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ESCRITORAS BRASILEIRAS

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Autor: Sérgio Barcellos Ximenes.

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A Rainha do Ignoto: a história do romance e de sua recepção crítica

RESUMO

Tema: a recepção da crítica ao romance A Rainha do Ignoto à época do lançamento.

Cidade onde foi escrito o romance: Manaus.

Conto do qual derivou o romance: Florina, Conto Maravilhoso, publicado no


jornal Libertador, de Fortaleza (CE), em 8 e 9 de agosto de 1883, na seção Folhetim.

Título original da obra: A Rainha do Ignoto, romance psychologico.

Nome da autora na obra: Emilia Freitas (1885, CE – 1908, AM).

Publicação: Tipografia Universal, Fortaleza (Ceará).

Provável ano de lançamento: 1900 (apesar do ano registrado na folha de rosto:


1899).

Primeira notícia na mídia: 26 de maio de 1900, no Jornal do Brasil (Rio de


Janeiro).

Número de resenhas à época do lançamento: duas.

1. A Tribuna do Congresso Literário (Natal, RN), 14 de julho de 1900, de natureza


crítica.

2. A Província (Recife, PE), 4 de agosto do mesmo ano, de natureza elogiosa.

Resenhas prometidas e não realizadas:

1. Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, RJ), 26 de maio de 1900.


2. Jornal do Recife (Recife, PE), 1.º de agosto do mesmo ano.

Importância literária do romance: o primeiro de autoria de uma escritora nacional,


nos gêneros fantástico e ficção científica.

"Descobridor" do único exemplar original conhecido: Otacílio Colares,


historiador, pesquisador e crítico cearense (1918-1988), em 1977.

Instituição proprietária do exemplar: Biblioteca Rio-Grandense (Rio Grande, RS).

Condição do exemplar: Incompleto (somente até o 50º capítulo dos 70


componentes da obra original).

Primeira divulgação da descoberta: em uma Separata (edição à parte) da Revista


Aspectos, publicação da Secretaria de Cultura, Desporto e Promoção Social de Fortaleza
(CE): A Rainha do Ignoto: Romance cearense, pioneiro do fantástico no Brasil?, 1977.

Lançamento da segunda edição: em 1980, com apresentação, atualização de texto e


notas por Otacílio Colares (Fortaleza, CE).

Lançamento da terceira edição: em 2003, pela Editora Mulheres, em texto


atualizado e anotado por Constância Lima Duarte.

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Apresentação

A Rainha do Ignoto, um "romance psicológico" segundo a classificação da própria


autora, Emília Freitas (1855-1908), foi lançado na cidade de Fortaleza (CE) em 1900.

São conhecidas somente duas resenhas do romance, publicadas em meados de 1900:


a primeira, extensa e crítica, saiu na cidade de Natal (RN) em 14 de julho de 1900, e a
segunda, breve e elogiosa, saiu na cidade de Recife (PE) em 4 de agosto do mesmo ano.

Além delas, o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, informou em 26 de maio do


mesmo ano sobre o recebimento do romance, assim como o Jornal do Recife, de
Pernambuco, em 1º de agosto. Ambas as publicações prometeram resenhar o livro e não
o fizeram (uma situação recorrente naquela época).

A concentração das quatro únicas menções ao lançamento do livro entre maio e


agosto de 1900 permite afirmar, com quase certeza, que o romance A Rainha do Ignoto
não foi lançado em 1899, como afirmam todas as fontes e estudos e se lê na folha de
rosto do livro, mas sim em 1900. Tratava-se de outra situação comum numa época em
que prevalecia a incerteza sobre quando uma obra seria realmente lançada pela
tipografia responsável, sendo inexistentes, então, as editoras.

Como se sabe, Úrsula, o romance de Maria Firmina dos Reis, também apresenta esse
descompasso entre o ano registrado na folha de rosto (1859) e o verdadeiro ano de
publicação (1860, em agosto).
Não se sabe o motivo pelo qual os periódicos de Fortaleza não divulgaram o romance
de Emília Freitas.
A história do romance A Rainha do Ignoto

No artigo Florina, um conto inédito de Emília Freitas, a autora de A Rainha do


Ignoto (disponível nesta pasta, subpasta Histórias Inéditas) pode-se ler a primeira
"versão" do romance de Emília Freitas, publicada no jornal Libertador, de Fortaleza
(CE), em 8 e 9 de agosto de 1883, na seção Folhetim.

Na verdade, Florina é um breve conto maravilhoso que contém alguns elementos


básicos presentes em A Rainha do Ignoto, em especial uma caverna que dá acesso a um
mundo maravilhoso (no romance, transformado em mundo fantástico), no qual a
protagonista assume o papel de rainha benevolente mas infeliz.

