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Autor: Sérgio Barcellos Ximenes.

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Lady Takeshita e seus ETs mirins: uma lacuna importante na história da ficção
científica brasileira

Resumo

Tema: a novela infantil "Estranhos Visitantes", da professora pública Hermengarda


Leme Leite Takeshita (a Lady Takeshita, 1903-1986), ainda não incluída na cronologia
da ficção científica brasileira; publicada em 1954, tem seu enredo centrado na história
de dois pequenos irmãos marcianos que visitam a Terra em missão de paz; o final do
artigo contém um resumo da história.

Inspiração para a obra: um avistamento de disco voador, realizado da varanda da


casa de praia da autora, em 1937, no qual um grande objeto luminoso, sem fazer
barulho, desceu do céu, flutuou à frente da varanda, pousou e depois subiu lentamente
até desaparecer.

Ano da primeira divulgação da história: 1947 (escrita para ser lida em sala de aula
no curso primário, a exemplo de outras novelas infantis ainda inéditas produzidas pela
professora).

Lançamento da obra: meados de 1954, pela Assembleia Juvenil da Boa Vontade,


entidade beneficente criada pela autora.

Valores da obra:

. Terceira história de ficção científica escrita por uma brasileira: a primeira, "A
Rainha do Ignoto" (1899), por Emília Freitas, e a segunda, "S. Exa. a Presidente da
República no ano 2500" (1934), por Adalzira Bittencourt.

. Primeira novela infantil da FC brasileira (o primeiro romance: "Viagens


Maravilhosas do Dr. Alpha ao Mundo dos Planetas", de Oswaldo Silva, publicado em
1907 na revista "Tico-Tico").
. Primeira história da FC brasileira inspirada em um avistamento pessoal de disco
voador (em 1937).

. Primeira história da FC brasileira cujo enredo centra-se na visita de seres


alienígenas à Terra.

. Antecipação de pelo menos 17 motivos de "ET, o Extraterrestre" (1982), com a


diferença de ser apenas um ET no filme de Steven Spielberg e dois na novela de
Takeshita.

. Antecipação, no enredo de sua novela, de pelo menos 6 novidades tecnológicas dos


tempos modernos.

. Primeira história da FC brasileira a propor uma utopia socialista, sem propósitos


eugênicos (isto é, de seleção de habitantes com fins de "aperfeiçoamento" humano), e
na qual seus governantes e habitantes prescindem de dinheiro, não matam animais para
consumo e têm como objetivos maiores a preservação da vida e o bem da coletividade,
funções únicas do progresso científico e tecnológico.

Avistamentos de discos voadores em 1954 (associados a "dois marcianos"):

. Montes de Gardunha (Portugal), em 24 de setembro.

. Flandres (Bélgica), no início de outubro.

. História fictícia baseada nesses avistamentos: "Dois Marcianos Visitam a Terra",


"sensacional reportagem fotográfica para um jornal de Marte" publicada em novembro
do mesmo ano.

Dados biográficos sobre Hermengarda Takeshita

. Nascimento: 1903.

. Formação profissional: Escola Normal.

. Casamento: outubro de 1929, com o imigrante japonês Kwanichi Takeshita


(chegado ao Brasil em maio de 1924); cerimônia íntima do casal, o que levou
Hermengarda a ser deserdada pelo pai, motivado por preconceito étnico.

. Profissões do marido: tenista, professor de judô, professor da escola japonesa


Taishô Shogakkô no bairro da Liberdade, escritor e tradutor de livros e filmes.

. Período de maior dificuldade: Segunda Guerra Mundial e pós-guerra, por estar


casada com um japonês; várias prisões do marido somente por falar japonês.

. Amizades importantes: Monteiro Lobato (incentivador literário), Ricardo


Gonçalves (poeta), Paulo Duarte (jornalista, poeta e memorialista) e Erico Verissimo.

. Falecimento: 1986.
Atuação como professora (sempre em São Paulo)

. 1922: professora substituta efetiva do Grupo Escolar de Santa Branca, no Vale do


Paraíba; diretora da escola mista rural na Fazenda Guatapará.

. 1924, 1925 e 1926: professora da escola isolada (de ensino primário, em meio rural)
de Ribeirão Preto.

. 1927: professora substituta efetiva no Grupo Escolar do Brás.

. 1930: professora adjunta no Grupo Escolar de Guapira.

. 1935: transferência da professora, do Grupo Escolar Silva Jardim para o de Eduardo


Prado.

Atuação como tradutora

. "Seleções do Reader's Digest", revista.

. "Eu Viajei com Vasco da Gama", Louise Andrews Kent, Editora Universitária,
1944.

. "Você e suas Superstições", Brewton Berry, Editora Universitária, 1945.

. "História das Invenções. O Homem, o Fazedor de Milagres", Hendrik Loon, Editora


Brasiliense, 1946.

. "Barrabás", autor alemão, Editora Universitária, 1947 (em conjunto com Kwanichi
Takeshita).

. "A Gravidez Controlada: Livro aos Pais em Expectativa", Alan F. Guttmacher,


Editora Universitária, 1958.

. "Destinos Humanos", Leonard Frank, Editora Universitária.

. "Os Treze Pontos".

. "Perdidos pelo Pecado",

Atuação como revisora

. Editoras Ipê, Brasiliense e Universitária.

Obras da autora

. "O Calvário de uma Professora", romance autobiográfico de tese lançado sob o


pseudônimo Dora Lice e atribuído a Violeta Leme (1928). Segunda edição: 1952.

. "Sakurá", romance ambientado no Japão (1937). Teria recebido resenhas positivas


de Monteiro Lobato, Erico Verissimo e Menotti del Picchia (não encontradas na
pesquisa). Segunda edição: 1960.
. "Moinho de Vento", obra que disputou o prêmio de melhor romance do ano em
concurso da Academia Brasileira de Letras (1943).

. "Estranhos Visitantes", novela infantil de ficção científica (1954).

. "Um Grito de Liberdade ─ Uma família paulista no fim da belle-époque",


autobiografia (1984).

. "Joãozinho no Planeta Azul", novela infantil de ficção científica (1975 ou 1980).

. Livro ainda inédito: "Quando o Diabo Sorri".

Artigos, contos e poemas

. Publicados nas revistas "Nikkei", "Anhembi" e "Revista dos Fazendeiros" (não


encontrados na pesquisa).

ONG fundada pela autora

. Assembleia Juvenil da Boa Vontade (possivelmente nos anos 50), destinada a


ajudar marginalizados sociais como hansenianos e presidiários.

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Apresentação

Na cronologia oficial da ficção científica brasileira constam apenas duas autoras até
1955: Emília Freitas, autora de "A Rainha do Ignoto" (1899), e Adalzira Bittencourt,
autora de "S. Exa. a Presidente da República no ano 2500" (1934, e não 1929, como
registram as cronologias disponíveis). Este artigo destina-se a incluir uma terceira
autora, atualmente esquecida: Hermengarda Leme Leite Takeshita, a Lady Takeshita
(1903-1986).

"Estranhos Visitantes", a história de ficção científica de Lady Takeshita, resultou de


um avistamento pessoal de disco voador em 1937 ― bem antes, portanto, do modismo
internacional de avistamentos gerado pela comunicação do piloto militar americano
Kenneth Arnold, em 24 de junho de 1947, sobre nove supostos óvnis, ao sobrevoar o
Monte Rainier, perto da cidade de Seattle.

