Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e as Contribuições
www.lumenjuris.com.br
Editores
João de Almeida
João Luiz da Silva Almeida
Conselho Editorial
Conselho Consultivo
Filiais
Sede: Rio de Janeiro Minas Gerais (Divulgação)
Av. Presidente Vargas - n° 446 – Sergio Ricardo de Souza
7° andar - Sala 705 sergio@lumenjuris.com.br
CEP: 20071-000 Belo Horizonte – MG
Centro – Rio de Janeiro – RJ Tel. (31) 9296-1764
Tel. (21) 3933-4004 / (21) 3249-2898
Santa Catarina (Divulgação)
São Paulo (Distribuidor) Cristiano Alfama Mabilia
Rua Sousa Lima, 75 – cristiano@lumenjuris.com.br
CEP: 01153-020 Florianópolis – SC
Barra Funda – São Paulo – SP Tel. (48) 9981-9353
Telefax (11) 5908-0240
R aquel de Andrade Vieira Alves
Categoria:
Produção Editorial
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
________________________________________
À minha família, única razão possível.
Especialmente, à Eliana, luz que ilumina o meu caminho,
e à Luiz Carlos (in memoriam), que levo comigo aonde vou.
Nota da autora
Muito se tem discutido acerca de possíveis reformas no modelo atual de
tributação da sociedade brasileira, com infindáveis discussões acerca do modelo
ideal, de acordo com as especificidades da Federação, girando a maior parte
delas em torno da tributação sobre o consumo, com propostas para sua unifica-
ção (criação de um imposto federal sobre o valor agregado – IVA) e incentivos
à tributação sobre a renda, através do incremento da progressividade, dentre
outros instrumentos de redistribuição da carga tributária.
Com efeito, é inegável que o sistema atual de tributação necessita de refor-
mas, entretanto, para que isso seja possível e, sobretudo, para que essas reformas
sejam eficazes, do ponto de vista dos objetivos pretendidos, que em sua maio-
ria envolvem um equilíbrio na distribuição de rendas a partir da tributação, é
preciso antes que outras reformas - mais simples, inclusive - sejam efetivadas
por parte dos entes federados, em especial da União, a fim de se restabelecer
o papel político e financeiro dos Estados e Municípios dentro da Federação,
reaproximando-os das diretrizes fixadas pelo constituinte originário em 1988.
Isso porque, seguindo os movimentos contraditórios no sentido da descen-
tralização e da centralização, característicos do federalismo brasileiro, pode-se
afirmar que, no período que se seguiu à promulgação da Constituição de 1988,
o país passou por um intenso processo de concentração do poder fiscal pela
União, que redundou na perda gradual do poder de decisão política dos entes
subnacionais, que observamos hoje.
Esse modelo centralizado é extremamente prejudicial para a sociedade como um
todo, já que a centralização de receitas e poderes não veio acompanhada de uma
centralização de atribuições e responsabilidades, de modo que os entes subnacionais
continuam obrigados a promover uma série de direitos, mediante o desempenho de
políticas públicas, cuja falta de recursos próprios para o financiamento torna essa
tarefa inviável. Simplesmente, pode-se dizer que “a conta não fecha”.
Paralelamente, observa-se um crescimento extraordinário na instituição de
contribuições, como forma de financiamento das atividades estatais, original-
mente, em função da transição do Estado Liberal para o Estado Social e Demo-
crático de Direito, que demandou a busca por novas fontes de receita para fazer
frente aos direitos sociais trazidos pela Constituição.
Mais tarde, porém, esse aumento na arrecadação tributária via contribui-
ções, e não impostos federais, passou a ser a regra quando se fala em aumento
da carga tributária no Brasil, o que pode ser explicado em grande medida pela
facilidade na sua arrecadação e controle por parte da União; pela flexibilidade
da legislação de regência; e, o ponto que interessa à presente obra, pela sua
exclusão do sistema de participação na arrecadação, representando, portanto,
uma receita exclusiva da União - à exceção das Cide-Combustíveis.
Assim, pode-se afirmar que o instrumento vital da recentralização de recei-
tas e poderes pelo Governo Federal, após 1988, foi a instituição de contribui-
ções, cujo manejo como mecanismo de incremento das receitas federais tem
sido cada vez mais frequente, gerando um nítido desequilíbrio federativo, já que
se trata de um tributo não partilhável com os demais entes federados.
Imersa nesse contexto, a presente obra pretende analisar os reflexos do uso
indiscriminado das contribuições pela União para o financiamento das ativida-
des estatais, em detrimento dos principais impostos federais, no atual modelo
de federalismo fiscal do Brasil.
Com isso, se busca chamar a atenção para a perda gradual de autonomia
financeira pelos entes subnacionais, a par da crescente concentração de poderes
e receitas pela União, com destaque para a fragilização do papel dos Estados
dentro da Federação Brasileira e a forte dependência dos Municípios das polí-
ticas federais, fenômeno que, apesar de despertar o interesse de alguns estudio-
sos, ainda merece um estudo mais detido por parte da doutrina pátria.
A ideia, por detrás disso, é mostrar a correlação existente entre o Direito Tri-
butário e o Direito Financeiro, traduzida pela instituição de contribuições, cuja
destinação vinculada e a não submissão ao sistema de repartição de receitas entre
os entes federados, fazem deste tributo um exemplo perfeito de como o equilíbrio
na arrecadação tributária e no dispêndio desses recursos é fundamental para a
manutenção do Pacto Federativo, razão pela qual deve ser almejado e garantido
por todos os Poderes constituídos, com destaque para a atuação do Poder Judiciá-
rio, no enfrentamento das questões relativas ao tema que lhe têm sido submetidas.
Ressalte-se que esta obra é fruto dos trabalhos desenvolvidos dentro da Univer-
sidade do Estado do Rio de Janeiro, à qual sou e serei eternamente grata por tudo,
tendo a frente, como pesquisador da temática afeta ao Federalismo Fiscal, o Professor
Gustavo da Gama Vital de Oliveira, que me orientou e inspirou na conclusão desta
tese, como parte dos requisitos a serem cumpridos para obtenção do título de Mestre.
Espero, por fim, que este livro possa servir de referência para o endereça-
mento dos debates acerca do federalismo e tributação no Brasil.
Prefácio........................................................................................................XXI
Apresentação .................................................................................................. 1
Introdução....................................................................................................... 3
PRIMEIRA PARTE
Federalismo fiscal e o desenho federativo brasileiro
Capítulo 1 – Federalismo e tributação........................................................... 9
1.1. Origem e evolução histórica do federalismo............................................9
1.2. Formas de estrutura do Estado Federal................................................. 12
1.3. O federalismo fiscal e a discriminação de rendas e atribuições............. 17
Capítulo 2 – O contexto brasileiro...............................................................23
2.1. Breve histórico do federalismo fiscal brasileiro......................................23
2.2. Discriminação de rendas na Constituição de 1988...............................28
2.3. Transferências intergovernamentais e participações ............................. 33
2.3.1 A importância das participações como forma de garantia
da autonomia dos entes federados............................................................. 35
2.4 O enfraquecimento do papel do Estado no federalismo fiscal atual....... 42
2.5. O perfil das receitas municipais e a centralização de poderes
e receitas pela União....................................................................................46
2.5.1. Retenção de recursos destinados aos Municípios pela União:
interpretação do art. 160, parágrafo único, da Constituição Federal........ 53
2.5.1.1 Interpretação constitucional: evolução e limites......................... 53
2.5.1.2 Sentido e alcance do parágrafo único do art. 160 dentro
do “novo federalismo brasileiro” : parâmetros para a retenção de
recursos destinados aos entes subnacionais pela União......................... 61
2.5.2. A chamada “cortesia com chapéu alheio” ...................................... 73
2.5.3. Instituição de tributos não partilháveis...........................................88
SEGUNDA PARTE:
Contribuições e pacto federativo
Capítulo 3 – Perfil das contribuições......................................................... 111
3.1 Origem e histórico comparado.......................................................... 111
3.2 Fundamento ético-jurídico: a solidariedade .....................................119
3.3. A transição do Estado Liberal para o Estado Social e Democrático
de Direito: solidariedade genérica e solidariedade de grupo ..................126
3.4. A evolução do tema no Brasil...........................................................137
3.4.1. Natureza jurídica e conteúdo finalístico......................................... 147
3.4.2. Classificação e delimitação do perfil jurídico.................................158
Capítulo 4 – O papel das contribuições na centralização fiscal no Brasil.....173
4.1 Abuso na instituição de contribuições pela União: análise crítica
e individualizada de algumas espécies em vigor......................................... 173
4.1.1. O caso das Contribuições de Intervenção no Domínio
Econômico - CIDE´s............................................................................... 173
4.1.1.1. Contribuição para o Fundo de Universalização dos Serviços
de Telecomunicações - FUST e Contribuição para o Fundo de
Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações - FUNTTEL...... 174
4.1.1.2. Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria
Cinematográfica – CONDECINE.......................................................190
4.1.1.3. Contribuição para o financiamento do Programa de
Estímulo à Integração Universidade-Empresa Para apoio à
Inovação - Cide-Royalties, Cide-Tecnologia ou Cide-Remessas...........197
4.1.2. As contribuições sociais e a solidariedade de grupo na
sociedade brasileira atual.........................................................................207
4.1.2.1. O caso do Adicional de 10% ao Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço – FGTS................................................................... 211
4.1.2.2. A Contribuição Provisória sobre Movimentação ou
Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza
Financeira – CPMF..............................................................................221
4.1.3. Desvinculação de Receitas da União – DRU.................................227
4.1.4. As contribuições e os tratados internacionais para evitar a
dupla tributação: “treaty dodging” ou “treaty circunventiom”................234
4.2. Levando as contribuições a sério.........................................................239
Conclusão.....................................................................................................251
Referências ..................................................................................................255
ANEXO A – Arrecadação total das receitas federais de 1995 a 2014
a preços correntes........................................................................................279
ANEXO B – Arrecadação federal comparativa de contribuições e
impostos partilháveis de 1995 a 2014 a preços correntes.........................281
ANEXO C - Parte do ofício Nº 19890/2014/SEI-MC encaminhando
as respostas ao requerimento de informação nº 4.480/14, de autoria
da Comissão de ciência e tecnologia, comunicação e informática
da Câmara dos deputados, transmitidas pelo Ministro de Estado
das comunicações........................................................................................283
Abreviaturas e siglas
XIII
FMI Fundo Monetário Internacional
FNC Fundo Nacional de Cultura
FNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
FSE Fundo Social de Emergência
FUNCINES Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional
FUNDAF Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das
Atividades de Fiscalização
FUNTTEL Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico
das Telecomunicações
FUST Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Trans-
porte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação
IE Imposto de Exportação
II Imposto de Importação
INMENTRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
IOF Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou
relativas a Títulos e Valores Mobiliários
IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IPMF Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira
IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
IR Imposto de Renda
ISS Imposto Sobre Serviços
ITBI Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis
ITCMD Imposto de Transmissão de Bens Móveis Causa Mortis e Doação
ITR Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural
LGT Lei Geral de Telecomunicações
LRF Lei de Responsabilidade Fiscal
MP Medida Provisória
XIV
OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
OMC Organização Mundial do Comércio
PASEP Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público
PGR Procuradoria Geral da República
PSL Partido Social Liberal
PIB Produto Interno Bruto
PIS Programa de Integração Social
PRODEC Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense
RE Recurso Extraordinário
RFB Receita Federal do Brasil
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAR Serviço de Aprendizagem Rural
SENAT Serviço Nacional de Aprendizagem no Transporte
SESC Serviço Social do Comércio
SESI Serviço Social da Indústria
SEST Serviço Social do Transporte
SINDITELE- Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço
BRASIL Móvel Celular e Pessoal
STF Supremo Tribunal Federal
STFC Serviço de Telefônico Fixo Comutado
TFF Taxa de Funcionamento das Estações de Telecomunicações
TFI Taxa de Fiscalização de Instalação
TCU Tribunal de Contas da União
UNAFISCO Sindicato Nacional de Auditores Fiscais da Rece ita Federal
XV
Gráficos
XIX
XX
Prefácio
O momento de crise pelo qual passa o federalismo fiscal pátrio não é novi-
dade para a doutrina brasileira, mormente diante da tendência verificada nas
últimas décadas de centralização de recursos pela União, os quais haviam sido
dimensionados adequadamente pelo constituinte de 1988.
Nesse ponto, se a Constituição de 1988 consolidou a tendência à descentra-
lização fiscal, surgida no final da década de 1970 em resposta à centralização
de recursos operada durante o Governo Militar, é certo que esse movimento
não veio acompanhado de uma expansão considerável das bases tributárias dos
entes subnacionais. Na verdade, o próprio constituinte, ciente da insuficiência
de bases de tributação para todos os entes e das diferenças socioeconômicas re-
gionais, instituiu um amplo e complexo sistema de transferências intergoverna-
mentais e de participações no produto da arrecadação, que visavam justamente
promover o equilíbrio financeiro da Federação.
Contudo, seguindo a lógica da alternância cíclica entre períodos de concen-
tração e desconcentração de poder, que marca a história do federalismo pátrio,
é possível observar um movimento gradual de recentralização de recursos no
Brasil, a partir de meados da década de 1990, que tem produzido reflexos na
política nacional até os dias atuais. E é esse movimento de retorno ao modelo
centralizador que foi muito bem exposto na presente obra de Raquel de Andra-
de Vieira Alves, que, atenta às particularidades do federalismo fiscal brasileiro,
buscou identificar os seus principais instrumentos de distorção, a partir de uma
análise interdisciplinar do Direito Financeiro, buscando apoio não só no pró-
prio Sistema Tributário Nacional, a partir dos fundamentos da solidariedade na
tributação, como justificação ético-jurídica das contribuições, como também da
história, da ciência política e da economia e finanças públicas.
O presente livro, na verdade, examina a atividade financeira estatal com a
complexidade que o tema exige, firme na convicção de que a dogmática redu-
cionista que tem imperado no estudo do Direito Tributário e Financeiro do Bra-
sil não esgota a análise da Ciência Jurídica, que é, por si só, complexa e, como
tal, deve dirigir-se a uma compreensão cada vez mais adequada da realidade.
Com base nessa premissa, a autora, após examinar o processo de formação
do federalismo brasileiro, destaca a importância vital que as transferências e
as participações no produto da arrecadação de outros entes possuem, para fins
de garantia da autonomia financeira dos Estados e, sobretudo, dos Municípios,
comprovando a sua tese através de dados empíricos. Seguindo o mesmo com-
promisso de adequar o estudo do Direito à realidade subjacente, identifica-se
como a utilização abusiva das contribuições pela União tem sido responsável
pelo desequilíbrio que se opera no Pacto Federativo, não apenas distanciando-
-o do modelo proposto pela Constituição de 1988, como também promovendo
uma perda considerável em termos de justiça na tributação.
Mais uma vez, como fruto de um intenso trabalho de pesquisa e sistemati-
zação, a autora demonstra o que representa em números a afirmativa de que o
Governo Federal tem privilegiado a arrecadação mediante contribuições, em
detrimento dos principais impostos federais – IR e IPI, detalhe que denota o
grau de sofisticação alcançado e que, por vezes, não se verifica nos estudos
jurídicos, pouco familiarizados com a análise empírica.
Ao final, incorporando a análise pragmática ao estudo do aspecto teórico
da ciência jurídico-tributária, examinam-se algumas espécies de contribuições,
cujo manejo indiscriminado por parte da União, além de tornar patente a real
intenção do Governo Federal de burlar o Pacto Federativo, causa embaraços a
nível internacional, representando uma verdadeira tentativa de driblar o espíri-
to dos Tratados Internacionais contra a Bitributação.
A presente obra é, portanto, referência indispensável aos estudiosos do Di-
reito Financeiro e Tributário, especialmente aqueles que pretendem se aprofun-
dar na temática afeta ao federalismo fiscal, colocando em destaque aos Poderes
constituídos e, principalmente, ao Poder Judiciário, no exercício da jurisdição
constitucional, a necessidade de correção do papel que as contribuições desem-
penham atualmente no Brasil.
Brasília, 28 de outubro de 2016.
Luiz Fux
Doutor em Direito Processual Civil.
Professor Catedrático de Processo Civil – UERJ.
Membro da Academia de Letras Jurídicas.
Membro da Academia Brasileira de Filosofia.
Apresentação
Ricardo Lobo Torres, após enunciar o federalismo fiscal como um dos prin-
cípios estruturais da Constituição Financeira, ressalta que o mesmo se encontra
“permanentemente pressionado pela legitimação”, cabendo-lhe o pesado ônus
de compor a unidade e a concordância entre os interesses da União, Estados
e Municípios (Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário, vol.
I, Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 395). A obra que tenho a imensa honra de
apresentar enfrenta, com coragem, o desafio mencionado pelo Professor Titular
de Direito Financeiro da UERJ.
Raquel de Andrade Vieira Alves analisou com profundidade a configuração
do federalismo fiscal brasileiro, examinando a importância das transferências
governamentais para a autonomia dos entes federativos e destacando a íntima
relação entre o crescimento das contribuições em nosso sistema tributário e o
enfraquecimento financeiro dos entes subnacionais, após a Constituição de 1988.
Embora o tema seja objeto de constantes reflexões na doutrina brasileira, o
trabalho da autora possui peculiaridades que o tornam especialmente relevante,
como a utilização de ricos dados empíricos para ilustrar as teses desenvolvidas.
É marcante ainda, na obra, a ótica interdisciplinar para a análise do federalismo
fiscal, utilizando lições da ciência política e da economia, fato infelizmente ainda
pouco comum na doutrina tributária brasileira, o que revela a elevada compe-
tência da autora, que não poupou esforços em seu rigoroso trabalho de pesquisa.
Outro ponto que enriquece a obra é a demonstração de que o crescimento
anômalo das contribuições no sistema brasileiro, verificado nas últimas décadas,
não repercute apenas na higidez das relações entre os entes federativos no Brasil.
Trata-se de problema que toca a própria justiça do sistema tributário nacional,
pelo enfraquecimento da noção da solidariedade de grupo, que deveria nortear a
instituição das contribuições, afetando assim a relação entre contribuinte e Esta-
do. Ademais, a autora destaca, com exemplos concretos, como o perfil esdrúxulo
de algumas contribuições torna difícil a relação do Brasil com os demais países,
na aplicação dos tratados internacionais para regular a tributação, trazendo enor-
mes embaraços aos contribuintes que atuam no âmbito internacional.
Em outros termos, as considerações da autora reforçam a noção de que a re-
lação entre as contribuições e o federalismo fiscal brasileiro é um tema que não
1
Raquel de Andrade Vieira Alves
2
Introdução
3
Raquel de Andrade Vieira Alves
3 Nesse sentido: DOMINGUES, José Marcos. “O Desvio de Finalidade das Contribuições e o seu
Controle Tributário e Orçamentário no Direito Brasileiro”. Direito Tributário e Políticas Públicas.
São Paulo: MP Ed., 2008. p. 299.
4
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
4 BORGES, José Souto Maior. “Um Ensaio Interdisciplinar em Direito Tributário: Superação da
Dogmática”. Revista Dialética de Direito Tributário nº 211, abril, 2013.
5 FOLLONI, André. Clareiras e Caminhos do Direito Tributário: Crítica da Ciência do Direito
Tributário a Partir da Obra de José Souto Maior Borges. Tese de Doutoramento apresentada pelo
autor como requisito para obtenção do título de Doutor em Direito do Estado, no Programa de Pós-
graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Jurídicas, Curitiba, 2011.
5
Raquel de Andrade Vieira Alves
6
PRIMEIRA PARTE
Federalismo fiscal e o desenho
federativo brasileiro
7
Capítulo 1 – Federalismo e tributação
6 ZIMMERMANN, Augusto. Teoria do Federalismo Democrático. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
p. 217-223 e RIBEIRO, Ricardo Lodi. Temas de Direito Constitucional Tributário. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2008. p. 250.
7 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 251.
9
Raquel de Andrade Vieira Alves
8 CONTI, José Maurício. “Considerações sobre o federalismo fiscal brasileiro em uma perspectiva
comparada.” CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury; BRAGA, Carlos Eduardo Faraco
(Orgs.). Federalismo fiscal: questões contemporâneas. Florianópolis: Conceito, 2010. p. 16.
9 Ibid. p. 17.
10 DALLARI, Dalmo de Abreu. p. 254-256.
10
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
11 Ibid. p. 252.
12 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Martires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de Direito Constitucional. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 929.
11
Raquel de Andrade Vieira Alves
12
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
17 Ibid. p. 54-55.
18 “Em linhas sucintas, a experiência colonial baseada no self-government dos estadunidenses propiciou
um governo federal bastante descentralizado. O modelo colonial ibérico, por sua vez, conjugou
13
Raquel de Andrade Vieira Alves
14
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
20 Ibid. p. 61-63.
15
Raquel de Andrade Vieira Alves
21 Ibid.
22 RIBEIRO, Ricardo Lodi. Op. Cit. p. 256.
23 ZIMMERMANN, Augusto. Op. Cit. p. 65.
16
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
24 Ibid. p. 66.
25 LOBO, Rogério Leite. Federalismo fiscal brasileiro: discriminação de rendas tributárias e centralidade
normativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 71.
17
Raquel de Andrade Vieira Alves
26 DOMINGUES, José Marcos. “Federalismo fiscal brasileiro”. Revista Nomos, Fortaleza, Universidade
Federal do Ceará, v. 26, jan./jun. 2007, p. 137-143.
27 NETO, Celso de Barros Correia. “Repartição de Receitas Tributárias e Transferências
Intergovernamentais” In: CONTI, José Mauricio; SCAFF, Fernando Facury; BRAGA, Carlos Eduardo
Faraco (Orgs.). Federalismo fiscal: questões contemporâneas. Florianópolis: Conceito, 2010. p. 198.
28 CONTI, José Maurício. Federalismo Fiscal e Fundos de Participação. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2001. p. 24-25.
18
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
lho feito por Rogério Leite Lobo, como um “mecanismo vascularizador através
do qual a seiva financeira é bombeada para as esferas de poder do Estado”, a
fim de permitir a suficiência de recursos para o desempenho das atribuições
constitucionalmente definidas.
Nesse ponto, vale destacar que há duas maneiras de se assegurar a autono-
mia financeira do ente, através da discriminação de rendas: a primeira é a atri-
buição de competências para instituição de tributos e a segunda é representada
pelos mecanismos de transferências intergovernamentais e de participações no
produto da arrecadação.
Na terminologia de Rogério Leite Lobo, que trata pormenorizadamente do
tema, a discriminação de rendas pode ocorrer pela fonte, através do exercício
de competências tributárias próprias, a que o autor denomina de discriminação
horizontal de rendas, ou pelo produto, através da participação na receita de outros
entes, que representaria a discriminação vertical de rendas.29
Em alguns Estados, como o México, por exemplo, os entes subnacionais não
possuem uma competência tributária significativa, de modo que a maior parte de
sua receita é oriunda de transferências intergovernamentais do governo central.