Publicado em 1883, quase dezessete anos antes do lançamento do romance, o conto


serviu como a semente literária desenvolvida de modo original, graças ao posterior
envolvimento de Emília Freitas com a hipnose e o espiritismo. E as invenções
tecnológicas também entraram na nova história para lhes dar um tom de modernidade
ausente em Florina.

Emília Freitas escreveu o romance em Manaus, "entre as paredes desguarnecidas de


uma escola de subúrbio", na qual lecionava, às margens do Rio Negro.

A Rainha do Ignoto, Romance psicológico, Emília Freitas, 2.ª edição, Otacílio


Colares (revisão, atualização e notas), Imprensa Oficial do Ceará, Fortaleza, 1980.

Não se conhece uma segunda edição de A Rainha do Ignoto na época, situação


comum à maioria dos lançamentos literários de então. E o romance caiu no
esquecimento até ser redescoberto em 1977 pelo historiador, pesquisador e crítico
cearense Otacílio Colares (1918-1988), responsável pela segunda edição da obra,
publicada em 1980 na cidade de Fortaleza. Novamente, a ausência de reedições fez com
que apenas em 2003, graças à Editora Mulheres e à escritora e pesquisadora Constância
Lima Duarte, houvesse uma edição realmente nacional do romance de Emília Freitas.
Entretanto, novamente a ausência de reedições tornou a obra indisponível aos leitores
e estudiosos, em pouco tempo. Somente no segundo semestre de 2019, novas edições de
A Rainha do Ignoto, tanto impressas quanto digitais, permitiram o acesso geral e
facilitado à obra de Emília Freitas.

Houve, portanto, um hiato de 80 anos da primeira edição à segunda, outro hiato de


23 anos da segunda à terceira edição, e um hiato final de 16 anos até essas edições
atualizadas. E o mais importante: pela primeira vez, o lançamento em meio digital
garantirá o acesso de futuros leitores ao romance, mesmo se os exemplares impressos se
tornaram escassos.

Uma situação, aliás, muito semelhante à de Úrsula, romance de Maria Firmina dos
Reis: somente 100 anos após o falecimento, em 2017, a escritora maranhense teve sua
obra, composta de apenas dois livros (o romance e o livro de poemas Cantos à Beira-
Mar), tornada acessível a todos os leitores.

A importância literária do romance

A Rainha do Ignoto ocupa lugar de destaque em duas cronologias literárias


brasileiras: a da ficção científica e a da ficção fantástica. Em ambos os casos, é o
primeiro romance de autoria de uma escritora nacional, nesses gêneros.

As edições do romance (1900-2019)

Abaixo, uma imagem da folha de rosto da primeira edição de A Rainha do Ignoto.


A descoberta deste único exemplar conhecido foi comunicada por Otacílio Colares
em 1977 em uma Separata (edição à parte) da Revista Aspectos, publicação da
Secretaria de Cultura, Desporto e Promoção Social de Fortaleza (CE). O livreto de 36
páginas, intitulado A Rainha do Ignoto: Romance cearense, pioneiro do fantástico no
Brasil?, prenunciou a publicação da segunda edição da obra em 1980, com apresentação
e notas do mesmo autor.
Separata da Revista Aspectos, número 11, Secretaria de Cultura, Desporto e
Promoção Social, Editora Henrique Galeno, Fortaleza, Ceará, 1977.

https://sebodomessias.com.br/livro/literatura-brasileira/a-rainha-do-ignoto.aspx

Ainda em 1977, Otacílio lançou o terceiro volume da série Lembrados e Esquecidos:


Ensaios sobre literatura cearense (Imprensa Universitária da Universidade Federal do
Ceará), no qual apresentava o romance de Emília Freitas ao público, da página 10 à 51.

https://books.google.com.br/books?id=qd0dAQAAIAAJ&hl=pt-
PT&source=gbs_similarbooks
Em 1978, a imprensa do Sudeste divulgou o livro de Otacílio e o romance de Emília
Freitas.

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, RJ), 15/4/1978, número 7, caderno Livro, página 5,
primeira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_09/178480

O Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo publicou um longo texto


sobre Lembrados e Esquecidos, com ênfase em A Rainha do Ignoto.
Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo (São Paulo, SP), 17/12/1978, número
111, página 12, primeira, segunda e terceira colunas.

http://memoria.bn.br/DocReader/098116x/7734

Em 1980, afinal o público teve acesso ao texto do romance de Emília Freitas.


Assim como acontecera e viria a acontecer com obras de ficção brasileira do século
XIX, não houve reedição desse romance, e os exemplares sumiram de circulação. Em
2003 a história voltaria a se repetir, agora com o lançamento da terceira edição pela
Editora Mulheres, em texto atualizado e anotado por Constância Lima Duarte.
À época do lançamento da quarta edição, no segundo semestre de 2019, não era
possível encontrar nenhum exemplar da segunda ou da terceira edição em sebos
nacionais ou internacionais, em lojas físicas ou na Web.