Nas páginas iniciais do livro de Takeshita, lançado em 1954, uma das então alunas
da professora, Neyde Mazzeo, relatou a gênese da obra:

"No ano de 1947, nós, alunas do curso primário, ganhamos mais uma novela de
nossa querida professora Hermengarda Leme Takeshita, novela esta que se destacou das
demais devido ao seu diferente enredo. O entusiasmo apossou-se de nós até a
imaginarmos no cinema, ideia comum em cérebros infantis.
"Quando surgiram os discos voadores, o nosso entusiasmo cresceu, e novamente, eu
e algumas colegas, então ginasianas, corremos à casa da inesquecível mestra, animando-
a publicar o seu livro. Não foi possível.

"Mais tarde, já aposentada, D. Hermengarda, sendo muito procurada por seus ex-
alunos, fundou com eles a Assembleia Juvenil da Boa Vontade, para continuar o seu
trabalho de educação abnegada, trabalho que faz jus a seu devotamento por São Paulo.

"A Assembleia Juvenil da Boa Vontade, para satisfazer a um velho sonho da sua
fundadora, sonho também acalentado pelo espírito filantropo de sua mãe, Clotilde Leme
Ramos, resolveu fosse publicado este livro em benefício dos leprosos, seres estes que
vegetam à margem da vida, ansiando por uma existência que desconhecem".

Segundo o relato acima, a história de Hermengarda teria sido lida em sala de aula
antes do avistamento nos EUA, ou, pelo menos, da popularização dos relatos sobre
discos voadores, alguns anos depois (correspondente à passagem escolar de Neyde, do
curso primário ao curso ginasial).

Outra informação importante: era costume de Hermengarda escrever novelas infantis


para leitura em sala de aula.

A apresentação da história coube ao político paulista Romeu de Campos Vergal


(1903-1980).

"Este [livro], Estranhos Visitantes, já devia de há muito ter sido publicado. Atribuo
esse atraso de publicação, não à sua boa vontade, ao seu desejo de lançar no mercado da
inteligência e da cultura mais um filho seu muito dileto, e sim a essa risonha
circunstâncias que enquadra 99% dos intelectuais: dificuldades financeiras...".

A categoria da novela de Takeshita é literatura infantil, a mesma de outro clássico da


nossa ficção científica, "Viagens Maravilhosas do Dr. Alpha ao Mundo dos Planetas",
de Oswaldo Silva, publicado em 1907 na revista "Tico-Tico". Mas esta obra é
geralmente classificada nas cronologias como "romance ilustrado".

Nesse período da nossa FC, denominado "proto ficção científica", várias obras
destinaram-se ao público infantojuvenil, como "O Irmão do Diabo", de Jerônimo
Monteiro (1937) e "Viagem à Aurora do Mundo", de Érico Veríssimo (1939).
O livro "Estranhos Visitantes"

"Estranhos Visitantes", Hermengarda L. Takeshita, 160 páginas, editado pela


Assembleia da Boa Vontade, São Paulo, 1954.

Na mídia impressa da época saíram poucas notícias sobre o lançamento da obra.

A "Revista do Professor" registrou o recebimento de um exemplar da obra.


"Revista do Professor" (SP), agosto de 1954, número 21, página 28, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/145335/1552

Na edição de setembro de 1954, a mesma revista publicou a única resenha conhecida


sobre a obra.

"Revista do Professor" (SP), setembro de 1954, número 22, páginas 29 (segunda


coluna) e 30 (primeira coluna).

http://memoria.bn.br/DocReader/145335/1593

http://memoria.bn.br/DocReader/145335/1594

O "Correio Paulistano" divulgou "Estranhos Visitantes" como uma das novidades à


venda na Livraria Civilização Brasileira, em dezembro do mesmo ano.
"Correio Paulistano", 19/12/1954, número 135, página 2, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/764302/2146
A coincidência do lançamento do livro com dois relatos de dois marcianos na
Terra

O lançamento do livro de Takeshita, em 1954, coincidiu com dois relatos de visitas


de dois possíveis "marcianos" à Terra (os dois visitantes no livro de Takeshita são
marcianos), além de um relato ficcional sobre a mesma situação. Nessa época,
registrava-se uma epidemia de "avistamentos" de discos voadores em várias regiões do
mundo.

Repare na expressão "Estranhos Visitantes", no título da matéria abaixo.

"Ultima Hora" (Rio), 28/9/1954, número 1007, página 5, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/386030/20773

Em 1º de novembro do mesmo ano, a matéria "Os discos voadores" informava:


"Nos últimos dias, aquele fenômeno se tem repetido com insistência na Europa e na
América. E já agora, os discos voadores foram vistos em Porto Alegre, por soldados e
oficiais da Base Aérea daquela capital.".

O parágrafo final da matéria (negrito acrescentado):

"Só nos resta esperar que os estranhos visitantes dos nossos céus se resolvam a
descer e falar conosco...".

"O Combate" (São Luís, Maranhão), 1/11/1954, número 5981, página 5, primeira,
segunda, terceira e quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/763705/24801

No mesmo dia, aproveitando o modismo e o relato de um contato direto, o jornal


carioca "Diário da Noite" imaginou como seria a visita de dois marcianos à Terra e o
relatório resultante dessa excursão interplanetária.
"Diario da Noite", 1/11/1954, número 5725, página 32.

http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/36997

O artigo acima foi republicado pelo "Jornal do Commercio" de Amazonas na


primeira página, malandramente sem noticiar o caráter fictício do texto.
"Jornal do Commercio" (Amazonas), 6/11/1954, número 13.661, primeira página.

http://memoria.bn.br/DocReader/170054_01/54482

Em outubro de 1955, o jornal carioca "Diário de Notícias traduziu e publicou o artigo


"Poderemos ser visitados pelos marcianos?", de R. Singer. Novamente vemos a
associação da expressão "estranhos visitantes" aos marcianos.
"Diario de Noticias" (Rio), 31/10/1955, número 10.119, página 25, coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/45108
As semelhanças entre a novela "Estranhos Visitantes" (1954) e o filme "ET ─ o
Extraterrestre" (1982)

A importância de "Estranhos Visitantes" não reside apenas no fato de sua autora,


Hermengarda Takeshita, ser o terceiro nome feminino na ordem cronológica da ficção
científica brasileira. Como explicado acima, "Estranhos Visitantes" também é a primeira
história brasileira inspirada em um avistamento pessoal de disco voador, em 1937.

"Joãozinho no Planeta Azul", página 7, Hermengarda Leme Leite Takeshita, Editora


Metodista, 1975.

https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&id=uyeaAAAAIAAJ&dq=jo%C3%A3ozinho+no+planeta+azul&focus=searchwith
involume&q=japon%C3%AAs

"Joãozinho no Planeta Azul", página 9, Hermengarda Leme Leite Takeshita, Editora


Metodista, 1975.

https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&id=uyeaAAAAIAAJ&dq=jo%C3%A3ozinho+no+planeta+azul&focus=searchwith
involume&q=visitantes

O avistamento é citado por Nelly Novaes Coelho em sua obra "Dicionário Crítico de
Escritoras Brasileiras (1711-2001)".

"Nesse mesmo ano [1937], passa por uma experiência insólita: estava na varanda de
sua casa na praia, quando viu um imenso objeto luminoso surgir do céu, flutuar uns
momentos na sua frente, pousar sem ruído defronte à varanda, depois subir lentamente e
desaparecer no horizonte."

"Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras (1711-2001)", página 262, verbete


"Hermengarda Takeshita", Nelly Novaes Coelho, Escrituras Editora, São Paulo, 2002.
Em 1972, Hermengarda relatou a experiência à Nasa, em uma carta, recebendo
depois os agradecimentos de um diretor da organização.

"Estranhos Visitantes" também é a primeira novela infantil da FC brasileira. O


primeiro romance dessa categoria etária, "Viagens Maravilhosas do Dr. Alpha ao
Mundo dos Planetas", de Oswaldo Silva, saiu na revista "Tico-Tico" em 1907.

Outro motivo de importância da obra: trata-se da primeira história da ficção


científica nacional cujo enredo é centrado na visita de seres alienígenas à Terra.

Mas a lista de ineditismos vai além. Takeshita conseguiu antecipar, no enredo de sua
novela, algumas novidades dos tempos atuais.

. A comunicação audiovisual corriqueira por uma espécie de "aparelho de televisão"


doméstico (computador com câmera?).

. Um aparelho que, por meio da combinação tecnológica de rádio e eletricidade,


permite assistir a "todas as fitas [de cinema] e peças teatrais" em casa (Netflix?).

. Uma veste com a qual o usuário pode realizar voos individuais na Terra (jetpack?).

. Passarelas e esteiras rolantes, eletricamente controladas.

. Um equipamento elétrico portátil para a comunicação sonora entre os habitantes de


Marte (celular?).

. A comunicação via ondas de rádio com lugares distantes da Terra, no espaço


sideral.

Para finalizar com chave de outro, o enredo de "Estranhos Visitantes" antecipa pelo
menos 17 motivos de "ET, o Extraterrestre" (1982), com a diferença de ser apenas um
ET no filme de Steven Spielberg e dois na novela de Takeshita. Os motivos
semelhantes:

. A vinda de um ET mirim à Terra, no contexto de uma expedição nesse planeta.

. A cabeça grande e deformada dos extraterrestres, e o corpo bem diferente do


humano.

. O encontro inicial do visitante do espaço, com uma criança.

. A idade dessa criança (10 anos).

. A índole pacífica e amigável do ser alienígena.

. A descrença inicial dos adultos ao ouvirem o relato do encontro, feito pela criança.

. A exibição de poderes do ET, destinada a provar a origem extraterrestre.

. A comunicação entre humano e ET por meio da linguagem humana.


. A formação de uma amizade bonita e ingênua entre humano e ET.

. Situações cômicas geradas pelo espanto de outras pessoas ao conhecerem o ET.

. A adaptação de um aparelho eletrônico terrestre para permitir a comunicação com o


astro de origem do ET.

. A preocupação dos pais alienígenas com a situação do filho, por viver em planeta
estranho.

. A perseguição do ET por homens "maus", interessados em se aproveitar da situação


e despreocupados com o bem-estar do estranho ser.

. A capacidade de voar na Terra, sem nenhum auxílio físico (nos dois casos, uma
capacidade fundamental para impedir o sucesso dos homens maus).

. A descida à Terra de algo (disco voador, no caso do filme, e raio de luz, no caso da
novela) originário do astro onde vive o ET, para permitir o retorno ao lar.

. A despedida tocante entre humanos e ET, antes da separação.

. A continuidade do relacionamento entre criança humana e criança alienígena, após


a partida.
A utopia socialista de Takeshita

A imaginação de uma sociedade brasileira utópica marcou a fase inicial da nossa


ficção científica. Essas utopias compartilhavam um ponto: a sugestão, da parte de seus
autores, da possibilidade (ou melhor, necessidade) de "aperfeiçoamento" da espécie
humana por meio da seleção de seus "melhores" espécimes e, às vezes, da eliminação
dos "piores".

Hermangarda Takeshita era professora e pautou sua vida pela solidariedade, como
veremos abaixo. Essa formação profissional, somada ao seu caráter, impediu-a de seguir
o caminho preconceituoso de vários de seus colegas escritores.

Em "Estranhos Visitantes", a autora apresentou, tendo por ambiente o planeta Marte,


uma utopia socialista, não exclusivista, sem nenhum traço de eugenia e de seleção de
habitantes. Nessa sociedade ideal não existe dinheiro, os animais não são mortos para
consumo, e os objetivos de todos são a preservação da vida e o bem da coletividade,
funções únicas do progresso científico e tecnológico.
A autora de "Estranhos Visitantes"

"Lady Takeshita" era o apelido carinhoso da professora Hermengarda Leite Leme


Takeshita (1903-1986), nascida na cidade paulista de Franca.

https://artime47.webnode.com/projeto/integrador/liberdade/curiosidades2/hermengar
da-e-takeshita/

Se há pessoas que nos levam a afirmar "A vida dela daria um romance", a vida de
Hermengarda poderia servir de tema de uma telenovela inteira. Até porque a própria
autora escreveu três obras autobiográficas.

A primeira delas, "O Calvário de uma Professora", lançada sob o pseudônimo de


Dora Lice e atualmente atribuída a "Violeta Leme", é um romance autobiográfico de
tese em que Hermengarda relata as agruras das professoras primárias no início do
século, em São Paulo, premidas entre a ânsia de fazer um bom trabalho com as crianças
e as obrigações burocráticas impostas pelos órgãos do Estado.

A protagonista do romance chama-se Hermengarda, e a autoria da obra é atestada por


um sobrinho da escritora, Numa Júnior, em página do Facebook de sua antiga editora
(EdiNovo):
https://www.facebook.com/pg/EdiNovo-561236047363121/posts/

Como se pode perceber pela informação, houve uma segunda edição da obra em
1952. A primeira saiu em 1928 pelo Estabelecimento Graphico Irmãos Ferraz.

A segunda obra autobiográfica de Hermengarda Takeshita é o romance "Sakurá",


lançado em 1937.
Página da EdiNovo no Facebook.

https://www.facebook.com/pg/EdiNovo-561236047363121/posts/

"Sakurá" denomina a flor da cerejeira, um dos símbolos do Japão. A história, de 104


páginas, é ambientada no Japão, e a exemplo da própria vida da autora centra-se num
amor "proibido" por questões sociais. Infelizmente não há exemplares disponíveis da
obra.

https://rnavi.ndl.go.jp/kensei/tmp/VE800s-Y.pdf

Observação: o ano correto da publicação é 1937.

A segunda obra autobiográfica de Takeshita é mais conhecida e está disponível em


sebos online: "Um Grito de Liberdade ─ Uma família paulista no fim da belle-époque".
Lançada em 1984, tornou-se uma das principais referências sobre a atuação de
professoras na primeira metade do século XX, em nosso país.

