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em Direito
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Alexandre Bernardino Costa
Eduardo Gongalves Rocha
Epistemologia e Pesquisa
em Direito
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
Agradecimentos
Introdução....................................................................................1
Pesquisa em Direito em uma Sociedade Complexa......................9
1 – Conhecimento científico.................................................. 10
2 – A hipercomplexidade da sociedade contemporânea........ 14
3 – Teoria do Direito.............................................................. 21
Ciência e Direito: entre a Igualdade, a Segurança e o Controle.35
1 - (Des)igualdade e realidade: normatividade
e produção (as)simétrica do conhecimento................... 39
2 – Direito, Ciência, racionalidade e política soberana.......... 53
2.1 – Interdependências entre o
Direito soberano e a Ciência......................................... 61
3 – Análise micropolítica entre o Direito
e a Ciência: um projeto aberto...................................... 67
Ciência, Comunicação, Relações de Poder
e Pluralismo Epistêmico....................................................... 69
1 – Semiologia, ciência e relações de poder........................... 71
2 – Ciência e sua pretensão hierárquica................................. 76
3 – Ciência e pluralidade epistêmica...................................... 79
Epistemologia, Conhecimento e Direito:
é Possível Questionar Thomas Kuhn?................................. 81
1 – Ciência(s) e poder: problematizando
com base em Thomas Kuhn..........................................84
2 – Indissociabilidade entre ciência
e relações de poder........................................................ 93
3 – Ciência e sociedade.......................................................... 97
4 – O sujeito e a linguagem.................................................. 102
5 – Politizando a comunidade e o paradigma....................... 107
6 – Direito, ética e normatividade ...................................... 109
Projeto de Pesquisa................................................................... 111
Referências Bibliográficas......................................................... 123
Introdução
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Pesquisa em Direito em uma
Sociedade Complexa
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1 – Conhecimento científico
O discurso científico da modernidade caracteriza-se por um
pretenso distanciamento das demais formas de conhecimento: o re-
ligioso, o filosófico e o senso comum. Especialmente em relação ao
conhecimento vulgar ou senso comum, o distanciamento ocorreu as-
sociado à ideia de que a ciência era a detentora da verdade, enquanto
as demais formas de conhecimento ocupavam-se de outro objeto ou
percebiam somente a aparência dos fenômenos, impossibilitando sua
utilização para a elaboração de um conhecimento verdadeiro.
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2 – A hipercomplexidade da sociedade
contemporânea
Diante da variedade de abordagens possíveis para a problemáti-
ca proposta, faz-se necessário eleger algumas categorias e autores para
interlocução em razão da pertinência com a temática que é objeto
deste estudo. Porém, essa escolha revela também o lugar de onde se
fala, ou de onde se parte para tentar explicar tal ou qual fenômeno.
Dessa forma, a posição aqui adotada parte da ideia de que, apesar de
modificações tão radicais, o projeto de modernidade não está exau-
rido, ao contrário, várias características aqui apontadas revelam uma
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3 – Teoria do Direito
As ciências sociais vivenciaram os problemas até aqui de-
monstrados, porém, afirmar o mesmo da teoria do direito é, no
mínimo, arriscado. Isto se deve ao fato de que, embora a sociedade
esteja já no século XXI, a elaboração e reprodução do conheci-
mento jurídico ainda está no século XIX, tendo passado o século
XX sem maiores questionamentos acerca de sua fundamentação
e (re)produção, salvo algumas poucas ressalvas a serem feitas para
Núcleos e pesquisadores de excelência.
O conhecimento jurídico ainda é hoje permeado por duas
noções básicas: o positivismo normativista e o jusnaturalismo. A
doutrina de direito natural dividiu-se em três bases desenvolvidas
ao longo da história: direito natural cosmológico, direito natural
teológico e direito natural antropológico. A primeira está de acor-
do com a visão grega de natureza, na qual o direito se integrava. A
segunda parte da necessidade da fé em um Deus que é a origem de
todas as coisas, inclusive do direito. As relações sociais e políticas
eram normatizadas e organizadas segundo uma ordem divina, que
permanecia rígida e inquestionável, fundada na tradição.