Deixo a seguir os links para cópias digitalizadas dessas duas edições, devido à
impossibilidade atual de acesso a elas por parte de leitores interessados e,
especialmente, de pesquisadores e acadêmicos desejosos de cotejar as várias edições de
A Rainha do Ignoto

Link para baixar a segunda edição

https://aarteliteraria.files.wordpress.com/2019/06/a-rainha-do-ignoto-2c2aa-
edic3a7c3a3o.docx

Links para baixar a terceira edição

http://www.mediafire.com/file/8essassv3dl7c0s/A+Rainha+do+Ignoto+-
+Em%C3%ADlia+Freitas.epub

https://drive.google.com/file/d/1VC5qAMH0pOQnR6h55q1AGo9EoHWkFYx0/vie
w
As resenhas de A Rainha do Ignoto

Houve apenas duas resenhas da obra, uma extensa e outra breve.

A primeira, de natureza crítica, saiu no períodico A Tribuna do Congresso Literário


(Natal, RN) em 14 de julho de 1900. A segunda, elogiosa, saiu no jornal A Província
(Recife, PE) em 4 de agosto do mesmo ano.

_________________

"A Rainha do Ignoto" — É a denominação de um romance psicológico que acaba


de nos ser oferecido de Manaus pela Exma. Sra. D. Emília Freitas, a quem pertence a
autoria deste volumoso trabalho.

Oportunamente nos ocuparemos deste livro dizendo com sinceridade a impressão


que produziu em nosso espírito a leitura de suas 456 páginas.

A Tribuna do Congresso Literário (Natal, RN), 12/6/1900, número 3, página 9,


segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/819875/47

No mês seguinte, a revista publicou uma extensa avaliação do romance, focando em


especial nos defeitos encontrados durante a leitura. Como em tantas resenhas do
passado e do presente, o autor utilizou mais espaço para convencer os leitores de suas
ideias sobre o tema do que para comunicar-lhes sobre o conteúdo da obra.

_______________________

Carta aberta

À Redação d'A Tribuna

Venho desobrigar-me da tarefa de dar a minha desvaliosa opinião, que solicitastes,


sobre o romance Rainha do Ignoto, de Emília Freitas, recentemente publicado no Ceará.
Não como crítico, mas por mero diletantismo satisfaço o vosso pedido,
correspondendo, assim, à acolhida fidalga que à vossa nímia generosidade sempre apraz
dar aos meus escritos.

É preciso conhecer muito bem a psicologia feminina para falar com segurança sobre
o romance de uma mulher.

Não entro, portanto, em sutilezas e detalhes, demorando só nos pontos em que a


minha incompetência não seja tão calva que solicite o riso da leitora.

____

O preconceito hereditário, e infelizmente consolidado, de que só dentro do lar deve a


mulher desenvolver a sua atividade consciente — porque é ali que ela proveitosamente
distribui a parte mais salutar e fecunda de sua alma —, originou a indiferença irônica e
sistemática por todos os produtos da inteligência feminina.

E tão exagerado se me afigura o preconceito quanto é justamente louvável qualquer


afirmação de aplauso, que sirva de estímulos vigorosos à franca manifestação mental do
sexo egrégio.

O Rainha do Ignoto é um livro de estreia, parece-me.

A sua autora não tem a recomendação da crítica contemporânea, nem sequer se


apresenta à sombra protetora do prestígio de um nome laureado.

Não quis padrinhos. Ainda bem. Louvo-a pelo justo orgulho que revela a têmpera de
um espírito esclarecido e emancipado, que se atira às lides atraído pelas fascinações do
ideal.

Como todo espírito que pensa e, por isso mesmo, não segue a turba compacta dos
rotineiros vulgares, Emília Freitas não rende homenagem ao convencionalismo
ortodoxo da civilização, mas aspira inscrever-se nas fileiras dos paladinos do futuro,
firme, resoluta, como tantas que brilham na arena pelo talento e pela atividade produtiva
e constante.

O Rainha do Ignoto não é um romance que agrade ao espírito da época. Não é,


francamente, um livro de fazer sucesso no mundo literário. Não. É um ensaio, uma
tentativa promissora, que tem o grande mérito – e não é pouco — de tornar evidente o
talento da autora e o seu espírito impressionável e relativamente cultivado.

A concepção não se inspira em fatos observados; funda-se numa espécie de


ocultismo, que não sabe bem ao senso crítico da atualidade.

