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A Queda do Céu: Alteridade Indígena E Discurso Indígena

Anália Luísa Freire Holanda (UEA)

Ítalo de Souza Bandeira (UEA)

Introdução
A Queda do Céu é um livro escrito por Bruce Albert através de relatos contadas por
Davi Kopenawa Yanomami, lançado no ano de 2015. O objetivo do livro é trazer um alerta
para a sociedade vindo do coração da Amazonia, com testemunhos de um povo, os Yanomamis.
Bruce tem a missão de descrever no livro a vocação xamânica de Kopenawa e sua apaixonada
defesa pela existência de um povo nativo que vem perdendo seu espaço cada vez mais para a
sociedade urbana.
O livro é dividido em 3 partes com oito capítulos cada, mas iremos destacar neste texto
a parte que também dá título ao livro. O nome do livro é exatamente sobre o alerta que
Kopenawa deseja passar: "quando a Amazônia sucumbir à devastação desenfreada e o último
xamã morrer, o céu cairá sobre todos e será o fim do mundo" (ALBERT, KOPENAWA, 2010,
p. 489).
O principal discurso de Davi é que a sociedade está suprimindo o fato de que a
Amazonia existe, que há poucos povos nela que precisam sobreviver do que a floresta lhes
oferece e que a sociedade está suprimindo toda essa riqueza. O ativista defende também que a
os seres nascidos em meio a urbanização desconhecem da vivência de mundo dos indígenas e
busca mostrar a cultura de seu povo, os Yanomamis, para essa sociedade que ele nomeia de
“homens brancos” e assim, ao decorrer de todo o livro ele compara e narra a Bruce as diferenças
culturais que ele percebe.

A Queda do céu
Essa obra possui uma grande importância para a civilização pois toda a sua construção
é baseada em relatos reais de um indígena ativista que possui uma grande paixão em defender
seu povo, sua cultura e principalmente a Amazônia. Presenciamos assiduamente ocorrências de
crimes ambientais ligados principalmente ao tráfico da madeira. Uma flora inteira sendo
devastada pelo homem quase todos os dias, povos indígenas sendo dizimados, uma fauna sendo
descontinuada e tudo em nome da riqueza do homem branco.
Kopenawa não só busca defender a Amazônia, seu objetivo também é alertar a sociedade
sobre o mal que cairá sobre as cabeças dos homens brancos com o seu fim. É nessa narrativa
que cada parte do livro é composta. Davi, nascido em 1963, cresce vivenciando tamanho
sofrimento do seu povo vindo por parte da civilização e isso torna-se o motivo para sua
incansável luta contra essa violência à sua tribo e a destruição da floresta.
E com isso precisamos entender melhor o significado de “alteridade indígena”. Segundo
Julie Dorrico, pesquisadora e curadora de literatura indígena “A alteridade indígena, como outra
face da moeda da normatividade moderna, trouxe consigo, até os dias de hoje, o signo do
preconceito, do racismo e da subalternização desses mesmos povos”.
Nesse sentido, podemos entender que a alteridade indígena que Kopenawa quer
transmitir é exatamente sobre os costumes do seu povo, são as comparações que ele traz e
mostra os caminhos para compreender o quanto a floresta é rica em matérias que podem ser
beneficentes ao homem. Quando compreendemos que culturas diferentes existem, devemos
passar a respeitar esse fato.

Um dos fatores que determina a alteridade do autor no livro é o simples fato de que A
Queda do Céu não pode ser lido como um livro ou ser conteúdo de algum livro. Trata-se de um
manifesto, uma filosofia indígena. Kopenawa dá ênfase a ignorância do homem branco diversas
vezes principalmente ao falar que os brancos não escutam e não gravam histórias. Na verdade,
os brancos somente dão importância a palavras gravadas em livros que ele chama de “pele de
papel” que também pode significar o dinheiro. Ao mesmo tempo que o autor despreza a escrita,
esta se torna sua necessidade pois a escrita é o que permanece através do tempo. Davi conta
com essa permanência pois ele acredita que o homem branco de agora não vai dar valor ao que
ele alerta no livro e sim os filhos do homem branco, a próxima geração.

A importância da alteridade indígena em A Queda do Céu é alertar através da escrita e


da visão de Davi Kopenawa à existência do seu povo, da cultura e dos modos de vida. É mostrar
que o indígena é sujeito e não uma vítima. E que é possível questionar e refletir sobre a
sociedade moderna atual sem ignorar a interpretação da cultura deles.

Considerações Finais

A Queda do Céu é composta de 3 partes, a primeira intitulada Tornar-se Outro, a segunda


intitulada A Fumaça do Metal, e a terceira A Queda do Céu. Essa terceira parte aborda a odisseia
do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo através de visões xamânicas e
meditações etnográficas sobre os brancos. É a parte crítica do livro essencial para questionar a
noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami chamam de
povo da mercadoria. A visão profética do xamã trás várias reflexões sobre o mundo moderno.
É através da sua alteridade que se pode identificar a identidade do povo Yanomami em todos
os seus detalhes, incluindo mitos, rituais e comportamentos. A partir disso quando se compara
com o comportamento do homem branco consegue-se perceber o quão fútil e ignorante o povo
branco é ao dar valor somente em prol do individual e não do coletivo. É preciso cada vez mais
inserir livros de alteridade indígena não somente em escolas ou universidades, mas também no
cotidiano para que as pessoas entendam questões que vão além do interesse próprio e se
comovam com o que realmente há de importante que é a floresta, afinal todos estão debaixo do
mesmo céu.

Referências

• DANNER, Leno Francisco; DORRICO PERES, Julie Stéfane. A literatura indígena


como crítica da modernidade: sobre xamanismo, normatividade e universalismo – notas
desde A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce
Albert. O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira, [S.l.], v. 26, n. 3, p. 129-156,
nov. 2017. ISSN 2358-9787. Disponível em:
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/11914/1
0751.
• DORRICO, Julie. Alteridade Indígena: Voz-Práxis Via Literatura em A Queda do Céu:
Palavras de Um Xamã Yanomami. REVISTA OPINIÃO FILOSÓFICA, PORTO
ALEGRE, V. 08; No. 01, p. 59-72, 2017. Disponível em:
https://doi.org/10.36592/opiniaofilosofica.v8i1.730.
• LYRIO, Zara. ‘A Queda Do Céu’: Reflexões Junguianas Sobre O Alerta Xamânico De
Davi Kopenawa. Junguiana: Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica,
v.38-2, p.139-154, 2º sem. 2020. Disponível em: https://www.sbpa.org.br/wp-
content/uploads/2020/12/revista-junguiana-38-2.pdf.
• KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã
yanomami. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

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