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OS FUGITIVOS DA ESQUADRA DE CABRAL

Autor: Angelo Machado


Título: Os fugitivos da esquadra de Cabral
Editora: Nova Fronteira

uem nunca ouviu falar da carta de Pero Vaz


de Caminha e suas impressões sobre as
belezas naturais ou sobre os índios da Terra
de Santa Cruz? Esses aspectos são os mais
conhecidos pelo público, mas duas linhas do
documento ficaram completamente esquecidas na
história oficial do país. Elas diziam que, além dos
degredados (presos políticos ou ladrões enviados
pela Corte portuguesa para lugares distantes), dois
grumetes também ficaram no Brasil depois que a
expedição de Cabral foi embora.

Para quem não sabe, os grumetes eram adolescentes


que faziam serviços nas embarcações e tinham
como uma de suas principais funções ficar na
gávea, plataforma no alto do barco, de onde
avistavam novas terras. Foram esses dois
coadjuvantes da história que inspiraram a criação
dos personagens principais do livro Os fugitivos da
esquadra de Cabral, de autoria do escritor e
professor do ICB, Angelo Machado.

A obra conta a respeito das personagens, Leonardo,


15, e Bartolomeu, 14, que fizeram a viagem na
expedição de Pedro Álvares Cabral, mas não
voltaram para a terra natal, ficando perdidos na costa brasileira. A partir daí, os dois
adolescentes vivem grandes aventuras. Na ficção, Angelo Machado usou a história oficial como
pano de fundo. Há algumas passagens do livro em que o autor intercala a fala dos personagens
com trechos da carta de Pero Vaz de Caminha. Ele descreve, por exemplo, a reação dos
adolescentes ao depararem-se com os índios pela primeira vez: Chegando o batel à beira do rio,
eram ali dezoito ou vinte homens pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas
vergonhas.

Para escrever o livro, ilustrado pelos cartunistas Lor e Talma, Angelo Machado pesquisou a
cultura e religião das tribos tupiniquins e tupinambás. Isso porque o personagem principal da
trama, Leonardo, tornou-se amigo do índio Kaori. O diálogo entre os dois reproduz a
dificuldade de comunicação, pois Kaori falava o tupi arcaico. Depois que Leonardo aprende a
língua de seu novo amigo, outro problema envolve os personagens: a diferença cultural. O
católico Leonardo descobre que o amigo é canibal e, por causa disso, acredita que ele irá para o
inferno. Para Kaori, tudo não passa de um ritual que o conduzirá ao céu. "A ideia é mostrar as
diferenças culturais dos personagens e como eles aprendem a respeitar a cultura alheia", conta o
professor.

Afinal, quem descobriu o quê?


Na obra, todos os louros da descoberta do Brasil vão para Leonardo. Mas quem acha que essa
suposição é fruto da imaginação prodigiosa do professor Angelo Machado pode estar enganado.
"A probabilidade histórica de um adolescente ter descoberto o Brasil é muito grande, pois a
função específica do grumete era ficar observando a paisagem". E se essa hipótese já soa
incrivelmente absurda, o leitor pode ficar ainda mais intrigado com outra problemática lançada
pelo autor: será que Leonardo descobriu o Brasil primeiro ou foi seu amigo Kaori, do alto da
montanha, que avistou os portugueses?

SOBRE O AUTOR

Angelo Machado tem longa carreira acadêmica. Formado em medicina pela Universidade
Federal de Minas Gerais, aposentou-se como professor titular de neuroanatomia e, professor
adjunto do Departamento de Zoologia daquela universidade. É membro da Academia Brasileira
de Ciências
e, apesar de seu longo currículo científico, está longe de ser um cientista
tradicional. Na década de 80, participou do grupo que concebeu a revista
Ciência Hoje das Crianças,
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC). Depois, descobriu sua nova faceta como escritor e dramaturgo. Em
1989, lançou
O menino e o rio,
sua primeira incursão, como autor, na literatura
infantil. Hoje, tem cerca de 20 livros infanto-juvenis, três deles adaptados
para o teatro pelo próprio autor. Para adultos, escreveu o hilário
Manual de
sobrevivência em recepções e coquetéis com bufê escasso
e, nessa mesma linha de
humor, está trabalhando em um livro de crônicas
Para discutir:

1. Quais as tribos indígenas citadas no livro? Elas realmente existiram? Dê algumas


características de cada uma delas.
2. Quem são os personagens do livro que realmente existiram?
3. Faça um dicionário das palavras em tupi que aparecem na história em questão.
Pesquise se há alguma palavra na língua portuguesa que é derivada do tupi?
4. Identifique no mapa do Brasil os lugares citados na narrativa de Ângelo Machado.
5. Onde estão os índios do Brasil hoje? Quais as causas deste desaparecimento?
6. Discuta com o grupo a questão do preconceito racial, tão comum nos dias de hoje.
Que outras formas de preconceito você conhece?
7. Quais os valores trabalhados no livro?

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