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INVESTIGAÇÕES DE AUTORIA E PUBLICAÇÃO

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Autor: Sérgio Barcellos Ximenes.

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"A Visão do Pico de Itajuru": a solução de um problema de autoria

Resumo

Tema: o panfleto político "A Visão do Pico de Itajuru", publicado anonimamente em


janeiro de 1831, três meses antes da abdicação do imperador D. Pedro I, no qual se
alertava o país sobre a inevitável divisão política fratricida que ocorreria caso a ânsia
popular de liberdade levasse ao enfraquecimento do poder central, então representado
pelo monarca.

A história de "A Visão do Pico de Itajuru":

. Primeira publicação: "Diário Fluminense", 24 de janeiro de 1831, número 17,


páginas 2 a 4 (em "Artigos não Oficiais").

. Segunda publicação: "O Verdadeiro Patriota" (RJ), 28 de janeiro de 1831, número


28.

. Terceira publicação: "O Cruzeiro" (PE), 22 de março de 1831, número 64, páginas
1 a 4.

. Primeira publicação em folheto impresso: maio de 1831 (RJ); primeiro anúncio no


"Diário do Rio de Janeiro", 31 de maio, número 25, página 2, primeira coluna.

. Publicações nos anos seguintes:

a) Rio, 1837: "A Voz do Profeta [obra de Alexandre Herculano], 1.ª e 2.ª séries,
seguida da Visão de um solitário de Itajuru", Tipografia J. Villeneuve e Comp. (anúncio
no "Jornal do Commercio", 14 de junho de 1837, ano XI, número 837, página 3, terceira
coluna).
b) Salvador (BA), 1839: "Folhinha d'Algibeira", Tipografia Bezerra e C. (anúncio no
"Correio Mercantil", 9 de janeiro de 1839, ano VI, número 7, página 2, terceira coluna).

c) Rio, 1868: anúncio no "Jornal do Commercio", 18 de fevereiro de 1868, ano 48,


número 49, página 7, quinta coluna.

d) Rio, 1882, 1883, 1884, 1886 e 1889: anúncios na "Gazeta de Notícias".

Títulos pelos quais foi conhecida a obra:

. "Visão achada entre os papéis de um solitário morto nas imediações de Macacu,


vítima das febres de 1829" (1831).

. "Visão do solitário no Pico do Itajuru" (1831).

. "Visão do Pico de Itajuru" (1831).

. "Visão de um solitário de Itajuru" (1837).

. "Visão achada entre os papéis de um solitário morto nas imediações de Macacu"


(1839).

. "Sonho do Itajuru" (1868).

. "Visões primeira e segunda no Rochedo do Itajuru" (1882).

. "Tenebroso sonho do Itajuru ou a visão de uma donzela" (1882).

. "Visões do rochedo de Itajuru vistas por um patriota antes do dia 7 de abril de


1931" (1884).

. "Os pavorosos sonhos do Itapiru, ou a visão achada nos papéis de um solitário"


(1886).

. "Sonho do Itajuru, ou a visão achada entre os papéis de um solitário" (1886).

. "Visões de Itajuru" (1889).

Atribuições anteriores de autoria:

. 1860: Leonel Martiniano de Alencar (irmão do romancista José de Alencar e


também romancista), tanto no registro da obra no Real Gabinete Português de Leitura
(Rio), quanto no "Catálogo da Coleção Varnhagen da Biblioteca do Itamaraty"
(Brasília, 2002).

. 1868: Moïse Laurent Angliviel de La Beaumelle (1772-1831), denominado como


Labomel, em pelo menos 30 anúncios no "Diário do Povo" (Rio), o primeiro em
23/4/1868, ano II, número 94, página 4, quarta coluna.

. 1886: Alexandre Herculano; única atribuição em "Gazeta de Noticias", 8/10/1886,


ano XII, número 281, página 6, primeira coluna do anúncio "Livros Baratissimos".
Verdadeiro autor da obra: Antônio Manoel da Silveira Sampaio (1777-1836).

Fatos marcantes da vida de Antônio Manoel da Silveira Sampaio:

. 1777: nascimento em Bragança (Portugal), no dia 1.º de novembro.

. 1808: vinda ao Brasil com a comitiva de D. João VI; promoção a tenente da Guarda
Pessoal do rei.

. 1809: promoção a capitão da arma da Infantaria; Secretário do Governador da


Província do Rio de Janeiro.

. 1810: promoção a major; Secretário e Ajudante de ordens.

. 1815: promoção a coronel da arma da Cavalaria (em adição aos outros cargos).

. 1819: publicação da "Memória sobre as principais causas que promovem as


deserções nos corpos de linha do exército do Brasil, e os meios que convém adotar para
evitar a continuação deste terrível mal do estado".

. 1822: promoção a brigadeiro.

. 1823: vogal do Conselho Supremo Militar (a partir de 24 de fevereiro).

. 1824: publicação das "Instruções para uso dos oficiais do exército nacional e
imperial nos processos de conselhos de guerra".

. 1827: promoção a marechal de campo.

. 1831: autoria de quatro panfletos políticos (jamais associados a Silveira Sampaio


em obras ou cronologias):

1. "A Visão do Pico de Itajuru", janeiro de 1831.

2. "Aparição extraordinária e inesperada do Velho Venerando ao roceiro", maio de


1831.

3. "Lamentação patriótica do Doutor da Roça", julho de 1831.

4. "O Gênio do Brasil", outubro de 1831.

. 1833: dispensa do cargo de vogal do Conselho Supremo Militar (18 de outubro).

. 1835: publicação da "Representação que ofereceu à Câmara dos Senhores


Deputados do Marechal de Campo Antônio Manoel da Silveira Sampaio contra o
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra Antero José Ferreira de Brito".

. 1836: falecimento, em 26 de outubro, no Rio de Janeiro; sepultamento nas


catacumbas da Igreja dos Religiosos do Carmo.

Obras literárias de Antônio Manoel da Silveira Sampaio:


. "Memória sobre as principais causas que promovem as deserções nos corpos
de linha do exército do Brasil, e os meios que convém adotar para evitar a continuação
deste terrível mal do estado", 1819.

. "Instruções para uso dos oficiais do exército nacional e imperial nos processos
de conselhos de guerra", 1824.

. "A Visão do Pico de Itajuru, achada entre os papéis de um solitário morto nas
imediações de Macacu, vítima das febres de 1829": 30 páginas; primeira publicação no
"Diário Fluminense", 24 de janeiro de 1831, número 17, páginas 2 a 4 (em "Artigos não
Oficiais").

. "Aparição extraordinária e inesperada do Velho Venerando ao roceiro, diálogo


havido entre eles sobre a atual situação política do Brasil e dos seus acontecimentos
extraordinários desde o dia 5 de abril em diante, e sobre a Visão do Pico do Itajuru
achada entre os papéis de um solitário nas imediações de Macacu, vítima das febres de
1829, e publicada nos periódicos desta Corte em janeiro deste ano, com reflexões feitas
sobre ela pelo Velho, e conselhos em consequência dados a todas as classes da
sociedade para o bem e felicidade do Brasil": 30 páginas; primeiro anúncio no "Diario
do Rio de Janeiro" em 27 de maio de 1831 (número 22, página 1, segunda coluna).

. "Lamentação patriótica do Doutor da Roça, seguida de um interessante diálogo


entre o mesmo Doutor e um seu condiscípulo, continuado por um curitibano e acabado
por um fluminense": 25 páginas; primeiro anúncio no "Diário do Rio de Janeiro", 12 de
julho de 1831, número 10, página 1, primeira coluna.

. "O Gênio do Brasil, mostrando em cenas interessantes o espelho da verdade para o


desengano dos homens, feito pelo mesmo autor da 'Aparição do Pico do Itajuru', com
notas, e acrescentamentos, aonde o mesmo autor pede ao Público a estimação desta
pequena obra, tanta, como têm tido as outras": 44 páginas; primeiro anúncio no "Diário
do Rio de Janeiro", 28 de outubro de 1831, número 23, página 1, terceira coluna.

. "Representação que ofereceu à Câmara dos Senhores Deputados do Marechal de


Campo Antônio Manoel da Silveira Sampaio contra o Ministro e Secretário de Estado
dos Negócios da Guerra Antero José Ferreira de Brito", 20 páginas, 1835.

Valor adicional de "A Visão do Pico de Itajuru" e "Aparição extraordinária e


inesperada do Velho Venerando ao roceiro": as primeiras obras da literatura
brasileira que utilizaram algum elemento fantástico em seu enredo.

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Apresentação

"A Visão do Pico de Itajuru", panfleto político anônimo divulgado no Rio de Janeiro
em janeiro de 1831, teve grande influência na vida nacional durante alguns anos.
Publicado inicialmente em jornais e depois lançado como folheto impresso, "A Visão do
Pico de Itajuru" relatava o sonho de um idoso que é tomado pelo cansaço ao subir até o
pico do Itajuru (formação rochosa situada na cidade mineira de Muriaé, a 1.580 m de
altitude). Sem ter ainda chegado a seu destino, tenta dormir um pouco, mas logo ouve
uma voz vinda do rochedo, passando a conversar com ela.

Do diálogo resulta um texto escrito pelo idoso, que teria sido encontrado pelo
(verdadeiro) autor do panfleto e publicado por este, integralmente.

