, no ato dele de colaboração para invocar o direito ao silêncio? (O candidato
respondeu que a lei prevê que ele tem que abrir mão para fazer a colaboração premiada) E isso é
constitucional?(abrir mão do direito ao silêncio)
Nos termos do art. 4º, §14º, da Lei 12.850/13, o colaborador, por ocasião da colaboração premiada, deverá
renunciar, na presença do seu defensor, ao direito ao silêncio, estando sujeito ao compromisso legal de dizer a
verdade. Prevalece o entendimento que tal previsão é constitucional, uma vez que não se trata tecnicamente de uma
renúncia (os direitos fundamentais são irrenunciáveis), mas sim a opção pelo não exercício de um direito.
3. A Lei 12.694, em seu art 2º, e a Lei 12850, art 1º conceituam organização criminosa. Não há dispositivo
expresso de revogação do dispositivo da Lei 12.694. Assim, qual é o conceito? E a definição da Lei 12.694?
Então imagine o seguinte, o cidadão foi processado por compor organização criminosa em 2013, juntamente
com duas pessoas, e no final do ano veio a 12.850 que prevê que precisa de no mínimo 4 pessoas para
caracterizar organização criminosa. Como ficaria esse processo? Mas não houve uma revogação da Lei
12.694. O candidato disse que aplicaria a 12.694 por ser norma processual e o examinador questionou: Mas
esse fato de definição do que é crime é norma de direito processual?
A Lei 12.694/12 conceituou organização criminosa. No entanto, não tipificou a conduta de organização
criminosa. Da mesma forma, referida Lei não revogou a Lei 9.034/95. Tínhamos, pois, em 2012, três leis vigorando
em nosso país: a 9034, a 12.694 e a Convenção de Palermo. Em 2013, surge a Lei 12.850. Aludida lei, além de
conceituar organização criminosa, realizou a tipificação de organização criminosa. A Lei 12.850 revogou a Lei
9.034/95, mas não revogou a lei 12.694/12. Pergunta: qual conceito de organização criminosa prevalece? R:
Prevalece na doutrina que, em se tratando especificamente do conceito de organização criminosa, a Lei 12.850
revogou a Lei 12.694/12, nos termos do art. 2º, §1º, LINDB. Conceitos comparativos:
Lei 12.694/12, Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a
associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela
divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual
ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.
Lei 12.850/13, Art. 1º, § 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro)
ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda
que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer
natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a
4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
No caso em questão, o ideal é entender que, como o conceito de organização criminosa da Lei 12.694 foi
revogado pela 12.850, o processo deveria ser extinto (irretroatividade da lei penal benéfica). Atentar ao fato de que
como o conceito de organização criminosa demanda a participação e 4 ou mais pessoas, bem como o crime de
organização criminosa é de natureza permanente, de modo que a prática delitiva pode não ter cessado quando do
advento da Lei 12.850/13, razão pela qual incide o disposto na Súmula 711 do STF.

4. Um cidadão foi condenado a 38 anos. Depois de um ano preso, o cidadão pratica uma infração penal e é
definitivamente condenado depois de cumpridos 2 anos de pena, condenado a novos 25 anos. Ele cumprirá
algum tempo da segunda pena? Quanto tempo dessa segunda pena seria cumprido? Ou não seria
cumprida? (2 anos da segunda pena)
Ele irá cumprir os 25 anos impostos na nova condenação, isso porque não se admite a denominada conta
corrente penal, não se abatendo, portanto, os dois anos em que o cidadão ficou preso em decorrência de outro
processo.

Direito Processual Penal


Examinador: Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Teoria da Prova

1. Gostaria incialmente de ouvir a respeito da questão da aquisição probatória e a verdade no processo


penal.
A aquisição probatória decorre da iniciativa das partes com a finalidade de trazer, aos autos, elementos
probatórios que possam subsidiar as suas alegações. Uma vez ingressada nos autos, a prova pertence ao processo
e não à parte que a produziu. Nesse cenário, entende a doutrina majoritária que o ônus da prova no processo penal
pode ser distribuído entre as partes. À acusação cabe provar: a existência de fato típico, autoria e participação, nexo
causal e dolo ou culpa (devem ser comprovados com dados objetivos do crime). Por sua vez, à defesa cabe provar:
causa excludente de ilicitude, causa excludente de culpabilidade, causa extintiva de punibilidade e eventual álibi por
ela sustentada. O processo penal, segundo a doutrina clássica, é regido pelo princípio da busca da verdade real, de
modo que, no âmbito processual penal, diferentemente do que ocorre com os outros ramos do direito, que se
satisfazem com o princípio da verdade formal, é necessário que, na produção de provas, se leve em consideração a
realidade dos fatos.

