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RESUMO
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Apresentação
Como se sabe, Úrsula, o romance de Maria Firmina dos Reis, também apresenta esse
descompasso entre o ano registrado na folha de rosto (1859) e o verdadeiro ano de
publicação (1860, em agosto).
Não se sabe o motivo pelo qual os periódicos de Fortaleza não divulgaram o romance
de Emília Freitas.
A história do romance A Rainha do Ignoto
Uma situação, aliás, muito semelhante à de Úrsula, romance de Maria Firmina dos
Reis: somente 100 anos após o falecimento, em 2017, a escritora maranhense teve sua
obra, composta de apenas dois livros (o romance e o livro de poemas Cantos à Beira-
Mar), tornada acessível a todos os leitores.
https://sebodomessias.com.br/livro/literatura-brasileira/a-rainha-do-ignoto.aspx
https://books.google.com.br/books?id=qd0dAQAAIAAJ&hl=pt-
PT&source=gbs_similarbooks
Em 1978, a imprensa do Sudeste divulgou o livro de Otacílio e o romance de Emília
Freitas.
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, RJ), 15/4/1978, número 7, caderno Livro, página 5,
primeira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/178480
http://memoria.bn.br/DocReader/098116x/7734
Deixo a seguir os links para cópias digitalizadas dessas duas edições, devido à
impossibilidade atual de acesso a elas por parte de leitores interessados e,
especialmente, de pesquisadores e acadêmicos desejosos de cotejar as várias edições de
A Rainha do Ignoto
https://aarteliteraria.files.wordpress.com/2019/06/a-rainha-do-ignoto-2c2aa-
edic3a7c3a3o.docx
http://www.mediafire.com/file/8essassv3dl7c0s/A+Rainha+do+Ignoto+-
+Em%C3%ADlia+Freitas.epub
https://drive.google.com/file/d/1VC5qAMH0pOQnR6h55q1AGo9EoHWkFYx0/vie
w
As resenhas de A Rainha do Ignoto
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http://memoria.bn.br/DocReader/819875/47
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Carta aberta
É preciso conhecer muito bem a psicologia feminina para falar com segurança sobre
o romance de uma mulher.
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Não quis padrinhos. Ainda bem. Louvo-a pelo justo orgulho que revela a têmpera de
um espírito esclarecido e emancipado, que se atira às lides atraído pelas fascinações do
ideal.
Como todo espírito que pensa e, por isso mesmo, não segue a turba compacta dos
rotineiros vulgares, Emília Freitas não rende homenagem ao convencionalismo
ortodoxo da civilização, mas aspira inscrever-se nas fileiras dos paladinos do futuro,
firme, resoluta, como tantas que brilham na arena pelo talento e pela atividade produtiva
e constante.
Emília Freitas, porém, não é um espírito que se preocupe demasiado com a opinião
dos outros. Escreve ao sabor de sua imaginação, num estilo que não é aprimorado nem
peco [acanhado].
À parte o que há de misterioso e fantástico no romance da inteligente escritora
nortista [o Ceará fazia parte do Norte brasileiro, à época], o Rainha do Ignoto oferece-
nos cenas naturalíssimas da vida campesina e dos nossos mais adiantados núcleos
sociais.
Não escapou à sua observação, por exemplo, a curiosidade abelhuda e incômoda com
que o aldeão assedia a paciência e bonomia de uma família da praça, que demora, por
tempos, no sertão.
De fato, eles entram em nossa casa com toda a sem-cerimônia, observam silenciosos,
a princípio; depois desacanham-se, vêm as mil perguntas, mexem, remexem,
desconfiados mas petulantes, acompanhando-nos em todos os movimentos com o olhar
aparvalhado, ou talvez ingênuo, das almas simples que vivem na natureza agreste.
Perdão. A ideia fundamental do seu romance não se concilia com o espírito científico
e filosófico da atualidade; esta é profundamente realista para admitir criações da
natureza da Ilha do Nevoeiro e quejandas.
Estou certo, porém, de que a inteligente patrícia nos dará de outra vez um romance,
não direi de pura observação e análise, porém emancipado do apriorismo decadente,
que conduz o espírito às mais repugnantes aberrações morais.
Não sei se as suas ideias particulares estão, como penso, traduzidas na personalidade
intelectual da protagonista do romance; se o estão, fantasiou e fantasiou muito, pondo
nos lábios de Diana o que se segue:
"Amaria!... Amaria mais do que Virgínia [personagem do romance], a pobre órfã que
descansa sob a laje de um sepulcro! Amaria!... Amaria mais do que Odete [idem] a
infeliz condenada a um silêncio forçado! Amaria mais do que a mãe ao filho que se
afoga, mais do que o louco ao seu tesouro imaginário! Mais do que o condenado ama à
vida; mas não uns olhos lindos, uns cabelos, uns lábios... um todo elegante... Amaria à
transparência divina de uma alma delicada e terna, amaria ao caráter, à consciência pura
de um espírito esclarecido, embora pela luz natural da inteligência."