O conteúdo de "A Visão do Pico de Itajuru" é profético. A voz conta ao idoso que
aconteceria inevitavelmente uma divisão fratricida entre os grupos políticos, caso os
cidadãos se levantassem contra o governo central, em busca de mais liberdade. Três
meses depois, em 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicava ao perder o controle da
situação política, abandonado pelo povo, pelos políticos e pelos militares, todos
desejosos de um governo mais liberal.

Tem início o período regencial da História do Brasil, marcado por várias revoltas e
tentativas de separação das províncias, em relação aos responsáveis pelo poder durante
a menoridade de D. Pedro II.
A história da descoberta do autor de "A Visão do Pico de Itajuru"

Como em várias outras situações do trabalho de pesquisa histórica, a solução deste


problema de autoria dependeu de sorte.

Primeiro, porque eu nem conhecia esse texto supostamente anônimo que, vim a
saber, gerou muita repercussão na política brasileira ao longo da década de 1830. Ao
capturar telas de romances anunciados na mídia do século XIX, destinadas a outro
artigo, apareceu entre os livros vendidos um tal de "Visão do Pico do Itajuru". O que
seria?

A partir daí, a pesquisa se desenvolveu até serem encontrados dois trabalhos


universitários. Nenhum deles associava o folheto político (é esse o gênero da obra) a
algum autor.

Lacunas importantes são chamamentos irresistíveis a historiadores.

De resto, bastou persistência, paciência e disposição de seguir as mínimas pistas até


chegar às duas evidências decisivas que permitiram associar a obra a um autor jamais
mencionado, em relação a esse texto, nas cronologias da história política brasileira.

Novamente, como em outras situações, a certeza derivou não de uma fonte, mas da
combinação de informações presentes em duas ou mais fontes, ilustrando o "trabalho de
detetive" que caracteriza a pesquisa histórica.
"A Visão do Pico de Itajuru", um texto marcante da política brasileira na
década de 1830

A primeira divulgação do texto do panfleto deu-se no "Diário Fluminense", em 24 de


janeiro de 1831 (número 17, páginas 2 a 4, em "Artigos não Officiaes"). Observe que o
título original do texto era "Visão achada entre os papéis de um solitário morto nas
imediações de Macacu, vítima das febres de 1829".

"Diario Fluminense", em 24/1/1831, número 17, páginas 2 a 4 (em "Artigos não


Officiaes").

http://memoria.bn.br/DocReader/706744/7257

http://memoria.bn.br/DocReader/706744/7258

http://memoria.bn.br/DocReader/706744/7259

O panfleto político, publicado em sua inteireza, não trazia o nome do autor.

A repercussão positiva da primeira publicação levou outros periódicos a


reproduzirem o texto. "O Verdadeiro Patriota" ofereceu esse conteúdo a seus leitores em
28 de janeiro de 1831 (número 28, página 2; páginas 3 e 4 ausentes da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional).

"O Verdadeiro Patriota" (Rio), 28/1/1831, número 28, página 2 (páginas 3 e 4


ausentes da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).

http://memoria.bn.br/docreader/702501/113

A seguir, o periódico "O Cruzeiro", de Pernambuco, republicou o texto em 22 de


março de 1831, reservando a edição inteira daquele dia para "A Visão do Pico de
Itajuru" (número 64, páginas 1 a 4).
"O Cruzeiro" (PE), 22/1/1831, número 64, páginas 1 a 4.

http://memoria.bn.br/DocReader/778440/2023

http://memoria.bn.br/docreader/778440/2024

http://memoria.bn.br/docreader/778440/2025

http://memoria.bn.br/docreader/778440/2026

PDF do número: http://memoria.bn.br/pdf/778440/per778440_1831_00064.pdf

O Pico de Itajuru, atração turística do distrito de Belisário, no município mineiro de


Muriaé, tem 1.580 metros de altitude e é uma formação rochosa.
Site Guia Murié (Belisário é um distrito de Muriaé).

https://www.guiamuriae.com.br/guia-turistico/roteiro-belisario/pico-do-itajuru-em-
belisario/

"Itajuru" significa "pedra triste". A palavra, de origem indígena (tupi-guarani), é uma


combinação de "ita" (pedra) e "jururu" (triste).

Esta é a única menção ao Pico encontrada em livro histórico sobre o Brasil.

"Desaggravos do Brasil e glorias de Pernambuco", Domingos do Loreto Couto,


página 65, Rio de Janeiro, 1904.

https://archive.org/stream/desagravosdobra00coutgoog#page/n79/search/itajuru

Apesar de publicado em 1904, o livro de Loreto Couto teria sido concluído em 1757
(o autor faleceu em 1762).

"A Visão do Pico de Itajuru" foi impresso e vendido ao público ainda em 1831. Uma
busca no Catálogo Mundial de livros leva a três resultados que informam sobre a
presença do panfleto no acervo de 22 universidades internacionais.
http://www.worldcat.org/search?q=itajuru&qt=results_page

Outro resultado leva a uma cópia online, disponível somente a usuários registrados,
constante da Biblioteca Oliveira Lima, Parte 1: Panfletos:

https://www.gale.com/c/brazilian-and-portuguese-history-and-culture-part-i

Os exemplares das universidades internacionais foram impressos na Tipografia do


Diário [do Rio de Janeiro] ou na Tipografia de Moreira, todos em 1831. A cópia digital
tem como base um exemplar impresso em 1868 na Tipografia e Litografia Fraternidade
de Thomé Madeira & Pessoa de Barros, também no Rio.

Nesse livro, o título original trouxe um complemento: "Visão do Pico de Itajuru,


achada entre os papéis de um solitário morto nas imediações de Macacu, vítima das
febres de 1829, e publicada nos periódicos desta Corte em janeiro deste ano, com
reflexões feitas sobre ela pelo velho, e conselhos em consequência dados a todas as
classes da sociedade para o bem e felicidade do Brasil".
Anúncios da obra na mídia impressa nacional

O primeiro anúncio encontrado da publicação do folheto saiu em 31 de maio de


1831, no "Diário do Rio de Janeiro". O título era "A Visão do Solitário no Pico de
Itajuru". A "introdução analítica" que precedia o texto principal não constava da versão
publicada em janeiro e março daquele ano, nos periódicos nacionais.

"Diario do Rio de Janeiro", 31/5/1831, número 25, página 2, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12459

Poucos dias depois, outro anúncio, agora no "Jornal do Commercio", informava que
o título da obra seria "A Visão do Pico de Itajuru".

"Diario Mercantil ou Jornal do Commercio", 3/6/1831, volume 4, número 233,


primeira página, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/1676

Quatro dias depois saía outro anúncio no "Diário do Rio de Janeiro", novamente com
o título "A Visão do Solitário no Pico de Itajuru".
"Diario do Rio de Janeiro", 7/6/1831, número 5, página 2, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12480

A longevidade da influência de "A Visão do Pico de Itajuru" pode ser constatada por
esta série de anúncios no "Correio Mercantil", em 1839. Oito anos após a publicação
original, a reedição da obra foi anunciada com destaque em três anúncios daquele
periódico.

"Correio Mercantil" (BA), 9/1/1839, ano VI, número 7, página 2, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/186244/847
"Correio Mercantil" (BA), 11/1/1839, ano VI, número 9, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/186244/856

"Correio Mercantil" (BA), 18/1/1839, ano VI, número 15, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/186244/880

A partir de 1837, o texto de "A Visão do Pico de Itajuru" passara a ser vendido como
complemento de "A Voz do Profeta", obra também visionária e política. Inicialmente,
"A Voz do Profeta" saiu no Brasil sem o nome do autor (o escritor português Alexandre
Herculano). A semelhança temática deve ter contribuído para a união dos textos, na
visão do editor.

"Jornal do Commercio", 14/6/1837, ano XI, número 837, página 3, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/8993

Assim como no caso da obra anônima brasileira, o texto de "A Voz do Profeta" teve
ampla divulgação na mídia nacional. Por se tratar de obra extensa, os jornais optaram
por destacar trechos importantes da peça profética portuguesa.

O primeiro deles foi o "Jornal do Commercio", em 24 de abril de 1837. Novos


trechos saíram em 2 de maio seguinte, no mesmo jornal.
"Jornal do Commercio", 24/4/1837, ano XI, número 90, página 1, primeira, segunda,
terceira e quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/8835
"Jornal do Commercio", 2/5/1837, ano XI, número 97, página 1 (inteira) e página 2,
primeira e segunda colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/8863

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/8864

Seguiu-se o "Farol do Império", em 6 e 15 de junho do mesmo ano (1837).

"Pharol do Imperio" (RJ), 6/6/1837, ano 1, número 62, página 3, segunda e terceira
colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/702846/247
"Pharol do Imperio", 15/6/1837, ano 1, número 69, página 1, primeira, segunda e
terceira colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/702846/273

O "Diário de Pernambuco" também divulgou trechos de "A Voz do Profeta", em 22 e


27 de junho de 1837.
"Diario de Pernambuco", 22/6/1837, número 133, página 3, segunda, terceira e
quarta colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/10612

"Diario de Pernambuco", 27/6/1837, número 136, página 3, primeira, segunda e


terceira colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/10625

Talvez estimulado pelo sucesso dos textos brasileiro e português, o jornal "O Sete
d'Abril", defensor de Pedro II, resolveu publicar o texto original "A Voz do Profeta
Brasileiro", em dois capítulos.
"O Sete d'Abril", 21/10/1837, número 494, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/709476/2103

"O Sete d'Abril", 25/10/1837, número 495, páginas 4 (segunda coluna) e 5 (primeira
coluna).

http://memoria.bn.br/DocReader/709476/2106

http://memoria.bn.br/docreader/709476/2107
O "Eco da Religião e do Império" publicou o mesmo texto no ano seguinte, em 5 e
17/1/1838.

