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Gazeta da Tarde (Rio de Janeiro, RJ), 28/1/1881, número 25, página 2, da terceira à
quinta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/226688/680
Hora de pesquisa no Google. Depois de experimentar várias alternativas e de
pesquisar em vários PDFs, nada. A busca incluiu a digitação de vários trechos do texto
da crítica, visando identificar a publicação de uma parte dela, ao menos.
No Google Scholar, seção do Google dedicada a trabalhos acadêmicos, também
nenhum resultado.
No verbete sobre o romance na Wikipédia, surpreendentemente bem referenciado,
nada sobre Gazeta da Tarde na seção de Recepção ou mesmo nas fontes.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Memórias_Póstumas_de_Brás_Cubas#Recepção
Nessa enciclopédia também não há referências ao jornal, em Reputação de Machado
de Assis.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reputação_de_Machado_de_Assis
Percorri os 29 números da revista Machado de Assis em Linha, consultando todos os
artigos sobre Memórias Póstumas (cuidado um tanto redundante, já que estão
disponíveis na Web). Nada.
http://machadodeassis.fflch.usp.br/edicoes
Por fim, uma consulta ao site da Academia Brasileira de Letras dedicado ao escritor,
na seção de Artigos, nada revelou sobre Gazeta da Tarde ou mesmo nos resultados
para Memórias Póstumas, embora esse recurso também não devolva resultados
para Estação, indício de não ser uma fonte completa ou atualizada.
http://www.machadodeassis.org.br/abl_minisites/cgi/cgilua.exe/sys/start907c.html?U
serActiveTemplate=machadodeassis&from_info_index=1&infoid=17&sid=11
Esgotadas as possibilidades disponíveis, cumpro a função de pesquisador e deixo
aqui o texto completo da crítica para eventuais observações de estudiosos de Machado,
certamente mais conhecedores da obra do Bruxo do Cosme Velho do que este escriba.
Caso a crítica seja conhecida, passará a integrar o artigo sobre a recepção do
romance. Muito provavelmente é inédita, e o motivo dessa quase certeza é o que você
lerá nos parágrafos seguintes (jamais um conteúdo dessa natureza, inesperado,
extravagante e até cômico deixaria de aparecer em tantos estudos sobre Machado).
O resenhista aproveitou o espaço do jornal para uma exibição por vezes fútil de
erudição pessoal, citando em seu texto o maior número possível de autores e referências
clássicas. Além disso, ilustrou com perfeição um defeito primário em resenhistas: ao
invés de analisar as características únicas da obra e de se esforçar para entender o seu
autor, passou a doutrinar não só o romancista, mas todos os escritores, na esperança de
que, em termos de gênero literário, moral social e conteúdo da história, aceitassem seus
argumentos e passassem a personificar o ideal artístico do crítico.
A mensagem básica desse estilo de crítica é: “Isso que você fez não combina comigo,
e vou lhe explicar o porquê. Aprenda e corrija-se”.
Deixo aqui um estraga-prazeres (atualmente, spoiler): no final da resenha, o crítico
sugere que Machado se dedique ao romance histórico, passando a criar histórias nas
quais um herói transmita mensagens edificantes a seus leitores.
Pode rir.
Ressalte-se um mérito do crítico: ter sido o pioneiro da longeva polêmica sobre as
semelhanças entre o romance de Machado e O Primo Basílio, romance do português
Eça de Queiroz.
As imagens da fonte estão disponíveis no final do artigo.
____________________________
Atualização com o nome do autor da resenha (o artigo original informava
apenas que não havia assinatura no texto)
A pressa em explorar a descoberta levou ao abandono do artigo em desenvolvimento,
no qual se encontravam tanto a pista para a resenha quanto, mais abaixo, a pista para o
nome do seu autor.
Estes parágrafos seguintes na resenha de Arthur Barreiros publicada em 28 de janeiro
de 1881 contêm a chave inicial:
“[…] como entende um escritor consciencioso, o Sr. Urbano Duarte ― a luta do
egoísmo estéril e brutal de Brás Cubas e o altruísmo do Quincas Borba; e é positivo que
esta luta interessa, melhora e aperfeiçoa o espírito do leitor.
“O Brás Cubas mereceu do talentoso critico, a quem me refiro, outro reparo, que
também me parece menos cabível: o da influência patente que exercitou o Primo
Basílio, vicioso de hoje, no pobre do Brás Cubas, adúltero de 1814.”
O conteúdo acima refere-se à “resenha perdida” do romance, revelada neste artigo.
Ou seja, Arthur Barreiros informa que Urbano Duarte escreveu a crítica na qual se
aconselhava uma mudança de rumos na carreira de Machado.
A princípio, a informação não convenceu. Seria um caso único: um mesmo autor
redigindo duas resenhas sobre a mesma obra em dois periódicos diferentes, no espaço
de cinco dias (a da Gazeta da Tarde em 28 de janeiro e a da Gazetinha em 2 de
fevereiro). Muito estranho.
Como provar que o mesmo autor redigiu as duas resenhas?
Ambas contêm críticas pesadas a Memórias Póstumas. Além disso, enfatizam a
perspectiva moralista e criticam o “materialismo” e a escola realista, pontos chaves de
outros textos de Urbano. Quatro pistas importantes, mas não conclusivas.
Arthur Barreiros, em sua referência à crítica da Gazeta da Tarde, poderia ter errado
ao atribuí-la a Urbano Duarte?
Hora de nova pesquisa. Qual seria a relação entre os dois críticos?
Resultado 1
https://books.google.com.br/books?id=gA_S4cepf6AC&lpg=PA349&ots=O7X5j0p
3_i&dq=%22Virg%C3%ADlia%20teve%20de%20acompanhar%20o%20marido%2
2&hl=pt-
PT&pg=PA354#v=onepage&q=%22primo%20bas%C3%ADlio%22&f=false
Agora repare o que aconteceria se um pesquisador, intrigado com essas informações,
digitasse na caixa de busca da Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional os termos
“bazilio” e “cubas”, escolhidos por não serem triviais (“bazilio” era a grafia da época), e
depois escolhesse o período 1880–1889 e o local “RJ”:
Somente quatro resultados, um dos quais seria a “resenha perdida” de Urbano Duarte
na Gazeta da Tarde.
Tanto essa resenha quanto a identificação do seu autor estavam disponíveis, pelo
menos, desde 2013:
http://www.juventudect.fiocruz.br/noticia/esta-no-ar-hemeroteca-digital-brasileira
Que outras surpresas sobre Machado de Assis ainda nos reservam os textos
digitalizados e em digitalização?
Agora veja esta curiosa imagem da Revista Brasileira: juntos, os dois envolvidos
nessas questões de autoria, o romance avaliado e seu autor.