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INVESTIGAÇÕES DE AUTORIA E PUBLICAÇÃO

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Autor: Sérgio Barcellos Ximenes.

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O primeiro poema brasileiro de exaltação ao socialismo (1877)
Resumo
Tema: o poema Socialismo, de autoria de José Hipólito da Silva.
Publicação: Almanaque Popular para 1878 (Campinas, SP), páginas 59 e 60,
Tipografia da Gazeta de Campinas, 1877.
O autor:
. José Hipólito da Silva Dutra, nascido em 1858 (Campinas, SP) e falecido em 1909
(Lambari, MG).
. Profissões: jornalista, cronista, poeta, comerciário e deputado estadual (em São
Paulo).
. Fundador dos jornais O Raio (1875) e Diário de Notícias (1877) em Santos, e
Correio da Tarde (1880) em São Paulo, além de responsável pelo Diário Oficial de São
Paulo e colaborador de vários jornais, principalmente naquele estado.
. Organizador do Almanaque Popular (Campinas), edições de 1878 e 1879.
. Criador da coluna humorística em verso Pipocas no Estado de S. Paulo.
. Autor do livro Humorismos da Propaganda Republicana, coletânea da coluna
Pipocas.
. Autor do poema abolicionista Os Latifúndios (1887).
. Militante abolicionista e republicano.
Outro poema socialista inédito: o soneto À Pedra (O operário ferindo-a), de
autoria de Moreira Cardoso.
Publicação: A Província (Recife, PE), 20 de setembro 1906, número 213, página 2,
primeira coluna.
O autor:
. José Maria Moreira Cardoso (1887-1909), estudante da Faculdade de Direito do
Recife (1886 ou 1887 – 1909).
. Única obra publicada: Descantes, livro de trovas amorosas em colaboração com
Adelmar Tavares, Carlos Estêvão, Manuel Monteiro e Silveira Carvalho.
. Sonetos do autor: Esperando (1904), Profecia, A Maracajá e Pré-Histórico (os três
em 1906), e O Sapo (1907).
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Apresentação
Na primeira metade dos anos 1880, quando o Segundo Império já dava mostras de
fraqueza, as ideias de liberdade, igualdade social, instauração da República e laicidade
do Estado se fundiram brevemente no movimento da "poesia socialista", influenciado
por alguns poetas portugueses como Guerra Junqueiro e Guilherme Braga.
De socialismo, o movimento carregava mais o nome que a intenção de implantar esse
regime em nosso país.
Antes disso, entretanto, em 1877, um jornalista de 19 anos, futuro militante de
destaque nas campanhas abolicionista e republicana, havia escrito o primeiro poema
brasileiro de exaltação ao socialismo. Essa composição, divulgada em almanaque
popular editado por ele mesmo, revelava seu propósito no título: Socialismo.
José Hipólito da Silva Dutra (1858, SP – 1909, MG), nasceu em Campinas e faleceu
em Lambari. Destacou-se como jornalista e militante abolicionista e republicano,
embora tenha sido também cronista, poeta, comerciário e deputado estadual (em São
Paulo).
Como jornalista, fundou O Raio (1875) e Diário de Notícias (1877) em Santos, e o
Correio da Tarde (1880) em São Paulo, além de dirigir o Diário Oficial de São Paulo
(1891). Colaborou em vários jornais, principalmente naquele estado.
Como militante abolicionista, editou o jornal paulistano A Redenção (1887-1899) e
tornou-se membro da Ordem dos Caifazes, grupo liderado por Antônio Bento (fundador
daquele jornal) que patrocinava fugas de escravos em São Paulo.
Seu famoso poema Os Latifúndios foi publicado na seção de folhetins de A
Redenção, a partir de 20 de outubro de 1887.
A Redenção (São Paulo, SP), 20/10/1887, número 81, página 1, em Folhetim.
http://200.144.6.120/uploads/acervo/periodicos/jornais/BR_APESP_IHGSP_003JOR
151727.pdf
O periódico homenageou Hipólito da Silva em 13 de maio 1899, o undécimo
aniversário da abolição da escravatura no Brasil, com um retrato e um texto biográfico.
A Redenção (São Paulo, SP), 13/5/1899, número 11, página 4.
http://200.144.6.120/uploads/acervo/periodicos/jornais/BR_APESP_IHGSP_003JOR
50958.pdf
Antes e após a abolição da escravatura, em 1888, Hipólito da Silva lutou pela causa
republicana. Muito provavelmente, é dele a autoria deste soneto anônimo publicado em
seu Almanaque Popular para 1878.
https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/5190/1/016833_COMPLETO.pdf
O especial do Estado de S. Paulo sobre a Proclamação da República traz uma estrofe
que revela a dimensão dos sentimentos de Hipólito pela monarquia, naquela época.
Acervo do Estado de S. Paulo (São Paulo, SP), 15/11/2013, texto de Carlos Eduardo
Entini.
http://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,e-fez-se-a-republica,9379,0.htm
Quando ainda colaborador do jornal Província de S. Paulo (depois Estado de S.
Paulo), Hipólito criou a seção humorística Pipocas, centrada em casos pitorescos da
política. As histórias seriam depois coletadas nos três volumes da obra Pipocas,
Humorismos da Propaganda Republicana, lançados em 1888, 1904 e 1905.
O País (Rio de Janeiro, RJ), 8/3/1890, número 1978, página 3, quarta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_02/322