"Echo da Religião e do Imperio", 5/1/1838, número 32, páginas 4 e 5.

http://memoria.bn.br/DocReader/824097/252

http://memoria.bn.br/DocReader/824097/253

"Echo da Religião e do Imperio", 17/1/1838, número 34, página 6, 7 e 8.

http://memoria.bn.br/DocReader/824097/270

http://memoria.bn.br/DocReader/824097/271

http://memoria.bn.br/DocReader/824097/272

Em dezembro de 1838, o "Jornal do Commercio" divulgava a venda de um livro com


as duas obras proféticas que serviram de inspiração para a "A Voz do Profeta
Brasileiro": "A Voz do Profeta, seguida da visão de um solitário de Itajuru".

"Jornal do Commercio", 24/12/1838, ano XIII, número 288, página 3, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/10813
Quase um ano depois, o mesmo livro era anunciado com destaque em anúncios dos
dias 25, 27, 28 e 30/9/1839, e de 1/10/1839.

"Jornal do Commercio", 25/9/1839, ano XIV, número 225, página 3, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11747

"Jornal do Commercio", 27/9/1839, ano XIV, número 227, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11756
"Jornal do Commercio", 28/9/1839, ano XIV, número 228, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11760

"Jornal do Commercio", 30/9/1839, ano XIV, número 230, página 4, primeira


coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11768

"Jornal do Commercio", 1/10/1839, ano XIV, número 231, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/11772

Quase 30 anos depois, em 1868, o folheto ainda era anunciado com destaque,
acentuando-se o seu caráter profético: "Esta primorosíssima obra, publicada em 1829 e
reimpressa hoje, que predizia o futuro que se tem verificado, [...]".
"Jornal do Commercio", 18/2/1868, ano 48, número 49, página 7, quinta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_05/13357

Ainda em 1882 era possível encontrar nas livrarias o texto original de "A Visão do
Pico de Itajuru", incluído no livro "Visões primeira e segunda no rochedo de Itajuru,
seguidas das 3 parábolas do pobre solitário".

"Gazeta de Noticias", 25/9/1882, número 267, página 4, penúltima e última colunas,


em "Livros Baratissimos"

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/4291

O status da obra foi mencionado em outro anúncio, agora em 1883: "Visões


primeiras e segunda no rochedo de Itajuru, obra célebre sobre a história do Brasil".

"Gazeta de Noticias", 5/7/1883, ano IX, número 186, terceira coluna, em "Livros
Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/5535

Outro título atribuído à obra, no ano seguinte (1884): "Visões do rochedo de Itajuru
vistas por um patriota antes do dia 7 de abril de 1831". Observe que a "2ª parte", escrita
após esse dia histórico, constava de boa parte dos exemplares oferecidos ao público, a
partir da década de 1860.

"Gazeta de Noticias", 5/5/1884, ano X, número 127, página 4, quarta coluna, em


"Livros Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/6917

Outro exemplo:

"Gazeta de Noticias", 15/12/1884, ano X, número 350, página 4, quinta coluna, em


"Livros Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/7964

Neste anúncio, publicado em 1886, a obra era atribuída ao escritor português


Alexandre Herculano, o autor de "A Visão do Profeta".

Neste anúncio, "Gazeta de Noticias", 8/10/1886, ano XII, número 281, página 5,
primeira coluna do anúncio "Livros Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/10996

Outro título para a mesma obra, no mesmo ano (1886): "Os pavorosos sonhos do
Itapiru ou a visão achada nos papéis de um solitário".
"Gazeta de Noticias", 8/11/1886, ano XII, número 312, página , quinta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/11149

Os últimos anúncios encontrados datam de julho 1889, 58 anos após o lançamento do


panfleto.

"Gazeta de Noticias", 4/7/1889, ano XV, número 185, página 6, quinta coluna, em
"Livros Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/15840

"Gazeta de Noticias", 25/7/1889, ano XV, número 176, página 3, quinta coluna, em
"Livros Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/15803

Como era frequente na imprensa do século XIX, um anúncio publicado em 1882


errou o título do livro. Deve ter causado frustração a seus leitores: "Tenebroso sonho do
Itajuru ou a visão de uma donzela".
"Gazeta de Noticias", 21/8/1882, número 232, página 4, terceira coluna, em "Livros
Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/4139

Neste texto de 1887, o autor fez referência à obra: "A descida dos mineiros e
paulistas, profetizada pelo Sonho do Itajuru, [...]".

"A Crença: Jornal Politico e Litterario", 3/11/1887, 1º semestre, número 2, página 1,


segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/232408/13
Os vários títulos da obra

Como se pode constatar pelos anúncios da seção anterior, essa obra política da
literatura brasileira recebeu títulos diferentes (alguns deles de responsabilidade do
anunciante). O dado é valioso para o trabalho de pesquisa: quantos mais caminhos
alternativos disponíveis para chegar ao material desejado, melhor.

Abaixo, a organização cronológica desses títulos, considerando-se apenas as obras


impressas.

. "Visão achada entre os papéis de um solitário morto nas imediações de Macacu,


vítima das febres de 1829" (1831).

. "Visão do solitário no Pico do Itajuru" (1831).

. "Visão do Pico de Itajuru" (1831).

. "Visão de um solitário de Itajuru" (1837).

. "Visão achada entre os papéis de um solitário morto nas imediações de Macacu"


(1839).

. "Sonho do Itajuru" (1868).

. "Visões primeira e segunda no Rochedo do Itajuru" (1882).

. "Tenebroso sonho do Itajuru ou a visão de uma donzela" (1882).

. "Visões do rochedo de Itajuru vistas por um patriota antes do dia 7 de abril de


1931" (1884).

. "Os pavorosos sonhos do Itapiru, ou a visão achada nos papéis de um solitário"


(1886).

. "Sonho do Itajuru, ou a visão achada entre os papéis de um solitário" (1886).

. "Visões de Itajuru" (1889).


O texto completo do folheto político

Abaixo, a transcrição completa do texto da primeira publicação de "A Visão do Pico


de Itajuru".

Critérios para a atualização do texto

. Adaptação ao português brasileiro.

. Eliminação do excesso de vírgulas e pontos e vírgulas que caracterizava o estilo


antigo.

. Distribuição dos diálogos conforme a formatação moderna.

. Inclusão de explicações e correções entre colchetes.

. Eliminação das maiúsculas em palavras como "impresso", "verdade", "povo" etc.

____________________________

Visão achada entre os papéis de um solitário morto nas imediações de Macacu,


vítima das febres de 1829.

... Nesse tempo eu dificilmente trepava [subia] por um dos lados do Pico de ltajuru,
querendo vingar a sumidade [chegar ao pico] para dali estudar a situação das montanhas
e descobrir a marcha da natureza nas revoluções por que tem passado a superfície da
Terra.

Enquanto estive no bosque, a copa das suas árvores me abrigava do sol, e uma
aragem, que abanava as suas folhas, temperava o calor que a fadiga me fazia sentir. Mas
logo que cheguei ao fim daquela mata, achei-me com um rochedo empinado e ardente.
O Sol deixava cair a prumo os seus raios sobre a minha cabeça, e nem mais respirava a
aragem.

Faltando-me as forças, apoucou-se-me [diminuiu-me] o valor [ânimo]. Tremiam os


meus joelhos, e eu parei, dizendo: "Repousarei aqui e concluirei a minha viagem com o
fresco da tarde". As minhas pálpebras se tornaram pesadas, fizeram-se flácidos os meus
músculos, e eu esperava o sono que repara as forças do cansado viajante.

E logo ouvi uma voz que partia do rochedo e que me disse:

— Velho, para que queres subir ao Pico do ltajuru?

E eu lhe respondi, dizendo:

— Quero estudar a situação das montanhas e descobrir a marcha da natureza nas


revoluções por que tem passado a superfície da Terra.

E a voz do rochedo continuou a dizer assim:


— Em verdade, és um velho de pouco siso: os teus estudos não são mais que vaidade
e aflição de espírito. Que são as revoluções dos rochedos e das montanhas em
comparação com a revolução dos homens? Que aproveita saber se as montanhas têm
sido formadas pelas chamas ou se são o sedimento das ondas, quando os movimentos
desordenados dos homens são mais terríveis do que os incêndios e mais destruidores do
que os transbordamentos dos rios? Tu tens vivido muitos dias, tens corrido diferentes
países. Levanta a tua voz conta os males que tens visto cair sobre aqueles que não têm
sabido parar na carreira das revoluções. Diz-lhes que tu tens visto na terra dos francos
[povo germânico que conquistou a região da atual França, na Antiguidade] a anarquia
esmagar debaixo de um cetro de ferro um povo generoso e cego pelo seu entusiasmo, e
oprimi-lo a ponto de fazê-lo olhar como felicidade o repousar debaixo do sábio porém
vigoroso despotismo de um soldado.

Diz-lhes que tu tens visto na Ibéria e na Bética [região da Península Ibérica] um povo
nobre e valoroso, depois de haver reconquistado a sua independência, recair debaixo de
um jugo humilhante porque os seus condutores lhe quiseram dar mais liberdade do que
ele podia comportar. Diz-lhes os desgraçados sucessos [acontecimentos] das tentativas
enérgicas da antiga Ausônia [região do Lácio, na Itália, cujo povo foi dizimado pelos
latinos em 314 a.C. após se opor a eles].