Dessa forma, o Executivo Federal é responsável por quase toda a arrecadação
tributária e posteriormente a divide com os demais entes, mediante determinadas
condições.30 Ou seja, as receitas não apenas são centralizadas na figura da União,
como a maior parte das transferências é condicionada, o que, aliado à conjuntura
política, promove uma considerável perda de autonomia dos entes locais.31
Essa competência tributária reduzida dos Estados-membros, no caso do
México, é o resultado de um processo iniciado a partir da anarquia fiscal
promovida pela competência concorrente dos entes para a instituição de qua-
se todos os tributos, à exceção do imposto de importação e exportação e do
imposto de selo, que competiam à União32. Esse cenário propiciou a múltipla
incidência de tributos sobre o mesmo fato imponível, provocando sérios danos
à atividade econômica nacional.
19
Raquel de Andrade Vieira Alves
A partir daí, a superação desse modelo só foi possível com a criação do Sis-
tema Nacional de Coordenação Fiscal (1947), ao qual os Estados aderiram por
meio de um convênio, em razão de seu caráter infraconstitucional. Na prática,
através da adesão, os entes subnacionais concordaram em não exercer seu poder
político tributário em troca do recebimento de transferências verticais.
Sob essa ótica, é lugar comum afirmar-se que os Estados que não possuem
uma adequada discriminação horizontal de rendas, dependendo basicamente
do produto da arrecadação do poder central, seguiriam uma tendência centrali-
zadora, com perda significativa da autonomia dos entes subnacionais, vivendo,
na verdade, uma descentralização meramente administrativa.
Entretanto, se por um lado essa é a realidade de muitos países, sobretudo na
América Latina, por outro, ao se analisar o caso da Alemanha, essa afirmação
cai por terra, já que esse Estado possui um modelo tributário baseado em com-
petências exclusivas e concorrentes, em que a maior parte da receita provém
de leis tributárias federais, aprovadas, mediante o consentimento dos Estados-
-membros, que possuem representação direta no Conselho Federal Alemão, ór-
gão integrante do Parlamento33.
Assim, o modelo de federalismo fiscal alemão, apesar de baseado essencial-
mente em impostos federais, não redunda em uma perda de autonomia dos
entes subnacionais em razão da centralização de competências pelo governo
central. Isso se deve ao fato de que os Estados possuem direito de participação
na elaboração da legislação fiscal em condições de igualdade com a União, po-
dendo ainda fazer uso do direito de veto absoluto à proposta de lei federal que
vá de encontro aos seus objetivos.
A representatividade dos Estados no Parlamento Federal Alemão é o que
garante, portanto, o sucesso do modelo de federalismo fiscal adotado, descons-
tituindo a máxima de que a ausência de discriminação horizontal de rendas
entre todos os entes necessariamente conduz a uma perda de autonomia local.
Isso só reforça, ademais, o fato de que o federalismo fiscal leva em consideração
vários aspectos e não somente o financeiro, dependendo fundamentalmente do
sistema político em que se insere.
Dai porque, insista-se, não há um modelo federativo ideal e, consequentemen-
te, também não há um modelo de federalismo fiscal ideal. O mais importante,
20
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
21
Capítulo 2 – O contexto brasileiro
34 COSTA, Evandro Gomes da. “A Reforma Tributária e a Autonomia Financeira das Entidades
Subnacionais”. In: CONTI, José Maurício (org.). Federalismo Fiscal. Barueri: Manole, 2004. p. 140.
35 REGIS, André. O novo federalismo brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 03.
23
Raquel de Andrade Vieira Alves
TABELA 1
24
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
25
Raquel de Andrade Vieira Alves
26
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
39 Importante deixar claro, nesse ponto, que não se questiona a necessidade de tais medidas para
estabilização da economia na época. A referência a tal período é feita apenas a título de contextualização,
a fim de permitir ao leitor a identificação do período político em que se encontrava o país e do pacote
de medidas que propiciou uma concentração de poderes e receitas nas mãos da União, de modo que,
embora a recentralização após um período de abertura seja uma tendência naturalmente observada
no federalismo brasileiro, caracterizado por esses movimentos pendulares, é certo que nesse período
algumas medidas que faziam parte do denominado pacote do “Plano Real” intensificaram esse processo
que hoje permite identificar uma mudança radical no papel dos entes federados em relação ao contexto
de 1988. O que se pretende com isso é justamente reconhecer a necessidade dessas medidas na época em
que foram editadas, entretanto, o presente trabalho põe em xeque a necessidade da continuidade desse
processo no contexto federativo atual.
27
Raquel de Andrade Vieira Alves
28
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
41 CONTI, José Maurício. Federalismo Fiscal e Fundos de Participação. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2001. p. 35.
29
Raquel de Andrade Vieira Alves
30
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
31
Raquel de Andrade Vieira Alves
32
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
33
Raquel de Andrade Vieira Alves
46 Ibid. p. 211.
47 CONTI, José Maurício. Op. Cit. p. 108.
34
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
48 BARROSO, Luís Roberto. Parecer nº 01/2009. Sentido e alcance do parágrafo único do art. 160 da
Constituição: parâmetros para a retenção de receitas estaduais pela União Federal. Revista de Direito
da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, nº 64, 2010.p. 09.
35
Raquel de Andrade Vieira Alves
49 Nesse sentido, em análise profunda acerca dos fatores que influenciam o esforço fiscal dos Municípios
brasileiros, dentre os quais, o autor elenca as próprias transferências intergovernamentais: MARINS,
Daniel Vieira. O esforço fiscal dos municípios e as transferências intergovernamentais. Tese de
Mestrado apresentada pelo autor como requisito para obtenção do título de Mestre em Direito,
no Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Área de
concentração: Estado, Processo e Sociedade Internacional, Rio de Janeiro, 2015.
50 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2012/default.shtm>
Acesso em 31.07.14.
36
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
37
Raquel de Andrade Vieira Alves
TABELA 2
38
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
54 REZENDE. Fernando. Federalismo Fiscal: Novo Papel para Estados e Municípios. p. 08-10. Disponível
em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/bf_bancos/
e0000612.pdf> Acesso em 29.07.2014
39
Raquel de Andrade Vieira Alves
40
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
56 CONTI, José Maurício. Transferências voluntárias geram desequilíbrio federativo. p. 02. Artigo
extraído do site Consultor Jurídico. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-ago-28/contas-
vista-transferencias-voluntarias-geram-desequilibrio-federativo> Acesso em 13.08.14.
57 Essa tentativa da União de recentralizar as receitas que, por ocasião do advento da Constituição de
1988, foram descentralizadas é muito bem destacada em recente artigo do Professor Gustavo da Gama
Vital de Oliveira: “Reforma tributária e federalismo fiscal”, apresentado no 1º Congresso de Direito
Tributário de Juiz de Fora e Região, realizado em 03.09.14, na sede da OAB, Subseção Juiz de Fora; e
comprovada com dados acerca da composição da receita tributária pós-1988 por Fabio Giambiagi e Ana
Cláudia Além in: Finanças Públicas: teoria e prática no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p. 254-256.
41
Raquel de Andrade Vieira Alves
42
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
59 Ibid. p. 29.
43
Raquel de Andrade Vieira Alves
44
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
45
Raquel de Andrade Vieira Alves
46
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
64 A Previdência Social e a Economia dos Municípios. Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita
Federal do Brasil. Estudo disponível em: <http://www.anfip.org.br/publicacoes/20120726210022_
Economia-nos-municpios_26-07-2011_2011_Economia_dos_municipios.pdf> Acesso em 22.10.14.
47
Raquel de Andrade Vieira Alves
Fonte: ANFIP.
65 p. 23.
66 Não se questiona no presente trabalho a criação desses Municípios, de forma que parte-se da
premissa de que eles existem como entes federados reconhecidos constitucionalmente e, a partir daí,
é necessário então que possuam o mínimo de recursos próprios, a fim de não lhes comprometer por
completo a autonomia financeira.
48
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
67 Como confirmam Fabio Giambiagi e Ana Cláudia Além, ao falar do ICMS: “Desde sua criação, o
imposto tem sido a principal fonte de receita estadual, respondendo em média por 90% dos recursos
orçamentários dos estados mais desenvolvidos.” In: Op. Cit. p. 331.
68 CONTI, José Maurício. Transferências voluntárias geram desequilíbrio federativo. Artigo extraído do
site Consultor Jurídico. p. 02. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-ago-28/contas-vista-
transferencias-voluntarias-geram-desequilibrio-federativo> Acesso em 13.08.14.
49
Raquel de Andrade Vieira Alves
50
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
[...] aqui o Senado Federal, antes premido pela política partidária do que
por suas funções institucionais de representação dos Estados, recusam-se
até mesmo a ouvir queixas ou dificuldades financeiras graves de gover-
nantes, como ocorreu com o Estado de Minas Gerais, recentemente, na
questão da dívida renegociada com a União.70
51
Raquel de Andrade Vieira Alves
52
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
53
Raquel de Andrade Vieira Alves
77 LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 3ª Ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1997. p. 443.
78 Ibid. p. 495.
79 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma
dogmática constitucional transformadora. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 146.
54
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
80 Ibid. 146-147.
81 Fazemos referência às idéias de Karl Larenz, para quem “interpretar é uma atividade de mediação pela
qual o intérprete compreende o sentido de um texto, que se lhe tinha deparado como problemático”
in: Op. Cit. p. 282.
82 LOEWENSTEIN, Karl. Teoría de La constitución. Trad. Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona:
Ariel, 1976. p. 165.
55
Raquel de Andrade Vieira Alves
83 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 20ª Ed. Rio de Janeiro: Forense,
2011. p. 39-40.
84 Mais uma vez, Karl Larenz, ao tratar da interpretação da Constituição, defende que lhe devem ser
aplicados, via de regra, os princípios gerais de interpretação da leis, visto que, enquanto lei que é, a
Constituição também é fruto da linguagem e, por isso, carece de interpretação. In: Op. Cit. p. 513/514.
85 Ricardo Lobo Torres, ao analisar os métodos interpretativos aplicáveis à interpretação da norma
tributária rejeita a prevalência de um único método, propondo a observância ao “pluralismo
metodológico” in: VELLOSO, Andrei Pitten. Conceitos e Competências Tributárias. São Paulo:
Dialética, 2005. p. 116.
86 BARROSO, Luís Roberto. Op. Cit. p. 125.
87 Para Karl Larenz, a interpretação para continuar a ser interpretação “tem de manter-se ainda nos
quadros da interpretação literal (...).” Op. Cit. p. 495.
56
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
57
Raquel de Andrade Vieira Alves
58
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
92 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 132/RJ. Ministro Relator Ayres Britto. Julgada em 05.05.11. DJ
de 14.10.11.
93 Acórdão p. 71.
94 Art. 226. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
95 Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.
59
Raquel de Andrade Vieira Alves
Logo, a expressão literal não deixa dúvida alguma de que nós estamos a
falar de “união estável entre homem e mulher”. A partir do próprio texto
constitucional, portanto, não há dúvida em relação a isso.
Por isso, a meu ver, a solução que aponte como fundamento suficiente
para o caso apenas uma leitura interpretativa alargada do dispositivo
mencionado seria extravagante à atuação desta Corte e em descompasso
com a técnica de interpretação conforme à Constituição.
É essencial que deixemos devidamente explicitados os fundamentos
constitucionais que demonstram por que estamos fazendo esta leitura
diante de um texto tão claro como este, em que se diz: a união estável é
a união estável entre homem e mulher. E isso é relevante, diante do fato
de alguns entenderem, aqui, menos do que um silêncio, um claro silêncio
eloquente, no sentido de vedar o reconhecimento almejado.
Portanto, parto da premissa de que aqui há outros fundamentos e direitos
envolvidos, direitos de perfil fundamental associados ao desenvolvimento
da personalidade, que justificam e justificariam a criação de um modelo de
proteção jurídica para essas relações existentes, com base no princípio da
igualdade, no princípio da liberdade, de autodesenvolvimento e no princípio
da não discriminação por razão de opção sexual.
Daí decorre, então, um dever de proteção. Mas é preciso mais uma vez
dizer isso de forma muito clara, sob pena de cairmos num voluntarismo e
numa interpretação ablativa, em que, quando nós quisermos, nós inter-
pretamos o texto constitucional de uma ou outra maneira. Não se pode
atribuir esse arbítrio à Corte, sob pena de nos deslegitimarmos.96
60
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
97 Expressão cunhada por André Regis de Oliveira. In: Op. Cit. p. 37.
61
Raquel de Andrade Vieira Alves
62
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Roque Antonio Carrazza, por sua vez, entende que a EC nº 03/93 é incons-
titucional, pois estaria violando a autonomia dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, para estender uma exceção que, por si só, já seria controversa e
que, segundo ele, deveria ser sumariamente revogada do regime constitucional:
[...] Ora, o parágrafo único do art. 160 da Constituição Federal acaba por
anular-lhes ou, pelo menos, por comprometer-lhes a autonomia política e
jurídica. Para que o fenômeno não se perpetue – agora sob a égide da Cons-
98 PINTO FILHO, Francisco Bilac Moreira. A intervenção federal e o federalismo brasileiro. Forense:
Rio de Janeiro, 2002. p. 208.
63
Raquel de Andrade Vieira Alves
99 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 11ª Ed. São Paulo:
Malheiros, 2010. p. 726.
100 BARROSO, Luís Roberto. Parecer nº 01/2009. Sentido e alcance do parágrafo único do art. 160 da
Constituição: parâmetros para a retenção de receitas estaduais pela União Federal. Revista de Direito
da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, nº 64, 2010. p. 02.
64
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
101 CONTI, José Maurício. Federalismo Fiscal e Fundos de Participação. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2001. p. 120/121.
102 Ibid. p. 118-119.
103 DERZI, Misabel Abreu Machado. Op. Cit. p. 26.
65
Raquel de Andrade Vieira Alves
104 ARAGÃO, Alexandre Santos de. “Federalismo em Crise: aspectos constitucionais dos contratos de
empréstimo entre entes federativos”. Revista Brasileira de Direito Público, n. 22, 2008, p. 88.
105 LARENZ. Karl. Op. Cit. p. 496.
106 Nesse sentido, reportamo-nos à doutrina de Andrei Pitten Velloso que, tratando dos limites à
interpretação, afirma: “se, ao ‘interpretar-se’ um objeto qualquer, o agente desconsidera-o, poderá
estar empreendendo qualquer tarefa, à exceção da interpretação.” Op. Cit. p. 181.
66
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
67
Raquel de Andrade Vieira Alves
68
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Por fim, o parágrafo único do art. 160 da Constituição (iv) deve conviver
com os demais dispositivos constitucionais que determinam o cumprimento
de determinadas obrigações fundamentais por parte dos Estados e Municí-
pios, de maneira que da retenção das transferências não resultem limitações à
satisfação de obrigações essenciais do ente, como é caso do investimento mí-
nimo em saúde e educação; das despesas de custeio e precatórios de natureza
alimentar; das despesas de pessoal, dentre outros. Tal limitação se relaciona
diretamente com a garantia dos direitos fundamentais do cidadão, que tem
preferência sobre o pagamento de créditos devidos à União. Assim, apenas
depois de observados esses parâmetros é que se pode cogitar da retenção de
transferências pela União.
Destaque-se que não são raros os casos que têm sido levados à cúpula do Judici-
ário acerca da retenção de repasses de receitas aos Estados e Municípios pela União,
envolvendo questões federativas de alta relevância nacional, motivo de preocupação
para alguns aplicadores do Direito, que vêem no uso indiscriminado da retenção de
repasses um poderoso instrumento de distorção do modelo federativo.
É o caso, por exemplo, do Estado do Paraná, que recentemente ajuizou a
Ação Cautelar nº 3492111, perante o STF, em face da União, a fim de obter a
liberação das transferências voluntárias retidas, bem como a obtenção de ga-
rantias e possibilidade de contratação de operações de crédito com instituições
financeiras, sob a alegação do Governo Federal de excesso pelo Estado dos limi-
tes de gasto com despesas de pessoal.
No caso, o Estado do Paraná reivindicava verbas oriundas de programas es-
pecíficos do Governo Federal, informando ter cometido equívoco no lançamen-
to de informações no Sistema de Coleta de Dados Contábeis e Fiscais dos Entes
da Federação – SISTN, anexando, para tanto, relatório do Tribunal de Contas
Estadual, que aprovava o cumprimento dos limites com gastos de pessoal pelo
Paraná, não havendo óbice para o recebimento das transferências da União.
A questão ganhou ampla repercussão após o descumprimento reiterado pela
União da medida liminar concedida pelo Ministro Relator, Marco Aurélio, para
liberação das verbas, culminando com pedido de prisão do Secretário do Tesou-
ro Nacional pelo Estado do Paraná, assim decidido pelo Relator:
111 BRASIL. STF. AC nº 3492/PR. Ministro Relator Marco Aurélio. Liminar deferida em 10.02.14. DJ de
14.02.14.
69
Raquel de Andrade Vieira Alves
70
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Dessa forma, é possível observar que a maior parte dos casos que chega ao
STF versa sobre a inclusão dos Estados e Municípios no cadastro de inadim-
71
Raquel de Andrade Vieira Alves
116 BRASIL. STF. RE nº 607.420/PI. Ministra Relatora Ellen Gracie. Decisão proferida em 10.10.10. DJ
de 23.11.10.
72
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
117 Expressão felizmente empregada por Regis Fernandes de Oliveira para se referir às desonerações
dos principais impostos de competência da União, que compõem significativa parcela do montante
destinado aos Fundos de Participação dos Estados e Municípios. In: Curso de Direito Financeiro. –
6ª Ed. rev, atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 129 Utilizada também
pelo Ministro Ricardo Lewandowski no julgamento do RE nº 572.762/RS e pelo Ministro Luiz Fux no
julgamento do RE nº 705.423/SE.
73
Raquel de Andrade Vieira Alves
118 SPILIMBERGO, Antonio; SYMANSKY, Steve; BLANCHARD, Olivier. Fiscal Policy for the Crisis.
IMF Staff Position Note. International Monetary Fund, 29 dez. 2008. Disponível em: <http://www.
imf.org/external/pubs/ft/spn/2008/spn0801.pdf>. Acesso em 21.07.15
119 No mês de dezembro de 2008, foi registrada desaceleração de 12,4% frente ao mês anterior, de acordo
com dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sendo o pior resultado da série
histórica, iniciada em 1991, influenciado principalmente pelo setor automobilístico, cuja produção
caiu 39,7%. Vide: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2009/02/497886-producao-industrial-cai-
124-em-dezembro-no-ano-alta-e-de-31-diz-ibge.shtml> Acesso em 21.07.15
74
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
120 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Plenário. TC 020.911/2013-0. Ministro Relator Raimundo
Carreiro. Sessão Ordinária de 26.03.14. Ata nº 09/14.
75
Raquel de Andrade Vieira Alves
TABELA 5
Valores não distribuídos aos fundos em decorrência da desoneração (2008 a 2012)
Fonte: TCU.
121 Gráfico elaborado pela equipe técnica de fiscalização do TCU, como resultado da auditoria realizada
nos autos do processo TC 020.911/2013-0.
76
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
GRÁFICO 1
Fonte: TCU
Dessa forma, pelo amplo estudo realizado pela equipe técnica de fiscaliza-
ção do TCU, é possível verificar que a cada real (R$ 1,00) de renúncia do IR
e IPI concedida pela União, estima-se que cinquenta e oito centavos (R$ 0,58)
pertenceriam aos Estados e Municípios, uma vez que parte substancial do valor
arrecadado desses impostos é compartilhada com os entes subnacionais.
Outrossim, a equipe identificou um acirramento nas disparidades regionais,
em razão da política desonerativa da União, posto que o Nordeste é a região
que mais sofreu os impactos negativos causados pela redução dos repasses aos
fundos constitucionais, deixando de receber um total de R$ 68,2 bilhões de
reais. Em contrapartida, a região Sudeste é a maior recebedora dos benefícios
tributários, cujos efeitos indiretos compensam em certa medida as reduções nos
repasses constitucionais, o que já não ocorre com o Nordeste.
Adicionalmente, concluiu-se que as desonerações de IR têm tido maior in-
fluência junto ao FPM e FPE do que as de IPI, uma vez que representam cerca
de setenta e seis por cento (76%) das renúncias concedidas, o que equivale a
aproximadamente R$ 247,8 bilhões líquidos.
Diante dessas conclusões trazidas pela equipe técnica e da constatação da
ausência de estudos sistematizados quanto aos impactos sociais e regionais das
77
Raquel de Andrade Vieira Alves
renúncias tributárias de IR e IPI, bem como quanto ao seu impacto nos fundos
constitucionais, em sessão realizada em 26.03.14, a Corte de Contas determinou
a elaboração de um estudo técnico pelo Ministério da Fazenda para avaliar os
resultados obtidos com as desonerações dos impostos federais e seu impacto na
repartição de receitas tributárias aos demais entes.
Além disso, o Tribunal recomendou a adoção de medidas pela União que im-
portem na instituição de mecanismos permanentes para minimização ou neutra-
lização dos impactos das respectivas desonerações nos fundos constitucionais, re-
conhecendo a importância dessas medidas para manutenção do Pacto Federativo:
78
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
122 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Plenário. TC 020.911/2013-0. Ministro Relator Raimundo
Carreiro. Sessão Ordinária de 26.03.14. Ata nº 09/14. p. 30 do acórdão.
123 INESC. Renúncias tributárias - os impactos no financiamento das políticas sociais no Brasil. Estudo
disponível em: <http://www.inesc.org.br/biblioteca/publicacoes/outras-publicacoes/renuncias-tributarias-
os-impactos-no-financiamento-das-politicas-sociais-no-brasil/view> Acesso em 03.09.15.
79
Raquel de Andrade Vieira Alves
TABELA 6
Evolução das renúncias tributárias de IR e IPI no período de 2010 a 2014
Fonte: INESC
A análise chama a atenção ainda para o fato de que os Municípios são os prin-
cipais financiadores dos serviços sócio-assistenciais, sofrendo com mais intensida-
de os impactos das desonerações concedidas pelo Governo Federal. Em 2009, por
exemplo, excluindo-se os benefícios pagos pela União, o gasto com assistência social
alcançou R$12,03 bilhões de reais, sendo R$ 5,87 bilhões dos orçamentos dos Mu-
nicípios, R$ 3,31 bilhões da União (sem benefícios) e R$ 2,75 bilhões dos Estados.
Não obstante, o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o tema justamente
sob a ótica das finanças municipais, no julgamento do RE nº 705.423/SE, com
repercussão geral reconhecida, entendeu, por maioria, que o montante corres-
pondente às desonerações de IR e IPI procedidas pela União nos últimos anos
não deve integrar a base de incidência do percentual destinado ao Fundo de
Participação dos Municípios, em uma interpretação estrita da expressão “pro-
duto da arrecadação”, contida no art. 159, I, “b” e “d”, da Constituição Federal,
vencidos na ocasião os Ministros Luiz Fux e Dias Toffoli. 124
Ressalte-se que essa não foi a primeira vez que o STF se deparou com ques-
tão afeta ao impacto de desonerações tributárias nas transferências orçamen-
tárias para outros entes. Já na década de 1970, o STF julgou caso125 em que
124 BRASIL. STF. RE nº 705.423/SE. Ministro Relator Edson Fachin. Julgado em 23.11.16. Acórdão
ainda não publicado.