"Álbum de Leitura - Memórias de Vida, Histórias de Leitoras", página 135, Lilian de


Lacerda, editora da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), 2003.
https://books.google.com.br/books?id=6XEnFDy5deQC&lpg=PA135&ots=WLMk1
mm9YH&dq=coment%C3%A1rios%20%22jorge%20doce%22%20hermengarda&hl=p
t-
BR&pg=PA135#v=onepage&q=coment%C3%A1rios%20%22jorge%20doce%22%20h
ermengarda&f=false

Takeshita é um dos focos da obra "Álbum de Leitura - Memórias de Vida, Histórias


de Leitoras", de Lilian de Lacerda, lançada em 2003 pela editora da Universidade do
Estado de São Paulo (Unesp).

https://www.estantevirtual.com.br/livros/lilian-de-lacerda/album-de-leitura-
memorias-de-vida-historias-de-leitoras/290092900

Reproduzo abaixo algumas páginas do livro disponíveis pela visualização do Google


Books, por apresentarem informações valiosas para o conhecimento da vida e da obra
de Hermengarda Takeshita.
"Álbum de Leitura - Memórias de Vida, Histórias de Leitoras", Lilian de Lacerda,
editora da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), 2003.

https://books.google.com.br/books?id=6XEnFDy5deQC&lpg=PA139&ots=WLLn3t
p4_H&dq=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20voador%22&hl=pt-
BR&pg=PA138#v=onepage&q=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20v
oador%22&f=false

Os tempos difíceis do casal Takeshita durante a II Guerra Mundial são mencionados


pela historiadora Mary del Priore na obra a seguir:

"Histórias da gente brasileira: República: memórias (1889-1950)", Mary del Priore,


Editora Leya, Rio de Janeiro, 2017.
https://books.google.com.br/books?id=pQJDDwAAQBAJ&lpg=PT509&dq=hermen
garda%20takeshita&hl=pt-
BR&pg=PT145#v=onepage&q=hermengarda%20takeshita&f=false

Outra passagem do mesmo livro:

https://books.google.com.br/books?id=pQJDDwAAQBAJ&lpg=PT509&dq=hermen
garda%20takeshita&hl=pt-
BR&pg=PT509#v=onepage&q=hermengarda%20takeshita&f=false

A jornalista Lenita Miranda de Figueiredo escreveu este perfil de Hermengarda para


a "Folha da Tarde" em 1982.

Aurora

Hermengarda Leme Leite Takeshita é esta ilustre professora a quem hoje


expressamos todo o nosso carinho e admiração. Ela terminou seu lindo livro de
memórias, Um Grito de Liberdade ─ uma família paulista no fim da belle-époque.

Escritora de livros infantis, tradutora de muitas obras importantes, é uma das


criaturas mais bonitas e generosas que conheço. Altamente espiritualizada, mesmo um
pouco enferma, dedica grande parte de sua vida ao próximo, e sua vida tem sido um
exemplo de sacrifício, tenacidade e fé.

É uma criaturinha de pequena estatura, sempre vestida de branco e guardando ainda


no olhar o verde brilhante dos mares em dias de verão. Ela é toda uma primavera
distante de qualquer inverno meiga, inteligente, culta e profundamente lucida. É capaz
de lembrar-se sem nenhuma dificuldade de datas importantes da História, de
acontecimentos da infância, de aniversários de amigos, nomes de filósofos, poetas,
escritores, artistas.

E foi com essa mesma lucidez que escreveu seu livro de memórias que será lançado
brevemente em São Paulo, Franca, São José dos Campos e outras cidades onde se
desenrola a sua empolgante história.

Amiga pessoal de Menotti del Picchia, Paulo Duarte e Erico Verissimo, recebeu
deles os maiores elogios sobre sua obra.

Na foto (de capa) pode-se apreciar a beleza serena de Hermengarda Leme Leite
Takeshita, nos áureos dias da mocidade. Deus foi pródigo com ela, dando-lhe tanta
beleza, tantos talentos, tanta bondade e uma vida feliz ao lado de seu samurai,
Takeshita, que aos 81 anos de idade trabalha incansavelmente, excelente tradutor que é
de filmes japoneses, conhecendo nosso idioma melhor que muito brasileiro que se diz
filósofo.

Que saiba Hermengarda, através destas palavras, o quanto a admiramos, respeitamos


e amamos. Sua obra precisa tornar-se conhecida: "Joãozinho no Planeta Azul",
"Estranhos Visitantes", "Sakurá" e suas memórias, para que todos alcancem o valor
dessa pequenina mulher que tem sempre o coração pulsando de amor pelos seus
semelhantes e que é tão grande quanto qualquer montanha do Himalaia.

https://www.containercultura.com.br/biografia/um-grito-de-liberdade-uma-familia-
paulista-no-fim-da-belle-epoque-267/

Francisco Noriyuki Sato, em matéria publicada no periódico "São Paulo Shimbun,


em 6 de novembro de 1979, mencionou várias fases da vida do casal Hermengarda e
Takeshita.

Hermengarda e Takeshita

Subindo com o pequeno elevador num dos inúmeros edifícios da Praça Carlos
Gomes, no bairro da Liberdade, deparamos com um apartamento, um dos poucos ainda
não dominados pelos escritórios de advocacia, corretoras ou dentistas que se espalharam
pelos edifícios da região.

É lá que mora um dos primeiros casais nipo-brasileiros, completando 50 anos de


casamento: Hermengarda Leme Leite Takeshita (natural de Franca), que ainda conserva
um pouco dos costumes da família paulista "de quatrocentos anos", e o Kwanichi
Takeshita (natural de Tóquio), que possui os traços de um imigrante japonês apesar de
estar há 55 anos no Brasil.

Hoje, felizes, comemoram as Bodas de Ouro, mas a vida para o casal não foi um mar
de rosas.

Se hoje ainda persistem algumas velhas tradições e os antigos preconceitos contra o


casamento interétnico, pode-se imaginar como era há 50 anos!

A história do casal começa em 16 de maio de 1924, quando Kwanichi Takeshita,


então com 21 anos de idade, desembarcava em Santos, desistindo de sua meta inicial
que era os Estados Unidos, e tendo em seu currículo os dois anos de Economia Política
que havia cursado na Universidade Wasseda.

Logo após o desembarque, Takeshita foi morar em Guatapará, um dos núcleos da


colonização japonesa.

Nesta época, Hermengarda lecionava em Guatapará: "Tinha chegado um japonês em


nossa pequena cidade e que não falava português. Só inglês: Todo o mundo queria
conhecer e conversar com ele. Assim não podia dar as minhas aulas". Afirma sorrindo e
complementa: "Takeshita tocava gaita e ia fazer serenata para nós. Naquela época, sair
da fazenda era difícil. Muitos fugiam e eram mortos. Mas Takeshita recebeu ordens para
deixar a fazenda por causa do mau exemplo que estava dando".

Em São Paulo

Assim, em 31 de outubro de 1924, Takeshita chegava a cidade de São Paulo, onde na


esquina da rua XV de novembro com a rua Direita, ficou parado para ver se passava
algum japonês, pois ainda não conseguia falar português.

De janeiro de 1925 até 1933, Takeshita lecionou na Taishô Shogakkô, escola da


colônia japonesa. Gostava dessa profissão porque sobrava-lhe tempo para praticar o
tênis, seu esporte predileto.

"Em casa, todas as sextas tinha reunião, e o Takeshita perguntou-me se tinha


coragem de ir para o Japão com ele. Eu respondi que sim", relembra Hermengarda
levemente comovida.

O Casamento

Casaram-se no dia 23 de outubro no consulado Japonês e no dia 6 de novembro de


1929 no Cartório. Quanto a isso, dona Hermengarda guarda nítidas recordações:

"Eu fui com a raquete de tênis para o Cartório, na volta do clube, e levamos todos os
papéis. As testemunhas eram todos japoneses." Nesta época, já estava com o passaporte
preparado para ir morar no Japão, conforme haviam planejado.

Casaram, mas continuaram morando separados como se nada tivesse acontecido. A


família também não ficou sabendo de nada durante um mês.

