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Lady Takeshita e seus ETs mirins: uma lacuna importante na história da ficção
científica brasileira
Resumo
Ano da primeira divulgação da história: 1947 (escrita para ser lida em sala de aula
no curso primário, a exemplo de outras novelas infantis ainda inéditas produzidas pela
professora).
Valores da obra:
. Terceira história de ficção científica escrita por uma brasileira: a primeira, "A
Rainha do Ignoto" (1899), por Emília Freitas, e a segunda, "S. Exa. a Presidente da
República no ano 2500" (1934), por Adalzira Bittencourt.
. Nascimento: 1903.
. Falecimento: 1986.
Atuação como professora (sempre em São Paulo)
. 1924, 1925 e 1926: professora da escola isolada (de ensino primário, em meio rural)
de Ribeirão Preto.
. "Eu Viajei com Vasco da Gama", Louise Andrews Kent, Editora Universitária,
1944.
. "Barrabás", autor alemão, Editora Universitária, 1947 (em conjunto com Kwanichi
Takeshita).
Obras da autora
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Apresentação
Na cronologia oficial da ficção científica brasileira constam apenas duas autoras até
1955: Emília Freitas, autora de "A Rainha do Ignoto" (1899), e Adalzira Bittencourt,
autora de "S. Exa. a Presidente da República no ano 2500" (1934, e não 1929, como
registram as cronologias disponíveis). Este artigo destina-se a incluir uma terceira
autora, atualmente esquecida: Hermengarda Leme Leite Takeshita, a Lady Takeshita
(1903-1986).
Nas páginas iniciais do livro de Takeshita, lançado em 1954, uma das então alunas
da professora, Neyde Mazzeo, relatou a gênese da obra:
"No ano de 1947, nós, alunas do curso primário, ganhamos mais uma novela de
nossa querida professora Hermengarda Leme Takeshita, novela esta que se destacou das
demais devido ao seu diferente enredo. O entusiasmo apossou-se de nós até a
imaginarmos no cinema, ideia comum em cérebros infantis.
"Quando surgiram os discos voadores, o nosso entusiasmo cresceu, e novamente, eu
e algumas colegas, então ginasianas, corremos à casa da inesquecível mestra, animando-
a publicar o seu livro. Não foi possível.
"Mais tarde, já aposentada, D. Hermengarda, sendo muito procurada por seus ex-
alunos, fundou com eles a Assembleia Juvenil da Boa Vontade, para continuar o seu
trabalho de educação abnegada, trabalho que faz jus a seu devotamento por São Paulo.
"A Assembleia Juvenil da Boa Vontade, para satisfazer a um velho sonho da sua
fundadora, sonho também acalentado pelo espírito filantropo de sua mãe, Clotilde Leme
Ramos, resolveu fosse publicado este livro em benefício dos leprosos, seres estes que
vegetam à margem da vida, ansiando por uma existência que desconhecem".
Segundo o relato acima, a história de Hermengarda teria sido lida em sala de aula
antes do avistamento nos EUA, ou, pelo menos, da popularização dos relatos sobre
discos voadores, alguns anos depois (correspondente à passagem escolar de Neyde, do
curso primário ao curso ginasial).
"Este [livro], Estranhos Visitantes, já devia de há muito ter sido publicado. Atribuo
esse atraso de publicação, não à sua boa vontade, ao seu desejo de lançar no mercado da
inteligência e da cultura mais um filho seu muito dileto, e sim a essa risonha
circunstâncias que enquadra 99% dos intelectuais: dificuldades financeiras...".
Nesse período da nossa FC, denominado "proto ficção científica", várias obras
destinaram-se ao público infantojuvenil, como "O Irmão do Diabo", de Jerônimo
Monteiro (1937) e "Viagem à Aurora do Mundo", de Érico Veríssimo (1939).