2. Como se conceitua a verdade possível? Existe alguma limitação?


Atualmente, a doutrina vem dando uma nova roupagem ao princípio da verdade real. Fala-se, hoje, em
princípio da busca da verdade ou da verdade possível. Isso porque não se pode acreditar que, para a prolação de
um decreto condenatório, seja necessário a reprodução fiel da realidade. Exigir que o processo reproduza de forma
fidedigna os fatos é uma situação utópica, que inviabilizaria o jus puniendi do Estado.

3. Uma parte da doutrina critica o uso dessa palavra “Verdade”. O que o senhor poderia dizer sobre isso?
De fato, parte da doutrina ente de que, exigir que o processo penal seja regido pela verdade real é,
praticamente, inviabilizar a pretensão acusatória do Estado. Dessa forma, o ideal é asseverar que a finalidade do
processo penal é a busca pela verdade, isto é, os fatos narrados pelas partes devem se aproximar, na medida do
possível, à realidade. Assim, o juiz, ao perceber que os fatos trazidos pela acusação são dotados de verossimilhança
com a realidade, pode prolatar uma sentença condenatória, não se exigindo a utópica ideia de subsunção fidedigna
dos fatos apresentados nos autos com a realidade.

4. Se existirem, aponte hipóteses de possibilidade de prova corporal de natureza lícita, mesmo sem o
consentimento do acusado/investigado. Nessa questão da execução penal (para extrair o DNA), é possível o
emprego de força? Como deve ser interpretado o termo obrigatoriamente que existe no dispositivo da LEP?
Uma hipótese que pode ser citada como possibilidade de prova corporal de natureza lícita, mesmo sem o
consentimento do acusado/investigado é o exame de Raio-X realizado em “mulas” transportando drogas (STJ, HC
149.146/SP).
O art. 9º-A, caput, da LEP aduz que “Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de
natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990,
serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA – ácido
desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor”. Nesse sentido, o termo obrigatoriamente traduz uma imposição
ao condenado de submeter ao referido exame, razão pela qual é possível o emprego de força.
Prevalece na doutrina que essa medida é constitucional por atender a proporcionalidade, uma vez que
somente condenados por crimes graves é que serão submetidos à coleta. Ademais, não há falar em violação à
presunção de inocência se as pessoas sujeitas à extração do material já foram condenadas. Por fim, a inserção do
material genético no banco nacional permitirá desvendar inúmeros crimes cuja autoria não se tem notícia,
viabilizando tanto a condenação de culpados como a absolvição de inocentes.

5. Gostaria de ouvi-lo sobre hipóteses de aproveitamento de prova ilícita. Se existem e quais seriam? O
candidato respondeu que seria possível o aproveitamento a favor do réu. Existe uma polêmica a respeito, e
há teses em que se admite a utilização de prova ilícita contra o réu, o senhor conhece? O examinador disse
que não concorda e que é uma visão minoritária, mas que existe.
Existem limitações à teoria da prova ilícita. Em um primeiro momento, foi vedada a prova ilícita. Já em um
segundo momento, foi vedada também a prova ilícita por derivação. Após isso, a Suprema Corte Americana passu a
criar limitações à prova ilícita. São elas:
a) Teoria da fonte independente: CPP, art. 157, §1º “São também inadmissíveis as provas derivadas das
ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem
ser obtidas por uma fonte independente das primeiras”;
b) Teoria da descoberta inevitável: CPP, art. 157, §2º “Considera-se fonte independente aquela que por si
só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir
ao fato objeto da prova”;
c) Limitação da mancha purgada: não se aplica a teoria da prova ilícita por derivação se o nexo causal
entre a prova primária e a secundária for atenuado em virtude do decurso de tempo, de circunstâncias
supervenientes na cadeia probatória, da menor relevância da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos em
colaborar com a persecução criminal;
d) Teoria do encontro fortuito: é utilizada nos casos em que, no cumprimento de uma diligência relativa a
um delito, a autoridade policial casualmente encontra provas pertinentes à outra infração (ou outros investigados).