"Deixa de ser besta" foi a resposta da sua mãe ao tomar conhecimento do casamento.
Hermengarda conta como foram as reações:

― No começo ninguém acreditou, mas depois, com a apresentação dos papéis, foram
obrigados a admitir. Papai me deserdou, e os parentes até os amigos e amigas me
hostilizaram. A colônia japonesa também não viu com bons olhos a nossa união. Todo
mundo parava para olhar. No cinema, mesmo no escuro, todos olhavam. A mamãe foi a
primeira a nos procurar.

E Takeshita completa:

― Fui no hotel onde estava hospedado o pai de Hermengarda (que era advogado),
para dar satisfações, mas ele reagiu tão furiosamente que pensei que nunca mais iríamos
nos entender. Depois, ele começou a compreender-nos, até que nos tornamos muito
amigos".

A Segunda Guerra
Na época da II Guerra Mundial, a vida não era fácil para o casal, que residindo na
Rua Apiaí (hoje, o mesmo trecho chama-se Francisco Justino de Azevedo – Cambuci) e
sem recursos, chegaram a vender os móveis e até as roupas para sobreviverem.

"O Takeshita ia vender batata e era preso porque falava japonês, e eu precisava pagar
a fiança para libertá-lo sempre”, afirma Hermengarda, que acredita ter sido aquela a
época mais difícil na vida do casal. E foi durante a guerra mesmo que ela escreveu o
livro “Sakurá”.

Sakurá

A autora do Sakurá conta que numa noite de tempestade e muito triste, quando
Takeshita estava no cassino tentando ganhar algum dinheiro com apostas, na passagem
mais amarga das recordações do casal, ela decidiu: "O tempo que vou gastar chorando,
vou gastar escrevendo um livro".

Depois da Guerra

A sequência dos anos difíceis para a vida do casal se prolongou ainda por muito
tempo. Mesmo durante a guerra, eles tiveram que mudar para Campos de Jordão, para
fugir das prisões frequentes com que Takeshita vinha sendo atormentado em São Paulo.
Em Campos de Jordão, enquanto Hermengarda organizava um colégio recém-fundado e
ajudava nos serviços caseiros, Takeshita foi morar num sítio, onde havia plantação de
cenoura, trabalhando nos serviços de lavoura e dormindo no chão de terra batida.

Desde 1955 até recentemente, Takeshita traduziu os filmes japoneses das


companhias Shochiku, Toei e Toho, as três empresas que suprem o mercado brasileiro
com películas japonesas, chegando a soma de 1300 filmes traduzidos por ele.

Dona Hermengarda, fundadora da Assembleia Juvenil de Boa Vontade, entidade que


prestou muitos serviços à comunidade paulistana, além de publicar “Sakurá”, publicou o
livro “Estranhos Visitantes”, uma novela infantil que obteve bastante sucesso, cuja
renda foi revertida em benefício dos leprosos.

Outros livros ainda inéditos fazem parte do seu arquivo, e que pretende, se Deus
quiser, publicar: "Joãozinho no Planeta Azul" que recebeu recentemente elogiosos
comentários do jornal "Popular da Tarde", antes mesmo de ser editado, "Quando o
Diabo Sorri" e "Moinho de Vento". Fora os livros, existem muitos contos e poesias,
dentre os quais, muitos já foram publicados em jornais e revistas.

Tudo isso além das memórias que ela prepara agora com muito carinho, e que poderá
chamar "Memórias de Uma Vida Faz de Contas".

Adendo do site:
Em Junho de 1980, Hermengarda viu sua obra "Joãozinho no Planeta Azul"
publicada. Sua biografia que recebeu o nome de "Um Grito de Liberdade", foi publicada
em 1984.

Hermengarda Leme Leite Takeshita faleceu no ano seguinte, e Kwanichi Takeshita,


alguns anos depois. O casal continuou na Praça Carlos Gomes até o fim.

http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/historia/imigracao/hermengarda-e-
takeshita/

A única menção encontrada na mídia impressa sobre a vida pessoal de Hermengarda


refere-se a uma doação de um prédio na Rua Rodrigo de Barros, no bairro da Luz, em
São Paulo. Data de 1928.

"Correio Paulistano", 10/3/1928, número 23.186, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/29715
A atuação como professora

Além dos fatos mencionados nos recortes acima, a consulta à Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional permite acrescentar estas informações relativas à atividade de
Hermengarda como professora.

1922

Neste ano, Takeshita foi nomeada substituta efetiva do Grupo Escolar de Santa
Branca, município do Vale do Paraíba, em São Paulo.

"Correio Paulistano", 4/2/1922, número 21.045, página 8, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/7770

Seis meses depois, Hermengarda tornou-se diretora da escola mista rural na Fazenda
Guatapará (onde veio a conhecer seu futuro marido).
"Correio Paulistano", 12/8/1922, número 21.228, página 4, penúltima coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/9376

A Fazenda produzia café, cereais e cana-de-açúcar. A localidade foi elevada a


Distrito e depois a município, este em 1989.

https://sampahistorica.wordpress.com/2018/03/20/fazenda-guatapara/

1923

Em 1923, o nome de Hermengarda foi registrado na seção "Requerimentos


Despachados" dos Atos Oficiais da Secretaria do Interior da Prefeitura de São Paulo.
"Correio Paulistano", 8/3/1923, número 21.228, página 8, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/11260

1924, 1925 e 1926

Nestes três anos, o nome de Hermengarda aparece no "Almanak Laemmert" como


professora em Ribeirão Preto.

"Almanak Laemmert" (Rio), 1925, página 810, segunda coluna (em "Estado de S. Paulo
─ Municípios ─ Instrucção Publica").

http://memoria.bn.br/docreader/313394/90103

1925

Em 1925, Hermengarda atuava como professora na escola mista de Monteiros, em


Ribeirão Preto, quando recebeu o direito de tirar três meses de licença.

"Correio Paulistano", 19/2/1925, número 22.115, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/17026

1927
O "Almanak Laemmert" de 1927 traz o nome de Hermengarda como professora
substituta efetiva no Grupo Escolar do Brás.

"Almanak Laemmert" (Rio), 1927, página 68, terceira coluna (em "Secretaria do
Interior").

http://memoria.bn.br/docreader/313394/98751

1930

Três anos depois, Hermengarda lecionava no grupo escolar de Guapira (hoje Jardim
Guapira), como professora adjunta.

"Correio Paulistano", 28/1/1930, número 23.773, página 19, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/419

1935

Cinco anos mais tarde, o "Correio Paulistano" registrou a transferência de


Hermengarda, do grupo escolar Silva Jardim para o de Eduardo Prado.
"Correio Paulistano", 28/11/1935, número 24.445, página 9, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/10132

1940

Uma comunicação da Diretoria do Serviço de Saúde Escolar, destinada a promover o


fichamento médico pedagógico, incluiu o nome de Hermengarda no início de 1940.

"Correio Paulistano", 31/1/1940, número 25.738, página 8, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/090972_09/348
A tradutora Hermengarda Leme Leite

Como já mencionado nos recortes acima, Hermengarda teve uma atuação destacada
como tradutora, especialmente na Editora Universitária. Alguns registros dessa
atividade, na mídia impressa do seu tempo.

Eu Viajei com Vasco da Gama

https://books.google.com.br/books/about/Eu_viajei_com_Vasco_da_Gama.html?id=
ZOBaAAAAMAAJ&redir_esc=y
"O Malho", outubro de 1944, número 57, página 16, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/96847

Você e Suas Superstições

"Dicionário de Eufemismos da Língua Portuguesa", página 478, Roseli Oliveira,


Editares, Foz do Iguaçu, 2015.