O livro "Estranhos Visitantes"
http://memoria.bn.br/DocReader/145335/1552
http://memoria.bn.br/DocReader/145335/1593
http://memoria.bn.br/DocReader/145335/1594
http://memoria.bn.br/DocReader/764302/2146
A coincidência do lançamento do livro com dois relatos de dois marcianos na
Terra
http://memoria.bn.br/DocReader/386030/20773
"Só nos resta esperar que os estranhos visitantes dos nossos céus se resolvam a
descer e falar conosco...".
"O Combate" (São Luís, Maranhão), 1/11/1954, número 5981, página 5, primeira,
segunda, terceira e quarta colunas.
http://memoria.bn.br/DocReader/763705/24801
http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/36997
http://memoria.bn.br/DocReader/170054_01/54482
http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/45108
As semelhanças entre a novela "Estranhos Visitantes" (1954) e o filme "ET ─ o
Extraterrestre" (1982)
https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&id=uyeaAAAAIAAJ&dq=jo%C3%A3ozinho+no+planeta+azul&focus=searchwith
involume&q=japon%C3%AAs
https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&id=uyeaAAAAIAAJ&dq=jo%C3%A3ozinho+no+planeta+azul&focus=searchwith
involume&q=visitantes
O avistamento é citado por Nelly Novaes Coelho em sua obra "Dicionário Crítico de
Escritoras Brasileiras (1711-2001)".
"Nesse mesmo ano [1937], passa por uma experiência insólita: estava na varanda de
sua casa na praia, quando viu um imenso objeto luminoso surgir do céu, flutuar uns
momentos na sua frente, pousar sem ruído defronte à varanda, depois subir lentamente e
desaparecer no horizonte."
Mas a lista de ineditismos vai além. Takeshita conseguiu antecipar, no enredo de sua
novela, algumas novidades dos tempos atuais.
. Uma veste com a qual o usuário pode realizar voos individuais na Terra (jetpack?).
Para finalizar com chave de outro, o enredo de "Estranhos Visitantes" antecipa pelo
menos 17 motivos de "ET, o Extraterrestre" (1982), com a diferença de ser apenas um
ET no filme de Steven Spielberg e dois na novela de Takeshita. Os motivos
semelhantes:
. A descrença inicial dos adultos ao ouvirem o relato do encontro, feito pela criança.
. A preocupação dos pais alienígenas com a situação do filho, por viver em planeta
estranho.
. A capacidade de voar na Terra, sem nenhum auxílio físico (nos dois casos, uma
capacidade fundamental para impedir o sucesso dos homens maus).
. A descida à Terra de algo (disco voador, no caso do filme, e raio de luz, no caso da
novela) originário do astro onde vive o ET, para permitir o retorno ao lar.
Hermangarda Takeshita era professora e pautou sua vida pela solidariedade, como
veremos abaixo. Essa formação profissional, somada ao seu caráter, impediu-a de seguir
o caminho preconceituoso de vários de seus colegas escritores.
https://artime47.webnode.com/projeto/integrador/liberdade/curiosidades2/hermengar
da-e-takeshita/
Se há pessoas que nos levam a afirmar "A vida dela daria um romance", a vida de
Hermengarda poderia servir de tema de uma telenovela inteira. Até porque a própria
autora escreveu três obras autobiográficas.
Como se pode perceber pela informação, houve uma segunda edição da obra em
1952. A primeira saiu em 1928 pelo Estabelecimento Graphico Irmãos Ferraz.
https://www.facebook.com/pg/EdiNovo-561236047363121/posts/
https://rnavi.ndl.go.jp/kensei/tmp/VE800s-Y.pdf
https://www.estantevirtual.com.br/livros/lilian-de-lacerda/album-de-leitura-
memorias-de-vida-historias-de-leitoras/290092900
https://books.google.com.br/books?id=6XEnFDy5deQC&lpg=PA139&ots=WLLn3t
p4_H&dq=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20voador%22&hl=pt-
BR&pg=PA138#v=onepage&q=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20v
oador%22&f=false
https://books.google.com.br/books?id=pQJDDwAAQBAJ&lpg=PT509&dq=hermen
garda%20takeshita&hl=pt-
BR&pg=PT509#v=onepage&q=hermengarda%20takeshita&f=false
Aurora
E foi com essa mesma lucidez que escreveu seu livro de memórias que será lançado
brevemente em São Paulo, Franca, São José dos Campos e outras cidades onde se
desenrola a sua empolgante história.