E eu respondi, dizendo:

— Ah! Minhas palavras serão para eles como o bronze que soa e o címbalo que
retine. Eles me dirão: "Tu nos falas de tempos passados e de terras separadas das nossas
pelo imenso mar. Que há, pois, de comum entre esses homens e nós, entre esses tempos
e os nossos?".

Então a voz do rochedo prosseguiu, dizendo-me:

— Bem, fala-lhes do tempo atual, fala-lhes do que é vizinho. Mostra-lhe a discórdia


sacudindo os seus fachos ainda mais perigosos do que as chamas dos vulcões nas
sumidades do Prodocatepec [Popocatepetl, vulcão do México], do Chimboraço
[Chimborazo, vulcão do Equador] e de todos os do Potosi [Potosí, vulcão da Bolívia].
Mostra-lhes a anarquia, mais terrível que o dilúvio inundando as planícies de Cassanare
[Casanare, região da Colômbia], assim como ao Chaco [região que abrange partes da
Bolívia, Argentina, Paraguai e Brasil] e Cuyo [região da Argentina que abrange as
províncias de Mendoza, San Juan e San Luis].

Eu volvi, dizendo:

— O povo está cheio de entusiasmo. Ele fará como o [a] áspide [espécie de víbora]
que fecha os ouvidos para não ouvir os acentos do encantador.

E a voz do rochedo me disse:

— Falai-lhe, pois, do futuro.


Eu tornei, dizendo:

— O homem não conhece o futuro. Deus só é quem sabe o que trarão os anos que
ainda se não passaram.

A voz do rochedo continuou a falar-me, dizendo:

— Levanta-te e abre os olhos.

E eu me levantei e abri os olhos. Achei-me então sobre uma alta montanha. Em torno
de mim desdobrava-se uma vasta planície que determinava de um lado o mar sem
limites. Lá se havia reunido um povo imenso, e a minha vista se tornou mais penetrante
que a do caracará, e eu podia ver e ouvir tudo o que fazia este povo.

Um navio se afastava da costa, e por isso toda a multidão saltava de alegria como
embriagados de júbilo, à semelhança de um escravo quando tem achado algum
diamante cujo preço lhe assegura a liberdade. Eles gritavam todos contentes e ao mesmo
tempo: — República ou morte —, e a sua voz retumbava como o estrondo do trovão, e
o eco das montanhas repetia — Morte, morte.

Ora, em meio de alegria universal, alguns estavam aflitos e os outros lhes


perguntavam: — Por que não sois vós tão alegres como nós? — E eles responderam: —
Nós temos sido alegres como vós, e [estivemos] convosco, logo que se disse eu fico; e
agora não podemos ser porque diz — não fica. — E eu ouvi gritos, e os homens aflitos
desapareceram.

Eis que em toda a planície se fez um grande movimento. Os homens olhavam-se uns
aos outros, e muitos foram repulsados e reuniram-se logo fora daquela multidão. Eles
perguntaram: — Por que não quereis vós que nós sejamos convosco? Nós temos
participado dos vossos trabalhos, dos vossos perigos e das vossas esperanças. — E os
outros lhe responderam: — Vós não nascestes nesta terra: voltai à terra em que
nascestes, porque esta nos pertence. — E os estrangeiros disseram ainda: — Atendei
que não se vive da terra, e sim dos frutos que ela dá pelo trabalho do homem. Nós temos
comido o nosso pão, ganho pelo suor do nosso rosto. Consenti que fiquemos em vossa
terra. — E eles responderam: — Não, porque a terra em que nascemos é nossa. — Os
estrangeiros replicaram: — Mas nós temos esposado vossas filhas e vossas irmãs. Elas
têm nos dado filhos. — E foi-lhes dito: — Não, porque a terra em que nascemos nos
pertence. — Então os estrangeiros se ausentaram, mas suas mulheres e seus filhos os
seguiram.

Desde então se tornou maior a agitação. Havia um grande movimento entre o povo
aqui e ali, bem semelhante ao de uma caldeira quando ferve em caixão. E um grande
grito se ergueu — Igualdade ou morte — e ele retumbava como o estampido do trovão,
e o eco das montanhas repetia: — Morte, morte.

Os anciãos, que estavam sentados em suas cadeiras para julgarem, foram delas
lançados fora, e outros as ocuparam, dizendo: — Igualdade.
Aqueles que comandavam soldados foram postos nas fileiras, e os soldados passaram
a comandar, dizendo: — Igualdade.

Havia um homem rico: ele tinha muito ouro, prata e pedras preciosas porque havia
trabalhado por muitos anos. Os homens pobres, que sempre fugiram ao trabalho,
levantaram-se contra o rico, feriram-no, tomando-lhe as suas riquezas, dizendo: —
Igualdade.

Havia um velho que possuía muitos campos, bosques e rebanhos, e ele se acreditava
mais feliz pela posse de uma filha, a quem muito amava, do que por todas as suas
pingues [rendosas] herdades [propriedades rurais] Ela era formosa, a sua vista doce, os
seus negros cabelos desciam até aos seus joelhos, o seu porte era como o da palmeira, o
seu andar era ligeiro e engraçado como o voo do beija-flor, e o aroma do seu hálito era
como o das flores do ar num mato virgem.

E um mancebo [jovem] veio e disse ao velho: — Eu amo tua filha e quero que seja
minha mulher. — O velho lhe tornou: — Eu a nego a ti, não porque és pobre ou porque
teu pai se não sentava entre os anciãos do país, mas sim porque ela ama a outro jovem.
— E o mancebo levantou-se contra o velho: espancou-o, enrolou a mão nas tranças
negras da rapariga, arrastou-a à sua casa, dizendo: — Igualdade.

Assim, cada qual obrava o que bem lhe parecia porque faltam príncipes e juízes entre
o povo. E a agitação crescia na multidão, tanto que eu a vi dividir-se em diferentes
magotes [grupos numerosos], gritando: — A mim, os do Sul! A mim, os do Norte! A
mim, os das costas! A mim, os das serras! — E outros muitos gritos se ouviam,
separando-se toda a multidão em bandos separados.

Houve um destes que disse: — Nós temos trigo e gado, não nos importa o vosso
socorro. Deixai-vos estar em vossos tabernáculos porque não necessitamos de vós.

Houve outro que assim falou: — Em nossos campos correm regatos de mel e nós
colhemos o velo [a casca] das árvores ainda mais branco que o [pelo] das ovelhas.
Deixai-vos estar em vossos tabernáculos porque não necessitamos de vós.

Houve quem respondesse: — O mar nos sustenta com peixe, e os navios que
atravessam o profundo oceano nos trazem o que é necessário. Deixai-vos estar em
vossos tabernáculos porque não necessitamos de vós.

Houve enfim quem desta sorte se explicasse: — Nós temos ouro e diamantes, que
nos importa o mais? Deixai-vos estar em vossos tabernáculos porque não necessitamos
de vós.

Assim, todos se separaram, e um grande brado ao mesmo tempo se ouviu partido de


todos os magotes — Federação ou morte —: este brado feriu as montanhas, e o eco
repetiu, dizendo: — Morte, morte.
E os Leopardos rompentes atravessaram o mar, abicaram as ilhas e disseram: — Nós
somos senhores do mar, e estas ilhas nos pertencem.

Os Candores [Condores] baixaram o voo dos Andes pela parte do Oeste até às
margens do grande Rio do Norte e disseram: — As cabeceiras deste rio pertencem-nos,
logo o seu curso também deve ser nosso.

Os Urubus remontavam o seu voo das campinas do Sul até às fontes do seu grande
Rio e disseram: — Eis aqui as fontes do grande Rio. Ele é nosso, logo as suas nascentes
nos devem igualmente pertencer.

E os habitantes das ilhas, os das margens do Rio do Norte e os das nascentes do Rio
do Sul clamaram aos seus irmãos, estendendo-lhes as mãos e dizendo: — Lembrai-vos
que somos vossos irmãos, salvai-nos. — Mas outros responderam: — Nós estamos em
nossos tabernáculos, não necessitamos de vós. — E, entretanto, os diferentes magotes
disputavam entre si.

E os Leopardos, que tinham as ilhas, estabeleciam armazéns em que vendiam


espadas, punhais, facas, chuços [paus com ponta aguda de ferro], lanças, armas de fogo
e tudo o que pode servir à destruição do homem.

E todos os homens dos diferentes magotes iam às ilhas para comprar armas e
levavam aos Leopardos ouro, diamantes, topázios, crisólitas [crisólita: mineral precioso
também chamado olivina ou peridoto], madeiras preciosas, mel coalhado e o velo das
árvores, enfim tudo o que possuíam porque queriam matar seus irmãos. Suas mulheres
lhes diziam: — Olhai que nossos filhos não têm que comer. Não compreis armas,
comprai antes fazendas de que nos possamos vestir. — E eles responderam: — Nós
vamos matar os nossos irmãos, e quando voltarmos vencedores nós vos daremos o que
pedis.

Eles combatiam de todas as partes, e como todos combatiam e não deixavam de


temer os seus inimigos, cavaram fossos e fizeram trincheiras para se defenderem, e estas
trincheiras eram feitas de cadáveres dos seus irmãos.

Então eles repousaram porque estavam fatigados, e eu olhei para o Norte onde se
formava uma nuvem, bem como se forma num vale quando o sol brilha depois de uma
grande chuva.