Imagem do site Estante Virtual.


"O Malho", julho de 1945, número 666, página 8, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/116300/97495

Barrabás

"O Jornal" (Rio), 23/11/1947, número 8458, página, penúltima coluna (em
"Bibliografia da Semana").

http://memoria.bn.br/DocReader/110523_04/41087

História das Invenções. O Homem, o Fazedor de Milagres

"O Jornal", 24/2/1946, número 7923, página 25, quinta coluna (em "Bibliografia da
Semana").

http://memoria.bn.br/DocReader/110523_04/31904
https://issuu.com/andretangram/docs/hist__ria_das_inven____es_-_hendrik

A obra de Hendrik Loon serviria de base para um livro infantil de Monteiro Lobato,
"História das Invenções".
"História das Invenções", Monteiro Lobato, 1935.

https://sitio.pmvs.pt/wp-
content/uploads/2014/06/Hist%C3%B3ria_das_Inven%C3%A7%C3%B5es.pdf

Destinos Humanos
Imagem do site Estante Virtual.

O romance serviu de base para o filme "Sagrado e Profano", estrelado por Robert
Mitchum.

"Diario de Noticias" (Rio), 1/4/1943, número 7801, página 8, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/093718_02/38105

A Gravidez Controlada

"Tribuna da Imprensa" (Rio), 2-3/8/1958, número 2605, página 24, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/154083_01/41998

Na mesma editora Universitária, Takeshita realizou trabalhos de revisão, assim como


nas editoras Ipê e Brasiliense.
Kwanichi Takeshita, o marido de Hermengarda

Na mídia impressa da época, a atividade de Kwanichi Takeshita como tenista foi


registrada em várias notícias na seção de esportes dos jornais, como esta:

"A Gazeta" (SP), 25/3/1933, número 8161, página 10, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/763900/40883

Takeshita foi autor de um livro clássico sobre judô, ainda hoje mencionado em
páginas da Web pelos praticantes do esporte.

"O Jornal", 1/1/1948, número 8490, página 14, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/110523_04/41612
https://www.estantevirtual.com.br/sebopaulistano/kwanichi-takeshita-ju-do-antigo-
jiu-jitsu-450602852
O romance "Moinho de Vento"

No artigo de Francisco Noriyuki Sato, publicado em 1979 e apresentado acima,


lemos:

Outros livros ainda inéditos fazem parte do seu arquivo, e que pretende, se Deus
quiser, publicar: "Joãozinho no Planeta Azul" que recebeu recentemente elogiosos
comentários do jornal "Popular da Tarde", antes mesmo de ser editado, "Quando o
Diabo Sorri" e "Moinho de Vento". Fora os livros, existem muitos contos e poesias,
dentre os quais, muitos já foram publicados em jornais e revistas.

http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/historia/imigracao/hermengarda-e-
takeshita/

Na verdade, Hermengarda deve ter mencionado uma possível segunda edição de


"Moinho de Vento", porque o romance concorreu ao Prêmio Raul Pompeia, de melhor
romance, no ano de 1943. O concurso foi promovido pela Academia Brasileira de
Letras.

"A Manhã", 23/6/1943, número 574, página 2, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/116408/20761
"Joãozinho no Planeta Azul", o segundo livro de ficção científica de Takeshita

A segunda obra de FC escrita por Hermengarda intitula-se "Joãozinho no Planeta


Azul".

Página da EdiNovo no Facebook.

https://www.facebook.com/pg/EdiNovo-561236047363121/posts/

"Álbum de Leitura - Memórias de Vida, Histórias de Leitoras", Lilian de Lacerda,


editora da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), 2003.

https://books.google.com.br/books?id=6XEnFDy5deQC&lpg=PA139&ots=WLLn3t
p4_H&dq=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20voador%22&hl=pt-
BR&pg=PA138#v=onepage&q=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20v
oador%22&f=false
Embora o trecho acima registre 1980 como o ano de publicação, tanto o Google
Books quanto o anúncio do exemplar vendido no sebo online Estante Virtual dão 1975
como o ano correto. A obra foi lançada pela Editora Metodista, segundo o anúncio.

https://books.google.com.br/books/about/Jo%C3%A3ozinho_no_planeta_azul.html?i
d=uyeaAAAAIAAJ&redir_esc=y
Resumo de "Estranhos Visitantes", cena a cena

Joãozinho é um menino da roça, apaixonado pelo céu estrelado e pelas imagens dos
livros de Astronomia.

Ao se mudar para a capital, ganha do pai um "observatório astronômico", pequena


torre provida de telescópio e mapa estelar.

Ao fazer 10 anos de idade, o tio de Joãozinho o presenteia com um rádio transmissor.


Estimulado por uma conversa com o pai sobre Marte, o menino decide tentar se
comunicar com habitantes desse planeta.

Como os marcianos não compreendem o português, Joãozinho se propõe a ensiná-


los, dando aulas diárias do idioma, sempre de 19 às 20 horas, período em que Marte se
torna mais visível. A Rádio Joãozinho do Brasil a Marte (RJBM) começa as suas
transmissões com uma lição sobre o alfabeto.

Os dias passam, e Joãozinho às vezes usa o rádio de ondas curtas para captar
irradiações de Marte em resposta às suas lições.

Em poucos meses, completa as lições do curso primário. E nada de resposta.

Numa noite em que, triste, lamenta em sua torre o fracasso dos esforços, percebe um
raio azulado saindo de Marte e pouco a pouco se aproximando dele. E logo ouve vozes,
chamando-o pelo nome.

De repente, vê duas figuras luminosas, envoltas em nuvem transparente, voando em


sua direção.

Uma delas pede que não fique assustado e informa: são habitantes de Marte e vieram
à Terra para visitá-lo.

Joãozinho vê então um casal crianças alienígenas, ambas com cabeças maiores que a
de humanos e corpos muito esguios. Elas dizem que aprenderam a falar o português por
causa das lições de rádio, e solicitam permissão para descerem ao solo e serem
recebidas por ele.

O menino concorda, mas sai correndo para chamar o pai.

O pai não acredita na história, apesar das tentativas ansiosas de explicação de


Joãozinho, e chega a pensar que o filho passou dos limites com seu interesse pela
Astronomia. Para resolver logo a questão, decide acompanhá-lo.

Assustado, encontra os dois marcianos. Eles se apresentam: são os irmãos Haruetiwa


(a menina) e Chachiaco (o menino).

O pai, chamado Carlos, desconfia da história. Então Chachiaco provoca um choque


em Carlos, tocando em sua vestimenta especial, um "casulo elétrico" que combate o frio
natural de Marte.
A menina também prova a sua origem com uma novidade. Oferece uma pílula a
Carlos, a qual, ao ser ingerida, gera vigor instantâneo em seu corpo.

Carlos se convence. É então informado de que os marcianos pretendem estabelecer


relações amistosas com habitantes de planetas vizinhos, estando prestes a viajar em
visita oficial a vários deles para propagar as inovações que fizeram de Marte um planeta
pacífico e evoluído. Mas o caso atual se trata de uma visita particular a Joãozinho, para
agradecê-lo pelas irradiações instrutivas feitas na direção de Marte.