Amiga pessoal de Menotti del Picchia, Paulo Duarte e Erico Verissimo, recebeu
deles os maiores elogios sobre sua obra.
Na foto (de capa) pode-se apreciar a beleza serena de Hermengarda Leme Leite
Takeshita, nos áureos dias da mocidade. Deus foi pródigo com ela, dando-lhe tanta
beleza, tantos talentos, tanta bondade e uma vida feliz ao lado de seu samurai,
Takeshita, que aos 81 anos de idade trabalha incansavelmente, excelente tradutor que é
de filmes japoneses, conhecendo nosso idioma melhor que muito brasileiro que se diz
filósofo.
https://www.containercultura.com.br/biografia/um-grito-de-liberdade-uma-familia-
paulista-no-fim-da-belle-epoque-267/
Hermengarda e Takeshita
Subindo com o pequeno elevador num dos inúmeros edifícios da Praça Carlos
Gomes, no bairro da Liberdade, deparamos com um apartamento, um dos poucos ainda
não dominados pelos escritórios de advocacia, corretoras ou dentistas que se espalharam
pelos edifícios da região.
Hoje, felizes, comemoram as Bodas de Ouro, mas a vida para o casal não foi um mar
de rosas.
Em São Paulo
O Casamento
"Eu fui com a raquete de tênis para o Cartório, na volta do clube, e levamos todos os
papéis. As testemunhas eram todos japoneses." Nesta época, já estava com o passaporte
preparado para ir morar no Japão, conforme haviam planejado.
"Deixa de ser besta" foi a resposta da sua mãe ao tomar conhecimento do casamento.
Hermengarda conta como foram as reações:
― No começo ninguém acreditou, mas depois, com a apresentação dos papéis, foram
obrigados a admitir. Papai me deserdou, e os parentes até os amigos e amigas me
hostilizaram. A colônia japonesa também não viu com bons olhos a nossa união. Todo
mundo parava para olhar. No cinema, mesmo no escuro, todos olhavam. A mamãe foi a
primeira a nos procurar.
E Takeshita completa:
― Fui no hotel onde estava hospedado o pai de Hermengarda (que era advogado),
para dar satisfações, mas ele reagiu tão furiosamente que pensei que nunca mais iríamos
nos entender. Depois, ele começou a compreender-nos, até que nos tornamos muito
amigos".
A Segunda Guerra
Na época da II Guerra Mundial, a vida não era fácil para o casal, que residindo na
Rua Apiaí (hoje, o mesmo trecho chama-se Francisco Justino de Azevedo – Cambuci) e
sem recursos, chegaram a vender os móveis e até as roupas para sobreviverem.
"O Takeshita ia vender batata e era preso porque falava japonês, e eu precisava pagar
a fiança para libertá-lo sempre”, afirma Hermengarda, que acredita ter sido aquela a
época mais difícil na vida do casal. E foi durante a guerra mesmo que ela escreveu o
livro “Sakurá”.
Sakurá
A autora do Sakurá conta que numa noite de tempestade e muito triste, quando
Takeshita estava no cassino tentando ganhar algum dinheiro com apostas, na passagem
mais amarga das recordações do casal, ela decidiu: "O tempo que vou gastar chorando,
vou gastar escrevendo um livro".