125 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 75.042. Ministro Relator Carlos Thompson Flores. Julgado em
07.12.72. DJ de 04.05.73.
80
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
126 BRASIL. STF. Primeira Turma. AI nº 55.989/AgR. Ministro Relator Oswaldo Trigueiro. Julgado em
31.10.72. DJ de 24.11.72.
BRASIL. STF. Primeira Turma. AI nº 55.288/AgR. Ministro Relator Rodrigues Alckimin. Julgado
em 12.12.72. DJ de 16.02.73.
127 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 572.762/SC. Ministro Relator Ricardo Lewandowski. Julgado
em 18.06.08. DJ de 05.09.08.
81
Raquel de Andrade Vieira Alves
82
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
fevereiro de 2010, após questão de ordem levantada pelo Ministro Dias Toffoli
(“É inconstitucional lei estadual que, a título de incentivo fiscal, retém parcela
do ICMS pertencente aos municípios.”).
Embora as circunstâncias fáticas entre o RE nº 572.762/SC e o RE
705.423/SE sejam diversas, eis que naquele o imposto chegava a ser arreca-
dado e posteriormente era devolvido ao contribuinte, e, neste último, o que
se tinha, do ponto de vista dos Municípios, era apenas uma expectativa de
arrecadação, é preciso observar que os votos proferidos naquele foram bem
assertivos quanto ao fato de se considerar a parcela repassada em virtude
da repartição constitucional de receitas tributárias como receita própria do
ente receptor, a inviabilizar a sua livre disposição pelo ente arrecadador,
além de reconhecerem a importância das participações para a garantia da
autonomia financeira dos entes federados.
Contudo, a Corte fez um distinguishing entre as duas hipóteses, para enten-
der que, uma vez arrecadado o imposto por determinado ente federado, não
pode a parcela destinada a outro ente sofrer qualquer limitação em função do
exercício da competência fiscal do primeiro. Entretanto, não havendo arreca-
dação efetiva, não há que se falar em direito subjetivo a parcela correspondente
à expectativa de arrecadação. Além da leitura estrita que foi feita do art. 159,
I, “b” e “d”, da Constituição, entendeu-se no caso que obrigar a União a con-
siderar o valor das desonerações no montante a ser repassado aos Municípios
representaria limitar indevidamente a sua competência constitucional para ins-
tituição de tributos, embora não se tenha deixado de reconhecer os impactos
negativos que causam as desonerações nas finanças municipais.
Ao final, foi fixada a seguinte tese: “É constitucional a concessão regular de
incentivos, benefícios e isenções fiscais relativos ao Imposto de Renda e Impos-
to sobre Produtos Industrializados por parte da União em relação ao Fundo de
Participação de Municípios e respectivas quotas devidas às Municipalidades”.
Com efeito, o STF perdeu uma grande oportunidade de frear as distorções
promovidas pelo Governo Federal em relação à repartição constitucional de re-
ceitas tributárias, com a possibilidade de determinar a inclusão do montante de-
sonerado nos cálculos dos valores destinados ao FPM. Ao contrário do que restou
decidido pela Corte, a neutralização dos efeitos perversos que as desonerações de
IR e IPI têm causado nas finanças municipais em nada alteraria a competência
da União em relação à instituição desses tributos, mas apenas compatibilizaria o
exercício da competência tributária própria com o Princípio Federativo.
83
Raquel de Andrade Vieira Alves
84
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Outrossim, retomando o exposto no item 2.3, não se pode ignorar que o fato
de os recursos dos fundos constitucionais se originarem a partir de transferên-
cias da União não lhes retira a condição de recursos próprios do ente receptor,
o que só reforça a ideia de que as renúncias fiscais federais não podem impactar
na redução do montante repassado aos entes subnacionais, a título de participa-
ção na arrecadação. Como bem reconheceu o Ministro Luiz Fux, ao inaugurar
a divergência no julgamento do RE nº 705.423/SE, as participações no produto
da arrecadação constituem direito próprio do Município, que não pode ser sub-
traído pelo exercício da competência tributária da União em relação à conces-
são de incentivos fiscais.
De fato, a única exceção à obrigatoriedade de repasse e que mesmo assim
deve ser interpretada com temperamentos, conforme defendemos aqui, é a hi-
pótese a que se refere o parágrafo único do art. 160 da Constituição, que per-
mite o condicionamento pela União da entrega dos recursos a serem repassados
ao pagamento de seus créditos e de suas autarquias, analisada no item anterior.
Ademais, é necessário destacar que o Governo Federal só abre mão de re-
ceitas de IR e IPI, sob a justificativa de estimular a economia nacional, porque
possui à sua disposição receitas exclusivas, provenientes da instituição de tri-
butos não partilháveis com os Estados e Municípios. Não fosse o significativo
incremento na arrecadação federal, promovido pela União nos últimos anos
através da instituição de contribuições – objeto específico deste estudo –, não
seria possível a manutenção de uma política desonerativa centrada nos princi-
pais impostos de competência federal.
Inclusive, tramitam no Congresso algumas Propostas de Emenda à Cons-
tituição que preveem compensações para perdas orçamentárias decorrentes de
políticas desonerativas praticadas por outro ente. Algumas se limitam apenas
ao IR e ao IPI (PECs nº 09 e 12 de 2009); outras são mais amplas e se referem
também às desonerações praticadas pelos Estados, como a PEC nº 31/11; e há
proposições mais brandas, que preveem regras de transição e regulamentação
das compensações mediante lei complementar (PEC nº 02/12), demonstrando
128 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Plenário. TC 020.911/2013-0. Ministro Relator Raimundo
Carreiro. Sessão Ordinária de 29.04.15. Ata nº 15/15.
85
Raquel de Andrade Vieira Alves
86
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
TABELA 7
ARRECADAÇÃO R$ PERCENTAGEM DE
CIDE-COMBUSTÍVEIS
MILHÓES CRESCIMENTO
2002 7.228 -
2003 7.357 1,78%
2004 7.668 4,22%
2005 7.680 0,16%
2006 7.811 1,70%
2007 7.939 1,65%
2008 5.934 -25,25%
2009 4.828 -18,64%
2010 7.738 60,26%
2011 8.924 15,33%
2012 2.736 -69,34%
2013 35 -98,73%
2014 14 -60,56%
Fonte: elaboração própria. Base de dados: ANEXO A do presente estudo.
87
Raquel de Andrade Vieira Alves
88
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
89
Raquel de Andrade Vieira Alves
90
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
91
Raquel de Andrade Vieira Alves
92
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
144 [...] Não se pode admitir que a Constituição tenha dado carta branca à União Federal para instituir
contribuição sobre qualquer atividade econômica, em relação à qual julgar necessária sua intervenção.
Tal equívoco, no nosso entender, é o principal responsável pelo crescimento desordenado das
contribuições de intervenção. O que se percebe de plano é que, sob o manto de contribuições de
intervenção, a União Federal vem instituindo por lei ordinária verdadeiros impostos residuais.
MANEIRA, Eduardo. “Condecine - Aspectos gerais”. In: Priscila da Souza. (Org.). Sistema Tributário
Nacional e a Estabilidade da Federação Brasileira. 1ª ed. São Paulo: Editora Noeses, 2012. p. 297-313.
145 REZENDE, Fernando. Op. Cit. p. 92.
146 Dados disponibilizados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil em: <http://idg.receita.fazenda.
gov.br/dados/receitadata/arrecadacao/relatorios-do-resultado-da-arrecadacao> Acesso em 27.07.15
147 A Arrecadação e o Destino dos Recursos da CPMF. Nota técnica nº 6/2007, elaborada pelo
departamento de estudos técnicos do Unafisco Sindical. Brasília, junho de 2007. Disponível em:
<http://www2.unafisco.org.br/estudos_tecnicos/2007/nota_tecnica_cpmf.pdf> Acesso em 29.07.15
93
Raquel de Andrade Vieira Alves
GRÁFICO 2
Unidade: $ milhões. Fonte: elaboração própria. Base de dados: ANEXO A do presente estudo.
148 Para visualização do panorama geral legislativo, ver o quadro elaborado pela equipe técnica do
Unafisco, com a cronologia da legislação da CPMF e suas alíquotas.
94
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
149 Não é à toa que o “fantasma” da CPMF sempre volta à tona em discussões acerca da necessidade
de aumento da arrecadação. A título ilustrativo, confira-se as seguintes notícias: <http://g1.globo.
com/bom-dia-brasil/noticia/2015/09/governo-ressuscita-cpmf-para-ajudar-tirar-contas-do-vermelho.
html> Acesso em 17.09.15.
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/06/1641223-com-aval-de-dilma-ministro-da-saude-
discute-volta-da-cpmf.shtml> Acesso em 01.09.15.
<http://noticias.terra.com.br/brasil/lula-defende-volta-da-cpmf-e-diz-que-tributo-nunca-deveria-ter-
sido extinto,27fa2e0228e22027e96b70f9f8738e1alt0gRCRD.html> Acesso em 01.09.15.
<http://www.valor.com.br/brasil/4204078/ministros-dao-apoio-criacao-de-receita-emergencial>
Acesso em 01.09.15.
150 Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/series-historicas> Acesso em 28.10.16. Ver
ainda: BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADO nº 25. Ministro Relator Gilmar Mendes. Julgada em
30/11/16. Acórdão ainda não publicado.
95
Raquel de Andrade Vieira Alves
Ano Percentagem
1995 64,22%
1996 64,79%
1997 77,43%
1998 67,79%
1999 84,21%
2000 97,28%
2001 99,51%
2002 92,92%
2003 103,21%
2004 115,80%
2005 109,04%
2006 106,42%
2007 90,49%
2008 84,93%
2009 87,20%
2010 91,13%
2011 86,96%
2012 89,72%
151 Expressão cunhada por Valéria Rocha da Costa para explicar o fenômeno da expansão desordenada
das contribuições no Brasil, no contexto pós-1988. In: A Vagueza dos Conceitos de Contribuição
Social Geral e Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico: A Construção do Estado das
Contribuições. Tese de Mestrado apresentada pela autora como requisito para obtenção do título de
Mestre em Público, no Programa de Pós-graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais. Belo Horizonte, 2011.
96
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
2013 90,72%
2014 87,97%
Fonte: elaboração própria. Base de dados: ANEXOS A e B do presente estudo.
152 Ressalte-se que há algumas Propostas de Emenda à Constituição, atualmente em trâmite no Senado
Federal, com o objetivo de permitir a partilha da arrecadação das contribuições com os demais entes
federados. São elas: PECs nº 23/09; nº 35/09; 65/05; e 17/07. Cada uma tem suas peculiaridades, porém o
que todas têm em comum é o fato de tentarem desconcentrar parte da receita das contribuições das mãos
da União, promovendo um equilíbrio maior na distribuição da arrecadação tributária. Embora a intenção
seja louvável, não resolve o problema federativo atual, pois esbarra em características inerentes à tipologia
tributária das contribuições, que necessariamente têm a sua destinação vinculada a determinados fins.
153 Nesse sentido, partilhamos do entendimento perfilhado por Ricardo Mariz de Oliveira em
“Contribuições de intervenção no domínio econômico – Concessionárias, permissionárias e
autorizadas de energia elétrica – ‘Aplicação’ obrigatória de recursos (Lei n. 9.991)” In: GRECO,
Marco Aurélio (coord.). Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico e Figuras Afins. São
Paulo: Dialética, 2001. p. 379-381.
154 Vide, nesse ponto: BICHARA, Luis Gustavo e MONTENEGRO, Mattheus. “Uma ideia para a
agenda tributária do próximo governo.” Artigo publicado no Jornal Estadão em 23.05.14.
97
Raquel de Andrade Vieira Alves
98
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
157 REZENDE, Fernando. A reforma tributária e a federação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p. 18.
158 OLIVEIRA, Gustavo da Gama Vital de. Op. Cit.
159 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 2556/DF. Ministro Relator Joaquim Barbosa. Julgada em
13.06.12. DJ de 20.09.12.
99
Raquel de Andrade Vieira Alves
160 REZENDE, Fernando. Desafios do Federalismo Fiscal. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 95.
100
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
161 TER-MINASSIAN, Teresa. Reforma do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Banco
Interamericano de Desenvolvimento, 2012. p. 18.
162 CATAIA, Márcio. “Federalismo Brasileiro. As Relações Intergovernamentais analisadas a partir das
Transferências Voluntárias”. Revista Geográfica de América Central. Número Especial EGAL, 2011-
Costa Rica, II Semestre 2011. p. 1-16.
163 Nesse sentido, há alguns estudos que se dedicam à comprovação, mediante dados empíricos, do poder
de barganha político, atrelado às transferências voluntárias. Como exemplo, pode-se citar o estudo
101
Raquel de Andrade Vieira Alves
desenvolvido por Marta Arretche e Jonathan Rodden, que indica que, no período de 1996 a 2000, as
transferências voluntárias da União foram de fato empregadas como um recurso de estratégia eleitoral.
De acordo com o resultado do estudo, os Presidentes brasileiros contariam com considerável poder
sobre a execução de recursos de transferências e usariam estes mesmos recursos para superar o desafio
de preservar sua coalizão de sustentação parlamentar. Para tanto, canalizariam os recursos disponíveis
para os Estados que contariam com o maior número de parlamentares na coalizão, lógica que não se
aplica para os governadores pertencentes ao seu partido ou à sua coalizão. In: ARRETCHE, Marta e
RODDEN, Jonathan. “Política distributiva na Federação: estratégias eleitorais, barganhas legislativas
e coalizões de governo”. Dados [online]. 2004, vol.47, n.3, p. 549-576. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/S0011-52582004000300004> Acesso em 29.07.15
164 Sobre o tema, vide : MARINS, Daniel Vieira. Op. Cit.
102
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
103
Raquel de Andrade Vieira Alves
ao imposto federal sobre a renda, o que tem levado o Brasil a considerar apenas
a literalidade dos termos dos acordos para concluir que as contribuições não
estariam por eles reguladas169.
Tal circunstância também não tem passado despercebida pela doutrina de
Direito Internacional Tributário, que a denomina de treaty dodging ou treaty
circumvention170171, assim entendida como uma forma de um Estado contratante
driblar as disposições dos tratados, através da manipulação da legislação domés-
tica, cuja aplicação ele mesmo requer perante as suas Cortes internas.
De acordo com a doutrina, essa conduta produz consequências próprias para
a execução dos tratados internacionais contra a bitributação da renda, deman-
dando uma solução negocial entre as partes contratantes ou, no limite, a pró-
pria denúncia do tratado172.
Por fim, além das consequências danosas que o uso abusivo das contribui-
ções pela União acarreta ao federalismo fiscal brasileiro, à qualidade da tribu-
tação, bem como à execução dos acordos internacionais contra a bitributação
da renda, há outro problema causado por esse abuso: o engessamento do or-
çamento federal, devido justamente à vinculação constitucional das receitas
provenientes dessa espécie tributária.
Conforme estudo desenvolvido por Raul Velloso e apresentado no Fórum Na-
cional173, na esfera federal, o conjunto de despesas obrigatórias, nelas se incluindo
as transferências aos Estados e Municípios, bem como os gastos com a folha de
pagamentos e os compromissos com a dívida pública, já atingia, em 2004, 91% do
total das despesas não financeiras, sendo que da parcela restante ainda deveriam
ser deduzidas as despesas usuais de operação de vários Órgãos. A consequência
104
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
174 No mesmo estudo, o autor aponta o decréscimo nos financiamentos, de 1987 (2,3% do PIB e 14% das
despesas não financeiras) a 2004 (0,4% do PIB e 2% das despesas não financeiras) e a deficiência de
investimentos federais em estradas, a partir de 2003. Para um aprofundamento acerca do tema, vide:
CARVALHO, André Castro. Op. Cit.
175 DOMINGUES, José Marcos. “Contribuições Sociais – Desvinculações Prescritas por Emendas
Constitucionais”. Revista Dialética de Direito Tributário nº 193, outubro, 2011. p. 75.
176 Fernando Facury Scaff, em recente artigo para a Revista Eletrônica Consultor Jurídico, explica
bem como o valor desvinculado pela DRU é empregado em favor do pagamento da dívida pública,
traçando um paralelo entre esta última e o atraso na ampliação de direitos fundamentais. In: SCAFF,
Fernando Facury. A DRU, os direitos sociais e o pagamento dos juros da dívida. Artigo extraído
105
Raquel de Andrade Vieira Alves
179
Infográfico elaborado em 22.05.15. Fonte: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/governo-
bloqueia-r-70-bi-em-gastos-em-2015-e-ve-retracao-de-12-no-pib.html> Acesso em 08.10.15
106
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
107
SEGUNDA PARTE:
Contribuições e pacto federativo
Toda a análise desenvolvida até agora teve o objetivo de apresentar o novo con-
texto federativo brasileiro, com destaque para o enfraquecimento do papel do Es-
tado e o estreitamento das relações entre os Municípios e a União, mediante forte
dependência financeira. Destacou-se, nesse ponto, o enorme papel que desempe-
nham as participações no produto da arrecadação para a garantia da autonomia
financeira dos entes subnacionais e para o consequente equilíbrio da Federação.
Ainda, dentro desse contexto, foi abordada a crescente recentralização de
receitas e poderes pela União, como fator gerador de grande preocupação na
doutrina, visto constituir um perigoso instrumento de governabilidade à dispo-
sição do Governo Federal.
Nessa linha, como forma de demonstrar os principais mecanismos de distor-
ção do modelo federativo atual, que contribuem para a concentração de receitas
tributárias, foram citadas: a possibilidade de retenção de repasses federais, com
base na interpretação do parágrafo único do art. 160 da Constituição Federal,
ao lado das renúncias dos principais impostos federais - que comprometem so-
bremaneira as receitas dos Fundos de Participação - e, por fim, o grande instru-
mento centralizador, que consiste justamente no abuso na instituição de con-
tribuições pela União, cuja receita não é partilhada com Estados e Municípios.
A seguir, a análise se concentrará no perfil constitucional das contribuições
e no seu papel dentro do contexto federativo apresentado na primeira parte do
estudo, com destaque para algumas exações específicas, que ilustram bem o
abuso no manejo dessa espécie tributária pelo Governo Federal.
Capítulo 3 – Perfil das contribuições
182 FARIA, Sylvio Santos. Aspectos da Parafiscalidade. Salvador: Progresso, 1955. p. 25-26.
183 FERNANDES, Simone Lemos. Contribuições Neocorporativas na Constituição e nas Leis. Belo
Horizonte: Delrey, 2005. p.35.
111
Raquel de Andrade Vieira Alves
112
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Com a inserção de novos direitos nas constituições das nações que, ao con-
trário dos então existentes, exigiam uma postura estatal ativa no cenário eco-
nômico e social, visando garantir condições mínimas de vida para a população,
o Estado começa a ter de agir para que estes novos direitos se tornem efetivos.
Paralelamente, ao passo em que o Estado deixa de ser mero espectador do
que vinha ocorrendo no campo social e econômico para transformar-se no
grande protagonista desse processo, a equação tributo-benefício começa a de-
mandar uma reformulação teórica, a fim de adequar as novas atividades estatais
às suas respectivas fontes de custeio.
A postura interventiva do Estado trouxe, assim, uma nova função ao tri-
buto, ao lado da fiscalidade: a parafiscalidade que, como bem pontuou Paulo
Bonavides, foi o primeiro veículo de manifestação da extrafiscalidade185.
Essa dicotomia da função pública, como se houvesse dois Estados diferentes
em um só, pode ser percebida na lição de Emanuelle Morselli, um dos primeiros
doutrinadores a tentar elaborar uma sistematização jurídica para o instituto
da parafiscalidade186, para quem o Estado teria funções essenciais ou funda-
mentais, a serem financiadas pelos impostos, e funções complementares, que
poderiam ter finalidades econômicas ou sociais, a serem custeadas pelas contri-
buições parafiscais187. Essa associação entre a parafiscalidade e as funções com-
plementares do Estado Social, feita por Morselli, foi duramente criticada pelos
doutrinadores da época, que reconheciam que o agigantamento do Estado não
comportava mais essa distinção, já que as atividades estatais correspondiam a
uma série de finalidades sociais, econômicas e políticas, de modo que a tributa-
ção nessa nova fase assumiria um novo papel.
Além da demanda crescente por novas formas de financiamento no Estado So-
cial, um fator decisivo para a ascensão das contribuições foi o Estado Fascista ita-
liano e o Estado Intervencionista francês. Embora em momentos diferentes, ambos
os Estados encontraram na figura das contribuições a fonte de custeio ideal para a
prática de seus propósitos intervencionistas, sobretudo, no período pós-guerra.
185 BONAVIDES, Paulo apud FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 31.
186 Como ressalta Sylvio Santos Faria, Emanuelle Morselli havia produzido até então o trabalho mais
sério sobre parafiscalidade, denominado: “Le Finanze Degli Enti Non Territoriali”. FARIA, Sylvio
Santos. Op. Cit. p. 33.
187 MORSELLI, Emanuelle. Curso de Ciência das Finanças Públicas. – Introdução e Princípios Gerais
(tradução de Elza Meschick), 5ª Ed. Rio de Janeiro: Edições Financeiras S.A., 1959. p. 17.
113
Raquel de Andrade Vieira Alves
114
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
191 BUYS DE BARROS, A.B. Um Ensaio Sobre a Parafiscalidade. Rio de Janeiro: José Konfino, 1956. p. 39.
192 FARIA, Sylvio Santos. Op. Cit. p. 39-40.
193 MERIGOT, Jean-Guy apud FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 68-69.
115
Raquel de Andrade Vieira Alves
Essa significativa passagem da obra de Merigot expõe uma forte crítica à uti-
lização de contribuições especiais para o financiamento de atividades inerentes
ao Estado Social, como se a parafiscalidade fosse ainda um resquício da visão
liberal do Estado, de modo que as finanças tradicionais não serviriam para o
custeio de finalidades sociais e econômicas. Exatamente por isso, tal como Lau-
fenburguer e Laferièrre, Merigot não reconhece a parafiscalidade como uma
categoria autônoma, equiparando as contribuições especiais à figura dos impos-
tos, não obstante excluídas das regras de Direito Tributário195.
194 MERIGOT, Jean-Guy. “Elementos de uma Teoria da Parafiscalidade” (tradução de Guilherme A. dos
Anjos). Revista de Direito Administrativo, v. 33, 1953. p. 65-66.
195 NASCIMENTO, Theodoro. Preços, Taxas e Parafiscalidade – Tratado de Direito Tributário
Brasileiro (Coord. Aliomar Baleeiro). Rio de Janeiro: Forense, 1977. p. 416-417.
116
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
196 Destaque-se aqui a Constituição Francesa de 1958 e a Ordonnance de 1959, que alteraram a natureza
jurídica da parafiscalidade, dando início ao seu processo de contenção na França. Em seguida, o
Decreto nº 80, de 30 de outubro de 1980 excluiu do domínio da parafiscalidade uma série de exações
e instaurou o princípio da precariedade, ou seja, não poderiam ser criadas contribuições por um
período de vigência superior a cinco anos. Entretanto, a sua prorrogação por novo decreto não havia
sido vedada. Finalmente, a Lei Orgânica de 2001estabeleceu um termo final para a exigência de
contribuições parafiscais instituídas com base no poder regulamentar, consolidando o processo
de contenção e anunciando a extinção iminente das contribuições no regime francês. Para um
aprofundamento no assunto, vide: FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 79-88.
