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FICHAMENTO 5
FÉRAL, Josette. A fabricação do teatro: questões e paradoxos. Revista Brasileira de Estudos da
Presença, Porto Alegre, vol. 3, n. 2, p. 566-581, maio/ago. 2013. Disponível em:
http://seer.ufrgs.br/index.php/presenca/article/view/39158/26134
A autora parte da indagação de como estudar uma obra artística e o seu processo de
concepção/criação. Para isso, dissertará a respeito da crítica genética, metodologia que surge na
literatura e que posteriormente será aplicada no teatro.
“Uma vez que a necessidade da relação com a obra em processo é reconhecida, como
abordar o seu estudo?” (P. 567).
À crítica genética interessarão os rastros ou traços, resquícios do processo de criação da obra, que
nela permanecem (ou não).
“[C]rítica genética coloca como hipótese inicial, escreve Pierre- Marc de Biasi, que a obra
“[...] é o efeito das suas metamorfoses e contém a memória da sua própria gênese” (De
Biasi, 2000, p. 9). Ela seria, então, fundada sobre a premissa de que a obra é o efeito de um
trabalho, e de um trabalho que deixa traços, resquícios que se depositam na obra sob a
forma do espetáculo terminado e fora da obra sob a forma de documentos, rascunhos,
anotações, declarações diversas que constituem a memória da obra que está sendo
criada.”(P. 568).
E, sobre a natureza dos traços, entende a autora que eles podem adotar naturezas distintas, mais ou
menos próximos da obra final.
“Eu diria que alguns são saturados e estão mais perto do espetáculo terminado, ao passo
que outros continuam lacunares e configuram pistas que os diferentes criadores do
espetáculo são convidados a seguir ou pelas quais eles podem ser inspirados. Os traços
mostram claramente as etapas de um processo e atraem outros traços. Eles registram um
percurso artístico, destacando uma etapa da criação da obra.” (Idem).
Assim, conceitua a autora, a “Genética Teatral se baseia no desaparecimento dos traços, traços
ausentes, apagados, rasurados.” (P. 571).
Portanto, faz-se necessário o estudo dos traços suprimidos, quando da utilização da Crítica Genética
como metodologia. A autora, passa, portanto, a abordar quais princípios ou regras poderiam ser
utilizados para essa análise (p. 572).
Permanece, assim, o problema da escolha. Quais traços analisar? Quais não serão abordados no
estudo da obra e do seu processo de criação? Responde a autora que a escolha será aleatória:
“[A] escolha continua sendo um imperativo para o pesquisador. Ele deve eliminar algumas
das suas observações, fazendo com que sua análise genética dependa inteiramente de suas
intuições e de suas escolhas. O aleatório, embora mais explícito, continua assim no núcleo
do trabalho, um aleatório que depende do livre-arbítrio do pesquisador, da sua metodologia,
de seus objetivos.” (P. 573)
Por fim, conclui a autora que a crítica genética é, em sua visão, a ferramenta mais adequada aos
estudos dos processos de criação em arte. Tanto porque requererão a participação do pesquisador
nos ensaios e nos documentos de criação do espetáculo, quando porque demandam “uma atenção
constante à construção da obra” (p. 574). A crítica genética requer, ainda, uma postura específica do
pesquisador, de “colocar-se em estado de aprendizagem, (…) [de] renuncia[r] a seus pontos de
referência habituais, a seus modos de conhecimento, tentando compreender e funcionar de outra
forma. Postura idealista, sem dúvida. Provavelmente insustentável.” (p. 578).