Depois da Guerra
A sequência dos anos difíceis para a vida do casal se prolongou ainda por muito
tempo. Mesmo durante a guerra, eles tiveram que mudar para Campos de Jordão, para
fugir das prisões frequentes com que Takeshita vinha sendo atormentado em São Paulo.
Em Campos de Jordão, enquanto Hermengarda organizava um colégio recém-fundado e
ajudava nos serviços caseiros, Takeshita foi morar num sítio, onde havia plantação de
cenoura, trabalhando nos serviços de lavoura e dormindo no chão de terra batida.
Outros livros ainda inéditos fazem parte do seu arquivo, e que pretende, se Deus
quiser, publicar: "Joãozinho no Planeta Azul" que recebeu recentemente elogiosos
comentários do jornal "Popular da Tarde", antes mesmo de ser editado, "Quando o
Diabo Sorri" e "Moinho de Vento". Fora os livros, existem muitos contos e poesias,
dentre os quais, muitos já foram publicados em jornais e revistas.
Tudo isso além das memórias que ela prepara agora com muito carinho, e que poderá
chamar "Memórias de Uma Vida Faz de Contas".
Adendo do site:
Em Junho de 1980, Hermengarda viu sua obra "Joãozinho no Planeta Azul"
publicada. Sua biografia que recebeu o nome de "Um Grito de Liberdade", foi publicada
em 1984.
http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/historia/imigracao/hermengarda-e-
takeshita/
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/29715
A atuação como professora
Além dos fatos mencionados nos recortes acima, a consulta à Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional permite acrescentar estas informações relativas à atividade de
Hermengarda como professora.
1922
Neste ano, Takeshita foi nomeada substituta efetiva do Grupo Escolar de Santa
Branca, município do Vale do Paraíba, em São Paulo.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/7770
Seis meses depois, Hermengarda tornou-se diretora da escola mista rural na Fazenda
Guatapará (onde veio a conhecer seu futuro marido).
"Correio Paulistano", 12/8/1922, número 21.228, página 4, penúltima coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/9376
https://sampahistorica.wordpress.com/2018/03/20/fazenda-guatapara/
1923
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/11260
"Almanak Laemmert" (Rio), 1925, página 810, segunda coluna (em "Estado de S. Paulo
─ Municípios ─ Instrucção Publica").
http://memoria.bn.br/docreader/313394/90103
1925
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_07/17026
1927
O "Almanak Laemmert" de 1927 traz o nome de Hermengarda como professora
substituta efetiva no Grupo Escolar do Brás.
"Almanak Laemmert" (Rio), 1927, página 68, terceira coluna (em "Secretaria do
Interior").
http://memoria.bn.br/docreader/313394/98751
1930
Três anos depois, Hermengarda lecionava no grupo escolar de Guapira (hoje Jardim
Guapira), como professora adjunta.
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/419
1935
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_08/10132
1940
http://memoria.bn.br/DocReader/090972_09/348
A tradutora Hermengarda Leme Leite
Como já mencionado nos recortes acima, Hermengarda teve uma atuação destacada
como tradutora, especialmente na Editora Universitária. Alguns registros dessa
atividade, na mídia impressa do seu tempo.
https://books.google.com.br/books/about/Eu_viajei_com_Vasco_da_Gama.html?id=
ZOBaAAAAMAAJ&redir_esc=y
"O Malho", outubro de 1944, número 57, página 16, primeira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/116300/96847
http://memoria.bn.br/DocReader/116300/97495
Barrabás
"O Jornal" (Rio), 23/11/1947, número 8458, página, penúltima coluna (em
"Bibliografia da Semana").
http://memoria.bn.br/DocReader/110523_04/41087
"O Jornal", 24/2/1946, número 7923, página 25, quinta coluna (em "Bibliografia da
Semana").
http://memoria.bn.br/DocReader/110523_04/31904
https://issuu.com/andretangram/docs/hist__ria_das_inven____es_-_hendrik
A obra de Hendrik Loon serviria de base para um livro infantil de Monteiro Lobato,
"História das Invenções".