Emília Freitas, porém, não é um espírito que se preocupe demasiado com a opinião
dos outros. Escreve ao sabor de sua imaginação, num estilo que não é aprimorado nem
peco [acanhado].
À parte o que há de misterioso e fantástico no romance da inteligente escritora
nortista [o Ceará fazia parte do Norte brasileiro, à época], o Rainha do Ignoto oferece-
nos cenas naturalíssimas da vida campesina e dos nossos mais adiantados núcleos
sociais.

Não escapou à sua observação, por exemplo, a curiosidade abelhuda e incômoda com
que o aldeão assedia a paciência e bonomia de uma família da praça, que demora, por
tempos, no sertão.

De fato, eles entram em nossa casa com toda a sem-cerimônia, observam silenciosos,
a princípio; depois desacanham-se, vêm as mil perguntas, mexem, remexem,
desconfiados mas petulantes, acompanhando-nos em todos os movimentos com o olhar
aparvalhado, ou talvez ingênuo, das almas simples que vivem na natureza agreste.

O Rainha do Ignoto é, em suma, um lamento sincero, uma manifestação de profundo


amor pelos que sofrem as desventuras, as ingratidões da vida efêmera, e especialmente
pelas vítimas indefesas do dom-juanismo perfumado e aventureiro que campeia altivo
nos salões polidos da sociedade elegante.

A protagonista do romance e algumas outras figuras de mulher, criadas pelo espírito


altamente imaginoso de Emília Freitas, são tipos inteiramente inverossímeis. E, neste
particular, divorcio-me do pensamento da ilustre patrícia, quando arbitrariamente
afirma, no prefácio do seu livro, que hoje, com mais razão, podemos nos apoderar do
inverossímil, pois estamos na época do espiritismo e das sugestões hipnóticas.

Perdão. A ideia fundamental do seu romance não se concilia com o espírito científico
e filosófico da atualidade; esta é profundamente realista para admitir criações da
natureza da Ilha do Nevoeiro e quejandas.

Estou certo, porém, de que a inteligente patrícia nos dará de outra vez um romance,
não direi de pura observação e análise, porém emancipado do apriorismo decadente,
que conduz o espírito às mais repugnantes aberrações morais.

O espírito da mulher tende demasiado para o romantismo, e nisso está a dificuldade


de filiar-se à escola naturalista, que tem como patriarca o vulto venerável do grandioso
autor da Comédia Humana [o francês Balzac], e como representantes neste século, além
de outros, homens da envergadura intelectual de Flaubert, Zola e Daudet.

O amor é a pedra de toque do romance de Emília Freitas. Foi ao estudo desse


sentimento, o mais enganador e pujante da natureza humana, que a distinta escritora
dedicou as mais vivas forças do seu talento. Disse algumas verdades, indubitavelmente,
mas fantasiou muito.

Não sei se as suas ideias particulares estão, como penso, traduzidas na personalidade
intelectual da protagonista do romance; se o estão, fantasiou e fantasiou muito, pondo
nos lábios de Diana o que se segue:
"Amaria!... Amaria mais do que Virgínia [personagem do romance], a pobre órfã que
descansa sob a laje de um sepulcro! Amaria!... Amaria mais do que Odete [idem] a
infeliz condenada a um silêncio forçado! Amaria mais do que a mãe ao filho que se
afoga, mais do que o louco ao seu tesouro imaginário! Mais do que o condenado ama à
vida; mas não uns olhos lindos, uns cabelos, uns lábios... um todo elegante... Amaria à
transparência divina de uma alma delicada e terna, amaria ao caráter, à consciência pura
de um espírito esclarecido, embora pela luz natural da inteligência."

Basta. É a manifestação de uma alma tão delicada, tão sutil, tão vaporosa, que chega
a diluir-se no éter.

"Amaste", diz em outra página Diana, "apostrofando o coração — amaste... e teu


amor cada vez que se erguia de teu imo [íntimo] era para levantar-te uma forca e te
estrangular de dor! Teus sonhos remontaram às nuvens, tomaram as transparências
luminosas do Sol! Mas evaporaram-se e, como rolos de fumo, subiram para o ar,
deixando, após si, a caveira descarnada do esquecimento de tuas ilusões."

Eis o resultado do misticismo em amor: foge tudo, tudo volatiliza-se, fica-nos apenas
a "caveira descarnada das nossas ilusões", mas isto quando o problema não se resolve
com uma bala de revólver ou uma dose de estricnina.

"O amor é o princípio de todas as desgraças", diz Emília Freitas, epigrafando um dos
capítulos do seu romance.

Escutem agora o que sobre esse mágico sentimento conceitua Mantegazza, o sábio
fisiologista e psicólogo, profundo conhecedor do coração humano.

"A mais rápida e ardente simpatia nasce na admiração da forma, que é, para bem
dizer, o sentimento do belo satisfeito pelo objeto desejado."