Basta. É a manifestação de uma alma tão delicada, tão sutil, tão vaporosa, que chega
a diluir-se no éter.
Eis o resultado do misticismo em amor: foge tudo, tudo volatiliza-se, fica-nos apenas
a "caveira descarnada das nossas ilusões", mas isto quando o problema não se resolve
com uma bala de revólver ou uma dose de estricnina.
"O amor é o princípio de todas as desgraças", diz Emília Freitas, epigrafando um dos
capítulos do seu romance.
Escutem agora o que sobre esse mágico sentimento conceitua Mantegazza, o sábio
fisiologista e psicólogo, profundo conhecedor do coração humano.
"A mais rápida e ardente simpatia nasce na admiração da forma, que é, para bem
dizer, o sentimento do belo satisfeito pelo objeto desejado."
E mais adiante:
"Uma leve inclinação do nariz, para cima ou para baixo", escreve Schopenhaeur,
"tem decidido da sorte de uma infinidade de moças."
A força e a coragem no homem, além de outras qualidades, é o que exerce sobretudo
poderosa influência no ânimo da mulher. O caráter, a inteligência opulentam e fazem
realçar a feição plástica, mas não constituem, em regra, essenciais elementos de
sedução.
Diz ainda Mantegazza, que a mulher "pode amar um homem somente porque ele é
bonito".
Sim, contanto que a esse exemplar masculino da espécie não faltem as qualidades
viris que o recomendem ao amor da mulher; assim como a esta não devem faltar
qualidades essencialmente femininas que seduzam o homem. E é por isso que à mulher
não agrada o homem bonito e afeminado, pela mesma razão fisiológica porque ao
homem não convém a mulher bela, mas varonil.
"O sexo faz parte muito integrante de nosso organismo para que possamos eliminá-lo
da nossa apreciação", confirma abalizado mestre.
Para a mulher pouco importa que o eleito do seu coração seja um imbecil. Dentre
uma corte de admiradores, onde avultam poetas que lhe decantam a imagem, neuróticos,
linfáticos e turberculosos, recomendáveis pelo talento, ela prefere o imbecil, aquele
sujeito que a olha humilhado e que não se atreve a dirigir-lhe um galanteio porque não
sabe, mas que é bem-apessoado, sadio e forte, apto para dar-lhe uma prole robusta. O
inconsciente adverte-lhe de que é ela e não o marido quem transmite a inteligência aos
filhos, e por isso considera o talento no homem como um brilhante adorno, que pode
alimentar-lhe a vaidade, mas nunca inspirar um amor duradouro e fecundo.
"O casamento é um laço dos corações e não das cabeças", ainda é Schopenhauer
quem o diz. E continua:
"Quando uma mulher afirma que está fascinada pelo espírito de um homem é
pretensão vã e ridícula, ou então é a exaltação de um ser degenerado".
O homem, porém, considera muito a inteligência no belo sexo, porque sabe, por
instinto, que, sendo aquela faculdade uma manifestação de superioridade na espécie, um
produto de seleção mental, não pode a geração futura privar-se dela.
Em primeiro lugar, porém, as qualidades físicas é que predominam, porque são elas
que interessam mais de perto a perfectibilidade da espécie.
Os fatos que desmentem esses princípios são desvios, casos patológicos, aberrações
do senso estético, ou poesia, poesia e romance.
É possível até que o homem ame na mulher uma parte de seu corpo, o pé, por
exemplo; e José de Alencar, no Pata da Gazela, romantizou esse caso, com muita graça
e não menos observação.
A mulher, por outro lado, pode amar no homem o nariz, os olhos, a cabeleira, etc., e,
a propósito, lembra-me de já ter-me dito um rapaz que uma moça se apaixonara
vivamente pela sua dentadura.
Amar a transparência divina de uma alma delicada e terna pode ser muito bonito
como poesia, mas é inverossímil, puro platonismo que não logra triunfar da realidade
das coisas.
"E este homem, que nunca conseguiu o simples prazer de trocar comigo duas
palavras em uma conversação banal, teve a coragem de amar-me, sem esperança, quinze
longos anos!"
Poderia desenvolver estas apreciações, mas prefiro rematar a estirada que já vai
longa. O leitor inteligente, por observação e experiência própria, mais do que eu sabe
quanto é problemático o amor que não traduz a afinidade eletiva de dois seres.
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Eis o que penso sobre o romance de Emília Freitas. O fato de não estar em harmonia
com as minhas ideias o pensamento fundamental do seu livro, e a diversidade das
nossas opiniões sobre o assunto capital — o amor, não me fazem desconhecer o mérito
literário do romance e o espírito atilado e observador da distinta escritora nortista, que
procurou estudar a alma da mulher nos seus diferentes aspectos.
Antonio MARINHO.
A Tribuna do Congresso Literário (Natal, RN), 14/7/1900, ano, número 5, páginas 8,
9 e 10.
http://memoria.bn.br/DocReader/819875/68
http://memoria.bn.br/DocReader/819875/69
http://memoria.bn.br/DocReader/819875/70
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Aos amantes do maravilhoso agradará ele, decerto, pela feição lendária dos lances e
dos tipos, concebidos todos no pleno domínio da fantasia.
