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FICHAMENTO 1
Bolognesi – Experiência e história na pesquisa em artes.
No entanto, a pesquisa em artes possui especificidades que talvez não sejam comuns aos
demais campos de conhecimento. A primeira grande diferença apontada pelo autor é a de que, em
artes, não se busca a descoberta por verdades cumulativas e renovadoras, mas sim pela produção do
conhecimento (Idem, p. 149) que “tanto pode ser contraposição a outros, ou expansão do raio de
interpretações, como pode ser complementar, ou mesmo reiterativo e, neste caso, termina por ser
uma exemplificação, um reforço de algo sabido” (Idem, p. 150).
Além disso, o autor salienta que ao contrário da pesquisa em outros campos do saber, o
trabalho investigativo em artes tem a presença central do sujeito. Dessa maneira, não há o que ele
denomina de “ruptura epistêmica” entre pesquisador e objeto de estudo – “ao contrário, ela [a
experiência do sujeito] é parte integrante, ela é o próprio sujeito, especialmente quando se admite o
trabalho criativo e a investigação do conhecimento em artes como componentes intrínsecos à
subjetividade” (Idem, ibidem).
Nesta altura, o autor nos apresenta três modos principais de pesquisa em artes. O primeiro
deles é chamado de descritivo e se caracteriza pela apresentação do objeto a partir de uma postura
distanciada. A pesquisa tem caráter objetivo e muito se assemelha à pesquisa histórica, por
exemplo. O segundo modo é o interpretativo, que aprofunda a investigação em seus aspectos
imateriais e simbólicos e que se aproxima do especulativo e da articulação do pensamento. O
terceiro, por fim, chamado de analítico, é um intermediário entre os dois outros modos, e faz uma
espécie de comparação entre matéria e imaterialidade (objeto e subjetividade), ambas presentes na
pesquisa (Idem, p. 151).
Até agora entendemos, portanto, que a pesquisa em artes se diferencia da pesquisa de outras
áreas do conhecimento por razões metodológicas, pela história recente desse campo de
conhecimento como campo de pesquisa, pela presença essencial do sujeito e de sua experiência no
próprio trabalho de pesquisa e por conta da maneira de se construir conhecimento – que não é
cumulativa e nem busca encontrar verdades universais. Porém, além de todos esses fatores, as artes
enquanto fenômeno cultural e social têm um outro fator fundamental até aqui não abordado: a
presença dos espectadores, sobretudo nas artes “espetaculares [que, por conta da presença do
público] apresentam impasses epistemológicos para a abordagem de fenômenos no passado” (Idem,
p. 152 e 153).
Como superar essas dificuldades e conseguir abarcar texto e contexto, elementos materiais e
imateriais do fenômeno artístico em uma pesquisa em artes? A partir da reflexão de Walter
Benjamin, Bolognesi nos dirá que:
Apesar dessa grande advertência, creio que, ao evitar o que o autor indica como sendo a
falha principal das pesquisas que se assemelham à minha – isto é, a ausência de uma inserção
histórica e uma postura egocêntrica – pode-se realizar uma pesquisa rica em artes que, se não for
capaz de deixar um novo “tratado” sobre Teatro Físico, mímica, dramaturgias de ator ou
sonoplastia, pode, ao menos, expandir e registrar mergulhos e tentativas éticas e estéticas na junção
e intersecção desses campos de pesquisa.
Bibliografia:
BOLOGNESI, Mario Fernando. Experiência e história na pesquisa em artes. Art Research
Journal. V.1, n.1. Disponível em: https://doi.org/10.36025/arj.v1i1.5258