A terceira corrente, jusnaturalismo antropológico, estabelece
suas bases na razão humana, estando associada ao Iluminismo e à
Revolução Francesa, que na sua Declaração de Direitos adota esta
perspectiva para explicar e justificar a nova ordem, segundo a qual
todo homem é sujeito de direitos por sua própria condição huma-
na. Nesta época inicia-se a elaboração de uma doutrina jusnatura-
lista que se assemelha à ideia de ciência e permanece em discussão
por alguns autores até os dias de hoje. Este jusnaturalismo tem em
Hobbes, Locke e Rousseau seus principais sustentáculos.
O positivismo normativista revela-se em sua plenitude nos tra-
balhos de Kelsen, que pretendeu alçar o conhecimento jurídico ao
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gão jurídico que a tem que aplicar, não somente se realiza uma
das possibilidades reveladas pela interpretação cognoscitiva da
mesma norma, como também pode produzir uma norma que
se situe completamente fora da moldura que a norma a aplicar
representa (KELSEN, 1985, p. 369)
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Uma vez que o ideal absolutista não é mais plausível sob condi-
ções do pensamento pós-metafísico, a ideia reguladora da ‘única
decisão correta’ não pode ser explicitada com o auxílio de uma
teoria, por mais forte que ela seja. A própria teoria tem que ser
vista como uma ordem de argumentos por enquanto coerentes,
construída provisoriamente, a qual se vê exposta à crítica inin-
terrupta. (HABERNAS, 1997, p. 282)
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6 Nas palavras de Elias (1984, p. 84): “Agora que todas essas ideias são tidas por
aceites, talvez não seja muito simples nos colocarmos na situação das pessoas que
viveram na época em que tais experiências constituíram uma inovação, a qual,
pouco a pouco, e não sem uma poderosa resistência, infiltrou-se nos processos de
pensamento humanos. Mas recordar uma época em que aquilo que hoje é quase
evidente ainda tinha o brilho e o ineditismo do desconhecido confere relevo
mais nítido a algumas características de nossas concepções fundamentais de nós
mesmos e do mundo, concepções essas que, por sua familiaridade, normalmente
permanecem abaixo do limiar da consciência clara”.
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7 “[…] a ênfase recai na suposição de que o rico não pode ajudar o pobre, mesmo
que o queira, e ainda de que as ordens inferiores devem depender de si mesmas.
A rejeição da responsabilidade da classe superior caminha de mãos dadas com a
pretensão de que o pobre deve ser autodependente” (BENDIZ, 1996, p. 94)
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8 A despeito de terem sido utilizadas como obras de referência para citação a tradução
francesa (Nietzsche, 1900) e a tradução brasileira (Nietzsche, 2009), fez-se a opção
por transcrever, em razão da qualidade, a tradução contida na versão brasileira do
livro de Claudine Haroche (1992, p. 29).
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11 Descartes (2000, p. 61, 62) impôs-se o seguinte desafio: “[…] por desejar então
dedicar-me apenas à pesquisa da verdade, achei que deveria agir exatamente ao
contrário, e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor
a menor dúvida”. O limite da desconstrução foi a própria ideia de consciência e
a individualidade “[…] percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que
tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao
notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais
extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo [...]”. A
individualidade do eu é inquestionável, é estereotipada, pois é consumida como algo
natural. O pensador isolado compreendeu-se como a única realidade indubitável.
A dúvida radical cartesiana pôde seguir em frente tendo como base a certeza na
existência do indivíduo, realidade em si, independente da teia de relações sociais
que o constitui (ELIAS, 1994, p. 162; ROCHA, 2013, p. 73)
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12 Como aponta Foucault (1999), a soberania é, antes de tudo, um problema que nasce
decorrente da crença na igualdade entre os indivíduos.
13 Como expôs Foucault (1999, p. 458 e ss.), no paradigma da linguagem descobre-se
que os sentidos não tem uma origem, não é possível alcançar o signo original, o grau
zero, ponto sólido que independe de contestação. Tal pressuposição somente pode
se desenvolver em um contexto histórico-social em que a verdade é laicizada. É a
recusa do divino que permite rejeitar o sentido original. Esse não deixa de ser um
ponto de inflexão, um mito fundante moderno.