E mais adiante:

"Em amor, o espírito e o caráter fraquíssima influência exercem, se a eles se não


junta a beleza; e a estética domina o mundo do amor. Aqueles mesmos que acreditam
colocar na mais alta esfera do ideal o critério de sua escolha, e que desdenham o belo
como um engodo para as naturezas vulgares e dominadas pelos sentidos, não buscam,
sem que o saibam e sem que o queiram, senão qualidades essencialmente sexuais."

Perfeito. Não desdenhando os atributos morais e intelectuais, é, de fato, a forma o


que mais profundamente impressiona. Na mulher, uma bem conformada estrutura óssea,
que lhe dê um talhe esbelto, uma belíssima cintura, uns seios petulantes, não lhe
faltando espírito e donaire, garante[m]-lhe um cortejo de adoradores, que fariam os mais
ridículos papéis para conseguirem beijar-lhe a orla do vestido ou a ponta das sandálias.

"Uma leve inclinação do nariz, para cima ou para baixo", escreve Schopenhaeur,
"tem decidido da sorte de uma infinidade de moças."
A força e a coragem no homem, além de outras qualidades, é o que exerce sobretudo
poderosa influência no ânimo da mulher. O caráter, a inteligência opulentam e fazem
realçar a feição plástica, mas não constituem, em regra, essenciais elementos de
sedução.

Diz ainda Mantegazza, que a mulher "pode amar um homem somente porque ele é
bonito".

Sim, contanto que a esse exemplar masculino da espécie não faltem as qualidades
viris que o recomendem ao amor da mulher; assim como a esta não devem faltar
qualidades essencialmente femininas que seduzam o homem. E é por isso que à mulher
não agrada o homem bonito e afeminado, pela mesma razão fisiológica porque ao
homem não convém a mulher bela, mas varonil.

"O sexo faz parte muito integrante de nosso organismo para que possamos eliminá-lo
da nossa apreciação", confirma abalizado mestre.

Para a mulher pouco importa que o eleito do seu coração seja um imbecil. Dentre
uma corte de admiradores, onde avultam poetas que lhe decantam a imagem, neuróticos,
linfáticos e turberculosos, recomendáveis pelo talento, ela prefere o imbecil, aquele
sujeito que a olha humilhado e que não se atreve a dirigir-lhe um galanteio porque não
sabe, mas que é bem-apessoado, sadio e forte, apto para dar-lhe uma prole robusta. O
inconsciente adverte-lhe de que é ela e não o marido quem transmite a inteligência aos
filhos, e por isso considera o talento no homem como um brilhante adorno, que pode
alimentar-lhe a vaidade, mas nunca inspirar um amor duradouro e fecundo.

"O casamento é um laço dos corações e não das cabeças", ainda é Schopenhauer
quem o diz. E continua:

"Quando uma mulher afirma que está fascinada pelo espírito de um homem é
pretensão vã e ridícula, ou então é a exaltação de um ser degenerado".

Suponhamos um rapaz de admirável talento, caráter diamantino, sociável, etc., mas


que "nada entende de bigodes", na frase de laureado poeta, nem sabe tornear um
galanteio. Qualquer janota empertigado e palavroso, admito mesmo um tipo boçal que
traje na moda e trescale perfumes deliciosos, impõe-se com melhor vantagem à
preferência de uma mulher.

O homem, porém, considera muito a inteligência no belo sexo, porque sabe, por
instinto, que, sendo aquela faculdade uma manifestação de superioridade na espécie, um
produto de seleção mental, não pode a geração futura privar-se dela.

Em primeiro lugar, porém, as qualidades físicas é que predominam, porque são elas
que interessam mais de perto a perfectibilidade da espécie.

Os fatos que desmentem esses princípios são desvios, casos patológicos, aberrações
do senso estético, ou poesia, poesia e romance.
É possível até que o homem ame na mulher uma parte de seu corpo, o pé, por
exemplo; e José de Alencar, no Pata da Gazela, romantizou esse caso, com muita graça
e não menos observação.

A mulher, por outro lado, pode amar no homem o nariz, os olhos, a cabeleira, etc., e,
a propósito, lembra-me de já ter-me dito um rapaz que uma moça se apaixonara
vivamente pela sua dentadura.

Amar a transparência divina de uma alma delicada e terna pode ser muito bonito
como poesia, mas é inverossímil, puro platonismo que não logra triunfar da realidade
das coisas.

Amor platônico, permitam-me as almas sonhadoras, é amor inútil, infecundo, frio,


que traz sempre o estigma indelével da morbidez, da degenerescência.

Ainda é a protagonista do romance quem diz:

"E este homem, que nunca conseguiu o simples prazer de trocar comigo duas
palavras em uma conversação banal, teve a coragem de amar-me, sem esperança, quinze
longos anos!"