A curiosidade de Joãozinho sobre o aspecto físico do casal leva a uma explicação


científica. A cabeça deles é grande porque se tornaram mais inteligentes, graças a
pesquisas científicas. O corpo é muito fino porque não se alimentam mais: tomam duas
pílulas por dia, e só. E os membros estão atrofiados porque em Marte não é necessário
trabalhar nem se locomover por conta própria: os inventos tecnológicos dos marcianos
cuidam dessas atividades.

O casal aceita o convite para pernoitar na casa de Joãozinho, e todos vão dormir. Os
pequenos marcianos ficam no apartamento reservado aos hóspedes.

No dia seguinte, a empregada Aparecida percebe que a porta do quarto dos hóspedes
não está trancada e resolve averiguar o motivo. Ao ver uma cabeça grande e estranha
numa das camas, grita e sai correndo.

Acudida pela mãe de Joãozinho, D. Francisca. Informa ter visto um fantasma. Carlos
tranquiliza a empregada e explica às duas mulheres quem são eles.

D. Francisca finge acreditar na história maluca e vai preparar comida para os


hóspedes.

Joãozinho dirige-se ao quarto para se desculpar com os amigos. Conversam. Eles lhe
contam que vivem de 600 a 800 anos, pelo tempo da Terra. Haruetiwa tem 20 anos e
Chachiaco, 24, mas são ainda crianças em termos marcianos.

No banheiro, Chachiaco mostra o que ingerem ao acordar: uma gota de um líquido,


dissolvida em copo d'água. A substância fortalece os dentes, desinfeta o organismo
como um todo e refresca o aparelho digestivo. Joãozinho experimenta e comprova o
poder da gotinha. Sabe depois que basta esse copo, para suprir as necessidades de água
do organismo por todo um dia.

Depois o menino vai à mãe, explicando-lhe o modo de alimentação dos marcianos: a


comida em preparo não terá serventia para eles. D. Francisca, ainda incrédula, aceita ser
apresentada aos amigos do filho.

Os marcianos descem e agradecem a Carlos a boa acolhida. Por terem notícias da


Terra, temiam que a violência dos seres humanos fosse dirigida contra eles.

Ao ser apresentada aos alienígenas, D. Francisca quase desmaia de susto. Aparecida,


que espiava pela porta, vem em socorro da mãe de Joãozinho e a leva para a cozinha.
Mais calma, D. Francisca volta à sala e pede aos hóspedes informações sobre Marte.

O planeta só tem um país, em termos terrestres. No passado houve tantos conflitos e


armas como na Terra, até mesmo bombas atômicas. Aos poucos, os habitantes
conseguiram superar essa fase, e graças a um grande sábio se tornaram irmãos,
interessados somente na felicidade coletiva.

Não há comércio em Marte porque todos têm o que precisam, sem comprá-lo. Mas
todos trabalham: cada família fabrica o que precisa e possui uma área de terreno cinco
vezes maior que a necessária à sua sobrevivência. Há lavradores e pequenos industriais,
assim como grandes centros industriais e de distribuição de produtos. E todos ajudam a
produzir os materiais necessários em sua zona industrial, além de trabalharem na
conservação do lugar.

O calor para a produção vegetal é fornecido por um sistema elétrico instalado por
toda a plantação.

Em Marte há animais terrestres, peixes e pássaros, mas nenhum deles serve de


alimento ou é alvo de violência. Um animal, parecido com o marciano comum, mas de
cabeça menor, é usado como auxiliar porque aprende com facilidade o que lhe é
ensinado.

As vestimentas servem de meio de locomoção e de defesa, e nelas são guardadas as


substâncias necessárias à saúde e à alimentação. Botões na superfície controlam os
vários dispositivos internos, servindo de controle de velocidade, temperatura,
fornecimento de ar, invisibilidade e visibilidade. Máquinas emissoras e receptoras de
mensagem, menores que um relógio de pulso, cuidam da comunicação em Marte e
mesmo entre astros.

Haruetiwa explica a Joãozinho que ele não conseguiu ouvir as respostas radiofônicas
porque o equipamento terrestre é deficiente. Mas os marcianos captam todas as
irradiações a Terra.

Os habitantes conversam entre eles por uma espécie de aparelho de televisão


avançado, onde podem se ver. Passarelas elétricas permitem a locomoção passiva entre
distâncias curtas. Esteiras rolantes levam até os centros industriais, e por elas também
chegam os produtos desejados. Para viagens longas ou pelo espaço sideral, usam uma
roupa especial (como a do casal de visitantes) e a locomoção por eletricidade.

Joãozinho tenta fazer os marcianos elogiarem algo na Terra: os veículos, os


edifícios... mas estes sempre afirmam que tudo o que veem faz parte do passado de
Marte, além de apontarem consequências danosas à vida humana, que levaram à
erradicação desses avanços. O menino resolve então levá-los ao cinema.

Os espectadores estranham o aspecto físico dos marcianos. Dois deles, empresários


de circo da Capital, quase em estado de falência, veem no casal uma oportunidade de
ganhar dinheiro com os estranhos "humanos".
Joãozinho e seus amigos assistem a "O Fantasma Apaixonado" [filme real, lançado
em 1947]. Ao final, quando saem à rua, uma multidão de curiosos se encontra à espera
dos marcianos.

Os dois empresários seguem o carro do pai de Joãozinho e conseguem descobrir


onde moram os alvos de sua cobiça.

Joãozinho, ansioso por ter algo elogiado em seu planeta, pergunta se os marcianos
gostaram do filme. Gostaram, mas explicam que em Marte todos assistem a peças
teatrais e fitas de cinema em casa, por meio de um aparelho que combina rádio e
eletricidade.

Incomodado com a poluição do ar, o casal de ETs toma banho, único momento em
que eles tiram sua vestimenta especial. E explicam a Joãozinho que o banho marciano é
de luz, para fortalecer a pele.

Antes de irem descansar, comentam entre si: "Os humanos, com tudo aquilo que
julgam adiantamento e civilização, vão se matando uns aos outros".

Na hora do jantar, os dois homens tocam a campainha, pedem para falar com Carlos
e oferecem um contrato tentador, com a intenção de que os marcianos sejam expostos
ao público em seu circo. Carlos rejeita a oferta, indignado.

Ao saberem da proposta, os marcianos se assustam e comentam que "um dia


desaparecerá dessa terra o dinheiro, como em nossa terra, e com isso a ambição
material", e os humanos "compreenderão que a verdadeira felicidade não é ganhar
dinheiro, mas amarem-se mutuamente e viverem em harmonia uns com os outros".

Os irmãos marcianos saem para apreciar Marte no céu. Conversam sobre a


necessidade de ajudar os terráqueos a se desenvolverem e sobre como a irradiação que
enviam a seu planeta natal deixa os pais tranquilos quanto a sua estada na Terra.

Enquanto conversam, seis homens pulam o muro e começam a se aproximar deles.


Tendo ouvidos privilegiados, os marcianos percebem a movimentação. Um dos homens,
que reconhece ser do circo ao falar com eles, ordena que os sigam, ou então serão
"embrulhados" num saco e carregados à força.

Ante a recusa dos irmãos, os homens atacam, mas são paralisados por uma dor
súbita, gerada quando Chachiaco pressionar um botão em sua vestimenta, fazendo-os
rolar no chão e gritar. Quando o menino libera o botão, eles se levantam e saem
correndo.

Os irmãos decidem levar Joãozinho, um ser humano bom, ao contrário desses que os
atacaram, em uma viagem a Marte, assim que retornarem de lá trazendo-lhe o traje
necessário.