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Poder e Pluralismo Epistêmico20
20 Parte deste artigo já foi publicada e melhor desenvolvida em: ROCHA, E. G. Sujeito
de direito e subjetividade: reflexões críticas sobre o constitucionalismo democrático.
Rio de Janeiro: LumemJuris, 2014.
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21 Definir paradigma para Kuhn não é uma tarefa fácil. A par da multiplicidade
de acepções e das amplas divergências suscitadas, o próprio autor constata a
existência de 22 sentidos, faz-se menção a uma concepção principal: os compromissos
compartilhados por uma comunidade científica. Assim, pode-se afirmar que o conceito
de “comunidade científica” e “padrões aceitos”, que permitem “soluções modelares”,
são-lhe as características centrais (KUHN, 2006, p. 13, 30, 43, 222; 2011, p. 312, 313).
Um paradigma governa primeiramente um grupo de pesquisadores que compartilha
um conjunto de crenças comuns, o que lhes permite pensar o objeto e as soluções
para os problemas apresentados. Possibilita a construção de preocupações comuns,
além de constituir uma determinada forma de raciocinar. Antigas inquietações
podem manter-se vivas, porém revistas, compreendidas fundamentado no novo
paradigma. Pressupõe a reconstrução de teorias anteriores e revalidação de fatos
precedentes (KUHN, 2006, p. 26, 147, 226).
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22 A língua e a fala serão trabalhadas aqui para fins analíticos dissociadamente, mas são duas
dimensões estritamente ligadas e constitutivas da linguagem (SAUSSURE, 1999, p. 27).
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e Direito: é Possível Questionar
Thomas Kuhn?23
23 Uma versão preliminar deste artigo foi publicada sob o título “Epistemologia
e pesquisa em Direito”, In: BELLO, Enzo; ENGELMANN, Wilson (ORGs).
Metodologia da pesquisa em direito. Caxias do Sul, RS: Educs, 2015.
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30 Como expõe Nietzsche (2012, p. 31), as palavras são combinações de metáforas: “De
antemão, um estímulo nervoso transposto em uma imagem! Primeira metáfora. A
imagem, por seu turno, remodelada num som! Segunda metáfora. E, a cada vez, um
completo sobressalto de esferas em direção a uma outra totalmente diferente e nova.”
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32 Qual é a disputa sobre o real que, por exemplo, Thomas Kuhn ingressa? O autor
recorreu à história para elucidar o que a prática científica significa. Para isso,
descreveu as ações desenvolvidas por determinadas tradições, como a Física e a
Química, assumindo-as como parâmetro de cientificidade. Ou seja, está defendendo
que determinado conhecimento e não outro é científico.
A disputa não se restringe a quais conhecimentos devem ser considerados científicos,
mas também como aqueles que assim são considerados devem ser compreendidos,
procurando, inclusive, influenciar seus praticantes. Perspectiva normativa que
Thomas Kuhn (2006b, p. 158) não rejeita. É uma teoria descritiva e prescritiva.
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pela realidade, pelo que ela é e pelo que ela deve ser. Falar sobre ciên-
cia é ingressar em um conflito político, descritivo e prescritivo33.
3 – Ciência e sociedade
Até aqui, tentou-se deixar claro que a epistemologia vai mui-
to além de definir o que é a ciência, é uma competição constante
sobre o seu significado. Os epistemólogos fazem mais do que des-
crever algo, disputam, permanentemente, quais práticas devem ser
consideradas científicas e como devem se comportar aquelas assim
consideradas. São descritivos, mas também normativos. Dizer o
que é a ciência é também produzi-la, pois o olhar é indissociável
da construção do objeto.