197 Ibid. p. 89-90.
198 GRECO, Marco Aurélio. “Solidariedade Social e Tributação”. In: Solidariedade Social e Tributação.
Marco Aurélio Greco, Marciano Seabra de Godoi (Coords.). São Paulo: Dialética, 2005. p. 68.
117
Raquel de Andrade Vieira Alves
118
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
que esse fenômeno hoje não existe mais no Direito brasileiro e que no estágio atual
da sociedade, mais do que no paradigma da afetação, o elemento distintivo das
contribuições reside na solidariedade de grupo, como será demonstrado.
119
Raquel de Andrade Vieira Alves
120
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
207 FARIAS, José Fernando de Castro. A origem do direito de solidariedade. Rio de Janeiro: Renovar,
1998. p. 213-220; 279-286.
208 Ibid. p. 285.
209 Ibid. p. 188-220.
210 GODOI, Marciano Seabra de. “Tributo e Solidariedade Social” In: Op. Cit. p. 145.
211 BOURGEOIS, León apud FARIAS, José Fernando de Castro. Op. Cit. p. 191.
212 GODOI, Marciano Seabra de. “Tributo e Solidariedade Social” In: Op. Cit. p. 148-152.
121
Raquel de Andrade Vieira Alves
213 Nesse sentido, a Constituição Italiana de 1947, em seus Princípios Fundamentais (art. 2º), requer
expressamente o cumprimento pela República dos “deveres inderrogáveis de solidariedade política,
econômica e social”. A Constituição Portuguesa de 1976, em seus Princípios Fundamentais, logo no
art. 1º, reconhece que Portugal é uma “República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana
e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”. A
Constituição Espanhola de 1978, em seu art. 2°, reconhece e garante o direito à autonomia das regiões
que a integram e “a solidariedade entre todas elas”. A Constituição Brasileira, entre os Princípios
Fundamentais, estabelece em seu art. 3º, como objetivo fundamental da República Federativa, a
construção de “uma sociedade livre, justa e solidária”.
214 TORRES, Ricardo Lobo. “Existe um Princípio Estrutural da Solidariedade?” In: Op. Cit. p. 200.
215 RIBEIRO, Ricardo Lodi. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Rio de janeiro: Lumen
Juris, 2010. p. 141-142.
122
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
123
Raquel de Andrade Vieira Alves
221 “La capacidad económica constituye la proyección del principio de solidaridad sobre el reparto de las cargas
públicas”. MOLINA, Pedro Manuel Herrera. Capacidad Economica y Sistema Fiscal - Analisis del
ordenamiento español a la luz del Derecho aleman. Madrid: Marcial Pons, 1998. p. 94.
222 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva: 2012. Cap. IV. 5.2.
223 RIBEIRO, Ricardo Lodi. Op. Cit. p. 154.
224 SACCHETO, Cláudio.”O Dever de Solidariedade no Direito Tributário: o Ordenamento Italiano.”
In: Solidariedade Social e Tributação. Marco Aurélio Greco, Marciano Seabra de Godoi (Coords.).
São Paulo: Dialética, 2005. p. 22.
225 MOLINA, Pedro Manuel Herrera. Op. Cit. p. 94
226 ROYO, Fernando Perez. "Principio de legalidad, deber de contribuir y decretos-leyes en materia
tributaria”. Revista Española de Derecho Constitucional, Año 5, nº 13, Enero-abril, 1985. p.56.
124
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
227 Vide: RIBEIRO, Ricardo Lodi. Op. Cit. p. 150-152. GODOI, Marciano Seabra de. “Tributo e
Solidariedade Social” In: Op. Cit. p. 152-158.
228 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário, vol II, Valores e
Princípios Constitucionais Tributários. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 181.
229 GRECO, Marco Aurélio. “Solidariedade Social e Tributação”. In: Op. Cit. p. 168-169.
230 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Op. Cit. p. 09.
125
Raquel de Andrade Vieira Alves
231 PENHA, Marcos Bueno Brandão da. “A Solidariedade Social como Fundamento da Progressividade
dos Impostos Reais na Constituição Federal”. Revista de Finanças Públicas, Tributação e
Desenvolvimento da UERJ, v. 3, nº 3, 2015. p. 11.
232 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 08.
126
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
127
Raquel de Andrade Vieira Alves
236 SMITH, Adam apud GODOI, Marciano Seabra de. “Tributo e Solidariedade Social” In: Op. Cit. p. 155.
128
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
237 NABAIS, José Casalta. “Solidariedade Social, Cidadania e Direito Fiscal”. In: Solidariedade Social e
Tributação. Marco Aurélio Greco, Marciano Seabra de Godoi (Coords.). São Paulo: Dialética, 2005.
p. 127-128.
238 Ibid. p. 129-133.
129
Raquel de Andrade Vieira Alves
239 Importante frisar, nesse ponto, que não se toma a parafiscalidade como mero sinônimo de
extrafiscalidade, mas se reconhece que a primeira pode ser concebida como uma forma de manifestação
direta desta última, em que não há propriamente o estímulo a uma conduta, mas sim, o patrocínio de
ações ligadas à redução da desigualdade social e à promoção de uma série de finalidades de cunho social
e econômico, como é o caso das ações ligadas à universalização dos serviços de telefonia fixa (FUST),
por exemplo, ou ainda, das ações ligadas ao desenvolvimento tecnológico (Cide-royalties), dentre outras
atividades. Nesse sentido: “Identificamos a presença da extrafiscalidade direta, portanto, na instituição
de contribuições especiais; e, igualmente, em algumas normas isencionais ou imunitórias que não são
estipuladas para interferir na conduta dos contribuintes: apenas identificam um fato e o juridicizam
negativamente quanto aos efeitos tributários.” FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 233-238.
240 GRECO, Marco Aurélio. Contribuições (uma figura “sui generis”). São Paulo: Dialética, 2000. p. 37-38.
241 RIBEIRO, Ricardo Lodi. Op. Cit. p. 158.
130
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
131
Raquel de Andrade Vieira Alves
242 Ibid. p. 150-151. RIBEIRO, Ricardo Lodi. “O Princípio da Capacidade Contributiva nos Impostos, nas
Taxas e nas Contribuições Parafiscais”. Revista da Faculdade de Direito da UERJ, nº 18, 2010. p. 02-03.
243 GRECO, Marco Aurélio. Op Cit. p. 48-47.
244 Nesse sentido: “Porém, não basta que a contribuição parafiscal tenha legal destinação específica
e previsão orçamentária. Para que os referidos tributos cumpram a sua finalidade e obtenham a
validação constitucional é preciso que haja a referibilidade de grupo entre os contribuintes da exação e
a finalidade estatal por ela financiada, que tem que guardar relação com o grupo de que o contribuinte
faz parte.” RIBEIRO, Ricardo Lodi. “Contribuições Parafiscais e a Validação Constitucional das
Espécies Tributárias.” Revista Dialética de Direito Tributário, nº 174, março, 2010. p. 118.
132
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
133
Raquel de Andrade Vieira Alves
248 BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2011.
Capítulo I. p. 23-60.
249 GRECO, Marco Aurélio. Op. Cit. p. 38-40.
134
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
250 TORRES, Ricardo Lobo apud YAMASHITA, Douglas. “Princípio da Solidariedade em Direito
Tributário.” In: Solidariedade Social e Tributação. Marco Aurélio Greco, Marciano Seabra de Godoi
(Coords.). São Paulo: Dialética, 2005. p. 64.
251 RIBEIRO, Ricardo Lodi. Op. Cit. p. 04.
135
Raquel de Andrade Vieira Alves
136
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Com tudo isso, pretende-se dizer que muitos abusos têm sido cometidos em
matéria de contribuições no Brasil e são justamente esses abusos, com o escopo
único de maximizar a arrecadação da União, que têm, como efeito colateral, o
comprometimento do equilíbrio do Pacto Federativo. Entretanto, a consequ-
ência desse desvirtuamento não conduz à conclusão de que as contribuições
devem ser extirpadas do ordenamento jurídico.
A uma porque isso atualmente só seria possível através de uma nova cons-
tituinte. A duas porque entendemos que a utilização correta dessa espécie
tributária pode trazer benefícios em matéria de financiamento de atividades
específicas do Estado, cujo custeio deve estar diretamente atrelado ao grupo
atingido. Como consequência, se obteria um reequilíbrio do federalismo fis-
cal, mediante a equalização das bases tributárias, com o financiamento por
impostos das atividades em que o grupo interessado corresponde a toda so-
ciedade e por contribuições para atividades em que o grupo interessado não
corresponde à coletividade.
Daí porque entendemos que o principal elemento de distinção e valida-
ção das contribuições no ordenamento jurídico pátrio é atualmente a soli-
dariedade de grupo que, ao limitar o custeio ao grupo social atingido pela
atividade estatal, impõe uma relação de compatibilidade entre a destinação
constitucional da exação e o grupo do qual o contribuinte faz parte, que é
justamente a referibilidade de grupo.
Portanto, quando se fala em contribuições em um Estado Social e Demo-
crático de Direito deve-se ter em mente necessariamente a existência de: uma
destinação específica; um grupo social, econômico ou profissional, responsável
pelo custeio e diretamente atingido pela atividade custeada, que não se con-
funda com toda a sociedade; e a referibilidade de grupo, expressa pela relação de
custo-benefício coletivo entre os dois elementos anteriores.
137
Raquel de Andrade Vieira Alves
buição direta (art. 15, inciso X252), que ganhou espaço como contribuição para
montepios253 - a exemplo do Montepio Geral dos Servidores do Estado (Mon-
geral) -, é com a Constituição de 1934 que se pode afirmar o surgimento das
contribuições no sistema constitucional brasileiro.
Simone Lemos Fernandes identifica duas fases distintas para a parafiscali-
dade brasileira. A primeira, a que se refere como instrumental, em que a para-
fiscalidade seria mera técnica de arrecadação de receitas e as contribuições não
teriam natureza tributária, vai do período pós-Revolução de 1930 até 1946. Já
a segunda começa a ser delineada a partir de 1946 e se consolida com a Cons-
tituição de 1988, quando a parafiscalidade passa a ser gradualmente concebida
como a delegação da capacidade tributária ativa a pessoas jurídicas de direito
privado ou de direito público não territoriais, para aplicação direta dos recursos
arrecadados em suas finalidades institucionais254.
Independentemente do enfoque da autora ser apenas as contribuições de
interesse das categorias profissionais e econômicas, a que se refere como “ne-
corporativas”, faz-se uma importante análise do desenvolvimento da parafisca-
lidade no Brasil, que surge atrelada ao movimento corporativo da “Era Vargas”,
expandindo-se posteriormente até a sua completa absorção pelo Direito Tribu-
tário, o que auxilia na compreensão do fenômeno e de suas principais críticas
doutrinárias até o regime constitucional atual.
Com efeito, com a instauração do chamado “corporativismo” no país, assim
entendido como um sistema de representação de interesses, baseado em grupos
funcionais integrados em uma organização controlada e supervisionada pelo
Estado, as contribuições ganharam força como instrumentos de financiamento
dessas novas entidades, sobretudo sob a égide da Constituição de 1937.
A Constituição de 1934, embora tenha inaugurado o instituto no ordena-
mento constitucional brasileiro, através da previsão de instituição de contribui-
ções previdenciárias (art. 121, § 1º, h255), além da curta duração, não produziu o
138
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
§ 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar
as condições do trabalhador:
[...]
h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes
e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante
contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da
maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte;”
256 “Art. 140 - A economia da produção será organizada em entidades representativas das forças do
trabalho e que, colocadas sob a assistência e a proteção do Estado, são órgãos deste e exercem funções
delegadas de Poder Público.”
257 “Art. 138 - A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato regularmente
reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria
de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras
associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus
associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de Poder Público.”
258 ATALIBA, Geraldo apud FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 109.
139
Raquel de Andrade Vieira Alves
mente inspirado na Carta del Lavoro da Itália259, como ilustra a forte crítica da
doutrina da época à ausência de controle das contribuições.
De fato, nesse período as contribuições aparecem como figuras não tribu-
tárias, já que a Constituição de 1937 só previa como espécies tributárias os
impostos e as taxas e a competência residual para instituição de impostos era
atribuída apenas aos Estados e não à União, de modo que não era possível o
enquadramento dessas novas exações em nenhuma das espécies então vigentes.
A partir daí entidades com atribuições de caráter assistencial e com po-
deres para a instituição de contribuições para o custeio de suas ativida-
des foram criadas em grande número, como as entidades de previdência e
aposentadoria dos comerciários, dos bancários, dos empregados em serviços
de transporte de cargas e até mesmo de funcionários públicos. Outras, de
caráter econômico ou setorial, foram sendo criadas de acordo com as neces-
sidades no âmbito da defesa da economia, impondo para o custeio de suas
atividades a exigência de contribuições parafiscais das mais variadas for-
mas. É o caso do Instituto do Açúcar e do Álcool, do Instituto Brasileiro do
Café e até mesmo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
de caráter diverso, dentre vários outros260.
A Constituição de 1946 também consignou autorização expressa para a ins-
tituição de contribuições parafiscais, entretanto, tal como a Constituição de
1934, limitou-se às contribuições previdenciárias (art. 157, inciso XVI261).
No período compreendido entre a promulgação da Carta de 1946 e a de
1988 teria ocorrido a transição entre as fases da parafiscalidade identificadas
por Simone Fernandes Leal. Nesse período de redemocratização, a tese domi-
nante entre os partidários da natureza tributária das contribuições propunha o
seu enquadramento ora como impostos, ora como taxas, de acordo com a ma-
259 Documento através do qual o Partido Nacional Fascista de Benito Mussolini apresentou as linhas de
orientação que deveriam guiar as relações de trabalho na sociedade italiana (1927).
260 MAIA, J. Motta. A Parafiscalidade na Constituição de 1967. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do
Álcool, 1968. p. 09.
261 “Art. 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além
de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores:
[...]
XVI - previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da
maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte;”
140
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
262 BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 12ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978.
p. 282-288.
263 FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 140-142.
264 Ibid. p. 140-141.
141
Raquel de Andrade Vieira Alves
Não obstante, essa noção ainda não estava consolidada, já que não havia um
regramento específico para as contribuições que permitisse a identificação de
seu regime jurídico. Daí porque falar-se em período de transição. Tanto é assim
que o Supremo Tribunal Federal chegou a afastar a natureza tributária das con-
tribuições ao Instituto do Açúcar e do Álcool, sob a égide da Constituição de
1946, alegando que elas não se prestariam à “finalidade própria dos tributos”.
Confira-se trecho do voto proferido pelo relator, em que é possível identificar a
visão de que o tributo não serviria para custear atividades relacionadas à inter-
venção do Estado na economia:
265 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. MS nº 4.063. Ministro Relator Rocha Lagoa. Julgado em 20.05.57. RTJ
7/591, 1958.
266 “Art. 9º Tributo é a receita derivada instituída pelas entidades de direito publico, compreendendo
os impostos, as taxas e contribuições nos termos da constituição e das leis vigentes em matéria
financeira, destinado-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou especificas exercidas por
essas entidades. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)”
267 FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 146-147.
142
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
268 Ibid.
269 MAIA, J. Motta. Op. Cit p. 11-12.
270 “Art. 217. As disposições desta Lei, notadamente as dos arts 17, 74, § 2º e 77, parágrafo único, bem
como a do art. 54 da Lei 5.025, de 10 de junho de 1966, não excluem a incidência e a exigibilidade:
(Incluído pelo Decreto-lei nº 27, de 1966)
I - da "contribuição sindical", denominação que passa a ter o imposto sindical de que tratam os arts
578 e seguintes, da Consolidação das Leis do Trabalho, sem prejuízo do disposto no art. 16 da Lei
4.589, de 11 de dezembro de 1964; (Incluído pelo Decreto-lei nº 27, de 1966)
II - das denominadas "quotas de previdência" a que aludem os arts 71 e 74 da Lei 3.807, de 26 de
agosto de 1960 com as alterações determinadas pelo art. 34 da Lei 4.863, de 29 de novembro de 1965,
143
Raquel de Andrade Vieira Alves
Como bem destaca Luís Eduardo Schoueri, vê-se a partir daí que nem mes-
mo em 1º de janeiro de 1967, data em que o Código Tributário entrou em vigor,
o sistema tributário nacional limitou-se às taxas, aos impostos e às contribui-
ções de melhoria271.
Foi nesse contexto que as contribuições foram expressamente inseridas na
Constituição de 1967 (arts. 157, § 9º e 158, inciso XVI272). Mais tarde, com a
promulgação da Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, expan-
diu-se as possibilidades de instituição de contribuições especiais para além das
previdenciárias e de intervenção no domínio econômico, sendo o texto consti-
tucional que até então mais havia feito referência a tais exações.
A partir de então, com a inserção das contribuições em capítulo específico
acerca do Sistema Tributário Nacional na Constituição, através da EC nº 01/69,
reconheceu-se a sua natureza tributária e a sua autonomia como espécie tribu-
tária diversa dos impostos e das taxas, adotando-se a teoria tripartite de Rubens
Gomes de Sousa, que até aquele momento era minoritária.
Com a Emenda Constitucional nº 8, de 14 de abril de 1977, alargou-se a previ-
são da competência da União para instituição de contribuições, de modo que esta
passou a poder instituir não apenas contribuições previdenciárias e de intervenção
que integram a contribuição da União para a previdência social, de que trata o art. 157, item XVI,
da Constituição Federal; (Incluído pelo Decreto-lei nº 27, de 1966) (Vide Ato Complementar nº
27, de 1966)
III - da contribuição destinada a constituir o "Fundo de Assistência" e "Previdência do Trabalhador
Rural", de que trata o art. 158 da Lei 4.214, de 2 de março de 1963; (Incluído pelo Decreto-lei nº
27, de 1966)
IV - da contribuição destinada ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, criada pelo art. 2º da Lei
5.107, de 13 de setembro de 1966; (Incluído pelo Decreto-lei nº 27, de 1966)
V - das contribuições enumeradas no § 2º do art. 34 da Lei 4.863, de 29 de novembro de 1965, com as
alterações decorrentes do disposto nos arts 22 e 23 da Lei 5.107, de 13 de setembro de 1966, e outras
de fins sociais criadas por lei. (Incluído pelo Decreto-lei nº 27, de 1966)”
271 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012. Cap. IV. 1.4.2.
272 “Art 157 - A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos seguintes princípios:
[...]
§ 9º - Para atender à intervenção no domínio econômico, de que trata o parágrafo anterior, poderá a
União instituir contribuições destinadas ao custeio dos respectivos serviços e encargos, na forma que
a lei estabelecer.
Art 158 - A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos
termos da lei, visem à melhoria, de sua condição social:
[...]
XVI - previdência social, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, para
seguro-desemprego, proteção da maternidade e, nos casos de doença, velhice, invalidez e morte;”
144
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
273 “[...] As contribuições parafiscais são tributarias e, portanto, sujeitas ao art. 108, IV, do Código
Tributário Nacional”. BRASIL. STF. Primeira Turma. RE nº 78.291. Ministro Relator Aliomar
Baleeiro. Julgado em 04.06.74. DJ de 15.10.74.
274 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 86.595. Ministro Relator Xavier de Albuquerque. Julgado em
07.05.78. DJ de 30.06.78.
275 FERNANDES, Simone Lemos. Op. Cit. p. 166.
145
Raquel de Andrade Vieira Alves
276 “Art. 144. O direito de receber ou cobrar as importâncias que lhes sejam devidas, prescreverá, para as
instituições de previdência social, em trinta anos.”
146
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
277 “Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
I - impostos;
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços
públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.”
278 GRECO, Marco Aurélio. Op. Cit. p.79-81.
279 ROCHA, Valdir de Oliveira. “Contribuições Sociais”. In: MARTINS, Ives Gandra (coord.). Caderno
de Pesquisas Tributárias. Contribuições Sociais. São Paulo: Resenha Tributária, v. 17, 1992. p. 302.
147
Raquel de Andrade Vieira Alves
280 BARRETO, Paulo Ayres. Contribuições: regime jurídico, destinação e controle. São Paulo: Noeses,
2011. p. 90-91.
281 GRECO, Marco Aurélio. Op. Cit. p. 69.
282 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. “As Classificações no Sistema Tributário Brasileiro”. In: Justiça
Tributária – I Congresso Internacional de Direito Tributário. São Paulo: Max Limonad, 1998. p. 145.
283 BARRETO, Paulo Ayres. Op. Cit. p. 90.
148
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Por fim, como atenta Paulo Ayres Barreto285, é preciso considerar as alte-
rações constitucionais posteriores engendradas pelo legislador reformador por
intermédio da EC nº 03/93, que expressamente identificam as contribuições
como espécies do gênero tributo (art. 150, §§ 6º e 7º286).
Entretanto, o reconhecimento da natureza jurídica de tributo das contribui-
ções não significa que elas possuem o mesmo regime jurídico das demais espé-
cies, já que há inclusive impostos que, embora pertencentes à mesma categoria,
se submetem a regimes jurídicos diversos.
Nem por isso a definição das contribuições como espécies tributárias deixa
de ser relevante, pois, tal como reconhece Humberto Ávila, apesar de cada
espécie tributária ter seu regime jurídico-constitucional, de tal modo que umas
sujeitam-se ao princípio da anterioridade geral, outras à noventena; umas são
instituídas por lei ordinária; outras por lei complementar, e assim por diante, a
284 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 146.733. Ministro Relator Moreira Alves. Julgado em 29.06.92.
DJ de 06.11.92.
285 BARRETO, Paulo Ayres. Op. Cit. p. 92.
286 “Art. 150 § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito
presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido
mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima
enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º,
XII, g. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo
pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada
a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)”
149
Raquel de Andrade Vieira Alves
150
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
289 Ibid.
290 “Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva
obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la:
I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei;
II - a destinação legal do produto da sua arrecadação.
Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.”
291 SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. Cit. Cap. IV. 1.4.1.
151
Raquel de Andrade Vieira Alves
152
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
ardo Soares de Melo, Ives Gandra Martins, Paulo Ayres Barreto, Luís Eduardo
Schoueri, Hugo de Brito Machado, Eurico M. Diniz de Santi, dentre outros.
Boa parte desses autores vê a destinação e a previsão de restituição como cri-
térios que atuam ao lado da vinculação da materialidade inserta no antecedente
da norma tributária a uma atuação estatal, através de uma relação de coordena-
ção. Assim, por exemplo, Eurico M. Diniz de Santi defende a conjugação do que
denomina de critérios intrínsecos à hipótese legal de cobrança da exação, em que
o critério que informa a classificação compõe a própria definição do objeto classi-
ficado (vinculação ou não à atividade estatal), com critérios extrínsecos, em que
o critério diferenciador é externo à coisa (destinação legal e restituibilidade)295.
Paulo Ayres Barreto, entretanto, baseado em parecer inédito elaborado por
Aires Barreto, propõe que esses mesmos critérios sejam utilizados a partir de uma
relação de subordinação, de tal forma que destinado/não-destinado e restituível/
não-restituível não formem classes de mesmo nível com vinculado/não-vinculado,
representando esta última a classe superior dos critérios classificatórios296.