GRUPO TEMÁTICO III

Direito Civil
Examinador: Dr. Bertoldo Matheus
Personalidade Civil

1. Conceitue a personalidade civil. O que são os direitos da personalidade?


É a capacidade de ser sujeito de direitos ou obrigações, ou seja, de exercer determinadas atividades e de
cumprir determinados deveres decorrentes da convivência em sociedade. Por sua vez, os direitos da personalidade
são todos os direitos necessários para realização da personalidade e para sua inserção nas relações jurídicas. Os
direitos da personalidade são subjetivos, ou seja, oponíveis erga omnes (se aplicam a todos). São direitos
existenciais para resguardar os direitos da dignidade da pessoa humana.

2. Indique espécies de direito da personalidade.


Existe nos arts. 13 a 21 do CC um rol de direitos da personalidade. Esse rol prevê algumas espécies de
direitos da personalidade, e pode assim ser destacado: vida, integridade física, nome, intimidade, vida privada, honra
e imagem.

3. Dizem que os direitos da personalidade são absolutos. O que é isso, você poderia me dizer?
Uma das características dos direitos da personalidade é que eles são absolutos. Leia-se: eles podem ser
oponíveis erga omnes. Em razão dessa característica, é que se admite a ideia de eficácia vertical/horizontal dos
direitos fundamentais da personalidade (STF, RE 201.819).

4. Eles são oponíveis erga omnes?


Sim, e o que justifica essa oposição erga omnes é a característica de que os direitos da personalidade são
absolutos.

5. Por que eles são considerados extrapatrimoniais?


São considerados extrapatrimoniais porque são direitos de natureza existenciais, de modo que não há como
mensurar economicamente os direitos da personalidade.

6. Em caso de morte presumida a personalidade se extingue?


A morte presumida ocorre quando não se consegue provar que houve a morte real. O tema é tratado
inicialmente pelos arts. 6º e 7º, CC. Por sua vez, os direitos da personalidade só terminam como a morte. Pode-se
falar em extinção da personalidade natural nos seguintes casos: morte real, morte simultânea ou comoriência, morte
civil (para alguns autores, a indignidade da pessoa seria hipótese de morte civil prevista no ordenamento jurídico,
porque, reconhecida a indignidade para o direito sucessório, o indigno é tratado como se fosse morte.) e a morte
presumida (com declaração de ausência ou sem declaração de ausência).

7. O art. 2º do CC diz que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Com base nesse artigo foram criadas 3 teorias: da
personalidade, personalidade condicional e teoria concepcionista. O que o senhor poderia dizer sobre isso?
Existem, basicamente, três teorias que discorrem sobre o início da personalidade civil da pessoa. São elas:
1. Teoria Natalista: parte da interpretação literal e simplificada da lei, dispõe que a personalidade começa com o
nascimento com vida, o que traz a conclusão de que o nascitura não pode é pessoa. Para essa teoria, o nascituro
possui tão somente expectativa de direitos. Assim, o nascituro não possui direitos fundamentais tais como: à vida, à
investigação de paternidade, aos alimentos, ao nome (Cáio Mário da Silva Pereira); 2. Teoria da personalidade
condicional: assevera que a personalidade jurídica começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro
estão sujeitos a uma condição suspensiva, portanto, à condição, termo ou encargo. Ao ser concebido, o nascituro
poderia titularizar alguns direitos extrapatrimoniais, como, por exemplo, à vida, mas só adquire completa
personalidade quando implementada a condição de seu nascimento com vida (Washington de Barros Monteiro); 3.
Teoria Concepcionista: sustenta que o nascituro é pessoa humana desde a concepção, tendo direitos resguardados
pela lei (Pontes de Mirada, Maria Helena Diniz). É a posição adotada pela doutrina majoritária.
Direito Processual Civil
Examinador: Dr. Adriano Cardoso da Silva

Medidas Cautelares, em especial as medidas cautelares em espécie.

1. Qual é o conceito de medida cautelar?


Pode ser conceituada como uma medida de natureza urgente que visa assegurar a eficácia do processo,
minimizando os efeitos deletérios que o tempo exerce sobre ele.

2. Em quais medidas cautelares não é necessária a propositura da ação principal no prazo de 30 dias?
Uma das medidas cautelares que não exigem a necessidade da propositura da ação principal após o trintídio
é a cautelar de exibição de documentos (TJMG, Apelação Cível n. 101511400203980001). Obs.: não consegui achar
outros exemplos que pudessem responder à questão.