Avançamos mesmo a afirmar que será grande o número dos seus leitores
interessados, porque hoje, como sempre, as narrativas de fantasmagorias e
encantamentos encontram por toda parte espíritos predispostos [a] recebê-las com
simpatia.
Olhado deste ponto de vista, o romance de d. Emília de Freitas será um sucesso, pois
não lhe faltam peripécias curiosas e voos de imaginação no desenrolar do entrecho
através das sombras do ocultismo.
Para sermos sinceros, porém, tomamos a liberdade de observar à apreciável escritora
que teria acertado melhor se aplicasse o seu belo talento num trabalho de mais
observação e menos ficção.
http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/9149
"A Rainha do Ignoto, romance psicológico, por Emília de Freitas; nítido volume de
456 páginas.
"Na seção Livros novos diremos do livro."
Jornal do Brasil (Rio), 26/5/1900, número 146, página 3, quarta coluna (em
Publicações).
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_02/8462
http://memoria.bn.br/DocReader/705110/42328
Uma terceira menção a Rainha do Ignoto é reproduzida por Valérie Ketterer em seu
artigo Mulheres de Letras no Ceará (1880-1925): Dos escritos à cena pública. Segundo
Valérie, trata-se de uma avaliação breve de Carlos de Vasconcellos publicada no jornal
A República (Fortaleza, CE) em fevereiro de 1901.
http://www.revistadeletras.ufc.br/rl18Art16.pdf
Cinco anos depois, em 13 de maio de 1906, lia-se uma menção ao romance no jornal
carioca O País, assinada por Mlle. Azalea.
"No terceiro dia, estava sentada em tosco banco do meu pequenino Paraíso... lendo
um exemplar do sensacional romance cearense A Rainha do Ignoto, quando por
casualidade vi [...]"
O País (Rio de Janeiro, RJ), 13/5/1906, número 7892, página 7, quarta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_03/11484
Correio da Manhã (Rio de Janeiro, RJ), 9/8/1942, número 14.653, página 11,
terceira coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_05/13116
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_05/41679
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_06/10223
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, RJ), 12/8/1956, número 266, página 31,
segunda coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_14/39167
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, RJ), 11/8/1957, número 186, página 65, penúltima
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/77371
https://ufdc.ufl.edu/UF00075965/00001/78j
. O romance, daí [da situação básica] por diante, vai num crescendo de
inverossimilhança que só um espírita poderia justificar.
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EMILIA DE FREITAS
Pouco sabemos da vida de Emília de Freitas. Alcides Mendes — seu vizinho por
algum tempo — diz-nos, apenas, que ela era uma professora esquisita e má poetisa.
(Informação prestada ao autor.)
Em Itaiçaba, aparece o dr. Edmundo com a bossa de citadino que, ferroteado pela
curiosidade, resolve conhecer a moça encantada.
O romance, daí por diante, vai num crescendo de inverossimilhança que só mesmo
um espírita poderia justificar.
A Rainha do Ignoto constitui um belo símbolo que Emília arranca da Serra do Areré
para eliminar todas as injustiças sofridas pela mulher. A Rainha e as Palestinas do
Nevoeiro são criações do Idealismo da romancista preocupada com a posição da mulher
na sociedade.
Emília de Freitas [aqui faltou uma palavra] pela elevação do nível intelectual da
mulher que não deve ficar reduzida a uma simples muchacha de musselina, a uma
mulher boa e honesta, é verdade; mas sem instrução, cujos conceitos sobre a vida e a
felicidade são vulgares e prenhes de preconceitos correntes. (Pisarev, La Literatura
Rusa, página 290 [cit. in] P. Kropotkin.)
"... julga você que a boa educação consiste somente em saber botar um espartilho,
atacar um cinto, fazer um bonito penteado, cobrir as faces de pó de arroz, os lábios de
carmim, calçar umas luvas, conhecer os artigos da moda, tocar um pouco de piano e
dançar quadrilhas e valsas? Há outros conhecimentos muito mais necessários", diz uma
das personagens de A Rainha do Ignoto.
E ainda: "... quero dizer que a boa educação nem sempre tem a felicidade de sentar-
se nas cadeiras estufadas dos ricos salões e muitas vezes vamos encontrá-la caiada de
branco, costurando ou lendo à luz do candeeiro de querosene".
Vivendo numa sociedade em que a mulher se dedica aos afazeres domésticos, sendo-
lhe vedada a ilustração do espírito, Emília de Freitas é uma pioneira, uma precursora do
movimento cearense.
As suas ideias, entretanto, são dissimuladas. Ela usa de símbolos e imagens para não
escandalizar o meio.
Tomando parte ativa nas lides literárias e jornalísticas do Ceara, seu nome avulta.
Carlos de Vasconcelos, em 1909, apreciando o demi-monde literário-científico cearense,
ressalta a aptidão intelectual de Emília, de quem espera obra de elevado valor. (A
República, 22/2/1909.)