Pudera! Amar quinze anos SEM ESPERANÇA é puramente romântico.

Poderia desenvolver estas apreciações, mas prefiro rematar a estirada que já vai
longa. O leitor inteligente, por observação e experiência própria, mais do que eu sabe
quanto é problemático o amor que não traduz a afinidade eletiva de dois seres.

__

Eis o que penso sobre o romance de Emília Freitas. O fato de não estar em harmonia
com as minhas ideias o pensamento fundamental do seu livro, e a diversidade das
nossas opiniões sobre o assunto capital — o amor, não me fazem desconhecer o mérito
literário do romance e o espírito atilado e observador da distinta escritora nortista, que
procurou estudar a alma da mulher nos seus diferentes aspectos.

Antonio MARINHO.
A Tribuna do Congresso Literário (Natal, RN), 14/7/1900, ano, número 5, páginas 8,
9 e 10.

http://memoria.bn.br/DocReader/819875/68

http://memoria.bn.br/DocReader/819875/69

http://memoria.bn.br/DocReader/819875/70

___________________________

A Rainha do Ignoto é um bonito romance que, do Ceará, teve a delicadeza de enviar-


nos a talentosa escritora d. Emília de Freitas.

Aos amantes do maravilhoso agradará ele, decerto, pela feição lendária dos lances e
dos tipos, concebidos todos no pleno domínio da fantasia.

Avançamos mesmo a afirmar que será grande o número dos seus leitores
interessados, porque hoje, como sempre, as narrativas de fantasmagorias e
encantamentos encontram por toda parte espíritos predispostos [a] recebê-las com
simpatia.

Olhado deste ponto de vista, o romance de d. Emília de Freitas será um sucesso, pois
não lhe faltam peripécias curiosas e voos de imaginação no desenrolar do entrecho
através das sombras do ocultismo.
Para sermos sinceros, porém, tomamos a liberdade de observar à apreciável escritora
que teria acertado melhor se aplicasse o seu belo talento num trabalho de mais
observação e menos ficção.

A Rainha do Ignoto tem, no entretanto, para nós o valor de uma promessa


esperançosa, embora não defina ainda uma personalidade literária, porque não
acreditamos que por este livro (supomos que de estreia) se possa julgar a capacidade de
sua autora.

Agradecemos, penhorados, o exemplar que nos chegou às mãos.

A Província (Recife, PE), 4/8/1900, 174, página 1, quinta coluna, ao lado de


Interview.

http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/9149

Duas promessas de resenhas não foram cumpridas: a do Jornal do Brasil (Rio) em 26


de maio de 1900...

"A Rainha do Ignoto, romance psicológico, por Emília de Freitas; nítido volume de
456 páginas.
"Na seção Livros novos diremos do livro."

Jornal do Brasil (Rio), 26/5/1900, número 146, página 3, quarta coluna (em
Publicações).

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_02/8462

... e a do Jornal do Recife em 1.º de agosto do mesmo ano.

"A Rainha do Ignoto ― A distinta literária cearense D. Emília Freitas teve a


gentileza, que agradecemos, de oferecer-nos um exemplar do seu romance psicológico,
ultimamente editado pela Tipografia Universal, de Fortaleza.

"Brevemente emitiremos o nosso juízo acerca do referido trabalho."


Jornal do Recife (Recife, PE), 1/8/1900, número 173, página 1, última coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/705110/42328

Uma terceira menção a Rainha do Ignoto é reproduzida por Valérie Ketterer em seu
artigo Mulheres de Letras no Ceará (1880-1925): Dos escritos à cena pública. Segundo
Valérie, trata-se de uma avaliação breve de Carlos de Vasconcellos publicada no jornal
A República (Fortaleza, CE) em fevereiro de 1901.

Revista de Letras, volume 19, número 2, julho-dezembro de 1996, página 2.

http://www.revistadeletras.ufc.br/rl18Art16.pdf

Cinco anos depois, em 13 de maio de 1906, lia-se uma menção ao romance no jornal
carioca O País, assinada por Mlle. Azalea.
"No terceiro dia, estava sentada em tosco banco do meu pequenino Paraíso... lendo
um exemplar do sensacional romance cearense A Rainha do Ignoto, quando por
casualidade vi [...]"

O País (Rio de Janeiro, RJ), 13/5/1906, número 7892, página 7, quarta coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_03/11484

Em 1942, um anúncio no Correio da Manhã oferecia o romance A Rainha do Ignoto,


por 10$, atribuindo a obra a Amélia Freitas.