3. Diferencie arresto de arrolamento de bens.


O arresto consiste na providência destinada a preservar bens do devedor, como garantia de uma futura
penhora e expropriação de bens, quando ele ameaça dilapidar o seu patrimônio e tornar-se insolvente. Não é um
incidente de execução, mas sim uma medida cautelar.
Difere do sequestro, porque a constrição não tem por objeto bem determinado sobre o qual recai o litígio,
mas bens não previamente determinados do patrimônio do devedor, que tenham valor econômico, e sobre os quais
futuramente possa recair a penhora. Podem ser objeto de arrasto bens móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos,
desde que tenham valor econômico e possam ser alienados.
Por sua vez, o arrolamento de bens consiste na enumeração, para que se possam conhecer quais aqueles
que integravam o patrimônio da parte contrária no momento em que a medida foi requerida, e na sua entrega a um
depositário, que zelará pela sua conservação.
No arresto, a constrição não recai sobre a universalidade de bens, mas apenas sobre bens necessários para
a garantia do juízo. Pode até ser que um baste, desde que suficiente para fazer frente à obrigação. O arrolamento de
bens tem como função promover uma enumeração de bens que o autor da medida ainda não conhece. Está entre as
suas finalidades permitir ao interessado conhecer quantos e quais são: ele sempre objetiva uma universalidade, seja
um patrimônio, seja uma herança.

4. Em quais situações a parte poderá se valer de uma cautelar de sequestro? Quais são as coisas que podem
ser objeto desse sequestro? Movéis, imóveis, semoventes?
Em uma acepção conceitual, o sequestro é descrito como uma medida cautelar de apreensão de bens, cuja
finalidade é assegurar a efetividade de futura execução para a entrega de coisa certa. No sequestro, a constrição
recai sobre bens determinados e específicos. O perigo está ligado a uma futura execução para entregar coisa certa,
de modo que não há relação com uma dívida em dinheiro, mas com um litígio sobre determinado bem. Pode recair
tanto sobre bens móveis quanto bens imóveis, assim como semoventes.

5. Quais são os pressupostos da cautelar de arresto?


O arresto consiste em uma medida cautelar destinada a preservar bens do devedor, quando ele ameaça a
dilapidar seu patrimônio. Caracteriza-se pela constrição de um ou mais bens suficientes para garantir futura
execução por quantia certa, assegurando o pagamento. Segundo se depreende do NCPC, não havendo previsão de
pressupostos específicos, deve-se partir da existência de “elementos que evidenciem a probabilidade do direito” e o
“perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo”, como prevê o art. 300. Assim, não existem mais a “causae
arreste” do direito anterior, aquelas situações específicas que ensejavam o pedido de arresto. Qualquer situação de
perigo ao crédito é, em tese, passível de fundamentar pedido de arresto (“perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo”).

6. Uma eventual sentença ilíquida poderia por si só ser objeto de cautelar de arresto?
O fato de o crédito reclamado não ser fundado em título líquido e certo, eis que representado por sentença
ilíquida, não constitui óbice ao deferimento do arresto (TJSC, AI n. 96.009138-6).

7. Na cautelar de prestação de caução, a quem cabe decidir a espécie da caução? Real ou fidejussória?
Ao caucionante.

8. O que você entende por periculum in mora inverso?


O periculum in mora inverso consiste na possibilidade de, acaso concedida a tutela antecipada de urgência,
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, de modo a não permitir o restabelecendo do status quo
ante.

9. O que é uma cautelar de natureza constritiva e uma cautelar de natureza não constritiva?
A cautelar constritiva é a medida cautelar que causa embaraço a bem ou direito, ou seja, implica na
constrição de um ônus, um gravame sobre um determinado bem, gerando alguma privação. Ex: arresto, sequestro,
alimentos provisionais. Por sua vez, a cautelar de natureza não constritiva é a medida cautelar que tem por único
objetivo a conservação de um direito (natureza conservativa). Não há restrição ou constrição a bens ou direitos.
Exemplo citado pela doutrina é o antigo procedimento cautelar de produção antecipada de provas.
10. A cautelar de exibição de documentos tem natureza constritiva ou não constritiva?
Possui natureza de medida cautelar não constritiva.

11. A partir de quando começa a fluir o prazo para o ajuizamento da ação principal?
Nos termos do art. 308 do NCPC “Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo
autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmo autos em que deduzido o pedido de
tutela cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais”.