https://www.flaviasantosleiloes.com.br/peca.asp?ID=2465120
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O poema Socialismo
O Almanaque Popular para 1878, organizado por Hipólito da Silva e publicado em
1877, trouxe apenas um poema assinado pelo autor (o outro, provavelmente, é aquele de
título A República, mostrado acima).
O poema Socialismo constitui a profissão de fé de Hipólito da Silva no destino do
Brasil. Aparentemente não há outro poema em nossa literatura, antes deste, tão
explicitamente defensor desse caminho político.
Socialismo
Viver, sonhar, sentir, reter no peito
Fagueiras ilusões, crenças tão belas
Como as lendas da cruz!
E vir — da sociedade — o preconceito
Como as densas rajadas das procelas
Extinguir-nos a luz!

A — sociedade! — Messalina impura,


Concede as verdes palmas do seu louro
Com risos de bacante,
Àquele que lhe compra a formosura,
Que, fazendo tinir as peças d'ouro,
Deslumbra-lhe o semblante!

A — sociedade! — Fonte de cinismo,


Dela jorra o sarcasmo agro e pungente,
E as finas ironias!
Há mais vida no fundo de um abismo,
É mais sincera a Cloris [deusa grega da primavera] indolente
Em meio das orgias!

E ela vive, gentil, por entre a festa


Sem lembrar-se que o sol n'um só desmaio
Pode empanar-lhe o céu!
Ai! Quanta vez o cedro da floresta
Cai fulminado ao perpassar do raio
Em noites d'escarcéu!?

Eu detesto — o grand monde — elogiado,


Criminoso paul enegrecido
Ao fumo das paixões;
Não me pode aquecer o sol nublado
Que surge no horizonte empalecido
Do centro dos salões!

Quem pode adivinhar o seu futuro?


Porventura o boêmio do destino
Não luta com a sorte?
Não pede luzes ao espaço escuro,
Às flores o perfume, à lira um hino,
E ao deserto a morte?

Sim! O dedo da Deus traça os caminhos


Que ele deve seguir — viajor errante —
Do berço à sepultura;
Seja calcando flores ou espinhos,
Ele segue com passo vacilante
E crê na luz futura.

Assim eu, Ashavero [judeu errante] peregrino


Fitando os frouxos raios de uma aurora
De fúlgido esplendor,
Hei de seguir-te, oh virgem, que o destino
Marcou-te como estrela promissora
Nos desertos do amor.

E qu'importam, do mundo, agros abrolhos?