A nuvem era negra e semelhante a um enxame de formigas de correição [formigas


carnívoras que atacam em bando] que saem dos bosques para correr toda a terra. E a
Jararaca disse: — O que estão fazendo estas formigas? Eu sou forte e grande, por isso
as não temo. — Entretanto elas cercaram a Jararaca, cobriram o seu corpo, penetraram
por suas rugas e a devoraram. Ela também se assemelhava a um grande rebanho de
carneiros negros que voltam do rio tão unidos entre si que não deixam ver a terra por
onde passam.
E a nuvem crescia, dilatando-se como a torrente de um rio que transborda e, bem
depressa, ela circulou todos os magotes e se introduziu nos fossos que os separavam.

Ela crescia, crescia pouco a pouco, mas sem nunca cessar. E a multidão se assustou:
quis opor-se à inundação negra que avultava de mais em mais e que, recuando algumas
vezes como a vaga sobre a praia, voltava logo mais violenta e coberta de escumas. Ora
as escumas eram de sangue.

Do seio destas vagas negras ouviam-se estrondos semelhantes aos de cadeias que se
quebram, erguendo-se ao mesmo tempo uma voz que dizia: A liberdade ou a morte.
Esta voz retumbava mais que o estampido do trovão e o eco das montanhas, depois de
repeti-la por três vezes, dizendo: A morte, a morte, a morte, calou-se.

E os diferentes magotes cerravam-se pouco a pouco e se dirigiam às montanhas mais


elevadas. Eles se pareciam aos veados surpreendidos pelas cheias dos grandes rios e que
procuram os terrenos mais altos para que a água os não alcance; e, entretanto, ela não
para. Assemelhavam-se também às manadas de potros, surpreendidos por um incêndio
na erva seca dos campos quando se juntam em cerrado rodeio, dando patadas no chão
para apagar as chamas, entretanto que o fogo vai lavrando sempre.

A onda negra engrossou e subiu. Igualou-se aos lugares que lhe ficavam a cavaleiro,
sobejou [estendeu-se] para mais 4 côvados [antiga medida de comprimento equivalente
a 0,66 m], mesmo aos mais altos montes, dobrou sobre eles. Eu olhei e todo o povo
havia já desaparecido.

O meu coração partiu-se de dor, eu caí de face sobre a terra, debulhado em lágrimas,
porque tinha visto perecer um grande povo.

Então a voz do rochedo tomou a falar e disse-me:

— Escreve o que tens visto.

— E eu lhe respondi:

— É isto o futuro?

— Sim, é o futuro — volveu ela.

Então eu repliquei à voz do rochedo, dizendo:

— Eu não te obedecerei. Primeiro [Prefiro que] a minha língua ficará [fique] pegada
ao meu paladar do que eu diga [a dizer] estas coisas; a minha mão secará antes que as
escreva, porque tenho o coração afogado em tristeza e mágoa.

Eu me ergui e não vi mais nem a planície, nem a inundação negra. Eu estava na falda
[no sopé] dos bosques de Itajuru, o Sol descia ao seu ocaso, e eu dei-me pressa a chegar
a casa antes da noite, não querendo mais estudar as revoluções da natureza.
Eu caminhava lentamente, pensativo e triste, pois que me afligia o que vira. E,
chegando à borda do rio, à sombra das mangueiras, eis que vi um homem poderoso
entre os poderosos da terra, em cujo semblante se pintavam a bondade e a força. As suas
mãos estavam enlaçadas pelas de uma bela esposa entre as belas e em cujas faces
transluziam a ternura e as virtudes. Em torno deste par brincavam crianças de ambos os
sexos, em cujos brincos [jogos] se divisavam os cuidados de uma sábia educação e a
índole preciosa de que eram dotados pela natureza.

Pareceu-me neste momento que os Céus se haviam aberto sobre este lugar e que uma
Matrona [respeitável mãe de família], fulgurante pelos raios da eterna glória, me dizia:
— Eu tenho posto ante o Trono de Deus e protejo os meus filhos, o Pai dos meus filhos
e aquela que lhes faz as vezes de Mãe.

Então a paz se restituiu ao meu coração. Eu disse comigo mesmo: — O que tenho
visto sobre a montanha do Itajuru não é o futuro, é uma falsa visão que não deve causar
susto aos que sabem quanto o Céu nos protege e quanto pode a prudência contra as
tentativas de alguns loucos que pouco alcançam com a vista em roda [ao redor] de si.

Estabeleceu-se o sossego do meu espírito e, para de algum modo obedecer à voz da


montanha, aliviando o peso do meu coração, eu escrevi o que vi, para ser lido dos
[pelos] que podem meditar e aproveitar com tempo estas lições que, ainda em ficção,
horrorizam aos que sabem quais são as infalíveis consequências das amotinações
populares.

Observação importante

Esta obra, juntamente com a "Aparição extraordinária e inesperada do Velho


Venerando ao roceiro", do mesmo autor, marcam a introdução do elemento fantástico
na literatura brasileira.
As atribuições anteriores de autoria

A maioria das fontes afirma o anonimato do autor de "A Visão do Pico de Itajuru".

Apenas três escritores, todos conhecidos, aparecem associados à obra.

O primeiro é o francês Moïse Laurent Angliviel de La Beaumelle (1772-1831), filho


do famoso escritor protestante Laurent Angliviel de la Beaumelle (1723-1773), amigo
de Voltaire.

http://dictionnaire-journalistes.gazettes18e.fr/journaliste/013-laurent-angliviel-de-la-
beaumelle

Moïse Laurent destacou-se como coronel, matemático, escritor e tradutor.

http://www.virnot-de-lamissart.com/Angliviel-de-la-Beaumelle.html

Escreveu "L'Empire du Brésil, Considéreé sous ses Rapports Politiques et


Commerciaux" ("O Império do Brasil, Considerado sob suas Relações Políticas e
Comerciais"), obra lançada na França em 1823 e traduzida para o português no ano
seguinte.
https://archive.org/details/delempire1823beaum

Abaixo, a notícia da tradução, publicada pelo periódico "Spectador Brasileiro" em 10


de setembro de 1824 (número XXXI, página 4, segunda coluna):
https://books.google.com.br/books?id=LTRKAAAAcAAJ&lpg=RA13-
PP6&ots=bthJ-Xc1qI&dq=%22La%20Beaumelle%22%20br%C3%A9sil&hl=pt-
PT&pg=RA13-
PP6#v=onepage&q=%22La%20Beaumelle%22%20br%C3%A9sil&f=false

A associação de La Beaumelle com "A Visão do Itajuru" parece ter-se iniciado em


1868, com o relançamento da obra em folheto. Alguns anúncios da época atribuíram o
texto ao "brigadeiro francês Labomel" e estabeleceram o ano original de lançamento em
1829.
"Diario do Povo" (Rio), 23/4/1868, ano II, número 94, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/614

O mesmo anúncio saiu nestas edições da mesma publicação:

"Diario do Povo" (Rio), 25/4/1868, ano II, número 96, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/622

"Diario do Povo" (Rio), 26/4/1868, ano II, número 97, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/626

"Diario do Povo" (Rio), 27-28/4/1868, ano II, número 98, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/630

"Diario do Povo" (Rio), 30/4/1868, ano II, número 100, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/638

"Diario do Povo" (Rio), 2/5/1868, ano II, número 102, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/646

"Diario do Povo" (Rio), 29/5/1868, ano II, número 123, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/730

"Diario do Povo" (Rio), 16/6/1868, ano II, número 137, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/786

"Diario do Povo" (Rio), 19/6/1868, ano II, número 140, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/798

"Diario do Povo" (Rio), 25-26/6/1868, ano II, número 145, página 4, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/818
"Diario do Povo" (Rio), 27/6/1868, ano II, número 146, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/822

"Diario do Povo" (Rio), 29/6/1868, ano II, número 148, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/830

"Diario do Povo" (Rio), 2/7/1868, ano II, número 150, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/834

"Diario do Povo" (Rio), 3/7/1868, ano II, número 151, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/838

"Diario do Povo" (Rio), 4/7/1868, ano II, número 152, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/842

"Diario do Povo" (Rio), 6-7/7/1868, ano II, número 154, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/850

"Diario do Povo" (Rio), 8/7/1868, ano II, número 155, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/854

"Diario do Povo" (Rio), 9/7/1868, ano II, número 156, página 3, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/857

"Diario do Povo" (Rio), 10/7/1868, ano II, número 157, página 3, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/862

"Diario do Povo" (Rio), 11/7/1868, ano II, número 158, página 4, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/866

"Diario do Povo" (Rio), 14/7/1868, ano II, número 160, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/874

"Diario do Povo" (Rio), 15/7/1868, ano II, número 161, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/878

"Diario do Povo" (Rio), 16/7/1868, ano II, número 162, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/882

"Diario do Povo" (Rio), 17/7/1868, ano II, número 163, página 4, segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/367737/886

"Diario do Povo" (Rio), 18/7/1868, ano II, número 165, página 3, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/889

"Diario do Povo" (Rio), 20-21/7/1868, ano II, número 166, página 3, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/897

"Diario do Povo" (Rio), 22/7/1868, ano II, número 167, página 3, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/901

"Diario do Povo" (Rio), 25/7/1868, ano II, número 170, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/914

"Diario do Povo" (Rio), 29/7/1868, ano II, número 173, página 4, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/926

"Diario do Povo" (Rio), 30/7/1868, ano II, número 174, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/docreader/367737/930

Por ordem, o segundo autor creditado com a autoria foi o português Alexandre
Herculano, neste anúncio de 1886. Provavelmente, a confusão se deu por causa da
publicação do texto "A Voz do Profeta" (obra política escrita por Alexandre),
juntamente com o da "Visão do Pico de Itajuru", em 1837.