A linguagem não é o espelho da realidade, mas uma produ-
ção social, portanto, jamais neutra ou atemporal. Thomas Kuhn
(2006b, p. 124, 233, 250-251, 270) esforça-se para demonstrar que
a neutralidade não está em nenhum lugar, nem mesmo nas ciên-
cias físicas. Não há uma linguagem comum a todas as teorias que
33 Essa disputa fica muito clara no posfácio de “A estrutura das revoluções científicas”,
pois imediatamente após assumir que sua teoria é normativa, Kuhn (2006, p. 257)
assevera: “Embora essa teoria não necessite ser correta, não mais que qualquer outra
(...) uma das razões para que se tome a teoria a sério é a de que os cientistas, cujos
métodos foram desenvolvidos e selecionados em vista de seu sucesso, realmente
comportam-se como prescreve a teoria”.
Logo após dizer que sua teoria é normativa, tenta justificar porque ela deve ser
levada mais a sério do que outras. Kuhn (2006, p. 257) procura justificar a
superioridade de sua teoria com base em uma análise explicativa: os cientistas “...
realmente comportam-se como prescreve a teoria”. No entanto, pode-se perguntar:
quais cientistas comportam-se como prescreve a teoria? Aqueles “...selecionados em
vista de seu sucesso...”. Entretanto, o que pode definir o que é sucesso e fracasso é
a própria teoria que Kuhn adota e utiliza. Tal parágrafo comprova não apenas a
circularidade entre dado e teoria, ser e dever ser, mas, também, como a teoria de
Thomas Kuhn é mais uma disputa pelo significado da ciência.
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34 “Não há nenhuma linguagem neutra na qual tanto ambas as teorias quanto os dados
relevantes possam ser traduzidos para fins de comparação” (KUHN, 2006b, p. 250-251)
35 Como já foi dito em nota anterior, em um momento posterior à publicação de “A estrutura
das revoluções científicas”, Kuhn (2006b, p. 271) abandona o termo paradigma.
36 Thomas Kuhn (2011, p. 311) desenvolve um enorme incomodo com o termo
paradigma, pois para ele o conceito se tornou “...quase tudo para qualquer pessoa...”.
Acredita que ele mesmo foi um dos principais responsáveis por essa confusão ao abusar
das metáforas, usando, por exemplo, com frequência, o verbo “ver” em um duplo
sentido “visual” e “conceitual” (KUHN, 2006, p. 241; 2006b, p. 49, 80). Procura,
então, rever sua definição caminhando para um sentido mais limitado do termo, até
abandoná-lo. Ao revisar sua própria teoria, Kuhn aproxima a definição de paradigma
de uma imagem restritiva de linguagem, entendendo-a a partir de uma perspectiva
sintático/semântica, excluindo ou colocando em uma dimensão secundária outros
modos de simbolização do real, como por exemplo, as metáforas visuais. Isso pode
ser exemplificado na seguinte citação: “Minha discussão original descrevia formas
tanto não-linguísticas quanto linguísticas de incomensurabilidade. Penso agora que
isso foi uma ampliação exagerada, resultante de minha falha em reconhecer que uma
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4 – O sujeito e a linguagem
O movimento estruturalista assume a linguagem como uma
estrutura fechada e autorreferente, como um jogo que segue suas
próprias regras40 (DOSSE, 2007, p. 12, 86; 2007b, p. 61-62). O xa-
drez é uma metáfora bastante usada por seus teóricos. A língua, a
exemplo de um jogo, é um sistema que conhece e funciona exclu-
sivamente com base em sua lógica interna e suas leis, podendo ser
apreendido somente como uma totalidade41 (SAUSSURE, 1999,
p. 31-32; KUHN, 2006, p. 61; 2006b, p. 56).
O xadrez, o baralho e qualquer outro jogo possuem suas es-
truturas, por meio das quais podem ser jogados. São regras, pa-
drões, interdependências que se condicionam, que apenas fazem
sentido quando analisadas como um todo. Pode-se alterar as pe-
ças ou os jogadores, isso é indiferente, o jogo continuará sendo o
mesmo, mas todo ele irá transformar-se em outro caso uma única
norma seja modificada. Não será mais aquele anterior, torna-se
um novo. Troca-se uma estrutura por outra, uma linguagem por
outra, um paradigma por outro, uma totalidade por outra42. Não
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