GRUPO TEMÁTICO IV

Direito Material Coletivo


Examinador: Dr. Antônio Joaquim
Bens coletivos e relações grupais

1. Quais são as características dos bens coletivos? E se a gente pensar em grupos? Que características
existem no direito grupal para que ele mereça a tutela coletiva?
Extrai-se da internet (http://www.ammp.org.br/inst/artigo/Artigo-75.pdf):
“Tradicionalmente, os Códigos Civis regulam os bens por sua pertinência ao
domínio público ou privado. Nos últimos anos surgiu uma categoria de bens que não
pertencem ao Estado nem aos particulares de forma exclusiva, e que não são suscetíveis
de ser divididos em partes que permitam afirmar sobre elas a titularidade individual de um
direito dominial (LORENZETTI, Ricardo Luís. Teoria da decisão judicial: fundamentos de
direito. São Paulo: RT, 2009, p.271). (...) “Para caracterizar um discurso como coletivo,
utiliza-se aqui a classificação apresentada por Lorenzetti (2009), que assim qualifica o
casos que tratam de “relações grupais” e de “bens coletivos”. Segundo referido autor “os
grupos começam a adquirir realidade institucional na sociedade civil, sendo possível
reconhecer-lhes, por analogia com as pessoas jurídicas, alguns direitos. Exemplo disso é o
denominado “dano moral coletivo”, que importa em abrir o caminho para a admissão de
uma subjetividade grupal e de direitos fundamentais dos grupos”.

2. A tutela coletiva nas últimas décadas apresenta uma evolução. Como é que penetra de maneira mais forte
no sistema jurídico brasileiro, a tutela coletiva? E como ela se apresenta nas outras matérias?
A tutela coletiva ganha força com o advento da terceira dimensão dos direitos humanos, consistente na ideia
de fraternidade/solidariedade (ex: direito à paz, ao desenvolvimento, ao equilíbrio ambiental). Como se nota, os
direitos de terceira dimensão se caracterizam por possuir uma concepção coletiva. Nesse passo, a fim de dar
concretude à terceira dimensão, pode-se mencionar como marco da tutela coletiva a ação popular, que foi prevista
na Constituição de 1934, de modo que, atualmente, aludida ação está presente na Lei 4.717/65. Já no início da
década de 80, a PNMA legitimou o MP a ajuizar ação de responsabilidade civil por danos ambientais. Já em 1985,
surge outro relevante instrumento: a ação civil pública. Em 1988, com o advento da CF, coube ao MP a promoção do
IC e da ACP para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos. Posteriormente, outras leis trataram da tutela coletiva (ex: Lei 7.853/89, que versou sobre os interesses
das pessoas portadoras de deficiência; Lei 10.741/03 – Estatuto do Idoso, dentre outros tantos Diplomas Legais). No
entanto, não obstante tais normas, é certo dizer que foi com o advento do Código de Defesa do Consumidor, em
1990, que a tutela coletiva penetra de maneira mais forte no sistema jurídico brasileiro, de modo que referido Código
anuncia uma regra matriz para todos os demais diplomas normativos que também versam sobre tutela coletiva,
formando, juntamente com a LACP, um verdadeiro microssistema de tutela coletiva.

3. Existem os direitos da personalidade ligados ao direito subjetivo individual, e a tutela dos danos morais
correspondentes. Temos também os direitos coletivos e os danos morais coletivos. Como se dá essa
transição do direito subjetivo para o direito coletivo para tutela de aspectos não patrimoniais? Então só tem
dano moral em direitos individuais homogêneos? Como que eu explico os danos morais em direitos
coletivos e direitos difusos?
Essa transição se dá pelo fato de se reconhecer que os valores de uma comunidade podem ser violados
(esfera moral da comunidade), de modo que o dano moral deixou de envolver somente a dor psíquica de uma só
pessoa, mas qualquer abalo negativo à moral da coletividade. O ideal é afirmar que, atualmente, não se tem dano
moral somente nos direitos individuais homogêneos. Embora haja certa divergência jurisprudencial, o STJ vem se
inclinando pelo reconhecimento dos danos morais coletivos.
Isso porque, em se tratando de direitos coletivos e difusos, vigora, no ordenamento jurídico, o princípio da
reparação integral, de modo que o causador do dano deverá ser responsabilizado por todos os danos decorrentes da
sua conduta lesiva, permitindo-se que haja a condenação em obrigações de fazer, não fazer e pagar. O dano moral
coletivo atinge direitos da personalidade de um grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a
coletividade sinta dor, repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado.