Não contam a ninguém a sua aventura: nem a seus pais, por meio de irradiação, nem
a seus amigos da Terra.
Nos dias seguintes, visitam vários lugares públicos de São Paulo, sempre atraindo a
curiosidade das pessoas. Toda a mídia publica fotos dos marcianos e comenta sobre a
sua visita à Terra. Para evitar o incômodo, às vezes saem à rua em modo invisível.

Os meninos são convidados a fazer uma palestra sobre Marte, mas os cientistas não
conseguem entender quando lhes explicam os avanços tecnológicos dos habitantes
daquele planeta.

O serviço secreto de um país resolve obter à força os trajes dos meninos, por
conterem "os segredos da invisibilidade, da locomoção [no ar] e da força". Ao emitirem
a ordem a seus agentes, pelo rádio, ela é captada em Marte, e os pais dos marcianos
comunicam esse perigo aos filhos, por meio do aparelho receptor de seus trajes.

Chachiaco agradece o aviso, mas, sentindo-se seguro, consegue a concordância dos


pais para ficar alguns dias a mais na Terra.

Uma noite, cinco homens armados pulam o muro da casa e tentam entrar pela janela
no quarto dos irmãos, usando uma escada. Haruetiwa, mais desconfiada dos seres
humanos que Chachiaco, está atenta: pega sua veste espacial e aperta um botão. Faz-se
uma luz intensa, e os dois homens que estavam entrando pela janela gritam de dor e
depois caem pela escada, rolando pelo chão. Haruetiwa envia outro raio, que atinge a
todos. Conseguindo levantar-se, eles fogem.

Os moradores acordam assustados, mas os irmãos riem de sua preocupação.


Descobre-se então que um dos assaltantes permanece no quintal, muito ferido. A polícia
leva o homem e, por ele, consegue descobrir e prender toda a quadrilha de espiões
estrangeiros.

Carlos resolve levar os marcianos para sua fazenda, onde terão mais segurança.
Joãozinho carrega o seu rádio a pedido de Chachiaco, que trabalhará nele para que
possa receber "irradiações de Marte". Durante a viagem, o marciano explica a
tecnologia marciana de obtenção de eletricidade pela condensação do ar.

Ninguém percebe que o carro é seguido por outro, com três homens.

A empregada Benedita se assusta com os marcianos e corre para rezar na capela,


onde Dona Francisca vai encontrá-la para explicar a história dos meninos.

Durante o jantar, Chachiaco elogia a beleza natural do lugar, lamentando que Marte
tenha sido tão transformada por causa das invenções científicas.

Nos dias seguintes, os irmãos experimentam as delícias da vida no interior, como


andar a cavalo e visitar os campos cultivados.

No quinto dia, um homem solicita emprego na fazenda a Carlos, e este o concede.


No dia seguinte, Haruetiwa acorda às 16 horas e descobre o sumiço de seu traje
espacial. Carlos logo percebe que o novo empregado, ausente, foi o autor do furto.
Chachiaco calcula que o furto deve ter acontecido duas ou três horas antes, e que os
criminosos estão se dirigindo à capital. Veste seu traje, aperta um botão e começa a
viajar num raio de luz. Enquanto voa, o traje vai se tornando invisível.

Chegando à estrada, examina alguns carros sem ser percebido, até encontrar o dos
bandidos.

Chachiaco envia um raio que fura um dos pneus do automóvel. O veículo para mais
adiante. Descem todos para avaliar o problema. O menino marciano entra no carro e
retira o traje da irmã, do embrulho onde foi colocado, trocando-o pelo paletó do chofer.
E depois voa de volta à fazenda. Ao chegar, explica a todos como conseguiu recuperar o
traje.

Chachiaco filosofa: "O castigo para esperteza deve ser uma esperteza maior".

Ante o desejo de Joãozinho de ter um traje semelhante para "enfrentar milhares de


inimigos em caso de guerra", o marciano explica que toda invenção deve ser
aproveitada para o bem da humanidade, e que a intenção dos marcianos de ajudar os
terráqueos só será concretizada quando estes mudarem de mentalidade, para que as
novidades tecnológicas não sejam empregadas no sentido do mal.

Os habitantes do local estão assustados pela luz emitida pelo menino durante a
viagem. Para tranquilizá-los, Chachiaco mostra-lhes todas as funções de seu traje
espacial. Os habitantes passam a adorar os meninos, em vez de temê-los.

Chachiaco, a pedido de Dona Francisca, trata um menino da região que não consegue
se alimentar por causa de dor no estômago e está prestes a morrer. A pílula marciana
consegue curá-lo em poucas horas.

Constatando o efeito curativo desse alimento, os irmãos marcianos resolvem deixar


muitas pílulas com o senhor Carlos e Joãozinho, reservando para eles mesmos somente
as necessárias até a viagem de volta a Marte.

Descobre-se depois que a pílula é capaz de curar todas as doenças, que, segundo os
marcianos, teriam origem microbiana.

Em Marte não há doença. E seus habitantes não têm sonho ou pesadelo, porque sua
consciência sempre está em paz.

No dia seguinte, Chachiaco termina de trabalhar no rádio terrestre. Consegue


transmitir irradiações da Terra e também receber as de Marte, usando uma lampadizinha
do rádio marciano. Haruetiwa resolve deixar seu rádio para Joãozinho, por gostar muito
dele, e ensina-o a usá-lo.

Chega a hora da partida. Joãozinho conta aos amigos que resolveu adotar um nome
marciano, Ateavistol ["adubo animal", em Marte], que ele ouviu numa transmissão de
Marte. Os irmãos acham graça. Haruetiwa sugere Saburoe, que significa "inteligência",
e Joãozinho aceita a sugestão.
Carlos e sua família se preocupam por não conseguirem achar nada de valioso para
presentear os marcianos, que tanto bem lhes fizeram. Chachiaco pede um retrato,
explicando: "o que vale no presente é o sentimento", e não o seu valor material.
Joãozinho oferece um retrato da família a Chachiaco, e quando estão a sós, o seu
próprio retrato à menina Haruetiwa, comovendo-a com o presente.

Os trabalhadores da fazenda são chamados para o adeus final, à hora do poente. Cada
um deles traz um presente aos marcianos, sem saber que eles nada poderão levar na
viagem.

O dia foi escolhido para tornar a viagem mais direta. Marte aparecendo no céu,
Chachiaco emite o aviso aos pais. Depois se despede de Joãozinho, prometendo se
comunicar com ele pelo rádio, sempre na hora da aula de português. Nessa mesma hora,
irradiará as lições de marciano. Também garante que se comunicarão pelo aparelho,
quando necessário.

Todos se abraçam. Chachiaco emite uma irradiação a Marte, e de repente uma luz,
como um farol, se alonga de Marte e desce até a Terra. Os dois irmãos se abraçam,
apertam botões da vestimenta, despedem-se com um "Até outra vista!" e vão subindo
pelo espaço. A claridade desaparece vai desaparecendo com eles, à vista dos terráqueos.

Quando tudo volta ao normal, Joãozinho corre até o rádio e pergunta se os dois
chegaram bem à Marte. Horas se passam. E então vem a resposta.

― Chegamos bem. Obrigado por tudo. Abraços aos seus. Até breve.

― Até breve ― responde Joãozinho, e corre para olhar o planeta Marte, já


desaparecido na escuridão do céu.

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