"Gazeta de Noticias", 8/10/1886, ano XII, número 281, página 6, primeira coluna do
anúncio "Livros Baratissimos".

http://memoria.bn.br/docreader/103730_02/10996

O terceiro autor associado à obra seria um irmão de José de Alencar, o também


romancista Leonel (Martiniano) de Alencar. O registro de um exemplar de 1860, no
Real Gabinete Português de Leitura (Rio), associa a obra "Visões primeira e segunda no
rochedo de Itajuru; três parábolas do pobre solitário" a Leonel.
http://www.realgabinete.com.br/portalWeb/

A mesma informação consta do "Catálogo da Coleção Varnhagen da Biblioteca do


Itamaraty", na página 20. No livro, o autor era indicado pelas iniciais "L.M.".

"Catálogo da Coleção Varnhagen da Biblioteca do Itamaraty", Maria Liânia Coutinho


Bueno (coordenadora), Brasília, 2002.

http://livrozilla.com/doc/955588/sem-t%C3%ADtulo-3

É provável que esse equívoco de atribuição derive da semelhança com o título de


outra obra, esta realmente escrita por Leonel de Alencar: "A Sonâmbula de Itapuca"
(1861), uma ficção baseada em lenda local.

No registro da obra na Biblioteca Nacional aparecem as iniciais "L.M.", mas não se


aponta um autor específico.
http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1654907
O verdadeiro autor de "A Visão do Pico de Itajuru"

A solução do problema de autoria veio da pesquisa exaustiva, usando-se todos os


termos associados à obra, e da combinação de informações obtidas em duas fontes.

A primeira fonte, aparentemente conclusiva, foi o necrológio do marechal de campo


Antônio Manoel da Silveira Sampaio, publicado no "Jornal do Commercio" em 11 de
novembro de 1836 (ano XI, número 240). Não se trata de um nome desconhecido no
meio literário: Antônio já chegou a ser apontado (erroneamente) como pai da primeira
poeta e escritora gaúcha, Maria Clemência da Silveira Sampaio (tema de artigo
disponível nesta pasta).

Reproduzindo o trecho significativo do extenso necrológio:

"Explicou o sonho do Velho de Itajuru, compôs o 'Gênio do Brasil' e as previsões do


Doutor da Roça mandou imprimir à sua custa e distribuir grátis pelas Províncias".

"Jornal do Commercio", 11/11/1836, ano XI, número 240, página 1, quarta coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/8313

"Jornal do Commercio", 11/11/1836, ano XI, número 240, página 2, segunda coluna,
último parágrafo.

http://memoria.bn.br/docreader/364568_02/8314

A palavra "explicou" poderia deixar alguma dúvida: Silveira Sampaio foi o autor da
obra ou somente quem a "explicou"? Ou o termo estaria se referindo à "introdução
analítica" do folheto?
A informação sobre as outras duas obras associadas a Antônio Manoel proporcionou
nova frente de pesquisa, e dela veio a confirmação de autoria:

"Hoje sai à luz 'O Gênio do Brasil' mostrando em cenas interessantes o espelho da
verdade para o desengano dos homens, feito pelo mesmo autor da 'Aparição do Pico de
Itajuru', com notas, e acrescentamentos, aonde o mesmo autor pede ao Público a
estimação desta pequena obra, tanta, como têm tido as outras".

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/13170

Essa informação confirma a suspeita de que "explicou" refere-se à "introdução


analítica" presente nas edições do folheto "A Visão do Pico de Itajuru".

A reprodução integral do necrológio saiu no "Diário de Pernambuco" em 14 de


janeiro de 1837.
"Diário de Pernambuco", 14/1/1837, número 11, páginas 1 (quarta coluna) e 2.

http://memoria.bn.br/docreader/029033_01/10064

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/10065

Antônio Manoel da Silveira Sampaio é verbete do "Dicionário Bibliográfico


Brasileiro", obra de Sacramento Blake, no volume 1, página 254. Observe que duas
obras mencionadas por Sacramento referem-se a questões militares, e a terceira a uma
questão jurídica com um ministro.
"Diccionario Bibliographico Brazileiro", Augusto Victorino Alves Sacramento
Blake, volume 1, página 254, 1883.

http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/221681

A terceira obra está disponível no Real Gabinete Português de Leitura, sediado no


Rio.
http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1604024

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1217262

O nome de Antônio não consta de outros dicionários que servem de referência a


pesquisadores brasileiros na área da Literatura.

As informações registradas acima permitem afirmar que Antônio Manoel da Silveira


Sampaio foi um dos mais importantes autores de textos políticos da primeira metade do
século XIX, no Brasil, e que o seu nome merece estar associado à sua principal obra, "A
Visão do Pico de Itajuru".

Vida pessoal

Silveira Sampaio casou-se com Maria Carlota de Sampaio Figueiredo Leite Lobo,
tendo como filhas Ana Emília de Sampaio Ribeiro e Maria Rita de Sampaio.
https://www.genealogieonline.nl/en/petroucic-genealogy/I376315.php

O escritor e diplomata gaúcho Múcio Teixeira revelou ser bisneto de Silveira


Sampaio, pelo lado materno, em seu livro "Os Gaúchos".
"Os Gaúchos", Múcio Teixeira, páginas 101 e 102, 1920, Rio de Janeiro.
https://arrow.latrobe.edu.au/store/3/4/3/9/8/public/B17865402V1.pdf

O mesmo autor, em "Brasil Marcial", informa que a tradução da obra "Resumo de


História do Brasil" é dedicada a Silveira Sampaio.

"Brasil Marcial, Síntese Histórica", Múcio Teixeira, Fascículo n.º 6, página 176,
Imprensa Nacional, 1903.

https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/4322/1/019064_COMPLETO.pdf
"Resumo da História do Brasil até 1828", H.L. de Niemeyer Bellegarde, Rio de
Janeiro, 1831.

https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=29104

O periódico "O Spectador Brasileiro", em sua edição de 18 de outubro de 1824,


registrou a promoção de Silveira Sampaio a "Brigadeiro efetivo".
"O Spectador Brasileiro", 18/10/1824, número XLVII, página 1, segunda coluna.

https://books.google.com.br/books?id=LTRKAAAAcAAJ&lpg=RA24-
PP3&ots=bthJ64eWrK&dq=%22antonio%20manoel%20da%20silveira%20sampaio%2
2&hl=pt-PT&pg=RA24-
PP3#v=onepage&q=%22antonio%20manoel%20da%20silveira%20sampaio%22&f=fal
se

O site do Superior Tribunal Militar possui uma página dedicada a Silveira Sampaio,
que atuou como ministro daquela corte, de 1823 a 1833 (à época, o "Conselho Supremo
Militar").
https://www.stm.jus.br/o-stm-stm/memoria/biografia-ministros-desde-
1808/item/4662-biografia-32

O retrato do autor de "A Visão do Pico de Itajuru":


https://www.stm.jus.br/o-stm-stm/memoria/biografia-ministros-desde-
1808/item/4662-biografia-32
Obras literárias de natureza militar

Antônio Manoel da Silveira Sampaio escreveu três obras destinadas às Forças


Armadas nacionais.

1819

. "Memória sobre as principais causas que promovem as deserções nos corpos de


linha do exército do Brasil, e os meios que convém adotar para evitar a continuação
deste terrível mal do estado".

http://biblioteca2.senado.gov.br:8991/F/?func=item-
global&doc_library=SEN01&doc_number=000482013

1824

. "Instruções para uso dos oficiais do exército nacional e imperial nos processos de
conselhos de guerra", 1824.

Na edição de janeiro-junho de 2007, a publicação "STM em Revista" mencionou a


importância dessa obra de Silveira Sampaio.
"Bicentenário da Justiça Militar da União: '200 anos de muita história'", Ana Paula
Bonfim, em "STM em Revista", ano 4, número 5, páginas 17 e 18, janeiro - junho de
2007 (observação: retrato de D. João VI).
https://pt.scribd.com/document/352418824/Revista-do-Superior-Tribunal-Militar-
informativo-da-Justica-Militar-da-Uniao-N-05-janeiro-junho-2007

A obra também é citada em estudos acadêmicos, como "Trajetórias, redes e práticas


políticas: os conselheiros do Conselho Supremo Militar e de Justiça (Rio de Janeiro,
1808-1822)", de Adriana Barreto de Souza.

"Trajetórias, redes e práticas políticas: os conselheiros do Conselho Supremo Militar


e de Justiça (Rio de Janeiro, 1808-1822)", Adriana Barreto de Souza, trabalho
apresentado no Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de
Antigo Regime, Lisboa, 18 a 21 de Maio de 2011.

http://www.iict.pt/pequenanobreza/arquivo/Doc/t8s2-03.pdf

Abaixo, outro trabalho de Adriana que menciona o livro de Silveira Sampaio.


"Conselho Supremo Militar e de Justiça e a interiorização de uma cultura jurídica de
Antigo Regime no Rio de Janeiro (1808- 1831)", Adriana Barreto de Souza, páginas
304 e 306, "Antíteses", volume 7, número 14, julho - dezembro de 2014.

http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/viewFile/18593/15613

http://www.redalyc.org/pdf/1933/193332875015.pdf

1835

. "Representação que ofereceu à Câmara dos Senhores Deputados do Marechal de


Campo Antônio Manoel da Silveira Sampaio contra o Ministro e Secretário de Estado
dos Negócios da Guerra Antero José Ferreira de Brito".