"História das Invenções", Monteiro Lobato, 1935.
https://sitio.pmvs.pt/wp-
content/uploads/2014/06/Hist%C3%B3ria_das_Inven%C3%A7%C3%B5es.pdf
Destinos Humanos
Imagem do site Estante Virtual.
O romance serviu de base para o filme "Sagrado e Profano", estrelado por Robert
Mitchum.
http://memoria.bn.br/DocReader/093718_02/38105
A Gravidez Controlada
"Tribuna da Imprensa" (Rio), 2-3/8/1958, número 2605, página 24, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/154083_01/41998
"A Gazeta" (SP), 25/3/1933, número 8161, página 10, terceira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/763900/40883
Takeshita foi autor de um livro clássico sobre judô, ainda hoje mencionado em
páginas da Web pelos praticantes do esporte.
http://memoria.bn.br/DocReader/110523_04/41612
https://www.estantevirtual.com.br/sebopaulistano/kwanichi-takeshita-ju-do-antigo-
jiu-jitsu-450602852
O romance "Moinho de Vento"
Outros livros ainda inéditos fazem parte do seu arquivo, e que pretende, se Deus
quiser, publicar: "Joãozinho no Planeta Azul" que recebeu recentemente elogiosos
comentários do jornal "Popular da Tarde", antes mesmo de ser editado, "Quando o
Diabo Sorri" e "Moinho de Vento". Fora os livros, existem muitos contos e poesias,
dentre os quais, muitos já foram publicados em jornais e revistas.
http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/historia/imigracao/hermengarda-e-
takeshita/
http://memoria.bn.br/DocReader/116408/20761
"Joãozinho no Planeta Azul", o segundo livro de ficção científica de Takeshita
https://www.facebook.com/pg/EdiNovo-561236047363121/posts/
https://books.google.com.br/books?id=6XEnFDy5deQC&lpg=PA139&ots=WLLn3t
p4_H&dq=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20voador%22&hl=pt-
BR&pg=PA138#v=onepage&q=%22o%20homem%20que%20viu%20o%20disco%20v
oador%22&f=false
Embora o trecho acima registre 1980 como o ano de publicação, tanto o Google
Books quanto o anúncio do exemplar vendido no sebo online Estante Virtual dão 1975
como o ano correto. A obra foi lançada pela Editora Metodista, segundo o anúncio.
https://books.google.com.br/books/about/Jo%C3%A3ozinho_no_planeta_azul.html?i
d=uyeaAAAAIAAJ&redir_esc=y
Resumo de "Estranhos Visitantes", cena a cena
Joãozinho é um menino da roça, apaixonado pelo céu estrelado e pelas imagens dos
livros de Astronomia.
Os dias passam, e Joãozinho às vezes usa o rádio de ondas curtas para captar
irradiações de Marte em resposta às suas lições.
Numa noite em que, triste, lamenta em sua torre o fracasso dos esforços, percebe um
raio azulado saindo de Marte e pouco a pouco se aproximando dele. E logo ouve vozes,
chamando-o pelo nome.
Uma delas pede que não fique assustado e informa: são habitantes de Marte e vieram
à Terra para visitá-lo.
Joãozinho vê então um casal crianças alienígenas, ambas com cabeças maiores que a
de humanos e corpos muito esguios. Elas dizem que aprenderam a falar o português por
causa das lições de rádio, e solicitam permissão para descerem ao solo e serem
recebidas por ele.
O casal aceita o convite para pernoitar na casa de Joãozinho, e todos vão dormir. Os
pequenos marcianos ficam no apartamento reservado aos hóspedes.
No dia seguinte, a empregada Aparecida percebe que a porta do quarto dos hóspedes
não está trancada e resolve averiguar o motivo. Ao ver uma cabeça grande e estranha
numa das camas, grita e sai correndo.