Correio da Manhã (Rio de Janeiro, RJ), 9/8/1942, número 14.653, página 11,
terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_05/13116

Seis anos depois, outro anúncio no mesmo Correio da Manhã reproduzia


corretamente o título e o subtítulo, mas acrescentava um "de" ao nome de Emília
Freitas.
Correio da Manhã (Rio de Janeiro, RJ), 30/5/1948, número 16.931, página 22,
terceira coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_05/41679

A dez cruzeiros, Rainha do Ignoto, de Emília de Freitas, estava à venda entre as


"velharias literárias" em 1951, sempre no Rio de Janeiro.
Correio da Manhã (Rio de Janeiro, RJ), 1/5/6/1951, número 17.866, página 20,
segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/089842_06/10223

O último anúncio do romance saiu em 1956, novamente atribuindo a obra a Amélia


Freitas.

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, RJ), 12/8/1956, número 266, página 31,
segunda coluna.

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_14/39167

Um ano depois, no artigo Bibliografia do Linguajar Brasileiro, de Maciel Pinheiro, o


nome da autora aparecia como Emília de Frentas.

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, RJ), 11/8/1957, número 186, página 65, penúltima
coluna.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/77371

O verbete sobre Emília Freitas em O Romance Cearense (1953)

Abelardo F. Montenegro, em seu livro O Romance Cearense (1953) redigiu uma


crítica bem depreciativa de A Rainha do Ignoto no verbete Emília de Freitas.

O Romance Cearense, Abelardo F. Montenegro, página 76, Tipografia Royal,


Fortaleza (CE), 1953.

https://ufdc.ufl.edu/UF00075965/00001/78j

Entre outras afirmações:

. O enredo do romance é de uma inverossimilhança indiscutível.

. O romance, daí [da situação básica] por diante, vai num crescendo de
inverossimilhança que só um espírita poderia justificar.

. A Rainha do Ignoto é um dramalhão que não convence, Falta-lhe, além da


veracidade dos fatos, a naturalidade dos diálogos. O romantismo atinge as raias do
delirante.

. Emília tenta o romance psicológico em que a análise não é deduzida da observação


nem do raciocínio, mas da intuição. Assemelha-se, assim, mais a uma obra ditada do
além, servindo a romancista de médium psicógrafa.

. Em A Rainha do Ignoto, o que se salva é o pouco de descrição dos costumes baixo-


jaguaribanos.
. Mesmo como estapafúrdia propaganda kardecista, revela o desejo de alicerçar a
obra naquilo que julga ser a ciência do seu tempo.

Na parte final, Abelardo Montenegro reconhece o pioneirismo de Emília Freitas na


luta pelos direitos básicos da mulher.

Eis o texto completo do verbete.

________________________

EMILIA DE FREITAS

(Nasceu em em Aracati a 15-1-1855).

Pouco sabemos da vida de Emília de Freitas. Alcides Mendes — seu vizinho por
algum tempo — diz-nos, apenas, que ela era uma professora esquisita e má poetisa.
(Informação prestada ao autor.)

A partir de 1873, colabora Emília na imprensa cearense, revelando-se uma


inteligência esclarecida para a época.

Professora, dedica-se ao magistério na solidão absoluta das margens do Rio Negro,


onde escreve, entre as paredes desguarnecidas de uma escola de subúrbio, A Rainha do
Ignoto.

O romance constitui uma maneira de vencer a nostalgia da terra natal e indica o


estado de espírito de uma emigrada cearense. Publica-o Emília em Fortaleza, em 1899,
e, num comovente gesto de reconhecimento, oferece-o aos gênios de todos os países, em
particular, aos escritores brasileiros, não vendo no seu gesto ousadia, pois o mais
poderoso monarca pode sem humilhação aceitar um ramalhete de flores silvestres das
mãos grosseiras de uma camponesa.

Em A Rainha do Ignoto, o Ceará e o Amazonas constituem cenários, provando,


com tal escolha, as ligações indissolúveis estabelecidas pela emigração cearense e
seladas com o sangue de seus filhos no amansamento da floresta, na conquista da terra
imatura.

No romance de Emília, a capital cearense emerge como a moça pálida e romântica de


olhar lânguido, riso ideal, fronte divina e cândida; e Manaus como o agiota que pensa
nas transações da Bolsa, nas empresas lucrativas, nas grandes navegações e adormece
calculando para sonhar com perdas e danos.

O enredo do romance é de uma inverossimilhança indiscutível. Emília, entretanto,


afirma a possibilidade de apoderar-se do inverossímil, pois a época consagra o
espiritismo e as sugestões hipnóticas, motivo por que a Rainha do Ignoto não
representa, na realidade, um gênio impossibilitado que, passando para o campo da
ficção, encontra os meios de realizar os caprichos de sua imaginação raríssima e da
propensão bondosa de seu extraordinário coração.
Tendo vivido em Jaguaruana, no vale do Jaguaribe, Emília de Freitas aproveita a
lenda que corre acerca de uma moça encantada em cobra que mora numa gruta na Serra
do Areré, próximo de do Itaiçaba ― zona limítrofe entre os municípios de Aracati o
Jaguaruana.