Dessa forma, a subordinação do critério destinação ao critério vinculação
levaria à distinção entre impostos, taxas e contribuições e, dentre estas últi-
mas, à identificação das contribuições de melhoria. Já para a identificação dos
empréstimos compulsórios seria necessário considerar o critério restituição de
forma sucessiva, de modo a permitir que a somatória das classes subordinadas
represente a classe superior297.298
153
Raquel de Andrade Vieira Alves
299 MELO, José Eduardo Soares de. “As Contribuições no Sistema Tributário Brasileiro”. In: MACHADO,
Hugo de Brito (coord.). As Contribuições no Sistema Tributário Brasileiro. São Paulo: Dialética/
Fortaleza: Instituto Cearense de Estudos Tributários – ICET, 2003. p. 357.
154
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
155
Raquel de Andrade Vieira Alves
303 Ibid.
304 É o caso de Humberto Ávila, por exemplo, que, apesar de reconhecer que a União deve observar uma
série de limitações para a instituição de contribuições, entende que o desvio do produto da arrecadação
não diz respeito à validade do tributo, mas ao correto cumprimento de normas administrativas e
financeiras. De acordo com o autor, se houver desvio, ainda que parcial, não há comprometimento
com a validade do tributo, mas responsabilidade por má gestão de recursos. ÁVILA, Humberto.
Sistema Constitucional Tributário. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 272.
305 SPAGNOL, Werther Botelho. Da Tributação e sua Destinação. Belo Horizonte: Del Rey, 1994. p. 89.
306 In: BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. 7ª Edição Atualizado por
Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 598-599.
307 BARRETO, Paulo Ayres. Op. Cit. p. 168.
156
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
308 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 2925/DF. Ministra Relatora Ellen Gracie. Julgada em 19.12.04.
DJ de 04.03.05.
309 “A destinação da arrecadação integra a norma tributária impositiva de uma contribuição, exceto
se a desvinculação com relação ao fim originalmente previsto provém da própria Constituição
Federal.” (BRASIL. STF. Segunda Turma. RE nº 537.610/RS. Ministro Relator Cezar Peluso. Julgado
em 01.12.09. DJ de 18.12.09). No mesmo sentido: BRASIL. STF. Primeira Turma. AgRg no RE nº
805.477/ES. Ministro Relator Roberto Barroso. Julgado em 07.10.14. DJ de 30.10.14.
157
Raquel de Andrade Vieira Alves
158
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
159
Raquel de Andrade Vieira Alves
como é o caso das contribuições para a seguridade social, e outras não, como é
o caso das contribuições de intervenção no domínio econômico.
O art. 149310 da Constituição faz menção a três espécies de contribuições que
podem ser instituídas pela União: as sociais; as de intervenção no domínio econô-
mico; e as de interesse das categorias profissionais ou econômicas. O §1º do referido
dispositivo311, a seu turno, permite aos Estados, Distrito Federal e Municípios a ins-
tituição de contribuições para o custeio do regime previdenciário de seus servidores.
Sob a rubrica “contribuições sociais” a Constituição de 1988 previu a ins-
tituição de algumas exações para atuação em campos específicos inseridos na
Ordem Social, são eles: a seguridade social (art. 195), o seguro-desemprego (art.
239) e a educação (art. 212, § 5º). Para cada área dessas há uma contribuição
específica prevista pelo legislador constitucional, mas que integra o gênero das
contribuições sociais.
Por ocasião da promulgação da Emenda Constitucional nº 39, de 19 de dezem-
bro de 2002, foi inserido ainda o art. 149-A na Constituição, que outorga aos Mu-
nicípios e ao Distrito Federal competência para instituição de contribuição para o
custeio do serviço de iluminação pública, como uma tentativa de suprir as perdas
arrecadatórias dos Municípios com as declarações de inconstitucionalidade das
taxas de iluminação pública pelos Tribunais de Justiça dos Estados.
O STF, por sua vez, no julgamento paradigmático do RE nº 138.284312, nos
termos do voto do Ministro Relator Carlos Velloso, apresentou uma proposta
de classificação das espécies tributárias que contemplou os diferentes tipos de
contribuições e que, desde então, tem sido tomada como base por boa parte da
doutrina. Nos termos do voto Relator:
310 “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no
domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de
sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo
do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.”
311 “§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus
servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja
alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)”
312 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 138.284/CE. Ministro Relator Carlos Velloso. Julgada em
01.07.92. DJ de 28.08.92.
160
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
seguintes: a) os impostos (CF, art. 145, I, arts. 153, 154, 155 e 156); b) as
taxas (CF, art. 145, II); c) as contribuições, que podem ser assim classifi-
cadas: c.1. de melhoria (CF, art. 145, III); c.2. parafiscais (CF, art. 149),
que são: c.2.1. sociais, c.2.1.1.de seguridade social (CF, art. 195, I, II, III),
c.2.1.2. outras de seguridade social (CF, art. 195, parágrafo 4°), c.2.1.3.
sociais gerais (o FGTS, o salário-educação, CF, art. 212, parágrafo 5°,
contribuições para o SESI, SENAI, SENAC, CF, art. 240); c.3. espe-
ciais: c.3.1. de intervenção no domínio econômico (CF, art. 149) e c.3.2.
corporativas (CF, art. 149). Constituem, ainda, espécie tributária, d) os
empréstimos compulsórios (CF, art. 148).
É possível concluir, assim, que as contribuições que podem ser instituídas pela
União – e que, em razão disso, interessam ao presente estudo – se dividem em: a)
sociais, que podem ser para custear a a.1) seguridade social (previdência, assistên-
cia e saúde) – originárias ou residuais – ou podem ser a.2) destinadas a finalidades
sociais gerais; b) de intervenção no domínio econômico; e c) corporativas, assim
entendidas como as de interesse das categorias profissionais ou econômicas.
Em relação às contribuições sociais, a Constituição outorgou competência
à União para sua instituição, mas só definiu expressamente as materialidades
das contribuições destinadas à seguridade social; para as contribuições sociais
gerais não há norma constitucional definindo suas bases de cálculo. Além dis-
so, o constituinte previu a possibilidade de instituição de outras contribuições
destinadas ao custeio da seguridade social, desde que respeitado o art. 154, I.
À vista disso, surgiram algumas questões na doutrina e na jurisprudência,
que basicamente se resumem a saber: 1) se, além das contribuições sociais pre-
vistas pelos arts. 195 (contribuições para a seguridade social), 212, § 5º (salário-
-educação), 239 (PIS) e 240 (contribuição sindical), a União poderia instituir
outras espécies de contribuições para o custeio da Ordem Social; 2) em caso
afirmativo, se essas contribuições poderiam ter base de cálculo própria dos im-
postos discriminados na Constituição; e 3) se, no caso das contribuições para a
seguridade social, criadas com base na competência residual outorgada pelo §4º
do art. 195, seria necessária a observância de todos os requisitos do art. 154, I313
ou apenas da necessidade de instituição por lei complementar.
161
Raquel de Andrade Vieira Alves
162
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
163
Raquel de Andrade Vieira Alves
318 Nesse sentido, vide: BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 2556/DF. Ministro Relator Joaquim Barbosa.
Julgada em 13.06.12. DJ de 20.09.12 e BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 2568/DF. Ministro Relator
Joaquim Barbosa. Julgada em 13.06.12. DJ de 20.09.12.
319 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 228.321/RJ. Ministro Relator Carlos Velloso. Julgado em
01.10.98. DJ de 30.05.03.
164
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
320 SOUZA, Hamilton Dias de; JUNIOR, Tércio Sampaio Ferraz. PESQUISAS TRIBUTÁRIAS – Nova
Série 8. São Paulo: Revista dos Tribunais – Centro de Extensão Universitária, 2002. p. 58-106.
321 GRECO, Marco Aurélio. Op. Cit. p. 236.
322 SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. “Perfil constitucional das contribuições de intervenção no
domínio econômico”. In: GRECO, Marco Aurélio (Coord.). Contribuições de intervenção no
domínio econômico e figuras afins. São Paulo: Dialética, 2001. p. 116.
165
Raquel de Andrade Vieira Alves
323 MANEIRA, Eduardo. “Condecine - Aspectos gerais”. In: Priscila da Souza. (Org.). Sistema Tributário
Nacional e a Estabilidade da Federação Brasileira. 1ª ed. São Paulo: Editora Noeses, 2012, p. 297-313.
324 OLIVEIRA, Ricardo Mariz. “Contribuições de intervenção no domínio econômico – Concessionárias,
permissionárias e autorizadas de energia elétrica – ‘Aplicação’ obrigatória de recursos (Lei n. 9.991)”.
In: GRECO, Marco Aurélio (Coord.). Contribuições de intervenção no domínio econômico e figuras
afins. São Paulo: Dialética, 2001. p. 379-380.
325 SOUZA, Hamilton Dias de; JUNIOR, Tércio Sampaio Ferraz. Op. Cit.
326 BARRETO, Paulo Ayres. Op. Cit. p. 111.
327 GAMA, Tácio Ferraz Lacerda. “Contribuição ao FUST e artigo 149 da Constituição da República”.
In: SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Tributação e processo. IV Congresso Nacional de Estudos
Tributários, realizado de 12/14 de dezembro de 2007. São Paulo: Noeses, 2007. p. 584.
166
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Outra questão que merece destaque diz respeito ao sujeito passivo da Cide.
Seguindo a lógica das contribuições no sistema constitucional brasileiro, pode-
-se afirmar que o sujeito passivo deve pertencer ao grupo afetado pela atividade
estatal. Aqui, se utiliza o termo “afetado” propositalmente, pois ao mencionar
“beneficiado” se poderia induzir à conclusão de que necessariamente deveria
haver algum benefício coletivo ao grupo contribuinte.
Entretanto, nem sempre o produto da arrecadação da Cide produzirá neces-
sariamente um benefício ao grupo atingido. A ideia aqui está ligada mais à res-
ponsabilidade maior de determinado grupo em relação à finalidade pretendida
com o tributo do que propriamente com a existência de um benefício direto.
Nesse sentido, o STF, ao analisar a contribuição ao Serviço Brasileiro de
Apoio à Micro e Pequena Empresa – SEBRAE, após consolidar o entendimento
de que se trata, na verdade, de uma contribuição interventiva, decidiu que “a su-
328 SOUZA, Hamilton Dias de; JUNIOR, Tércio Sampaio Ferraz. Op. Cit.
167
Raquel de Andrade Vieira Alves
jeição passiva deve ser atribuída aos agentes que atuem no segmento econômico
alcançado pela intervenção estatal”, vide como exemplo o RE nº 595.670 AgR329.
Luís Eduardo Schoueri, utilizando a classificação cunhada pela jurisprudên-
cia constitucional alemã para identificação dos requisitos cumulativos que au-
torizam a criação de contribuições especiais naquele país – equivalentes à Cides
no Brasil –, se refere à necessidade: i) de um grupo homogêneo, claramente
destacável da coletividade, em virtude de uma situação de interesse comum
ou por características comuns; ii) de uma conexão material entre o círculo de
contribuintes e a finalidade buscada com o tributo, de forma que o grupo tri-
butado esteja mais próximo da finalidade buscada pela contribuição do que a
coletividade ou do que outro grupo (responsabilidade do grupo); e iii) de que a
renda gerada com a contribuição seja aplicada em algo útil para o grupo, o que
não significa que cada membro do grupo deve ter uma vantagem, mas que o
grupo deve fruir com os gastos.330
Douglas Yamashita, por sua vez, ao reproduzir os parâmetros adotados pela
jurisprudência alemã adiciona aos acima descritos o requisito da legitimação
temporal, igualmente indispensável para a validação constitucional de uma
contribuição interventiva no ordenamento jurídico brasileiro. Isso porque, é
da própria natureza da exação que a sua incidência ocorra apenas enquanto a
causa eficiente de sua instituição perdure do tempo, não mais do que isso. Por
isso, o tempo de duração de uma Cide deve se limitar ao período de duração da
razão interventiva que legitima a sua criação. Cessado o motivo da intervenção,
a contribuição deve ser extinta331.
Em relação à possibilidade de instituição de Cides que tenham base de cál-
culo ou fato gerador próprio de outros impostos discriminados na Constituição
Federal, reportamo-nos ao já exposto em relação às contribuições para a seguri-
dade social de competência residual da União, no sentido de que não há óbice
constitucional para tanto. O que deve ser observado é o perfil jurídico da exa-
ção, que deve necessariamente abranger um grupo homogêneo; uma destinação
constitucional, observada tanto no plano normativo, quanto no plano fático;
329 BRASIL. STF. Primeira Turma. RE nº 595.670 AgR. Ministro Relator Roberto Barroso. Julgado em
27.05.14. DJ de 20.06.14.
330 SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. Cit. Cap. IV. 8.2.1.
331 YAMASHITA, Douglas. “Princípio da Solidariedade em Direito Tributário.” In: Op. Cit. p. 67.
168
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
169
Raquel de Andrade Vieira Alves
333 “[…] por não haver necessidade, para a instituição da contribuição social destinada ao financiamento
da seguridade social com base no inciso I do artigo 195 – já devidamente definida em suas linhas
estruturais na própria Constituição – da lei complementar tributária de normas gerais, não será
necessária, por via de conseqüência, que essa instituição se faça por lei complementar que supriria
aquela, se indispensável.”
BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 146.733/SP. Ministro Relator Moreira Alves. Julgado em
29.06.92. DJ de 06.11.92.
334 Vide: MANEIRA, Eduardo. Op. Cit; MARTINS, Natanael. “As Contribuições ao FUST e ao
FUNTTEL”. In: GRECO, Marco Aurélio. (Coord.). Contribuições de Intervenção no Domínio
Econômico e Figuras Afins. São Paulo: Dialética, 2001. p. 353.
335 Vide: GAMA, Tácio Lacerda. “Sobre os papéis da lei complementar no regime jurídico das
contribuições interventivas”. Revista de Direito Tributário, São Paulo, v. 99, 2007, p. 95-102.
336 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 177.137/RS. Ministro Relator Carlos Velloso. Julgado em
24.05.95. DJ de 18.04.97. No mesmo sentido: BRASIL. STF. Tribunal Pleno. AgRg no RE nº 173.065/
RS. Ministro Relator Maurício Corrêa. Julgado em 30.05.95. DJ de 15.09.95.
170
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
337 Humberto Ávila, nesse ponto, interpreta a referência do art. 149 da Constituição ao art. 146, III, como
uma alusão expressa à necessidade de lei complementar para definição dos elementos essenciais de
quaisquer tributos, inclusive, contribuições. Segundo o autor, quando a Constituição estabelece a
exigência de lei complementar apenas para os impostos o faz de forma clara, como ocorre no caso da
alínea “a” do referido dispositivo, ao prever que os fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes dos
impostos devem estar previstos em lei complementar. Nos demais casos em que o constituinte se refere a
“tributos”, como no caso da definição de suas espécies, ou em relação à obrigação, lançamento, crédito,
prescrição e decadência tributários, a lei complementar é exigida para tratar desses temas, tanto no caso
dos impostos, quanto no caso das contribuições. Vide: ÁVILA, Humberto. Op. Cit. p. 275.
338 SCHOUERI, Luís Eduardo. “Algumas considerações sobre a Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico no Sistema Constitucional Brasileiro. A Contribuição ao Programa
Universidade-Empresa”. In: GRECO, Marco Aurélio. (Coord.). Contribuições de Intervenção no
Domínio Econômico e Figuras Afins. São Paulo: Dialética, 2001. p. 366-367.
171
Capítulo 4 – O papel das contribuições
na centralização fiscal no Brasil
339 Brasil. Projeto de Lei do Congresso Nacional nº 7, de 2015. Aprovado em 17.12.15. Disponível em:
<http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/122922>
173
Raquel de Andrade Vieira Alves
340 “Art. 1o Fica instituído o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – Fust, tendo
por finalidade proporcionar recursos destinados a cobrir a parcela de custo exclusivamente atribuível
ao cumprimento das obrigações de universalização de serviços de telecomunicações, que não possa
ser recuperada com a exploração eficiente do serviço, nos termos do disposto no inciso II do art. 81 da
Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997.”
174
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
341 “Art. 2o Caberá ao Ministério das Comunicações formular as políticas, as diretrizes gerais e as prioridades
que orientarão as aplicações do Fust, bem como definir os programas, projetos e atividades financiados
com recursos do Fundo, nos termos do art. 5o desta Lei. (Vide Medida Provisória nº 51, de 2002)”
342 “Art. 50. O Fundo de Fiscalização das Telecomunicações - FISTEL, criado pela Lei n° 5.070, de 7 de
julho de 1966, passará à administração exclusiva da Agência, a partir da data de sua instalação, com
os saldos nele existentes, incluídas as receitas que sejam produto da cobrança a que se refere o art. 14
da Lei nº 9.295, de 19 de julho de 1996.”
175
Raquel de Andrade Vieira Alves
FUST, por força do art. 6º, II, da Lei nº 9.998/00343. Ou seja, cinqüenta por cen-
to do montante que integra o FISTEL e que deveria custear as suas atividades
(emissão do certificado de licença para funcionamento das estações de teleco-
municações e radiofreqüência e o acompanhamento anual do seu funciona-
mento) é encaminhado ao FUST, no que concerne à concessão de serviços de
comunicações, ordenação da exploração de serviços de comunicação e outorga
do direito de uso de radiofreqüência.
Ressalte-se ainda que, na época da edição da Lei Geral de Telecomunica-
ções - LGT, a telefonia fixa era a principal modalidade de serviço de telecomu-
nicações no Brasil e no mundo, sendo que a telefonia móvel ainda não possuía
a cobertura e o alcance de que dispõe hoje. Faziam todo sentido, portanto, os
esforços do Poder Público com vistas à expansão do serviço de telefonia fixa,
visando atingir o maior número de cidadãos possível. Tanto é assim que a LGT
(art. 64344) só estabeleceu a obrigação de universalização para os serviços de
telecomunicação prestados sob o regime público, ou seja, o chamado Serviço
Telefônico Fixo Comutado – STFC.
Daí a importância da criação do FUST pela Lei nº 9.998/00, cujos recursos,
compostos também por parcela do FISTEL, deveriam ser aplicados necessaria-
mente em uma das finalidades expressamente elencadas no Decreto Federal nº
3.624, de 05 de outubro de 2000 - regulamentador do diploma em comento - e
consequentemente afetas à universalização do serviço de telefonia fixa. Ocorre
que a Lei nº 9.998/00 foi ainda mais além e incluiu na meta de universalização,
além do serviço de telefonia fixa, a utilização das redes digitais de informação,
inclusive internet, e até mesmo o fornecimento de equipamentos terminais.
Além disso, a lei que instituiu o FUST, em conjunto com seu decreto regu-
lamentador, especificou quem seriam os beneficiários de seus recursos no caso
da universalização do acesso às redes digitais de informação e internet: escolas;
176
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
345 “Art. 1o É instituído o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – Funttel,
de natureza contábil, com o objetivo de estimular o processo de inovação tecnológica, incentivar a
capacitação de recursos humanos, fomentar a geração de empregos e promover o acesso de pequenas
e médias empresas a recursos de capital, de modo a ampliar a competitividade da indústria brasileira
de telecomunicações, nos termos do art. 77 da Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997.”
177
Raquel de Andrade Vieira Alves
346 SOUZA, Hamilton Dias de; JUNIOR, Tércio Sampaio Ferraz. Op. Cit.
347 GAMA, Tácio Lacerda. “Contribuição ao FUST e art. 149 da Constituição da República”. In: SANTI,
Eurico Marcos Diniz de. Classificação dos Tributos. Tributação e processo. IV Congresso Nacional de
Estudos Tributários, realizado de 12/14 de dezembro de 2007. São Paulo: Noeses, 2007. p. 591-593.
178
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
mas tem a sua prestação delegada aos particulares, mediante concessão, per-
missão ou autorização. Como não comungamos desse entendimento, pensamos
que, a princípio, não haveria problema na instituição de uma Cide sobre ativi-
dade delegada aos particulares. A questão principal que se pretende destacar
aqui em relação ao FUST e ao FUNTTEL é a incompatibilidade de suas bases
de cálculo em relação às finalidades para as quais essas contribuições foram
criadas, e a reiterada não aplicação de seus recursos por parte da União.
Em relação à primeira inconsistência apontada no presente estudo, é preciso
pontuar que a finalidade originária da contribuição ao FUST é a universaliza-
ção do serviço de telefonia fixa e das redes digitais de informação. Contudo,
todas as empresas prestadoras de serviços de telecomunicação devem contribuir
com 1% de sua receita operacional bruta para o FUST. Isso significa que, mesmo
empresas que prestam serviços de telefonia móvel – atividade não enquadrada
nos objetivos de universalização –, devem recolher a Cide aos cofres públicos,
não havendo, assim, uma correspondência lógica entre o grupo de contribuin-
tes e a finalidade da norma, indispensável à caracterização das contribuições.
Outra questão diretamente ligada à anterior, diz respeito à desproporciona-
lidade da base de cálculo escolhida pelo legislador. Grande parte das empresas
que atua no setor de telecomunicações exerce outras atividades inerentes ao
ramo, mas que não se relacionam com a finalidade do FUST, como é justa-
mente o caso da telefonia móvel. Algumas empresas prestadoras do STFC
são também prestadoras de serviço de telefonia móvel, de modo que a sua
receita operacional bruta engloba tanto os serviços de telefonia fixa como os
de telefonia móvel, mas a legislação que rege a contribuição ao FUST não faz
essa distinção. Desse modo, a base de cálculo da Cide dessas empresas acaba
sendo muito maior do que a que deveria ser adotada em função da finalidade
almejada pelo legislador. Exatamente por isso as contribuições ao FUST na
maioria das vezes envolvem valores extraordinários, já que 1% sobre toda a
receita operacional de uma empresa do ramo de Telecom, que atua nas duas
frentes, representa um montante considerável.
Ademais, a implantação de serviços de internet, mencionada como destina-
ção dos recursos do FUST pelo art. 5º, V, do Decreto Federal nº 3.624/00, não
se relaciona diretamente às empresas prestadoras de serviços de telecomunica-
ção, de forma que o grupo atingido em relação a essa destinação não guarda
correlação com os contribuintes da Cide. Tais questões foram bem destacadas
por Natanael Martins em artigo específico sobre o tema:
179
Raquel de Andrade Vieira Alves
348 MARTINS, Natanael. “As Contribuições ao FUST e ao FUNTTEL”. In: Op. Cit. p. 253-254.
180
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
181
Raquel de Andrade Vieira Alves
de modo que a previsão é de que esta última não vá gerar receitas suficientes
sequer para pagar os custos da atividade351.
Com isso, pode-se dizer que o serviço de telefonia fixa não tende a ex-
pandir-se, mas, ao contrário, com a expansão e o alcance da telefonia mó-
vel, a tendência é justamente a redução do serviço de telefonia fixa até a
sua completa inutilização. Daí porque não há cabimento em continuar se
falando em universalização do serviço de telefonia fixa e, consequentemen-
te, na manutenção de uma contribuição específica para esse fim. Aliás, é
preciso lembrar que uma das características específicas das contribuições de
intervenção no domínio econômico é justamente a temporalidade, tal como
destacado pela jurisprudência alemã 352, de modo que é da própria natureza
da exação que a sua incidência ocorra apenas enquanto a causa eficiente de
sua instituição perdure do tempo e, ao menos no caso do FUST, a causa de
sua instituição já não existe mais.