4. O ENEM trouxe uma redação acerca da publicidade direcionada ao público infantil. Quais seriam as
consequências nos âmbitos civil e penal de uma publicidade abusiva voltada para o público infantil?
O CDC veda expressamente a publicidade abusiva. Na esfera civil, reconhece-se a possibilidade da
imposição de contrapropaganda, de modo que esta será divulgada pelo responsável da mesma forma, frequência e
dimensão e, preferencialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício
da publicidade enganosa ou abusiva (CDC, art. 60). É possível, ainda, o reconhecimento de dano moral coletivo. Isso
porque, segundo o STJ (Info. 618), a conduta que, potencialmente, poderia criar situações discriminatórias,
vexatórias, humilhantes às crianças e aos adolescentes configura lesão ao direito transidividual da coletividade e dá
ensejo à indenização por dano moral coletivo. Na esfera penal, tem-se, também, a possibilidade de aplicação do
CDC, uma vez que os arts. 67 e 68 punem a conduta de fazer ou promover publicidade abusiva. Ademais,
considerando que a publicidade se voltou ao público infantil, é possível o reconhecimento da circunstância agravante
contida no art. 76, IV, b, do CDC, leia-se: quando praticado em detrimento de menor de 18 anos.

Direito Processual Coletivo


Examinador: Dr. Rodrigo Cançado Anaya Rojas
Proteção ao patrimônio público e probidade administrativa.

1. Existe algum conceito legal/geral do que seja improbidade administrativa? Existe algum conceito geral na
lei ou na constituição? A improbidade está necessariamente ligada à moralidade? Pode se dizer então que
estaria mais ligada à ética da administração? Uma eventual conduta desidiosa também seria improbidade
administrativa? Mas e quando a desídia gera lesão ao erário?
Há quem entenda que a moralidade e a probidade são expressões sinônimas (José dos Santos Carvalho
Filho). No entanto, prevalece o entendimento de que a probidade é um conceito mais amplo, porque a LIA prevê,
como ato de improbidade administrativa, não apenas a violação à moralidade, mas também aos demais princípios da
Administração Pública (art. 11). Assim, todo ato imoral é um ato de improbidade, mas bem todo ato de improbidade
significa violação ao princípio da moralidade (Émerson Garcia). Assim, é correto dier que a probidade é um gênero,
sendo a moralidade uma de suas espécies. A improbidade irá englobar não apenas os atos desonestos ou imorais,
mas também os ilegais. Dessa forma, uma conduta desidiosa também poderá configurar ato de improbidade, de
modo que se um agente público causar dano ao erário, mediante culpa, por exemplo, não estará presente o
componente moral, mas responderá ele pela prática de improbidade, porquanto sua conduta se amolda tipo legal do
art. 10.

2. O agente público que está no âmbito do judiciário e do legislativo também pode cometer ato de
improbidade administrativa? E os agentes das entidades que recebem subvenções do estado, também
estariam sujeitos a cometer atos de improbidade administrativa? (o candidato questionou se seria terceiro
setor e o examinador não gosta dessa expressão terceiro setor) Há algum limite? E o terceiro (que não se
enquadra no art. 1º da lei de improbidade) estaria sujeito a cometer ato de improbidade administrativa?
O agente público que está no âmbito do Judiciário/Legislativo pode sim cometer ato de improbidade
administrativa. Da mesma forma, podem os agentes das entidades que recebem subvenções do estado praticar atos
de improbidade, com a ressalva constante no parágrafo único da LIA, ou seja, no caso de o poder público ter
concorrido com menos de 50% do patrimônio ou receita anual, limitando-se, nesses casos, a sanção patrimonial à
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
O terceiro (não agente público) também está submetido à LIA. No entanto, para que o terceiro seja
responsabilizado pelas sanções da LIA é indispensável que seja identificado algum agente público como autor da
prática do ato de improbidade, de sorte que não é possível a propositura de ação de improbidade exclusivamente
contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da demanda (STJ, Info 535).

3. Se o agente público receber um presente, isso representa enriquecimento ilícito? ( o examinador acha que
é uma questão de bom senso)
Tudo vai depender do caso concreto. Bom senso acima de tudo.

4. Qualquer ato de improbidade atenta necessariamente contra os princípios da administração pública?


Com base no entendimento majoritário, é correto afirmar que toda violação aos princípios da administração
pública configura ato de improbidade, mas a recíproca não é verdadeira. Assim, nem todo ato de improbidade
necessariamente atenta contra os princípios da administração pública, até porque a LIA, em seu art. 10, permite a
responsabilização do agente por ato de improbidade que cause prejuízo ao erário, ainda que não haja violação a
princípio da administração pública.

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