Em Itaiçaba, aparece o dr. Edmundo com a bossa de citadino que, ferroteado pela
curiosidade, resolve conhecer a moça encantada.

A sua persistência na revelação do encantamento é coroada de êxito e, certa noite a


desoras, Edmundo ouve e vê a moça transformada era bateleira deslizar sobre o rio
Jaguaribe, cantando em francês e acompanhando-se de uma harpa.

O romance, daí por diante, vai num crescendo de inverossimilhança que só mesmo
um espírita poderia justificar.

A Rainha do Ignoto é um dramalhão que não convence. Falta-lhe, além da


veracidade dos fatos, a naturalidade dos diálogos. O romantismo atinge as raias do
delirante.

Emília tenta o romance psicológico em que a análise não é deduzida da observação,


nem do raciocínio, mas da intuição. Assemelha-se, assim, mais a uma obra ditada do
além, servindo a romancista de médium psicógrafa.

A romancista procura, numa coleção de fatos triviais, estudar alma da mulher,


sempre sensível e muitas vezes fantasiosa.

Em A Rainha do Ignoto, o que se salva é o pouco de descrição dos costumes baixo-


jaguaribanos. Não lhe escapa, também, o papel desempenhado pelo padre numa área de
seca e de fome.

"No interior do Ceará o sonho dourado do fazendeiro ou do agricultor é ter um filho


padre que nobilite a família. Alguns são levados pela ambição, dizem que o padre ganha
muito dinheiro sem trabalhar; outros vão atrás das honras que lhes vêm daí, e as mães
são levadas a este tentâmen [esta tentativa] pelo fanatismo religioso; julgam que ter na
família um ordenado é possuir uma espécie de santo que as santifica também."

O romance ajuda a compreender o espírito de Emília de Freitas. Mesmo como


estapafúrdia propaganda kardecista, revela desejo da romancista de alicerçar a sua obra
naquilo que julga ser a ciência de seu tempo.

A Rainha do Ignoto constitui um belo símbolo que Emília arranca da Serra do Areré
para eliminar todas as injustiças sofridas pela mulher. A Rainha e as Palestinas do
Nevoeiro são criações do Idealismo da romancista preocupada com a posição da mulher
na sociedade.

Emília de Freitas [aqui faltou uma palavra] pela elevação do nível intelectual da
mulher que não deve ficar reduzida a uma simples muchacha de musselina, a uma
mulher boa e honesta, é verdade; mas sem instrução, cujos conceitos sobre a vida e a
felicidade são vulgares e prenhes de preconceitos correntes. (Pisarev, La Literatura
Rusa, página 290 [cit. in] P. Kropotkin.)

"... julga você que a boa educação consiste somente em saber botar um espartilho,
atacar um cinto, fazer um bonito penteado, cobrir as faces de pó de arroz, os lábios de
carmim, calçar umas luvas, conhecer os artigos da moda, tocar um pouco de piano e
dançar quadrilhas e valsas? Há outros conhecimentos muito mais necessários", diz uma
das personagens de A Rainha do Ignoto.

E ainda: "... quero dizer que a boa educação nem sempre tem a felicidade de sentar-
se nas cadeiras estufadas dos ricos salões e muitas vezes vamos encontrá-la caiada de
branco, costurando ou lendo à luz do candeeiro de querosene".

Vivendo numa sociedade em que a mulher se dedica aos afazeres domésticos, sendo-
lhe vedada a ilustração do espírito, Emília de Freitas é uma pioneira, uma precursora do
movimento cearense.

As suas ideias, entretanto, são dissimuladas. Ela usa de símbolos e imagens para não
escandalizar o meio.

Tomando parte ativa nas lides literárias e jornalísticas do Ceara, seu nome avulta.
Carlos de Vasconcelos, em 1909, apreciando o demi-monde literário-científico cearense,
ressalta a aptidão intelectual de Emília, de quem espera obra de elevado valor. (A
República, 22/2/1909.)

O Barão de Studart afirma que ela publicou O Renegado, romance. (Dicionário


Bibliográfico.) Não nos foi possível ler tal obra, ou pelo menos obter informações.

Romancista hoje quase inteiramente desconhecida, o romance de Emília de Freitas


vota um profundo amor à gleba nativa. A paisagem é essencialmente cearense, da
quadra invernosa, ouvindo-se as palhas das elegantes carnaubeiras sussurrarem com o
vento que corre na várzea.

Ressumbra do romance a poesia doce e compreensível só pelos filhos do infeliz e


glorioso Ceará. E as personagens juram eterno amor ao adorado torrão natal, enquanto
uma delas afirma: "Não troco a minha terra por nenhuma outra".

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