A situação é tão evidente que, para se concluir pela inexistência de apli-
cação dos recursos das Cides, basta olhar para o Projeto de Lei Orçamentária
Anual de 2016353, por exemplo, mais especificamente para o Anexo I, Inciso V,
1º Volume de Anexos do Projeto, Quadro 5, que contém as despesas dos Orça-
mentos Fiscal e da Seguridade Social por Poder, Órgão, Unidade Orçamentá-
ria, Fontes de Recursos e Grupos de Natureza de Despesa. A fim de facilitar a
compreensão do tema, colacionamos parte do Quadro 5, referente às despesas
da ANATEL, em que é possível verificar a ausência quase que total de aplica-
ção dos recursos do FUST e do FUNTTEL:
182
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
183
Raquel de Andrade Vieira Alves
É importante destacar que isso não é um fato isolado, mas vem acontecendo
todos os anos desde a instituição do FUST e do FUNTTEL. Tal fato é com-
provado pelas respostas do Presidente da ANATEL e do Secretário Executivo
Adjunto do Conselho Gestor do FUNTTEL ao Requerimento de Informação
nº 4.480/14, de autoria da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e
Informática da Câmara dos Deputados354, transmitidas pelo Ministro de Esta-
do das Comunicações, em dezembro de 2014 (ANEXO C – parte do ofício nº
19890/2014/SEI-MC).
Como é possível verificar pelo despacho do Secretário Executivo Adjun-
to do Conselho Gestor do FUNTTEL, no período de 2011 a 2014, o ano em
que se obteve o maior percentual de aplicação dos recursos arrecadados foi o
ano de 2012, com 52,25% dos recursos do FUNTTEL aplicados em atividades
inerentes à sua finalidade. Confira-se a tabela abaixo, elaborada com base nas
informações contidas na resposta ao Requerimento de Informação nº 4.480/14:
TABELA 10
184
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
FUST em outras áreas, já que essa Cide foi criada especificamente para a uni-
versalização do serviço de telefonia fixa. Daí porque os Projetos de Lei nº 427 a
431, todos de 2014, em trâmite no Senado federal, com a finalidade de possibi-
litar a utilização dos recursos já arrecadados ao FUST para impulsionar outras
atividades, como a expansão da banda larga, não têm o condão de validar a
exação atualmente existente, pois, como bem destaca Marco Aurélio Greco,
a modificação da finalidade de uma contribuição é o mesmo que a criação de
uma contribuição nova355.
Assim, a alteração da finalidade do FUST importaria na instituição de uma
nova contribuição, que tal como as demais deve respeitar o perfil jurídico dessa
espécie tributária, porém, de forma alguma, poderia servir para “constitucionali-
zar” a espécie já existente e legitimar o montante que foi arrecadado com o FUST
desde a sua instituição. Ademais, é preciso esclarecer que a obrigação de univer-
salização só existe atualmente para os serviços prestados mediante regime público
(art. 64 da LGT), de modo que tentativas de expansão da finalidade do FUST
para alcançar o serviço de acesso à internet em banda larga, por exemplo – como
é o caso dos Projetos de Lei citados em trâmite no Senado –, iria de encontro aos
ditames da Lei Geral de Telecomunicações, como está hoje redigida.
A fim de verificar a possibilidade de aplicação dos recursos do FUST nas
finalidades em questão, o Ministro das Comunicações, Miro Teixeira, por in-
termédio do Aviso nº 67/2003-MC, formulou Consulta ao Tribunal de Con-
tas da União, tendo o Acórdão nº 1107/2003-TCU deixado muito claro que
os recursos oriundos da arrecadação do FUST só podem ser aplicados nos fins
originários para os quais a contribuição foi criada, não sendo possível alterar tal
premissa nem mesmo por meio de alterações na Lei nº 9.998/2000356.
185
Raquel de Andrade Vieira Alves
de serviço de telecomunicações a ser prestado pelo menos em regime público; [...] G. não é possível a
imputação de metas adicionais de universalização às atuais concessionárias de STFC, pois o serviço objeto
da presente consulta não se enquadra na referida modalidade de STFC;” (BRASIL. Tribunal de Contas
da União. Plenário. Acórdão nº 1107/2003-TCU. Processo de Consulta nº TC 005.302/2003-9. Ministro
Relator Humberto Guimarães Souto. Sessão Ordinária de 13.08.03. Ata nº 21/03).
186
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
357 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Plenário. Acórdão nº 2148/05. Processo nº 010.889/2005-5.
Ministro Relator Ubiratan Aguiar. Sessão Ordinária de 07.12.05. Ata nº 45/05.
187
Raquel de Andrade Vieira Alves
188
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
189
Raquel de Andrade Vieira Alves
exações pela União não apenas contraria o perfil constitucional das contribui-
ções, como viola cláusula pétrea da Constituição.
360 FUNARO, Hugo; CARVALHO, Thúlio José Michilini Muniz de. “Reflexões sobre a Condecine”.
In: LIMA, Maurício Rodrigues de; RABELO Filho, Antonio Reinaldo; SILVA FILHO, Paulo Cesar
da; PINHEIRO, Vera Lígia Arenas (Coords.). Tributação dos serviços de Telecom e outros temas
correlatos. São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 244.
190
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
361 MANEIRA, Eduardo. “Condecine - Aspectos gerais”. In: Priscila da Souza. (Org.). Sistema Tributário
Nacional e a Estabilidade da Federação Brasileira. 1ª ed. São Paulo: Editora Noeses, 2012. p. 297-313.
191
Raquel de Andrade Vieira Alves
362 FUNARO, Hugo; CARVALHO, Thúlio José Michilini Muniz de. “Reflexões sobre a Condecine”. In:
Op. Cit. p. 255.
363 Vide: Portaria nº 590, de 02 de dezembro de 2013. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/
legislacao/rtac/pdf/RTAC002050.pdf> Acesso em 17.01.16.
192
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
193
Raquel de Andrade Vieira Alves
365 BRASIL. Justiça Federal. 4ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal. MS nº 1000562-
50.2016.4.01.3400. Juiz Itagiba Catta Preta Neto. Decisão Liminar proferida em 29.01.16.
366 Vide: <http://convergecom.com.br/teletime/22/02/2016/justica-mantem-liminar-que-suspende-a-
contribuicao-das-teles-a-condecine/?noticiario=TT&__akacao=2880323&__akcnt=100ee7e6&__
akvkey=c295&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=TELETIME+News+-
+22%2F02%2F2016+21%3A00> Acesso em 23.02.16.
194
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
367 EC nº 33/01
"Art. 149. ........................................
§ 1º...............................................
§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste
artigo:
[...]
II - poderão incidir sobre a importação de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e
álcool combustível;”
EC nº 42/03
“"Art. 149. ....................................
...................................
§ 2º .....................................
..................................
II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços;”
368 Súmula nº 660 do STF: “Não incide ICMS na importação de bens por pessoa física ou jurídica que
não seja contribuinte do imposto.”
369 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 439.796/PR. Ministro Relator Joaquim Barbosa. Julgado em
06.11.2013. DJ de 17.03.2014.
195
Raquel de Andrade Vieira Alves
370 <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/brasil-cria-uma-medida-protecionista-a-cada-17-dias-
diz-omc> Acesso em 20.01.16.
196
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
371 Proposta de Fiscalização e Controle nº 38, de 24 de junho de 2015. Disponível em: <http://www2.camara.
leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1515645> Acesso em 20.01.26. Processo autuado
no TCU como TC-033.793/2015-8, em dezembro de 2015.
197
Raquel de Andrade Vieira Alves
372 “Art. 2o Para fins de atendimento ao Programa de que trata o artigo anterior, fica instituída contribuição
de intervenção no domínio econômico, devida pela pessoa jurídica detentora de licença de uso ou
adquirente de conhecimentos tecnológicos, bem como aquela signatária de contratos que impliquem
transferência de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior.
§ 1o Consideram-se, para fins desta Lei, contratos de transferência de tecnologia os relativos
à exploração de patentes ou de uso de marcas e os de fornecimento de tecnologia e prestação de
assistência técnica.
§ 2o A contribuição incidirá sobre os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a
cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrente das obrigações
indicadas no caput deste artigo.”
373 C.f. parágrafo 3º, na redação original da Lei nº 10.168/00: § 3o A alíquota da contribuição será de dez
por cento.
374 As Medidas Provisórias 2.062-61 e 2.062-62, respectivamente, de dezembro de 2000 e janeiro de
2001, reproduziram na íntegra o art. 3º, §§ 1º e 2º da MP 2.062-60.
198
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
Frise-se que essa Medida Provisória nº 2.062-63 foi reeditada diversas vezes
com essa mesma redação até a Medida Provisória nº 2.159-70, de 24 de agosto
de 2001, sua última reedição, que permanece em vigor até hoje, já que não
ocorreu a sua revogação expressa por outra MP e nem houve deliberação defi-
nitiva sobre o seu texto pelo Congresso Nacional, nos termos da EC nº 32/01375.
Ademais, observe-se que a base de cálculo do imposto de renda retido na fonte,
de acordo com essa MP, é mais ampla do que a base de cálculo da Cide-Royal-
ties trazida pela Lei nº 10.168/00, eis que abrange também serviços técnicos e de
assistência administrativa, bem como os royalties de qualquer natureza.
Aproveitando o ensejo, o Governo Federal houve por bem alargar também a
base de incidência da Cide-Royalties, para incluir os contratos que tenham por
objeto serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes, a serem
prestados por residentes ou domiciliados no exterior, bem como o pagamento
de royalties a qualquer título, mesmo que não envolvam transferência de tecno-
logia, nos termos da Lei nº 10.332, de 19 de dezembro de 2001, que alterou os
dispositivos da Lei nº 10.168/00376.
Ou seja, a contribuição que inicialmente tinha incidência limitada aos ne-
gócios que envolvessem um conteúdo tecnológico e pelos quais ocorresse a
transferência de tecnologia, passou a abranger também serviços técnicos e de
375 Art. 2º As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta emenda continuam
em vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva
do Congresso Nacional.
376 “Art. 6o O art. 2o da Lei no 10.168, de 2000, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 2o .............................................................
.....................................................................
§ 2o A partir de 1o de janeiro de 2002, a contribuição de que trata o caput deste artigo passa a ser devida
também pelas pessoas jurídicas signatárias de contratos que tenham por objeto serviços técnicos
e de assistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no
exterior, bem assim pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou
remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior.
§ 3o A contribuição incidirá sobre os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a
cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrente das obrigações
indicadas no caput e no § 2o deste artigo.
§ 4o A alíquota da contribuição será de 10% (dez por cento).
§ 5o O pagamento da contribuição será efetuado até o último dia útil da quinzena subseqüente ao mês
de ocorrência do fato gerador." (NR)
Art. 7o A Lei no 10.168, de 2000, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 2o-A:
Art. 2o-A. Fica reduzida para 15% (quinze por cento), a partir de 1o de janeiro de 2002, a alíquota do
imposto de renda na fonte incidente sobre as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou
remetidas ao exterior a título de remuneração de serviços de assistência administrativa e semelhantes."
199
Raquel de Andrade Vieira Alves
377 “Art. 2º. § 1o-A. A contribuição de que trata este artigo não incide sobre a remuneração pela licença
de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando
envolverem a transferência da correspondente tecnologia. (Incluído pela Lei nº 11.452, de 2007)”
378 A título de exemplo, vide Solução COSIT RFB nº 97, de 3 de abril de 2014: “EMENTA: PAGAMENTO
A MANDATÁRIO NO EXTERIOR. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA
ADMINISTRATIVA E SEMELHANTES, OU PRESTAÇÃO DE CONSULTORIA. INCIDÊNCIA.
Estão sujeitos ao pagamento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - CIDE, a partir
de 1.º de janeiro de 2002, os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos a beneficiário
residente ou domiciliado no exterior a título de serviços de assistência administrativa e semelhantes, e
consultoria administrativa. DISPOSITIVOS LEGAIS: Lei n.º10.168, de 2000, e alterações posteriores,
art. 2. º e §§ 1.º e 2.º; Decreto n.º 4.195, de 2002, art. 10; IN RFB n.º 1.455, de 2014, art. 17, II, “a”.”
379 “11.1. No contrato de know how, uma das partes acorda transmitir à outra uma parte de seus
conhecimentos especializados, não revelados ao público, de maneira que esta última possa utilizá-los
por sua conta. Reconhece-se que o cedente não está obrigado a intervir no uso que o cessionário fará
das fórmulas cedidas, bem como não se obriga a garantir o respectivo resultado.
200
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
qual: “os lucros de uma empresa de um Estado Contratante só são tributáveis nesse
Estado, a não ser que a empresa exerça sua atividade no outro Estado Contratante
por meio de um estabelecimento permanente aí situado” 380. 381
Já os pagamentos a título de royalties estão enquadrados no próprio art.
12 da Convenção-Modelo da OCDE, que, embora determine a sua tributação
somente no Estado da Residência, tem sido modificado nos tratados assinados
pelo Brasil, em comum acordo entre os países contratantes, a fim de permitir a
tributação também pelo Estado da Fonte, desde que limitada a um percentual,
em regra, de 15% (com exceção do Japão, cuja limitação é de 10%).
Dessa forma, com a finalidade de garantir a arrecadação federal no patamar
dos 25% que originalmente incidiam sobre as remessas de pagamentos ao exterior,
a título de imposto de renda retido na fonte, a União instituiu a malsinada Cide-
-Royalties, à alíquota de 10%, bem como alargou a sua base de cálculo para além
dos negócios de conteúdo exclusivamente tecnológico, de modo a fazê-la incidir
curiosamente sobre a mesma base de cálculo do imposto de renda retido na fonte.
Coincidentemente, reduziu a alíquota do imposto de renda retido na fon-
te incidente sobre esses pagamentos, ao patamar de 15%, parecendo, assim,
cumprir fielmente as disposições constantes nos tratados contra bitributação
celebrados com outros países.
11.2. Este contrato difere, portanto, dos contratos de prestação de serviços, nos quais uma das partes se
compromete a utilizar as capacidades técnicas inerentes à sua atividade na execução de trabalhos para
a outra parte. Os pagamentos efetuados em virtude desses contratos são regulados geralmente pelo
artigo 7”. (Tradução livre)
Versão original: “11.1 In the know-how contract, one of the parties agrees to impart to the other, so that
he can use them for his own account, his special knowledge and experience which remain unrevealed to
the public. It is recognised that the grantor is not required to play any part himself in the application of the
formulas granted to the licensee and that he does not guarantee the result thereof.
11.2 This type of contract thus differs from contracts for the provision of services, in which one of the parties
undertakes to use the customary skills of his calling to execute work himself for the other party. Payments
made under the latter contracts generally fall under Article 7.” OECD. Model Tax Convention on Income
and on Capital: Condensed Version, 2014. p. 231.
380 Tradução livre. Versão original: “Profits of an enterprise of a Contracting State shall be taxable only in
that State unless the enterprise carries on business in the other Contracting State through a permanent
establishment situated therein.” OECD. Model Tax Convention on Income and on Capital: Condensed
Version, 2014. p. 28.
381 Para um aprofundamento sobre o tema, vide: XAVIER, Alberto. “O Imposto de Renda na Fonte e
os Serviços Internacionais - Análise de um Caso de Equivocada Interpretação dos arts. 7º e 21 dos
Tratados”. Revista Dialética de Direito Tributário, nº 49. Editora Dialética. São Paulo: out/1999.
201
Raquel de Andrade Vieira Alves
382 “Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas
comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
[...]
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e fomento à inovação realizadas por
universidades e/ou por instituições de educação profissional e tecnológica poderão receber apoio
financeiro do Poder Público. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)”
383 “Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.”
202
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
sua finalidade está relacionada com os objetivos da Ordem Social, previstos nos
dispositivos contidos no Capítulo III, do Título VIII, da Constituição Federal.
Além disso, a Cide-Royalties guarda uma peculiaridade em relação às demais
espécies de contribuições, pois ela envolve ao mesmo tempo, em suas finalidades,
as universidades e centros de pesquisa e os importadores de tecnologia, de modo
que não reflete o interesse de um grupo bem definido. Ou seja, ela não se rela-
ciona com determinado ramo econômico ou determinado setor do mercado, não
sendo possível a identificação de um grupo homogêneo a que a mesma se refira.
Esses dois pontos que demonstram a fragilidade da classificação das Cides-
-Royalties como contribuições de intervenção no domínio econômico foram
bem identificados por Hamilton Dias de Souza e Tércio Ferraz Sampaio Júnior:
203
Raquel de Andrade Vieira Alves
Some-se a isso o fato de que, para se afirmar que a contribuição dita inter-
ventiva tem a finalidade de incentivar o desenvolvimento tecnológico brasi-
leiro, ela deveria incidir justamente sobre o detentor da tecnologia, no caso da
Cide-Royalties, o residente no exterior, não só pela coerência entre a finalidade
e a parte onerada (referibilidade de grupo), como pelo próprio Princípio da Ca-
pacidade Contributiva, eis que, o recebimento dos pagamentos é que constitui
o signo presuntivo de riqueza que exterioriza a possibilidade de contribuir com
o estímulo ao desenvolvimento tecnológico.
Não obstante, o art. 2º da Lei nº 10.168/00 determina que os sujeitos passi-
vos da Cide-Royalties são as pessoas jurídicas que celebrarem, com residentes ou
domiciliados no exterior, contratos de fornecimento de tecnologia, prestação de
serviços técnicos e administrativos, cessão de licença de uso de marcas e explo-
ração de patentes e as que pagarem royalties a qualquer título a beneficiários ou
residentes domiciliados no exterior.
Vê-se, assim, que o referido dispositivo instituiu uma hipótese de responsabi-
lidade tributária, por substituição, às pessoas jurídicas que efetuam os pagamen-
tos, nos termos do art. 121, II, do Código Tributário Nacional385, tendo em vista
que o contribuinte da Cide-Royalties é, na verdade, o titular dos recebimentos a
título de fornecimento de tecnologia, prestação de serviços técnicos e adminis-
trativos, cessão de licença de uso de marcas e exploração de patentes e as que
pagarem royalties a qualquer título.
Essa é, pois, a única forma de se reputar válida a cobrança, do contrário, a
finalidade constitucional que a sustenta estaria em dissonância com o sujeito pas-
384 SOUZA, Hamilton Dias de; JUNIOR, Tércio Sampaio Ferraz. Op. Cit.
385 “Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou
penalidade pecuniária.
[...]
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição
expressa de lei.”
204
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
386 COELHO, Sacha Calmon Navarro e MOREIRA, André Mendes. “Inconstitucionalidades da Contribuição
de Intervenção no Domínio Econômico Incidente sobre Remessas ao Exterior – CIDE Royalties.” Revista
Dialética de Direito Tributário, nº 89. Editora Dialética. São Paulo: fev/2003. p. 71/84.
387 “Assim sendo, não há identidade de contribuintes no imposto de renda incidente na fonte sobre o
pagamento de royalties ao exterior e na Cide sobre os royalties. Enquanto no caso do imposto de
renda na fonte o contribuinte do imposto é o beneficiário dos rendimentos no exterior, no caso da
Cide o contribuinte do tributo é a pessoa jurídica brasileira que efetua os pagamentos dos royalties”.
BIANCO, João Francisco. “A Cide sobre Royalties e os Tratados Internacionais contra a Dupla
Tributação”. Grandes Questões Atuais de Direito Tributário. Valdir de Oliveira Rocha (Coord.). São
Paulo: Dialética, 2004.
205
Raquel de Andrade Vieira Alves
388 HIGUCHI, Hiromi e HIGUCHI, Celso Hiroyuki. Imposto de Renda das Empresas: Interpretação e
Prática. 39ª Ed. São Paulo: IR Publicações, 2014. 598.
206
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
ção interventiva fossem repassados aos Estados e Municípios, nos moldes do que
ocorre com o imposto de renda; e (ii) esquivar-se das regras dos tratados contra
dupla tributação da renda firmados pelo Brasil.
Não obstante os aspectos jurídicos das contribuições em geral e o regime
constitucional específico das contribuições interventivas que, como visto, não
podem ser instituídas em qualquer hipótese e só podem ser exigidas enquanto
permanecer a necessidade de intervenção, tem sido praxe atualmente o uso
indiscriminado dessa figura pela União como mero instrumento arrecadatório.
É esse tipo de atitude do Governo Federal, com vistas ao incremento da sua
arrecadação exclusiva, que acaba por desequilibrar a divisão constitucional de re-
ceitas tributárias, comprometendo a autonomia dos entes subnacionais. Isso não
só revela um comportamento incompatível com o Princípio da Conduta Amisto-
sa Federativa, como uma falta com o dever de boa-fé que deve pautar as relações
tributárias a nível internacional, conforme será melhor analisado adiante.
207
Raquel de Andrade Vieira Alves
universal. É o caso, por exemplo, da saúde, prevista no art. 196 como “direito
de todos e dever do Estado”, garantido o “acesso universal e igualitário às ações
e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”; da educação, tida pelo
art. 205 como “direito de todos e dever do Estado” e “promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade”; e da própria seguridade social como um todo,
que será financiada por toda a sociedade (art. 195), baseando-se na universali-
dade da cobertura e do atendimento.
Em razão disso, é difícil identificar nas espécies de contribuições atuais, vol-
tadas ao custeio da Ordem Social, a presença de um grupo homogêneo que não
se confunda com toda a sociedade, à exceção das contribuições destinadas à
previdência, em que, diante do caráter contributivo, é possível ainda delimitar
o grupo interessado. Isso se reflete na própria escolha da base de cálculo pelo
legislador, que muitas das vezes é incapaz de refletir uma relação de pertinência
lógica entre a destinação da exação e o grupo a que ela se refere.
Nesse cenário, o que se verifica é que a solidariedade de grupo que infor-
ma as contribuições acaba sendo tão ampliada, em razão da própria diretriz
constitucional de universalização dos direitos sociais, que se descaracteriza,
confundindo-se com a solidariedade genérica, informadora dos impostos389.
Daí porque, em relação às contribuições sociais no Brasil, faz-se necessário
concordar com a crítica de Fábio Zambitte Ibrahim, para quem “as con-
tribuições sociais, especialmente na realidade nacional, não mais possuem
atributos distintivos, especialmente no que diz respeito à individualização
do grupo beneficiado.” 390
De acordo com o modelo protetivo universal adotado pelo Constituinte de
1988, fica difícil identificar traços da existência de solidariedade de grupo nas
exações que compõem a base de seu custeio, já que não se pode destacar um gru-
po interessado de toda coletividade. Assim, o único elemento de distinção entre
as contribuições sociais e os impostos acaba sendo a destinação, o que tem levado
muitos autores a afirmar que elas seriam verdadeiros impostos afetados391.
389 RIBEIRO, Ricardo Lodi. “As Contribuições Parafiscais e a Validação Constitucional das Espécies
Tributárias”. Revista Dialética de Direito Tributário nº 174, março, 2010. p. 120.
390 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Op. Cit. p. 255.
391 “Em síntese, as contribuições sociais são impostos cuja destinação – servir de instrumento da
atuação da União na área social – justifica serem cobradas de toda a sociedade; apresentam regime
jurídico próprio, destacando-se aquelas destinadas à seguridade social, disciplinadas pelo artigo 195
da Constituição Federal.” SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. Cit. Cap. VI. 7.6. Considerando que
208
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
várias contribuições atuais não possuem mais fundamento na solidariedade de grupo, especialmente
a contribuição previdenciária sobre inativos, vide: TORRES, Ricardo Lobo. “Existe um Princípio
Estrutural da Solidariedade?” In: Solidariedade Social e Tributação. Marco Aurélio Greco, Marciano
Seabra de Godoi (Coords.). São Paulo: Dialética, 2005. p. 201-205.