Os registros da obra no catálogo da Biblioteca Nacional:


http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1604024

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1217262
As obras políticas de Antônio Manoel da Silveira Sampaio

Além de "A Visão do Pico de Itajuru", Antônio Manoel da Silveira Sampaio,


escreveu outras três obras de natureza política: "Aparição extraordinária e inesperada do
Velho Venerando ao roceiro", "O Doutor da Roça" e "O Gênio do Brasil", todas
motivadas pela visão crítica do autor sobre os rumos da política nacional em sua época.

1. "Aparição extraordinária e inesperada do Velho Venerando ao roceiro ―


Primeiro semestre de 1831", 29 páginas, 1831.

Imagem da capa da primeira edição.


https://www.abebooks.com/first-edition/Appari%C3%A7%C3%A3o-extraordinaria-
inesperada-velho-venerando-rosseiro/192693390/bd#&gid=1&pid=1

Além desse único exemplar à venda no site Abebooks, há outro constante do acervo
da Biblioteca Nacional de Portugal. Este possui 32 páginas e foi impresso na
Typographia Fidedigna, em Pernambuco, também em 1831.

Pesquisa por "velho venerando".

http://catalogo.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp?profile=

A apresentação no site da Abebooks informa que houve reimpressões do panfleto


político no Rio, em Pernambuco (o exemplar acima) e na Bahia, todas em 1831.

https://www.abebooks.com/first-edition/Appari%C3%A7%C3%A3o-extraordinaria-
inesperada-velho-venerando-rosseiro/192693390/bd

Abaixo, o registro da edição em Pernambuco, no acervo da Biblioteca Nacional.


http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=927900

O registro da primeira edição, publicada no Rio de Janeiro.

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=944134

Outras duas edições saíram no Rio, no mesmo ano.


http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1209335

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1209340

Houve também edições no Maranhão, em 1831,...


http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1209345

... e em Porto Alegre, no mesmo ano.

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1587072

"O Catálogo da Coleção Varnhagem " traz o título do folheto à página 45.

"Catálogo da Coleção Varnhagen da Biblioteca do Itamaraty", página 45, Maria Liânia


Coutinho Bueno (coordenadora), Brasília, 2002.

http://livrozilla.com/doc/955588/sem-t%C3%ADtulo-3

Um livro publicado em 1905 na cidade de Évora (Portugal) registrou uma das


edições do folheto publicada em 1831.
Página 524

"Inventario dos livros, jornaes, manuscriptos e mappas do Dr. Ernesto do Canto:


legados á Bibliotheca Publica de Ponta Delgada (Ilha de S. Miguel) e entregues por sua
viuva D. Margarida Leite do Canto", página 524, Évora (Portugal), Minerva
Commercial, 1905.

https://archive.org/details/inventariodosliv00cant/page/n5

O primeiro anúncio da obra saiu no "Diário do Rio de Janeiro" em 27 de maio de


1831. Este foi também o primeiro dia de venda do panfleto.
"Diario do Rio de Janeiro", 27/5/1831, número 22, página 1, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12444

A receptividade incomum ao folheto levou à necessidade de imprimir uma segunda


edição, apenas 4 dias após o lançamento.
"Diario do Rio de Janeiro", 31/5/1831, número 24, página 2, primeira e segunda
colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12459

Em 11 de junho do mesmo ano, uma reimpressão da obra veio com "um aditamento",
revelando que o interesse pelas ideias do autor continuava forte no público.
"Diario do Rio de Janeiro", 11/6/1831, número 8, páginas 1 (última coluna) e 2
(primeira coluna).

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12491

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12492

Um mês depois, o editor do jornal mineiro "O Amigo da Verdade" informava que o
texto de "Aparição Extraordinária" havia sido publicado em outro jornal de São João del
Rei, "O Amigo da Verdade". Uma informação adicional importante: segundo o editor,
teria havido um processo criminal contra os tipógrafos responsáveis pela obra.
"Astro de Minas" (São João del Rei, MG), 9/7/1831, ano , número 565, páginas 3
(segunda coluna) e 4 (primeira coluna).

http://memoria.bn.br/DocReader/709638/1846

A Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional possui exemplares de "O Amigo de


Verdade" publicados apenas em 1829, o primeiro ano de circulação do periódico.
"O Amigo da Verdade" (São João del Rei, MG), 8/5/1829, primeira página.

http://memoria.bn.br/pdf/849901/per849901_1829_00001.pdf

Em 19 de julho, o editor do "Astro de Minas" expressou sua posição sobre o texto do


folheto político, recusando-se a aceitar a atribuição de autoria a José Bonifácio de
Andrada e Silva.
"Astro de Minas" (São João del Rei, MG), 18/7/1831, número 569, página 1,
primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/709638/1859

Em 6 de setembro de 1831, o mesmo "Astro de Minas" publicou uma longa


contestação a várias afirmações do folheto político, em "Artigo Comunicado"
"Astro de Minas" (São João del Rei, MG), 6/9/1831, número 577, páginas 1, 2, 3 e 4
(nesta, somente a primeira coluna).

http://memoria.bn.br/DocReader/709638/1891

Em Pernambuco, o periódico "Bússola da Liberdade" publicou toda a parte final da


obra, em sua edição de 5 de outubro de 1831.

"Bússola da Liberdade" (PE), 5/10/1831, número 29, páginas 2 (segunda coluna), 3 e


4.
http://memoria.bn.br/DocReader/815721/14

http://memoria.bn.br/DocReader/815721/15

http://memoria.bn.br/DocReader/815721/16

No final daquela edição havia um anúncio da venda do folheto.

"Bussola da Liberdade" (PE), 5/10/1831, número 29, página 4, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/815721/16

Também o "Diário de Pernambuco" divulgou anúncios da venda do folheto, no


mesmo mês.

"Diario de Pernambuco", 8/10/1831, número 214, página 4, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/3829
"Diario de Pernambuco", 10/10/1831, número 215, página 6, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/3837

Outros anúncios do folheto, no mesmo jornal:

"Diario de Pernambuco", 27/10/1831, número 230, página 3, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/3896

"Diario de Pernambuco", 25/11/1831, número 251, página 3, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/3982

"Diario de Pernambuco", 28/11/1831, número 253, página 2, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/3989

No Maranhão, a imprensa divulgou o texto de "Aparição Extraordinária" por meio da


reprodução do "Artigo Comunicado", crítica publicada no "Astro de Minas" em 6 de
setembro de 1831.
"O Farol Maranhense", 11/11/1831, número 350, página 1, 2, 3 e 4.

http://memoria.bn.br/DocReader/749958/824

http://memoria.bn.br/DocReader/749958/825

http://memoria.bn.br/DocReader/749958/826

http://memoria.bn.br/DocReader/749958/827

Em dezembro do mesmo ano (1831), o anúncio da terceira edição do panfleto,


publicado no "Diário do Rio de Janeiro", indicava que o autor incluíra comentários
sobre os eventos históricos deflagrados pela abdicação de D. Pedro I. O título era:
"Aparição extraordinária e inesperada do velho venerando ao roceiro, diálogo havido
entre eles sobre a atual situação política do Brasil e dos seus acontecimentos
extraordinários desde o dia 5 de abril em diante, e sobre a visão do Pico de Itajuru
achada entre os papéis de um solitário nas imediações de Macacu, vítima das febres de
1829".
"Diario do Rio de Janeiro", 6/12/1831, número 4, página 1, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/13074

O lançamento também foi divulgado no "Jornal do Commercio", no dia seguinte.


"Jornal do Commercio", 7/12/1831, volume VI, número 79, páginas 2 (segunda
coluna) e 3 (primeira coluna).

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/2291

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_02/2292

O último anúncio do folheto, em 1831, saiu no "Diário do Rio de Janeiro" em 21 de


dezembro.
"Diario do Rio de Janeiro", 21/12/1831, número 15, página 1, primeira e segunda
colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/13126

Mais de 6 anos depois, em 1838, um anúncio do "Correio Mercantil" divulgava o


folheto, agora com a alcunha "Velho Venerando".
"Correio Mercantil", 10/5/1838, volume III, número 461, página 3, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/186244/115
Segundo Alexandre Marciano de Paula, o periódico "O Unitário" (1838-1839), de
Ouro Preto (MG), também publicou essa obra de Silveira Sampaio em setembro e
outubro de 1839. Como o texto se refere a "acontecimentos iniciados com o Sete de
Abril", trata-se da "Aparição Extraordinária", já que "A Visão" comunicava a profecia
sobre o que iria acontecer caso D. Pedro I se tornasse um imperador fraco.

"O Regresso em Minas Gerais: 'Déspotas e Republicanos' na Imprensa Mineira (1837-


1840)", página 153, Alexandre Marciano de Paula, dissertação de pós-graduação
Universidade Federal de São João del Rei (MG), 2013.

https://www.ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/pghis/DissertacaoAlexandreMarciano.pdf

A informação é complementada pelo período específico em outra dissertação do


mesmo ano, esta de Luciano da Silva Moreira.