Acudida pela mãe de Joãozinho, D. Francisca. Informa ter visto um fantasma. Carlos
tranquiliza a empregada e explica às duas mulheres quem são eles.
Joãozinho dirige-se ao quarto para se desculpar com os amigos. Conversam. Eles lhe
contam que vivem de 600 a 800 anos, pelo tempo da Terra. Haruetiwa tem 20 anos e
Chachiaco, 24, mas são ainda crianças em termos marcianos.
Não há comércio em Marte porque todos têm o que precisam, sem comprá-lo. Mas
todos trabalham: cada família fabrica o que precisa e possui uma área de terreno cinco
vezes maior que a necessária à sua sobrevivência. Há lavradores e pequenos industriais,
assim como grandes centros industriais e de distribuição de produtos. E todos ajudam a
produzir os materiais necessários em sua zona industrial, além de trabalharem na
conservação do lugar.
O calor para a produção vegetal é fornecido por um sistema elétrico instalado por
toda a plantação.
Haruetiwa explica a Joãozinho que ele não conseguiu ouvir as respostas radiofônicas
porque o equipamento terrestre é deficiente. Mas os marcianos captam todas as
irradiações a Terra.
Joãozinho, ansioso por ter algo elogiado em seu planeta, pergunta se os marcianos
gostaram do filme. Gostaram, mas explicam que em Marte todos assistem a peças
teatrais e fitas de cinema em casa, por meio de um aparelho que combina rádio e
eletricidade.
Incomodado com a poluição do ar, o casal de ETs toma banho, único momento em
que eles tiram sua vestimenta especial. E explicam a Joãozinho que o banho marciano é
de luz, para fortalecer a pele.
Antes de irem descansar, comentam entre si: "Os humanos, com tudo aquilo que
julgam adiantamento e civilização, vão se matando uns aos outros".
Na hora do jantar, os dois homens tocam a campainha, pedem para falar com Carlos
e oferecem um contrato tentador, com a intenção de que os marcianos sejam expostos
ao público em seu circo. Carlos rejeita a oferta, indignado.
Ante a recusa dos irmãos, os homens atacam, mas são paralisados por uma dor
súbita, gerada quando Chachiaco pressionar um botão em sua vestimenta, fazendo-os
rolar no chão e gritar. Quando o menino libera o botão, eles se levantam e saem
correndo.
Os irmãos decidem levar Joãozinho, um ser humano bom, ao contrário desses que os
atacaram, em uma viagem a Marte, assim que retornarem de lá trazendo-lhe o traje
necessário.
Não contam a ninguém a sua aventura: nem a seus pais, por meio de irradiação, nem
a seus amigos da Terra.
Nos dias seguintes, visitam vários lugares públicos de São Paulo, sempre atraindo a
curiosidade das pessoas. Toda a mídia publica fotos dos marcianos e comenta sobre a
sua visita à Terra. Para evitar o incômodo, às vezes saem à rua em modo invisível.
Os meninos são convidados a fazer uma palestra sobre Marte, mas os cientistas não
conseguem entender quando lhes explicam os avanços tecnológicos dos habitantes
daquele planeta.
O serviço secreto de um país resolve obter à força os trajes dos meninos, por
conterem "os segredos da invisibilidade, da locomoção [no ar] e da força". Ao emitirem
a ordem a seus agentes, pelo rádio, ela é captada em Marte, e os pais dos marcianos
comunicam esse perigo aos filhos, por meio do aparelho receptor de seus trajes.
Uma noite, cinco homens armados pulam o muro da casa e tentam entrar pela janela
no quarto dos irmãos, usando uma escada. Haruetiwa, mais desconfiada dos seres
humanos que Chachiaco, está atenta: pega sua veste espacial e aperta um botão. Faz-se
uma luz intensa, e os dois homens que estavam entrando pela janela gritam de dor e
depois caem pela escada, rolando pelo chão. Haruetiwa envia outro raio, que atinge a
todos. Conseguindo levantar-se, eles fogem.