392 GRECO, Marco Aurélio. Op. Cit. p. 242-243.
209
Raquel de Andrade Vieira Alves
Além disso, essa fluidez em relação aos elementos essenciais das contribui-
ções sociais propicia a ocorrência de desvios em relação ao produto da sua arre-
cadação, facilmente manipulável sob a justificativa de corresponder ao interesse
social coletivo. Os dois melhores exemplos de contribuições sociais que corres-
pondem bem à idéia de “impostos afetados”, cujo produto da arrecadação tem
sido flagrantemente desviado de suas finalidades originárias, são: o adicional de
10% ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS e a Contribuição Pro-
visória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos
de Natureza Financeira – CPMF, sendo que esta última embora não esteja em
vigor foi “ressuscitada” pelo projeto de lei orçamentária para o exercício de 2016,
aprovado pelo Congresso em dezembro de 2015.
393 <http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/barbosa-diz-que-cpmf-e-poupanca-para-pais-
atravessar-turbulencia.html> Acesso em 22.01.16.
394 SCHOUERI, Luís Eduardo. Op. Cit. Cap. VI. 7.6.
210
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
211
Raquel de Andrade Vieira Alves
212
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
396 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI’s nº 2.556/DF e 2.568/DF. Ministro Relator Joaquim Barbosa.
Julgadas em 13.06.12. DJ de 20.09.12.
397 “Ação direta de inconstitucionalidade. Impugnação de artigos e de expressões contidas na Lei
Complementar Federal nº 110, de 29 de junho de 2001. Pedido de liminar.
213
Raquel de Andrade Vieira Alves
- A natureza jurídica das duas exações criadas pela lei em causa, neste exame sumário, é a de que
são elas tributárias, caracterizando-se como contribuições sociais que se enquadram na sub-espécie
‘contribuições sociais gerais’ que se submetem à regência do artigo 149 da Constituição, e não à do
artigo 195 da Carta Magna.” BRASIL. STF. Tribunal Pleno. MC em ADI nº 2.556/DF. Ministro
Relator Moreira Alves. Julgada em 09.10.02. DJ de 08.08.03.
398 Ibid. p. 14.
214
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
215
Raquel de Andrade Vieira Alves
indústria naval, entre tantas outras), não sendo comum cogitar-se do período
de vigência desses tributos399.
Entretanto, em relação às contribuições sociais previstas pelo art. 1º da LC
nº 110/01, ocorre uma situação peculiar, pois elas foram criadas para cobrir
uma despesa específica da União: a recomposição, determinada pelo Supre-
mo Tribunal Federal, das contas vinculadas de FGTS atingidas pelos expurgos
inflacionários dos Planos “Verão” e “Collor I”, como foi possível perceber pela
leitura da Exposição de Motivos da referida lei complementar.
Ocorre que a Caixa Econômica Federal, responsável pela administração das
contas do FGTS, reconheceu que o débito referente à sua atualização monetá-
ria foi integralmente quitado no início do ano de 2012, de modo que os valores
arrecadados atualmente a título de contribuição adicional ao FGTS estão sendo
utilizados pela União para a realização do denominado superátiv primário, além
do custeio de outros programas sociais.
Tal fato se comprova pela análise das Demonstrações Contábeis do FGTS,
divulgadas anualmente pela Caixa Econômica Federal400, de forma que, em 2001
- ano da instituição da contribuição -, os valores das contas vinculadas ao Fundo
registraram um passivo relativo às complementações para fins de atualização mo-
netária, no valor de aproximadamente quarenta bilhões de reais, com uma con-
trapartida no mesmo valor na conta de ativo diferido, cuja liquidação seria pos-
tergada por quinze anos. Esse prazo de amortização do ativo diferido, contudo, foi
sendo reduzido gradativamente, de modo que, passados onze anos da instituição
do referido adicional de 10% sobre os depósitos do FGTS, findou-se o prazo para
amortização da dívida, restando integralmente quitados os débitos registrados em
2001, referentes aos créditos complementares da LC nº 110/01.
Foi com base nisso que a Caixa Econômica Federal emitiu, através do Ofício
nº 0038/2012/SUFUG/GEPAS, de fevereiro de 2012, um comunicado afirman-
do que a contribuição adicional do FGTS poderia ser extinta em julho daquele
ano, diante da previsão de quitação integral dos passivos oriundos dos expurgos
inflacionários da época. O respectivo ofício, bem como os Relatórios de Ava-
liação de Receitas e Despesas de 2012 e diversos outros documentos compro-
399 SANTIAGO, Igor Mauler. “Adicional do FGTS está extinto e dispensa revogação”. Revista Eletrônica
Consultor Jurídico. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-ago-21/consultor-tributario-
adicional-fgts-extinto-dispensa-revogacao2> Acesso em 24.01.16.
400 Disponíveis em: <http://www.fgts.gov.br/downloads.asp> Acesso em 24.01.16.
216
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
401 “Corresponde aos valores de despesa de atualização monetária de créditos complementares, conforme
previsto pela Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001, cuja amortização, com base em
estudos sobre o prazo de recebimento das contribuições sociais e com base na faculdade prevista na
lei, foi efetuada exponencialmente pelo prazo de 132 meses (Nota 12 (b)).
No exercício de 2012, foi amortizado por completo o saldo remanescente de 2011, no valor de R$
1.611.177 (2011 – R$ 3.375.155).
Conforme permitido pela Lei 11.941, de 27 de maio de 2009, o saldo remanescente do ativo diferido,
em 31 de dezembro de 2008, que não pôde ser alocado ao ativo imobilizado e intangível, permaneceu
no ativo sob essa classificação até sua completa amortização, porém sujeita à análise periódica de
sua recuperação.” (p.232). Disponível em <http://www.caixa.gov.br/Downloads/fgts-relatorio-gestao/
Relatorio_Gestao_FGTS_2012.pdf> Acesso em 24.01.16.
402 “(...) Considerando-se a boa solvência do Fundo, o projeto de lei complementar ora proposto
objetiva estabelecer prazo para o encerramento da cobrança do adicional de 10% a título de multa
rescisória.” Disponível em: <http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/80674>
Acesso em 24.01.16.
217
Raquel de Andrade Vieira Alves
vernamentais essenciais para o país, embora a sua instituição não tenha guar-
dado qualquer relação com tais projetos403.
Ora, se a finalidade da contribuição ao FGTS era a recomposição dos expurgos
inflacionários do início da década de 1990 e este passivo foi integralmente quitado
em 2012, conforme atesta a instituição financeira gestora do Fundo, de 2012 para
cá os valores que estão sendo arrecadados com a manutenção da exação não estão
sendo mais empregados na finalidade para a qual ela foi criada. A própria Presidên-
cia da República assumiu a tredestinação em relação aos valores arrecadados com a
contribuição nas razões do veto do PL nº 200/12, como visto acima.
A verdade é que, tal como ocorre com as receitas do FUST e do FUNTTEL,
o produto da arrecadação da contribuição de 10% sobre os depósitos do FGTS
tem “engordado” o cálculo do superátiv primário da União, contribuindo para
a quitação dos juros da dívida pública, como acontece com grande parte das
receitas sem despesa correspondente no orçamento.
De fato, como bem destacado pelo Ministro Marco Aurélio, ainda no jul-
gamento das ADI´s nº 2.556 e nº 2.568, a referida exação se prestou “a reforçar
o caixa, presente a responsabilidade do Tesouro Nacional”, de modo a “aportar
recursos para se cumprir – como deveria ser cumprido mesmo sem esses valores
– a ordem jurídica em vigor”. Observe-se que o próprio Ministro reconhece que
a exação, longe do que se poderia esperar de uma contribuição social, não se
destinava ao financiamento de uma atuação estatal na área social, mas sim, à
arrecadação de recursos para quitação do rombo nas contas vinculadas ao FGTS,
provocado pela fracassada política econômica do Governo Fernando Collor.
Mais recentemente, o STF reconheceu a repercussão geral da questão acerca
do exaurimento da finalidade da contribuição adicional ao FGTS, no RE nº
878.313404, sob a relatoria do Ministro Marco Aurélio, de acordo com o qual
403 "A extinção da cobrança da contribuição social geraria um impacto superior a R$ 3.000.000.000,00
(três bilhões de reais) por ano nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, contudo
a proposta não está acompanhada das estimativas de impacto orçamentário-financeiro e da indicação
das devidas medidas compensatórias, em contrariedade à Lei de Responsabilidade Fiscal. A sanção
do texto levaria à redução de investimentos em importantes programas sociais e em ações estratégicas
de infraestrutura, notadamente naquelas realizadas por meio do Fundo de Investimento do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço - FI-FGTS. Particularmente, a medida impactaria fortemente o
desenvolvimento do Programa Minha Casa, Minha Vida, cujos beneficiários são majoritariamente os
próprios correntistas do FGTS."
404 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE n° 878.313/SC. Ministro Relator Marco Aurélio. Repercussão
Geral reconhecida em 03.09.15. DJ de 22.09.15.
218
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
a controvérsia a ser decidida pela Corte estaria em saber se, “constatado exau-
rimento do objetivo para o qual foi instituída a contribuição social, deve ser
assentada a extinção do tributo ou admitida a perpetuação da cobrança ainda
que o produto da arrecadação seja destinado a fim diverso do original”.
Curiosamente, a Procuradoria Geral da República - PGR emitiu parecer no
referido recurso, em dezembro de 2015, nos moldes das manifestações apresen-
tadas nas duas ADI´s pendentes de julgamento pela Corte (ADI´s nº 5050 e nº
5051), alegando que a finalidade da exação não teria se exaurido, tendo em vis-
ta não ser possível identificar como finalidade da sua instituição o complemento
da atualização monetária do saldo das contas vinculadas ao Fundo. De acordo
com a PGR, a Exposição de Motivos da LC nº 110/01 não seria relevante para
a interpretação da sua finalidade, não vinculando a norma elaborada a partir
dessa proposição. Confira-se:
Nesse ponto, ressalte-se que a Exposição de Motivos, embora não seja o cri-
tério principal de interpretação de uma norma legal, constitui meio auxiliar de
interpretação jurídica, tendo em vista que integra o elemento histórico que há de
se ter em conta ao se averiguar o sentido determinante da lei. Assim, ao se per-
quirir sobre o objetivo de determinada norma jurídica, necessária se faz a análise
dos papéis e trabalhos preparatórios que culminaram com a sua edição, dentre os
219
Raquel de Andrade Vieira Alves
quais está a Exposição de Motivos. Se assim não fosse, não haveria necessidade
alguma por parte do legislador de declaradamente expressar a sua intenção.
Karl Larenz afirma que, como fontes de conhecimento das ideias normati-
vas dos sujeitos envolvidos na elaboração da lei, entram em cena os diferentes
projetos, as atas das comissões de assessoria e as exposições de motivos, que
servem para averiguar a intenção reguladora e os fins do legislador sempre que
estes não sejam evidentes a partir do texto da própria lei406. Tércio Ferraz Sam-
paio Junior, por sua vez, aduz que o levantamento das condições históricas da
elaboração de uma norma leva o intérprete a buscar nos trabalhos preparatórios
os elementos auxiliares para a sua interpretação, podendo-se a partir daí, por
exemplo, chegar à conclusão de que determinada lei atendeu a uma situação
de emergência, cujas condições típicas se alteraram e que, portanto, têm de ser
restringidas para o entendimento das normas407.
Esse é exatamente o caso da LC nº 110/01, em que a partir do levantamento
das condições históricas que culminaram com a sua edição, a análise da Ex-
posição de Motivos se torna fundamental para a compreensão da finalidade
específica almejada pelo legislador. Inclusive, o STJ já teve a oportunidade de
se manifestar acerca da importância da Exposição de Motivos para a hermenêu-
tica jurídica, em caso relativo à vigência do Crédito-Prêmio de IPI, destacando,
sob o enfoque histórico, o objetivo de cada Decreto que dispôs sobre o tema, a
partir da análise de sua Exposição de Motivos408.
Portanto, conclui-se que a análise dos dispositivos da LC nº 110/01, aliada
aos elementos históricos que precederam a sua edição, dentre os quais se desta-
ca a sua Exposição de Motivos, deixa clara a finalidade específica da contribui-
ção adicional ao FGTS de cobrir a defasagem econômica das contas vinculadas
ao Fundo, fruto dos expurgos inflacionários do Plano “Verão” e “Color I”. E,
sendo assim, como a defasagem econômica do FGTS já foi integralmente corri-
220
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
gida desde 2012, não há que se falar em manutenção da exação para o custeio
de uma finalidade inexistente.
Muitos autores, inclusive, têm reiteradamente afirmado a revogação auto-
mática do art. 1º da LC nº 110/01, eis que se trata de norma de vigência tem-
porária, subsistindo apenas enquanto não atingida a finalidade para a qual foi
criada. É o caso, por exemplo, de Igor Mauler Santiago409 e Bruno Reis Pinto410.
Não obstante, como pôde ser visto ao longo do presente item, há um nítido
esforço do Poder Executivo Federal voltado à manutenção da cobrança da con-
tribuição adicional ao FGTS, mesmo diante do completo exaurimento de sua
finalidade. A explicação para isso, ao contrário das mensagens presidenciais, não
reside na necessidade de fomento a programas sociais, eis que o Fundo tem apre-
sentado resultados positivos consecutivos desde 2000 – obtendo arrecadação lí-
quida recorde em 2013 e 2014 de, respectivamente, 18,7 e 18,4 bilhões411 –, mas,
única e exclusivamente, na necessidade do Governo Federal de “fazer caixa” com
recursos exclusivos, ao invés de priorizar a arrecadação de impostos federais.
221
Raquel de Andrade Vieira Alves
412 “Art. 2.º (*) A União poderá instituir, nos termos de lei complementar, com vigência até 31 de
dezembro de 1994, imposto sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de
natureza financeira.
§ 1.º A alíquota do imposto de que trata este artigo não excederá a vinte e cinco centésimos por
cento, facultado ao Poder Executivo reduzi-la ou restabelecê-la, total ou parcialmente, nas condições
e limites fixados em lei.
§ 2.º Ao imposto de que trata este artigo não se aplica o art. 150, III, b, e VI, nem o disposto no § 5.º
do art. 153 da Constituição.
§ 3.º O produto da arrecadação do imposto de que trata este artigo não se encontra sujeito a qualquer
modalidade de repartição com outra entidade federada.”
413 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 939/DF. Ministro relator Sydnei Sanches. Julgada em 15.12.93.
DJ de 18.03.94.
414 "Art. 74 A união poderá instituir contribuição provisória sobre movimentação ou transmissão de
valores e de créditos e direitos de natureza financeira.
§ 1º A aliquota da contribuição de que trata este artigo não excederá a vinte e cinco centésimos por
cento, facultado ao poder executivo reduzi-la ou restabelecê-la, total ou parcialmente, nas condições
e limites fixados em lei.
§ 2º À contribuição de que trata este artigo não se aplica o disposto nos arts. 153, § 5º, e 154, I, da
Constituição.
§ 3º O produto da arrecadação da contribuição de que trata este artigo será destinado integralmente
ao Fundo Nacional de Saúde, para financiamento das ações e serviços de saúde.
§ 4º A contribuição de que trata este artigo terá sua exigibilidade subordinada ao disposto no art. 195,
§ 6º, da Constituição, e não poderá ser cobrada por prazo superior a dois anos."
222
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
mesmo perfil do IPMF foi mantido – alíquota de 0,25%, vigência de dois anos,
exceção à anterioridade de exercício e à imunidade recíproca –, entretanto,
tratando-se de contribuição, não seria mais possível questionar a sua não sub-
missão ao princípio da anterioridade de exercício, já que as contribuições só se
submetem à anterioridade nonagesimal, e nem a não submissão à imunidade
recíproca, que não alcança essa espécie tributária.
Assim, a Lei nº 9.311, de 24 de outubro de 1996, instituiu essa nova exação,
de modo que o que era imposto passou a ser denominado contribuição. Poste-
riormente, sucessivas Emendas Constitucionais foram editadas (EC´s nº 21/99,
31/00 e 37/02), prorrogando o prazo de vigência da referida contribuição, até
culminar com a edição da Emenda Constitucional nº 42, de 19 de dezembro de
2003, que inseriu o art. 90 no ADCT, autorizando a cobrança da CPMF até 31
de dezembro de 2007, data do encerramento de sua vigência, sendo a mesma
cobrada a uma alíquota de 0,38%415.
Inclusive, como demonstrado no Gráfico 2, do item 2.5.3, a partir da edição
da EC nº 42/03, com a alíquota da CPMF fixada em 0,38%, a arrecadação das
contribuições cresceu vertiginosamente, ultrapassando a arrecadação do IR e
do IPI. Essa arrecadação extraordinária, devido em parte à grande dificuldade
de sonegação da CPMF, explica as suas sucessivas prorrogações, que implicaram
na manutenção de um tributo dito provisório por nada menos que dez anos.
Entretanto, diz-se que esse estrondoso sucesso na arrecadação se deve “em
parte” à dificuldade de sonegação, porque aliada a isso a grande responsável
pelos recordes arrecadatórios dos anos de 2003 a 2006, superando, inclusive,
a arrecadação dos principais impostos federais, é de fato a não repartição do
produto da arrecadação da CPMF com os Estados e Municípios.
Nesse ponto, é importante olhar para a base de cálculo da contribuição, que
incide sobre a “movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos
de natureza financeira”, a fim de aferir se esta realmente expressa uma relação
de compatibilidade entre a finalidade almejada e o grupo atingido.
Pela análise da legislação de regência, verifica-se que a CPMF originalmente
foi instituída para custear ações e serviços de saúde, nos termos do que determi-
nava o §3º, do art. 74 do ADCT, introduzido pela EC nº 12/96 (“§ 3º O produto
415 Para visualização do panorama geral legislativo completo, vide o quadro elaborado pela equipe técnica
do Unafisco, com a cronologia da legislação da CPMF e suas alíquotas. Disponível em: <http://www2.
unafisco.org.br/estudos_tecnicos/2007/nota_tecnica_cpmf.pdf> Acesso em 26.01.16.
223
Raquel de Andrade Vieira Alves
416 “Art. 84. A contribuição provisória sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos
e direitos de natureza financeira, prevista nos arts. 74, 75 e 80, I, deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, será cobrada até 31 de dezembro de 2004.
[...]
§ 2º Do produto da arrecadação da contribuição social de que trata este artigo será destinada a
parcela correspondente à alíquota de:
I - vinte centésimos por cento ao Fundo Nacional de Saúde, para financiamento das ações e serviços
de saúde;
II - dez centésimos por cento ao custeio da previdência social;
III - oito centésimos por cento ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, de que tratam os arts.
80 e 81 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”.
224
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
que restou entre essa espécie tributária e os impostos foi a destinação. Contudo,
até a destinação foi modificada por sucessivas manobras legislativas, de modo
a não ser possível distinguir a CPMF de um imposto de competência federal,
senão pela sua ausência de submissão à sistemática de repasse de receitas aos
Estados e Municípios.
André Mendes Moreira e Sacha Calmon Navarro Coelho, nesse sentido,
afirmam categoricamente que a CPMF seria um imposto finalístico:
417 MOREIRA, André Mendes e COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. “A CPMF e os Princípios
Constitucionais Tributários”. In: Curso de Direito Tributário e Finanças Públicas – do fato à norma,
da realidade ao conceito jurídico. SANTI, Eurico Marcos Diniz de (organizador). São Paulo: Saraiva,
2008, p. 726-745.
418 MARTINS, Ives Gandra da Silva. “CPMF e Dependência Química”. Na imprensa – coletânea de
artigos. São Paulo: Editora do Brasil, 2005. p. 177.
225
Raquel de Andrade Vieira Alves
226
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
423 SCAFF, Fernando Facury. A DRU, os direitos sociais e o pagamento dos juros da dívida. Artigo
extraído do site Consultor Jurídico. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-jul-14/contas-
vista-dru-direitos-sociais-pagamento-juros-divida> Acesso em 28.07.15.
424 “Art. 71. É instituído, nos exercícios financeiros de 1994 e 1995, bem assim nos períodos de 01/01/1996
a 30/06/97 e 01/07/97 a 31/12/1999, o Fundo Social de Emergência, com o objetivo de saneamento
financeiro da Fazenda Pública Federal e de estabilização econômica, cujos recursos serão aplicados
prioritariamente no custeio das ações dos sistemas de saúde e educação, incluindo a complementação
de recursos de que trata o § 3º do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
benefícios previdenciários e auxílios assistenciais de prestação continuada, inclusive liquidação
de passivo previdenciário, e despesas orçamentárias associadas a programas de relevante interesse
econômico e social.” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 17, de 1997)
227
Raquel de Andrade Vieira Alves
425 "Art. 76. É desvinculado de órgão, fundo ou despesa, no período de 2000 a 2003, vinte por cento da
arrecadação de impostos e contribuições sociais da União, já instituídos ou que vierem a ser criados no
referido período, seus adicionais e respectivos acréscimos legais." (Redação dada pela EC nº 27, de 2000)
228
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
426 QUEIROZ, Luís Cesar Souza de. Critério finalístico e o controle de constitucionalidade das
contribuições. VI Congresso Nacional de Estudos Tributários. São Paulo: Noeses, 2009. p. 660-661.
229
Raquel de Andrade Vieira Alves
230
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
427 GODOI, Marciano Seabra de. “Contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico: a
paulatina desconstrução de sua identidade constitucional”. Revista de Direito Tributário da APET,
n.º 15, São Paulo: 2007, p.81-100.
428 Ibid.
429 Acerca da estimativa dos valores desvinculados com a nova Emenda, vide Parecer nº 706, de
2016, de relatoria do Senador José Maranhão e informações complementares. Segundo o relator,
o Demonstrativo da DRU, constante da Relação das Informações Complementares ao Projeto de
Lei Orçamentária de 2016, contém a informação de que a desvinculação das contribuições sociais
seria de R$ 110,9 bilhões, a das contribuições de intervenção no domínio econômico seria de R$
4,6 bilhões e a das taxas seria de R$ 2,2 bilhões. No total, a desvinculação atingiria R$ 117,7 bilhões
no exercício financeiro de 2016. Disponível em: http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/
getPDF.asp?t=197549&tp=1
231
Raquel de Andrade Vieira Alves
430 Nesse sentido, inclui-se o estímulo à demanda interna através da concessão de incentivos fiscais,
operada pelo Governo Federal, sobretudo, a partir do final de 2008, em que ocorreram isenções de
IPI incidente sobre eletrodomésticos da linha branca, bens de capital e automóveis, como política de
incentivo ao consumo, a fim de estimular a produção industrial. O mesmo ocorreu com o IR pago
pelas pessoas físicas, objeto de desonerações a partir do mesmo período, a fim de aumentar de forma
indireta o poder de consumo das famílias. Para melhor conhecimento dos impactos dessa política,
ver: INESC. Renúncias tributárias - os impactos no financiamento das políticas sociais no Brasil.