"Imprensa e política: Espaço público e cultura política na província de Minas Gerais


(1828-1842)", página 76, Luciano da Silva Moreira, dissertação de mestrado,
Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal de Minas Gerais, 2013.
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/VCSA-6X6LY9

2. O Doutor da Roça ― Julho de 1831.

O primeiro registro do folheto conhecido como "O Doutor da Roça" data de 12 de


julho de 1831.

"Saiu à luz ― Lamentação Patriótica do Doutor da Roça, seguida de um interessante


diálogo entre o mesmo Doutor e um seu condiscípulo, continuado por um curitibano e
acabado por um fluminense. Pelo mesmo autor da 'Aparição do Velho ao Roceiro', obra
digna de ser lida."

Portanto, o anúncio relaciona explicitamente este panfleto, por meio do autor, ao da


"Aparição Extraordinária".

"Diario do Rio de Janeiro", 12/7/1831, número 10, página 1, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12589

O título integra o "Catalogo de Livros da Bibliotheca Fluminense", publicado em


1852.

"Catalogo de Livros da Bibliotheca Fluminense", página 266, autor anônimo,


Tipografia Soares, Rio de Janeiro, 1852.
https://books.google.com.br/books?id=kMCJVolv88wC&dq=%22doutor%20da%20r
o%C3%A7a%22&hl=pt-
PT&pg=PA266#v=onepage&q=%22doutor%20da%20ro%C3%A7a%22&f=false

A obra foi citada criticamente no periódico "Astro de Minas", no mesmo mês de


julho, devido à sua republicação pelo "Amigo da Verdade", jornal da mesma cidade
(São João del Rei).

"Astro de Minas" (São João del Rei, MG), 18/7/1831, número 569, página 1,
primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/709638/1926

Abaixo, os registros de um exemplar do folheto constante do acervo da Biblioteca


Nacional:
http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=851105

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=644919

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=766706
A atribuição realizada no necrológio de Antônio Manoel da Silveira Sampaio, unindo
seu nome a "O Gênio do Brasil" e a "O Doutor da Roça", poderia ser contestada, neste
caso e no caso do anúncio de 12/7/1831 no "Diário do Rio de Janeiro" ("Pelo mesmo
autor da Aparição do Velho ao Roceiro [...]", a qual também seria obra de Silveira
Sampaio), por três indícios, que as ligariam a José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-
1838), o Patrono da Independência do Brasil.

O primeiro indício seria a atribuição da autoria de "A Aparição Extraordinária do


Velho Venerando ao Roceiro, ou a Visão do Pico de Itajuru" a esse outro escritor, feita
pela "Folhinha para o Ano de 1839".

"... que atribui-se ser produção da sábia inteligência do conselheiro José Bonifácio de
Andrada e Silva, de saudosa memória".
"Correio Mercantil", 14/12/1838, volume III, número 627, página 3, terceira coluna
(início na segunda coluna, em "Folhinha para o Anno de 1839").

http://memoria.bn.br/DocReader/186244/791

Nota-se a confusão, comum em anúncios de livros da época, entre as duas partes do


livro, como veremos adiante ("A Visão do Pico de Itajuru" constitui a sua segunda
parte).

O segundo indício de uma autoria diversa seria a expressão "velho venerando", uma
das alcunhas aplicadas eventualmente a José Bonifácio, em seu período de vida.

E o terceiro indício seria a utilização do personagem "Doutor da Roça" por José


Bonifácio em textos de 1823 e 1824.

1823

Em um diálogo que ocupa toda a edição de 2 de setembro de 1823 do periódico "O


Tamoyo" (Rio), fundado pelo próprio José Bonifácio em agosto daquele ano, o político,
valendo-se do pseudônimo "Tapuia", aparece como o "raro paulista e ótimo patriota, o
nosso velho do Rocio", conversando com o Dr. da Roça (também chamado "filósofo da
roça").
"O Tamoyo", 2/9/1823, número 5, página 21, primeira coluna.

https://books.google.com.br/books?id=mcdeAAAAcAAJ&pg=PA22&dq=%22douto
r+da+ro%C3%A7a%22+imperador&hl=pt-
PT&sa=X&ved=0ahUKEwjv8cGhtbvdAhVGkJAKHZT4AQYQ6AEIKDAA#v=onepa
ge&q=%22doutor%20da%20ro%C3%A7a%22%20imperador&f=false

O texto integral pode ser lido nesta página do site Tiro de Letras, do jornalista José
Domingos de Brito.

http://www.tirodeletra.com.br/entrevistas/JoseBonifacio.htm

1824

Repare como José Bonifácio, nesta carta de 1824, sugere que o texto sobre o Dr. da
Roça seja impresso em Londres (os quatro panfletos políticos foram impressos no Rio
de Janeiro).
"A independencia e o imperio do Brazil; ou, A independencia comprada por dous
milhões de libras sterlinas e o Imperio do Brazil com dous imperadores no seu
reconhecimento, e cessão: seguido da historia da Constituição politica do Patriarchado,
e da corrupção governmental, provado com documentos authenticos", Alexandre José
Mello Moraes, página 268, Typographia do Globo, 1877.

https://books.google.com.br/books?id=mdU5AQAAMAAJ&dq=%22dr.%20da%20r
o%C3%A7a%22&hl=pt-
PT&pg=PA268#v=onepage&q=%22dr.%20da%20ro%C3%A7a%22&f=false

Em sua tese de mestrado, Letícia de Oliveira Raymundo trata dos apontamentos e


notas escritos por José Bonifácio, no período de elaboração do segundo texto sobre o
Doutor da Roça, que acabou não sendo publicado. Repare que o autor sempre menciona
a categoria "carta" ao se referir a esses escritos.

"Legislar, amalgamar, civilizar: a mestiçagem em José Bonifácio de Andrada e Silva


(1783-1823)", página 96, Letícia de Oliveira Raymundo, dissertação de mestrado,
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, São Paulo, 2001.

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-06032012-103436/pt-br.php

"José Bonifácio, primeiro Chanceler do Brasil", página 386, João Alfredo dos
Santos, Fundação Alexandre de Gusmão, Brasília, 2017.

http://funag.gov.br/loja/download/435-
Jose_Bonifacio_primeiro_Chanceler_do_Brasil.pdf

Há seis problemas em se aceitar essa atribuição de autoria.

Primeiro, o necrológio afirma de modo seguro que a autoria das três obras (e,
portanto, também da quarta, a "Aparição") pertence a Silveira Sampaio. Não há nome
do autor do necrológio, mas por sua extensão e grau de detalhes tratava-se obviamente
de alguém com amplo conhecimento da vida e da obra do militar e escritor.

Segundo, nos dois textos de José Bonifácio não há o sentido mágico de "aparição
extraordinária": trata-se apenas de diálogos transcorridos em contexto natural. O autor
não empregou os artifícios marcantes do fantástico e da profecia para dar força a seus
argumentos.
Terceiro, em seu primeiro e único texto publicado com o personagem Doutor da
Roça, José Bonifácio utilizou o pseudônimo "Tapuia". Silveira Sampaio não usou
pseudônimos em sua obra política.

Quarto, neste mesmo texto, o autor cita a sua família, que estaria sendo perseguida,
demonstrando que a motivação para escrevê-lo baseou-se, pelo menos em boa parte, em
uma questão pessoal:

"Disto sabem aproveitar-se os inimigos ocultos do Império, que agora só fazem


vociferar contra os Andradas".

Não há nada semelhante nos dois textos conhecidos dos quatro panfletos políticos.

Quinto, não há nenhum trabalho ou texto a respeito de José Bonifácio que associe
esse político a qualquer um dos panfletos. E Bonifácio é um personagem cuja vida
recebeu um grau de escrutínio muito maior, pelos historiadores, que a do quase
desconhecido Silveira Sampaio.

Sexto, a correspondência pessoal do José Bonifácio não traz informações que


permitam atribuir-lhe a autoria de sequer uma das quatro obras panfletárias.

3. O Gênio do Brasil ― Outubro de 1831.

Esta obra teve sua divulgação inicial no "Diário do Rio de Janeiro", em 28 de


outubro de 1831.

"Saiu à luz um folheto intitulado 'O Gênio do Brasil', mostrando em cenas


interessantes o espelho de verdades para o desengano dos homens, oferecido aos
cidadãos brasileiros verdadeiramente empenhados na felicidade de sua pátria, por um
que a deseja cordialmente; contém 44 páginas e vende-se por 320 réis [...]".
"Diario do Rio de Janeiro", 28/10/1831, número 23, página 1, terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/12948

A mesma notícia receberam os leitores do "Correio Mercantil", na edição daquele


dia.

"Correio Mercantil", 28/10/1831, ano, número 238, página 2, segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/709530/1892
O anúncio seguinte relaciona a obra com "A Visão do Pico de Itajuru".

"Hoje sai à luz 'O Gênio do Brasil' mostrando em cenas interessantes o espelho da
verdade para o desengano dos homens, feito pelo mesmo autor da 'Aparição do Pico de
Itajuru', com notas e acrescentamentos onde o mesmo autor pede ao público a estimação
desta pequena obra, tanta como têm tido as outras".

"Diario do Rio de Janeiro", 7/1/1832, número 5, página 1, primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/13170

Dois anos depois, um anúncio de "Livros à Venda", no mesmo jornal, oferecia "O
Gênio do Brasil" entre vários outros.
"Diario do Rio de Janeiro", 18/9/1834, número 15, página 2, segunda coluna, em
"Livros á Venda".

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/16260

Eis o registro da obra no acervo da Biblioteca Nacional:

http://acervo.bn.br/sophia_web/info.asp?c=1601455

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