Carlos resolve levar os marcianos para sua fazenda, onde terão mais segurança.
Joãozinho carrega o seu rádio a pedido de Chachiaco, que trabalhará nele para que
possa receber "irradiações de Marte". Durante a viagem, o marciano explica a
tecnologia marciana de obtenção de eletricidade pela condensação do ar.
Ninguém percebe que o carro é seguido por outro, com três homens.
Durante o jantar, Chachiaco elogia a beleza natural do lugar, lamentando que Marte
tenha sido tão transformada por causa das invenções científicas.
Chegando à estrada, examina alguns carros sem ser percebido, até encontrar o dos
bandidos.
Chachiaco envia um raio que fura um dos pneus do automóvel. O veículo para mais
adiante. Descem todos para avaliar o problema. O menino marciano entra no carro e
retira o traje da irmã, do embrulho onde foi colocado, trocando-o pelo paletó do chofer.
E depois voa de volta à fazenda. Ao chegar, explica a todos como conseguiu recuperar o
traje.
Chachiaco filosofa: "O castigo para esperteza deve ser uma esperteza maior".
Os habitantes do local estão assustados pela luz emitida pelo menino durante a
viagem. Para tranquilizá-los, Chachiaco mostra-lhes todas as funções de seu traje
espacial. Os habitantes passam a adorar os meninos, em vez de temê-los.
Chachiaco, a pedido de Dona Francisca, trata um menino da região que não consegue
se alimentar por causa de dor no estômago e está prestes a morrer. A pílula marciana
consegue curá-lo em poucas horas.
Descobre-se depois que a pílula é capaz de curar todas as doenças, que, segundo os
marcianos, teriam origem microbiana.
Em Marte não há doença. E seus habitantes não têm sonho ou pesadelo, porque sua
consciência sempre está em paz.
Chega a hora da partida. Joãozinho conta aos amigos que resolveu adotar um nome
marciano, Ateavistol ["adubo animal", em Marte], que ele ouviu numa transmissão de
Marte. Os irmãos acham graça. Haruetiwa sugere Saburoe, que significa "inteligência",
e Joãozinho aceita a sugestão.
Carlos e sua família se preocupam por não conseguirem achar nada de valioso para
presentear os marcianos, que tanto bem lhes fizeram. Chachiaco pede um retrato,
explicando: "o que vale no presente é o sentimento", e não o seu valor material.
Joãozinho oferece um retrato da família a Chachiaco, e quando estão a sós, o seu
próprio retrato à menina Haruetiwa, comovendo-a com o presente.
Os trabalhadores da fazenda são chamados para o adeus final, à hora do poente. Cada
um deles traz um presente aos marcianos, sem saber que eles nada poderão levar na
viagem.
O dia foi escolhido para tornar a viagem mais direta. Marte aparecendo no céu,
Chachiaco emite o aviso aos pais. Depois se despede de Joãozinho, prometendo se
comunicar com ele pelo rádio, sempre na hora da aula de português. Nessa mesma hora,
irradiará as lições de marciano. Também garante que se comunicarão pelo aparelho,
quando necessário.
Todos se abraçam. Chachiaco emite uma irradiação a Marte, e de repente uma luz,
como um farol, se alonga de Marte e desce até a Terra. Os dois irmãos se abraçam,
apertam botões da vestimenta, despedem-se com um "Até outra vista!" e vão subindo
pelo espaço. A claridade desaparece vai desaparecendo com eles, à vista dos terráqueos.
Quando tudo volta ao normal, Joãozinho corre até o rádio e pergunta se os dois
chegaram bem à Marte. Horas se passam. E então vem a resposta.
― Chegamos bem. Obrigado por tudo. Abraços aos seus. Até breve.