Estudo disponível em: http://www.inesc.org.br/biblioteca/publicacoes/outras-publicacoes/renuncias-
tributarias-os-impactos-no-financiamento-das-politicas-sociais-no-brasil/view
431 BRASIL. STF. ACO 952 MC/RR – Roraima. Ministro Relator Cezar Peluso. Julgada em 20.04.07. DJ
de 26.04.07.
232
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
432 BRASIL. STF. RE nº 566.007/RS. Ministra Relatora Carmen Lúcia. Repercussão Geral reconhecida
em 13.05.10. DJ de 25.06.10.
433 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. RE nº 566.007/RS. Ministra Relatora Carmen Lúcia. Julgado em
13.11.14. DJ d e 11.02.15.
434 IBRAHIM, Fábio Zambitte. “Desvinculação Parcial da Arrecadação de Impostos e Contribuições –
uma Interpretação Possível da Emenda Constitucional nº 27”. Revista Dialética de Direito Tributário,
nº 61, outubro, 200. p. 43-48.
233
Raquel de Andrade Vieira Alves
Daniel Marins, por sua vez, entende que, mesmo considerando que a DRU é
um mecanismo compatível com a Constituição, em sua origem, deve-se conceber
que em um futuro próximo esse mecanismo venha a se tornar incompatível com o
Princípio Federativo, diante do contexto atual de recentralização de receitas pela
União e aumento da dependência financeira dos entes subnacionais435.
Embora seja difícil conceber a constitucionalidade da DRU em algum mo-
mento, é possível que o STF, visando manter a desvinculação efetuada ao longo
dos últimos anos, mas, ao mesmo tempo, reconhecendo a necessidade de frear
essa política do Governo Federal, baseada no aumento das contribuições, com
posterior desvinculação de parte de sua arrecadação e contingenciamento de
suas despesas, venha a encampar essa posição, reconhecendo a inconstitucio-
nalidade superveniente da DRU, diante do novo contexto federativo. Seja como
for, o fato é que esse modelo de federalismo predatório conduzido pela União é
incompatível com o modelo federativo desenhado pela Constituição de 1988.
435 MARINS, Daniel Vieira. Desvinculação das Receitas da União e Mutação Constitucional. Revista da
Seção Judiciária do Rio de Janeiro, v. 21, nº 51, dez. 2014. p. 85-105.
436 OLIVEIRA, Gustavo da Gama Vital de. “Reforma tributária e federalismo fiscal”, artigo apresentado
no 1º Congresso de Direito Tributário de Juiz de Fora e Região, realizado em 03.09.14, na sede da
OAB, Subseção Juiz de Fora.
234
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
já que, como à época da celebração essa figura sequer existia, os acordos cele-
brados pelo país apenas fazem menção ao imposto de renda.
Da mesma forma, as contribuições para a seguridade social que oneram a
receita, como o PIS e a COFINS, acabam em certa medida incidindo sobre um
elemento da renda, sem que isso seja considerado nos termos dos tratados ce-
lebrados pelo Brasil. Isso sem falar da CSLL, que, tendo hipótese de incidência
praticamente idêntica a do imposto de renda, também deveria ser automatica-
mente considerada como abrangida pelos tratados celebrados pelo país437.
Nesse sentido, além da necessidade de se fazer uma interpretação teleoló-
gica dos dispositivos dos tratados que se referem aos tributos para os quais os
mesmos são aplicados, de forma a reconhecer que o objetivo dessas cláusulas
é justamente evitar a incidência de qualquer tributo sobre a renda, é preciso
atentar para o fato de que o parágrafo 4º do artigo 2º da Convenção-Modelo da
OCDE, ao determinar que ela “será também aplicável aos tributos de natureza
idêntica ou similar que entrem em vigor posteriormente à data da assinatura
da Convenção e que venham a acrescer aos atuais ou a substituí-los”, permite o
entendimento de que as contribuições que tenham tipologia semelhante a dos
impostos também estão abrangidas pelos termos do acordo.
Esse dispositivo, em face do qual o Brasil não fez nenhuma reserva, frise-se,
tem sido incluído reiteradamente nos tratados assinados pelo país, a permitir,
assim, a extensão da interpretação do conceito de “imposto sobre a renda” para
alcançar outras espécies tributárias de natureza idêntica ou similar, como boa
parte das contribuições vigentes atualmente.
Um exemplo que confirma essa possibilidade de extensão é o Tratado fir-
mado entre Brasil e Portugal438. Embora o seu art. 2º, ao tratar dos impostos
visados, mencione apenas o imposto federal sobre a renda, o Protocolo assinado
entre os Estados na mesma data da assinatura do tratado afirma expressamente
que a CSLL está compreendida no conceito de “impostos aos quais se aplica
437 “Nas hipóteses em que a norma convencional aplicar-se ao imposto de renda interno, será ela
igualmente aplicável à contribuição social sobre o lucro, dado que esta exação é substancialmente
semelhante, se não quiser se afirmar que, substancialmente, ela é idêntica ao imposto de renda.”
AMARO, Luciano da Silva. “Os Tratados Internacionais e a Contribuição sobre o Lucro”. In:
ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord.). Grandes Questões Atuais do Direito Tributário. São Paulo:
Dialética, 1997. p. 164.
438 Celebrado em 16 de maio de 2000 e promulgado pelo Decreto nº 4.012, de 13 de novembro de 2001.
235
Raquel de Andrade Vieira Alves
236
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
It should be noted that states, too, can circumvent tax treaties. They can do
so by drafting laws that according to their language try to avoid certain treaty
situations, though in substance the treaty situation is present, because they
want to avoid certain consequences which they may consider undesirable.
Or, conversely, they may draft laws that artificially create treaty situations
which the law-making state considers desirable. By such legislation the mate-
rial content of a treaty, though not its language, may be infringed. The legal
consequences of such “treaty circumvention” by states cannot be basically
different from those of tax avoidance by taxpayers.445
442 Ibid.
443 KLAUS, Vogel. Double Tax Treaties and Their Interpretation, 4 Int'l Tax & Bus. Law. 1 (1986). p.
83/85. Disponível em: <http://scholarship.law.berkeley.edu/bjil/vol4/iss1/1> Acesso em 31.01.16.
444 SANTIAGO, Igor Mauler. “Interpretação dos tratados contra a dupla tributação internacional -
Estudo em homenagem ao Min. José Delgado”. Temas de Direito Público - Aspectos Constitucionais,
Administrativos e Tributários. CARVALHO, Cristiano e PEIXOTO, Marcelo Magalhães (Coords.).
Curitiba: Juruá, 2005.
445 KLAUS, Vogel. Op. Cit. p. 84.
“Deve se notar que os Estados também podem contornar tratados tributários. Eles podem fazê-
lo através da elaboração de leis que, de acordo a sua linguagem, tentam evitar certas situações de
tratados, embora substancialmente a situação do tratado esteja configurada, porque querem evitar
certas consequências que consideram indesejáveis.
237
Raquel de Andrade Vieira Alves
Nesse aspecto, difere-se do “treaty override”, pois não representa uma viola-
ção direta ao texto do tratado, mas ao seu conteúdo material, desrespeitando,
assim, o espírito do acordo e a boa-fé das partes. É a típica forma de legislação
abusiva, editada por um dos Estados contratantes, que infringe a finalidade dos
tratados contra a bitributação, embora não contrarie o seu texto expressamente.
Como destaca Igor Mauler Santiago, ao tratar da interpretação dinâmica
das convenções tributárias:
Ou, pelo contrário, eles podem elaborar leis que artificialmente criam situações previstas nos tratados que
o Estado Contratante considere oportunas. Por essa legislação o conteúdo material de um tratado,
embora não a sua literalidade, pode ser violado. As consequências legais de tal violação do tratado
pelos Estados não podem ser basicamente diferentes daquelas que constituem evasão fiscal pelos
contribuintes”. Tradução livre.
446 SANTIAGO, Igor Mauler. Op. Cit.
238
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
447 Ibid.
448 Vide: <http://www.ibdt.com.br/2005/integra_11082005.htm>Acesso em 31.01.16.
239
Raquel de Andrade Vieira Alves
449 DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. Tradução: Nelson Boeira. São Paulo: Martins
Fontes, 2002. p. 313-314.
240
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
241
Raquel de Andrade Vieira Alves
450 MOREIRA, André Mendes e COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. “A CPMF e os Princípios
Constitucionais Tributários”. In: Curso de Direito Tributário e Finanças Públicas – do fato à norma,
da realidade ao conceito jurídico. SANTI, Eurico Marcos Diniz de (organizador). São Paulo: Saraiva,
2008, p. 726-745.
451 BRASIL. STF. Segunda Turma. RE nº 537.610/RS. Ministro Relator Cezar Peluso. Julgado em
01.10.09. DJ de 18.12.09.
242
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
452 Sobre o tema, ver: LOBATO, Valter de Souza. Contribuições destinadas ao custeio da Seguridade
Social: destinação específica das receitas e o desvio da finalidade na jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal. Artigo disponível em meio eletrônico em: <http://sachacalmon.com.br/publicacoes/
artigos/contribuicoes-destinadas-ao-custeio-da-seguridade-social/> Acesso 27.02.16.
453 “Examination of the American judiciaries’ historical role in defining the meaning of federalism teaches that
the combination of an indeterminate text and strong judicial review leads to significant variations in how
power is distributed over time. Because the balance of local and national authority under the American
system is not significantly constrained by the Constitutional text, judges’ personal viewpoints regarding
federalism and their own role in the system have played a prominent role in the actual allocations of power.
The pivotal question, unanswered by the Constitution, is whether the judiciary should act as a guardian
of state interests against federal encroachment or more properly defer to the outcome of normal political
processes. The result has been that the American judiciary continues to play a prominent, if not dominate,
243
Raquel de Andrade Vieira Alves
role in shaping American federalism.” DONOHO, Douglas Lee. The judicial role in the evolution of
american federalism. Revista catalana de dret públic, n. 40, 2010. p. 272.
“O exame do papel histórico dos sistemas judiciários americanos na definição do sentido do
federalismo ensina que a combinação de um texto indeterminado e forte revisão judicial leva a
variações significativas na forma como o poder é distribuído ao longo do tempo. Em razão do
equilíbrio de autoridade local e nacional sobre o sistema americano não ser significativamente
restringido pelo texto constitucional, pontos de vista pessoais dos juízes sobre o federalismo e sobre
o seu próprio papel no sistema têm desempenhado um papel proeminente nas alocações reais de
poder. A questão fundamental, sem resposta pela Constituição, é se o Judiciário deve agir como um
guardião dos interesses do Estado contra a invasão federal ou mais propriamente adiar essa decisão
para o resultado de processos políticos normais. O resultado disso tem sido no sentido de que o
Judiciário americano continua a desempenhar um importante, senão dominante, papel na formação
do federalismo americano”. Tradução livre.
244
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
454 GRECO, Marco Aurélio. Do poder à função tributária. In: FERRAZ, Roberto (Coord.). Princípios
e limites da tributação. v. 2: os princípios da ordem econômica e a tributação. São Paulo: Quartier
Latin, 2009. p. 173.
455 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário, vol I,
Constituição Financeira, Sistema Tributário e Estado Fiscal. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. p. 385.
245
Raquel de Andrade Vieira Alves
buições e nem dos efeitos que essa conduta produz a nível federativo, é preciso
pontuar que esse julgamento marca o reconhecimento pelo STF da importân-
cia da destinação como elemento indissociável das contribuições. A partir daí
é possível afirmar que a Corte não mais ignora a relevância da aplicação dos
recursos para o Direito Tributário.
Já em matéria de federalismo, o mais perto que o STF chegou de relacionar
a arrecadação das contribuições com o Princípio Federativo, foi no julgamento
da ADI nº 2556, no qual, apesar de o Ministro Joaquim Barbosa ter ressalta-
do o fato de que as contribuições se situam à margem do Pacto Federativo, a
Corte não chegou a apreciar o mérito da questão sob essa ótica. O mesmo se
pode dizer em relação aos casos em que o Tribunal analisou outros aspectos
inerentes ao federalismo fiscal brasileiro, como ocorreu no julgamento do RE nº
705.423, em que a Corte perdeu uma excelente oportunidade de conter os abu-
sos praticados pelo Governo Federal em matéria de desoneração dos principais
impostos de sua competência, cujas conseqüências para as finanças municipais
são desastrosas, limitando-se a manter uma interpretação estrita da expressão
“produto da arrecadação”, utilizada pelo art. 159, I, “b” e “d” da Constituição
Federal. Desconsiderou a Corte que essas desonerações só são possíveis porque
a arrecadação da União com as contribuições supre o déficit arrecadatório pro-
vocado pelas isenções de IR e IPI, instrumento que não pode ser utilizado pelos
Estados e Municípios e de cuja arrecadação eles não participam.
Felizmente, com o aumento da incidência de matérias tributárias e financeiras
levadas à apreciação da Corte ao longo do ano de 2016, fato propiciado em grande
medida pelo agravamento da crise política e econômica pela qual passa o país, o
STF vem sendo instado a se posicionar sobre temas de alta relevância em matéria
de federalismo fiscal, o que tem levado os Ministros a uma reflexão mais profun-
da acerca dos rumos da Federação e da necessidade de se restaurar o equilíbrio
financeiro dos entes subnacionais, a partir da tributação. Dentro desse contexto,
se insere o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade por omissão nº 25,
de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, julgada pela Corte, em 30/11/16456.
Discutiu-se na referida ação se a falta de edição da lei complementar a que
alude o art. 91 do ADCT, para definição dos critérios de compensação finan-
ceira aos Estados em razão da perda de recursos decorrente da política de deso-
456 BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADO nº 25. Ministro Relator Gilmar Mendes. Julgada em 30/11/16.
Acórdão ainda não publicado.
246
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
247
Raquel de Andrade Vieira Alves
Apesar disso, como se está trabalhando aqui com um cenário que passa ao
largo do que seria ideal, fica difícil vislumbrar a possibilidade real de outra saída
que não requeira a intervenção do Judiciário para a contenção do abuso prati-
cado pela União na instituição e majoração de contribuições.
Destaque-se, nesse sentido, a posição recente de alguns doutrinadores457,
acerca da possibilidade de repartição das receitas tredestinadas, oriundas das
contribuições, com os demais entes federados, como uma solução para o qua-
dro aqui exposto. Embora louvável a busca de alternativas para o tema, é
preciso ressaltar que todas elas devem considerar, além do reequilíbrio do
Pacto Federativo, o próprio perfil jurídico das contribuições e das diferentes
espécies tributárias em vigor.
Repartir as receitas arrecadadas com a instituição de contribuições com os
Estados e Municípios pode até garantir a suficiência de recursos aos entes sub-
nacionais e assegurar a sua autonomia financeira, entretanto, não representa
uma solução do ponto de vista do desvirtuamento do perfil jurídico dessa es-
pécie tributária, que se difere dos impostos justamente devido à vinculação de
suas receitas, atrelada à ideia de solidariedade de grupo. Além disso, a receita
das contribuições está diretamente ligada à competência do ente para o desem-
penho das atividades por ela custeadas, de modo que só se poderia cogitar a
sua repartição com os Estados e Municípios em relação a atividades sujeitas à
competência comum, como é o caso da Cide-Combustíveis.
Ainda sim, seria preciso superar a questão dos limites da atividade judicial,
para fins de reconhecer que o Poder Judiciário poderia de fato determinar a
repartição das receitas tredestinadas, oriundas de contribuições, com os demais
entes da Federação, o que por certo esbarraria na Separação Constitucional de
Poderes, tão cara ao Estado Democrático de Direito quanto o Pacto Federativo.
Por tais razões, não podemos encampar essa tese de que as receitas tredes-
tinadas poderiam ser repartidas com os Estados e Municípios, sob pena de,
visando solucionar um problema, criar-se outro. Limitamo-nos aqui a defender
457 Nesse sentido, vide: MATA, Juselder Cordeiro da. “As Contribuições Sociais e a sua Interferência
no Equilíbrio do Federalismo Fiscal Brasileiro”. In: Estado federal e tributação: das origens à crise
atual. Misabel Abreu Machado Derzi, Onofre Alves Batista Junior, André Mendes Moreira (Org.).
Belo Horizonte: Araras Editores, 2015 (Coleção federalismo e tributação, v. 1). p. 113-127; “As
Contribuições e o Princípio do Federalismo”. In: Estado federal e tributação: das origens à crise atual.
Misabel Abreu Machado Derzi, Onofre Alves Batista Junior, André Mendes Moreira (Orgs.). Belo
Horizonte: Araras Editores, 2015 (Coleção federalismo e tributação, v. 1). p.129-138.
248
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
249
Conclusão
251
Raquel de Andrade Vieira Alves
lismo fiscal tratam apenas dos interesses dos entes políticos? Estaríamos diante
de um problema apenas de Direito Financeiro e não de Direito Tributário?459
Como se pôde perceber ao longo do presente estudo, as manobras para a
recentralização de receitas têm conferido poderes políticos ao Governo Federal,
em detrimento das demais entidades que compõem a Federação, constituindo
um perigoso instrumento de governabilidade, já que a participação dos Estados
na política nacional foi drasticamente reduzida e os Municípios, em sua maio-
ria, dependem diretamente do apoio do Governo Central para o atendimento
das necessidades básicas de seus cidadãos.
Esse processo teve início com a promulgação da Constituição de 1988, que, vi-
sando promover uma maior autonomia dos entes subnacionais, com a cooperação
da União, atribuiu-lhes novas competências tributárias e político-administrativas,
em resposta ao modelo centralizador adotado pela carta autoritária anterior.
Contudo, através de sucessivas emendas constitucionais, posteriormente
ratificadas pela Corte Suprema, e com o escopo de aumentar a arrecadação
da União com as contribuições, que não se submetem à sistemática de parti-
lha do produto da arrecadação entre os entes federados, ocorreu uma sensível
distorção no modelo original, com evidentes prejuízos, não só ao exercício da
autonomia plena pelos Estados e Municípios, como também do ponto de vista
da justiça do sistema tributário.
Nesse ponto, o aumento extraordinário da arrecadação das contribuições,
não apenas contribui para o crescimento da cumulatividade do sistema, como
permite que a União possa implementar uma política desonerativa dos princi-
pais impostos de sua competência, que compõem o Fundo de Participação dos
Estados e dos Municípios, como é o caso do IR e do IPI. Some-se a isso o fato de
que a renda é historicamente apontada como o principal índice de capacidade
contributiva e, ao ser ignorada para fins de tributação, representa uma perda
incalculável em termos de justiça na tributação.
Diante desse cenário, um primeiro passo esboçado no presente estudo, a fim
corrigir essas distorções no modelo federativo brasileiro, é assumir o enorme
papel que as participações na arrecadação possuem atualmente no federalismo
pátrio, restabelecendo a importância de se privilegiar a arrecadação dos im-
459 OLVIEIRA, Gustavo da Gama Vital de. In: “Reforma tributária e federalismo fiscal”, artigo apresentado
no 1º Congresso de Direito Tributário de Juiz de Fora e Região, realizado em 03.09.14, na sede da OAB,
Subseção Juiz de Fora.
252
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
253
Referências
Bibliografia
BALEEIRO, Aliomar. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 12ª Ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1978.
255
Raquel de Andrade Vieira Alves
256
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
257
Raquel de Andrade Vieira Alves
DONOHO, Douglas Lee. The judicial role in the evolution of american federa-
lism. Revista catalana de dret públic, n. 40, 2010.
258
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
________.. Contribuições (uma figura “sui generis”). São Paulo: Dialética, 2000.
259
Raquel de Andrade Vieira Alves
LIMA, Maurício Rodrigues de; RABELO Filho, Antonio Reinaldo; SILVA FILHO,
Paulo Cesar da; PINHEIRO, Vera Lígia Arenas (Coords.). Tributação dos serviços
de Telecom e outros temas correlatos. São Paulo: Quartier Latin, 2014.
260
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
261
Raquel de Andrade Vieira Alves
262
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
263
Raquel de Andrade Vieira Alves
ROCHA, Sérgio André. Tributação Internacional. São Paulo: Quartier Latin. 2013.
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. “As Classificações no Sistema Tributário Bra-
sileiro”. In: Justiça Tributária – I Congresso Internacional de Direito Tributário.
São Paulo: Max Limonad, 1998.
SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva: 2012.
264
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
VOGEL, Klaus. Double Tax Treaties and Their Interpretation, 4 Int’l Tax &
Bus. Law. 1 (1986). p. 83-85. Disponível em:<http://scholarship.law.berkeley.
edu/bjil/vol4/iss1/1> Acesso em 28.07.15.
265
Raquel de Andrade Vieira Alves
266
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
BRASIL. INESC. Nota Técnica, Brasília, nº 98, maio de 2005. Estudo dispo-
nível em: <http://www.inesc.org.br/biblioteca/publicacoes/notas-tecnicas/nts-
-anteriores/nts-2005/NT.%2098%20-%20%20OR_AMENTO%20-%20CON-
TIGENCIAMENTO.pdf/view> Acesso em 07.10.15.
267
Raquel de Andrade Vieira Alves
268
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
269
Raquel de Andrade Vieira Alves
Legislação
270
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
271
Raquel de Andrade Vieira Alves
272
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
273
Raquel de Andrade Vieira Alves
274
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 939/DF. Ministro relator Sydnei San-
ches. Julgada em 15.12.93. DJ de 18.03.94.
275
Raquel de Andrade Vieira Alves
BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 2925/DF. Ministra Relatora Ellen Gra-
cie. Julgada em 19.12.04. DJ de 04.03.05.
BRASIL. STF. ACO 952 MC/RR – Roraima. Ministro Relator Cezar Peluso.
Julgada em 20.04.07. DJ de 26.04.07.
BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 132/RJ. Ministro Relator. Ayres Britto.
Julgada em 05.05.11. DJ de 14.10.11.
BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADI nº 2556/DF. Ministro Relator Joaquim Bar-
bosa. Julgada em 13.06.12. DJ de 20.09.12.
STF. Tribunal Pleno. ADI nº 2568/DF. Ministro Relator Joaquim Barbosa. Jul-
gada em 13.06.12. DJ de 20.09.12.
BRASIL. STF. Tribunal Pleno. ADO nº 25. Ministro Relator Gilmar Mendes.
Julgada em 30/11/16. Acórdão ainda não publicado.
276
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
277
Raquel de Andrade Vieira Alves
278
ANEXO A – Arrecadação total das receitas
federais de 1995 a 2014 a preços correntes
279
Fonte: Secretaria da Receita Federal do Brasil.
ANEXO B – Arrecadação federal
comparativa de contribuições e
impostos partilháveis de 1995
a 2014 a preços correntes
281
ANEXO C - Parte do ofício Nº 19890/2014/
SEI-MC encaminhando as respostas ao
requerimento de informação nº 4.480/14,
de autoria da Comissão de ciência e
tecnologia, comunicação e informática da
Câmara dos deputados, transmitidas pelo
Ministro de Estado das comunicações
283
Raquel de Andrade Vieira Alves
284
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
285
Raquel de Andrade Vieira Alves
286
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
287
Raquel de Andrade Vieira Alves
288
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
289
Raquel de Andrade Vieira Alves
290
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
291
Raquel de Andrade Vieira Alves
292
Federalismo Fiscal Brasileiro e as Contribuições
293