Aos golpes da cruel fatalidade
É força reagir;
Eu tenho um novo mundo nos teus olhos,
Sinto no peito a flor da mocidade
E creio no porvir!
Maio — 1877.
Almanaque Popular para 1878 (Campinas, SP), páginas 59 e 60, Tipografia da
Gazeta de Campinas, 1877.
https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/5190/1/016833_COMPLETO.pdf
Uma curiosidade: na folha de rosto do Almanaque aparece a forma "Hypolito", e não
"Hippolyto", como na maioria das fontes da época.
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Um poema socialista inédito de 1906
Este segundo poema também é inédito. Publicado no jornal recifense A Província em
20 de setembro de 1906, faria parte do livro A Luta, de autoria de José Maria Moreira
Cardoso, estudante da Faculdade de Direito do Recife.
Não há registro do livro em nenhuma fonte ou em jornais de Pernambuco. Moreira
Cardoso viria a falecer menos de 3 anos depois dessa publicação.
A Província (Recife, PE), 30/4/1909, número 96, página 2, terceira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/19484
Uma curiosidade ainda desconhecida na história da trova brasileira é esta: Moreira
Cardoso foi um dos cinco autores do primeiro livro do famoso trovador (ou trovista)
Ademar Tavares, então com 19 anos (1907). A longa carreira de poeta levaria Adelmar
à Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1926. Na Wikipédia, esse livro, intitulado
Descantes, é atribuído somente ao imortal.

Diário de Pernambuco (Recife, PE), 28/5/1907, número 119, página 2, segunda


coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/029033_08/8372
A resenha do livro, também publicada no Diário de Pernambuco, informa tratar-se
de um livro de trovas amorosas, "simples, ingênuas, idílicas, à maneira das trovas
populares".
Diário de Pernambuco (Recife, PE), 30/5/1907, número 121, página 2, primeira
coluna, em Golpes de Vista.
http://memoria.bn.br/DocReader/029033_08/8380
O livro fez sucesso em Pernambuco: menos de um mês depois do lançamento saiu a
segunda edição.

Diário de Pernambuco (Recife, PE), 15/6/1907, número 134, página 2, segunda


coluna, em Sumário da Imprensa.
http://memoria.bn.br/DocReader/029033_08/8434
Além de trovas, Moreira Cardoso foi autor de sonetos. Abaixo, cinco deles
publicados na imprensa pernambucana: Esperando (1904), Profecia, A Maracajá e Pré-
Histórico (os três em 1906), e O Sapo (1907).
A Província (Recife, PE), 20/10/1904, número 236, página 1, quarta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/16079
A Província (Recife, PE), 4/1/1906, número 2, página 1, terceira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/17471
A Província (Recife, PE), 26/8/1906, número 194, página 5, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/18511
A Província (Recife, PE), 23/10/1906, número 266, página 1, quarta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/18891
Diário de Pernambuco (Recife, PE), 19/1/1907, número 16, página 2, primeira
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/029033_08/7958
Moreira Cardoso também participou da fundação do periódico estudantil Gazeta
Literária em 1904.
A Província (Recife, PE), 21/7/1904, número 162, página 1, última coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/15139
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O soneto socialista À Pedra (O operário ferindo-a)
Símbolo da mudez e da inatividade,
O que ontem foste e hoje és! E o que serás além?
Talvez te envolva agora o aéreo véu da saudade
De um tempo em que tiveste a vida que o homem tem.

És pequena, porém possuis a imensidade;


E eu vou te fazer mal quando só fazes bem;
Mas não sentes a dor, que devagar te invade,
Porque és pedra, porque és o que hei de ser também.

Se exististe talvez qual esse musgo grosso,


Nesse teu seio haurindo a umidade, onde medra,
Meu crânio, que a dormir está seu sono de osso,

Não sendo o que ontem foi e o que é hoje afinal,


Certo, um dia há de ter esse sono de pedra,
Que a natura te deu por teu bem e meu mal.
Do poema socialista Luta.
MOREIRA CARDOSO.
A Província (Recife, PE), 20/9/1906, número 213, página 2, primeira coluna.
http://memoria.bn.br/docreader/128066_01/18608

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